Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
Modulo 01: Mito e Filosofia O MITO É quase um consenso entre os estudiosos de Filosofia que existiu uma forma anterior à das explicações filosóficas, que podemos denominar de explicação mítica. Chamaremos aqui, pois, de mito, toda tentativa de explicação que antecede, em uma sociedade humana, as buscas de compreensão ancoradas mais firmemente na razão (Filosofia) ou mesmo em tentativas de experimentação para as teorias propostas (Ciência). O ser humano, nos primeiros estágios de seu desenvolvimento rumo à racionalidade, tinha extrema dificuldade para explicar os fenômenos que o cercavam. Qual é o motivo para períodos longos de seca, seguidos de outros, abundantes de chuvas? Por que, enquanto chove, os raios e os trovões se fazem presentes? Em função de quê a alternância do dia e da noite? Ou de forma mais existencial: De onde viemos? Para onde vamos? O que estamos exatamente fazendo aqui? Na ausência de respostas racionais ou científicas para questões de tão necessária compreensão, surgem então as explicações míticas. De acordo com Auguste Comte, num primeiro momento, as divindades serão forças da natureza fetichizadas, ou seja, que ganham uma vida diferente daquela que realmente possuem, e o sol se transforma em divindade, e a lua em outra, e a floresta em outra. As divindades africanas, presentes na umbanda ou no candomblé, até hoje são ligadas a forças ou elementos da natureza. Desse modo surgem também as divindades gregas, como Poseidon, o deus das águas, Atena, a deusa da sabedoria, ou Afrodite, a deusa do amor. Vale ressaltar que os deuses gregos são antropomórficos, ou seja, possuem forma humana, e, além disso, sentimentos humanos, como amor, e ódio. Mentem, enganam, o que demonstra claramente sua imperfeição, e não são, como o Deus abraãmico, seres com poder ilimitado. A dificuldade de explicação racional citada acima no texto, assim, não permitia aos gregos conhecer muitas coisas que os cercavam, tais como os fenômenos da natureza, e quando se deparavam com algo que, para eles, era inexplicável (como o trovão e o relâmpago, por exemplo) estes homens se espantavam, isto é, temiam, naturalmente, o desconhecido. Contudo buscavam conhecer o que estava acontecendo ao seu redor, isto é, conhecer a ordem natural do mundo, o que implica, também, compreender as causas e efeitos dos fenômenos naturais. A COSMOGONIA A palavra cosmogonia vem da junção de duas palavras Gregas, quais sejam: Cosmos que significa mundo ordenado e organizado e gonia que significa geração, nascimento. De maneira que cosmogonia pode ser compreendida como uma narrativa sobre o nascimento e a organização do mundo, a partir de forças gerativas. A MITOLOGIA A primeira explicação encontrada por estes indivíduos para os fenômenos se pautou na formação da sua primeira idéia de divindade, ou seja, os deuses criaram os relâmpagos e os trovões no intuito de se comunicar com os homens. Como já foi dito anteriormente, o conhecimento desses primeiros homens era estritamente baseado nos sentidos e, por isso, percebe-se nos relatos mitológicos a menção a deuses, com características humanas (como Zeus que trai sua esposa Era com uma humana e tem um filho semi-Deus, Hércules; alem das constantes lutas entre os deuses), sendo que, de certo modo, existia um Deus para cada necessidade dos homens. Talvez por essa razão, atualmente, tem-se os mitos como fábulas ou contos folclóricos, o que é completamente errado. Os mitos gregos são provenientes de uma tradição oral muito forte, como na maioria dos povos antigos, sociedades ágrafas, transmitida de geração em geração pelos poetas. É necessário distinguir, no entanto, duas classes de poetas, quais sejam: os aedos, aos quais á atribuída a autoria das narrativas, dos quais os principais exemplos são Hesíodo (Teogonia) e Homero (Ilíada e Odisséia); e os rapsodos, responsáveis pela transmissão oral dos poemas. A questão central é que os autores dos poemas não são exatamente os aedos, mas as divindades que falariam por meio deles, como se pode notar pela citação abaixo, que pertence ao início da Ilíada, de Homero. Canta-me a cólera – ó deusa – funesta de Aquiles Pelida, causa que foi de os Aquivos sofrerem trabalhos sem conta e de baixarem para o Hades as almas de heróis numerosos e esclarecidos, ficando eles próprios aos cães atirados e como pasto das aves. (HOMERO. Ilíada. Rio de Janeiro: Ediouro, 1996, p.43) Quem narra é a deusa, a musa, e isso está bem claro na passagem. É isso que faz com que o mito seja tão respeitado, à semelhança da Bíblia, escrita por homens e inspirada por Deus, e é esse o motivo pelo qual somente a confluência de uma série de fatores históricos, no seu conjunto, permitiu que essa forma de explicação de mundo fosse questionada com eficácia no imaginário grego. A guerra de Tróia, por exemplo, ocorre por causa de intrigas entre os deuses e deusas do Olimpo, e seu desfecho, a queda das muralhas, foi decidido pelo príncipe troiano Páris, antes sequer dos conflitos terem início. A idéia de um destino imutável e controlado pelos deuses é uma das estruturas lógicas presentes nas explicações míticas. O processo de ordenamento do mundo também é explicado, lembrando que para o grego não existe criação, pois tudo que existe sempre existiu. O surgimento ou domínio de alguns instrumentos ou técnicas, como o uso do fogo, também estaria explicado nas narrativas míticas. O NASCIMENTO A FILOSOFIA: LOGOS CONDIÇÕES HISTÓRICAS QUE PROPICIARAM O SURGIMENTO DA FILOSOFIA Por um longo período, que vai aproximadamente do século VIII ao V a.C, diversas condições foram amadurecendo e favorecendo o aparecimento e a consolidação de uma forma mais racional de compreensão da realidade e dos próprios seres humanos. É sempre importante lembrar que não há uma ruptura entre o mito e o pensamento filosófico, visto que os mitos continuam presentes na vida de grande parte da população, ao passo que a filosofia, no começo, era prática de poucos, extremamente elitizada que era. Dentre os principais fatores históricos que, na sua confluência, resultaram em um maior espaço para a aparição de explicações racionais, seguem-se os mais relevantes. - AS VIAGENS MARÍTIMAS, que geraram dois efeitos mais diretos: as trocas culturais, que conduziram os gregos a um contato com outros povos que originou a geometria, por exemplo, em função da experiência egípcia, ou a história, derivada das genealogias dos babilônios; e o descrédito com relação à palavra do poeta, pois a desmistificação se deu, nesse momento, com a decadência do mito. Vale ressaltar que quem narrava os eventos passados não era exatamente o poeta, simples transmissor das informações que recebia das musas, que consistiam em divindades gregas. - A INVENÇÃO DO CALENDÁRIO, que demonstra o amadurecimento da capacidade de abstração ao qual havia chegado o povo grego, pois rompe-se com o tempo cíclico, baseado principalmente na natureza, para adotar uma noção linear, baseada sobretudo na observação astronômica, que permite, inclusive, uma maior precisão na datação dos eventos. - A INVENÇÃO DA MOEDA, que permitiu uma forma de troca que não se realizava através das coisas concretas ou dos objetos concretos trocados por semelhantes, mas uma troca abstrata, uma troca feita pelo cálculo do valor semelhante das coisas diferentes, revelando, portanto, uma nova capacidade de abstração e de generalização; - A INVENÇÃO DA ESCRITA ALFABÉTICA, que conduz, com a diminuição considerável do número de símbolos, assim como com a ampliação de seu grau de abstração, uma maior democratização do contato com a escrita. Vale ressaltar que os gregos não inventaram a escrita, mas um alfabeto com um número bastante reduzido de signos. A filosofia, assim como qualquer conhecimento sistematizado, demanda registro, por isso a escrita alfabética é tão relevante. - O SURGIMENTO DA POLIS (Cidade Estado), As póleis eram cidades relativamentepequenas, com autonomia bélica, econômica e política. Em função da geografia do território grego, extremamente acidentado, não foi possível organizar um grande império, o que conduziu à formação das Cidades Estados. Atenas, por exemplo, representa até hoje um modelo de democracia direta, aquela em que todos os cidadãos auxiliam a decidir as questões políticas. Na ágora, espaço circular no centro da cidade, os cidadãos se reuniam para decidir os rumos a serem tomados pela coletividade. Deve-se lembrar, no entanto, que os critérios de cidadania só abrangiam os homens, com maioridade, filhos de mulheres atenienses, que tivessem terras e escravos. Isso correspondia, na prática, a mais ou menos 10% da população total. No entanto, isso é muito diferente de uma época na qual as divindades falavam e os homens simplesmente concordavam em função da autoridade de quem falava. A COSMOLOGIA A palavra cosmologia é derivada de duas palavras Gregas, a saber: Cosmos que significa mundo ordenado e organizado e logos que significa pensamento racional. Dessa forma podemos defini-la como a busca de um conhecimento racional acerca da ordem do mundo, estudo do mundo existente, diferente das cosmogonias míticas, que se pretendiam narrativas de como a realidade havia se originado ou funcionava. A PALAVRA FILOSOFIA – PHILO-SOPHIA É atribuída ao filósofo grego Pitágoras de Samos (aquele do teorema!) a formulação da palavra filosofia. Ele afirmara que pertence aos deuses a sabedoria plena e completa, mas que os homens podem desejá-la ou amá-la, tornando-se filósofos. A palavra filosofia é grega. É composta por duas outras: philo e sophia. Philo deriva-se de philia, que significa amizade, amor fraterno, respeito entre os iguais. Sophia, quer dizer sabedoria e