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127
UNIDADE 3
O DESENVOLVIMENTO DO 
CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Prezado(a) acadêmico(a), bem-vindo(a) à Unidade 3 do caderno de 
Economia Política! Esta unidade tem por objetivos:
• compreender o estágio imperialista da história do capitalismo;
• adquirir conhecimento sobre as fases nas quais desenvolve-se o capitalis-
mo;
• caracterizar as peculiaridades da dinâmica do desenvolvimento do capita-
lismo sob a globalização;
• esclarecer a dinâmica da globalização por meio da reestruturação produ-
tiva, do neoliberalismo e da financeirização do capital;
• discutir aspectos e problemáticas desafiadoras que atravessam as socieda-
des na entrada do século XXI. 
• compreender o estágio imperialista da história do capitalismo;
• adquirir conhecimento sobre as fases nas quais desenvolve-se o capitalis-
mo;
• caracterizar as peculiaridades da dinâmica do desenvolvimento do capita-
lismo sob a globalização;
• esclarecer a dinâmica da globalização por meio da reestruturação produ-
tiva, do neoliberalismo e da financeirização do capital;
• discutir aspectos e problemáticas desafiadoras que atravessam as socieda-
des na entrada do século XXI.
Esta unidade está dividida em três tópicos e no final de cada um deles você 
encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 - O IMPERIALISMO
TÓPICO 2 - OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
TÓPICO 3 - ASPECTOS DESAFIADORES DAS SOCIEDADES CONTEM-
PORÂNEAS
128
129
TÓPICO 1
O IMPERIALISMO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Caro(a) aluno(a), o estudo relativo à fase recente do desenvolvimento do 
capitalismo, o capitalismo contemporâneo, exige que se compreenda o contexto 
mais amplo no qual a organização da sociedade atual se encontra. Desta forma, 
os tópicos da Unidade 3 irão esclarecer as peculiaridades presentes na dinâmica 
do desenvolvimento do capitalismo após a década de 1980 (Tópico 2) e discutir 
aspectos e problemáticas desafiadoras que atravessam as sociedades na entrada 
do século XXI (Tópico 3). Entretanto, o Tópico 1, que tem início a partir deste 
momento, debruçar-se-á sobre o estágio imperialista da história do capitalismo.
A temática do imperialismo diz respeito às importantes transformações 
experimentadas durante o desenvolvimento do sistema capitalista a partir dos 
últimos 30 anos do século XIX. Neste sentido, a partir de 1910, alguns autores, 
amparados nas obras de Karl Marx, dedicaram-se a estudos que confluíram na 
configuração de um novo estágio do capitalismo, denominado imperialismo, que 
se estende ao longo de todo o século XX, e conta com novas determinações na 
virada para o século XXI.
Karl Heinrich Marx, nascido em 1818 na Alemanha, 
foi filósofo e cofundador, junto com Friedrich Engels, da 
escola de pensamento marxista. Contudo, seus escritos 
influenciaram diversas áreas, como o Direito, a Economia 
e a Sociologia. A principal obra publicada por Marx é “O 
Capital”, em 1867, predominantemente, um livro sobre 
Economia Política, mas que realiza uma extensa análise 
crítica da sociedade capitalista. Os conceitos de mais-valia, 
força de trabalho, acumulação primitiva e meios de produção 
foram introduzidos por Marx e Engels na segunda metade 
do século XIX, mas são extremamente atuais à compreensão 
da sociedade capitalista atual.
FONTE: Disponível em: <http://upload.wikimedia.org/wikipedia/commons/d/d4/Karl_Marx_001.
jpg>. Acesso em: 19 jan. 2015.
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
130
A modo de introdução cabe lembrar que, durante o processo de evolução 
do capitalismo, distinguem-se, também, alguns estágios específicos, tendo início 
com o capitalismo comercial ou mercantil que, por sua vez, estende-se desde 
a acumulação primitiva até o momento em que o capital tem a capacidade 
de controlar o trabalho humano, mediante o estabelecimento da manufatura, 
cobrindo, portanto, os séculos XVI, XVII e meados do século XVIII.
NOTA
Acumulação primitiva é um conceito marxista que explica a origem mais primitiva 
da acumulação de capital, cuja dinâmica decorre da expropriação, por parte dos capitalistas, 
dos meios de produção dos trabalhadores do campo. Isto é, trata-se da separação do produtor 
direto dos seus meios de subsistência.
Trata-se, portanto, do nascimento da classe social burguesa, que passou a 
acumular e controlar grandes riquezas comerciais ao longo dos séculos, mas que 
confronta diretamente com a nobreza fundiária que dominava as relações de poder 
no período. A crescente burguesia é, nesta perspectiva, uma classe revolucionária, 
cujos interesses até convergiam com o restante da população: liberar as forças 
produtivas dos entraves estabelecidos pelas relações feudais de produção. “Temos, 
à época, uma burguesia de caráter audacioso, uma burguesia empreendedora, 
heroica mesmo, como se verifica dos seus inícios à sua marcha triunfal rumo à 
construção da nova sociedade.” (NETTO; BRAZ, 2006, p. 170).
Esse primeiro movimento já revela a tendência à mundialização do capital 
devido à expansão marítima e à conquista de territórios distantes a partir de grupos 
mercantis europeus, traços históricos das revoluções burguesas empreendidas até 
meados do século XVIII. No período subsequente, o capitalismo ingressa em um 
novo estágio evolutivo, proporcionado pelo avanço da tomada de poder do Estado 
pela burguesia e por meio do aprimoramento das técnicas no ambiente produtivo, 
resultando na Revolução Industrial e na organização da produção através da 
nascente grande indústria.
NOTA
Quando falamos, aqui, em grande indústria, nos referimos à formação e à 
consolidação de uma completa estrutura fabril, na qual a divisão social do trabalho é 
fundamental e se realiza por meio da relação entre os trabalhadores e as máquinas.
TÓPICO 1 | O IMPERIALISMO
131
A partir, portanto, da segunda metade do século XVIII, descortina-se o 
segundo estágio do capitalismo, o capitalismo concorrencial, também chamado de 
“clássico”, estudado com maior especificidade na Unidade 1. O desenvolvimento 
do capitalismo concorrencial estendeu-se até fins do século XIX; até o início do 
estágio imperialista. No percurso de cerca dos seus cem anos de maturação, o 
capitalismo tende a consolidar sua dinâmica própria de relações econômicas e 
sociais, revelando suas principais características: o controle da força de trabalho 
pelos detentores dos meios de produção e a mercantilização de tudo e de todos; a 
reificação ou coisificação das relações sociais.
