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Charqueadas RS

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Charqueadas RS 
Durante a maioria do século XIX, o charque foi o produto principal da economia rio-
grandense, sobretudo, através de Pelotas. O charque era utilizado, principalmente, como 
alimento dos escravos no Brasil e em outros países escravistas. O comércio era tão intenso 
que alcançava lugares como Estados Unidos, Cuba e Europa. Como consequência da 
produção saladeiril, ocorre a formação de uma elite na cidade. 
A principal mão-de-obra ligada a essa atividade era de população negra escravizada. 
Em linhas gerais, compreende-se que Pelotas teve sua riqueza construída pelo braço escravo, 
o que exigiu a importação de milhares de cativos, atraindo igualmente muitos artesãos e 
imigrantes, em especial nas últimas décadas do século XIX. Observa-se, naquele contexto, 
uma das maiores concentrações de população negra do sul do Império. Em 1814, cerca de 
50,7% dos seus habitantes eram escravos. A partir das proibições e limitações impostas pelas 
leis de 1850 e 1871, ocorre a necessidade de estimulação do mercado interno de escravos, 
visando manter a estabilidade de mão-de-obra através dos negros escravizados. 
Diferente do que afirmam alguns autores, a escravidão na região sul não foi mais 
amena. Observa-se que, em 1873, período que seria de declínio da escravidão, o Rio Grande 
do Sul possuía 83.370 escravos. Portanto, até este ano, o número de negros escravizados só 
teria aumentado comparado aos anos anteriores. A saída da população escravizada teria 
acontecido a partir de 1874. Deste ano até 1884, a população cativa da província diminuiu em 
15.302 escravos. Entretanto, observa-se que Pelotas foi o município que apresentou maior 
resistência no que diz respeito à perda de escravos durante o tráfico interno. Ainda, 
compreende-se que as maiores concentrações de renda entre os charqueadores ocorrem 
exatamente no período da mencionada “crise” das charqueadas, apesar dessa concentração de 
renda estar mais concentrada em apenas alguns charqueadores, limitando a distribuição de 
renda. Comparando com outras cidades do Rio Grande do Sul, entre 1859 e 1884, percebe-se 
que Pelotas foi uma das únicas cidades que não teve sua população escrava diminuída de 
forma expressiva neste intervalo de tempo. Ainda, percebe-se que em 1884, Pelotas 
constituía-se no município da província com o maior número de escravos. 
Na relação entre escravos e senhores ocorre a dominação senhorial, assim como a 
diferenciação social entre eles. Observa-se que o charqueador simbolizava o patriarcado, 
sendo dotado de instrumentos de coerção. Por sua vez, o escravo era visto como uma 
propriedade, objeto de alguém, sem representação, possuindo existência apenas em 
comparação aos homens livres. Naquele contexto, considerava-se que o escravo tinha uma 
vida sem sentido, sem vontades e deveria seguir as ordens de seu senhor. Em linhas gerais, 
compreende-se que o escravo vivia em uma consciência passiva. 
Os escravos que trabalhavam com o charque residiam, sobretudo, nos galpões em que 
trabalhavam. Observa-se a possibilidade de casamento entre escravos, apesar de não ser o 
mais usual. Ainda, os escravos eram alvos de diversos tipos de maus-tratos, sendo, assim, 
comuns suas fugas. Entre os maus-tratos, há: açoites, cortes, queimaduras, quebraduras, 
mutilações, etc. Os castigos merecem atenção especial, pois a característica de concentrar uma 
população escrava numerosa, armada com facões e instrumentos cortantes, acrescida do alto 
grau de tensão provocado pelo trabalho, requeria vigilância armada e disciplina forte para que 
não houvesse revoltas. Compreende-se que uma charqueada funcionaria como uma espécie de 
prisão. Ainda, as condições sanitárias da cidade eram muito precárias, sobretudo, na zona das 
charqueadas. Somado a isso, o clima frio e úmido, provocando muitas doenças, entre elas: 
varíola, tuberculose, febre tifoide, boubas, etc. 
Observa-se, que as roupas dos escravos eram coloridas, sendo utilizados barretes, 
calça de riscado, mescla ou linhagem, ou ainda de tecido grosso. Camisa ou camisolão de 
baeta e poncho compunha o figurino da primeira metade do século XIX. Após 1850, com o 
encarecimento da mão de obra escrava provocado pelo fim do tráfico, eles passaram a ser 
mais bem abrigados, porém seu estado geral continuava ruim, com muitos anúncios 
demonstrando sinais de desgaste físico e de maus-tratos, o que englobava desde cicatrizes até 
amputações de dedos ou falta de orelhas. 
No que diz respeito à alimentação, comiam carne em abundância, pois os restos não 
utilizados ou menos nobres da carne da rês lhes eram destinados. Assim, provavelmente sua 
dieta era excessiva em termos de proteína animal. Ainda, ressalta-se a falta de hortaliças ou de 
verduras para o consumo dos trabalhadores na área das charqueadas.

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