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Folha de São Paulo (2020-05-12)

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TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020ANO 100 ┆ Nº 33.277 R$ 5,00
D E S D E 1 9 2 1 UM J O R NA L A S E RV I Ç O D O B R A S I L
AUDIÊNCIA/MÊS
PÁGINAS VISTAS 428.386.671
VISITANTES ÚNICOS 73.786.377
Amarelo-golpista
Secretária da sucata
Acerca de manifestações
de bolsonaristas.
Sobre o desempenho de
ReginaDuartenaCultura.
EDITORIALA2
ISSN 1414-5723
9 771414 572032
33277
RODÍZIOHOJE
Não circulam em São Paulo
carros com placas final ímpar
Rodízio empurra paulistano
para o transporte público
Commeia frota, São Paulo tem trânsitomais leve e ações na Justiça; para prefeitura, avaliação é positiva
Oprimeirodiadonovorodí-
zio de carros emSãoPaulo,
quetiroudasruasmetadeda
frota,tevecongestionamen-
tomaisbaixodoquenasúl-
timas duas semanas, trans-
porte público cheio e ações
judiciais contra amedida.
Desdeontem,carroscom
finaldeplacapar sópodem
circular em dias pares, e os
ímpares,emdiasímpares.A
restriçãoagoravaletambém
emtodasasregiõesdacida-
de,nãoapenasnocentroex-
pandido, e pelas 24horas.
Aprefeituradizqueadeci-
sãofoitomadaparadiminuir
onúmerodepessoas circu-
lando, a fim de combater a
disseminaçãodonovocoro-
navírus,quesomentenaca-
pital paulista jámatou pelo
menos 2.305pessoas.
Ontem, o congestiona-
mento foi de 4 km, alimen-
tado por protesto de cami-
nhoneiros. Há uma sema-
na, foram 24 km. Com 300
mil viagens amais, o trans-
porte público registrou au-
mentode 10%nademanda.
A administração munici-
palconsiderouaexperiência
positiva,masusuáriosrecla-
maramdeexposiçãomaior
nos coletivos. AAssociação
Comercial de São Paulo re-
correu à Justiça para tentar
barrar a iniciativa. Saúde B1
País viverá a
década de pior
crescimento
da história
OBrasilvaiamargar,aofim
desteano,amenortaxade
crescimento járegistrada
numadécada,segundoes-
tatísticas que alcançamo
iníciodoséculo20.Confir-
mada a projeção de mer-
cado, o país terá alta acu-
muladadoPIBde1,9%.Na
chamada“décadaperdida”
(1981-1990),aexpansãofi-
couem 16,9%. MercadoA13
QUARENTENAEMSP
Comércio Há 49 dias
Escolas Há 49 dias
Saiba o que abre e o que fecha
emcada estado em folha.com
Sob desconfiança,
França dá início a
desconfinamento
O primeiro dia de relaxa-
mento das medidas con-
tra a Covid-19 na França
foimarcadopelomedode
umasegundaondadado-
ença.Mesmocomavolta
departedocomércio,ruas
ficaramvazias. MundoA10
Presidente queria ‘afinidade’
com chefe da PF, diz Valeixo
Emdepoimento à PF, o ex-
diretor-geral da corpora-
çãoMaurício Valeixo disse
que Jair Bolsonaro decidiu
exonerá-lo porque busca-
vaalguémcomquemtives-
semais“afinidade”.Orelato
repetepartedo teordode-
poimentode SergioMoro.
Segundo Valeixo, a inter-
ferência política não che-
gou a ocorrer na prática,
pois não houve nomeação
“com interesse sobre uma
investigaçãoespecífica”.Ele
afirmouquenãopediu pa-
ra sair do cargo, como di-
topelopresidente. PoderA6
Ex-assessor que Bolsonaros
viam como ameaça ganha cargo
Visto pormais de dois anos como ameaça à família Bol-
sonaro,LucianoQueridofoinomeadopresidentesubsti-
tutodaFunarte.Owebdesignerhaviarompidocomoclã
em2017, ealiadostemiamqueeletivessedossiê. PoderA4
Enem émantido e
abre inscrições em
meio à pandemia
SaúdeB4
Bolsonaro amplia
serviço essencial e
surpreende Teich
JairBolsonaro incluiuen-
tre os serviços essenciais
academias, salões e bar-
bearias.Aoseravisadoem
entrevistacoletiva,Nelson
Teich(Saúde) indicousur-
presaedissenãoterparti-
cipadodadecisão. SaúdeB1
OMS teme
‘cegueira’ de
países que não
adotam ações
A OMS está preocupada
com a “séria cegueira” de
governos que permitem
aglomerações e não ado-
tammedidas para conter
a pandemia, afirmou seu
diretor-executivo, Micha-
elRyan, semcitarnomes.
Entreosdezpaísescom
mais mortes no mundo,
BrasileEUAsãoosúnicos
quenãocriaramrestrições
emnívelnacional. SaúdeB6
Sanguemasculino
temmais enzima
que leva à infecção
Estudo publicado ontem
mostrouquesanguemas-
culino tem concentração
maiordeenzimaqueaju-
daocoronavírusainfectar
células. Issopodeexplicar
porqueaCovid-19 émais
graveemhomens. SaúdeB7
Corrida B16
Conheça aplicativos
gratuitos de jogos
para treinar a mente
Mundo A12
Sem a corrida de
Boston, escritor cria
maratona própria
Ilustrada B9
Sucessomundial,
DJ Alok vira mania
da classe média
AntônioDias, 77, é abraçadopelofilho após ter alta nohospital de campanhadoPacaembu;
pacientes recuperadoscostumamseraplaudidospordesconhecidosàsaídadoestádio SaúdeB2
APLAUSOS NO PACAEMBUVÃO PARAQUEMVENCE A COVID
Lalo de Almeida/Folhapress
Estudo aponta que
vírus circulou no
Brasil em fevereiro
SaúdeB8
Crise faz Avianca
pedir recuperação
judicial nos EUA
MercadoA16
Emmarço e abril,
desemprego leva
1,5mi a benefício
MercadoA15
Pablo Ortellado
Paulo Guedes
é Bolsonaro
Existeumacompreensão
difundidadequeominis-
troseriaocontrapesoraci-
onalde JairBolsonaro. Se
olharmoscomatenção,ve-
remosqueGuedeséapró-
pria expressão econômi-
ca dodesatino. Opinião A2
Movimentoàs 12h45naavenidaRubemBerta, noprimeirodiadevigênciadonovo rodízio emSãoPaulo, que tiroumetadeda frotadas ruas EduardoKnapp/Folhapress
a eee
opinião
A2 TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020
UM JORNAL A S ERV I ÇO DO BRAS I L
a
Publicado desde 1921 – Propriedade da Empresa Folha daManhã S.A.
presidente Luiz Frias
diretor de redação Sérgio Dávila
superintendentes Antonio Manuel Teixeira Mendes e Judith Brito
conselho editorial Rogério Cezar de Cerqueira Leite, Marcelo Coelho,
Ana Estela de Sousa Pinto, Cláudia Collucci, Hélio Schwartsman,
Mônica Bergamo, Patrícia Campos Mello, Suzana Singer, Vinicius Mota,
Antonio Manuel Teixeira Mendes, Luiz Frias e Sérgio Dávila (secretário)
diretoria-executiva Marcelo Benez (comercial), Marcelo Machado
Gonçalves (financeiro) e Eduardo Alcaro (planejamento e novos negócios)
editoriais@grupofolha.com.br
EDITORIAIS
Amarelo-golpista
Secretária da sucata
Sob o beneplácito do presidente
daRepública,acordamodaemni-
chos da veneração bolsonarista é
oamarelo-golpista.Combinadaao
verde-ódio,aondaretrôpatrocina
aglomeraçõesemplenaepidemia
mortal,empregaviolênciaeincita
àrupturadoregimedemocrático.
Seusprimeirosmodelosseexibi-
ramacopladosamovimentosque
pediamo impeachment da presi-
dente Dilma Rousseff em 2015 e
2016. Outro desfile, mais desaver-
gonhado, ocorreu no cerco à po-
pulaçãobrasileirapromovidopor
caminhoneiros emmaiode 2018.
Apósavitóriade JairBolsonaro,
os tonsdaboçalidadepassarama
adornar gabinetes do Executivo
federal e chegaramaoPlanalto. A
longatrajetóriadoeleitocomode-
putado federal não deixava dúvi-
das sobresuas inclinaçõesautori-
táriaseseudesprezopelosprincí-
piosnorteadoresdopactode1988.
Uma vez eleito, não negou sua
própriabiografia.Pior,acanetana
mãodeuvazãoao irascível e inca-
pazchefedeEstadoparacriaruma
sériedecrises.Oexemplomaisre-
centedeumalista imensaéainca-
pacidade de liderar o país nomo-
mentoemqueoBrasil eomundo
passampelomaiordesafiosanitá-
rio e econômicodeumageração.
O erro crasso de Bolsonaro ao
menosprezaroimpactodapande-
mia na saúde transformou o que
erauma relaçãodifícil comosde-
mais atores institucionais num
conflitoaberto.Opresidenteseco-
locou quase na condição depária
mundial e talvez por isso se apro-
ximoumaisdamilitâncialunática.
Quenãorestedúvidasobrequem
é a parte fraca —Bolsonaro— e
queméaforte—aarquiteturains-
titucional que o contém— nesse
embate.Aindaassim,cabeaosfis-
caisdalei investigaremquemestá
portrásdemovimentosconspira-
tórios, mesmo que partam de ni-
chos aparentemente exóticos, o
queéapenasparcialmenteverda-
dequandoexaminadasalgumasco-
nexõesdosagitadoresdabaderna.
Detectaram-sepessoaspróximas
aquemexercemandatoemrelação
comaparelhos, comoumtal “300
do Brasil”, que organizaram atos
antidemocráticos. Investigam-se
deputadossobsuspeitadeenvolvi-
mentoemtramascontraaordem
constitucional, o SupremoTribu-
nal Federal e oCongresso.
NoConselhodeÉticadaCâmara,
adormecerepresentaçãocontrao
deputadoEduardoBolsonaro,por
cogitararepetiçãodeumamedida
comooAI-5,queem1968 fechouo
Congressoeesmagouoqueresta-
va de liberdades individuais.
Taismovimentos golpistas, que
umdiasederamnasfranjasdistan-
tes dopoderdeEstado, hoje exci-
tamapredisposiçãodequemestánaPresidência.Queo Judiciário e
oLegislativodescubramquemse-
gura as cordas amover asmario-
netes de camisa amarela.
OBrasilperdeunasúltimassema-
nasumagaleriadenomesilustres
daculturanacional.Doscontistas
RubemFonseca e Sérgio Sant’An-
na aos compositoresMoraesMo-
reira eAldir Blanc, passandopelo
artistaplásticoAbrahamPalatinik.
Em nenhum momento autori-
dadesdogovernofederal,acome-
çarpela secretáriadeCultura,Re-
ginaDuarte,demonstrarampubli-
camente algum tipo de pesar—o
que, infelizmente,nãosurpreende
diantedasconstantesdemonstra-
çõesdeaversãoaoconhecimento
científico, às artes e à educação.
Dadoqueariquezaculturalacu-
muladapassoude“softpower”re-
conhecidointernacionalmenteaal-
vo de guerrilhas ideológicas, não
sepoderiaesperarcoisadiferente.
Oobscurantismonesse terreno
desafia limites. A ocupação mas-
siva dos órgãos do setor por uma
maltadedespreparadosefanáticos
—teleguiados,nãoraro,peloguru
doideárioculturalbolsonarista,o
escritorOlavodeCarvalho—pare-
ciaencontrarumapausananome-
açãoda atual secretária.
De fato, quando da escolha da
atriz,chegou-sea imaginarquese
avizinharia uma trégua. Foi, infe-
lizmente, umengano.
Asecretária,quejásenotabiliza-
rapelaomissãoepelafaltadecapa-
cidadeparaoexercíciodafunção,
deuumapassoamaisementrevis-
taqueconcedeuaocanalCNNBra-
sil. Na ocasião, uma descontrola-
daReginaDuartedesfiouumasé-
rie espantosade sandices, que foi
danostalgiaemrelaçãoaoufanis-
modaditaduramilitaraodespre-
zo pelas vidas —e não apenas as
dos grandes nomes da cultura—
que se perdem aosmilhares com
apandemiadonovocoronavírus.
