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Esquizoanalise e Producao do Conhecimento Jorge Bichuetti Bpi

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ESTE ARTIGO FOI DISTRIBUÍDO POR:
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CEL – Célula de Entretenimento Libertário - Célula BPI
BPI – Biblioteca Pública Independente
ESQUIZOANÁLISE E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO: O USO DO ESQUIZODRAMA NA PESQUISA
 
Jorge Bichuetti
Maria de Fátima Oliveira
Margarete Amorin
 Belo Horizonte -  2004
Instituto Felix Guattari
 Monografia apresentada no Curso de Especialização
em Análise Institucional e Esquizoanálise - 
Instituto Felix Guattari / Unipac
 
- Introdução. Saberes, magia. A magia do saber e o saber da magia
- A desmistificação do não- saber
- Deleuze e o método
- Deleuzear
- Esquizoanálise e a produção do conhecimento
- O esquizodrama
O uso do esquizodrama na pesquisa
· Exercícios Klínicos e pesquisa esquizodramática
· Cartografia e Esquizodrama:
O perambular surrealista e o acontecimento
Outras palavras
Referências Bibliográficas
 
Introdução. Saberes, magia. A magia do saber e o saber da magia
         
Como funciona no lugar do que é , e, igualmente, o é pelo e, árvore pela grama que medra entre as pedras do caminho configuram trocas que fertilizam as produções da esquizoanálise, conhecimento e jeito de viver.
A esquizoanálise ou pragmática universal de Deleuze e Guattari inova, inventivamente, a produção do conhecimento.	
A ciência, nos seus paradigmas dominantes, se dá como interpretação das regularidades, e, assim, explicação do mundo ordenado e quadriculado das entidades molares; já a esquizoanálise desvela-se um caçar linhas de fuga; e privilegia a potência inventiva que não está nem no sujeito, nem no objeto, nem nas idéias, nem nas coisas, mas sim no entre.	
O entre, como espaço de invenção/lugar da produção configura a esquizoanálise, teoria e prática: um produto essencial e um elemento dos dispositivos próprios do agir esquizoanálise. Supera-se a causalidade, deste modo; e se interessa, então, pela transversalidade dos funcionamentos inventivos.
O mundo gira e se repete, ordenado na lógica científica; para a esquizoanálise esta porção do real é apenas o instituído, o organizado, pequena parcela da produção da realidade. Escapa-lhe o caos, a caosmose. A invenção. A produção de vida. A produção de realidade metamorfoseante. A realteridade. O virtual. A mudança. O acontecimento. O Devir.	
Neste sentido, ela se retrata: Teoria da multiplicidade e filosofia da diferença.	
  
Mais: um materialismo neo- funcionalista maquínico, empirismo transcedental.	
O devir é  a própria essência da realidade.	
 
O espaço estriado da produção do conhecimento científico nega a produção de saber da cultura popular e do que se sabe pela experiência; nega os outros saberes e classifica de pensamento mágico. O fabular e o delírio, o folclore e a arte, a cultura popular e o saber inventivo do que experencia um corpo são desclassificados como crendices.	
  
Tudo fora da ciência é magia...	
 	 
O saber científico se nomeia verdade, lei natural, realidade.	
  
 E no mágico mundo dos conceitos, afectos e perceptos fabricados em outros domínios vê ela o reino do falso.	
   
Qual a potência do falso?...	
  
 No campo dos saberes é a de se manter livre dos procedimentos científicos que subestima o que pode um corpo e que sabe um povo.	
  
 Neste trabalho, cartografaremos uma viagem pela produção do conhecimento a partir do uso do esquizodrama.
   
O dispositivo de pesquisa- engenhoca mutante -  o saber/fazer esquizoanalítico num devir investigação aonde se fabrica um espaço liso na própria  ciência para que esta se devenha alegria de se inventar bons encontros e destes um saber imanente à própria mudança.
 
A  DESMISTIFICAÇÃO  DO NÃO -  SABER
 
1.INTRODUÇÃO.
            
'' Se tanta tristeza, pesar e desgosto,
Senti pelo rosto
Correr-me o suor.
Se neste universo só reina tortura   
Devo ir à procura
De um mundo melhor ''
Desilusão / Patativa do Assaré.
 
O Processo de institucionalização da ciência, do saber científico, como verdade única, absoluta, inquestionável, soberana e de validade universal, afirmou-se definindo todo  outro e qualquer conhecimento como não saber.	
O saber, assim, expropriou as pessoas e as comunidades do conhecimento que se adquire ao longo do tempo nas próprias experiências vitais.	
O estatuto de não-saber desqualifica, marginaliza e silencia o saber das pessoas e dos grupos cujo pensar, sentir e agir não se dá legitimado pelas regras e procedimentos do saber instituído.
 [No horizonte, um retrato. Retrato des-colorido, desfocado. O não-saber curvado, se revela, então, silêncio, voz sussurante, opinião desclassificada e práticas marginais... Práticas estas  que se  re-vistas pelo foco dos interesses populares, revelar-se-iam práticas resistentes, resistência clandestina, de um povo que perdeu o chão-território e o seu universo de referência   de sua própria história e se viram transformados numa gente sem-voz.]	
Voltemos às nossas reflexões...	
O paradigma científico hegemoniza a produção de verdades numa relação dialética com o não-saber.
Relação de contradições camufladas...	
   ...Seu processo de dominação e mistificação da realidade ocorre fantasiado pelo vestuário da neutralidade e justificado pela sua pretensa finalidade.	
O saber toma a si como um ideal transcendente da própria existência, harmonioso e funcional com o não saber, existindo para servir a este; sendo, deste modo, cuidado e solução. Ele é um ato  de cuidar, velar, suprir e prover a impotência e a ignorância depositado, então, no não-saber. 
 [No horizonte, outro retrato. Retrato colorido e ampliado. Um poster, um outdoor. O saber ereto, vistoso, cheio de bondade, paternal. Palavreado e tecnologias sofisticadas, informações. Lógico, matemático, objetivo... Banco de dados... Leis gerais, produtos de laboratório. Borrados estão os interesses das suas práticas colonialistas; não há culturas diferentes. A ciência é bom senso...]
Retomemos nossas reflexões.	
De fato, o não-saber, neste quadro, passa a se beneficiar, passivamente e de forma dependente, dos produtos do saber; tornando-se devedor, carente, necessitado.	
Perde, desconecta-se da sua capacidade de pensar, sentir, solucionar e agir...	
Cria-se, neste processo, pessoas e coletivos incapacitados. Incapacidade naturalizada pela dominação do saber, saber científico... Ùtil, fértil; e, também, eficiente, eficaz verdadeiro... Mais saber.
Uma situação de desvalia é produzida.	
Desvalia do conhecimento dado pelo senso comun, pela cultura popular, pelos experimentos vitais e pelas próprias tradições históricas das pessoas e dos coletivos.
	
Desvalia suprida pela pujância do saber.	
Saber opressivo. Paternalista. Que nos coloniza... à la Macunaíma -  nos embranquece distanciando-nos pouco-a-pouco da terra em que nascemos negros.	
Desenraízados, descolorimo-nos.	
Uma vez  territorializados na pátria do não-saber, somos agora todos protegidos pelo pensar e agir dos especialistas que passam a deter em si a capacidade do saber e, nela o que necessitamos para sobreviver e viver.	
 [No horizonte, um novo retrato. Um retrato distorcido pelo jogo confuso das letras e palavras do indizível dos especialistas.]	
Bíblia contorcida:
'' Conheceres a verdade... Sereis livres.
 Desconhecereis a verdade e o não-saber vos fará escravos.''
2.NÃO-SABER E ALIENAÇÃO
''Sou sertanejo e me orgulho
Por conhecer o sertão
Durmo na rede e embrulho
Com um lenço de algodão
De alpercata de rabicho
Penetro no carrapicho, 
Sofrendo a vida penosa
Do trabalho do roçado
E por isso sou chamado
Poeta de mão calosa.
                  ...
Sou sertanejo e conheço 
Meu sertão em carne e osso,
Trabalho muito e padeço
Com a canga no pescoço,
E trago no pensamento
Meu irmão de sofrimento
Que, no duro padecer,
Levando o peso da cruz,
É quem trabalha e produz 
Para a cidade comer.''
   O Retrato do sertão/ Patativa do Assaré 
 
Foucault desnudou as entranhas do saber e  neste strip-tease viu os emaranhados do poder.
Marx e sua teoria da alienação mostra-se atual.
['' Existirmos a que será que se destina '' Caetano]
Para Marx, segundo Vásquez,a alienação é uma relação social onde se  consuma      o domínio do produto sobre os produtores e uma problemática do não reconhecimento de si em seus produtos, em suas atividades e nos demais homens.
Em síntese: a alienação é a pauperização física e moral do trabalhador e a sua transformação em mercadoria.
O homen não se reconhece em sua atividade. Ele se vê exterior.
Desvalido. Nada possui, nada sabe.
O trabalho dividido, fragmentado -  saber e fazer, e um fazer cada vez mais parcializado -  separa o homem do produto de sua ação e a mercadoria torna-se fetiche.
O homen coisificado, realiza; mas se vê desapropriado do seu fazer.
Realiza, porém, já não sabe que tem em si a potência do saber, saber transformador, saber oriundo da intimidade que se dá entre ele e a vida no próprio processo de trabalho.
E ele, o agente da vida, vê-se despossuído, sem saber; o não-saber que submisso idolatra o saber da mercadoria e o saber que através da divisão social do trabalho, também se fez mercadoria.
Alienado, vê o império do saber...
E a ele se submete. Desumaniza-se, porque, então, teme criar, inventar; conceber, transmutar...
 