dela vem à palavra sophos, sábio. Filosofia significa, portanto, o amor, no sentido de amizade, pela sabedoria, e a postura do filósofo é justamente a daquele que busca constantemente, ciente que jamais possuirá totalmente o objeto do seu amor. De acordo com o filósofo da ciência do século XX Karl Popper, quanto mais conhecimento, maior é a consciência do indivíduo de sua ignorância. O Pensador Auguste Rodin Desse modo, a prática filosófica dispensa o pedantismo, o exibicionismo intelectual, a arrogância. É em função disso que Sócrates se transforma no filósofo por excelência, com sua conhecida máxima: sei que nada sei. Exercícios propostos: QUESTÃO 01: (Unimontes) O conhecimento científico é uma conquista recente da história da humanidade. Ele tem apenas pouco mais de trezentos anos e surgiu no século XVII com a revolução galileana. Durante vários séculos, as indagações humanas foram respondidas de forma mitológica e com conceitos filosóficos e teológicos. Quando estudamos a questão do conhecimento, temos a percepção de que somente a ciência tem a resposta definitiva para os problemas da vida humana. Das afirmações abaixo que se referem à ciência, marque a CORRETA. A) A ciência não é a única maneira de responder às questões da vida. Podemos também encontrar respostas satisfatórias nos mitos e na religião. B) A ciência é a única forma absoluta de responder às questões do nosso tempo, pois somente ela possui a verdade. C) A ciência é irrefutável e somente ela possui a verdade. D) A ciência é a única via de resposta para a história da humanidade, pois somente ela possui métodos seguros e irrefutáveis. QUESTÃO 02: (UFU) Leia o texto e as assertivas abaixo a respeito das relações entre o nascimento da filosofia e a mitologia. O nascimento da filosofia na Grécia é marcado pela passagem da cosmogonia para a cosmologia. A cosmogonia, típica do pensamento mítico, é descritiva e explica como do caos surge o cosmos, a partir da geração dos deuses, identificados às forças da natureza. Na cosmologia, as explicações rompem com a religiosidade: a arché (princípio) não se encontra mais na ordem do tempo mítico, mas significa princípio teórico, enquanto fundamento de todas as coisas. Daí a diversidade de escolas filosóficas, dando origem a fundamentações conceituais (e portanto abstratas) muito diferentes entre si. ARANHA, M. L. A; MARTINS, M. H. P. Filosofando. São Paulo: Moderna, 1993, p. 93. I - Uma corrente de pensamento afirma que houve ruptura completa entre mito e filosofia, tal corrente é a que defende a tese do milagre grego. II - Outra corrente de pensamento afirma que não houve ruptura completa entre mito e filosofia, mas certa continuidade, é a que defende a tese do mito noético. Assinale a alternativa correta. A) I é falsa e II verdadeira. B) I é verdadeira e II falsa. C) I e II são verdadeiras. D) I e II são falsas. QUESTÃO 03: (UFU) A atividade intelectual que se instalou na Grécia a partir do séc. VI a.C. está substancialmente ancorada num exercício especulativo-racional. De fato, ―[...] não é mais uma atividade mítica (porquanto o mito ainda lhe serve), mas filosófica; e isso quer dizer uma atividade regrada a partir de um comportamento epistêmico de tipo próprio: empírico e racional‖. SPINELLI, Miguel. Filósofos Pré-socráticos. Porto Alegre: EDIPUCRS, 1998, p. 32. Sobre a passagem da atividade mítica para a filosófica, na Grécia, assinale a alternativa correta. A) A mentalidade pré-filosófica grega é expressão típica de um intelecto primitivo, próprio de sociedades selvagens. B) A filosofia racionalizou o mito, mantendo-o como base da sua especulação teórica e adotando a sua metodologia. C) A narrativa mítico-religiosa representa um meio importante de difusão e manutenção de um saber prático fundamental para a vida cotidiana. D) A Ilíada e a Odisseia de Homero são expressões culturais típicas de uma mentalidade filosófica elaborada, crítica e radical, baseada no logos. Questões Enem: QUESTÃO 01: “Entre os ‘físicos’ da Jônia, o caráter positivo invadiu de chofre a totalidade do ser. Nada existe que não seja natureza, physis. Os homens, a divindade, o mundo formam um universo unificado, homogêneo, todo ele no mesmo plano: são as partes ou os aspectos de uma só e mesma physis que põem em jogo, por toda parte, as mesmas forças, manifestam a mesma potência de vida. As vias pelas quais essa physis nasceu, diversificou-se e organizou-se são perfeitamente acessíveis à inteligência humana: a natureza não operou ‘no começo’ de maneira diferente de como o faz ainda, cada dia, quando o fogo seca uma vestimenta molhada ou quando, num crivo agitado pela mão, as partes mais grossas se isolam e se reúnem.” VERNANT, Jean-Pierre. As origens do pensamento grego. Trad. de Ísis Borges B. da Fonseca. 12.ed. Rio de Janeiro: Difel, 2002. p.110. O fragmento trará do contexto de surgimento da filosofia. Sobre tal temática, a partir do fragmento, é possível inferir que A) para explicar o que acontece no presente é preciso compreender como a natureza agia “no começo”, ou seja, no momento original. B) a explicação para os fenômenos naturais pressupõe a aceitação de elementos sobrenaturais. C) o nascimento, a diversidade e a organização dos seres naturais têm uma explicação natural e esta pode ser compreendida racionalmente. D) a razão é capaz de compreender parte dos fenômenos naturais, mas a explicação da totalidade dos mesmos está além da capacidade humana. E) a diversidade de fenômenos naturais pressupõe uma multiplicidade de explicações e nem todas estas explicações podem ser racionalmente compreendidas. QUESTÃO 02: “Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.” Fonte: JAEGER. W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed.São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia na Grécia, é possível inferir que a filosofia A) em que pese ser considerada como criação dos gregos, se origina no Oriente sob o influxo da religião e apenas posteriormente chega à Grécia. B) apresenta uma ruptura radical em relação aos mitos, representando uma nova forma de pensamento plenamente racional desde as suas origens. C) apesar de ser pensamento racional, se desvincula dos mitos de forma gradual, sem rupturas. D) e mito sempre mantiveram uma relação de interdependência, uma vez que o pensamento filosófico necessita do mito para se expressar. E) já estava no mito, uma vez que este buscava respostas para problemas que até hoje são objeto da pesquisa filosófica. Exercícios de fixação: 1- Leia atentamente os textos abaixo, respectivamente, de Platão e de Aristóteles: [...] a admiração é a verdadeira característica do filósofo. Não tem outra origem a filosofia. (PLATÃO, Teeteto. Tradução de Carlos Alberto Nunes. Belém: Universidade Federal do Pará, 1973. p. 37.) Com efeito, foi pela admiração que os homens começaram a filosofar tanto no princípio como agora; perplexos, de início, ante as dificuldades mais óbvias, avançaram pouco a pouco e enunciaram problemas a respeito das maiores, como os fenômenos da Lua, do Sol e das estrelas, assim como a gênese do universo. E o homem que é tomado de perplexidade e admiração julga-se ignorante (por isso o amigo dos mitos é, em certo sentido, um filósofo, pois também o mito é tecido de maravilhas); portanto, como filosofavam para fugir à ignorância, é evidente que buscavam a ciência a fim de saber, e não com uma finalidade utilitária. (ARISTÓTELES. Metafísica. Livro I. Tradução Leonel Vallandro. Porto Alegre: Globo, 1969. p. 40.) Com base nos textos acima e nos conhecimentos sobre a origem da filosofia, é correto afirmar: A) A filosofia surgiu, como a mitologia, da capacidade humana de admirar-se com o extraordinário e foi pela utilidade do conhecimento que os homens fugiram da ignorância. B) A admiração é a característica primordial do filósofo porque ele se espanta diante do mundo das ideias e percebe que o conhecimento sobre este pode ser vantajoso para a aquisição de novas técnicas. C) Ao se espantarem com o mundo, os homens perceberam os erros inerentes ao mito, além de terem reconhecido a impossibilidade de o conhecimento ser adquirido pela razão. D) Ao se reconhecerem ignorantes e, ao mesmo tempo, se surpreenderem diante do anseio de conhecer o mundo e as coisas nele contidas, os homens foram tomados de espanto, o que deu início à filosofia. E) A admiração e a perplexidade diante da realidade fizeram com que a reflexão racional se restringisse às explicações fornecidas pelos mitos, sendo a filosofia uma forma de pensar intrínseca às elaborações mitológicas. QUESTÃO 02: (UEM) “Ao criticar o mito e exaltar a ciência, contraditoriamente o positivismo fez nascer o mito do cientificismo, ou seja, a crença cega na ciência como única forma de saber possível. Desse modo, o positivismo mostra-se reducionista, já que, bem sabemos, a ciência não é a única interpretação válida do real. De fato, existem outros modos de compreensão, como o senso comum, a filosofia, a arte, a religião, e nenhuma delas exclui o fato de o mito estar na raiz da inteligibilidade. A função fabuladora persiste não só nos contos populares, no folclore, mas também na vida diária, quando proferimos certas palavras ricas de ressonâncias míticas – casa, lar, amor, pai, mãe, paz, liberdade, morte – cuja definição objetiva não esgota os significados que ultrapassam os limites da própria subjetividade.” (ARANHA, M. L.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª. ed. rev. São Paulo: Moderna, 2009, p. 32) A partir do trecho citado, assinale o que for correto. 01) Ao contrário da ciência, o senso comum, a religião e a filosofia refletem uma imagem incompleta e precária do real. 02) O mito do cientificismo é a aplicação do rigor formal do método científico à dança, à música e a diversas outras formas de expressão popular. 