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Prof. Christiano Leonardo Gonzaga Gomes 
 
 
 
UNIDADE V – Da conduta 
 
Sumário 
 
 
 Conduta: características, elementos (psíquico, mecânico). 
 Teorias da Conduta: teoria causal da ação (Liszt-Beling), teoria social 
da ação (Jeschek – Wessels), teoria final da ação (Welzel). 
 Formas de conduta: ação, omissão (crimes omissivos próprios, crimes 
omissivos impróprios). 
 Do resultado: natural (crimes materiais, crimes formais e crimes de 
mera conduta), normativo. 
 Ausência de conduta: nos movimentos reflexos, coação, estados de 
inconsciência. 
 Relação de causalidade: teoria da equivalência dos antecedentes 
causais (conditio sine qua non) 
 Superveniência causal: causas absolutamente independente 
(preexistente à ação do agente, concomitante à ação do agente, 
superveniente à ação do agente); Causas relativamente independente( 
preexistente à ação do agente, concomitante à ação do agente, 
superveniente à ação do agente) 
 
CONDUTA 
 
CARACTERÍSTICAS 
 
 refere-se apenas a comportamentos humanos; 
 somente é conduta aquela ação ou omissão que é exteriorizada, o Direito 
Penal não se preocupa com as atividades meramente psíquicas – 
Princípio da Lesividade; 
 só tem importância para o Direito Penal a conduta voluntária. 
 
ELEMENTOS 
 
1- psíquico: ato de vontade dirigido a uma finalidade, onde ocorre a 
formação da vontade do agente, o seu objetivo; 
2- mecânico: atuação positiva ou negativa dessa vontade no mundo exterior, 
que através dos impulsos nervosos determinam o movimento corporal. 
O resultado não faz parte da conduta, pois é conseqüência dela. O ato 
também não se confunde com a conduta, pois ele é um momento dela. Ex.: A 
mata B com várias facadas. Há uma única conduta, porém com vários atos. 
 
TEORIAS DA CONDUTA 
 
TEORIA CAUSAL DA AÇÃO 
 
Prof. Christiano Leonardo Gonzaga Gomes 
 
 
 
Elaborada por Liszt/Beling – final do século XIX. 
Conduta é um comportamento humano voluntário causador de modificação 
no mundo exterior. Consiste em um fazer. 
Ela incorpora as leis da natureza ao direito, dizendo que a conduta é um fator 
de causalidade. 
A conduta seria a pura realização da modificação do mundo exterior, pouco 
importando se o resultado foi alcançado intencionalmente e se há uma 
valoração jurídica. Esta teoria se fundamenta nas leis da natureza. 
Os causalistas não se importam, ao examinar a conduta, com o conteúdo da 
vontade do agente, interessa ter o sujeito atuando voluntariamente. 
Os elementos do conceito de ação são a manifestação da vontade, o 
resultado e a relação de causalidade. O conteúdo da vontade (culpa e dolo), 
que é causa da conduta, pertence a culpabilidade, e se não ocorrer resultado, 
não há conduta. 
O conceito causal de ação é inaplicável à omissão, pois falta uma relação de 
causalidade entre a não realização de um movimento corporal e o resultado. 
Nāo há diferença entre o crime culposo e doloso, pois matar alguém por dolo 
ou por culpa, o resultado é o mesmo, qual seja, a morte. 
 
TEORIA SOCIAL DA AÇÃO 
 
Elaborada por Jeschek/Wessels – 1930. 
A conduta é a realização de um resultado socialmente relevante. O problema 
está em conceituar o que seria esse resultado relevante, restando uma 
conceituação muito abstrato e sem aplicação prática. Culpa e dolo pertencem 
a culpabilidade. 
 
TEORIA FINAL DA AÇÃO 
 
Elaborada por Welzel – 1935. 
A ação é um comportamento humano voluntário, dirigido a uma finalidade 
qualquer, onde a vontade do agente tem que ser observada. 
Foi a teoria adotada pelo Código Penal Brasileiro. 
Ex.: no homicídio há uma série de condutas humanas tendentes a um fim, 
que é a morte. Compra da arma, escolha do local, pontaria e disparo. 
Para existir um resultado deve existir uma conduta predeterminada, pensada, 
finalisticamente dirigida a um fim, o que não era preciso para a teoria causal, 
que é uma simples causa e efeito. 
A realização da conduta inclui a escolha do fim, seleção dos meios e 
aceitação dos efeitos secundários. 
Explica inclusive delitos culposos, quando alguém atropela, por imprimir 
velocidade excessiva, inicialmente finalidade era lícita, chegar em 
determinado lugar, os meios para se chegar são inadequados e deram causa 
ao evento lesivo. 
A culpa (inobservância das diligências necessárias) e o dolo estão na 
conduta, ou seja, no fato típico, querer do agente, elementos subjetivos do 
tipo. 
Prof. Christiano Leonardo Gonzaga Gomes 
 
 
 
Welzel diz que a finalidade é “vidente” e a causalidade é “cega”. 
Ex.:Caçador atira em homem supondo tratar de um animal. 
Teoria Causal: comportamento humano e resultado. 
Teoria Final: vontade do agente. 
 
FORMAS DA CONDUTA 
 
1- ação – é um movimento corpóreo tendente a uma finalidade. 
2- Omissão – é a abstenção de uma atividade que era imposta pela lei. 
Quando o agente não faz o que pode e deve fazer, que lhe é 
juridicamente ordenado. 
 
A conduta omissiva gera duas formas de crime: 
1- Omissivos próprios: simples conduta negativa, que não necessita de 
qualquer resultado, uma simples abstenção. Qualquer pessoa não cumpre 
o dever de agir implícito na norma. Ex.: art. 135 do CP. 
2- Omissivos impróprios ou comissivos por omissão: estão previstos no art. 
13, § 2º do CP, são aqueles que, para sua caracterização, exigem uma 
omissão inicial e a ocorrência de um resultado naturalístico. Nestes 
crimes o agente tem a obrigação de agir para evitar um resultado, pois ele 
tem a função de garantidor. A pena aplicada a estes crimes e a mesma 
dos crimes comissivos. Ex.: mãe deixa de amamentar seu filho (omissão) 
e este vem a falecer por inanição (resultado). Qual crime a mãe cometeu? 
 