3.A DESMISTIFICAÇÃO DO NÃO-SABER: UM EFEITO INSTITUINTE
'' Sinhô dotô, meu ofiço
É servi ao meu patrão.          
Eu não sei faze comiço,
Nem discuço, nem sermão;
Nem sei as letras onde mora,
Mas porém, eu quero agora
Dizê, com sua licença,
Uma coisa bem singela,
Que a gente pra dizê ela
Não precisa de sabença.
               ...
Iscute o que eu tô dizendo,
Seu dotô, seu coroné:
De fome tão padecendo,
Meus fio e minha muié.
Sem briga, questão nem guerra
Meça desta grande terra
Umas tarefa pra eu!...
Tenha pena do agregado
Não me deixe deserdado
Daquilo que Deus me deu.''
   A terra é naturá /Patativa do Assaré
O saber instituido, saber-verdade, relaciona-se com a vida gestando imanente às relações do saber um poder.	
O saber e não-saber, assim cristalizam-se. Tornam-se entidades molares, sustentadas pela segmentaridade rígida, circular, das corporações, do mundo dos experts.	
O saber apropria, então, da capacidade de analisar e de gerenciar os processos da existência.
Impõe-se e desta verticalidade formata sob sua lógica uma aparente inevitabilidade de que os encontros e os coletivos funcionem cerceados e dependentes de ações e intervenções heteroanalíticas e heterogestivas.
Relações territorializadas e imersas na superfície de registro e controle que acabam por condicionar um predomínio no campo do saber de uma produção mantenedora do status quo, produção de reprodução e produção de antiprodução.	
Nota-se o vínculo do saber com o instituído e o organizado, terror ante o novo, quando ao observar as suas relações com o não-saber e outros saberes minoritários, constatamos que estas se dão polarizadas pelo pólo paranóico.	
O saber, nesta compreensão, torna-se um benefício e um obstáculo.	
Beneficia a vida com seus produtos.	
Mas obstaculiza o novo, o diferente... a utopia... Já que se mantém subsumido pela realidade tal qual esta se revela e impõe. Sendo, portanto, quase sempre um instrumento-função dos mecanismos de dominação, exploração e mistificação da sociedade.	
Os proprietários do saber, subjetivados no lugar seguro do espaço estriado, dificilmente se desterritorializam e desterritorializam este universo de referência, esta relação de poder e dominação.
Eles são... São experts...	
Nada veêm, escutam, ou sentem; além ou aquém do que  o seu estatuto de especialista prescreve.
Já os historicamente despossuídos do saber,  o não-saber, podem em determinadas circunstãncias se desterritorializarem e desterritorializarem esta  unidade-função saber-não-saber proscritiva do novo, e, assim, dispararem  um funcionamento aonde não mais existindo saber-não-saber, mais sim saberes diferentes transversalizem os encontros e os coletivos que, então, passam a criativamente vivenciarem  numa polarização esquizo, processos autogestivos e autoanalíticos.	
O não-saber conformado pela segmentaridade rígida da especialidade, pelo poder da verdade-saber do cientificismo, gesta subjetividades assujeitadas que tendem passivamente  a  reproduzirem o instituído.
Em algumas circunstãncias, contudo, são elas potencialmente sensíveis à ruptura com as normas, regras, valores do existir hegemônico.	
Guattari -  no  Caosmose -  diz que a loucura, a arte, a infância e a paixão são situações fecundas; aberturas ao virtual, ao diferente, ao novo. À realteridade segundo conceito desenvolvido por Gregório F. Baremblitt: é a instância do virtual, do novo, no inusitado, dos processos criativos -  caósmicos, imanente a realidade, que é no cotidiano negada, suprimida, cerceada e não -  percebida.	
A miséria, a dor, a desvalia parecem ser situações próximas das chamadas: situações caósmicas de produção do diferente e novo a partir do caos, dos furos e fissuras da ordem.	
Entretanto, estas situações por si mesmas não se realizam na sua potência disruptivas.
São situações-limite, potencialmente disruptiva que se agenciadas, articuladas num dispositivo de mudança opera lugar e funcionalidade para a produção de novos saberes, pela interlocução transversal de saberes diferentes.	
Desmistifica-se, assim, o saber num ato de torná-lo apenas mais um saber, outrora único e absoluto.
Desmistifica-se, também, o não-saber num ato libertário de resgate do saber oriundo das experiências vitais, o saber do que pode o corpo, os coletivos... e do saber que esconde e revela as entranhas das  nossas histórias.
 
4.NOVOS SABERES. DO BOM-SENSO AO PARASENSO
''Mas porém, eu não invejo
O grande tesôro seu,
Os livros do seu colejo,
Onde você aprendeu.
Pra gente aqui sê poeta
E fazê rima compreta,
Não precisa professô;
Basta vê no mês de maio
Um poema em cada gaio
E um verso em cada fulô.''
Cante lá, que eu canto cá/Patativa do Assaré.
O desmonte do não-saber é de fato um efeito instituinte. Produto e produtor...	
Sem ele, não há autogestão, nem autoanálise. E os processos  autogestivos e autoanalíticos no seu desenvolvimento provocam o desmonte do não-saber e libera a capacidade de fabricar saberes, novos saberes.
No dia-a-dia, o senso comun é desclassificado. Pede-se bom senso...	
Todavia, classifica-se o bom senso pela sua sintonia com o saber científico.	
Monopoliza-se a verdade. Uniformiza-se as opiniões.	
Hierarquiza... Tem-se bom senso quem segue os trilhos do saber maior.	
Tudo ciência...	
E a ciência tudo explica.	
Dela, a norma. O bom senso...	
Idolatra-se o bom senso. Ainda que cinzento, utilitarista, excludente.	
Ele amordaça o diferente. Os saberes menores...	
Serve a ordem, ao real do previsto e prescrito.	
Exclui o virtual, o novo, a mudança. A utopia ativa.	
Fabrica cópias. Robôs... Robôs práticos e pensantes.	
Nega a potência do diferente, da multiplicidade; o singular...	
Construir pelo surgimento do novo é transversalizar os encontros numa constante liberação. Liberação de algo...	
Libera-se o pensar no pensamento, o pensamento da representação. A diferença da identidade.
E libera-se do bom senso um parasenso.	
No paradoxo dos encontros, novos saberes. Saberes que emergem como fulgurações de uma vida implicando  '' fiapos de centelhas que saltam de um lance de produtividade a outro.''
Pode-se, assim, construir saberes. Novos saberes, que é a própria vida de pura imanência -  liberta  -  e concretizada  pela máquina de saberes diferentes, não mais hierarquizados, que então, rompe o silêncio, a passividade e a ignorância e se torna consistente e fecunda nos dispositivos/agenciamentos autoanalíticos.
Neles, um novo modo de viver... Autonomia.	
Também, um novo lugar para os experts -  peças articuladas a outras peças onde saberes diversos, diferentes se imbricam num processo de afirmação da vida, de um novo paradigma, o paradigma ético- estético.
 
5.CONCLUSÃO: O QUE PODE O CORPO?... PODE SABER?
Desmistificando o não-saber, vemos  emergir um processo transformador das relações do homem e dos coletivos com as verdades necessárias para clarear, modificar e transmutar às suasinserções no mundo.
Antes, e ainda quase sempre, tão- somente o especialista detinha o saber:
'' Quando aparece um sujeito,
De gravata e paletó,
Todo alegre e satisfeito,
Como quem caça um xodó,
O matuto experiente
Repara pra sua gente, 
E, sem tê medo de errá,
Diz, com um certo desgosto:
Ele vem cobrá imposto
Ou pedi pra nóis votá. ''
Vida Sertaneja/Patativa do Assaré.
  
O não- saber era e é puro silêncio.	
Ou, apenas práticas marginais.	
Deste modo, institui-se e reproduz um jeito de compreender e gerir a vida, baseado em relações verticais de dominação e poder.	
Só a ciência pode...	
Ao se desmistificar o não-saber e liberar o homem da sua submissão à lógica do bom senso, senso científico, libera a produção de um parasenso. Novos saberes...	
Novos saberes -  força instituinte...	
Descortina-se a vida e a vida revela o que pode o corpo, um corpo que pode saber nos afectos e percepctos que o mobiliza e que ele produz.	
O corpo pode saber...	
A escola, o livro, o tubo de ensaio, também; porém, não só eles sabem.	
Autoanálise e autogestão -  assim, depende da capacidade de se transversalizar saberes diferentes, desmistificar o não saber e liberar o corpo na sua potência de vida que é literalmente, uma sapiência visceral.
'' Mas a grande humanidade
Que de tudo qué sabê,
Nunca adivinha a verdade
Do que vai acontecê.
E tem bichinho servage
Que, com a sua linguage
E a musga da sua voz, 
Conta tudo certo e exato
Apois tem bicho no mato
Que sabe mais do que nóis ''
A Festa da Maricota/Patativa do Assaré.
 
