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CORRUPÇÃO E SERVIÇOS PÚBLICOS

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CORRUPÇÃO E SERVIÇOS PÚBLICOS
Não se pode negar que a Administração Pública, no Brasil, encontra-se infestada por condutas imorais, ilegais e/ou ineficientes que impedem a efetivação dos direitos sociais da população.
A máquina pública tem sido usurpada por agentes inescrupulosos que visam, primordialmente, se propagar no poder e pouco se importam com o desenvolvimento efetivo do país. Sobre essa inversão de interesses, destaca Marcelo Gollo Ribeiro (2013):
É de se lembrar que todos aqueles que se aprofundam no conhecimento da história percebem que o povo sempre serviu mais aos detentores do poder que estes ao povo, sendo a corrupção e a má administração pública o corolário necessário da história, em todos os períodos e em todos os espaços geográficos.
Observa-se que muitas ações governamentais estão dissociadas do interesse coletivo, servindo exclusivamente ao interesse do administrador. “O fato é que a complexidade do sistema tributário brasileiro favorece, e muito, aos vilões da corrupção, sonegação e desperdício por má gestão” (LEAL, 2013).
Nesse diapasão, torna-se evidente ao estudo em voga, que a corrupção e a péssima aplicação dos recursos públicos são as principais razões para a ineficiência do Estado brasileiro na aplicação de recursos em serviços condizentes com a espessa arrecadação.
Embora não seja a única causa do insucesso do Estado brasileiro na prestação de serviços, pode-se dizer que a corrupção constitui a principal razão da baixa qualidade dos serviços públicos.
A corrupção é um verdadeiro câncer social que contamina a cada dia mais células do organismo político-administrativo brasileiro e destrói a dignidade do cidadão. Há quem afirme que o fenômeno da corrupção está inerente à própria natureza humana, por ser esta dotada de vícios e espertezas necessárias a sobrevivência e evolução da espécie.
Sobre a origem da corrupção no Brasil, Juliana Alves (2015) destaca:
[...] a verdade, é que no Brasil a corrupção está intimamente associada à história do país. Alguns historiadores afirmam que a corrupção já nasceu na época da colonização portuguesa. Os colonizadores vieram ao Brasil para explorar as riquezas naturais, sem se preocuparem com os índios. Aliás, é provado que os primeiros a 
serem corrompidos nesse país foram exatamente os indígenas, pois os portugueses os subornavam para conseguir tesouros brasileiros, os escravizavam e os roubavam.
É de se lembrar que, historicamente, o Brasil se constituiu a partir de um ato corrupto que resultou em seu descobrimento, tendo seu desenvolvimento marcado por condutas corruptivas desde a sua colonização até o sistema atual de gestão política.
O doutor Murilo Gaspardo (2013) afirma que em sentido amplo
a corrupção pode ser entendida como todo tipo de conduta que mobilize irregularmente recursos públicos em favor de interesses privados, em prejuízo do interesse público. Compreende tanto fraudes e superfaturamentos em licitações como o uso indevido de bens públicos e a ausência (ou o desrespeito) de critérios públicos e democraticamente estabelecidos na construção de obras e na prestação de serviços públicos. Portanto, a prática da corrupção não é exclusiva de políticos: também podem ser considerados corruptos os que oferecem suborno para evitar o pagamento de multas, sonegadores de impostos, servidores públicos que não cumprem suas atribuições, quem se vale de relacionamento com ocupante de algum cargo público para obter privilégios e, evidentemente, os que financiam campanhas eleitorais para que os representantes eleitos atendam prioritariamente os seus interesses, e não os da coletividade, dentre tantos outros exemplos.
Sabe-se que a corrupção é uma prática que ameaça a democracia de um país, enfraquecendo os valores morais até mesmos em nações desenvolvidas. A corrupção já surge com o próprio surgimento das primeiras civilizações e, atualmente, com a sua propagação, tem acarretado o descrédito nas instituições públicas e a precarização do serviço público.
