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LGPD et al (Coords.) - ... Lei Geral de Proteção de Dados - OAB SP, 2020

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Prévia do material em texto

Vice Presidente: Viviane Malanga Apoio:
JANEIRO 2020
Coordenação e Revisão:
Regiane Martins dos Santos
Adriana Cristina F. L. de Carvalho
Lei Geral de
Proteção de
Dados
Comentários à
Realização e Organização:
Comissão de Direito Digital, Tecnologia e
Inteligência Artificial.
OAB-SP 116ª Subsecção - Jabaquara - Saúde
Presidente: Paulo Purkyt
Presidente Evandro Andaku
Lei Geral de
Proteção de
Dados
Comentários à
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Coordenação e Revisão
Regiane Martins dos Santos
Adriana Cristina França Leite de Carvalho
Realização e Organização:
Comissão de Direito Digital, Tecnologia e Inteligência Artificial.
OAB-SP 116ª Subsecção Jabaquara - Saúde
Edição e Diagramação:
Regiane Martins dos Santos
Presidente: Paulo Purkyt
Vice Presidente: Viviane Malanga
Apoio:
Presidente Evandro Andaku
SUMÁRIO
As Disposições Preliminares da LGPD
Marcel Brasil de Souza Moura
 
Processos Preliminares do Artigo 6º da LGPD:
As novas perspectivas sobre proteção de
dados entre o que se quer, o que de fato se
precisa e como adequar os dados adquiridos
com as permissões pessoais e as permissões
legais
Fernanda Dutra Vieira Lopes
 
O Tratamento de Dados Pessoais de
Crianças e Adolescentes
Letícia Lefevre
 
Dos direitos do titular: Finalmente o
empoderamento dos indivíduos enquanto
titulares de seus dados 
Andréia da Costa Pereira dos Santos             
 
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
6
20
33
52
SUMÁRIO
Do Tratamento de Dados Pessoais pelo Poder
Público: O que se espera do Poder Público com
a LGPD?
Jorge Alves Dias
 
Da Transferência Internacional de Dados
Viviane Corrocher Malanga
 
Dos Agentes de Tratamento de Dados
Jane Kaunert e Cristina Hang
 
LGPD: Segurança e Boas Práticas
Sandra Regina Alexandre
 
Da segurança e das boas prática: LGPD na
Educação
Adriana Cristina França Leite de
Carvalho              
 
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
64
81
88
107
122
SUMÁRIO
Da fiscalização em Face da Lei Geral de
Proteção de Dados
Carlos Henrique Terçariol Bergonso
 
Da Autoridade Nacional de Proteção de
Dados
(ANPD) e do Conselho Nacional de Proteção
de Dados Pessoais e da Privacidade
Maria Inês Costa Assaf e Fabio
Henrique Assaf Domingues              
 
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
136
146
Cada Artigo deste e-book é de responsabilidade exclusiva de seu autor e não reflete
necessariamente a linha programática e ideológica, tampouco a opinião da Ordem
dos Advogados do Brasil (OAB), nem a vincula.
 
Todos os direitos desta obra são cedidos à OAB Seccional São Paulo pelos Autores,
nos termos da lei, sendo sua distribuição não onerosa, com finalidade de
disseminação de informações ao público em geral e finalidade não acadêmica
Imagens por pixabay.com
AS DISPOSIÇÕES
PRELIMINARES DA LGPD
No presente artigo, serão feitas algumas considerações sobre
as disposições preliminares da Lei Geral de Proteção de
Dados – LGPD. 
  
Antes de analisar o conteúdo das disposições preliminares
da LGPD, são relevantes algumas considerações sobre a
relevância dos dados na sociedade atual.
 
Segundo MENDONÇA (2014, p. 2):
A sociedade de hoje é resultado de uma revolução
gerada pela informação, razão pela qual ela é
comumente chamada ‘sociedade da informação’. O
grande fluxo informacional que circula rapidamente de
um lado a outro do planeta por meio das novas
ferramentas de tecnologia e de comunicação mostra
que a informação é orientadora e permeadora das
relações, fortalecendo-as (por um lado) e permitindo o
surgimento de novas a partir da derrubada das
barreiras físicas. Nos dias de hoje, é possível
acompanhar fatos que acontecem em um país muito
distante em tempo real através da televisão, manter
conversas simultâneas com várias pessoas de vários
lugares, trocando vídeos e fotos, através das redes
sociais e descobrir qual a melhor rota para ir de um
lugar a outro sem pegar trânsito por aplicativos de
celular em apenas alguns segundos – e enquanto dirige,
no breve tempo do sinal vermelho do semáforo.
Marcel Brasil de Souza Moura¹
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
¹ Marcel é Advogado com experiência em gestão de departamento jurídico
de empresa. Doutorando em Direito e Mestre em Direito. Especialista em
Direito Processual Civil. Especialista em Direito Público. Presidente da
Comissão de Argumentação, Filosofia e Teoria do Direito da OAB/SP,
Subsecção Jabaquara-Saúde. Membro da Comissão de Ética e Disciplina
da OAB/SP, Subsecção Jabaquara-Saúde. Assessor da Presidência da 4.ª
Turma do Tribunal de Ética e Disciplina da OAB/SP
6
O novo é permanentemente criado e a novidade traz em
si a obsolescência do velho que, de fato, sempre persiste
– gerando tensões de caráter organizacional
extremamente complexas. O modo de produção transita
do capitalismo industrial para a sociedade do
conhecimento, ou como parece se impor: sociedade de
dados. A produção de uma massa enorme de
informações e informes, a possibilidade de
armazenagem em nuvens, os motores de busca cada
vez mais refinados e a onipresença de inteligência
artificial no controle de processos – transformam o
tempo, com a radicalidade tolerável a cada tempo.
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
É elucidativa a lição de PUGLIESI (2015, p. 10) sobre a
mudança paradigmática pela qual passa nossa sociedade,
transitando do capitalismo industrial para a sociedade de
dados:
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
7
A geração e captação de dados cresce a cada minuto. A
cada ato praticado pelas pessoas, grandes empresas
recebem seus dados: seja uma compra no cartão de
crédito/débito, utilização de aplicativo de transportes, uma
inocente navegação pela internet, publicações em redes
sociais etc. Há quem diga que as empresas produtoras dos
modernos aparelhos celulares têm acesso às nossas
localizações ainda que o sistema GPS esteja desligado.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Nesse contexto de intensa exposição do indivíduo, convém
que o Estado atue para proteção dos dados pessoais. Com
esse escopo, foi editada a Lei Geral de Proteção de Dados –
LGPD.
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
Na série televisiva
“Black Mirror”, que
expõe um futuro
distópico, não há
privacidade mesmo
em relação às câmeras
dos computadores,
que mostram as
atividades do usuário
para outras pessoas.
8
Segundo o entendimento de PINHEIRO (2018, p. 16):
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
O espírito da lei foi proteger os direitos fundamentais de
liberdade e de privacidade e o livre desenvolvimento da
personalidade da pessoa natural, trazendo a premissa
da boa-fé para todo o tipo de tratamento de dados
pessoais, que passa a ter que cumprir uma série de
princípios, de um lado, e de itens de controles técnicos
para governança da segurança das informações, de
outro lado, dentro do ciclo de vida do uso da informação
que identifique ou possa identificar uma pessoa e esteja
relacionada a ela, incluindo a categoria de dados
sensíveis.
Como se nota, a finalidade da LGPD é a proteção dos
particulares em relação a seus dados pessoais.
 
Feitas essas considerações iniciais, passa-se a analisar as
disposições preliminares da LGPD.
 
Verifica-se na leitura da LGPD que suas disposições
preliminares se dividem da seguinte maneira: objeto (artigo
1º), fundamentos (artigo 2º), aplicação (artigos 3º e 4º),
definições de expressões (artigo 5º) e princípios (artigo 6º).
 
A LGPD disciplina as atividades privada e pública de
tratamento de dados pessoais. Como se verifica em seu
artigo 1º, “o tratamento de dados pessoais, inclusive nos
meios digitais, por pessoa natural ou pessoa jurídica de
direito público ou privado” é disciplinado pela LGPD, cujas
normas são de interesse nacional.
9
Para não deixar dúvidas quanto ao alcance da lei, o
parágrafo único do artigo 1º menciona que as disposições da
LGPD devemser observadas pela União, Estados, Distrito
Federal e Municípios.
 
Com essa previsão, a LGPD se mostra abrangente em relação
a seus destinatários.
 
Merece atenção o artigo 2º, que dispõe sobre os
fundamentos da disciplina de proteção de dados pessoais.
 
Esses fundamentos são os seguintes: respeito à privacidade;
autodeterminação informativa; liberdade de expressão, de
informação, de comunicação e de opinião; inviolabilidade da
intimidade, da honra e da imagem; desenvolvimento
econômico, tecnológico e inovação; livre iniciativa, livre
concorrência e defesa do consumidor; direitos humanos,
livre desenvolvimento da personalidade, dignidade e
exercício da cidadania pelas pessoas naturais.
 
Nota-se que os fundamentos da LGPD têm correspondência,
explícita ou implícita, na Constituição Federal.
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
Com efeito, o respeito à privacidade tem
relação com o direito individual à
inviolabilidade do sigilo da correspondência
e das comunicações (artigo 5º, XII).
10
De seu turno, a liberdade de expressão, de informação, de
comunicação e de opinião tem fundamento no inciso IX do
artigo 5º, segundo o qual “é livre a expressão da atividade
intelectual, artística, científica e de comunicação,
independentemente de censura ou licença”.
 
