Buscar

Curso de Metafísica

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 22 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

1
2
CARLOS FREDERICO GURGEL CALVET DA SILVEIRA
CURSO DE METAFÍSICA
Petrópolis
2014
ÍNDICE
INTRODUÇÃO
PRIMEIRA PARTE: O ser do ente
I. Metafísica dos princípios
1. O primeiro princípio do ente
II. A estrutura metafísica do ente
1. Ato e potência
1.1. A potência
1.2. Tipos de potência e ato
1.3. Prioridade do ato sobre a potência
1.4. Relação entre potência e ato
2. As Categorias
2.1. Natureza e tabela das categorias
2.2. O tríplice modo de relação entre a substância e os acidentes
3. Acidentes especiais: qualidade e relação
3.1. A qualidade
3.2. A relação
4. A essência dos entes
4.1. A essência como determinação do modo de ser de um ente
4.2. A forma, ato da matéria
4.3. A essência nas substâncias espirituais
5. A essência individualizada: sobre o princípio de individuação
6. O ser, ato último dos entes
6.1. Distinção real entre ser e essência
6.2. O ser e a essência, princípios inseparáveis dos entes
7. Indivíduo e Pessoa
7.1. Noção de indivíduo
7.2. Natureza e Suposto
7.3. O ser, unidade do composto
8. Conclusão sobre a estrutura metafísica do ente
III. Os transcendentais
1. Noções gerais
2. Os transcendentais como aspectos do ente
3. Quatro transcendentais
3.1. O uno
3.2. O verdadeiro
3.3. O bem
3.4. O belo
SEGUNDA PARTE: O agir do ente
I. Natureza e gêneros de causa
1. Natureza da nossa experiência da causalidade
2. Os tipos de causa
2.1. Causa material e causa formal
2.2. A causa eficiente
2.3. Causa final
3. Natureza do princípio e opiniões adversárias
II. O agir como exercício da causalidade eficiente.
CONCLUSÃO: O amor em tempos de sabedoria, um ensaio metafísico sobre o amor
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA
INTRODUÇÃO
Desde os primórdios da filosofia, os primeiros pensadores entenderam esta ciência como um saber universal que procurava descobrir o elemento primário da realidade. Nesse contexto, surge com Parmênides o tema do ser. Ao filósofo de Eléia segue-se a necessária explicitação dos problemas que envolvem o tema. Platão foi o primeiro a dar um sentido técnico e verdadeiramente metafísico ao problema, como desenvolveremos a seguir. Porém, pode-se, desde já, dizer que foi Aristóteles que devolveu ao ser sua primazia, considerando a metafísica como a ciência do ente enquanto ente. Desde as origens do filosofar, o tema do uno e do múltiplo ocupou um lugar central na especulação metafísica. Desde Aristóteles, o ato tem sentido de perfeição. Para o Estagirita, o ato – enérgeia, enteléqueia – se contrapõe à potência – dýnamis – como o perfeito e acabado, a realização da forma, à capacidade real não realizada.
Em definitiva, o ser constitui o ato primeiro e mais íntimo do ente, que de dentro confere ao sujeito toda sua perfeição, pois qualquer ato ou perfeição antes deve ser, isto é, há de ter previamente o ato de ser, do contrário, nada seria.
Em contrapartida, os entes, na medida em que são menos perfeitos, possuem menos ser, têm um grau mais pobre de participação do ser. Historicamente, tal concepção do ser se formula de modo explícito no racionalismo (Leibniz, Wolf). Um dos inconvenientes principais desta postura é que o ente se assimila ao pensamento, já que essa noção indeterminada de ser só existe na inteligência humana, como fruto de uma abstração lógica. Não se trata já do ser real, senão do ser pensado, pois a “possibilidade” se entende no racionalismo como o caráter “não contraditório” de uma noção, isto é, como “possibilidade de que algo seja pensado ou concebido”.
O existir designa somente a cara ou aspecto mais exterior do ser, como uma conseqüência sua: porque o ente tem ser, está aí realmente, fora do nada, e existe. Interpretar ser como existência, é um resultado lógico da posição indicada anteriormente, que reduz o ente à essência possível, à margem do ato de ser. Formam-se assim dois mundos: por um lado, a esfera ideal das essências abstratas ou do pensamento puro; por outro lado, o mundo dos fatos, da existência fática. Este segundo não é mais do que uma reprodução do primeiro: como dizia Kant, o conceito de cem táleres reais em nada difere do conceito de cem táleres simplesmente possíveis.
Os neoplatônicos desenvolvem uma metafísica que pode ser denominada de metafísica do Uno: tudo gira em torno do Uno, Primeiro Princípio, que está além do ser. A multiplicidade justifica-se como degradação emanada do Uno.
Em qualquer caso a multiplicidade fica subsumida na unidade do Eu ou na unidade do Logos. A partir de Scoto, a metafísica tomou um profundo caráter formalista e terminou por abandonar a noção tomista do ser como ato. Com distintos matizes, filósofos como Suárez, Leibniz, Wolff, Kant, etc., passaram a entender o ser não como ato, senão como efetividade (do esse ut actus ao esse actu). 
O ser, por reunir de modo cabal as características do ato, pode subsistir independentemente de toda potência. O ser é o ato de todos os demais atos do ente, pois atualiza qualquer outra perfeição, fazendo-a ser. Por exemplo, o agir, que é ato segundo, se fundamenta nas potências operativas – ato primeiro na ordem dos acidentes; e estas faculdades, com o resto das perfeições acidentais, recebem sua própria atualidade da forma substancial, que é o ato primeiro da essência; por sua vez, toda a perfeição da essência deriva do esse, que é por isso, com propriedade, ato último e ato de todos os atos do ente.
PRIMEIRA PARTE
 O ser do ente
I. Metafísica dos princípios
São princípios primeiros, princípios supremos dos quais procede a inteligência em toda a sua atividade, em todas as suas operações, ou seja, quando afirma, julga, raciocina sobre fatos de experiência (interna, externa e mista), sobre leis gerais, sobre verdades abstratas, regulam e animam todo nosso pensamento. São indemonstráveis: caso contrário, a ciência cairia num processo ao infinito e nunca poderia demonstrar nada. Isto, porque, tratando-se da demonstração de um axioma, axioma qualquer, o princípio demonstrante não poderia ser mais fraco do que aquilo que deve ser demonstrado, precisaria ser, então, novamente um axioma e, posta a hipótese da necessidade duma demonstração em favor do axioma, este axioma provante, demonstrante também deveria ser provado, demonstrado - e assim adiante sem fim.
Os princípios primeiros da metafísica são os princípios primeiros do ente, que são: o princípio de não-contradição; o de identidade; o do terceiro excluído; e o de causalidade.
O princípio de identidade que explicita que toda coisa é igual a si mesma, é facilmente reconhecido no texto de Parmênides, e terá grande tradição filosófica, chegando mesmo a ser senão o principal, ao menos o ponto de partida do Idealismo.
O princípio do terceiro excluído, que assim reza: entre o ser e o não-ser não há meio termo, patenteia que somente o ser é e que tudo aquilo que não é absoluto como o ser definido por Parmênides há de ser considerado de algum modo como ser.
O grande primeiro princípio pode ser considerado o de não-contradição, se admitirmos que os outros são de algum modo uma explicitação deste.
O primeiro princípio do ente
Tal princípio primeiro chama-se princípio de não-contradição, porque expressa a condição fundamental das coisas, isto é, que não podem ser contraditórias. O primeiro princípio é, antes de tudo, um juízo sobre a realidade. O princípio de não-contradição é conhecido de maneira natural e espontânea por todos os homens, por intuição. Para emitir este juízo é necessário conhecer com anterioridade seus termos, ente e não-ente, noções que captamos somente quando, através dos sentidos, a inteligência entende a realidade externa e apreende, por exemplo, o papel (ente), e a máquina de escrever como distinta dele (não-ente). 
