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DIREITO PENAL E PROCESSO PENAL APLICADOS MÓDULO 1: PRINCÍPIOS DAS CIÊNCIAS CRIMINAIS TEMA 1 – PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EXPLÍCITOS I Aula IV – Anterioridade TEXTO Com previsão expressa contigua ao Princípio da Legalidade, no art. 5º, XXXIX, da Constituição Federal, a Anterioridade estabelece que as leis incriminadoras só podem ser aplicadas para fatos póstumos, portanto praticados após o início de sua vigência. Este princípio é vital para a eficácia da Legalidade, garantindo prévia ciência aos destinatários, quanto aos comportamentos definidos como ilícitos, bem como a respectiva reprimenda a eles cominada, permitindo que, munidos desse conhecimento, optem por infringir ou não a norma incriminadora. Por certo, a missão da Anterioridade é conferir ao sujeito a proteção contra abusos pelo Estado, assegurando que não se crie sanção especificamente voltada a determinado comportamento pretérito. Em verdade, restaria inócuo restringir a atuação do Estado aos casos disciplinados em lei, se esta pudesse retroagir aos fatos já praticados, assim ensejando a imposição de reprimenda, até então sequer prevista. Fosse assim, estaríamos admitindo a vulnerabilidade do cidadão, uma vez sujeito a incertezas e imprevisões quanto a proibição de seus atos. Justamente para evitar tal disparate, segue-se a regra 1 imposta pela Anterioridade, segundo a qual a lei incriminadora tem alcance limitado, compreendendo somente os fatos praticados após a sua concepção. 1 Em aula destacada, estudaremos a exceção quando tratarmos da extratividade da lei penal benéfica Em última análise, depreende-se que a Anterioridade confere segurança jurídica ao cidadão, impedindo que seja responsabilizado por algo concretamente perpetrado, quando ainda não regulamentado. ANTERIORIDADE EM RELAÇÃO A SANÇÃO Repetindo o preceito constitucional, o art. 1º do Código Penal prevê, ao final, que não há pena sem prévia cominação legal, garantindo não ser a anterioridade característica exclusiva da previsão do comportamento típico, mas também da cominação das reprimendas. Nesse passo, a Anterioridade determina o dever de cientificar ao sujeito não apenas o comportamento vedado pela norma, mas a respectiva resposta penal conferida, em caso de descumprimento. Ademais, impõe a fixação prévia dos limites mínimo e máximo das penas, dispondo acerca da longevidade pela qual pode se estender a limitação da liberdade do infrator, pelo Estado. Como cediço, não pode o Estado cercear a liberdade do sentenciando por prazo indeterminado, uma vez inadmissível a existência de título judicial penal incerto. Em outras palavras, as sentenças condenatórias devem respeitar as balizas legais, fixando reprimendas por tempo certo, assim determinadas de acordo com a previsão anterior contida em lei. Sob esse aspecto, diversas críticas são levantadas quanto a ausência de prazo máximo de execução das medidas de segurança, uma vez extensíveis por período indeterminado aos inimputáveis, embora conferidas em razão da prática de determinada infração, para qual são previstos limites legais de cerceamento pelo Estado. Por fim, não só em relação aos limites temporais, mas também quanto as espécies de sanções cominadas, a Anterioridade deve ser respeitada, não se podendo estipular reprimenda distinta daquela (s) cominada (s) para a prática delitiva. Em síntese, acerca das sanções, igualmente a Anterioridade funciona como vetor para a efetivação da Legalidade, restringindo a imposição das reprimendas àquelas previamente cominadas aos tipos penais incriminadores. LEITURA COMPLEMENTAR 1. O Direito Penal Simbólico – conceito e efeitos O Direito Penal Simbólico é aquele que tem uma "fama" de ser rigoroso demais e por esse motivo acaba sendo ineficaz na prática, por trazer meros símbolos de rigor excessivo que, efetivamente, caem no vazio, diante de sua não aplicação efetiva, justamente pelo fato de ser tão rigoroso. Hoje em dia, o Brasil passa por uma fase onde leis penais de cunho simbólico são cada vez mais elaboradas pelo legislador infraconstitucional. Essas leis de cunho simbólico, de acordo com a jurista Ada Pellegrini Grinovver, trazem uma forte carga moral e emocional, revelando uma manifesta intenção pelo Governo de manipulação da opinião pública, ou seja, tem o legislador infundindo perante a sociedade uma falsa