A grande indústria provocou, primeiramente, no capitalismo concorrencial, 
um processo de urbanização sem precedentes nas principais cidades europeias. 
A referida expropriação dos meios de subsistência dos trabalhadores do campo 
obriga-os a migrarem às cidades em busca de formas diferenciadas de sobrevivência, 
isto é, obriga uma grande massa de pessoas do campo a venderem sua força de 
trabalho no interior das fábricas localizadas nas cidades. 
NOTA
A formação da grande indústria, propiciada pelos avanços da Revolução Industrial 
do século XVIII, faz as cidades crescerem rapidamente em termos de população. Essa dinâmica 
faz surgir áreas do conhecimento preocupadas com o caos das cidades, por exemplo, aquelas 
ligadas ao planejamento urbano e regional.
FIGURA 24 - GRANDE INDÚSTRIA E CIDADES EUROPEIAS DO SÉCULO XVIII
FONTE: Disponível em: <http://4.bp.blogspot.com/-zWf7Ho-s8CE/UzSJzeJslZI/AAAA 
AAAAACA/ouckFsuTKP0/s1600/revolucao_industrial.jpg>. Acesso em: 20 jan. 
2015.
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
132
Em segundo lugar, mas não menos importante, o capitalismo concorrencial 
possibilitou a criação do mercado mundial. Nesse contexto, os países mais 
avançados buscam matérias-primas para produção em diversos países do mundo 
que, depois de transformadas, em larga escala, são devolvidas em forma de 
mercadorias, criando vínculos econômicos e culturais permanentes com territórios 
distantes. “Povos, nações e Estados situados fora da Europa, que se mantinham 
isoladosresistindo com recursos de força, são agora integrados mais pela via da 
invasão comercial que pela intervenção militar.” (NETTO; BRAZ, 2006, p. 172).
É, portanto, no estágio concorrencial do capitalismo que se desenvolve e se 
consolida um sistema econômico internacional, uma economia mundial, marcada 
pela desigualdade entre as trocas econômicas. Pois, uma vez que tal integração 
ocorreu entre países com condições socioeconômicas muito desiguais, suas 
consequências agravaram e ampliaram ainda mais a desigualdade preexistente. 
A caracterização concorrencial desse estágio ocorre justamente em função das 
amplas possibilidades de negócios que surgiram para os pequenos e também para 
os médios capitalistas entre meados do século XVIII e fins do século XIX.
IMPORTANT
E
Os dois primeiros estágios da evolução do capitalismo são o capitalismo comercial 
(a partir da ideia de acumulação primitiva) e o capitalismo concorrencial (com a formação de 
uma economia mundial).
Ao final do século XIX, em seus últimos 30 anos, o panorama do 
capitalismo em sua forma concorrencial estava prestes a sofrer alterações bastante 
significativas. O gatilho para a transição a um novo estágio de desenvolvimento do 
sistema capitalista encontrava-se em dois processos que merecem especial atenção: 
o surgimento dos monopólios e a modificação do papel dos bancos.
Uma vez que o modo de produção capitalista encontrava-se organizado e 
devidamente consolidado, cuja evolução vimos através de suas formas comercial e 
concorrencial, as tendências “naturais” do capital, a concentração e a centralização 
encarregaram-se da convergência destes mercados, neste momento já integrados 
à formação dos monopólios. O impacto do surgimento de diversos e poderosos 
monopólios em menos de 30 anos (final do século XIX), controlando ramos 
produtivos inteiros, empregando e comandando milhares de trabalhadores e, 
o mais importante, influenciando diretamente as economias nacionais, alterou 
extraordinariamente o desenvolvimento do capitalismo.
Apenas dois exemplos dessa alteração: 1) na Alemanha, o grupo Krupp 
empregava 16 mil pessoas em 1873, 24 mil por volta de 1890, 45 mil por 
volta de 1900 e quase 70 mil por volta de 1912; 50% da produção de 
carvão estava, em 1893, nas mãos de um único grupo produtor; 2) nos 
Estados Unidos, a um único grupo, em 1901, cabiam 60% da produção 
TÓPICO 1 | O IMPERIALISMO
133
de aço; aí, em 1904, 0,9% do total das empresas industriais respondia 
por 38% da produção industrial do país (NETTO; BRAZ, 2006, p. 177).
NOTA
Segundo o dicionário de economia Sandroni (1999), monopólio é uma forma 
de organização de mercado em que apenas uma empresa domina a oferta de determinado 
produto ou serviço. Atualmente, a maioria dos países proíbe esta prática, com exceção daqueles 
monopólios exercidos pelos Estados, como o fornecimento de serviços públicos.
Como se percebe, a constituição dos monopólios, sobretudo aqueles 
relativos à produção industrial, torna-se o elemento-chave da economia capitalista 
já na entrada do século XX. Contudo, o surgimento dos monopólios industriais 
ocorre praticamente no mesmo momento em que há uma mudança no papel dos 
bancos. Aí, os bancos tornaram-se as peças básicas do sistema de crédito. Uma 
vez que reuniam capitais inativos de capitalistas, além das economias de muitas 
pessoas, os bancos passaram a controlar um volume monetário muito grande que, 
por sua vez, era disponibilizado para empréstimos. Devido à grande concorrência 
intercapitalista, o empréstimo para realização de novos investimentos tornou-se 
fundamental à sobrevivência no mercado.
Desta forma, os bancos passaram a ocupar uma posição estratégica 
no controle de disponibilidade de créditos para diferentes empresas e ramos 
industriais. Pois, como passaram a conhecer as estruturas internas de muitas 
empresas (os defeitos e as virtudes), os bancos poderiam ofertar empréstimos a 
quem fosse de sua escolha e, ainda, participar somente dos melhores negócios. 