Já a inviolabilidade da intimidade, da honra e da imagem
têm proteção no inciso X do artigo 5º, segundo o qual “são
invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem
das pessoas assegurado o direito a indenização pelo dano
material ou moral decorrente de sua violação”.
 
 
 
 
 
Quanto à livre iniciativa, nota-se que se trata de fundamento
da república e da ordem econômica brasileira, enquanto a
livre concorrência e a defesa do consumidor são princípios
da ordem econômica. Frise-se que a defesa do consumidor
também é direito individual (artigo 1º, inciso IV; artigo 5º,
inciso XXXII; artigo 170, “caput” e incisos IV e V).
 
Em relação aos direitos humanos, nota-se que a Constituição
Federal os protege, por exemplo, enquanto princípio das
relações internacionais (artigo 4º, inciso II), bem como
quando confere caráter constitucional aos tratados e
convenções internacionais sobre direitos humanos
aprovados, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
membros do Senado Federal e da Câmara dos Deputados
(artigo 5º, parágrafo 3º).
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
11
Quanto ao livre desenvolvimento da personalidade, à
dignidade e ao livre exercício da cidadania pelas pessoas
naturais, acredita-se que são decorrências do fundamento
republicano da dignidade humana (artigo 1º, inciso III).
 
Sobre o fundamento da autodeterminação informativa,
convém mencionar a lição de MENDONÇA (2014, p. 18),
segundo a qual a autodeterminação informativa “nasceu de
uma preocupação específica dentro da proteção do direito à
privacidade e intimidade”. Portanto, nota-se que a
autodeterminação informativa também tem previsão
constitucional (artigo 5º, inciso X).
 
Sobre tal fundamento, SALDANHA (2019, p. 1) ensina que:
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
[...] a autodeterminação
informativa abriga a
filosofia de que o indivíduo
titular de dados pessoais
deve ser o protagonista das
matérias relacionadas ao
tratamento de seus dados
pessoais, trazendo ao
sujeito o foco das operações
em preocupação perpétua
com a privacidade.
Desse modo, verifica-se que a intenção do legislador, ao
fundamentar a LGPD na autodeterminação informativa, é
conferir papel ativo aos cidadãos quanto ao uso de seus
dados pessoais.
12
Em resumo, verifica-se que os fundamentos da LGPD têm
previsão constitucional, quer implícita, quer explicitamente.
Tal constatação demonstra a relevância da disciplina do
tratamento de dados para a sociedade brasileira.
 
Prosseguindo, o artigo 3º da LGPD dispõe que ela se aplica a
qualquer operação de tratamento de dados realizada no
território nacional, desde que atendidos os seguintes
requisitos: os dados tenham sido coletados no território
nacional; a atividade de tratamento tenha por objetivo a
oferta ou o fornecimento de bens ou serviços ou o
tratamento de dados de indivíduos localizados no território
nacional.
 
Merece destaque o fato de que a LGPD tem alcance
extraterritorial, ou seja,
efeitos internacionais, na
medida em que se aplica
também aos dados que
sejam tratados fora do
Brasil, desde que a coleta
tenha ocorrido em
território nacional, ou por
oferta de produto ou
serviço para indivíduos no
território nacional ou que
estivessem no Brasil
(PINHEIRO, 2018, p. 30).
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
13
No artigo 4º, a LGPD traz relevantes exceções à sua aplicação.
A LGPD não se aplica ao tratamento de dados pessoais
realizado por pessoa natural para fins exclusivamente
particulares e não econômicos, bem como para fins
exclusivamente jornalísticos, artísticos, acadêmicos, de
segurança pública, de defesa nacional, de segurança do
Estado ou de atividades de investigação e repressão de
infrações penais.
 
Igualmente, a LGPD não se aplica ao tratamento de dados
pessoais provenientes de fora do território nacional e que não
sejam objeto de comunicação, uso compartilhado de dados
com agentes de tratamento brasileiros ou objeto de
transferência internacional de dados com outro país que não
o de proveniência, desde que o país de proveniência
proporcione grau de proteção de dados pessoais adequado
ao previsto na LGPD.
 
Note-se que, segundo a LGPD, o tratamento de dados
realizado para fins exclusivos de segurança pública, defesa
nacional, segurança do Estado ou atividades de investigação
e repressão de infrações penais será regido por legislação
específica (artigo 3º, §1º).
 
 
 
 
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
Esta legislação específica estará
vinculada aos ditames da LGPD no
que diz respeito aos princípios gerais
de proteção e aos direitos do titular.
14
Também no que concerne ao tratamento de dados realizado
para fins exclusivos de segurança pública, defesa nacional,
segurança do Estado ou atividades de investigação e
repressão de infrações penais, é proibida sua realização por
pessoa de direito privado, exceto em procedimentos sob
tutela de pessoa jurídica de direito público que, serão objeto
de informe específico à autoridade nacional e que deverão
observar a limitação de que fica absolutamente proibido o
tratamento da totalidade de dados pessoais por pessoa de
direito privado, salvo se possua capital integralmente
constituído pelo poder público. A mencionada autoridade
nacional é disciplinada nos artigos 55-A a 55-L da LGPD,
introduzidos pela Lei n.º 13.853/2019.
 
No artigo 5º, a LGPD define diversas expressões utilizadas em
seu texto. 
 
Segundo a LGPD, dado pessoal significa “informação
relacionada a pessoa natural identificada ou identificável”. 
 
Pessoa natural nada mais é que a pessoa física, ou seja, a
pessoa dotada de dignidade humana. A pessoa natural é
identificada quando é possível individualizá-la sem
necessidade de mais informações. É o que ocorre, por
exemplo, quando o controlador (pessoa natural ou jurídica,
de direito público ou privado, a quem competem as decisões
referentes ao tratamento de dados pessoais – artigo 5º, inciso
VI) tem dados da pessoa natural como nome completo e
inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas – CPF. Já a pessoa
identificável é aquela da qual se possui um dado e, de posse
de outro dado, é possível identificá-la.
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
15
PINHEIRO (2018, p.25) ensina que dados pessoais
correspondem a
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
MarcelBrasil de Souza Moura
toda informação relacionada a uma pessoa identificada
ou identificável, não se limitando, portanto, a nome,
sobrenome, apelido, idade, endereço residencial ou
eletrônico, podendo incluir dados de localização, placas
de automóvel, perfis de compras, número do Internet
Protocol (IP), dados acadêmicos, histórico de compras,
entre outros. Sempre relacionados a pessoa natural viva.
No artigo 6º, a LGPD prevê que as atividades de tratamento
de dados devem obediência a diversos princípios, quais
sejam: boa-fé, finalidade, adequação, necessidade, livre
acesso, qualidade dos dados, transparência, segurança,
prevenção, não discriminação, responsabilização e prestação
de contas.
 
O princípio da boa-fé traz a ideia de que todos aqueles que
atuam no tratamento de dados devem agir conforme o
direito. Convém mencionar que a boa-fé se apresenta “dois
enfoques: o subjetivo e o objetivo.
 
A boa-fé subjetiva é a consciência ou a convicção de se ter
um comportamento conforme ao direito ou conforme à
ignorância do sujeito acerca da existência do direito do outro.
Já a boa-fé objetiva permite a concreção de normas impondo
que os sujeitos de uma relação se conduzam de forma
honesta, leal e correta” (PEZZELLA, 1997, p. 199).
16
Os princípios da finalidade e da adequação, na LGPD,
relacionam-se. Com efeito, pelo princípio da finalidade, o
tratamento de dados deve se dar para propósitos legítimos
devidamente informados ao titular, sendo que, pelo princípio
da adequação, o tratamento de dados deve ser compatível
com as finalidades informadas ao titular. Os demais
princípios são autoexplicativos.
 
De forma geral, convém mencionar o papel dos princípios na
interpretação da LGPD. Conforme anotado noutra
oportunidade (MOURA, 2019, op. cit), o jurista Robert Alexy
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
define princípios como ‘mandamentos de otimização’,
ou seja, como ‘normas que ordenam que algo seja
realizado na maior medida possível dentro das
possibilidades jurídicas e fáticas existentes’. Aqui,
mandamentos são entendidos em sentido amplo,
abrangendo tanto permissões como restrições.
Aplicando tal noção de princípio à LGPD, verifica-se que
todos os princípios nela mencionados devem ser aplicados
em todos os casos possíveis, considerando-se a realidade de
fato.
 
Tome-se como exemplo o princípio do livre acesso, segundo
o qual se deve garantir aos titulares dos dados consulta
facilitada e gratuita sobre a integralidade de seus dados
pessoais, bem como sobre a forma e a duração do
tratamento dos dados. 
17
CONCLUSÃO
 
Neste artigo, foram abordadas as disposições preliminares da
LGPD. Inicialmente, foram trazidas considerações gerais
sobre a relevância do tratamento de dados na sociedade
contemporânea, bem como sobre a finalidade da LGPD, qual
seja, proteção dos dados das pessoas. Em seguida,
comentou-se, de forma geral, as disposições preliminares da
LGPD, que, conforme verificado, dizem respeito ao objeto
(artigo 1º), aos fundamentos (artigo 2º), à aplicação material e
territorial (artigos 3º e 4º), às definições de expressões (artigo
5º) e aos princípios (artigo 6º) da LGPD.
Considerando o princípio do livre acesso como mandamento
de otimização, os agentes de tratamento de dados devem
facilitar o acesso aos dados nos limites de suas possibilidades.
 
Certamente, a garantia legal de facilitação do acesso não
significa que o acesso deve se dar sem qualquer critério,
podendo os agentes de tratamento condicionar o acesso à
apresentação de documentos e ao fornecimento de
informações pelos titulares a fim de assegurar a idoneidade
do procedimento.
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
18
REFERÊNCIAS
 
MENDONÇA, Fernanda Graebin. O direito à
autodeterminação informativa: a (des)necessidade de
criação de um novo direito fundamental para a proteção de
dados pessoais no Brasil. Fonte:
https://online.unisc.br/acadnet/anais/
index.php/sidspp/article/view/11702. Acesso em: 18 nov 2019.
 
