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CONTABILIDADE SOCIOAMBIENTAL Janaína Gabrielle M. C. da Cunha Amarante Karla Regina Santos Ribeiro G es tã o C O N T A B IL ID A D E S O C IO A M B IE N T A L K ar la S an to s R ib ei ro Ja na ín a G ab rie lle M or ei ra C am p os d a C un ha A m ar an te Contabilidade socioambiental, livro de cunho acadêmico, aborda a importan- te integração entre a gestão do patrimônio, o meio ambiente e as exigências relacionadas ao assunto, revelando a missão da contabilidade ambiental ao de- monstrar e evidenciar, de forma clara, o desempenho socioambiental atrelado aos procedimentos contábeis, como um mecanismo propulsor da transparência às partes interessadas. Com o perfil direcionado a para gestão contábil apoiada nas preocupações socioambientais, este livro tem o intuito de preparar o leitor para a atuação profissional contábil de maneira mais ampla, com base no aprimoramento dos procedimentos contábeis que atendam às exigências das normativas legais ambientais, às necessidades, às expectativas e aos anseios da sociedade, de modo a fortalecer as estratégias organizacionais. Fundação Biblioteca Nacional ISBN 978-85-387-6376-5 Janaína Gabrielle M. C. da Cunha Amarante Karla Regina Santos Ribeiro IESDE BRASIL S/A Curitiba 2017 Contabilidade Socioambiental CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ A51c Amarante, Janaína Gabrielle M. C. da Cunha Contabilidade socioambiental / Janaína Gabrielle M. C. da Cunha Amarante, Karla Regina Santos Ribeiro. - 1. ed. - Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 232 p. : il. ; 21 cm. Inclui bibliografia ISBN 978-85-387-6376-5 1. Contabilidade. I. Ribeiro, Karla Regina Santos. II. Título. 17-45465 CDD: 657 CDU: 657 Direitos desta edição reservados à Fael. É proibida a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização expressa da Fael. © 2017 – IESDE Brasil S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito das autoras e do detentor dos direitos autorais. Todos os direitos reservados. IESDE BRASIL S/A. Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 Batel – Curitiba – PR 0800 708 88 88 – www.iesde.com.br Produção FAEL Direção Acadêmica Francisco Carlos Sardo Coordenação Editorial Raquel Andrade Lorenz Revisão IESDE Projeto Gráfico Sandro Niemicz Capa Vitor Bernardo Backes Lopes Imagem Capa stockcreations/Shutterstock.com Arte-Final Evelyn Caroline dos Santos Betim Sumário Carta ao aluno | 5 1. Noções gerais de meio ambiente | 7 2. Introdução à contabilidade ambiental | 27 3. Patrimônio ambiental | 43 4. Fatos ambientais | 63 5. EIA/RIMA | 83 6. Balanço Social | 101 7. Auditoria ambiental | 125 8. Responsabilidade ambiental | 143 9. Aspectos econômicos e sociais sobre exploração ambiental | 163 10. Aspectos tributários ambientais | 177 Gabarito | 195 Referências | 213 Carta ao aluno Atualmente, os assuntos mais discutidos no âmbito corpo- rativo perpassam, inevitavelmente, por uma busca de profissionais preparados para o dinamismo mercadológico, pelo domínio da ges- tão patrimonial, pela alocação dos recursos e pela operacionaliza- ção das atividades organizacionais, de forma sistêmica e integrada, com foco na efetiva responsabilidade socioambiental. Tal interesse é decorrente das preocupações relativas aos impactos ambientais – 6 – Contabilidade socioambiental gerados pelas atividades empresariais, à redução dos recursos naturais dis- poníveis e ao crescimento progressivo populacional. Além disso, emerge a responsabilidade da condução e da avaliação patrimonial, a gestão de registro, a contabilização e a transparência ligadas aos eventos socioambientais, bem como as necessárias ações para redução ou eliminação dos impactos gerados pelo sistema produtivo empresarial. Sob essa perspectiva, com o perfil direcionado para a gestão contábil baseada nas preocupações socioambientais, esta obra apresenta a contabili- dade ambiental, vertente da contabilidade, visando à atuação profissional contábil de maneira mais ampla, com o aprimoramento dos procedimen- tos contábeis que atendem às exigências das normativas legais ambientais, às necessidades, às expectativas e aos anseios da sociedade e, concomitante- mente, fazendo parte das estratégias organizacionais. Contabilidade socioambiental, obra de cunho didático-acadêmico, aborda a importante integração entre a gestão do patrimônio, o meio ambiente e as exigências relacionadas ao tema, revelando a missão da contabilidade ambien- tal ao evidenciar, de forma clara, o desempenho socioambiental atrelado aos procedimentos contábeis, como um mecanismo propulsor da transparência às partes interessadas. Com uma leitura facilmente compreensível, esta obra apresenta uma estrutura lógica sequencial para o entendimento da temática, compreen- dendo desde o início das noções gerais de meio ambiente e contabilidade ambiental até os aspectos relativos a registros, legislações, auditorias e tribu- tações da área. Boa leitura! Noções gerais de meio ambiente Introdução Neste primeiro capítulo são apresentadas as definições conceituais de meio ambiente e seus fundamentos introdutórios e basilares, sob a perspectiva histórica, assim como as legislações e implicações relacionadas. Os conhecimentos destacados neste capítulo são impor- tantes para desenvolver o entendimento do que é meio ambiente, buscando-se o aprimoramento das habilidades e das ações relativas à gestão dos recursos naturais. 1 Contabilidade Socioambiental – 8 – 1.1 O meio ambiente Os estímulos aos debates sobre questões ambientais já avançaram mais de um século. Sobretudo as últimas décadas foram marcadas por discussões mais resolutas e consistentes, em virtude das preocupações com o crescimento progressivo populacional e o sistema capitalista de produção. Em 1987, a população mundial consistia em 5 bilhões de pessoas; em 1999, 6 bilhões; e, atualmente, a população é estimada em mais de 7 bilhões de indivíduos (ONU BRASIL, 2017), o que tem como consequência natural o aumento do consumo e o necessário atendimento às demandas sociais. Desde os primórdios da civilização, os seres humanos utilizam os recur- sos naturais para sobrevivência. Contudo, a partir do período da Revolução Industrial (séculos XVIII e XIX), esses recursos passaram a ser explorados de maneira exaustiva, em decorrência do aumento da oferta de produtos. Isso se deu devido à adoção de sistemas mecanizados de produção e à utiliza- ção do vapor como força motriz de engenhos e equipamentos. O sistema de produção decorrente da Revolução Industrial configurou-se como crescente e desenfreado e, consequentemente, as indústrias passaram a se apropriar dos recursos naturais em um ritmo frenético, mais rápido do que o meio ambiente era capaz de recompor. De acordo com Vanalle e Santos (2014), o consumo descontrolado dos recursos naturais e a geração de resíduos e emissões atmosféricas, originados a partir do século XVIII, desencadearam sérios desequilíbrios ambientais, intensificados em épocas posteriores. A trajetória da transição da Revolução Industrial para a revolução tecnológica destacou a relevância da energia elé- trica, uma vez que todo desenvolvimento está atrelado ao crescimento da demanda da energia elétrica, bem como dos demais recursos naturais. Naquele período após a Revolução Industrial, os recursos da natureza eram considerados, erroneamente, inesgotáveis, e sua exploração desen- freada desencadeou o início dos problemas ambientais que são vivenciados até hoje, no século XXI. Segundo Martins e Ribeiro (1995), o pensamento empresarial no período do desenvolvimento tecnológico e econômico pós- -Revolução Industrial baseava-se na gratuidade dos recursos, não se dando importância ao fato de estes serem renováveis ou não. Nessa época não havia – 9 – Noções gerais de meio ambiente a consciência de que um dia tais recursos poderiam ser escassos,acarretando problemas futuros, e só se pensava na utilização de recursos naturais em grandes proporções. A crescente degradação ambiental resultou em consideráveis impac- tos, os quais se materializaram em alterações na natureza, como enchentes, falta d’água e outras inúmeras calamidades derivadas do denominado efeito estufa. Barsano, Barbosa e Viana (2014) alegam que o desenvolvimento tec- nológico industrial, a busca descontrolada por riquezas naturais e a ausência de um planejamento de recuperação ambiental consistem nas principais origens de um conjunto de repercussões negativas ao meio ambiente, como grandes catástrofes naturais, poluição extrema e um aquecimento global como nunca vislumbrado. Diante da crise ambiental instaurada, muitas discussões são levanta- das acerca do tema no âmbito do Estado. A sociedade, em geral, passa a exigir maiores cuidados com o meio ambiente, bem como novas formas de preservar sua estrutura. De acordo com Kneipp et al. (2012, p. 53), “o desenvolvimento econômico e tecnológico trouxe reflexos para a sociedade e para o meio ambiente, criando novas exigências e condicionantes para a atividade industrial”. Dessas discussões resultaram vários conceitos e dispositivos legais para tutelar1 os recursos naturais nos diversos países do globo, cujo denominador comum se encontra na ideia de um desenvolvimento sustentável, pautado no dever de manter equilibrado o meio ambiente. Com a inquietude universal no que se refere ao uso dos recursos natu- rais de forma saudável e sustentável, a ONU – Organização das Nações Unidas –, em 1972, convocou, em Estocolmo (Suécia), a Conferência das Nações Unidas sobre o Ambiente Humano, na qual definiu o meio ambiente como “conjunto de componentes físicos, químicos, biológicos e sociais capazes de causar efeitos diretos e indiretos, em um prazo curto ou longo, sobre os seres vivos e as atividades humanas” (SCHWANKE, 2013, p. 30). Desde então, existe um movimento mundial para solucionar os pro- blemas relacionados ao meio ambiente. 