Por se tratar da lei suprema do ente, o princípio de não-contradição desempenha um papel de primeira ordem em todo o saber humano teórico e prático, pois nos estimula a conhecer e a agir evitando a incoerência.
De modo especial o primeiro princípio estimula o conhecimento metafísico, já que é o juízo fundamental acerca do ente. O princípio de não-contradição ajuda adescobrir a estrutura interna dos entes e suas causas. Nossa inteligência obtém os demais conhecimentos em virtude do princípio de não-contradição. Parmênides quis restabelecer a verdade do ente e formulou a célebre afirmação de que “o ser é, o não-ser não é”. Platão, por sua vez, desenvolveu uma metafísica que, ao admitir a realidade da privação e ao fazer do mundo sensível uma participação do mundo das Idéias, acolhia no âmbito do ser o mundo limitado. Não obstante, foi Aristóteles que determinou o verdadeiro sentido do não-ser relativo que há nas coisas, ao descobrir um princípio real de limitação: a potência; e assim chegou a formular de maneira mais acentuada a exigência da não contradição: “algo não pode ser e não ser ao mesmo tempo e no mesmo sentido”.
II. A estrutura metafísica do ente
Podemos vislumbrar uma estrutura metafísica geral do ente a partir das grandes contribuições filosóficas de Parmênides até Tomás de Aquino. Este aperfeiçoou alguns princípios aristotélicos a partir de uma nova identificação do ser de Parmênides.
Qual teria sido a contribuição genuína de Tomás para a história do pensamento ocidental? Seguindo Aristóteles, Tomás desenvolve sua filosofia através dos conceitos de ato e potência; matéria-prima e forma; substância e acidente; e de essência. Ora, todos esses conceitos pertencem a Aristóteles, de modo que a novidade de Tomás está em relacionar esses conceitos com outro: o conceito de ser. Para Aristóteles, forma, essência, acidentes são atos, isto é, perfeição. Tomás, entretanto, descobriu que, embora esses conceitos exprimam perfeição, a perfeição fundamental é o ser (esse), sem o qual as outras não seriam.
Em metafísica, as teses partem das composições fundamentais dos entes finitos, quais sejam: a composição de ato e potência, que é o fundamento de qualquer composição (pois o composto sempre supõe potência); a composição essencial de matéria prima e forma substancial; a composição de ser (esse) e essência; e a de substância e acidentes. Cornélio Fabro sintetiza a relação desses princípios:
A potência e o ato são os princípios constitutivos do ente finito; a potência como capacidade receptiva, e o ato como perfeição entitativa nas várias ordens ou níveis da realidade: a matéria prima e a forma substancial na constituição da essência material; a essência e o esse como actus essendi na ordem entitativa; a substância e os acidentes na ordem operativa.
Em esquema, a constituição dos entes materiais, que servem de modelo para a concepção de qualquer ente é a que se segue:
Matéria prima (P) + Forma substancial (A)= 
Essência (P) + Ser (A)= 
Substância (P)+ Acidentes (A) =
Indivíduo
Este esquema em que as composições são realizadas por meio da composição de potência e ato, de modo que matéria prima, essência e substância são potências respectivamente aos atos da forma substancial, do ser e dos acidentes. È assim que a estrutura metafísica do ente chega à sua mais completa concepção com Santo Tomás. De fato, vemos nessa estrutura todos os elementos da metafísica clássica até o tempo de Tomás, que a ela acrescentou a composição mais perfeita do ente, que é a composição entre essência e ser, como a seguir se verá. O que importa salientar aqui é que o ato de ser emerge sobre todos os atos. Esta é a intuição fundamental do tomismo, princípio de síntese entre as tradições platônica e aristotélica — e também da tradição árabe medieval.
1. Ato e potência
Pode-se dizer que a grande novidade do pensamento de Aristóteles em relação a seus predecessores foi a descoberta do conceito de potência. Através desse princípio, Aristóteles pôde responder aos principais problemas deixados tanto pelos pré-socráticos quanto por Sócrates e Platão. 
Para Aristóteles, a potência (capacidade de perfeição), mais do que um conceito, é um princípio das coisas imperfeitas. Não é mero não-ser, porque esta postura leva à aporia parmenídea; nem ato, exagero proveniente do platonismo. Só o perfeito não tem potência. Ora, este princípio oferece a Aristóteles toda a flexibilidade de análise da realidade que a razão exige para explicar a realidade. É a partir dele que se pode compreender a profundidade de quase todas as outras contribuições aristotélicas para a história do pensamento.
A primeira determinação do ato e da potência surge da análise do movimento. Este tipo de realidade, que quebra a visão homogênea de Parmênides, constitui uma colaboração decisiva que Aristóteles introduziu na metafísica ao tentar compreender a realidade do movimento.
A potência contrapõe-se ao ato que sujeito possui. Exemplo de ato são a figura esculpida no mármore, o calor da água, o conhecimento etc. Deste modo, o movimento explica-se como atualização da potência, passagem de em potência a sê-lo em ato.
Aristóteles entende o ato e a potência sob dois aspectos: um físico, ligado ao movimento, e outro metafísico. No primeiro caso fala do ato e da potência como elementos que explicam o movimento. Por exemplo, ser estátua em ato e ao mesmo tempo sê-lo em potência se excluem. No segundo caso, o ato e a potência são princípios constitutivos e estáveis de todas as coisas; assim, as substâncias corpóreas estão compostas de matéria prima (potência) e a forma substancial (ato). Ao primeiro membro destas diferentes relações de lhe atribui a qualificação de ato e ao segundo a de potência”. 
1.1. A potência
Esta é uma noção diretamente conhecida na experiência, como o correlativo ao ato. Podemos indicar algumas características implicadas nesta descrição: a potência é distinta do ato; a potência só se realiza no ato que lhe é próprio. Em sentido estrito, o ato é perfeição, acabamento, algo determinado; a potência, ao contrário, é imperfeição, capacidade determinável. 
1.2. Tipos de potência e ato
Existe uma grande diversidade de tipos de ato e potência. Tanto a matéria prima como a substância, por exemplo, são potências, porém de modo distinto, pois a substância é um sujeito já constituído em ato, que recebe uns atos acidentais ulteriores, enquanto que a matéria é um substrato indeterminado ao qual advém a forma substancial como primeiro ato. Potência passiva e ato primeiro constituem o ente, enquanto que a potência ativa e o ato segundo correspondem respectivamente à capacidade de agir e à ação do ente.
A noção metafísica de potência como capacidade de receber um ato corresponde propriamente à potência passiva. Nas substâncias corpóreas há um substrato último, a matéria prima, na qual se recebe a forma substancial. A forma substancial é o primeiro ato que advém à matéria.
O sentido que costuma ter a palavra “potência” na linguagem corrente é precisamente este de potência ativa, assim falamos da potência de um motor. O ato correspondente a esta potência é o agir, a atividade, que é o significado habitual do termo ato. Em concreto, as potências ativas ou faculdades são acidentes que pertencem ao gênero da qualidade. 
1.3. Prioridade do ato sobre a potência
O ato goza de prioridade sobre a potência quanto à sua perfeição. O ato é também anterior à potência na ordem do conhecimento. Toda potência se conhece por seu ato, já que ela não é mais do que capacidade de receber, ter ou produzir uma perfeição. Esta prioridade no conhecimento se baseia na natureza mesma da potência, que não é outra coisa senão capacidade de um ato.