DO RESULTADO 
 
É a modificação do mundo exterior provocada pela conduta do agente. 
O resultado pode ser: natural ou normativo 
Há resultado natural quando ocorre uma modificação no mundo físico 
produzida por uma conduta humana voluntária e finalisticamente dirigida, ou 
ainda, socialmente relevante. 
Para seus adeptos, existe crime sem resultado. Conforme a classificação dos 
crimes quanto ao resultado naturalístico a situação é: 
1- Crimes materiais: são aqueles em relação aos quais a lei descreve uma 
ação e um resultado, e exige a ocorrência deste para que o crime seja 
consumado. Ação e resultado são cronologicamente distintos. Ex.: 
homicídio, furto. 
A não ocorrência do resultado pretendido caracteriza a tentativa. 
2- Crimes formais: são aqueles em relação aos quais a lei descreve uma 
ação e um resultado, mas a redação do dispositivo deixa claro que o 
crime consuma-se no momento da ação, sendo o resultado mero 
exaurimento do delito. O resultado não precisa verificar para ocorrer a 
consumação. Ex.: o art. 159 do Código Penal descreve o crime de 
extorsão mediante seqüestro: sequestrar pessoa (ação) com o fim de 
obter qualquer vantagem como condição ou preço do resgate (resultado). 
O crime, por ser formal, consuma-se no exato momento em que a vítima é 
Prof. Christiano Leonardo Gonzaga Gomes 
 
 
 
seqüestrada. A obtenção do resgate é irrelevante para o fim da 
consumação, sendo, portanto, mero exaurimento. 
3- Crimes de mera conduta: são aqueles em relação aos quais a lei 
descreve apenas uma conduta e, portanto, consumam-se no exato 
momento em que esta é praticada, não há a exigência de um resultado 
naturalístico. Ex.: violação de domicílio (art. 150 do CP) 
 
Há resultado normativo quando ocorre lesão ou perigo de lesão a um bem 
penalmente protegido. Para esta teoria não há crime sem resultado, 
porquanto toda norma penal incriminadora possui um bem jurídico protegido. 
Consoante a maioria da doutrina, o Código Penal acolheu a teoria do 
resultado normativo, pois de acordo com o disposto no artigo 13 do diploma 
legal em questão, para o crime existir deve haver resultado. Infere-se tal 
entendimento da locução:”o resultado do que depende a existência do crime, 
só é imputável a quem lhe der causa.” Se para o crime existir depende de 
resultado, a falta do resultado implica ausência de crime.AUSÊNCIA DE CONDUTA 
 
Quando não houver vontade dirigida a uma finalidade qualquer, não se pode 
falar em conduta. Inexiste conduta: 
- nos movimentos reflexos, que é uma reação automática, não 
há um querer. Ex.: ao tomar um choque vira a mão e lesiona 
um terceiro. 
- Coação: 
1- coação física (vis absoluta) – sujeito pratica ação por 
causa de uma força corporal exercida sobre ele, logo 
não há conduta. A ação é excluída. Ex.: marido briga 
com a mulher a empurra, esta cai em cima da filha e 
provoca lesões na coluna, mãe não responde pelas 
lesões, eis que foi apenas um instrumento. O Código 
Penal reconhece e pune a figura do autor mediato, 
art. 22. 
2- Coação moral (vis compulsiva) - existe a conduta e 
consequentemente o fato típico, mas não há 
culpabilidade, pois não há um juízo de reprovação, 
logo a culpabilidade é excluída. 
- Estados de inconsciência: consciência é o resultado da 
atividade das funções mentais, quando as funções mentais 
não funcionam adequadamente se diz que há estado de 
inconsciência, que é incompatível com a vontade, e sem 
vontade não há ação. Ex.: sonambulismo, hipnose. Estes 
atos não são orientados pela vontade, consequentemente 
não podem ser considerados ações penalmente relevantes. 
 
RELAÇÃO DE CAUSALIDADE (art. 13, CP) 
 
Prof. Christiano Leonardo Gonzaga Gomes 
 
 
 
A relação de causalidade existe apenas nos crimes materiais, onde há 
resultado naturalístico. 
A relação de causalidade é o elo necessário entre a conduta praticada pelo 
agente e o resultado por ele praticado, se inexistir este elo, inexiste relação 
de causalidade, e o resultado não poderá ser atribuído ao agente, haja vista 
não ter sido ele o causador do resultado. 
Logo, relação de causalidade é o vínculo entre a conduta do agente e o 
resultado naturalístico por ele produzido. 
 
TEORIA DA EQUIVALÊNCIA DOS ANTECEDENTES CAUSAIS (conditio 
sine qua non). 
 
Adotada no art. 13, caput, 2ª parte do Código Penal, “o resultado, de que 
depende a existência do crime, somente é imputável a quem lhe deu causa. 
Considera-se causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria 
ocorrido.” 
Isso significa que todos os fatos que antecedem o resultado se equivalem, 
desde que indispensáveis à sua ocorrência. 
Para se saber se uma ação ou omissão é causa de um resultado, utiliza-se o 
procedimento hipotético de Thyrén, que consiste em suprimir mentalmente 
uma conduta. Se o resultado continuar acontecendo, a conclusão é de que tal 
conduta não é causa do resultado. Se, ao contrário, o resultado não ocorrer, 
como ocorreu, a conclusão é que a conduta é causa desse resultado. 
Ex.: A está dependurado em um galho de árvore prestes a cair em um 
despenhadeiro, enquanto B corta o galho. Este responderá pela sua 
conduta, pois sem ela o evento não ocorreria como ocorreu, no momento 
que ocorreu. 
O agente não deve interferir na cadeia causal, sob pena de responder pelo 
resultado, mesmo que este, sem a sua colaboração, fosse considerado 
inevitável. 
Esta teoria é criticada por muitos autores, pois ela permitiria um regresso ao 
infinito, fazendo com que em um crime de homicídio até o fabricante da arma 
respondesse por ele. 
 
SUPERVENIÊNCIA CAUSAL 
 
Quando junto à conduta do agente ocorrem outras condições ou 
circunstâncias que interferem no processo causal, que podem ser 
preexistentes, concomitantes ou supervenientes, absoluta ou relativamente 
independente do comportamento do agente. 
 
CAUSAS ABSOLUTAMENTE INDEPENDENTE 
 
São aquelas que teriam acontecido, vindo a produzirem o resultado, mesmo 
se não tivesse havido qualquer conduta por parte do agente. 
1- preexistente à ação do agente – ocorre quando a conduta do agente é 
praticada após a ocorrência da causa que gera o resultado. Ex.: A, desejando 
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matar B, dispara tiros contra este, que vem a falecer, não em virtude dos 
ferimentos, mas porque ingerira veneno antes. A, responde por tentativa de 
homicídio. 
2- Concomitante à ação do agente – ocorre quando a conduta do agente se 
dá no exato instante da manifestação da causa geradora do evento em nada 
influenciando no resultado. Ex.: A lesiona B, desejando matá-lo, no exato 
instante em que esse sofre um aneurisma cerebral, causador de sua morte. A 
responde por tentativa de homicídio. 
3- Superveniente à ação do agente – ocorre quando à ação do agente 
sobrevem outra causa, que é a provocadora do resultado havido, inexistindo 
relação entre a conduta do agente e a causa subseqüente. A, desejando 
matar B, põe veneno em sua água, que vem a falecer em virtude de um 
desmoronamento em sua residência. A responde por tentativa de homicídio. 
 
