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Relatório Macroeconômico Serasa Experian 1º Trimestre de 2020 Relatório Macroeconômico Serasa Experian – 1º Trimestre de 2020 | 2 1. Atividade Econômica 1.1) Produto Interno Bruto (PIB) Segundo divulgado pelo IBGE, o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 1,1% no ano passado, cravando o terceiro ano consecutivo de crescimento da economia brasileira após a recessão de 2015/16. Pelo prisma da oferta agregada, o setor agropecuário expandiu-se em 1,3% em 2019, puxado pelo incremento das safras de milho (23,6%), algodão (39,8%), laranja (5,6%) e feijão (2,2%). A indústria avançou 0,5% com destaque para o setor de eletricidade, gás, água e esgoto (1,9%) e pelo setor de construção civil (1,6%). Os serviços cresceram 1,3% liderados pelos segmentos de informação/comunicação (4,1%), atividades imobiliárias (2,3%) e comércio (1,8%). Pelo lado da demanda agregada tivemos alta de 1,8% no consumo das famílias e de 2,2% nos investimentos produtivos. O consumo do governo recuou 0,5% e as exportações declinaram 2,5%. Por fim, as importações subiram 1,1%. É claro que antes do impacto da Covid-19 na economia brasileira e mundial, as expectativas eram de uma ligeira aceleração do PIB em 2020. Entretanto, dado este novo cenário bastante adverso, o qual produzirá impactos severos tanto no consumo das famílias, investimentos empresariais e exportações, estamos projetando recuo de 2,7% no PIB em 2020, seguido de uma recuperação, ainda não integral, de 2,5% em 2021. 1.2) Varejo De acordo com o Indicador Serasa Experian de Atividade do Comércio, o varejo nacional exibiu forte recuo em março/20 dados os efeitos deletérios causados pelas políticas de restrição da mobilidade urbana e distanciamento social. Feitos os ajustes sazonais, a queda de março/20 foi de 16,7% ante o mês anterior (recorde negativo de toda a série histórica iniciada em jan/00), sendo que ante março/19 o tombo foi de 13,7%. Os segmentos mais negativamente impactados foram aqueles relacionados ao chamado consumo discricionários (itens que podem ser adiados/postergados),tais como: móveis, eletrodomésticos, eletroeletrônicos e informática (- 15,1%); veículos, motos e peças (-26,3%); material de construção (-17,9%); tecidos, vestuário, calçados e acessórios (-11,1%). Os segmentos menos impactados foram aqueles mais ligados ao consumo não-discricionário e ao abastecimento/transporte de mercadorias: supermercados, hipermercados, alimentos e bebidas (-2,4%) e combustíveis e lubrificantes (-8,7%). Para o ano de 2020, mesmo que haja um início de recuperação da atividade varejista a partir do segundo semestre, dificilmente o varejo conseguirá terminar o ano com crescimento. Assim, nossa projeção é de um recuo de 1,5% do varejo nacional. Fonte: IBGE 5,9% 4,2% 2,2% 3,4% 0,3%0,5% 4,4% 1,4% 3,1% 1,1% 5,8% 3,2% 4,0% 6,1% 5,1% -0,1% 7,5% 4,0% 1,9% 3,0% 0,5% -3,6% -3,3% 1,3% 1,3% 1,1% -2,7% 2,5% 1 9 94 1 9 95 1 9 96 1 9 97 1 9 98 1 9 99 2 0 00 2 0 01 2 0 02 2 0 03 2 0 04 2 0 05 2 0 06 2 0 07 2 0 08 2 0 09 2 0 10 2 0 11 2 0 12 2 0 13 2 0 14 2 0 15 2 0 16 2 0 17 2 0 18 2 0 19 2 0 20 E 2 0 21 E PIB Anual - Var. % Cresc. Acum. jan-mar/20 Geral -13,7% -2,7% Supermercados, Hipermercados, Alimentos e Bebidas -2,4% 3,4% Móveis, Eletrodomésticos, Eletroeletrônicos e Informática -15,1% -1,5% Combustíveis e Lubrificantes -8,7% -6,3% Veículos, Motos e Peças -26,3% -10,6% Tecidos, Vestuário, Calçados e Acessórios -11,1% 1,1% Material de Construção -17,9% -4,9% Fonte: Serasa Experian Atividade do Comércio Mar/20 x Mar/19 Relatório Macroeconômico