O ato tem primazia causal sobre a potência. Nada age senão enquanto está em ato; pelo contrário, algo padece enquanto está em potência. Num sujeito, a potência possui certa anterioridade temporal em relação ao ato, pois uma coisa antes de adquirir uma determinada perfeição, se encontra em potência em relação a ela. Esta primazia temporal do ato sobre a potência se funda na prioridade causal.
Por esta razão, Aristóteles, ao analisar o movimento na natureza, viu com clareza que todas as coisas que passam da potência ao ato requerem uma causa anterior em ato e que, portanto, no cume de toda a realidade existe um Ato Puro, sem mistura de potência, que move tudo. 
Ente em sentido próprio é o ente em ato; apotência, em contrapartida, só é real em relação ao ato. Assim, pois, tanto o ato como a potência participam da razão de ente, porém de modo analógico e segundo uma ordem (secundum prius et posterius). Diretamente tem o ser o que é em ato; de forma indireta, em ordenação ao ato, é real também a potencialidade das coisas. Tal como se expôs, a prioridade do ato não anula a realidade da potência. Boa parte dos sistemas da filosofia moderna prescinde da potência entendida como realidade, reduzindo-a a mera possibilidade; e a possibilidade, por sua vez, adquire um caráter de fundamento. 
Ao falarmos de potência passiva e ato primeiro, vimos que o ato e a potência se nos apresentam como princípios metafísicos constitutivos de toda realidade criada. A finitude do ente, sulcada por múltiplas composições (substância-acidentes, matéria-forma, essência-ser, etc.), se resolve sempre em um dos muitos modos em que se articula a realidade análoga do ato e da potência.
A potência nunca pode subsistir sozinha, senão que sempre forma parte de um ente que já é algo em ato (a matéria prima, embora seja potência pura, sempre se encontra atualizada por alguma forma substancial). Também o ato, no âmbito do finito, só se dá unido a uma potência. Deus é o único Ato Puro sem mescla de potência alguma.
1.4. Relação entre potência e ato
a) A potência é o sujeito em que se recebe o ato. Ao examinarmos as distintas classes de ato e potência, vimos como cada tipo de ato se assentava em um sujeito potencial: a matéria prima é o sujeito da forma, a substância dos acidentes etc.;
b) O ato é limitado pela potência que o recebe. De modo natural observamos que todo ato ou perfeição que se recebe em um sujeito, fica limitado pela capacidade do recipiente;
c) A relação entre ato e potência é de participação; em contrapartida um ato puro é um ato por essência. Em relação ao ato de se, qualquer perfeição ou realidade tem caráter de participante; 
d) A potência multiplica o ato;
e) Não obstante, o ato e a potência não são coisas ou entes acabados, mas princípios de constituição de um ente. 
2. As categorias
2.1. Natureza e tabela das categorias
Depois de considerar a natureza e a noção de ente, a metafísica estuda, à luz dessa noção fundamental, as diversas modalidades de entes que se dão no universo. Como vimos ao falar do ente, este contrai modos especiais de ser em virtude da essência, que justamente marca o modo em que uma coisa é. Assim, alguém é homem graças à essência humana, que lhe confere um modo de ser específico, distinto do de outras coisas, e pelo qual é um sujeito (uma substância). Não é, pois, em virtude do ato de ser, senão da essência, pelo que algo é substância e não acidente; e por isso na definição de substância deve intervir a essência, que é o princípio diversificado do ser.
Compete à Filosofia da Natureza determinar, quando há uma substância distinta de outra no mundo inanimado. É a questão dos chamados critérios de substancialidade. No mundo dos viventes não se apresentam esses problemas, pois é claro que cada indivíduo é uma substância.
Não obstante, estas realidades estão em distinto nível, porque os acidentes dependem do ser da substância e não ao revés. Portanto, o composto ou o todo é em virtude do ato de ser (actus essendi) da substância, do qual participam também cada um de seus acidentes. O ente possui o ser segundo um modo determinado por sua essência específica, que é a essência da substância; e dessa perfeição substancial derivam uma variedade de perfeições acidentais, correspondentes a esse modo de ser.
Segundo Aristóteles, as categorias, enquanto gêneros supremos do ente, são dez.Tudo aquilo que existe ou é em si (substância) ou é em outro (acidente). Sendo assim, todos os entes que existem ou são substância ou um dos seus nove acidentes:
1. SUBSTÃNCIA: aquilo que é em si
2. QUANTIDADE: partes fora das partes.
 
3. QUALIDADE: é o que faz uma coisa ser tal ou qual.
 
4. RELAÇÃO: ordenação a outro.
 
5. AÇÃO: é a atualização da capacidade de agir.
 
6. PAIXÃO: é a atualização da capacidade de padecer.
 
7. LUGAR: primeiro limite imóvel do corpo continente.
 
8. TEMPO: é a medida do movimento, segundo o antes e o depois.
 
9. SITUAÇÃO: disposição do corpo no lugar.
 10. POSSE: ter algo próximo ao corpo.
Para completar este tema do composto da substância e acidentes, pode ser útil examinar brevemente os três aspectos principais de sua conexão mútua. A substância é substrato do acidente, não só enquanto é seu suporte, senão enquanto lhe dá o ser. 
A relação entre substância e acidentes pode parecer paradoxal: por um lado a substância é causa dos acidentes e, ao mesmo tempo, está em potência para recebê-los. Ademais, a substância é ato e potência em relação aos acidentes sob aspectos diversos: é ato enquanto lhe faz participar do seu próprio ser e é potência na medida em que ela mesma é aperfeiçoada por seus acidentes; e assim, um homem realiza uma série de ações que procedem da atualidade de sua substância e por sua vez essas ações voltam sobre ele e o aperfeiçoam.
Portanto, a substância e os nove tipos de acidentes constituem os dez gêneros supremos do ente, chamados também predicamentos ou categorias: trata-se, pois, da descrição dos modos reais de ser.
3. Acidentes especiais: qualidade e relação
De todos os acidentes da tabela aristotélica, qualidade e relação são os propriamente metafísicos, pois atingem todos os entes e não somente os corpóreos.
3.1. A qualidade
É o que faz a coisa ser tal ou qual. Distinguem-se quatro tipos de qualidade: as qualidade passíveis; a forma e a formosura; as potências operativas; os hábitos e as disposições.
3.2. A relação
É a ordenação de uma substância a outra. As relações podem ser reais ou de razão, ou seja, existentes na realidade ou só na inteligência, que relaciona coisas independentes entre si.
Os elementos da relação real são: o sujeito, em que se inere a relação; o termo, ao qual se adere a relação; o fundamento, que é a causa da relação; e a relação propriamente dita.
O fundamento da relação gera seus distintos tipos. As relações mútuas baseadas na ação e paixão: por exemplo, a dos filhos em relação a seus pais (filiação) e a dos pais aos filhos (paternidade); do governante aos cidadãos e súditos em relação à autoridade (subordinação). Relações segundo a conveniência ou desconveniências fundadas na quantidade, na qualidade e na substância. E, finalmente, a relação real de dependência no ser, em que somente um dos extremos da relação é afetado (sujeito ou termo).
4. A essência dos entes
Depois do estudo do ato e da potência, se pode afrontar com mais atenção a consideração do núcleo constitutivo dos entes. A potência própria e imediata do ato de ser, que integra com ele a substância, configurando-a em uma específica modalidade de ser, recebe o nome de essência. Deixando para adiante a análise das características do ato de ser, abordamos agora o estudo da essência, considerando como se realiza nas substâncias corpóreas e nas espirituais.
