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2019 Indexação e Resumos Prof.a Fernanda de Sales 1a Edição Copyright © UNIASSELVI 2019 Elaboração: Prof.a Fernanda de Sales Revisão, Diagramação e Produção: Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri UNIASSELVI – Indaial. Impresso por: SA163i Sales, Fernanda de Indexação e resumos. / Fernanda de Sales. – Indaial: UNIASSELVI, 2019. 157 p.; il. ISBN 978-85-515-0312-6 1. Indexação e resumos - Brasil. II. Centro Universitário Leonardo Da Vinci. CDD 025.3 III apResentação A principal função da indexação, no âmbito bibliográfico, é a representação dos conteúdos contidos nos documentos, para fins de recuperação da informação. Esta operação, parece bastante corriqueira: folhear um livro, ler alguns trechos específicos deste volume e identificar os temas tratados pelos autores. No entanto, não se trata de um procedimento técnico simples, uma vez que esta identificação de conteúdo exige “conhecer” minimamente as diversas áreas do conhecimento, conhecer conceitos presentes nessas mesmas áreas, compreender as relações existentes entre eles, traduzir estes conceitos para uma linguagem documentária para que, enfim, o usuário possa utilizar este resultado para acessar fisicamente a informação desejada. Soma-se às etapas acima mencionadas o fato de a indexação ainda depender grandemente da intervenção humana, o que insere ao processo certa dose de subjetividade. O presente material tem o objetivo de apresentar, de maneira sistematizada, propostas teórico-metodológicas para minimizar as interferências que venham a prejudicar a prática da indexação, levando a buscas frustradas por informações em diversos tipos de unidades. Será possível conhecer os princípios, as etapas e a relevância da indexação dentro do processo técnico biblioteconômico; compreender a relação entre os princípios da organização do conhecimento e a indexação; conhecer propostas para elaboração de políticas, bem como relacionar esta atividade de gestão com os instrumentos que apoiam a prática da indexação, quais sejam, os vocabulários controlados. Por fim, será possível, a partir de exercícios, ter contato com a prática da indexação e da elaboração de resumos. A Unidade 1 – Princípios da indexação – é dividida em três tópicos: A indexação e a recuperação da informação; etapas práticas da indexação, e a tradução. No primeiro tópico, serão apresentadas aproximações conceituais acerca da atividade de indexação, bem como as suas subjetividades e ferramentas capazes de minimizar as subjetividades enfrentadas pelo indexador. O Tópico 2 – Etapas práticas da indexação – trará a normalização da atividade e autoatividades capazes de possibilitar ao aluno a compreensão da relação entre teoria e prática, com base no proposto pela Associação Brasileira de Normas Técnicas e de outros documentos oficiais. O Tópico 3 – A tradução – por sua vez, coloca em foco a tradução dos termos extraídos da linguagem natural para a linguagem documentária. A Unidade 2 trata das políticas de indexação. Sua estrutura é a seguinte: no Tópico 1, serão tratados os conceitos de linguagem natural e de linguagem documentária, bem como suas relações no âmbito da biblioteconomia, e, principalmente, no âmbito da organização e da IV Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há novidades em nosso material. Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo. Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto em questão. Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa continuar seus estudos com um material de qualidade. Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de Desempenho de Estudantes – ENADE. Bons estudos! recuperação da informação. O Tópico 2 traz as relações entre as linguagens documentárias e as políticas de indexação a partir das ideias de autores do núcleo duro da biblioteconomia e da ciência da informação. Já, no Tópico 3 – Elaboração de políticas de informação – serão apresentados e discutidos alguns modelos possíveis para implantação em unidades de informação. A Unidade 3 – Prática de indexação e resumos – apresenta os diversos tipos de resumo, com especial foco aos resumos indicativo e informativo, por serem os mais utilizados atualmente. No entanto, são descritos também outros tipos de resumos, como o resumo crítico. Também é foco desta unidade apresentar vários elementos necessários à escrita de um bom resumo. Especialmente, permitirá ao aluno a resolução de uma série de exercícios que visam à indexação de documentos e elaboração de resumos. Boa leitura e bons estudos! Prof.a Fernanda de Sales NOTA V VI VII UNIDADE 1 – PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO ................................................................................ 1 TÓPICO 1 – A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO ................................... 3 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3 2 PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO ........................................................................................................ 3 3 POR QUE INDEXAR? A ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E A INDEXAÇÃO ...... 9 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 11 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 12 TÓPICO 2 – ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO ................................................................. 13 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 13 2 NORMA BRASILEIRA PARA ANÁLISE DOCUMENTÁRIA .................................................... 14 3 INDEXAÇÃO DE IMAGENS ............................................................................................................. 20 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 26 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 27 TÓPICO 3 – A TRADUÇÃO .................................................................................................................. 31 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 31 2 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA .......................................................................................................... 32 3 INDEXAÇÃO POR EXTRAÇÃO ......................................................................................................34 4 INDEXAÇÃO POR ATRIBUIÇÃO ................................................................................................... 35 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 37 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 41 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 42 UNIDADE 2 – POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO .................................................................................. 45 TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO ............................................... 47 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 47 2 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO PARA UNIDADES DE INFORMAÇÃO .................................... 47 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 52 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 53 TÓPICO 2 – LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA ........................... 55 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 55 2 O QUE SÃO LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS? ..................................................................... 55 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 58 3 LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS E SUAS RELAÇÕES COM AS POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO ......................................................................................................................................... 68 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 70 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 71 TÓPICO 3 – ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO ................................................. 75 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 75 sumáRIo VIII 2 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO ............................................................. 75 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 87 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 88 UNIDADE 3 – INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA ................................................................... 91 TÓPICO 1 – RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES ................................................................................... 93 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 93 2 CARACTERÍSTICAS DOS RESUMOS ........................................................................................... 93 RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 98 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 99 TÓPICO 2 – PRÁTICA DE INDEXAÇÃO .......................................................................................... 109 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 109 2 POR QUE PRATICAR? ........................................................................................................................ 109 3 A ANÁLISE DOCUMENTÁRIA ........................................................................................................ 109 RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 115 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 116 TÓPICO 3 – PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS .......................................................... 119 1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 119 2 ELABORAÇÃO DE RESUMOS ......................................................................................................... 119 LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 124 RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 132 AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 133 REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 155 1 UNIDADE 1 PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender os princípíos da indexação; • reconhecer a importância da atividade de indexação nas unidades de informação; • conhecer as etapas da indexação de documentos e de imagens; • conhecer as diferentes formas de indexação automática, segundo F. W. Lancaster; • distinguir linguagens naturais de documentária; • conhecer as possibilidades para a elaboração de uma política de indexação; • elaborar resumos informativos e indicativos; • indexar documentos e imagens. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO TÓPICO 2 – ETAPAS PRÁTICAS DA INDEXAÇÃO TÓPICO 3 – A TRADUÇÃO 2 3 TÓPICO 1 UNIDADE 1 A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO 1 INTRODUÇÃO A indexação, segundo Dias (2007, p. 11), é a “terminologia mais usada para designar o trabalho de organização da informação quando realizado nos chamados serviços de indexação e resumo. Esses serviços têm por finalidade organizar informações”. Deste modo, as unidades de informação, por serem as ambiências que mais necessitam a utilização de facilitadores na organização de informações, são as organizações nas quais a indexação é profissionalmente realizada. Indexar é construir índices. No campo da informação, isso significa construir índices que referenciem os conteúdos dos documentos. Esta atividade faz parte de um conjunto maior de técnicas que visam ao tratamento temático da informação. Todas estas técnicas têm por função representar de forma sintética e coerente os conteúdos dos itens de uma unidade de informação (livros, documentos, imagens, por exemplo). Ou seja, a partir de ações específicas, o bibliotecário deve identificar o conteúdo de um item, traduzi-lo em palavras- chave que sejam coerentes ao usuário, identificar cada um dos itens para que eles possam ser encontrados dentro do acervo e, assim, possibilitar a recuperação das informações. O ato de traduzir o conteúdo integral em termos que o represente coerentemente é o cerne da atividade de indexação. Esta unidade se dispõe a caracterizar esta atividade e seus princípios, a detalhar suas etapas, a relacioná-la à organização da informação e do conhecimento, bemcomo a apresentar os tipos de indexação. É o que segue. 2 PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO A indexação é comumente chamada de indexação de assuntos. Esta, segundo Lancaster (1997) visa indicar de que trata um documento. O resultado da indexação é a construção de termos de indexação. Segundo o autor, os termos devem proporcionar uma ideia “bastante razoável sobre o que é tratado” em um dado texto (LANCASTER, 1997, p. 5). Vejamos o seguinte exemplo: Centro de Informação Compartilhamento de recursos Catálogos coletivos Redes em linha Redes de bibliotecas UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 4 Esta lista de termos, que representam um dado livro, deve funcionar como um minirresumo. Imaginemos um usuário entrando em uma unidade de informação para buscar livros e outras fontes de informação, para desenvolver uma pesquisa sobre o tema Compartilhamento de dados em Catalogação. Este usuário, ao consultar o catálogo da unidade, utilizando termos de busca, deve chegar a uma série de itens que tratem do tema referido. Grande parte da dificuldade encontrada por bibliotecários, que trabalham com indexação, está na subjetividade que é inerente a esta atividade. Como saber se este usuário fará sua busca por informação utilizando exatamente os mesmos termos utilizados pelo pessoal técnico? Eis a resposta: não há como saber. A subjetividade está presente no dia a dia dos indexadores de maneira bastante marcante. Isso será tratado mais detalhadamente adiante na Unidade 2. No entanto, chamamos a atenção para este fato agora para ilustrar algumas situações que podem, perfeitamente, ser vivenciadas em um setor de referência em uma biblioteca. Vejamos um primeiro exemplo: tomemos o mesmo usuário citado anteriormente, aquele que busca fontes para desenvolver uma pesquisa sobre o tema Compartilhamento de dados em Catalogação. Se ele faz sua busca com termos como “biblioteca”, “recursos informacionais compartilhados”, “redes on-line” e “bibliotecas em rede”, ele não encontrará o livro indexado com os termos “centro de informação”, “compartilhamento de recursos”, “catálogos coletivos”, “redes em linha”, e “redes de bibliotecas”. Isso significa que o usuário busca por uma informação que existe nos estoques informacionais da biblioteca, mas ela não pode ser recuperada. Outra situação é trazida por Dias (2007), que convidou um grupo de bibliotecários atuantes como indexadores em bibliotecas especializadas para indexar todos eles, mas, separadamente, os mesmos livros. O resultado foi analisado e arquivado. Os mesmos bibliotecários foram convidados meses mais tarde para indexar os mesmos livros da atividade anterior. Os resultados, confrontados com os primeiros, mostraram que um mesmo bibliotecário indexou o mesmo livro de formas diferentes. O pesquisador atribuiu esta diferença a razões que se aproximam da subjetividade humana, tais como: conhecimento sobre o tema, humor e estresse nos dois dias das atividades, falta de atenção, falta de interesse na atividade. Estas duas situações são trazidas à tona para demonstrar que a indexação é uma atividade que, em um primeiro momento, pode parecer bastante simples, quase mecânica. No entanto, é envolvida de complexidades que são inerentes à condição humana, pois envolvem o componente intelectual, portanto, humano. Especialmente por se reconhecer estas complexidades é que alguns princípios são fixados quando da indexação de assuntos. Estes princípios visam a amenizar essas complexidades e a trazer o quanto de objetividade for possível nos resultados do processo de indexação. TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO 5 Os princípios dos quais trataremos a seguir são os seguintes: extensão do registro, atinência, e, tradução, propostos por Lancaster (1997); e qualidade da análise, interesse do usuário e características do acervo, simplicidade formal, coerência e uniformidade, controle da sinonímia, analogia, e, controle da ambiguidade, propostos por Mendes e Simões (2002). O princípio da extensão do registro sugere que quanto mais extensa for a representação de um item, mais pontos de acesso serão oferecidos aos usuários. Dito de outra forma, quanto mais termos de indexação forem construídos pelo bibliotecário sobre um livro, por exemplo, mais chances haverá deste mesmo livro ser encontrado pelos usuários em suas buscas realizadas por assunto. Lancaster (1997, p. 7) afirma que “na medida que se aumenta a extensão da representação [da informação], também se aumenta sua recuperabilidade”. Para tratar do princípio da atinência, o mesmo autor recorre à Teoria do Conceito, cunhada pela alemã Ingetraut Dahlberg, em 1979. Em sua teoria, a autora apresenta várias unidades que devem ser reconhecidas sobre um assunto para que se possa chegar ao seu conceito mais puro. Assim, a proposta daquele autor é que seja realizada uma análise conceitual de um dado item bibliográfico para que o resultado de sua indexação tenha atinência, ou seja, seja atinente à verdadeira necessidade de informação apresentada pelo usuário. Não se descarta, neste processo, a elaboração de resumos para que, a partir deles, seja identificada a atinência do conteúdo. Já para Naves (2001), a atinência é uma fase da análise de assunto (portanto, imediatamente anterior à indexação), na qual se inicia um processo linguístico complexo. Esta autora concorda, no entanto, que neste processo deve-se proceder à identificação de conceitos presentes no texto que está sendo indexado. Ainda há a possibilidade de o resultado final da busca pela atinência do texto ser uma frase de indexação, com elementos suficientes para a posterior elaboração de uma lista de termos. É importante frisar que, apesar destes esforços, nem sempre a exatidão esperada é alcançada, especialmente, pelos significados atribuídos aos conceitos que podem ser diferentes para autores, bibliotecários indexadores e usuários. A tradução envolve a conversão dos elementos encontrados nas etapas anteriores em um conjunto de termos de indexação. Estes termos serão os pontos de acesso aos itens bibliográficos quando os usuários fizerem sua busca nos índices de determinada unidade de informação, utilizando um assunto como referência. Mendes e Simões (2002) apontam como um primeiro princípio da indexação a qualidade da indexação, que depende da qualidade da análise, que deve ser realizada com fidelidade ao conteúdo total ou parcial do documento, e ao que exprime o pensamento do autor. Desta forma, minimiza-se a recuperação de informações não pertinentes, ou seja, reduz-se as possibilidades de ‘ruídos’ na recuperação da informação. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 6 Ainda para as autoras: esta exigência pressupõe que o indexador desenvolva qualidades pessoais como as características de um espírito analítico-sintético; em primeiro lugar a objectividade, já que a análise é um campo onde o subjectivismo facilmente se insinua; deve possuir, ou propor-se adquirir, conhecimentos mínimos da área temática em que se move e contará sempre com o apoio regular de obras de referência [...]. Deverá notar-se que a utilização simultânea de uma linguagem de indexação combinatória, [...] de uma classificação, constitui um grande apoio para uma análise correcta, na medida em que, integrando o assunto concreto, num âmbito mais vasto, o torna mais claro e facilita a sua identificação (MENDES; SIMÕES, 2002, p. 18). Como se vê, as subjetividades da indexação também são motivos de preocupação para as autoras citadas anteriormente. Por isso, elas defendem o uso de linguagens documentárias especializadas em diversas áreas do conhecimento para que o trabalho possa resultar objetivo o quanto for possível. Aqui, não se pode deixar de mencionar a importância de programas de orientações ou de um serviço de referência atuante para que possa ser oferecido aos usuários uma educação quanto à consulta nos índices e/ou catálogos das bibliotecas, especialmente, pelo fato de não terem eles, osusuários, acesso a essas linguagens documentárias, já que se trata de materiais para uso profissional. No que tange ao interesse do usuário e das características do acervo, as autoras entendem que no processo de indexação, deve-se levar em conta os temas que constituam informação pertinente para a comunidade usuária a que a unidade de informação atende. Na representação da informação resultante da indexação, devem ser escolhidas as formas consagradas no uso corrente do meio a que se destinam. E isso também está presente na constituição do acervo, uma vez que a coleção de uma biblioteca se desenvolve de acordo com as características da comunidade usuária a quem pretende oferecer seus produtos e serviços de informação. Outro fato que está relacionado a este aspecto é que o acervo de uma biblioteca é sempre o primeiro fundo a ser consultado pelo bibliotecário indexador para que se mantenha certa uniformidade na linguagem empregada aos termos de indexação. As autoras não ignoram o fato de que, nos dias de hoje, os usuários podem apresentar um perfil diferente, conseguindo criar estratégias de busca diante de um catálogo de biblioteca em função da generalizada disponibilidade da informação em redes e através de meios e suportes técnicos acessíveis a um número maior nos últimos tempos. Todavia, mesmo assim, os indexadores não podem deixar de ter os seus objetivos bem claros e fundamentados para não transmitir a responsabilidade da recuperação da informação quase que totalmente para os usuários. TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO 7 Ao falarem sobre uma simplicidade formal, Mendes e Simões (2002) estabelecem que o termo de indexação deve ser tão simples quanto for possível. Aqui, pode-se inferir que o indexador deve possuir grande capacidade de síntese, mas, sem que essa característica impeça a elaboração de termos de indexação adequados para representar o conteúdo do item. No que se refere ao princípio da coerência e da uniformidade, espera-se que no processo de indexação haja coerência da aplicação dos mesmos princípios e da manutenção dos critérios de escolha para a solução de casos análogos. É o que as autoras chamam de uma uniformidade intrínseca. Deve-se também “manter uma uniformidade exterior, garantindo, para a representação de um mesmo conceito, a escolha de um mesmo termo” (MENDES; SIMÕES, 2002, p. 20). Dito de outra forma, espera-se que os itens de uma dada biblioteca que tratem dos mesmos termos em seus conteúdos sejam indexados de forma idêntica, para que todos possam ser recuperados em uma mesma busca. Quando, por outro lado, estes itens que tratam dos mesmos assuntos estiverem em bibliotecas diferentes, espera-se que a indexação seja feita de maneira bastante semelhante. As diferenças podem ficar por conta de características diferentes que podem aparecer nas diferentes comunidades usuárias. Em relação ao controle da sinonímia e à analogia, as autoras são bastante diretas: afirmam que para “um mesmo conceito deve escolher-se um único termo de indexação (termo preferencial ou descritor), permitindo-se através de uma relação de equivalência o acesso pelos seus sinônimos” (MENDES; SIMÕES, 2002, p. 21). Elas seguem: “em casos de dúvida na aplicação direta dos princípios e das normas, procurar-se-á uma solução análoga a alguma já encontrada para casos idênticos, fazendo assim valer a coerência e a uniformidade” (MENDES; SIMÕES, 2002, p. 22). UNI Sinonímia: relação de equivalência entre, pelo menos duas palavras [...]. De um lado, permite normalizar a polissemia, indicando que várias palavras, uma vez que compartilham significados próximos, expressa-se por meio de um mesmo descritor [termo de indexação]. De outro, permite compatibilizar a linguagem dos usuários com a linguagem do sistema [biblioteca], funcionando, assim, como operador de sentido (CINTRA et al., 2002). Por fim, sobre o princípio do controle de ambiguidade tem-se que “a escolha dos termos, em qualquer caso [...] deve ser cuidadosamente feita de modo que não resulte ambiguidade no momento da pesquisa” (MENDES; SIMÕES, 2002, p. 22). UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 8 UNI Ambiguidade: entendida como uma possibilidade de comunicação linguística prestar-se a mais de uma interpretação (CINTRA et al., 2002). A transcrição a seguir, apesar de extensa, ilustra bem este cenário: O caso mais evidente de ambiguidade deve-se a uma falta de controlo da polissemia; há que ter um cuidado especial com os homógrafos, pois o mesmo termo não pode representar dois conceitos, sob pena de provocar «ruído» na informação. Surgem, também, situações propícias à ambiguidade quando uma operação booleana é realizada no momento da pesquisa, em pós-coordenação, portanto, intercepcionando dois conceitos para obter um outro mais específico; a norma apresenta um exemplo que se tornou clássico: o produto da intercepção entre alimentação e plantas pode conduzir aos conceitos diferentes de alimentação de plantas e plantas como alimentação. Convém notar que o risco é efectivamente corrido ao nível da análise; ao optar por dois conceitos genéricos em vez de um específico, por razões muito próprias e expressamente permitidas nas normas, o indexador tem que prever as consequências que daí podem advir, neste caso os efeitos perniciosos da ambiguidade (MENDES; SIMÕES, 2002, p. 23, grifo nosso). UNI Polissemia: ocorre quando uma palavra pode comportar mais de um significado, “como em ‘Hoje trabalhei muito com ar condicionado’, em que o enunciador tanto pode dizer que trabalhou em aparelhos de ar condicionado, quanto em ambiente refrigerado ou aquecido por ar-condicionado” (CINTRA et al., 2002, p. 70-71). Vimos até aqui que a indexação é uma atividade de tratamento temático, desenvolvida em unidades de informação, que tem como objetivo identificar e representar os conteúdos de itens pertencentes a acervos de bibliotecas. Vimos também que esta é uma atividade permeada por complexidades advindas das subjetividades a que estão submetidos os elementos da linguagem e a própria condição interpretativa que cada pessoa – seja usuário ou bibliotecário – pode ter a respeito de um texto. Na continuação, veremos questões relacionadas à prática da indexação. TÓPICO 1 | A INDEXAÇÃO E A RECUPERAÇÃO DA INFORMAÇÃO 9 3 POR QUE INDEXAR? A ORGANIZAÇÃO DO CONHECIMENTO E A INDEXAÇÃO A resposta à pergunta acima poderia ser: para que a recuperação das informações seja possível. Uma biblioteca, geralmente, cumpre com seu papel se conseguir disseminar as informações que estão em seus acervos. Organiza-se informação para que ela se torne acessível. A indexação faz parte deste processo. Vejamos como Lima e Alvares (2012, p. 27) caracterizam a Organização do conhecimento: No sentido mais genérico do termo, organização do conhecimento é o modo como ele é disposto em assuntos em toda parte onde se deseja a sua sistematização ordenada para atingir determinado propósito [...] é estudada em outras áreas como Antropologia, Computação, filosofia, Linguística, Psicologia, Sociologia, entre outras. Na ciência da informação, é a área de estudos voltada às atividades de organização, representação e recuperação da informação. A biblioteconomia também se ocupa da organização da informação e do conhecimento, especialmente ao utilizar-se de ferramentas, técnicas e códigos que permitem: a) a organização física de um dado acervo; b) a representação dos conteúdos contidos nestes acervos; c) recuperação e uso da informação; e d) a constituição de novos conhecimentos a partir do acesso e uso de informação que produzam sentidos. Isto é possível a partir da prática da representação descritiva, que envolve a catalogação, e da representação temática, que envolve a análise de assunto, a indexação e a classificação. Cardozo Filho e Santos (2012, p. 185) ampliam as definições de indexação apresentadas até aqui, atribuindo-lhe a “função técnica de analisar documentos para quea informação significativa deles seja traduzida com a atribuição de termos selecionados da linguagem natural (utilizada na vida diária), ou por símbolos que mediarão a comunicação entre o documento e os usuários”. Portanto, temos aqui mais uma resposta à pergunta “para que indexar?”: para representar as informações significativas dos documentos. “A indexação agrega valor à informação” (CARDOZO FILHO; SANTOS, 2012, p. 188), uma vez que a torna acessível. Para além disso, é preciso ter em mente que toda a atividade técnica que está no cerne da prática bibliotecária, tem um alcance social relevante. Ao se indexar, classificar e catalogar os itens de uma dada biblioteca, é preciso entender que há uma ação social importante sendo desenvolvida, pois disponibilizar informação para uso garante a sua disseminação e, em última instância, e (não garante, mas) permite que o direito à informação como um bem comum seja exercido. Informar-se é um ato de cidadania e de participação social. Quando uma atividade técnica oferece aos cidadãos diversificados pontos de acesso à informação, o papel social da biblioteconomia está sendo ampliado. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 10 É importante que o indexador tenha em mente que seu trabalho vai além se uma sala de ‘processamento’. Seu trabalho, de fato, chega na sociedade. Imaginemos a situação em que um pesquisador está investigando a cura para uma determinada doença e que sua pesquisa depende do acesso a informações técnicas específicas a respeito de nutrientes que reagem a vírus ou bactérias. Buscar por estas informações num catálogo de uma biblioteca e conseguir recuperá-las para o desenvolvimento dos testes necessários pode representar o sucesso da descoberta. Ou o insucesso. Imaginemos agora que a indexação realizada nesta biblioteca permita que o pesquisador encontre exatamente a informação de que necessita para finalizar seus estudos e, garanta assim, a cura de milhares de pessoas. Inegável a participação do profissional no processo e o alcance social do trabalho técnico. Então, podemos mais uma vez ampliar a resposta à pergunta que inicia esta subseção: indexa-se para que a sociedade possa se transformar a partir – não só, mas também – do acesso a informações pertinentes as suas necessidades. Veremos no tópico a seguir como se indexa. 11 Neste tópico, você aprendeu que: • Existem pricípios para a indexação. • A atividade de indexação nas unidades de informação é de extrema importância para a recuperação da informação. • Existem conceitos acerca da atividade de indexação e muitas subjetividades em torno dessa atividade. • Existem ferramentas capazes de minimizar as subjetividades enfrentadas pelo indexador. RESUMO DO TÓPICO 1 12 1 O que é indexação e qual sua relevância nas unidades de informação? 2 Quais são as principais dificuldades enfrentadas pelos bibliotecários/ indexadores quando da indexação? 3 Quais as relações existente entre a indexação e a recuperação da informação? 4 Qual sua percepção acerca da relevância social da atividade de indexação? AUTOATIVIDADE 13 TÓPICO 2 ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Embora a atividade pareça ser bastante fácil e corriqueira, indexar não é apenas folhear um determinado livro e, como que automaticamente, pinçar algumas das palavras que se encontram em seu conteúdo. Os itens de um documento a serem consultados para o levantamento dos termos de indexação devem ser estrategicamente escolhidos para que se possa, a partir deles, extrair os conceitos mais significativos do conteúdo e, assim, representá-los mediante os termos. É importante lembrar aqui que estes termos de indexação são aqueles que os usuários comumente chamam de palavras-chave, ou, dito de outra forma, são aqueles termos que estes mesmos usuários usarão para realizar suas buscas por informações nos catálogos das bibliotecas. Por isso há duas questões a se levar em conta: a primeira delas é a identificação mais precisa que for possível dos conteúdos, e, a segunda, é a representação adequada destes conteúdos de forma que os usuários não deixem de recuperar as informações. No primeiro caso, é preciso realizar uma apurada análise documentária para levantamento dos conceitos. No segundo, é preciso lançar mão do uso de ferramentas que ajudem na tradução destes conceitos em termos de indexação. Vejamos este processo na figura a seguir. Documento Ação 1: Análise documentária - Selecionar partes do livro/ documento para ser consultado. - Identificar nestas partes os conteúdos de que trata o livro/documento. Ação 2: Indexação - Consultar linguagens documentárias que apontem melhores formas de traduzir o conteúdo em termos de indexação. - Construir os termos de indexação. FIGURA 1 – ANÁLISE DOCUMENTÁRIA E INDEXAÇÃO FONTE: A autora UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 14 2 NORMA BRASILEIRA PARA ANÁLISE DOCUMENTÁRIA No Brasil a atividade de análise documentária é regulamentada pela ABNT (Associação Brasileira de Normas e Técnicas) a partir da NBR 12676/1992, que propõe métodos para análise de documentos – determinação de seus assuntos e seleção de termos de indexação. A NBR supracitada (que se encontra anexada a esta Unidade 1), “fixa as condições exigíveis para a prática normalizada do exame de documento, da determinação de seus assuntos e da seleção de termos de indexação” (ABNT, 1992). Vejamos, resumidamente algumas definições importantes estabelecidas pela norma: • Documento – qualquer unidade, impressa ou não, que possa ser catalogada ou indexada. • Conceito – é qualquer unidade de pensamento; tem conteúdo semântico; pode ser combinado com outros conceitos; e, ainda, pode variar de acordo com diferentes línguas ou culturas. • Assunto – tema representado num documento. • Indexar – identificar e descrever o conteúdo de um documento. • Termo preferido – termo utilizado consistentemente na indexação; também chamado de descritor. • Termo não preferido – sinônimo do termo preferido; não utilizado como termo preferido, mas que pode ser apontado como remissiva. Imaginemos o exemplo ilustrado na figura a seguir: Documento: Conceito identificado a partir da Análise documentária: Trata da Moderna Historiografia brasileira e das Ciências Sociais brasileiras. Trata também da construção da sociedade brasileira. Assuntos: Moderna historiografia brasileira Ciências sociais no Brasil História da sociedade Termos preferidos: História do Brasil Ciências sociais Sociedade brasileira Tradução FIGURA 2 – ETAPAS DA INDEXAÇÃO, SEGUNDO NRB 12676/1992 FONTE: A autora TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO 15 Para que este processo seja realizado com êxito, o proposto pela ABNT é que a identificação dos conceitos seja realizada com base no exame do documento. Cada tipo de documento deve ser examinado de acordo com suas características físicas (impressos ou não impressos). Para livros, especificamente, devem ser analisadas as seguintes partes do todo: título e subtítulo, resumo (se houver), sumário, introdução, ilustrações, diagramas, tabelas, palavras em destaque e referências bibliográficas. Os documentos não impressos, como é o caso das imagens, e das realias, que não possuem em sua composição física tais elementos, pedem outros procedimentos, sendo estabelecidos de acordo com suas especificidades e de acordo com as políticas de indexação, que veremos mais adiante, na Unidade 2. No que tange à identificação de conceitos, o item 4.3 da NBR 12676/1992 sugere que o indexador tente responder a uma série de questões para que possa chegar às unidades de sentido. Veja as questões a seguir: a) Qual é o assunto de que trata o documento? b) Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses? c) O assunto contém uma ação, processo ou operação? d) O documento trata do agente desta ação? e) O documento se refere a métodos, técnicas especiais? f) Há um contexto local ou um ambiente especial na discussão? g)O assunto foi considerado de um ponto de vista interdisciplinar? Passemos ao entendimento de cada uma destas questões: Qual o assunto de que trata o documento? Trata-se de uma primeira aproximação com o conteúdo. Neste momento, o indexador pode registrar os primeiros conceitos identificados. Tomemos como exemplo um dado livro que trate sobre o passo a passo de pesquisas científicas. Neste momento, é provável que o indexador sugira que o assunto de que trata o livro é Metodologia Científica, ou Métodos e Técnicas de Pesquisa. Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses? Neste momento, o sumário e a introdução do livro podem apontar se existe, por exemplo, uma ou algumas abordagens teóricas da construção do conhecimento científico: positivismo, marxismo, fenomenologia, entre outros. Se tais características forem identificadas, o indexador deve apontá-las em seus registros. O assunto contém uma ação, processo ou operação? Livros de metodologia científica, geralmente, apontam várias possibilidades de etapas que constituem uma pesquisa. Falam de como essas etapas são distribuídas em processos, como elaboração de entrevistas, coleta de dados, transcrição ou de gravação de áudios, estabelecimento de formas de organização de dados coletados, para, enfim, se procederem às análises. Embora, neste exemplo, estas características possam sugerir um movimento, não se trata de responder afirmativamente à pergunta, UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 16 pois o conteúdo em si não é tratado com base em um movimento, em uma entrevista, em um estudo de caso. O livro traz estes temas como conteúdo, mas não como aplicação. O documento trata do agente desta ação? Se não há ação, não há agente da ação. No entanto, pensemos em outro exemplo. O livro apresenta o resultado de uma pesquisa desenvolvida por médicos de uma dada comunidade ribeirinha na região norte do Brasil, em que realizaram entrevistas com homens e mulheres em idade fértil, questionando-os sobre o acesso a informações relacionadas à contracepção e doenças sexualmente transmissíveis. Neste caso, ao responder à pergunta anterior, o indexador, diria: “sim! Há uma ação!”. Esta ação seria a entrevista. E, os agentes, os médicos (pesquisadores), e os homens e mulheres em idade fértil (respondentes, público-alvo da pesquisa). O documento se refere a métodos, técnicas especiais? No primeiro exemplo, o indexador pode considerar que sim, se o livro de metodologia apresentar diversos métodos de pesquisa. Já no segundo exemplo, o da pesquisa realizada pelos médicos, a própria entrevista pode ser considerada, além da ação, o método. Há um contexto local ou um ambiente especial na discussão? Parece- nos pouco provável que o livro de metodologia estabeleça um limite físico ou geográfico para o tratamento do conteúdo. Já a pesquisa dos médicos foi realizada no norte do Brasil, em comunidades ribeirinhas. O assunto foi considerado de um ponto de vista interdisciplinar? Seria imprudência não considerar a construção do conhecimento científico, interdisciplinar por si só. No entanto, temos de nos ater ao CONTEÚDO tratado em nosso livro hipotético. Ele trata apenas de metodologia científica. Já no segundo exemplo, se formos considerar que a pesquisa tenta identificar possíveis pontos de acesso à informação sobre um segundo tem (contracepção e DSTs), pode-se considerar que há interdisciplinaridade. Os conteúdos identificados seriam: acesso à informação e educação sexual. Esta norma, que já foi discutida e criticada por estudiosos do campo da Informação, pode não ser a única forma de se estabelecer critérios para a indexação em uma unidade de informação, mas pode sugerir algumas diretrizes importantes para a análise documentária. Vejamos um exemplo a seguir. Considere o livro Crítica da Razão Pura de Immanuel Kant. Suas informações temáticas são: uma das mais influentes e importantes obras da história ocidental. Ela é geralmente referida como a "primeira crítica" de Kant, uma vez que essa obra precede a Crítica da Razão. O autor tenta responder a três questões fundamentais: Que podemos saber? Que devemos fazer? Que nos é lícito esperar? Afirma que os pensamentos filosóficos correntes se utilizavam TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO 17 de "juízos analíticos" a priori, isto é, apenas andavam em círculos sobre algum conhecimento, reproduzindo-o com palavras diferentes, chegando a conclusões que em nada diferiam daquilo que já estava contido no primeiro pensamento, sem produzir, assim, qualquer novo conhecimento a respeito das questões sobre as quais eram formuladas. Neste caso, quais seriam as respostas às questões seguintes propostas pela NBR 12676: Qual o assunto de que trata o documento? Filosofia. Crítica. Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses? Se desenvolve com a crítica da razão. O assunto contém uma ação, processo ou operação? Não. O documento trata do agente desta ação? Não se aplica. O documento se refere a métodos, técnicas especiais? Não. Há um contexto local ou um ambiente especial na discussão? Não. O assunto foi considerado de um ponto de vista interdisciplinar? Não. Outro aspecto bastante pertinente ao processo de indexação, e que também é tratada pelo documento nacional que orienta a atividade, está relacionado à exaustividade e à especificidade às quais o indexador deve estar atento. A exaustividade está relacionada ao número de conceitos representados pelos termos atribuídos a um documento. Segundo Lancaster (1997, p. 23), a “indexação exaustiva implica o emprego de termos em número suficiente para abranger o conteúdo temático do documento de modo bastante completo”. Seu oposto seria a indexação seletiva, que propõe a utilização de termos que representem apenas o conteúdo principal. Veremos mais adiante que estas orientações são imprescindíveis ao indexador, por isso devem estar presentes de maneira bastante clara na política de indexação da unidade de informação. Ainda a esse respeito, a NBR 12676/1992 alerta para que a abrangência na indexação não seja muito restrita, pois, apesar de ter-se sempre um determinado grupo de usuários como suposto público-alvo, sempre é possível que outros usuários, pertencentes a um grupo menos especializado, faça uso das mesmas informações. Por isso, não é recomendado que se estabeleça um número arbitrário de termos a serem empregados para cada item indexado numa unidade de informação. É o próprio documento, ou o conteúdo propriamente dito que pode nortear essa decisão. “A imposição deste tipo de limite pode levar a alguma perda de objetividade na indexação e à distorção de da informação que poderia vir a ser de valor na recuperação” (ABNT, 1992, p. 3). UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 18 No tangente à especificidade, ela é referente ao grau de precisão com que um termo de indexação define um conceito, ou dito de outra forma, se refere à certa exatidão entre o termo de indexação e o conceito que ele representa. Lancaster (1997) acredita que é mais adequado utilizar vários termos mais específicos para indicar um conteúdo do que termos muito genéricos que possam não significar todos os conceitos de um determinado tema. Ele dá o seguinte exemplo: se um documento descreve o cultivo de limões, limas e tangerinas, será melhor indexado sob estes três termos específicos do que sob o termo mais genérico FRUTAS CÍTRICAS, O termo FRUTAS CÍTRICAS será usado apenas para artigos de frutas cítricas em geral, e para aqueles que tratem de praticamente todas as frutas cítricas (LANCASTER, 1997, p. 27). O mesmo autor lembra, de forma bastante positiva, que é preciso ter em mente que é possível atingir uma adequada especificidade na indexação a partir da combinação de termos. Ele apresenta os seguintes exemplos: Literatura Medieval Francesa, indexado sob LITERATURA MEDIEVAL e LITERATURA FRANCESA Bibliotecas Médicas, indexado sob BIBLIOTECAS ESPECIALIZADAS e CIÊNCIAS MÉDICAS LiteraturaCanadense, indexado sob LITERATURA e CANADÁ Óleo de amendoim, indexado sob ÓLEOS VEGETAIS e AMENDOIM” (LANCASTER, 1997, p. 28). Evangelista, Simões e Guimarães (2016, p. 59) entendem que “para uma recuperação da informação satisfatória, que atenda às carências informacionais do utilizador é necessária uma indexação eficaz, que possibilite a triangulação entre o conteúdo do documento, a sua representação e a necessidade informacional do utilizador”. Eles concordam com as definições já apresentadas até aqui ao afirmarem que: No desenvolvimento deste processo há dois princípios que devem ser sempre considerados: a exaustividade e a especificidade. O primeiro relaciona-se com o número de assuntos de um documento que são selecionados, e que se traduz objetivamente na quantidade de termos representativos; o segundo tem a ver com o nível de pormenor com o qual um conceito é representado (EVANGELISTA; SIMÕES; GUIMARÃES, 2016, p. 59). Estes autores abordam um tema de extrema relevância para a qualidade de indexação, bem como o exercício imparcial do indexador: a ética. Considera- se relevante transcrever um excerto de seu trabalho, que, apesar de reconhecida extenso, trata do assunto ética na indexação de maneira considerada bastante apropriada. Vejamos: Devido a um conjunto de razões, de entre as quais se destaca a subjetividade do indexador, em geral a operação de indexação não é contextualizada no seu tempo e no seu espaço. Muitas vezes o profissional da informação não atende aos aspetos sociais, culturais, políticos, a todo um conjunto de valores, princípios, preconceitos TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO 19 e crenças que envolvem o contexto desta operação. A observância desta concorrerá, inevitavelmente para o não reconhecimento de uma dimensão ética inerente à organização e representação do conhecimento. A Ética é um domínio no campo da Filosofia que visa a procura do bem-estar na convivência em sociedade, ideia que se encontra ancorada nos conceitos de bem e de mal, e que tem como objetivo uma harmoniosa coexistência social. É seu objeto a moral, que trata das ações relacionadas com o binómio bem/mal e que a partir de regras baseadas numa delimitação espacio-temporal, determina o que se deve ou não se deve fazer em sociedade (MALIANDI, 2004; JAPIASSÚ, 2008; GUIMARÃES et al., 2008). O campo da organização do conhecimento, por sua vez, encontra- se respaldado num conjunto de valores que são os fundamentos da moral, que se destacam em determinada sociedade, num dado espaço e num determinado tempo, com o objetivo de disciplinar a convivência dos membros que a constituem, buscando o bem-comum (JAPIASSÚ, 2008; GUIMARÃES et al., 2008). Dada a sua complexidade e afirmação na sociedade contemporânea, as questões relacionadas com a privacidade, a equidade, o acesso à informação, o respeito pelo utilizador e o princípio pela garantia cultural, têm vindo a ser destacadas como objeto de discussão na literatura da área da Ciência da Informação, em trabalhos académicos e científicos, desde meados do século XX. É o caso do que foi realizado por Guimarães et al. (2008), no qual, entre outras questões relacionadas com a ética na indexação, se apontam a especificidade e a exaustividade como valores éticos a serem considerados nesta operação. Esta nova abordagem leva a que conceitos direta ou indiretamente associados aos valores éticos, deixem de ser considerados apenas como simples medidas matemáticas usadas para determinar o sucesso ou insucesso de um sistema de recuperação de informação, no que se refere ao desempenho nos aspetos relacionados com a precisão e/ou revogação dos resultados de uma pesquisa, e passem a ser considerados também como medidas de natureza qualitativa que, na prática, concorrem para uma maior abrangência em termos de heterogeneidade cultural na recuperação da informação. Deste modo, pode inferir-se que a presença da exaustividade e da especificidade na representação da informação vai ao encontro de um compromisso ético com o utilizador (GUIMARÃES, 2000), que está patente no modo como o catálogo de assuntos ou o índice evidencia o mais adequadamente possível. A diversidade temática do documento (exaustividade) e a profundidade com a qual é abordada a realidade que manifesta (especificidade) (EVANGELISTA; SIMÕES; GUIMARÃES, 2016, p. 60). A pesquisa realizada pelos autores citados anteriormente verificou que a exaustividade e a especificidade são essenciais na prática de indexação, na medida em que agregam valor acrescentado ao documento, o que concorre para a existência de pesquisas mais consistentes e precisas, contribuindo para a construção de uma ponte sólida entre o documento e o utilizador, que se reflete em resultados da pesquisa mais eficazes (EVANGELISTA; SIMÕES; GUIMARÃES, 2016, p. 70). UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 20 DICAS Leitura integral da pesquisa citada no link: <http://ojs.letras.up.pt/index.php/ paginasaeb/article/view/1471>, acesso em: 29 abr. 2019, pois os autores colocam em evidência a natureza dos processos de organização da informação e destacam a necessidade da abordagem da dimensão ética destes na recuperação da informação. E, se, em última instância, o que se promove, ao gerir informação, é a consolidação de uma sociedade mais igualitária pelo viés do acesso à informação, então, o aspecto ético deve permear todas as etapas da elaboração e da oferta de produtos e de serviços de informação. 3 INDEXAÇÃO DE IMAGENS Hingst (2011, p. 11) concorda com a abordagem dada neste curso até aqui para o processo de indexação. Para a autora, “a indexação é um processo que requer estudo e aprimoramento constantes”. E, quando a indexação é de imagens, “o cuidado com este processo deve ser redobrado, uma vez que existe maior complexidade na extração de descritores para este tipo de documento” (HINGST, 2011, p. 11). A autora recorre à literatura para compreender as principais dificuldades encontradas ao se fazer indexação de imagens: A representação documental de itens não-escritos tem, de acordo com Guinchat e Menou (1994), problemas relativos a sua natureza e sua forma de consulta. Isso se deve ao fato da “multiplicidade das necessidades que eles são capazes de responder” (GUINCHAT; MENOU, 1994, p. 181). Para Lopes (2006, p. 201), a indexação de fotografias utilizando descritores “acrescenta um valor informativo e documental na imagem registrada por seus efeitos narrativos e linguísticos, sendo este processo de fundamental importância numa base de dados ou num banco de imagens constituído por fotografias (HINGST, 2011, p. 19). Uma das primeiras diferenças entre a indexação de textos para a indexação de imagens está nas características apresentadas pelo próprio documento. Uma imagem possui aspectos de denotação, que correspondem ao que a imagem é de fato, e de conotação, que são os valores atribuídos à imagem pelo indexador ou pela comunidade usuária. Quando se observa este princípio da conotação, especialmente, infere-se que a indexação das imagens pode estar muito mais submetida a questões interpretativas do que um texto, pois a linguagem escrita, apesar de apresentar diferentes conceitos em diferentes línguas e culturas, ainda possui uma objetividade da qual o indexador pode se valer. Mas, será que todos os indexadores chegam a mesma seleção de conceitos ao verem a imagem a seguir? http://ojs.letras.up.pt/index.php/paginasaeb/article/view/1471 http://ojs.letras.up.pt/index.php/paginasaeb/article/view/1471 TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO 21 FIGURA 3 – INDEXAÇÃO DE IMAGENS 1 FONTE: <https://www.climatempoconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2016/05/outono1-1- 750x420.jpg>. Acesso em: 20 maio 2019. Pode-se aproveitar a oportunidade para fazermos um rápido exercício. 1 Descreva a forma como você: a) identificaria a denotação da Figura 3; b) como você identificaria a conotação da Figura 3. 2 Examine mais uma figura. Vejamos: AUTOATIVIDADEFONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-vSW8KN4q2VI/ViZCs6wHsFI/AAAAAAAAA-E/ MCbC6Q7JqYg/s400/trem.png>. Acesso em: 8 maio 2019. a) Identifique a denotação desta imagem. b) Como você identificaria a conotação desta imagem. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 22 3 Examine a figura a seguir: FONTE: <https://www.donamix.com.br/image/cache/data/Manequim/allegomes--0012- 400x570.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019. a) Como você identificaria a denotação desta imagem? b) Como você identificaria a conotação desta imagem? 4 Examine a figura a seguir: FONTE: <http://www.olabahia.com.br/wp-content/uploads/2016/05/musica-640x366.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019. a) Como você identificaria a denotação desta imagem? b) Como você identificaria a conotação desta imagem? Este rápido exercício mostra o quanto de subjetividade pode haver no exercício de indexar imagens. Para que se possa minimizar esta equação, estudiosos da área buscam estabelecer alguns critérios. Vejamos: TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO 23 Sobre o que deve ser descrito na imagem, Smit (1996, p. 32) afirma que: As categorias QUEM, ONDE, QUANDO, COMO e O QUE, utilizadas por muitos estudiosos como parâmetros para grande variedade de análises de textos, inclusive a documentária, é também preconizada para a Análise Documentária da imagem (HINGST, 2011, p. 21). Quando olhamos para uma imagem e “perguntamos a ela” sobre características mais específicas, podemos chegar a respostas (portanto, a termos de indexação), mas específicos, e isso atende ao princípio da especificidade, como vimos anteriormente. 1 Voltemos às mesmas imagens e façamos as seguintes perguntas: AUTOATIVIDADE FONTE: <https://www.climatempoconsultoria.com.br/wp-content/uploads/2016/05/ outono1-1-750x420.jpg>. Acesso em: 20 maio 2019. Quem? Onde? Quando? Como? O quê? 2 FONTE: <http://1.bp.blogspot.com/-vSW8KN4q2VI/ViZCs6wHsFI/AAAAAAAAA-E/ MCbC6Q7JqYg/s400/trem.png>. Acesso em: 8 maio 2019. UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO 24 Quem? Onde? Quando? Como? O quê? 3 FONTE: <https://www.donamix.com.br/image/cache/data/Manequim/allegomes--0012- 400x570.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019. Quem? Onde? Quando? Como? O quê? 4 FONTE: <http://www.olabahia.com.br/wp-content/uploads/2016/05/musica-640x366.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019. Quem? Onde? Quando? Como? O quê? TÓPICO 2 | ETAPAS DA PRÁTICA DA INDEXAÇÃO 25 Hingst (2011) segue na empreitada de entender cada uma das questões, criando a partir delas, categorias, e se baseia em Smit (1996) para chegar às seguintes características: a) Na categoria QUEM, deve ser o objeto enfocado: seres vivos, artefatos, construções, acidentes naturais, entre outros. Exemplos: duas pessoas; ou, uma árvore; ou, um edifício de três andares. b) Em ONDE é realizada a localização da imagem no espaço geográfico ou espaço da imagem. Exemplos: Florianópolis; ou interior de uma farmácia; ou, num campo de trigo. c) Em QUANDO, busca-se localizar a imagem no tempo cronológico ou momento da imagem. Exemplos: 2019; ou, outono; ou, noite. d) E, em COMO/O QUE se realiza a descrição de atitudes ou detalhes relacionados ao objeto enfocado, quando este é um ser vivo. São exemplos: cavalo correndo, criança chorando (SMIT, 1996, p. 32 apud HINGST, 2011, p. 21). Manini (2002 apud HINGST, 2011) traz um importante avanço no que tange à elaboração destes critérios ao acrescentar a categoria recursos técnicos e suas variáveis. A partir desta categoria, pode-se chegar a uma segunda, qual seja, a dimensão expressiva. Os recursos técnicos a serem levantados quando da análise de imagens são: efeitos especiais, ótica, tempo de exposição, luminosidade, enquadramento, posição da câmera, composição e profundidade de campo. No critério efeitos especiais, são consideradas variáveis como fotomontagem; estroboscopia; alto-contraste; trucagens; esfumação. Em ótica as variáveis são: utilização de objetivas (fish-eye, lente normal, grande-angular, teleobjetiva); utilização de filtros. Tempo de exposição é o critério em que se avaliam as variáveis instantâneo; pose; longa exposição, e outras relacionadas. Em Luminosidade devem-se analisar variáveis como: luz diurna; luz noturna; contraluz; luz artificial; luz natural. Enquadramento. Critério que avalia o enquadramento do objeto fotografado, como vista parcial, vista geral: e, enquadramento de seres vivos. Posição da câmera, câmara alta; câmara baixa; vista aérea; vista submarina; vista subterrânea; microfotografia eletrônica; distância focal. Em Composição verificam-se as variáveis: retrato; paisagem; natureza morta, e outros. E, por fim, em profundidade de campo analisa-se se há profundidade; se todos os campos fotográficos estão nítidos (diafragma mais fechado). (MANINI, 2002, p. 91 apud HINGST, 2011, p. 25). Macambyra (2019) parece concordar com a necessidade de analisar elementos como os citados acima, uma vez que afirma que observar uma fotografia, por exemplo, implica identificar não apenas o objeto fotografado, mas também, em identificar uma séria de técnicas e de estáticas utilizadas pelo fotógrafo. 26 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • Existe uma norma da ABNT que propõem etapas para realizar a análise documentária. • A análise documentária pode ser realizada a partir dos seguintes questionamentos: a) Qual o assunto de que trata o documento? b) Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses? c) O assunto contém uma ação, processo ou operação? d) O documento trata do agente desta ação? e) O documento se refere a métodos, técnicas especiais? f) Há um contexto local ou um ambiente especial na discussão? g) O assunto foi considerado de um ponto de vista interdisciplinar? • As imagens também podem ser indexadas e que para isso é necessário levar em conta a denotação e a conotação que imagem oferece. Também é possível responder a perguntas específicas, que possibilitam maior uniformidade no resultado da indexação. Estas perguntas são: Quem? Onde? Quando? O que? Como? • Existem recursos técnicos a serem levantados no momento da análise de imagens. Eles são: efeitos especiais, ótica, tempo de exposição, luminosidade, enquadramento, posição da câmera, composição e profundidade de campo. 27 Passemos agora para mais alguns exercícios para melhor compreensão desta prática. Serão apresentadas algumas imagens e delas, algumas questões baseadas em todos os critérios apresentados até aqui. 1 AUTOATIVIDADE FONTE: <https://abrilveja.files.wordpress.com/2016/09/esportes. jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453>. Acesso em: 8 maio 2019. Quem? Onde? Quando? Como? O quê? Efeitos especiais? Ótica? Tempo de exposição? Luminosidade? Enquadramento? Posição da câmera? Composição? Profundidade de campo? 2 FONTE: <https://c.pxhere.com/photos/54/61/sunset_sun_sunlight_sunbeam_fireball_ setting_sun_evening_sun_afterglow-918393.jpg!d>. Acesso em: 8 maio 2019. https://abrilveja.files.wordpress.com/2016/09/esportes.jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453 https://abrilveja.files.wordpress.com/2016/09/esportes.jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453 28 Quem? Onde? Quando? Como? O quê? Efeitos especiais? Ótica? Tempo de exposição? Luminosidade? Enquadramento? Posição da câmera? Composição? Profundidade de campo? 3 FONTE: <https://static.gazetaonline.com.br/_midias/jpg/2019/02/05/050309_ra_8528- 5989420.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019. Quem? Onde? Quando? Como? O quê? Efeitos especiais? Ótica? Tempo de exposição? Luminosidade? Enquadramento? Posição da câmera? Composição? Profundidade de campo? 29 4 FONTE: <https://abrilexame.files.wordpress.com/2018/05/2018-05- 01t182503z_1354439875_rc1c4b315590_rtrmadp_3_may-day-france. jpg?quality=70&strip=info&resize=680,453>. Acesso em: 8 maio 2019. Quem? Onde? Quando? Como? O quê? Efeitos especiais? Ótica? Tempo de exposição? Luminosidade? Enquadramento? Posição da câmera? Composição? Profundidade de campo? 5 FONTE: <https://certifiedhumanebrasil.org/wp-content/uploads/2016/10/ovelha-pxb-300x199.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019. Quem? Onde? Quando? Como? O quê? 30 Efeitos especiais? Ótica? Tempo de exposição? Luminosidade? Enquadramento? Posição da câmera? Composição? Profundidade de campo? 31 TÓPICO 3 A TRADUÇÃO UNIDADE 1 1 INTRODUÇÃO Cumprida esta etapa de análise documentária das imagens e da seleção dos conceitos que são extraídos a partir de todos os critérios apresentados anteriormente, passa-se à tradução para os termos de indexação. Veremos a importância do uso das linguagens documentárias na indexação na Unidade 2. No entanto, por ora, veremos um exemplo de como este processo se dá na prática. Tomemos a imagem a seguir, faremos a análise utilizando os mesmos critérios usados nos exercícios anteriores. A seguir, faremos a tradução de todos os elementos com a utilização de uma linguagem documentária. Vejamos. FIGURA 4 – SALA DE AULA FONTE: <https://www.bastidoresdapoliticapb.com.br/wp-content/uploads/2019/01/sala_de_ aula_vazia2_foto-walla_santos-738x355.jpg>. Acesso em: 8 maio 2019. Quem? Não é possível identificar. Onde? Em uma escola, ou sala de aula. Quando? Não é possível identificar. Como? Uma sala de aula vazia, com luz acesa e porta aberta. O quê? Uma sala de aula, ou, carteiras e cadeiras, ou arquitetura de salas de aula, ou, iluminação de sala de aula. Efeitos especiais? Não possui. Ótica? Não é possível definir. Tempo de exposição? Não é possível definir. Luminosidade? Luz artificial. Enquadramento? Vista parcial de uma sala de aula. 32 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO Posição da câmera? Em diagonal. Composição? Retrato. Profundidade de campo? Possui profundidade. No primeiro plano, veem- se carteiras brancas e cadeiras azuis, ao fundo veem-se a mesa e a cadeira do professor, ambas em cor branca. Ainda ao fundo, veem-se um quadro branco, uma porta cinza aberta, uma janela de vidro no alto da parede do lado direito, parede branca, com detalhes em vermelho. Ao consultar o vocabulário controlado do INEP, o Thesaurus Brasileiro de Educação, vemos que os termos de indexação autorizados que melhor representam estes conceitos são: salas de aula e dependências da escola. Exploraremos melhor as possibilidades de utilização de vocabulários controlados mais adiante. Neste momento, o exemplo veio apenas ilustrar todas as etapas da indexação. 2 INDEXAÇÃO AUTOMÁTICA A indexação automática é um “processo estudado pelo campo da ciência da informação, que investiga a geração, coleta, organização, interpretação, armazenamento, recuperação, disseminação, transformação e uso da informação, com ênfase particular na aplicação de tecnologias modernas nestas atividades” (CAPURRO; HJØRLAND, 2007 apud LAPA; CORREA, 2014, p. 59). Em especial a recuperação da informação dá base para uma das correntes de constituição do campo da ciência da informação. Fazem parte da indexação automática operações matemáticas, linguísticas, de programação que visam à seleção de termos de um dado documento pelo processamento de seu conteúdo. Há duas formas de se proceder a indexação automatizada: por extração e por atribuição. Na indexação automática por extração, os termos não são interpretados por terceiros, são extraídos e ordenados de acordo com sua frequência em um texto. Já a indexação automática por atribuição “consiste numa representação temática por meio de termos selecionados de um vocabulário controlado (tesauro ou lista alfabética), onde um programa de computador desenvolve para cada termo a ser indexado um “perfil” de palavras ou expressões (LAPA; CORREA, 2014, p. 60). Borges e Lima (2015) nos explicam com clareza este cenário hoje permeado por possibilidades em termos de tecnologias de informação e comunicação e nos lembram que, mesmo com a inserção de sistemas automático na indexação, ainda assim a atividade intelectual do indexador não pode ser desconsiderada. Elas explicam que: TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO 33 No âmbito das tecnologias para representação da informação, a indexação automática veio como alternativa para resolver os problemas da indexação manual, também denominada como indexação intelectual, desde a década 1950 com os estudos de H. P. Luhn. Embora a indexação automática possa não apresentar resultados totalmente satisfatórios, suas soluções podem contribuir para significativas melhoras no processo de indexação manual. Soluções estas que almejam realizar automaticamente a extração inicial de termos (palavras ou expressões) do documento indexado, deixando para o profissional o trabalho de selecionar aqueles mais adequados para representar seu conteúdo. Além disso, a técnica permite a redução da subjetividade, característica inerente à realização intelectual da atividade (BORGES; LIMA, 2015, p. 50). Faremos a seguir a transcrição de um longo trecho das mesmas autoras, em que é possível conhecer o histórico da indexação automática. Segue: De acordo com os trabalhos de Luhn (1957), e de Baxendale (1958), registra-se o início das pesquisas sobre indexação automática baseada em frequência de ocorrência de palavras no texto. Baxendale (1958 apud LANCASTER, 2004) sugere que, em substituição ao processo que analisa todo o texto, sejam analisados apenas o “tópico frasal” e as “palavras sugestivas”. Seus estudos demonstraram que era necessário o processamento apenas da primeira e da última frase de cada parágrafo, pois, em 85% das vezes, a primeira frase era o tópico frasal e em 7% dos casos a última frase o era. Considera-se como tópico frasal a parte do texto que provê o máximo de informações relativas ao conteúdo do texto. Ainda no decorre da década de 1950, desenvolveram-se métodos relativamente simples para a construção de índices a partir de textos, especialmente utilizando as palavras que ocorrem nos títulos dos documentos. O Keyword in Context – KWIC (Palavra-chave no Contexto) foi desenvolvido por H. P. Luhn, em 1959, e corresponde a um índice rotativo em que cada palavra-chave que aparece nos títulos dos documentos torna-se uma entrada do índice. O programa reconhece as palavras que não são palavras-chaves, baseando-se em uma lista de palavras proibidas, e impede que elas sejam adotadas na entrada. O Keyword out of Context – KWOC (Palavra-chave fora do Contexto) é um método semelhante ao KWIC, porém, as palavras- chave que se tornam pontos de acesso são repetidas fora do contexto, normalmente destacadas no canto esquerdo da página ou usadas como cabeçalhos de assunto. Além do KWIC e do KWOC, podemos citar o Selective Listing in Combination – SLIC (Listagem Seletiva em Combinação), criado por J. R. Sharp, em 1966, que organiza a sequência de termos de um documento em ordem alfabética e elimina as sequências redundantes, e o método Preserved Context Indexing System – PRECIS, criado pelo Dr. Derek Austin, em 1968, e que produz o índice impresso baseado na ordem alfabética e na alteração sistemática de termos para que ocupem a posição de entrada (LANCASTER, 2004). Outro importante sistema desenvolvido foi o Nested Phrase Indexing System – NEPHIS (Sistema de Indexação de Frase Encaixada), criado por T. C. Craven, em 1977, e corresponde a um índice articulado de assunto. 34 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO De acordo com Garvin (1969 apud SALTON, 1973) e Salton (1973), já na década de 1960, percebia-se a intrínseca relação entre processamento da informação e aspectos linguísticos. Os esforços deviam ser voltados para estudos das propriedades estruturais e semânticas das línguas naturais. Contudo, percebe-se que grande parte das metodologias linguísticas da época geralmente produzia resultados decepcionantes. Segundo Salton (1970, 1973) e Swanson (1960), a indexação automática apresenta relativos méritos em relação às técnicas manuais. Os pesquisadores afirmavam que era possível extrair automaticamente de textos palavras-chave relevantes, e que, quando estas eram comparadas com aquelas atribuídas por indexadores, constatava-se um acordo entre 60 e 80% dos termosatribuídos. A partir da década de 1970, percebe-se uma intensificação das pesquisas na área, destacando- se dois dos importantes experimentos do período: (1) desempenho do SRI MEDlars, que operava no National Library of Medicine, em Washington, e (2) SRI experimental SMART, criado por Gerard Salton enquanto trabalhava na universidade de Cornell (SALTON, 1973) (BORGES; LIMA, 2015, p. 50-51). As formas conhecidas de indexação automática são por extração e por atribuição. 3 INDEXAÇÃO POR EXTRAÇÃO Segundo Lancaster (1997, p. 231), “na indexação automática por extração palavras ou expressões que aparecem num texto são extraídas e utilizadas para representar o conteúdo do texto como um todo.” Cabe ao bibliotecário indexador a seleção de expressões no texto que pareçam indicar a íntegra do conteúdo. Há influência da frequência de ocorrência das palavras e/ou termos no documento original. A posição dos termos no documento (se está no título, no sumário, na introdução, legendas, ilustrações) também são indicadores de representatividade. Textos eletrônicos, muito mais comuns hoje em dia, podem ser submetidos a programas façam esta seleção. (LANCASTER, 1997). O autor também fala em uma frequência relativa, onde é necessário um cálculo entre a frequência dos termos em toda a base de dados, ou seja, em todos os itens indexados. Ele acredita, portanto, que a indexação por extração deve levar em conta a frequência absoluta e a frequência relativa de palavras ou a combinação de ambas. Os sistemas baseados em indexação por extração automática cumprem as seguintes tarefas: (1) contar palavras num texto; (2) cotejá-las com uma lista de palavras proibidas; (3) eliminar palavras não significativas; e (4) ordenar as palavras de acordo com sua frequência. (BORGES; MACULAN; LIMA, 2008) TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO 35 4 INDEXAÇÃO POR ATRIBUIÇÃO Ao explicar o que é indexação automática por atribuição, Lancaster (1997, p. 235) nos lembra que este é o tipo mais comum de indexação realizada por seres humanos, mas diz que a melhor maneira de executar esta atividade com emprego de computador é desenvolver um perfil de termos ou palavras que costumam aparecer com frequência nos “documentos aos quais um indexador humano atribuiria a este termo. Esse tipo de perfil, para o termo CHUVA ÁCIDA incluiria expressões como CHUVA ÁCIDA, PRECIPITAÇÃO ÁCIDA, POLUIÇÃO ATMOSFÉRICA”. Seria uma espécie de vocabulário controlado construído pelo bibliotecário indexador e utilizado por ele para futuras indexações de documentos aos quais possam ser atribuídos os mesmos termos. Borges, Maculan e Lima (2008) atentam para uma questão importante nos dias atuais: a importância da semântica no processo de indexação automática. Ou seja, mais do que considerar a incidência de palavras e termos em um texto, é preciso considerar os significados destas palavras, ou, em última instância, é preciso que estas palavras representem conceitos. Traremos mais um extenso excerto de artigo para esta apostila, por ilustrar perfeitamente o cenário em discussão. Trata-se de mais uma explanação de Borges, Maculan e Lima (2008). Segue: A indexação manual vem revelando-se inadequada para minimizar a subjetividade inerente à indexação, além de ser caracterizada como um processo relativamente moroso e caro. Vários fatores podem ser apontados como causa deste problema. O conhecimento que o indexador tem sobre o assunto indexado determina o grau de consistência atingido. Tem-se, ainda, a dinamicidade do conhecimento, que exige do indexador permanente atualização. Outro aspecto a considerar, segundo Borko (1977 apud GUEDES, 1994), refere-se à inconsistência interindexadores (diferentes indexadores atribuindo diferentes termos-índice a um mesmo conceito/documento) e intraindexador (o mesmo indexador atribuindo diferentes termos- índice a um mesmo conceito/documento, em diferentes momentos). A possibilidade de o indexador não dominar o idioma do documento também é um. Todos os problemas enumerados impulsionaram as pesquisas no campo da indexação automática, tornando-o bastante abordado pelos pesquisadores da Ciência da Informação. Alguns dos resultados dessas investigações apontam alternativas que podem trazer soluções interessantes para a área, sobretudo em ambientes digitais. Segundo Robredo (1982), o processo de indexação automática é similar ao processo de leitura-memorização humano, sendo seu princípio geral baseado na comparação de cada palavra do texto com uma relação de palavras vazias de significado, previamente estabelecida, que conduz, por eliminação, a considerar as palavras restantes do texto como palavras significativas. Ao ler um texto, não interessam, ao indivíduo, as letras, mas a ideia (sic) que elas representam quando organizadas em palavras ou em conjuntos de palavras. O olho, janela do cérebro, reconhece as palavras significativas e suas associações fixando-se nelas um tempo necessário para assegurar a memorização das ideias, pulando, praticamente, as palavras não significativas (ROBREDO, 1982). 36 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO Pode-se separar o processo de memorização humana em duas etapas principais: (1) memorização temporária e inconsciente, nessa etapa há a conservação das palavras significativas passando por uma modificação ou aperfeiçoamento das mesmas a partir da detecção de novos conceitos significativos; e (2) memorização permanente dos conceitos assim trabalhados, à qual se atribui o nome de memória. Depois de ocorridas as duas etapas, tem-se, no fim do processo, a fixação na memória de uma série de palavras-conceitos-descritores que representam as ideias (sic) básicas do documento que acabamos de ler (BORGES; MACULAN; LIMA, 2008, p. 183-184). Ao se atribuir a atividade de indexação a sistemas automáticos, é preciso levar em conta que a semântica deve ser mantida, ou, ao menos, considerada. A seleção dos conceitos, por exemplo, deve ser levada em conta para uma representação mais adequada dos conteúdos. Nesta unidade foi possível conhecer definições de indexação, compreender seus princípios e etapas e, principalmente, verificar que esta atividade não é simples como folhear um livro e buscar, aleatoriamente, termos que estejam contidos em seu conteúdo. Mais que isso, é necessário extrair, selecionar conceitos e traduzi- los de forma que possam alimentar o sistema de informação e, principalmente, de maneira que permita a recuperação da informação. Também foi possível realizar alguns exercícios iniciais que apontaram para o uso de algumas técnicas de análise documentária e de indexação que visam a minimizar questões subjetivas e interpretativas. Na próxima unidade, conheceremos as políticas de indexação e veremos o quão importante é o estabelecimento de diretrizes que orientem o trabalho do bibliotecário indexador. Veremos como as linguagens documentárias se relacionam com essas políticas, bem como a importância do conhecer e utilizar vocabulários controlados. TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO 37 LEITURA COMPLEMENTAR 38 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO TÓPICO 3 | A TRADUÇÃO 39 40 UNIDADE 1 | PRINCÍPIOS DA INDEXAÇÃO FONTE: <https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/372910/mod_resource/content/1/Norma%20 Brasilena%20Indizacion%20Isidoro%20Gil%20Leiva.pdf>. Acesso em: 20 maio 2019. 41 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A indexação também pode ser automática. • A indexação automática pode se dar por extração ou por atribuição. • A indexação por extração é aquela em que os termos de indexação são retirados do texto, ou seja, são construídos a partir de palavras que aparecem no documento original. • A indexação por atribuição é aquela que deve levar em conta os significados das palavras no documento original, e não apenas a incidência delas no texto. 42 1 Analise os textos a seguir e atribua a eles termos de indexação a partir da indexação por extração: a) As bibliotecas digitais se impõem como umfenômeno que pode vir a minorar alguns dos problemas enfrentados pelos que pretendem resolver suas necessidades de informação por meio do contexto digital. Entretanto, não dispensam a existência das bibliotecas tradicionais, que ao que tudo indica ainda terão uma longa vida pela frente, até porque para estas se vislumbra, há algum tempo, inclusive, a função de permitir o acesso a bibliotecas digitais, para aqueles usuários que não teriam condição de fazê- lo, de outra forma. As bibliotecas digitais têm muito a aprender com as bibliotecas tradicionais, dada a longa experiência acumulada por estas em todas as questões que dizem respeito à criação, organização e manutenção de conjuntos de estoques de informação: seleção, organização e tratamento, análise de consultas, desenvolvimento de estratégias de busca, realização de buscas, disseminação. O tratamento da informação, por conseguinte, continua necessário no contexto digital, mas depende de uma melhor definição da natureza e das características dos vários tipos de bibliotecas digitais, para que possa ser feito com eficácia e com eficiência. Ao contrário, o que ocorre no momento é uma tendência a tratar a biblioteca digital como um fenômeno único, abrangente, a que se poderia aplicar processos genéricos que servissem para resolver todas as questões automaticamente, bem ao estilo de muito do que se faz no contexto digital, neste momento. Mas novos desafios se apresentam para o tratamento da informação, como a questão linguística (sic), amplificados pelas facilidades de comunicação trazidas pelo contexto digital (DIAS, 2001). b) O emprego de aditivos químicos é, sem dúvida, um dos mais polêmicos avanços alcançados pela indústria de alimentos. Os corantes artificiais pertencem a uma dessas classes de aditivos alimentares e têm sido objeto de muitas críticas, já que seu uso em muitos alimentos justifica-se apenas por questões de hábitos alimentares. Ainda existem diferentes opiniões quanto à inocuidade dos diversos corantes artificiais. Visando, principalmente, o controle no uso dos corantes sintéticos, mas tendo em vista que produtos coloridos artificialmente são exportados e importados, a análise desses aditivos requer métodos eficientes e rápidos para a detecção, identificação e quantificação. A cromatografia em papel e em camada delgada, apesar de serem técnicas relativamente rápidas, apresentam dados com baixa exatidão e precisão. Já na cromatografia líquida de alta eficiência (CLAE) as maiores dificuldades encontram-se nas etapas de extração, mas principalmente no alto custo do equipamento. A eletroforese capilar apresenta os mesmos problemas da CLAE, aliados ao fato de se tratar de uma técnica relativamente recente para a análise desse tipo de substância e, portanto, existem poucos estudos acerca da determinação e quantificação (PRADO; GODOY, 2003) AUTOATIVIDADE 43 2 Analise o texto a seguir e atribua a ele termos de indexação, a partir da indexação por atribuição: No dia 12 de maio comemora-se mundialmente o Dia do Enfermeiro, em homenagem a Florence Nightingale, um marco da enfermagem que nasceu em 12 de maio de 1820. Também comemoramos no Brasil, no dia 20 de maio, o dia Nacional dos Técnicos e Auxiliares de Enfermagem, em memória do falecimento de Ana Neri em 20 de maio de 1880. Maio é o mês das Mães e nada mais justo do que falar sobre estas duas mulheres tão valorosas, que foram mães de muitos soldados feridos e prestar uma singela homenagem a todos os enfermeiros (as) que se entregam de corpo e alma a esta nobre tarefa de cuidar de nossa saúde. Florence Nightingale – A Dama da Lâmpada – Nasceu em 12 de maio de 1820, em Florença, Itália. Em 1845, em Roma, no desejo de tornar-se enfermeira, estudou as atividades das Irmandades Católicas e, em 1849, decidiu trabalhar em Kaiserswert, Alemanha, entre as diaconisas. Em 1854 foi enfermeira de guerra e, durante os combates, os soldados fizeram de Florence o seu anjo da guarda, pois de lanterna na mão percorria as enfermarias dos acampamentos, atendendo aos soldados doentes. Por este motivo ela ficou conhecida mundialmente como A Dama da Lâmpada. Ao retornar da guerra em 1856, recebeu um prêmio em dinheiro do governo inglês em reconhecimento ao seu trabalho. Ela usou este dinheiro e deu início à Primeira Escola de Enfermagem, fundada no Hospital Saint Thomas, em 1859. Ana Néri nasceu em 13 de dezembro de 1814, na cidade de Cachoeira, na Bahia. Em 1864, quando seus dois filhos foram convocados para a Guerra do Paraguai (1864-1870), ela não resistiu à separação da família e colocou- se à disposição do governo para ir à guerra, sendo considerada a primeira enfermeira voluntária do Brasil. O seu nome foi dado à primeira Escola de Enfermagem oficializada pelo Governo Federal, em 1923. Ana Néri faleceu no Rio de Janeiro, em 20 de maio de 1880. Origem da profissão Desde antes de Cristo que a profissão de enfermeiro já era conhecida, mesmo sem ter este nome. Eram aqueles homens e mulheres abnegados que cuidavam dos doentes, idosos e deficientes, garantindo a sua sobrevivência. Com o tempo, estes cuidados de saúde evoluíram e, entre os séculos V e VIII, a Enfermagem surgiu entre os religiosos, como um sacerdócio. No século XVI, a Enfermagem já começa a ser vista como uma atividade profissional institucionalizada e, no século XIX, como Enfermagem moderna na Inglaterra. A partir daí, foram definidos padrões para a profissão e a ANA (American Nurses Association) definiu que o objetivo principal do trabalho de Enfermagem é o de cuidar dos problemas de saúde, educar para saúde, ter habilidades em prever doenças e o cuidado do paciente. A palavra Enfermeira/o se compõe de duas palavras do latim: “nutrix”, que significa mãe, e do verbo “nutrire”, que tem como significados criar e nutrir. Essas palavras, adaptadas ao inglês durante o século XIX, se transformaram na palavra Nurse que significa Enfermeira. Como vemos, a palavra “mãe” está presente até na formação do nome da profissão destes heróis da saúde, que muitas vezes nos acompanham desde o nosso nascimento até a nossa morte, como verdadeiros anjos guardiões (PEZZA, 2011). 44 45 UNIDADE 2 POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • compreender limites conceituais e relevância da política de indexação; • perceber a necessidade da elaboração de políticas de indexação em unida- des de informação, pois podem se tornar importantes instrumentos que minimizam as subjetividades inerentes à indexação; • estabelecer diferenciações entre linguagem natural e linguagem docu- mentária; • estabelecer relações entre as LDs e as políticas de indexação; • perceber que existem elementos mínimos formadores de uma política de indexação, mas que este documento pode ser flexibilizado para atender a demandas específicas de diferentes unidades de informação. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – FUNDAMENTOS DA pOLÍTICA DE INDEXAÇÃO TÓPICO 2 – LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA TÓPICO 3 – ELABORAÇÃO DE POLÍTICA DE INDEXAÇÃO 46 47 TÓPICO 1 FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO As políticas de indexação são instrumentos que definem diretrizes a serem adotadas pelos bibliotecários no desenvolvimento de suas atividades de indexação. Elas devem levar em conta as características dos itens componentes dos acervos, mas também, e especialmente, o perfil da comunidade usuária deste acervo. Já vimos anteriormente que a indexação é uma atividade de cunho técnico, temático, e, está estreitamente relacionada à recuperação das informações. Uma política de indexação, no entanto, transcende a técnica e pode ser considerada um instrumento de gestão de unidades de informação. Isto porque ela direciona trabalhos que serão desenvolvidos por parteda equipe bibliotecária. Por se tratar de um texto que oficializa um conjunto de ações, deve ser formulado com a participação de bibliotecários indexadores e de bibliotecários de outros setores, especialmente, dos setores de referência e atendimento, pois nestes setores podem ser detectadas dificuldades relatadas pelos usuários quando da busca por informação, especialmente, nos catálogos da unidade de informação. Neste tópico, serão apresentados os fundamentos das políticas de indexação e será ressaltada sua relevância enquanto instrumento de gestão de unidades de informação, e enquanto necessidade técnica. Veremos que uma política de indexação deve estar relacionada a tomadas de decisões que são relacionadas especificamente às características do público usuário e à capacidade ofertada a este público de recuperação de informação. Também será possível compreender que estabelecer uma política de indexação é pensar estratégias e critérios para que o sistema de informação desenvolva bem suas atividades de representação temática e, consequentemente, de recuperação da informação. Para além da política em si, daremos destaque para o uso de linguagens documentárias, uma vez que também são facilitadoras do trabalho de indexação. 2 POLÍTICA DE INDEXAÇÃO PARA UNIDADES DE INFORMAÇÃO As autoras Fujita e Rubi (2006) entendem que a indexação é uma das atividades mais importantes dentro de um rol de outras atividades desenvolvidas em sistemas de informação, dada sua natureza de permitir a recuperação das informações. Vejamos: UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 48 A política de indexação dentro de um sistema de informação deve ser entendida como uma filosofia pertinente aos objetivos de recuperação da informação e não somente como uma lista de procedimentos a serem seguidos durante a realização da indexação. Isso nos leva a refletir sobre a indexação não somente do ponto de vista do processo, da operação técnica, mas sim da biblioteca como uma organização, pois a tarefa da indexação só terá sentido uma vez norteada e respaldada por essa filosofia. Dessa maneira, estaremos inserindo a indexação no contexto administrativo da biblioteca e não a relegando a um contexto meramente de cunho técnico, dessa maneira, valorizando-a. Os sistemas de informação são compostos por partes interligadas (inserção de documentos, classificação, catalogação, indexação etc.) com objetivo comum de disponibilizar a informação da melhor maneira possível. Nota-se, portanto, que a indexação e, por conseguinte, sua política, é uma das partes desses sistemas e, como tal, deve integrar também o planejamento global dos sistemas de informação como um parâmetro de sua administração no contexto gerencial. Sob o ponto de vista do sistema de recuperação da informação, a indexação é reconhecida com sua parte mais importante dentro dos procedimentos realizados para o tratamento da informação, pois condiciona os resultados das estratégias de busca. Nesse contexto, o indexador tem como função compreender o documento ao realizar uma análise conceitual que represente adequadamente seu conteúdo, de modo que ocorra correspondência entre o índice e o assunto pesquisado pelo usuário. Para isso, existem os manuais de indexação que devem refletir a política de indexação do sistema de informação e a realidade de trabalho do indexador (FUJITA; RUBI, 2006, p. 49). A indexação é uma atividade de cunho técnico, que deve ser desenvolvida em várias etapas em que decisões importantes devem ser tomadas. Estas decisões são relacionadas especificamente às características do público usuário e capacidade ofertada a este público de recuperação de informação. Este conjunto de decisões devem estar previstas na política de indexação das unidades de informação. Ou, seja, uma política de indexação reúne diretrizes administrativas de ações a serem instituídas e aplicadas por unidades de informação. Os âmbitos que norteiam este documento são: o contexto em que está inserida uma unidade, seu público, e sua infraestrutura (a existente e a que se almeja). Rubi (2012) lembra que a atividade de indexação em si é pouco valorizada, não sendo considerada uma atividade complexa, mas o é, como vimos na Unidade 1 deste curso. O fato de a própria indexação não ter visibilidade faz com que as políticas aplicadas a ela também não sejam consideradas relevantes. Veremos nesta unidade o quanto de equívoco há nestas afirmações. Fujita (2003), citada por Rubi (2012), afirma que a política de indexação está inserida em dois contextos: a) Sociocognitivo do indexador: a política de indexação, as regras e os procedimentos do manual de indexação, a linguagem documentária para representação e mediação da linguagem do usuário e os interesses de busca dos usuários: b) Físico de trabalho do indexador e dos gerentes – o sistema de informação (p. 109). TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO 49 Passemos a uma análise do proposto por Fujita (2003), citado por Rubi (2012). No que tange ao contexto sociocognitivo do indexador, pode-se inferir que uma política destinada à indexação deve apresentar normas para a realização da indexação (exaustividade, especificidade, consistência, revocação, adequação etc.). Desta forma, garante-se a uniformização dos trabalhos desenvolvidos pelos indexadores. Também deve compreender o uso de linguagens documentárias que equalizem, por um lado as subjetividades presentes no momento da tradução realizada pelo indexador e, por outro lado, permite compartilhamento de informações técnicas produzidas no âmbito da indexação. É importante lembrar que estas linguagens documentárias são tesauros, listas de descritores, listas de cabeçalhos de assuntos, sistemas de classificação (que, embora não tenham originalmente a intenção de indexar, organizarem de forma lógica assunto bibliográficos, elas podem nortear o trabalho do indexador no sentido de padronizar termos de indexação). Por fim, é preciso considerar o perfil da comunidade usuária. Uma biblioteca escolar terá, certamente, a decisão de trabalhar com indexação menos exaustiva que uma biblioteca especializada. E isto nada tem a ver com maior ou menor capacidade cognitiva dos usuários em buscar as informações, mas sim, com as necessidades de informação que eles apresentam. Já o segundo contexto considerado importante pela pesquisadora, qual seja, o físico, considera os recursos que estão à disposição do indexador dentro da unidade de informação: ambiente físico, tecnologias, softwares, recursos financeiros destinados à compra ou assinatura de linguagens documentárias, entre outros. Muitos foram os trabalhos a respeito das políticas de indexação desenvolvidos na segunda metade do século XX. Lancaster (1968) e Fosket (1973) são os clássicos. O primeiro autor lembra que, além da exaustividade na indexação, o principal aspecto para o desenvolvimento de uma boa política seria a qualidade dos documentos adquiridos para tal. Já o segundo autor acredita na capacidade da consulta a esmo (ou seja, a indexação deve apresentar boa recuperação de informação, revelando a estrutura temática que organiza o sistema), na garantia literária (a indexação deve, de fato, representar o conteúdo do documento), e na formação do indexador (o bibliotecário que se dedica à indexação deve ter aperfeiçoamentos constantes em sua área prática, mas também nas áreas dos assuntos dos documentos que indexa) (RUBI, 2012; GUIMARÃES, 2000). A respeito desta última observação, é necessário compreender que, atualmente, as unidades de informação, com exceção às bibliotecas especializadas ou especiais, possuem acervos bastante diversificados em termos de assuntos, o que tornaria difícil a especialização do bibliotecário em todos os assuntos, ou, em última instância, em todas as áreas do conhecimento humano. É justamente o uso de linguagens documentárias que pode facilitar o trabalho de indexação, mesmo que o bibliotecário não seja especialista no assuntoque indexa. Vejamos um rápido exemplo: UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 50 1) Imaginemos um indexador realizando a análise documentária de um dado livro. Ele atua numa biblioteca universitária que atende a diversos cursos da área de Ciências Humanas, inclusive cursos de licenciatura e pedagogia, em suas diversas habilitações. 2) Ao fazer a leitura técnica da introdução, do sumário, das orelhas e demais elementos pré-textuais deste livro, ele constata tratar-se de um livro sobre o tema AFASIA. 3) O indexador tem conhecimento de que se trata de uma patologia. Sabe também que esta patologia pode ser indexada tanto no campo da medicina, como no campo da educação. Há aí a necessidade de uma tomada de decisão: indexar e classificar sob medicina ou educação? 4) O passo seguinte que cabe ao indexador: olhar ao público a quem atende, no caso de nosso exemplo, alunos de cursos de licenciatura em diversas áreas das ciências humanas e pedagogia. Neste momento, entende que a comunidade usuária a quem atende apresenta maiores chances de tratar do tema do ponto de vista da Educação. 5) Em seguida, revisita os elementos chave do próprio livro para fazer nova coleta de termos importantes à representação temática dele. E, obviamente, para se certificar de que a escolha acima é a mais acertada. Encontra então, os seguintes termos: • lesões centrais da afasia; • práticas de letramento e afasia; • domínio da escrita e afasia; • linguagem e afasia. 6) De posse dos temas centrais do livro, o indexador, que não é especialista em educação, busca auxílio em uma linguagem documentária para traduzir estes conteúdos em uma linguagem de Indexação. É política desta biblioteca utilizar o Thesaurus Brasileiro da Educação, disponibilizado on-line e gratuitamente pelo INEP. 7) Na consulta, o bibliotecário tem acesso às seguintes informações: Afasia (TG: Distúrbios da Linguagem) Conceituações: "Deficiência que, sem comprometer a capacidade intelectual, altera a compreensão ou a produção da linguagem, devido a lesões cerebrais ou a traumatismos." (cf. BRASIL. Ministério da Educação e Cultura. Serviço de estatística educacional. Cuiabá: SEC/MT; Rio de Janeiro: FENAME, 1981. 144 p.). 8) Estas informações, confrontadas com os termos elencados pelo bibliotecário no passo 5 de nosso exemplo, dão a ele a certeza de que educação é o sistema nocional a que pertence o tema Afasia neste livro. 9) Cabe ao bibliotecário, enfim, proceder a tradução. javascript:mostra_estrutura(%2236397%22,%22abrir%22); TÓPICO 1 | FUNDAMENTOS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO 51 ESTUDOS FU TUROS Falaremos a respeito mais adiante. Por hora, cumpre-nos explicar que um sistema nocional é um sistema linguístico que reúne noções de um dado campo do conhecimento. Para além deste exemplo, é sempre importante lembrar que a experiência de atuação do bibliotecário numa determinada área, dá a ele condições de se familiarizar, dia a dia, com os termos especializados desta mesma área. Vejamos agora como Fujita (2012, p. 17) relaciona a política de indexação com a representação e a recuperação da informação: A política de indexação não deve ser vista como uma lista de procedimentos a serem seguidos, e sim um conjunto de decisões que esclareçam os interesses e objetivos de um sistema de informação e, particularmente, do sistema de recuperação da informação. A política decide não só sobre a consistência dos procedimentos de indexação em relação aos efeitos que se necessita obter na recuperação, mas principalmente, sobre a delimitação de cobertura temática em níveis quantitativos e qualitativos tendo em vista os domínios de assuntos e as demandas dos usuários. Isso nos leva a pensar sobre a indexação do ponto de vista gerencial e estratégico no contexto de unidades de informação, haja vista ter efeitos na entrada e na saída das informações do sistema (FUJITA, 2012, p. 17). Estabelecer uma política de indexação é pensar estratégias e critérios para que o sistema de informação desenvolva bem suas atividades de representação temática e, consequentemente, de recuperação da informação. 52 RESUMO DO TÓPICO 1 Neste tópico você aprendeu que: • A indexação é uma atividade de cunho técnico, que deve ser desenvolvida em várias etapas em que decisões importantes devem ser tomadas. Estas decisões são relacionadas especificamente às características do público usuário e à capacidade ofertada a este público de recuperação de informação. Este conjunto de decisões devem estar previstas na política de indexação das unidades de informação. • Estabelecer uma política de indexação é pensar estratégias e critérios para que o sistema de informação desenvolva bem suas atividades de representação temática e, consequentemente, de recuperação da informação. • O uso de linguagens documentárias pode facilitar o trabalho de indexação, mesmo que o bibliotecário não seja especialista no assunto que indexa. 53 AUTOATIVIDADE Responda às questões a seguir: 1 Quais são as principais características de uma política de indexação? 2 Que relações você consegue estabelecer entre a política de indexação e o uso de linguagens documentárias (ou vocabulários controlados) pelo bibliotecário responsável pela indexação em uma unidade de informação? 3 Escreva sobre o processo sociocognitivo do indexador. 54 55 TÓPICO 2 LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A biblioteconomia tem, entre muitas responsabilidades, a função de formar profissionais que desenvolvam competências e habilidade de organizar a informação. Para além de organizar livros, organizar informação. Organizar informação significa analisar, reconhecer, selecionar, descrever e representar itens dos acervos de unidade de informação para que eles, os itens, possam ser armazenados fisicamente de maneira sistematizada, e, especialmente, para que sejam encontrados rapidamente pelo bibliotecário e pelo usuário. No entanto, antes deste acesso aos conteúdos de um item, o usuário deve ter acesso a informações técnicas que representem suas características descritivas e temáticas. Ou seja, ao consultar um catálogo (ou índice) em uma biblioteca, ele deve ter acesso a tantas informações técnicas. As linguagens documentárias são ferramentas auxiliares aos bibliotecários que tendem a facilitar a identificação dos conceitos e dos conteúdos dos itens de um acervo, mesmo que estes conteúdos não sejam sua área de especialidade. Por exemplo: um bibliotecário que atua em uma biblioteca especializada nas ciências da saúde pode ter dificuldades de, apenas por intuição ou técnica, identificar os principais assuntos tratados em um dado livro, a ponto de indexá- lo de forma inadequada, o que acarretaria na sua não recuperação. O uso de uma LD especializada em ciências da saúde pode lhe mostrar possibilidades mais adequadas para esta representação. Neste tópico veremos que as LD’s são instrumentos através dos quais se realiza a representação dos conteúdos dos livros. Também aprenderemos que elas são sistemas de comunicação construídos para fins de tratamento documentário e que elas são baseadas em sistemas nocionais específicos. E, por fim, destacaremos sua importância para a indexação e que, por isso, uma política de indexação deve indicar seu uso de acordo com as características dos usuários. 2 O QUE SÃO LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS? Ao consultar um catálogo, do ponto de vista descritivo, a seleção do material que o usuário decidirá utilizar se dará a partir de informações físicas do documento, tais como: autor, título, editora, edição, número de páginas, presença de ilustrações, tabelas ou quadros, anos de publicação e todas as outras UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 56 que possam dar ao usuário indícios de que aquele material responde às suas demandas informacionais. A este conjunto de informações técnicas chamamos representação descritiva ou catalogação. A catalogação, como toda atividade técnica, é regida por um conjuntode regras e normas que padronizam o trabalho desenvolvido pelo bibliotecário. Estas normas são encontradas no Anglo-American Cataloguin Rules, segunda edição (AACR2) – ou, Código de Catalogação Anglo- americana, segunda edição. No âmbito da representação temática, que visa à representação não mais das características físicas, mas das características de conteúdo dos acervos, essas normas também existem e estão dispostas nos códigos de classificação bibliográfica, como é o caso dos dois sistemas mais utilizados no mundo, Classificação Decimal de Dewey (CDD), e Classificação Decimal Universal (CDU) e dos vocabulários controlados, como tesauros. Os sistemas de classificação bibliográfica representam a partir de códigos os conteúdos pertinentes ao conhecimento humano, o resultado da classificação permite que itens que tratam de assuntos semelhantes fiquem dispostos lado a lado, organizados por assunto. Já os tesauros auxiliam o bibliotecário/indexador a selecionar termos que melhor representem os conteúdos registrados nos livros e em outros suportes de informação, respeitando seus significados. O intuito é a utilização de termos que venham a coincidir com termos usados pelo usuário quando da busca por informação em um catálogo ou índice de biblioteca. Para tanto, estas ferramentas, especialmente os tesauros, devem ser elaborados a partir de vastas pesquisas conceituais e linguísticas nas áreas que pretendem representar. Exemplo: imaginemos a criação de um tesauro que represente a área da medicina veterinária. Ou seja, um conjunto de possibilidades que auxiliam o bibliotecário que atue em unidades de informação, cujo acervo seja, em grande parte, especializado nesta área. No entanto, o bibliotecário não é especializado em tal área, como não o é em todas as outras que não a própria biblioteconomia. Não ser especialista em uma determinada área significa, entre muitas outras coisas, não conhecer os conceitos (além de técnicas, procedimentos, autores, história etc.) desta área. Por isso, é provável que ele tenha dúvidas quando da indexação. Isso porque a indexação é uma prática em que o profissional vai, fatalmente, ter de estabelecer os assuntos exatos de que tratam os itens do acervo, além de representá-lo utilizando termos específicos desta mesma área que ele não conhece). É claro que o próprio item oferece dados importantes ao bibliotecário, como já vimos na Unidade 1, mas, nem sempre o item e o conhecimento do bibliotecário sobre o tema serão suficientes para que proceda adequadamente a indexação. É nesta hora que ele deve lançar mão do auxílio de ferramentas que ajudem nesta representação. Estas ferramentas (tesauros, códigos de classificação) são todas consideradas linguagens documentárias. Ou seja, um conjunto linguístico construído com uma única finalidade de ser utilizada no âmbito do tratamento documental, ou seja, com a finalidade de serem utilizadas em bibliotecas e demais unidade de informação no tratamento temático. TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA 57 As linguagens documentárias se diferem da linguagem natural (a que usamos cotidianamente) exatamente porque elas são construídas para fins técnicos. Essa construção envolve a participação de profissionais diversos e de especialidades diferentes. No caso do exemplo acima, de um tesauro de medicina veterinária, ele, certamente seria elaborado a partir do trabalho de profissionais como: bibliotecários, médicos veterinários, linguistas, cientistas da computação, cientistas da informação, entre outros. A leitura que segue mostra as diferenças essenciais entre a linguagem natural e a linguagem documentária. UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 58 LEITURA COMPLEMENTAR O texto que segue, foi extraído de Cintra et al. (2002) e expressa uma das melhores explanações a respeito de linguagens documentárias, suas diferenças em relação à linguagem natural, além da importância de sua compreensão para a indexação. Trata-se de parte do Capítulo 2 do livro Para entender as linguagens documentárias. Vejamos: LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA NATUREZA, ESPECIFICIDADE E FUNÇÕES Um rápido retrospecto sobre a área mostra que nas décadas de 50 e 60, com o crescimento do conhecimento científico e tecnológico, houve dificuldades para armazenar e recuperar informações. A solução foi encontrada com uma mudança do enfoque e da conceituação da recuperação da informação. Com efeito, foi abandonada a perspectiva preferencial de recuperação bibliográfica e normalização classificatória e descritiva, buscando-se a construção de linguagens próprias. Vem desta época a utilização de Linguagens Documentárias – LDs – para a recuperação da informação. Essas linguagens são, pois, construídas para indexação, armazenamento e recuperação da informação e correspondem a sistemas de símbolos, destinadas a "traduzir" os conteúdos dos documentos. Como decorrência desta mudança de conceituação da área, houve grande concentração em estudos de Linguística, de Estatística, em especial com vistas à automação do tratamento da informação. Com os estudos da Linguística esperava-se resolver problemas de vocabulário, tendo em vista a construção de instrumentos mais adequados. Estes estudos levaram a análise de conteúdo da Linguagem Natural – LN, a buscas de métodos de padronização relativos à passagem da LN para a LD, ao estabelecimento de mecanismos para a estruturação de campos semânticos, de campos associativos e de categorias funcionais. A Estatística, por sua vez, foi tomada como instrumento de apoio, tendo em vista determinar frequências de descritores, mapeamento de ocorrências, análise de citações, o que levou ao desenvolvimento da bibliometria. Dentre os vários produtos da sistematização desses estudos surgiram os tesauros, construídos em função de campos semânticos. Com efeito, dentro do amplo universo da linguagem, as LDs possuem um status muito particular: através delas pode-se representar, de maneira sintética, as informações materializadas nos textos. Tal como a LN, as LDs são sistemas simbólicos instituídos, que visam facilitar a comunicação. Sua função comunicativa, entretanto, é restrita a contextos documentários, ou seja, as LDs devem tornar possível a comunicação usuário- sistema. Grande parte das discussões teóricas sobre LDs inserem-se no âmbito da Análise Documentária que, por sua vez, se define como uma atividade metodológica específica no interior da Documentação, que trata da análise, síntese e representação da informação, com o objetivo de recuperá-la e disseminá-la. TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA 59 Nesse contexto, as LDs são, pois, instrumentos intermediários, ou instrumentos de comutação, através dos quais se realiza a "tradução" da síntese dos textos e das perguntas dos usuários. Esta "tradução" é feita em unidades informacionais ou conjunto de unidades aptas a integrar sistemas documentários. A formalização das perguntas dos usuários é feita em linguagem do próprio sistema. É por esta razão que as LDs podem ser concebidas como instrumentos de comunicação documentária. Mas, diferentemente da LN, o sistema de relações das LDs não é virtual, bem como seus mecanismos de articulação são extremamente precários, face àqueles existentes nas línguas, em geral. Bem ao contrário, elementos dessa linguagem específica são selecionados de universos determinados e seu sistema de relações é construído, sendo indispensável, para utilizá-la, a existência de regras explícitas. Por esse motivo, as LDs são linguagens construídas. Cada LD específica representa, por outro lado, um ponto de vista particular sobre a realidade. Como sistema de relações construído, o significado de cada um de seus elementos vai estar diretamente subordinado às definições correspondentes aos elementos colocados nas posições superiores do sistema. Segundo Gardin, uma LD é um conjunto de termos, providos ou não de regras sintáticas, utilizado para representarconteúdos de documentos técnico- científicos, com fins de classificação ou busca retrospectiva de informações (GARDIN et al., 1968). Para o autor, uma LD deve integrar três elementos básicos: – um léxico, identificado com urna lista de elementos descritores, devidamente filtrados e depurados; – urna rede paradigmática para traduzir certas relações essenciais e, geralmente estáveis, entre os descritores. Essa rede, organizada de maneira lógico-semântica, corresponde a uma organização dos descritores numa forma que, Lato Sensu, se poderia chamar classificação; e – uma rede sintagmática destinada a expressar as relações contingentes entre os descritores, relações essas que só são válidas no contexto particular onde aparecem. A construção de "sintagmas" é feita através de regras sintáticas destinadas a coordenar os termos que dão conta do tema. Embora na LN haja diferença conceitual clara entre léxico, vocabulário, por um lado e nomenclatura e terminologia, por outro. Nas LDs, por sua vez, é bastante frequente o uso indiscriminado destas palavras, o que pode comprometer o próprio conceito de representação documentária, na medida em que a cada termo deveria corresponder uma função diferente dentro da linguagem. Entretanto, cada uma destas palavras remete a conceitos específicos, o que nos permite dizer que cada uma tem características e funções próprias, fator suficiente para impedir sua utilização indiscriminada. Embora mesmo nos estudos das ciências da linguagem haja, eventualmente, referência a léxico e vocabulário como conjunto de palavras de uma língua ou de um autor, de uma arte ou de um meio social, a rigor, léxico designa o conjunto das unidades reais e virtuais que formam a língua de uma comunidade, algo como um depósito constituído de elementos em estado virtual e de regras que permitem a construção de novas unidades, necessárias para a atividade humana da fala. UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 60 Já vocabulário se refere ao conjunto das ocorrências que integram um determinado corpus discursivo, como uma lista de unidades da fala (DUBOIS et al., 1973). Assim, pode-se falar no vocabulário que encontramos no trabalho de Cunha, relativamente às ocorrências registradas nos discursos sobre política colonial de Adriano Moreira (CUNHA, 1990), ou no vocabulário médico, a partir de levantamento em determinadas obras médicas, por exemplo. Em termos de LDs, não faz sentido falar nem em léxico, nem em vocabulário nas acepções da Linguística, uma vez que esses elementos são específicos da LN. As LDs, linguagens construídas que são, com finalidades específicas de representação documentária, não são suficientemente articuladas, nem se constituem em unidades geradoras de novos elementos. Também não integram vocabulários propriamente ditos, porque são formadas de palavras preferenciais, combinando palavras de vocabulários de determinados domínios e palavras utilizadas pelos usuários. Desta forma, englobam vários vocabulários, representativos de vários discursos. Assim, quando a palavra vocabulário se refere a LD, deve ser entendida segundo esta última acepção, que privilegia urna constituição a partir de origens diferentes. Uma nomenclatura, por sua vez, como sugere a própria palavra, diz respeito à ação de chamar algo por seu nome. Assim, se constituem listas de nomes que supõem biunivocidade na relação significado-significante (DUBOIS et al., 1973). Talvez se possa melhor caracterizar uma nomenclatura como etiquetas que designam coisas ou conceitos pré-existentes, como a nomenclatura da química, por exemplo, na qual, independentemente de um sistema nocional particular, algo se chama ouro, nitrogênio ou potássio. Diferentemente de uma nomenclatura, uma terminologia se refere ao conjunto de termos de uma área, termos relacionados e definidos rigorosamente para designar as noções que lhe são úteis (idem ibidem). Assim, por exemplo, a terminologia da Educação Brasileira pode ser encontrada no Glossário de Termos em Educação (BRASIL, Ministério da Educação e Cultura, 1980). Trata-se de um sistema de termos organizados, estruturados a partir de noções particulares. É bom lembrar que todo conhecimento técnico-científico se desdobra num universo de linguagem. A linguagem condiciona o conhecimento objetivo, determinando os limites de sua formulação (GRANGER, 1974). As linguagens construídas exigem formulações de sentido rigorosas, à medida que a própria atividade se encontra subordinada à articulação da linguagem. Desse modo, a atividade terminológica é parte constitutiva da atividade técnico-científica e diz respeito, diretamente, a um conjunto de termos organizados. Todas as definições analisadas anteriormente levam-nos a concluir que as LDs não se confundem com léxicos, vocabulários, nomenclaturas e terminologias, embora incorporem elementos de todos eles. É importante que essa diferenciação seja feita para melhor delimitar suas características face da função que devem desempenhar na representação da informação documentária. A representação documentária é obtida através de um processo que se inicia pela análise do texto, com o objetivo de identificar conteúdos pertinentes em função das finalidades do sistema – e da representação desses conteúdos – numa forma sintética, padronizada e unívoca. TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA 61 A síntese e a representação documentárias advindas do processo de análise, podem apresentar-se, geralmente, sob duas formas: o resumo, que é feito sem a intermediação de uma LD e o índice, que para maior qualidade, deve ser elaborado a partir de uma LD determinada. A operação de tradução de textos em LN para uma LD denomina-se Indexação. Inerente ao processo de indexação estão operações de classificação. As várias fases do processo analítico apresentam uma complexidade considerável, pois não se trata de adquirir os documentos e armazená-los numa ordem lógica. A documentação é memória, seleção de ideias, reagrupamento de noções e de conceitos, síntese de dados. Trata-se de triar, de avaliar, de analisar, de "traduzir", de encontrar respostas para necessidades específicas. A utilização da LN neste processo leva, seguramente, à incompreensão e à confusão, devido a fenômenos naturais como a redundância, a ambiguidade, a polissemia e as variações idioletais. A condição para se obter resultados positivos na busca de informação é que a pergunta e a resposta sejam formuladas no mesmo sistema. Assim, é necessário realizar a tradução de uma pergunta feita em LN, para o sistema em que foi traduzido o conteúdo do documento, isto é, numa LD unívoca por excelência. Dito de outro modo, uma LD é utilizada na entrada do sistema, quando o documento é analisado para registro. Seu conteúdo é identificado e "traduzido", de acordo com os termos da LD utilizada e segundo a política de indexação estabelecida. É da mesma forma utilizado à saída do sistema, quando, a partir da solicitação da informação pelo usuário, é feita a representação para busca. Assim, seu pedido é analisado, seu conteúdo identificado e devidamente "traduzido" nos termos da LD utilizada. Para realizar tais funções de intermediação, as LDs devem ser construídas de tal forma que seja possível o controle sobre o vocabulário. Tal controle é necessário para que a cada unidade preferencial integrada numa LD, corresponda um conceito ou noção. Essa correspondência só é assegurada por intermédio das terminologias de especialidade. Vale lembrar que, isoladas, as palavras não têm signifi cado ou têm todos os significados possíveis. É só no discurso, ou seja, no uso, que as palavras assumem significados parti culares. Como, via de regra, os elementos das LDs são desvinculados dos contextos onde aparecem, pode-se correr risco de que as palavras que as integram assumam todos ou nenhum significado. Através das Terminologias de especialidade, as palavras passam a ser termos, assumindo significadosvinculados a sistemas de conceitos determinados. Confere-se, desse modo, referência às palavras, que passam a significar, segundo determinados sistemas nocionais, assegurando interpretações pertinentes. As LDs mais conhecidas são o tesauro e os sistemas de classificação documentária (GOMES, 1990). As diferenças entre esses dois tipos de LDs reside no maior ou menor grau de reprodução das relações presentes na LN e no universo de conhecimento que pretendem cobrir. Os primeiros sistemas de classificação bibliográfica conhecidos são de natureza enciclopédica, como a CDD – Dewey Decimal Classification, a CDU – Classificação Decimal Universal e a LC – Library of Congress, e visam cobrir todo o espectro do conhecimento. UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 62 Sistemas datados posteriormente, as classificações facetadas desenvolvidas pelo CRG – Classification Research Group e com base na Colon Classification, de Ranganathan, visam domínios particulares. Os tesauros, por seu lado, originaram- se a partir de tais classificações facetadas com uma preocupação adicional: a do controle do vocabulário. Historicamente, verifica-se uma contínua progressão das LDs a caminho da especialização. Consequentemente, abandona-se a pretensão de cobrir todo o universo do conhecimento para voltar-se a domínios cada vez mais específicos. Todas as LDs, entretanto, são utilizadas para representar conteúdo dos textos, mas não os textos eles mesmos. A função de representação deve ser entendida, neste contexto, como sendo de natureza eminentemente referencial: as unidades de uma LD devem ser utilizadas como índices relativos a assuntos tratados nos textos, não tendo, portanto, a função de substituí-los. Os produtos obtidos através da intermediação das LDs são, desse modo, generalizantes. Não se representa o texto individual, mas a classe de assunto à qual ele se refere. A maior ou menor especificidade do assunto a ser representado depende da maior ou menor correspondência da LD ao sistema nocional dos domínios de especialidade. Assim, através de um sistema de classificação enciclopédico, textos muito específicos são classificados em classes de assunto mais gerais; a representação da especificidade dos assuntos de tais textos só será possível através de uma LD voltada, especificamente, para o domínio correspondente. Os estudos das LDs têm avançado, progressivamente, na direção da definição dos constituintes e de suas interrelações, gerando várias linguagens, de acordo com o domínio de especialidade. Isto, por um lado, permitiu que a área fosse se Liberando do monopólio das classificações universais, mas, por outro, tem mostrado inúmeros problemas ligados à falta de rigor na construção das LDs. Tais problemas se referem: à definição do conjunto de termos que comporá a lista de descritores; à organização dos termos numa mesma rede paradigmática (árvores classificatórias ou relações verticais) que reunirá tais descritores; ao estabelecimento da rede sintagmática (relações horizontais entre descritores e mecanismos de sintaxe) que deverá permitir a agilização da recuperação de assuntos; à definição das chaves de acesso ao sistema (compatibilização de linguagem usuário/sistema). FONTE: CINTRA, Ana Maria et al. Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Polis, 2002. p. 33 – 42. TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA 63 Passemos agora à interpretação de alguns trechos mais relevantes à nossa discussão. Trecho 1) Vem desta época a utilização de Linguagens Documentárias – LDs para a recuperação da informação. Essas linguagens são, pois, construídas para indexação, armazenamento e recuperação da informação e correspondem a sistemas de símbolos, destinadas a "traduzir" os conteúdos dos documentos (CINTRA et al., 2002, p. 33). As décadas de 1950 e 1960, no âmbito da Biblioteconomia e da Ciência da Informação brasileiras foram bastante intensas. Vínhamos de um período marcado por uma intensa produção científica, resultante do pós-guerra (em 1945), fenômeno este que ficaria conhecido como explosão da informação. Ocorre que a própria guerra, este cenário social lamentável se observado a partir de qualquer ângulo, estimula um contexto de produção de tecnologias especialmente aplicada à indústria bélica. Essas novas tecnologias surgem a partir de pesquisas que demandam grandes quantidades de informação. Além disso, novas informações passam a ser produzidas para comunicar à comunidade científica as novas descobertas. Também datam deste período histórico a criação de algumas tecnologias de comunicação e informação que, mais tarde, dariam origem à internet. O período pós-guerra, portanto, é bastante propício à produção e consumo de informações. Então, as décadas seguintes abrem espaço para novas discussões sobre o armazenamento, o tratamento e a recuperação de informações. Estudiosos da área passam a questionar a possibilidade de melhores ações que tornem acessível todo o conhecimento científico e tecnológico produzido e registrado. É neste contexto que as linguagens documentárias começam a ser tratadas com mais atenção, pois, agora, além de dar apoio às atividades de classificação, elas passam a apoiar também as atividades de indexação dos documentos. Isto porque existe um novo paradigma na área: mais do que classificar e catalogar livros para que as bibliotecas fiquem organizadas, é necessário buscar formas de tornar os conteúdos (as informações) acessíveis a partir das buscas elaboradas pelos usuários. Começam, então, as construções de LDs. Trecho 2) Dentre os vários produtos da sistematização desses estudos surgiram os tesauros, construídos em função de campos semânticos. Com efeito, dentro do amplo universo da linguagem, as LDs possuem um status muito particular: através delas pode-se representar, de maneira sintética, as informações materializadas nos textos (CINTRA et al., 2002, p. 34). A LDs são elaboradas para REPRESENTAR conteúdos das diversas áreas do conhecimento. A mais conhecida, pode-se afirmar, são os tesauros, um valioso instrumento utilizado na organização da informação. Ele é definido por Mota (1987 apud TRSITÃO, FACHIN; ALRCON, 2004, p. 161) como “um vocabulário UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 64 de termos relacionados genérica e semanticamente sobre determinada área de conhecimento”. Não se trata, portanto, de entender uma tesauro como lista de termo. Trata-se de algo mais complexo. Os termos listados são definidos dentro de uma dada área do conhecimento, e a cada termo é atribuída uma finalidade, ou, dito de outra forma, aponta-se em que situações os termos podem ser utilizados pelo indexador, o que equivale a dizer que cada termo traz explicações a respeito dos conceitos que pretende representar. Trecho 3) Tal como a LN, as LDs são sistemas simbólicos instituídos, que visam facilitar a comunicação. Sua função comunicativa, entretanto, é restrita a contextos documentários, ou seja, as LDs devem tornar possível a comunicação usuário-sistema. (CINTRA et al., 2002, p. 33) Não é muito comum observar bibliotecas que fornecem ao usuário o acesso ao usuário aos tesauros que utiliza. Mas é possível. Nos parece viável, uma vez que os bibliotecários fazem uso dele exatamente para que o usuário tenha sucesso em suas estratégias de busca. Vejamos em um exemplo: imagine que uma dada biblioteca utilize um tesauro de Engenharia, e que este tesauro sugere o termo “rodovias” para indexar documentos que tratem de vias destinadas ao tráfego de veículos que se movem sobre rodas. Este mesmo tesauro oferece como termo relacionado e que pode ser utilizado como sinônimo um outro termo: autovia. No entanto, um usuário, ao elaborar sua busca no índice desta mesma biblioteca, utiliza o termo “estrada”. Haverá aí um sério reído na comunicação, que impedirá a recuperação da informação. E é sério, pois este caso exprime uma situação em que a informação existe no acervo da Unidadede Informação, mas não é utilizado, pois não pode ser acessado. Por incrível que possa parecer, esta situação é muito mais evidente em bibliotecas do que gostaríamos. Portanto, oferecer ao usuário algum tipo de orientação quanto aos termos utilizados na hora da indexação, pode vir a minimizar estas dificultades que levam à nãorecuperação da informação. O que é o mesmo que dizer que a indexação não cumpriu com seu objetivo. Trecho 4) A formalização das perguntas dos usuários é feita em linguagem do próprio sistema. É por esta razão que as LDs podem ser concebidas como instrumentos de comunicação documentária (CINTRA et al., 2002, p. 35). Este trecho foi destacado do texto apenas para complementar a análise do trecho imediatamente acima. Somente quando existe a recuperação da informação, pode-se dizer que houve comunicação documentária. Por isso, é importante que as unidades de informação pensem na possibilidade de oferecer aos seus usuários orientações quanto ao uso de tesauros ou demais LDs utilizadas internamente, e que isso seja também focado nas políticas de indexação desenvolvidas por elas. TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA 65 Trecho 5) uma LD deve integrar três elementos básicos: – um léxico, identificado com urna lista de elementos descritores, devidamente filtrados e depurados; – uma rede paradigmática para traduzir certas relações essenciais e, geralmente estáveis, entre os descritores. Essa rede, organizada de maneira lógico-semântica, corresponde a uma organização dos descritores numa forma que, Lato Sensu, se poderia chamar classificação; e – uma rede sintagmática destinada a expressar as relações contingentes entre os descritores, relações essas que só são válidas no contexto particular onde aparecem (CINTRA et al., 2002, p. 35 - 36). Como vimos, em Cintra et al. (2002), uma LD deve ser construída com base na existência de três elementos: léxico, rede pragmática e rede sintagmática. Veremos a seguir, em exemplos, como se dá essa construção. • Léxico: que corresponde ao vocabulário. Se a LD constituída é da área de ciências contábeis, então o léxico será formado a partir dos vocábulos existentes dentro desta área. • Rede paradigmática: os vocábulos extraídos de dada área devem estar relacionados entre si e devem conter significados dentro desta mesma área. Isso é bastante importante. Vejamos: o termo “manga” pode estar presente em diferentes LDs. Pode estar em um tesauro de Agrimensura e Agricultura (se o conceito deste termo for o da fruta), ou, em um tesauro de Moda (se o conceito do termo for e elemento de peças de vestuário), esta rede paradigmática localiza os termos dentro de um sistema de noções, portanto, dentro de uma área do conhecimento humano. • Rede sintagmática: exprime que relações existem entre os termos, dentro da área. Utilizando nosso termo “manga”, tomemos outro exemplo: em um tesauro de Agrimensura e Agricultura, ele, provavelmente, estaria relacionado com “Tipos de Solo”, “Calendário agrícola”, “Adubo”, “Condições Climáticas”, “Frutas Tropicais”. Já em um tesauro de Moda, estaria relacionado a termos como: “Corte e Modelagem”, “Cor”, “Tendência de Moda”, “Camisa”. Trecho 6) As várias fases do processo analítico apresentam uma complexidade considerável, pois não se trata de adquirir os documentos e armazená-los numa ordem lógica. A documentação é memória, seleção de ideias, reagrupamento de noções e de conceitos, síntese de dados. Trata-se de triar, de avaliar, de analisar, de "traduzir", de encontrar respostas para necessidades específicas (CINTRA et al., 2002, p. 39). Este trecho nos traz uma noção muito importante a respeito da indexação: não indexamos utilizando simplesmente palavras, mas sim, levando em conta os conceitos expressos em cada uma dessas palavras. É por isso, inclusive, que uma das recomendações mais básicas ao se proceder a análise documentária para posterior indexação, é que não se utilize apenas o título do item. Ele, nem sempre exprime os conceitos existentes no documento. Dialética do Concreto, nada tem que ver com Engenharia ou construção civil, como o termo “concreto” até pode sugerir. UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 66 Trecho 7) Todas as LDs, entretanto, são utilizadas para representar conteúdo dos textos, mas não os textos eles mesmos. A função de representação deve ser entendida, neste contexto, como sendo de natureza eminentemente referencial: as unidades de uma LD devem ser utilizadas como índices relativos a assuntos tratados nos textos, não tendo, portanto, a função de substituí-los (CINTRA et al., 2002, p. 39 - 40). Nunca é demais lembrar: indexar é representar, indicar, e não substituir o documento original. A indexação deve permitir que o usuário saiba se a informação que ele busca, existe ou não nos acervos de uma unidade de informação, e deve dar subsídios para que ele decida se quer ou não a acessar definitivamente. As LDs, portanto, são linguagens construídas para fins de tratamento documentário, e constituem-se em ferramentas que auxiliam o bibliotecário na atividade de indexação, oferecendo maior adequação na seleção de termos que representarão os conteúdos integrais dos documentos. Se partimos da concepção de que a Biblioteconomia, enquanto área do conhecimento que se estrutura da forma como a conhecemos hoje a partir do final do século XIX e meados do século XX, com a responsabilidade de organizar acervos para uso, podemos inferir que a unidade de seu desenvolvimento – a biblioteca – também deve oferecer serviços que culminem na recuperação e uso da informação. Para que este objetivo seja alcançado, é importante que a indexação seja realizada de forma que o usuário, ao consultar a base de dados, consiga identificar a presença ou não do conteúdo informacional que busca, e que possa ter acesso a ele. As LDs são instrumentos que viabilizam e facilitam este processo. E o são, porque são constituídas levando em consideração as características dos diferentes sistemas nocionais. A todos os campos do conhecimento corresponde a um conjunto de noções específicas, pois as áreas especializadas têm seu universo nocional devidamente identificado, a partir de um dado ponto de vista, para que seja possível organizá-lo de forma sistemática e inter-relacionada. Por outro lado, a ausência do conhecimento do sistema de noções ocasiona a falta de compreensão ou a compreensão incorreta das possibilidades de relacionamento entre os termos de um dado campo. As LDs, estabelecidas para controle de vocabulário, são construídas com base no sistema nocional do campo a que se dedicam. Por exemplo: um tesauro de medicina veterinária é construído a partir de termos, conceitos e significados desta área, para apoiar a indexação de documentos também desta área, constitui-se em um parâmetro básico para organização documentária e, claro, tem sustentação na linguagem. Por isso que a opção pelo não uso de LDs na indexação pode comprometer seu resultado, revelando as questões relacionadas ao significado e a compreensão de termos específicos. Já a utilização dela – da LD – supõe a explicitação da área e a sua organização sistemática (CINTRA et al., 2002). TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA 67 A ISO 1087 (1990 apud CINTRA et al., 2002) estabelece Sistema Nocional como um conjunto estruturado de noções que reflete as relações estabelecidas entre as noções que o compõem, e no qual cada noção é determinada pela sua posição no sistema. A posição, e, consequentemente, os significados, de cada noção é estabelecida de acordo com as relações que existem entre ela e as demais noções. Essas relações podem ser hierárquicas ou não-hierárquicas. Nas relações hierárquicas entre as noções, temos duas formas de organização, que são denominadas superordenação e subordinação. A superordenação consiste na possibilidade de subdivisão de uma noção hierárquica mais alta em um certo número de noções de nível inferior.Já o processo de subordinação consiste no processo contrário. Segue exemplo na ilustração a seguir: Relações hierárquicas Animais Gato Cachorro Mamíferos Leão SubordinaçãoSupeordenação FIGURA 1 – SUPERORDENAÇÃO E SUBORDINAÇÃO FONTE: Cintra et al. (2002, p. 51) Gato, cachorro e leão são termos que estão subordinados a um termo maior, animais. Ambos carregam em si significados que os colocam no mesmo sistema nocional. Todavia, para ser gato, ser cachorro, ou ser leão, é preciso ser, antes, animal. Ou, dito de outra forma, as características e os conceitos que estão presentes no termo ‘gato’ são parecidos com as características e conceitos presentes no termo ‘animais’. No entanto, ‘gato’ tem características mais específicas que o diferenciam das características gerais de ‘animais’. Um é mais específico que o outro, e, portanto, subordinado a ele. Todo ‘gato’ é ‘animal’. Os termos específicos são subordinados a termos mais gerais e ambos carregam em si características essenciais que os aproximam em uma dada família de termos. UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 68 As relações não hierárquicas entre os termos de um dado sistema nocional podem também se caracterizar como não hierárquicas. Os termos podem ser coordenados (postos lado a lado), uma vez que podem se encontrar em um mesmo nível de hierarquia. No exemplo da ilustração anterior é possível observar este tipo de relação em relação aos termos ‘gato’, ‘cachorro’ e ‘leão’. Todos são mamíferos e, na família do termo ‘mamíferos’ não estão subordinados um ao outro. Guardam apenas características essenciais de igualdade e não de subordinação. Todavia, a relação entre termos de um sistema nocional pode também ser considerada associativa e, neste caso, será sempre não hierárquica. Ela pode ser relação espacial ou temporal, com noções de causa/efeito, produtor e produto, etapas de um processo, relações de oposição e contradição. Não são hierárquicas. Vejamos alguns exemplos, baseados em Cintra et al. (2002): • Causa/efeito: tempo seco – doenças respiratórias. • Produtor/produto: usineiro – álcool. • Etapas de um processo: reforma do setor saúde – descentralização. • Oposição/contradição: reações químicas a frio – reações químicas a calor. Estudiosos do campo da biblioteconomia e da ciência da informação têm se debruçado sobre estas questões para ampliar a compreensão destas relações com o intuito de elaborar LDs cada vez mais adequadas à atividade de indexação. 3 LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS E SUAS RELAÇÕES COM AS POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO Se uma política de indexação estabelece critérios e diretrizes para o tratamento temático da informação, parece-nos um tanto evidente que esta política tenha que mencionar as orientações quanto ao uso de LDs, já que são elas que dão suporte ao desenvolvimento das atividades do indexador. Neste contexto, os autores Narukawa e Sales (2012) denominam o que temos chamado de política de indexação de política de TTI (Tratamento Temático da Informação). Para os autores, ela “constitui-se na formalização dos processos, procedimentos, instrumentos e toda filosofia profissional subentendida nas atividades de tratamento temática da informação que servem como diretriz no desenvolvimento dessas atividades” (NARUKAWA; SALES, 2012, p. 158). Estes mesmos autores recorrem a Gil Leiva (2008), para quem esta política é entendida como uma forma de realizar a indexação de determinada instituição, e, a iniciativa de materializar em guias ou manuais os procedimentos adotados para a indexação. É por meio dos manuais que novos indexadores serão formados e capacitados (GIL LEIVA, 2008 apud NARUKAWA; SALES, 2012, p. 158). TÓPICO 2 | LINGUAGEM NATURAL E LINGUAGEM DOCUMENTÁRIA 69 Ao estabelecer uma política de indexação, a equipe de uma unidade de informação decidirá pela aplicação de uma linguagem natural ou controlada. Também poderá atribuir uma linguagem para cada área de especialidade coberta pela unidade, ou decidir pelo uso de uma única linguagem para todas as áreas. A política de indexação pode ainda estabelecer a necessidade de adaptações quanto a LDs já existentes em outros sistemas de informação para a realidade local. Este importante documento pode mencionar ainda se o usuário terá acesso às mesmas LDs utilizadas pelos indexadores e, ainda, se esta será disponibilizada sob a mesma estrutura de apresentação. Além disso, desta política pode constar a intenção de participação em redes de cooperação e compartilhamento de informações com outras organizações que utilizem as mesmas LDs (CARNEIRO, 1985 apud NARUKAWA; SALES, 2012). Para além disso é importante mencionar lembrar que os sistemas de classificação bibliográfica, como a Classificação Decimal de Dewey (CDD) e a Classificação Decimal Universal (CDU) também são LDs, pois são linguagens construídas com fins de tratamento temático da informação, e, especificamente, com fins de individualizar cada item existente em uma unidade de informação, dando a eles uma espécie de marca individual, que permite sua identificação em meio a centenas ou milhares de outros itens. A escolha por um destes sistemas de classificação é também uma decisão bastante importante que está relacionada ao tipo de público atendido pela unidade e, consequentemente, relacionada com as características do acervo. A justificativa da escolha por um destes sistemas também deve constar na política de indexação. No entanto, estes não são os únicos itens que compõem este documento. É o que veremos na sequência. 70 RESUMO DO TÓPICO 2 Neste tópico, você aprendeu que: • As LDs são, instrumentos intermediários ou instrumentos de comutação, através dos quais se realiza a "tradução" da síntese dos textos e das perguntas dos usuários. Esta "tradução" é feita em unidades informacionais ou conjunto de unidades aptas a integrar sistemas documentários. • As LDs são sistemas de sistemas de comunicação construídas para fins de tratamento documentário. • Cada área do conhecimento possui um sistema nocional, ou seja, um sistema de noções que são características destas áreas. • Que as LDs e seus usos são parte importante da indexação e, por isso, parte importante da política de indexação. 71 AUTOATIVIDADE 1 Leia o texto a seguir, extraia dele os cinco trechos que você considerar mais importantes e comente cada um deles, justificando sua escolha. CONFIGURAÇÃO DAS LINGUAGENS DOCUMENTÁRIAS As LDs mais consistentes para a representação documentária dispõem de um vocabulário que integra, elementos da linguagem de especialidade e das terminologias e, de outro, da LN que é a linguagem dos usuários. Portanto, essas unidades constituem o "léxico" dessas LDs, denominadas, diferentemente, conforme o sistema e a época, como: palavra-chave, descritor, cabeçalho de assunto etc., acompanhadas ou não de uma notação. O vocabulário documentário tem por objetivo reunir unidades depuradas de tudo aquilo que possa obscurecer o sentido: ambiguidade de vocábulo ou de construção, sinonímia, pobreza informativa, redundância etc. Além disso, ele é fixado de tal forma que seu uso, bem como suas relações estruturais são codificados e não podem mudar ao sabor dos usuários. Assim, chega-se a um instrumento relativamente estável, ainda que possa ser modificado. Toda LD tem, também, uma sintaxe. Ela é bastante rudimentar nos sistemas de classificação bibliográfica e mais desenvolvida nos tesauros, com a utilização de operadores booleanos. O esquema sintático de uma LD permite a delimitação mais precisa de um assunto, através da combinação de seus elementos. Nos sistemas de classificação convencionais não há preocupação com o controle do vocabulário: é frequente a utilização de frases, como ocorre, por exemplo, na CDU. Já nos tesauros a função de controle está mais presente. Para este rim, as LDs incorporam procedimentos para a normalização gramatical e semântica. A normalização gramatical se refere à forma de apresentação dos seus elementos quantoao gênero (geralmente, masculino), número (uso de singular ou plural), grau. A normalização semântica procura garantir a univocidade na representação dos conceitos e noções de áreas de especialidade. Quanto a sua configuração interna, as LDs são estruturadas de maneira lógico-semântica. O conjunto nocional básico é apresentado em hierarquias (na vertical), em torno das quais se agregam as unidades informacionais que se relacionam horizontalmente, relações não hierárquicas, convencionalmente denominadas associativas. Nenhuma unidade pode figurar numa LD sem que esteja ligada a uma outra. Nas LDs mais modernas – tesauros – os diferentes tipos de relações entre as unidades são mais claramente apresentados através de recursos notacionais. Já os sistemas de classificação bibliográfica não raras vezes amalgamam, numa mesma hierarquia, relações de natureza diferente. 72 As variações na forma de apresentação das LDs devem-se à maior ou menor incorporação dos diferentes tipos de relações existentes entre as palavras na LN e entre os termos de especialidade. Tais variações exprimem, também, o maior ou menor aprimoramento da função de representação documentária. Algumas LD foram construídas visando, principalmente, a organização dos documentos nas estantes, sendo que sua função de representação, nesse caso, deve ser diferenciada: a representação aqui implícita deve ser entendida como a identificação de documentos com classes genéricas de assuntos reconhecidos mais ou menos canonicamente. A estrutura básica de uma LD é dada através das relações hierárquicas, que podem ser genéricas, específicas ou partitivas. [...] O vértice da hierarquia é o gênero ou o todo, conforme o caso. As subdivisões sucessivas na hierarquia constituem as espécies e/ou as partes, que podem, novamente, se subdividir. As relações hierárquicas preveem as unidades superordenadas e as unidades subordinadas. Unidades subordinadas ao mesmo vértice, quando no mesmo nível da cadeia, denominam-se coordenadas. Nos sistemas de classificação bibliográfica a estrutura hierárquica é dada pela notação (decimal, no caso da CDD e da CDU). O vértice das cadeias hierárquicas é constituído por disciplinas convencionais que se subdividem sucessivamente. A indicação dos assuntos é feita através da notação numérica ou alfanumérica, conforme o tipo de sistema. A organização básica dos tesauros também é hierárquica, existindo tantos vértices, que equivalem a classes, quantos forem os aspectos escolhidos para organizar o domínio de uma especialidade. Nos tesauros mais modernos tais vértices são denominados Top Terms, e não constituem descritores, mas identificam as classes escolhidas para reunir os descritores. Via de regra, utilizam-se notações numéricas apenas para apresentar as hierarquias básicas e suas principais subdivisões. Tais notações, entretanto, raramente são utilizadas para descrever o conteúdo dos textos. A ligação lógico-hierárquica entre descritores é, no caso dos tesauros, mais clara, uma vez que é identificada pelos códigos. TG (Termo Genérico ou Tem10 Geral), TE (Termo Específico). Alguns tesauros utilizam, também, os códigos TGP (Termo Genérico Partitivo), TEP (Termo Específico Partitivo) para a presentar as relações hierárquicas do tipo todo/parte. As LDs apresentam, também, unidades que são relacionadas de forma não hierárquica. As relações não hierárquicas são normalmente denominadas associativas, muito embora não se possa afirmar que as relações hierárquicas também não o sejam. É preciso lembrar, entretanto, que as relações hierárquicas representam associações entre termos que são mais estáveis, enquanto que as relações não hierárquicas expressam outro gênero de proximidade entre os termos. Os posicionamentos não hierárquicos indicam a ligação entre termos que estão em campos semânticos distintos, porém próximos. Cada termo 73 relacionado pode se constituir no ponto de partida para uma família de termos aparentados. Nos sistemas de classificação bibliográfica os relacionamentos não hierárquicos, quando ocorrem, são, erroneamente, "encaixados" nas hierarquias. É só nos tesauros que estas relações são explicitamente identificadas, através do código TR (Termo Relacionado). Adicionalmente, as LDs apresentam relações de equivalência. Este gênero de relacionamento entre os termos é utilizado para permitir a entrada no sistema, operando no nível da sinonímia e da polissemia. Quase inexistente nos sistemas de classificação bibliográfica (os raros casos aparecem no índice de tais códigos), nos tesauros essas relações são indicadas pelas expressões USE (Use) e UP (Usado Para). As relações de equivalência estabelecem as remissivas, definindo o conjunto dos não termos ou não descritores e dos termos ou descritores. A finalidade dessas remissivas é encaminhar o usuário para os termos preferidos pelo sistema. Constitui-se, desse modo, a chave de acesso ao sistema. O conjunto de relações que constitui a estrutura do tesauro é, para Gomes (1990, p. 16) "um elemento importante para que ele possa cumprir sua função: ela permite ao usuário (indexador ou consulente) encontrar o(s) termo(s) mais adequado(s), mesmo sem saber, de início, o nome específico para representar a ideia ou o conceito que ele procura. A partir de um termo que o usuário conhece, o tesauro, através de sua estrutura, mostra diversos outros que podem ser tão oportunos ou mais do que aquele que lhe veio à mente". Vale ressaltar, ainda, que no uso das LDs podem ser construídas novas relações entre os termos, a partir do conjunto de operadores sintáticos disponíveis, como, por exemplo, as add notes, na CDD; + / : ::, no caso da CDU; operadores booleanos, no caso dos tesauros. Uma vez elaboradas e postas em uso, as LDs mais desenvolvidas, como os tesauros, são permanentemente atualizadas, mediante operações de supressão de termos em desuso, reagrupamento de descritores em função da existência de palavras raramente utilizadas e/ou adição de termos novos. Só assim as LDs se mantêm como instrumentos dinâmicos, capazes de incorporar os avanços do conhecimento, ou as modificações de significado de termos já existentes. FONTE: CINTRA et al. Capítulo 2. In: Para entender as linguagens documentárias. 2. ed. rev. e ampl. São Paulo: Polis, 2002. 74 75 TÓPICO 3 ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO UNIDADE 2 1 INTRODUÇÃO A literatura especializada em biblioteconomia e ciência da informação não nos traz bons registros a respeito da importância dada a este texto – política de indexação – dentro de unidades de informação. Ao contrário, mostra que muitas UI’s, especialmente bibliotecas, não têm demonstrado interesse (ou pelo menos, não têm divulgado em canais científicos) em desenvolver tal estrutura. No entanto, já vimos no decorrer desta unidade, que se trata de um documento que norteará as tomadas de decisão do indexador. E é sempre importante lembrarmos que é a indexação que vai permitir a identificação dos conteúdos que existem dentro de um dado acervo. É importante compreender que sua elaboração demanda estudos, conhecimento sobre o acervo e sobre a política de desenvolvimento de coleções adotada pela UI, conhecimento sobre o perfil dos usuários e das demandas informacionais da comunidade usuária a que se atende. Por isso, deve ser discutida não apenas pelos bibliotecários que indexam, mas por toda a equipe bibliotecária e, como veremos adiante, por vezes, por representantes da instituição na qual a UI está inserida. Neste tópico veremos, entre outros temas, que a política de indexação é um instrumento de decisão administrativa dentro de unidades de informação e que, em linhas gerais, ela estabelece diretrizes para o desenvolvimento adequado da indexação. Não deixaremos de destacar, no entanto, que cada biblioteca deve estabelecer sua política de indexação de acordo com as demandas apresentadas pela sua comunidade usuária, pois é a ela que os serviços são oferecidosem todos os tipos de unidades de informação. 2 CARACTERÍSTICAS DA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO A biblioteca é uma organização em constante movimento. Nenhuma atividade ou serviço de informação elaborado pode ser pensado isoladamente. Isso porque os serviços estão relacionados entre si e todos são constituídos tendo como foco as características da comunidade usuária e suas demandas de informação. Por isso, o estabelecimento de qualquer diretriz, oferta de novo serviço, políticas, como a de desenvolvimento de coleções ou de indexação, só podem se edificar sobre dados substanciais acerca das características e do perfil da comunidade onde a unidade ou o sistema de informação está inserido. 76 UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO Em 1985, a bibliotecária Marília Vidigal Carneiro estabeleceu diretrizes para uma política de indexação. De certa forma, foi o primeiro trabalho brasileiro que ganhou reconhecimento e ainda hoje é citado como uma referência clássica no tangente à elaboração deste tipo de texto em bibliotecas. Por isso, nos parágrafos a seguir passaremos a analisar o proposto no referido artigo. Levaremos em conta que se trata de um documento elaborado em um contexto diferente do vivido nos dias atuais, e, na medida do possível, poderemos trazer a proposta para o momento que vivemos no século XXI e verificar a necessidade de novas problematizações. A autora coloca como objetivos da política de indexação a definição de variáveis e o estabelecimento de princípios e critérios que servirão de guia para a tomada de decisões que venham a otimizar o serviço de indexação, racionalizar o seu processo, além, de oferecer consistência para as atividades de indexação. Antes, no entanto, de partir para a elaboração do documento, Carneiro (1985) recomenda a identificação da organização na qual a unidade de informação está inserida; a identificação da clientela; e a identificação de recursos humanos, materiais e financeiros que se tem disponível. É importante conhecer os objetivos e atividades da organização para a determinação do tipo de serviço e ser implantado e, especialmente para identificar a área de interesse em que ela atua. Isso permitirá, segundo a autora, o estabelecimento de uma política de seleção adequada. E ela vai adiante e afirma que “tipo de organização determinará que sistema de indexação usar, bem como os níveis de exaustividade e especificidade exigidos” (CARNEIRO, 1985, p. 223). A respeito da identificação da clientela, ela destaca que a principal finalidade de um sistema de informação é fornecer aos usuários a informação de forma e momento exigidos, por isso a identificação deste usuário é essencial. Um estudo de usuário, neste caso, é fundamental. Com este estudo é possível obter: • conhecimento do alcance exigido pelo sistema quanto aos assuntos centrais e periféricos e quanto aos níveis de tratamento exigidos; • o núcleo de um vocabulário que refletirá os interesses do trabalho e necessidades de informação da clientela do sistema; • conhecimento do tipo de resposta exigido do sistema, isto é, se é exigência mais revocação, maior precisão, ou ambas ao mesmo tempo; • conhecimento do nível de exaustividade exigida na indexação; o nível de sofisticação desejável no sistema [...]; • conhecimento das exigências dos usuários quanto à forma de apresentação dos resultados da busca (CARNEIRO, 1985, p. 226). Em relação à determinação dos recursos financeiros, materiais e humanos, a autora lembra que a disponibilidade de equipamentos influenciará o tipo de organização de sistema, bem como a escolha da linguagem de indexação, por exemplo. No que tange aos recursos humanos, “quando há carência de pessoal deve-se optar por um sistema que exija uma manutenção mínima e um menos TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 77 esforço na indexação, principalmente quando se tem um grande volume de documentos a ser indexados” (CARNEIRO, 1985, p. 229). No entanto, é necessário lembrar que mesmo em casos como este, é necessário considerar as características e demandas da comunidade usuária. A partir do momento que se tem acesso a estes dados, e, realizadas suas análises, aí sim, esta equipe bibliotecária está apta a proceder à elaboração de uma política de indexação. E esta deve conter alguns elementos considerados essenciais. São eles: • Cobertura de assuntos. • Seleção e aquisição de documentos-fonte. • Nível de exaustividade. • Nível de especificidade. • Escolha da linguagem. • Capacidade de revocação e precisão do sistema. • Estratégia de busca. • Tempo de resposta do sistema. • Forma de saída. • Avaliação do sistema. Vejamos o detalhamento de cada um destes elementos propostos por Carneiro (1995) para a elaboração de uma política de indexação. Cobertura de assuntos: é necessário estabelecer as áreas onde se torna necessário um tratamento temático em profundidade e aquelas que podem ser tratadas superficialmente. Daí a importância do estudo de usuário, pois ele apontará um perfil de demanda informacional. Seleção e aquisição dos documentos-fonte. Esse elemento deve levar em conta a adequação do nível intelectual é técnico dos documentos ao nível dos usuários; domínio, por parte dos usuários, de diferentes línguas, e limitações financeiras, que pode implicar as formas de aquisição. Nível de exaustividade: em bibliotecas que atendem a um público mais geral, como é o caso de bibliotecas públicas, o nível da exaustividade será menor do que o exigido para bibliotecas especializadas. Além disso, o tipo de documento também poderá determinar o nível de exaustividade. É possível que uma unidade de informação defina um nível de exaustividade na indexação para um determinado tipo de documento e outro nível para documentos que apresentem características mais específicas. Nível de especificidade: a autora lembra que um maior nível de especificidade na indexação aumenta a taxa de precisão, ao mesmo tempo que diminui a de revocação. O que definirá o nível de especificidade serão as demandas apresentadas ao sistema de informação. 78 UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO Escolha da linguagem: a autora lembra que o uso de linguagem controlada pode dispender mais tempo durante a indexação, mas minimizará o tempo gasto pelo usuário, ou pelo pessoal do serviço de referência quando da busca pelos documentos. Isso porque o uso de uma linguagem controlada permite maior consistência na indexação. Capacidade de revocação e precisão do sistema. A revocação se relacionada com a capacidade do sistema em assegurar a recuperação um número desejável de itens, enquanto que a precisão está relacionada com a capacidade que o sistema de informação tem de impedir a recuperação de documentos não relevantes. A política de indexação pode estabelecer os níveis desejados em cada busca realizada no sistema. Assim, usuários que estejam envolvidos com trabalhos que demandam uma pesquisa bibliográfica mais exaustiva demandarão maior revocação do sistema de informação, enquanto que usuários especialistas buscarão por informações precisas, preferencialmente, consultando poucos itens. Estratégia de busca: quem fará a busca? O bibliotecário ou o usuário? Estas são as perguntas que este item deve responder. Em um contexto atual, talvez esta questão não faça muito sentido, uma vez que em um grande número de bibliotecas as rotinas de busca, pesquisa, empréstimo e devolução de materiais são totalmente automáticas, o que permite ao usuário maior autonomia no momento da busca pela informação. No entanto, na década de 1980, quando o artigo em voga foi escrito, esta não era uma realidade. De qualquer forma, esta é ainda uma questão pertinente, pois, o uso de LDs, por exemplo, é feito pelo bibliotecário no momento da indexação. Todavia, não há garantias de que um usuário procederá uma busca utilizando exatamente os mesmos termos propostos pela LD utilizada pelo bibliotecário. Por isso, uma política de indexação pode prever a mediação do bibliotecáriotambém na hora da busca, ou se ela será delegada ao próprio usuário. Tempo de resposta do sistema: consiste em estabelecer um tempo considerado aceitável entre o momento em que o pedido é lançado ao sistema de informação e o fornecimento da resposta. Forma de saída: este elemento deve prever quais formas de respostas serão oferecidas aos usuários (lista de itens recuperados, resumos, referências, entre outros). Avaliação do sistema: consiste no estabelecimento de critérios que permitam avaliar até que ponto o sistema está satisfazendo as necessidades de seus usuários e respondendo a suas demandas informacionais. Cerca de 20 (vinte) anos mais tarde, Nunes (2004) ao tratar dos mesmos elementos em trabalho em que também critica a escassez de estudos e publicações (no Brasil) acerca do tema em voga, apresenta certa flexibilidade ao afirmar que TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 79 em primeiro lugar, a política de indexação deve ser enunciada formalmente num documento oficial da biblioteca ou serviço de informação, o que significa dizer que deve ser homologado por sua direção. Esta providência assegura sua permanência, continuidade, ainda que haja substituição do bibliotecário responsável por sua aplicação rotineira. Formalizar não significa sacralizar, pois que a política de indexação necessariamente será atualizada conforme se alterem as condições institucionais e conforme evolua o conhecimento humano, processo que afeta a linguagem natural e, por decorrência, as linguagens documentarias. Por si só, estes fatores fazem da política de indexação um instrumento dinâmico, em permanente atualização. De igual modo, tal atualização deve ser formalizada, assegurando-se rumo e consistência as eventuais mudanças, evitando-se que sofram demasiado a influência pessoal do bibliotecário transitoriamente incumbido de realizar a atividade de indexação. Em segundo lugar, a política de indexação disporá sobre o tratamento que será dado aos diferentes domínios disciplinares cobertos pelo acervo da biblioteca – não há por que se indexar com a mesma profundidade os assuntos de todas as áreas. Quanto ao processo de indexação propriamente dito, é preciso eleger a linguagem de indexação, dentre as tantas disponíveis, que será adotada pelo sistema. Contudo, nem sempre e possível fazer a indexação utilizando apenas uma linguagem de indexação. Por exemplo, um tesauro de meio ambiente somente poderá ser utilizado para representar o conteúdo dos documentos sobre esse domínio disciplinar. Não se deve esquecer que os tesauros, por definição, são linguagens de indexação especializadas. Portanto, se o acervo da biblioteca abranger outros domínios disciplinares, será necessário recorrer a tantos tesauros quantos necessários forem para dar conta da totalidade dos assuntos. O mesmo não ocorre com as listas de cabeçalhos de assunto, que geralmente são gerais e vinculadas a algum sistema de classificação – e, por isso mesmo, mais populares entre bibliotecas públicas e escolares, por exemplo. Esta variedade de situações terá que ser cuidadosamente analisada antes de se fazer a escolha por uma ou mais linguagens de indexação. O importante é que, uma vez feita a escolha, seja a decisão inscrita na política de indexação, devidamente fundamentada (NUNES, 2004, p. 57-58). Rubi (2012) também propõe algumas diretrizes para a elaboração de políticas de indexação, mas especificamente, para bibliotecas universitárias. Corroborando com demais autores já citados neste texto, esta autora também considera que a política de indexação deve ser compreendida como uma ação administrativa, relacionada com a filosofia da instituição. Numa biblioteca universitária, ela deve ser registrada devido à amplitude da rede de bibliotecas. Na proposta desta autora, a política deve ser elaborada obedecendo três fases: a preparação, o desenvolvimento e a avaliação. A preparação consiste na observação dos seguintes aspectos: • Organização onde está inserida a biblioteca. • Identificação dos usuários. • Áreas de interesse, níveis de experiências, áreas de atuação. • Infraestrutura. 80 UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO • Recursos financeiros. • Recursos materiais e físicos. • Recursos humanos (RUBI, 2012). Já na fase do desenvolvimento serão estabelecidas as decisões e diretrizes dos trabalhos que envolvem a indexação em si. Os elementos são distribuídos em três categorias e cada uma delas apresenta subcategorias. Vejamos: • Categoria: indexação. • Subcategorias: capacidade de revocação e precisão do sistema; especificidade; exaustividade. Formação do indexador, procedimentos relacionados à indexação; manual de indexação (elaboração/utilização). • Categoria: linguagem documentária. • Subcategorias: escolha da linguagem; consistência/uniformidade; adequação. • Categoria: sistema de busca e recuperação por assunto. • Subcategorias: avaliação; campos de assunto do formato MARC; capacidade de consulta a esmo. Estratégia de busca; forma de saída dos dados (RUBI, 2012). Percebemos que a proposta de Rubi guarda semelhanças com a de Carneiro (1985), mas inclui novos elementos, frutos da transformação e da evolução do campo da biblioteconomia. Destes, o que talvez mais chame a atenção seja o item relacionado ao formato MARC. A autora considera importante indicar quais campos e subcampos do registro bibliográfico devem ser considerados para a construção de um catálogo. Ainda no âmbito universitário, mas agora em uma vertente mais prática, trazemos o exemplo do Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, que desenvolveu, em 2014, sua política de indexação, também com base no proposto por Carneiro (1985), porém com a inserção de outros elementos que acompanhem o movimento percorrido pelas bibliotecas e pela própria biblioteconomia nos últimos anos, chegando, por fim aos seguintes elementos: • Público-alvo • Identificação da instituição • Processo de indexação ᵒ Análise conceitual ᵒ Identificação dos conceitos ᵒ Tradução • Elementos da política de indexação ᵒ Cobertura de assunto ᵒ Exaustividade ᵒ Especificidade ᵒ Linguagem controlada • Competências e habilidades do bibliotecário indexador FIGURA 2 – ELEMENTOS DE UMA POLÍTICA DE INDEXAÇÃO FONTE: A autora http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/publico-alvo#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/identificacao-da-instituicao#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/processo-de-indexacao#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/processo-de-indexacao/analise-conceitual#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/processo-de-indexacao/identificacao-dos-conceitos#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/processo-de-indexacao/traducao#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/elementos-da-politica-de-indexacao#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/elementos-da-politica-de-indexacao/cobertura-de-assunto#2.2http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/elementos-da-politica-de-indexacao/exaustividade#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/elementos-da-politica-de-indexacao/especificidade#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/elementos-da-politica-de-indexacao/linguagem-controlada#2.2 http://www.ufrgs.br/documenta/manuais-sabi/politicas-e-procedimentos/politica-de-indexacao/politica-de-indexacao-do-sistema-de-bibliotecas-da-universidade-federal-do-rio-grande-do-sul-sbufrgs/competencias-e-habilidades-do-bibliotecario-indexador#2.2 TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 81 Vejamos, a seguir, como estes elementos estão descritos. 3. PÚBLICO-ALVO. O público-alvo desta Política são os bibliotecários indexadores do SBUFRGS. Sua aplicação deve ser feita em conjunto com o Manual de Rotinas e Procedimentos de Indexação, com os manuais do SABi e com o Padrão para Entradas de Nomes Geográficos como Assunto. Também é um instrumento de auxílio aos bibliotecários que trabalham com a recuperação da informação. 