Àsuamaneiraeporoutroscami-
nhos, a secretária repetiu naTVa
sinistraperformancedeseuante-
cessor, Roberto Alvim, que ence-
nouumpastichenazifascistapara
anunciarseusplanosparaosetor.
Apermanênciadaatriznocargo
se afigurapoucopromissora, em-
bora nas cavernas do bolsonaris-
mo suas palavras tenham encon-
trado eco e, quem sabe, lhe asse-
gurado alguma sobrevida.
Nessa lógica de sinais trocados,
emqueopiorévistocomomelhor,
umaeventualsubstituiçãonãoda-
ria lugar a nada deminimamente
auspicioso, de todomodo.
Importamenosqueaáreatenha
sidorebaixadaaosegundoescalão
doExecutivo,abrigadanainexpres-
siva pasta do Turismo. Pior é ob-
servaroaparelhamentoideológico
eaindigênciadopensamentoque
emanadas repartições culturais.
Grupos autoritários excitam a predisposição do
presidente e exigem reação institucional enérgica
sãopaulo Nãogostodaideiadeadi-
ar as eleições municipais previstas
para o segundo semestre e consi-
dero golpe a proposta de esticar o
mandato dos atuais prefeitos e ve-
readores até 2022.
Nomêspassado,nummomentoda
pandemia ao que tudo indicamais
agudodoqueseráoutubro,sul-core-
anos foramàsurnas semqueo sur-
to tenha recrudescido. É uma pro-
va de princípio de que eleições po-
demserrealizadassempôrapopu-
lação emperigo.
É claro que talvez sejam necessá-
rias adaptações. O problema é que
nossalegislaçãoeleitoralérígida,de-
talhistaenãoadmitealteraçõesque
não tenham sido aprovadas aome-
nosumanoantesdopleito.Daí que
sugiroaprovardesdejáumaPECque
concedaàJustiçaEleitoral,emcaráter
excepcional,poderesdiscricionários
paraalterarprazoseeventualmente
mexeremoutrosaspectosdopleito.
A principal dificuldade prática é
o teste das urnas eletrônicas. Não
meconvence. Aindahámuito tem-
po até outubro, e não vejo motivo
para não classificarmos o trabalho
do pessoal dos cartórios eleitorais
como essencial. Afinal, se padarias
ecentraisdeatendimento telefôni-
co podem funcionar, a conferência
das urnas tambémpode.
Noplanopolítico, oobstáculono
cronogramasãoasconvençõespar-
tidárias,quedevemocorrerentre20
dejulhoe5deagosto.Oreceioéque
elas produzam aglomerações. De
novo, não me convence. Basta de-
terminar às legendas que realizem
seusencontrosdeformaremota.Há
tempode sobraparapreparar isso.
Se o afastamento social ainda for
necessárioemoutubro,aJustiçapo-
defazercomqueavotaçãoseesten-
dapormaisdeumdia,paraevitaras
filas.Obviamente,seriaprecisotam-
bémsuspenderaobrigatoriedadedo
voto,paraqueaspessoasquenãose
sintamsegurasemexpor-seaovírus
não sejamobrigadas a fazê-lo.
O Brasil já fracassou no contro-
le da epidemia; não precisa fra-
cassar também na manutenção
da democracia.
helio@uol.com.br
brasília AsaídadeSergioMorodogo-
vernoacelerouomovimentodepar-
tedoconservadorismobrasileirode
reconheceraterrívelderrapadaque
deuaoseassociar a JairBolsonaro.
Nenhumantipetismopoderiajus-
tificarisso.Aconfiançadequeasins-
tituiçõeseopesodocargoiriamdar
prumoàcoisaserevelouumabelís-
simadeumaapostafurada.Poucos
tiveram a hombridade do tucano
AlbertoGoldman(mortoem2019),
que, diante do inominável, decla-
rouvotoemFernandoHaddad(PT).
Não se tratava de PT, mas de de-
mocracia,razãoesensibilidade.Ese
temalgumacoisapelaqualBolsona-
rojamaispoderásercobradoédeter
escondidoquemele realmenteera.
Por isso, alguns bradam aos que
buscamjairsearrependendoquese
ajoelhemnomilhoepeçamdescul-
pas—que não serão aceitas. O que
também se revela um erro, pois há
umadireita eumconservadorismo
relevantesnoBrasil, eeles têmtodo
o direito democrático de serem re-
presentadosporpolíticoscomomí-
nimodepreparoe inteligência, que
respeitemasinstituições,aciênciae
ospilaresdacivilizaçãoedohumanis-
mo—nãoporumbandodelacerdis-
tasdepré-primário,quedeLacerda
sóherdarama inclinaçãoaogolpe.
Em autocrítica publicada na Ga-
zeta doPovo, umdosdirigentes do
MBL,RenanSantos,dizqueadirei-
ta derrubará Bolsonaro. “Se quere-
mosreconstruiradireitademocrá-
ticae torná-lapoliticamenteviável,
precisamos,antesdetudo, torná-la
democrática”, afirma, criticando o
populismo e o culto à personalida-
deedefendendoodiálogo—emvez
dasbrigas—comoutroscampospo-
líticos. “Precisamosamarapolítica,
amaisnobredasocupaçõeshuma-
nas, e não destruí-la, comomuitos
julgavamser necessário.”
Cobre-se o tributo dos que se
aventuraramnanaudosinsensatos
—incluindoMBL e (principalmen-
te)Moro.Masnãointerditematen-
tativa de parte da direita de se des-
garrar daquilo que de mais repug-
nante surgiu na política brasileira
nasúltimasdécadas.Ademocracia
só temaganhar.
rio de janeiro Na terrinha, eles não
têm mais dúvida: “O teletrabalho
veioparaficar”,estampouo“Expres-
so”. O jornal se referia ao que nós,
desdeoiníciodapandemiadecoro-
navírus, tratamosporhomeoffice.
Os portugueses são chegados
—não fossem nascidos em Portu-
gal,orapois,pois—aaportuguesar.
Mouse é rato, e estamos conversa-
dos. Assim como site é sítio, e não
se falamais nisso. Salvar é guardar,
deletaréapagar,e-mailécorreioele-
trônico. Optam, sempre que possí-
vel, por termos já existentes na lín-
gua, evitando cair no ridículo. Re-
cordo a época emque locutores de
televisãoenchiamabocaepronun-
ciavamslowmotion, quandopodi-
am muito bem falar câmera lenta,
de comunicaçãodireta.
Issonãosignificaqueosportugue-
sesnãoincorporempalavrasestran-
geirasaospontapés,paracopiaruma
expressãodeles.Lácomocá,nãohá
aversãoa taispalavras, queentram
nalínguasempedir licençae,decer-
tamaneira,amantémviva.Époris-
soquenãoentendoagritacontrao
uso do termo lockdown, que pode
ser traduzido por confinamento,
mas perdendo em impacto. De re-
pentetodomundovirouAldoRebe-
lo (lembram do gajo?). Em 1999, o
deputadodoPCdoBquis transfor-
mar em lei a proposta deque “toda
vezemquefosseusadaumapalavra
estrangeiraparaumacomunicação
aopúblico,oemissordamensagem
teria de disponibilizar a tradução
em português”. Rebelo ainda anda
por aí, disponibilizando adoidado,
e ninguém lhedá amínima.
Surgiramsugestõesparasubstitu-
ir lockdown. Amelhor delas: isola-
mento obrigatório. Outros pitacos
criativos: bloqueio total, fecha-ge-
ral, proibidão, tranca-rua, segura-
onda, sossega-rabo.
Bolsonaro tentou forçarabarrae
fazer do lockdownumchurrascão.
Pegoumalatéentreosfanáticos.Ele
então resolveu aviltar o luto demi-
lharesdebrasileirospasseandode...
como se dizmesmo jet-ski empor-
tuguês castiço?
Salvar a democracia
Jairme arrependi
Lockdownou churrascão?
-
Hélio Schwartsman
-
Ranier Bragon
-
Alvaro Costa e Silva
Existe uma compreensão di-
fundida de que Paulo Guedes
seria uma espécie de contra-
pesoracional e tecnocrático
ao radicalismo irresponsável
de Bolsonaro. Mas, se olhar-
moscomatenção,veremosque
Guedesnão éumcontrapeso,
nemmesmoumadendo,mas
aprópriaexpressãoeconômi-
ca dodesatino.
Muitos acreditam que en-
quanto na política Bolsonaro
propagava desinformação so-
bre o coronavírus, na econo-
mia Paulo Guedes desenhava
respostas sensatas de política
econômica—eraotecnocrata
cautelosoeprudenteque iaàs
reuniõesdemáscaraequecon-
trastava com o governo, que
promoviaaglomeraçõesecom-
batiaodistanciamentosocial.
Mas as declarações e o con-
teúdodaspolíticasdeGuedes
parecem o oposto disso. Suas
políticas são não só compatí-
veiscomoaconsequêncialógi-
ca da retórica despreocupada
comaproteçãoda vida.
Desdeocomeçodacrise,Gue-
des defende a ideia de que a
queda rápidanodesempenho
econômico será compensada
por uma retomada acelerada,
em formato de V. “Vamos sur-
preenderomundo”,disserepe-
tidas vezes.
Ootimismocomapossibili-
dade de retomada rápida não
écompatívelcomnenhumdos
cenáriosapontadospelosepi-
demiologistas que preveem a
necessidade de períodos de
quarentena intercalados com
períodosderelaxamentocon-
trolado—pelomenos até en-
contrarmos um tratamento
efetivo ouumavacina.
OqueootimismodeGuedes
antessugereéacrençadeque
a crise é uma janela de opor-
tunidade, versão sofisticada
da conspiração do “vírus chi-
nês”. Elapressupõequeos ris-
coseosdanosdocoronavírus
estejamsendoexageradospe-
lasautoridadesmédicasesani-
tárias e que quem não se dei-
xarlevarpeloalarmismopode
sebeneficiardasvantagensde
retomaraatividadeeconômi-
camais cedo.
Esseentendimentoéconsis-
tentecomaprofunda insensi-
bilidadesocialdasmedidasde
proteçãoaotrabalhoedalimi-
taçãodosfundosparaapoiaros
estados e as empresas. A taxa
de reposição dos salários que
sofrerem redução das jorna-
das ou suspensão dos contra-
tos—isto é, o quanto o gover-
no repõe do que as empresas
cortam—estámuitoabaixoda
médiadaOCDE,grupoaoqual
o governo Bolsonaro quer se
juntar.Oauxílioaos informais
oferecidoporGuedeseraderi-
dículosR$200porfamília,esó
foi ampliadoparaatéR$ 1.200
depoisqueMaiatomouopro-
blemapara si.
Por isso, oatrasonodesem-
bolsodoauxílioàsempresase
aos trabalhadores muitas ve-
zesnãopareceapenas incom-
petência,masuma formadis-
simuladade forçar a abertura
precoce da economia e atro-
pelarodistanciamentosocial.
po.ortellado@gmail.com
PauloGuedes
é Bolsonaro
-
Pablo Ortellado
Professor do curso de gestão de políticas
públicas da USP, é doutor em filosofia.
Escreve às terças
Laerte
Com sandices na TV, Regina Duarte pode ter ganho
sobrevida na Cultura à custa da pacificação da área
a eee
opinião
TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 A3
ERRAMOS
erramos@grupofolha.com.br
Rodízio
Talveznuncavenhamosasaberde
quemfoiaideiaestapafúrdiadepro-
poresserodíziopordiapareseím-
pares(“Megarrodíziocomeçaava-
lernestasegundaemtodaacapital
paulista”, Cotidiano, 11/5). Esse gê-
niodoexpôsde forma irresponsá-
vel as pessoas que são obrigadas a
sairparatrabalhareestavamusan-
do seus próprios veículos. O povo
é cobaia dessa armadilha. Se dará
certo,veremosmaisadiante,masa
indústriadamulta jáoperaa100%.