CAUSAS RELATIVAMENTE INDEPENDENTE 
 
Diz-se relativamente independente a causa que somente tem a possibilidade 
de produzir o resultado se for conjugada com a conduta do agente. A 
ausência da causa relativamente independente ou da conduta do agente faz 
com que o resultado seja modificado. 
1- preexistente à ação do agente – ocorre quando o resultado havido, gerado 
por uma causa anterior à conduta do agente, possui relação de dependência 
com a citada ação. Ex.: A, desejando matar B, sabendo que este é 
hemofílico, dispara tiros, B, hemofílico, sofre uma hemorragia, e vem a 
falecer. A hemofilia já existia antes do fato delituoso ocorrer, mas somente se 
exteriorizou em função das lesões provocadas por A. Sem a conduta de A o 
resultado não teria ocorrido como ocorreu. Assim, estabelecido o nexo 
causal, responde o sujeito pelo delito de homicídio. 
2- Concomitante à ação do agente – ocorre quando o resultado é gerado por 
uma causa que se manifesta simultaneamente com a ação do agente, 
guardando vínculo de dependência com esta. Ex.: A, desejando matar B, 
dispara tiros contra este, que neste momento sofre um ataque cardíaco 
provocado pelo impacto dos disparos, vindo a falecer. Excluída a conduta de 
A, o resultado não teria ocorrido como ocorreu. Logo, A responde por 
homicídio. 
3- Superveniente à ação do agente – ocorre quando o resultado é causado 
por uma causa subseqüente à conduta do agente, guardando relação de 
dependência com essa. Há, nesta matéria, particular disposição contida no 
artigo 13, § 1º, do Código Penal, pela qual “ a superveniência de causa 
relativamente independente exclui a imputação quando, por si só, produziu o 
resultado, os fatos anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou.” 
Após a conduta do agente, pode ocorrer outra causa que venha a interpor-se 
no curso do processo causal instalado e em andamento, alterando seu rumo 
e levando à produção do resultado por sua própria eficiência. 
Logo, o nexo causal é rompido e o réu não responde pelo resultado, mas 
somente pelos atos até então praticados. Nessa hipótese, após a conduta do 
agente, ocorre uma causa relativamente independente que, por si só, produz 
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o resultado. Ex.: Vítima toma um tiro na barriga e é levada de ambulância 
para o hospital, vindo a falecer face a ferimentos provocados por uma colisão 
da ambulância. Não é natural que quem recebe disparo de arma de fogo 
morra face a ferimentos de uma colisão. Assim, como a causa da morte foi o 
acidente, a pessoa que efetuou os disparos não responde por homicídio 
consumado, mas por tentativa de homicídio. A causa é relativamente 
independente porque, não fosse o disparo, a vítima não estaria na 
ambulância e não teria se ferido mortalmente no acidente automobilístico. 
Essa nova causa, que se interpôs, que interrompeu e modificou o processo 
causal iniciado com a conduta do agente, é uma causa superveniente 
relativamente independente que, por si só, produziu o resultado. 
 
 
 
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UNIDADE VI – Do Tipo e da Tipicidade 
 
Sumário 
 
 Tipo penal. 
 Tipicidade: formal ou legal, material. 
 Evolução da teoria do tipo. 
 Funções do tipo penal: garantia, indiciária. 
 Elementos do tipo: objetivos, normativos, subjetivos. Adequação típica: de sobordinação imediata ou direta, de 
subordinação mediata ou indireta. 
 Espécies de tipo: básico, derivado (qualificado, privilegiado), normal, 
anormal, fechado, aberto. 
 Tipo doloso. 
 Elementos componentes do dolo: consciência e vontade. 
 Teorias acerca do dolo: teoria da vontade, teoria do assentimento ou 
consentimento, teoria da representação. 
 Espécies de dolo: dolo direto, dolo indireto (dolo alternativo e dolo 
eventual), dolo genérico, dolo específico, dolo geral ou erro sucessivo. 
 Tipo culposo. 
 Elementos do fato típico culposo: conduta humana voluntária, 
comissiva ou omissiva; inobservância de um dever objetivo de 
cuidado; resultado lesivo não querido, tampouco assumido, pelo 
agente; nexo de causalidade entre a conduta e o resultado 
involuntário; previsibilidade objetiva; tipicidade. 
 Previsibilidade objetiva. 
 Previsibilidade subjetiva. 
 Modalidades de culpa: imprudência, negligência e imperícia. 
 Espécies de culpa: culpa inconsciente, culpa consciente, culpa própria 
e culpa imprópria, por extensão, assimilação ou equiparação. 
 Diferença entre culpa consciente e dolo eventual. 
 Compensação e concorrência de culpa. 
 Graus de culpa. 
 Crimes qualificados pelo resultado. 
 Erro de tipo 
 Formas de erro de tipo: 1- essencial: erro de tipo invencível 
(escusável, justificável, inevitável); erro de tipo vencível (inescusável, 
injustificável, evitável). 2- acidental: erro sobre a pessoa; erro sobre o 
objeto; erro na execução ou aberratio ictus; resultado diverso do 
pretendido ou aberratio criminis 
 
Tipo penal: é um modelo abstrato que descreve com precisão um 
comportamento humano proibido. Ex.: tipo de furto, art. 155 do CP; tipo de 
estupro, art. 213 do CP. 
 
Prof. Christiano Leonardo Gonzaga Gomes 
 
 
 
TIPICIDADE 
 
1- Tipicidade formal ou legal: adequação perfeita da conduta praticada pelo 
agente ao modelo abstrato previsto na lei penal, ou seja, um tipo penal. Se a 
adequação não for perfeita, mas somente parecida, não se pode falar em 
tipicidade. 
2- Tipicidade material: finalidade do Direito Penal é a proteção dos bens mais 
importantes existentes na sociedade. O legislador, quando da elaboração dos 
tipos penais incriminadores, não pode descer a detalhes, cabendo ao 
intérprete delimitar o âmbito de sua abrangência. Ex.: motorista que provoca 
um arranhão de meio centímetro em um pedestre. Tipicidade formal está 
verificada, mas embora a integridade física seja importante, protegida pelo 
direito, nem toda e qualquer lesão estará abrangida pelo Direito Penal. 
Somente aquelas que gozem de certa importância estarão previstas no tipo, 
a tipicidade material exclui do tipo penal aqueles fatos reconhecidos como de 
bagatela. A tipicidade material afere a importância do bem no caso concreto, 
a fim de que possamos concluir se aquele bem específico merece ou não 
ser protegido pelo Direito Penal. Lembrar o que foi dito acima acerca do 
princípio da insignificância. 
 
EVOLUÇÃO DA TEORIA DO TIPO 
 
Tipo advém do alemão tatbestand, que inicialmente compreendia a ilicitude e 
culpabilidade, logo continha toda estrutura analítica do crime. 
Em 1906, Beling tornou a tipicidade independente da ilicitude e culpabilidade, 
com uma função meramente descritiva, definir delitos, sem qualquer 
valoração, caráter objetivo. 
Em 1915, Mayer, sustenta que a tipicidade não tem simplesmente uma 
função descritiva, mas constitui indício da ilicitude (ratio cognoscendi). Mayer 
mantém a independência entre tipicidade e ilicitude, mas admite que o fato de 
uma conduta ser típica já representa um indício de sua ilicitude, que só não 
será ilícita se ficar configurada uma causa de justificação. 
Em 1931, Mezger inclui a tipicidade na ilicitude, de forma que para ele crime 
é a “ação tipicamente ilícita e culpável”, sendo que as causas justificantes 
excluem a ilicitude e também a culpabilidade. Para Mezger a tipicidade é 
muito mais que indício da ilicitude, é a sua própria essência (ratio essendi). É 
o chamado tipo total de injusto, em que se aferem os elementos negativos do 
tipo. 
 