Referências Bibliográficas
'' Porém, se na eternidade
A gente tem liberdade
De também sentir saudade,
Será grande a minha dor,
Por saber que, nesta vida,
Minha viola querida
Há de passar constrangida
Às mãos de outro cantador. ''
Minha Viola/Patativa do Assaré.
            
· Aliez. E (org). Gilez Deleuze: uma vida filosófica. RJ, Ed. 34, 2000
· Assaré,Pativa do. Cante lá que eu canto cá. Petrópolis, Vozes, 2000
· Baremblitt, G. Compêndio de Análise Institucional. RJ, Rosa dos tempos, 1994
· Baremblitt, G. Introdução á Esquizoanálise. BH, Inst. Félix Guattari, 2003
· Baremblitt, G. Saber, Poder, Quehacer Y Desejo. Buenos Aires, Nueva  Vision1988
· Foucault, M. Microfísica do poder. RJ, Graal, 1990.
· Freire, P. Pedagogia do Oprimido. RJ, Paz e Terra, 1979
· Touraine, A. Critica da modernidade. Petrópolis, Vozes, 1994
· Vázquez, AS. Filosofia da Praxis. RJ, Paz e Terra, 1977
· Vásquez, AS. Entre a realidade e a utopia. RJ, Civilização Brasileira, 2001
 
DELEUZE E O MÉTODO                                 
Deleuze, um filósofo nômade. Estradeiro. Na bagagem um extremado ecletismo superior, porém sem a argamassa  do acordo epistemológico de Bachelard. Heterodoxo, polifônico e polissênico, sem nunca violar sua própria singularidade.
Filosofia? Da diferença...	
Teoria? Da multiplicidade.	
Cujos pensares sempre foram tecidos na lógica de 1). Uma radical afirmação da vida e pela vida, 2). Um desprezo pelas verdades gerais e absolutas, 3). Por uma desqualificação dos cânones da ciência oficial, 4). E por uma obstinada procura do novo, do insólito, do diferente.
Conjugou: ousadia e prudência.	
O real dado pelos gráficos, tabelas, taxas não desvelavam para ele a potência do humano e da vida, apenas demostravam reprodutivamente o instituído, o status quo.
Pensamentos? Pulsações...	
E ele pulsou e de suas pulsações maquinadas com as pulsações de Guattari surgiu a Esquizoanálise, teoria e método.	
Um invento para provocar invenções.	
Uma obra. Obra rizomática.	
Obras: pura performace. Para afetar e serem afetadas.	
Novos pensares catalizando novos pensares.	
Esquizoanálise ouo Pragmática Universal -  não é escola, linha, corrente ou qualquer outro colegiado instituido -  é máquina.	
Uma invenção de máquina cujo funcionamento destina-se à própria invenção.	
Os métodos de investigação tradicionais prendem-se à apreensão matemática ou compreensiva do real, do real instituido e se organizam quadricularmente, no expectro da reprodução buscando   leis explicativas -  retrato -  da estabilidade, das normas e da conservação das identidades desveladas. Desnuda-se o cosmo. O real -  possível e impossível.	
Disseca-se o status quo.	
Já para Deleuze, o método precisa dialogar com o devir, com a diferença, com o virtual, com o novo, com os acontecimentos.	
Dá, assim, na interface do real com a realteridade. Isto é,
· no emaranhado das situações caosmóticas,
· no  virtual
· no acontecimento
A relação molar e molecular emerge assim enquanto objeto de pesquisa.
Naufraga-se o império monolítico do molar.
E as linhas de fuga -  transfugas -  brilham no dispositivo de pesquisa esquizoanalitico como analisadores privilegiados.
Provar, com-provar, reproduzir, generalizar são critérios da pesquisa científica positivista e co-irmãs.
Na esquizoanálise o valor reside em:
     a) se funciona e como funciona;
     b) no afetar e ser afetado;
     c) e no traduzir e propiciar acontecimentos.
 
À guisa de uma síntese preliminar. Uma episteme às avessas.
 
Cabe, assim, sistematizar orientações que nos deve acompanhar nesta viagem epistemológica e metodológica.
A esquizoanálise ou pragmática universal define-se com duas funções. Uma negativa, raspagem dos registros e controles e dos mecanismos de antiprodução; e uma positiva, agenciar, maquinar, potencializar a potência do acontecimento.
Um saber e um modo de viver que opta por intensificar o que funciona em detrimento da capacidade heurística do mundo previsível das segmentaridades duras, dos espaços estriados.
Embora, revele os aparelhos de captura, as ordenações quadriculadas do real, para ela '' não há nada para decifrar, porque as representações não interessam tanto quanto as forças '' (Baremblitt, p.96).
O que é preciso '' é introduzir o desejo na produção e a produção no desejo'' (Baremblitt, p.96).
Já que a ''essência do real é a produção desejante, ou seja, a incessante metamorfose geradora de diferenças inovadoras que se originam ao acaso''. (idem)
Deste modo, ela só admite causas no pólo paranóico das entidades molares, pólo capturante e antiprodutivo, já que  o outro pólo, os processos moleculares (pólo esquizóide) são produtivo -  desejante -   e revolucionário e , por isso,
Pensáveis a partir dos oito principios descartáveis, descritos por Guattari no Revolução Molecular, e clarificados no Caosmose (a irreversibilidade do encontro enquanto acontecimento, a singularização, a heterogênese e a necessitação).
Orlandi delimita o esquizoagir e pensar como filosofia da diferença, da imanência e teoria da multiplicidade, mas essencialmente como algo mais -  linhas de ação da diferença, praticadas e tematizados, num constante estado de experimentação. Fluxos intensivos e potências expressivas e interrogativas que experimentam a si mesmas nos encontros provocados por elas ou nos encontros que lhe são impostos por outras linhas.
Deleuze -  Pensa; para além da lógica formal ou dialética; pensa:
. um plano de consistência que é o plano de imanência pensada no sentido geográfico (seção, interseção, diagrama);
. e um agir, pensar, fazer que é o da constante liberação de algo ( vide Aliez );
portanto, eleva o empirismo de Hume a uma potência superior;
. potencializa-a o imaginar, o poder de dramatizar, fonte de síntese assimétrica do sensível; do imaginar vagabundeando com consciência de larva, oscilando entre a ciência e o delírio;
Daí, Orlandi, define o fazer/agir esquizoanalítico com o conceito de metamorfoseante.
Villani, assim disseca uma possível anomalia metafísica de Deleuze. Diz: 
é uma metafísica das multiplicidades e das singularidades, que permite a  emergência do novo e requer, entre outras coisas, uma univocidade do ser;
é uma filosofia da vida, onde à margem da imagem assenta-se o real em seu pulular;
sempre recentrado sobre uma imanência firme em seu princípio;
ele -   Deleuze -  é um labirinto, máquina de desnortear / orientar;
uma filosofia larvar, monstruosa;
e é marcada pelo e... e de conexão imanente, transcendental,na virtualidade e na univocidade de se dar sem objetos fixos, porém, no plano do CsO, espaço liso, deserto.
E é deste modo, que vê-se em Deleuze um Empirismo Transcendental, onde segundo Gil, o CsO desfaz-se as séries e anula o conflito pelo encontro entre os terrores da profundidade e os jogos da superfície.
Do Antiédipo, surge o glorioso, o intensivo- o CsO, superfície -  suporte do desejo, das sínteses conectivas, disjunturas e conjuntivas.
É experimentação...
A palavra dá-se fluxo que gera devires.
Pensar e agir maquínico, perspicazmente, é definido por Baremblitt como um Materialismo Neofuncionalista Maquínico.
 
TOQUES METODOLÓGICOS
Forma de pensar, modo de ser e maneira de viver não tem método próprio.
''Tem princípios teóricos de compreensão que permite a invenção de uma metodologia e de técnicas, táticas e estratégias '' (Baremblitt, pg. 94).
Cada investigação é singular.
E o método inventado também singularmente. Construído, tecido provisoriamente; híbrido, um bricoller de método.
Neste esforço, cabe destacar o valor:
do uso dos roubos;
da riqueza de uma caixa-de-ferramentas;
das implicações superadoras do pseudo-neutralidade;
da potência do que um corpo pode, do experencial;
do afetar e ser afetado, das ressonâncias;
da leitura das superfícies e do estriado segmentar;
da abertura visceral ao acaso, ao diferente, ao minoritário, ao acontecimento;
do bricolagem (os bricollers);
do cut- up
do perambular surrealista
enfim, do inventar, inventar e inventar. Do encontro, das paixões alegres...
  
