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UNIVERSIDADE BRASIL - doacao remuneratoria

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UNIVERSIDADE BRASIL – FILEM 
CURSO DE DIREITO
CONTRATOS EM ESPÉCIE – DOAÇÃO REMUNERATÓRIA
Luís Eduardo Magalhães – BA
2020
ALANA ROCHA QUEIROZ 
ANGELA NASCIMENTO
EDUARDO PEREIRA LIMA
MICHELLE HORRANA BORTOLIN
PRISCILA ALMEIDA MARTINS
Trabalho submetido ao curso de Direito Na universidade Brasil, como requisito de nota para a aprovação na disciplina Direito Civil.
Orientadora: Sandra Cristina Gohl.
Luís Eduardo Magalhães – BA
2020
INTRODUÇÃO
	O presente trabalho tratará a cerca, de todas as problemáticas que envolve o contrato de doação remuneratória, neste que uma determinada pessoa resolve transferir seus bens, por livre e espontânea vontade, para outra pessoa, ao que envolve o animus donandi que justifica a causa da liberdade de fazer, neste caso a liberdade de transferir bens em favor de terceiros.
CONTRATO DE DOAÇÃO REMUNERATÓRIA 
	O contrato de doação é aquele que consiste apenas na transferência de patrimônio de bens, ou vantagens a terceiros, como disposto no art. 538, CC: 
Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.
Doar é um ato humano de liberdade, que foi regulada pelo direito, pelo profundo reflexo que isto causa nas relações entre as pessoas.
	Neste caso, o chamado animus donandi, é o responsável pela essência do contrato de doação remuneratória, pois, nessa modalidade a liberdade de transferência de bens é liberada, e por esse motivo de o contrato ser a transferência de patrimônio, é um contrato unilateral por sua natureza jurídica, ou seja, não existe uma obrigação de dar, no sentido de contraprestação como nos tantos outros contratos que existem na legislação atual. O motivo de doar, pode se fazer de generosidade de benemerência, vaidade ou terror, e por esse motivo não pode ser exigido judicialmente a doação, por que, nesse caso não seria doação e sim pagamento, e a principal característica da doação é a espontaneidade em transferir algum bem de valor para outrem. 
	Porém, na doação remuneratória na mesma linha de pensamento da mera liberdade em transferir, há o firme objetivo do doador em pagar o donatário por um serviço que lhes foi prestado ou vantagem por ele recebida, por exemplo, o filho dá um carro ao médico que salvou a vida de seu pai. Neste exemplo, está ausente a liberalidade, porém o ‘’valor’’ da coisa supera o valor do benefício recebido, assim se caracteriza a liberalidade, e portanto uma doação remuneratória, pois essa doação feita em prol do benefício recebido, não irá exigir do donatário uma contraprestação a esta, como citado acima. 
	Por isso, a natureza jurídica do contrato de doação remuneratória é um contrato gratuito, e benéfico justamente por não exigir uma contraprestação da parte do donatário, e a legislação firma que o presente contrato é dado uma interpretação restritiva em sua execução, como está disposto no art. 114 CC:
Art. 114. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente.
Por se tratar de um contrato sua natureza jurídica quanto a sua forma é considerado formal, deve ser realizado por instrumento particular, ou escritura pública, esta que é realizada atualmente nos cartórios de tabelionato de notas e protesto, conforme disposto no art. 541 CC: 
Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens móveis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.
	
Porém, há uma observação quanto a escritura pública, por mais que a legislação aceite as duas modalidades, se o bem imóvel passar de 30 salários mínimos, só será admitido que a doação seja feita por escritura pública conforme art. 108 CC: 
Art. 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos reais sobre imóveis de valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País.
	Se o bem for considerado de pequeno valor, o donatário apenas realizará a transferência e a chamada tradição, que é a entrega do bem, e neste caso, por ser considerado de valor pequeno o bem a ser doado, será considerado uma doação manual, e portanto simples, não exigindo tantas formalidades.
	E por fim, outra característica do contrato de doação remuneratória é o caráter impessoal, pois só interessa a aquele que está sendo beneficiado, e individual, pois já está estipulado a determinada pessoa, como disposto no Manual de Direito Civil de Pablo Gagliano:
“Trata-se ainda de um contrato impessoal, entendido como aquele em que somente interessa o resultado da atividade contratada, independentemente de quem seja a pessoa que irá realizá-la, e individual (referindo-se a uma estipulação entre pessoas determinadas).” (GAGLIANO, p.587)
	É importante salientar, sobre a aceitação do donatário, chamado de animus donum accipiedni, ou ânimo de receber a doação em questão. A aceitação expressa ocorre quando, através de qualquer meio de vontade aceita os bens ou vantagens oferecidas pelo doador. E a aceitação tácita quando o donatário, embora sem declarar expressamente sua aceitação a doação, praticam atos que demonstram a negação a tal doação. 