4. IDENTIFICAÇÃO DA INSTITUIÇÃO. A Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), com sede em Porto Alegre, capital do Estado do Rio Grande do Sul, é uma instituição centenária, reconhecida nacional e internacionalmente. Ministra cursos em todas as áreas do conhecimento e em todos os níveis, desde o Ensino Fundamental até a Pós-Graduação. Nesse contexto a UFRGS tem como missão: "[...] a educação superior e a produção de conhecimento filosófico, científico, artístico e tecnológico, integradas no ensino, na pesquisa e na extensão” (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDEDO SUL, 1995). Tem como visão de futuro: Consolidar seu papel como expressão da sociedade democrática e pluricultural, inspirada nos ideais de liberdade, de respeito pela diferença e de solidariedade, constituindo-se em instância necessária de consciência crítica, na qual a coletividade possa repensar suas formas de vida e suas organizações sociais, econômicas e políticas (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDEDO SUL, 1995). São políticas em constante desenvolvimento na Universidade a qualificação do seu corpo docente, composto na sua maioria por mestres e doutores, a atualização permanente da infraestrutura dos laboratórios e bibliotecas, o incremento à assistência estudantil, bem como a priorização de sua inserção nacional e internacional (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, 2014). A estrutura da Universidade é composta por: Conselhos Superiores; Reitoria; Procuradoria; Pró-reitoras; Superintendências; Secretarias; Órgãos Suplementares; Unidades Universitárias e Institutos Especializados; Associações e Diretórios Acadêmicos. A Universidade está organizada em 4 campi em Porto Alegre (Centro, Saúde, Olímpico e Vale) e em outros municípios do Estado do Rio Grande do Sul (CECLIMAR, em Imbé, Estação Experimental Agronômica, em Eldorado do Sul e Campus Litoral Norte, em Tramandaí). Dentro da estrutura da UFRGS, a Biblioteca Central é um órgão suplementar vinculado diretamente ao Reitor e Vice-Reitor e, por delegação de competência, à Pró-Reitoria de Coordenação Acadêmica. A Biblioteca Central coordena tecnicamente o SBUFRGS, que é composto por 31 bibliotecas setoriais especializadas, uma biblioteca de ensino fundamental e médio e uma biblioteca depositária da documentação da Organização das Nações Unidas (ONU). Uma função primordial do SBUFRGS é prover infraestrutura bibliográfica, documentária e informacional para apoiar as atividades da Universidade, centrando seus objetivos nas necessidades informacionais do indivíduo, membro da comunidade universitária, constituída de alunos de graduação, pós- graduação, ensino fundamental, ensino médio; docentes e servidores técnico-administrativos. Paralelamente ao contexto acadêmico, tem compromisso com a sociedade não vinculada à Universidade que se efetiva através da prestação de serviços, proporcionando o acesso à informação, à leitura e a outros recursos disponíveis que são instrumentos de transformação dessa sociedade. As bibliotecas do SBUFRGS estão vinculadas administrativamente às Unidades de Ensino, possuem acervo próprio e oferecem serviços independentes. Apesar da distância física entre elas, da variedade de acervo e de 82 UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO usuários, atuam de forma cooperativa no que se refere às políticas gerais para o desenvolvimento de coleções, automação dos serviços, catalogação e outros. O processamento técnico é descentralizado, contudo obedece às políticas do SBUFRGS. Em 1989, foi implantado o Sistema de Automação de Bibliotecas (SABi) que atualmente adota o software Aleph para gerenciar as atividades e serviços oferecidos à comunidade usuária. O Aleph é composto por módulos que, entre outras funções, possibilitam o registro e a recuperação de informações bibliográficas através do catálogo on-line (UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL, [2014]). 5 O PROCESSO DE INDEXAÇÃO. O processo de indexação consiste de três etapas: análise conceitual, identificação dos conceitos e tradução. 5.1 Análise Conceitual. A análise conceitual é a primeira etapa do processo de indexação. 5.1.1 Definição operacional “Análise conceitual é o conjunto de procedimentos efetuados com a finalidade de representar o conteúdo dos documentos” (CUNHA,1989, p.17). 5.1.2 Diretrizes. A análise conceitual dos documentos depende de uma leitura técnica que garanta que nenhuma informação seja negligenciada. Na leitura técnica, as seguintes partes do documento devem ser consideradas: a) título e subtítulo; b) resumo; c) sumário; d) introdução; e) ilustrações, diagramas, tabelas e seus títulos explicativos; f) referências; g) palavras ou grupo de palavras em destaque (sublinhadas, impressas em tipos diferentes); e h) conclusão. Não indexar por qualquer um destes elementos isoladamente, pois em muitos casos eles não representam o conteúdo do documento em sua totalidade. 5.2 Identificação dos Conceito. A identificação dos conceitos é a segunda etapa do processo de indexação. 5.2.1 Definição operacional. A identificação dos conceitos é a etapa na qual o indexador identifica os elementos essenciais na descrição do assunto. 5.2.2 Diretrizes. O indexador deve adotar uma abordagem sistemática para realizar essa etapa, garantindo assim a fidelidade ao documento. Para essa sistematização, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (1992, p. 2) apresenta questões que contemplam a diversidade de acervo e a interdisciplinaridade do assunto, características do SBUFRGS. São elas: a) qual o assunto de que trata o documento? b) como se define o assunto em termos de teorias, hipóteses, etc.? c) o assunto contém uma ação, uma operação, um processo? d) o documento trata do agente dessa ação, operação, processo, etc.? e) o documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? f) esses aspectos foram considerados no contexto de um local ou ambiente especial? g) foram identificadas variáveis dependentes ou independentes? h) o assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? [...] (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992, p. 2). 5.3Tradução. A tradução é a terceira etapa do processo de indexação. 5.3.1 Definição operacional. A tradução é a conversão dos assuntos selecionados de um documento num determinado conjunto de termos de indexação (SILVA et al., 2014, p. 7-11). Vemos que o documento elaborado pelo Sistema de Bibliotecas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul apresenta dados essenciais para a identificação da Política.É atribuída ao documento uma marca específica de a que ele serve e a quem se direciona. Seu público-alvo é exclusivamente formado por bibliotecários que atuam na indexação. TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 83 Podemos perceber que há uma riqueza de informações no item Identificação da Instituição. São apresentados elementos como missão, visão e histórico da organização. Isso é essencial para a política de indexação, uma vez que este é um documento que auxilia a gestão da unidade. E, saber quais são os interesses e direcionamentos da instituição onde se está inserido é poder desenvolver um trabalho de parceria. Enquanto diretrizes para o uso de vocabulários controlados, o documento estabelece o seguinte: O Catálogo de Autoridades é o principal instrumento para controle de entrada de assuntos no SABi. O SBUFRGS não dispõe de um vocabulário controlado que contemple todas as áreas do conhecimento. Cada biblioteca é responsável pela definição da entrada de assunto dos documentos de seu acervo. Ao expressar conceitos por descritores, o indexador deve observar as seguintes práticas: a) Verificar a existência do descritor no Catálogo de Autoridades: • Para descritores já existentes no Catálogo de Autoridades, verificar sua pertinência e consistência de acordo com a Política de Indexação. • Para descritores que representam novos conceitos, verificar sua precisão e aceitabilidade em instrumentos de referência. b) Limitar o uso de instrumentos de controle de vocabulário às áreas temáticas específicas de cada biblioteca setorial. Como exemplo, a biblioteca que utiliza um tesauro de Engenharia deve limitar o seu uso para descritores da área de Engenharia. Porém, ao indexar um documento de Administração, deve respeitar os termos consolidados desta área, e não utilizar o que determina o tesauro de Engenharia; c) Analisar e definir assuntos comuns a mais de uma biblioteca, que gerem dúvidas quanto à definição da sua entrada, mediante negociação entre todas as bibliotecas envolvidas (SILVA et al., 2014, p. 11). A citação anterior ilustra muito bem uma das funções de uma política de indexação: a definição de regras internas. É claro que estas regras devem obedecer às normativas estabelecidas pelos organismos que propõem as orientações técnicas da biblioteconomia, mas, internamente, cada biblioteca, ou outro tipo de unidade de informação, tem autonomia para decidir pelo que melhor atende às necessidades da comunidade a quem atende. A partir da Seção 6 do documento os elementos da política de indexação propriamente ditos começam a ser apresentados e descritos. 6.1 Cobertura de Assunto. O conhecimento se desenvolve de modo interdisciplinar, mas o foco da representação temática deve estar relacionado com as necessidades de informação do público-alvo de cada biblioteca. Diante disso, as bibliotecas setoriais do SBUFRGS são responsáveis pela formação e desenvolvimento de coleções, priorizando os assuntos relativos às áreas do conhecimento por elas abrangidas. 6.2 Exaustividade. A seguir são analisados os tópicos relativos à exaustividade. 6.2.1 Definição operacional “Exaustividade corresponde ao número de termos atribuídos, em média, a um determinado documento” (LANCASTER, 2004, p. 27). 84 UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 6.2.2 Diretrizes. Esta Política recomenda o uso de níveis de exaustividade, de acordo com os principais tipos de documentos existentes nas bibliotecas. [...] a) Para produção Intelectual da UFRGS registrada como folheto, utilizar o nível de exaustividade correspondente ao tipo de documento (capítulo de livro, artigo de periódico, resumo etc.). b) Em caso de registro cooperativo, cada biblioteca poderá acrescentar seus próprios descritores, observando as diretrizes desta Política e o Manual de Rotinas e Procedimentos de Indexação. c) A exaustividade pode variar de acordo com a cobertura de assunto de cada biblioteca. Sendo assim: • Quando o assunto for da área temática da biblioteca, a indexação pode ser mais exaustiva. • Quando o assunto não for da área temática da biblioteca, a indexação pode ser menos exaustiva. d) Cada biblioteca deve definir o nível de exaustividade dos tipos de documentos que, eventualmente, não estejam contemplados no quadro. Para evitar o excesso de descritores em um mesmo registro (obra no todo), uma alternativa é a criação de analíticas. Este recurso é aplicável para periódicos, anais de eventos e livros compilados (com organizador, editor ou coordenador) cujos capítulos tratem de diferentes assuntos. 6.3 Especificidade. A seguir são analisados os tópicos relativos à especificidade. 6.3.1 Definição operacional. “A especificidade se refere ao grau de precisão com que um termo define determinado conceito no documento. Ocorre perda de especificidade quando um conceito é representado por um termo com significado mais genérico” (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1992, p. 3). 6.3.2 Diretrizes. Um assunto deve ser indexado sob o termo mais específico que o abranja completamente. Por abrangência, entende- se o uso de termos exatos e não genéricos, pois numa hierarquia de assuntos um termo específico está subordinado 6.4.2 Diretrizes. Esta Política determina o emprego de uma linguagem controlada e pós-coordenada por ser a linguagem que combina ou coordena os termos no momento da busca. Além disso, é a linguagem mais recomendada para sistemas automatizados. Entretanto a linguagem pós-coordenada não exclui totalmente o uso de subcampos/subcabeçalhos. Num sistema pós-coordenado, aplicam- se os subcabeçalhos de forma muito parecida com o modo como são aplicados nos tradicionais catálogos de assuntos das bibliotecas. Os melhores candidatos a subcabeçalhos são aqueles termos que seriam potencialmente aplicáveis a muitos dos outros termos do vocabulário (LANCASTER, 2004, p. 196). No SBUFRGS esses subcabeçalhos são representados nos subcampos x, v, y e z, recursos disponíveis no formato Machine Readable Cataloging (MARC). O uso do subcampo a (descritor), combinado com os subcampos x, v, y, z, (subdivisão geral, forma, tempo e lugar, respectivamente) dentro de critérios pré-estabelecidos, não caracteriza pré-coordenação. Este recurso pode ser usado para aumentar o nível de especificidade quanto ao assunto e quanto aos limites de forma, tempo e lugar, reduzindo as falsas associações e qualificando a recuperação da informação. Os critérios para o uso desses subcampos estão detalhados no Manual de Procedimentos de Indexação (SILVA et al., 2014, p. 12-16). TÓPICO 3 | ELABORAÇÃO DE POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO 85 Percebemos aqui o registro das diretrizes que devem ser aplicadas na atividade de indexação em si. É muito importante destacar que a cobertura do assunto é definida de acordo com as características de público usuário e por cada biblioteca setorial. Por mais que as bibliotecas sejam estruturadas como rede, a política de indexação leva em conta que cada uma das componentes desta rede pode carregar em si características muito específicas, a depender das áreas do conhecimento humano abrangidas pelos cursos de graduação e pós-graduação. Outro cuidado que é possível de ser observado nesta política, é que a cada vez que surge uma nova diretriz, há uma conceituação para ela. O documento deixa claro o que é exaustividade no âmbito deste sistema de bibliotecas, e, somente depois há o estabelecimento do modo da ação. Especialmente no caso da exaustividade, as características do documento e da unidade de informação são bastante consideradas. Por fim, vemos que Lancaster, estudioso no qual viemos embasando-nos desde o início desta disciplina, também é citado no documento em tela, o que mostra sua relevância na área. Para além destes elementos, a instituição apresenta também um rol de competências e habilidades esperadas do bibliotecário que vai atuar na instituição desenvolvendo atividades de indexação. É o que segue: 7 COMPETÊNCIAS E HABILIDADES DOBIBLIOTECÁRIO INDEXADOR O desempenho das atividades de indexação requer um profissional com habilidades e competências específicas. Nesse sentido, com base na literatura e na prática diária do bibliotecário, foi identificado o perfil desejável deste profissional. Esta Política considera que os seguintes fatores são importantes para qualificar o trabalho do bibliotecário indexador no SBUFRGS: a) conhecer as áreas de assuntos tratados; b) conhecer e aplicar as políticas do sistema; c) identificar as necessidades informacionais dos usuários; d) possuir bom nível de concentração e capacidade de interpretação de texto; e) observar os princípios de imparcialidade e coerência; f) dialogar e/ou negociar questões de indexação; g) participar de capacitações dentro de sua área de atuação. Além disso, o indexador deve ter consciência de que atua de forma cooperativa inserido num sistema e que suas decisões podem interferir diretamente na indexação do sistema como um todo (SILVA et al., 2014, p. 17). Vejam que é esperado que o bibliotecário deste sistema de bibliotecas conheça a fundo os princípios da atividade de indexação, de onde podemos inferir a necessidade de constante atualização que atua nestes setores. Chama- nos a atenção a alínea “a” acima, que aponta que o bibliotecário deve conhecer as áreas de assuntos tratados nos documentos que indexa. No item Considerações Final da Política de Indexação do SBUFRGS ressalta-se 86 UNIDADE 2 | POLÍTICAS DE INDEXAÇÃO a importância do diálogo e da negociação entre os bibliotecários de uma mesma biblioteca, bem como entre os bibliotecários das demais bibliotecas. A exaustividade, a especificidade e a linguagem estão sujeitas a avaliação e controle para verificar se as diretrizes estabelecidas pela Política de Indexação estão sendo observadas e se os objetivos propostos estão sendo alcançados (SILVA et al., 2014, p. 18). A instituição acredita que a observação da política de indexação reduzirá as inconsistências desta atividade, além de contribuir para que o bibliotecário indexador adote melhores práticas em seu trabalho (SILVA et al., 2014). Para finalizar este tópico, gostaríamos de uma vez mais, ressaltar a importância da elaboração de uma política de indexação nas unidades de informação. E um documento como este requer estudo, conhecimento da instituição e do processo de indexação em si. Trata-se de registra COMO a indexação será realizada em uma dada unidade. Isso faz com que todos os membros de uma equipe de processo técnico possam desenvolver igualmente sua prática, visando sempre a recuperação da informação. 87 RESUMO DO TÓPICO 3 Neste tópico, você aprendeu que: • A política de indexação é um instrumento de decisão administrativa dentro de unidades de informação. • A política de indexação estabelece diretrizes para o desenvolvimento adequado da indexação. • Cada biblioteca deve estabelecer sua política de indexação de acordo com as demandas apresentadas pela sua comunidade usuária. • A formação continuada do indexador é essencial para que ele possa efetivar mais adequadamente as diretrizes da política. 88 1 Os termos a seguir foram selecionados do sistema nocional da área da Medicina. Estabeleça entre eles relações hierárquicas (subordinadas) e não hierárquicas. Área do conhecimento: Medicina Termos: Psiquiatria Residência em Emergência Hospitalar Unidade de Tratamento Sem-intensivo Medicina alternativa Cefaleia Oncologia Tratamento de Fraturas com pinos Doenças coronárias em decorrência de carcinomas Traumas Ortopédicos Formação médica 2 Os termos a seguir foram selecionados do sistema nocional da área da Artes. Estabeleça entre eles relações hierárquicas (subordinadas) e não hierárquicas. Área do conhecimento: Artes Termos: Música Entalhe em madeira Artes plásticas Grécia Aulas de Artes Pintura em óleo Roma Movimento musical na Tropicália Artes cênicas Características de fotografia artísticas Arte barroca Capela Cistina Esculturas em mármore Teatro satírico 3 Os termos a seguir foram selecionados do sistema nocional da área da Engenharia. Estabeleça entre eles relações hierárquicas (subordinadas) e não hierárquicas. AUTOATIVIDADE 89 Área do conhecimento: Engenharia Termos: Engenharia de alimentos Engenharia civil Pré-sal Engenharia marinha Engenharia sanitária Projetos de estradas de rodagem Engenharia de produção Engenharia de petróleo Curso superior de engenharia elétrica Políticas internacionais Vigilância em saúde Engenharia de transportes Ensino de engenharia 4 Com base nas propostas de política de indexação apresentados neste tópico, crie um novo modelo para uma biblioteca especializada em moda. Imagine que esta biblioteca atende a um curso superior de moda, com cerca de 350 alunos e 20 professores. Está localizada em um município que tem boa parte da renda gerada pelo setor têxtil. A biblioteca acaba atendendo também a usuários advindos deste setor econômico, uma vez que a biblioteca pública do município não possui em seu acervo, informações especializadas na área, atendendo quase que exclusivamente a alunos advindos do ensino básico. Ela tem uma equipe de trabalho composta por bibliotecários e auxiliares de biblioteca que dividem tarefas de acordo com seu nível de conhecimento das atividades cotidianas. A maior parte de seu acervo é constituído por livros, mas também há periódicos especializados, material audiovisual e muitas fotografias de desfiles realizados pela própria comunidade acadêmica. 90 91 UNIDADE 3 INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM PLANO DE ESTUDOS A partir do estudo desta unidade, você deverá ser capaz de: • identificar tipos específicos de resumos historicamente desenvolvidos por serviços de resumos; • indexar itens bibliográficos e imagens; • elaborar resumos dos diversos tipos. Esta unidade está dividida em três tópicos. No decorrer da unidade você encontrará autoatividades com o objetivo de reforçar o conteúdo apresentado. TÓPICO 1 – RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES TÓPICO 2 – PRÁTICA DE INDEXAÇÃO TÓPICO 3 – PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS 92 93 TÓPICO 1 RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Indexar, em linhas gerais, significa indicar, representar. Até aqui, vimos que a indexação de uma dada obra é uma atividade inerente ao profissional da área da biblioteconomia, que consiste em identificar conceitos e noções que compõem os conteúdos desta mesma obra e representá-los(as) em palavras-chave. São estas palavras-chave que darão acesso ao usuário aos conteúdos desejados. Agora, veremos que existe uma outra forma de também indicar e representar conteúdos: a partir de resumos. Elaborar resumos também requer algumas habilidades do bibliotecário uma vez que é necessário identificar, em um dado texto, suas ideias principais e selecionar, entre todas as informações contidas nele, as que darão ao usuário a condição de decidir se devem ou não acessar o documento original. Neste tópico aprenderemos a identificar diferentes tipos de resumos produzidos por serviços de resumos. Também teremos a oportunidade de aprender quais são os elementos essenciais para a elaboração de um bom resumo, o que, em última instância, significa elaborar uma ótima representação do texto integral. Deveremos frisar que os resumos são representações de documentos e que, ao lê- los, o leitor deve conseguir decidir-se pelo uso do documento original ou não. 2 CARACTERÍSTICAS DOS RESUMOS Indexar, como vimos, até agora, é uma atividade inerente ao tratamento temático da informação, que visa à recuperação da informação a partir de termos que representem as ideias contidas no texto integral. Já o resumo tem a mesma função de representar conteúdos, mas deve ser elaboração com mais informações. Segundo Lancaster (1997), o resumo é uma representação sucinta do conteúdo de um documento. Para o autor, o resumo verdadeiro é um texto criado pelo resumidor, no caso, o bibliotecário, e não pelo autor. Este tipo de registropode ser caracterizado de inúmeras formas, inclusive, segundo sua extensão. Não existe razão para que os resumos tenham todos a extensão parecida, pois são muitos os fatores que influem nesta característica: a extensão do item que está sendo resumido; a complexidade do conteúdo; a diversidade do conteúdo; a importância do item para o local; custo; finalidade; entre outros. UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 94 Os tipos mais comuns de resumos são os denominados resumos indicativos e os resumos informativos. O resumo indicativo apenas indica do que trata o documento, enquanto que o informativo sintetiza a substância do documento. Nos exemplos a seguir, baseados em Lancaster (1997) podemos identificar estas diferenças. Vejamos. Resumo indicativo Foram realizadas entrevistas telefônicas em 1985 com 655 norte- americanos selecionados por amostragem probabilística. Expressam- se opiniões sobre se 1) a formação de um estado palestino é essencial para a paz na região, 2) deve ser reduzida a ajuda norte-americana a Israel e ao Egito. Os entrevistados indicaram se estavam ou não suficientemente informados sobre os vários grupos nacionais da região. Agora, o mesmo documento resumido, só que com base na estrutura de resumo informativo: Entrevistas telefônicas foram realizadas em 1985, com 655 norte- americanos selecionados por amostragem probabilística, produziram estes resultados: a maioria (54 – 56%) acha que deve ser reduzida a ajuda norte-americana a Israel e ao Egito; mais de 80% consideram importante que os EUA mantenham relações amistosas tanto com Israel, quanto com os países árabes. Os Israelenses são o grupo nacional mais conhecido e os sírios o grupo menos conhecido (LANCASTER, 1997, p. 90 - 91). Um terceiro tipo de resumo que pode ser citado é o resumo crítico. Ele tem características avaliativas. O resumidor exprime, no texto, opiniões sobre a qualidade do trabalho por exemplo. O portal Projeto Acadêmico lembra das diferenças entre um resumo e uma resenha. Resumo é o tipo de texto que visa recapitular ou elaborar uma síntese das ideias principais e secundárias de outro texto. Já a resenha é a apresentação de um produto com um parecer, favorável ou não, a ele. O resumo crítico deve ser pensado como uma síntese que auxilie o leitor a compreender determinada obra, e, consequentemente, deve dar ao leitor a possibilidade de decidir pelo uso ou não do documento integral. Visa extrair, de forma coerente, as ideias principais de uma obra, de parte dela, ou de determinado texto. O serviço de resumo deve seguir a mesma linha de raciocínio e as ideias propostas pelo autor. O enfoque do resumo crítico é uma análise baseada no ponto de vista do resumidor, que dá sua percepção sobre as ideias expostas no texto original (PORTAL ACADÊMICO, 2019). O texto do resumo crítico deve partir sempre de uma análise temática, por isso é recomendado que ele responda a algumas questões como: qual o assunto central do texto? Qual a problematização apresentada? Qual a solução apresentada para o problema? Quais os argumentos apresentados para resolução da problemática? Também podem constar do resumo os dados bibliográficos mais relevantes, passando para as ideias principais, ressaltando os objetivos, resultados e métodos, bem como a conclusão a que o texto chega. Não são recomendados TÓPICO 1 | RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES 95 elementos que gerem redundância. No resumo crítico é necessário que se faça uma análise, um comentário sobre o que foi lido, mostrando porque o leitor deve consultar esta obra. É permitido o uso de paráfrases julgadas necessárias para expor seu ponto de vista, sua avaliação, seja ela positiva ou negativa (PORTAL ACADÊMICO, 2019). Vejamos um exemplo de resumo crítico a seguir. REFERÊNCIA: FARRARO JÚNIOR, L. A. Encontros e caminhos: formação de educadores(as) ambientais e coletivos educadores. Brasília: MMA, 2005. Páginas: 263 a 272 RESUMO CRÍTICO TEMA: A utopia do profissional de educação Ambiental. Assunto Discutido: As diversas situações desafiadoras encontradas e vivenciadas pelo profissional da educação o leva, na maioria das vezes, à muitas frustrações e desilusões diante de tantas problemáticas existentes na sociedade que o convida na formação de seus indivíduos. A relação com o meio em que vive e as peculiaridades das novas sociedades projetam a necessidade de uma formação para o educador além das necessidades específicas de cada área do conhecimento, a intencionalidade de uma formação interdisciplinar, uma vez que tudo deve conduzi-lo à utopia de formação ambiental emergencial, já que tudo converge para questões ambientais. Na sua própria formação de educador ambiental, o profissional precisa estabelecer ponte de conexão de sua formação profissional com sua prática pessoal. Não se pode ensinar o que não se transformou em experiência. A educação ambiental é um bem maior do que troca de informações e repasse de conhecimento. É algo que, em seu idealismo ofereça a formação integral do ser humano. O desafio principal nesse caso, é que o profissional educador ambiental promova a integração de diversos tipos de saberes, sem deixar que o cotidiano o interpele e atrapalhe o desenvolvimento de seu trabalho com princípios e características emancipatórias. Conclusão: Dessa forma, é preciso sempre dispor-se de uma autorreflexão sobre cada situação vivenciada pelo profissional de educação ambiental, de maneira que seja possível estar conectado com as mudanças existenciais da atualidade, sejam em cabedais do conhecimento, sejam em atuações diretas nos desafios propostos. Análise Crítica: Base literária muito instigadora, este texto nos leva a uma reflexão do educador ambiental, bem como sua introspecção real sobre o próprio despertar para a necessidade de se viver educação ambiental em todo os aspectos da sociedade atual. Que cada ação direcionada à degradação do meio ambiente, deve ser considerada reflexo de uma ação não pensada pelo indivíduo. As autoras conseguiram nos trazer muito próximos de um ideal que muitas vezes se torna inalcançável pelas demandas socioeconômicas que sobrepõem os interesses coletivos. FONTE: Adaptado de Portal Acadêmico (2019). UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 96 Notemos que o exemplo exposto anteriormente mostra a estrutura dividida do resumo, dando destaque para cada uma das partes, o que torna o exemplo bastante didático, no entanto, não é necessário que em seu resultado final que o ressumo seja apresentado com estas divisões, podendo ser redigido em um único item. É Lancaster (1997) que nos apresenta um quarto tipo de resumo: o resumo modular. Ele destina-se a ser uma descrição mais completa de determinados documentos. Cada resumo consiste em cinco partes: uma citação, uma anotação, um resumo indicativo, um resumo informativo e um resumo crítico. Já foram bastante utilizados em serviços de resumos e sua primordial finalidade “era eliminar a duplicação e o desperdício do esforço intelectual envolvido na elaboração, de forma independente, de resumos dos mesmos documentos por diversos serviços”, mas não pretende padronizar resumos (LANCASTER, 1997, p. 95). Lancaster (1997) ainda nos apresenta os resumos chamados de literaturas concisas, caracterizadas pelo emprego de enunciados altamente condensados. Os resultados dessa condensação podem ser condensados mais uma vez até que se chegue ao ponto principal de um documento. “Este tipo de sumarização não é um resumo no sentido convencional; no entanto, as literaturas concisas, certamente, guardam uma relação com os resumos” (LANCASTER, 1997, p. 94). O próximo resumo que apresentamos, ainda com base em Lancaster (1997), é o minirresumo, que apesar de nos parecer um resumo curto, era, na verdade, bastante estruturado e utilizado especificamente em buscas realizadas em computadores. Os termos utilizados neste resumo são extraídos de um vocabulário controlado e reunidos em uma dada sequência. “Por exemplo, oenunciado “Existe um decréscimo da quantidade de zinco no sangue dos seres humanos com cirrose do fígado” seria escrito assim: /DECR/ZINCO/SANGUE/ HUMANOS/CIRROSE/FÍGADO” (LANCASTER, 1997, p. 99). O último tipo de resumo que nos é apresentado nesta sequência é o resumo telegráfico. Ele não é elaborado com frases completas e se assemelha aos antigos telegramas, de onde surge sua denominação. Quanto às finalidades dos serviços de resumos, cita-se: a facilitação do processo de seleção, o esclarecimento acerca de conteúdos escritos em idiomas não dominados pelo leitor, e ainda podem ser bastante úteis em serviços de alerta oferecidos por bibliotecas. As características de um bom resumo são brevidade, exatidão e clareza. Ele deve ser elaborado a partir de termos contidos no título do documento, sem repeti-los depois. Quanto ao seu formato: TÓPICO 1 | RESUMOS: TIPOS E FUNÇÕES 97 o que deve ser incluído num resumo depende muito, naturalmente, do tipo do documento que se tem em mira. Um longo resumo indicativo de uma certa espécie de relatório de pesquisa mencionaria os objetivos da pesquisa, os procedimentos e de outra natureza adotados, os tipos de resultados alcançados [...] e as conclusões do autor quanto à importância dos resultados. O tratamento a ser dado em artigo de cunho histórico, por outro lado, seria bastante diferente. O resumo, por exemplo, daria ênfase à tese ou às conclusões do autor, tomando o cuidado de mencionar os períodos, localidades geográficas e personalidades envolvidas (LANCASTER, 1997, p. 102). O resumo, para que possa ser considerado completo, deva apresentar algumas partes essenciais: a referência bibliográfica, o corpo do resumo e a assinatura do resumidor, ou, se for o caso, a indicação de que o resumo foi elaborado pelo autor. Lancaster (1997) apresentou o seguinte esquema sobre princípios destinados à redação de resumos, publicados pelo Defense Documentation Center, de 1968: Neste esquema tem-se: 1) Resumo informativo, sempre que possível. 2) De 200 à 250 palavras. 3) Utilização da mesma terminológa técnica do documento. 4) Conteúdo com: objetivos, métodos, resultados, validade dos dados, conclusões e aplicações. 5) Utilizar algarismos para representar números sempre que possível. 6) Frases curtas. 7) Evitar símbolos e siglas não convencionais, pouco conhecidas. 8) Não utilizar abreviatura incomum. 9) Não apresentar equação, nota de rodapé ou elementos preliminares do texto. 10) Nenhum dado de catalogação descritiva. 11) Classificação de sigilo, quando for o caso. 12) Revisão final. Em função dos elementos apontados no esquema, podemos inferir que a utilização deste recurso mostra-se bastante adequado para documentos cujo conteúdo apresente conteúdo de caráter técnico e científico. 98 Neste tópico, você aprendeu que: • É possível identificar os diferentes tipos de resumos produzidos por serviços de resumos. • Existem elementos essenciais para a elaboração de um bom resumo. • Resumos também são representações de documentos e que, ao lê-los, o leitor deve conseguir se decidir pelo uso do documento original ou não. RESUMO DO TÓPICO 1 99 1 A redação de um bom resumo deve atender aos critérios arrolados nas opções a seguir, com exceção de uma. Assinale-a. a) ( ) Evitar reproduzir o vocabulário do autor, ampliando as possibilidades de termos de indexação. b) ( ) Indicar o que o autor fez e não o que tentou fazer ou o que pretende fazer no futuro. c) ( ) Omitir informações que o leitor provavelmente já conheça ou não lhe interessem diretamente. d) ( ) Ser autossuficiente, de modo que o leitor não precise consultar o original para entendê-lo. e) ( ) Ser o mais breve possível, desde que o sentido permaneça claro e não se sacrifique a exatidão. 2 Com base no esquema para elaboração de resumos, apresentado na Figura 2 deste tópico, elabore um resumo indicativo e um resumo informativo dos textos a seguir: a) Texto 1: Desmatamento na floresta amazônica brasileira: Principais causas e consequências. Atualmente, é grande o desmatamento na floresta amazônica, que vem cedendo espaço para lavouras e pastos, provocando diversos impactos ambientais. A floresta Amazônica ocupa hoje uma área 6,5 milhões de km², revestindo nove países da América do sul (Brasil, Bolívia, Peru, Colômbia, Equador, Venezuela, Guiana, Suriname e Guiana Francesa) com a maior floresta tropical do mundo. Rica em biodiversidade e com uma grande quantidade de reserva de água doce, a Amazônia é muito importante tanto para os países em que está localizada quanto para o equilíbrio do meio ambiente mundial, mas, apesar disso, nas últimas décadas tem sofrido uma devastação gradativa que pode comprometer a existência desse importante bioma. O Brasil possui a maior área dessa floresta, cerca de 85% da floresta Amazônica está no território brasileiro e, embora a floresta Amazônica brasileira seja o bioma mais preservado do Brasil, os índices de desmatamento são alarmantes. Estima-se que de 10% a 30% da área coberta pela floresta legal já tenha sido desmatada. Segundo o IBGE, somente entre os anos de 1997 a 2013 foram desmatados cerca de 248 mil km² da floresta no Brasil, que corresponde à, aproximadamente, área do estado de São Paulo. Outras estimativas acreditam que no ritmo de exploração atual a Amazônia pode desaparecer quase totalmente em 40 anos. A principal causa do desmatamento da Amazônia é a ocupação de áreas de reserva florestal por diversas empresas estrangeiras e nacionais que são atraídas para a região por incentivos do governo, que visa dinamizar a AUTOATIVIDADE 100 economia da região norte, e que, por falta de fiscalização adequada, acaba por desmatar ilegalmente grandes áreas de reserva florestal. Como a região norte é a nova fronteira agrícola do país, as atividades econômicas relacionadas ao espaço agrário vem sendo as principais responsáveis pelo desmatamento da Amazônia. Assim, em busca de um desenvolvimento econômico que favoreça uma pequena parcela da população e que não é revertido em qualidade de vida para a população, a floresta amazônica vai dando lugar a pastagens e lavouras. Provocando uma série de impactos para o meio ambiente do Brasil e do mundo, dentre eles estão: • A perda de biodiversidade, uma vez que várias espécies de plantas são desmatadas. Além disso, algumas espécies de plantas e animais não conseguem sobreviver nas pequenas áreas florestais que restam. • Impactos no ciclo hidrológico da região, uma vez que as árvores exercem uma função fundamental no processo de infiltração e percolação da água no solo. • Empobrecimento do solo exposto, que passa a ser mais lixiviado pela água. • Erosão, já que, em razão da exposição, o solo fica mais suscetível à ação da chuva e acaba sendo transportado com mais facilidade. • Modificação no clima mundial. As árvores são as grandes responsáveis pela absorção do gás carbônico da atmosfera, com o desmatamento aumenta-se a quantidade de CO2 na atmosfera, impactando assim o clima mundial. Dessa forma, é extremamente importante conter a ocupação e o desmatamento na Amazônia, pois, mais do que o equilíbrio ambiental de um bioma, sua preservação contribui com o equilíbrio ambiental mundial. FONTE: SILVIA, Olímpia Tamires. O desmatamento na Floresta Amazônica brasileira: principais causas e consequências. https://alunosonline.uol.com.br/geografia/ desmatamento-na-floresta-amazonica-brasileira.html. Acesso em: 24 abr. 2019. Resumo indicativo: Resumo informativo: b) Texto 2: História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970) Diana Gonçalves Vidal e Luciano Mendes de Faria Filho. A partir do fim dos anos 1960 e início dos 70, com o surgimento dos Programas de Pós-Graduação em Educação no país (o da PUC-Rio, em 1965, e da PUC-SP, em 1969, foram os primeiros a se constituir), e dos anos 1980, com a criação do Grupo de Trabalho "História da Educação" da Associação Nacional de Pós-Graduação ePesquisa em Educação (ANPEd), em 1984, e do Grupo de Estudos e Pesquisas "História, Sociedade e Educação no Brasil" (HISTEDBR), em 1986, cresceu substantivamente a produção de trabalhos em História da Educação no Brasil. Ao mesmo tempo foi-se constituindo uma certa identidade, ainda que multifaceta e plural do historiador da educação. No entanto, já desde a segunda metade do século XIX, tratados sobre história da https://alunosonline.uol.com.br/geografia/desmatamento-na-floresta-amazonica-brasileira.html Acesso em 24.04.2019 https://alunosonline.uol.com.br/geografia/desmatamento-na-floresta-amazonica-brasileira.html Acesso em 24.04.2019 101 educação brasileira foram elaborados por médicos, advogados, engenheiros, religiosos, educadores e historiadores e circularam no País e no exterior. A vitalidade da área, percebida nestes últimos trinta anos, tem sido objeto de reflexão de pesquisas acadêmicas e de vários balanços efetuados ao final de Congressos de História da Educação, como o I Congresso Brasileiro de História da Educação e os I a IV Luso-brasileiro de História da Educação; ou por encomendas de Grupos de Trabalho, como o GT História da Educação da ANPEd e HISTEDBR. Os estudos têm buscado delinear um panorama da atual historiografia em educação, destacando temáticas e períodos privilegiados pela pesquisa, bem como aportes teóricos mais recorrentes nessa escrita disciplinar. A produção inicial do campo também vem sendo investigada, ainda que de maneira esporádica, revelando-se um objeto recente de interesse. Pretendendo contribuir para a compreensão histórica da configuração do campo da História da Educação no Brasil, sistematizando a bibliografia disponível sobre a temática e propondo um novo ordenamento para a análise, este artigo almeja perceber matizes dessa escrita concebida como operação historiográfica. HISTÓRIAS DE UMA DISCIPLINA Debruçar-se sobre a história (ou histórias) da disciplina, no desenho de vertentes que a compõem, não é tarefa simples. Implica efetuar escolhas, constituir hierarquias, elaborar análises que, ao mesmo tempo que conferem uma inteligibilidade à narrativa, instituem um passado (portanto, erigem uma memória) para o campo. Elucidar as escolhas feitas e as hierarquias construídas não impede os efeitos dessa inversão escriturária, mas oferece ao leitor outras chaves de leitura do texto histórico. Nesse sentido, é necessário esclarecer inicialmente que as obras utilizadas para este estudo foram selecionadas a partir de dois critérios: a) atribuir-se o objetivo de versar sobre a história da educação, muitas vezes explícito no título, como, por exemplo, a Pequena história da educação, das madres Peeters e Cooman; b) ser reconhecida no campo por obra de referência sobre a história educacional, mesmo que o autor não a tenha constituído como tal, como acontece com A cultura brasileira, de Fernando de Azevedo. Em segundo lugar, é forçoso dizer que as três vertentes, a seguir esboçadas, configuraram-se levando-se em conta os alertas de Certeau sobre a operação historiográfica, considerada como uma relação entre um lugar, percebido de maneira abrangente como recrutamento, meio ou ofício, procedimentos de análise e construção de um texto. O fato de as termos distinguido, entretanto, não significa que exaurimos as várias combinações que as obras suscitavam. Outras leituras poderiam levar a entrecruzamentos diversos e novas classificações. Aliás, algumas mediações aparecem no interior mesmo de cada vertente, apontando para outras possibilidades de enquadramento dos trabalhos no campo. Por fim, cumpre explicitar que as operações aqui propostas se fizeram tanto mais necessárias na medida em que o entendimento da história da 102 educação como um campo autônomo, apartado da filosofia da educação, é fenômeno recente e não de todo consolidado no seio da Pedagogia. Essa questão, contudo, será esclarecida com o decorrer da narrativa. PRIMEIRA VERTENTE: A HISTÓRIA DA EDUCAÇÃO E O INSTITUTO HISTÓRICO E GEOGRÁFICO BRASILEIRO "Le Brésil n'est pas tout à fait en retard sur la civilisation européenne". Assim Frederico José de Santa-Anna Nery concluía o artigo "L'instruction publique au Brésil", publicado na Revue Pédagogique em 1884. Em vinte páginas escritas em francês, o autor, utilizando-se de malabarismos estatísticos, empenhava-se em demonstrar a pujança da instrução pública no Brasil que, em 1877, ostentava uma frequência escolar 12% superior à francesa (de acordo com os cálculos do autor). Esse não era o primeiro texto sobre educação brasileira elaborado, nem a fórmula de apresentar estatísticas como comprobatórias do progresso intelectual, inédita. Antes dessa publicação, os livros O Império do Brasil, editados em 1867, 1873 e 1876, sob os auspícios governamentais, traziam no capítulo "Cultura intelectual", dados quantificadores da presença de alunos nos vários ramos e instituições educacionais e culturais existentes no país. Escritas para figurar nas Exposições Universais, as obras eram peças de propaganda do Estado Imperial. As contribuições de Santa-Anna Nery sobre a educação brasileira não se restringiram, entretanto, ao artigo citado. Esse paraense, antigo aluno do Seminário de Manaus, que após receber as ordens menores no Seminário de Saint-Sulpice, em Paris, abandonou a carreira eclesiástica bacharelando-se em Letras, em 1867, ficou conhecido pelos livros, redigidos em francês, sobre a Amazônia (Les pays des Amazones. L'El-Dorado. Les terres à cahoutchouc. Orné de 101 illustrations et de 2 cartes explicatives avec un portrait de l'autheur, gravé à l'eau-forte par Robet Kemp. Paris, Bibliothèque des Deux-Mondes, 1885) e sobre o folclore brasileiro (Folk-lore brésilien: poésie populaire. – contes et légendes. – fables et mythes. – poésie, musique, danses et croyances des Indiens; accompagné de douze morceaux de musique. Préface du prince Roland Bonaparte. Paris: Perrin, 1889). Organizou, também, a obra Le Brésil en 1889 (avec une carte de l'empire en chromolithographie, des – ableaux statistiques, des graphiques et cartes. Paris: Charles Delagrave, 1889), composta de vários capítulos escritos por colaboradores eminentes, dentre eles um sobre instrução pública que assinava, ao lado do barão de Saboia, de Louis Cruls e do barão de Teffé. Editado sob os cuidados do Comitê Franco- Brasileiro para a Exposição Universal de Paris, ocorrida naquele mesmo ano, a obra era apresentada por M. Daubrée. Nela, mais uma vez com recurso a dados estatísticos, relativos a 1869, 1876, 1882 e 1889, Nery procurava atestar o progresso intelectual brasileiro na contabilidade da difusão de escolas primárias públicas e na freqüência de alunos, que chegava a avaliar em 300.000. O primeiro livro voltado exclusivamente a narrar a história da educação brasileira, L'Instruction publique au Brésil: histoire et legislation (1500-1889), de José Ricardo Pires de Almeida, composto como elogio ao Império e publicado já no fim do regime (em 1889), movia-se, da mesma 103 forma, no âmbito das estatísticas e continha objetivo semelhante: afirmar a liderança brasileira em termos educacionais. Mas agora o alvo eram os países sulamericanos, em especial a Argentina. Dizia-se o autor constrangido ao "dever e quase missão de restabelecer a verdade": "O Brasil é, certamente, dentre todos os países da América do Sul, aquele que maiores provas deu de amor ao progresso e à perseverança na trilha da civilização". A contenda com a Argentina espraiava-se na demonstração da superioridade do regime monárquico sobre o republicano. Dedicado ao conde D'Eu, futuro governante brasileiro na hipótese remota de uma manutenção do Império, o livro, redigido em francês, "língua universalmente conhecida", de acordo com seu autor, discorria particulamente sobre a educação no pós-Independência. A época colonial era abordada apenas na Introdução ao volume, indiciando sua pequena relevância, apesar de nela se inscrever o esforçoprecursor dos jesuítas, sumariamente descrito nas cinco páginas iniciais; as iniciativas pombalinas, narradas nas dez páginas seguintes; e o evento fundador da educação no Brasil, a chegada de D. João VI, começo de uma verdadeira "constituição da nacionalidade brasileira, nacionalidade proclamada em dezembro de 1815". A instrução pública primária e secundária depois da Independência era tratada em duas épocas: até o Ato Adicional, portanto de 1822 a 1834, em parcas 10 páginas; e do Ato "aos dias de hoje", ou seja, de 1834 a 1889, em 245 páginas. A segunda época comportava, ainda, uma divisão interna entre dois períodos: de 1834 a 1856 (34 páginas) e de 1857 a 1889 (211 páginas), tomados para maior comodidade do leitor e entrecortando a gestão do ministro do Império, conselheiro Luiz Pedreira do Couto Ferraz. A análise procedia de um levantamento das leis criadas pelo Estado e recorria ao tom encomiástico no elogio às ações da família imperial no campo educativo. Médico, formado no Rio de Janeiro, e estudante de Direito por três anos em São Paulo, Pires de Almeida havia sido arquivista da Câmara Municipal e adjunto da Inspetoria Geral de Higiene na Corte, onde trabalhara nos serviços de arquivo e biblioteca, o que, por certo, muito lhe facilitara o levantamento de informações para a elaboração do livro. Sua produção escrita variava bastante, versando sobre imigração italiana, economia doméstica, carnaval, montepio civil, saneamento de Petrópolis, dentre muitos outros temas. Publicou, em 1906, Higiene Moral — homossexualismo (A libertinagem no Rio de Janeiro: Estudo sobre as perversões do instinto genital. Rio de Janeiro: Laemmert & Co.), onde afirmava que a degradação do homem dava-se pela alimentação excitante ou picante, pelo apetite venéreo, pela imaginação ardente e, também, pelos bailes populares, os cafés-dançantes e a organização das sociedades carnavalescas. A obra servia, para Nunes, como contraponto a L'instruction publique au Brésil, na medida em que permitia a Pires de Almeida, pelo avesso, retomar o projeto de intelectualidade a que estava vinculado e que explicitara nos comentários finais do livro sobre educação: "o historiador tem, em qualquer país, o dever de esclarecer o papel de seu país no mundo e investigar detalhadamente as questões obscuras que interessem às origens nacionais". 