Como resultado: da condição de meros intermediários de pagamentos, os bancos 
passaram a associados dos capitalistas industriais; tanto a concentração quanto 
a centralização ocorrida nas atividades industriais passam a ocorrer também no 
setor bancário. Isto é, o surgimento dos monopólios industriais é acompanhado 
pela monopolização do setor bancário.
Dois exemplos da monopolização no setor bancário: 1) em 1909, nove 
grandes bancos de Berlim – e as casas bancárias a eles associadas – 
controlavam 83% de todo o capital bancário alemão; 2) na França, os três 
bancos mais importantes, entre 1870 e 1909, decuplicaram [tornaram 
dez vezes maiores] os capitais alheios sob sua guarda (NETTO; BRAZ, 
2006, p. 179).
Os bancos, ao comprarem ações de grandes monopólios industriais, 
convertem-se em coproprietários destas empresas. As empresas também passam 
a possuir ações dos bancos. Consequentemente, produz-se uma fusão do capital 
monopolista industrial com o capital monopolista bancário. É justamente esta 
fusão dos capitais bancários e industriais que origina o capital financeiro, peça 
fundamental do terceiro estágio do desenvolvimento capitalista: o imperialismo.
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
134
IMPORTANT
E
A formação dos monopólios industriais e o novo papel atribuído aos bancos dão 
origem ao capital financeiro, cuja dinâmica é essencial ao estágio imperialista do capitalismo.
No item a seguir estudar-se-á, mais precisamente, o estágio imperialista, 
que, como visto nesta introdução, tem origem nas três últimas décadas do século 
XIX, se estende ao longo de todo o século XX e conta com novas determinações na 
virada para o século XXI.
2 O ESTÁGIO IMPERIALISTA
Como se viu, o estágio imperialista do desenvolvimento do capitalismo 
inicia-se nos últimos anos do século XIX, período no qual o capital financeiro 
possui um papel decisivo. Aí, as empresas eram tipicamente monopolistas. Embora, 
ainda assim, subsistissem empresas pequenas e médias (não monopolistas), estas 
estavam totalmente subordinadas às pressões dos grandes monopólios.
A circulação de mercadorias (o comércio externo) já empreendida pelo 
desenvolvimento do modo de produção capitalista possibilitou conectar todo o 
mundo aos centros capitalistas. A troca de mercadorias entre países constitui-se 
em sua principal vinculação. Contudo, no imperialismo, além da exportação de 
mercadorias, ganhou relevância a exportação de capitais. A exportação de capitais 
ocorria tanto por meio de empréstimos, quando “capitalistas concedem créditos, 
em troca de juros determinados, a governos ou capitalistas de outros países”, 
quanto como capital produtivo, quando “capitalistas implantam indústrias em 
outros países.” (NETTO; BRAZ, 2006, p. 181). Por sua vez, o estímulo à exportação 
de capitais está na procura de máxima lucratividade por parte dos capitalistas (por 
parte dos juros recebidos ou pelos lucros a serem repartidos).
O objetivo das grandes empresas monopolistas é controlar, além dos 
mercados de seus próprios países, os mercados externos, associando-se a 
empresas do mesmo ramo localizadas em outros países. Ou seja, dividem, por 
meio de acordos entre si, as regiões do mundo as quais pretendem subordinar 
a seus interesses; realizam uma partilha econômica do mundo. No período de 
constituição do imperialismo, entre 1874 e 1914, cerca de 25 milhões de km² foram 
apropriados pelos países imperialistas, espaço que representa mais de 50% dos 
seus próprios territórios (NETTO; BRAZ, 2006). Tais acordos, que não eliminam 
a concorrência, mas estabelecem limites temporários à concorrência, continuaram 
presentes na dinâmica do capitalismo ao longo de todo o século XX.
TÓPICO 1 | O IMPERIALISMO
135
Vladimir Lênin (1977, p. 641-642 apud NETTO; BRAZ, 2006, p. 180, 
grifos nossos) resume os traços principais do imperialismo por meio de cinco 
características:
1) A concentração da produção e do capital levada a um grau tão elevado 
de desenvolvimento que criouos monopólios, os quais desempenham 
um papel decisivo na vida econômica; 2) a fusão do capital bancário 
com o capital industrial e a criação, baseada neste capital financeiro, 
da oligarquia financeira; 3) a exportação de capitais, diferentemente da 
exportação de mercadorias, adquire uma importância particularmente 
grande; 4) a formação de associações internacionais monopolistas de 
capitais, que partilham o mundo entre si; e 5) o termo da partilha 
territorial do mundo entre as potências capitalistas mais importantes.
Quanto à ideia de oligarquia financeira, oriunda da fusão entre o capital 
bancário e o capital industrial, é preciso dizer que o controle da economia dos 
países passou a ser concentrado em um pequeno número de grandes capitalistas. 
E, além do controle interno, houve uma concentração do poder das decisões 
econômicas também dos países aonde seus grupos econômicos atuavam (devido 
à formação dos mercados externo). Desta forma, estes poucos capitalistas 
monopolistas passaram a dispor de uma enorme influência política no interior de 
seus territórios e no âmbito dos demais países capitalistas do mundo. “Assim, já 
antes da Primeira Guerra Mundial, o mercado de petróleo foi objeto de acordos 
entre a Standard Oil (norte-americana) e a Royal Dutch Shell (anglo-holandesa); 
na indústria eletrotécnica, em 1907, um acordo entre a General Electric/GE (norte-
americana) e a Allgemeine Elektrizitägesellschft/AEG (alemã) garantiu à primeira os 
mercados americanos e à segunda os europeus e parte dos asiáticos.” (NETTO 
BRAZ, 2006, p. 182)
E ainda com relação aos monopólios:
Em 1954, nos Estados Unidos, 17 empresas controlavam 94% da 
produção de aço; apenas um monopólio (Standard Oil) controlava a 
indústria do petróleo e, em 1958, três grupos (General Motors, Ford 
e Chrysler) detinham 93% da produção de veículos; na Inglaterra, à 
mesma época, um grupo (Imperial Chemical Industries) controlava 95% 
de toda a produção química básica; na França, também na década de 
cinquenta, quatro grupos monopolistas controlavam 96% da produção 
de veículos, um grupo, toda a produção de alumínio, e outro, 80% da 
produção de colorantes químicos (NETTO BRAZ, 2006, p. 180).