FUNÇÕES DO TIPO PENAL 
 
 Função de garantia: o agente somente poderá ser penalmente 
responsabilizado se cometer uma das condutas proibidas, princípio da 
reserva legal, limita o poder arbitrário do Estado, que somente pode punir 
se um tipo penal for violado. É lícito fazer tudo o que não é proibido pela 
norma penal. 
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 Função indiciária: o tipo indica que a conduta por ele definida é proibida, 
ilícita, contrária ao ordenamento jurídico. Os tipos são portadores da 
ilicitude, trazendo-a em seu interior. 
A função indiciária do tipo fica fortemente enfraquecida nos crimes culposos, 
em que o tipo é aberto, não contendo a descrição completa da conduta ilícita, 
devendo ser complementada pelo Juiz. 
 
ELEMENTOS DO TIPO 
 
 Objetivos: são aqueles perceptíveis pelos sentidos, independentemente 
de qualquer valoração, referem-se a objetos, seres, animais, coisas ou 
atos perceptíveis pelos sentidos. Ex.: núcleo do tipo (= ação material); 
alguém, representando o sujeito passivo (arts. 121, 130, 146, 147 do CP); 
coisa, significando o objeto do crime (arts. 155, 157, 163, 165, 169 do 
CP); outros: por meio de relações sexuais (art. 130 do CP) 
 Normativos: são aqueles que exigem um juízo de valor para o seu 
conhecimento. Podem ser de valoração jurídica, referentes aos conceitos 
jurídicos como cheque, documento, funcionário público (art.s 312, 331, 
333 do CP) casamento; ou de valoração extrajurídica, concernentes a 
juízos de valor fundados na experiência, na sociedade ou na cultura, 
como ato obsceno, mulher honesta ( art. 219 do CP), dignidade, decoro 
(art. 140 do CP), saude mental, epidemia, moléstia contagiosa, 
indevidamente (arts. 162, 317, 319 do CP), sem justa causa ( arts. 153, 
154, 244, 246 do CP) 
 Subjetivos: são todos os requisitos de caráter subjetivo, que integram o 
íntimo do agente, presentes no tipo, distinto do dolo, que o tipo exige, 
além deste, para a sua realização. Normalmente, designam uma especial 
finalidade de agir. Ex.: para si ou para outrem, no furto (art. 155 do CP); 
para praticar ato libidinoso, no rapto ( art. 219 do CP); para ocultar 
desonra própria, no abandono de recém nascido (art. 134 do CP); com o 
fim de obter resgate ( art. 159 do CP). 
 
ADEQUAÇÃO TÍPICA 
 
Há adequação típica quando a conduta do agente se amolda perfeitamente a 
um tipo legal de crime. Espécies: 
1. Adequação típica de subordinação imediata ou direta: quando houver uma 
perfeita adequação entre a conduta do agente e o tipo penal incriminador. 
Ex.: Se A mata B, sua conduta se amolda perfeitamente no tipo previsto 
no art. 121 do Código Penal. 
2. Adequação típica de subordinação mediata ou indireta: ocorre quando o 
agente atua com vontade de praticar a conduta proibida por determinado 
tipo incriminador, mas seu comportamento não consegue adequar-se 
diretamente a essa figura típica. Ex.: A, querendo matar B, atira contra 
este e erra o alvo, esta conduta não se amolda imediatamente àquela 
descrita no art. 121 do Código Penal, que exige o resultado morte da 
vítima. Assim para falarmos em tipicidade temos que nos valer das 
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chamadas normas de extensão, que têm por finalidade ampliar o tipo 
penal, a fim de nele abranger hipóteses não previstas expressamente pelo 
legislador. No caso do exemplo temos que aplicar a regra atinente a 
tentativa (art. 14,II, do Código Penal) para se punir a conduta de A. Caso 
não houvesse a referida norma de extensão a conduta de A seria um 
indiferente penal. 
 
A tentativa de contravenção não é punida, art. 4º da LCP. 
A norma contida no art. 29 do Código Penal também é considerada norma de 
extensão, uma vez que para falar-se em concurso de pessoas, salvo os tipos 
penais que já possuem a figura do concurso de pessoas dentro deles (Ex: art. 
155, parágrafo 4o,IV; art. 288, CP), é necessária a aplicação de tal norma. 
 
ESPÉCIES DE TIPO 
 
1- Tipo básico ou fundamental: é aquele que descreve apenas um fato 
punível, constituindo-se na mais simples figura típica de um crime. Ex.: 
caput do artigo 121, do CP. 
 
2- Tipo derivado: divide-se em: qualificado e privilegiado. 
2.1- Qualificado: aquele que resulta do tipo básico em virtude da adição, à 
figura típica simples, de uma circunstância que a torna mais grave. Ex.: o tipo 
qualificado de homicídio (art. 121 § 2º), que provoca o aumento dos limites 
mínimos e máximos, da pena cominada ao homicídio simples. 
2.2- Privilegiado: aquele que deriva do tipo básico em função da adição, à 
figura típica simples, de circunstância que a torna mais branda. Ex.: o 
homicídio básico, por meio de uma função incidente sobre a sanção referida. 
 
3- Tipos normais: são os que contêm tão-somente uma descrição objetiva, 
sem referência a outros elementos – normativos ou subjetivos do tipo. Exs.: 
artigos 121 e 129 do CP. 
 
4- Tipos anormais: são os que compreendem os elementos objetivos e 
normativos e/ou subjetivos. Exs.: artigos 135, 155, 180, 219, 242, todos do 
CP. 
 
5- Tipos fechados: são aqueles que descrevem completamente o modelo de 
conduta proibida pela lei penal. Ex.: artigo121 do CP. 
 
6- Tipos abertos: são aqueles nos quais não há descrição completa e precisa 
do modelo de conduta proibida ou imposta. Nesses casos, faz-se necessária 
a sua complementação pelo intérprete. É o que ocorre, com os delitos 
culposos. O artigo que prevê o delito culposo não se satisfaz por ele próprio, 
não há possibilidade de compreendê-lo fazendo-se, pura e simplesmente, a 
sua leitura, há necessidade de ser preenchido pelo intérprete. Ex.: No 
art.121, § 3º, o legislador, ao cuidar do crime de homicídio, fez previsão da 
modalidade culposa, dizendo: “Se o homicídio é culposo: Pena – detenção, 
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de um a três anos“. Aqui, para chegarmos à conclusão se a conduta do 
agente foi culposa ou não, é preciso detectarmos em qual modalidade ela se 
deu, ou seja, se a morte da vítima foi decorrente da conduta imprudente, 
imperita ou mesmo negligente do agente, em face da inobservância do seu 
dever de cuidado, ou se o resultado tinha condições de ingressar na esfera 
de previsibilidade do agente. 
 
