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CASO CONCRETO 04 - TEORIA DO DIREITO PENAL - THAIS TEIXEIRA

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TEORIA DO DIREITO PENAL 
PROFESSOR RAPHAEL PEREIRA DA FONSECA 
Aluna: THAIS TEIXEIRA DA SILVA - 201908498935 
CASO CONCRETO 04 
Leia a notícia abaixo e responda, de forma objetiva e fundamentada às questões formuladas. 
Feminicídio também abrange mulheres transexuais, decide Justiça do DF 
Determinação se deu a partir de caso de vítima agredida em lanchonete, em Taguatinga, no 
ano passado. Suspeitos ainda serão julgados. 
Por Pedro Alves, G1 DF. 
Disponível em: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/noticia/2019/08/09/feminicidiotambem-
abrange-mulheres-transexuais-decide-justica-do-df.ghtml Atualizado em: 09/08/2019. 
 
Determinação se deu a partir de caso de vítima agredida em lanchonete, em Taguatinga, no ano passado. 
Suspeitos ainda serão julgados. A 3ª Turma Criminal do Tribunal de Justiça do Distrito Federal (TDJFT) rejeitou 
recurso e manteve como tentativa de feminicídio um crime cometido contra uma mulher transexual. A decisão 
foi unânime. Os suspeitos ainda serão julgados pelo crime. Ao analisar o caso, o desembargador Waldir 
Leôncio Lopes Júnior entendeu que ?a imputação do feminicídio se deveu ao menosprezo ou discriminação à 
condição de mulher trans da ofendida?. 
O caso 
A decisão foi tomada no caso da estudante Jéssica Oliveira, vítima de tentativa de homicídio em abril do ano 
passado. Ela foi agredida por quatro pessoas dentro de uma lanchonete, em Taguatinga. O crime foi registrado 
por câmeras de segurança (veja acima). As imagens mostram que a transexual foi atingida com socos e 
pontapés. Os suspeitos também usaram cadeiras e uma pedra de 3 quilos para agredir a vítima. À época, a 
Polícia Civil decidiu indiciar os criminosos por tentativa de feminicídio. Foi o primeiro caso envolvendo uma 
transexual a ser tipificado dessa forma no DF. 
Discussão na Justiça 
O Ministério Público do Distrito Federal (MPDFT) também denunciou os acusados pelo crime e a acusação foi 
aceita pela Justiça. Os agressores recorreram da decisão, sob o argumento de que não poderiam ser acusados 
de tentativa de feminicídio, já que a vítima não é "biologicamente do sexo feminino". O MP, por sua vez, 
argumentou pela manutenção da denúncia, já que ?o crime foi praticado contra mulher por razões da condição 
de sexo feminino, em menosprezo e discriminação à condição de mulher?. 
"Dupla vulnerabilidade" 
Ao decidir sobre o caso, o desembargador Waldir Leôncio Lopes Júnior diz estar ciente da polêmica que 
envolve a questão? No entanto, segundo o magistrado, não se pode deixar de considerar a situação de dupla 
vulnerabilidade a que as pessoas transgêneros femininas, grupo ao qual pertence a ofendida, são expostas?. 
?Por um lado, em virtude da discriminação existente em relação ao gênero feminino, e de outro, pelo 
preconceito de parte da sociedade ao buscarem o reconhecimento de sua identidade de gênero?, diz o 
relatório. 
Lei Maria da Penha 
Em maio do ano passado, o TJDFT já havia entendido que a Lei Maria da Penha também é válida para 
transexuais. Polícia registra sete casos graves de violência doméstica durante o fim de semana, em Rondônia. 
À ocasião, o tribunal julgou o caso de uma mulher trans que foi agredida pelo ex-namorado após passeio com 
as amigas. O ataque teria sido motivado por ciúmes. Segundo o entendimento dos desembargadores, "uma vez 
que se apresenta dessa forma, a vítima também carrega consigo todos os estereótipos de vulnerabilidade e 
sujeição voltados ao gênero feminino, combatidos pela Lei Maria da Penha." 
1) Ante o exposto, com base nos estudos realizados nas aulas 1 a 4, responda de forma 
objetiva e fundamentada às questões formuladas: 
a) Os desembargadores, ao considerarem uma mulher transexual como vítima de feminicídio 
se utilizaram de um recurso interpretativo ou integrativo? Diferencie interpretação analógica 
e analogia. 
b) A matéria trata de feminicídio tentado praticado por quatro jovens menores de 18 anos. 
Caso a vítima viesse a falecer três meses após em decorrência das agressões sofridas, seria 
possível imputar tal delito aos envolvidos que tenham completado 18 anos antes do 
falecimento da vítima? 
c) Caso a vítima viesse a falecer a caminho do hospital em decorrência da colisão da 
ambulância na qual se encontrava com um ônibus, o resultado morte seria imputado aos 
adolescentes? 
d) Caso um policial estivesse presente no momento do crime e, por livre e espontânea 
vontade, decidisse não intervir na defesa da vítima, sua conduta teria relevância penal? 
2) Ainda, com base no roteiro de estudos desta aula e dos estudos realizados, solucione a 
questão abaixo: 
 (XXVIII EXAME DE ORDEM UNIFICADO) 
David, em dia de sol, levou sua filha, Vivi, de 03 anos, para a piscina do clube. Enquanto a filha 
brincava na piscina infantil, David precisou ir ao banheiro, solicitando, então, que sua amiga Carla, 
que estava no local, ficasse atenta para que nada de mal ocorresse com Vivi. Carla se comprometeu 
a cuidar da filha de David. Naquele momento, Vitor assumiu o posto de salva-vidas da piscina. 
Carla, que sempre fora apaixonada por Vitor, começou a conversar com ele e ambos ficam de 
costas para a piscina, não atentando para as crianças que lá estavam. Vivi começa a brincar com o 
filtro da piscina e acaba sofrendo uma sucção que a deixa embaixo da água por tempo suficiente 
para causar seu afogamento. David vê quando o ato acontece através de pequena janela no 
banheiro do local, mas o fecho da porta fica emperrado e ele não consegue sair. Vitor e Carla não 
veem o ato de afogamento da criança porque estavam de costas para a piscina conversando. Diante 
do resultado morte, David, Carla e Vitor ficam preocupados com sua responsabilização penal e 
procuram um advogado, esclarecendo que nenhum deles adotou comportamento positivo para gerar 
o resultado. Considerando as informações narradas, o advogado deverá esclarecer que: 
A) Carla e Vitor, apenas, poderão responder por homicídio culposo, já que podiam atuar e 
possuíam obrigação de agir na situação. 
B) David, apenas, poderá responder por homicídio culposo, já que era o único com dever 
legal de agir por ser pai da criança. 
C) David, Carla, Vitor poderão responder por homicídio culposo, já que os três tinham o dever 
de agir. 
D) Vitor, apenas, poderá responder pelo crime de omissão de socorro. 
 