Pois como afirma Baremblitt:  ''Tal  inventiva tem como proposta 'metodológica' sui generis a Intuição, o uso disjunto das Faculdades, o emprego das técnicas de  Cut- up e da colagem, e a plena consideração do Acaso para o exercício, de Pensares sem Fundamento, sem sistemática, sem meta- categorias transcendentes. Pensares inexatos, mas rigorosos, de realidades pluripotenciais e imprevisíveis, cartografias sempre 'princeps' de transmigrações e conjuntos difusos''. pg.45
Uma composição interna rizomática...
Pesquisa- máquina livro.
O Estilo -  ''seu movimento, sua velocidade, sua longitude e latitude, sua densidade, sua intensidade, que o permite, ou não, contribuir para inventar mundos. Estes mundos podem ser relatados por espécies de Diários de Bordo. É sabido que uma carta de navegação é um 'mapa relato, não apenas objetivo, mas também 'subjetivo', 'político' etc, que só serve para uma viagem, que só expressa a singularidade única e irrepetível DESSA viagem, o que não impede que outros viajantes dele se sirvam para construir sua própria trajetória, sempre experimental, sempre aventureira. ''  (Baremblitt, pg.59).
Inventar é o método, o contra o método.
No fundo, trata de se inventar método deleuzeando, isto é, construindo a pesquisa como dispositivo, máquina de guerra ou ainda num fazer à moda da criança, do bárbaro e do louco.
Entre a ciência e o delírio...
Num vagabundear larvar...
Ou num carnavalizar a rotina...
Sempre, sempre poetizando o amanhã.
''Mangueira é
Um canto de fé
Que leva a vida
Na poeira e no pé''
 
Referências Bibliográficas
Aliez, E (org). Giles Deleuze: uma vida filosofica. São Paulo, Ed 34, 2000.
Baremblitt, G. Compêndio de Análise Institucional. Rio de Janeiro, Rosa dos Tempos,1992.
Baremblitt, G. Introdução à Esquizoanálise. Belo Horizonte, Inst. Felix Guattari, 1998.
Bichuetti, J. Crisevida. Belo Horizonte, Inst. Felix Guattari, 2000.
Deleuze, G. Conversações. São Paulo, Ed. 34, 1992.
Deleuze, G & Guattari, F Antiédipo. Lisboa, Assírio & Alvim, 1966.
Deleuze, G & Guattari, F. O que é filosofia. São Paulo, Ed. 34, 2001.
Deleuze, G & Parnet, C. Diálogos. São Paulo, Escuta, 1998.
Guattari, F. Inconsciente Maquínico. Campinas, Papirus, 1988.
Guattari, F. Caosmose. São Paulo, Ed. 34 2000.
Guattari, F. & Rolnik, S. Cartografia do desejo. Petrópolis, Vozes, 2000.
Gil, J. Diferença e negação em Fernando Pessoa. Rio de Janeiro, Relume -  Dumará, 2000.
Hard, M. Gilez Deleuze. Um aprendizado em filosofia. São Paulo, Ed 34, 1996.
Lins, D (org). Nietzsche e Deleuze -  Intensidade e Paixão. Rio de Janeiro, Relume - Dumará, 2000.
Lins, D (org). Nietzsche e Deleuze. Que pode o corpo. Rio de Janeiro, Relume - Dumará, 2000.
Lins, D. Antonin Artaud. O artesão do corpo sem orgãos. Rio de Janeiro, Relume - Dumará, 2000.
Machado, R. Deleuze e a filosofia. Rio de Janeiro. Graal, 1990.
Rago, M (org). Imagens de Foucault e Deleuze. Rio de Janeiro, DP & A, 2002.
Rolnik, S. Cartografia Sentimental. São Paulo, Estação Liberdade, 1989.
 
''A felicidade tem muitos rostos. Viajar é provavelmente um deles.
Entregue suas flores a quem cuidar delas e comece e recomece.
Nenhuma viagem é definitiva.''
José Saramago -  A caverna
 
DELEUZEAR 
Este texto não se destina à leitura do aprendizado lógico, onde as palavras racionalmente tentam retratar a vida. Deve ser lido deixando as palavras afetarem ou seja  deve ser lido pela pele. E da pele, mais do que decodificadas cerebralmente, elas teriam melhor uso se degustadas visceralmente.
Este pequeno dicionário é um conjunto de conceituações que visam facilitar o uso da esquizoanálise. E foi tecido num lugar, nas Geraes de Guimarães Rosa e Milton Nascimento. Serra do Curral e Jequitinhonha.
Está plantado na Serra da Canastra e ali dialoga com o Velho Chico.
Talvez, sirvam para o uso de pesquisadores que querem pesquisar nas correntezas de intensidade da vida e para os que vivendo, buscam afirmar a vida como ato de potência e, assim, pesquisam.
Ou seja, destina-se a efetuar em qualquer prática a esquizoanálise como um jeito de viver.
Carnavalizar (dos Tribalistas) -  brincar, outrando-se e apagando o cinzento com a pujância do arco-íris. Versão tupiniquim das paixões alegres de Spinosa.
Destinar-se -  autorar o destino, destinando-se ao novo, ao diferente, à vida.
Homem-Travessia -  desapegar-se do ser e ser da travessia.
Processo Esquizoonte (de Baremblitt.) -  vida inventiva, nômade; mas que baila nos redemoinhos da inovação fagulhando cristais germinais da realteridade.
Metamorfoseante (de Orlandi) -  inventar permanentemente o próprio reiventar-se ou borboletear-se nos ventos do devir. (1)
Outrar-se ( de José Gil ) -  devir-se criança sendo outros. Uma pedra que é flor que é poeta que é orvalho. Um pessoa que é pessoas, pessoas que é Pessoa, só para verdejarem nas curvas de uma linha reta.
Vagabundeando -  Ter por direção ir, ir sem norte, sem razão. Ir no prazer de vagalumiar-se; de vagar, de perambular. De ciganear-se... (2)
Aconteciar -  dar-se ao acontecimento com a alegria que a semente dá-se ao jardim, ao horto ou ao matagal. Sendo dele não um porta- voz, mas uma porta-bandeira e um mestre sala, aceitando versá-lo com o próprio corpo.
Dramatizar -  imaginar, vivendo visceralmente. Teatralizar com as entranhas, com a pele pulsando nos arrepios da lua cheia da realteridade. (3)
Horizonte Virtual -  plano imanente que deve ser consubstancializado (consistência) pelo processo de pesquisa, desvelando, assim, as tendências emergentes do novo, as potências, os devires incubados, e/ou experienciados á margem, minoritários. (4)
Escriba -  máquina de pena viva desenhando as anotações de uma viagem, tendo por tinteiro o sangue poético e profético das miragens e o suor e as lágrimas que escutam as vozes da estrada. (5)
Escaninhos do Real -  diagrama do real organizado com seus registros e esporões de virtualidades.
Situações Caosmóticas -  a infância, a loucura e o delírio, a paixão, a arte: a encruzilhada do sertão. (6)
Pulsar -  empirismo ativo e vital de não apenas saber por pesar ou medir, mas de experiencialmente maquinar com... (7)
Brilhar -  o pesquisador positivista deve-se neutrar; o esquizoanalista num devir ''Tropicália'' deve performaticamente brilhar.
Trama Rizomática -  na pesquisa é a artimanha de uma rede arquitetada para saber da vida e permitir a vida liberar-se dos saberes e saber viver.
Efeito Tarde -  o valor de realteridade do estatisticamente minoritário ou de como apreender e se apaixonar pelas linhasde fuga, relativizando o peso do majoritariamente regular. (8)
Efeito Ayer -  dionizar as práticas e gesta grupos que conjuguem a seresta, a catira; o canto das geraes num devir híbrido onde a força guerreira de Helena Greco se enlace na ternura de um beijo. ''Tudo o que move é sagrado e remove as montanhas... A abelha fazendo o mel... No estio se derreter...'' E gestar o século deleuzeano: o reino encantado do prazer. (9)
Efeito Nadya -  andar, perambular sem rumo ao acaso, aleatoriamente, aberto a experenciar acontecimentos -  que precipitam novos sentidos, rupturas, inovações.
Baseado na sincronicidade ou nas novas faculdades.
Dar-se ao imprevisível, ao inusitado.
Estar aonde ocorrem os acontecimentos movidos automaticamente pelo acaso.  
            
Efeito Carmem -  ciganear- se, travestida de um elegante costume, perfume e linguajar organizado com clareza, precisão e objetividade, expondo a pesquisa com problema, justificativa, objetivos, material e método, referências sistematizadas.
Camuflagem necessária à sobrevivência da esquizoanálise no mundo acadêmico.
O sentido esquizoanalítico dá rumo, através do ruflar das castanholas, do sapateado flamenco e da força guerreira da Catalunha que na pesquisa abre fissuras de onde se ouve '' Nós somos companheiros da tribo de Peri ; das lutas...'' Ou ainda, '' Liberdade, liberdade; abre as asas sobre nós '', porque  '' agora, só me resta sonhar''.
 XXX
    Este Brincar com as palavras no processo de se dialogar sobre o método de investigação na esquizoanálise tem múltiplos sentidos.
   Alguns talvez o leitor me diga. Aqui direi os que me moveram.
   Primeiro, de concordar com Orlandi (12), a esquizoanalise é marcada pela constante liberação de algo.
Libera-se:
oPensamento da representação;
a diferença da identidade;
o para- senso do bom senso;
a multiplicidade do uno e do múltiplo;
o tempo de suas amarras cronológicas;
o desejo da falta;
o CsO do organismo;
o inconsciente da sua reterritorialização familiar;
o acontecimento das coisas em que ele se efetua;
as línguas menores da gramática;
e, então, o conceito se libera e se dá num surfar de idéias.
 