CAPACIDADE DAS PARTES
	Após isso, a capacidade das partes envolvidas de uma doação remuneratória foi assunto de muita discussão no judiciário, ao tocante de que, se tratando de uma doação se é necessário que as partes precisam obter capacidade civil conforme legislação vigente. Em regra a capacidade das partes será a mesma dos atos civis, e por isso os incapazes não podem ser parte de uma doação remuneratória pois, não possuem a capacidade de reconhecer o animus donandi, e as pessoas absolutamente e relativamente incapaz não podem ser donatários nem mesmo com autorização judicial ou representante legal como disposto no art. 1.789 CC:
Art. 1.749. Ainda com a autorização judicial, não pode o tutor, sob pena de nulidade:
I - Adquirir por si, ou por interposta pessoa, mediante contrato particular, bens móveis ou imóveis pertencentes ao menor;
II - Dispor dos bens do menor a título gratuito;
III - constituir-se cessionário de crédito ou de direito, contra o menor.
	Em algumas modalidades de doação é possível que uma das partes seja relativamente ou absolutamente incapaz, mas quando se tratar de doação pura, que não seria o caso da doação remuneratória, que envolve pecúnia, como dispõe o art. 539, CC:
Art. 543. Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação, desde que se trate de doação pura.
DOAÇÃO REMUNERATÓRIA POS MORTEM 
	O atual ordenamento jurídico brasileiro admite a transferência de bens para outrem, mas não admitindo este ato por doação, somente por testamento, sendo a doação, esta realizada em vida, ou seja, só poderá acontecer feito em vida, com as duas partes inter vivas, não poderá acontecer envolvendo alguém já falecido. E a outra modalidade é o testamento, este sendo pos mortem, ou seja, quando envolve uma das partes que já é falecida. 
	No caso de doação entre ascendente e descendente inter vivos deverá ter uma cláusula específica no contrato que o bem é exclusivo e disponível de doação, caso contrário, o bem mesmo doado será considerado antecipação de herança, e neste caso, o donatário deverá informar que recebeu em vida a transferência de tal bem, mas terá que ser dividido entre os outros herdeiros restantes do falecido, para se igualar patrimonialmente com os outros descendentes. Esse feito é chamado de colação, quando o herdeiro trará a cômputo do inventário os bens e valores recebidos do autor da herança, como disposto no art. 2.021 CC:
Art. 2.021. Quando parte da herança consistir em bens remotos do lugar do inventário, litigiosos, ou de liquidação morosa ou difícil, poderá proceder-se, no prazo legal, à partilha dos outros, reservando-se aqueles para uma ou mais sobrepartilhas, sob a guarda e a administração do mesmo ou diverso inventariante,e consentimento da maioria dos herdeiros.
	Em se tratando de doação remuneratória, que é um ato feito por gratidão do doador, em agradecimento a auxílios prestados pelo donatário, o donatário neste caso será dispensado de colação, pois a legislação presume que este ato foi realizado em vida, e por este modo foi destacado pela parte do doador em contrato que é um feito parte de doação remuneratória, não se configurando adiantamento de herança, e por isso não entrará em colação.
	Deste modo, a doação remuneratória tem um limite, pois, o objeto da doação não pode ultrapassar o disponível do doador, sendo assim que, quando o doador dispuser de herdeiros essenciais como cônjuge, ascendente, descendente, e companheiro, só pode ser doado metade do bem em questão, ou seja 50% do bem, caso contrário a doação será considerada nula. 
Pois, o fato de ter sido realizada uma doação remuneratória não dispõe que pode ser doado a integralidade do bem neste mesmo ato, o que ocorre é que o objeto de doação remuneratória não será colacionado no inventário, como disposto no art. 2.011 CC:
Art. 2.011. As doações remuneratórias de serviços feitos ao ascendente também não estão sujeitas a colação.
DOAÇÃO REMUNERATÓRIA ENTRE CÔNJUGES
	A doação remuneratória é possível entre os cônjuges, e pode ser feita por ambos os cônjuges em razão de alguma benfeitoria feita. Porém, no casamento civil brasileiro existem alguns tipos de regime de bens, quando se contrai o matrimônio, que podem implicar na execução da doação remuneratória, o primeiro é o de comunhão parcial de bens, que só entraram na constância do casamento os bens adquiridos nela conforme art. 1.658 CC:
Art. 1.658. No regime de comunhão parcial, comunicam-se os bens que sobrevierem ao casal, na constância do casamento, com as exceções dos artigos seguintes.
	O regime de comunhão universal de bens, que entrará na constância do casamento os bens já adquiridos e os que ainda irá adquirir, no disposto do art. 1667 CC:
Art. 1.667. O regime de comunhão universal importa a comunicação de todos os bens presentes e futuros dos cônjuges e suas dívidas passivas, com as exceções do artigo seguinte.