1 Proteger, defender. Contabilidade Socioambiental – 10 – No Brasil, a Lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981) instituiu a Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) brasileira, objetivando-se a proteção e a preservação de todos os tipos de vida. Em seguida, no ano de 1988, com a promulgação da Constituição Federal, o Estado eleva o meio ambiente sadio à condição de direito de todos os cidadãos. Segundo a Constituição, o meio ambiente é patrimônio de utilidade pública. Entre os pontos que resultaram como fruto desse debate legislativo está o artigo 225, que expressa diretrizes sobre a defesa ambiental e o patrimô- nio genético, destacando-se: a regularização dos estudos de impactos do meio ambiente; o zoneamento ambiental; o esclarecimento do poluidor-pagador; a base da precaução e prevenção como norma organizacional; o conceito de meio ambiente e do desenvolvimento sustentável; e a elaboração de lei específica para os crimes ambientais (BRASIL, 1988a). Em 1992, o Brasil foi protagonista da Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento (Rio 92), no Rio de Janeiro. Nesse encontro ocorreu a conscientização dos representantes políticos das nações, bem como uma considerável sensibilização de toda a sociedade. Também foram elaborados documentos oficiais, dentre os quais se destaca a Agenda 21 (ONU, 1992), um programa de ação que promove um novo paradigma de desenvolvimento ambiental, pautado pela ideia de proteção, justiça e eficiência. Feita essa contextualização, cabe perguntarmos: O que efetivamente é meio ambiente? A PNMA, em seu artigo 3º, inciso I, define o meio ambiente como “o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física, quí- mica e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas” (BRASIL, 1981). Já o Vocabulário Básico de Recursos Naturais e Meio Ambiente (IBGE, 2004) o define como: “conjunto dos agentes físicos, químicos, biológicos e dos fatores sociais susceptíveis de exercerem um efeito direto ou mesmo indireto, imediato ou a longo prazo, sobre todos os seres vivos, inclusive o homem” . Por sua vez, Stein (2017, p. 14) afirma que meio ambiente é o “con- junto de unidades ecológicas que funcionam como um sistema natural, o – 11 – Noções gerais de meio ambiente qual inclui vegetação, animais, micro-organismos, solo, rochas, atmosfera e fenômenos naturais que podem ocorrer em seus limites. Meio ambiente tam- bém compreende recursos e fenômenos físicos, como ar, água e clima, assim como energia, radiação, descarga elétrica e magnetismo”. Quando o legislador promove leis com a finalidade de proteger o meio ambiente é porque o Estado quer salvaguardar o espaço que abriga todas as formas de vida. Esse espaço é a consequência de uma interseção de elementos e recursos bióticos e abióticos, fundamentais para a qualidade de vida. O artigo 3º, inciso V, da PNMA (BRASIL, 1981), define que os recursos ambientais são: “a atmosfera, as águas interiores, superficiais e subterrâneas, os estuários, o mar territorial, o solo, o subsolo, os elementos da biosfera, a fauna e a flora”. Logo, a proteção do meio ambiente se estende à tutela de todo o meio biótico, que são os seres vivos, e o meio abiótico – como o ar, a água, as rochas –, pois é dessa integração que resulta a formação do meio ambiente. Para compreensão da conceituação de bioma, biosfera e ecossistema, Stein (2017, p.16) explica que quando há uma extensão de terra com condições bióticas e abióticas similares, ou seja, as grandes paisagens homogêneas da Terra, tem-se um bioma, isto é, o conjunto dos seres vivos de uma determinada área, além de ser entendido também como o conjunto de ecossis- temas terrestres. É na biosfera que se encontram os biomas, asso- ciações relativamente homogêneas de plantas, animais e outros seres vivos, com equilíbrio entre si e com o meio físico. (grifos nossos) Um exemplo é a Floresta Amazônica, a qual se constitui um bioma com inúmeros e diferentes ecossistemas. Outra questão importante revela-se quando pensamos sobre o que espe- cificamente é considerado um bem que deve ser tutelado pelo Direito. Para analisarmos tal ideia, é importante voltarmos ao artigo 225 da Constituição de 1988, que diz: “Todos têm direito a um meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”. Com base nesse dispositivo constitucional, pode-se verificar que o meio ambiente é um bem protegido pelo direito pátrio. Contabilidade Socioambiental – 12 – Para assegurar a efetividade desse direito de todos, cabe ao Poder Público: I – preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; II – preservar a diversidade e a integridade do patrimônio genético do País e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético; III – definir, em todas as unidades da Federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a altera- ção e a supressão permitidas somente através de lei, vedada qualquer utilização que comprometa a integridade dos atributos que justifi- quem sua proteção; IV – exigir, na forma da lei, para instalação de obra ou atividade poten- cialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade; V – controlar a produção, a comercialização e o emprego de técnicas, métodos e substâncias que comportem risco para a vida, a qualidade de vida e o meio ambiente; VI – promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente; VII – proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinçãode espécies ou submetam os animais a crueldade. (BRASIL, 1988) Compete destacar que o meio ambiente não é estático e único. Existem várias formas de ecossistemas que sustentam a manutenção de diversas formas de vida. Um dano, mesmo que pequeno, pode gerar outros danos em vários ecossistemas, visto suas inter-relações. O mesmo artigo 225 determina que: “§ 3º As condutas e atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, inde- pendentemente da obrigação de reparar os danos causados”. Nesse contexto, é importante que seja identificado cada um dos elementos do meio ambiente e, por consequência, tutelar cada um dos recursos ambientais e suas relações. Essa análise dos componentes bióticos e abióticos que integram o meio ambiente configura-se como imprescindível, visto que a proteção não pode – 13 – Noções gerais de meio ambiente somente levar em consideração os itens que foram alvo do dano, mas toda a repercussão no equilíbrio ecológico. 1.2 Princípios ambientais Os princípios ambientais norteiam o entendimento dos dispositivos legais que envolvem a proteção ao meio ambiente. De acordo com o Direito Ambiental (RODRIGUES, 2016), alguns princípios devem ser analisados, dentre os quais se destacam: 2 princípio da ubiquidade; 2 princípio da cooperação entre os povos; 2 princípio do desenvolvimento sustentável; 2 princípio da participação; 2 princípio da informação; 2 princípio da Educação Ambiental; 2 princípio da prevenção; 2 princípio da precaução; 2 princípio da função socioambiental da propriedade; 2 princípio do poluidor-pagador; 2 princípio do usuário-pagador; 2 princípio da responsabilidade ambiental. 1.2.1 Princípio da ubiquidade Esse princípio traz o entendimento de que o “bem ambiental” não pode ser visto como algo isolado, com limitações ou mesmo com período determi- nado. Em suma, esse princípio revela que a conservação do meio ambiente não pode ser estática, pautada apenas na geografia e no tempo do dano. Contabilidade Socioambiental – 14 – 1.2.2 Princípio da cooperação entre os povos Um item relevante da ubiquidade é o “princípio da cooperação dos povos”, cujo conteúdo declara que o meio ambiente não apresenta limitação geográfica. Assim, por consequência, deve ocorrer a união entre os povos para a proteção e preservação do meio ambiente. Nessa perspectiva, a criação de políticas com finalidade específica de cooperação internacional focada na preservação do meio ambiente e de seu entorno promove suporte para a efe- tividade dessa cooperação. 1.2.3 Princípio do desenvolvimento sustentável O princípio do desenvolvimento sustentável está relacionado à ideia de que todo desenvolvimento econômico necessita de recursos naturais (de forma indireta ou direta) para a produção de bens. Todavia, os recursos natu- rais são escassos e, em decorrência disso, a exploração dos bens naturais, sem nenhum controle, pode comprometer as gerações futuras. Nesse contexto, o princípio do desenvolvimento sustentável baseia-se em três pilares primordiais: 1) evitar a produção de bens em excesso e de bens nocivos ao meio ambiente; 2) conscientizar os consumidores quanto ao uso de bens nocivos ao meio ambiente; e 3) estimular o uso de tecnologias não poluentes ou degradantes ao meio ambiente. Resumidamente, esse princípio tem como finalidade a utilização racio- nal dos recursos ambientais, sem que haja comprometimento das gerações futuras quanto à satisfação das suas necessidades. 1.2.4 Princípio da participação Esse princípio refere-se à participação da sociedade na proteção do meio ambiente, o qual está postulado no artigo 225 da Constituição de 1988, caput, impondo a toda a coletividade o “dever de defendê-lo e preservá-lo”. Tal pre- missa tomou força com a Declaração do Rio de Janeiro sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, no ano de 1992, que traz no seu princípio n. 10: “A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação, no nível apro- priado, de todos os cidadãos interessados [...]” (BIBLIOTECA..., 1992). Desse – 15 – Noções gerais de meio ambiente princípio, derivam dois subprincípios: o da informação ambiental e o da educa- ção ambiental. 