ideia de segurança. Não se pode deixar de falar aqui sobre a teoria do Abolicionismo Penal que desenvolveu-se principalmente na Europa, tendo como marca o seu posicionamento extremo. O abolicionismo Penal revelou-se como o meio mais radical de enfrentar a realidade do Direito Penal, tendo sua doutrina pregado a substituição do Direito Penal por outras formas não punitivas de solução dos delitos praticados. A doutrina do Abolicionismo penal preconiza que o Direito Penal, não é o único meio de repressão a violência, pois que apenas impõe punição, conforme ensinamentos do Professor Tourinho Filho. Não se pode deixar passar que apesar do abolicionismo ter fracassado nos países onde surgiu (Escandinavos e Holanda), sua grande contribuição é a humanização defendida em face da falência do direito de punir do Estado, que se mostrou incompetente em ressocializar o infrator e de lhe possibilitar um cumprimento de pena digno à sua qualidade de ser humano. Na realidade, o processo penal tem uma função garantista dada ao cidadão de que todos os direitos previstos na Constituição lhe serão assegurados, pois de nada adianta, v.g., assegurar-lhe o direito de ampla defesa como todos os meios e recursos a ela inerentes (cf. art. 5º, LV) se a sanção penal lhe foi aplicada sem que pudesse se defender dos fatos que lhe foram imputados; se sequer foi citado para responder a acusação; ou, por último, se foi condenado por fato diverso do que constava na denúncia ( ensinamentos de Claus ROXIN). O que é importante entender na verdade é que os termos "simbólico", "símbolo", "simbolismo" etc. são, inegavelmente, utilizados nas mais diversas áreas da produção cultural do homem, freqüentemente sem que houvesse qualquer necessidade de uma definição prévia, uma vez que se trata de expressões de significado bastante evidente, ou seja, unívoco, partilhado de forma universal, em que pese algumas opiniões divergentes. Sobre o assunto ROXIN diz: “Assim, portanto, haverá de ser entendida a expressão "direito penal simbólico", como sendo o conjunto de normas penais elaboradas no clamor da opinião pública, suscitadas geralmente na ocorrência de crimes violentos ou não, envolvendo pessoas famosas no Brasil, com grande repercussão na mídia, dada a atenção para casos determinados, específicos e escolhidos sob o critério exclusivo dos operadores da comunicação, objetivando escamotear as causas históricas, sociais e políticas da criminalidade, apresentando como única resposta para a segurança da sociedade a criação de novos e mais rigorosos comandos normativos penais.” É natural, desta forma que entre as principais necessidades e aspirações da sociedade humana, erija-se a segurança jurídica como uma das mais importantes, pois sabe-se que o convívio dos homens entre si gera sempre conflitos. Tais conflitos, como a própria história já demonstrou, necessitam ser equacionados e solucionados, tendo o direito como principal finalidade a dirimência dos conflitos existentes na sociedade, visando dar garantia e segurança aos indivíduos, restabelecendo a ordem e mantendo o equilíbrio social. Daí porque não há pessoa, grupo social, entidade pública ou privada, que não tenha necessidade de segurança, para atingir seus objetivos e até mesmo de sobreviver, pois é certo que uma sociedade sem direito, sem normas, semleis, não possui segurança e corre grande risco. Alguns, contudo, pelo fato de ser quase unânime o reconhecimento dessa necessidade, passaram a considerar a segurança como um dos objetivos fundamentais da ordem social, relegando outros valores tão ou mais importantes para segundo plano. 2. O Direito Penal Mínimo e o Intervencionismo Penal O penalista e doutrinador Paulo Queiroz diz: “Dizer que a intervenção do Direito Penal é mínima significa dizer que o Direito Penal deve ser a 'ultima ratio, limitando e orientando o poder incriminador do Estado, preconizando que a criminalização de uma conduta somente se justifica se constituir um meio necessário para a proteção de determinado bem jurídico. O Direito Penal somente deve atuar quando os demais ramos do Direito forem insuficientes para proteger os bens jurídicos em conflito.” Pelo Direito Penal Mínimo se outras formas de sanção ou controle social forem eficazes e suficientes para a tutela dos bens jurídicos, a sua criminalização não é recomendável conflitando com um Direito Penal simbólico que atualmente se