4.1. A essência como determinação do modo de ser de um ente
Nos entes existem dois princípios fundamentais: o ser, que faz que todas sejam entes, e a essência, que determina o modo em que cada uma delas é. A essência, pois, se define como aquilo pelo que uma coisa é o que é. Como se viu ao tratar da substância e dos acidentes, em sentido estrito a essência corresponde principalmente à substância. Enquanto princípio de operações, a essência se chama natureza; enquanto objeto de definição, chama-se qüididade (quid est?, que é?). 
4.2. A forma, ato da matéria
Os dois elementos constitutivos da essência dos entes corpóreos, matéria e forma, relacionam-se entre si como potência e ato. O sujeito dessas mudanças é uma potência que antes participava de um ato e agora passa a participar de outro, e não de um ato qualquer, senão do que a constitui em uma nova classe de ente (homem, cavalo, ferro, etc.). Este sujeito é a matéria prima,à qual corresponde em primeiro ato, que chamamos forma substancial. Nesta perspectiva, a forma substancial é “ato primeiro”, por sua contraposição às operações, atos segundos, e ao ser, que – como veremos – é ato último do ente).
A matéria prima é pura potência passiva ou capacidade de ato; não se funda em nenhum ato anterior, senão somente no ato que ela mesma recebe: a forma substancial. A forma é o primeiro ato que advém à matéria para constituir a substância. 
Dos dois componentes da essência dos entes corpóreos, o mais importante é a forma, pois a matéria é pura potência e está em função da forma substancial, que é ato. A forma é princípio do ser do ente. A matéria participa do ser através da forma, enquanto é atuada por ela. O caso da forma substancial do homem é distinto. Enquanto nos entes corpóreos o ser é só do composto, ao qual chega através da forma, no homem o ser é da alma, que o dá a participar à matéria.
A forma substancial é aquilo que determina o ente a um certo modo de ser; a matéria prima pode ser definida como o primeiro sujeito do qual algo é feito por si e não por acidente, intrínseco à coisa.
A mútua relação entre matéria e forma como potência e ato explica que a essência dos entes corpóreos, embora composta de dois elementos, seja uma. A união da potência com seu ato correspondente constitui uma unidade metafísica, mais íntima que as unidades de agregação, compostas por um conjunto e entes que já são em ato, e que têm uma ordenação recíproca. 
4.3. A essência nas substâncias espirituais
A prioridade da forma sobre a matéria, enquanto principium essendi, explica por que pode haver algum tipo de forma que subsista sem matéria (substâncias espirituais), enquanto que nenhuma matéria se pode dar independentemente de uma forma substancial: a matéria é pela forma, não a forma pela matéria.
5. A essência individualizada: sobre o princípio de individuação
Ao nosso redor não encontramos espécies universais, senão somente indivíduos singulares e concretos. A multiplicação do ato se deve – como já vimos – à potência e por isso se deve adiantar que, dentro da essência das realidades corpóreas, a matéria é o princípio multiplicador das formas. A multiplicação causada pela matéria se mantém, portanto, dentro dos limites que a forma assinala à espécie. Ao se explicar a individuação, se podem distinguir dois aspectos indissoluvelmente unidos na realidade, atendendo às duas funções que correspondem à potência em relação ao ato: multiplicação e singularização. Portanto, o princípio de individuação dos entes corpóreos é a matéria prima com quantidade assinalada, ou seja, a matéria prima separada pelo acidente quantidade e que pode ser apontada como matéria de um indivíduo.
É notório que a classificação de “individual” não se aplica somente às substâncias, senão também aos acidentes. No contexto da individuação a quantidade apresenta, Não obstante, uma peculiaridade que a discrimina do resto dos acidentes: através dela os acidentes materiais inerem na substância. As formas subsistentes são em si mesmas individuais
No mundo do espírito, a individuação, obviamente, não procede da matéria; porém isso não tira que os espíritos também sejam indivíduos e não realidades abstratas. 
6. O ser, ato último dos entes
O ato de ser é o fundamento último da realidade dos entes. A multiplicidade de entes revela a existência de perfeições diversas e, ao mesmo tempo, mostra uma perfeição comum a todos os entes, que é o ser (esse). Portanto, o ser é ato que engloba todas as perfeições. Do mesmo modo que todos os homens possuem uma forma substancial (ato no âmbito da essência) que faz que sejam homens, os entes têm um ato (o ser), pelo qual são entes. Analogamente, o ato de ser dos entes – semelhança do ser divino – se encontra limitado por uma potência (a essência) que degrada sua plenitude e perfeição.
O ser, por reunir de modo cabal as características do ato, pode subsistir independentemente de toda potência. O ser é o ato de todos os demais atos do ente, pois atualiza qualquer outra perfeição, fazendo-a ser. Por exemplo, o agir, que é ato segundo, se fundamenta nas potências operativas – ato primeiro na ordem dos acidentes; e estas faculdades, com o resto das perfeições acidentais, recebem sua própria atualidade da forma substancial, que é o ato primeiro da essência; por sua vez, toda a perfeição da essência deriva do esse, que é por isso, com propriedade, ato último e ato de todos os atos do ente.
6.1. Distinção real entre ser e essência
O ser como ato da essência implica de modo necessário uma distinção real em relação a ela, já que entre qualquer potência e seu ato existe uma distinção real. Neste caso, o ato é o ser, e a essência sua potência receptiva. Prova-se isso seja pela multiplicidade dos entes criados, seja pela semelhança dos entes entre si. 
Por último, o “esse” enquanto ato da essência, consente indicar a diferente necessidade de ser dos entes criados, que uns sejam corruptíveis e outros imortais. Costuma-se dizer que a composição essência-ato de ser é de uma ordem transcendental, porque acompanha necessariamente todos os entes criados, materiais e espirituais. 
6.2. O ser e a essência, princípios inseparáveis dos entes
A composição de essência e ato de ser não se deve entender como o resultado da agregação de duas realidades completas e acabados. São antes dois princípios metafísicos que se unem para constituir um único ente e que guardam entre si uma ordenação como a potência e ato: a essência é potência em relação ao ser, e não pode existir separada dele. A essência só existe pelo ser.
O ser de cada ente é ato em relação à essência, de modo análogo a como a forma o é da matéria. O ser como ato é o núcleo da metafísica de Santo Tomás: a noção de esse como ato último e a composição de ser e essência, característica de toda criatura, constituem um dos temas primordiais da metafísica e da teologia de Santo Tomás. Acha-se presente na solução de inumeráveis questões que ficariam menos inteligíveis sem o recurso ao ser como ato último do ente.
Em síntese, a negação do ser como ato da essência começou com o formalismo de alguns escolásticos posteriores a Santo Tomás. 
7. Indivíduo e Pessoa
7.1. Noção de indivíduo
Boa parte do caminho percorrido até aqui não foi mais do que uma análise dos elementos que compõem a realidade; a meta era conseguir um conhecimento mais completo do objeto da metafísica: o ente. A metafísica parte da consideração das coisas existentes e, por isso, ao tratarmos os componentes da realidade – substância e acidentes, matéria e forma, essência e ato de ser – consideramo-los sempre como princípios do ente. Isto, como vimos, não corresponde nem à matéria nem à forma, tomadas separadamente, nem à substância à margem dos acidentes, nem sequer – nas entes – ao ato de ser segregado da essência senão ao todo resultante da união destes elementos. Trata-se precisamente de um todo e não de uma simples agregação, porque os componentes do sujeito que subsiste se comportam como potência com respeito ao único ato de ser, que constitui assim o fundamento de unidade do conjunto.