PEZZELLA, Maria Cristina Cereser. O princípio da boa-fé
objetiva no direito privado alemão e brasileiro. Revista de
direito do consumidor, v. 24/1997. São Paulo: Revista dos
Tribunais online, 1997.
 
PINHEIRO, Patricia Peck. Proteção de dados pessoais:
comentários à Lei n. 13.709/2018 (LGPD). São Paulo : Saraiva
Educação, 2018.
 
PUGLIESI, Márcio. Teoria do direito: aspectos
macrossistêmicos. São Paulo, Sapere Aude: 2015.
 
SALDANHA, João. Fundamentos da LGPD: a
autodeterminação informativa. Fonte: https://triplait.com/a-
autodeterminacao-informativa/#.XeF9X-hKiUk. Acesso em:
18 nov 2019.
AS DISPOSIÇÕES PRELIMINARES DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Marcel Brasil de Souza Moura
19
A Lei Geral de Proteção de Dados – LGPD tem como objetivo
principal preservar os direitos fundamentais de liberdade e
de privacidade e o livre desenvolvimento da personalidade
da pessoa natural, e será aplicada a qualquer pessoa: natural,
jurídica, de direito público ou privado, que realize tratamento
de dados online e/ou offline.
 
Porém, deve-se sempre lembrar que, no mundo em que se
vive atualmente, os dados pessoais da pessoa natural são
necessários e até essenciais para diversas áreas comerciais,
como, por exemplo, declaração de imposto de renda retido
na fonte, na relação de trabalho, no contrato de trabalho, na
relação com plano de saúde, que se fazem necessários, além
dos dados pessoais comuns, de dados pessoais sensíveis,
como tipo sanguíneo, conhecimento de doenças pré
existentes, convicção religiosa, etc.
As novas perspectivas sobre proteção de dados entre
o que se quer, o que de fato se precisa e como adequar
os dados adquiridos com as permissões pessoais e as
permissões legais.
PROCESSOS PRELIMINARES DO
ARTIGO 6º DA LGPD
Fernanda Dutra Vieira Lopes¹
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
¹ Fernanda é Advogada atuante na área trabalhista. Membra da Comissão
de Compliance do IASP, membra da Comissão de Direito Digital
Tecnologia e Inteligência Artificial da OAB Subseção Jabaquara-SP,
membra da Comissão de Direito Médico da OAB Subseção Jabaquara-SP,
Mediadora e Conciliadora. Co-autora de livros na área do Direito
Trabalhista.
20
Aqui começa a atuação da LGPD para resolver questões tais
como quais dados são obrigados, por lei, a serem fornecidos
pela pessoa e quais dados precisam de autorização para
serem manipulados.
 
Ainda, surge a preocupação de como estes dados serão
armazenados, com quem e para quem poderão ser
compartilhados, com ou sem autorização da pessoa física e
como e quando serão extintos.
 
Se não bastasse, ainda há grande dificuldade de adequação
da LGPD que surge com as empresas de telemarketing e
com a rapidez da informação através da informática que,
em questão de minutos, compartilha com diversos meios de
comunicação os dados de diversas pessoas sem suas
autorizações, invadindo, assim, a privacidade da pessoa
natural e desrespeitando a liberdade e a privacidade do
desenvolvimento da personalidade natural.
 
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD 
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
21
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD 
De outro lado, deve-se pensar que no mundo capitalista em
que se vive hoje, o comércio em geral, as empresas, os
fornecedores, os prestadores de serviços e demais atores de
mercado, precisam dos dados das pessoas para poderem
trabalhar. Assim, deve-se pensar nas necessidades de ambos
os lados, entendendo e trabalhando com as leis e o “bom
senso” para equilibrar as relações de comercio e de
privacidade.
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
As novas perspectivas sobre proteção de dados
Assim, neste panorama, o artigo 6º da LGPD vem auxiliar na
resolução destas questões, esclarecendo que
as atividades de tratamento de dados pessoais deverão
observar a boa-fé os seguintes princípios: 
I. finalidade:realização do tratamento para propósitos
legítimos, específicos, explícitos e informados ao titular,
sem possibilidade de tratamento posterior de forma
incompatível com essas finalidades;
II. adequação: compatibilidade do tratamento com as
finalidades informadas ao titular, de acordo com o
contexto do tratamento;
III. necessidade: limitação do tratamento ao mínimo
necessário para a realização de suas finalidades, com
abrangência dos dados pertinentes, proporcionais e não
excessivos em relação às finalidades dos tratamentos de
dados;
IV. livre acesso: garantia, aos titulares, de consulta
facilitada e gratuita sobre a forma e a duração do
tratamento, bem como sobre a integridade de seus
dados pessoais;
22
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD 
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
V.  qualidade dos dados: garantia, aos titulares, de
exatidão, clareza, relevância e atualização dos dados, de
acordo com a necessidade e para o cumprimento da
finalidade de seu tratamento;
VI. transparência: garantia, aos titulares, de informações
claras, precisas e facilmente acessíveis sobre a
realização do tratamento e os respectivos agentes de
tratamento, observados os segredos comercial e
industrial;
VII. segurança: utilização de medidas técnicas e
administrativas aptas a proteger os dados pessoais de
acessos não autorizados e de situações acidentais ou
ilícitas de destruição, perda, alteração, comunicação ou
difusão;
VIII. prevenção: adoção de medidas para prevenir a
ocorrência de danos em virtude do tratamento de dados
pessoais;
IX. não discriminação: impossibilidade de realização do
tratamento para fins discriminatórios ilícitos ou
abusivos;
X.  responsabilização e prestação de contas:
demonstração pelo agente, da adoção de medidas
eficazes e capazes de comprovar a observância e o
cumprimento das normas de proteção de dados
pessoais e, inclusive, da eficácia dessas medidas.”
Desta maneira, é possível verificar ver que a LGPD se esforça
para resolver a questão definitivamente, de forma clara e
concisa, mas, na prática, não é tão simples assim, como
veremos a seguir.
23
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD 
Antes de se adentrar às duas hipóteses que vão esclarecer a
importância do conhecimento e da implantação da LGPD
em todos os segmentos de mercado do país, lembre-se que
a LGPD surgiu principalmente em decorrência da General
Data Protection Regulation (GDPR), que é o Regulamento
Geral sobre a Lei de Dados Europeu, regulador da
privacidade e proteção de dados pessoais, aplicável a todos
os indivíduos na União Europeia e Espaço Econômico
Europeu, criado em 2018, servindo de base e de diretriz para
a LGPD brasileira.
 
Conforme estudos europeus, em 2018 o Google recebeu uma
multa na França de 50 milhões de euros (cerca de US$ 56,8
milhões) por "falta de transparência, informação incorreta e
ausência de consentimento válido na publicidade
personalizada", esta informação serve para demonstrar a
importância da nova lei, que pode destruir uma empresa.
 
A penalização no Brasil não é a mesma da Europa, mas, é
tão eficaz e tão comprometida quanto a Europeia, com o
fulcro de fazer a diferença e ser fielmente cumprida no
Brasil.
 
Neste espeque, de se observar que, embora a LGPD esteja
prevista para entrar em vigor no segundo semestre de 2020,
as empresas em geral precisam de muito estudo e muito
empenho para se adequarem às novas normas e já estão
trabalhando nisso, mas o caminho é árduo e longo na
maioria dos segmentos.
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
24
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD 
Em estudos Brasileiros, segundo pesquisa de setembro de
2019 realizada pela Serasa Experian, 85% das empresas
ainda não se sentem prontas para atender às novas regras
da LGPD. O levantamento, que ouviu um universo de 508
empresas, de todos os portes e segmentos, indicou ainda,
que os setores financeiros, serviços e varejo estão mais
preparados para a lei e que o setor de saúde ocupa a última
posição, com apenas 8,7% das companhias em
conformidade com a lei.
 
Vamos entender na prática, com o exemplo abaixo.
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
Situação
O site de uma farmácia cadastra um usuário como
portador de uma doença crônica para incluí-lo em uma
mala direta direcionada a pacientes com esta condição.
Mesmo que haja interesse em obter vantagem econômica
pela empresa farmacêutica, uma vez que o §4º, do artigo 11
da LGPD possibilita o uso de dados referentes à saúde para a
assistência farmacêutica, fica claro que a lei não oferece
óbice para tal prática, desde que haja consenso específico e
destacado do usuário.
 
Caso não haja consentimento, considerando que as
farmácias não podem ser enquadradas como serviços de
saúde, na forma do artigo 11, inciso II, alínea “f”, da LGPD, o
tratamento desses dados restaria vetado.
 
Ou seja, neste caso a lei evita que a farmácia manipule a
informação fornecida pela pessoa e a use como bem entender,
25
proibindo que envie mala direta que não diz respeito à
informação prestada pela pessoa.
 
A informação prestada à farmácia deve ser utilizada
unicamente para o serviço solicitado pelo cliente e, caso não
seja necessário que a farmácia mantenha os dados do
cliente após a efetivação do serviço, os dados devem ser
devidamente descartados, de forma correta, para que não
caiam em mãos de terceiros.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Lembrando que, neste segundo caso, a pessoa pode
suspender a autorização a qualquer tempo, sem qualquer
explicação, somente solicitando que seus dados sejam
retirados do banco de dados do estabelecimento.
 