TIPO DOLOSO 
 
Nos termos do art. 18 do Código Penal: 
 
“Diz-se o crime: 
I- doloso, quando o agente quis o resultado ou assumiu o 
risco de produzi-lo” 
Dolo é a vontade livre e consciente dirigida a realizar a conduta prevista no 
tipo penal incriminador. 
Há tipo doloso quando o sujeito pratica determinada conduta desejando obter 
o resultado representado ou admitindo alcança-lo. 
 
ELEMENTOS COMPONENTES DO DOLO 
 
O dolo é formado por um elemento intelectual (consciência) e um elemento 
volitivo (vontade). 
1- Consciência é a situação fática em que se encontra o agente, este deve 
ter consciência, ou seja, deve saber exatamente aquilo que faz, para que se 
possa atribuir o resultado lesivo a título de dolo. 
2- Vontade é o querer, se há coação, não há vontade. Ex.: se A pressionado 
por B, a colocar o dedo no gatilho de uma arma, que é disparada é mata C, A 
não atua com vontade, não houve conduta, face a coação física exercida 
sobre ele. 
Assim, faltando consciência ou vontade, fica descaracterizado o crime 
doloso. 
A princípio todo crime é doloso, só há possibilidade de punição pela prática 
de conduta culposa se a lei assim prever expressamente. O dolo é a regra, a 
culpa a exceção. 
 
TEORIAS ACERCA DO DOLO 
 
Podemos destacar três teorias a respeito do dolo. 
 
a) Teoria da vontade: por ela, há dolo quando o agente representa e quer 
praticar a ação e produzir o resultado. O agente imagina a ação e 
resultado, e pratica a ação querendo produzir o resultado. O dolo é a 
representação (consciência) mais a vontade, o “querer” finalístico. 
 
b) Teoria do assentimento ou consentimento: por ela, há dolo quando o 
sujeito, ao praticar a conduta lesiva, representa o resultado e o admite, 
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aceita, tolera. O agente consente no ocorrência do resultado lesivo, que 
por ele é previsto quando da prática da conduta. 
 
c) Teoria da representação: para tal doutrina basta, para a existência do 
dolo, que o resultado seja representado mentalmente pelo agente, que 
prevê ocorrência dele. Como visto, os adeptos da representação exigem 
apenas que o agente represente o resultado lesivo. 
 
O Código Penal adotou as teorias da vontade e do assentimento, logo, 
age dolosamente aquele que, diretamente, quer a produção do resultado, 
bem como aquele que, mesmo não o desejando de forma direta, assume o 
risco de produzi-lo. Assim sendo, a simples representação mental do 
resultado não poderá fazer com que o agente seja responsabilizado 
dolosamente. 
 
ESPÉCIES DE DOLO 
 
1) Dolo direto – ocorre quando o agente quer o (aquele) resultado (um 
resultado específico). Ex.: A querendo matar B, saca de seu revólver e o 
dispara contra B, vindo a matá-lo, a conduta de A foi direta e finalisticamente 
dirigida a causar a morte de B. 
No dolo direto, o agente quer praticar a conduta descrita no tipo, por isso é 
chamado de dolo por excelência. 
 
1.1) Dolo direto de 1o grau- é quando o fim precípuo querido pelo agente 
ocorre, como o caso daquele que aponta uma arma de fogo para a 
cabeça de alguém e dispara. Fica claro que o agente queria executar o 
crime de homicídio. 
1.2) Dolo direto de 2o grau- são os efeitos colaterais necessários advindos 
da conduta do agente. Ex: Um terrorista quer matar o Presidente da 
República, mas para tanto tem que colocar uma bomba no avião em 
que o seu alvo encontra-se. Ao detonar a bomba, mata o Presidente e 
todos os demais tripulantes. As mortes dos tripulantes não foram 
diretamente queridas pelo agente, mas se trata de um efeito 
necessário de sua conduta, que era impossível de não ocorrer. 
 
2) Dolo Indireto – Divide-se em: 
 
2.1) Alternativo – ocorre quando o agente quer um ou outro resultado, seja 
em relação ao resultado ou à pessoa. Ex.: A dispara tiros em B, querendo 
matá-lo ou ferí-lo; A dispara tiros contra B e C, querendo matar uma ou outra. 
 
Obs.: o dolo alternativo não é hipótese de dolo indireto, mas sim de dolo 
direto, porque o agente quer um resultado diretamente ou outro resultado 
diretamente. Não há nada de indireto no querer do agente. O querer se liga 
de forma direta a dois resultados, que podem ocorrer alternativamente. O 
dolo alternativo seria, então, uma hipótese de dolo direto. A doutrina, 
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entretanto, classifica-se o como dolo indireto, apenas porque o agente não 
quer um só resultado. 
 
2.2) Eventual – ocorre quando o agente prevê o resultado mas não deseja 
alcançá-lo. Contudo, quando da prática da conduta o admite, tolera, aceita 
que ele ocorra, assumindo o risco de produzi-lo. O agente tem desprezo pelo 
resultado. 
 
3) Dolo genérico – ocorre quando a vontade do agente é de realizar apenas a 
conduta tipificada na norma incriminadora, a vontade do agente não vai além 
do fato material. Ex.: art. 121, caput, do Código Penal, o agente quer apenas 
matar a vítima, não matá-la objetivando algo. 
 
4) Dolo específico – ocorre quando a vontade do agente é de praticar um fato 
e produzir um fim especial, a vontade do agente vai além do fato material. 
Ex.: art. 134 do Código Penal “expor ou abandonar recém-nascido, para 
ocultar desonra própria.” Fim especial. 
 
5) Dolo geral, erro sucessivo ou aberratio causae – quando o autor acredita 
haver consumado o delito quando na realidade o resultado somente se 
produz por uma ação posterior, com a qual buscava encobrir o fato. Ex.: A 
desejando matar B, pratica a conduta tendente a mata-lo, B cai inerte, A, 
acreditando que o matou, deseja ocultar o cadáver e joga-o no rio; B, que não 
estava morto, morre afogado. 
 
TIPO CULPOSO 
 
Nos termos do incisoII do art. 18 do Código Penal: 
 
“Diz-se o crime: 
II- culposo, quando o agente deu causa ao resultado por 
imprudência, negligência ou imperícia. 
Parágrafo único. Salvo os casos expressos em lei, ninguém 
pode ser punido por fato previsto como crime, senão quando o 
pratica dolosamente. 
 
Em regra, a punição se dá a título doloso. Excepcionalmente, segundo o art. 
18, § único do Código Penal, os crimes são punidos a título de culpa. 
Culpa é a ação ou omissão praticada sem o cuidado objetivo necessário. É a 
inobservância do cuidado objetivo necessário no atuar. 
Crime culposo é a conduta humana voluntária que produz resultado 
antijurídico não querido, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que 
podia, com a devida atenção ser evitado. 
 
