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Poesia Profa. Conceição Flores https://www.youtube.com/watch?v=t8N3Kld04Ho Catar feijão se limita com escrever: jogam-se os grãos na água do alguidar e as palavras na folha de papel; e depois, joga-se fora o que boiar. Certo, toda palavra boiará no papel, água congelada, por chumbo seu verbo: pois para catar esse feijão, soprar nele, e jogar fora o leve e oco, palha e eco. Ora, nesse catar feijão entra um risco: o de que entre os grãos pesados entre um grão qualquer, pedra ou indigesto, um grão imastigável, de quebra dente. Certo não, quando ao catar palavras: a pedra dá à frase seu grão mais vivo: obstrui a leitura fluviante, flutual, açula a atenção, isca-a com risco.... João Cabral de Melo Neto Catar feijão Não forces o poema a desprender-se do limbo. Não colhas no chão o poema que se perdeu. Não adules o poema. Aceita-o Como ele aceitará sua forma definitiva e concentrada no espaço. Chega mais perto e contempla as palavras. Cada uma tem mil faces secretas sob a face neutra e te pergunta, sem interesse pela resposta, pobre ou terrível, que lhe deres: Trouxeste a chave? Carlos Drummond de Andrade Procura da poesia Octavio Paz, em O arco e a lira, escreve: A poesia é conhecimento, salvação, poder, abandono. [...] Experiência, sentimento, emoção, intuição, pensamento não dirigido. Filha do acaso; fruto do cálculo. Arte de falar de uma forma superior; linguagem primitiva. Obediência às regras; criação de outras. [...] Jogo , trabalho, atividade ascética, Confissão. Experiência inata. Visão, música, símbolo. Poesia e Poema Analogia: o poema é um caracol onde ressoa a música do mundo e metros e rimas são apenas correspondências, ecos, da harmonia universal. [...] O poema é mediação entre a sociedade e aquilo que a funda. (2012, p. 21; 46). Para Johannes Pfeiffer: A poesia não é distração, mas concentração, não substituto da vida, mas iluminação do ser, não claridade do entendimento, mas verdade do sentimento. (apud MOISÈS, 1999, p. 403). È necessário não confundir Poesia e Poema; poesia é o “estado emotivo” ou “lírico” do poeta, no momento da criação do poema; o “estado lírico” reviverá na alma do leitor se este lograr transfigurar o poema em poesia. Poema é fixação material da poesia, é a decantação formal do “estado lírico”. São as palavras, os versos e as estrofes que se dizem e que se escrevem, e assim fixam e transmitem o “estado lírico” do poeta. (AMORA, António Soares. Apud COELHO, Nelly Novaes, 1986, p. 49). O poema é sempre um texto dividido em versos e/ou estrofes. O poema é, portanto, um texto. Um objeto concreto. A poesia, por outro lado, não tem essa concretude. Poderia ser considerada uma substância imaterial que dá vida ao poema, mas que também pode estar presente em outros elementos: uma paisagem, um quadro, um momento. . Não são as coisas, em si, que são poéticas, mas a provocação que essas coisas, em determinados momentos/situações provocam nos sentidos humanos. São assim, poéticos, os aspectos transitivos das coisas, que afetam nossos sentidos e nossa consciência. A interpretação consiste em fazer um exame a partir dos indícios do texto, lendo os elementos constitutivos do texto. Começar pela estrutura, em seus detalhes: a forma, o vocabulário, os sons, a pontuação, o ritmo, a categoria gramatical dos vocábulos, a estrofação, isto é, os elementos significantes do corpo do texto devem ser detalhadamente analisados e trazidos à luz pelo leitor. Análise poética: O Professor Antonio Candido, no Exercício de leitura (1975), inicia o texto afirmando: Quase sempre é mais fácil lidar com os elementos “difíceis” do texto, mesmo porque muitas vezes é o leitor que os faz parecer tais. O presente artigo procura sugerir a conveniência do contrário, isto é, que a análise correta se torna mais accessível, tanto para o professor quanto para o aluno, quando começamos realmente pelo que há de mais evidente e corriqueiro. (1975, s/p.) Exercício de leitura: 1. O objetivo da análise não é o poeta nem o leitor, mas o poema. 2. Isto significa que, pelo menos a princípio, o poema deve ser tratado como um “objeto” independente, observado a partir de características que são próprias dele, não do poeta nem do leitor. 3 Logo, não começar definindo o “tema”, pois isto equivaleria a fornecer o significado central antes da análise, isto é, importaria em dispensá-la ou deformá-la por uma conclusão precoce. A análise poética demonstra, frequentemente, que o “tema” quase nunca é o “assunto” ostensivo, ou a conclusão expressa; mas algo escondido, que é preciso descobrir. 4 Uma análise objetiva e metódica deve começar pelos elementos por assim dizer “palpáveis” do poema, isto é, os que só existem nele, não no espírito do autor ou do leitor. Depois irá para a determinação dos múltiplos “sentidos” que brotam da sua dinâmica, e acabará nos “significados”, projeções do sistema de sentidos. Antonio Candido indica oito passos para análise de um poema: 10 5. Sempre que couber, a primeira operação deve ser o estudo dos elementos relativos ao gênero onde o poema se enquadra, pois eles são normas anteriores que se tornam um ponto de partida impessoal. 6. A seguir, é preciso esclarecer o sentido de cada palavra e cada verso. 7. Em terceiro lugar, focalizar os elementos “materiais”, os mais “palpáveis” de todos: metro, ritmo, rima, estrofação, pontuação e, sobretudo, a relação entre eles. 8. Nessas etapas, é preciso fazer um esforço para passar da descrição atomizada de cada elemento para a correlação entre eles, pois é esta que revela a fórmula própria do poema. CAVALCANTE, Ilane Ferreira; SOUZA, Ana Santana. Teoria da Literatura I. Natal: IFRN, 2012. COELHO, Nelly Novaes. Literatura & Linguagem. São Paulo: Quiron, 1986. MOISÉS, Massaud. Dicionário de termos literários. São Paulo: Cultrix, 1999. PAZ, Octavio. O arco e a lira. Trad. de Ari Roitman e Paulino Wacht. São Paulo: Cosac Naify, 2012. Referências: O que é poesia? O que é o poema? Qual a diferença entre poesia e poema? A poesia está apenas nos poemas? Como analisar uma poema? Perguntas:
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