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD 
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
Já, na mesma situação, se a
pessoa, ao passar os seus
dados para a farmácia,
assinar consentimento
específico, liberando o uso
de seus dados pessoais pela
farmácia para receber
qualquer mala direta ou
outro tipo de informação ou
propaganda do
estabelecimento, a farmácia
poderá fazê-lo sem qualquer
problema.
26
Contudo, quando a pauta é proteção de dados pessoais e
dados pessoais sensíveis na área da saúde, não é demais
lembrar que o sistema é bem maior e envolve muitos setores
e diversas ramificações, pois aqui envolvem hospitais,
clínicas médicas, laboratórios, farmácias, SUS, ambulâncias e
a própria pessoa física, lembrando, ainda, que esta questão
abrange o setor público e privado e, por isso, o desafio é
bem maior do que em muitos outros setores da sociedade.
 
Se não bastassem todos os desafios que a área da saúde tem
que enfrentar, as pessoas ainda devem se preocupar com as
quadrilhas do crime organizado digital que miram no
ataque a essas estruturas, visando obter alguma vantagem,
através do sequestro dos dados e o crime de chantagem
(crime de extorsão).
 
Assim, para se adaptar as novas normas da LGPD, a área da
saúde precisa não só se proteger pelas maneiras
convencionais, mas deve, ainda, ter mais investimento na
área de cybersegurança, para manter protegidos os dados
pessoais de seus pacientes.
 
 
É relevante ressaltar que sempre existiu a preocupação em
relação à segurança dos dados e informações obtidas pelas
empresas, mas não havia vigilância. Com a implantação da
LGPD, as consequências em função de eventual vazamento
de dados pessoais serão bem mais sérias, com multas
altíssimas por infração, além da exposição do nome da
empresa.
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD 
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
27
Muitas vezes, em função de uma má reputação, uma
empresa nunca mais se levanta, podendo este prejuízo ser
ainda maior do que o financeiro.
CONCLUSÃO
 
Com estas constatações sobre as dificuldades e necessidade
de implantação da LGPD, conclui-se que um dos itens mais
relevantes para que se atinja os objetivos é observar o
Princípio da Transparência, através do qual a empresa
apresenta de forma clarae concisa aos seus clientes,
parceiros e a toda a sociedade, quais os dados pessoais se
utilizar para cada processo em seus negócios, para quê
precisa de tais dados, com quem eles poderão ser
compartilhados, porquê serão compartilhados, se os dados
serão adquiridos com permissão legal ou permissão
específica da pessoa e de que maneira se recolherá a
permissão.
 
Aqui observa-se que, conforme mencionado no artigo 6º da
LGPD, para haver transparência é necessário que seja
informado à pessoa qual a finalidade, adequação e
necessidade do uso do dado solicitado, bem como seja
especificado quais os dados serão utilizados, para quem
serão repassados e por qual motivo, permitindo à pessoa, a
qualquer momento, ter acesso às informações coletadas,
saber de onde foram obtidas e qual a justificativa para
manterem tais informações, quer seja legal ou por
consentimento.
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
28
Se tratando de consentimento, caso a pessoa solicite, a
empresa deverá demonstrar que aquela consentiu com o uso
dos dados, conforme especificado, sendo que o
consentimento deve ser livre de qualquer vício e deve poder
ser suspenso pela pessoa titular dos dados a qualquer
momento.
 
Por fim, é sabido que, mesmo cumprindo com todas as
exigências da lei e estando em conformidade com todas as
normas de conduta, é possível que haja vazamento de dados
nas empresas, talvez por má fé de algum funcionário ou por
invasão de “hakers”, ou qualquer outro motivo.
 
Desta maneira, é essencial que as empresas já estejam
preparadas para atuar em caso de vazamento de dados, para
mitigar os danos para a pessoa física e até para a própria
empresa, bem como conheça as responsabilidades perante a
lei, caso em que as pessoas deverão ser avisadas em tempo
hábil para se protegerem, caso seja necessário,
independentemente de quais dados foram vazados.
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
Aqui vale ressaltar que a lei ainda não
estipulou um prazo para que o aviso seja
feito, mas, como na GDPR o prazo é de até
72 horas, provável que no Brasil se utilize o
mesmo prazo para informar o cidadão e os
demais interessados no caso de
vazamento de dados pessoais.
29
Fato é que, em caso de incidente de segurança envolvendo
dados pessoais, é o controlador quem deve analisar os fatos e
a existência de eventuais riscos e danos, sendo este o
responsável por comunicar a ANPD e a pessoa titular do dado
em prazo razoável que permita aos envolvidos buscar a
mitigação dos danos causados.
 
Vale ressaltar que, conforme artigo 45, caput, da LGPD, O
controlador ou o operador que, em razão do exercício de
atividade de tratamento de dados pessoais, causar a outrem
dano patrimonial, moral, individual ou coletivo, em violação à
legislação de proteção de dados pessoais, é obrigado a
repará-lo, salvo exceções do artigo 43 da mesma lei.
 
Enfim, neste momento a sociedade busca estudar e se
preparar para os desafios que virão concretamente com a
entrada em vigor da LGPD e, quanto mais preparada  estiver,
menores as chances de erros ou de incidentes e maior a
probabilidade de uma sociedade contributiva, permitindo a
aplicação da LGPD de maneira eficaz e sem prejuízos para
quaisquer dos envolvidos.
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
30
REFERÊNCIAS
 
BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil.
Fonte: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-
2018/2018/Lei/L13709compilado.htm. Acesso em 20/01/2020
 
BRASIL. WIKIPÉDIA a Enciclopédia livre. Fonte:
https://pt.wikipedia.org/wiki/Regulamento_Geral_sobre_a_Pro
te%C3%A7%C3%A3o_a_de_Dados. Acesso em 20/01/2020
 
PICCELLI, Roberto Ricomini. Saúde na lei de proteção de
dados: proibições e permissões. JOTA, veículo de imprensa.
31/07/2019. Fonte: https://www.jota.info/paywall?
redirect_to=//www.jota.info/opiniao-e-analise/artigos/saude-
na-lei-de-protecao-de-dados-proibicoes-e-permissoes-
31072019. Acesso em 20/01/2020.
 
GOMES, Helton Simões. Google recebe maior multa já
aplicada por violar dados pessoais na Europa. 21/01/2019.
Fonte: 
https://www.uol.com.br/tilt/noticias/redacao/2019/01/21/googl
e-e-multado-na-franca-por-violar-de-dados-pessoais.htm?
cmpid=copiaecola, Acesso em 20/01/2020.
 
O que são dados sensíveis, de acordo com a LGPD. SERPRO –
Serviço Federal de Processamento de Dados. Fonte:
http://www.serpro.gov.br/lgpd/menu/protecao-de-
dados/dados-sensiveis-lgpd. Acesso em 20/01/2020
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
31
Walar IT Business. Fonte:
https://www.walar.com.br/campanha/download/eBook_GPD_
WLR_v2.0.pdf. Acesso em 15/12/2019.
 
MALDONADO, Viviane Nóbrega; BLUM, Renato Opice. Lei
Geral de Proteção de Dados Comentada. 2ª Ed. São Paulo.
Thomson Reuters Revista dos Tribunais, 2019.
PROCESSOS PRELIMINARES DO ARTIGO 6º DA LGPD
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Fernanda Dutra Vieira Lopes
32
A Lei Federal nº 13.709, de 14 de agosto 2018, denominada Lei
Geral de Proteção de Dados (LGPD), tem como objetivo
dispor sobre o tratamento de dados pessoais, inclusive nos
meios digitais, por pessoa natural ou por pessoa jurídica de
direito público ou privado, com a finalidade de proteger os
direitos fundamentais de liberdade e de privacidade, bem
como o livre desenvolvimento da personalidade da pessoa
natural. 
 
Originada do conteúdo extraído da GDPR - General Data
Protection Regulation, a regulação de proteção de dados da
União Europeia (EU), a LGPD segue o mesmo sentido de
proteger a privacidade de acordo, observando-se o cenário
tecnológico atual.
 
Esse trabalho trata-se da análise da legislação, por meio de
uma visão geral sobre as inovações trazidas pela LGPD no
tocante ao tratamento de dados pessoais de crianças e
adolescentes.
 
Assim, esse artigo é um convite a um olhar teórico sobre o
futuro do tratamento de dados de crianças e adolescentes,
em um mundo globalizado e dinâmico como estamos
vivendo hoje.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS
DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
Leticia Lefevre¹
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
¹ Letícia é Advogada, pós Graduada em Direito Empresarial, possui MBA em
Gestão. PósGraduanda em Inclusão e Direito das Pessoas com Deficiência
pela CBI of Miami. Membra da CDDTIA -  Comissão de Direito Digital
Tecnologia e Inteligência Artificial da OAB/SP Subsecção Jabaquara-Saúde
33
O mundo está cada vez mais dinâmico e ágil; quase tudo se
resolve com as pontas dos dedos em um simples clique. E
crianças e adolescentes sabem disso.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Está previsto no caput do artigo 227 da Constituição Federal
(CF) que é dever da família, da sociedade e do Estado,
assegurar à criança e ao adolescente, com absoluta
prioridade, o direito à vida, à saúde, à alimentação, à
educação, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à
dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e
comunitária, além de colocá-los a salvo de toda forma de
negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade
e opressão.
 
Nesse sentido, é a família a responsável por essas crianças e
adolescentes, devendo sempre resguardar sua segurança e
bem-estar.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
Antes de qualquer
análise sobre o
tratamento de dados de
crianças e adolescentes,
é necessário saber o
que existe em nosso
ordenamento jurídico
acerca da proteção de
seus dados pessoais.
34
Já o artigo 5º, da Constituição Federal, que trata das
garantias fundamentais, dispõe em seu inciso X que são
invioláveis a intimidade, a privacidade, a honra  e
a  imagem  das pessoas, assegurado o direito a indenização
pelo dano material ou moral decorrente de sua violação.
 