 
No entanto, a dinâmica de repartição do mundo em territórios econômicos 
para a exploração, que é própria do estágio imperialista do desenvolvimento 
do capitalismo, entra em crise em 1914. Pois, com a falta de territórios livres ao 
comércio, as novas expansões deram-se por meio do confronto direto entre os 
países imperialistas, resultando na Primeira Guerra Mundial. 
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
136
IMPORTANT
E
O estágio imperialista pode ser entendido por meio de elementos como a 
formação dos monopólios industriais; a fusão que origina o capital financeiro; a exportação de 
capitais; a associação internacional de empresas; e a partilha territorial do mundo.
A evolução a partir do estágio imperialista operou a mundialização do 
capitalismo, cuja expansão ocorre para além de qualquer fronteira. Pois, com 
seu desenvolvimento, a divisão social do trabalho na produção mercantil (ver 
Figura 26) não se restringiu às unidades produtivas, originando uma divisão 
internacional do trabalho, na qual cada território nacional procura especializar-
se em determinados tipos de produção. Aí é possível perceber países mais 
desenvolvidos e menos desenvolvidos e as relações de domínio e exploração dos 
primeiros sob os segundos.
FIGURA 25 - DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO EM UMA FÁBRICA DE ALFINETES
FONTE: Disponível em: <https://economianostra.files.wordpress.com/2013/05/fc3a1brica-de-
alfinetes.png?w=300&h=108>. Acesso em: 20 jan. 2015.
A expansão mundial do capitalismo pode ser entendida por meio de sua 
característica desigual e combinada. Quanto à desigualdade, as sociedades menos 
desenvolvidas, com traços atrasados, têm a possibilidade, ou são obrigadas, a adotar 
certos traços avançados, saltando as etapas intermediárias. Tais traços, desiguais, 
atrasados e avançados, combinam-se sempre de forma original, resultando em 
uma específica forma de desenvolvimento para cada território (LÖWY, 1998). 
Na passagem específica sobre a terminologia, na obra História da Revolução 
Russa (TROTSKY, 1980, p. 25, grifo nosso), se lê:
A desigualdade do ritmo, que é a lei mais geral dos processos históricos, 
evidencia-se com maior vigor e complexidade nos destinos dos países 
atrasados. Sob o chicote das necessidades externas, a vida retardatária 
vê-se na contingência de avançar aos saltos. Desta lei universal da 
TÓPICO 1 | O IMPERIALISMO
137
FIGURA 25 - DIVISÃO SOCIAL DO TRABALHO EM UMA FÁBRICA DE ALFINETES
desigualdade dos ritmos decorre outra lei que, por falta de denominação 
apropriada, chamaremos de lei do desenvolvimento combinado, 
que significa aproximação das diversas etapas, combinação das fases 
diferenciadas, amálgama das formas arcaicas com as mais modernas.
Contudo, a relevância dos diferentes espaços para o entendimento do 
desenvolvimento pelo capitalismo mundial é mais bem captada pela ideia de 
desenvolvimento geográfico desigual. 
A noção de desenvolvimento geográfico desigual pode ser apreendida 
como uma construção teórica cuja origem está nos escritos de Vladimir Lênin 
sobre o processo de desenvolvimento capitalista na Rússia, mas que adquire maior 
significado pela lei do desenvolvimento desigual e combinado de Leon Trotsky 
depois da Revolução de 1905 (na Rússia) e ganha, mais recentemente, sua devida 
espacialização pelos esforços de geógrafos marxistas como Neil Smith e David 
Harvey.
O fôlego no estudo do desenvolvimento desigual e combinado das 
formações sociais capitalistas que se perdeu após Trotsky ganha ímpeto na 
intenção de se formular uma teoria do desenvolvimento geográfico desigual, 
como já foi dito, mais recentemente; atribui-se esses exames a geógrafos do lado 
da crítica marxista, sobretudo a partir da década de 1980, como Neil Smith (1988) 
e David Harvey (1982, 2004, 2006), embora o tema tenha sido tratado também por 
outros estudiosos, colocando a dimensão espacial no centro do debate sobre o 
desenvolvimento do modo de produção capitalista (THEIS, 2009).
FONTE: Disponível em: <http://www.apec.unesc.net/VIII_EEC/sessoes_tematicas/7%20-%20
Eco%20Reg.%20Urbano/PLANEJAMENTO%20REGIONAL%20NO%20BRASIL>. Acesso 
em: 13 mar. 2015.
FIGURA 26 - LEON TROTSKY; NEIL SMITH; DAVID HARVEY
FONTE: Disponível em: <http://static.guim.co.uk/sys-images/Guardian/Pix/
pictures/2013/2/28/1362053521131/Leon-Trotsky-006.jpg>; <http://2.
bp.blogspot.com/vybyw6SCQY0/UGmh9RnexmI/AAAAAAAAAiI/pGm1t0Tzqo4/
s1600/neil_smith_multipliciudades.jpg> e <http://www.oktober.no/var/
ezwebin_site/storage/images/forfattere/utenlandske/harvey_david/1971-2-nor-
NO/harvey_david.jpg>. Acesso em: 21 jan. 2015.
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
138
NOTA
Na figura acima se vê: Leon Trotsky (1879-1940), intelectual e dirigente político 
durante a Revolução Russa; Neil Smith (1954-2002); e David Harvey (1935-). Os dois últimos 
referem-se a geógrafos marxistas responsáveis por pesquisas sobre a desigualdade do sistema 
capitalista.
A diferença fundamental entre a “lei do desenvolvimento desigual e 
combinado e a teoria do desenvolvimento geográfico desigual” está na ênfase da 
primeira em explicar porque diferentes e irregulares padrões de desenvolvimento 
em formações sociais periféricas/atrasadas podem, combinando-se, vivenciar uma 
revolução política. Já a segunda constitui uma tentativa teórico-metodológica de 
conceber a natureza geográfica da desigualdade socioeconômica entre regiões e 
países produzida pelo capitalismo. “A coexistência, simultânea e dinâmica, de 
espaços economicamente mais e menos pujantes é o resultado do desenvolvimento 
geográfico desigual”, embora seja, também, condição para o processo de continuada 
valorização do capital (THEIS; BUTZKE, 2012, p. 104, grifo do autor).