Serasa Experian – 1º Trimestre de 2020 | 3 1.3) Indústria A produção industrial braslieira havia avançado 0,5% em fevereiro/20, perante o mês imediatamente anterior, já efetuados os devidos ajustes sazonais.Tal resultado foi puxado pelo crescimento de 1,2% na produção de bens de capital e da alta de 0,5% na produção de bens intermediários, já que a indústria de bens de consumo havia recuado 0,6% em fevereiro/20 por causa da retração de 0,7% na indústria de bens de conusmo duráveis. Aliás, foi a própria indústria de bens de consumo duráveis que, recuando 11,6%, foi a principal responsável pela retração de 0,4% da produção industrial de fevereiro/20 na comparação com fevereiro/19 (diga-se de passagem que, como o feriado do carnaval neste ano de 2020 caiu em fevereiro e o do ano passade em março, houve dois dias úteis a menos em fevereiro/20 contra fevereiro/19). De qualquer forma, com o impacto da Covid-19 sobre os hábitos de consumo da população brasileira, é justamente o setor industrial de bens duráveis que vai ser um dos mais negativamente impactados. Por exemplo, segundo a Anfavea, a produção de veículos automotores recuou 21,1% em março/20 contra o mesmo mês do ano passado, perfazendo um recuo de 16,0%. Diante desta nova realidade, estimamos recuo de 3,8% na atividade industria em 2020. 2. Inflação e Política Monetária 2.1) Inflação A inflação medida pelo IPCA variou 0,07% em março/20, encerrando o primeiro trimestre de 2020 com alta acumulada de 0,53%, quase um ponto percentual menor que o mesmo período acumulado do ano passado. Nos últimos 12 meses encerrados em março/20 a inflação acumulada neste período foi de 3,30%, bem abaixo do centro da meta de inflação prevista para este ano, que é de 4,0%. Vale notar que, mesmo com a acentuada desvalorização cambial acumulada neste primeiro trimestre, aparentemente seus efeitos sobre a inflação parecem estar bastante contidos. E isto por duas razões: a) recuo dos preços das commodities, em dólares, o que, de certa forma, mantém mais ou menos inalterados os seus preços em reais; b) expressiva redução da demanda doméstica como um todo. Para 2020, mantido o atual cenário recessivo, não se vislumbram pressões inflacionárias que possam colocar em risco o cumprimento da meta de inflação. Pelo contrário, estimamos uma inflação acumulada para o ano de apenas 3,0%, o que permitirá inclusive o Banco Central prosseguir reduzindo a taxa Selic ao longo dos próximos meses. 2.2) Política Monetária Fonte: IBGE 75 80 85 90 95 100 105 110 ab r/ 07 no v/ 07 ju n/ 08 ja n/ 09 ag o /0 9 m ar /1 0 ou t/ 10 m ai /1 1 de z/ 11 ju l/ 12 fe v/ 13 se t/ 13 ab r/ 14 no v/ 14 ju n/ 15 ja n/ 16 ag o /1 6 m ar /1 7 ou t/ 17 m ai /1 8 de z/ 18 ju l/ 19 fe v/ 20 Prudução Industrial (2012 = 100) Diferença 2020 2019 p.p. Geral 0,53% 1,51% -0,98 Alimentação e Bebidas 1,63% 3,09% -1,46 Habitação 0,28% 0,87% -0,59 Artigos de Residência -1,23% 0,79% -2,02 Vestuário -1,00% -1,03% 0,03 Transportes -0,80% 1,11% -1,91 Saúde e Cuidados Pessoais 0,62% 1,17% -0,55 Despesas Pessoais 0,43% 0,96% -0,53 Educação 4,47% 3,99% 0,48 Comunicação 0,36% -0,19% 0,55 Fonte: IBGE Inflação Acumulada - 1o Tri. IPCA Relatório Macroeconômico Serasa Experian – 1º Trimestre de 2020 | 4 O Banco Central, em sua última reunião do Comitê de Política Monetária (COPOM) realizada em 18/03, ou seja, já diante das ameaças da Covid-19, reduziu em 0,5 ponto a taxa Selic colocando-a em 3,75% a.a., o menor patamar mínimo histórico desde a estabilização monetária promovida pelo Plano Real. E, na medida em que os impactos adversos da pandemia sobre a