Izabel Avallone (São Paulo, SP)
PGR
Inacreditáveis as insinuações de
queAugustoAraspoderá ser indi-
cado ao STFdaqui a dois anos de-
pendendo de seu comportamen-
to em relação ao governo. O pro-
curador-geral é o titular exclusivo
das ações penais contra os deten-
tores de foroprivilegiado, inclusi-
veopresidentedaRepública.Urge
quesejaaprovadaleiparaimporao
PGRimpedimentodedoisanospa-
raassumiroutroscargospúblicos
após o exercício de seumandato.
Agostinho Sebastião Spínola
(São Paulo, SP)
Ditadura
Saudosistas da ditadura alegam
que ela foi branda em compara-
ção àdaArgentina, que teria feito
30 mil mortos. Essa contabilida-
de macabra de mortos atrelados
à ação/omissão das Forças Arma-
das ganhará novos números em
breve, com dezenas de milhares
de mortos pela pandemia lança-
dos na conta dosmilitares, já que
sãoospilaresdestegovernogeno-
cida. Que os fardados atentem ao
alerta de Luiz Felipe Pondé (“A vi-
gília comovirtudepolítica”, 11/5).
Túllio Marco Soares Carvalho
(Belo Horizonte, MG)
Reginas, Curiós, Toffolis, Ustras
Excelente o artigo de Thiago Am-
paro (“Reginas, Curiós e Toffolis”
Saúde, 11/5).Quero frisarqueaar-
guiçãodedescumprimentodepre-
ceito fundamentalnº 153, propos-
ta pelo Conselho Federal da OAB
em 2008 contra a anistia de tortu-
radoreseassassinos, aindapende
derecursonoSTF,emmãosdoseu
próximopresidente,LuizFux,que
simplesmentedecidiunãojulgá-lo.
Fábio Konder Comparato
(São Paulo, SP)
OtextodeThiagoAmparocontras-
tacomoinfortúniodeatosefrases
dosintegrantesdoatual(des)gover-
no.Tantoéquedariaparaescrever
muitas outras cenas infelizes, e o
título poderia ser Reginas, Curiós,
Toffolis,Ustras,Weintraubs,Dama-
res e tantosoutros.
Anselmo Antonio da Silva
(São Bernardo do Campo, SP)
*
De todas as personagens que Re-
ginaDuarte representou, aatual é
a vilãmais abjeta. Espero que sua
verborragia contra a pobreza se-
jamaisumade suas falasfictícias.
Cintia Garbeloto (São Paulo, SP)
Representados
O que assusta com Bolsonaro é o
número de pessoas que ele repre-
sentacomseucomportamento.Ex-
põeoorgulhodeumasociedadeque
nãoenxerganadaalémde seus in-
teresses.Atéreligiososdesdenham
dofatodeeleaplaudirtorturadore
denãodemonstrarcompaixãoem
pronunciamentossobreaCovid-19.
Claudio L Rocha (São Paulo, SP)
Isolamento
Vai no ponto do humanismoNet-
flix o genial artigo de Demétrio
Magnoli (“Carta a um não confi-
nado”, Poder, 9/5). Mostra o ego-
ísmo para a catástrofe social que
se avizinha disfarçado de solida-
riedade. Deveria ser leitura obri-
gatória. Parabéns!
Cláudia Carvalho (São Paulo, SP)
*
AcolunadeDemétrioMagnoli es-
tá recheada de preconceitos e de
insensibilidade com a realidade,
típico de quem pertence a uma
classe privilegiada e acha sacrifí-
cio deixar de ir ao restaurante ou
aoshoppingIguatemi.Nãoconse-
gue entender que o “Zé povinho”
da favela, os informais e os donos
de lojinhasbuscamsobrevivência
financeira ao sair de casa. Não te-
nhodúvidasdeque todosgostari-
amdeficaremsuascasasassistin-
doNetflix se pudessem.
Marcelo Neiva Pereira (São Paulo, SP)
*
“Com retorno dos voos espaciais
nosEUA,astronautasdãodicaspa-
ra lidarcomisolamento”(Ciência,
9/5). Eles levaramcrianças?
Vera Lúcia de Oliveira Jesus
(Brasília, DF)
Planos econômicos
Gostaria de dar modesta colabo-
raçãoparainjetardinheironaeco-
nomia semcustopara asfinanças
públicas. Que se paguem os valo-
res referentes à correção dos pla-
nos econômicos. Se a correção já
foipagaparamilharesdepessoas,
porqueoutrasmilharesnãotêmo
mesmo direito? Que se desamar-
rem os nós do STF e que se elimi-
neumdosmotivosdesermos“200
milhõesdetrouxas”(“Emlivecom
Itaú, Guedes diz que ‘200milhões
detrouxas’sãoexploradosporseis
bancos”Mercado, 9/5).
Antônio Carlos Rossatti Schimitd
(São Paulo, SP)
Arrependido
Arrependo-me de ter contribuí-
doparaaascensãodeBolsonaroà
Presidência. Sem noção, ele brin-
canograndeprédiochamadoBra-
sil. Foi ao play do Supremo após
reunir empresários e depois der-
rapouna casade festasdocondo-
mínio,nãoseconsumandoochur-
rascoemqueabririasuaatualresi-
dênciapara30amigoseinfluentes.
AtéquandooMinistériodaDefesa
passaráamãonacabeçadonosso
treslocado presidente? Em 2022,
ele não terámeu voto.
Paulo Marinho (Rio de Janeiro, RJ)
Suécia x Nova Zelândia
HélioSchwartsman(Opinião,10/5)
dizemsuacolunaqueaestratégia
neozelandesaseterámostradome-
lhorqueasuecaseavacinacontra
ocoronavírusnãodemorar.Maso
provável é quedemore.Quemde-
fende lockdown tem de mostrar
como sustentar milhões em casa
emumpaís quebrado e como im-
porisolamentoparaquemviveem
área comandadapelo tráfico.
Raphael CâmaraMedeiros Parente
(Rio de Janeiro, RJ)
Aprendizado
OembaixadordaRússia,senhor
SergueiAkopov,foicerteiro:“foium
combatedasforçasdavidacontra
as forças da morte” e “a humani-
dadefezumaescolhaimportante:
optou por cooperação em vez da
competição” (“História da Segun-
daGuerranosensinaquesolidarie-
dadeéomelhorremédio”,Mundo,
8/5).Enós,brasileiros,aprendemos
algocomomensalão,aLavaJatoeo centrão? Passagens que deveri-
amestar frescasemnossamemó-
ria! Se aprendêssemos a escolher
sempre o interesse coletivo, todo
o resto viria naturalmente.
Nivaldo da Silva Lavoura
Júnior (Piracicaba, SP)
opinião (11.mai., pág. a3) A carta
deTildenSantiago, publicadana
seção “PaineldoLeitor”, continha
erro no verbo encontrar. A cons-
truçãocorreta é: “Seo tioExpedi-
to encontrasseBolsonarohoje...”.
poder (11.mai., pág.a4) Porumer-
rodeedição,as informaçõessobre
a circulação da Folha não foram
publicadasemexpediente.Vejaos
dados atualizados à página A4 da
ediçãodesta terça (12).
PAINELDO LEITOR
folha.com/paineldoleitor leitor@grupofolha.com.br
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Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular
o debate dos problemas brasileiros emundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo
Sou relativamente jovem.Nomun-
doemqueaspessoaspodemchegar
aos 100 anos, ter 50 ainda é pouco.
Considero-me uma pessoa saudá-
vel.Bebopouco,mealimentobem,
sou maratonista. Já fiz dezenas de
corridas pelomundo, das mais co-
muns às mais malucas, como cru-
zarosAndescorrendoemtrêsdias.
Quando a Covid-19 começou, to-
meitodososcuidados,nãosócomi-
goeminhafamília,mastambémna
empresa que dirijo, o Ecad (Escri-
tórioCentral deArrecadaçãoeDis-
tribuição).Desde 18demarçoesta-
mostodosdequarentena.Comovi-
vo entre o Rio e São Paulo, fiz pou-
cas viagens de carro e saía de casa
para correr e eventualmente ir ao
supermercado—de fato, semmás-
cara; este deve ter sido omeu erro.
Peguei a doença e, junto, uma bac-
tériaquemeafetouosrins,umapi-
elonefrite.Segundoosmédicos,um
raiocaiuduasvezesnaminhacabe-
ça (mistérios daCovid-19).
Chegueiaohospitalcomumqua-
dro infeccioso bastante grave e de-
morei paramelhorar. Não tive pro-
blemas respiratórios, mas me sen-
ti muitomal. Em ummomento, ti-
vemedodemorrer.Éimpossíveles-
quecer a coragem das pessoas que
cuidaram demim, são heróis mes-
mo.Enfermeirosemédicosdeuma
doçuraquenuncapoderiaimaginar.
Cada paciente que saía do hospital
era aplaudido pela equipe. Como-
vente, ummomentode esperança.
Uma amiga me perguntou o que
eufazianohospital,emesurpreendi
comaminharesposta:Nada,passo
mal o dia todo. Sentia-me sozinha,
choreidiversasvezes.Nãoimaginei
que um corpo pudesse sentir tan-
ta fraqueza. O dia parecia um jo-
go no qual você avança uma casa,
mas volta duas. Comemorei o dia
emque sentei na poltrona,mas lo-
govoltei para a camacomumador
decabeçaimpossível.Tomarbanho
eraumfeito,umesforçotremendo,
umamaratona de 100 km.
Impossívelnãosairdeumasitua-
ção dessas com medo e com uma
grandenecessidadededizerparato-
dos que tomemcuidado, comuma
certa raiva das pessoas que não le-
vam a sério. A doença émuito gra-
ve,erelaxaragoraécolocarooutro
emperigo—principalmentequem
nãotemacessoaumhospitalparti-
cular. Nunca passamos por dificul-
dadetãograndeenãoconsigoachar
normal a praça ao lado de casa re-
pleta de crianças ou o calçadão de
Ipanemacheionofinal de semana.
Nãominimizoasquestõeseconô-
micas de uma quarentena. Tenho
muitosamigosfechandoseusnegó-
ciosecomdificuldadesfinanceiras,
assim como a população que está
perdendo emprego e renda no dis-
tanciamentosocial.Étristedemais.
Como gestora de uma empresa,
tomo decisões difíceis diariamen-
te. Trabalho com direito autoral,
e nossa arrecadação caiu 50% em
abril, o que representa umaqueda
vertiginosanarendademilharesde
compositores.Nãosabemosquan-
do omercado vai retomar. Mas te-
mosquepreservaravidadenossos
funcionários. A saúde de todos é a
nossa prioridade.
Haverá,claro,omomentodareto-
mada. Quando tudo isso acabar, as
pessoasestarãoávidasporver seus
amigos,ouvirmúsica,sentarnacal-
çadaetomarumchope.Vamosvalo-
rizarascoisassimplesdavidacomo
nunca.Mas,nestemomento,émui-
toimportanteseguiremcasa.Sim,é
difícil,échato,mascomcertezaexis-
temuitaalegriaemestarvivo,coma
suafamília,nasuacasa.Ficaremca-
saéumatodeamoraopróximo,de
compreensão, de entendimentoda
desigualdade de nosso país que es-
tá literalmentenos custandovidas.
Adesigualdade, aliás, é comoum
tapadiárionanossacaraquandove-
mos o numero demortos nos aler-
tando o quanto é errado ir às ruas.
Podemos lembrar deste momento
comoaqueleemquetambémfomos
heróis,comoforamtodosquearris-
camsuasvidasparasalvaroutras.Se
formosfirmes eficarmos emcasa.
OpresidenteJairBolsonaro,aoven-
cer as eleições, jurou perante Deus
eopovobrasileirocumprir aCons-
tituição Federal. Desde então, vem
realizando uma série de atos que
denunciamodescumprimentodas
normasconstitucionaisegeramsus-
peitasdecrimesderesponsabilida-
de.Nota-sequemesmodentreseus
aliadoseleitoraisháumaparcelaque
jánão lhedá suporte epreferiaque
outra pessoa o substituísse.
Quandosenador,em2005, levan-
do em conta proposta da Campa-
nha Nacional em Defesa da Repú-
blicaedaDemocracia, lideradape-
la Ordem dos Advogados do Bra-
sil e coordenada pelo jurista Fá-
bio Konder Comparato, apresen-
tei a Proposta de Emenda à Cons-
tituição (PEC) n° 73 para instituir
o referendo revocatório dos man-
datos de presidente da República
e congressistas, extensível aos go-
vernantes locais por meio de suas
constituiçõesestaduaise leisorgâ-
nicasmunicipais. Trata-se do cha-
mado“recall”, previstoemdiversas
democracias do mundo, em nível
nacional ou subnacional.