insere no ordenamento jurídico pátrio. No atual contexto brasileiro, de um Estado Democrático de Direito, é difícil negar que o Direito Penal mais coerente seja o chamado Direito Penal Mínimo. Ou seja, um Direito Penal assentado nas máximas garantias constitucionais; sobretudo, nos princípios basilares advindos, expressa ou implicitamente, da Carta Magna, tais como: o princípio da dignidade da pessoa humana (base de todos os outros), o princípio da intervenção mínima, princípio da ofensividade, princípio da insignificância, princípio da legalidade, dentre tantos outros. Assim, de acordo com Callegari, se faz necessária uma efetiva descriminalização de certos tipos penais que realmente não afrontam bens jurídicos importantes. A manutenção desses tipos incriminadores, de pouca relevância, só atrapalha a atividade policial, que ao invés de estar atuando nos casos de real importância, perde seu tempo com verdadeiras bagatelas; também, o exercício da Justiça Criminal, que se mantém emperrada devido ao grande número de processos versando sobre questões irrelevantes. O renomado professor Callegari diz: “Haja vista que o Direito Penal lida com o bem jurídica liberdade, um dos mais importantes dentre todos, nada mais lógico do que esse ramo do Direito obrigar-se a dispor das máximas garantias individuais. E mais, conhecendo o nosso sistema carcerário, fica claro que só formalmente a atuação do Direito Penal restringe-se à privação da liberdade. Na prática, a sua ação vai mais além, afetando, muitíssimas vezes, outros bens jurídicos de extrema importância, como a vida, a integridade física e a liberdade sexual, verbi gratia; uma vez que no atual sistema prisional são freqüentes as ocorrências de homicídios, atentados violentos ao pudor, agressões e diversos outros crimes entre os que ali convivem.” Também, por esses mesmos motivos que já foram citados não podem indubitavelmente fazer parte da tutela do Direito Penal as pequenas ofensas, devendo ser observado ao máximo o seu caráter subsidiário . Estas pequenas infrações devem passar a ser protegidas por outros ramos do Direito, menos gravosos, como o Direito Administrativo, Direito Civil, dentre outros. No entanto, ao passo que haja a implementação de um Direito Penal mínimo, não se pode descuidar de suas principais missões. Entre estas, por exemplo, está uma das mais importantes, que é a de se conter a vingança privada. Uma vez que o Estado passa a assumir o monopólio do castigo, o que se espera é evitar-se a imposição desse castigo pelos particulares. Callegari ainda diz: “Acontece que quando o Estado, através do Direito Penal, único ramo do ordenamento jurídico competente para cuidar da cominação de penas, passa a descuidar-se desse aspecto, dá lugar às crescentes investidas violentas por parte dos indivíduos na suposta realização de justiça. Na atualidade, os inúmeros casos de linchamentos que vêm acontecendo constantemente, assim como as incontáveis ações dos chamados grupos de extermínio, demonstram que o Direito Penal atual não está, ao menos de forma eficiente, cumprindo sua missão de contenção da violência privada.” O sistema de execução penal brasileiro, e o mesmo ocorre a nível mundial, conserva desde sua origem, a privação da liberdade como seu maior elemento estruturador. Ou seja, na grande maioria dos casos não há pena sem que se leve em conta a privação da liberdade De longa data pensadores, juristas, pessoas e instituições defensoras dos direitos humanos alertam para o que hoje vemos acontecer, a falência da estrutura de execução penal. A sociedade acaba pr ficar insegura e vítima constante da violência urbana, assiste estarrecida às horríveis cenas protagonizadas pelos seus "algozes" que, em cumprimento de pena, devem retornar, no final, ao seu convívio. Quanto à alternatividade de penas, Callegari afirma: “Desde muito assistimos sua aplicação e, nosso estado, mantendo a tradição de vanguarda no panorama jurídico nacional, já as tem utilizado em larga escala, proporcionando que muitos apenados, ao invés de superlotarem os presídios cumpram suas penas em regime de liberdade, exercendo atividades laborais junto a empresas e instituições integrantes ou não do governo.” Quanto ao fato da descriminação, esta já tem merecido certa atenção e maior destaque receberá, pelo ineditismo e pela incógnita que é. Excluir a criminalidade de condutas implica em