Devem-se assinalar três notas características do suposto: 1) o ato de ser, como elemento fundamental e constitutivo, que outorga a própria subsistência ao sujeito; 2) a essência, que nos entes materiais consta por sua vez de matéria e forma; 3) os acidentes, atos que complementam a perfeição da essência.
7.2. Natureza e Suposto
A essência, e em particular a forma, confere ao todo individual um modo de ser semelhante ao de outros indivíduos, colocando-o em uma determinada espécie: por ter uma essência ou natureza comum, os homens se situam dentro da espécie humana. A essência ou natureza, princípio intrínseco de semelhança a nível específico, pode contrapor-se ao suposto ou indivíduo, realidade incomunicável, dividida e distinta das demais. 
O constitutivo real do suposto é o esse, já que o mais próprio do indivíduo é subsistir e isto é um efeito exclusivo do ato de ser. Não obstante, não se pode prescindirda essência ao se explicar a subsistência do suposto. Isto explica que não seja próprio afirmar que o ser pertence à natureza, senão ao suposto. Pode-se concluir dizendo que o ser pertence ao suposto pela natureza ou essência substancial. A natureza dá ao todo a capacidade de subsistir, porém é o todo que de fato subsiste pelo ato de ser.
7.3. O ser, unidade do composto
Como o ser é o ato último do ente, o que dá realidade a cada um de seus elementos, - que em relação a ele são potência – essas partes constituem uma unidade na medida em que estão referidas e atuadas por esse ato constitutivo. O “o ser é o que funda a unidade do suposto”. Nenhum dos componentes do todo, tomados por separado, tem um ser próprio, senão que são pelo ser do composto; e na mesma medida em que são, constituem uma unidade, já que o ser que as atualiza é único. Apesar da multiplicidade de acidentes, todos participam do único ato de ser da substância. Todas as perfeições do ente devem-se referir ao suposto, principalmente a perfeição do ser. 
Seguindo Aristóteles, Tomás desenvolve sua filosofia através dos conceitos de ato e potência; matéria-prima e forma; substância e acidente; e essência. Ora, todos esses conceitos pertencem a Aristóteles, de modo que a novidade de Tomás está em relacionar esses conceitos com outro: o conceito de ser. Para Aristóteles, forma, essência, acidentes são atos, isto é, perfeições. Tomás, entretanto, descobriu que, embora esses conceitos exprimam perfeição, a perfeição fundamental é o ser (esse), sem a qual as outras não seriam. 
III. Os transcendentais
1. Noções gerais
Por transcendental entende-se algo que ultrapassa determinada realidade ou categoria. Depois do estudo dos princípios constitutivos dos entes enquanto tais, seus distintos níveis de composição e sua estrutura metafísica, resta por considerar alguns aspectos derivados de modo necessário do ente, que são suas propriedades transcendentais: unidade, verdade, bondade e beleza; características que acompanham qualquer ente na mesma medida em que é. Não podemos conhecer nenhuma perfeição que seja alheia ao ente, porque seria o nada. 
Os conceitos transcendentais são os que designam aspectos que pertencem ao ente enquanto tal: estas noções expressam um modo que se segue do ente em geral, algo que convém a todas as coisas (não unicamente à substância, ou à qualidade...): a bondade, a beleza, a unidade – que, como veremos, constituem alguns dos transcendentais – se predicam de tudo aquilo a que se pode aplicar o qualificativo de ente: tem a mesma amplidão universal que esta noção. 
Podemos então chegar a esses quatro transcendentais por consideração do ente em si, enquanto é indiviso, temos, assim, o uno. Da universalidade do objeto do intelecto e da vontade surgem os três últimos transcendentais: verum, bonum, pulchrum.
· Em sua conveniência ao intelecto, o ente é verdadeiro (verum), no sentido de que o ente, e só ele, pode ser objeto de uma autêntica intelecção;
· Em sua conveniência com os apetites, especialmente a vontade, tem-se o bem (bonum);
· Finalmente, segundo a conveniência do ente à alma mediante uma certa conjunção de conhecimento e apetite, compete ao ente a beleza ou a formosura (pulchrum); isto é, causar certo prazer quando é apreendido. 
2. Os transcendentais como aspectos do ente
Os transcendentais são realidades ou noções? As duas coisas. Enquanto realidade, identificam-se de modo absoluto com o ente: a unidade, a verdade, a bondade, etc.; não são realidades distintas do ente, senão aspectos ou propriedades do ser.
A verdade, a bondade e a beleza acrescentam à noção de ente simplesmente uma relação de razão. Ao sustentarmos que a perfeição do ente convém à inteligência e à vontade, não afirmamos que o ente se ordene realmente a essas faculdades ou que dependa delas; ao contrário, são a inteligência e a vontade que se ordenam à verdade e ao bem e dependem deles na sua atualização. Por isso a relação dessas faculdades ao ente enquanto verdadeiro e bom é real; porém a da verdade e do bem não dependem do nosso conhecimento nem do nosso apetite, pois as coisas são verdadeiras e boas na medida em que têm ser, não enquanto são conhecidas ou apetecidas. 
Enquanto noções distintas das de ente, os transcendentais têm para nós um valor notável: permitem-nos entender melhor a riqueza do ser dos entes, que se manifestam sob múltiplas facetas. 
3. Quatro transcendentais
3.1. O uno
Tratamos aqui da unidade própria do ente, que não significa que existe uma só coisa, senão que cada existente é em si mesmo indiviso, tem certa unidade. É dado de experiência que todo ente, na mesma medida em que é ente, é uno: a destruição da unidade, a divisão interna, comporta necessariamente a perda do ser. Antes de ir adiante, convém distinguir a unidade transcendental, que acompanha todo ente, da unidade quantitativa. Esta última é conseqüência da matéria, e princípio do número que resulta da sua divisão: ao seccionarmos um pedaço de madeira, por exemplo, obtemos outros pedaços distintos, que provêm da divisão da quantidade. A unidade transcendental não é outra coisa que a indivisão própria do ente. No nosso conhecimento, Não obstante, a noção de uno se apresenta como uma explicação do ente: manifesta a ausência de divisão interna de qualquer realidade. É notório, portanto, que a apreensão do ente é anterior à da unidade. A unidade defende, afirma e explicita a realidade do ente. A unidade é sempre defendida como algo do ente, um aspecto seu.
Uno e ente, na realidade, identificam-se. Por isso, como o ente, a unidade se fundamenta no ser. A essência dos anjos, por exemplo, é simples, totalmente uma: não há nela, como há na dos homens, composição de matéria e forma. A unidade mais perfeita, a de simplicidade, é a do ente que carece de partes ou de pluralidade de princípios e elementos constitutivos: Deus.
Nos seres finitos, os graus de unidade dependem dos níveis de composição que há neles. Pode-se distinguir assim a unidade substancial, a acidental e a unidade de ordem etc. Como já se viu ao se falar do ato de ser, estes três tipos de composição recebem sua unidade do “esse”, ato último e radical do qual participam todas as perfeições do composto. 
3.2. O verdadeiro
O fundamento da verdade do conhecimento é, pois, a verdade ontológica, a que pertence ao ente enquanto tal. 
A verdade dos entes é fundamento e medida do entender humano: as coisas conhecidas medem nosso intelecto. A filosofia idealista, em lugar de aceitar que o ser é o fundamento da inteligibilidade do ente, pretende que a inteligibilidade seja o fundamento do ser. O objeto, neste sentido, é o que está na frente do sujeito, porém não tem por que ser algo que ultrapasse a esfera do pensamento. Por este caminho, a verdade já não é adequação do entendimento com a coisa, senão antes, conformidade com o objeto (em última instância, adequação do pensamento consigo mesmo).