Depoisdeumanodemandatose-
ria possível convocar por apelopo-
pular ou apoio do Parlamento um
referendo nacional para que a po-
pulaçãosemanifestepela remoção
oucontinuidadedomandatárioem
exercício. Em caso de decisão pela
interrupção,vices,suplentesouaté
novas eleições poderiam apontar
quem vai substitui-lo. Quem votou
nos candidatos eleitos,mas discor-
da das ações adotadas, poderáma-
nifestar-se a respeito na forma de
umvotodedesaprovação.
Apossibilidadederevogaroman-
datodáaopovoodireitodeescolher
sobreacontinuidadedeadministra-
ções com as quais esteja em desa-
cordo antes que seja tarde demais.
Trata-se de instrumentoquepode-
rásignificarumasoluçãoparaacri-
se política que estamos enfrentan-
do.Écrescenteareprovaçãodopre-
sidenteeàsua formadeconduziro
país,atéporalgunsdosseuscolabo-
radores,comoobservamosrecente-
mente comas saídas dosministros
daSaúdeeda Justiça.Emambosos
casos,verificou-sequeaopiniãopú-
blica deu razão aomodo de proce-
derdosministros.A faltaderespei-
todopresidentecomjornalistasea
imprensaaoapontarsuasfalhastem
merecido forte reprovação.
Oartigo3ºdaConstituiçãodizque
constituemobjetivosfundamentais
da República Federativa do Brasil
construirumasociedadelivre, justa
esolidária;promoverodesenvolvi-
mentonacional; erradicar apobre-
za e a marginalização e reduzir as
desigualdades sociais e regionais;
promoverobemdetodos,sempre-
conceitosdeorigem,raça,sexo,cor,
idadeequaisqueroutrasformasde
discriminação.Emseuprogramade
governoentregueaoTribunalSupe-
riorEleitoral,Bolsonarocomprome-
teu-secomumarendamínimapara
todas as famílias brasileiras —co-
mo defendem pensadores liberais
comoMiltonFriedman.
Em entrevista que Friedman me
concedeu no ano 2000, publicada
emmeu livro “RendadeCidadania.
A Saída é pela Porta”, o economista
afirmaque sua proposta de impos-
toderendanegativoearendabási-
ca,pelaqualtenhobatalhado,nada
maissãoqueequivalentesentresia
depender de seu alcance.
Se o presidente quiser contribu-
ir para extinguir as filas do auxílio
emergencial, pode seguir o exem-
plo tãobem-sucedidodoestadodo
Alasca (EUA) de pagar a todos seus
habitantes um dividendo anual,
por transferência em conta bancá-
ria ou cheque enviado à residência
dequemassimpreferir.Trata-sedo
direitodetodosparticiparemdari-
queza comum. É o que esperamos
brasileiros, inclusiveseuseleitores.
Revogação domandato e a renda básica
Levema sério
-
Eduardo Suplicy
Vereador de São Paulo pelo PT, presidente de honra da Rede Brasileira da Renda Básica, senador de 1991 a janeiro de 2015e doutor em economia pela Universidade Estadual de Michigan (EUA)
-
Isabel Amorim Sicherle
Superintendente do Ecad (Escritório Central de Arrecadação e Distribuição)
Povo poderia escolher por continuidade ou não antes que fosse tarde demais
O dia de um infectado parece um jogo: você avança uma casa, mas volta duas
[
Se o presidente quiser
contribuir para extinguir
as filas do auxílio
emergencial, pode
seguir o exemplo tão
bem-sucedido do Alasca
de pagar a todos seus
habitantes um dividendo
anual, por transferência
em conta bancária
ou cheque enviado à
residência de quem assim
preferir. (...) É o que
esperam os brasileiros,
inclusive seus eleitores
[
Impossível não sair de
uma situação dessas com
medo e com uma grande
necessidade de dizer
para todos que tomem
cuidado, com uma certa
raiva das pessoas que não
levam a sério. A doença
émuito grave, e relaxar
agora é colocar o outro em
perigo—principalmente
quem não tem acesso a
um hospital particular
Bolsonaro recebe o tenente
reformado Sebastião Curió
@chicorodriguesrr no Instagram
a eee
poder
A4 TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020
Jornal filiado ao IVC
Circulação paga às terças de mar.2020, impresso mais digitais (IVC) 321.202 exemplares
Páginas vistas no site da Folha em abr.2020 (Google Analytics) 428.386.671
Visitantes únicos no site da Folha em abr.2020 (Google Analytics) 73.786.377
Asinalizaçãodequepode indicarAugusto
ArasmostraqueBolsonarovêoSTFcomo
umacasadecâmbio,deondepode tirarproveito
DodeputadoMarceloFreixo(PSOL-RJ), sobreBolsonaroavaliar indicação
nomomentoemqueoPGRdecidirá investigaçãocontraopresidente
TIROTEIO
comMariana Carneiro e Guilherme Seto
EscolhidaparaocargodepresidentedoIphan(Institu-
todePreservaçãodoPatrimônioHistóricoeArtístico
Nacional) nesta segunda-feira (11), Larissa Rodrigues
PeixotoDutratemlaçodeamizadecomafamíliadeJa-
ir Bolsonaro. Ela se casou em 2013 comGersonDutra
Júnior,mais conhecidocomoPatropa, agentedaPolí-
cia Federal que trabalhouna segurança deBolsonaro
em 2018. Desde então, Dutra é próximo de Leonardo
de Jesus, oLeo Índio, primodosfilhosdopresidente.
Laços
amigos Nasredessociais,Leo
ÍndioeDutra trocamelogios
e lembranças. Em janeiro de
2019,DutradisseaLeoquetra-
balhar na segurança de Bol-
sonaro havia sido uma mis-
são“emblemática”e “nobre”.
turma Quem também tra-
balhou na segurança de Bol-
sonaroem2018 foiAlexandre
Ramagem, o escolhido pe-
lo presidente para ocupar o
cargo de diretor-geral da Po-
lícia Federal que foi barrado
peloministrodoSTFAlexan-
dre deMoraes.
histórico AoPainel,aasses-
soriadeimprensadoMinisté-
riodoTurismodizqueaesco-
lhadeLarissafoibaseadaem
critérios técnicos e se funda-
menta em sua carreira de 11
anos como servidora dapas-
ta. O ministério não comen-
tou a relação de Larissa com
o segurança de Bolsonaro.
Por telefone, ela pediu que o
tema fosse tratado coma as-
sessoria.
controle Ex-ministrodaCul-
tura, área à qual o Iphan era
vinculadoaté2019,odeputa-
doMarceloCalero(Cidadania-
RJ)criticouanomeaçãoedis-
seserinacreditávelumgover-
noseprestaraessepapel, de
ignorar critério técnico.
ovo Emdezembro,Bolsona-
ro criticou o órgão, acusan-
do-ode “embargar obras em
qualquerlugardoBrasil”.Fun-
cionáriosdoIphanacreditam
que o rancor foi incentivado
porLucianoHang,daHavan,
queafirmoutertidoumaobra
paradanoRS.O Iphannega.
seu quadrado Governado-
res disseram na noite desta
segunda (11) que nada mu-
da em seus estados nas polí-
ticas de restrição de circula-
çãoequevãoignorarodecre-
toBolsonaroquetornouaca-
demiasesalõesdebelezaser-
viços essenciais.
agenda OTCUdeucincodi-
as para o Inep semanifestar
sobre as datas do Enem. O
ministroAugustoNardesdiz
queapandemiatemreflexos
na educação e indica ser ne-
cessárioalterarocalendário.
orelhaquente Alvodapres-
sãodebolsonaristasedeopo-
sitores na crise que jámatou
maisde11milpessoasnoBra-
sil, o ministro Nelson Teich
(Saúde) aproveitou a ida ao
Rio a trabalho para visitar a
mãenodomingo(10).Nocon-
domínio, na Barra da Tijuca,
nãotevefolgaelevousermão.
regras Ao entrar no eleva-
dor, ouviudeumacriançade
6 anos, que não sabia com
quem falava, que ele não po-
dia entrar e teria que sair. O
condomínio tem regra con-
traocoronavírusquepermi-
teapenasumafamíliaporvez
no espaço.
cuidado Porsuaidade,amãe
de Teich, Nelaby, 87, faz par-
te do grupode risco, que, se-
gundorecomendaçõesdopró-
prioMinistériodaSaúde,de-
ve ficar em isolamento soci-
al. O ministro havia visitado
oHospitalFederaldeBonsu-
cesso,referêncianotratamen-
to deCovid-19, umdia antes.
obrigado Oministroafirma
que o encontro observou as
recomendações de distanci-
amento, etiqueta respirató-
ria eusodemáscara.Dizque
realizou teste para coronaví-
rus antes do encontro e que
o resultado foi negativo. So-
bre abroncanoelevador, diz
ter agradecido a orientação.
sabiam Oex-diretor-geralda
PolíciaFederalMaurícioValei-
xoconfirmouemdepoimento
queaoperaçãocontraoex-ca-
pitãoAdrianodaNóbrega, li-
gadoaosenadorFlávioBolso-
naro(sempartido-RJ),teveco-
nhecimentopréviodoMinis-
tériodaJustiçaetentouenvol-
veraPF.Oepisódiofoirevela-
dopelo Painel em fevereiro.
extraoficial Valeixo disse
queopedidodeapoio foi fei-
to por canal não apropriado.
novidades Ogovernonome-
ounestasegunda(11) trêsno-
vosdiretoresdaPF,odeLogís-
tica,odeGestãodePessoal e
oTécnico-Científico.Anome-
açãodeCarlosHenriqueOli-
veira,atualchefedaPFdoRio,
promovidoadiretor-executi-
vo, aindanão foi publicada.
Camila Mattoso
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Outros estados
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GRUPO FOLHA
-Italo Nogueira
e Catia Seabra
rio de janeiro Visto pormais
dedoisanoscomoumaamea-
çaàfamíliaBolsonaro,oweb-
designerebacharelemdirei-
toLucianoQueridosereapro-
ximoudoclãpresidencial.Na
últimaquarta-feira(6), foino-
meadopresidentesubstituto
daFunarte,órgãoresponsável
porpolíticaspúblicasparaes-
timular a arte nopaís.
Lucianofoipor13anosfun-
cionáriodogabinetedovere-
adorcariocaCarlosBolsona-
ro (Republicanos), onde par-
ticipoudosprimeirospassos
da família no mundo digital
—um dos trunfos da ascen-
sãodeBolsonaronavitoriosa
eleiçãopresidencial de 2018.
Olongovínculocomafamí-
liadeJairBolsonarofoiencer-
rado em dezembro de 2017,
após Luciano ser desautori-
zadopeloentãodeputadofe-
deral,porquemfoichamado
de “elemento”.
Desde então, aliados da fa-
mília temiamqueLucianoti-
vesselevadoconsigoarquivos
e documentos que compro-
metessem o grupo do presi-
dente, tanto sobreodiaadia
dos gabinetes comosobre as
estratégiasdigitaisusadasna
pré-campanha.
Além das apurações sobre
fakenews,ogabinetedeCar-
los éalvode investigaçãocri-
minal e cível pelo Ministério
PúblicodoRiodeJaneirosob
suspeitadeempregarfuncio-
náriosfantasmas.Opresiden-
te substitutodaFunarte teve
amulheredois enteadosno-
meadosnosgabinetesdeCar-
los e Jair Bolsonaro.
Em 31 de março passado,
porém, a preocupação da fa-
mília com Luciano se encer-
rou. Ele foi nomeado diretor
doCentrodeProgramasInte-
gradosdaFunarte, comsalá-
rio deR$ 10.373.
Na segunda-feira passada
(4),somououtrosR$3.250ao
contrachequeaoserpromovi-
doadiretor-executivodafun-
dação. Dois dias depois, pas-
sou a exercer o cargo de pre-
sidente substituto do órgão
(R$ 16.944), após a anulação
danomeaçãodeDanteMan-
tovani.Elenãodevepermane-
cer nesse últimoposto.