É indiscutível que a aplicação de recursos públicos no Brasil, como em vários outros países, tem sido substancialmente infectada por ações corruptivas, que impedem a promoção da qualidade de vida da população, nesse sentido aponta a Controladoria-Geral da União (Cartilha sobre a Convenção Interamericana contra a Corrupção, 2007, p. 5):
A corrupção não é um fenômeno que ocorre de forma isolada no Brasil, tampouco é característica exclusiva da cultura brasileira. O problema se apresenta em escala mundial. A corrupção existe praticamente desde o surgimento da sociedade organizada e é uma realidade que afeta negativamente a efetividade das políticas públicas e o crescimento econômico de um país, tanto nas nações desenvolvidas como naquelas em desenvolvimento.
A quantidade de dinheiro subtraído pela corrupção é absurda, estima-se que são desviados dos cofres públicos do Brasil cerca de R$ 200 bilhões por ano, segundo a Organização das Nações Unidas. Sobre o prejuízo, Manoela Moreira (2015) destaca:
Esse dinheiro poderia triplicar os investimentos em Saúde ou Educação, ou ainda multiplicar por cinco os investimentos em segurança pública em todo país. Para cientistas políticos, a corrupção no Brasil é um fenômeno intrinsecamente político. Não é característica de um único partido ou grupo, são “as regras do jogo”, à maneira como o sistema político brasileiro está organizado que alimenta esse comportamento.
Trata-se de uma verdadeira crise ética, vivenciada no mundo inteiro, na qual os vilões políticos ocupam os cargos públicos com a estrita pretensão de satisfazer seus interesses pessoais e os de seus aliados políticos.
Por vezes, a predominância do interesse privado sobre o público reflete a sistemática do capitalismo selvagem, visto que as sociedades capitalistas giram em torno do lucro e encontram, numa estrutura administrativa enfraquecida, como a do Brasil, um cenário ideal para a capitação de capital, mesmo que de forma ilícita.
Nesse sentido, assevera Ruy Penna (2015):
[...] a corrupção é inevitável se a produção da riqueza social é organizada com base na propriedade privada dos meios de produção. Em outras palavras, a corrupção é inerente ao capitalismo precisamente porque o estado burguês é o que Marx denominou de “comunidade ilusória”, que nós aprendemos a chamar de “poder público” mas está sob o controle do poder privado do grande capital.
Um dos fatores que favorecem essa apropriação indiscriminada de capital é a ausência de criminalização do enriquecimento sem causa, isto é, não se exige que cidadão brasileiro, sobretudo que o agente público, comprove a origem lícita do seu patrimônio, ainda que esse seja incompatível com a sua renda habitual e tenha se multiplicado rapidamente e inexplicavelmente.
Recentemente, membros de entidades públicas ligadas ao meio jurídico propuseram à comissão parlamentar de reforma do Código Penal brasileiro, o endurecimento das penas para o crime de corrupção, e a tipificação do enriquecimento ilícito ou sem causa. O relator do anteprojeto,  procurador regional da República Luiz Carlos Gonçalves (2015), adverte:
não adianta ter pena severa para o crime de corrupção se não houver certas mudanças, modernizando a lei penal. Sou favorável à criminalização do enriquecimento ilícito, porque aí você não surpreende o ato da corrupção, que é feito às escuras, mas a consequência da corrupção, que é aquele acréscimo patrimonial indevido.
Quando atrelamos o crescimento da corrupção a insuficiência normativa, esbarramos em elementos institucionais intrínsecos ao sistema político brasileiro, cuja reforma integralizada do mesmo se perfaz indispensável para qualquer avanço ao fortalecimento da máquina pública para a defesa do capital público.