   Segundo, de pensar útil a uma máquina de pesquisa ou de vida, a proposição de D. Hélder Câmara: 
``Eu gostaria de ser uma simples poça d'água para refletir o céu''                                
D. Hélder Camara
  
  E finalmente, a de entender que urge na produção do conhecimento, nos movimentos sociais, na clínica, enfim, na vida, escutarmos o grito rebelde do lider zappatista Subcomandante Marcos:
 
      ''Irmãos: A humanidade vive perto de todos nós e, como o coração, prefere o lado esquerdo. Devemos encontrá-la,  temos    de nos encontrar.
   Não é preciso conquistar o mundo. Basta fazê-lo de novo.
   Nós. Hoje.''
 
Subcomandante Marcos 
           
Notas
 1. O esquizo de Deleuze-Guattari é um conceito-equivalente no impacto ao processo esquizoonte de Baremblitt, ao metamorfoseante de Orlandi, e ao Homem-Travessia de Guimarães Rosa: ``o diabo não existe. Se há... há homem humano. Travessia'' (Grande Sertão: Veredas).
 2. Inspirado em André Breton e seu perambular (Nadya)
 3. O método de dramatizar, para Deleuze, é extremamente fértil, justamente por não ser simples imitação. Ele o situa no campo da experimentação.
 4.  O oceano de uma pesquisa onde nadam, surfam, navegam as linhas de fuga.
5. Somos todos escribas, se abandonamos a neutralidade científica e pesquisamos à la Kafka na literatura e numa ``pesquisa menor'' a realizamos como desterritorialização do saber canônico oficial, como ramificação política e como valoração coletiva.
 6.  Caosmose, potência de autopoiese e  autoorganização do caos, onde do caótico emerge formações de hipercomplexidade. De Guattari (caosmose).
 7.   Pesquisar numa viagem onde se produz por ressonâncias, por afectos e perceptos.
 8.  O papel de Gabriel Tarde. O valor do minoritário, do estranho, do que foge a linha de regularidade do instituído.
 9.  Inspirado na tese de Dra Patricia Ayer.
 10.  De André Breton (Nadya)
 11.  Homenagem a Dra Carmen,  do Instituto Felix Guattari que sendo inovadora por militância e fé; ensina método científico permitindo no seu próprio interior o método de inventar um método.
 12.  Texto de Orlandi no livro ``Giles Deleuze: uma vida filosófica''. Org:Aliez,E
 
ESQUIZOANÁLISE E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
    Norteamos nossa vida com verdades. Provisórias, descartáveis.
   As disciplinas científicas acreditam proprietárias de verdades absolutas, únicas e definitivas. Para elas as verdades são um fim.
   Já em Guimarães Rosa encontramos.
   “Digo-lhes: a real não se encontra nem na partida, nem na chegada. Ele se dispõe para gente é no meio da travessia.''
   ...Muito mais do que uma idéia justa urge a justa idéia capaz de fazer a vida pulsar, acontecendo invenção de vida nova, eis uma assertiva vigorosa do legado deleuzeano.
   
E é neste panorama que abordaremos a complexa questão do método de investigação. Panorama de crise. Crise do pensamento cartesiano, da lógica racional, matemática, do objetivismo positivista. Crise da ciência.
   A produção do conhecimento vincula-se, oficialmente, à pesquisa científica; e marginaliza, o que se produz autonomamente pelo saber popular, pelos coletivos autogestivos e pelo próprio parasenso, que é liberado maquinicamente do bom senso, do bom senso instrumento da superfície de registro e controle norteador do possível e do impossível no território do saber.
   A pesquisa, hegemonicamente deste modo, é espaço estriado dado para fazer emergir as regularidades, as leis gerais, as causalidades, as normas, isto é, o modo de funcionar do instituído, das entidades molares, do cosmo.
   E, portanto, são e se dão na superfície de reprodução, de registro e controle e de consumo: é o status quo, o instituído perpetuando-se hegemonia, e obscurecendo a diferença, as multiplicidades, o caos, os n devires que imanente ao próprio real pulsam e geram acontecimentos, o genuinamente novo.
   A esquizoanálise e a investigação no seu campo de ação se dá, assim, consequentemente como pesquisa menor: desterritorializa, o modo de investigar dominante e se fabrica politicamente como máquina rizomática e coletivista, de se inventar a própria invenção, no processo de identificar potencializar e agenciar o devir, a potência criativa do caos que em  tensão permanente com o molar, com o instituido e com o cosmo, afeta e se afeta  por uma nova  Terra e um novo povo por-vir, devir duplo.
   A esquizoanálise, assim, filosofia da diferença, teoria da multiplicidade, pragmática universal-pode melhor ser compreendido no seu intento de se desenhar método de investigação como ``linhas de ação da diferença, que não são apenas praticadas como também tematizadas. Vê-se que essas linhas experimentam a si mesmas nos encontros por elas provocados ou nos encontros que lhes são impostos por outras linhas da diferença em ação, linhas constitutivas disto ou daquilo, contitutivas deste ou daquele signo, deste ou daquele acontecimento, ou até de um novo tipo de relação esportivacom as águas, com o ar etc.'' (Orlandi, 2000, p.49). 
   Nos limites deste texto concentraremos a tentativa de delimitar a pesquisa esquizoanalitiva em três niveis:
   a. da compreensão de como funciona o  fazer/agir esquizoanalítico.
   b. dos comentários de Deleuze sobre o método e da definição de cartografia.
   c. e, finalmente, na discussão propositiva do uso do esquizodrama como método de investigação
 
 
 
I I -  AGIR / FAZER ESQUIZOANALÍTICO 
Praxis: o agir / fazer esquizoanalítico
 
   No Antiédipo, encontra-se duas sugestões ricas e férteis de demarque do agir/  fazer esquizoanálico.
   Diz haver tarefas negativas e positivas. As negativas se referem ao trabalho de raspagem, desmonte, do instituído. Raspagem de registros, desmontes de repetições reprodutoras, desmantelamentos de atravessamentos, desativação de processos antiprodutivos e alisamento de espaço flexibilização da segmentariedade dada.
   As positivas, consistemna criação de condições propícias ao acontecimento, a diferença e ao devir.
   Desterritorializa-se, intensifica e através da experimentação aventura-se pela produção de novos sentidos, novas saidas. Bifurca, multiplica, singulariza-se. E baseado na velocidade e intensidade, transversalizando-se relações e espaços, possibilitando a atualização de virtualidades e realização de possibilidades.
   Gesta-se um entre e tudo, então, acontece no entre.
   Ainda na mesma obra, deixam uma auspiciosa pista sobre a prática esquizoanalítica. É algo feito à moda ... À moda do bárbaro, do artista e da criança.
   Nem regressão, nem redução; mas uma invenção ``tribalista'', uma prática como obra de arte, e um operar permeado do brincar, outrar-se e fabular do devir criança.
   A vocação por intensificar o que funciona e o projeto de conectar desejo e produção, num duplo sentido, são outras pistas desta nova prática, que num fundo é jeito de ``aconteciar ''.
   Os afazeres tradicionais guardam vocação de interpretar, e interpretando encontrar o núcleo ou estrutura central.
   Não interpretativa, a esquizoanálise é Fernando Pessoa:
   ``Quando a Erva crescer em cima da minha sepultura,
   Seja este o sinal para me esquecerem de todo.
   A Natureza nunca se recorda, e por isso é bela.
   E se tiverem a necessidade doentia de ``interpretar'' a erva verde
   sobre a minha sepultura,
   Digam que eu continuo a verdecer e a ser natural.''
   Abdicando desta crença e deste valor eles confeccionam agires e fazeres que compõem rizomas.
   E destes (e também nestes) rizomas conformam dispositivo maquínicos e, assim, o agir/fazer passam à condição de agenciamentos por hecceidades, alteridades no movimento de ao inventar a invenção alcançarem o máximo da individuação, num devir imperceptível se devir impessoalidade.
   Eis uma praxis de paixões alegres e bons encontros, de produção no entre e onde os sujeitos se a realizam, são subssumidos pelo próprio acontecimento.
 
DELEUZE E A PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO
    Selecionamos aqui Deleuze e numa colagem, situamos suas contribuições no livro Diálogos.
    O que delimita a possibilidade de uma pesquisa esquizoanalítica?
 