LucianoconheceuBolsona-
ro em 2002, quando foi con-
tratado para fazer o materi-
al gráfico da campanha da
família —era também a pri-
meiraeleiçãodosenadorFlá-
vioBolsonaro(Republicanos-
RJ) para a Assembleia Legis-
lativa doRio.Lucianochamouaatenção
dopresidenteaoconseguirba-
ratearocustodomaterial im-
presso, diminuindoo forma-
to dos folders que distribuí-
am nas ruas. Em 1º de outu-
brodaqueleano,foinomeado
no gabinete deCarlos.
Embora lotado na Câma-
ra Municipal do Rio, o ex-as-
sessor prestava serviços pa-
ra todos os gabinetes da fa-
mília. Chegou até a frequen-
tar oplenáriodaAssembleia
aoladodeFlávio,entãodepu-
tado estadual.
Como surgimento dasmí-
dias sociais, teve a iniciati-
va de dar os primeiros pas-
sos digitais de toda a família
Bolsonaro.Criouosperfisde
Flávio,CarloseJairBolsonaro
nas redes e administrou, por
algum tempo, grupos no Fa-
cebook eWhatsAppde apoi-
adores do grupo.
Apósaeleiçãode2014,quan-
doopresidente foi odeputa-
dofederalmaisvotadodoRio
deJaneiroe jásonhavacoma
Ex-assessorqueBolsonaros
viamcomoameaçaganha
cargodechefianogoverno
Luciano Querido rompeu com família em 2017, chamado de ‘elemento’
pelo hoje presidente da República; aliados temiam que tivesse dossiê
candidaturapresidencial,oex-
assessorabriupáginasdopre-
sidente comonomede cida-
des a fimdemonitorar a po-
pularidade de Bolsonaro em
cada região.
A interlocutores disse ter
criado e administrado cerca
de 10mil grupos no Facebo-
ok e Whatsapp por meio de
diferentes perfis.
O avanço no meio digital
chamouaatençãodeCarlos,
que passou a se interessar e
comandar o setor.
Descritocomoumex-asses-
sor ambicioso, Luciano que-
ria manter um papel de des-
taque e proximidade com o
hoje presidente.
No início de 2017, propôs a
Bolsonaro que fosse a Cam-
poGrande(MS)mapearpos-
síveis candidatos para a elei-
çãodoanoseguinte.Recebeu
sinal verdeparaatuara 1.400
kmdaCâmara carioca, onde
estava lotado.
Em Mato Grosso do Sul,
participoudeencontroscom
apoiadores se apresentando
como o responsável pela es-
truturaçãodacandidaturade
Bolsonaronoestado,alémda
montagemdeumachapapa-
raaCâmaradosDeputadose
AssembleiaLegislativadeMa-
toGrosso do Sul.
“ElefalouqueBolsonaroes-
tava estruturando a campa-
nha no estado e buscava no-
mes de conduta ilibada”, dis-
seodelegadoCleversonAlves
do Santos. Segundo Clever-
son, Luciano incluía em seu
currículoaadministraçãode
gruposedapáginasdeBolso-
naro nas redes sociais desti-
nadaaoseleitoresdoestado.
Amovimentação do ex-as-
sessor de Carlos incomodou
algunsdospolíticoslocaisque
tambémtinhamproximidade
comBolsonaro.Emoutubro,
chegouaosouvidosdopresi-
dentequeoex-assessoresta-
vapedindodinheiroparasua
pré-campanha.Opresidente
gravou um vídeo desautori-
zando aprática.
“Hápoucosdiaspassoupor
aí umelementodenomeLu-
ciano usando domeu nome.
Pediudinheiroparamuitosde
vocês para financiar sua via-
gem, bem comomaterial de
campanha.Deixobemclaro:
essa não é a forma de captar
recursos.Ferealeieleitoral,e
eujamaisautorizariaalguém
a fazer isso”, afirmou Bolso-
naro em vídeo distribuído
aos seus eleitores de Campo
Grande emoutubrode 2017.
LucianoretornouaoRiode
Janeiroapenasparaserdemi-
tido, em 1º de dezembro de
2017.VoltouemseguidaaMa-
to Grosso do Sul para traba-
lharnacampanhaderrotada
deCleverson.Em2019, foimo-
rar emsua cidadenatal, Ara-
ruama (RJ), onde abriu uma
empresademarketingdigital.
Bolsonaro foi alertado por
pessoas próximas preocupa-
das com a forma traumática
com que o ex-assessor dei-
xouocargo.Falava-sedaexis-
tência de um HD com infor-
mações sobre os gabinetes
da família, informação nun-
ca confirmada.
Um dos que expressaram
preocupaçãoparaaliadosdo
presidente foi FabrícioQuei-
roz,policialmilitaraposenta-
doamigodopresidente,apon-
tado peloMinistério Público
do Rio de Janeiro como ope-
radorda “rachadinha”noga-
binetedeFlávioBolsonarona
Assembleia doRio.
Aassessoriadeimprensada
FunarteafirmouqueLuciano
nãodariaentrevistassobreo
tema.APresidênciadaRepú-
blica e oMinistério doTuris-
mo,responsávelpelanomea-
çãonafundação,nãorespon-
deramaosquestionamentos
da reportagem.
Luciano Querido, nomeado diretor na Funarte Luciano Querido no Facebook
“
Hápoucos
dias passou
por aí um
elemento
de nome
Luciano
usando do
meunome.
Pediu
dinheiro
paramuito
de vocês para
financiar
sua viagem,
bemcomo
material de
campanha.
Deixo bem
claro: essa
não é a forma
de captar
recursos.
Fere a lei
eleitoral e
eu jamais
autorizaria
alguéma
fazer isso
Jair Bolsonaro
sobre o então
assessor
Querido,
em vídeo a
apoiadores
em out.2017
a eee
coronavírus poder
TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 A5
Existeumtipodecondutacla-
ramente indevido e até crimi-
noso com relação ao corona-
vírus: onegacionismocientífi-
co eapromoçãode teoriasda
conspiração.
Nasúltimassemanas, vimos
a fakenewsdeque caixões va-
ziosestariamsendoenterrados
paragerarpâniconasmassas
ser difundidaaté porumade-
putada federal bolsonarista.
Queumorganizadordepro-
testo bolsonarista contra o
STF tenha sido internado na
UTI com Covid-19 é uma boa
ilustração do caráter suicida
da ganância e da sede de po-
der desenfreadas que movem
essa corrente.
Superado o negacionismo
criminoso, contudo, temos
muito mais perguntas do
que respostas. Acompanha-
mos apreensivos a reabertu-
ra de países que fizeram sua
lição de casa. Mas será que
seus números piorarão con-
forme voltem às atividades?
Quais os efeitos marginais de
um “lockdown” estrito sobre
o contágio e a economia?
Ninguém sabe ao certo.
ASuécia,quenão implemen-
tou medidas duras de “lock-
down”, temmuitomaismortes
percapitadoqueseusvizinhos
escandinavos, e suaeconomia
—segundo reportagem no Fi-
nancial Times (“Sweden unli-
kely to feel economicbenefitof
no-lockdownapproach”,de9de
maio)— não deve ter desem-
penhomelhor do que a deles.
Estadosamericanosebrasi-
leiros que começam a reabrir
suaseconomias tambémsede-
param comdemanda de con-
sumidoresaindamuitobaixa;
ou seja, apandemia, enãoseu
combate, éaprincipal respon-
sávelpelosdanoseconômicos.
O Rio Grande do Sul, nesta
segunda (11), iniciou um pla-
node “distanciamentocontro-
lado” para tentar reabrir aos
poucos o comércio sem colo-
car em risco a saúde pública.
O país inteiro observa com
interesseaabordagem.NoMa-
ranhão,parecemosveradispo-
siçãofirmedese imporo “lock-
down” para evitar o colapso.
Nestemomento, emquesim-
plesmente não dá para saber
qual solução será melhor no
balanço final, uma liderança
segura—desdequedentrodos
parâmetros da ciência— vale
mais do que o vaivém incerto
de evidências que surgem pa-
ra todos os sabores.
E essa segurança está fal-
tando aqui em São Paulo ca-
pital. Na semana passada, a
prefeitura meteu os pés pelas
mãoscomumfracassadoblo-
queio de avenidas.
Gerou incômodo, trânsito e
dor de cabeça, aparentemen-
te sem nenhum benefício pa-
rao isolamentosocial.Comos
protestos da população, vol-
tou atrás em apenas dois di-
as, comprovando que nem a
prefeitura estava segura do
que implementava.
Agora iniciamosorodíziode
carros em dias pares e ímpa-
res. Confesso que não me pa-
rece amelhor das ideias. Sim,
o tráfego de veículos reduziu
consideravelmente.
Aomesmotempo,muitasdas
pessoas que não usarão seus
carros para ir trabalhar sim-
plesmente usarão o transpor-
te público.
Na manhã de segunda, re-
gistrou-se um aumento de
300 mil usuários nos ônibus
municipais. No metrô e na
CPTM, o aumento foi de 11%
e 15% dos usuários. E pessoas
nummesmovagãodetremtêm
potencialmuitomaiordedisse-
minarovírusdoquemotoristas
cada umdentro de seu carro.
Seja como for, todos temos
queestarabertosàpersuasão
conformenovosnúmerosapa-
reçam.Hámuito espaçopara
discordância entrepessoasde
boa-fé. Esse debate não deve
ser interditado.
Das lideranças, contudo,pre-
cisamosverfirmezanasusten-
taçãodemedidas ea transpa-
rêncianahorade embasá-las,
traçando metas para avaliar
resultados.É isso, enãoapres-
sãodemilitânciasassassinas,
que deve nos guiar neste mo-
mento difícil.
Firmeza na sustentação demedidas deve nos guiar, e não pressão demilitâncias
-
Joel Pinheiro da Fonseca
Economista, mestre em filosofia pela USP
Coronavírus: incerteza e liderança
dom.ElioGaspari, JaniodeFreitas |seg. CelsoRochadeBarros |ter. JoelPinheirodaFonseca |qua. ElioGaspari, ConradoHübnerMendes |qui. FernandoSchüler |sex. ReinaldoAzevedo |sáb. DemétrioMagnoliOABnãoprecisa doSTFparapropor impeachment, diz SantaCruz
-Julia Chaib e
Leandro Colon
brasília OpresidentedaOAB
(Ordem dos Advogados do
Brasil),FelipeSantaCruz,diz
queaentidadepodesugerirao
Congressooimpeachmentde
Jair Bolsonaro antes mesmo
do fim do inquérito que tra-
mitanoSupremoTribunalFe-
deralqueapuraseopresiden-
te da República tentou inter-
ferir naPolícia Federal.
SantaCruzavaliaqueháin-
díciosdequeopresidentepra-
ticou advocacia administra-
tiva (quando alguém na po-
sição de funcionário público
ageemprolde interessepes-
soais), entre outros crimes.
Oadvogadoparticipounes-
tasegunda-feira(11)daliveAo
Vivo emCasa, daFolha.
“Não [precisa esperar]. Te-
mosabsolutaindependência
e,emaochegarmosàconclu-
são [de que cabe um pedido
deimpeachment], faz-seopa-
recer,elevaiaoconselho,que
tem81 conselheiros, trêspor
estado”, disse.
AinvestigaçãonoSupremo
baseia-senasacusaçõesdoex-
ministrodaJustiçaSergioMo-
rodequeopresidentebuscou
trocaroentãodiretor-geralda
PF,MaurícioValeixo,para in-
tervirnorumodeinquéritos.
Depois das declarações de
Moro, aOABpediuumaapu-
ração à comissão de estudos
constitucionais da entidade,
quereúnemaisde20 juristas,
entreelesex-ministrosdoSu-
premo,paraaveriguarpossí-
velcrimederesponsabilidade.
OMoro foi provocado e in-
formou à ordem que vai se
manifestarnoprocesso. Bol-
sonaro tambémfoi instadoa
apresentar seus argumentos
sobre a investigação.
SantaCruzdizqueé“abso-
lutamente razoável” avaliar
que“nãohámaiscontraditó-
rioemrelaçãoàbuscadopre-
sidente em interferir nopro-
cesso[detrocanaPF]eapon-
tarconcretamentequecasos
precisavahaverouprotegidos
ou atacados”.