O maior óbice ao combate efetivo à corrupção, por meio de legislação mais severa, em verdade, é o fato de o legislador brasileiro ser o principal beneficiado com a fragilidade do sistema. E, quando os agentes políticos não são detentores de grande poder econômico, certamente defendem o interesse daqueles que odetém, e por razões óbvias: não se ganha eleição no Brasil com “trocados”. O macabro jogo político cria um ciclo viciante que constitui o ponto de partida da corrupção, qual seja, o financiamento eleitoral. Nas palavras de Murilo Gaspardo (2013):
A propósito do financiamento privado de campanhas eleitorais, observa-se que se encontra na raiz da corrupção política, pois, conforme as regras do jogo capitalista, quem investe quer retorno do investimento, o que pode ocorrer por meio de desvio de recursos públicos ou por meio da defesa dos interesses do financiador junto aos poderes do Estado. Portanto, as propostas de restrição do financiamento de campanha exclusivamente público ou restrito a contribuições modestas de pessoas físicas são centrais em qualquer tentativa de reforma política, embora são sejam suficientes. Isto porque, se é de conhecimento geral a prática do “caixa dois” no sistema atualmente vigente, ela pode persistir mesmo com as mudanças propostas.
Nesse cenário, não se vê outra forma de combater a corrupção pela raiz que não seja o reforço de mecanismos de controle e fiscalização do financiamento e dos gastos de campanha, inclusive com a limitação de seus custos, proibição de despesas que só geram poluição e não contribuem para o debate político, a exemplo da utilização de cartazes, faixas e panfletos, “santinhos” e outros.
 De certo, o combate à corrupção e a efetiva aplicação de recursos serviços de qualidade proporcionariam a concretização de direitos sociais que promovam a dignidade humana e corrijam a inversão de interesses existente, hoje, no sistema político administrativo brasileiro. A corrupção apresenta-se em muitos casos com finalidade política, nos quai se favorecem particulares em troca de apoio político. Nesse sentido acrescenta o Blog do Cidadão (2011):
há [...] governantes, funcionários públicos ou representantes eleitos que desviam recursos públicos, indiretamente, para privilegiar aqueles que lhe dão apoio político ou eleitoral promovendo, também, o enfraquecimento das relações horizontais, cidadão a cidadão, diminuindo a capacidade de colaboração entre esses indivíduos e de mobilização da comunidade em prol do bem comum.
Na atual situação, os cidadãos, principalmente os mais pobres, muitas vezes, acabam compondo o ciclo corruptivo, por se depararem com a necessidade existencial de recorrer aos “padrinhos políticos” para obter assistência individualizada para sua moradia, alimentos, atendimento médico, e outros serviços essenciais a sua subsistência, os quais deveriam estar disponíveis a toda a coletividade em quantidade e qualidade suficientes. 
A cultura de favores políticos individualizados também apresenta o outro lado da moeda, conforme destaca Gaspardo (2013):
Por sua vez, os detentores do poder econômico também podem pedir seus “favores”, como facilitar a aprovação de um financiamento de um banco público ou de projeto qualquer que se encontre atrasado em virtude da ineficiência da burocracia. Ou seja, a qualidade dos serviços públicos e a existência e cumprimento de regras claras para sua prestação contribuem com a substituição da cultura do favor pela prática da cidadania e, portanto, com o combate à corrupção.
Esse “clientelismo” corrompe o tecido político brasileiro e obsta qualquer avanço social. Tal situação corresponde a negociação do administrador que presta serviços de forma individualizada, com dinheiro advindo da coletividade, em troca de apoio eleitoral de seus administrados que, de outra forma, não os receberiam de forma ágil e eficaz.
Em sentido estrito, os crimes de corrupção praticados por agentes públicos que mais impedem a efetivação das políticas públicas em condições dignas são: Corrupção Passiva, Peculato e Concussão.
Não menos lesivos, os crimes contra a administração pública, praticados por particular, também prejudicam a aplicação de recursos. Os maiores óbices a um retorno tributário condizente são: Corrupção Ativa, Tráfico de Influência e Impedimento, perturbação ou fraude de concorrência. Geralmente, a conduta criminosa do particular atrela-se a conduta criminosa do agente público.