   Ponto 1. Para além do método e das escolas, inventar...
   ``Uma preparação bem longa, mas nada de método nem de regras ou receitas''. (p.16)
   ``Encontrar é achar, é capturar, é roubar, mas não há método para achar, nada além de uma longa preparação. Roubar é o contrário de plagiar, de copiar, de imitar ou de fazer como'' (p.15)
   Porisso: ``Quando se trabalha, a solidão é inevitavelmente, absoluta, não se pode fazer escola. Só há trabalho clandestino. Só que é uma solidão extremamente povoada. Não povoada de sonhos, fantasmas ou projetos, mas de encontros. Um encontro é talvez a mesma coisa que um devir ou núpcias. É do fundo dessa solidão que se pode fazer qualquer encontro. Encontra-se pessoas (e ás vezes sem as conhecer nem jamais tê-las visto), mas também movimentos, idéias, acontecimentos, entidades '' (p.14)
   Ponto2. Condições necessárias ao pesquisar esquizoanalítico.
   ``Não é preciso ser sábio, saber ou conhecer determinado domínio, mas aprender isso ou aquilo em domínios diferentes'' (p.18).
   Lembrar que ``Se não deixam que você fabrique suas questões com elementos vindos de toda parte, de qualquer lugar, se as colocam a você, não tem muito o que dizer. A arte de construir um problema é muito importante, inventa-se um problema, uma posição de problema, antes de se encontrar a solução''. (p.9).
   Para então:
``Ser um estrangeiro em sua própria. Traçar uma linha de fuga'' (p.12)
   Neste sentido pergunta-se: como funciona e o que busca a pesquisa esquizoanalítica?
   Funciona quebrando ``a língua para introduzir nelas esse E criador'' (p.72); um outro empirismo, sintaxe e experimentação, sintaxe e pragmática pois ``não são nem os elementos, nem os conjuntos que definem a multiplicidade. O que a define é o E, como alguma coisa que ocorre entre os elementos ou entre os conjuntos'' (p.45). O ``E dá uma outra direção às relações, e faz os termos e os conjuntos fugirem, uns e outros, sobre a linha de fuga que ele cria ativamente. Pensar com E , ao invés de pensar É, de pensar É: o empirismo nunca teve outro segredo'' (p.71)
   ``Há uma sobriedade, uma pobreza e uma ascese fundamentais do E'' (p.71).
   Do e na pesquisa, outras consequências: a pesquisa geografia rizoma devir...
   ``Você gosta da grama, mais do que das árvores e da floresta'' (p.33)
   ``...a geografia e não a história, o meio e não o começo nem o fim, a grama que está no meio e que brota pelo meio , e não as árvores que tem um cume e raízes. Sempre a grama entre as pedras do conhecimento''. (p.33).
   Muda-se a ``lógica'' da pesquisa: ``Tudo isso é rizoma. Pensar, nas coisas entre as coisas, é justamente criar rizomas e não raízes, traçar a linha e não fazer balanço''.
   Busca-se traçar linhas de fuga... E ``uma fuga é uma espécie de delírio. Delirar é exatamente sair dos eixos'' (p.53)
   O lugar do pesquisador é a do nômade, não a do louco. No meio da linha, lugar de velocidade máxima. Lugar de experimentação sobre si mesmo: ``Nós somos desertos, mas povoados de tribos, de faunas e floras''. ``O deserto, a experimentação sobre si mesmo é nossa única chance para todas as combinações que nos habitam'' (p.19)
   Se há técnica ela é a do ``pick-up ou duplo roubo, evolução a -  paralela''. (p.26).
   Cabe no desenho ou estradear da pesquisa reconhecer o papel do devir na esquizoanálise, e, neste impacto, considerar:
``Pensa-se demais em termos de história, pessoal ou universal. Os devires são geografias, orientações, direções, entradas e saídas'' (p.10);
``Os devires não são fenômenos de imitação, nem assimilação, mais de dupla captura, de evolução não paralela, núpcias entre reinos'' (p.10);
``Os devires são o mais imperceptível, são atos que só podem estar contidos em uma vida e expressos em um estilo''(p.11);
``Devir é tornar-se cada vez mais sóbrio, cada vez mais simples, tornar-se cada vez mais deserto e, assim, mais povoado'' (p.39).
 
 
ESQUIZODRAMA
 
   O esquizodrama é um dispositivo da intervenção esquizoanalítica, criado por Gregório F.Baremblitt.
   Gregório F. Baremblitt desenvolveu a obra de Deleuze e Guattari, sendo um dos pilares fundamentais da sua presença na América Latina, ``O grande mestre da clínica Deleuzeana'', e se fez autor de inúmeros inventos no interior da esquizoanálise, com destaque para o esquizodrama.
   O esquizodrama é uma ferramenta sui generis, já que é, em si mesmo por definição, a montagem de intervenções baseadas numa caixa-de-ferramentas, eclética e heterodoxa, que se delimita na condição de máquina de produção de vida, drama do devir, onde elas se conectam como um, ``bricolleur'' e que no fundo não é no sentido prescritivo dos procedimentos, pois se conforma como um invento que se realiza sempre como uma nova invenção.
   Performático, utiliza a potência dos efeitos páticos.
   Experencial, norteia-se pelo afetar e se afetar quando o corpo funcionando intensificado e desterritorializado explora o que pode um corpo.
   A desterritorialização presente no esquizodrama efetiva uma raspagem do funcionamento repetitivo, molar, do status quo, e abre assim a possibilidade de se bifurcar, e produzir novos sentidos, novas saídas.
                                      
Desterritorializa-se e deste modo nota-se os seguintes efeitos:
afrouxa a rigidez corporal e psíquica da identidade egóica;
fluidifica  o quadriculado das normas institucionais e sociais;
enfraquece a força das pressões internalizadas pelos papéis sociais
amplia e amplifica a percepções, descentralizando-a da chamada lucidez racional;
desenraiza pessoa ou coletivos de seus lugares cristalizados;
   Forja um espaço liso; e, libera emergência de um funcionamento da realidade, liberado do corpo cheio, isto é, produz  Corpo Sem Orgãos.
   No sentido, das reflexões anteriores, o esquizodrama já foi definido por seu inventor como uma psicoselaboratorial.
   Psicose, alusão à um funcionamento esquizo, e não esquizofrênico.
   De fato, os estados criativos se dão num funcionamento com predomínio do pólo esquizo, e as reproduções e antiproduções do instituido pelo predomínio do polo paranóico.
   Tem-se no esquizodrama intensas e profundas desterritorializações com a segurança das experimentações de laboratório, pois: no esquizodrama, a desterritorialização é a do nômade no deserto, com reterritorializações concomitantes, imediatas ou imanentes (Deleuze, G. e Guattari F. ,   ). 
   Cabe salientar ainda a potência do e do entre.
   O esquizodrama maquina a potência criativa no entre e supera a interpretação que reduz o real ao uno ou ao múltiplo e desbrava novos horizontes, novos sentidos, novas saídas  na multiplicidade.
   A realidade da interpretação é redução, estrutura, núcleo e a multiplicidade revela nos rizomas trajetos não-explorados, conexões desconhecidas e nelas a possibilidade de se desfocar, descentralizar-se, bifucar-se e multiplicar na vida e de vida, pela vida.
 
 
1 -  ``efeitos'' -  como é usado na análise institucional ver ``Compêndio''.
   Raspa-se as repetições...
   Gesta-se devires... No entre da multiplicidade dos encontros.
   Esquizodrama- bons encontros/paixões alegres.
   Encontros que compõem, no entre e por isso, máquina coletiva de alto grau de transversalidade.
   Assim, nele se privilegia o experencial, o performático, os efeitos páticos. O brincar e a arte. As ressonâncias, o afetar e se afetar, as bifurcações. A produção de novos sentidos. A intensificação...
   Caça-se linhas de fuga.
   Gesta-se devires... Acontecimentos...
   E neste sentido, o esquizodrama se inventa como intensificação da potência caosmótica, da realteridade imanente à realidade, do molecular que no cotidiano se vê muitas vezes inibido, amortecido e/ou subsumido pelo molar.
   Esquizodrama -  drama do devir.
   E instituindo-se agenciamento de devires -  Klínica, cuidado- mudança cuidado- invenção, e cuidado produção de vida, do novo radical.
   Klínicas -  trocas solidárias, máquina de guerra. Transversal.
   E não clínica -  ortopedia, fúnebre, dominação do agente e submissão passiva 
de quem demanda cuidado.
   As características da nova clínica, que em outro momento identificamos na prática antimanicomial (Bichuetti, J. 2004) podem ser alencadas para se pensar o esquizodrama: funciona como klínica caosmótica, militante, menor, do devir e da invenção.
   E, também, nômade.
   Sem dúvida, um espaço criativo (Pavlovsky), que consubstancia no brincar, na arte e do próprio caráter desruptivo do delírio mediações, singularizantes e multiplicitárias.
   Propicia, então, intensivos processos de subjetivação. Livres, libertários.
   O esquizodrama inspira-se na potência do imaginar e dramatizar que para Deleuze não é defesa, nem reprodução imitativa, não é um fazer como, mas um experenciar inventivo.
   Para assinalar seus usos poderiamos dizer que possível aplicá-lo em qualquer ação que se tenha como demanda a produção de vida, pessoal e coletiva, no emaranhado dos atravessamentos e agenciamentos que a condiciona processo coletivo de produção e transformação de realidades.
   Tem-se sido usado com riqueza na clínica, na supervisão de equipes, na educação, na intervenção institucional, na formação de agentes de uma dada disciplina, no movimento social, e, também, na pesquisa.
  