 Na teoria do desenvolvimento geográfico desigual, dois elementos sãocentrais (HARVEY, 2004): a produção das escalas espaciais e a produção da 
diferença geográfica. A produção das escalas espaciais diz respeito à produção de 
uma hierarquia de escalas espaciais que organiza as atividades humanas. 
[...] não se pode entender o que acontece numa dada escala fora das 
relações de acomodamento que atravessam a hierarquia de escalas – 
comportamentos pessoais (por exemplo, dirigir automóveis) produzem 
(quando agregados) efeitos locais e regionais que culminam em 
problemas continentais, de, por exemplo, depósitos de gases tóxicos ou 
aquecimento global (HARVEY, 2004, p. 108).
A produção da diferença geográfica é resultante, por um lado, da 
conformação de um mosaico geográfico ambiental ao redor do mundo e, por outro, 
pela forma como essas diferenças geográficas são modificadas pelos processos 
político-econômicos e socioecológicos que ocorrem atualmente. A acumulação do 
capital é que gera desenvolvimento geográfico e a taxa de lucro é o que dá direção 
ao desenvolvimento. Em consonância com esse movimento, as áreas com altas 
taxas de lucro vão se desenvolver e as áreas que apresentam baixas taxas de lucro 
vão apresentar baixos índices de desenvolvimento (SMITH, 1988). Marx, numa 
perspectiva mais geográfica, observou que “o capital cresce enormemente num 
lugar, numa única mão, porque foi, em outros lugares, retirado de muitas mãos.” 
(SMITH, 1988, p. 212).
FONTE: Disponível em: <http://www.apec.unesc.net/VIII_EEC/sessoes_tematicas/7%20-%20
Eco%20Reg.%20Urbano/PLANEJAMENTO%20REGIONAL%20NO%20BRASIL>. Acesso 
em: 13 mar. 2015.
TÓPICO 1 | O IMPERIALISMO
139
É importante compreender o modo pelo qual as diferenças geográficas 
foram sendo produzidas política e historicamente, pois tais traços e características 
tornaram-se explícitos justamente no estágio imperialista do desenvolvimento 
do capitalismo, quando, pelo domínio dos monopólios, constituiu-se como um 
sistema econômico mundial.
[...] o imperialismo levou a cabo e consolidou a vinculação de nações 
e Estados de todo o planeta, estabelecendo um fluxo de conexões que 
acabou por configurar uma economia em que todos são interdependentes 
(sem prejuízo das hierarquias e das relações de dominação e exploração). 
(NETTO; BRAZ, 2006, p. 187).
IMPORTANT
E
No estágio imperialista a expansão do capitalismo ultrapassou fronteiras nacionais, 
constituindo um sistema econômico mundial.
Nos próximos dois subitens (2.1 e 2.2) tratar-se-á, brevemente, a respeito da 
fase “clássica” do imperialismo, entre 1890 e 1940, e da fase conhecida como “anos 
dourados”, do fim da Segunda Guerra Mundial até o início da década de 1970.
2.1 A FASE “CLÁSSICA” DO IMPERIALISMO
A característica fundamental existente durante todo o estágio imperialista 
do capitalismo se refere à formação e desenvolvimento dos monopólios, cujas 
dinâmicas de acumulação e crescimento econômico resultaram em constantes 
crises, como as de 1891, 1900, 1907, 1913, 1921, 1929 e 1937-1938. A crise de 
1929 foi a mais “dolorosa” delas. Por esta perspectiva, pode-se afirmar que o 
desenvolvimento do capitalismo sob as forças de mercado obrigou os capitalistas 
dos grandes monopólios pensarem em alternativas ao cenário de recessão 
econômica, resultando em políticas implementadas no segundo estágio do 
imperialismo (NETTO; BRAZ, 2006).
A fase “clássica”, portanto, refere-se ao momento de formação do 
imperialismo, período que foi visto até aqui. Contudo, cabe destacar que é nesta 
fase em que se percebe a necessidade de intervenção por parte do Estado para 
efetuar os ajustes necessários ao funcionamento da economia capitalista. No 
liberalismo econômico, o Estado procurava garantir as condições externas para 
a produção e a acumulação capitalista, mas outra modalidade de participação do 
Estado fazia-se necessária: 
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
140
[...] uma intervenção que envolvesse as condições gerais de produção e 
da acumulação. Essa era uma exigência estritamente econômica; mas 
o contexto sociopolítico em que ela se punha condicionou largamente 
a modalidade em que foi implementada (NETTO; BRAZ, 2006, p. 193, 
grifo do autor).
IMPORTANT
E
A fase “clássica” se refere ao período de formação e desenvolvimento do próprio 
estágio imperialista. Neste período, as forças do mercado são predominantes para os ajustes 
da economia.
Um suporte teórico para a intervenção estatal fazia-se necessário, uma 
vez que esta perspectiva contrariava o pensamento liberal-econômico dominante 
até final da década de 1920. O principal autor responsável pela legitimação do 
intervencionismo estatal foi John Maynard Keynes, a partir da obra “Teoria geral 
do emprego, do juro e do dinheiro”, de 1936, visto com mais detalhes na Unidade 
2 deste Caderno de Estudos. 
O capitalismo não dispunha espontaneamente da faculdade de utilizar 
inteiramente os recursos econômicos. Isto é, os recursos precisavam ser plenamente 
empregados para evitar crises e desemprego e, para isso, era preciso que o Estado 
atuasse como regulador dos investimentos privados por meio do ajuste de seus 
próprios gastos, os gastos do governo. “Keynes atribuía papel central ao orçamento 
público enquanto induto de investimento.” (NETTO; BRAZ, 2006, p. 195).
O próximo estágio do imperialismo recebe o nome de “anos dourados” 
justamente devido aos bons resultados econômicos alcançados pelas ideias e 
políticas keynesianas implementadas a partir da década de 1930.
2.2 OS “ANOS DOURADOS” DA ECONOMIA IMPERIALISTA
Entre o fim da Segunda Guerra Mundial (1945) até início da década de 
1970, o imperialismo viveu uma fase única em todo seu desenvolvimento. Esta fase 
pode ser denominada por “anos dourados” ou as “três décadas gloriosas”. Pois, 
durante quase 30 anos, o sistema capitalista operou com resultados econômicos 
nunca antes alcançados, os quais não se repetiriam mais. As frequentes crises da 
fase “clássica” não foram totalmente suprimidas, pois foram observadas crises em 
1949, 1953, 1958, 1961 e 1970, mas seus impactos foram relativamente menores 
devido à intervenção do Estado na economia (sob inspiração de Keynes). 