Para diferenciar as duas espécies de crimes contra a administração, necessário se faz a apresentação do conceito de agente público abordado no Código Penal Brasileiro, decreto-lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940, in verbis: “Art. 327 Considera-se funcionário público, para os efeitos penais, quem, embora transitoriamente ou sem remuneração, exerce cargo, emprego ou função pública.”.
Apesar da opção do legislador pelo termo “funcionário”, as normas penais previstas nos artigos de 312 a 327 do Código Penal, aplicam-se a amplitude das pessoas que exercem qualquer função pública. O vocábulo também possui abordagem divergente na Constituição Federal de 1988, cujo texto refere-se ao agente público com o termo “Servidor”.
Entretanto, resta pacífico entre os doutrinadores que essa divergência não pode constituir obstáculo para a responsabilização dos agentes, seja em esfera penal, cível ou administrativa. “Daí a necessidade de adoção de outro vocábulo, de sentido ainda mais amplo do que servidor para designar as pessoas físicas que exercem função pública, com ou sem vínculo empregatício.”. (DI PIETRO, 2013, p.581)
Dessa feita, também interessa ao estudo, o conceito de agente público definido na Lei de Improbidade Administrativa, lei nº 8.429, de 2 de junho de 1992, in verbis:
Art. 2° Reputa-se agente público, para os efeitos desta lei, todo aquele que exerce, ainda que transitoriamente ou sem remuneração, por eleição, nomeação, designação, contratação ou qualquer outra forma de investidura ou vínculo, mandato, cargo, emprego ou função nas entidades mencionadas no artigo anterior.
No que pese o estudo de tais conceitos, por hora, interessa, tão somente, a eficaz diferenciação do Agente Público e do Particular na prática criminosa. Este último é genericamente compreendido por todo aquele que não for agente público, ou seja, todo aquele que não exercer funções em órgão da administração direta e indireta.
A modalidade passiva da corrupção, está tipificada no artigo 317 do Código Penal, in verbis: “Solicitar ou receber, para si ou para outrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela, vantagem indevida, ou aceitar promessa de tal vantagem:”. O agente ativo é o agente público e para caracterizar o crime basta que este incorra em uma das condutas tipificadas.
A corrupção ativa, praticada por particular contra a administração pública, está tipificada no artigo 333 do CP, in verbis: “Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:”.
Outra prática criminosa bastante comum no Brasil, é o peculato, que corresponde a conduta de apropriação indevida de parcela de patrimônio público ou particular por agente público, nos termos da tipificação exarada no artigo 312 do CP, in verbis: “Apropriar-se o funcionário público de dinheiro, valor ou qualquer outro bem móvel, público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo, ou desviá-lo, em proveito próprio ou alheio:”.
Nota-se que para caracterizar o tipo penal basta que a apropriação ocorra no momento em que o agente tinha a posse em razão do cargo público, podendo ser bem público ou privado e em seu benefício próprio ou de outrem. O criminalista Rogério Grego (2011, p. 364) acrescenta:
O importante, para efeito de configuração do delito em estudo, é que o funcionário público tenha se apropriado do dinheiro, valor ou bem móvel, seja ele público ou particular, de que tem a posse em razão do cargo. Isso significa que o sujeito tinha uma liberdade vigiada sobre a coisa em virtude do cargo por ele ocupado. 
Ainda entre os crimes praticados por agente público que representa grande lesividade a efetivação da prestação de serviços é a concussão, conforme tipificação do Código Penal, em seu Artigo 316, configura o crime de concussão simplesmente a conduta de exigir vantagem indevida, para si ou paraoutrem, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela.
Vê-se que não é necessário que o agente receba a vantagem exigida, vez que o núcleo do tipo está na conduta de exigi-la. Sobre a classificação do crime de concussão, Wellington Saraiva (2015) destaca:
É preciso que o agente efetivamente exija a vantagem, não basta que a peça, que a solicite. Quando servidor público apenas pede vantagem ilícita devido à sua função, isso caracteriza outro crime, o de corrupção passiva, previsto no artigo 317 do Código Penal.