 
ELEMENTOS DO FATO TÍPICO CULPOSO 
 
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1º) conduta humana voluntária, comissiva ou omissiva – dirigida em geral 
a um fim lícito, porém os meios escolhidos e empregados pelo agente para 
atingir a finalidade, são inadequados. Na conduta dolosa a finalidade é 
sempre ilícita. 
2º) inobservância de um dever objetivo de cuidado – é manifestada 
através da imprudência, imperícia e negligência. 
3º) resultado lesivo não querido, tampouco assumido, pelo agente; 4º)
 nexo de causalidade entre a conduta e o resultado involuntário; 
5º) previsibilidade objetiva; 
6º) tipicidade – os crimes culposos são normalmente tipos abertos, ou 
seja, precisam de complementação. 
 
PREVISIBILIDADE OBJETIVA 
 
A verificação da atuação com ou sem cautela é feita através do exame da 
previsibilidade objetiva, que é a previsão do resultado que teria ou não o 
homem de mediana prudência e mediano discernimento, se estivesse no 
lugar do agente no momento da prática da conduta ensejadora do fato lesivo 
(isto em se tratando de culpa inconsciente – aquela onde o agente não prevê 
o resultado que seria previsível para o homem médio – “imprevisão do 
previsível”). 
Sabe-se se uma pessoa atuou ou não com o cuidado objetivo necessário se, 
naquelas circunstâncias, naquele mesmo local, daquela mesma maneira, o 
homem médio tivesse atuado de forma semelhante. Caso contrário, o agente 
não poderia ter atuado como atuou, motivo pelo qual agiu sem o cuidado 
objetivo que lhe era exigido. 
A previsibilidade objetiva é a possibilidade de ser antevisto o resultado, nas 
condições em que o agente se encontrava. 
A previsibilidade objetiva atua no campo da tipicidade do crime culposo, 
configurando o tipo culposo. 
Ex.: art. 121, § 3º do Código Penal - homicídio culposo. José, dirigindo o seu 
veículo, a 80 hm/h, na Av. Afonso Pena perdeu a direção do carro e atingiu 3 
pessoas que se encontravam próximas ao passeio, e iam atravessar a rua. 
Esse fato não se adequa imediatamente ao § 3º, do art. 121 do Código 
Penal. Há necessidade do exame, primeiramente, da observância ou não do 
cuidado exigido (previsibilidade objetiva). O homem médio teria previsão do 
resultado ocorrido se atuasse daquela maneira. Desta forma, o agente 
deveria ter atuado de maneira diferente, ele não observou o cuidado que lhe 
era exigido naquele momento. Então, o fato é típico, subsume-se ao art. 121, 
§ 3º, do Código Penal. 
O juízo de reprovação, no crime culposo, também é efeito em face da 
culpabilidade, com os mesmos elementos desta no crime doloso: 
imputabilidade, exigibilidade de conduta diversa, potencial consciência da 
ilicitude. Contudo, a potencial consciência da ilicitude exigirá, no crime 
culposo, a análise da previsibilidade subjetiva. 
 
PREVISIBILIDADE SUBJETIVA 
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Previsibilidade subjetiva é a possibilidade de previsão do resultado do ponto 
de vista do agente, consoante suas aptidões e características pessoais, 
quando do momento da prática da conduta. Ela pressupõe um exame do 
próprio agente, ou seja, se ele teria condições de prever o resultado que, 
como visto, era previsível para o homem médio. Ex.: João, mineiro do interior, 
em visita ao Rio de Janeiro, e já alertado sobre a violência da cidade grande, 
arrastões, etc., foi em uma praia onde é muito comum a prática de vôo livre. 
Ao perceber um grupo de quatro homens em sua direção assustou-se, sacou 
o revólver e deu um tiro para o alto. Acertou um esportista que voava de asa-
delta sobre a praia. João nunca tinha ouvido falar da existência do esporte no 
local. Na análise da previsibilidade objetiva, toma-se o homem médio do local 
onde ocorreu o fato, ou seja, do Rio de Janeiro. Através deste exame tem-se 
que o fato é típico. Na análise da culpabilidade, através da previsibilidade 
subjetiva, tem-se que o agente não poderia prever o resultado, razão porque 
será isentado de pena. Importante lembrar que tal análise é feita na 
culpabilidade, e não no fato típico, como é o caso da previsibilidade objetiva. 
 
MODALIDADES DE CULPA 
 
1- Imprudência: é a prática de um fato perigoso. Uma conduta positiva 
arriscada, sem cautela. Ex.: dirigir um automóvel em alta velocidade em local 
não permitido , manejar ou limpar arma perto de pessoas. 
 
2- Negligência: é a ausência de precaução, ou indiferença com relação ao ato 
que deveria ser praticado. É a falta de atuar, onde a atuação seria devida, é a 
inércia psíquica. Ex.: pai que, vendo uma arma municiada num determinado 
local ao alcance de sue filho, não a retira daquele local; viajar sem, 
anteriormente, fazer a revisão do automóvel. 
 
3- Imperícia: é falta de aptidão para o exercício de arte, profissão ou ofício. A 
imperícia pressupõe que o fato tenha sido praticado por pessoa 
presumivelmente perita e no exercício do seu mister. A imperícia, para os 
doutrinadores, não se confundem com o erro profissional. Neste não há lesão 
por falta de aptidão, mas por equivoco no exercício da atividade. Naquela há 
efetiva e comprovada ausência de capacidade para o exercício correto da 
profissão, arte ou ofício. 
 
ESPÉCIES DE CULPA 
 
 Culpa inconsciente: o resultado não é previsto pelo agente, embora 
previsível para o homem médio. É a culpa sem previsão. 
 Culpa consciente: o resultado é previsto pelo sujeito, que confia 
levianamente na sua não ocorrência, logo há previsão do resultado. É a 
culpa com previsão. Ex.: A, exímio caçador, vai caçar em local onde 
crianças brincam, ao atirar na caça sabe que pode atingir uma criança, 
mas confia em sua pontaria, e acha que não vai atingir nenhuma criança. 
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 Culpa própria: é aquela em que a conduta praticada sem o cuidado 
objetivo necessário gera um resultado involuntário. É a culpa 
propriamente dita. 
 Culpa imprópria, por extensão, assimilação ou equiparação: é uma 
hipótese de fato doloso punível a título culposo, daí a razão pela qual a 
denominação da culpa é imprópria. Neste tipo de culpa o resultado é 
previsto e querido pelo agente, que labora em erro de tipo inescusável ou 
vencível. Está prevista no § 1º do art. 20 do Código Penal, que diz: “é 
isento de pena o agente que, por erro plenamente justificável pelas 
circunstâncias, supõe situação de fato que, se existisse, tornaria a ação 
legítima. Não há isenção de pena quando o erro deriva de culpa e o fato é 
punível como crime culposo.” Ex.: A, vítima de sucessivos furtos em sua 
residência, um dia fica de tocaia, à espera do bandido. Ao ver um vulto 
passar em frente sua residência, supõe, por imprudência e negligencia, 
ser o bandido e atira contra ele, matando-o. O resultado foi previsto e 
pretendido, porém A realizou a conduta por erro de tipo, uma vez que as 
circunstâncias indicavam que o vulto era o ladrão. Mas o erro de tipo 
neste caso era inescusável ou vencível, pois se A fosse mais prudente e 
menos negligente, teria percebido que o vulto não era do ladrão, mas 
terceiro inocente. Há, então, crime culposo, face o disposto no § 1º , 2ª 
parte, do art. 20 do Código Penal. Há culpa no antecedente e dolo no 
conseqüente, ou seja, na intenção há culpa e no resultado há dolo, pois 
era previstoe querido. Não confundir com o crime preterdoloso, em que 
há dolo na conduta e culpa no resultado. 
 