A verdade do entender humano, ou verdade lógica, consiste na adequação do intelecto às coisas, “adaequatio rei et intellectus”; de modo que é verdade afirmar que “Sócrates corre” se assim acontece realmente, e é falso esse juízo se Sócrates está parado.
Esta capacidade de adequação procede do próprio ser dos entes conhecidos – se não fossem não se poderiam entender – e do ser do próprio intelecto – as coisas que não têm intelecto não conhecem intelectualmente. Por isso deve-se afirmar que a ordenação do intelecto à verdade, sua abertura ao ser, não é algo alheio ao ente, é fundamento da verdade do ente e do conhecimento.
3.3. O bem
O bem não é uma realidade do ser dos entes. Tudo o que é, é bom, donde as coisas são boas, precisamente enquanto são: têm tanto de bem, quanto têm de ser. O conteúdo intrínseco de valor ou perfeição das coisas radica em seu ser e essência e seu bonum seguirá, portanto, o curso do ser de cada ente: será um bem potencial, se seu ser for potencial; um bem participado, se seu ser for participado; ou o Sumo Bem, se trata do Ser absoluto. Todo ente, enquanto é ente, é bom. O bom é o ente enquantoapetecível.
Então, o que é que a bondade acrescenta ao ser? Chegaremos assim a determinar a natureza do bem, o aspecto próprio desta noção, que está implícito na noção de ente, porém que nosso intelecto capta de modo expresso só com o conceito do bom. A bondade é algo objetivo, não depende da opinião nem do querer da maioria: se o bem é “o que todos apetecem”, não é bom pelo fato de que todos o desejem, senão que precisamente é apetecido pelos entes enquanto é perfeito ou é ente.
Todo ente pelo fato de ser, tem ato, possui um grau de perfeição, é bom. Conseqüentemente, a própria ordenação ao fim, o tende eficazmente àquilo que o aperfeiçoa, confere ao sujeito uma certa bondade. No caso dos homens, sua perfeição é difundir sua bondade: aqui a sua semelhança a Deus, seu ápice supremo.
3.4. O belo
Denominamos bem o ente por sua relação ao apetite: enquanto possui as características do perfeito e perfectível de outros: e por sua adequação à inteligência, enquanto cognoscível, chamamo-lo verdadeiro. Além disso existe uma terceira conveniência da realidade com a alma: a verdade e a bondade das coisas, ao serem conhecidas, causam agrado e deleite ao que as contempla. A essa propriedade dos entes nos referimos ao afirmar que algo é belo.
Há uma beleza inteligível, própria da vida espiritual, e uma beleza sensível, de nível inferior. A beleza inteligível se vincula necessariamente com a verdade e a bondade moral, daí que a feiúra (privação de beleza) seja própria do erro, da ignorância, do vício e dos pecados. Há também uma beleza natural, que procede da natureza das coisas; e uma beleza artificial, que se encontra nas obras humanas nas quais o homem tenta plasmar algo belo (o objeto da Arte ou das Belas Artes, é precisamente fazer coisas belas).
Com relação ao pulchrum também intervém, pois, o apetite, do qual procede o “gosto” ou o “prazer” peculiar do ato de apreciação estética; porém esse deleite depende da contemplação, do conhecimento e não da posse do objeto. Por isso não é de estranhar que Tomás de Aquino, ao referir-se ao transcendental pulchrum, afirma que assinala a conveniência dos entes com “uma certa conjunção do entendimento e da vontade”: porque agrada (vontade ou apetites) enquanto se conhece (inteligência ou sentidos).
Como no caso da bondade e da unidade, as características que fazem belo um objeto surgem, em última instância, do ser de cada criatura. Porém, analogamente como se fez ao se tratar do bonum, é mister precisar o seu sentido. As características próprias da beleza são a harmonia, a integridade e a clareza.
A beleza, em última instância, mede-se pela consecução do fim transcendente; porque é aí que se encontra o ápice da perfeição. A necessidade dessa proporção provém, sobretudo, de nossa natureza corporal e do conhecimento sensível. Embora às vezes no terreno artístico pareça predominar a subjetividade humana, a formosura de um objeto não depende do “gosto de cada um”, do que cada um considere belo. A experiência ordinária e a experiência artística manifestam que a beleza natural, e inclusive também a que procede do agir humano, é transcendente ao homem, e que se baseia na natureza das coisas. 
SEGUNDA PARTE
O agir do ente
I. Natureza e gêneros de causa
Depois do estudo da estrutura do ente e de seus aspectos transcendentais, é preciso tratar da causalidade: uma visão das coisas, não mais enquanto são em si mesmas, mas enquanto influem no ser de outras. É a metafísica do agir, que considera a dinâmica no âmbito do ser, o influxo mútuo que exercem uns entes sobre outros por meio da causalidade. O estudo da causalidade em seus quatro aspectos – causa material, formal, eficiente e final – traz uma visão da ordem do mundo e de sua unidade interna, que se completa com o conhecimento da causa última do universo e de sua relação com as causas segundas. Por último, a causalidade da matéria e da forma também nos é patente múltiplas coisas, que são resultado da conjunção de ambos princípios (o homem é pela união de seu corpo e de sua alma, uma estátua resulta da figura esculpida na pedra, etc.).
1. Natureza da nossa experiência da causalidade
O simples bom senso distingue a noção de "causa" de "sucessão constante", que é a relação de termos que se seguem de um modo contínuo. Para Hume, entretanto, é pelo hábito de ver dois fenômenos sucederem-se constantemente, que damos ao primeiro o nome de causa e ao segundo o nome de efeito. Mas equivocadamente, pois nem toda sucessão "acontece" da mesma forma. Admitimos que na experiência externa de ser desta sucessão, mas a inteligência, ao procurar a razão de ser desta sucessão ou simultaneidade e da realização desta nova entidade, que não existia antes (a iluminação do quarto), percebe com evidência e afirma legitimamente o nexo causal, o influxo sem o qual a própria sucessão constante destes fenômenos e as suas variações proporcionais não teriam razão de ser suficiente.
Todos esses axiomas em geral têm valor absoluto, universal e necessário;Valor subjetivo: os axiomas são leis de pensar — reguladores universais e necessários de toda a nossa atividade mental. São objetivos, reais, ontológicos, pois são leis do ser — regem os entes como estão na realidade e na realidade agem.
A existência da causalidade no mundo é uma verdade evidente (per se nota) que não se pode demonstrar, mas sim estudar e tratar de examinar seu fundamento. Causa eficiente é um princípio ativo que com a sua ação influi na produção ou mudança de um ser (o efeito). A noção de causa eficiente, enquanto inclui causalidade, isto é, influxo exercido pela causa, é objetiva, e é verificada por nossa experiência interna: produção dos nossos atos; experiência interno-externa: levantar um peso; experiência externa: a luz que ilumina.
Alguns conceitos aproximam-se do conceito de causa. É importante, portanto, ter claras as seguintes distinções: princípio: aquilo de que uma coisa procede, seja do modo que for; causa: aquilo que real e positivamente influi em uma coisa, fazendo-a depender de algum modo de si. Assim, toda causa é princípio, mas nem todo princípio é causa; efeito é produto da ação causal e, por conseguinte, o que resulta do princípio. Em causa-efeito há dependência efetiva no ser; condição: é o requisito ou a disposição necessária para o exercício da causalidade: positivamente: porque permite; negativamente: porque não impede; ocasião: é uma circunstância acidental —aquilo que favorece a ação da causa. 
Portanto, causa é aquilo que real e positivamente influi em uma coisa, fazendo-a depender de algum modo de si. Caracteriza-se por:
· dependência efetiva no ser: o efeito não acontece sem ela;
· distinção real entre causa e efeito: isto é evidente, pois a dependência real entre duas coisas implica necessariamente sua efetiva distinção;
· prioridade da causa sobre o efeito, segundo uma ordem de natureza e também temporal.