Se a vantagem for oferecida por alguém ao agente público, não haverá crime de concussão, mas corrupção ativa, de acordo com o artigo 333 do Código Penal.
Se a vantagem não for destinada ao próprio servidor público ou a pessoa indicada por ele, mas para o próprio órgão ou ente público, também não ocorrerá concussão, mas outro crime, denominado excesso de exação, previsto no artigo 316, § 1.º, do Código Penal, como se disse.
A vantagem exigida pelo agente público precisa ser indevida, isto é, injusta, ilegal. Pode ser presente ou futura, ou seja, o agente pode pedir algo para receber imediatamente ou em outro momento.
Noutro panorama, existem outros crimes contra a administração praticados por particular que, assim como a corrupção ativa, barbarizam a relação público-privada no desenvolvimento do país. Similar à concussão, está o tráfico de influência, conforme artigo 332, do Código Penal, corresponde a conduta criminosa de “Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função” (CP, 1940).
Sobre a questão, Roberto Amaral (2015) aponta:
No Direito, o tráfico de influência consiste na prática ilegal de uma pessoa se aproveitar da sua posição privilegiada dentro de uma empresa ou entidade, ou das suas conexões com pessoas em posição de autoridade, para obter favores ou benefícios para terceiros, geralmente em troca de favores ou pagamento.
Trata-se de crime de difícil constatação por se confundir com as negociações licitas comuns na administração pública para consecução do seu objeto. Nesse sentido, a folha de S. Paulo publicou periódico (2012) no qual afirma que
A dificuldade de provar a existência desse crime é que há uma linha tênue entre representar os interesses de alguém e traficar influência. Um advogado, por exemplo, é contratado para representar os interesses do cliente. Ele não está dizendo que pode ou consegue ter acesso especial ao servidor público. Sua função é lutar pelos interesses de seu cliente, e isso pode envolver tentar convencer servidores públicos de que os interesses de seu cliente estão corretos. Isso é legítimo.
Um dos princípios feridos aqui é o da impessoalidade, e é exatamente o bem juridicamente tutelado, a impessoalidade do serviço público. A lei tenta impedir que o particular obtenha tratamento diferenciado por parte do agente público que detenha o poder de agir em seu benefício de forma individualizada, e principalmente que receba vantagem indevida em troca.
Todos esses crimes são praticados com ampla reiteração em decorrência da prevalência da impunidade brasileira. Muitos casos de desvio de verbas públicas não chegam sequer a serem apreciados pelo poder judiciário. “Infelizmente o tratamento brando dado aos casos de corrupção no Brasil contribuem muito para a continuidade delitiva dos criminosos, uma vez que sabem que pouco será feito na esfera penal contra eles, isso se forem ‘pegos’ pela justiça.”. (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2015)
Os episódios de corrupção da última década revelam a morosidade e a ineficiência do Estado na punição adequada dos agentes corruptos. Em junho de 2005, foi descoberto o mensalão, um esquema grandioso de compra de votos envolvendo Deputados Federais, de diversos partidos políticos, para obter aprovação dos projetos do governo.
O esquema só teve julgamento iniciado em 2012, sete anos após o Supremo Tribunal Federal ter recebido a denúncia do Ministério Público contra os quarenta envolvidos no esquema, dos quais apenas vinte e cinco obtiveram condenação. Em 2013, a Suprema Corte aceitou a interposição de mais um recurso, os embargos infringentes, que em reexame das condenações acabou por absolver mais oito réus do crime de formação de quadrilha. (Rede de Escândalos, Veja on line, 2014)
O julgamento do mensalão teve 69 sessões plenárias e terminou em março de 2014, muitos dos condenados receberam penas tão brandas que já estão trabalhando fora da prisão, e ao fim do dia retornam ao cárcere. Outros foram inclusive liberados para cumprir o restante da pena em casa. Sobre as causas dessa morosidade, Mário Antônio Guerreiro (2013) afirma:
Cabe ao Poder Judiciário julgar de acordo com leis que não foram feitas por ele e muitos de seus membros não as aprovam, mas as obedecem por dever de ofício. As causas da morosidade se devem, em boa parte, às normas do direito processual sobrecarregado de recursos que permitem advogados empurrar um processo com a barriga até a prescrição do mesmo. 