“O ministro juntou uma
mensagemquecomprova is-
so e paramim basta. Não há
negativadopresidente.Opre-
sidente,nasuadefesa,dizque
é isso, mas não era essa a in-
tenção, mas não nega o fa-
to”, disse. Santa Cruz diz ver
aí indíciodeadvocaciaadmi-
nistrativaemrelaçãoa“casos
concretos”.
Apesar de ressaltar que é
dever daOAB enfrentar essa
discussão, SantaCruzdefen-
dequeodebatesobreoafasta-
mentodeBolsonaro sóocor-
ra após a pandemia.
“Eu continuoachandoque
o ideal é se discutir o impe-
achment após a pandemia,
até porque as pessoas po-
demsemanifestar, seencon-
trar, falar. Não há como dis-
cutir um processo comple-
xocomooimpeachmentpor
Skype, aparelhos e progra-
mas de internet. E há neces-
sidadedemobilizaçãopopu-
lar.Eéumadiscussãoqueéju-
rídica,maspolítica, equeca-
benotadamenteaoCongres-
so, que está com óbvias difi-
culdadesdeorganizaçãones-
temomento”, afirmou.
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poder
A6 TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020
Qual a origemeoobjetivo
da investigação?
O inquérito foi aberto horas
depois de Sergio Moro pedir
demissão do Ministério da
Justiça com acusações ao
presidente Jair Bolsonaro.
O objetivo da apuração é
verificar se as afirmações do
ex-ministro são verdadeiras
ou se ele mentiu sobre
o comportamento do
chefe do Executivo.
Se não conseguir
comprovar o que disse,
Moro poderá responder
por denunciação caluniosa
e crime contra honra.
Caso contrário, Bolsonaro
poderá ser denunciado
pela Procuradoria-Geral da
República e, se o Congresso
aprovar o prosseguimento
das investigações, será
afastado automaticamente
por 180 dias
Quais os possíveis crimes
investigados?
No pedido de abertura de
inquérito, o procurador-geral
da República, Augusto Aras,
citou oito crimes que podem
ter sido cometidos: falsidade
ideológica, coação no curso
do processo, advocacia
administrativa, obstrução
de Justiça, corrupção
passiva privilegiada,
prevaricação, denunciação
caluniosa e crime contra
a honra. Nada impede, no
entanto, que a investigação
encontre outros crimes
Moro tambémé
investigado? Por quais
supostos crimes? A PGR
não afirma, no pedido para
apurar o caso, os crimes que
podem ser imputados a cada
um. Interlocutores de Aras,
porém, dizem que os delitos
possivelmente cometidos
por Moro são denunciação
caluniosa, crime contra a
honra e prevaricação.
OqueMoro disse em
depoimento à Polícia
Federal? O ex-ministro
reafirmou as acusações
feitas ao pedir demissão
do e detalhou sua relação
com Bolsonaro. Sobre a
intromissão no trabalho
da Polícia Federal,
Moro revelou que, por
mensagem, o presidente
cobrou a substituição
na Superintendência da
PF no Rio de Janeiro.
“Moro você tem 27
Superintendências, eu quero
apenas uma, a do Rio de
Janeiro”, disse Bolsonaro
peloWhatsApp, segundo
transcrição do depoimento
do ex-ministro à PF. Além
disso, ressaltou que o
presidente teria reclamado
e demonstrado a intenção
de trocar a chefia da
corporação em Pernambuco
OqueMoro apresentou
comopossíveis provas?
O ex-juiz da Lava Jato
apresentou conversas
trocadas porWhatsApp
e relatou que Bolsonaro
chegou a ameaçá-lo em uma
reunião ministerial, que teria
sido gravada pelo governo
OqueBolsonaro diz sobre
essas acusações do ex-
ministro? O presidente
negou interferência na
PF e que tenha pedido
acesso a relatórios sigilosos.
Também acusouMoro
de vazar investigações
que corriam sob sigilo a
veículos de imprensa e
ressaltou que a iniciativa
pode se enquadrar na Lei
de Segurança Nacional.
“Ele [Moro] tinha peças
de relatórios parciais de
coisas que eu passava para
ele”, disse. “E entregava
para a Globo. Isso é crime
federal, talvez incurso na
Lei de Segurança Nacional”,
afirmou o presidente
Qual a avaliação de
autoridades sobre o
depoimento deMoro?
Segundo a coluna Painel,
da Folha, ministros do STF,
advogados, integrantes
da Polícia Federal e da
Procuradoria-Geral da
República avaliam que o
depoimento de Moro trouxe
poucas novidades e carece
de elementos que possam,
de fato, possa provar
crimes de Jair Bolsonaro.
Os que não viram grandes
novidades na oitiva de
Moro a definiram com
uma frase usada pelo ex-
ministro: a montanha pariu
um rato. O ex-juiz usou a
expressão quando o The
Intercept Brasil revelou
mensagens dele com
procuradores da Lava Jato.
Em conversas com pessoas
próximas, Aras tem dito que
é impossível que o inquérito
prospere para uma denúncia
contra o presidente
Qual o interesse
deBolsonaro na
Superintedência da PF
noRio? O presidente
até agora não explicou.
Ele nega interferência,
mas tentou forçar a
substituição do chefe do
órgão no estado quatro
vezes emmenos de um ano
emeio, segundoMoro.
A preocupação
com investigações,
desconhecimento sobre
processos, síndrome de
perseguição, inimigos
políticos e fake news são
alguns dos principais
pontos elencados por
pessoas ouvidas pela Folha
para tentar desvendar
o que há no Rio que
interesse a Bolsonaro
Quais os próximos passos
da investigação?
Os investigadores irão
colher novos depoimentos
e analisar as mensagens
entregues por Moro. O
ministro Celso de Mello,
do STF, também autorizou
que a PF analise registros
da reunião entre Bolsonaro,
ministros e empresários
em 22 de abril, quando o
presidente teria ameaçado
Moro de demissão caso
não pudesse trocar
superintendentes da PF
Quemainda será
ouvido pela PF?
De segunda (11) a quinta
(14), três ministros,
seis delegados e uma
deputada federal devem
prestar depoimento.
Além disso, Celso de Mello
pode decidir nos próximos
dias sobre a publicidade do
vídeo da reunião do dia 22
Quem irá definir se os
relatos deMoro configuram
uma ingerência passível
de denúncia ou apenas o
exercício de prerrogativas
presidenciais?Ao finalizar as apurações,
a PF fará um relatório em
que concluirá que ambos
são inocentes ou, se for o
contrário, indiciará os dois
ou apenas um deles. Esse
relatório será encaminhado à
PGR, que não fica vinculada
à conclusão da corporação.
Ou seja, caberá a Aras
analisar as provas e decidir
se oferece ou não a denúncia
Háprazo para a conclusão
das investigações?
O Código de Processo Penal
estabelece que inquéritos
têm de ser concluídos em
30 dias ou em dez dias se
envolver réu preso, mas
esse prazo nunca é
respeitado, inclusive
nas investigações que
correm perante o STF
Quais podemser
as consequências a
Bolsonaro?
O presidente pode ser
denunciado pela PGR e, se
a acusação for aceita por
dois terços da Câmara, ele
será afastado por 180 dias,
até uma solução sobre
a condenação ou não.
Se o Legislativo barrar, o
processo voltará a correr
após ele deixar o mandato
$
Entenda a investigação Moro-Bolsonaro
-Renato Onofre, Fábio
Fabrini e Katna Baran
brasília Emdepoimentopres-
tadonestasegunda-feira(11),
o ex-diretor-geral da Polícia
FederalMaurícioValeixodisse
queopresidenteJairBolsona-
ro(sempartido)decidiuexo-
nerá-loporquequerianocar-
go alguémde sua confiança.
SegundoValeixo,Bolsonaro
lhedissenão ternadacontra
a suapessoa,masquebusca-
va um diretor com quem ti-
vessemais “afinidade”.
Odepoimento,obtidopela
Folhaequefazpartedeinqué-
rito que apura se o presiden-
te da República tentou inter-
ferir indevidamente na cor-
poração, duroucercade sete
horas e ocorreu na Superin-
tendênciadaPFemCuritiba.
Oclimano local foibemdi-
ferente do registrado no úl-
timo dia 2, quando o ex-mi-
nistro da Justiça Sergio Mo-
ro prestoudepoimento e en-
frentouprotestosdeapoiado-
resdeBolsonaro,alémdema-
nifestantes a seu favor.
Nodepoimento,questiona-
dosobresuaconcepçãodein-
terferênciapolíticanaPF,oex-
diretordissequeelanãoche-
gou a ocorrer na prática du-
rantesuagestão, jáquenãofoi
efetivadanenhumanomeação
“cominteressesobreumain-
vestigação específica”.
O relato de Valeixo repete
parte do teor do depoimen-
to prestado por Moro —se-
gundo quemBolsonaro que-
ria mudança na PF especial-
mentenoRiodeJaneiro,esta-
doqueéfocodeinteressesda
família dopresidente.
Oex-diretordaPFdisseque
Moromencionouduasvezes
sobrealteraçõesnocomando
dacorporaçãonoRio.Segun-
do ele, de formamenos con-
tundente, foi veiculada pelo
ex-ministro “a possibilidade
de trocado superintendente
dePernambuco”.
Mas, segundo Valeixo, “em
nenhum dos casos foi apre-
sentadanenhuma razão que
justificasse a substituição”.
O ex-diretor da corpora-
ção afirmou que foi avisado
porMoro, emmarço último,
da vontade do presidente de
trocarnovamenteosuperin-
tendente daPFdoRio.
Ele admitiu que, desde “a
crise” de agosto do ano pas-
sado, quando o chefe do ór-
gãonoestadofoi trocadope-
laprimeiravez,comunicouao
ex-ministroseudesejodedei-
xar o cargo e sinalizou apos-
sibilidade de aceitar uma re-
Presidentequeria ‘afinidade’
comchefedaPF, dizValeixo
Ex-diretor-geral presta depoimento em inquérito e repete parte do relato deMoro
presentaçãodaPFnoexteri-
or para evitar desgaste entre
Moro e opresidente.
Aodiscursarem24deabril,
logo após Moro sair do car-
go,Bolsonarodescreveuuma
conversacomochefedapas-
ta sobre a troca de comando
na corporação.
“Quero um delegado, que
pode não ser o seu, que po-
denãoseromeu,masqueeu
sinta, além da competência
óbvia, sebemque issoéuma
coisacomumentreosdelega-
dosdaPolíciaFederal,queeu
possa interagir com ele”, dis-
se Bolsonaro.
“Por que não? Eu interajo
comoshomensde inteligên-
cia das Forças Armadas, se
preciso for, eu interajocoma
Abin[AgênciaBrasileiradeIn-
teligência], interajocomqual-
quer umdogoverno.”
Valeixo foi demitido em
abril, estopim para a crise
queculminoucomasaídade
Moro do governo. O ex-dire-
torconfirmouqueBolsonaro
ligou para ele, na noite de 23
deabril, indagandoseconcor-
davaquesuaexoneraçãofos-
sepublicadacomo“apedido”.
Namesmanoite,Valeixote-
riaavisadoMoroqueaceitaria
os termos da demissão caso
fosse nomeado em seu lugar
DisneyRosseti,diretor-execu-
tivo da corporação, mas que
“não houve formalização do
pedidode exoneração”.
Segundoodepoimento,Mo-
ro ligouparaValeixoparaco-
municarsobreaexoneração,
masnãoteriamencionado“de
que formasedaria, seapedi-
doounão”.
Também nesta segunda
prestou depoimento o dire-
tor-geraldaAbin(AgênciaBra-
sileira de Inteligência), Ale-
xandre Ramagem, que con-
firmou ser a opção de confi-
ança de Jair Bolsonaro para
assumir a chefiadaPF.
Segundo pessoas que tive-
ram acesso ao depoimento,
Ramagem explicou que ga-
nhou a confiança do presi-
dente durante a campanha,
quando se aproximou da fa-
míliaBolsonaroecomandou
a segurança do então candi-
datoapresidenteapósoaten-
tado em Juiz deFora.