	O regime de separação de bens, que o bem de cada cônjuge continuará em sua devida administração, não entrando na constância do casamento, como no disposto do art. 1.687 CC:
Art. 1.687. Estipulada a separação de bens, estes permanecerão sob a administração exclusiva de cada um dos cônjuges, que os poderá livremente alienar ou gravar de ônus real.
	De todos os regimes de bens da legislação civil vigente, o regime em especial que dispõe sobre os bens do casal, é o de separação de bens, e por isso, gerou uma discussão plausível sobre doação remuneratória, ao que implica de o regime ser cada cônjuge continuará administrando seu bem. Embora os cuidados dispensados do cônjuge não sejam passíveis de indenização, ou remuneração, o cônjuge pode realizar uma doação remuneratória em prol do outro, mesmo se o regime de bens do casamento for o de separação total de bens, desde que os herdeiros do casal continuem com 50% dos bens, que lhe é de direito. 
	E mesmo casados, no regime de separação de bens, quaisquer dos cônjuges não precisam da anuência do outro para realizar algum ato como disposto no art. 1.647 CC, I e III:
Art. 1.647. Ressalvado o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto no regime da separação absoluta:
I - alienar ou gravar de ônus real os bens imóveis;
II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses bens ou direitos;
III - prestar fiança ou aval;
		Desta forma, a doação remuneratória é liberal, cabendo aos cônjuges lhe doar ao outro. E por este modo não pode ser objeto de ingratidão conforme art. 564 CC:
Art. 564. Não se revogam por ingratidão:
I - as doações puramente remuneratórias;
II - as oneradas com encargo já cumprido;
III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural;
IV - as feitas para determinado casamento.
	Diante disso, a doação remuneratória realizada em benefício dos ascendentes não se sujeita a colação, para entrar na equidade de bens aos legítimos descendentes e do cônjuge sobrevivente no testamento do falecido. Mesmo sendo casados por separação de bens, a doação remuneratória será considerada válida, e por isso pode ser feita por instrumento particular, dispensando a obrigatoriedade de realizar a escritura pública, pois neste caso, já existe um vínculo subjetivo entre as partes da doação.
	Independente do regime de bens do casamento, há deveres aos quais os cônjuges sem isenção devem cumprir enquanto casados, como disposto no art. 1.566, CC, I, II, III, IV, V:
Art. 1.566. São deveres de ambos os cônjuges:
I - fidelidade recíproca;
II - vida em comum, no domicílio conjugal;
III - mútua assistência;
IV - sustento, guarda e educação dos filhos;
V - respeito e consideração mútuos.
	Os esforços, cuidados, e deveres dos cônjuges devem ser respeitados, e por esse motivo, não há o que se falar de reembolso, remuneração ou indenização quando se tratar de deveres do casamento, mas se a doação remuneratória for feita em razão de espontaneidade pode ser feita ao quaisquer dos cônjuges, desde que respeite o limite de 50% do bem em questão, e mesmo sendo casados pelo regime de separação de bens, desta forma também é possível a doação remuneratória entre cônjuges, mesmo um já falecido, pois, desde que respeite os limites da doação será válida, pois neste caso, será considerado por objetivo de garantir segurança financeira ao cônjuge beneficiado. 
	Diante de todo o exposto, se conclui que, a doação remuneratória é possível nas formas da lei, desde que respeite todas as limitações que são necessárias a fim de respeitar direito de outrem, como por exemplo doação remuneratória de integralidade de um determinado bem, sem a presença dos outros herdeiros, neste caso, a doação entrará em colação do testamento desse genitor, a fim de equidade de bens entre os legítimos herdeiros. Sendo possível também, doação remuneratória entre os cônjuges, desde que só seja doado 50% de determinado bem, com fim de resguardar os direitos dos herdeiros, que têm de direito parte naquele bem.
CONCLUSÃO
	Diante disso, o contrato de doação tem como sua essência a liberdade em doar, isso respeitando os limites da doação na forma da legislação civil atual, e no tocante a doação remuneratória que podendo ser doado de forma hereditária, sendo de pai para filho, ou de forma conjugal, de cônjuge para cônjuge, devendo os dois respeitarem a quota parte de cada herdeiro. 
	Porém, pessoas relativamente e absolutamente incapazes não podem ser parte de uma doação remuneratória, pois subentendesse que os mesmos não possuem o animus donandi, que é o ato de doar ou de receber algo doado através da tradição, que é a entrega do bem, e por isso a doação é um ato gratuito, não cabendo contra prestação da outra parte, e por isso é um contrato muito resguardado pela legislação civil brasileira.
REFERÊNCIAS 
BRASIL. Institui o Código Civil. Brasília: Planalto. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/l10406compilada.htm. Acessado em 30 de março de 2020.
TATURCE, Flávio - Manual de Direito Civil - Volume Único – 8ª. Edição.
GAGLIANO,Pablo Stolze; Filho,Rodolfo Pamplona - Manual de direito civil; volume único- 2ª. Edição – pag. 587.

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