revisar o conceito de crime, de tal maneira que o que hoje é considerado crime, amanhã, não o será. Que critérios devem ser utilizados para isso é o grande questionamento do momento. Para a íntegra do texto, segue link abaixo: O Direito Penal simbólico, o Direito Penal mínimo e a concretização do garantismo penal LEGISLAÇÃO Constituição Federal Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo- se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXIX - não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem prévia cominação legal. Código Processo Penal – CPP (Decreto-Lei nº 3.689, de 03 de outubro de 1941) Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados: http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/www.inverbis.com.br?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6154&revista_caderno=3 http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php/www.inverbis.com.br?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=6154&revista_caderno=3 I - os tratados, as convenções e regras de direito internacional; II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100); III - os processos da competência da Justiça Militar; IV - os processos da competência do tribunal especial (Constituição, art. 122, no 17); V - os processos por crimes de imprensa. (Vide ADPF nº 130) Parágrafo único. Aplicar-se-á, entretanto, este Código aos processos referidos nos nos. IV e V, quando as leis especiais que os regulam não dispuserem de modo diverso. JURISPRUDÊNCIA AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL. RECURSO MINISTERIAL. PROGRESSÃO DE REGIME. FALTA GRAVE. REINÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO PARA CONCESSÃO DO BENEFÍCIO A CONTAR DA ÚLTIMA FALTA GRAVE. CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS COMETIDO ANTERIORMENTE À LEI 8072/90. PRÁTICA DE NOVO CRIME DE TRÁFICO, AGORA NA VIGÊNCIA DA LEI DOS CRIMES HEDIONDOS. NÃO CONFIGURAÇÃO DA REINCIDÊNCIA ESPECÍFICA EM CRIME DE NATUREZA HEDIONDA. PRINCÍPÍO DA ANTERIORIDADEDA LEI PENAL. POSSIBILIDADE, EM TESE, DE OBTENÇÃO DO LIVRAMENTO CONDICIONAL, APÓS CUMPRIMENTO DE 2/3 DA PENA DA SEGUNDA CONDENAÇÃO. 1. O condenado que cometer falta grave e estiver em regime fechado, sem possibilidade de regredir para regime mais severo, hipótese em tela, ficará sujeito ao efeito secundário de regressão, qual seja, à interrupção do tempo para fins de progressão de regime, conforme interpretação dos artigos 112 e 118 da Lei de Execucoes Penais. 2. Pretende o agravante que o agravado não mais possa se beneficiar do livramento condicional com o cumprimento de 1/6 da pena, eis que http://www.stf.jus.br/portal/processo/verProcessoAndamento.asp?incidente=12837 seria reincidente específico em delitos da mesma natureza, embora tenha somente o 2º delito sido cometido sob a égide da Lei 8072/90, na qual foram enumerados os crimes hediondos e assemelhados, dentre eles, o tráfico ilícito de entorpecentes. Aplicação do princípio da anterioridade da lei penal. 3. Verifica-se que, para efeito de cálculo para aquisição do benefício do livramento condicional, tem-se que a encampação do entendimento exposto em razões recursais resultaria, inexoravelmente, em ilegalidade, na medida em que o 1º delito foi cometido anteriormente à lei 8072/90, que enumerou os crimes hediondos e assemelhados, dentre eles o tráfico ilícito de entorpecentes. Assim, a condenação no crime de tráfico (2º delito) sob a égide deste diploma legal não faz do agravado reincidente específico em crimes dessa natureza, conforme referido no art. 83, V, do CP, embora ostente ele condição de reincidente específico, sem a qualificação da hediondez, face ao princípio da anterioridade da lei penal. RECURSO PROVIDO PARCIALMENTE. (TJ-RJ - EP: 00082312620148190000 RJ 0008231-26.2014.8.19.0000, Relator: DES. CLAUDIO TAVARES DE OLIVEIRA JUNIOR, Data de Julgamento: 26/03/2014, OITAVA CAMARA CRIMINAL, Data de Publicação: 28/03/2014 12:05). BIBLIOGRAFIA NUCCI, Guilherme de Souza, Princípios Constitucionais Penais e Processuais Penais. 4. ed. Rio de janeiro: Forense, 2015 – págs. 118 a 119; NUCCI, Guilherme de Souza, Código Penal Comentado. 16. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016 – nota 1-F e 6 do art. 1º; NUCCI, Guilherme de Souza, Curso de Direito Penal. Rio de Janeiro: Forense, 2017. Vol. 1, págs. 72,171 a 174.
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