economia brasileira foram ficando cada vez mais evidentes, o Banco Central prosseguiu adotando uma série de medidas de afrouxamento monetário (p.ex. reduções de compulsórios) bem como medidas para favorecer a liquidez do Sistema Financeiro Nacional e preservar a sua solvência Desta forma, todo o arsenal monetário foi acionado visando minimizar o tombo da economia brasileira e prepará-la para uma recuperação mais rápida, assim que possível. Neste sentido, medidas adicionais ainda não estão descartadas e, quanto à própriataxa Selic, estimamos mais duas quedas ainda neste semestre, colocando-a no nível de 3,0% a.a., patamar que deverá prevalecer ao longo de todo o segundo semestre. 3. Balança Comercial, Setor Externo e Taxa de Câmbio 3.1) Balança Comercial A Balança comercial registrou em março/20 superávit de US$ 4,7 bilhões, fruto de exportações no montante de US$ 19,2 bilhões e importações de US$ 14,5 bilhões. Com este resultado, a balança comercial acumula superávit de US$ 6,1 bilhões nos três primeiros meses do ano, um recuo de 33,1% na comparação com o mesmo período do ano passado, quando o superávit fora de US$ 9,0 bilhões. Com a covid-19 afetando todas as economias globais, tanto as exportações quanto as importações brasileiras cairão em 2020: as primeiras pela queda dos preços da commodities e pela retração do comércio mundial, e as segundas pela própria recessão doméstica. Portanto, o superávit da balança comercial brasileira deverá recuar de US$ 48,0 bilhões em 2019 para algo em torno de US$ 40 bilhões em 2020. 3.2) Setor Externo No primeiro bimestre de 2019, o déficit externo em transações correntes do país foi de US$ 15,8 bilhões, maior que o déficit de US$ 12,3 bilhões verificado no mesmo período de 2019. A redução do saldo comercial, já comentada no item acima, foi principal fator de deterioração das contas externas do país já que a balança de serviços (aluguel de equipamentos, seguros, fretes, viagens, etc.) e a de rendas (pagamento de juros, remessa de lucros, etc.) apresentaram saldos negativos muito semelhantes aos do mesmo período do ano passado: déficit acumulado nestas duas contas de US$ 15,8 bilhões no primeiro bimestre deste ano contra déficit de US$ 16,1 bilhões no mesmo período do ano passado. Este maior déficit em transações correntes acabou não sendo coberto pelo ingresso de investimentos diretos no país que, no primeiro bimestre deste ano, atingiu US$ 11,6 bilhões. Fonte: BC 2,5 4,5 6,5 8,5 10,5 12,5 14,5 16,5 ag o /1 1 fe v/ 1 2 ag o /1 2 fe v/ 1 3 ag o /1 3 fe v/ 1 4 ag o /1 4 fe v/ 1 5 ag o /1 5 fe v/ 1 6 ag o /1 6 fe v/ 1 7 ag o /1 7 fe v/ 1 8 ag o /1 8 fe v/ 1 9 ag o /1 9 fe v/ 2 0 ag o /2 0 Taxa Selic - % a.a. Relatório Macroeconômico Serasa Experian – 1º Trimestre de 2020 | 5 As reservas internacionais brasileiras mantiveram-se relativamente estabilizadas durante o primeiro bimestre de 2020. Fecharam o mês de fevereiro/20 em US$ 362 bilhões contra US$ 359 bilhões em janeiro/20 e US$ 357 bilhões em dezembro/20. 3.3) Taxa de Câmbio A cotação da moeda norte-americana disparou frente ao real no mês de março/20. Subiu 15,6% em relação a cotação de fechamento de fevereiro/20 (R$ 4,50) e encerrou o primeiro trimestre em R$ 5,20, recorde histórico nominal. No ano, a alta do dólar frente ao real acumula 29%. Vários fatores estão por trás desta expressiva desvalorização da moeda local. Como já exposto, a piora do déficit em transações correntes dado o menor saldo da balança comercial já era um fator de pressão sobre o real desde o início do ano. Este fator foi agravado pela queda do preço das