 
 
RESPOSTAS: 
1) a) O desembargadores utilizaram do recurso integrativo (e extensivo) para este caso. 
Efeito integrativo é o efeito provocado no julgamento de um recurso no qual a nova decisão 
não será uma decisão autônoma. Neste caso foi realizado a Interpretação Analógica (onde 
pode ser realizada in bona partem ou in malam partem), em face da vítima ter sofrido 
violência baseada no gênero, agressões que tenham como motivação a opressão à 
mulher. É imprescindível que a conduta do agente esteja motivada pelo menosprezo ou 
discriminação à condição de mulher da vítima, caracterizadas na Lei Maria da Penha e 
condições para Feminicídio. A Analogia (o que é diferente de interpretação analógica), só 
pode ser usada em benefício do réu, ou seja, in bona partem (em prol do réu – acusado). 
1) b) Não, pois o fato ocorreu quando ainda eram menores de 18 anos ( na condição de 
inimputáveis), mesmo que o resultado ocorra após, o que se leva em consideração foi 
quando ocorreu ou deveria ter ocorrido o resultado do delito (Teoria da atividade). Nosso 
Código Penal, em seu 4º artigo, adotou a teoria da atividade, dispondo que “considera-se 
praticado o crime no momento da ação ou omissão, ainda que outro seja o momento do 
resultado”. A Teoria do resultado e a Teoria da Ubiquidade, que considera o tempo do 
crime tanto o momento da ação ou omissão quanto o momento da produção do resultado 
(ex.: local do disparo ou local do óbito). No Código Penal vigente, no artigo 27 “Os menores 
de 18 (dezoito) anos são penalmente inimputáveis, ficando sujeitos às normas 
estabelecidas na legislação especial” ainda que concretamentepossam ter discernimento. 
Adotou o critério biológico, levando-se em conta apenas o desenvolvimento mental do 
acusado (idade), independente de, se ao tempo da ação ou omissão, tinha ele a 
capacidade de entendimento e autodeterminação, também expressa nos artigos 228 da 
CF/88 e no artigo 104 do ECA. Neste caso de inimputabilidade, o Estado fica responsável 
por aplicar medidas corretivas estabelecidas em legislação especial. 
1) c) Não, pois ocorreu por fato fortuito ou de força maior, considerado como uma situação 
de atipicidade e não ausência de conduta. Se os adolescente não fossem inimputáveis, 
poderiam talvez responder pela tentativa. 
1) d) O policial responderia criminalmente pela omissão, por ser agente garantidor, e 
expressamente obrigado a agir conforme disposto em lei. 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem 
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria 
ocorrido. 
Relevância da omissão 
§ 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar 
o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; (no caso o policial se 
enquadra como quando podendo agir, obrigado a evitar o resultado). 
2) a) Carla e Vitor, apenas, poderão responder por homicídio culposo, já que podiam atuar e 
possuíam obrigação de agir na situação. 
Carla (a amiga que se comprometeu a cuidar) e Vitor (salva-vidas do local) estão na 
posição de garantidores, razão pela qual respondem pelo resultado naturalístico que 
deveriam ter evitado e não evitaram. David, não obstante também seja garante (já que pai 
da vítima), estava preso em um ambiente (no banheiro) e impossibilitado de agir. 
No Código Penal fica expresso: 
Art. 13 - O resultado, de que depende a existência do crime, somente é imputável a quem 
lhe deu causa. Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria 
ocorrido. 
 § 2º - A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar 
o resultado. O dever de agir incumbe a quem: 
 a) tenha por lei obrigação de cuidado, proteção ou vigilância; 
 b) de outra forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado;

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