04) O positivismo utiliza o inconsciente e o mito como forma de expressão do mundo. 08) Explicações de caráter mítico, apesar de pertencerem ao período antigo, sobrevivem na modernidade. 16) A função fabuladora recupera aspectos do mito que se distinguem da razão e do método científico. QUESTÃO 03: (UEM) “Mais que um saber, a filosofia é uma atitude diante da vida, tanto no dia a dia como nas situações-limite, que exigem decisões cruciais. Por isso, no seu encontro com a tradição filosófica, é preferível não recebê-la passivamente como um produto, como algo acabado, mas compreendê-la como processo, reflexão crítica e autônoma a respeito da realidade.” (ARANHA, M. L. A.; MARTINS, M. H. P. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª. ed. São Paulo: Moderna, 2009, p.20) Com base no excerto citado, assinale o que for correto. 01) A filosofia é uma forma de conhecimento que questiona a realidade. 02) A filosofia é um saber teórico, não pragmático, que desconsidera a aplicação prática. 04) A filosofia é uma experiência de vida que responde às questões fundamentais da existência. 08) A filosofia não pode ser reaberta ou discutida, pois os filósofos já morreram. 16) A filosofia é uma ideologia, pois não se ocupa com o debate político. QUESTÃO 04: (UEM) O mito é um modo de consciência que predomina nas sociedades tribais e que, nas civilizações da antiguidade, também exerceu significativa influência. Ao contrário, porém, do que muitos supõem, o mito não desapareceu com o tempo. Sobre os significados do mito, assinale o que for correto. 01) O mito, como as lendas, é pura fantasia, pois não possui nenhuma coerência lógica e, por ser dissociado da realidade, não expressa nenhuma forma de verdade. 02) O mistério é um dos componentes do mito: apresenta um enigma a ser decifrado e expressa o espanto do homem diante do mundo. 04) Uma das funções do mito é fixar os modelos exemplares de todos os ritos e de todas as atividades humanas significativas. Portanto, o mito é um meio de orientação das sociedades humanas. 08) O mito é uma intuição compreensiva da realidade, cujas raízes se fundam na emoção e na afetividade. O mito expressa o que desejamos ou tememos, como somos atraídos pelas coisas ou como delas nos afastamos. 16) O mito é uma forma predominante de narrativa nas culturas que não conhecem a escrita. Um de seus objetivos é contar a origem de um grupo humano. QUESTÃO 05: (UEM) “A filosofia surgiu quando alguns gregos, admirados e espantados com a realidade, insatisfeitos com as explicações que a tradição lhes dera, começaram a fazer perguntas e buscar respostas para elas, demonstrando que o mundo e os seres humanos, os acontecimentos materiais e as ações dos seres humanos podem ser conhecidos pela razão humana” (CHAUI, Marilena. Convite à filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2011. p.32). Considerando o exposto, assinale o que for correto. 01) A filosofia surgiu na Grécia durante o séc. VI a.C.. Apesar de seu nascimento ser considerado o “milagre grego”, é conhecida a frequentação de Atenas por outros sábios que viveram no século VI a.C., como Confúcio e Lao Tse (provenientes da China), Buda (proveniente da Índia) e Zaratustra (proveniente da Pérsia), fazendo da filosofia grega uma espécie de comunhão dos saberes da antiguidade. 02) O surgimento da filosofia é coetâneo ao advento da pólis (cidade). Novas estruturas sociais e políticas permitiram o desenvolvimento de formas de racionalidade, modificadoras da prática do mito. 04) Por serem os únicos filósofos a praticar a retórica, os sofistas representam, indiscutivelmente, o ponto mais alto da filosofia clássica grega (séculos V e IV a.C.), ultrapassando Sócrates, Platão e Aristóteles. 08) Filósofo é aquele que busca certezas sem garantias de possuí-lasefetivamente. Por essa razão, o filósofo deseja o conhecimento do mundo e das práticas humanas por meio de critérios aproximativos e compartilhados (de aceitação comum), através do debate. 16) A atividade filosófica pode ser definida, entre outras habilidades, pela capacidade de generalização e produção de conceitos, encontrando, sob a multiplicidade de objetos do mundo, relações de semelhança e de identidade. QUESTÃO 06: (UEM) “O que é um filósofo? É alguém que pratica a filosofia, em outras palavras, que se serve da razão para tentar pensar o mundo e sua própria vida, a fim de se aproximar da sabedoria ou da felicidade. E isso se aprende na escola? Tem de ser apreendido, já que ninguém nasce filósofo e já que filosofia é, antes de mais nada, um trabalho. Tanto melhor, se ele começar na escola. O importante é começar, e não parar mais. Nunca é cedo demais nem tarde demais para filosofar, dizia Epicuro [...]. Digamos que só é tarde demais quando já não é possível pensar de modo algum. Pode acontecer. Mais um motivo para filosofar sem mais tardar” (COMPTESPONVILLE, André. Dicionário Filosófico. Apud ARANHA, Maria Lúcia de Arruda; MARTINS, Maria Helena Pires. Filosofando: introdução à filosofia. 4ª. ed. revista. São Paulo: Ed. Moderna, 2009. p.15). A partir dessas considerações, assinale o que for correto. 01) A filosofia é uma atividade que segue a via pedagógica de uma prática escolar, já que não pode ser apreendida fora da escola. 02) O enunciado relaciona a filosofia com o ato de pensar. 04) O enunciado contradiz a motivação filosófica contida na seguinte afirmativa de Aristóteles: “Todos os homens têm, por natureza, desejo de conhecer”. 08) Para André Compte-Sponville, quanto antes e com mais intensidade nos dedicarmos à filosofia, mais cedo estaremos livres dela, pois todo assunto se esgota. 16) A citação do texto afirma que sempre é tarde para começar a filosofar, razão pela qual a filosofia é uma prática da maturidade científica e o coroamento das ciências. QUESTÃO 07: “Mais que saber identificar a natureza das contribuições substantivas dos primeiros filósofos é fundamental perceber a guinada de atitude que representam. A proliferação de óticas que deixam de ser endossadas acriticamente, por força da tradição ou da ‘imposição religiosa’, é o que mais merece ser destacado entre as propriedades que definem a filosoficidade.” OLIVA, Alberto; GUERREIRO, Mario. Pré-socráticos: a invenção da filosofia. Campinas: Papirus, 2000. p. 24. O texto trata de uma “guinada de atitude” presente no início da filosofia, que podemos sintetizar como sendo A) a aceitação acrítica das explicações tradicionais relativas aos acontecimentos naturais. B) a discussão crítica das idéias e posições, que podem ser modificadas ou reformuladas. C) a busca por uma verdade única e inquestionável, que pudesse substituir a verdade imposta pela religião. D) a confiança na tradição e na “imposição religiosa” como fundamentos para o conhecimento. E) a desconfiança na capacidade da razão em virtude da “proliferação de óticas” conflitantes entre si. QUESTÃO 08: “Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.” Fonte: JAEGER. W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia, estabeleça a relação existente entre a filosofia e as viagens empreendidas pelos gregos, sobretudo em função do comércio e expansão territorial. QUESTÃO 09: Leia atentamente o texto e assinale (V) para cada afirmação verdadeira e (F) para cada afirmação falsa. “De fato, é no plano político que a Razão, na Grécia, primeiramente se exprimiu, constituiu-se e formou-se. A experiência social pôde tornar-se entre os gregos o objeto de reflexão positiva, na cidade, a um debate público de argumentos. O declínio do mito data do dia em que os primeiros Sábios puseram em discussão a ordem humana, procurando defini-la em si mesma, traduzi-la em fórmulas acessíveis à sua inteligência, aplicar-lhe a norma do número e da medida. Assim se destacou e se definiu um pensamento propriamente político, exterior à religião, com seu vocabulário, seus conceitos, seus princípios, suas vistas teóricas. Este pensamento marcou profundamente a mentalidade do homem antigo; caracteriza uma civilização que não deixou, enquanto permaneceu viva, de considerar a vida pública como o coroamento da atividade humana. Para o grego, o homem não se separa do cidadão; a phrónesis, a reflexão, é o privilégio dos homens livres que exercem correlatamente sua razão e seus direitos cívicos. Assim, ao fornecer aos cidadãos o quadro no qual concebiam suas relações recíprocas, o pensamento político orientou e estabeleceu simultaneamente os processos de seu espírito nos outros domínios.” VERNANT, J.-P. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1994, p.94-95. A partir da leitura do fragmento acima, esclareça a relação existente entre a atividade política que amadureceu na Grécia do período arcaico para o clássico e o surgimento do pensamento filosófico. QUESTÃO 10: “Há, porém, algo de fundamentalmente novo na maneira como os Gregos puseram a serviço do seu problema último – da origem e essência das coisas – as observações empíricas que receberam do Oriente e enriqueceram com as suas próprias, bem como no modo de submeter ao pensamento teórico e causal o reino dos mitos, fundado na observação das realidades aparentes do mundo sensível: os mitos sobre o nascimento do mundo.” Fonte: JAEGER. W. Paidéia. Tradução de Artur M. Parreira. 