Ocorre que, hoje em dia, diante dos avanços tecnológicos,a
quebra dessas garantias fundamentais se torna cada vez
mais recorrente, inclusive na vida de crianças e
adolescentes, resultando em danos materiais e,
principalmente, morais, que muitas vezes trazem
consequências irreparáveis em razão da repercussão social
de certos atos.
 
A Convenção dos Direitos da Criança, da Organização das
Nações Unidas (ONU) de 1989, estabelece que sempre será
levado em consideração o melhor interesse da criança. A
Convenção considera criança, em seu artigo 1º, todo ser
humano com menos de 18 anos de idade, salvo quando, em
conformidade com a lei aplicável à  criança, a maioridade
seja alcançada antes.
 
Nessa Convenção, houve uma mudança de paradigma pelo
qual criança passa a ser sujeito de direitos, digna de
proteção e tutela especifica.
 
No mesmo sentido, não deve ser esquecido o Estatuto da
Criança e do Adolescente (ECA), marco legal interno na
defesa dos direitos das crianças e adolescentes, que ,em seu
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
35
artigo 2º, determina que criança, para os efeitos desta Lei, é
a pessoa até doze anos de idade incompletos e, adolescente,
é aquela entre doze e dezoito anos de idade.
 
Em seu artigo 7º, o ECA prevê que crianças e adolescentes
devem ter um desenvolvimento sadio e harmonioso e, para
tanto, devem ter resguardadas suas informações. 
 
Esse mesmo diploma legal, em seu artigo 16, determina o
direito à liberdade de se expressar, que deve ser sempre
respeitado, devendo a opinião dessas crianças e
adolescentes ser respeitada, sem intromissões arbitrárias,
mas com os devidos cuidados.
 
Já o artigo 17 do ECA prevê o direito ao respeito, que
consiste na inviolabilidade da integridade física, psíquica e
moral da criança e do adolescente, abrangendo, portanto, a
preservação da imagem, da identidade, da autonomia, dos
valores, ideias e crenças, dos espaços e objetos pessoais.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
36
Em relação ao consentimento dos pais, deve-se levar em
consideração o previsto no Código Civil, em seus artigos 3º e
4º, que declara que menores de 16 anos são absolutamente
incapazes de exercer atos da vida civil, de modo que
também está incluído neste rol, os dados pessoais. Por outro
lado, os maiores de 16 anos, são considerados relativamente
incapazes, podendo exercer certos atos de sua vida civil,
sempre com a assistência de seus pais ou representantes
legais.
 
Já a Lei nº 12.965, de 23 de abril de 2014, conhecida como
Marco Legal da Internet, em seu artigo 29, concede
permissão de controle parental em relação ao conteúdo
compreendido como impróprio a seus filhos menores, desde
que respeitado o ECA.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Apesar de o Brasil ter Leis que protegem os dados pessoais
de crianças e adolescentes, com o advento do mundo digital
e globalizado, haveria necessidade da legislação se
enquadrar no que está acontecendo no mundo e
estabelecer esclarecimentos em relação a alguns pontos.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
37
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
O Tratamento dos dados 
A GDPR - General Data Protetion, de 25 de maio de 2018, veio
para apresentar alterações substanciais acerca da proteção
de dados pessoais nos países da União Europeia. Seu artigo
8º, juntamente com os “considerandos” 38 e 65, trazem
pontos relevantes em relação aos dados pessoais de crianças
e adolescentes.
 
No mesmo sentido, a Lei nº 13 709, de 14 de agosto de 2018
(LGPD), veio legislar sobre a proteção de dados pessoais.
 
Foram definidos os tipos de dados pessoais no artigo 5º da
LGPD. Sendo eles: dado pessoal, dado pessoal sensível e dado
anonimizado.
 
Todavia, o legislador não deixou muito clara a distinção entre
dado pessoal não sensível e dado pessoal sensível. Dessa
maneira, a análise de cada caso deve ser dinâmica e
dependerá sempre do contexto. Tudo porque uma mera
definição não impedirá a utilização de algoritmos e
inteligência artificial, sendo possível, a partir do dado pessoal
não sensível, obter-se um dado pessoal sensível.
 
Essa preocupação com os dados sensíveis advém do
fenômeno da publicidade baseada no comportamento das
pessoas para traçar perfis de consumo. 
38
Os dados sensíveis possibilitam conclusões a respeito de um
indivíduo como um todo, como por exemplo, sua orientação
sexual, sua religião, alguma doença que possa ter e, com
essas informações, torna-se muito perigoso que as pessoas
venham a ser classificadas de forma preconceituosa,
interferindo diretamente em seus direitos e liberdades
individuais.
 
Por isso, quem coleta dados sensíveis de seus usuários deve
atender às determinações da LGPD e todos os pontos devem
ser levados em consideração, tais como: se houve
consentimento livre, informado, inequívoco, expresso e
específico sobre a coleta dos dados; se foi explicado como
os dados serão tratados e de cada uso dos dados foi
explicado para o titular.
 
Tudo deve constar nos termos de uso do serviço prestado,
garantindo que os dados sensíveis sejam preservados, dando
a opção ao usuário de consentir ou não com cada possível
uso.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
A LGPD dedicou um
artigo específico
sobre o tratamento
dos dados pessoais
de crianças e
adolescentes.
39
O artigo 14 da LGPD trata exclusivamente do tratamento de
dados pessoais de crianças e adolescentes. No entanto, não
faz qualquer distinção se os dados pessoais desse público são
sensíveis ou não; a regra é uma só.
 
No caput desse artigo, é mantida a determinação
estabelecida na Convenção dos Direitos da Criança que: para
o tratamento dos dados pessoais, deve ser levado sempre em
consideração o melhor interesse da criança e do adolescente.
 
Já o §1º do artigo 14 da LGPD determina que o tratamento de
dados pessoais de crianças deverá ser realizado com o
consentimento específico e em destaque dado por pelo
menos um dos pais ou pelo responsável legal.
 
Nesse caso, não podemos esquecer o estabelecido no ECA
que considera criança, para os efeitos legais, a pessoa até
doze anos de idade incompletos e adolescente aquela entre
doze e dezoito anos de idade.
 
No entanto, um ponto que a Lei não deixa claro, mas que
deve ser levado em consideração, é que os dados de menores
12 anos (crianças) podem ser tratados, porém não especifica
se podem ser divulgados ainda que com a autorização dos
pais.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
No artigo 14, §2º da LGPD, é estabelecida a
obrigação dos controladores de manter
pública a informação sobre os tipos de
dados coletados, a forma de sua
utilização, bem como estabelecer os
procedimentos para o exercício dos
direitos do titular.
40
Então, os controladores - que são os responsáveis pelo
tratamento desses dados - deverão manter pública a
informação sobre os tipos de dados coletados; a forma de sua
utilização e os procedimentos para o exercício dos direitos,
conforme regras específicas.
 
Um dos pontos que merece destaque diz respeito ao fato de
que os controladores não deverão condicionar a participação
dos titulares em jogos, aplicações de internet ou outras
atividades ao fornecimento de informações pessoais, além
das estritamente necessárias à atividade.
 
Porém, há uma exceção de coleta de dados pessoais de
crianças sem o consentimento. Ela está prevista no §3º, do
mesmo artigo 14 da LGPD, e se refere à permissão de coleta
de dados pessoais de crianças sem o consentimento na
hipótese em que a coleta for necessária para contatar os pais
ou o responsável legal. Nesse caso, os dados poderão ser
utilizados uma única vez, não poderão ser armazenados e,
em nenhum caso, poderão ser repassadosa terceiros, sem o
consentimento expresso de pelo menos um dos pais ou do
responsável legal.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
41
Serviços ofertados pela internet e direcionados a crianças,
como por exemplo jogos e desenhos animados, não devem
ser condicionados ao fornecimento de informações pessoais,
salvo as estritamente necessárias à atividade, conforme o
previsto no §4º do art.14.
 
Para a maioria dos serviços on-line,  é necessário o
consentimento dos pais ou responsáveis  para processar os
dados pessoais de uma criança com base no consentimento
até uma certa idade.  Isso se aplica a sites de redes sociais e
plataformas para baixar músicas e comprar jogos online.
 
Está previsto, também, que o responsável pelo tratamento
deverá sempre empregar esforços para verificar se de fato
aquele que deu o consentimento era o real responsável pela
criança, como preconiza o artigo 14, § 5º.
 
Para haver uma adequação efetiva à LGPD, as empresas
deveriam apresentar mecanismos eficazes para verificar se o
consentimento dado está realmente de acordo com a Lei.
 
Medidas de verificação de idade poderiam ser
implementadas, como, por exemplo, formular uma pergunta
que só os pais ou responsáveis soubessem responder, ou,
ainda, solicitar que, para o cadastro da criança fosse
fornecido o e-mail de seus pais para permitir o
consentimento por escrito.
 
Por fim, de acordo com o §6º do referido art.14, as
informações sobre o tratamento e coleta de dados precisa se
adequar à capacidade de compreensão das crianças e dos
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
42
adolescentes, podendo, nesse aspecto, valer-se da utilização
de recursos audiovisuais, levando-se em conta as
características físico-motoras, perceptivas, sensoriais,
intelectuais e mentais do usuário, de forma a proporcionar a
informação necessária aos pais ou ao responsável legal e
adequada ao entendimento da criança quando adequado.
 