commodities, em fevereiro, ainda quando a covid-19 estava restrita apenas à economia chinesa. Com o alastramento da epidemia para fora das fronteiras asiáticas e atingindo praticamente todas os continentes, o movimento de “flight-to-quality” (aumento da aversão ao risco nos mercados globais) exacerbou o movimento de desvalorização cambial apesar das seguidas intervenções do Banco Central no mercado de divisas. Para o fechamento do ano, acreditamos num ligeiro recuo da cotação do dólar frente ao real comparativamente às cotações. Subjacente a esta hipótese reside a perspectiva da retomada do crescimento da economia brasileira e mundial, superando o presente trauma sanitário, a partir do quarto trimestre deste ano. Neste sentido, estimamos um patamar de R$ 4,90 para a moeda norte-americana ao final de 2020. 4. Mercado de Trabalho 4.1) Emprego A taxa de desocupação, registrada pela PNAD Contínua do IBGE, atingiu 11,6% no trimestre encerrado em fevereiro/20. Foi a menor para este trimestre desde fevereiro/17, perfazendo um contingente de 12,3 milhões de pessoas desocupadas. O volume de pessoas fora da força de trabalho (65,9 milhões de pessoas) atingiu um recorde histórico em fevereiro/20 e número de pessoas desalentadas (4,7 milhões), isto é, que desistiram de procurar emprego, não mostrou variação significativa. Com a economia brasileira entrando em recessão, a qual deverá durar pelo menos dois trimestres, a tendência é de que a tendência de redução gradual da taxa de desemprego seja revertida e, portanto, deveremos presenciar aumento nas taxas de desemprego especialmente durante o segundo e o terceiro trimestres. Caso a nossa hipótese de retomada da atividade econômica a partir do quatro trimestre se confirme, poderemos ter algum estancamento da ascensão do desemprego Fonte: IBGE 4 6 8 10 12 14 16 ju n /1 2 o u t/ 1 2 fe v/ 1 3 ju n /1 3 o u t/ 1 3 fe v/ 1 4 ju n /1 4 o u t/ 1 4 fe v/ 1 5 ju n /1 5 o u t/ 1 5 fe v/ 1 6 ju n /1 6 o u t/ 1 6 fe v/ 1 7 ju n /1 7 o u t/ 1 7 fe v/ 1 8 ju n /1 8 o u t/ 1 8 fe v/ 1 9 ju n /1 9 o u t/ 1 9 fe v/ 2 0 Taxa de Desocupação (%) Relatório Macroeconômico Serasa Experian – 1º Trimestre de 2020 | 6 mais para o final do ano. Todavia, a taxa média de desemprego em 2020 será, certamente maior, que a taxa média observada em 2019, podendo retornar aos níveis de 2017 (taxa média de 13,5%). 4.2) Rendimento O rendimento médio real habitual (R$ 2.375) havia recuado 0,3% no trimestre encerrado em fevereiro/20 na comparação anual. Mas, mesmo com esta ligeira oscilação negativa, ela vinha numa tendência de recuperação iniciada a partir do segundo semestre do ano passado. No entanto, tal tendência não se sustentará com a recessão e com a diminuição tanto do nível de emprego, quanto pela redução das horas trabalhadas concomitante à redução salarial proporcional que alguns setores, sobretudo os industriais, deverão praticar em boa parte destes próximos dois trimestres. Desta forma, tanto o rendimento real médio quanto a massa salarial real deverão recuar em 2020, sendo este um dos fatores que determinará a queda do consumo das famílias bem como do PIB em 2020. 