Ramagemchegouaserno-
meado pelo presidente para
ocomandodaPF,masacabou
tendo a sua posse suspensa
poruma liminardoministro
doSTF(SupremoTribunalFe-
deral) AlexandredeMoraes.
Namanhãdodia24, Sergio
Morocomunicouseupedido
dedemissãodoMinistérioda
Justiçaemumaentrevistaco-
letivanaqualafirmouqueBol-
sonarohaviatentadointerfe-
rir politicamentenaPFao ti-
rar Valeixodo cargo.
Morodissetambémquenão
havia assinado a exoneração
deValeixonemrecebidoope-
didodeexoneraçãodoentão
diretor-geral da PF.
Após a contestação, Bolso-
naroadmitiuerroe retirouo
nomedoex-ministrodamedi-
dadeexoneraçãodeValeixo,
mantendo, contudo, a infor-
maçãodeque foi “a pedido”.
Oex-diretornarrouque,em
agosto de 2019, Moro tentou
criar uma “relação de proxi-
midade” entre Valeixo e Bol-
sonaro,apósaprimeiracrise
envolvendoasubstituiçãodo
superintendentedoRio.
Apartirdofinaldeoutubro,
aconvitedeMoro,Valeixoco-
meçouaacompanharasreu-
niõessemanaiscomBolsona-
ro,masnelasnãoeramtrata-
dos assuntos referentes a in-
vestigações emcurso.
Questionado sobre o con-
tatodiretocomopresidente,
Valeixodisseque,quandofoi
superintendente no Paraná,
“nuncateveessaexperiência”.
Emoutro trechododepoi-
mento,Valeixodissequepar-
ticipoudeumareuniãonoPla-
naltoemquehouveumaapre-
sentação da investigação so-
bre Adélio Bispo de Oliveira,
quedeuumafacadanopresi-
dentenaépocadacampanha
eleitoral.Segundoele,Bolso-
naronãomanifestounenhu-
ma “contrariedade”.
ValeixodisseaindaqueBol-
sonaronãosolicitouinforma-
çõessobreaeventualpartici-
paçãonocasodoassassinato
deMarielleFrancoedomoto-
ristaAndersonGomes.
Combasenassuspeitaslan-
çadas por Moro, o procura-
dor-geral da República, Au-
gusto Aras, pediu ao Supre-
mo a abertura do inquérito
paraapurarsehouvealguma
condutacriminosaporparte
de Bolsonaro e, em outra hi-
pótese, seMoro pode ter fei-
to denúncia caluniosa.
Nesta segunda, também
prestou depoimento, além
de Valeixo e Ramagem, o ex-
superintendentedaPFnoRio
Ricardo Saadi, que deixou o
cargono anopassado.
‘Nunca ameacei
ninguém’, afirma
Bolsonaro
brasília OpresidenteJairBol-
sonaro disse nesta segunda
(11) que entregou ao Supre-
mo Tribunal Federal o vídeo
da reunião citada por Sergio
Moro em seu depoimento à
Polícia Federal, na semana
passada,paracomprovarque
“nadadeve”eque“nãoamea-
çouninguém”.
Questionadoporjornalistas
ao voltar ao Palácio da Alvo-
rada, o presidente disse que
tem “zero preocupação” em
relaçãoaovídeoequeporisso
decidiuentregá-lonaíntegra.
“Pô, você tá de brincadeira
comigo,né?”,disseopresiden-
te,apósserperguntadosobre
o que teria dito no vídeo, pa-
ra depois completar:
“Afitavaiserextraída, tudo
oquefoi faladonotocanteao
ex-ministro Sergio Moro vai
ser extraído e vai ser usado
noinquérito,táok?Eununca
ofendininguém,nuncaagredi
ninguém,nuncaameaceinin-
guém”,afirmouopresidente.
“Eu podia falar ‘não tem
mais o vídeo’”, disse o presi-
dente. “Mas resolvi não falar
[quenão teria o vídeo], assu-
miraverdadeacimadetudo.”
Afita foi entregue após de-
terminação do ministro do
STFCelsodeMello.Apedido
da Polícia Federal, ele deter-
minounestasegundaaperícia
novídeo.Omagistradoafirma
que é necessário verificar se
a gravação foi editada ou se
o governo entregou, de fato,
a versão integral do registro.
Estámarcadaparaesta ter-
ça(12)aexibiçãodovídeopa-
ra integrantesdaProcurado-
ria-GeraldaRepública,advo-gados deMoro e integrantes
do governo e da PF. Celso de
Mellopermitiuqueaspartes
tenham acesso à gravação e
informou que, depois de a
PGRassistiraovídeoesema-
nifestar em relação ao sigilo,
irá decidir se torna o vídeo
público. Renato Machado e
Matheus Teixeira
Maurício Valeixo, o ex-diretor-geral da Polícia Federal demitido nomês passado Pedro Ladeira - 27.ago.19/Folhapress
$
Depoimentos
previstos no inquérito
Terça (12)
• Augusto Heleno (Gabinete
de Segurança Institucional)
• Walter Braga Netto
(Casa Civil)
• Luiz Eduardo Ramos
(Secretaria de Governo)
Quinta (14)
• Carla Zambelli, deputada
federal (PSL-SP)
a eee
coronavírus poder
TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020 A7
-Daniel Carvalho e
Ricardo Della Coletta
brasília Emmeioàpandemia
docoronavírus,opresidente
JairBolsonarointensificouas
acusações que faz sem apre-
sentar nenhum tipo de pro-
va,repetindoumapráticaco-
mumdosperíodosemquese
sente acuado.
Natemporadaquecoincide
comacrisedaCovid-19,opri-
meiroepisódioéde9demar-
ço,quandoBolsonaroafirmou
terprovasdequeaeleiçãode
2018 foi fraudada.
Ele afirmou, à época, que
deveria ter sidoeleitonopri-
meiroturnoequeacreditava
terrecebidomaisvotosnose-
gundoturnodoquefoiconta-
bilizado. Bolsonaro teve 57,8
milhões de votos (55%), ante
47milhõesdopetistaFernan-
doHaddad (45%).
Atéagora,nadaprovou.Na
quinta (7), o presidente foi
surpreendidoporumaapoia-
doraque,naportadoAlvora-
da,perguntousobreasprovas
quehavia prometido.
“Quandoosenhorvaiapre-
sentar as provas da fraude
eleitoral?”, questionouamu-
lher.“Asenhoraéjornalista?”,
retrucouBolsonaro,semres-
ponder à dúvida da eleitora,
quenegou ser repórter.
Bolsonaro levantou a acu-
sação de fraude em evento
com apoiadores brasileiros
emMiami. “Pelasprovasque
tenho emminhasmãos, que
voumostrar brevemente, eu
fui eleito no primeiro turno,
mas, no meu entender, teve
fraude”, disse na ocasião.
“E nós temos não apenas
palavra, temos comprovado,
brevemente quero mostrar,
porque precisamos aprovar
no Brasil um sistema seguro
de apuração de votos. Caso
contrário, passível de mani-
pulação e de fraudes. Então
acredito até que eu tivemui-
tomaisvotosnosegundotur-
nodoquesepoderiaesperar,
eficariabastantecomplicado
umafraudenaquelemomen-
to”, acrescentou.
Naquele dia, os mercados
globais tiveram uma jorna-
dadepânico,aBolsabrasilei-
ra desabou 12,17% e ominis-
tro Paulo Guedes defendeu
reformasparaconteracrise.
Bolsonaro falou em público:
“No meu entender, está sen-
dosuperdimensionadoopo-
der destruidor desse vírus.”
Nodiaseguinte,oTribunal
Superior Eleitoral rebateu a
acusação,reafirmandoqueo
sistemadeurnas eletrônicas
é confiável e auditável.
Questionadosobreindícios
ouinvestigaçãosobreeventu-
alfraudenaseleições,oMinis-
tério da Justiça recomendou
que a Polícia Federal fosse
procurada.APF, por sua vez,
disse não fala sobre eventu-
aisapuraçõesemandamento.
Em27demarço,Bolsonaro
fezumanovaacusação,nova-
mentesemprovas.Ementre-
vistaaoapresentadorJoséLu-
iz Datena, da TV Bandeiran-
tes, disse não acreditar nos
númerosdecasosdecorona-
vírusnoestadodeSãoPaulo,
indicandoquepoderiamestar
sendo superdimensionados
pelo governador João Doria
(PSDB-SP), com quem anta-
gonizadesdeoiníciodacrise.
Naquelemomento,onúme-
rohaviasaltadode22para68
mortes em cinco dias. Nesta
segunda-feira (11), o estado
registrava 3.743óbitos.
“EstámuitograndeparaSão
Paulo. Temque ver o que es-
tá acontecendo aí. Não pode
serumjogodenúmerospara
favorecer interesse político”,
disse Bolsonaro. “Não estou
acreditandonessenúmero.”
Procuradoduasvezesnase-
mana passada, o Ministério
da Saúdenão semanifestou.
Bolsonaroestavasendocri-
ticadoporcausadeumvídeo
dedivulgaçãoinstitucionalda
Presidênciaqueincentivavaa
população a romper o isola-
mentosocial.“OBrasilnãopo-
deparar”,diziaapublicidade.
Ainda tendo Doria, poten-
cial adversário na eleição de
2022, como alvo, Bolsonaro
afirmou,maisdeummêsde-
pois, que as restrições às ati-
vidadestinhamdeixado1mi-
lhão de desempregados em
SãoPaulo.
“São Paulo é o estado, não
équeéomaispopulosonão,
mesmo proporcionalmen-
te, quemais óbitos tem. Per-
guntemaosenhorJoãoDoria
eaosenhor[prefeitodacapi-
tal, Bruno]Covas por que te-
rem tomando medidas tão
restritivas, que eliminaram 1
milhão de empregos em São
Paulo, e continuamorrendo
gente”, disse, em 29de abril.
Acuadonapandemia,Bolsonaro faz
acusaçõesemsériesemmostrarprova
Presidente já falou em fraude eleitoral, suspeitas na facada e dados sem base sobre a Covid-19
Naquintapassada, opresi-
dentevoltouafalaremnúme-
rodedesempregados,depois
de umamarcha com empre-
sários para pressionar o pre-
sidentedoSupremoTribunal
Federal,DiasToffoli,pelarea-
bertura do comércio.
“Seaproximade 10milhões
depessoasqueperderamem-
prego de carteira assinada”,
afirmou, sem apresentar da-
dos sobre a magnitude das
perdasnomercadodetraba-
lho formal dopaís.
O Ministério da Economia
informouque sua Secretaria
EspecialdePrevidênciaeTra-
balho divulga o saldo de em-
pregoformalpormeiodoCa-
ged (Cadastro Geral de Em-
pregadoseDesempregados).
“Porémessadivulgaçãoes-
tá suspensa”, explica a secre-
taria, acrescentando, emno-
ta,queafaltadeinformações
prestadas sobre admissões e
demissõesporpartedasem-
presas inviabilizouaconsoli-
daçãodos dados.
Em 28 de abril, o presiden-
tereavivousuassuspeitasso-
bre Adélio Bispo de Oliveira,
ohomemqueoesfaqueouna
campanhade 2018.
Naquele dia, o Brasil ultra-
passou o número de mortes
por coronavírus da China, e
Bolsonaro reagiu comum “e
daí?”.Namesmadata,ominis-
troCelsodeMello,doSTF,de-
cidiu concentrar atenção no
presidenteno inquéritopara
investigaracusaçõesfeitaspor
SergioMoro.
Haviasidoconfirmadaano-
meaçãodeAlexandreRama-
gem como novo chefe da PF
—suspensapordecisão judi-
cial emseguida.
Na porta do Alvorada, Bol-
sonarosugeriuanecessidade
de a Polícia Federal reabrir o
caso da facada para investi-
gar quem seria o mandan-
te. A PF já concluiu que Adé-
lio agiu sozinho. Questiona-
do por jornalistas sobre pro-
vas, ele mesmo admitiu que
não as tem.
“Que pergunta é essa, pe-
lo amor de Deus? Eu não te-
nhoprovaspessoalmente,eu
tenhosentimentos, sugestão
para passar para a PF”, disse.
Em 30demaio, emsua live
semanal, Bolsonarochamou
de inútil o esforçoatravésdo
isolamento social para acha-
tar a curva de casos do coro-
navírus,contrariandopesqui-
sascientíficaseespecialistas.