O USO DO ESQUIZODRAMA NA PESQUISA
 
1.Exercícios Klínicos: a pesquisa esquizoanalítica
 
   O desafio de se pensar a pesquisa esquizoanalítica podia seguir vários caminhos. Um mais teórico, com um stripe-tease da obra e nesta dissecção o encontro de um possível paradigma. Ou outros...
   Optamos por outro caminho.
   O de se aventurar neste empreendimento já lançando mão de ferramentas inventadas como desdobramentos rizomáticos da própria obra de Deleuze-Guattari e que lhe deram suporte de intervenção.
   Usa-se o esquizodrama e a pedagogia klínica na construção de um projeto provisório de se pensar a esquizoanálise na pesquisa.
   Citaremos aqui exercícios klínicos, experenciados num curso de método onde a visão de Deleuze-Guattari foi tematizada, porém não de forma estanque, mais, foi processualmente realizada e atualizada como método de investigação esquizoanalítico, devir e acontecimento.
   Poderíamos adiantar alguns aspectos fundamentais que se revelaram nas núpcias entre obra e experimentos.
   A pesquisa esquizoanalítica é uma pesquisa menor, desterritorializa o saber dominante e emerge militante e de valoração coletiva.
   É rizoma... É maquínica...
   Faz-se dispositivo rizomático e maquínico.
   Caça linhas de fuga. Dá-se devir e se dá ao devir.
   Caosmótica. Disruptiva.
   E engenhoca de inventar a invenção.
   Falta-lhe receita, procedimentos-padrões.
   E, em suma, é: maquinações de se criar entres para que no entre a alegria e a criatividade se consubstancien como proliferação criativa. O genuinamente novo.
   Os exercícios klínicos foram assim dados para que na experimentação inventiva pudessem produzir sentidos e experenciando-os pudessemos estar mais dados ao ato de pesquizar, unindo desejo e produção, e subsumidos por bons encontros e paixões alegres.
   Entre parênteses: pesquisar é aventurar-se intensificando a capacidade de agir e de agir inventivamente, para que a vida se desvele na sua potência de se devir, singularização, multiplicidades, impessoalidade, enfim maquina de guerra aonde um outro mundo é possível, igualmente outra ciência.
 
* Estes exercícios foram desenvolvidos no Curso de Análise Institucional e Esquizoanálise, Disciplina e  Método -  2003
 
1.1 Exercícios Klínicos
 
Exercício 1. O método em Deleuze- episteme. Deleuzear
 
A pedagogia Klínica (invento de Margarete Amorin e Gregório Baremblitt) é a esquizoanálise na educação, onde a criatividade inventiva emerge quando se libera o corporal-o afetivo- e- o experencial no ato de aprender, que deixa de ser copiar para ser com apreender na intensidade do que pode um corpo, na vitalidade das paixões alegres e do devir criança e nos agenciamentos da própria. Potência criativa da vida.
O primeiro exercício foi extremamente singelo e provocante.
Dá  leitura de ``Carta à um crítico severo''  que se deu ao som de Sangue Latino (Secos e Molhados), Gente Humilde (Bethânia) e Minha Jangada (Dorival Caymi), pequenos grupos buscaram se afetarem e foram provocados a inventar pelo método da dramatização o que seria, então, o jeito de persar deleuzeano.
Vale ressaltar que a dramatização para Deleuze não é um faz de conta, tem a ver com experimetações intensivas, viscerais.
Cada grupo teve um campo de aplicação do texto-afecto-dramatização.
Um jeito de pensar deleuzeano:
 
A. Numa investigação sobre o outro
B. Numa investigação sobre si mesmo
C. Analisando um fato
D. Compondo um fato
E. Numa colagem artística
F. Como um jeito de viver
            
Os grupos apresentaram e após observando ressonâncias, afectos e perceptos debateram sobre o jeito de pensar deleuzeano.
Concatenando, através do e, e,...e e; um conjunto de conclusões, uma episteme performática e afetiva; um lugar para Deleuze -  homem de amizade; que se negacia; alguém que pela multiplicitação retira a vida dos trilhos (certo/errado; verdade/mentira; bem/mal) e a descobre rizoma, ora percebendo as n multiplicidades ora ressoando multiplicidades, ou seja, a um só tempo, ele fabrica rizomas; desvenda rizomas e cria conexões rizomáticas
 
Exercício 2. O fazer esquizoanalítico
 
Extrair da teoria um que fazer nem sempre é simples. Complicamos muito. Enovelamos conceitos e somos por eles enovelados.
Neste momento, pudemos utilizar um esquizodrama. Objeto direto. Clarear no corpo e na inventividade dos corpos uma aproximação com a praxis.
Secundarizamos a questão sobre o que é, e tateamos no terreno de como funciona.
Inspiração: o Antiédipo...
Qualquer fazer que se de à moda dos bárbaros, da criança, do artista e do louco.
O Esquizodrama (invento de Baremblitt), foi aqui montadoe com  um uso, dentro da pedagogia klínica, e foi igualmente uma proposta de produzir, inspirados em Deleuze, mais do que memorizar o dito,  provocação  criativa.
O tema -  os dias de hoje, limites e potências: o que fazer?
Inicialmente, o aquecimento. Ao som de ``O que será?'' -  uma performace coletiva com uma multiplicidade: sons, mímicas e posturas. Bailou-se, jogou-se, treslocou-se... Aquecimento de 15'. Desterritorializante. Alisamento do estriato. Grupo intensificado; pronto para  as ``descobertas'' experenciais.
Os grupos cada qual dramatizou uma faceta do cotidiano atual: as dores, os temores, os sonhos, os louvores...
As cenas dramatizadas foram intensificadas ao máximo.
Posteriormente, a partir das ressonâncias foram elas multiplicadas como:
· ritual bárbaro
· jogo infantil
· obra de arte
· delírio
O grupo, então, investigou nestas montagens as ``linhas de fuga'' e ``as linhas endurecidas-emparedadas-bloqueadas e desvitalizadas'' presentes no cotidiano investigada no trabalho desenvolvido.
Dialogou-se; trocou-se. Por colagem fez-se um retrato dinâmico dos dias de hoje.
O fechamento se deu com a montagem de uma estátua onde cada um moldava a partir do como se encontrava afetivamente ali, no momento; e dando movimento a estátua ela explorou limites e possibilidades; e, então, desfez-se ao som de ``Abre alas''. A conversa final procurou costurar o experimento focando as paisagens do cotidiano e seus movimentos, principalmente, linhas de reivenção da vida.
XXX
As investigações experienciais na pedagogia foram revelando a possibilidade-potência do próprio esquizodrama como caminho/ferramenta/máquina da pesquisa esquizoanalítica.
            
1.2 A pesquisa esquizodramática
Pesquisa 1. Cartografia e Esquizodrama: o perambular surrealista e o acontecimento.
Usou-se o perambular do surrealismos e montou-se um esquizodrama aonde  os dados eram recolhidos no processo ao acaso; isto é, em cada paragem da viagem selecionava aleatoriamente um dado, todos relacionados a um tema ,  no caso o amor. Estas paragens, paisagem se compunham de poesias, musicas, lendas míticas, lembranças de amores vividos, um amor-acontecimento e sonhos de amor.
O esquizodrama se compôs, assim:
 
CARTOGRAFIA E ESQUIZOANÁLISE
EXERCÍCIO 3. CARTOGRAFIA DO AMOR
Aquecimento -  Flores, velas, cantos, Dança da Mamãe Oxum
Paisagem 1. A ilha das poesias.
Paisagem 2. Enseadas de Flashs/fotos e imagens.
Paisagem 3. Redemoinhos musicais.
Paisagem 4. Conchas, corais do mar das lembranças.
Paisagem 5. Histórias que o barco contou.
Paisagem 6. O vento norte de um amor-acontecimento.
Paisagem 7. Miragens-Sonhos de uma noite de verão, de amor...
Paisagem 8. Revoada de pássaros/lendas de amor.
GT -  afetos/ressonâncias, linhas...
Relatório -  Cenas, Trocas e escritos
 
Pesquisa 2 -  esquizodrama e investigação esquizoanalítica - eis outra experiência.
EXERCÍCIO 4. A SOLIDÃO PÓS MODERNA
Aquecimento. Andar com solilóquios, entrando no redemoinho, bailado.
Gromolô e canoagem.
· Cenas -  mudas: solidão...
 