5. Política Fiscal 5.1) Arrecadação Tributária No acumulado do primeiro bimestre de 2020, a arrecadação tributária federal havia atingido R$ 292 bilhões, um ganho real de 1,6% frente ao primeiro bimestre do ano passado. Se considerarmos tão somente a arrecadação própria da RFB, que mais se relaciona diretamente ao ciclo da economia, a arrecadação tributária atingira R$ 276 bilhões no primeiro bimestre de 2020, um ganho real de 0,7% em relação ao mesmo período do ano passado. Claro que com a mudança radical do cenário econômico a partir de meados de março/20, todo este avanço real que começava a ser ensaiado em relação à arrecadação fiscal foi por água abaixo. Isenções tributárias temporárias, reduções de alíquotas de importações, postergação de pagamentos de alguns tributos, além da própria redução da atividade econômica promoverão uma queda na arrecadação tributária provavelmente maior que a própria retração do PIB, contribuindo para um expressivo crescimento do déficit primário e da dívida pública neste ano. 5.2) Resultado Primário e Dívida Pública 2020 2019 Imposto s/Importação 7.409 7.136 3,8% IPI 9.085 9.602 -5,4% Imposto de Renda 91.706 88.460 3,7% IOF 6.981 6.624 5,4% ITR 58 61 -4,0% COFINS 43.253 44.650 -3,1% PIS/PASEP 12.330 12.376 -0,4% CSLL 23.500 24.000 -2,1% CIDE 424 506 -16,3% PSS - Plano de Seguridade do Servidor5.037 5.416 -7,0% Outras Administradas pela SRF 4.422 3.852 14,8% Subtotal (A) 204.205 202.684 0,8% Arrecadação Previdenciária (B) 72.294 71.786 0,7% Administradas pela RFB (C) = (A) + (B) 276.499 274.470 0,7% Administradas por Outros Órgãos (D) 15.360 12.768 20,3% Total Geral (E) = (C) + (D) 291.858 287.238 1,6% Fonte: SRF. Obs.: a preços de fevereiro/20 RECEITAS (R$ Milhões) Janeiro a Fevereiro Var. (%) Fonte: IBGE 2150 2200 2250 2300 2350 2400 ju n /1 2 o u t/ 1 2 fe v/ 1 3 ju n /1 3 o u t/ 1 3 fe v/ 1 4 ju n /1 4 o u t/ 1 4 fe v/ 1 5 ju n /1 5 o u t/ 1 5 fe v/ 1 6 ju n /1 6 o u t/ 1 6 fe v/ 1 7 ju n /1 7 o u t/ 1 7 fe v/ 1 8 ju n /1 8 o u t/ 1 8 fe v/ 1 9 ju n /1 9 o u t/ 1 9 fe v/ 2 0 Rendimento Real Médio (R$) Relatório Macroeconômico Serasa Experian – 1º Trimestre de 2020 | 7 No acumulado do primeiro bimestre de 2020, o Setor Público Consolidado (Governo Federal, Estados, Municípios e Empresas Estatais) acumulou um superávit primário de 2,9% do PIB, ligeiramente melhor que o resultado positivo e 2,8% do PIB observado no mesmo período do ano passado. Com este resultado, o déficit primário acumulado em 12 meses encerrados em fevereiro/20 atingiu 0,8% do PIB (R$ 58,5 bilhões). Mas esta tendência de diminuição do déficit público será revertida neste ano dada a necessidade de se acionar a Política Fiscal para evitar uma recessão ainda maior na economia por causa da pandemia. Quedas na arrecadação tributária e ampliação do gasto público, especialmente em ações que efetuarão transferências de renda para milhões de brasileiros, deverão levar o resultado primário para um déficit da ordem de 5% do PIB em 2020. Com um déficit primário da ordem acima descrita, com uma despesa anual de juros que também orbita em torno de 5% do PIB, o déficit nominal do setor público consolidado deverá atingir algo como 10% do PIB este ano, levando a dívida bruta, que estava se estabilizando entre 75% e 80% do PIB, para algo entre 85% e 90% do PIB ao final de 2020. 6. Inadimplência e Crédito 6.1) Inadimplência O mês de fevereiro/20 encerrou com um total de 63,9 milhões de brasileiros inadimplentes, o maior patamar de toda a série histórica. O total de dívidas vencidas e não pagas atingiu 225,8 milhões, o que representa uma média de 3,5 dívidas distintas por inadimplente. O montante financeiro das dívidas em atraso foi de R$ 255,1 bilhões, o que representa um valor médio de R$ 3.992 por consumidor inadimplente e um ticket médio de R$ 1.130. Também em fevereiro/20 havia 6,2 milhões de empresas inadimplentes no país, o mesmo nível de janeiro/20 e, da mesma forma, recorde histórico em termos absolutos. O total de dívidas em atraso das empresas atingiu 53,5 milhões, o que representa