104 Membro honorário do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), Pires de Almeida partilhava de seus objetivos de coligir, metodizar, publicar ou arquivar os documentos necessários para a história e a geografia do Império, respeitando uma postura positivista de escrita da história. Tal parece ser o móvel da reprodução, em anexo, de documentos citados sobre o período colonial e da inclusão de vários excertos de relatórios e de leis no corpo de L'Instruction publique au Brésil. Partilhava também do projeto do IHGB de "desvendamento do processo de gênese da Nação" brasileira, percebida como "continuadora de uma certa tarefa civilizadora iniciada pela colonização portuguesa". Nesse movimento de construção identitária da Nação pelo IHGB, distinguir-se do outro era necessário, seja internamente apartando- se dos negros e índios, porque não portadores da noção de civilização; seja externamente das repúblicas latinoamericanas, porque ameaças à forma de governo monárquico e representação da barbárie. A chegada de D. João VI como marco fundador da educação no Brasil, o elogio ao Império, as estatísticas circunscritas à população livre, bem como a disputa com a Argentina, na escrita de Pires de Almeida engendravam o mesmo padrão narrativo a que se entregavam os letrados em torno do IHGB. Se não podemos afirmar a filiação de Santa-Anna Nery ao IHGB (ou ao Institut Historique de Paris, referência ao trabalho historiográfico e à visão de história do IHGB, nos primeiros anos de sua criação, de acordo com o já citado Manoel Guimarães), como o fizemos para Pires de Almeida, podemos destacar a proximidade do discurso de ambos no tocante à descrição e à interpretação dos fatos da instrução pública. A ligação clara entre Pires de Almeida e o Instituto Histórico, matriz da tradição historiográfica brasileira, no entanto, estabelece de maneira inesperada um vínculo entre disciplinas que aparentemente dispunham de trajetórias apartadas. Traduzido para o português somente em 1989, cem anos após sua edição original, L'Instruction publique au Brésil não ficou no limbo da historiografia educacional brasileira, desconhecido pelos autores nacionais até tempos recentes. Ao contrário, referência de boa parte da bibliografia posterior sobre história da educação, Pires de Almeida viu-se citado, dentre outros, por Júlio Afrânio Peixoto, em Noções de história da educação, de 1933; Primitivo Moacyr, A instrução e o Império: subsídios para a história da educação no Brasil, 1823-1853, de 1936; Fernando de Azevedo, A cultura brasileira, de 1943; e Theobaldo Miranda dos Santos, Noções de história da educação, de 1945. Julgá-lo como um texto "não fundador" de uma narrativa histórica em educação, como o fez Nunes, por não ter sido destinado ao ensino nas Escolas Normais, parece-nos dissolver sua importância na construção de uma tradição historiográfica em educação. Mais sugestivo talvez seja investigar a relação entre o IHGB e a escrita da história da educação, indiciada por Pires de Almeida, explorando vertentes desse fazer historiográfico. Moysés Kuhlmann Jr. iniciou tal percurso. Destacou as contribuições de Benjamin Franklin Ramiz Galvão na sistematização de fontes para uma história da instrução pelo arrolamento de livros e artigos sobre a educação, relatórios, memórias, regulamentos e estatutos de escola, conferências e discursos, pareceres e projetos de lei, efetuado na classe História Literária e 105 das Artes do Catálogo que organizou para a Exposição de História do Brasil, de 1881. Na coordenação do Livro do Centenário, elaborado agora às portas do regime republicano, em 1900, com o intuito de "dar a conhecer as riquezas naturais do Brasil e seus progressos em todos os ramos da atividade humana", em que José Veríssimo Dias de Matos assinava o capítulo "A instrução e a imprensa: 1500-1900". E, por fim, na organização do Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico Brasileiro, publicado pelo IHGB por ocasião do centenário da Independência, que apresentava o capítulo 15 sob o título de "Instrução pública, notícia histórica de 1822 a 1922", de autoria de M.P. Oliveira Santos. Nessas publicações posteriores à instalação do regime político republicano não se alteraram significativamente as propostas de coligir e metodizar documentos (inscritas nos Estatutos do IHGB, elaborados em 1839, um anos após a criação do Instituto), nem de interpretar a gênese da civilização brasileira, ambas caras à tradição narrativa da história gestada pelo IHGB. Na esteira de tais preocupações outras obras, dedicadas especificamente à história da educação, poderiam ser arroladas, demonstrando a permeabilidade da produção historiográfica em educação à visão de história e do fazer historiográfico presentes no Instituto. A publicação do primeiro volume de A instrução e o Império: subsídios para a História da Educação no Brasil, 1823-1853, de Primitivo Moacyr, em 1936, inaugurou uma vasta obra, que até 1942 foi responsável pelo levantamento e compilação de leis, estatutos e regimentos escolares, memórias, relatórios e pareceres sobre instrução pública e particular nos vários ramos de ensino (primário, secundário, profissional e superior) no Brasil. Ao todo, foram editados 15 volumes, três dedicados à Instrução e o Império (entre 1936 e 1938), três à Instrução e as Províncias (entre 1939 e 1940) e sete à Instrução e a República (entre 1941 e 1942), além de dois à Instrução pública no Estado de São Paulo (1942) e um à Instrução primária e secundária no município da Corte (1942). O volume inicial da série era prefaciado por Afrânio Peixoto que,estabelecendo uma relação de semelhança entre o trabalho de Moacyr e Varnhagen, afirmava o livro como matéria prima de novos estudos em educação, posto que: "No Brasil não se pesquisa. Todos tiramos de nós a substância de nossos escritos. A história nessas condições é repetição, é comentário, é fantasia interpretativa". Sem introdução ou conclusão, o livro se estendia por 614 páginas, ao cabo das quais uma pequena bibliografia relacionava além das Coleções de Leis do Reino de Portugal e do Império do Brasil, dos Anais da Assembléia Geral Legislativa e dos Relatórios do Ministério do Império, o livro L'instruction publique au Brésil, de Pires de Almeida, e os artigos "Cem anos de ensino primário (1826-1926)" (In: Centenário do Poder Legislativo), de Afrânio Peixoto, e "A instrução pública nos tempos coloniais" (Revista do IHGB), de Moreira de Azevedo. Foi publicado pela Cia. Editora Nacional, integrando a série V, Brasiliana, da Biblioteca Pedagógica Brasileira, projeto coordenado por Fernando de Azevedo para a editora, desde sua criação em 1931 até 1946. Os demais volumes editados até 1939, referentes ao Império e às Províncias, 106 apresentavam características semelhantes, mesmo número aproximado de páginas, mesma ausência do autor, que se limitava a compilar documentos, mesmo pertencimento à Brasiliana. Os dois volumes sobre a instrução paulista diferiam apenas no número de páginas reduzido para em torno de 250 e incluíam na bibliografia os livros Um retrospecto, de João Lourenço Rodrigues, e O ensino em São Paulo, de J. Feliciano de Oliveira. Já os volumes relativos à República apresentavam traços diferentes. As páginas mantinham- se em aproximadamente 200 por volume, o formato abandonara o 12 x 18 cm, assumindo o tamanho de 18 x 22,5 cm, a bibliografia ostentava outros títulos, como José Veríssimo, A educação nacional. Passava a obra a ser publicada pela Imprensa Nacional, sob a orientação do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (INEP) do Ministério da Educação e Saúde, órgão dirigido por Manoel Bergström Lourenço Filho, de 1938 (ano de sua criação) até 1946. A breve caracterização realizada acima suscita desdobramentos. O primeiro relaciona-se à vinculação de Primitivo Moacyr ao IHGB, seja pelo primado de coligir e metodizar documentos, seja pelo recurso às publicações do Instituto e autores a ele ligados na elaboração do texto, seja ainda pelo elogio inicial, feito por Peixoto, que situa Moacyr como herdeiro de uma tradição que remonta a um dos personagens mais célebres do Instituto, seu antigo secretário, Varnhagen. O segundo refere-se à inserção da obra na Biblioteca Pedagógica Brasileira e ao acolhimento do projeto editorial pelo INEP, demonstrando a inequívoca relação de Moacyr com a área educacional, quer pelo patrocínio recebido, quer pela aproximação com os já renomados educadores Azevedo e Lourenço Filho, que se estende a Anísio Teixeira. Este último, no Prefácio ao volume 3 de A instrução no Império, afirmava: "Aliás já lhe disse que o primeiro volume me mostrou como esse foi — e não será ainda? — o defeito capital dos educadores brasileiros. Estivemos todo o tempo com grandes planos gerais, com debates de princípios, chocando ideais educativos. E nada de lhes estudar os problemas concretos, de lhes analisar as necessidades típicas, de examinar as dificuldades e facilidades características de execução, de realização". As obras repertoriadas acima, entretanto, não foram as primeiras de Moacyr. No ano de 1916, havia publicado O ensino público no Congresso Nacional: breve notícia. No livro, podia-se identificar a mesma preocupação em compilar leis e relatórios constatada anteriormente, no entanto, em curtos parágrafos ao início e ao fim do texto, o autor anunciava suas intenções: "a opinião pública é talvez injusta quando acusa o Congresso de desapreço às cousas do ensino público". Ao longo de 200 páginas Moacyr enumerava as iniciativas do governo republicano nos 24 anos de existência (entre 1889 e 1914), com o fito de oferecer um "modesto subsídio aos homens de boa vontade na solução [...] do problema de nosso aparelhamento econômico e, mais, de integração nacional". Advogado, Primitivo fez carreira como funcionário da Câmara dos Deputados, desde 1895, quando ingressou como redator de debates, até sua aposentaria em 1933. Sua familiaridade com os arquivos parlamentares facilitaram-lhe, por certo, a tarefa de compilação efetuada. Tal qual Pires de Almeida, apoiando-se numa visão positiva de história, Moacyr, como aquele, 107 apesar de sua pretendida neutralidade manifestou seus propósitos. Aqui já não o elogio ao Império, mas o reconhecimento da importância da função parlamentar na organização e constituição da instrução pública. Os sete volumes d' A Instrução e a República, de Moacyr não foram o único investimento do INEP na divulgação de documentos úteis à história da educação nacional. Tendo sido constituído com a função, dentre outras, de "organizar a documentação relativa à história e à situação atual da educação no país", o Instituto deu início em janeiro de 1940 à elaboração dos Subsídios para a história da educação brasileira, série composta por onze volumes editados entre 1942 e 1951, contendo a relação dos "atos e fatos de maior importância na vida educacional do país", de caráter oficial ou iniciativa privada, em todos os Estados nos anos de 1940 a 1950. A série, constituída para subsidiar as leis orgânicas criadas no governo Vargas, manteve características idênticas em todo o período, apesar da edição das citadas leis, entre 1942 e 1946, e de, nos anos finais, a direção do Instituto ter sido entregue a Murilo Braga de Carvalho. Uma pequena introdução, assinada pelo diretor do INEP, destacava os aspectos considerados mais relevantes para a educação no ano. Seguiam-se ordenadas por mês, na sequência dos dias, as notícias, intercalando as várias unidades federativas. O INEP dispunha ainda de "prontuários sistemáticos, referentes à legislação do governo central, na colônia, no império e na república, e que remetem a repertório dessa legislação, desde 1808 a esta data; como dispõe também de repertórios da legislação dos Estados". Apesar dos esforços do Instituto na compilação e difusão de documentos sobre a educação nacional, ao longo dos anos 1950 cresceram as dificuldades para a execução de pesquisas, posto que o INEP vinha se transformando em órgão de caráter eminentemente legislador. Ao assumir sua direção em 1952, Anísio Teixeira, com o intuito de revigorar a investigação sobre a situação do ensino no território nacional, dedicou-se a constituir um locus privilegiado de realização de levantamentos de dados e análises, subsidiados por cientistas sociais, e de sua divulgação. Em 1955 era criado o Centro Brasileiro de Pesquisas Educacionais (CBPE), ligado ao INEP e ao Ministério da Educação e Cultura. Nos anos seguintes, a ele foram associados cincos Centros Regionais, distribuídos pelos Estados de São Paulo, Minas Gerais, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Bahia. Não obstante a ênfase marcadamente sociológica das interpretações, foi nesse contexto que se publicaram os livros O ensino em Minas Gerais no tempo do Império e O ensino em Minas Gerais no tempo da República, de Paulo Krüger Corrêa Mourão (Centro Regional de Pesquisas Educacionais de Minas, CRPE-MG), nos anos de 1959 e 1962. O primeiro livro, contendo 411 páginas, abordava os vários ramos de ensino, apresentando, além da legislação, informações sobre as condições do exercício do magistério, como salários, métodos de ensino e o que denominava curiosidades (castigos físicos e disciplinas), bem como a história dos educandários. O segundo possuía 607 páginas e divergia do antecessor pela inclusão de uma introdução assinada pelo autor, de agradecimentos a autoridades educacionais, dentre elas Abgar Renault, naquele momento diretor-geral do CRPE-MG, de um apêndice relacionando os estabelecimentos de ensinoem funcionamento no ano de 108 1959 (possível ano de conclusão da obra). Mantinha, entretanto, a mesma organização interna, constituindo o relato por ramos de ensino e pela história de instituições escolares. Mineiro, formado em engenharia e colaborador assíduo da revista do Instituto Histórico-Geográfico de Minas Gerais, com textos sobre personalidades e fatos históricos, foi, de todos os autores relacionados, o que mais se afastou do primado positivista da mera compilação documental. Não apenas porque emitiu, embora raros, julgamentos ao longo da obra, como comentários sobre o divórcio entre as reformas de 1901 a 1915 e a realidade brasileira, e a consideração do movimento de 1930, como revolução nacional, liderada por Minas, que punha fim à primeira república; como, principalmente, porque permitiu-se a inserção de uma Página de recordação no interior do segundo volume, onde narrou, para quebrar a rigidez fria da História, uma lembrança de sua infância escolar: a inauguração do Grupo Escolar de Diamantina, em 1907, pelo então presidente da Província, João Pinheiro, no qual estudou e sua mãe foi professora. O investimento na sistematização de fontes e divulgação de documentos para a história da educação não cessou nos anos 1960. Vale ressaltar, aqui, a marca que essa disposição para uma história mais próxima à descrição documental e vazada principalmente na reprodução da fonte legislativa imprimiu, e ainda imprime, em parcela dos trabalhos no campo. Até hoje, o campo elabora guias, índices de legislação e edita a íntegra de leis, no âmbito de uma escrita acadêmica ou como produto da ação de grupos, no esforço sempre renovado de subsidiar a pesquisa. Um exemplo é a Coleção Documentos da Educação Brasileira, iniciativa editorial da recém-criada Sociedade Brasileira de História da Educação (1999), que objetiva disponibilizar o conjunto das Leis e Regulamentos da Instrução Pública das várias Províncias/Estados brasileiros, num total previsto de 80 títulos. FONTE: VIDAL, Diana Gonçalves; FARIA FILHO, Lucino Mendes de. História da Educação no Brasil: a constituição histórica do campo (1880-1970). Rev. Bras. Hist. v. 23. n. 45. São Paulo. jul. 2003. http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882003000100003&script=sci_ arttext. Acesso em: 3 maio 2019. Resumo indicativo: Resumo informativo: http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882003000100003&script=sci_arttext http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0102-01882003000100003&script=sci_arttext 109 TÓPICO 2 PRÁTICA DE INDEXAÇÃO UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO Indexar é uma atividade que se dá a partir de um processo que envolve diferentes etapas. A partir de uma análise documentária, ou seja, a partir de uma leitura técnica da obra indexada, são levantados os principais conteúdos contidos nela. Só depois essas informações são transformadas em palavras-chave. Este é o momento da tradução. No entanto, por se tratar de uma atividade de cunho técnico, é importante que algumas regras sejam seguidas. A norma NBR 12.676, proposta pela ABNT, é um documento oficial que pode ser usado por bibliotecários que realizam indexação. Trata-se de uma norma que apresenta algumas questões que, quando respondidas pelo bibliotecário, ajuda-o a identificar os conceitos e as noções que, de fato, são essenciais de serem representados. Neste tópico, teremos a oportunidade de vislumbrar como se dá a prática da análise documentária a partir da aplicação desta norma. Além disso, também poderemos compreender a formação dos sistemas nocionais das diversas áreas do conhecimento. 2 POR QUE PRATICAR? Após todas as discussões teóricas apresentadas até aqui, estas próximas duas seções estão reservadas a alguns exemplos de prática de atividades de indexação e resumos, uma vez que as técnicas aplicadas ao tratamento temático da informação (a exemplo do que acontece também com o tratamento descritivo da informação) compõem o chamado núcleo duro da biblioteconomia, ou dito de outra forma, fazem parte do que essencial na e para a área. Para além disso, a indexação é, nas unidades de informação, uma atividade prática. 3 A ANÁLISE DOCUMENTÁRIA Vejamos como realizar a identificação de conceitos dos itens a seguir, conforme artigo 4.3 e suas alíneas da NBR 12.676. Os dados forma extraídos de elementos pré-textuais dos próprios livros e artigos arrolados a seguir. 110 UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 1 – Quem me roubou de mim? (Fábio de Melo) Esta obra aborda algumas questões sobre as dificuldades das relações humanas. Por meio de reflexões filosóficas, textos poéticos e histórias reais, o autor convida-nos a um mergulho em nossa subjetividade, a fim de nos fazer conhecer a nós mesmos e a descobrir como viver e conviver melhor não só com as pessoas que nos cercam, mas com todos que passam pelo nosso caminho. a) Qual é o assunto de que trata o documento? Relações humanas, autoconhecimento. b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses? Não se define a partir de técnicas, mas sim de reflexões. c) O assunto contém uma ação, um processo? Não. d) O documento trata do agente dessa ação? Não se aplica. e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? Não se refere. f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico? Não. g) Foram identificadas variáveis? Não nos itens utilizados na análise documentária. h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? Reflexões filosóficas e textos poéticos, o que pode indicar conteúdo advindo da filosofia e da literatura. 2 – Sobre o tempo (Norbert Elias) O tempo não existe em si, afirma Elias. Não é nem um dado objetivo, como sustentava Newton, nem uma estrutura a priori do espírito, como queria Kant. O tempo é antes de tudo um símbolo social, resultado de um longo processo de aprendizagem. Norbert Elias convida a refletir sobre um processo de aspecto fundamental do “processo civilizador”. a) Qual é o assunto de que trata o documento? Sobre o tempo e o processo civilizador. b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses? Parece apresentar a hipótese de que o tempo é um símbolo social. c) O assunto contém uma ação, um processo? Não, não apresenta um processo de pesquisa. Apenas mostra que é preciso tempo de aprendizagem para entender o tempo como símbolo social. TÓPICO 2 | PRÁTICA DE INDEXAÇÃO 111 d) O documento trata do agente dessa ação? Não se aplica. e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? Não. f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico? Não. g) Foram identificadas variáveis? Não. h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? Sociologia e filosofia. 3 – Raízes do Brasil (Sérgio Buarque de Hollanda) Uma das obras fundadoras da moderna historiografia e das ciências sociais brasileiras. O livro pontua, com fina sensibilidade, algumas das mazelas de nossa vida social, política e afetiva, entre elas a incapacidade secular para separar o espaço público do privado, tema dos mais candentes e que explica, em parte, a vitalidade das sucessivas reedições deste livro. a) Qual é o assunto de que trata o documento? Historiografia e ciências sociais brasileiras. b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses? A análise documentária não revelou hipóteses. c) O assunto contém uma ação, um processo? Não. d) O documento trata do agente dessa ação? Não. e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? Não. f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico? Brasil, especialmente o âmbito da sociedade brasileira. g) Foram identificadas variáveis? Não. h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? Não. Tão importante quanto utilizar a NBR 12.676 para análise de assuntos, é compreender a configuração de LDs para que se possa fazer delas o uso mais adequado. Este é o objetivo desta prática: estabelecerrelações entre termos de um mesmo sistema nocional, para compreender sua estrutura. Os termos a seguir foram selecionados aleatoriamente a partir do sistema nocional da área da educação. A prática consiste em: 112 UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 1) Analisar e compreender o conceito de cada termo. 2) Organizar os termos dentro de uma estrutura lógica, de maneira subordinada. 3) Relacionar os termos entre si, a partir da concepção hierárquica e da concepção não hierárquica. Sistema Nocional: Educação Termos: Ensino superior Educação especial Administração de bibliotecas universitárias Sala de aula Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação Interação professor-aluno Déficit de aprendizagem Ensino-aprendizagem Especialização em séries iniciais Educação infantil Autismo Conselho de classe Avaliação Salas de referência Reitorias e pró-reitorias Projetos de incentivo à leitura Currículo Passo 1 – Analisar e compreender o conceito de cada termo: Ensino Superior – estrutura de sistema educativo que engloba graduação e pós- graduação. Forma pessoa para atuação reflexiva e profissional. Educação Especial – modalidade de ensino destinada a compreender demandas específicas de aprendizagem apresentadas por educandos e oferecer formação adequada. Administração de bibliotecas universitárias – serviço de gestão de uma unidade de informação específica, a biblioteca universitária. Pode representar uma coordenação, ou, de forma mais pessoal, um coordenador. Sala de aula – espaços de aprendizagem comumente encontrado em estabelecimentos de ensino em diversos níveis e modalidades. Pode possuir diferentes disposições físicas. Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação – diretrizes pedagógicas que estabelecem currículo de um curso de pós-graduação e todas as suas vertentes pedagógicas. Déficit de aprendizagem – desdém de ordem psíquica que dificulta a aprendizagem. Especialização em séries iniciais – nível específico de ensino que qualifica em assuntos relacionados ao tema séries especiais (primeiros anos de formação formal). Conselho de classe – atividade pedagógica que envolve atores de uma escola, cujo envolvimento seja cotidianamente desenvolvido em ambientes de aprendizagem, como salas de aula. TÓPICO 2 | PRÁTICA DE INDEXAÇÃO 113 Salas de referência – salas destinadas ao desenvolvimento de atividades na educação infantil. Currículo – documento que norteia os métodos de ensino e que elenca disciplinas selecionadas para um dado fim. Passos 2 – Organizar os termos dentro de uma estrutura lógica, de maneira subordinada. Passo 3 – Relacionar os termos entre si, a partir da concepção hierárquica e da concepção não hierárquica) acabam por se fundir na prática: EDUCAÇÃO Educação Especial Déficit de aprendizagem Currículo Sala de aula Conselho de Classe Ensino Superior Admiração de BIBLIOTECAS UNIVERSITÁRIAS Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação Especialização em séries iniciais Salas de referência Currículo Salas de aula Todos os termos apresentados são subordinados ao termo mais geral EDUCAÇÃO, isto porque todos eles pertencem, neste caso, ao sistema nocional desta área. Quando dizemos que os termos são subordinados, significa que o termo mais específico que possa haver no sistema ainda será um conceito da área da educação. Essa essência não se perde. Ela permanece desde o termo mais geral até o mais específico, porque está presente nos conceitos de todos os termos. Notem que a marcação de parágrafos que antecedem cada termo é diferente. Cada novo nível de especificação foi representado, neste exemplo, com um novo parágrafo. Isso significa que: a) Educação Especial e Ensino Superior estão num mesmo nível dentro da área, por isso as relações entre os termos é não hierárquica. b) Os termos Déficit de aprendizagem, Currículo, Sala de aula e Conselho de Classe são subordinados hierarquicamente ao termo Educação Especial, mas não entre si. Entre eles a relação é não hierárquica. c) Os termos Administração de Bibliotecas Universitárias, Projeto Pedagógico de cursos de pós-graduação, Currículo e Salas de aula são subordinados ao termo Ensino Superior, mas a relação entre eles é não hierárquica. d) Já esta representação: 114 UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA Projeto pedagógico de cursos de pós-graduação Especialização em séries iniciais Salas de referência significa que Salas de aula é um tema tratado dentro de um tema um pouco mais geral, que aqui é representado pelo termo Especialização em Séries inicias, que por sua vez, é um pouco mais específico que Projeto Pedagógico de cursos de pós-graduação. 115 Neste tópico, você aprendeu que: • A NBR 12.676, proposta pela ABNT pode ser utilizada nos diversos tipos de unidades de informação com fins de realizar uma análise documentária mais adequada. • É indicado ao bibliotecário indexador a utilização de diretrizes quando da realização da análise documentária da obra que irá indexar. • Um sistema nocional obedece a uma estrutura própria, advinda das relações dos termos e das noções que caracterizam uma dada área do conhecimento. RESUMO DO TÓPICO 2 116 AUTOATIVIDADE Faça a análise documentária dos itens a seguir, conforme artigo 4.3 e suas alíneas da NBR 12.676. Os dados foram extraídos de elementos pré-textuais dos próprios livros e artigos arrolados a seguir. 1 A construção da pessoa em Wallon e a construção do sujeito em Lacan (Alice Beatriz Bastos) Ao buscar conexões e diferenças entre os autores Henri Wallon e Jacques Lacan, o presente estudo apresenta novas perspectivas teóricas e discorre também sobre algumas implicações educacionais de ambas as teorias. Os Axiomas de Zurique apresentam as regras e princípios infalíveis que esses banqueiros estabeleceram para diminuir riscos e aumentar lucros. É só segui-los e você alcançará resultados impressionantes em todos os seus investimentos. a) Qual é o assunto de que trata o documento? b) Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses? c) O assunto contém uma ação, um processo? d) O documento trata do agente dessa ação? e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico? g) Foram identificadas variáveis? h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? 2 Os Axiomas de Zurique (Max Gunther) a) Qual é o assunto de que trata o documento? b) Como se define o assunto em termos de teorias e hipóteses? c) O assunto contém uma ação, um processo? d) O documento trata do agente dessa ação? e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico? g) Foram identificadas variáveis? h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? 117 3 O corpo fala (Pierre Weil) O corpo fala – a linguagem silenciosa da comunicação não verbal tenta desvendar a comunicação não verbal do corpo humano. O livro é indicado para profissionais de qualquer área, ou seja, para todo o ser humano. a) Qual é o assunto de que trata o documento? b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses? c) O assunto contém uma ação, um processo? d) O documento trata do agente dessa ação? e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico? g) Foram identificadas variáveis? h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? 4 Título: Poderá um avião voar eternamente? Publicado em: Newsweek, set/1987 Conteúdo: teste realizado no Canadá com protótipo de uma aeronave movida a eletricidade, que não precisa de qualquer combustível convencional. A eletricidade é transmitida do solo sob a forma de energia de micro-ondas, sendo reconvertida em eletricidade por meio de dispositivos instalados no avião. Teoricamente, o avião pode permanecer por meses no ar sem piloto. Entre suas aplicaçõesincluem-se pesquisa científica, vigilância militar, previsão do tempo e transporte de passageiros. Os possíveis riscos das micro- ondas para a saúde seriam um obstáculo a sua ampla aplicação. a) Qual é o assunto de que trata o documento? b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses? c) O assunto contém uma ação, um processo? d) O documento trata do agente dessa ação? e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico? g) Foram identificadas variáveis? h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? 5 Título: A erosão e o agricultor Conteúdo: descreve como o vento, a chuva e a neve derretida podem erodir valiosas terras de cultivo, e avalia o volume das perdas agrícolas devidas a essas causas na Europa Setentrional. Examina possíveis soluções, a saber, a rotação da cultura de grãos com a de gramíneas protetoras do solo e o emprego de árvores e terraços como quebra-ventos. 118 a) Qual é o assunto de que trata o documento? b) Como se define o assunto em termos de técnicas e hipóteses? c) O assunto contém uma ação, um processo? d) O documento trata do agente dessa ação? e) O documento se refere a métodos, técnicas e instrumentos especiais? f) Foi considerado no contexto de um local ou ambiente específico? g) Foram identificadas variáveis? h) O assunto foi considerado sob um ponto de vista interdisciplinar? 119 TÓPICO 3 PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS UNIDADE 3 1 INTRODUÇÃO A parte técnica da biblioteconomia, tanto do ponto de vista descritivo, quanto temático, é considerado, como vimos anteriormente, o núcleo duro da área. É o que faz a biblioteconomia ter as características que tem. E, como toda atividade de caráter técnico, a prática é parte indispensável para a compreensão mais integral das etapas e processos que compõem essa técnica. Por isso, o que propomos neste tópico é a elaboração de resumos. Não podemos esquecer que resumir é também representar, e, tal qual a indexação, ao ler um resumo, um usuário de um dado sistema de informação deve conhecer as informações essenciais do texto original e decidir se deve ou não consultá-lo. Para tanto, veremos que existem técnicas específicas que nos permitem tal resultado. Neste tópico aprenderemos técnicas que permitirão a elaboração de resumos indicativos, informativos, além da compreenção das diferentes formas de identificar quais elementos devem estar presentes em um resumo considerado adequado à representação do documento original. 2 ELABORAÇÃO DE RESUMOS Passaremos agora a praticar a elaboração de resumos que, como vimos anteriormente, também são importantes formas de representar os conteúdos de documentos originais. Veremos nesta unidade como se dá a elaboração dos principais tipos de resumos, ainda utilizadados nos dias atuais. Iniciemos com um resumo indicativo. Vamos ler o texto original e, em seguida, elaborar um resumo indicativo. Extrativismo Mineral no Brasil Antônio Gasparetto Júnior O Extrativismo Mineral no Brasil é importante elemento na balança comercial do país. Desde o descobrimento do Brasil, nosso país esteve atrelado a atividades que envolviam o extrativismo. Este tipo de atividade consiste em https://www.infoescola.com/economia/balanca-comercial/ https://www.infoescola.com/historia/descobrimento-do-brasil/ UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 120 obter da natureza os produtos que serão usados para comercialização direta ou indireta pelo homem. Ocorrem então três tipos possíveis de extrativismo, o animal, o mineral e o vegetal. O Extrativismo Mineral tem por característica e alteração drástica do ambiente onde é promovido. Tal tipo de extrativismo tem por fim o uso direto ou indireto. Ele é direto quando, como no caso da água mineral, o produto mineral extraído é utilizado em sua forma natural. É considerado indireto, que é o caso da maioria dos minerais, quando o produto extraído é destinado a indústrias para passar por transformações que darão origens a produtos com maior valor agregado. A tecnologia de extração também pode variar entre simples e mais complexa. O Extrativismo Mineral no Brasil é uma importante fonte de recursos para a economia do país, já que o Brasil é um dos grandes exportadores de minérios no mundo. Por possuir um território amplo, o Brasil desfruta de ampla variedade de recursos naturais para utilização interna e comércio externo, entretanto o país não é autossuficiente em tudo e, em alguns casos, precisa também adquirir tais tipos de produtos. Uma das críticas feitas ao Extrativismo Mineral no Brasil é de que vendemos o minério para comprar o produto que é com ele fabricado, perdendo assim a possibilidade de utilizar o recurso mineral em território nacional para vendê-lo com maior valor agregado. Considerando a oferta de recursos minerais que o Brasil possui, são vários os produtos com importante representatividade para o país. Um deles é o Ferro, cuja reserva brasileira representa a sexta maior do mundo e com elevada qualidade. Minas Gerais é o grande estado produtor do minério na região do Quadrilátero Ferrífero. Apesar de possuir apenas 1% das reservas mundiais, o Manganês é um produto que tem crescido na pauta de exportação nacional e é muito utilizado nas siderúrgicas para produção de aço. O Brasil está em terceiro lugar na produção mundial de Alumínio e possui um elevado índice de reciclagem do produto. Nos estados de Amazonas e Rondônia estão as principais áreas de produção de Estanho, minério também utilizado na composição do aço nas indústrias. Bahia e Pará concentram a produção de Cobre no país, a qual necessita de importação por não dispor suficientemente do recurso natural. Já o Ouro, que no Brasil é encontrado em jazidas e na forma de aluvião, atende ao mercado interno e externo. É certo que a quantidade de tal minério produzido no Brasil é bem maior do que se tem registrado por conta do extrativismo ilegal. https://www.infoescola.com/economia/valor-economico-agregado/ https://www.infoescola.com/economia/valor-economico-agregado/ https://www.infoescola.com/minas-gerais/quadrilatero-ferrifero/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/aluminio/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/estanho/ TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS 121 Minas Gerais, Amazonas e Goiás são detentores da produção de Nióbio no Brasil. Tal mineral é muito aplicado nas indústrias aeronáutica, naval, espacial e automobilística por ser utilizado em ligas metálicas que oferecem resistência e leveza. O Brasil possui quase a totalidade mundial de Quartzo em estado natural. Esse minério para a indústria da informática e também eletroeletrônica. Por possuir um litoral muito extenso, o Brasil desfruta de ampla produção de Sal Marinho, sendo que o estado do Rio Grande do Norte é o maior produtor. O Chumbo é outro minério com baixa produção no Brasil e que necessita de importações. Além de todos esses recursos naturais disponíveis para exportação, o Extrativismo Mineral no Brasil ainda conta com o merecido destaque para Cimento, Caulim, Diamante, Enxofre, Magnesita, Níquel e Tungstênio. FONTE: GASPARETTO JÚNIOR, Antônio. Extrativismo no Brasil. 