É necessário se reconheça a vulnerabilidade desse público
prestando todas as informações que eles possam necessitar
para dar-se a efetiva compreensão e consentimento.
 
Qualquer informação endereçada especificamente a uma
criança deve ser adaptada para ser  facilmente acessível,
usando linguagem clara e objetiva.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
Crianças e adolescentes merecem
proteção específica em relação a seus
dados pessoais, pois não têm consciência
dos riscos, das consequências e de seus
direitos em relação ao processamento de
dados pessoais. 
43
Outra inovação trazida pela LGPD em relação à proteção de
crianças e adolescentes está no direito ao esquecimento, que
prevê que um titular de dados terá o direito de ter seus
dados “esquecidos” quando bem desejar.
 
Conforme o que determina o artigo 18, em seu inciso VI da
LGPD, é permitida a eliminação dos dados pessoais tratados
com o consentimento do titular quando solicitado por ele.
 
Essa nova prerrogativa é relevante, principalmente quando o
titular dos dados der seu consentimento quando
adolescente, época em que, por falta de experiência de vida,
não está ciente dos riscos envolvidos no processo de
divulgação de informações.
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
No entanto, o melhor interesse da criança e do adolescente
deve ser considerado sempre como princípio fundamental a
ser observado nas situações concretas.
Assim, é lícito que, posteriormente, o
titular de direitos queira remover seus
dados pessoais, especialmente da
internet.
 
Como a lei brasileira é muito recente e
sua vigência está prevista para agosto
de 2020, não há casos práticos
parasaber qual será a melhor forma de
resolução de vazamento de dados de
crianças e adolescentes. 
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
44
Um caso prático que pode ser citado está em um evento
ocorrido na Alemanha. A agência reguladora de
telecomunicações daquele país proibiu a venda de
smartwatches focados em crianças. Segundo a instituição,
esses equipamentos seriam basicamente dispositivos para
espionagem de menores, em razão da existência de graves
falhas de segurança. A intimidade e privacidade das crianças
estariam, portanto, violadas, o que não se pode admitir.
 
Outro caso prático, também na Alemanha, se refere a boneca
Cayla. Esse brinquedo trazia falhas de segurança que
permitiam que qualquer pessoa conseguisse conectá-lo por
meio de um telefone celular. As falhas de segurança
permitiram, pois, comunicação com a criança, além de ouvi-
la à distância, enquanto ela estivesse interagindo com o
brinquedo. Além disso, tudo o que as crianças falassem perto
ou para o brinquedo era gravado e enviado a uma empresa
especializada em tecnologias de reconhecimento.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
45
Um caso que chamou a atenção do público foi o da jovem
cuja gravidez foi divulgada à família, mesmo antes da jovem
divulgá-la pessoalmente: de posse de seus dados pessoais,
uma loja de departamento enviou à residência da jovem um
catálogo com produtos para bebê
 
O pai da jovem, inconformado com o assédio da loja, dirigiu-
se à loja para perguntar por que o catálogo tinha sido
enviado à filha.
 
Ao questionar a empresa, soube que a filha estava grávida.
Isso ocorreu porque, após pesquisa na internet, a empresa
municiou-se de informações pessoas da jovem, coletou seus
dados pessoais, tratou-os e enviou a mala direta. Vê-se, nesse
caso, outro caso grave de violação às garantias fundamentais
de privacidade e intimidade da pessoa.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
46
CONCLUSÃO
 
A Lei Geral de Proteção de Dados é um avanço em relação
aos direitos de crianças e adolescentes no âmbito digital.
 
A LGPD foi assertiva em relação a proteção de dados pessoais
de crianças pois até 12 anos incompletos, esse público está
protegido nos termos da Lei.
 
Essa preocupação decorre do fato de que, segundo
pesquisadores, até 12 anos, uma criança não tem
pensamento abstrato formado completamente. Inclusive, até
essa idade é difícil que essa criança consiga fazer uma análise
crítica de fatores abstratos.
 
Com isso, não conseguem entender sobre o tratamento de
dados de forma completa, razão pela qual o consentimento
deve ser dado pelos pais. Porém, alguns pontos não foram
levados em consideração pelos legisladores.
 
O caput do artigo 14 da LGPD trata de crianças e
adolescentes.
 
No entanto, nos seus parágrafos 1º, 3º, 4º e 5º, tratam apenas
de crianças, não contemplando os adolescentes, permitindo,
portanto, que, para tratar dados pessoais desse público não
haja a necessidade expressa de pais ou responsáveis
 
Entretanto, o legislador deixa uma brecha para os dados
pessoais dos adolescentes, principalmente para a faixa etária.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
47
de 13 a 16 anos incompletos, permitindo a esse público a
possibilidade de consentir diretamente acerca do tratamento
de seus dados pessoais, sem qualquer respaldo de pais ou
responsáveis e a despeito da limitação contida no artigo 3º
do Código Civil.
 
Saliente-se que, apesar desse público já ter ciência de alguns
direitos, dificilmente terão maturidade intelectual e
experiência de vida para que, com clareza, entendam o que
será feito com seus dados pessoais.
 
A maior preocupação hoje, no tocante ao tratamento de
dados de crianças e adolescentes, é que, muitas vezes, eles
rapidamente desenvolvem habilidades, tendo a imediata
capacidade crítica de entender aquele uso.
 
Mas o público de 13 a 16 incompletos anos é considerado
absolutamente incapaz para praticar quaisquer atosda vida
civil. Ao concordar com termos de uso de redes sociais, sites
de jogos, é celebrado um negócio jurídico entre as partes,
sendo que esse público não tem condições de, nessa idade,
avalizar o que é melhor para si.
 
Já os adolescentes a partir de 16 anos completos, segundo o
Código Civil, são relativamente incapazes, sendo necessária o
acompanhamento dos pais ou responsáveis para os atos da
vida civil.
 
Ao ser permitido que jovens de 13 a 18 anos tratem de
dados pessoais, está sendo concedido a eles a permissão de
celebrar negócios jurídicos sem o consentimento dos pais,
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
48
sendo que seus dados, inclusive os sensíveis, poderão ser
coletados, tratados e divulgados havendo um risco iminente
de prejuízos a esse público vulnerável.
 
Mesmo com o direto ao esquecimento, o dano será causado
ao adolescente e o impacto na vida desses jovens pode ser
bem preocupante pois pode ser irreversível.
 
É fato que crianças e adolescentes são pessoas em
desenvolvimento e é necessário assegurar a sua autonomia e
liberdade para resguardar seu livre desenvolvimento de sua
personalidade no âmbito digital.
 
No entanto, entende-se que dados de crianças e
adolescentes devem ser tratados de forma especial,
conforme determina a LGPD, porque está de acordo com a
salvaguarda do melhor interesse da criança e do adolescente
corroborando com o que preceituam a Convenção dos
Direitos da Criança e do Adolescente como também o ECA.
 
Dessa maneira, entende-se que deve ser dado o
consentimento expresso dos pais os responsáveis quando se
tratar de coleta, armazenamento e tratamento de dados
pessoais tanto de crianças quanto de adolescentes.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
49
REFERÊNCIAS
 
BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente Fonte: 
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8069.htm.
Acesso em: 29/11/2019.
 
Convenção dos Direitos da Criança. Fonte:
https://www.unicef.org/brazil/convencao-sobre-os-direitos-da-
crianca. . Acesso em: em 28/11/2019
 
BRASIL. Lei Geral de Proteção de Dados. Fonte:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/Lei/L13709.htm . Acesso em 06/12/2019.
 
BRASIL. Marco Civil da Internet. Fonte:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-
2014/2014/lei/l12965.htm. Acesso em 08/12/2019.
 
LGPD e o tratamento de dados sensíveis e de crianças e
adolescentes. Fonte:
https://www.kustermachado.adv.br/lgpd-e-o-tratamento-dos-
dados-pessoais-sensiveis-e-de-criancas-e-adolescentes/?
fbclid=IwAR03GXqUIVVO0dAMSydMaIsL9Xnn72C-
6Vufi7HbkuTUnICgUhA8zydwhnc. Acesso em 04/12/2019.
 
General Data Protetion Regulation. Fonte: https://gdpr-
info.eu/art-8-gdpr/  Acesso em 08/12/2019
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
50
BRASIL. Lei Geral de Proteção de Dados. Fonte
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-
2018/2018/lei/L13709.htm. Acesso em 19/11/2019.
 
Alemanha proíbe a venda de smartwatches para crianças.
Fonte: https://www.tecmundo.com.br/internet/124287-
alemanha-proibe-venda-smartwatches-criancas.htm . Acesso
em 08/12/20019.
 
Governo alemão proíbe a venda da boneca espiã. Fonte:
https://www.dw.com/pt-br/governo-alem%C3%A3o-
pro%C3%ADbe-venda-de-boneca-espi%C3%A3/a-37609353.
Acesso em 08/12/20019.
 
4º Simpósio Crianças e Adolescentes na Internet Debate
sobre a LGPD. Fonte: https://www.youtube.com/watch?
v=bu1V03nA3Ng. Acesso em 15/11/2019.
 
How Target figured out a teen girl was pregnant before
her father did? Fonte:
https://www.forbes.com/sites/kashmirhill/2012/02/16/how-
target-figured-out-a-teen-girl-was-pregnant-before-her-
father-did/#7dae4b3f6668. Acesso
em 08/12/20019.
O TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS DE CRIANÇAS E ADOLESCENTES
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Leticia Lefevre
51
O tema relativo aos direitos do titular consiste em ponto de
extrema importância no contexto da proteção de dados
pessoais e, por consequência, para a própria Lei Geral de
Proteção de Dados Pessoais (LGPD) assim como também é
para a norma que serviu de inspiração para seu surgimento: a
GDPR - General Data Protection Regulation (sigla em inglês
para Regulamento Geral de Proteção de Dados, legislação
europeia que trata deste tema, em vigor desde 25/05/2018),
uma vez que ambos diplomas legais posicionam o titular ou
seja, o indivíduo a quem se referem os dados pessoais que
são objeto de tratamento, como personagem central no
contexto da privacidade e da proteção de dados pessoais.
 