Novamente, sem apresentar
embasamento científico.
“Atéporque,repetindo:70%
da população vai ser infec-
tada. E, pelo que parece, pe-
lo que estamos vendo agora,
todo empenhopra achatar a
curvapraticamentefoi inútil.
Agora,aconsequênciadisso?
Oefeitocolateraldisso?Ode-
semprego”,disseopresidente.
OMinistériodaSaúde,mais
umavez,nãocomentouade-
claraçãodopresidente.
Deputadosdivulgam fakenews sobre vírus para ecoar presidente
-Carolina Linhares
são paulo Fake news propa-
gadaspordeputadostêmam-
pliadoaondadedesinforma-
çãoeataquesemmeioàpan-
demia e o consequente acir-
ramento do conflito político
entreopresidenteJairBolso-
naro(sempartido)eseusad-
versáriosporcontadasmedi-
das contra aCovid-19.
Notícias falsas propagadas
pordeputadosbolsonaristas
nos últimos dias têm o ob-
jetivo de sustentar a versão
do presidente de que a pan-
demia não é tão perigosa e o
isolamentosocialéumexage-
ro—opinião contestada por
médicos,cientistasepelaOr-
ganizaçãoMundialdaSaúde.
Fiel escudeira de Bolsona-
ro, a deputada federal Carla
Zambelli (PSL-SP) declarou
na semana passada, em en-
trevistaàRádioBandeirantes,
que“noCearátemcaixãosen-
doenterradovazio, temuma
foto de umamoça carregan-
do caixão comosdedinhos”.
Umafotoqueviralizoucom
esseconteúdofoifeitaemMa-
naus,maspartedocaixãoes-
tava apoiada numa mesa, o
que explica a facilidade para
sustentá-lo.OgovernodoCe-
ará, administrado por Cami-
lo Santana (PT), diz que pro-
cessará a deputada.
Não é regra, porém, queos
deputadossoframpuniçãope-
ladivulgaçãodefakenews—
sejanaJustiça,noConselhode
Ética da Câmara ou em seus
partidos. As redes sociais é
quetêmapagadodesinforma-
çõessobreadoença,comofi-
zeramTwittereFacebookem
posts deBolsonaro.
No caso do deputadoesta-
dualGilDiniz (PSL-SP)odes-
mentidoveiodeumacolega,
a deputada estadual Janaina
Paschoal (PSL-SP), no plená-
rio virtual daAssembleia.
Emduasocasiões,nosdias
29deabril e5demaio,Gil es-
tevenocemitérioVilaFormo-
sa,omaiordaAméricaLatina,
e postou vídeos dizendo que
testemunhara poucos enter-
ros,quearotinaestavainalte-
rada e queo aumentodonú-
merode covas era exagero.
“Éapolíticadocaos,damor-
te, domedo. (…) Para vocêfi-
carcommedoeobedecerce-
gamente esses políticos que
só querem controle social,
controlarasuavida”,afirmou.
Nasessãododia30, Janaina
afirmou que sua equipe esti-
veranocemitérionaqueledia
epresenciouquatroenterros
em dez minutos. A adminis-
traçãoinformouqueosenter-
ros por Covid-19 ou por sus-
peita da doença chegavam a
cercade20pordiaeestavam
aumentando.
À Folha o cemitério infor-
mou que realizou 55 enter-
ros no dia 29 de abril, e 64
em5demaio,mas semespe-
cificar quantos relacionados
àCovid-19. Amédiadiáriade
sepultamentosantesdapan-
demia era de 40 a 45.
Na mesma sessão, Gil co-
brou explicações do gover-
nador João Doria (PSDB), ri-
val de Bolsonaro, sobre ou-
tra fake news publicada por
ele em redes sociais. Segun-
doodeputado, umcasal que
pichou“BolsonaroAssassino”
emumaavenida de São Pau-
lo nomês passado esteve no
paláciodosBandeirantespa-
ra reuniões políticas em três
ocasiões entre os dias 29 de
março e 8de abril.
O governo paulista infor-
mouquenãodeveprocessar
osdivulgadoresdefakenews
equetrabalha“fortementeno
esclarecimento de informa-
ções falsas sobre o coronaví-
rus” emvárias plataformas.
Gil é alvo de acusações de
promover ataques políticos
com a estrutura de seu ga-
binete, numa espécie de fili-
al do gabinete do ódio da fa-
mília Bolsonaro emBrasília.
Emrelação a fakenews so-
breocoronavírus,deputados
bolsonaristas foram os que
maiscontribuíramparaade-
sinformação. Levantamento
do Radar Aos Fatos, agência
de checagem de fatos, mos-
tra que Osmar Terra (MDB-
RS),queémédicoealiadodo
presidente, foiquemmaisdi-
vulgounotícias falsas.
Em segundo lugar, apare-
ce Eduardo Bolsonaro (PSL-
SP),seguidodeBiaKicis(PSL-
DF). Ainda segundo Aos Fa-
tos, 19 dos 22 deputados que
divulgaram fake news sobre
o coronavírus são bolsona-
ristas. Os outros três são do
PT, que postaram a mentira
de que Cuba tinha desenvol-
vidoumavacina.
Para combater a prolifera-
ção de fake news, a Câmara
já recebeu neste ano ao me-
nos 13 projetos com esse te-
ma, que criminalizam a di-
vulgação de notícias falsas e
estabelecemmultas.
Em São Paulo, uma lei es-
tadual chegou a ser aprova-
danaAssembleia,masfoive-
tadapelo governo coma jus-
tificativa de que o tema é fe-
deral. NoCeará, uma lei san-
cionadaévistacomressalvas
por entidades de imprensa,
queapontamriscoà liberda-
de de expressão.
FranciscoCruz,doutorem
direito pelaUSP e diretor-ge-
ral do centro de pesquisa In-
ternet Lab, tambémse preo-
cupacominiciativasparaam-
pliar a punição a fakenews.
“Uma regulamentação ri-
gorosa contra desinforma-
çãopodeserrigorosademais,
evitando que informações e
manifestações legítimas de-
sapareçam também. Apesar
deosprojetos teremboas in-
tenções, é uma escalada por
parte de quem quer contro-
lar o discurso e uma escala-
da por parte de quem vai se
sentir censurado. Num país
polarizado, é jogar mais ga-
solina”, afirma.
Paraoespecialista,hámais
responsabilidadeemrelação
a fake news propagadas por
deputados, agentes públicos
e liderançascapazesdeinflu-
enciar seguidores.Poderiam
ser enquadrados, por exem-
plo, na Lei de Improbidade.
A imunidade também não
podeservirdedesculpapara
espalhar desinformação. “É
umdireitopara evitar perse-
guiçãopolítica,masnãoéum
direito absoluto”, diz Cruz.
Procurada, Carla Zambelli
afirmouemnotaqueaimuni-
dade parlamentar serve “pa-
ra que possamos fazer de-
núncias como a em questão
sem qualquer preocupação
de retaliaçãopolítica”. Gil Di-
nizeOsmarTerranãosema-
nifestaram.
Opresidente Jair Bolsonaro usamáscara para se aproximar de apoiadores na saída do Alvorada, namanhã desta segunda-feira Pedro Ladeira/Folhapress
a eee
No Brasil, além da crise da
pandemia,hátambémapolí-
tica.Comoasenhoravêisso?
É o pior cenário para todos
os brasileiros. Se por um la-
dovocêvêessa instabilidade
das instituiçõescomoumto-
do,poroutro ladovocêvêre-
alçadasasdiferenças sociais.
Temgentequenãopodelavar
asmãosporquenãotemágua
encanadaesaneamentobási-
co. E esse é umproblema re-
corrente.Easdiferençassoci-
ais gritammuito nessa hora.
Nomeiodapandemia,opaís
mudou umministro da Saú-
de porque ele insistia em se-
guir recomendações dos or-
ganismos de Saúde, e isso o
fezsechocarcompresidente.
poder coronavírus
A8 TERÇA-FEIRA, 12 DE MAIO DE 2020
Éoquedepiorpoderiaacon-
tecer.Asinstituiçõesnãoestão
funcionandoadequadamen-
te.Vocêtemnormasinterna-
cionais, temexemplosdeou-
trospaíses e fazo contrário?
Nãopode.Estamosvendoos
índices [demortos e infecta-
dos]crescerem.Jásãomaisde
600mortespordia.NaItália,
quando isso começou, o que
eles fizeram? Todo mundo
para casa. Aqui o povo está
fazendo churrasco.
E é claro que eu entendo a
situaçãodosautônomosedos
quehojeprecisamcontarcom
umarededesolidariedadede
pessoasquedoamalimentos,
porexemplo.Maseapolítica
pública para isso?Essas pes-
soas estão contando comre-
de de solidariedade privada.
O auxílio de R$ 600, ummês
depoisepoucaspessoasrece-
beram.Aspessoastêmfome,
precisamcomer.
O presidente Jair Bolsonaro
tem descumprido orienta-
ções,inclusivedopróprioMi-
nistériodaSaúde,ecirculado
pelasruascausandoaglome-
rações.Cabealgumamedida
paraqueelesejaresponsabili-
zadoporatosquepossamco-
locar em risco à população?
Ele envia sinais trocados pa-
ra a população. A população
fica confusa, e isso pode ter
um preçomuito alto a pagar
num futuro bastante próxi-
mo. Tomara que não, mas a
consequência pode ser bem
expressivaparaapopulação.
Issojáfoi, inclusive,objetode
análisepeloprocurador-geral
daRepública.
Masnessecasonãohouvene-
nhumaação. Nãoimportaa
minhaopinião, juridicamen-
te quem fala pelo Ministério
Público é o procurador-geral
daRepública.Aminhaopini-
ãocomocidadãacabanãoim-
portando sobre isso.
Comoasenhoravêopapelda
ProcuradoriaGeraldaRepú-
blica no enfrentamento ao
coronavírus? APGRtomou
medidas concretas e vemse-
guindoasorientaçõesdoMi-
nistériodaSaúde.Colocouos
servidoreseosprocuradores
emteletrabalho.E,emrelação
aoaspectoadministrativoin-
terno, tomou todas as provi-
dências, comomelhorar a li-
nha de comunicação, as fer-
ramentas,nossasecretariade
tecnologiatememitidoorien-
tações sobrereuniõesporvi-
deoconferência.
Etemesseaspectodocom-
bate [sobre] qual é o auxílio
que o Ministério Público Fe-
deral pode dar ao combate à
pandemia.
Essegabineteintegradoque
ele criou no começo da cri-
se, esse grupo que está pen-
sando algumas soluções pa-
ra poder carimbar as verbas
de acordos de colaboração e
leniência para serem utiliza-
dos única e exclusivamente
em equipamentos de prote-
ção individual, equipamen-
tos médicos e no combate à
Covid-19deummodogeral.
Como a senhora viu a saí-
da do ministro Sergio Mo-
ro do governo? O Moro
fez uma escolha quando ele
abandonou a magistratura.
Então, faz parte da escolha
dele. Só isso.
Elesaiuacusandoopresiden-
tedetentarinterferirnaPolí-
ciaFederal. Esse tipodeati-
tude[sairdogovernoatacan-
do]nãoéincomum.Agoraca-
beaoprocurador-geraldaRe-
públicaouaoprocuradorque
tiveratribuiçãoparaissoapu-
rar o caso. Esse é onosso dia
a dia. Não é o fato de ser ele
quevai serdiferente.Agente
recebeacomunicaçãodede-
litos, abre investigação e va-
mos ver noquedá.
Asenhoratemeinterferência
na PF? Eu nem tenho essa
avaliação,porquesouprocu-
radora regional e estouhá 18
anosnasegundainstância.Do
ano passado para cá que co-
mecei a trabalhar na primei-
ra instância por causa da La-
va Jato.Nãoseidapolítica in-
terna deles.
Oqueeuesperoéqueono-
vo ministro da Justiça conti-
nue a dar força para as supe-
rintendências poderemcon-
tinuar organizadas. OMinis-
térioPúblico,queéodestina-
táriodessasinvestigações,po-
deestarcertoqueestarábem
atento a tudo isso.
AsenhoraestáafrentedaLa-
va Jato em São

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