DIFERENÇA ENTRE CULPA CONSCIENTE E DOLO EVENTUAL 
 
Na culpa consciente, o agente, embora prevendo o resultado, acredita 
sinceramente na sua não ocorrência, o resultado previsto não é querido ou 
mesmo assumido pelo agente. 
No dolo eventual, embora o agente não queira diretamente o resultado, 
assume o risco de vir a produzi-lo, não importando, portanto, aceita o 
resultado. 
Atualmente a jurisprudência assim define delitos de trânsito: embriaguez + 
velocidade excessiva = dolo eventual. (era a regra). Todavia, não é essa 
mais a posição que deve ser adotada para fins de prova em concursos 
públicos e OAB, pois o Supremo Tribunal Federal decidiu que tal fórmula 
não pode mais ser a regra, devendo ser analisado o caso concreto. Ver 
HC 107801/SP. Neste acórdão, o Tribunal Excelso entendeu que a regra 
é a embriaguez ao volante com resultado morte ser tratada como 
homicídio culposo. 
Culpabilidade é a reprovabilidade, quanto mais censurável for a conduta do 
agente, maior será a pena, dentro do delito culposo. 
Havendo dúvida, se dolo eventual ou culpa consciente, aplica-se esta face ao 
in dubio pro reo. 
 
COMPENSAÇÃO E CONCORRÊNCIA DE CULPA 
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Não existe compensação de culpas em Direito Penal. Assim se duas pessoas 
agem com imprudência, uma dando causa a lesões na outra, ambas 
respondem pelo crime, ou seja, uma conduta culposa não anula a outra. 
É possível a existência de concorrência de culpas no Direito Penal, quando 
duas ou mais pessoas agem de forma culposa dando causa ao resultado, 
hipótese em que todas respondem pelo crime culposo. Ex.: A dirige na 
contramão e B em excesso de velocidade, dando causa a uma colisão, da 
qual resulta a morte de C, A e B respondem pelo crime. 
 
GRAUS DE CULPA 
 
Os graus são dados de acordo com a maior ou menor possibilidade de 
previsão do resultado, distingue-se em leve, levíssima, grave e gravíssima. 
Hoje não há mais essa gradação, pois de acordo com a teoria finalista a 
culpa constitui elemento do tipo. Só servirá para o Juiz fixar a pena base, 
face as circunstâncias do crime, art. 59 do Código Penal. 
 
CRIMES QUALIFICADOS PELO RESULTADO 
 
Nos crimes preterdolosos ou preterintencionais, há culpa no conseqüente e 
dolo no antecedente. Não há dois crimes. Existe um único crime que será 
apenado mais gravemente em virtude do resultado agravador. 
O agente quer uma coisa, mas acaba conseguindo algo mais, há um delito 
base pretendido, desejado e um resultado não pretendido, não desejado. 
Ex.: lesão corporal seguida de morte, art. 129, § 3º, do Código Penal, o 
sujeito responde pela lesão corporal a título de dolo e pela morte a título de 
culpa. 
 
ERRO DE TIPO 
(Art. 20 do CP) 
 
Erro é a ideia falsa em lugar da verdadeira, a falsa apreciação da realidade. 
Ignorância é a falta de conhecimento sobre qualquer assunto. 
O erro que vicia a vontade, isto é, aquele que causa uma falsa percepção da 
realidade, tanto pode incidir sobre os elementos estruturais do delito, erro de 
tipo, quanto sobre a ilicitude da ação/omissão, erro de proibição. 
 
Erro de tipo é aquele que faz com que o agente, no caso concreto, imagine 
não estar presente uma elementar ou uma circunstância componente da 
figura típica. Para que haja dolo é necessário que o agente queira realizar 
todos os elementos constitutivos do tipo. Assim, como conseqüência do erro 
de tipo, temos a exclusão do dolo. Excluído o dolo estará também excluída a 
conduta e, consequentemente, o fato típico. Por exemplo: há erro de tipo 
quando o agente atira em ser humano, matando-o, supondo tratar-se de 
animal. O tipo objetivo do homicídio se configura, mas no tipo subjetivo não 
se caracteriza, pois o sujeito ativo quis matar um animal, e não “alguém”. 
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Neste caso não podemos falar em dolo, mas poderá o agente, nos termos da 
segunda parte do art. 20 do Código Penal, ser responsabilizado a título de 
culpa, se houver previsão legal para tanto. Também há erro de tipo quando o 
agente casa com pessoa já casada, sem conhecer a existência do 
casamento anterior, ela não responde pelo crime, por não ter agido com dolo, 
uma vez que desconhecia o fato de já ser casada a outra pessoa. Alguém 
recebe um veículo idêntico ao seu das mãos de manobrista e o leva embora. 
Não comete crime de furto, pois imaginou que o veículo era seu. 
 
FORMAS DE ERRO DE TIPO 
 
O erro de tipo, afastando a vontade e a consciência do agente, exclui sempre 
o dolo. Entretanto, há situações em que se permite a punição do agente em 
virtude de sua conduta culposa, se houver previsão legal. 
 
1) Essencial: é o que incide sobre elementares ou circunstâncias do crime, de 
forma que o agente não tem consciência de que está cometendo um delito. 
 
1.1) Erro de tipo invencível (escusável, justificável, inevitável): quando o 
agente, nas circunstâncias em que se encontrava, não tinha como evitá-lo, 
mesmo tomando todas as cautelas necessárias. É o erro em que qualquer 
um incorreria se estivesse diante das circunstâncias em que se encontrava o 
agente. Nesse caso, sendo invencível o erro, afasta-se o dolo, bem como a 
culpa, deixando o fato, portanto, de ser típico. 
Exemplo: dois amigos combinam uma caçada. Um deles, muito brincalhão, 
resolve pregar uma peça no companheiro, que fazia sua estréia como 
caçador. O brincalhão, durante a noite sai do alojamento, esconde atrás de 
uma moita e começa fazer ruídos e sacudir uma moita. O novo caçador, 
supondo tratar de um animal, sai da barraca em que estava e atira em 
direção ao arbusto e, como conseqüência, causa a morte do amigo 
brincalhão. 
Neste caso tudo levava o agente a acreditar que ali, na moita, estava um 
animal e não seu companheiro de caça. Assim, não tendo havido dolo nem 
culpa, considera-se atípico o fato praticado pelo agente. 
 