1.2.5 Princípio da informação O princípio da informação ambiental concebe que a participação da população nas políticas públicas implica no amplo acesso da sociedade a todas as informações sobre meio ambiente. Logo, a informação é um instru- mento fundamental para a defesa e preservação ambiental. A lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981) aponta para a necessidade de as empresas apresentarem informações e relatórios sobre preservação ambiental, tais como: o Relatório de Impacto Ambiental (RIMA); o Selo Ruído; o Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado anualmente pelo Ibama (art. 9º, X, da Lei n. 6.938/81); a obrigatoriedade de publicação do pedido de licenciamento ambiental (art. 10º, § 1º) e de avisos publicitários dos males causados à saúde por produtos, como, por exemplo, o cigarro. 1.2.6 Princípio da educação ambiental Esse princípio relaciona-se à noção de que o Estado, conforme o artigo 225, § 1º, VI, da Constituição, deve promover a educação ambiental, uma vez que isso viabiliza a consciência ecológica populacional e, concomitantemente, busca uma nova postura da sociedade quanto ao uso dos recursos naturais. 1.2.7 Princípios da prevenção e da precaução Com enfoque específico em evitar a ocorrência da degradação e prejuízos ambientais, os princípios da prevenção e da precaução constituem a atuação antecipada, baseada em medidas preventivas. O princípio da prevenção, um dos princípios seminais do Direito Ambiental, é pautado na antecipação com foco no afastamento do dano, em sua destituição ou que ele nem mesmo possa ser produzido (trabalha com o perigo concreto). O princípio da precaução, por sua vez, atua na incerteza científica do prejuízo, isto é, na gestão dos ris- cos ou impactos desconhecidos (perigo abstrato). Alguns instrumentos de pre- caução podem são o Estudo Prévio de Impacto Ambiental e o Licenciamento Ambiental, os quais serão detalhados posteriormente neste livro. Contabilidade Socioambiental – 16 – 1.2.8 Princípio da função socioambiental da propriedade Este princípio evidencia a função social da propriedade, ou seja, mesmo que uma propriedade seja privada, ela deve se constituir em fator de progresso e bem-estar de todos. Nesse princípio, a legitimidade de entidade privada somente é garantida mediante o cumprimento de sua função social. 1.2.9 Princípios do poluidor-pagador e do usuário-pagador Os princípios do poluidor-pagador e do usuário-pagador estão direta- mente relacionados à assunção das responsabilidades das custas pela repa- ração dos danos causados ao meio ambiente, visto que os valores de produ- tos/mercadorias advindos dos recursos naturais devem refletir os valores da manutenção e do recurso escasso. Toda pessoa que se utilize do bem ambiental assume o dever de preservar o meio ambiente e, por consequência, deve somar os ônus dessa proteção para a sociedade. É importante destacar que o indivíduo que provoca prejuízos ao meio ambiente não tem o direito de fazê-lo, nem mesmo mediante a reparação representada pelo pagamento aos danos causados (não existe “permissão para poluir”). Esses princípios apresentam o caráter de proteção ao meio ambiente com a imposição da indenização ao ato danoso, e jamais como uma liberação para poluição a partir de compensação pecuniária. Na realidade, a preocupação com a prevenção será sempre mais eficaz do que o pagamento de valores caracterizados como punição (repressão). Por exem- plo, a preservação de determinada vegetação é muito mais eficaz do que valores destinados para ações e programas de restauração após eventual desmatamento. Temos dois tipos de pagadores: o poluidor-pagador e o usuário-pagador. O primeiro inclui, nos custosdos bens de consumo, os prejuízos com a degradação do meio ambiente e divide com a sociedade as despesas (tem como preocupação a qualidade dos recursos ambientais). O segundo imputa a quem utiliza os bens ambientais o custo por seu uso e, logo, focaliza as – 17 – Noções gerais de meio ambiente atividades que não poluem o meio ambiente (sua preocupação é voltada para o volume de recursos na natureza). 1.2.10 Princípio da responsabilidade ambiental O princípio da responsabilidade ambiental está relacionado à repressão quando da ocorrência de um dano ambiental. Nesse contexto, quanto mais afe- tado o meio ambiente, maior deverá ser a responsabilidade do agressor ambiental. A seguir, são apresentados, de forma sintetizada, os princípios ambien- tais, com base em Rodrigues (2016): Quadro 1 – Princípios ambientais. Princípio Definição Ubiquidade O bem ambiental não se submete a qualquer fronteira, seja ela espacial, territorial ou temporal. Torna-se, então, difícil mensurar a real extensão de qualquer dano ambiental e, assim, a reparação deve ser a mais ampla possível. Cooperação entre os povos Reconhece a necessidade de se estabelecer uma verdadeira política mundial de proteção e preservação do meio ambiente, com regras menos preocupadas com a soberania nacional e mais vinculadas às necessidades ambientais. Desenvolvimento Sustentável Preconiza que, para o progresso econômico e social, seja mais racional a utilização dos recursos ambientais, de forma a satisfazer não apenas as necessidades das gerações presentes, mas também das gerações futuras (solidariedade intergeracional). Participação É dever de toda a sociedade defender e preservar o meio ambiente. Por isso, deve ser assegurado à coletividade o direito de participar ativamente da tomada de decisões relativas à proteção ambiental. Informação Justamente para possibilitar sua participação social, deve ser assegurado aos indivíduos o acesso às informações relativas à preservação ambiental. Educação Deve ser promovida, em todos os níveis de ensino e também de maneira informal, uma educação capaz de conscientizar a população da necessidade de proteção do meio ambiente. Contabilidade Socioambiental – 18 – Princípio Definição Poluidor- pagador Dado o caráter difuso e esgotável dos bens ambientais, todos aqueles que sejam responsáveis pela utilização desses bens em seu proveito (e em detrimento da sociedade) devem arcar com esse deficit da coletividade. Esse prejuízo ambiental, quando possível de ser suportado e trouxer benefícios para a sociedade, deve ser internalizado por aquele que usa do meio ambiente em seu proveito. Se, entretanto, não houver a possibilidade dessa internalização, o produto não pode ser fabricado ou consumido. Usuário-pagador Busca imputar ao usuário dos recursos ambientais o custo pela utilização de um bem que a todos pertence. Diferentemente do poluidor-pagador, incide nos casos em que há simplesmente o uso do bem ambiental, ainda que não haja qualquer degradação. Preocupa-se, assim, mais com a quantidade dos recursos naturais do que com a sua qualidade (esta, por sua vez, é objeto das atenções do poluidor -pagador). Prevenção Dado o caráter irreversível de qualquer dano ambiental, sempre que se saiba que uma dada atividade apresenta riscos de dano ao meio ambiente, ela não poderá ser desenvolvida. Precaução Visa evitar qualquer risco de dano ambiental, nos casos em que não há certeza científica sobre a potencialidade lesiva de um empreendimento. Inverte-se, com isso, o ônus da prova, cabendo ao empreendedor demonstrar que a atividade que propõe não apresente qualquer risco de lesão ao meio ambiente. Função socioam- biental da propriedade O exercício do direito de propriedade não pode prejudicar a função ecológica dos bens ambientais. Afinal, o equilíbrio ecológico a todos pertence. Assim, sempre que o uso incomum de um bem ambiental puder prejudicar o uso comum a que faz jus toda a população e, acima de tudo, seu papel na manutenção do equilíbrio ecológico, é a função ecológica que deve prevalecer. – 19 – Noções gerais de meio ambiente Princípio Definição Responsabilidade Visa reprimir os comportamentos contrários às normas de proteção ambiental. Para tanto, podem ser aplicadas concomitantemente sanções nas esferas penal, cível e administrativa, sem que isso represente qualquer julgamento repetitivo, já que cada qual possui objeto de tutela específico. Contudo, por se tratar de instrumento de proteção do meio ambiente, há certa unidade de fins entre as três espécies de sanções: todas visam, em última instância, à reparação do dano ambiental e à educação do infrator. Fonte: Elaborado pelas autoras, com base em RODRIGUES, 2016, p. 232. 1.3 Dano ou impacto ambiental O artigo 225 da Constituição Federal de 1988 declara que uma pessoa, seja ela física ou jurídica, pública ou privada, pode configurar um poluidor e, por consequência, conforme o § 3º, pode ser responsabilizada civil, penal ou administrativamente. Por isso a importância de se determinar quem é o polui- dor, para que a sanção seja imputada coerentemente ao devido responsável. O entendimento predominante admite que o usuário desse meio ambiente, ao utilizar esse sistema, pode se tornar um poluidor. Em conso- nância com o artigo 3º, IV, da Lei n. 6.938/81 (BRASIL, 1981), poluidor é “a pessoa física ou jurídica, de direito público ou privado, responsável, direta ou indiretamente, por atividade causadora de degradação ambiental”. Outro ponto importante é que a responsabilidade pela degradação do meio ambiente pode ser solidária, ou seja, todos os indivíduos que direta ou indiretamente causarem danos ao ambiente ecologicamente equilibrado deverão, juntos, responder pela degradação. Além disso, os atos que geram danos à natureza provenientes de ações originárias da própria natureza não serão constituídos como atos de poluidor (exemplo: queimada por raios). Ressalta-se que um poluidor pode ser uma pessoa que aja com licitude ou não. Independentemente de o indivíduo que causou a degradação do meio ambiente agir com boa ou má-fé, ele será responsabilizado civilmente pelas Contabilidade Socioambiental – 20 – perdas do ambiente ecológico. A responsabilidade penal e administrativa, no entanto, somente ocorrerá quando o indivíduo agir de má-fé. Também será responsabilizado aquele que atentar contra o meio ambiente, considerando-se que este deve ser preservado antes do dano, visto que, muitas vezes, é impossível retornar ao estado original do ambiente. Logo, também será considerada poluidora a pessoa física ou jurídica que apresentar indícios evidentes da tentativa de poluir. Conforme o art. 3º, III, da PNMA, a poluição consiste em: [...] degradação da qualidade ambiental resultante de atividades que direta ou indiretamente: a) prejudiquem a saúde, a segurança e o bem-estar da população; b) criem condições adversas às atividades sociais e econômicas; c) afetem desfavoravelmente a biota; d) afetem as condições estéticas ou sanitárias do meio ambiente; e) lancem matérias ou energia em desacordo com os padrões ambientais estabe- lecidos [...]