3.ed. São Paulo: Martins Fontes, 1995, p. 197. Com base no texto e nos conhecimentos sobre a relação entre mito e filosofia, o que podemos afirmar que há de novidade na filosofia, quando comparada com as explicações míticas? Modulo 2: Pré-socráticos PERÍODO COSMOLÓGICO Pré-socráticos é o termo utilizado para designar os primeiros filósofos, os quais deram início ao período cosmológico, isto é, foram os primeiros a questionar as explicações sobrenaturais presentes nos mitos e procurar uma compreensão racional do cosmos. Estes pensadores também são denominados filósofos da natureza, e buscavam conhecer as causas dos fenômenos naturais, ou seja, tinham o intuito de determinar o princípio constitutivo ou causa primordial – arché – da natureza – physis –, baseando-se na observação e no raciocínio. Sobre a definição de arché, temos nas palavras de Giovanni Reale e Dario Antiseri: “Princípio” (arché) não é um termo de Tales (talvez tenha sido introduzido por seu discípulo Anaximandro, mas alguns pensam numa origem mais tardia), mas é certamente o termo que indica melhor do que qualquer outro o conceito daquele quid do qual derivam todas as coisas. Como nota Aristóteles em sua exposição sobre o pensamento de Tales e dos primeiros físicos, o “princípio” é “aquele do qual derivam originalmente e no qual se ultimam todos os seres”, é “uma realidade que permanece idêntica no transmutar-se de suas alterações, ou seja, uma realidade “que continua a existir imutada, mesmo através do processo gerador de todas as coisas”. [...] Em suma, o “princípio” pode ser definido como aquilo do qual provêm, aquilo no qual se concluem e aquilo pelo qual existem e subsistem todas as coisas. (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 29-30). PRINCIPAIS FILÓSOFOS PRÉ-SOCRÁTICOS - Filósofos da Escola Jônica: - Tales de Mileto: “Tudo é água”. - Anaxímenes de Mileto: “E assim como nossa alma, que é ar, nos mantém unidos, da mesma maneira o ventoenvolve todo o mundo.” - Anaximandro de Mileto: “Nem água nem algum dos elementos, mas alguma substância diferente, ilimitada, e dela nascem os céus e os mundos neles contidos.” - Heráclito de Éfeso: “Tudo flui, nada persiste, nem permanece o mesmo.” - Filósofos da Escola Itálica: - Pitágoras de Samos: “Todas as coisas são números” - Filósofos da Escola Eleata: - Parmênides de Eléia: “O ser é e o não ser não é” - Zenão de Eléia: “O que se move sempre está no mesmo agora” - Filósofos da Escola da Pluralidade: - Empédocles de Agrigento: “Pois destes (os elementos) todos se constituíram harmonizados, e por estes é que pensam, sentem prazer e dor” - Demócrito de Abdera: “O homem, um microcosmo.” HERÁCLITO DE ÉFESO (545 – 480 a.C.) “O ser não é mais do que o vir a ser” Heráclito nasceu em Éfeso por volta de 545 a.C., cidade da Jônia, filho de uma família que ainda conservava prerrogativas reais. De temperamento esquivo, nunca quis participar da vida política, e não demonstrava apreço pelos cidadãos de sua cidade. Foi considerado obscuro, e isso por duas razões: tendência ao isolamento e ao silêncio; escrita complexa, composta por aforismos, conjuntos de raciocínios mais curtos, com menor desenvolvimento de explicações do ponto de vista didático, e mesmo com uma ausência de preocupação com a apresentação de exemplos. Sua filosofia teve reconhecimento, mais tardiamente, pela maneira como este filósofo percebeu o cosmos, isto é, sua interpretação do modo como a physis “funcionava”. Como percebemos na passagem abaixo. “Este cosmos (sentenciou Heráclito), igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi, e sempre será...”. Ninguém o fez porque ele é eterno, e, por conseqüência, incriado e imperecível: desprovido de uma vontade criadora anterior (ou externa) à sua destinação de se reproduzir sempre. Por isso, este mundo, é indicado como dado, posto aí, diante dos nossos olhos e dos nossos sentidos, e o que temos a fazer, é buscar compreendê-lo por aquilo que se mostra. [...] O mundo de fenômenos ao mesmo tempo em que se mostra, oculta as suas razões. É de sua índole, tanto o se ocultar como também o se assumir, mediante um aparência ou maquiagem comunicativa, pela qual a Natureza provoca em nós o desejo de a conhecer.[...] Conhecemos a Natureza não tanto por aquilo que se mostra, mas principalmente por aquilo que inferimos sobre ela.. (SPINELLI, M., 1998, p. 193) Miguel Spinelli deixa claro um ponto importante na teoria de Heráclito, o de que o mundo é eterno e, por isso, incriado. Isso demonstra que, diferentemente dos outros filósofos Pré-socráticos, ele não procurava prioritariamente um princípio constitutivo do cosmos, o qual seria um elemento contido na Natureza, mas sim busca compreender a sua ordem, isto é, como o mundo é a partir da sua organização e ordenação. Heráclito não procura a arché somente no sentido de um elemento de que o cosmos é constituído, mas a lei que o rege, partindo, é claro, das observações feitas na própria Natureza. Para o mesmo, a realidade é um constante fluxo, ou seja, é sempre mutável. Os sentidos, porém, para ele, nos mostram certa regularidade, que não condiz com a mudança constante que ocorre realmente. E isso mostra que tanto para Heráclito quanto para Parmênides existe uma cisão entre pensar e sentir. A LUTA DOS CONTRÁRIOS – GUERRA E PAZ “O conflito é o pai e o rei de todas as coisas” ... . “O oposto é conveniente, e das coisas diferentes nasce a mais bela harmonia” ... . Sem nascimento e perecimento, sem geração e destruição, vida e morte, a perpetuidade do mundo seria insustentável, e, por conseqüência, a sua própria existência. Sem oposição ou diferenças, também o viver humano seria insustentável, pois desativaria todo o móvel do seu querer e agir, e, conseqüentemente, o próprio logos1 autentificador do nomos2 da deliberação humana. (SPINELLI, M., 1998, p. 196) Para Heráclito o que comanda a ordem do mundo é a luta, ou melhor, harmonia dos contrários, a perenidade das coisas que fazem parte da Natureza, seja homem, planta, animal, mineral ou qualquer outra coisa. O mundo é eterno, assim como a sua ordem, porém suas partes, aquilo de que ele se constitui está em constante renovo, em um eterno devir. Em outras palavras, se não existir guerra não há paz, se não existir morte não há vida nem nascimento, sem a perenidade das coisas tudo seria eterno e posto, condição que, para Heráclito, é perceptivelmente incoerente com a realidade. A teoria heraclitiana consiste, então, no estabelecimento de uma lei que rege o cosmos, a de que tudo é um eterno devir, um vir a ser constante, pois tudo nasce, cresce e morre. O jovem envelhece, o verde apodrece, tudo está sujeito ao tempo e, assim, a harmonia dos contrários, já que é por existir os contrários que se tem uma perfeita ordenação da existência do mundo. NOTA: Pela maneira como percebia o desenvolvimento natural das coisas, Heráclito foi considerado o pai da dialética, isto é, via a realidade como um eterno embate entre opostos, um momento superando o outro. O LOGOS NA TEORIA HERACLITIANA 1 Logos é logos no alfabeto grego e significa pensamento racional, sendo que na filosofia de Heráclito é o que vai determinar a lei que rege a ordem do mundo. 2 Nomós em grego significa lei, deliberação, governo, princípio regulativo. Mas ela é detentora (e isso é muito importante de salientado na filosofia de Heráclito), de uma ciência específica e própria, ou seja, de um saber que, de certo modo, se esconde por detrás de uma aparência observável, e que cabe ao logos humano desocultá-la, pela via da observação e da inferência. Esse seu saber é a sua lei (nomos), e também o seu logos, aquele que “tudo governa”: o pensamento que governa tudo através de tudo.[...] O logos, em referência ao cosmos,é expressão dessa articulação, pela qual o cosmos ou o ser pode ser entendido como uma unidade de contrapostos. (SPINELLI, M., 1998, p. 193 e 195) Spinelli, na passagem acima, demonstra, novamente que Heráclito busca encontrar o princípio regulativo do cosmos, o logos que governa a ordem do mundo, isto é, assim como os homens o cosmos também tem um logos. A razão conduz as ações dos homens e o logos faz o mesmo com a ordem do mundo, estabelecendo a harmonia entre os contrários, que é o nomos (a lei) que rege os acontecimentos na Natureza. Dessa forma pode-se dizer que o logos (a razão) do cosmos (espaço ordenado) consiste no princípio que regula a ordem do mundo, é a expressão da harmonia entre os contrários. O FOGO COMO PRINCÍPIO DE TODAS AS COISAS Dado que a sua Filosofia da Natureza é uma filosofia das relações, o fogo (coextensivo do logos) nela se apresenta com elemento constituinte do cosmos e também como a metáfora mais significativa do seu filosofar.[...] Mas o que Heráclito observou (talvez diante da lareira), é que o fogo não existe isoladamente na Natureza, a não ser em Relação: se há fogo, há algo que queima. (SPINELLI, M., 1998, p. 199 e 200) Para Heráclito o fogo é algo que, mais que simplesmente constituir, exprime exatamente a “natureza” do cosmos, pois ele vive da constante mudança, da harmonia entre contrário, pois a sua vida consiste em destruir algo – o combustível – que se transforma em fumaça. O fogo retrata bem o que Heráclito quer dizer com guerra e paz, pois a primeira seria o fogo queimando, destruindo o combustível e o transformando; já a segunda seria o fogo se apagando, isto é, deixando de queimar, e por isso deixando de existir. A guerra é a luta entre os contrários que faz com que exista uma ordem no mundo, a qual o mantém existindo, a paz seria o fim, ou a não existência, desta luta, uma perpetuidade que acabaria com a ordem e, conseqüentemente, o mundo. PARMÊNIDES DE ELÉIA (540 – 470 a.C.) “O ente é, pois é ser e nada não é.” A IMUTABILIDADEDO SER Parmênides nasceu em Eléia, hoje Vélia, na Itália por volta de 540 a.C. Foi iniciado na filosofia pelo pitagórico Ananias e tem-se que foi político ativo e formador de boas leis para a cidade. Escreveu um poema intitulado Sobre a Natureza, o qual se divide em três partes: uma primeira que denominaríamos de prólogo, ou seja, uma introdução, a segunda (da qual teve-se acesso à vários fragmentos) que trata dos caminhos da verdade; e a terceira (da qual conservam-se apenas fragmentos) que aborda os caminhos da opinião. Tem-se que a filosofia parmenidiana levanta-se contra o dualismo pitagórico (ser e não-ser, cheio e vazio,...) e, de acordo com alguns intérpretes, contra o mobilismo de Heráclito. Vejamos uma passagem de um poema de Parmênides na qual podemos encontrar os principais elementos de seu pensamento. Só nos resta neste momento, uma única via da qual se possa falar: que é. Sobre ela há um grande número de sinais: que sendo não-gerado é imperecível um todo inteiro inabalável e sem fim. Jamais foi nem será, porque é todo presente, um e contínuo. Que origem poder-se-ia atribuir-lhe? Como e de onde cresceria? Não te permitirei dizer nem pensar que ele possa ter crescido do não-ser; pois não se pode dizer nem pensar o que não é. Se viesse do nada qual a necessidade o teria impelido a nascer mais cedo ou mais tarde? Assim, pois, é necessário que ele seja absolutamente ou não seja. Também a força da convicção jamais concederá que do não-ente possa nascer algo dele. A justiça não permite por um afrouxamento de suas amarras, que nasça ou pereça, mas o mantém. Esta decisão recai sobre a seguinte afirmativa: Ou é ou não é [...]