1.2) Erro de tipo vencível (inescusável, injustificável, evitável): quando o 
agente poderia tê-lo evitado se agisse com o cuidado necessário no caso 
concreto. Nessa modalidade, o erro de tipo exclui o dolo, mas o agente 
responde por crime culposo, se houver previsão legal. 
Exemplo: caçador, área povoada, onde era previsível a presença de pessoas 
transitando, avista um vulto, quando a luz do sol já se ia, dificultando sua 
visibilidade, e atira, supondo tratar de um animal, quando vai ao local, se 
depara com um corpo de um ser humano. O caçador não desejava o 
resultado alcançado, mas poderia ter evitado se tivesse agido com mais 
cautela, logo, o mesmo agiu com culpa e não com dolo. 
 
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2) Acidental: ao contrário do essencial, não tem o condão de afastar o dolo, 
ou dolo e culpa do agente, pois não faz o agente julgar lícita a ação 
criminosa. Ele age com consciência da ilicitude do seu comportamento, 
apenas se engana quanto a um elemento não essencial do fato ou erra no 
seu movimento de execução. 
O erro de tipo acidental pode ser das seguintes espécies: 
 
2.1- Erro sobre a pessoa: O erro sobre a pessoa é equívoco de 
representação mental, não desacerto material, ocorrendo quanto à pessoa 
contra quem o agente deseja cometer o delito. É denominado “error in 
persona”. O agente pretende matar A e, por confundi-lo com B, termina por 
matar este último. Neste caso, não há exclusão da tipicidade do fato, portanto 
o tipo penal caracteriza-se tanto objetiva quanto subjetivamente, eis que 
norma penal do artigo 121, CP, não tutela a pessoa de A, mas sim qualquer 
pessoa. Contudo, segundo a regra da segunda parte do artigo 20, § 3º, do 
CP, não se consideram, nesta hipótese, as condições ou qualidades da 
vítima, senão as da pessoa contra quem o agente queria praticar o crime. 
Significa que o agente responde como se tivesse praticado o delito contra a 
vítima virtual e não a vítima efetiva. Assim, sendo se a vítima virtual é pai do 
agente, cabível a agravantecontida no artigo 61, II, “e”, CP. Há, aqui, uma 
substituição das pessoas que se viram envolvidas no fato. 
 
2.2- Erro sobre o objeto: Também conhecido como ”error in objeto”, incide 
sobre o objeto material do delito, fora da hipótese do erro sobre a pessoa. 
Exemplo: o agente pretende furtar uma pulseira de ouro e por erro furta uma 
de prata, ou pretende furtar um DVD e furta um vídeo cassete. É irrelevante, 
inexistindo qualquer conseqüência jurídica, nem a relativa ao erro sobre a 
pessoa. 
 
2.3- Erro na execução ou aberractio ictus: é a hipótese disciplinada no artigo 
73 do CP. Ocorre quando o agente, por equívoco no uso dos meios 
executórios ou por desvio, atinge pessoa distinta da que pretendia atingir. É 
erro material e não mental, como no caso do “error in persona”. Divide-se em 
duas espécies: 
 
 
1- Erro na execução com resultado único: regulada na parte inicial do artigo 
73 do CP, o agente atinge, por equívoco na execução, pessoa distinta da que 
pretendia atingir. Ou seja, a vítima virtual sai ilesa e a vítima efetiva sofre a 
ação lesiva, que sobre ela recai, por equívoco material. Subsiste um único 
crime doloso, dependendo do direcionamento da vontade e do resultado 
ocorrido. Contudo, aplica-se a regra cabível no erro sobre a pessoa, ou seja o 
agente responde como se tivesse praticado o crime contra a vítima virtual e 
não contra a vítima efetiva. 
 
2- Erro na execução com resultado duplo ou múltiplo: disciplinada na parte 
final do artigo 73 do Código Penal, o agente atinge quem pretendia ofender e 
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atinge também, por erro, outra(s) pessoa(s). Neste caso, aplica-se a regra do 
concurso formal de crimes, previsto no artigo 70, CP. Se o resultado não 
querido foi alcançado a título de culpa, a hipótese é de concurso formal 
próprio ou perfeito de delitos, previsto na primeira parte do artigo 70, CP. Ao 
contrário, caso o resultado não querido tenha sido admitido, configura-se dolo 
eventual, dando ensejo à aplicação do concurso formal impróprio ou 
imperfeito, disposto na segunda parte do artigo 70, CP, aplicando-se a soma 
das penas dos crimes praticados (com dolo direto [resultado pretendido] e 
com dolo eventual [resultado alcançado por erro, mas previsto e aceito]). 
 
2.4- Resultado diverso do pretendido ou aberractio criminis: Nesta última 
figura de erro acidental, o equivoco não respeita à pessoa visada; mas sim o 
objeto. Ou seja, o caso não é de erro de execução de pessoa para pessoa, 
mas de erro na execução de coisa para pessoa ou pessoa para coisa.. O 
agente quer atingir um bem jurídico e atinge outro. Conforme consta do artigo 
74, CP, em cujo bojo está disciplinado o aberratio deliciti, se sobrevém 
resultado diverso do pretendido pelo agente, responde ele por tal resultado a 
título culposo. Assim, se o agente quer danificar uma coisa e acaba por 
lesionar uma pessoa, responde por lesão corporal culposa. Ex.: A, visando 
destruir uma vitrine, arremessa uma pedra contra a mesma, por acidente ou 
erro na execução não acerta o alvo, mas uma pessoa. Ao contrário, se 
deseja lesionar uma pessoa e acaba por danificar uma coisa, não responde 
pelo dano culposo, eis que tal figura penal inexiste. Porém, neste caso, a 
doutrina diverge quanto à responsabilização do agente. 
Para Damásio de Jesus, responderia por tentativa de lesão corporal. Para 
outros doutrinadores, como João Mestieri, cuida-se de fato atípico, eis que a 
lei penal determina a responsabilização do agente pelo resultado distinto, a 
título culposo, o que é impossível, em função da inexistência do dano 
culposo. Todavia, se a vontade do agente era matar a vítima, mas acerta a 
coisa, trata-se de tentativa de homicídio, como a maioria esmagadora da 
doutrina e da jurisprudência admitem, face à gravidade subjetiva e objetiva do 
fato. Havendo aberratio criminis com resultado duplo ou múltiplo, ou seja, 
alcançando o agente o resultado pretendido e outro(s) que não pretendia, 
deve ser aplicada a regra do concurso formal de crimes, contido no artigo 70 
do Código Penal. Entretanto, cumpre frisar que apenas é admissível o 
concurso formal próprio ou perfeito, porquanto o resultado distinto tem de ser 
imputado ao agente a título culposo, o que exclui o concurso formal impróprio 
ou imperfeito, que exige a existência de desígnios autônomos (vontade 
autônomas). Cuidando-se de resultado não querido, mas admitido, há dolo 
eventual, ensejando a existência do concurso formal impróprio ou imperfeito, 
mas não pelo comando do artigo 74, CP, e sim pelo própria regra contida no 
artigo 70, CP, última parte.

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