A LGPD surge, portanto, com o objetivo de garantir os direitos
fundamentais de liberdade, intimidade e privacidade do
titular e em particular seu capítulo III propõe-se a apresentar
uma série de direitos específicos que podem ser sintetizados
nos chamados direitos ARCO: Acesso, Retificação,
Cancelamento (chamado no Brasil de eliminação) e
Oposição, conceito também oriundo do continente europeu.
 
Andréia da Costa Pereira dos Santos¹
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
¹ Andreia é Advogada com atuação na área de Contratos e Consultoria
Graduada em Administração de Empresas e pós graduada em Direito Civil
e Processual Civil e em Direito. Integrante da Comissão de Direito Digital,
Tecnologia e Inteligência Artificial da OAB/SP, subsecção Jabaquara-Saúde.
Finalmente o empoderamento dos indivíduos
enquanto titulares de seus dados
52
Além disso, este capítulo define a forma como estes direitos
podem ser plenamente exercidos, assim como, as situações
que se constituem em exceções.
 
Também possui o condão de reforçar conceitos vistos
anteriormente, mas, principalmente, solidifica a ideia
fundamental da LGPD que concentra seus dispositivos no
titular dos dados pessoais. Os artigos deste capítulo precisam,
portanto, ser interpretados em conformidade com os artigos
anteriores para que se compreenda sua real extensão: que os
dados das pessoas naturais (mais conhecidas como pessoas
físicas) que lhes digam respeito, pertencem somente a elas
de forma indissociável. Esse direito é irrenunciável e não
pode ser cedido ou transmitido. Importante salientar, ainda,
que esta proteção legal restringe-se aos dados classificados
pela lei como pessoais assim como também não abrange os
dados relativos às pessoas jurídicas.
 
 
 
 
 
 
 
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
Em linhas gerais, deve ser garantida
ao titular a confirmação da
existência de tratamento de seus
dados pessoais e, ocorrendo esta
confirmação, deve ser concedido a
ele o acesso facilitado às
informações sobre esse tratamento,
bem
como, a possibilidade de exigir do
agente de tratamento desses dados
(controlador ou operador), a
qualquer momento e mediante
requisição, os direitos estipulados a
seguir.
53
A correção de dados incompletos, inexatos ou
desatualizados, dispositivo que tem por objetivo garantir a
precisão dos dados dos titulares a fim de evitar os riscos
relacionados a problemas de identificação de pessoas tanto
dentro do território nacional como também no âmbito
internacional, inibindo a proliferação de fraudes
especialmente no ambiente on-line.
 
Temos, ainda, como direito do titular a anonimização de
dados pessoais desnecessários, excessivos ou tratados em
desconformidade com a LGPD a qual consiste em
procedimento por meio do qual um dado perde a
possibilidade de identificar um titular. No entanto, sua
efetividade depende de utilização de técnicas de elevado
grau de dificuldade, que possibilitem determinado grau de
confiança na sua irreversibilidade, sem o qual a técnica perde
por completo a sua finalidade de proteção.
 
Por esta razão, assim como nas demais hipóteses em que a
LGPD menciona  sua realização como mera possibilidade[2],
também neste item pode-se concluir que o exercício ao
direito à anonimizaçãonão se dá de forma ilimitada, fazendo
com que a depender da situação fática apresentada, a falta
de execução da anonimização não seja considerada
descumprimento por parte do agente de tratamento para os
fins especificados nestes dispositivos.
 
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
[2] Artigos 7º, inciso IV, 11, inciso II, c, 13, caput, e 16, inciso II da LGPD.
 
54
Ainda em relação aos dados desnecessários, excessivos ou
tratados em desconformidade com a LGPD, o titular poderá
solicitar ao controlador seu bloqueio   ou eliminação, sendo
que o primeiro consiste em medida temporária enquanto
que a eliminação ocorre de forma definitiva. 
 
O bloqueio ocorre mediante guarda dos dados pessoais ou
do conjunto estruturado de dados pessoais (banco de dados),
cabendo ao controlador adotar tal medida após avaliação, de
ofício ou mediante requisição do titular quanto a
necessidade e licitude do tratamento dos dados. Já no que
diz respeito à eliminação, além de decorrer do tratamento
em desconformidade com a LGPD, também deve ser
realizada por ocasião do término do tratamento de dados,
ressalvadas as hipóteses estabelecidas na lei.
 
O titular poderá, ainda, requerer a portabilidade, que consiste
no direito de transferir seus dados pessoais de um
controlador para outro. Para tanto, o agente de tratamento
deverá disponibilizar os dados de forma estruturada que
permita e facilite sua transferência da mesma forma que já
ocorre, por exemplo, na portabilidade de números
telefônicos.
 
Importante observar também que o agente de tratamento é
obrigado a disponibilizar ao titular tão somente os dados
pessoais coletados e não os dados e informações originados
do tratamento efetuado, tais como, por exemplo, o perfil de
consumo do titular desenvolvido pelo controlador com base
em recursos e técnicas inerentes ao seu negócio que
configuram-se como segredo comercial.
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
55
Já, a  requisição expressa  exigida para efetivação da
portabilidade diz respeito à manifestação de vontade do
titular de forma manifesta e inequívoca, ou seja, deve haver
uma ação do titular indicando sua vontade, podendo ser
efetuada de forma escrita, verbal ou por qualquer meio que
transmita sua vontade de forma precisa.
 
No que tange a eliminação especificamente dos dados que
vinham sendo tratados com fundamento na base legal do
consentimento, esta só não poderá ocorrer se houver
obrigação legal ou regulatória a ser cumprida pelo
controlador, estudo por órgão de pesquisa, transferência a
terceiro ou, ainda, uso exclusivo do controlador após
anonimização (hipóteses previstas no artigo 16).
 
Também é garantida ao titular, a obtenção de informações
sobre as entidades públicas e privadas com as quais o
controlador tenha realizado o compartilhamento de seus
dados pessoais.
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
56
É assegurado ao titular, ainda, receber antes da coleta de
seus dados e independentemente de qualquer solicitação,
informações claras acerca da possibilidade de não fornecer o
consentimento, bem como, esclarecimentos sobre as
consequências decorrentes dessa negativa, de forma
expressa e inequívoca.
 
O titular pode também revogar, a qualquer tempo e por
procedimento gratuito e facilitado, consentimento que tenha
fornecido anteriormente, sem necessidade de cumprir
qualquer condição para tanto. Esta revogação produz seus
efeitos somente a partir do momento em que for efetivada,
não incidindo, portanto, sobre o tratamento dos dados
efetuado com fundamento no consentimento até então
existente.
 
 
 
 
 
 
 
Os parágrafos 1º e 8º do artigo 18 tratam do direito do titular
em formalizar, quando e se lhe convier, reclamações contra o
controlador perante a Autoridade Nacional de Proteção de
Dados (ANPD) e/ou perante os organismos de defesa do
consumidor sendo que os meios e formas adequados para
isso ainda deverão ser regulamentados pela ANPD. Poderá,
ainda, recorrer ao poder judiciário em ações individuais ou
coletivas para defender seus direitos e interesses, conforme
disposto na legislação pertinente.
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
Além dos direitos, o capítulo
III trata dos procedimentos a
serem seguidos para que
estes possam ser exercidos.
57
Mais um direito do titular é o de opor-se ao tratamento de
seus dados pessoais sempre que constatar o
descumprimento de disposições da LGPD, caso este
tratamento seja realizado com fundamento em uma das
hipóteses de dispensa do consentimento previstas na lei
como, por exemplo, no artigo 7º § 4º em que o
consentimento é dispensado na situação em que o próprio
usuário tenha tornado públicos  seus dados pessoais.
 
O §3º do artigo 18, por sua vez, estabelece que somente o
próprio titular de dados ou seu representante legalmente
constituído poderão efetuar requisições ao agente de
tratamento em relação aos direitos previstos neste artigo
enquanto que o §4º impõe ao controlador a obrigação de
responder ao titular dos dados caso não seja possível cumprir
de imediato a providência solicitada por meio do
requerimento especificado no §3º, devendo fornecer as razões
que impedem o atendimento da pretensão ou comunicar
que não é o controlador e, caso tenha conhecimento, indicar
quem é o real agente de tratamento.
 
O § 5º estabelece a gratuidade como regra para o exercício
dos direitos dos titulares. Em relação aos prazos de
atendimento, no entanto, exceto em relação ao Poder
Público, as regras relacionadas aos prazos de atendimento
pelo setor privado ainda precisam ser detalhadas e
regulamentadas pela ANPD.
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
58
O § 6º  determina que caso o controlador tenha
compartilhado dados pessoais para os quais o titular tenha
requerido correção, eliminação, anonimização ou bloqueio,
deverá informar de maneira imediata os demais agentes
envolvidos no tratamento dos dados para que estes repitam
idêntico procedimento.
 
E finalmente, o § 7º preconiza que não haverá obrigação do
controlador em efetuar a portabilidade solicitada pelo titular
caso os dados pessoais tenham sido anonimizados de forma
irreversível. 
 
E, com isso, avançamos para o artigo 19 o qual estipula que o
titular poderá escolher receber as informações relativas à
confirmação de existência ou de acesso a seus dados por
meio eletrônico ou sob a forma impressa.
 