. (BRASIL, 1981) O conceito de poluição é firmado no caput desse dispositivo (“a degra- dação da qualidade ambiental”). E as alíneas trazem de forma exemplifica- tiva, e não taxativa, os efeitos da poluição. Nesse contexto, todas as atividades realizadas por pessoa jurídica ou física, de forma direta ou indireta, lícita ou ilícita, que resultam em dano ao meio ambiente são consideradas poluentes (MOURA, 2007). O conceito de poluição estabelecido na PNMA (BRASIL, 1981) está intrinsecamente ligado à noção de dano ambiental, o que se refere à alteração das características do meio ambiente. Isso porque não existe poluição e polui- dor sem danos ao meio ambiente. O dano pode ser gerado como uma consequência, imediata ou não, de uma conduta lesiva. Por exemplo, uma consequência imediata ocorre quandohá um derramamento de óleo no mar (conduta lesiva), causando danos ao meio ambiente no momento em que o óleo invade as águas marinhas. Nesse caso, a conduta é simultânea ao dano gerado ao meio ambiente. A prática do ato ilícito pode ser considerada um ato de poluição, visto os princípios da prevenção e da precaução ambiental. Nesses termos, o conceito de poluição ou de poluidor está vinculado ao ato de contrariedade à legislação, e o dano será considerado o ato de submeter o meio ambiente ao risco. – 21 – Noções gerais de meio ambiente Em uma situação em que uma empresa submete a população e o meio ambiente (entorno da empresa) a alguma exposição a riscos, motivada, por exem- plo, pelos benefícios advindos dos lucros financeiros gerados por sua atividade, é configurada a obrigação de indenização à sociedade. Desse modo, todos os atos gerados pela atividade mercantil que venham gerar riscos ao meio ambiente serão vinculadas à indenização. Figura 1 – Poluidor e reparação do dano ambiental. Se há poluidor, é porque houve poluição. Se houve poluição, há dano ambiental a ser reparado. Fonte: Elaborada pelas autoras. Conforme demonstra a Figura 1, quando houver o poluidor, existe a obrigatoriedade do reparo do dano ambiental, logo, o dano tem por con- sequência a responsabilidade civil do indivíduo, o qual deve ressarcir os prejuízos causados. Cumpre evidenciarmos que uma lesão ao meio ambiente não pode ser reparada de forma isolada, a reparação deverá ser coletiva, destinada a cada pessoa que o dano afetar. Um exemplo recente ocorrido no Brasil foi o acidente no município de Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, no qual ocorreu o rompimento de uma barragem da mineradora Samarco. O rompimento originou uma inundação de lama em todo o distrito de Bento Rodrigues, resultando na liberação de uma quantidade excessiva de rejeitos de mineração (60 milhões de metros cúbicos) que, ao secar, transformou-se em um tipo de “cimento”, devastando toda a vegetação do local. Outra con- sequência do referido desastre foi o deságue dessa substância no Rio Doce, causando a morte dos organismos vivos e sérios problemas para a população local. Cidades do estado de Minas Gerais e do Espírito Santo foram afetadas. Contabilidade Socioambiental – 22 – Com esse exemplo, o qual se configurou como um lamentável desastre nacional, considerado o maior registrado no país, é possível evidenciarmos a grave lesão causada ao meio ambiente e, concomitantemente, sua impres- cindível reparação. As ações de reparação do meio ambiente consistem em prevenção, educação e a reparação do dano propriamente dito, tanto na esfera coletiva, quando considerada a limpeza dessas substâncias no meio ambiente, quanto na esfera individual. Ao calcular a reparação individual, é necessário identificar todos os indi- víduos que, de forma direta ou indireta, foram atingidos. Nesse exemplo, são suscetíveis de indenização os pescadores do Rio Doce, os agricultores do Distrito de Bento Rodrigues cujos terrenos se tornaram inférteis, os donos de imóveis destruídos, entre outros que foram comprovadamente prejudicados. Ademais, de acordo com os noticiários nacionais, além de muitas famílias desabrigadas, o “mar de lama” provocou o falecimento de 19 pessoas, e as inde- nizações dos responsabilizados se estenderam aos danos materiais (no formato de pensão) e danos morais (às famílias, pelas perdas humanas irreparáveis). Conclusão As discussões acerca da abordagem ambiental vêm crescendo conside- ravelmente nos últimos anos. Os primeiros sinais de preocupação com os efeitos devastadores do crescimento desordenado e cujos processos relegavam questões ambientais apresentam uma ordem cronológica natural. Tratam-se das históricas catástrofes ambientais que propulsaram as ações e discussões acerca do tema, como: o acidente nuclear de Chernobyl, cujo material alta- mente radioativo foi lançado no ambiente, em 1986, na Ucrânia; o grande nevoeiro de Londres, em 1952, causado pela queima excessiva de carvão de má qualidade, causando sérios problemas respiratórios e até mortes; e a con- taminação da baía de Minamata, no Japão, desde 1930, causada pelo lança- mento de dejetos contendo mercúrio por uma indústria local, fato que só foi descoberto em 1956, quando alguns pacientes começaram a ter convulsões, febre alta e acabaram morrendo, devido à contaminação. A despeito das ações reparadoras relativas aos desastres supracitados, como evacuação da população, operações de combate à poluição pelas – 23 – Noções gerais de meio ambiente autoridades, ações de mitigação dos riscos e estudos ambientais, tais eventos, somados a outros de magnitude semelhante ou superior nos anos de 1980 e 90, promoveram uma nova consciência ambiental, de abrangência global. As pressões políticas e socioeconômicas mundiais ganharam forças e esti- mularam novas discussões sobre a temática ambiental, chamando atenção para novas diretrizes baseadas no reposicionamento dos países e governos em relação à geração da poluição e às emissões atmosféricas, com o estabeleci- mento de metas de redução dos impactos ambientais. Fica evidente que o desenvolvimento sustentável demanda um efetivo compromisso dos atores sociais envolvidos, principalmente ao se considerar a necessária sinergia entre o ser humano, a natureza e as atividades econômicas. Emerge então, nesse contexto, mas sem que essa enunciação seja limitativa, a responsabilidade ambiental na esfera empresarial, com a incorporação da gestão socioambiental e o compromisso com as questões inerentes à sustenta- bilidade, cuja abordagem será aprofundada nos capítulos seguintes desta obra. Ampliando seus conhecimentos A situação ambiental da atualidade resulta das más relações do homem com o meio ambiente, degradando-o e corrom- pendo os recursos naturais. O texto de Cunha e Suarte (2017), que apresentamos a seguir, discorre um pouco mais sobre essa temática. Conceito de impacto ambiental (CUNHA; SUARTE, 2017, p. 77-78) [...] O conceito de impacto ambiental pode ser buscado na ter- minologia da palavra, a qual se origina do latim: impactu e significa choque ou colisão de substâncias nos três estados físicos da matéria (sólido, líquido e gasoso), de radiações ou Contabilidade Socioambiental – 24 – formas variadas de energia, vindas de obras ou atividades rea- lizadas com danosas alterações do ambiente natural, artificial, cultural ou social. Estas mudanças podem ser provocadas por diversas formas de energia ou matéria resultante de atividades antrópicas que afetam direta ou indiretamente a saúde, segu- rança da população, atividades econômicas e sociais, a biota e a disposição dos recursos do ambiente. (PLANTENBERG, 2002; CUSTÓDIO, 1995; SPADOTTO, 2002). A visão dos autores acima assemelha-se muito com o que diz a Resolução do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), artigo 1, definindo impacto ambiental como sendo Qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio ambiente, causada por qualquer forma de matéria ou energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente, afetam: I. A saúde, a segurança e o bem-estar da população; II. As atividades sociais e econômicas; III. A biota; IV. As condições estéticas e sanitárias do meio ambiente; V. A qualidade dos recursos ambientais. [...] Há na literatura visões diferenciadas de impacto ambiental, bem como opinião de que o homem pode viver em harmo- nia com o meio ambiente. Assim, Barbosa (2006) ressalta que os impactos ambientais podem ser de forma positiva ou negativa, causando degradações significativas do ambiente ou degradações bem menores não tão significativas, não dei- xando é claro, de ser impacto ambiental. É notável que o homem usa os recursos da natureza para a manutenção da pró- pria vida (sobrevivência) e, como consequência disso, pro- move o desarranjo ambiental. No entanto algumas atividades – 25 – Noções gerais de meioambiente podem ser satisfatórias, as quais o homem adapta ao meio ambiente para atender seus interesses sem causar danos signi- ficativamente negativos, e se ainda assim houver algum dano, que este seja compensado. [...] O Conceito de Derani (2001) é bem prático e diz que impacto ambiental é simplesmente a interferência do homem no meio ambiente. E para que sejam vistos os dois lados possíveis do impacto (positivo e negativo), com intuito de ampliação do lado positivo e mitigação dos efeitos contrários, atingindo assim a homeostase dos reflexos das ações humanas no meio natural, no meio social e também no meio econô- mico, a Avaliação de Impacto Ambiental então foi idealizada e inserida pelos governos como um forte instrumento de polí- tica ambiental. Atividades 1. O que é meio ambiente? 