. Como poderia perecer o ente? Como poderia ser gerado? Pois se nasceu, não é, e também não é se um dia devesse ser. [...]. Também não é divisível, pois é completamente idêntico a si mesmo. Nada poderia ser-lhe acrescido o que impediria de conter-se, nem retirado, pois o ente é todo pleno. Por isso é todo contínuo [...] Idêntico a si mesmo, em si mesmo repousa, imóvel em seu lugar; pois a poderosa Necessidade o mantém nos limites de um liame que de todos os lados o encerra, de tal modo que ao ente está estabelecido como norma não ser inacabado. A passagem acima vem confirmar o motivo pelo qual Parmênides desacredita do conhecimento proporcionado pelos sentidos, ou seja, o Ser dos sentidos está em movimento e por isso ele constantemente deixa de ser o que é e se transforma em outro Ser (o não-ser anterior), o que para o autor é inconcebível, pois o não-ser não existe. Em outras palavras, admitir o movimento implica em admitir que uma pessoa deixa de ser jovem e se transforma em velho (que é o mesmo que dizer que se transforma no não-jovem, que não existe). Para Parmênides o Ser, o pensar e o dizer são a mesma coisa, pois não se pode, em hipótese alguma, admitir que o não-ser possa ser pensado ou dito. O Ser uno e eterno do autor só pode ser concebido pela razão, sendo que os sentidos não podem expressá-lo. Tem origem na história da filosofia o princípio de identidade, que a firma que o ser é sempre idêntico a si mesmo. Juntamente com ele, começa a busca da filosofia pela permanência, pela constância, pela regularidade, que encontraremos nas ideias de Platão ou nas essências de Aristóteles. Mesmo as ciências, na sua busca pelas leis, não deixam de ansiar por algo contínuo, permanente, no real. A CRÍTICA AO CONHECIMENTO PELOS SENTIDOS Discordando do pensamento de Heráclito, Parmênides faz uma crítica ao conhecimento das coisas sensíveis, as quais estão em constante mutação, porque não há como formular um conhecimento a respeito de algo que em um dado momento é X e logo depois se torna Y. Para este pensador é impossível conhecer todas as coisas em todos os seus momentos, pois só se poderia realmente ter acesso a um saber concreto sobre algo se fosse possível conhecê-lo nos diversos momentos de sua existência. Para o autor, então, a realidade não é acessível pelos sentidos, mas tão somente pela razão, que jamais poderia conhecer algo que muda constantemente, mas somente estar conhecendo este algo. O conhecimento pronto e acabado só pode existir frente a uma realidade que não mude, e só assim pode-se afirmar que se conhece alguma coisa em sua plenitude. Como para este filósofo, ao contrário de Heráclito, os sentidos nos mostram mudança, Fisionomia Atribuída a Parmênides (segunda metade do séc. VI e primeira metade do séc. V a.C.). estes não são via de acesso confiável à realidade tal qual ela é. Se só o Ser pode ser conhecido, e este é imóvel, imutável, eterno, sempre idêntico a si mesmo, único e uno, o que percebemos na realidade é na verdade aparência, e só pode produzir o que vai ser chamado de doxa, termo grego que, correntemente, é traduzido como opinião, conhecimento transitório. Só a razão pode acessar o que realmente é (existe, pode ser pensado e dito),e para fazê-lo ela deve se afastar dos enganos da mudança e buscar o que permanece. Exercícios propostos: QUESTÃO 01: (Unimontes) O primeiro filósofo de que temos notícias é Tales, da colônia grega de Mileto, na Ásia Menor. Tales foi um homem que viajou muito. Entre outras coisas, dizem que, certa vez, no Egito, ele calculou a altura de uma pirâmide medindo a sombra da mesma no exato momento em que sua própria sombra tinha a mesma medida de sua altura. Dizem ainda que, em 585 a.C., ele previu um eclipse solar. (GAARDER, J. O Mundo de Sofia. São Paulo: Companhia das Letras, 1995). Aos primeiros filósofos que se debruçaram sobre os problemas do cosmo, podemos chamá-los, além de pré- socráticos, de A) naturalistas ou fisicistas. B) existencialistas. C) empiristas. D) espiritualistas. QUESTÃO 02: (UFU) Sobre o pensamento de Heráclito de Éfeso, marque a alternativa INCORRETA. A) Segundo Heráclito, a realidade do Ser é a imobilidade, uma vez que a luta entre os opostos neutraliza qualquer possibilidade de movimento. B) Heráclito concebe o mundo como um eterno devir, isto é, em estado de perene movimento. Nesse sentido, a imobilidade apresenta-se como uma ilusão. C) Para Heráclito, a guerra (pólemos) é o princípio regulador da harmonia do mundo. D) Segundo Heráclito, o um é múltiplo e o múltiplo é um. QUESTÃO 03: (UFU) Leia atentamente o texto abaixo. Na filosofia de Parmênides preludia-se o tema da ontologia. A experiência não lhe apresentava em nenhuma parte um ser tal como ele o pensava, mas, do fato que podia pensá-lo, ele concluía que ele precisava existir: uma conclusão que repousa sobre o pressuposto de que nós temos um órgão de conhecimento que vai à essência das coisas e é independente da experiência. Segundo Parmênides, o elemento de nosso pensamento não está presente na intuição mas é trazido de outra parte, de um mundo extrassensível ao qual nós temos um acesso direto através do pensamento. NIETZSCHE, Friedrich. A filosofia na época trágica dos gregos. Trad. Carlos A. R. de Moura. In Os pré-socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1978. p. 151. Coleção Os Pensadores Marque a alternativa INCORRETA. A) Para Parmênides, o Ser e a Verdade coincidem, porque é impossível a Verdade residir naquilo que Não-é: somente o Ser pode ser pensado e dito. B) Pode-se afirmar com segurança que Parmênides rejeita a experiência como fonte da verdade, pois, para ele, o Ser não pode ser percebido pelos sentidos. C) Parmênides é nitidamente um pensador empirista, pois afirma que a verdade só pode ser acessada por meio dos sentidos. D) O pensamento, para Parmênides, é o meio adequado para se chegar à essência das coisas, ao Ser, porque os dados dos sentidos não são suficientes para apreender a essência. Questões Enem: QUESTÃO 01: “O mesmo é em (nós?) vivo e morto, desperto e dormindo, novo e velho; pois estes, tombados além, são aqueles e aqueles de novo, tombados além, são estes.” Os Pré-Socráticos. Trad. de José Cavalcante de Souza, 1ª ed. São Paulo: AbrilCultural, 1973, p. 93. (Os Pensadores) A partir do fragmento apresentado, do filósofo pré-socrático Heráclito de Éfeso, pode- se perceber que para tal filósofo A) não existe a noção de “oposto”, pois todas as coisas constituem um único processo de mudança que expressa a concórdia e a harmonia do “fluxo” contínuo da natureza. B) a equivalência de estados contrários com “o mesmo” exprime a alternância harmônica de polos opostos, pela qual um estado é transposto no outro, numa sucessão mútua, como o dia e a noite. Todas as coisas são “Um”, toda a multiplicidade dos opostos constitui uma unidade, e todos os seres estão num fluxo eterno de sucessão de opostos em guerra. C) se o morto é vivo, o velho é novo, e o dormente é desperto, então não existe o múltiplo, mas apenas o “Um”, como verdade profunda do mundo. A unidade primordial é a própria realidade da physis e a multiplicidade, apenas aparência. D) a alternância entre polos opostos constitui um fluxo eterno, regido pela “guerra” e pela “discórdia”, que ocorre sem qualquer medida e proporção. A guerra entre contrários evidencia que a physis é caótica e denota o fato de que o pensamento de Heráclito é irracionalista. E) apesar de uma aparência de mudança que se apresenta aos nossos sentidos, o cosmos é essencialmente imutável, imóvel, eterno, uno e único. Não podemos, desse modo, deixar-nos guiar pelos dados sensoriais, mas buscar aquilo que é idêntico a si mesmo, denominado por Heráclito de Ser. QUESTÃO 02: “Só é possível pensar e dizer que o ente é, pois o ser é, mas o nada não é; sobre isso, eu te peço, reflita, pois esta via de inquérito é a primeira de que te afasto; depois afasta-te daquela outra, aquela em que erram os mortais desprovidos de saber e com dupla cabeça, pois, no peito, a hesitação dirige um pensamento errante: eles se deixam levar surdos e cegos, perplexos, multidão inepta, para quem ser e não ser é considerado o mesmo e não o mesmo, para quem todo o caminho volta sobre si mesmo”. Parmênides, Sobre a Natureza, 6, 1-9. O fragmento acima é um trecho do poema “Sobre a Natureza”, do filósofo Parmênides de Eléia, e de sua leitura é possível concluir que A) a identidade é