2019. https://www. infoescola.com/geografia/extrativismo-mineral-no-brasil/. Acesso em: 19 maio 2019. Resumo: O Extrativismo Mineral no Brasil é importante elemento na balança comercial do país. Tal tipo de extrativismo tem por fim o uso direto ou indireto. No Brasil, é uma importante fonte de recursos para a economia, já que o país é um dos grandes exportadores de minérios no mundo. São vários os produtos com importante representatividade para o país: Ferro, Manganês, Estanho, Cobre, Ouro, Nióbio, Quartzo, Sal Marinho e chumbo. Além dos recursos naturais disponíveis para exportação, o Extrativismo Mineral no Brasil ainda dá- se destaque para Cimento, Caulim, Diamante, Enxofre, Magnesita, Níquel e Tungstênio. Vale lembrar queé recomendado o uso de frases curtas, sempre que possível, o uso de algarismos para números e que não se inclua nos resumos informações descritivas, símbolos e siglas não convencionais. Agora, vejamos a elaboração de um resumo informativo. Segue o texto original. MEC inaugura novos programas de incentivo à leitura Associação Brasileira de Livreiros de Livros Escolares O Ministério da Educação, por intermédio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), está inaugurando três novos programas de incentivo à leitura: Biblioteca Escolar, Biblioteca do Professor e Casa da Leitura. https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/niobio/ https://www.infoescola.com/economia/industria-aeronautica/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/chumbo/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/enxofre/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/niquel/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/tungstenio/ https://www.infoescola.com/geografia/extrativismo-mineral-no-brasil/ https://www.infoescola.com/geografia/extrativismo-mineral-no-brasil/ https://www.infoescola.com/economia/balanca-comercial/ https://www.infoescola.com/economia/balanca-comercial/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/estanho/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/niobio/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/enxofre/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/niquel/ https://www.infoescola.com/elementos-quimicos/tungstenio/ http://www.abrelivros.org.br/home/index.php/pnbe/5321-mec-inaugura-novos-programas-de-incentivo-a-leitura UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 122 A Casa da Leitura, inspirada no programa “Mala do Livro”, que foi desenvolvido pelo governo do Distrito Federal na gestão democrática e popular de 1995 a 1998, pretende distribuir no próximo ano 50 mil minibibliotecas para uso comunitário. Elas serão instaladas em casas de particulares e gerenciadas por associações de moradores. O programa será executado em parceria com o Ministério da Cultura e com as secretarias municipais e estaduais de educação, que receberão as bibliotecas contendo os 144 títulos das 24 coleções do acervo do Programa Nacional Biblioteca da Escola (PNBE) 2003. Em contrapartida, as secretarias fornecerão as caixas para guardar os livros, cujo modelo foi desenvolvido e adaptado para esse fim pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo (IPT). As secretarias ficarão encarregadas também de remunerar os agentes comunitários encarregados de administrar as bibliotecas domésticas. Serão investidos cerca de R$ 8 milhões na distribuição de 7,2 milhões de livros, que beneficiarão 50 milhões de pessoas. A Biblioteca Escolar tem a meta de atender a 2 milhões de alunos de 10 mil escolas, com um acervo de 115 obras do PNBE de 1998, a serem reeditadas pelo FNDE. No acervo destacam-se livros de ficção e de não ficção, com ênfase na formação histórica, econômica e política do Brasil. Para a distribuição de 1,2 milhão de livros estima-se o investimento de cerca de R$ 20 milhões. Já a Biblioteca do Professor, ainda sem orçamento definido, pretende beneficiar, inicialmente, os 730 mil professores de 1ª a 4ª série do ensino fundamental de todas as escolas da rede pública do país. Cada professor receberá dois livros por ano, a serem escolhidos por eles próprios, dentre o mesmo acervo da Biblioteca Escolar, por meio de formulário ou pela Internet, como acontece no processo de escolha do Programa Nacional do Livro Didático, que beneficia a 32 milhões de alunos com livros lecionados democraticamente pelos professores. Nos títulos disponíveis para os professores encontram-se obras de autores consagrados, como Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Mário Quintana, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato, Ferreira Gullar, entre outros. Resumo: O Ministério da Educação está inaugurando três novos programas de incentivo à leitura: Biblioteca Escolar, Biblioteca do Professor e Casa da Leitura. A Casa da Leitura pretende distribuir no próximo ano 50 mil minibibliotecas para uso comunitário. A Biblioteca Escolar tem a meta de atender a 2 milhões de alunos de 10 mil escolas. No acervo destacam-se livros de ficção e de não ficção, com ênfase na formação histórica, econômica e política do Brasil. A Biblioteca do Professor pretende beneficiar os 730 mil professores de 1ª a 4ª série do ensino fundamental de todas as escolas da rede pública do país. Cada professor receberá dois livros por ano, por meio de formulário ou pela internet. Nos títulos disponíveis para os professores encontram-se obras de TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS 123 Sérgio Buarque de Holanda, Caio Prado Júnior, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Guimarães Rosa, Mário Quintana, Raquel de Queiroz, Carlos Drummond de Andrade, Monteiro Lobato e Ferreira Gullar. Vale lembrar que para a elaboração do resumo indicativo recomenda-se o uso da mesma terminologia do autor, a representação dos objetivos ou finalidades da pesquisa, quando houver, bem como sua metodologia e resultados da pesquisa. Algarismos devem ser usados para representar números. As frases devem, na medida do possível, apresentar-se de forme curta. Deve-se omitir símbolos, equações e informações descritivas. UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 124 LEITURA COMPLEMENTAR Resumo acadêmico: uma tentativa de definição Andréa Lourdes Ribeiro1, letras@faminasbh.edu.br 1. Doutora em Estudos Lingüísticos pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte; professora na Faculdade de Minas-BH (FAMINAS), Belo Horizonte, e na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Introdução No contexto universitário, verifica-se que o resumo é uma atividade didática bastante solicitada pelos professores de inúmeros cursos de graduação. No entanto, é comum presenciar também um desencontro entre o que foi pedido pelo professor e o que foi produzido pelo aluno. Isso sem mencionar as constantes dúvidas de ambos os lados quanto à definição e o processo de produção do resumo no meio acadêmico. Diante desse panorama, este trabalho busca discutir a noção de resumo, considerando sua situação contextual, os agentes envolvidos e as características do gênero, tentando lançar algumas luzes sobre a compreensão e produção do que denominamos de resumo acadêmico. I – Um passeio pelo conceito de resumo Ao pesquisar sobre as práticas de linguagem nos gêneros escolares, Schneuwly e Dolz, voltando seus estudos para o nível fundamental de ensino, revelam que a cultura do sistema escolar define o resumo como uma representação sintética do texto que será resumido, “sendo o problema de escrita reduzido a um simples ato de transcodificação da compreensão do texto” (1999, p. 14). Essa é a perspectiva encontrada em livros de metodologia científica e afins que orientam os universitários quanto ao uso de algumas normas na elaboração de trabalhos acadêmicos. Salvador, ao discutir métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica, define o gênero como “uma apresentação concisa e frequentemente seletiva do texto de um artigo, obra ou outro documento, pondo em relevo os elementos de maior interesse e importância” (1978, p. 17-19). Com relação aos objetivos, baseando-se nas normas da ABNT, o autor classifica o resumo em três categorias, relacionadas ao tipo de informação que divulgam: • resumo indicativo, que não dispensa a leitura do texto, uma vez que apenas descreve a natureza, a forma e o propósito do escrito; • resumo informativo, que contém as principais informações apresentadas no TF, dispensando assim a leitura desse; • resumo crítico, também chamado de resenha crítica, que formula julgamento sobre o trabalho que é resumido. Ainda descrevendo a finalidade do resumo, mas tendo em vista o produto final, Salvador define um outro gênero textual: o resumo de assunto. Denominado também deestudo de atualização ou estado da questão, como os nomes evidenciam, esse gênero tem a função de apresentar uma visão geral de TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS 125 investigações feitas sobre uma determinada questão, com o objetivo de reunir conhecimentos sobre o tema que deve ser exposto e também, ainda segundo o autor, “sem discussão ou julgamento” (p. 17). Outros autores bastante consultados no meio acadêmico tais como Severino (1986) e Salomon (1971/2001), ambos em consonância com as normas da ABNT, adotam a mesma definição e classificação para o resumo. Medeiros (1991) inova ao apresentar uma quarta categoria que conjuga duas já existentes: o resumo indicativo/informativo, que dispensa a leitura do texto-fonte quanto à conclusão, mas não quanto aos aspectos tratados. Medeiros também trata de outros gêneros textuais que circulam no âmbito acadêmico, tais como o fichamento. O autor propõe que o fichamento pode ser realizado pelo estudioso com diferentes funções, do que derivam variados tipos de fichas: ficha de indicação bibliográfica; ficha de assunto; ficha de transcrição; ficha de resumo; ficha de comentário. De acordo com esse autor, a ficha de resumo “apresenta uma síntese das idéias do autor” (1991, p. 55). Essa definição confunde-se com a de resumo que o mesmo autor oferece. Afinal, não fica claro se a síntese das idéias do autor registra-se como um fichamento ou como um resumo. Entre os autores consultados, verifica-se que sob o rótulo geral de resumo são reunidos diferentes gêneros textuais (ou sub-gêneros) – resumo indicativo, resumo informativo, resumo crítico ou resenha – que se distinguem na forma e na função. As diferentes categorias estabelecidas para o resumo pautadas na ABNT acentuam a confusão terminológica, uma vez que as nomenclaturas adotadas confundem-se com a denominação dada por outros manuais aos mesmos gêneros acadêmicos, como por exemplo: resumo indicativo e fichamento; o resumo crítico e resenha. Essa confusão terminológica traz consequências para a produção do resumo tanto para o professor como para os alunos que muitas vezes não conseguem chegar a um consenso quanto à expectativa um do outro. Além disso, as definições apresentadas são de cunho estruturalista e oferecem uma visão simplista do processo de produção, uma vez que, de acordo com elas, para resumir, bastaria ao leitor descodificar o texto-fonte para depois codificá- lo sinteticamente. Elas desconsideram o funcionamento discursivo em jogo no processo de elaboração do resumo. Por isso, rever o conceito de resumo, a partir de perspectivas que tenham como base a teoria da enunciação e que partam da noção de gênero, torna-se fundamental. II – Gênero textual Segundo a concepção de Bakhtin (1952/1992, p. 279), os gêneros são padrões relativamente estáveis de texto, do ponto de vista temático, composicional e estilístico, que se constituem historicamente pelo trabalho linguístico dos sujeitos nas diferentes esferas da atividade humana, para cumprir determinadas finalidades em determinadas circunstâncias. As atividades e expectativas comuns, que definem necessidades e finalidades para o uso da linguagem, o círculo de interlocutores, que define hierarquias e padrões de relacionamento, a UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 126 própria modalidade linguística (oral ou escrita), ligada ao grau de proximidade e intimidade dos interlocutores, tudo isso acaba definindo formas típicas de organização temática, composicional e estilística dos enunciados. Os gêneros se realizam empiricamente nas mais diferentes espécies de texto, orais ou escritas, que circulam em nosso uso cotidiano e são denominados de receita culinária, telefonema, carta, romance, manuais de instrução, bula de remédio, lista telefônica, notícias, dentre muitos outros. Para produzir qualquer um desses textos, o sujeito aciona, além de suas representações sobre a situação de ação linguagem, seus conhecimentos sobre os modelos portadores de valores de uso elaborados pelas sociedades anteriores, ou seja, os gêneros indexados disponíveis no intertexto (BRONCKART, 1999, p. 137). Embora qualquer falante da língua portuguesa consiga identificar facilmente qualquer dos textos listados anteriormente, isso só é possível porque esses gêneros são formas convencionais de enunciados, mais ou menos estáveis, histórica e socialmente situadas. No entanto, o aspecto convencional não impede a tendência à inovação e à mudança, que confere aos gêneros dinamicidade e complexidade variável. Isso porque eles se definem não apenas por propriedades linguísticas, mas predominantemente por propriedades funcionais e pragmáticas (MARCUSCHI, 2002, p. 19-36). A tendência à inovação e à mudança gera a necessidade de os gêneros serem apreendidos no dia a dia pelos membros de uma comunidade. Isso porque, tal como postulou Bakhtin (1952/1992), os gêneros são modelos comunicativos utilizados socialmente, que funcionam como uma espécie de padrão global que representa um conhecimento social localizado em situações concretas e que nos permitem identificar um texto individual como membro de uma classe mais geral. Por isso, para Marcuschi (2002, p. 20-21), os gêneros não dependem de decisões individuais e não são facilmente manipuláveis, eles operam como geradores de expectativas de compreensão mútua, sendo as propriedades inalienáveis dos textos empíricos guias que direcionam produtor e receptor. Uma outra consideração de Marcuschi (2002, p. 21) sobre os gêneros é que esses podem apresentar-se bastante heterogêneos com relação à forma linguística. Isso porque há muitos casos em que não é a forma que determina o gênero, tal como exemplifica o autor, um texto pode ser considerado como um artigo científico se publicado numa revista científica, já se o mesmo texto for publicado num jornal diário ele passa a ser um artigo de divulgação científica. O que muda não é o texto, mas sim sua função e principalmente os seus aspectos sócio-comunicativos. Assim, para definir um gênero Marcuschi defende que é preciso considerar os papéis dos atores, as funções e objetivos do evento comunicativo e o modelo disponível no intertexto. Essas considerações atestam que dominar um gênero não é dominar suas características linguísticas, mas sim uma forma de realizar linguisticamente objetivos específicos em situações particulares de uso (MARCUSCHI, 2002, p. 35-36). TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS 127 A perspectiva teórica sócio-interacionista postula que a comunicação humana é realizada através de uma forma textual concreta, produto de uma atividade de linguagem em funcionamento numa dada formação social. De acordo com Bronckart (1999, p. 137), as formações sociais elaboram os diferentes gêneros em função de seus objetivos, interesses e questões específicas. Para o autor, as formações sócio-discursivas designam “as diferentes formas que toma o trabalho de semiotização em funcionamento nas formações sociais” (p. 141). Bronckart, tal como Marcuschi (2002), baseando-se também em Bakhtin, postula ainda que, se os gêneros são meios sócio-historicamente construídos para realizar objetivos comunicativos determinados, “a apropriação dos gêneros é um mecanismo fundamental de socialização, de inserção prática nas atividades comunicativas humanas” (1999, p. 103). Por isso, para a realização de uma comunicação eficiente, é fundamental o conhecimento do gênero envolvido numa determinada prática social. Diante desse quadro teórico, podemos considerar o resumo como um gênero na medida em que ele é uma realização linguística em funcionamento em diferentes instâncias da sociedade atual, entre elas o ensino superior. III – Gênero resumo Como os gêneros definem-se predominantemente por propriedades funcionais e pragmáticas, é preciso, antes de tecer o conceito de resumo acadêmico, fazer uma breve consideração sobre a esfera social na qual esse gênero circula. Também é preciso conhecer os estudosatuais sobre o resumo que o redefinem a luz das teorias que se fundamentam nas noções bakhtinianas de gênero textual. Diante dessas considerações, será realizada em primeiro lugar uma investigação sobre o meio de circulação desse gênero, o contexto acadêmico, abordando também os papéis dos atores, configurando também as funções e os objetivos desse evento comunicativo. Em seguida serão levantadas as contribuições de alguns linguistas que se preocuparam em entender o resumo como um gênero textual. 3.1– Contexto acadêmico Resumir é uma das práticas linguísticas mais frequentes na vida cotidiana. Saber resumir textos lidos é uma capacidade necessária, nas sociedades letradas, para o desempenho de várias funções e atividades profissionais. Por exemplo: um advogado precisa resumir o que leu num processo; um administrador, o que leu num projeto; um jornalista, o que ouviu numa entrevista e assim por diante. O autor baseia esse conceito no de “formação discursiva” desenvolvido por Foucault (1969). Resumir é também um saber-fazer necessário ao universo do ensino. Schneuwly e Dolz acreditam que o resumo constitui-se num “eixo de ensino/aprendizagem essencial para o trabalho de análise e interpretação de textos e, portanto, um instrumento interessante de aprendizagem” (1999, p. 15). Na prática acadêmica, a atividade de resumir é frequentemente solicitada pelos professores de ensino superior que propõem a produção de resumos de gêneros em circulação no contexto universitário. Esses gêneros caracterizam- UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 128 se por possuírem um enunciador autorizado pelo meio científico a veicular conhecimentos advindos de estudos e pesquisas. Essa autorização, somada ao poder da escrita, pode criar para o leitor um efeito de verdade, situando o discurso científico num espaço do saber que encontra respaldo na ciência. Como lugar de práticas discursivas, o contexto acadêmico também estrutura um saber- fazer. Nas ciências humanas, o saber no meio acadêmico é um saber de teorias, de modelos de outros. A origem desses diferentes saberes e a forma de apropriar-se dos mesmos podem ou não se manifestar linguisticamente nos textos teóricos. No entanto, tal como aponta Bakhtin (1929/2002) ao referir-se ao discurso retórico, o discurso científico não é tão livre na sua maneira de tratar o enunciado pelo outro. “Ele tem, de forma inerente, um sentimento agudo dos direitos de propriedade da palavra e uma preocupação exagerada com a autenticidade” (p. 153). Em virtude disso há no meio acadêmico determinações específicas sobre como representar o discurso do outro, as regras de citação. Esse fazer obedece a convenções normatizadas, no caso do Brasil, pela ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) (FRANÇA, 2003). As regras estabelecidas pela ABNT para a citação nos resumos colocam à disposição do textualizador duas maneiras de expressar as vozes secundárias em seus resumos: a citação direta e a indireta. Tal como apontou Bakhtin (1929/2002, p. 147), embora essas formas sejam convencionadas socialmente, elas traduzem de maneira ativa e imediata uma apreensão ativa e apreciativa do discurso do outro. Quanto ao funcionamento discursivo da linguagem, adaptando-o às considerações de Orlandi (1983), no contexto acadêmico, o estabelecimento da cientificidade no discurso pode ser observado em dois pontos: a) a metalinguagem; e b) a apropriação do cientista feita pelo aluno. Como a “metalinguagem tem um espaço para existir” (ORLANDI, 1983, p. 13), a expectativa no meio acadêmico é que o aluno-textualizador empregue as convenções estabelecidas para a linguagem em uso nesse contexto, ou seja, que reproduza com suas próprias palavras o saber legitimado pela instituição. Por isso, este trabalho acredita que a origem da voz veiculada no texto-fonte seja apontada pelo textualizador, através da referência bibliográfica e até mesmo do uso de citações, revelando assim para o professor-avaliador a origem do saber veiculado. Quanto aos parâmetros da situação de ação da atividade didática, o resumo parece ter objetivos diferentes para os sujeitos envolvidos no processo comunicativo. Para o aluno, o resumo tem como função cumprir uma exigência do professor para a obtenção de nota, fonte de estudo, apreensão de conteúdos importantes. Já para o professor, o resumo é uma atividade que garante a leitura do texto pedido, além de ser um instrumento que possibilita verificar o que o aluno compreendeu do que foi lido. Definem-se, dessa forma, os papéis discursivos representados pelos sujeitos da produção textual, de um lado o aluno que deve demonstrar TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS 129 que está cumprindo com as exigências da disciplina e que está se apropriando dos saberes e do modo de fazer legitimados por essa esfera social; e de outro, o professor que tem a função de avaliar o grau dessa apropriação. Diante do exposto, produzir um resumo no meio acadêmico requer do sujeito um conhecimento do saber que circula nessa esfera e do fazer, prática discursiva definida pela comunidade da qual emerge esse gênero. Nessa perspectiva, a produção do gênero resumo, mais do que um simples procedimento de ensino- aprendizagem, é também um modo de inserção nas práticas de formação de futuros profissionais. Vejamos então como o resumo é definido a partir das teorias que o consideram como um gênero em funcionamento no interior desse contexto específico. 3.2 – Revendo o conceito de resumo Como a elaboração de resumo é uma das propostas didáticas mais frequentes do meio acadêmico, vários pesquisadores têm se preocupado em definir esse gênero. A seguir serão apresentados alguns dos trabalhos que propõem um novo conceito para o resumo, partindo das concepções que consideram o texto como produto de uma ação de linguagem em um contexto específico. Enfocando o resumo a partir do seu contexto de produção, Machado (2002), adotando as categorias do interacionismo sócio-discursivo de Bronckart (1999), acredita que a análise do contexto de produção de um texto é um poderoso auxiliar na classificação desse como pertencente ou não a um determinado gênero. Da mesma maneira que Bronckart, a autora define o contexto de produção como constituído pelas representações interiorizadas pelos agentes sobre o local e o momento da produção, sobre o emissor e o receptor considerados do ponto de vista físico e de seu papel social, sobre a instituição social onde se dá a interação e sobre o objetivo ou efeito que o produtor quer atingir em relação ao seu destinatário. Embora a autora aborde brevemente o resumo no contexto acadêmico, a análise dos parâmetros estabelecidos a permite concluir que os resumos são: Textos autônomos que, dentre outras características distintivas, fazem uma apresentação concisa dos conteúdos de outro texto, com uma organização que reproduz a organização do texto original, com o objetivo de informar o leitor sobre esses conteúdos e cujo enunciador é outro que não o autor do texto original, podem legitimamente ser considerados como exemplares do gênero resumo de texto (MACHADO, 2002, p.150). Pensando o resumo como atividade didática no ensino superior, Costa Val (1998) aborda características do gênero tais como configuração, tamanho e grau de explicitude, tratando-as como dependentes do objetivo que o resumidor tem ao produzir textos desse gênero. A autora admite inclusive a técnica de simplesmente copiar do texto-fonte as idéias principais quando se trata de produzir um registro de leitura para uso pessoal, desde que o resumidor articule essas idéias em seu texto. UNIDADE 3 | INDEXAÇÃO E RESUMOS: PRÁTICA 130 Também abordando o gênero no interior da comunidade acadêmica, as pesquisas de Matencio (2003) revelam que, para produzir nesse meio, é preciso estar inserido na prática acadêmica, ou seja, não só ter se apropriado de conceitos e procedimentos em circulação nessa formação sócio-discursiva, mas também de maneirasde referenciar e textualizar esses saberes. De acordo com essa autora, o resumo é um gênero que pode ser encontrado sob diferentes formas nas práticas acadêmicas de acordo com a função que exerce, podendo ser agrupado em duas categorias: • resumos envolvidos no processo de elaboração de pesquisa que têm a função de mapear um campo de estudo, integrando a discussão do estado da arte; • resumos colocados geralmente antes de um texto científico (artigos, dissertações, teses), que têm a função de apresentar e descrever o modo de realização do trabalho ao qual se refere – são os résumés ou abstracts. Para a autora, o primeiro tipo de resumo “implica um alto grau de subordinação” ao texto-fonte, já que permite ao leitor recuperar as macroproposições desse. Já os résumés ou abstracts, contidos no segundo grupo, não se preocupam em descrever a estrutura do texto-fonte, mas de enforcar o modo de realização do trabalho científico. Para ela (2003, p. 9), esses diferentes resumos poderiam ser entendidos como estando num continuum que vai dos que se aproximam mais do texto-fonte até aqueles que apenas se referem brevemente a ele. Há também de acordo com Matencio (2003, p. 9), uma terceira categoria, os resumos que são solicitados pelos professores universitários com o propósito oferecer aos alunos a apropriação dos conceitos necessários a sua formação e de integrá-los às práticas discursivas do meio acadêmico. É nesse contexto que se insere o resumo como atividade didática, neste trabalho denominado resumo acadêmico. Esse tipo é no continuum proposto pela autora, o que mantém um maior grau de fidelidade com relação à configuração do texto lido. IV – Resumo acadêmico Diante de todas essas considerações, define-se como resumo acadêmico um texto que explicita de forma clara uma compreensão global do texto lido, produzido por um aluno-leitor que tem a função demonstrar ao professor avaliador que leu e compreendeu o texto pedido, apropriando-se globalmente do saber institucionalmente valorizado nele contido e das normas as quais o gênero está sujeito. Nessa esfera de circulação, a função do resumo acadêmico é ser um texto autônomo, que recupera de forma concisa o conteúdo do texto lido numa espécie de equivalência informativa que conserva ou não a organização do texto original. Quanto à função, verifica-se que o resumo no contexto acadêmico serve tanto ao aluno, como eficiente instrumento de estudo dos inúmeros textos teóricos e científicos que tem que ler, quanto ao professor, como instrumento de avaliação que permite verificar a compreensão global do texto lido. Além disso, o resumo acadêmico pode ser considerado um gênero que proporciona ao aluno a TÓPICO 3 | PRÁTICA DE ELABORAÇÃO DE RESUMOS 131 inserção nas práticas acadêmicas, uma vez que através desse gênero ele tem a oportunidade de manifestar sua compreensão de textos científicos e exercitar a escrita nos moldes acadêmicos. Referências bibliográficas BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. São Paulo: Martins Fontes, 1992. ______. Marxismo e filosofia da linguagem. São Paulo: Hucitec-Annablume, 2002. BRONCKART, Jean-Paul. Atividade de linguagem, textos e discursos: por um interacionismo sócio-discursivo. Tradução de Anna Rachel Machado e Péricles Cunha. São Paulo: EDUC, 1999. COSTA VAL, Maria da Graça. Produção de textos com função de registro de leitura ou compreensão de texto oral – esquema, resumo e resenha crítica. Belo Horizonte: Programa de Inovação Curricular e Capacitação de Professores de Ensino Médio. 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SALOMON, Délcio Vieira. Como fazer uma monografia. 10. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2001. SALVADOR, Ângelo Domingos. Métodos e técnicas de pesquisa bibliográfica. Porto Alegre: Sulina, 1978. SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Os gêneros escolares: das práticas de linguagem aos objetos de ensino. Revista Brasileira de Educação, Rio de Janeiro, n. 11, p. 5-16, 1999. SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. 14. ed. São Paulo: Cortez, 1986. FONTE: RIBEIRO, Andréa Lourdes. Resumo acadêmico: uma tentativa de definição. Rev. Científica da FAMINAS. v. 2, n. 1, jan./abr. 2006. Disponível em: http://periodicos.faminas.edu.br/ index.php/RCFaminas/article/view/155/138. Acesso em: 20 maio 2019. http://periodicos.faminas.edu.br/index.php/RCFaminas/article/view/155/138 http://periodicos.faminas.edu.br/index.php/RCFaminas/article/view/155/138 132 Neste tópico, você aprendeu que: • A elaboração de resumos indicativos se dá a partir da aplicação de uma técnica específica que permita a indicação dos temas essenciais de um dado texto. • A elaboração de resumos informativos, da mesma forma, se dá a partir de técnicas que permitam não apenas indicar elementos essenciais de um texto, mas que também informam dados específicos como a metodologia utilizada e os resultados obtidos, em caso de pesquisas, por exemplo. • É possível identificar elementos que devem estar presentes em um resumo considerado adequado à representação do documento original. RESUMO DO TÓPICO 3 133 AUTOATIVIDADE 1 Elabore um resumo indicativo e um informativo para os textos a seguir. Texto 1 Desigualdades no uso e acesso aos serviços de saúde entre idosos do município de São Paulo Marília Cristina Prado Louvison; Maria Lúcia Lebrão; Yeda Aparecida Oliveira Duarte; Jair Lício Ferreira Santos; Ana Maria Malik; Eurivaldo Sampaio de Almeida. INTRODUÇÃO A transição demográfica e o envelhecimento populacional introduzem grandes desafios às políticas públicas, em particular nos grandes centros urbanos. Nestes, em especial, convive-se com altos graus de pobreza e desigualdades, baixa escolaridade e arranjos domiciliares pouco continentes. Isso gera necessidade de intervenções mais rápidas e equânimes, além de respostas às novas demandas assistenciais que transcendem os núcleos familiares e os possíveis cuidadores, familiares ou não. As doenças que comumente ocorrem no envelhecimento ganham maior expressão no conjunto da sociedade. O idoso utiliza mais serviços de saúde, as internações hospitalares são mais frequentes e o tempo de ocupação do leito é maior se comparado a outras faixas etárias.19 Ao medir a utilização dos serviços e estudar sua acessibilidade, pode- se, indiretamente, avaliar a equidade de um sistema de saúde. Segundo Whitehead,22 a equidade em saúde é a superação das desigualdades injustas em determinado contexto histórico e social, implicando que necessidades diferenciadas da população sejam atendidas por ações governamentais também diferenciadas. Nesse sentido, a iniquidade é considerada uma "desigualdade injusta", desnecessária, que pode ser evitada, daí sua importância para os planejadores e gestores de políticas públicas. Os indicadores mais adequados para avaliar a existência de desigualdade na atenção à saúde devem estimar a chance de os indivíduos obterem tratamento quando acometidos por alguma doença ou de receberem cuidados específicos de proteção à saúde nos casostradicionalmente recomendados e permitir quantificar a contribuição das diferenças entre grupos e no interior deles como um índice de desigualdade.3,18 O modelo teórico de utilização de serviços descrito por Andersen1,2 agrupa os perfis de consumo em três dimensões: de capacitação, de necessidade e de predisposição. Os fatores de capacitação se referem à capacidade de um indivíduo procurar e receber serviços de saúde; diretamente ligados às 134 condições econômicas e à oferta de serviços: renda, planos de saúde, suporte familiar, disponibilidade, proximidade e quantidade de serviços ofertados. Os fatores de necessidade estão ligados às percepções subjetivas das pessoas e ao estado de saúde. Os fatores de predisposição referem-se às características individuais que podem aumentar a chance de uso de serviços de saúde como, por exemplo, as variáveis sociodemográficas e familiares: idade, sexo, nível de escolaridade e raça. Segundo esse modelo, em estudos de desigualdade, o acesso é considerado equitativo quando somente a necessidade determina o uso. A Organização Pan-Americana de Saúde coordenou um estudo multicêntrico denominado Saúde, Bem-Estar e Envelhecimento (SABE)10 para traçar o perfil dos idosos na América Latina e Caribe. Participaram desse estudo a Argentina, Barbados, Brasil, Chile, Cuba, México e Uruguai. O presente estudo teve por objetivo analisar os fatores relacionados à determinação e às desigualdades no acesso e uso dos serviços de saúde por idosos. MÉTODOS No Brasil, a população do estudo SABE foi composta pelos idosos residentes, no ano 2000, no município de São Paulo. A amostra total de 2.143 idosos foi composta por dois segmentos: o primeiro, resultante de sorteio, correspondeu à amostra probabilística formada por 1.568 entrevistas. O segundo correspondeu ao acréscimo efetuado para compensar a mortalidade na população de maiores de 75 anos e completar o número desejado de entrevistas nesta faixa etária, composto por 575 residentes nos distritos em que se realizaram as entrevistas anteriores. Para sorteio de domicílios usou-se o método de amostragem por conglomerados em dois estágios sob o critério de partilha proporcional ao tamanho. Essa amostra foi tomada do cadastro da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 1995, composto por 263 setores censitários sorteados sob o critério de probabilidade proporcional ao número de domicílios. O número mínimo de domicílios sorteados no segundo estágio foi aproximado para 90. Para complementação da amostra de pessoas de 75 anos e mais utilizou-se a localização de moradias próximas aos setores selecionados ou, no máximo, dentro dos limites dos distritos aos quais pertenciam os setores sorteados. Os dados foram colhidos simultaneamente, por meio de entrevistas domiciliares, feitas com um instrumento constituído por 11 blocos temáticos (Projeto SABE10): dados pessoais, avaliação cognitiva, estado de saúde, estado funcional, medicamentos, uso e acesso aos serviços, rede de apoio familiar e social, história laboral e fontes de ingresso, características da moradia e a antropometria e os testes de flexibilidade e mobilidade. 135 A maior parte das entrevistas (88%) foi feita diretamente com o idoso, para os demais utilizou-se um proxi-respondente quando o idoso estava impossibilitado de responder às questões por problemas físicos ou cognitivos. A descrição detalhada da metodologia empregada pode ser encontrada em Duarte & Lebrão.10 Foi considerada como variável dicotômica dependente a utilização ou não de serviços ambulatoriais nos quatro meses anteriores à entrevista. Para a identificação de desigualdades analisou-se a associação com a condição socioeconômica, representada pelos quintis de renda total, categorizando-os em menor renda (sem renda, primeiro e segundo quintis) e maior renda (terceiro, quarto e quinto quintis). A associação da escolaridade e seguros privados com a renda indicam a capacidade de demandar e consumir serviços de saúde. As variáveis de predisposição consideradas foram sexo e idade. Como variáveis de necessidade de saúde, foram utilizadas a autoavaliação de saúde e a presença de, pelo menos, uma doença crônica autoreferida: hipertensão, diabetes e problema nervoso ou psiquiátrico, todas como variáveis qualitativas dicotômicas. O método estatístico utilizado foi o da regressão logística multivariada, por passos, procedimento por eliminação (backwards). Baseou-se nas frequências ponderadas e a odds ratio (OR), com intervalo de confiança de 95%, ajustada mediante análise de regressão logística múltipla.5,8 Foram analisados dados da amostra expandida para a base populacional, na qual cada registro tem peso específico. Após descrição das frequências ponderadas e ajustadas para o efeito do delineamento de amostra complexa, a regressão logística múltipla foi utilizada para investigar a associação independente entre a utilização de serviços ambulatoriais e cada uma das características socioeconômicas e de saúde incluídas no estudo. O estudo SABE foi aprovado pelo Comitê de Ética da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e pela Comissão Nacional de Ética em Pesquisa (Conep). RESULTADOS A amostra de idosos obtida no SABE representa o universo populacional de 836.204 idosos do município de São Paulo no ano 2000, constituída por 58,6% de mulheres. Destes, 77,9% eram de pessoas idosas com até 75 anos. Observou- se que os idosos do sexo masculino (41,4%) distribuíam-se nas faixas etárias mais novas, pois 19,2% tinham mais de 75 anos. A maioria dos idosos era brasileira (91,3%), se declarou branca (70,1%), católica (70,9%), morou por mais de cinco anos em zona rural até os 15 anos (62,6%), foi casada (95,1%), teve filhos (89,9%) e não vivia só (86,8%). Com relação à escolaridade, 79,0% frequentaram escola, 78,3% sabiam ler e escrever um recado, e 56,5% estudaram de um a quatro anos. Dos que foram à escola, 6,1% referiram não saber ler e escrever um recado e dos que referiram 136 saber ler e escrever um recado, 5,2 % não frequentou a escola. A população estudada era em grande parte aposentada (48,7%), da qual 23,5% disseram estar trabalhando na semana anterior ao inquérito; 86,3% recebiam algum tipo de recurso financeiro e destes, 66,2% tinham outras pessoas que dependiam deste recurso, com diferenças entre os sexos; 67,5% deles reconheceram não ter recursos suficientes para suas necessidades diárias. Verificou-se que 46,0% das pessoas idosas autoavaliaram sua saúde como excelente/muito boa/boa e 54,0% regular/má. A autopercepção positiva de saúde diminui à medida que aumenta o número de doenças referidas. Observou-se que 18,6% dos entrevistados referiram apresentar três ou mais doenças crônicas concomitantes, sendo hipertensão a mais prevalente (53,3%). As comorbidades foram mais predominantes (21,9%) entre as mulheres longevas (75 anos e mais). Quanto à posse de seguro saúde, 41,4% não estavam cobertos por um plano e/ou seguro privado de saúde, dos quais 53,4% referiram ter seguro social. O tipo de seguro variou de acordo com a renda e a escolaridade e os idosos com baixa renda e sem escolaridade dependiam mais do seguro público. Os seguros/planos privados não cobriam a totalidade de consultas médicas, tinham baixa cobertura de próteses (4,7%) e de medicamentos (1,3%). Os idosos que tinham seguro privado referiram sua saúde como melhor (55,7%) em relação aos que tinham apenas seguro público (40%), apesar de apresentarem pequena diferença quanto à presença de pelo menos uma doença crônica (77,7% e 76,1%, respectivamente). A maioria (60,2%) dos idosos vacinou-se contra gripe nos 12 meses anteriores à entrevista, com maior predominância das mulheres (61,3%). Das mulheres, 43,7% relataram ter realizado exame citológico para prevenção de câncer ginecológico e 38,9% exame de mamografia nos dois anos anteriores à entrevista. Quanto aos homens, 40% referiram realização de exame clínico para prevençãode câncer de próstata nos dois anos anteriores à entrevista. Os idosos estudados apresentaram altas taxas de utilização de serviços de saúde: 83,3% referiram ter realizado pelo menos uma consulta nos 12 meses anteriores à entrevista, dos quais 4,7% referiram pelo menos uma internação hospitalar; 64,2% referiram a utilização de serviços de saúde ambulatoriais nos quatro meses anteriores à entrevista. Verificou-se que 85,9% dentre os idosos que referiram internação hospitalar o fizeram apenas uma vez. Os principais motivos citados para a não utilização dos serviços, mesmo precisando, foram relacionados às questões da gravidade da doença, à automedicação e, ainda, à qualidade, distância e custo dos serviços. Quando analisados os idosos de menor renda, os motivos citados foram o problema não ser grave, distância e qualidade dos serviços de saúde. 