2. O acidente decorrente do rompimento da barragem da mineradora Sa- marco no município de Mariana (MG), em 5 de novembro de 2015, provocou consideráveis impactos ambientais, os quais se refletem em todo o entorno da localidade ainda nos dias de hoje. Nesse caso espe- cífico, é possível realizar uma análise de maneira isolada? Justifique. 3. O princípio do poluidor/usuário-pagador está ligado à ideia de pre- venção e repressão, visto que os custos das mercadorias advindas do ambiente devem refletir os valores da manutenção e do recurso es- casso. Nesse contexto, qual a diferença entre o poluidor-pagador e o usuário-pagador? Contabilidade Socioambiental – 26 – 4. É evidente que as ações humanas resultaram em alterações no meio ambiente, considerando os aspectos físicos, biológicos e sociais. O crescimento das indústrias e dos processos produtivos afetou consi- deravelmente a normalidade da estrutura ambiental. Com base nessa afirmação, indique três catástrofes ambientais históricas. Introdução à contabilidade ambiental Introdução O objetivo deste capítulo é proporcionar a compreensão dos fundamentos essenciais da contabilidade ambiental, com base nos principais conceitos relacionados à informação ambiental, entre eles, passivo ambiental, ativo ambiental e fatos contábeis ambientais. Tais conhecimentos são importantes para desenvolver o entendimento prático da contabilidade ambiental, observando as diretrizes estabe- lecidas pelas principais normas contábeis. A proposta deste capítulo é viabilizar o entendimento dos procedimentos elementares da contabilidade ambiental e os meca- nismos de gestão ambiental empresarial, mais especificamente o sis- tema de gestão ambiental (SGA) e a ISO 14001. 2 Contabilidade Socioambiental – 28 – 2.1 Conceito e finalidade da contabilidade ambiental As profundas transformações ocorridas na sociedade, ocasionadas por novos posicionamentos socioambientais e novos estímulos aos debates sobre questões ambientais, são reflexos das preocupações advindas do crescimento populacional, do aumento do consumo e, consequentemente, da necessi- dade de atendimento às demandas relativas às necessidades humanas, sob a ótica da utilização mais eficiente dos recursos naturais, na perspectiva da gestão empresarial. O contexto organizacional sofreu intensas transformações, especial- mente ao longo das duas últimas décadas. No Brasil, as empresas se viram obrigadas a adequar-se a uma série de mudanças advindas da abertura de mercado promovida no início dos anos 1990. Tais mudanças foram pautadas, sobretudo, na entrada de novos concorrentes, o que modificou as estratégias organizacionais. A responsabilidade socioambiental emerge nesse período, trazendo preocupações adicionais em meio à necessidade imediata de cresci- mento e manutenção em um mercado altamente competitivo. Detendo-se nessa questão, a responsabilidade ambiental destaca-se como um assunto em evidência nas últimas décadas, principalmente ao ponderar que os recursos naturais são finitos. Em um panorama histórico, em consonância com os autores Guimarães e Fontoura (2012), os debates relacionados essencialmente ao meio ambiente recebem maior relevância em 1972, quando a Organização das Nações Unidas (ONU) promove a Conferência de Estocolmo, evento que suscitou a discus- são sobre “desenvolvimento e ambiente” e o conceito de ecodesenvolvimento. Nessa Conferência, projetou-se o PNUMA – Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente –, cujo objetivo consistiu especificamente na conser- vação do meio ambiente e na utilização sustentável dos recursos. Em 1983, a ONU cria a Comissão Mundial sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (Unced), a qual, após estudos, desenvolveu estratégias para que as empresas, a longo prazo, desenvolvam suas atividades econômicas de forma sustentável. A Conferência de Estocolmo refletiu em tamanha relevância que, como resposta, o Brasil criou a Secretaria Especial do Meio Ambiente, por – 29 – Introdução à contabilidade ambiental meio do Decreto n. 73.030/73 (BRASIL, 1973). Essa secretaria foi criada como órgão autônomo da administração direta no âmbito do Ministério do Interior, orientada para a conservação do meio ambiente e o uso racional dos recursos naturais. A despeito de sua originalidade, o que efetivamente consolidou o desen- volvimento sustentável foi o Relatório da Comissão Brundtland, no ano de 1987, sendo este o documento final da World Commission on Environment and Development (WCED), reconhecido mundialmente. A partir da publi- cação desse relatório, o desenvolvimento sustentável passa a ser definido como “o desenvolvimento que atende às necessidades do presente sem comprome- ter a possibilidade de as gerações futuras atenderem às suas próprias neces- sidades” (WCED, 1987, p. 8). Já o World Business Council for Sustainable Development é uma coligação de empresas internacionais comprometidas com os três pilares da sustentabilidade: igualdade social, crescimento econô- mico e ambiental (WBCSD, 2000). Um marco evidenciado no ano de 1988 foi a criação do IPCC (Intergovernmental Panel on Climate Change, ou Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas), elaborado pela Organização Meteorológica Mundial, em Genebra. Pela primeira vez a meteorologia passou a abordar questões acerca do aquecimento global e da influência dos seres humanos no clima. Outro evento estruturado para que as instituições lucrativas se desen- volvam pautadas na ideia de preservação ambiental foi a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento, que aconteceu no Brasil, no Rio de Janeiro, em 1992. Essa conferência promoveu a elabo- ração da já citada Agenda 21 (ONU, 1992), um importante passo para o desenvolvimento do conceito de sustentabilidade. Sob a perspectiva da con- tabilidade ambiental, Guimarães e Fontoura (2012) ressaltam que a Agenda 21 traz, como uma de suas diretrizes, o desenvolvimento de um sistema de contabilização que integra temas sociais, ambientais e econômicos (o tripé da sustentabilidade), por parte dos países e organismos internacionais. Não obstante os relevantes eventos descritos acima, para melhor com- preensão acerca do panorama histórico, a seguir é apresentado um quadro com a cronologia de eventos importantes relacionados às questões sustentáveis: Contabilidade Socioambiental – 30 – Quadro 1 – Cronologia dos eventos importantes relacionados às questões sustentáveis. Século Ano Evento Século XIX 1869 Proposta por Ernst Haeckel a expressão ecologia para as pesquisas concernentes à investigação da relação entre as espécies e seu respectivo ambiente. 1872 Inauguração do “Yellowstone”, nos Estados Unidos. Século XX 1947 Criação da União Internacional, com o objetivo de conservar a natureza. 1952 Acidente ambiental provocado pela poluição do ar em Londres, ocasionando na morte de 1.600 pessoas. 1966 Assembleia Geral da ONU e o Pacto Internacional sobre os Direitos Humanos. 1972 Conferência de Estocolmo – debates concernentes ao desenvolvimento e ambiente, conceituação de ecodesenvolvimento. 1974 Reconhecimento da Educação Ambiental no ensino de forma integral,no Seminário de Educação Ambiental, na Finlândia. 1975 Congresso de Belgrado – determinação das metas da Educação Ambiental e suas respectivas premissas. PIEA – Programa Internacional de Educação Ambiental. 1976 Congresso de Educação Ambiental Brasarville, na África. 1980 Primeira Conferência Asiática sobre Educação Ambiental, em Nova Delhi, Índia. 1987 Divulgação do Relatório da Comissão Brundtland, Nosso Futuro Comum. Congresso Internacional da Unesco – PNUMA sobre Educação e Formação Ambiental, em Moscou, realiza a avaliação dos avanços desde Tbilisi, reafirma os princípios de Educação Ambiental e assinala a importância e necessidade da pesquisa e da formação em Educação Ambiental. – 31 – Introdução à contabilidade ambiental Século Ano Evento Século XX 1988 Declaração de Caracas – Orpal – PNUMA, sobre Gestão Ambiental na América, que denuncia a necessidade de mudar o modelo de desenvolvimento. Criação do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas), elaborado pela Organização Meteorológica Mundial, em Genebra. 1989 Primeiro Seminário sobre Materiais para a Educação Ambiental – Orleac – Unesco – PIEA, em Santiago do Chile. Declaração de Haia, preparatório da RIO 92, aponta a importância da cooperação internacional nas questões ambientais. 1990 Conferência Mundial sobre Ensino para Todos – satisfação das necessidades básicas de aprendizagem, em Jomtien, Tailândia, destaca o conceito de analfabetismo ambiental. ONU declara o ano 1990 como o Ano Internacional do Meio Ambiente. 1992 Conferência sobre o Meio Ambiente e o Desenvolvimento, UNCED, Rio/92 – Criação da Agenda 21. Tratado de Educação Ambiental para Sociedades Sustentáveis. Fórum das ONGs – compromissos da sociedade civil com a Educação Ambiental e o Meio Ambiente. Carta Brasileira de Educação Ambiental aponta as necessidades de capacitação na área. 1993 Congresso Sul-Americano continuidade da Eco/92 – Argentina, 1993. Conferência dos Direitos Humanos, em Viena. 1994 Conferência Mundial da População – Cairo, Egito. I Congresso Ibero-Americano de Educação Ambiental – Guadalajara, México. 