uma média de 8,7 dívidas por empresa inadimplente. O montante financeiro das dívidas em atraso em fevereiro/20 foi de R$ 114,9 bilhões, um valor médio de R$ 18.650 por empresa inadimplente e um ticket médio de R$ 2.148. Os números de fevereiro/20 já não eram bons e tenderão a piorar com a recessão, tanto para as empresas quanto para os consumidores, apesar de nos encontrarmos com uma taxa de juros em patamar mínimo Fonte: BC -4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 fe v/ 0 9 a go /0 9 fe v/ 1 0 a go /1 0 fe v/ 1 1 a go /1 1 fe v/ 1 2 a go /1 2 fe v/ 1 3 a go /1 3 fe v/ 1 4 a go /1 4 fe v/ 1 5 a go /1 5 fe v/ 1 6 a go /1 6 fe v/ 1 7 a go /1 7 fe v/ 1 8 a go /1 8 fe v/ 1 9 a go /1 9 fe v/ 2 0 Resultado Primário 12 meses - % do PIB Fonte: BC 50 55 60 65 70 75 80 85 fe v/ 0 9 a go /0 9 fe v/ 1 0 a go /1 0 fe v/ 1 1 a go /1 1 fe v/ 1 2 a go /1 2 fe v/ 1 3 a go /1 3 fe v/ 1 4 a go /1 4 fe v/ 1 5 a go /1 5 fe v/ 1 6 a go /1 6 fe v/ 1 7 a go /1 7 fe v/ 1 8 a go /1 8 fe v/ 1 9 a go /1 9 fe v/ 2 0 Dívida Bruta do Setor Público - % do PIB Inadimplência (Fevereiro/20) Consumidores Empresas Total (Milhões) 63,9 6,2 Dívidas (Milhões) 225,8 53,5 Dívidas (R$ Bilhões) 255,1 114,9 Dívida / Inadimplente 3,5 8,7 Dívida / Inadimplente (R$) 3.992 18.650 Ticket Médio (R$) 1.130 2.148 Fonte: Serasa Experian Relatório Macroeconômico Serasa Experian – 1º Trimestre de 2020 | 8 histórico. A deterioração do fluxo de caixa, sobretudos nas micro e pequenas empresas, que representam 94% de todo universo das empresas inadimplentes, no caso das empresas, e o aumento do desemprego concomitante à queda da renda real, no caso dos consumidores, serão os fatores preponderantes no aumento das curvas de inadimplência ao longo dos próximos trimestres. 6.2) Crédito A quantidade de pessoas que buscaram crédito caiu 8,4% no mês de março/20 em comparação ao mesmo mês do ano passado. Se lembrarmos que o mês de março deste ano teve dois dias úteis a mais que março de 2019 – porque no ano passado o carnaval caiu em março – este recuo de 8,4% na demanda do consumidor por crédito equivale a um tombo de expressivos 16,8%, o que significa um retorno da busca do consumidor por crédito aos níveis de 2017. Voltando aos dados de março/20, notamos que a retração da demanda ocorreu mais intensamente nas faixas de rendas mais baixas. Isto é normal que seja assim pois os consumidores de rendas menores geralmente não contam com reservas financeiras e são mais vulneráveis do ponto de vista de renda e emprego, retraindo-se mais intensamente na busca por crédito comparativamente aos consumidores de maior renda. Num comportamento similar, porém menos intenso, o desempenho da demanda por crédito por parte das empresas avançou 1,7% em março/20. Mas, ajustando pela quantidade de dias úteis, teríamos tido uma queda de 7,5%. Dado o atual momento de enfraquecimento da demanda dos consumidores e das empresas por crédito, reduzimos a projeção da expansão do mercado de crédito em 2020 de 8,5% para 3,5%, ou seja, crescimento real quase nulo, com destaque para as linhas de crédito mais voltadas a cobertura de déficits de caixa, renegociação de dívidas, etc., do que em linhas voltadas à expansão do consumo, patrimônio e investimentos produtivos. 