 No Mundo do trabalho
   No lar
   Na rua
   No Hospital
· Multiplicidade/Tempestade mental -  dando voz aos solitários
· o que o outro anda `` fazendo'' na hora da minha solidão
· Multiplicidade 2 / Tempestade mental -  dando vos aos outros
· dizendo da razão de não estar o só
· Cenas = o que falta na vida para que as pessoas conectem-se entre si
· Estátua  -  Corpos solitários
Conexão
Estátua Devir Solidariedade
       
Som: Se esta rua...
No Final, Relatos/Trocas/Relatório: enfim, um produto de uma investigação esquizodramática.
“Qualquer amor já é um cadinho de saúde, um descanso na loucura''
Rosa
2. UM ESQUIZODRAMA. PESQUISA EM ATO.
Os exercícios acima se deram no Curso de Metodologia Científica do Instituto Felix Guattari, BH e no final , na preparação de Monografias outra invenção aplicando na pesquisa o esquizodrama: em parceria com a professora Dra. Neusa Enriques realizamos um esquizodrama que objetivou a construção de objetos de pesquisa por um grupo de 12 alunos do Curso de Especialização em Análise Institucional. Após o aquecimento desterritorializante, eles performaticamente se experimentaram possuídos pelo objeto, depois revendo o vivenciado selecionaram uma pergunta que gostariam de indagar ao objeto ali materializado. 
Deste diálogo, delimitou-se o objeto das monografias.
Em Ribeirão Preto, supervisionando o trabalho de campo de duas teses ``Cuidando de quem cuida'' e ``Cartografia do Acolhimento, usamos em vários momentos o esquizodrama.
Estas experiências acabaram por permitir a elaboração de dois trabalhos sobre o uso do esquizodrama para serem apresentados no Primeiro Encontro Latinoamericano de Esquizoanálise, Montevidéo e no Terceiro Congresso Mundial de Saúde Mental e Direitos Humanos, Buenos Aires.
Segue abaixo os dois esquemas:
 
A. ESQUIZOANÁLISE E PRODUÇÃO DO CONHECIMENTO: O USO DO ESQUIZODRAMA
MONTEVIDÉU, URUGUAI
O que é esquizoanálise? Ato de liberar, teoria da multiplicidade. Filosofia da diferença.
Materialismo Neofuncionalista Maquínico
Empirismo Transcendental
Roubo / Caixa-de-ferramenta / Bricolleur
Heterodoxo
            
O que é um fazer esquizoanalítico
             
1.Tarefas positivas e negativas
         Devir
2.Nunca interpretar
         Rizoma
            
3.À moda da criança, do artista e do louco.
4.Dispositivo maquínico
         Desejo - produção
O QUE É O MÉTODO ESQUIZOANALÍTICO
Não método
Inventar o método
· maquinicamente
· rizomaticamente
Caçar linhas
Citações de Diálogos
O estranho e a regularidade. Tarde
Perambular
A cartografia
Episteme
Espaço liso
Menor
Caosmose
Rizoma
O esquizodrama
Drama do devir
Desterritorialização   -    Performace:  O que pode um corpo
Intensidade
Multiplicidade
As Klínicas
Seus usos
Na pesquisa
1.A construção do objeto
Aquecimento -  alongamentos, ritual tribal, bichos hiperventilando.   
1. O Objeto
-  4 grupos de 8:
1.Os Latinoamericanos na encruzilhada. Devir ou Rostidade.
2.A Noite e seus encantos. Territóriode devires, redemoinhos de buraco negro.
3.Por onde passa no neoliberalismo o devir Che guevara.
4. A melodia do amor. Viagem cartográfica.
Momento 1. Cena intensificada
Momento 2. Diálogo com a cena. Que questões?
Momento 3. Objeto-problema.
2 Produção de dados
1.Escolha de 1 objeto-problema. Diálogo. Consenso
2.Desenho do laboratório
3.Realização do laboratório
4.Fechamento / Relatório
3 Validação do Relatório
1.Transformação em cenas
2.Multiplicar por afectos e perceptos
3.Intensificar
4.Transportá-las p/ outros Territórios
5.Relatório Final
Fechamento.
O que fica?
Usos
Na vida
Na produção de conhecimento
Na contrução de uma nova utopia ativa.
Roda -  de -  samba
B. Oficina -  Esquizoanálise  e investigação: o uso do esquizodrama na pesquisa.
Buenos Aires, Argentina
Eye -  Las grupalidades y sus despositivos
Área -  Nuevos dispositivos clínicos
Modalidade -  Oficina (Taller)
Esta oficina tem como objetivos: experenciar a contrução de um dispositivo de pesquisa, tendo por base o uso do esquizodrama; desenvolver uma investigação onde o método é, também, inventado no próprio processo da pesquisa; e gestar um modo de construir um projeto e a execução de uma investigação, onde se consegue desterritorializar o caráter molar da ciência, fazendo emergir uma máquina rizomática de pesquisa de linhas de fuga.
Desenvolvimento:
Fase 1. Aquecimento desterritorializante, baseado na dança, nos movimentos dos bichos e na hiperventilação.
Fase 2. Construção do objeto.
· Experimento de ser possuído pelo objeto e criação de uma performace.
· Visualização do objeto experimentado num ato de possessão ativa.
· Por Tempestade mental -  Que perguntas faria ao objeto?
· Delimitação do Objeto-problema.
Fase 3. Produção de dados
Montagem de um esquizodrama capaz de fazer emergir dados das diferentes superfícies.
Fase 4. Montagem de um relato da experiência. Por colagem.
Enfim esta oficina capacita o inventar processos de pesquisa, marcado pela intensiva busca de linhas de fugas.Xxx
O Esquizodrama, de fato, mostra-se ferramenta, mais, uma máquina de produção de acontecimentos.
E na pesquisa permite  “caçar linhas de fuga''; enquanto os métodos tradicionais fotografa as regularidades, o estatisticamente significativo, ele desvela o novo, o diferente e a heterogênese  inerente à vida que é permanente mudança.
 
OUTRAS PALAVRAS
Não chegamos ao fim...
O esquizodrama se revela estrada, estradear.
Um método, e provocados a sempre inventar um método, criando pensares, agires e sentires rizomático e maquínicos.
À la Tarde, procuramos o estranho, o que foge dos eixos das coordenadas dominantes.
Fazemos ciência menor, caosmótica... gestamos espaço liso.
E reabrindo o desejo de novas e novas experiências, podemos dizer que esquizodrama e pesquisa compõe acima de tudo um bom encontro.
E mais da conclusão, preferimos aqui não fechar, mais sim abrir com indagações, indagações que dizem dos novos caminhos a que somos convocados pela própria alegria do esquizodrama:
1)  Qual é o lugar e a importância das paixões alegres (Spinosa) no Esquizodrama?
É um efeito, no sentido dado pelos institucionalistas?
É um recurso operacional?
É produto e produtor?
Ou uma meta, isto é um resultado desejado?
            
2)  A construção de um espaço liso é componente do dispositivo -  Esquizodrama?
Que meios se usa para tal intento?
Ou é ele um acontecimento?
3)  No esquizodrama, experimenta-se, explora-se o que pode um corpo; e neste processo atualiza-se virtualidades e realiza-se possibilidades. Neste sentido, funciona como uma engenhoca de se perceber, produzir e dar vida, as linhas de fuga.
4) O Esquizodrama se dá na intensificação? Qual a motivação? Tem haver com o encontro na velocidade de Spinosa?
5)   Qual a conexão Esquizodrama/Biopotência?
É um dispositivo de raspagem das inscrições no corpo do biopoder e um fomento na capacidade de agir, uma liberação da biopotência, e, assim um (entre outros possíveis) agenciamentos que retiram a biopotência de uma visão expontaneista e passiva?	
6)Qual o lugar do E  e do Entre no Esquizodrama?
Nele, ``há uma sobriedade, uma pobreza e uma ascese fundamentais do E'' (Diálogos, pg 71) e diante dele podemos dizer: ``tudo isso é rizoma. Pensar, nas coisas, entre as coisas é justamente criar rizomas e não fazer balanço'' (Diálogo, pg. 36) ?
7) O conceito de virtualização de Pierre Levy, e da virtualização como uma guerra contra a fragilidade, a dor, desgaste. Bem como da arte como virtualização da virtualização se aplicam aos efeitos do esquizodrama e podem dialogar com a importância dado  por Deleuze ao imaginar e ao dramatizar?
            
8)Que parentesco há entre o esquizodrama e	
a gira mágica do camdomblé,
as performaces do carnaval
as celebrações do MST
a folia de reis
e a seresta das Geraes?
9) Na crítica e na clínica, Deleuze diz sentir na literatura (arte?) a única psicoterapia efetiva.
O Esquizodrama é, também, a produção coletiva de um texto literário onde a decifração interpretativa dá lugar uma fabulação criativa? Não é re-leitura de vida, consigo entender, mas não seria uma escrita inventiva em língua estrangeira, onde o corpo devém lápis papel? E a vida-revista (gibi) fabrica novos sentidos, inventa-se novidade?
10) Em suas aulas, nos diálogos, veja a piada (o humor) muito potente.
Que lugar/papel pode o humor desempenhar no esquizodrama?
Lembro-me, no Diálogos,
“o humor é visto como algo que sempre faz fluir, esta sempre no meio...”
         
O método haverá de se construir sem prévia definição; para respondê-las como sugere Deleuze resta-nos se permitir uma larga preparação...
Como grama que cresce no caminho;
Como a poeira estelar das noites de lual,
Resta-nos como herança deste trabalho (provisória) a coragem cheia de ousadia de indagar por si mesmos e a humilde prudência dos que aceitam as lições vivas da própria estrada.
Disponível em: http://www.fgbbh.org.br/artigos/esquizoanalise_e_producao.htm

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