Recentemente, a Polícia Federal, por meio das investigações da operação lava jato, desvendou o maior escândalo de corrupção já ocorrido no Brasil, constituído em um esquema antigo de desvio de verbas na Petrobras com o intuito de financiar as campanhas políticas de partidos aliados do governo, além de enriquecer os envolvidos. As investigações estimam que o “Petrolão" lavou pelo menos 10 bilhões de reais do país, enquanto o mensalão desviou cerca de 173 milhões de reais dos cofres de instituições públicas e privadas. (Rede de Escândalos, Veja on line, 2014)
O Ministério Público Federal fez um levantamento no qual revelou que, entre 2013 e 2015, ajuizou-se cerca de 5.445 ações de improbidade administrativa em face de agentes públicos e de particulares beneficiados por irregularidades que geraram danos ao erário público. (MINISTÉRIO PÚBLICO FEDERAL, 2015)
Nesse panorama caótico, o Ministério Público Federal apresentou, em março deste ano, proposta com dez medidas para aprimorar a prevenção e o combate à corrupção e à impunidade. Sobre a iniciativa o órgão destaca (MPF, 2015):
As propostas de mudança legislativa buscam evitar o desvio de recursos públicos e garantir maior transparência, celeridade e eficiência ao trabalho institucional, com reflexos no Poder Judiciário. Esse conjunto de propostas tem como destinatários o Congresso Nacional e o Conselho Nacional de Justiça.
A ação do MPF brasileiro consubstancia-se na mobilização mundial acerca do desenvolvimento de instrumentos que promovam a prevenção, a criminalização e a recuperação de ativos desviados pela corrupção.
Essa ideia de cooperação internacional para combate à corrupção vem se difundindo desde a década de 90, e revela o consenso na comunidade internacional de que a propagação da corrupção contribui para o aumento da pobreza e impacto negativamente na agenda internacional. (Cartilha sobre a Convenção Interamericana contra a Corrupção, 2007)
É cediço que as sociedades não conseguirão se desenvolver de maneira justa e democrática com o avanço dessa prática. Diversos governantes de todo o mundo tem celebrado acordos multilaterais passando a se mobilizaram no intuito combater a corrupção.
 A administração pública brasileira tem se distanciado do interesse público e, atualmente, atende, em primazia, os interesses do administrador e de seus aliados. Essa inversão de prioridades torna evidente o interesse dos governos de garantir benefícios aos seus aliados como forma de propagar-se no poder, por quantos mandatos lhes forem permitidos. 
De tal feita, a sociedade dependente de serviços públicos, do mais básico ao mais supérfluo, se divide entre aliados da posição e aliados da oposição, e por compreenderem o funcionamento do sistema, simplesmente disputam o “poder pelo poder”, uma vez que tem maior acesso às regalias e às influências, inclusive sobre a efetivação dos serviços, aqueles que detêm o poder sobre a máquina pública.
Essarepulsiva vontade de se manter no poder, leva o grupo do governo a efetuar o gasto público com certa estratégia, executando ações que lhes favoreçam a publicidade e a promoção pessoal. São cada vez mais espessas, as despesas públicas em ações que não atendem, diretamente, as necessidades da população, mas que enchem os olhos dos contribuintes desatentos. ISSO TBM É CORRUPÇÃO!!!