uma característica inerente ao domínio da opinião, uma vez que a pluralidade das opiniões é o que atesta a identidade de cada indivíduo. B) segundo Parmênides, um mesmo homem não pode entrar duas vezes em um mesmo rio, posto que a mutabilidade do mundo impede que o mesmo evento se repita. C) uma das leis lógicas, presente no pensamento de Parmênides, é o princípio de identidade, segundo o qual todas as coisas podem ser e não ser ao mesmo tempo. D) o caminho da verdade é também a via da identidade e da não contradição. Nesse sentido, somente o Ser – por ser imóvel e idêntico – pode ser pensado e dito. E) é possível a coexistência harmoniosa entre o ser e o não ser, visto que a relação entre as duas instâncias gera a Unidade do Cosmos. Exercícios de Fixação: QUESTÃO 01: (UFU) De acordo com o pensamento do filósofo Parmênides de Eléia, marque a alternativa correta. A) A identidade é uma característica inerente ao domínio da opinião, uma vez que a pluralidade das opiniões é o que atesta a identidade de cada indivíduo. B) Segundo Parmênides, um mesmo homem não pode entrar duas vezes em um mesmo rio, posto que a mutabilidade do mundo impede que o mesmo evento se repita. C) Uma das leis lógicas, presente no pensamento de Parmênides, é o princípio de identidade, segundo o qual todas as coisas podem ser e não ser ao mesmo tempo. D) O caminho da verdade é também a via da identidade e da não contradição. Nesse sentido, somente o Ser – por ser imóvel e idêntico – pode ser pensado e dito. QUESTÃO 02: (UFU) De um modo geral, o conceito de physis no mundo pré-socrático expressa um princípio de movimento por meio do qual tudo o que existe é gerado e se corrompe. A doutrina de Parmênides, no entanto, tal como relatada pela tradição, aboliu esse princípio e provocou, consequentemente, um sério conflito no debate filosófico posterior, em relação ao modo como conceber o ser. Para Parmênides e seus discípulos: A) A imobilidade é o princípio do não-ser, na medida em que o movimento está em tudo o que existe. B) O movimento é princípio de mudança e a pressuposição de um não-ser. C) Um Ser que jamais muda não existe e, portanto, é fruto de imaginação especulativa. D) O Ser existe como gerador do mundo físico, por isso a realidade empírica é puro ser, ainda que em movimento. QUESTÃO 03: (UFU) Leia estes dois fragmentos de Heráclito e indique quais proposições são verdadeiras (V) e quais são falsas (F). I - É necessário saber que a guerra é comum e que a justiça é discórdia e que tudo acontece mediante discórdia e necessidade. II – A guerra é o pai de todas as coisas e de todas ela é a soberana, e a uns ela apresenta-os como deuses, a outros, como homens; de uns ela faz escravos, de outros, homens livres. Fragmentos extraídos de Kirk, Raven e Schofield. Os filósofos pré-socráticos. Lisboa: Calouste Gulbenkian, 1994. 1( ) Quando Heráclito, no primeiro fragmento, afirma que a guerra é comum e que a justiça é discórdia, indica que a manifestação ininterrupta dos contrários é que assegura o fluxo sem termo do devir. 2( ) O segundo fragmento indica que a guerra é soberana e que, portanto, não pode haver vencedor entre os combatentes. 3( ) Guerra e discórdia são metáforas características do pensamento de Heráclito e descrevem a mudança contínua por que passam todas as coisas. 4( ) Os dois fragmentos indicam que a natureza foi criada pela guerra dos contrários e será extinta por este mesmo desequilíbrio. QUESTÃO 04: (UFU) Leia atentamente o texto e assinale (V) para cada afirmação verdadeira e (F) para cada afirmação falsa. Fragmentos 1 “Não podemos entrar duas vezes no mesmo rio porque suas águas não são as mesmas e nós não somos os mesmos.” “O que se opõe a si mesmo está em acordo consigo mesmo; harmonia de tensões contrárias como as do arco e da lira” “Para as almas, morrer é água; para a água, morrer é terra; da terra, porém, forma-se a água e da água, a alma” “O fogo vive a morte da terra e o ar vive a morte do fogo; a água vive a morte do ar e a terra a da água” Fragmentos 2 “é preciso que de tudo te instruas, do âmago inabalável da verdade (aletheia) bem redonda, e das opiniões (dóxa) dos mortais, em que não há fé verdadeira. (...) ...eu te direi, e tu, recebe a palavra que ouviste, os únicos caminhos de inquérito que são a pensar: o primeiro, que é; e, portanto, que não é não ser, de Persuasão é caminho, pois à verdade acompanha. O outro, que não é; e, portanto, que é preciso não ser. Eu te digo que este último é atalho de todo não crível, pois nem conhecerias o que não é, nem o dirias... (...) Pois o mesmo é a pensar e portanto ser. (...) Necessário é o dizer e pensar que o ente é; pois é ser. E nada não é. Isto eu te mando considerar”. CHAUÍ, Marilena. Introdução à história da filosofia: dos pré- socráticos a Aristóteles. São Paulo: Brasiliense, 1994, pp. 66-73. 1( ) Os fragmentos acima exprimem o pensamento de dois dos mais importantes filósofos do chamado período pré-socrático, os primeiros atribuídos a Heráclito de Éfeso, que compreendia a realidade como fluxo ou devir permanente e eterno, e, os segundos, à Parmênides de Eléia, para quem a realidade é aquilo que permanece sempre idêntico a si mesmo e imutável. 2( ) A tese sobre a realidade ou o Ser de Heráclito pode ser expressa, em síntese, da seguinte maneira: “O ser é (existe) e o não-ser não é (não existe)”. Já a tese de Parmênides se resumiria assim: “O não-ser é (existe) e o ser não é (não existe)”. 3( ) Como Heráclito e Parmênides pensavam apenas por metáforas (linguagem figurada), pode-se dizer que estavam muito mais próximos dos poetas, como Homero e Hesíodo, do que dos filósofose da busca da verdade. 4( ) Embora a concepção do Ser ou da realidade seja para Heráclito e Parmênides bastante distinta e até mesmo oposta, é necessário reconhecer que, tanto para um quanto para outro, os sentidos e o senso comum não alcançam o verdadeiro conhecimento, mas engendram apenas a opinião (doxa). Para ambos, apenas o pensamento (logos) pode conhecer a verdade. QUESTÃO 05: (UFU) Leia os seguintes fragmentos, atribuídos, respectivamente, a Heráclito de Éfeso e a Parmênides de Eléia. Não compreendem como o divergente consigo mesmo concorda; harmonia de tensões contrárias, como de arco e lira. Fr. 51, Os Pré-Socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 84. (Col. Os Pensadores) Por outro lado, imóvel em limites de grandes liames é sem princípio e sem pausa, pois geração e perecimento bem longe afastaram-se, rechaçou-os fé verdadeira (...) (...) O mesmo é pensar e em vista do que é pensamento. Pois não sem o que é, no qual é revelado em palavra, acharás o pensar (...). Sobre a Natureza, vv. 8, 26-28; 34-36. Os Pré-Socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 1973, p. 149. (Col. Os Pensadores) Tomando os fragmentos citados como referência, assinale com (V) as afirmativas verdadeiras e com (F) as afirmativas falsas. 1( ) Para Heráclito, a guerra entre contrários, como as tensões do arco e das cordas de uma lira, geram uma unidade. Tal unidade expressa a harmonia segundo a qual o kosmos é ordenado num equilíbrio dinâmico de sucessão de opostos, movimento contínuo e pluralidade, cujo Logos é Um. 2( ) O ser parmenidiano é ingênito, incorruptível e, por conseguinte, imóvel, imutável e uno. Sempre idêntico a si mesmo, o ser não admite diferenciações. Ser e pensamento coincidem, se há ser, então o não-ser é impossível e impensável, por isso, os opostos não podem coexistir ou alternar-se um ao outro. 3( ) Heráclito, ao contrário de Parmênides, concebe toda a physis como um fluxo incessante e como multiplicidade que exclui a possibilidade de alternância de opostos no kosmos. A afirmação de que ninguém pode entrar duas vezes no mesmo rio indica que o movimento contínuo das coisas sensíveis ocorre num sentido que não admite a contradição. 4( ) Parmênides, ao identificar o ser imutável, incorruptível e imóvel com o pensamento, mostra que o “caminho da verdade” surge a partir do devir e da multiplicidade que caracterizam a physis. O pensamento e o logos formam-se a partir dos sentidos e da percepção do múltiplo, já que o pensamento depende da existência de algo real. QUESTÃO 06: (UFU) A partir do texto abaixo, assinale (V) para as afirmativas verdadeiras e (F) para as falsas. Parmênides de Eléia, filósofo grego, pertenceu a uma escola antiga. Sua filosofia forçou Platão e Aristóteles a buscar soluções para as questões do Ser e da linguagem. Escreveu um poema filosófico em versos: Sobre a Natureza. Lembrando-se ainda do seguinte: Parmênides negava a existência do movimento, pois para ele não existia o espaço vazio, sustentou que tudo o que existe é um que permanece imóvel em si mesmo, sem que encontre algum lugar onde mover-se; estabeleceu também um princípio para o discurso e a ciência da natureza, a partir destes versos: necessário é dizer e pensar que só o ser é; pois o ser é, e o nada ao contrário, nada é: afirmação que bem deves considerar... Fragmentos extraídos de SPINELLI, Miguel. Filósofos pré-socráticos. Porto Alegre: Edipucrs, 1998. 1( ) A escola a que pertenceu Parmênides é conhecida como Escola Eleata. Além dele, encontramos Zenão, seu discípulo; Xenófanes, seu mestre; e Melisso. Eles defendiam que tudo o que existe é um. 2( ) Parmênides, assim como Heráclito, pensa que tudo flui na natureza e que só o não-Ser existe. 3( ) Parmênides, filósofo imobilista, pensava que só o Ser é. Ele negava a existência do movimento. 