Além disso, o agente de tratamento deverá disponibilizar as
informações de forma imediata se em formato simplificado
ou no prazo de até 15 (quinze) dias, contados da data do
requerimento do titular se em formato completo,
contemplando declaração clara e completa com indicação
quanto à origem dos dados, a inexistência de registro, os
critérios utilizados e a finalidade do tratamento.
 
Quando o tratamento de dados tiver fundamento no
consentimento ou em contrato, o titular poderá solicitar
cópia eletrônica integral de seus dados pessoais em formato
que permita e facilite sua transferência, observados os
segredos comercial e industrial, nos termos de
regulamentação da ANPD.
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
59
E chegamos ao artigo 20, o mais polêmico deste capítulo,
que trata da possibilidade do titular dos dados requisitar ao
controlador explicações e até mesmo revisão de decisões
tomadas unicamente com base no tratamento automatizado
que possam potencialmente afetar seus interesses,
especialmente decorrentes da construção do seu perfil
pessoal, profissional, de consumo, de crédito ou os aspectos
de sua personalidade.
 
Esse tipo de decisão é muito comum atualmente,
especialmente em razão do avanço na utilização de métodos
e recursos tecnológicos tais como inteligência artificial,
analytics,big data, etc que auxiliam as empresas na análise
de grandes volumes de dados que ocorrem, por exemplo, em
processos de seleção, de concessão de crédito, etc.
 
A revisão das decisões poderá ser efetuada de forma humana
ou automatizada, como melhor convier ao Controlador,
desde que as informações fornecidas de fato deixem claro ao
titular os critérios e procedimentos utilizados para a
formação da decisão automatizada.
 
Caso o agente de tratamento não disponibilize tais
informações alegando de forma genérica observância do
segredo comercial e industrial o titular poderá acionar a
ANPD que, por sua vez, poderá realizar auditoria para
verificação de eventuais aspectos discriminatórios contra o
titular..
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
60
O artigo 21 determina que os dados pessoais decorrentes de
direitos regularmente exercidos pelo titular não poderão ser
utilizados de forma a prejudicá-lo. Seria o caso, por exemplo,
da utilização de informações anteriores de candidatos em
processo de seleção relacionadas a existência de ações
trabalhistas contra ex- empregadores, resultando na
eliminação do titular do referido processo.
 
Algo importante a salientar é que nem todas as requisições
do titular serão atendidas, havendo possibilidade de
restrições e de exceções de caráter legal, especialmente
quando venha a existir preponderância de interesses que se
sobreponham à vontade do titular como, por exemplo, na
hipótese em que o controlador não possa atender a
requisição de eliminação dos dados de funcionário recém
demitido em razão da necessidade de manter referida
documentação pelos prazos estabelecidos em lei para cada
tipo de documento, em cumprimento à obrigação legal.
 
De qualquer forma, o agente de tratamento sempre deverá
obrigatoriamente avaliar a solicitação do titular no sentido de
confirmar se poderá ou não ser atendida e, em ambas as
hipóteses, deverá manter o titular devidamente informado de
acordo com as especificações estabelecidas pela própria lei.
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
61
CONCLUSÃO
 
Uma vez compreendidos os direitos dos titulares, fica para as
organizações o desafio de enxergar a necessidade de
adequação às determinações da LGPD, não apenas como um
ônus mas sim como uma oportunidade estratégica de
agregar valor ao seu negócio, priorizando a privacidade e
proteção dos dados de clientes que cada vez mais serão fiéis
àquelas empresas que demonstrarem preocupação genuína
em relação a este tema, agindo com ética e transparência e
alcançando assim ampla vantagem competitiva frente aos
concorrentes que não adotarem essa postura a qual é
absolutamente essencial em uma sociedade movida a dados.
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
62
REFERÊNCIAS
 
COTS, Márcio; OLIVEIRA, Ricardo. Lei Geral de Proteção de
Dados Pessoais comentada. 2. ed. rev., atual. e ampl. São
Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. 247 p.
 
MALDONADO, Viviane Nóbrega; BLUM, Renato Opice (coord.)
et al. LGPD: Lei Geral de Proteção de Dados comentada. 1. ed.
São Paulo: Thomson Reuters Brasil, 2019. 411 pp.
 
PINHEIRO, Patrícia Peck. Proteção de Dados Pessoais:
comentários à Lei n. 13.709/2018 (LGPD). 1. ed. São Paulo:
Saraiva, 2018. 115 pp.
 
PENSANDO O DIREITO – DIREITOS DO TITULAR. Disponível
em: <http://pensando.mj.gov.br/dadospessoais/eixo-de-
debate/direitos-do-titular/>. Acesso em: 07 dez. 2019.
DOS DIREITOS DO TITULAR
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Andréia da Costa Pereira dos Santos
63
O estudo do tratamento de dados pessoais pelo Poder
Público não se limita aos artigos do capítulo IV da Lei Geral
de Proteção de Dados Pessoais – LGPD (Lei nº 13.709/2018),
quer porque a LGPD também disciplina o papel do Estado
nos demais capítulos, quer porque outros diplomas legais
anteriores já tratavam da matéria, mesmo que de maneira
esparsa e incipiente, a exemplo da Lei de Acesso à
Informação – LAI, Lei nº 12.527/2011.
Jorge Alves Dias¹
DO TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS
PELO PODER PÚBLICO
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
¹ Jorge é Advogado, Especialista em Direito Público, Especialista em
Qualidade e Produtividade e Spécialiste en “Management des projets et
gestion axée sur les résultats” École nationale d'administration - l'ENA -
Paris – Françae.
O que se espera do Poder
Público com a LGPD?
Evolução histórica
No mundo inteiro, as Administrações Públicas são as maiores
controladoras de dados pessoais, seja de seus cidadãos, seja
dos estrangeiros em seu território. Pode-se afirmar que, no
Brasil, com mais de 210 milhões de habitantes, o Poder
Público é, sem dúvida, o maior detentor de dados pessoais.
 
Nos anos 70, o controle de dados pessoais pelo Estado gerou
inquietação muito grande na Europa.
64
Em março de 1974[2], o jornal Le Monde publicou artigo
intitulado "Safari ou la chasse aux Français"[3], revelando que,
na época, o governo francês desenvolvia o Projeto SAFARI
(Système automatisé pour les fichiers administratifs et le
répertoire des individus) para realizar a interconexão dos
arquivos da previdência social, do tesouro e da polícia.
 
Os franceses, preocupados em preservar suas liberdades
individuais, opuseram forte resistência ao projeto, o que levou
o governo não somente a desistir do projeto, mas também a
criar a “Commission Nationale de l'Informatique et des
Libertés – CNIL”, hoje, a autoridade nacional para fins de
“Règlement général sur la protection des données – RGPD”.
 
O que é preocupante, hoje em dia, não é mais o volume de
dados sob controle do Estado, mas os casos de vazamento de
dados pessoais no setor público, como têm acontecido
ultimamente.
 
DO TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS PELO PODER PÚBLICO
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Jorge Alves Dias
[2] DESGENS-PASANAU, Guillaume. “Protection des données
personnelles: le nouveau droit”. Conservatoire national des arts et
métiers. FRANCE UNIVERSITÉ NUMÉRIQUE. 2019. Fonte:
https://www.fun-mooc.fr/courses/course-
v1:CNAM+01032+session02/about. Acesso em 01/12/2019.
[3] "Safari ou la chasse aux Français". (Safari ou caça aos franceses, em
tradução livre). Fonte:
https://www.cnil.fr/sites/default/files/atoms/files/le_monde_0.pdf
e https://www.senat.fr/evenement/archives/D45/context.html. Acesso em
06/12/2019.
 
65
Notícia de 29/10/2019[4] divulgou que Cartórios de São Paulo
deixaram expostos na internet quase 1 milhão de arquivos
contendo dados pessoais durante pelo menos dois meses.
 
Ainda em outubro, o site techmundo.com.br[5] publicou que
“falha no sistema do Departamento Estadual de Trânsito
(Detran) do Rio Grande do Norte possibilitou o vazamento
dos dados de 70 milhões de brasileiros que possuem a
Carteira Nacional de Habilitação (CNH)”. 
 
Em Nota oficial, o DETRAN-RN[6] comunicou, em 09/10/2019,
que falha já estaria sanada, mas admitiu que dados de
usuários teriam sido, indevidamente, acessados.
 
No Brasil, antes da LGPD, a legislação era setorizada e
fragmentada, mas já havia preocupação quanto ao equilíbrio
entre o sigilo das informações pessoais pelo governo e o
acesso da sociedade a essas informações.
 
DO TRATAMENTO DE DADOS PESSOAIS PELO PODER PÚBLICO
COMENTÁRIOS À LEI GERAL DE PROTEÇÃO DE DADOS
Jorge Alves Dias
[4] Falha de cartórios expõe dados de ao menos 1 milhão de pais, mães
e filhos ... - Veja mais em https://noticias.uol.com.br/cotidiano/ultimas-
noticias/2019/10/29/falha-de-cartorios-expoe-dados-de-ao-menos-1-
milhao-de-pais-maes-e-filhos.htm?cmpid=copiaecola. Acesso em
01/12/2019.
[5] Falha no Detran vaza dados de 70 milhões de brasileiros com CNH -
https://www.tecmundo.com.br/seguranca/146780-falha-detran-vaza-
dados-70-milhoes-brasileiros-cnh.htm. Acesso em 01/12/2019.
[6] Departamento Estadual de Trânsito RN – Fonte:
http://www.detran.rn.gov.br/Conteudo.asp?
TRAN=ITEM&TARG=214521&ACT=&PAGE=&PARM=&LBL=NOT%CDCIA.
Acesso em 01/12/2019

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