7. Balanço e Projeções1 É inquestionável que o cenário econômico mudou radicalmente a partir de meados de março/20 com o alastramento da Covid-19 para fora das fronteiras chinesas, atingindo todas as economias globais, Brasil inclusive. Se antes, projetávamos uma trajetória de aceleração do crescimento econômico, crédito com expansão de dois dígitos, redução gradual da inadimplência e do desemprego, contas fiscais em recuperação, estabilização da taxa cambial, agora enfrentamos tendências diametralmente opostas. Dado que o choque sanitário adverso é uma realidade, o debate econômico centra-se, agora, em tentar vislumbrar de que modo e quando as economias globais darão os seus primeiros passos em direção à superação desta crise. E, ainda com bastante grau de incerteza, os cenários possíveis são, pelos economistas, simbolizados por algumas letras: V (recuperação rápida); U (recuperação lenta); L (grande depressão). É bem provável que alguns países consigam realizar uma recuperação em V, ou seja, apresentem uma normalização das suas atividades produtivas mais rapidamente. Isto poderá mesmo ocorrem naqueles 1 Disclaimer. Este relatório foi produzido pela área de Indicadores de Mercado da Serasa Experian e as opiniões, análises e projeções aqui contidas expressam a visão dos analistas responsáveis por sua elaboração. Neste sentido, a Serasa Experian não se responsabiliza e nem tampouco se responsabilizará pelas consequênciasde decisões tomadas por quaisquer usuários deste relatório. jan-mar/20 Var. Acum. % Consumidores (por faixa de renda) -8,4% 1,0% até R$ 500 -13,0% -2,1% R$ 500 a R$ 1.000 -8,7% 1,6% R$ 1.000 a R$ 2.000 -7,3% 1,2% R$ 2.000 a R$ 5.000 -7,3% 1,4% R$ 5.000 a R$ 10.000 -6,8% 1,2% mais de R$ 10.000 -6,7% 1,5% Empresas (por porte) 1,7% -0,5% Micro e Pequenas 1,7% -0,6% Médias 0,3% 3,2% Grandes 4,8% 5,2% Fonte: Serasa Experian Demanda por Crédito Mar/20 x Mar/19 Relatório Macroeconômico Serasa Experian – 1º Trimestre de 2020 | 9 países que, de uma forma ou de outra, obtiveram sucesso em controlar com maior eficiência a propagação do vírus em suas populações, como por exemplo ocorreu com a Coréia do Sul e com a própria China, que inclusive já desativou os hospitais emergenciais que haviam sido construídos em tempo recorde e já reabriu, sem maiores restrições, a circulação das pessoas, inclusive nas regiões que se caracterizaram como o epicentro da pandemia. Mas esta não é a situação da maioria dos países. Na verdade, todo o arsenal monetário, fiscal e de rendas que foram anunciados e que estão sendo colocados em prática por praticamente todos eles, tem como objetivo evitar que o “U” se transforme em “L”, ou seja, que a crise atual acabe se transformando numa verdadeira crise de crédito, com quebradeira de empresas e bancos, acompanhada de explosão da inadimplência das famílias. Daí porque, basicamente, todo conjunto de medidas econômicas que foram utilizadas durante a crise financeira internacional de 2008 está sendo agora elevado à enésima potência. E aqui no Brasil, as reações de política econômica não estão sendo diferentes. Neste sentido, o cenário mais provável para a economia brasileira é de uma curva em “U”: dois trimestres de recessão com início de recuperação a partir do quarto trimestre deste ano. Desnecessário dizer que esta perspectiva ainda carrega um elevado grau de incerteza mas, por enquanto, parece ser a que faz mais sentido. Seguem as principais projeções da Serasa Experian para a economia brasileira em 2020. Quadro das Projeções Macroeconômicas Variável Macro 2019 2020 Tendência PIB – Crescimento Real (%) 1,1 -2,7 ↓ Produção Industrial – Crescimento Real (%) -1,1 -3,8 ↓ Desemprego (%) – (Média Anual) 11,9 13,5 ↑ Inflação (IPCA) – Acumulado Anual (%) 4,3 3,0 ↓ Taxa Selic (%) - (Final de Ano) 4,50 3,00 ↓ Dólar (Final de Ano) 4,03 4,90 ↑ Crédito - Crescimento Nominal (%) 6,5 3,5 ↓
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