1995 Conferência para o Desenvolvimento Social – Copenhague, Dinamarca. Criação de um ambiente econômico-político-social- cultural e jurídico que permita o desenvolvimento social. Conferência Mundial da Mulher – Pequim, China. Conferência Mundial do Clima – Berlim, Alemanha. Contabilidade Socioambiental – 32 – Século Ano Evento Século XX 1996 Conferência Habitat II – Istambul, Turquia. 1997 II Congresso Ibero-americano de Educação Ambiental – Guadalajara, México. Conferência sobre Educação Ambiental Nova Delhi, India. Conferência Internacional sobre Meio Ambiente e Sociedade: Educação e Conscientização Pública para a Sustentabilidade – Thessaloniki, Grécia. A 3ª Conferência das Partes da Convenção do Clima – Kyoto, Japão, em dezembro. 1999 Lançada a revista Tópicos en Educación Ambiental, uma publicação internacional editada no México, a qual apresenta informações sobre as variadas vertentes e áreas da educação ambiental. Século XXI 2000 Lançamento do Pacto Global da ONU, iniciativa que reúne empresas comprometidas a alinhar operações e estratégias com dez princípios nas áreas de direitos humanos, condições de trabalho, meio ambiente e combate à corrupção. 2002 Em dezembro, a Assembleia Geral das Nações Unidas, durante sua 57ª sessão, estabeleceu a resolução nº 254, declarando 2005 como o início da Década da Educação para o Desenvolvimento Sustentável, depositando na Unesco a responsabilidade pela implementação da iniciativa. Rio + 10 – Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável (Earth Summit 2002), promovida pela ONU. 2009 15ª Conferência das Partes da Convenção sobre Mudanças Climáticas (COP-15), realizada em Copenhague, Dinamarca, apresenta discussões acerca do futuro do planeta. 2012 Rio de Janeiro sedia a Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável, a Rio+20. Fonte: BRASIL, 2017. Adaptado. Analisando esses eventos e desdobramentos, fica evidente que toda a esfera empresarial necessita dispor do legítimo comprometimento com as novas práticas relacionadas à mitigação da degradação do patrimônio ambiental da – 33 – Introdução à contabilidade ambiental humanidade. Em decorrência disso, não é possível mais gerir os negócios sem considerar a proteção ao meio ambiente e o equilíbrio ambiental. A importante integração entre a gestão do patrimônio, o meio ambiente e as exigências mer- cadológicas revela a missão da contabilidade ambiental ao demonstrar e eviden- ciar, de forma clara, o desempenho socioambiental atrelado aos procedimentos contábeis, como um mecanismo propulsor da transparência. Nesse contexto, verifica-se o imprescindível papel da contabilidade ambiental. Guimarães e Fontoura (2012) ressaltam que a Agenda 21 tem como escopo que os países e organismos internacionais desenvolvam um sis- tema de contabilização que integrem temas sociais, ambientais e econômicos (tripé da sustentabilidade). A contabilidade ambiental é configurada como uma vertente da contabili- dade. Dessa forma, faz-se necessário entender, primeiramente, a definição basi- lar de contabilidade, para prosseguirmos com os aprofundamentos necessários. De acordo com o Comitê de Pronunciamentos Contábeis (BRASIL, 2013), a contabilidade é uma ciência social cujo objeto de estudo é o patrimônio de uma instituição. Logo, a contabilidade quantifica e analisa as riquezas, registrando as mutações/variações patrimoniais, quantitativas e/ou qualitativas, de deter- minado período (exercício). Pode ser conceituada, também, como um sistema de informação, cuja finalidade consiste na demonstração e análise financeira de uma instituição. Nessa perspectiva, a contabilidade é um instrumento de informação de que os gestores, de instituições públicas ou privadas, se respaldam com intuito de gerenciar os recursos empresariais de forma eficaz. Carvalho (2008, p. 111) define a contabilidade ambiental como: o destaque dado pela ciência aos registros e evidenciações da entidade referentes aos fatores relacionados com o meio ambiente. Não se con- figura em nenhuma nova técnica ou ciência, a exemplo da auditoria ou da análise de balanços, mas em uma vertente da contabilidade, a exemplo da contabilidade comercial ou industrial, que estuda fatos mais específicos de uma determinada área, no caso, a área ambiental. A contabilidade ambiental tem a atribuição de registrar as informações pertinentes às operações oriundas ao meio ambiente, no que se refere às interferências das atividades da empresa no meio ambiente, contabilizando Contabilidade Socioambiental – 34 – os recursos naturais, bem como os gastos e as despesas utilizados para a manu- tenção e preservação ambiental. Ribeiro (2006, p. 45) esclarece que o objetivo da contabilidade ambien- tal consiste em “identificar, mensurar e esclarecer os eventos e transações eco- nômico-financeiros que estejam relacionados com a proteção, preservação e recuperação ambiental, ocorridos em um determinado período, visando à evidenciação da situação patrimonial de uma entidade”. Assim, a finalidade da contabilidade ambiental é propiciar informações regulares aos usuários internos e externos acerca dos eventos ambientais que causaram modificações na situação patrimonial da respectiva entidade, quan- tificada em moeda. Nesse aspecto, a contabilidade ambiental é responsável pela emissão dos relatórios necessários ao usuário da informação para o pro- cesso de tomada de decisão. A contabilidade ambiental está em constante desenvolvimento em todo o mundo. Conforme Antonovz (2014), na Dinamarca, desde 1996, a legis- lação exige a apresentação de relatórios ambientais das empresas que reali- zam suas atividades e, por consequência, geram impactos ambientais. Em 1999, na Noruega, surge uma lei que direciona a contabilidade e tem como objetivo, entre outros, o estabelecimento de mecanismos de informaçãodas empresas sobre a relação de trabalho e os impactos ambientais, sendo que os principais dados disponibilizados consistem na quantidade de energia elétrica e matéria-prima utilizadas, bem como os níveis de poluição. As informações relacionadas ao meio ambiente devem ser objeto tam- bém da contabilidade. No Brasil, o marco histórico foi a aprovação da NPA 11 – Norma de Auditoria 11, a qual objetivou estabelecer premissas relacio- nadas ao balanço patrimonial e o meio ambiente. Tal norma foi revogada quando foi estabelecida a Norma Brasileira de Contabilidade (NBC), deter- minando a adoção da contabilização dos processos de gestão ambiental, com o devido registro dos Ativos e Passivos ambientais (BRASIL, 2013). Cumpre evidenciar que a contabilidade ambiental tem sido modificada no intuito de alcançar a padronização, ou seja, que as informações e as prá- ticas contábeis ambientais sejam uniformizadas. Outra norma relevante para as questões contábeis ambientais é a NBT 15, a qual foi atualizada pela NBC TE XXX (2012) (BRASIL, 2013). – 35 – Introdução à contabilidade ambiental No que se refere à legislação brasileira, a Lei n. 11.941/2009 (BRASIL, 2009) promove algumas alterações na Lei n. 6.404/1976 (Lei das S/A), pre- vendo uma nova estrutura de balanço patrimonial, com a inclusão do grupo intangível para as sociedades de grande porte, bem como as companhias aber- tas e fechadas. O artigo 179 da Lei n. 6.404/76, VI, evidencia que as contas do intan- gível dizem respeito aos “direitos que tenham por objeto bens incorpóreos destinados à manutenção da companhia ou exercidos com essa finalidade, inclusive o fundo de comércio adquirido” (BRASIL, 1976). Esse assunto é disciplinado pelo CPC (Comitê de Pronunciamentos Contábeis) 04 – Ativo Intangível. Outra evolução da contabilidade ambiental refere-se ao CPC 29, que dispõe sobre o ativo biológico e o produto agrícola, no qual se esta- belece o reconhecimento do ativo ainda que vivo, até o seu processamento (BRASIL, 2013). Somando-se à Lei n. 6.938/81, da Política Nacional do Meio Ambiente (PNMA) brasileira, e à Constituição Federal, podemos compreender o prin- cipal conjunto de legislações que norteiam a contabilidade, o meio ambiente e sua respectiva integração e sinergia. O objetivo dessa ramificação da contabilidade é detectar, verificar e esclarecer as mutações patrimoniais e financeiras originadas pelas ações de preservação e recuperação ambiental, ocorridas em determinado momento. Além disso, também é objetivo da contabilidade ambiental verificar o cum- primento da legislação ambiental por parte da empresa, bem como identificar a evolução da instituição no que se refere à sustentabilidade ambiental. Ademais, Tinoco e Kraemer (2011, p. 127-128) afirmam que existem três razões essenciais para a adoção da contabilidade ambiental por parte das empresas: Gestão interna: está relacionada com uma ativa gestão ambiental e seu controle, visando reduzir custos e despesas operacionais e melho- rar a qualidade dos produtos; Exigências legais: a crescente exigência legal e normativa pode obri- gar os administradores a controlarem mais seus riscos ambientais, sob pena de multas e indenizações; Demanda dos parceiros sociais: a empresa está submetida cada vez mais a pressões internas e externas. Essas demandas podem ser dos Contabilidade Socioambiental – 36 – clientes, empregados, organizações ecológicas, seguradoras, comuni- dade local, acionistas, administração pública, bancos, investidores etc. A informação contábil deve compreender desde o investimento efe- tuado pela empresa, como é o caso da aquisição de bens de proteção ao meio ambiente, até os danos causados por sua atividade, ou, ainda, a manutenção de espaços ecológicos e obrigações contraídas por decisão judicial, por conta do não cumprimento das determinações estabelecidas na Lei n. 9.605/1998 (BRASIL, 1998), entre outras. É importante destacar que, em muitos casos, a realização da contabilidade ambiental se torna uma tarefa árdua, visto o distanciamento entre as informa- ções de natureza ambiental e as demais informações da empresa, bem como a classificação das informações contábeis ambientais. Santos (apud BERGAMINI JÚNIOR, 1999) assevera que existem outras condições que dificultam a reali- zação da contabilidade ambiental, as quais são elencadas a seguir: 2 Ausência de definição clara de custos ambientais. 