Essa é outra “torneirinha” aberta nos cofres públicos é tão grave quanto a Corrupção em sentido estrito, pois afeta a qualidade da prestação de serviços básicos, é o gasto desnecessário com festividades e apoio cultural controvertido. Também as despesas excessivas com paisagismo e decoração temática das áreas públicas, mais se atrelam a propagandear os governantes do que urbanizar as cidades e fomentar o turismo, como se alega, além de ser mais uma porta para os desvios de verbas públicas.
É indiscutível que, assim como o esporte, a cultura e o lazer são direitos sociais previstos em texto constitucional, devendo o Estado fomentá-los ao cidadão. O que não se apresenta de forma coerente é a atenção do administrador voltada para tais ações e, por outro lado, o seu total desleixo quanto a primordial missão de erradicar a pobreza, reduzir as desigualdades sociais e promover a dignidade da pessoa humana.
Esta última, prevista logo no artigo 1º, inciso III, da Constituição Federal, só será efetivada com implementação de políticas de melhoria de saúde e educação. Quase 20% da população brasileira não tem acesso a saneamento básico e 10% ainda são analfabetos. (PNUD, 2009).
Mesmo com tais apontamentos, não se vê políticas tão efetivas nessas áreas, como na realização de grandes eventos culturais, contratação de artistas etc...
Gigantescos investimentos em eventos esportivos e culturais são excelentes exemplos da péssima destinação do dinheiro público. Empenhar montanhas de recursos públicos para eventos como estes, em um país onde a população agrura em precariedade de saúde, segurança e educação, parece mesmo se tratar de uma política “pão e circo”. ESSA É UMA VEERDADEIRA CORRUPÇÃO DISFARÇADA!! AQUI, NÃO HÁ O DESVIO DIRETO DE VERBA PÚBLICA MAS O DIRECIONAMENTO OPORTUNISTA DE RECURSOS, QUE DEVERIAM ATENDER AS REAIS NECESSIDADES DO PAÍS, EM AUTO PROMOÇÃO DE GOVERNOS E GOVERNANTES!!!
ISSO POR QUE, tais despesas muito pouco difundem a prática esportiva e cultural, mas muito elevam, a popularidade dos governantes realizadores.
Notadamente, o administrador brasileiro empenha-se muito mais em realizar ações notáveis e que entretém a população como forma de desviar-lhes a atenção do que realmente precisam enxergar.
Nesse panorama, compete ao Poder Legislativo exercer com premissa o seu papel constitucional de fiscalizar os atos da administração pública. Entretanto, o que se vê no cenário político atual é uma submissão daquele ao Poder Executivo em troca de “brindes” como ministérios, cargos e emendas parlamentares. Com isso, cada vez mais o papel político dos parlamentares se limitam à defesa de interesses pessoais e a realização de favores, fato que enfraquecem o debate ideológico e de projetos que modifiquem essa política mercenária e favoreçam a coletividade.
Além dessa verdadeira compra de apoio dos parlamentares por parte do Poder Executivo, há importante fato que expressa o motivo de o Legislativo deixar de fiscalizá-lo e de controlá-lo como deveria, como questiona, brilhantemente, Luís Flávio Gomes (2015):
Vamos imaginar a existência de um governo acusado intensamente de ser corrupto e incompetente, mas cujo desencadeamento do impeachment (da sua derrubada) esteja nas mãos de um político comprovadamente desonesto, apoiado pela oposição. Nessa situação, o que é estrategicamente aconselhável (do ponto de vista dos envolvidos): um mata o outro (politicamente), os dois se deixam matar (ficam inertes aguardando os acontecimentos) ou os dois lutam pela sobrevivência (política)?
A crítica do autor é clara em relação a amplitude dos agentes políticos brasileiros envolvidos em corrupção de tal forma que uns fazem vista grossa aos crimes dos outros, para que assim, todos continuem a ocupar os seus cargos e cometer os seus delitos. Em verdade, só quem consegue derrubar um político é outro político, e o mais bárbaro é que nenhum deles, se o fizer, fará pelo cumprimento da lei e por interesse da nação, mas por exclusivo interesse do jogo político.

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