4( ) Podemos concluir a partir do texto que é impossível conhecer aquilo que existe e, portanto, é necessário determinar que só o Nada é princípio do pensamento e do discurso. QUESTÃO 07: (UFU) Leia os fragmentos atribuídos a Parmênides de Eléia e, a partir deles, marque para as alternativas (V) verdadeira ou (F) falsa. (...) pois o mesmo é a pensar e portanto ser. Necessário é dizer e pensar que (o) entre é; pois é ser, e nada não é; isto eu te mando considerar (...). Sobre a Natureza, vv. 3; 6. In: Os Pré-Socráticos. São Paulo: Abril Cultural, 2000, p. 123. Coleção Os Pensadores 1( ) Parmênides elege o Ser como princípio absoluto de verdade que se identifica com o pensamento e define o que pode ser afirmado. O Ser deve ser afirmado e o não-Ser negado. Afirmar o não-Ser significa contradizer e negar o Ser, o que é uma falsidade. 2( ) Segundo Parmênides, somente o Ser é pensável e exprimível. Todo pensamento implica que o Ser é pensado, pois não se pode pensar o não-Ser. Este é inteiramente indizível, inexprimível e impossível. Ser, pensar e dizer implicam-se mutuamente. 3( ) Parmênides elege a multiplicidade como princípio absoluto da Natureza. Somente o pensamento pode dar conta da multiplicidade e do movimento das coisas. O Ser identifica-se com p pensamento, pois este é um movimento constante. 4( ) Parmênides identifica o Ser e o não-Ser com o pensamento, que pode expressar tanto o que existe como o que não existe e, por isso, nada não é. O pensamento nunca é idêntico a si mesmo e todas as coisas são pensáveis e exprimíveis. QUESTÃO 08: (UFU) O pensamento de Parmênides constituiu uma das mais profundas doutrinas dos filósofos da physis. Seu poema possui uma estrutura bem definida em três partes: prólogo, caminho da verdade e caminho da opinião. Acerca deste poema, responda as seguintes questões: A) O poema de Parmênides pertence a qual período da História da Filosofia? B) Em qual dos temas seguintes o poema de Parmênides melhor se encaixa: política, ética, lógica, metafísica ou estética? Justifique sua resposta. C) A que parte do poema refere-se o fragmento abaixo: prólogo, caminho da verdade ou caminho da opinião? Justifique sua resposta. Fragmento 7: “(...) afasta, portanto, o teu pensamento desta via de investigação, e nem te deixe arrastar a ela pela múltipla experiência do hábito, nem governar pelo olho sem visão, pelo ouvido ensurdecedor ou pela língua; mas com a razão decide da muito controvertida tese, que te revelou minha palavra.” BORNHEIM, G. Os Filósofos Pré-Socráticos. São Paulo: Cultrix, 1993, p. 55. QUESTÃO 09: (UFU) “Vou explicar-me, e não será argumento sem valor, a saber: que nenhuma coisa é una em si mesma e que não há o que possas denominar com acerto ou dizer como é constituída. Se a qualificares como grande, ela parecerá também pequena; se pesada, leve, e assim em tudo o mais, de forma que nada é uno, ou algo determinado ou como quer que seja. Da translação das coisas, do movimento e da mistura de umas com as outras é que se forma tudo o que dizemos existir, sem usarmos a expressão correta, pois em rigor nada é ou existe, tudo devém. Sobre isso, com exceção de Parmênides, todos os sábios (…) estão de acordo: Protágoras, Heráclito e Empédocles (…)”. Platão. Teeteto. Trad. Carlos Alberto Nunes. Belém: EDUFPA, 2001, p. 50. Tendo em vista o trecho de Platão citado acima, explique, a partir da distinção entre o uno de Parmênides e o devir de Heráclito, por que no mobilismo nada é e por que para Parmênides apenas o Ser é. QUESTÃO 10: (UFU) “Ao Logos, razão e palavra do que sempre é, os homens são incapazes de compreendê-lo, tanto antes de ouvi-lo quanto depois de tê-lo ouvido pela primeira vez, porque todas as coisas nascem e morrem segundo este Logos. Os homens são inexperientes, mesmo quando eles experimentam palavras ou atos tais quais eu corretamente os explico segundo a natureza, separando cada coisa e explicando como cada uma se comporta. Enquantoisso os outros homens esquecem tudo o que eles fazem despertos assim como eles esquecem, dormindo, tudo o que eles veem.” Adaptado de HERÁCLITO. Pré-Socráticos. São Paulo: Abril Cultural , 1978. p. 79. Coleção “Os Pensadores” A partir do aforismo de Heráclito, responda às questões propostas: A) Heráclito pode corretamente ser caracterizado como um filósofo empirista, cuja fonte de conhecimento se encontra nas sensações? B) Qual é o fundamento permanente de todo conhecimento e quem, segundo o texto, corretamente o conhece e o enuncia? Modulo 3: Sócrates e o período antropológico SÓCRATES (470 – 399 a.C.) “Tudo que sei é que nada sei” PERÍODO SOCRÁTICO OU ANTROPOLÓGICO Sócrates nasceu em Atenas por volta de 470/469 a.C. e morreu em 399 a.C. devido a uma condenação, a qual se fundamentou nas acusações de ser corruptor da juventude e de não acreditar nos deuses da cidade. Era filho de um escultor e de uma parteira. Nunca escreveu nada, e a maioria do que conhecemos de sua filosofia chegou-nos por intermédio dos diálogos de Platão, o que acabou por gerar uma dúvida sobre se Sócrates realmente havia existido ou se seria simples personagem das obras de Platão. A maioria dos comentadores sérios, no entanto, têm optado pela primeira possibilidade. O que se pode perguntar, no entanto, é o seguinte: o que o tornou tão importante para os estudiosos da filosofia? Por que se tornou um marco, a ponto de classificarmos todos os que vieram antes dele como Pré-socráticos? A resposta não envolve, como deve parecer óbvio, somente elementos cronológicos. O período socrático foi também denominado de antropológico. Analisando a palavra, vemos que esta é formada por dois radicais gregos: antropo, que vem de anthropos, que se refere à idéia de homem, e lógico, que deriva de Logos, que significa estudo, razão. Dessa maneira podemos afirmar que antropologia é o estudo do homem em seus mais variados aspectos, principalmente cultural e social. Essa divisão existe na história da Filosofia porque Sócrates mudou o enfoque da investigação filosófica, não se preocupando em compreender o mundo natural, como os filósofos que o antecederam, mas procurando conhecer o homem e seu aspecto social e político, como percebemos na seguinte citação abaixo: Os naturalistas procuraram responder à seguinte questão: “O que é a natureza ou a realidade última das coisas?” Sócrates, porém, procura responder à questão: “O que é a natureza ou realidade última do homem?”, ou seja, o que é a essência do homem?”. (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 87). Nesse momento de desenvolvimento principalmente cultural do mundo grego, além das questões voltadas à natureza (cosmologia), a filosofia começa a preocupar-se com a sociedade e o indivíduo, principalmente no que diz respeito às questões morais. O cidadão guerreiro belo e bom (Arete – modelo de virtude) já não satisfazia o modelo de cidadão da polis. Era, então, necessário formar um novo cidadão para comandar as cidades. Neste contexto surgem os Sofistas (professores estrangeiros), os quais se diziam capazes de ensinar a arte e a técnica do discurso (oratória e retórica). Saber falar em público era essencial em um sistema democrático, no qual as decisões eram tomadas em praça pública (Ágora), por vontade da maioria dos cidadãos, após ouvirem os discursos prós e contra os temas a serem votados. Os Sofistas ensinavam a jovens aristocratas, e recebiam por isso. Acreditavam que tudo poderia ser ensinado, porque tudo era convenção entre os homens. Por isso acreditavam que a realidade era relativa, sendo os resultados dependentes de acordos entre os homens. O mais importante deles foi Protágoras de Abdera, cuja principal afirmação foi a de que “O homem é a medida de todas as coisas, das que são enquanto são e das que não são enquanto não são.” Górgias de Leontini também foi muito importante, afirmou que podemos pensar o inexistente e comunicar irrealidades através da linguagem. Portanto, não há diferença entre (doxa) opinião e (Alétheia) verdade, assim como pensavam os outros sofistas e os gregos de sua época. Sócrates formulou uma ética racionalista (metódica) onde a virtude (Areté) se identifica com o conhecimento. A verdade só pode ser conhecida, portanto se o indivíduo deixar para trás as ilusões dos sentidos, as palavras e as opiniões. Conhecer para Sócrates consistia em se elevar da aparência para a essência, da opinião individual para o conceito universal dos seres, dos valores, da vida moral e da política. Mencionamos acima a preocupação socrática de compreender qual a essência do homem, a qual parece-nos estar expressa na seguinte passagem: Um dos raciocínios fundamentais feitos por Sócrates para provar essa tese é a seguinte: uma coisa é o “instrumento” que se usa e outra é o “sujeito” que usa o instrumento. Ora, o homem usa seu próprio corpo como instrumento, o que significa que o sujeito, que é o homem, e o instrumento, que é o corpo, são coisas distintas. Assim, à pergunta “o que é o homem”, não se pode responder que é o seu corpo, mas sim que é “aquilo que se serve do corpo”. Mas “o que se serve do corpo é a psyché, a alma (= inteligência) [...] (REALE, G.; ANTISERI, D. 1990, p. 88). Para Sócrates, a educação da alma é importante, pois ela é a essência do homem. Ela determina as ações dos homens ela pode bem conduzir-nos a uma vida virtuosa. Aquele que tem conhecimento não reúne todas as características necessárias à virtude (justiça, fortaleza, temperança, sabedoria...) e o vício nada mais é que a falta, a privação de conhecimento, ou seja, a ignorância. Tomando este preceito como base, podemos também afirmar que tudo o que é exterior à natureza da alma do homem não pode ser considerado virtude. Desse modo, riqueza, poder, fama, beleza e saúde física, dentre outras coisas, não constituem valores éticos, pois “em si mesmos não têm valor”. Este filósofo ficou conhecido também por sua máxima, “tudo que sei é que nada sei”. Com tal afirmação quis dizer que o conhecimento do homem é