137 A Tabela 1 mostra a utilização dos serviços nos quatros meses anteriores à entrevista. Em relação aos atendimentos ambulatoriais, não foram observadas diferenças entre atendimento público e privado (24,7% e 24,1% respectivamente), mas entre o local do atendimento, 14,5% ocorreram em hospitais e 33,7% ocorreram em clínicas privadas. Os idosos com menor renda utilizaram mais a clínica e os hospitais públicos enquanto os idosos com maior renda e mulheres mais novas utilizaram mais os consultórios e hospitais privados. As mulheres mais velhas se utilizaram mais de consultórios privados, mesmo nas menores rendas; o hospital privado só foi mais utilizado no quintil de maior renda. O atendimento domiciliar foi pouco referido tanto por quem tinha seguro público quanto privado. Dos que utilizaram os serviços, 40,9% realizaram apenas uma consulta e a média de utilização foi de 2,5 consultas nos quatro meses anteriores à entrevista. Para a população total, a média foi de 1,6 consultas por idoso nos quatro meses anteriores à entrevista. Com referência à última consulta ambulatorial, observou-se que os tempos para agendamento de consulta, ir ao serviço e ser atendido na última consulta foram maiores entre os idosos que não frequentaram escola (Tabela 2). Na última consulta ambulatorial 66,6% referiram a solicitação de exames, mas 7,4% não os realizaram; desses, 2,7% não o fizeram por falta de recursos financeiros. Em 62,4% das consultas foram prescritos medicamentos, mas 8,1% referiram não os ter conseguido. O pagamento por exames e consultas foi semelhante, mas para as internações praticamente não ocorreram desembolsos diretos. Na Tabela 3 observa-se que 70% dos medicamentos foram pagos diretamente pelo idoso. Na regressão logística, descrita na Tabela 4, observou-se que o diagnóstico de doenças crônicas e a autopercepção de uma pior condição de saúde foi determinante para o uso de serviços de saúde, independentemente de outras variáveis, inclusive da renda, escolaridade e ter seguro saúde privado. https://www.scielosp.org/img/revistas/rsp/v42n4/6846t1.gif https://www.scielosp.org/img/revistas/rsp/v42n4/6846t2.gif https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0034-89102008000400021&script=sci_abstract#tab3 https://www.scielosp.org/scielo.php?pid=S0034-89102008000400021&script=sci_abstract#tab4 138 139 No modelo de regressão final, a frequência à escola continuou como fator de proteção, ou seja, ter ido à escola diminui a chance de usar serviços de saúde, mesmo na presença de outros fatores. A variável renda isolada foi excluída do modelo, sendo utilizada sua interação com escolaridade. O uso de serviços foi maior em idosos com pior autopercepção de saúde (OR=1,92), presença de doenças (OR=2,73), seguro de saúde privado (OR=1,57) e sexo feminino (OR=1,55). A presença de diabetes apresentou uma associação mais forte (OR=1,50) que as outras doenças. A escolaridade apresentou comportamento contrário à renda. Apesar de renda, escolaridade e a interação entre elas não terem sido significativas na regressão univariada, interação renda e escolaridade (OR=1,40), assim como ter frequentado a escola (OR=0,66) foram significativas na regressão multivariada. DISCUSSÃO A posse de seguro privado é maior na população idosa com maior renda, maior escolaridade, menor idade e que apresenta melhor situação de saúde. No entanto, evidenciou-se associação entre posse de seguro saúde privado e uso de serviços de saúde, o que traduz desigualdades, independentemente da temporalidade. Em outras palavras, ter seguro de saúde porque usa mais os serviços ou usar mais os serviços porque tem seguro de saúde. As desigualdades em saúde com relação à capacidade de acessar os serviços identificam o movimento da busca, da capacidade do idoso acessar e usar os serviços de saúde conforme sua disponibilidade e necessidade. Essa capacidade está diretamente relacionada, além da renda e escolaridade, à posse de seguro saúde privado, por considerar a disponibilidade da oferta da rede pública e privada. Além disso, outros estudos são importantes no sentido de qualificar o uso, pois a maior utilização não está necessariamente relacionada a uma melhor atenção à saúde do idoso. 140 As desigualdades socioeconômicas indicam diferentes tempos e formas de adoecer e diferentes necessidades e capacidades de procurar e usar serviços de saúde. Conforme estudos de desigualdades que utilizaram a base de dados do SABE da América Latina,15,21 idosos com pior escolaridade apresentam pior estado de saúde em função de piores hábitos maior exclusão e menor nível de informação e condições socioeconômicas para acessar serviços precocemente. No entanto, o uso de serviços de saúde, maior em quem apresenta pior estado de saúde, também sofre a influência da maior ou menor escolaridade. Assim como na análise dos dados da PNAD 1998 e em outros estudos,11,12 as pessoas de menor renda e piores condições de saúde apresentaram menor utilização de serviços de saúde. Os dados da PNAD identificam que a cobertura por plano de saúde é maior para as pessoas que avaliam seu estado de saúde como muito bom e bom e a existência de desigualdades em favor dos mais privilegiados. As chances de procurar serviços de saúde aumentam à medida que os indivíduos envelhecem e não acumulam anos de estudo.14 No presente estudo, a escolaridade também apresentou um comportamento distinto das outras variáveis, a exemplo de que os que frequentaram a escola utilizaram menos os serviços. Renda e interação de renda e escola foram significativas, ou seja, ter maior renda é determinante do uso mesmo tendo frequentado escola. Isso pode indicar que frequentar a escola diminui a necessidade do uso dos serviços, protegendo das desigualdades de acesso determinadas pela renda. Portanto, observou-se que frequentar escola é, independentemente das características de necessidade, um fator de menor utilização de serviços de saúde. Nesse sentido, a escolaridade não responde, isoladamente, como característica de condição socioeconômica para estudos de desigualdades no uso de serviços de saúde. O fato de a escolaridade também ser determinada em fases mais iniciais da vida e não mudar posteriormente pode ser uma desvantagem para utilizá-la em estudos de idosos. César & Pascoal4 verificaram que os idosos com até quatro anos de escolaridade utilizam prioritariamente os serviços públicos, primeiramente o hospital, seguido da clínica pública. Noronha & Andrade,15 comparando os países do Estudo SABE,10 sugerem a presença de desigualdades sociais em todos eles, favorecendo os grupos socioeconômicos privilegiados. Esses autores referem ainda que a probabilidade de o idoso reportar um melhor estado de saúde é maior entre os mais escolarizados.15 O diagnóstico de doenças crônicas e a autopercepção de saúde como regular ou má é determinante para o uso de serviços de saúde, independentemente de outras variáveis, inclusive da renda, escolaridade e da posse de seguro saúde privado. O diabetes é a doença autoreferida que manteve significância na determinação do uso de serviços em contrapartidaà hipertensão e doença mental, por exemplo, que perderam força na presença das outras variáveis relacionadas. No estudo SABE10 identificou-se uma redução na prevalência apenas de diabetes na velhice avançada, indicando ocorrência precoce de 141 óbitos. Assim, o diabetes apresenta provável maior gravidade e maior dependência dos serviços de saúde tanto diagnóstica quanto terapêutica. A tipologia de uso indica pior acesso à rede ambulatorial no momento de maior necessidade, ou seja, para os mais velhos. Os idosos mais pobres utilizaram mais a clínica e os hospitais públicos enquanto os idosos mais ricos utilizaram mais os consultórios e hospitais privados. A relação direta de uso de serviços privados por quem possui seguro privado e de serviços públicos por quem não os possui mostra que o tipo de seguro é determinante para o uso e é utilizado quando disponível. Observou-se menor uso dos serviços entre os homens de 60 a 64 anos, principalmente entre as classes de menor renda. Isso pode indicar uma dificuldade de acesso por ainda estarem inseridos no mercado de trabalho e a organização dos serviços de saúde não estar voltada a essa necessidade. O maior uso das internações hospitalares nos atendimentos ocorridos nos serviços públicos indica prováveis desigualdades no acesso à consulta e, ao mesmo tempo, mostra que a capacidade de utilização da rede pública pelo idoso pode estar ocorrendo no limite da urgência, do descontrole das doenças crônicas e da menor continência familiar às doenças de maior gravidade. A frequência de internações está relacionada com a autorreferência de doenças crônicas e apresenta pouca associação com renda e escolaridade. A desigualdade no acesso é observada, porém menos evidente que no caso do uso das consultas ambulatoriais, provavelmente por maior impacto dos fatores de necessidade. Entre os que relataram não possuir seguro, nenhuma internação foi citada, podendo indicar a total ausência de acesso a serviços por esses idosos. A taxa de reinternação de 14,1% nos quatro meses anteriores à entrevista é semelhante à observada na população geral, vista na PNAD 2003, que foi de 20,7%, para as internações ocorridas no último ano. O presente estudo mostra que os idosos brasileiros apresentam altas taxas de utilização de serviços de saúde. O uso de serviços de saúde no último ano (83,3%) foi pouco maior que a PNAD 2003 que identificou 79,5% para maiores de 65 anos. A população de 60 a 65 anos pode explicar essa diferença, pois apresenta alta utilização de serviços de saúde, além do fato de que os dados do SABE11 referem-se à cidade de São Paulo. No município de São Paulo, durante o período do estudo, estava em funcionamento o Plano de Assistência à Saúde (PAS) com foco no pronto- atendimento de urgência e não na estruturação da rede de cuidados às doenças crônicas. Não se observa uma reorganização da atenção adequada à mudança epidemiológica que tenha ênfase na atenção às doenças crônicas.16 A equidade dos sistemas de saúde é um direito do cidadão, que possibilita a igualdade no acesso à atenção à saúde, mediante necessidades semelhantes. Em saúde, as mesmas necessidades devem pressupor a utilização dos serviços de saúde, dadas determinadas condições de acesso. No entanto, observa-se que o acesso à saúde tende a ser pior para aqueles em piores condições socioeconômicas.6 142 Em ambos setores, público e privado, é necessário o desenvolvimento de modelos de atenção voltados às necessidades dos idosos, que permita identificação de demandas, criação de serviços, estabelecimento de redes intersetoriais e gestão integrada dos cuidados crônicos.8,20 A efetiva implementação de redes de atenção à saúde no Sistema Único de Saúde (SUS), com centralidade na atenção básica, permite a ampliação do acesso e o uso regular de serviços de saúde com equidade. Considerando o direito universal à saúde, a redução das desigualdades deve ser política pública prioritária e pressupõe ampliação de acesso à rede ambulatorial e domiciliar com financiamento adequado, regulamentação e capacitação nos seus vários níveis de complexidade, ajustados às necessidades dos idosos, tanto na rede pública quanto na rede privada.13 Em política defendida pelo SUS e pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o fortalecimento da atenção primária amplia o acesso e permite aos idosos viverem na sociedade sem pressões para institucionalizações em equipamentos sociais e de saúde, o que não interessa a ninguém, tampouco à própria sociedade.9 Além disso, é necessário enfrentar a fragmentação dos equipamentos de saúde e sociais com estabelecimento de redes de atenção integral e com aumento da capacidade de regulação do Estado, em busca de uma verdadeira rede de suporte social com foco na equidade e na integralidade e que considerem o envelhecimento populacional.17 Em conclusão, a associação de renda, escolaridade, sexo e morbidade referida traduz a grande necessidade e a baixa capacidade de utilização de serviços de saúde pelos idosos, de acordo com o Modelo de Andersen, e indica presença de desigualdades no uso e acesso aos serviços de saúde. A relação dos idosos com os serviços de saúde é intensa, podendo traduzir injustiças e inadequações que impactam na qualidade de vida dessa população e que, por sua vez, depende de políticas públicas integradas e efetivas. REFERÊNCIAS 1. Andersen R, Newman JF. Societal and individual determinants of medical care utilization in the United States. The Milbank Mem Fund Q Health Soc. 1973;51(1):95-124. 2. Branch L, Jette AM, Evashwick C, Polansky M, Rowe G, Diehr P. Toward understanding elder's health service utilization. J Community Health. 1981;7(2):80-92. 3. Cairney J, Arnold R. Social class, health and ageing: Socioeconomic determinants of self-reported morbidity among non institucionalizaed elderly in Canada. Can J Public Health. 1996;87(3):199-203. 4. César CLG, Pascoal SMP. Uso de serviços de saúde. In: Lebrão ML, Duarte YAO, organizador. O Projeto SABE no município de São Paulo: uma abordagem inicial. Brasília: Organização Pan-Americana da Saúde; 2003. p. 227-38. 143 5. 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Acesso em: 19 maio 2019. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102008000400021 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0034-89102008000400021 145 Texto 2 SEGURANÇA QUÍMICA, SAÚDE E AMBIENTE – PERSPECTIVAS PARA A GOVERNANÇA NO CONTEXTO BRASILEIRO Carlos Machado de Freitas Marcelo Firpo S. Porto Josino Costa Moreira Fatima Pivetta Jorge M. Huet Machado Nilton B. B. de Freitas Arline S. Arcuri Introdução A Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), realizada no Rio de Janeiro (Brasil) em 1992, teve como um de seus objetivos o estabelecimento de princípios e compromissos comuns entre as diferentes nações que guiassem um desenvolvimento sustentável da comunidade global, resultando na Agenda 21 (CNUMAD, 1992). Reconhecendo que os países com menor capacidade – institucional e financeira – para enfrentá-los são os mesmos que possuem os maiores desafios em termos de ameaças à sustentabilidade, foi reconhecido, na Agenda 21, que para alcançar os objetivos e as propostas para as ações estabelecidas tornar-se-ia necessário um significativo fortalecimento dos esforços nacionais e internacionais. Isto incluiria tanto a responsabilidade dos países industrializados em cooperar com os países em industrialização para a solução dos problemas referentes ao meio ambiente e a sustentabilidade, como uma cuidadosa revisão das prioridades e orçamentos visando, progressivamente, internalizar nas economias locais os custos da proteção ao meio ambiente (CGG, 1995; FINKELMAN, 1996). É exatamente neste contexto que a segurança química, entendida como um conjunto de estratégias para o controle e a prevenção dos efeitos adversos para o ser humano e o meio ambiente decorrentes da extração, produção, armazenagem, transporte, manuseio e descarte de substâncias químicas, insere-se na Agenda 21. É reconhecido como um dos muitos e sérios problemas essenciais a serem enfrentados globalmente, necessitando-se para tanto ampliar não só a colaboração com os governos, mas também com inúmeros outros atores não governamentais tais como, por exemplo, indústrias, sindicatos, consumidores, organizações não governamentais (ONG), grupos de cidadãos, corporações profissionais e instituições científicas, transformando-se em um problema não só de governabilidade, mais restrita ao papel dos Estados e governos, mas de governança, nos níveis internacional e nacionais. O Brasil passou, em outubro de 2000, a presidir o Fórum Intergovernamental sobre Segurança Química (FISQ) – seu mandato vai até o ano 2003 – 146 assumindo um papel de liderança internacional no que se refere ao tema. Isto exigirá, mais do que nunca, que os setores saúde, trabalho e meio ambiente, nas suas diversas vertentes de atuação, assim como inúmeros outros setores do governo e atores sociais representando os trabalhadores, os empresários e as comunidades e consumidores expostos, sejam capazes de trabalhar de forma integrada para que possamos formular propostas amplas e efetivas para o enfrentamento dos problemas relacionados à poluição química. O desenvolvimento de metodologias integradas, contextualizadas aos nossos problemas e participativas, assim como processos decisórios mais transparentes e democráticos estão entre os desafios a serem enfrentados. A segurança química como tema de preocupação internacional A segurança química como tema de preocupação internacional aparece já na Conferência Mundial das Nações Unidas sobre Meio Ambiente Humano (CNUMH), realizada em Estocolmo (Suécia), em 1972. As recomendações dessa conferência conduziram ao estabelecimento em 1980 do Programa Internacional de Segurança Química (PISQ), uma joint venture da Organização Mundial da Saúde (OMS), da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) (ARCURI; FREITAS, 2001; PLESTINA; MERCIER, 1996). O objetivo inicial do PISQ era prover uma base científica reconhecida internacionalmente, para que os diversos países pudessem desenvolver suas próprias medidas de segurança química (PLESTINA; MERCIER, 1996). Vinte anos após a conferência de Estocolmo, foi realizada em 1992, no Brasil, a CNUMAD, que teve como um dos principais documentos aprovados a Agenda 21, onde se encontra o Capítulo 19, exclusivamente dedicado ao tema. Neste capítulo são apontados os problemas de poluição química em grande escala, presentes e futuros, reconhecendo ser a situação mais grave nos países em industrialização por conta da: (1) falta de dados científicos para avaliar os riscos inerentes à utilização de numerosos produtos químicos e; (2) falta de recursos para avaliar os produtos químicos para os quais já se dispõe de dados (CNUMAD, 1992). Dentre o conjunto de estratégias internacionais fixadas no capítulo 19, foram estabelecidas seis áreas programáticas, que são: (1) expansão e aceleração da avaliação internacional dos riscos químicos; (2) harmonização da classificação e da rotulagem dos produtos químicos; (3) intercâmbio de informações sobre os produtos químicos tóxicos e os riscos químicos; (4) implantação de programas de redução dos riscos; (5) fortalecimento das capacidades e potenciais nacionais para o manejo dos produtos químicos; (6) prevenção do tráfico internacional ilegal dos produtos tóxicos e perigosos. Ainda em relação às estratégias internacionais, em 1994 foi criado o FISQ, com o objetivo de constituir um novo mecanismo de cooperação entre governos para promover a avaliação dos riscos das substâncias químicas e sua gestão 147 ecologicamente racional, buscando integrar e unificar os esforços nacionais e internacionais e, ao mesmo tempo, evitar a duplicação de atividades e gastos (IFCS, 1997). Embora se trate de um fórum intergovernamental, é reconhecido que as questões relativas à segurança química, particularmente as referentes às seis áreas programáticas do Capítulo 19, nãopodem ser levadas a cabo somente pelos governos, tornando-se necessária a participação da indústria, dos diferentes grupos de interesse não governamentais representando comunidades expostas, trabalhadores e organizações intergovernamentais e científicas, entre outros. Todos estes esforços internacionais referentes à segurança química não podem ser compreendidos de modo descontextualizado. Como é observado pela Comissão sobre Governança Global (CGG, 1995), o crescimento nas quantidades de produtos químicos produzidos tem resultado em níveis de poluição em uma escala tal que vem alterando a composição química das águas, do solo, da atmosfera e dos sistemas biológicos do planeta, colocando em perigo não só o bem-estar, mas também a sobrevivência do planeta. Especialmente a partir da II Guerra Mundial, o desenvolvimento tecnológico nos processos químicos industriais, impulsionado pela concorrência capitalista e a globalização da economia de escala, vem resultando na expansão da capacidade de produção, armazenamento, circulação e consumo de substâncias químicas em nível mundial. A comercialização de substâncias orgânicas em patamar global é um exemplo disto, passando de sete milhões de toneladas em 1950 para 63 milhões em 1970, 250 milhões em 1985 e mais trezentos milhões no início da década de 90 (KORTE; COULSTON, 1994). Segundo o PISQ, existem mais de 750.000 substâncias conhecidas no meio ambiente, sendo de origem natural ou resultado da atividade humana (IPCS, 1992). Cerca de setenta mil são cotidianamente utilizadas pelo homem, e aproximadamente quarenta mil em significantes quantidades comerciais (IPCS/ RPTC, 1992). Desse total, calcula-se que apenas cerca de seis mil substâncias possuam uma avaliação considerada como minimamente adequada sobre os riscos à saúde do homem e ao meio ambiente. Acrescente-se a este quadro a capacidade de inovação tecnológica no ramo químico, que vem colocando disponível no mercado, a cada ano, entre mil e duas mil novas substâncias. Este processo de crescimento do setor químico se encontra estreitamente relacionado ao desenvolvimento de uma economia global altamente interdependente e iníqua, em que a produção, o comércio e os investimentos vêm consolidando um processo de divisão internacional do trabalho, que tem conduzido a uma divisão internacional dos riscos e dos benefícios. Enquanto cerca de 20% da população mundial, situada principalmente nos países industrializados, consomem aproximadamente 80% dos bens produzidos, os outros 80%, situados em geral nos países em industrialização, consomem apenas 20% (MACNEILL et al., 1992). Na Índia, por exemplo, onde houve o acidente químico ampliado mais grave registrado em toda a história da 148 humanidade (mais de 2.500 óbitos imediatos na cidade de Bhopal, em 1984), o consumo de produtos resultantes da tecnologia química era de 1kg per capita, enquanto nos países industrializados esse consumo era de 30 a 40kg per capita (MURTI, 1991). Diante da complexidade e amplitude dos problemas provenientes da poluição química ambiental, que vem desafiando cada vez mais a capacidade dos governos no que tange à segurança e à saúde dos cidadãos, notadamente nos países industrializados, a segurança química converte-se em uma das questões globais de governança. Expressa a constatação de que o nosso futuro comum depende não somente do crescimento econômico, mas também da melhoria da qualidade de vida, sobremodo para as populações mais pobres, tendo por base os princípios de universalidade, solidariedade e equidade, que devem ser mantidos, além de orientar as decisões e ações sobre segurança química nos níveis global e local (CGG, 1995; FILKENMAN, 1996). Segurança química e governança no contexto da complexidade e da vulnerabilidade Conforme é afirmado no relatório da CGG (1995), a mobilização do poder coletivo das pessoas para tornar a vida no século XXI mais democrática, mais segura, mais sustentável e com equidade é o grande desafio de nossa geração. Isto implica a necessidade das nações e da comunidade mundial assumirem a grande responsabilidade coletiva que lhes é colocada em relação a estas questões, que se encontram intrinsecamente relacionadas e em que a segurança deixa de ser a dos Estados, mas passa a ser prioritariamente a das pessoas. A segurança química, entendida como um dos tantos e importantes aspectos relativos à segurança da saúde, da vida e da proteção ao meio ambiente, em virtude das ameaças presentes e futuras, coloca-se neste contexto como uma questão de governança, nos níveis global e local, não se restringindo aos governos e às inter-relações governamentais. É um desafio ainda maior em países como o Brasil, em que as questões concernentes à democracia, à segurança, à sustentabilidade e à equidade, fundamentais para a governança, se encontram ainda pouco resolvidas e incipientes e, por isso, devem ser integradas à questão da segurança química no País. A construção de políticas de segurança química nos países em industrialização como o Brasil, além de levar em consideração o enfrentamento da complexidade e das incertezas referentes à compreensão do problema, as quais se ampliam por conta da diversidade e da precariedade dos mesmos, deve considerar também os aspectos referentes aos diferentes modos e níveis de vulnerabilidades, na busca de construção de conhecimentos e processos decisórios mais contextualizados e participativos, nos níveis local e global, como pré-requisitos básicos para a governança. A noção de complexidade aplicada aos problemas relacionados à poluição química implica que não podemos reduzir suas análises a componentes 149 isolados, como operado pelas abordagens tradicionais da ciência, uma vez que implicaria tanto perdas importantes na compreensão dos problemas, ampliando as incertezas, como na limitação na formulação de estratégias de prevenção e controle de tais riscos (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1993). Em relação a isto, Funtowicz & Ravetz (1993) distinguem três níveis de incertezas. As incertezas técnicas, relacionadas à inexatidão dos dados e das análises, e que podem ser gerenciadas por meio de rotinas padronizadas adequadas desenvolvidas por campos científicos particulares. As incertezas metodológicas, relacionadas à não confiabilidade dos dados e que envolvem aspectos mais complexos e relevantes da informação, como valores e confiabilidade. Finalmente as incertezas epistemológicas, relacionadas às margens de ignorância do próprio conhecimento científico, sendo este nível envolvido quando irremediáveis incertezas encontram-se no centro do problema (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1993). Enfrentar as incertezas inerentes ao nosso atual modo científico de avaliar os problemas de origem química e compreender o problema de modo amplo e sistêmico envolve, então, integrar os múltiplos e simultâneos aspectos de diferentes naturezas. Nesta perspectiva, as políticas globais e locais de produção, transporte, comercialização, armazenamento, descarte e segurança, assim como as direções dadas ao desenvolvimento da tecnologia química estarão, simultaneamente e de modo inextricável, interagindo com as emissões de substâncias químicas que atingirão solos, águas, atmosfera e cadeia alimentar. Estas emissões, mediadas por reações químicas e relações sociais, culturais, econômicas e de poder, resultarão tanto nos diferentes níveis de contaminação dos seres humanos e ecossistemas, como nos diferentes níveis de capacidade de resposta social ao problema. Isto implica que os processos decisórios sobre riscos químicos com vistas à governança não podem ser realizados tendo-se por base somente as limitadas predições técnico- científicas, exigindo-se que considerações acerca dos inúmeros aspectos apontados, assim como, também, os inerentes valores e interesses em jogo, façam parte dos mesmos, complementado os aspectos de políticas públicas (FUNTOWICZ; RAVETZ, 1993). Como observam De Marchi & Ravetz (1999), muitosdos novos riscos, como os de origem química, combinam extremas incertezas com possibilidade de danos extensivos e irreversíveis, exigindo novas formas de processos decisórios. Para que novas abordagens e novos processos decisórios sejam minimamente viáveis, particularmente no contexto dos países em industrialização, devemos considerar o conceito de vulnerabilidade (HORLICK-JONES, 1993). Para nós, a vulnerabilidade deve ser subdividida em duas, que se inter-relacionam. A primeira refere-se à vulnerabilidade populacional (MORROW, 1999) e relaciona-se à existência de grupos populacionais vulneráveis, de acordo com suas características em termos de status social, político e econômico, etnicidade, gênero, incapacidade, idade etc., sendo isto derivado de variadas formas e níveis de exclusão social. A segunda refere-se à vulnerabilidade institucional (BARRENECHEA, 1998) e relaciona-se ao funcionamento da sociedade em 150 termos das políticas públicas, processos decisórios e das instituições que atuam nos condicionantes estruturais ou pressões dinâmicas que propiciam ou agravam as situações e eventos de riscos. No Brasil, consideramos que muito ainda deve ser feito, a fim de que a segurança química na sua interface com a governança possa ser realizada, especialmente quando se considera que no atual contexto o Estado vem sendo continuamente desestruturado, tornando-se incapaz de controlar e prevenir os problemas de origem química, caracterizando uma vulnerabilidade institucional. Este quadro é agravado pelo fato de determinados grupos sociais estarem sendo expostos a substâncias químicas em situações sociais e ambientais precárias, caracterizando uma vulnerabilidade populacional. Nesta perspectiva, a governança só poderá florescer se fundada em um forte compromisso com os princípios de equidade e democracia baseados na sociedade civil. Os princípios da governança se encontram em consonância com as perspectivas da saúde coletiva, devendo orientar as decisões e ações para o setor saúde no Brasil, particularmente quando envolvem questões ambientais, em que o leque de atores e interesses heterogêneos se amplia. Segurança química e governança na realidade brasileira O Brasil, dentre outros países em industrialização, como Índia e México, sofreu um processo de intensificação de seu crescimento econômico entre os anos 60 e 80 mediante grande endividamento externo – se encontra entre os países com maior dívida externa –, aumento da participação de indústrias multinacionais no processo de industrialização e forte intervenção do Estado na economia. Em 1990, dentre os segmentos constituintes do setor industrial, o químico representava cerca de 19% da produção do país. De acordo com a Pesquisa Industrial Anual do IBGE (Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), ano de 1997, do total da receita líquida de vendas de todo o setor industrial brasileiro, a indústria química respondeu por cerca de 22% (IBGE, 1997) e na atualidade ocupa um lugar de destaque no mundo, encontrando-se em oitavo lugar. No Brasil, o modelo de desenvolvimento econômico adotado, sustentado pela ausência de um sistema político democrático – particularmente entre os anos 60 e 80 – e grandes transformações na sociedade, combinando concentração de capital, exploração da mão-de-obra e abandono ou omissão do poder público no controle e prevenção dos riscos químicos, resultou em rápida e desordenada industrialização. Paralelamente, ocorreu um intenso e incontrolado processo de urbanização, acompanhado de grande fluxo migratório do campo e das regiões mais pobres para os grandes centros urbanos, relegando ao plano secundário os problemas sociais, humanos ou ambientais (BECKER; EGLER, 1993). Uma das consequências desse processo foi o assentamento de parte dessas populações pobres e com baixo nível de escolaridade, que migraram do campo na busca de melhores condições de vida e trabalho, nas áreas periféricas dos grandes centros urbanos, passando 151 a viver em condições precárias e sem acesso aos bens e serviços básicos de saneamento, saúde e educação. Situação similar, em termos de condições precárias de vida e trabalho, ocorreu também para aqueles que ficaram nas áreas rurais. O resultado foi a constituição de padrões inferiores de segurança e de proteção ambiental e à saúde não só no nível internacional, mas também no nível interno dos países de economia periférica, definindo, assim, as áreas salubres e seguras e as insalubres e inseguras (BARBOSA, 1992; GUILHERME, 1987; TORRES, 1993). Nas áreas rurais, são bem conhecidos os casos de contaminação por agrotóxicos de trabalhadores e de suas famílias, bem como moradores das áreas próximas expostos à contaminação ambiental (águas, ar e solos) e da cadeia alimentar, num circuito de complexas interações químicas e sociais. Tendo origem também nos problemas estruturais resultantes dos modelos de desenvolvimento adotados no país, a ausência de uma política de reforma agrária e de oferta de trabalhos estáveis contribuiu para fluxos migratórios do campo não só para as cidades, mas também para áreas de mineração, caso dos garimpos de ouro na região amazônica. Se, por um lado, as atividades de mineração do ouro fornecem a maior taxa de empregos da região (10,7%), coexistindo com precárias condições sanitárias e um quadro de doenças endêmicas como a malária e a leishmaniose, por outro, tais atividades vêm resultando na intensa degradação do meio ambiente e profunda desorganização e exclusão social (MMA, 1995). Frequentemente, trata-se de atividade ilegal que envolve força de trabalho precarizada, não qualificada, móvel e sem direitos trabalhistas – algumas vezes envolvendo até o trabalho escravo –, que se organiza em núcleos, em torno das minerações, e estabelecem interfaces entre as formas de exploração mecanizadas das empresas e as manuais dos garimpeiros. Pelo fato de, em grande parte, as técnicas adotadas serem rudimentares, acabam por empregar grandes quantidades de mercúrio (Hg), resultando em elevados níveis de poluição do ar, sedimentos e águas dos rios, contaminando os trabalhadores garimpeiros e de casas de queima. Além destes trabalhadores, populações urbanas que vivem próximas a casas de queima e aos garimpos, bem como as ribeirinhas, acabam, por interações ambientais e vias diretas ou indiretas, sendo contaminadas com metilmercúrio (CÂMARA; COREY, 1993; MMA, 1995). A complexa trama social que envolve a atividade de mineração do ouro se conjuga com a complexidade ambiental associada à capacidade de biotransformação do Hg para sua forma mais tóxica – o metilmercúrio. Isto é agravado pelas incertezas oriundas tanto da ausência de dados científicos sobre o seu comportamento em ambientes tropicais, bem como as relacionadas aos problemas que poderão ocorrer com o ciclo do mesmo devido às mudanças climáticas globais que poderão contribuir para enriquecer a remobilização e bioacumulação deste agente químico. O resultado será o aumento do risco de exposição pela exalação deste agente, convertendo-se em bombas químicas de tempo (NRIAGU, 1999). 152 Nos grandes centros urbanos os problemas de origem química se manifestam de diversas formas, indo da produção em pequenas indústrias – como no caso das fábricas ou reformadoras de baterias – e grandes indústrias do setor químico – envolvendo as químicas, petroquímicas e petroleiras –, até o destino final dos resíduos químicos. Um dos mais conhecidos e paradigmáticos casos de contaminação ambiental por resíduos perigosos envolvendo a combinação de vulnerabilidade institucional e populacional é o da Cidade dos Meninos, no Município de Duque de Caxias, Rio de Janeiro. Neste local houve, em 1954, o fechamento de uma fábrica do Ministério da Saúde (MS), ocorrendo o abandono de cerca de setecentas toneladas de resíduos da produção de HCH (grau técnico) utilizados em campanhas contra a malária. Esta área é hoje habitada por cerca de1.500 pessoas e os resíduos foram encontrados em todos os segmentos ambientais, nos habitantes e biota locais em níveis extremamente elevados (OLIVEIRA et al., 1995). Outro sério problema se refere às pequenas fábricas que empregam substâncias químicas, muitas de fundo de quintal. Reformadoras de baterias, por exemplo, se localizam, em sua quase totalidade, em áreas residenciais e comerciais em que vivem populações de baixa renda. Estas indústrias empregam, em geral, perto de dez trabalhadores, caracterizados por possuírem baixa escolaridade e nenhum tipo de treinamento e informações quanto aos riscos e às atitudes de proteção e segurança que deveriam ser tomadas. Suas instalações são inadequadas e utilizam um processo de trabalho simples e arcaico, provocando a contaminação por chumbo não apenas dos trabalhadores, mas atingindo também as áreas em torno e populações circunvizinhas (SILVA; MATTOS, 1999). Funcionam com elevados custos marginais, ficando ao largo dos programas de incentivos econômicos relacionados a melhorias de desempenho ambiental; raramente são alvos de fiscalização pelos órgãos públicos que, no atual quadro, se atuassem efetivamente, poderiam acirrar a crise social pelo possível fechamento das mesmas, resultando no aumento do número de desempregados. Diferentemente dos exemplos anteriores, os casos de poluição crônica e acidentes nas grandes indústrias têm, frequentemente, envolvido os trabalhadores da indústria química, que possuem alto nível de qualificação técnica, educação formal e maior capacidade de organização local – pelos sindicatos – e nacional e, por conseguinte, maior poder de mobilizações e pressões sociais. Apesar dos eventuais limites desta participação, algumas experiências ocorridas na década de 90, como a participação destes trabalhadores em acordos e comissões nacionais que envolveram e vêm envolvendo, de maneira conjunta, representantes das indústrias e do governo, como nos casos do benzeno, da norma sobre vasos e caldeiras, e ainda sobre a construção de uma legislação nacional sobre os acidentes industriais ampliados demonstraram a possibilidade de se produzirem processos decisórios mais democráticos e na perspectiva da governança. 153 Tendo como referência os casos citados, podemos considerar que houve no Brasil um crescimento dos problemas relacionados à segurança química em uma intensidade e amplitude maior do que a capacidade do Brasil enfrentá- los. Neste contexto, a reconhecida complexidade socioambiental do Brasil associada às vulnerabilidades populacional e institucional, vem, por décadas seguidas, propiciando a utilização indiscriminada dos recursos naturais e sua contaminação pela coexistência de modos de produção arcaicos com os de tecnologia avançada, resultando em diferentes formas e níveis de inserção social e poluição química. Hoje, a gestão da segurança química no Brasil pelos governos federal, estadual ou municipal, vem sendo desenvolvida de maneira ineficiente e com pouca integração entre os vários setores e grupos sociais envolvidos, tendo como consequências o conflito de competências entre diferentes órgãos dos governos, omissões e a falta de capacidade instalada de recursos humanos e técnicos, mormente no que se refere à proteção da saúde e do meio ambiente. Embora o arcabouço legal disponível possa ser considerado relativamente vasto, na prática não se mostra factível frente à contínua desestruturação dos órgãos de governo, sendo isto em parte o resultado das descontinuidades das políticas públicas e da falta de recursos financeiros para os setores ambiental e de saúde. No atual contexto, políticas autorregulatórias, como a certificação pela norma ISO 14.000 ou programas voluntários como o Atuação Responsável da indústria química, correm o risco de substituir de forma inapropriada a carência de políticas públicas. Ainda mais quando se considera que, com a relativa estagnação econômica das últimas duas décadas, aliada ao desemprego estrutural inerente ao modelo de desenvolvimento econômico atualmente em vigor, a exclusão social vem se acentuando e reduzindo o poder de pressão da sociedade, mesmo dos trabalhadores industriais, um importante grupo social de pressão na questão da segurança química e que tiveram papel ativo e fundamental em alguns exemplos apresentados, os quais minimamente atendiam aos princípios para a governança. Conclusão O Estado no Brasil, tanto quanto em outros países em industrialização, tem caminhado em um sério e perigoso processo de deterioração, com crescente alienação e indiferença às necessidades e demandas da população. Em um contexto como este, Finkelman (1996) observa que se torna premente a redefinição do papel do Estado em cada um dos níveis e ações que concernem à segurança química, em particular nas áreas que possuem responsabilidades mais diretas em relação ao tema, como as instituições que proveem diretamente atenção à saúde das populações e as que são responsáveis pelo controle e a proteção do meio ambiente. 154 A segurança química, como um sério problema a ser enfrentado por países como o Brasil, coloca a necessidade e o desafio de se constituírem novos arranjos societários nos níveis global, regional, nacional e local em busca de um modelo de desenvolvimento sustentável que tenha por base a equidade e a democracia. Outro desafio é se constituir, concomitantemente, uma ciência mais contextualizada na nossa realidade, baseada em abordagens integradas e participativas que possam incluir a análise de reações químicas, físicas e biológicas combinadas com reações sociais, políticas, culturais, éticas e morais, contribuindo para a busca de soluções mais amplas e duradouras. A segurança química não é um tema descontextualizado do mundo atual, em que a maioria da população do planeta vive excluída dos benefícios da modernização/globalização. Esta mesma população, no papel que lhe cabe na divisão internacional do trabalho, vem arcando com os riscos de um modelo de desenvolvimento iníquo em sua natureza e dinâmica. Poucas tentativas têm sido realizadas em anos recentes para retificar tal situação. Ainda que possa se considerar que muitos indicadores de progresso social – mortalidade infantil, educação, expectativa de vida e nutrição – melhoraram significativamente em termos de médias globais, milhões de pessoas no planeta, expostos à poluição química, ainda vivem a ausência de água potável e saneamento (CGG, 1995). FONTE: FREITAS, Carlos Machado et al. Segurança química, saúde e ambiente: perspectivas para a governança no contexto brasileiro. Cad. Saúde Pública. v. 18, n. 1, p. 249-256, jan-fev/2002. Disponível em: https://pdfs.semanticscholar. org/9127/0c0cbdfd5f5b7cad463bb713adc232184ca4.pdf. Acesso em: 19 maio 2019. https://pdfs.semanticscholar.org/9127/0c0cbdfd5f5b7cad463bb713adc232184ca4.pdf https://pdfs.semanticscholar.org/9127/0c0cbdfd5f5b7cad463bb713adc232184ca4.pdf 155 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 12676: Métodos para análise de documentos. Determinação de seus assuntos e seleção de termos de indexação. Rio de Janeiro: ABNT, 1992. BORGES, G. 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