2. Os tipos de causa
As quatro causas, segundo Aristóteles, são: a causa material: de que algo foi feito (ex quo aliquid fit cum insit); a causa formal: por que é isto e não aquilo (id quo res determinatur ad certum essendi modum); a causa eficiente: por quem foi feito (causa efficens est principium a quo primo profluit motum); a causa final: para que foi feito (id cujus gratia aliquid fit).
2.1. Causa material e causa formal
Matéria e forma: princípios intrínsecos que constituem os entes corpóreos. Causa material: "ex qua et in qua aliquid fit" princípio passivo: a causa material tem razão de potência passiva que contém o efeito como a potência o seu ato (de modo imperfeito);permanece no efeito: sujeito receptivo de forma.Tipos: matéria prima; matéria segunda. Causa Formal: ato ou perfeição intrínseca pela qual algo é o que é, no âmbito da substância ou dos acidentes. Tipos: forma substancial; forma acidental.
Matéria e forma são causas do composto corpóreo. O ente corpóreo depende de sua matéria prima e de sua forma substancial quanto ao ser e ao grau específico em que possui o ser. Matéria e forma são causas mútuas: "A matéria se diz causa daforma enquanto a forma não é senão a matéria, de modo análogo a forma é causa da matéria enquanto esta não tem o ser em ato se não é pela forma". A relação entre causa material e a causa formal é de potência e ato.
2.2. A causa eficiente
O princípio de causalidade eficiente é um dos primeiros princípios do conhecimento porque o é da realidade, fundamentalmente. Pois "as noções primeiras dão imediatamente origem, por um ato de pensamento que coincide com a sua apreensão, a um certo número de princípios que não fazem mais do que exprimir as leis universais do ser".
É o princípio do qual flui primariamente qualquer ação que faz que seja algo, ou que seja de algum modo. Notas distintivas da causalidade eficiente: exterioridade do efeito, outorga um ser distinto do seu. Comunicação da perfeição própria: pertence à causa eficiente transmitir a perfeição que deve ter em ato. Por isso é causa exemplar: nada pode dar aquilo que não tem. Portanto, comunicação atualidade ao efeito, portanto, se convém ao ente em ato e na medida em que está em ato (todo agente age enquanto está em ato). O efeito preexiste sempre de algum modo em sua causa. Duas conseqüências disso são: o agente que opera produz sempre algo semelhante a si; o princípio pelo qual um ente atua, produzindo um efeito é sua forma. "Omne agens agit per suam formam"; ou "Omne agens agit in quantum est actu". A eficiência causal dos entes finitos se encontra limitada por sua própria capacidade ativa e pelas condições do sujeito sobre o qual atua. Como tudo o que age, age enquanto está em ato, só o que for ato puro, poderá agir e causar por essência. 
Forma correta do enunciado do princípio da causalidade.
A fim de que o princípio da causalidade seja corretamente enunciado, estabelecemos como critério, que no enunciado seja contida "a razão formal da necessidade" de um ser ter uma causa.
· Todo efeito tem uma causa. 
Esta formulação pode parecer uma pura tautologia, quando "efeito" significa formalmente: o que é produzido por uma causa.
· Tudo o que começa a existir tem uma causa.
Nesta fórmula "começar existir" pode significar um começo simpliciter, quer dizer, significa a passagem do não-existir para o existir. Pode também significar um começo secundum quid, um começo de um certo ponto de vista, isto é, uma passagem do não-existir-tal para um determinado existir-tal. É formulação ambígua.
· Todo contingente tem uma causa eficiente 
É a melhor formulação, porque o contingente é um ser que existe de fato, contudo, poderia também não existir, pois não existe por si mesmo, por sua própria essência. Sua contingência é a razão formal, o motivo pelo qual exige uma causa.
2.3. Causa final
È a causa das causas, pois todas as causas movem-se em função da finalidade do agente. E tudo que age, age em função de um fim. 
3. Natureza do princípio e opiniões adversárias
O princípio de causalidade, que pertence aos axiomas — verdades, princípios fundamentais, primeiros e primordiais, enunciados explicitamente — é princípio imediatamente evidente; é indemonstrável; possui importância fundamental no conhecimento humano; tem valor absoluto e universal.
Seus adversários são fundamentalmente os empiristas, de modo especial Hume. Kant e os idealistas que professam o determinismo físico no seu sentido rigoroso e geral, assim como também podem ser arrolados entre os que o negam formalmente. Também alguns cientistas experimentais, como aparentemente o faz Heisenberg.
Mas, na verdade, deve-se reconhecer que a causa eficiente é um princípio ativo que com a sua ação influi na produção ou na mudança de um ser (efeito).
II. O agir como exercício da causalidade eficiente.
Agir é fazer algo em ato. As ações transitivas são fruto da perfeição intrínseca das coisas, e em muitos casos de suas operações imanentes. Os fundamentos do agir são de três classes: Último: o ser; próximo: a natureza, princípio específico das operações; Faculdades operativas, princípios próximos de atuação.
As relações entre a Causa Primeira e as causas segundas: a causa primeira influi mais que a causa segunda na realidade do efeito; a subordinação das causas segundas a Deus não diminui senão que fundamenta a eficiência do agir criado. Portanto, as causas criadas, no seu agir, pressupõem um objeto já existente.
CONCLUSÃO
O amor em tempos de sabedoria, um ensaio metafísico sobre o amor
É diante da tarefa da filosofia que nos colocamos neste momento. Hegel pretendeu "que a filosofia se aproximasse da forma da ciência, a fim de que pudesse deixar de lado o nome amor do saber e se tornar saber efetivo..."
 É a transformação da filosofia em sistema. Se considerarmos os efeitos dessa concepção na história recente, veremos os moldes estreitos do racionalismo que permeiam a intenção filosófica de Hegel. Quem seria hoje concorde com perspectiva tão cerrada da filosofia? Reconhecendo o papel eminente que lhe compete na história do pensamento, em certa medida monumental, comparável mesmo com a obra de Santo Tomás, devemos dizer que o rigor de que a filosofia necessita, sem o qual não seria sabedoria, não pode ser reduzido aos paradigmas do sistema hegeliano. Lembremo-nos que "o primeiro nome da filosofia foi sabedoria".
Ponderando os caminhos do pensamento moderno, o nosso curso definiu-se do lado da sabedoria, isto é, de um saber que não se esgota em sistema, nem se confunde com a ciência, entendida em sentido estrito. Infelizmente, o panorama da filosofia no Rio de Janeiro, até em instituições católicas, não é dos melhores, conquanto documentos como a Fides et Ratio tenham indicado importantes diretrizes para a filosofia cristã neste terceiro milênio.
Uma parábola, que nos vem de um monge cisterciense do século XII, Galand de Reigny, ilustra as opções e o percurso que seguimos. Conta-nos o monge da Abadia de Reigny que, um dia, sete camponeses foram consultar um sábio, cada qual sobre seu próprio negócio. Depois que os seis primeiros expuseram suas questões e ouviram do sábio os melhores conselhos, o sétimo disse-lhe o seguinte: "Senhor, as verduras de minha horta são de natureza tal que faz que logo ressequem, a menos que sejam irrigadas quotidianamente. Mas isso exige trabalho grande e contínuo. Se conheces o remédio para isso, ensina-o". O sábio respondeu: "Planta uma horta sobre o cume das montanhas, nos lugares mais elevados. Com efeito, as verduras que brotam nos vales e nas terras mais baixas exigem naturalmente uma rega ininterrupta. As verduras das montanhas ficam sempre verdes sem necessidade de qualquer aporte de água."