2 Dificuldade em calcular um passivo ambiental efetivo. 2 Problemas em determinar a existência de uma obrigação no futuro por conta de custos passados. 2 Falta de clareza no tratamento dos “ativos de vida longa”, como, por exemplo, uma usina nuclear. 2 Reduzida transparência com relação aos danos provocados pela empresa em seus ativos próprios e demais informações relacionadas. 2.2 Sistema de Gestão Ambiental É evidente que discussões acerca da abordagem ambiental vêm crescendo consideravelmente, colocando em evidência a ideia de um mundo ecologica- mente equilibrado. Contudo, a pluralidade de estruturas e direcionamentos quanto ao modelo de gestão ideal vem provocando debates sobre as vantagens e os reveses ao se adotar sistemas de gestão, principalmente quando atrelados às estratégias organizacionais e à ampliação do market share (fatia de mercado). A gestão ambiental, nesse contexto, consiste na condução gerencial de uma organização, quanto aos assuntos concernentes ao meio ambiente, – 37 – Introdução à contabilidade ambiental como, por exemplo, a forma com que a empresa gerencia a destinação de seus resíduos, monitora e analisa suas emissões atmosféricas, realiza o tratamento de efluentes gerados e demais problemas relacionados à poluição ambiental. Nessa perspectiva, as empresas são levadas a reexaminar seus processos produ- tivos e investir em tecnologias menos poluentes ou, ainda, realizar processos que reaproveitem recursos. A questão ambiental deve consistir em uma preocupação não somente da sociedade, mas do âmbito corporativo. Tal afirmação pode ser corroborada pelo fato de as organizações, de um modo geral, buscarem a melhor gestão de seus recursos mitigando eventuais impactos ambientais oriundos do seu processo produtivo. Ademais, existe uma tendência de inclusão da dimensão ecológica nos negócios corporativos, visto que ela traz benefícios interessantes, como: redu- ção de multas e penalidades por danos ambientais; possibilidade de expansão mercadológica (crescente aumento de consumidores que preferem marcas e produtos fabricados com base no comprometimento ambiental empresarial); e preservação da imagem e reputação organizacional. Assim, padronizações de normas são estabelecidas para efetiva implantação de um sistema de ges- tão, como abordado a seguir. 2.2.1 International Organization for Standardization (ISO) – Organização Internacional de Normalização Ao fim da Segunda Guerra Mundial, autoridades de 25 nações reu- niram-se em Londres, em 1946, e decidiram pela efetivação de uma orga- nização internacional de regularização, a qual denominaram International Organization for Standardization (ISO), que iniciou suas ações em 23 de fevereiro de 1947 (MARSHALL JUNIOR et al., 2010). A ISO é uma orga- nização não governamental, localizada em Genebra, na Suíça, constituída por uma rede de organizações de normalização de 157 países (um membro por país). A instituição que trabalha no Brasil como representante da ISO é a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), criada em 1940 e cons- tituída por 28 comitês por departamento de atividade. Essa instituição tem como princípio o estímulo ao progresso da ciência, da indústria, do comér- cio e da tecnologia (HUTCHINS, 1994). O papel da ISO é impulsionar Contabilidade Socioambiental – 38 – o desenvolvimento da regularização, por meio de acordos técnicos globais veiculados como regras institucionais. 2.2.2 A ISO 14001 A norma NBR ISO 14001 (ABNT, 2004b) visa estabelecer padrões rela- tivos às atividades organizacionaise à proteção do meio ambiente e especifica os requisitos para a implementação de um sistema de gestão ambiental (SGA), de forma estruturada e completa, direcionando a integração e o alcance das metas ambientais e econômicas, em um processo contínuo de melhorias. Já em seu princípio, a ISO 14001 esclarece que ela foi elaborada para se encaixar em todos os padrões e portes de organizações, como também para se adaptar às diferentes circunstâncias culturais, geográficas e sociais. A norma habilita uma organização a especificar e avaliar a concretização de processos para definir uma política ambiental e os objetivos a atingir com suas conformidades. O principal intuito é estimular a proteção ambiental e a prevenção da poluição, equilibrando-a com as urgências socioeconômicas (ABNT, 2004b). Assim, qualquer organização que intencione conseguir a certificação ambiental de suas atividades, seus produtos e serviços, deve, antes de qualquer realização, implantar um sistema de gestão ambiental e, na sequência, pedir o monitoramento externo de certificação a outra instituição credenciada. A recente atualização da ISO 14001, atualmente denominada ISO 14001:2015, evidenciou diretrizes associadas: à compreensão específica da esfera da organização, às demandas e às expectativas dos interessados; à obser- vação de um ponto de vista de ciclo de vida; ao destaque em uma abordagem de riscos; à autoridade como função primordial para o atingimento dos obje- tivos do sistema de gestão; à relevância para o fortalecimento do desempenho ambiental da instituição, por meio da melhoria constante do sistema de ges- tão ambiental (FIESP, 2017) Cumpre evidenciar que, para a efetiva implementação do Sistema de Gestão Ambiental, é necessário compreender as etapas essenciais desse pro- cesso. Nesse processo, a ISO 14001 segue os princípios do ciclo PDCA (Plan, Do, Check, Act), conforme detalhamento a seguir (ABNT, 2015a): – 39 – Introdução à contabilidade ambiental 1. Política ambiental – Definição das metas e objetivos ambientais. 2. Planejamento – Formulação de um plano de ação com o intuito de realizar sua Política Ambiental. Nesse plano devem ser consi- derados os seguintes itens: 1) Aspectos Ambientais; 2) Requisitos legais e outros requisitos; 3) Objetivos e metas; 4) Programas de Gestão Ambiental. 3. Implementação e operação – Para a concreta implementação da ISO 14001, é importante estabelecer políticas, metas e objetivos. Os agentes internos, dentro da estrutura organizacional, devem ser definidos. A disseminação do projeto e constituição periódica de treinamentos tornam a implementação mais sólida. Outros pontos imprescindíveis consistem na comunicação e controle documental. Por fim, a empresa deve se preparar para eventuais situações emergenciais. 4. Verificação e ação corretiva – A norma ISO 14001 estabelece que a empresa deve verificar o programa de gestão ambiental, na prática, e manter medidas de ajustes, visando à mitigação dos impactos ambientais. A Verificação e Ação Corretiva são orientadas por quatro etapas do processo de gestão ambiental, a saber: Monitoramento e Medição, Não conformidade e Ações Corretivas e Preventivas, Registros e Auditoria do SGA. 5. Análise crítica – Refere-se à etapa seguinte à realização de audi- toria. Momento em que se identifica as necessidades de alteração da Política Ambiental para adequações e melhorias. Conclusão Diante de um cenário globalizado cada vez mais exigente, as organizações buscam estratégias para se diferenciar no mercado e consequentemente melho- rar seus resultados. Considerando a preocupação com o equilíbrio ambien- tal como um fator preponderante nesse cenário de negócios, a efetiva gestão ambiental destaca-se como uma ferramenta essencial de interação e atendi- mento às normativas legais pertinentes, às necessidades, às expectativas e aos anseios da sociedade, fazendo parte das estratégias organizacionais. Seguramente, a efetiva avaliação e gestão patrimonial atrelada aos aspectos ambientais empresariais evidencia a contabilidade ambiental como um meca- nismo de transparência aos atores sociais, com foco específico no meio ambiente. Contabilidade Socioambiental – 40 – As informações disponibilizadas pela contabilidade ambiental viabilizam segu- ridade ao processo de tomada de decisão, proporcionam maior eficiência na gestão de materiais e recursos, redução dos passivos ambientais, redução dos custos operacionais relacionados, além de transmitir a confiabilidade aos players de mercado quanto a possíveis investimentos. O alinhamento da contabilidade ambiental com um consistente sistema de gestão ambiental (SGA) permite assegurar a integração entre atividade empresa- rial, produtividade, controle patrimonial e meio ambiente. É possível asseverar, também, que ela consiste em uma necessária tendência para a perenidade organi- zacional, a preservação da imagem da empresa e de sua reputação mercadológica. Ampliando seus conhecimentos Para uma melhor compreensão da proposta da contabilidade ambiental, temática central deste livro, sugerimos a breve leitura, proposta por Souza e Ribeiro (2004), acerca da relevância da relação das questões ambientais com a gestão contábil empresarial: Contabilidade Ambiental (SOUZA; RIBEIRO, 2004, p.56) De acordo com Ribeiro (1992:56), as questões ambientais devem ser “alvos de preocupações específicas da contabili- dade”, podendo assim contribuir para a conciliação de um “desenvolvimento econômico sustentável” de acordo com as especificações estabelecidas por entidades governamentais e não governamentais, nacionais e internacionais. É evidente o aumento, considerável, nos últimos anos, das discussões concernentes à melhor forma das empresas con- ciliarem seus processos produtivos com questões ambientais, existindo grande conscientização por parte das principais – 41 – Introdução à contabilidade ambiental instituições, de que a preservação do meio ambiente é fator determinante para a continuidade e sobrevivência empresarial. A Contabilidade assume, diante dessa contextualização, papel