Os dados do Quadro 7, a seguir, revelam as altas taxas de crescimento 
alcançadas na segunda fase do imperialismo nas principais economias do mundo.
TÓPICO 1 | O IMPERIALISMO
141
2.2 OS “ANOS DOURADOS” DA ECONOMIA IMPERIALISTA
QUADRO 8 - SITUAÇÃO ECONÔMICA MUNDIAL EM PERÍODOS SELECIONADOS
Período Indicadores econômicos
1950 a 1970 Produção industrial nos países capitalistas aumentou 2,8 vezes
1940 a 1966 Produção industrial norte-americana cresceu 5,0%
1947 a 1966 Produção industrial japonesa cresceu 9,6%
1947 a 1966 Produção industrial da Comunidade Europeia cresceu 8,9%
1950 a 1973 Produto Interno Bruto dos países capitalistas aumentou, anualmente, 4,9%
1960 a 1968 Crescimento da economia norte-americana foi de 4,4%
1960 a 1968 Crescimento da economia japonesa foi de 10,4%
1960 a 1968 Crescimento da economia alemã (ocidental) foi de 4,1%
1960 a 1968 Crescimento da economia francesa foi de 5,4%
1960 a 1968 Crescimento da economia inglesa foi de 3,8%
Década de 
1960
Estados Unidos, Japão, Alemanha (ocidental), França, Grã-Bretanha e Itália 
registram forte crescimento econômico e um alto nível da taxa de lucro.
FONTE: Netto; Braz (2006)
IMPORTANT
E
Nos “anos dourados” do imperialismo, embora tenham existido crises, observaram-
se ótimos resultados econômicos em todos os países capitalistas do mundo.
Nos marcos deste elevado desempenho econômico, contrapõem-se críticas 
e constantes questionamentos ao capitalismo à ordem burguesa que vigorava 
predominantemente em diversos países. Um primeiro elemento refere-se à 
prosperidade e poderio adquirido pela União das Repúblicas Socialistas Soviéticas 
(URSS). Seu modelo de economia planificada uniu países libertos da ocupação 
nazista, rompeu com o sistema capitalista e iniciou, em 1922, uma experiência 
socialista.
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
142
IMPORTANTE
A utilização do planejamento (ou planificação) de forma ampla pelos países 
surge na União Soviética como um plano quinquenal (cinco anos) para toda a economia. No 
período da revolução russa, especialmente entre 1917 e 1930, ainda não existiam experiências 
de planejamento aplicadas no mundo: antes da Primeira Guerra Mundial a União Soviética foi 
o único território a adotar o planejamento de forma sistemática. Por meio desta perspectiva 
acreditava-se que a economia deveria ser conduzida de forma centralizada pelo planejamento. 
O que se constata é que no início da década de 1920 já se iniciava um processo de organização 
centralizada na União Soviética: o número de funcionários do Estado passou de pouco mais 
de 100.000 para crescentes 5.880.000. Entre 1928 e 1933, vigora o Primeiro Plano Quinquenal 
global soviético (aprovado em maio de 1929, pelo V Congresso dos Sovietes da URSS), 
cujo processo abarca todo o sistema econômico, mas exclui formalmente os mecanismos 
usuais de mercado e formação de preços, esmiuçando o processo produtivo em função de 
metas nacionais estabelecidas pelo Estado visando uma rápida industrialização. Entretanto, 
“o plano visava não apenas o desenvolvimento econômico por si mesmo, mas, também o 
melhoramento do nível de vida da população” (MIGLIOLI, 1997, p. 51); tratava-se de um conjunto 
integrado de objetivos, com metas para todos os setores da economia, para a força de trabalho, 
as finanças e o desenvolvimento cultural. O Comitê Central de Planejamento (GOSPLAN) tinha 
conhecimento de todos os produtos fabricados, bem como os custos dos insumos destes 
produtos para cada setor da economia soviética, podendo controlar e determinar o grau de 
crescimento da renda e as quantidades das produções setoriais. Por meio de planos elaborados 
com base nas informações estatísticas sobre a economia, as metas passavam para escalões 
hierárquicos inferiores e regionais e chegavam às empresas, as quais requisitam, primeiramente, 
os materiais necessários, para, num segundo momento, o plano voltar ao GOSPLAN para 
realização do balanceamento detalhado do nível das produções (LIRA, 2006).
Outro questionamento ao desenvolvimento do capitalismo originava-se 
na Europa Nórdica e Ocidental, a partir do movimento operário e sindical e dos 
partidos ligados aos trabalhadores, os quais ganharam grande legitimidade sob a 
população, impondo limites e restrições à organização dos grandes monopólios 
capitalistas.
É nesta segunda fase do imperialismo, entre derrotados e vitoriosos da 
Segunda Guerra Mundial, que o eixo político-militar e econômico transferiu-se da 
Europa para os Estados Unidos. Desta forma, a política norte-americana procurou 
se impor às outras potências imperialistas (tanto vitoriosas quanto derrotadas: 
França, Inglaterra, Alemanha, Itália, Japão) como um país imperialista com 
liderança mundial.
Além do crescimento dos indicadores econômicos, durante a segunda fase 
do imperialismo a economia sofreu outras alterações importantes. A primeira 
mudança foi sobre a exportação de capitais, vista anteriormente. Tais exportações 
não decrescem na fase dos anos dourados, mas seu fluxo é alterado, isto é, na fase 
clássica do imperialismo, as exportações de capitais dirigiam-se dos países centrais 
para os periféricos; no segundo estágio do imperialismo, a exportação de capitais 
tem origem e destino final nos países centrais, resultando num giro de grande 
TÓPICO 1 | O IMPERIALISMO
143
quantidade de capitais apenas entre os principais países imperialistas. O fluxo de 
capitais aos países periféricos restringiu-se a empréstimos de Estado (central) para 
Estado (periférico) (NETTO; BRAZ, 2006).
