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Resumo 12 anos de escravidão

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NORTHUP, Solomon. Doze Anos de Escravidão. São Paulo: Penguin Classics / Companhia das Letras, 2014. 
Marcelle Gomes Reis¹
Solomon Northup foi um negro nascido já livre em 1808 em Nova Iorque. Ele vivia nos estados do Norte, onde a escravidão já havia sido abolida e os homens negros gozavam de determinada liberdade, ao menos podiam trabalhar e receber salários. Northup sentia-se um homem como qualquer outro sendo levado, por certa ingenuidade, a acreditar que tinha direitos iguais aos homens brancos o que pode explicar as condições nas quais se deram seu rapto em 1841.
Passados doze anos em regime de servidão nos estados do Sul, Solomon Northup foi resgatado na Louisiana após receber ajuda de um empreiteiro canadense, identificado como Senhor Bass, um homem branco que era contra a escravidão.
Sua obra foi escrita em 1853, ano de seu resgate, e tinha como principal motivação denunciar os abusos sofridos pelos semelhantes do autor no Sul do país, lugar onde todas aquelas atrocidades que lhe pareceram tão chocantes, eram respaldadas pela lei. Em um contexto de intensivas discordâncias entre Norte e Sul quanto a questão da escravidão, Northup percebe o aumento no interesse dos nortistas pelo assunto. Sua obra é bem recebida pelo público em meio às ideias progressistas do Norte e separatistas do Sul, além de despertar o interesse pelo o que era de fato a escravidão e o cotidiano de um escravo. Solomon viveu esta realidade por doze anos, porém os negros nascidos no Sul e, portanto, escravizados, viviam toda a sua vida à mercê dos desmandos de seus senhores.
A obra se trata de um relato detalhado de tudo que Solomon Northup passou em seu cativeiro: desde seu rapto até seu resgate, falando sobre seu translado até chegar ao Sul do país e sobre a vida que levava na fazenda de seus senhores. A forma como ele descreve cada um deles varia bastante e por isso fica claro que havia, sim, aqueles senhores sádicos que se agradavam de punir seus negros mas também havia aqueles que eram capazes de bondade. Era o caso de Senhor Ford, de quem Northup só tem boas palavras, para ele, Platt trabalhava, não pelo medo do açoitamento, mas para ver a felicidade de seu senhor, ele diz que em sua fazenda só conheceu o lado bom da escravidão.
Outro ponto que chama atenção se pensarmos comparativamente as duas regiões do país é a educação diferenciada que era atribuída aos negros no Norte e no Sul. Durante a interação de Solomon com os negros que eram escravos por toda a vida, fica claro o modo como aqueles ideais de liberdade valorizados pelo primeiro, não fazem sentido para os últimos. O grau de conformismo entre os escravos do Sul e mais doloroso que tudo, é a perda da liberdade por aqueles negros, como o autor, que a vida inteira viram outra realidade e até mesmo acreditaram-se dignos de liberdade tal qual os homens brancos.
A questão comparativa entre as duas regiões não é algo explícito na fala de Solomon Northup, pelo contrário, seu discurso é linear mas, ao falar na primeira parte do livro de sua vida antes do cativeiro, podemos extrair algumas informações sobre o Norte e durante a narrativa acerca da sua jornada como cativo, outras muitas sobre o Sul. Portanto, mais um ponto que podemos comparar é a diferença na industrialização em ambas as regiões. Isto fica claro nas diferentes ocupações que Solomon desempenha. Mesmo em sua vida no Norte, ele não era um homem rico e, portanto, variava de ocupação constantemente de acordo com a estação. Em certo período ele relata ter trabalhado com embarcações, como homem livre, o que o ajudou, como escravo, a melhorar o escoamento de produtos da indústria de madeira do Senhor Ford porque os sulistas não faziam uso dos rios para transporte de cargas. Esta falta de interesse e as suas ocupações posteriores, que nada tem a ver com a indústria, reforçam aquilo que vimos em Scalercio² a respeito do progresso do Norte:
“Descortinamos, assim, uma região Nordeste manufatureira, o Sul especializado na agricultura de exportação, especialmente o algodão, e os Middle States – Pensilvânia, Nova Iorque, Nova Jersey, Delaware e Maryland – baseados em uma estrutura agrária de pequenas e médias propriedades de agricultores livres” (SCALERCIO, 2007, p. 18)
Por fim, podemos nos aprofundar mais na questão da crueldade com a qual os senhores e traficantes de escravos tratavam os negros. Acredito que as pessoas com as quais isso fica mais claro são com Eliza e Patsey. 
Eliza viveu junto com seu senhor, tendo uma filha dele que se juntou ao menino que ela já tinha, após o mesmo se separar da esposa, todos viviam na mesma propriedade até que a senhora encontrou um novo marido que, influenciado por ela, levou Eliza a acreditar que teria sua liberdade – prometida por muitos anos por seu senhor – mas na verdade vendeu a escrava e seus dois filhos. Nas casas de escravos, Eliza implorava para não ser separada dos filhos e, sendo inevitável a separação, a negra amargou uma melancolia que a levou a definhar e morrer.
Já Patsey era a melhor colhedora de algodão de Senhor Epps porém, mesmo dando muito lucro, ela não tinha paz. Era assediada por seu patrão e odiada por sua senhora que, a qualquer sinal de distração, a atirava objetos e até mesmo tentava convencer outros escravos de assassiná-la às escondidas porque não conseguia fazer com que seu marido se desfizesse da propriedade.
Este tema é abordado por Jonh Hope Franklin³ ao tratar da escravidão e do contexto sulista. Para ele, o espírito de violência e a belicosidade se tornaram tão difundidas que qualquer atitude de gentileza era condenada. Se este era o tratamento que se dava entre iguais, não é difícil imaginar o que estes homens faziam com aquelas pessoas consideradas por eles apenas posses, como um objeto ou animal. Esses dois fatores juntos – belicosidade e escravidão – contribuíram para a formação de um caráter violento e tirânico no sulista:
“A escravidão não foi apenas uma feição fundamental da agricultura comercial sulina, mas também um fator importanteno desenvolvimento daqueles traços do caráter sulista que produziram um espírito tirânico e uma vontade de lutar para defender sua posição” (FRANKLIN, 1999, p. 117)
Concluimos que a obra de Northup é importantíssima, não só para a compreensão de diferentes aspectos da escravidão nos Estados Unidos, mas também para uma ampla análise das diferenças entre Norte e Sul. Além de ser um clássico, Doze anos de escravidão também faz um paralelo com outro clássico que é A cabana do pai Tomás porque contém uma gama de informações que se relacionam, por exemplo o local, Pai Tomás também servia em uma fazenda na região do Rio Vermelho. Somente a inteligência de Solomon e a sorte de ter confiado nas pessoas certas podem explicar seu resgate, mesmo que tardio. Quantos mais não tiveram a mesma sorte? Como Robert, que também fora tirado de seu lar e privado da sua condição de homem livre para morrer de varíola, ter seu corpo descartado no mar e nunca mais retornar para o seio de sua família e retomar a vida que deixou. O sucesso do livro se explica pela curiosidade nortista em relação aos hábitos dos sulistas e à pratica da escravidão, uma vez que já estavam em um ponto diferente de desenvolvimento no qual esta prática já havia sido deixada para trás.

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