fundamental de subsídio a todos os agentes envolvidos no processo. Esta deve auxiliar os administradores, no que tange ao gerenciamento empresarial das relações com o meio ambiente, por ser considerada, atualmente, uma das principais ferramentas de gestão de negócios. Cabe a ela a elaboração e fornecimento de informações aos usuários internos e externos acerca dos eventos ambientais que causam modificações na situação patrimonial das entidades. As informações de caráter ambiental a serem divulgadas pela Contabilidade, segundo Martins & De Luca (1994:25), [...] vão desde os investimentos realizados, seja em nível de aquisição de bens permanentes de proteção a danos ecológicos, de despesas de manutenção ou correção de efeitos ambientais do exercício em curso, de obrigações contraídas em prol do meio ambiente, e até de medidas físicas, quantitativas e qualitativas, empreendidas para sua recuperação e preservação. [...] Atividades 1. “Ao mesmo tempo em que é indispensável preservar, é necessário pro- duzir”. Esse é, aparentemente, um complexo paradoxo empresarial, quanto à integração entre o aspecto econômico e o ambiental, o que reflete na desafiadora missão de gerenciar as atividades produtivas sem degradar ou trazer prejuízos ao meio ambiente. Ponderando tal conjuntura, explique o que é gestão ambiental e quais responsabilida- des são atribuídas às organizações empresariais nesse contexto. Contabilidade Socioambiental – 42 – 2. Ao separarmos o termo contabilidade ambiental, é possível identificar duas palavras independentes, com significados distintos. Contudo, a junção dessas palavras direciona a um ramo específico da gestão con- tábil empresarial. Nesse aspecto, apresente a diferença existente entre a conceituação de contabilidade e a de contabilidade ambiental. 3. A implantação de um sistema de gestão ambiental (SGA) exige ocumprimento de etapas bem estruturadas para obtenção de efetivos resultados. Cite e explique cada uma das etapas que norteiam a im- plantação de um SGA. 4. O que a ISO 14001 especifica para as organizações? Existe relação entre a ISO 14001 e o Sistema de Gestão Ambiental (SGA)? Patrimônio ambiental Introdução Este capítulo aborda a estruturação dos elementos patri- moniais oriundos de eventos ambientais, proporcionando a com- preensão da contabilização e do registro patrimonial com base nos princípios contábeis. Para melhor compreensão, são abordadas as principais definições e apresentadas as operacionalizações da contabilidade ambiental, considerando as atividades e os processos operacionais da entidade, enfocando as contas patrimoniais e de resultados: Ativo e Passivo Ambiental, Patrimônio Líquido, Custos, Despesas, Perdas e Receitas Ambientais. 3 Contabilidade Socioambiental – 44 – 3.1 Ativo e passivo ambientais Aspectos relacionados a degradação ambiental, impactos ambientais, desperdícios de recursos e ineficiência produtiva podem refletir em consi- deráveis perdas pecuniárias (monetárias) e materiais para qualquer organi- zação. Por outro lado, investimentos em programas ambientais, mitigação dos impactos ambientais, processo produtivo ecoeficiente e um posiciona- mento voltado para ações socioambientais efetivas, embora sejam oriundos de investimentos, configuram-se como grandes oportunidades de resultados mais promissores. Obviamente, a primeira pergunta que vem à mente consiste em: Como é possível lidar com questões ambientais no âmbito da gestão contábil? Primeiramente, para responder a tal pergunta, é preciso lembrar que a contabilidade ambiental (environmental accounting) consiste em uma ver- tente da contabilidade. Nesse alinhamento, as classificações e os registros das contas patrimoniais concernentes ao meio ambiente precisam seguir as mes- mas diretrizes estabelecidas na contabilidade, cujos conjuntos informacionais decorrentes da aquisição de bens, despesas com preservação e manutenção, investimentos em projetos socioambientais, custos, contração de obrigações e compromissos ambientais devem consistir em atribuições da contabilidade ambiental, com base na devida classificação dos elementos patrimoniais de bens e direitos (ativos) ambientais, obrigações (passivo) ambientais e patri- mônio líquido ambiental. 3.1.1 Ativos ambientais Na concepção de Ribeiro (2006, p. 61), os ativos ambientais consistem em “todos os bens e direitos possuídos pelas empresas, que tenham capaci- dade de geração de benefício econômico em períodos futuros e que visem à preservação, proteção e recuperação ambiental”. De forma semelhante, Tinoco e Kraemer (2011, p. 154) apresentam a definição de ativos ambientais como “os bens adquiridos pela companhia que têm como finalidade controle, preservação e recuperação do meio ambiente”. Tais autores ainda esclarecem, com exemplos, o que representam esses ativos: – 45 – Patrimônio ambiental 2 os estoques dos insumos, peças e acessórios etc. utilizados no pro- cesso de eliminação ou redução dos níveis de poluição e de geração de resíduos; 2 os investimentos em máquinas, equipamentos, instalações etc. adquiridos ou produzidos com intenção de amenizar os impactos causados ao meio ambiente; 2 os gastos com pesquisas, visando ao desenvolvimento de tecno- logias modernas, de médio e longo prazo, desde que constituam benefícios ou ações que irão refletir nos exercícios seguintes. A configuração dos ativos ambientais é distinta entre as entidades, obviamente, pelas diferentes atividades econômicas e pelos processos envol- vidos. Não obstante, a estruturação do balanço patrimonial segue a mesma lógica prevista nas convenções contábeis, de modo a classificar os ativos ambientais em ativo circulante (bens e direitos ambientais de curto prazo) e ativo não circulante (bens e direitos ambientais de longo prazo). Ambos englobam os bens destinados especificamente para o controle, a proteção e a preservação ambiental. Cumpre evidenciar que a contabilização do evento ou da transação relativa aos aspectos ambientais passa a ser efetivada no momento em que a entidade obtém o controle ou a posse do ativo ambiental. Segundo a Norma Brasileira de Contabilidade NBC TE XXX – Interação da Entidade com o Meio Ambiente (CFC, 2012), a classificação do ativo ocorrerá da seguinte forma: 2 Ativos circulantes ambientais referem-se aos estoques de insumos (bens e serviços), os quais serão utilizados no processo operacional, ou ao final deste, com o objetivo de reduzir ou eliminar a produ- ção de poluentes, ou, ainda, aqueles com a finalidade de recuperar danos ambientais. 2 Estoques operacionais ambientais devem ser segregados entre ambientais, reciclados e reutilizados, visando proporcionar maior transparência sobre a relação da entidade com o meio ambiente. 2 Ativos não circulantes podem ser formados por contas de Investi- mento Ambiental, Imobilizado Ambiental e Intangível Ambiental. Contabilidade Socioambiental – 46 – 2 Ativos não circulantes ambientais são aqueles cuja realização se dará no longo prazo e associados com a proteção e a recuperação ambiental. 2 Investimentos ambientais são caracterizados por aplicação de recursos na aquisição de áreas de conservação de recursos naturais com o obje- tivo específico de promover a preservação da fauna e da flora – res- salte-se que, mudando a intenção, o ativo tem que ser reclassificado. 2 Imobilizado ambiental são os itens utilizados ao longo de vários períodos, especificamente, para tratar os poluentes oriundos do processo operacional da entidade, durante a operação ou após o final desta. Pode incluir, também, os ativos de longa duração, des- tinados, exclusivamente, à recuperação de áreas degradadas pela entidade em períodos anteriores, enquanto estiverem em atividade. 2 Intangíveis ambientais são os itens incorpóreos controlados pela entidade capazes de produzir fluxos de caixa futuros e que estejam vinculados à interação com o meio ambiente. É importante destacar que os desembolsos relativos às intervenções (tra- tamentos) de contaminação ao meio ambiente, em decorrência das atividades e operações da entidade, deverão ser classificados como ativo não circulante em situações em que: (i) apresentar característica recuperável; (ii) oportunizar a capacidade ou melhoria da segurança e economia dos ativos, bem como o prolongamento de vida útil; ou (iii) ter um momento de preparação do ativo para destiná-lo à vendas. Ainda sob a perspectiva do ativo não circulante, as contas do ativo imobilizado (bens corpóreos) merecem uma tratativa diferenciada, em fun- ção de que esses bens sofrem desgastes ou perda com o passar do tempo (diminuição do valor). Contabilmente, grande parte dos ativos imobilizados, excetuando-se terrenos, configuram em ativo fixo de limitada vida útil con- tábil, e tal classificação é denominada depreciação, amortização ou exaustão. Com base nas diretrizes da Lei n. 6.404/76 (Lei das S.A) (BRASIL, 1976), pode-se conceituar esses itens como: 2 Depreciação acumulada ambiental: registro de perda de valor de direitos de bens físicos relativos à preservação e à recupera- ção ambiental. – 47 – Patrimônio ambiental 2 Amortização acumulada ambiental: registro de perda de valor de capital aplicado na aquisição de direitos de propriedade e quais- quer outros com existência ou exercício de duração limitada, ou cujo objeto sejam bens de utilização por prazo legal ou contratual- mente limitado. 2 Exaustão acumulada ambiental: registro da perda do valor de recursos florestais ou minerais, decorrentes das explorações que resultam no esgotamento dos recursos no transcorrer do tempo. Exemplo: jazidas ou minas. Como o procedimento contábil de exaustão é característico de explora- ção de recursos minerais ou florestais, merecendo certo destaque na contabi- lidade ambiental, um exemplo prático do processo de exaustão de
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