Eis que o nosso curso se instalou no cume de uma montanha... Os prados ressequidos são os falsos amigos e as verduras, que recebem do alto a água de que necessitam, são os que amam a sabedoria. Santo Tomás também usou a montanha como metáfora, e, no seu caso, como metáfora do mestre, que, como a montanha, recebe do alto a água de que necessita, assim como está sempre na defesa da cidade. Galand de Reigny explica ainda que a horta da montanha é verdejante porque aí as hortaliças aprendem a amar. É isto que a sabedoria ensina. Santo Tomás bem ilustra esse estado do sapiente, citando a Escritura: "dá ocasião a um sábio e ele tornar-se-á mais sábio".
O amor é tarefa filosófica. A filosofia é amor ao saber porque é saber do amor. Seria mais do que justo perguntar àqueles que se dedicam à filosofia como seria o amor em tempos de sabedoria. Spinoza oferece-nos uma ilustração: 
Quem deseja vingar-se das injúrias com o ódio recíproco, vive miseravelmente. Ao contrário, quem se esforça por vencer o ódio pelo amor, este combate com alegria e segurança, e resiste tão facilmente a um homem como a vários, de forma que a própria sorte torna-se um auxílio mínimo. Até mesmo seus vencidos cedem com alegria, não por defeito de suas forças, mas por seu incremento. Todas essas coisas de tal modo decorrem das próprias definições de amor e inteligência [ou sabedoria] que não é preciso demonstrá-las uma a uma.
No entanto, não é só isso. É conveniente, neste momento, explicitar três elementosdo amor: o sentimento, o valor e o dever. De Kant a Sartre luta-se para esclarecer qual desses elementos determinaria a vida ética. A maior dificuldade é admitir a íntima relação entre amor e dever. Ou a dificuldade em considerar o amor como mandamento. A ética kantiana do dever tornou-se insuficiente em nosso caso. Mas também a do mero valor, defendida por Max Scheler. Na perspectiva cristã, há um meio termo, que "no caso do amor, tal como o considera a ética, e não apenas a psicologia, trata-se de uma realização dos valores, nos quais está contida a relação causal da pessoa com respeito aos mesmos. Por isso na experiência deste ato deve estar vinculada a experiência dos valores com a do dever."
 A experiência do amor e do saber não pode ser destruída com a razão. Esta tende às planícies e aqueles, às montanhas. 
Os tempos de sabedoria, pois "a filosofia é o despertar radical, integral, do espírito."
 Creio que, no fim deste curso, vocês já percebem o início desse despertar. Chega sempre, porém, o momento em que a vida se nos apresenta com uma clareza extraordinária.
 Não se trata da clareza cartesiana, mas é como a grande descoberta do herói trágico, que não anula o mistério. Esta é a descoberta do filósofo. Não nos faltará amor nem sabedoria. Hölderlin, poeta muito presente em nosso meio, entrega-nos o segredo de nossa tarefa: "Só crêem no divino /Os que o trazem em si".
 A metafísica aqui desenvolvida e recebida, foi cultivada para uma tarefa única. Contudo, ao se considerar a condição humana, que tudo pode perder, deve-se ter sempre presente esta recomendação do Apocalipse: "Segura o que tens, para que ninguém tome a tua coroa", "tene quod habes, ut nemo accipiat coronam tuam".
REFERÊNCIA BIBLIOGRÀFICA
ALVIRA, Tomás, CLAVELL, Luís & MELENDO, Tomás. Metafísica. Pamplona: EUNSA, 1998.
ARISTÓTELES. Ética a Nicômaco. São Paulo: Nova Cultural, 1998.
Bochénski, J.M. Qué es la autoridad? Barcelona: Herder, 1979.
CORETH, Emerich et alii. La Filosofia Cristiana nei secoli XIX e XX; II: Ritorno all'eredità scolastica. Roma: Città Nuova Editrice, 1994. 
DE FINANCE, Joseph. Être et agir dans la Philosophie de Saint Thomas d´Aquin. Roma: PUG,1966.
ELDERS, Leo J. La Metafisica dell'essere di San Tommaso d'Aquino in una prospettiva storica. V. I, Cidade do Vaticano: Lib. Edit. Vaticana, 1995.
FABRO, Cornelio. Introduzione a San Tommaso; La metafisica tomista & il pensiero moderno. Milão: Ares, 1997.
GILSON, Étienne. Études sur le rôle de la Pensée médiévale dans la formation du système cartésien. Paris: J. Vrin, 1984.
GRANIER, Jean. Le problème de la Verité dans la philosophie de Nietzsche. Paris: Du Seuil, 1998.
HÉBER-SUFFRIN, Pierre. O “Zaratustra” de Nietzsche. Trad.: Lucy Magalhães. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
HEIDEGGER, Martin. Ensaios e conferências. Trad.: Emmanuel Carneiro Leão et alii. Petrópolis: Vozes, 2002.
HEIDEGGER, Martin. Nietzsche. Paris: Gallimard, 1984.
HUSSERL, Edmund. Investigações Lógicas. São Paulo: Nova Cultural,
IBAÑEZ LANGLOIS, José Miguel. Doctrina Social de la Iglesia. Santiago: Pontifícia Universidad Católica de Chile, 1988.
JOÃO PAULO II, Veritatis Splendor.
JOÃO PAULO II. Fides et Ratio. São Paulo: Loyola, 1998.
MONDIN, Battista. Storia della metafísica. V. 3. Bolonha: Edizioni Studio Dominicano, 1998.
PANGALLO, Mario. L’essere come atto nel tomismo essenziale di Cornelio Fabro. Cid. do Vaticano: L. Ed. Vaticana, 1987.
PIEPER, Josef. Las virtudes fundamentales. Madri: Rialp,1997.
RIGOBELLO, Armando. Legge Morale e Mondo della Vita. Roma: Abete, 1968.
ROYO MARÍN, Antonio. Teología de la esperanza. Madri: BAC, 1969.
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. Porto Alegre: EST/SULINA, 1980.
TOMÁS DE AQUINO. Suma Teológica. São Paulo: Loyola, 2001.
WOLFSON, Harry A. The Philosophy of Spinoza. Harvard: Harvard University Press, 1972.
YOVEL, Yirmiyahu. Spinoza et autres hérétiques. Paris: Seuil, 1991.
� "I. La potenza e l'atto sono i principi costitutivi dell'ente finito; la potenza come capacità recettiva, e l'atto come perfezione entitativa nei vari ordini o piani della realtà: la materia prima e la forma sostanziale nella costituzione dell'essenza materiale, l'essenza e l'esse come actus essendi nell'ordine entitativo, la sostanza e gli accidente nell'ordine operativo." FABRO, Cornelio. Introduzione a San Tommaso, p. 158.
� HEGEL, G. W. F. Fenomenologia do Espírito, prefácio.
� RENOUVIER, Charles, apud CUVILLIER, Armand. Pequeno Vocabulário da língua filosófica, p. 143.
� REIGNY, Galand. Parabolaire, 15, 7.
� TOMÁS DE AQUINO, Rigans montes de superioribus suis, c. III.
� SPINOZA, Baruch. Éthica, p. XLVI, escólio.
� WOJTYLA, Karol. Max Scheler e a ética cristã, p. 137.
� FABRO, Cornelio. Libro dell'esistenza e della libertà vagabonda, 1766.
� ID. IBIDEM, 1769.
� HÖLDERLIN, Friedrich. "O aplauso dos homens", in: BANDEIRA, Manuel. Estrela da vida inteira, p. 399.
� Ap 3, 11.

Outros materiais