IMPORTANT
E
Na segunda fase do imperialismo, à diferença da fase “clássica”, as exportações de 
capital tiveram maior volume justamente no fluxo entre os próprios países capitalistas.
Uma segunda mudança no capitalismo durante a fase imperialista nos “anos 
dourados”, e que recebeu maior atenção de estudiosos, diz respeito à organização 
interna do trabalho industrial. O fato é que o modo de produção taylorista-fordista 
(de Frederick Taylor e Henry Ford), em desenvolvimento já na fase “clássica”, 
ganha relevância e se torna o padrão mundial para toda a indústria. Por meio destas 
técnicas específicas de produção foi possível implementar a produção em massa 
de mercadorias, ou seja, a produção em larga escala de diversas modalidades de 
produtos.
No taylorismo-fordismo, iniciado na indústria automobilística, priorizava-
se a racionalização da produção, reduzindo o tempo por meio do aumento do ritmo 
de trabalho. Tal racionalização foi possível pelo parcelamento e fragmentação das 
tarefas produtivas, portanto, o trabalho, realizado de forma extensiva (longas 
jornadas de trabalho), também passou a ser realizado de forma intensiva. O ritmo da 
intensidade pelo qual o trabalho realizava-se era ditado pela velocidade da esteira, 
a mesma esteira que interligava as diferentes e fragmentadas (individualizadas) 
etapas e de produção.
Ademais, o padrão taylorista-fordista baseado na produção em massa 
de mercadorias, que deu origem à era do consumo de massa (que também será 
visto no Tópico 2), também foi ampliado à questão cultural, estendendo o estilo 
de vida norte-americano ou o american way of life para o restante do mundo, 
especialmente a partir da década de 1950. O estilo de vida hegemônico que 
procurou-se universalizar dizia respeito justamente ao mercado de consumo de 
massa, com ênfase ao automóvel, aos eletrodomésticos e à dominação dos meios 
de comunicação e expressão (imprensa, rádio, cinema, discos, televisão).
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
144
FIGURA 27 - ESTILO DE VIDA NORTE-AMERICANO NA DÉCADA DE 1950
FONTE: Disponível em: <http://1.bp.blogspot.com/-itSZZUJCkxg/US090z0itPI/
AAAAAAAAALk/Xx3RDqNaSQE/s1600/hhousewife.jpg>. Acesso em: 21 jan. 2015.
Por fim, cabe destacar outras três peculiaridades do imperialismo nos 
“anos dourados”, os quais vão se consolidar e aprofundar ao longo desse estágio: 
o crescimento do crédito ao consumidor; a inflação; e a intensificação do setor de 
serviços.
Com relação ao aumento das vendas a crédito, apenas é importante destacar 
que esta tendência foi institucionalizada a partir da década de 1940 e garantiu 
uma ampliação das possibilidades de consumo de diversas mercadorias, desde 
roupas até móveis, equipamentos eletrodomésticos e automóveis. Pois, uma vez 
implementado o processo de produção em larga escala de bens, era preciso que 
as mercadorias encontrassem seus compradores no mercado de trocas de bens e 
serviços.
Já o fenômeno da inflação torna-se frequente durante os “anos dourados”, 
penalizando os trabalhadores assalariados, uma vez que o poder aquisitivo de 
seus salários é depreciado, ou seja, o dinheiro recebido pelo trabalho passa a valer 
menos, pois aquele aumento à concessão de créditos também resulta em maiores 
índices inflacionários. Mas, embora penalize os assalariados em geral, a inflação 
passa a ser esperada pelo capital monopolista, uma vez que se torna possível 
elevar o preço das mercadorias constantemente. 
Quanto ao setor de serviços, os dados mostram que houve um enorme 
crescimento. Vejamos o motivo. No setor de serviços incluem-se atividades de 
empresas financeiras e de seguros, comerciais, publicitárias, médias, educacionais, 
turísticas. Trata-se do trabalho improdutivo, que passou a empregar uma 
grande massa de trabalhadores durante o segundo estágio do imperialismo. 
TÓPICO 1 | O IMPERIALISMO
145
FIGURA 27 - ESTILO DE VIDA NORTE-AMERICANO NA DÉCADA DE 1950 Tais trabalhadores possuem muitas diferenças entre si, desde trabalhadores sem 
nenhuma qualificação até técnicos e universitários. O Quadro 8 dá uma ideia do 
crescimento da participação da força de trabalho ocupada no setor de serviços.
QUADRO 9 - CRESCIMENTO DA FORÇA DE TRABALHO DO SETOR DE SERVIÇOS EM PAÍSES 
SELECIONADOS
Período Indicadores da força de trabalho empregada
1910 e 1970Passou de 36,8% para 62,1% nos Estados Unidos
1907 e 1970 Passou de 22,2% para 41,9% na Alemanha
1911 e 1966 Passou de 39,7% para 50,3% na Grã-Bretanha
1911 e 1970 Passou de 26,0% para 47,8% na França
1920 e 1970 Passou de 16,5% para 38,0% no Brasil
FONTE: Netto; Braz (2006)
O aumento da participação do setor de serviços na economia constitui 
um dos fenômenos típicos do capitalismo e sua dinâmica por meio dos 
monopólios. Entretanto, esta peculiaridade também será perceptível na atual fase 
do imperialismo, conhecida por capitalismo contemporâneo (estágio que será 
explorado no Tópico 2). Este fenômeno diz respeito “à tendência a mercantilizar 
todas as atividades humanas, submetendo-as à lógica do capital; com efeito, 
mediante os “serviços”, tomam caráter de mercadoria o trato da educação, da 
saúde, da cultura, do lazer e os cuidados pessoais (a enfermos, a idosos etc.).” 
(NETTO; BRAZ, 2006, p. 202, grifo do autor).
NOTA
A “mercantilização” de tudo e de todos também é chamada de reificação (que 
pode ser entendida como coisificação), a qual implica em transformar as relações sociais em 
relações de troca entre mercadorias.
A intervenção estatal nos “anos dourados”.
ESTUDOS FU
TUROS
No Tópico 2 trataremos o desenvolvimento do capitalismo contemporâneo, 
também conhecido como o período da globalização.