pequeno, imperfeito, superficial e que o conhecimento pleno e total das coisas naturais só pertence aos deuses. É presunção se considerar conhecedor das coisas criadas por aqueles que nos criaram. Mas se virtude é sinônimo de conhecimento e Sócrates diz não saber nada então não é virtuoso? Claro que o conhecimento que ele está admitindo como igual à virtude não trata de conhecimentos acerca o mundo natural, do qual os deuses são artífices, mas de conhecimentos práticos e de uma tentativa de uma melhor compreensão de nossa alma. O provável, senhores, é que, em verdade, o sábio seja deus e queira dizer, em seu oráculo, que pouco valor ou nenhum tem a sabedoria humana; evidentemente se terá servido deste nome de Sócrates para me dar como exemplo, como se dissesse: “O mais sábio dentre vós, homens, é quem, como Sócrates, compreendeu que sua sabedoria é desprovida verdadeiramente desprovida do mínimo valor”. (PLATÃO, 2004, p. 47). De tal modo que o não-saber socrático já constitui uma sabedoria. Ao reconhecer sua própria ignorância, Sócrates buscou levar aos demais atenienses tal conhecimento; utilizando, para isso, sua dialética, que analisamos agora. O MÉTODO SOCRÁTICO Sócrates afirma, em sua defesa, escrita por Platão, que começou a travar as conversas com seus concidadãos em função de uma experiência mística. Um antigo amigo, que à época de seu julgamento já havia morrido, de nome Querefonte, visitara certa vez o Oráculo de Apolo, na cidade de Delfos, e fez uma pergunta sobre a sabedoria do nosso filósofo. A resposta da sacerdotisa do templo dava a possibilidade de interpretação de que Sócrates fosse mais sábio que os demais. Para afastar tal forma de entender a resposta, ele se pôs a conversar com algumas pessoas, fazendo perguntas que ele próprio não sabia responder, com uma expectativa inicialde receber instrução. Para a sua surpresa, seus interlocutores, que no início assumiam uma postura até mesmo arrogante, ao final mostravam-se tão ignorantes quanto ele sobre o tema da reflexão. Ao cabo de alguns destes diálogos, ele percebeu de que sabedoria o deus falava que ele era detentor enquanto faltava aos demais: o dos seus limites, da própria ignorância, presente na afirmação famosa “sei que nada sei”. A partir de então Sócrates se vê investido pelo deus de uma missão, que consistia em conduzir os seus concidadãos a um melhor conhecimento de si mesmos, a inscrição no portal do templo: “Conhece-te a ti mesmo”. Sócrates, na intenção de realizar sua missão, adotava sempre o diálogo que assumia uma dupla forma, conforme se tratava de um adversário a refutar ou de um “discípulo” a instruir. No primeiro caso, assumia humildemente a atitude de quem aprende e ia multiplicando as perguntas até encontrar o adversário presunçoso em evidente contradição, constrangendo-o à confissão humilhante de sua ignorância. É a ironia socrática. No segundo caso, tratando-se de um “discípulo’, multiplicava ainda mais as perguntas, dirigindo-as agora a fim de obter, por indução dos casos particulares e concretos, um conceito, uma definição geral do objeto em questão. A este processo pedagógico, em memória da profissão materna, denominava-se maiêutica, ou engenhosa obstetrícia do espírito, que facilitava a parturição das idéias. Partindo da consciência da sua própria ignorância (“só sei que nada sei”), utilizava como método não a exposição, mas a dialética (aqui com o sentido de arte do diálogo e da discussão), que passava por três momentos distintos: - IRONIA: em grego significa interrogação. Consistia em uma cadeia de perguntas realizadas por Sócrates que iam, pouco a pouco, conduzindo o interlocutor á consciência da própria ignorância. - APORIA: do grego a = não e poria vem de poros que significa saída. O termo, então, significa sem saída, e relaciona-se ao final de todo o diálogo platônico de primeira fase, também dito diálogo socrático. Acredita-se que em sua primeira fase de escritos Platão tenha tão somente reproduzido a prática de Sócrates nas ruas e praças de Atenas. É assim que podemos diferenciar o que seja socrático do que seja já teoria platônica. Todos os diálogos socráticos são aporéticos, ou seja, não apresentam nenhuma resposta ao seu final, o que não poderia ser diferente, visto que Sócrates só tinha consciência da própria ignorância. - MAIÊUTICA: Traduzido ao pé da letra o termo significa arte de parturejar, ou seja, de trazer à luz novos seres humanos. Essa é a profissão da parteira, ainda muito comum em certas regiões do Brasil. Era esse o ofício desempenhado pela mãe de Sócrates. No diálogo Teeteto nosso filósofo afirma que sua atividade se parece muito com aquela realizada pela sua mãe, visto que nessa nova etapa, posterior à destruição do falso saber do interlocutor, Sócrates buscaria auxiliar aquele com quem dialogava a conceber ideias verdadeiras, seguras, que estariam, evidentemente, dentro do próprio indivíduo que travava diálogo com o filósofo. E é óbvio que só poderia ser assim, visto que o único conhecimento afirmado por ele é o da sua própria ignorância. NOTA: Todos que se dispunham a dialogar com Sócrates o faziam por vontade própria, não havia nenhum tipo de insistência ou coação. Exercícios Propostos: QUESTÃO 01: (UFU) Marque a alternativa que expressa corretamente o pensamento de Sócrates. A) Sócrates estabelece uma ligação muito estreita entre o conhecimento da virtude e a ação humana, a ponto de sustentar que aquele que conhece o que é o correto não pode agir erroneamente, visto que o erro de conduta é fruto da ignorância sobre a verdade. B) O fim último do método dialético socrático era a refutação do seu interlocutor. Assim sendo, é legítimo afirmar que o reconhecimento da própria ignorância equivale à constatação de que a verdade é relativa a cada indivíduo. C) Sócrates é considerado um divisor de águas na Filosofia graças a sua teoria ética sobre a imobilidade do Ser. Por isso, sua missão sempre foi a investigação de um fundamento absoluto da moral. D) Sócrates fazia uso de um método refutativo de investigação, o que significa que seu principal intento era levar o interlocutor à contradição, independentemente se o último estivesse ou não com a razão. QUESTÃO 02: (UFU) Leia o trecho abaixo, que se encontra na Apologia de Sócrates de Platão e traz algumas das concepções filosóficas defendidas pelo seu mestre. Com efeito, senhores, temer a morte é o mesmo que se supor sábio quem não o é, porque é supor que sabe o que não sabe. Ninguém sabe o que é a morte, nem se, porventura, será para o homem o maior dos bens; todos a temem, como se soubessem ser ela o maior dos males. A ignorância mais condenável não é essa de supor saber o que não se sabe? Platão, A Apologia de Sócrates, 29 a-b, In. HADOT, P. O que é a Filosofia Antiga? São Paulo: Ed. Loyola, 1999, p. 61. Com base no trecho acima e na filosofia de Sócrates, assinale a alternativa INCORRETA. A) Sócrates prefere a morte a ter que renunciar a sua missão, qual seja: buscar, por meio da filosofia, a verdade, para além da mera aparência do saber. B) Sócrates leva o seu interlocutor a examinar-se, fazendo-o tomar consciência das contradições que traz consigo. C) Para Sócrates, pior do que a morte é admitir aos outros que nada se sabe. Deve-se evitar a ignorância a todo custo, ainda que defendendo uma opinião não devidamente examinada. D) Para Sócrates, o verdadeiro sábio é aquele que, colocado diante da própria ignorância, admite que nada sabe. Admitir o não-saber, quando não se sabe, define o sábio, segundo a concepção socrática. QUESTÃO 03: (UFU) O diálogo socrático de Platão é obra baseada em um sucesso histórico: no fato de Sócrates ministrar os seus ensinamentos sob a forma de perguntas e respostas. Sócrates considerava o diálogo como a forma por excelência do exercício filosófico e o único caminho para chegarmos a alguma verdade legítima. De acordo com a doutrina socrática, A) a busca pela essência do bem está vinculada a uma visão antropocêntrica da filosofia. B) é a natureza, o cosmos, a base firme da especulação filosófica. C) o exame antropológico deriva da impossibilidade do autoconhecimento e é, portanto, de natureza sofística. D) a impossibilidade de responder (aporia) aos dilemas humanos é sanada pelo homem, medida de todas as coisas. Questões Enem: QUESTÃO 01: Sócrates ocupava-se de questões éticas e não da natureza em sua totalidade, mas buscava o universal no âmbito daquelas questões, tendo sido o primeiro a fixar a atenção nas definições. Aristóteles. Metafísica, A6, 987b 1-3. Tradução de Marcelo Perine. São Paulo: Loyola, 2002. Em um importante trecho da sua obra Metafísica, Aristóteles se refere a Sócrates nos termos acima. Sócrates inaugura um novo período na filosofia grega. Além do objeto diferente, o método deste filósofo também era algo inovador, e consistia A) em um exercício dialético, cujo objetivo era livrar o seu interlocutor do erro e do preconceito − com o prévio reconhecimento da própria ignorância −, e levá-lo a formular conceitos de validade universal (definições). B) na busca pela “Arché”, pelo princípio supremo do Cosmos. Por isso, o método socrático era idêntico aos utilizados pelos filósofos que o antecederam (Pré- socráticos). C) em um procedimento empregado simplesmente para ridicularizar os homens, colocando-os diante da própria ignorância. Para Sócrates, conceitos universais são inatingíveis para o homem; por isso, para ele, as definições são sempre relativas e subjetivas, algo que ele confirmou com a máxima “o Homem é a medida de todas as coisas”. D) em uma forma de exortar os seus concidadãos para a mudança interior e o cuidado com a alma, parte mais importante do homem. Em razão de discursar de forma eloquente
Compartilhar