146
Neste tópico você aprendeu que:
• O imperialismo diz respeito às importantes transformações experimentadas 
durante o desenvolvimento do sistema capitalista a partir dos últimos trinta 
anos do século XIX, estágio que se estende ao longo de todo o século XX, e conta 
com novas determinações na virada para o século XXI.
• As fases do capitalismo, que antecedem o imperialismo, são as do capitalismo 
comercial e do concorrencial.
• A gênese do imperialismo está no surgimento dos monopólios e na modificação 
do papel dos bancos.
• Os monopólios referem-se à concentração de poucas empresas que passam a 
controlar setores inteiros de produção.
• O novo papel dos bancos no imperialismo é o de associarem-se aos monopólios 
industriais.
• A exportação de capitais ganha relevância no estágio imperialista e ocorre pelos 
empréstimos e pelo investimento em capitais produtivos.
• No imperialismo os monopólios repartem o mundo entre si conforme os 
interesses de investimento.
• O imperialismo pode ser dividido por uma etapa “clássica”, outra dos “anos 
dourados” e, por fim, pelo capitalismo contemporâneo.
RESUMO DO TÓPICO 1
147
Caro(a) acadêmico(a)! Para fixar melhor o conteúdo estudado, vamos 
exercitar um pouco. Leia as questões a seguir e responda-as em seu Caderno 
de Estudos. Bom trabalho!
1 Em quais estágios podemos separar a evolução do capitalismo antes da fase 
imperialista? Qual a principal característica de cada um deles?
2 Quando e em que contexto se organiza o estágio imperialista do capitalismo?
3 Uma característica central na formação do imperialismo está no desempenho 
do capital financeiro. Explique:
4 O que significa exportação de capitais, cuja dinâmica ganha relevância com 
o imperialismo? Quais as formas de exportação de capitais?
5 De que forma as empresas multinacionais realizam a partilha do mundo 
em regiões de interesse?
6 Quais são as três principais fases do estágio imperialista? Em quais períodos 
predominaram?
7 Marque V nas questões consideradas verdadeiras e F para aquelas 
consideradas falsas:
( ) A fusão entre monopólios capitalistas e bancários não refere-se ao 
específico estágio imperialista do capitalismo, mas ganha importância a 
exportação de capitais.
( ) Os objetivos das empresas multinacionais convergem à partilha do 
mundo em regiões de interesse por meio de acordos que não eliminam, 
necessariamente, a concorrência entre empresas.
( ) A mundialização do capitalismo, característica do imperialismo, 
induziu a uma divisão internacional do trabalho, resultando em nações 
especializando-se em determinados tipos de produção.
( ) Nos “anos dourados” do imperialismo diversos países entram numa 
profunda crise econômica devido ao baixo consumo da população.
AUTOATIVIDADE
148
149
TÓPICO 2
OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
É possível distinguir três conformações mais específicas do desenvolvimento 
do capitalismo: uma etapa liberal, ao longo do século XIX; o capitalismo 
“organizado”, entre 1930 e 1980; e uma última etapa relativa ao período mais 
recente, cujos traços são demarcados pelos processos de globalização.
A primeira etapa do desenvolvimento do capitalismo, o liberalismo 
econômico, contava com o Estado para garantir ampla e livre concorrência entre os 
agentes econômicos no mercado e um regime específico do mercado de trabalho.
NOTA
O mercado onde operam os agentes econômicos é o mercado de bens e serviços, 
o qual determina o nível de produção e de preços em um país. Por sua vez, no mercado de 
trabalho são definidos a taxa de salários e o nível geral de emprego.
Ou seja, até início do século XX, os donos das empresas ou os detentores 
dos meios de produção conduziam o mercado de trabalho de forma livre e sem 
obstáculos regulatórios por parte do Estado, implicando, por exemplo, na proibição 
dos sindicatos de trabalhadores, uma vez que sua atuação contrariava a ideia da 
livre concorrência e do contrato diretamente entre os indivíduos (DOMINGUES, 
1999). Ora, a barganha por aumentos salariais é mais eficaz quando os trabalhadores 
unem-se por meio de sindicatos, daí advém a necessidade de os contratos entre 
trabalhadores e empregadores serem realizados individualmente e não de forma 
coletiva.
IMPORTANT
E
Liberalismo econômico: crença na autorregulação do mercado e defesa de um 
regime rígido do mercado de trabalho.
150
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
As constantes crises sofridas pelo sistema capitalista e a crescente 
organização das classes operárias entre o final do século XIX e o início do século 
XX acumularam certa desconfiança na capacidade do mercado regular-se de forma 
independente. A Grande Depressão de 1929, conhecida como Crise de 1929 [Figura 
29], consolida uma nova etapa do desenvolvimento do capitalismo, cuja principal 
característica está na ampliação da intervenção direta do Estado na economia.
NOTA
A depressão econômica que iniciou com a queda drástica da Bolsa de Valores de 
Nova York em outubro de 1929 estendeu-se ao longo da década de 1930, causando redução 
dos níveis de produção e altas taxas de desemprego em diversos países.
Nesta segunda etapa do desenvolvimento do capitalismo forma-se o 
chamado Estado de Bem-Estar Social (examinado com maior especificidade 
na Unidade 2), cuja dinâmica trouxe um conjunto de garantias sociais aos 
trabalhadores. Neste momento, diversas políticas a partir do Estado são formuladas 
e implementadas no sentido de orientar os rumos do desenvolvimento dali para a 
frente.
Além disso, cabe dizer: neste momento a classe trabalhadora encontrava-
se com razoável poder de compra, cujo terreno foi excelente para a implantação 
do sistema de produção fordista na maioria dos países capitalistas do mundo, 
iniciando, assim, a era do consumo de massa (DOMINGUES, 1999).
NOTA
O fordismo ou o sistema de produção fordista refere-se à produção em massa (em 
série) de produtos. Esta organização da produção no capitalismo foi idealizada por Henry Ford 
(fundador da Empresa Ford) em 1913, com o intuito de atender ao consumo de massa.
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
151
FIGURA 28 - PRODUÇÃO EM MASSA DO MODELO A
FONTE: Disponível em: <http://commons.wikimedia.org/wiki/File:Ford_Motor_
Company_assembly_line.jpg>. Acesso em: 22 jan. 2015.
Este conjunto de fatores específicos do modo de produção capitalista 
permitiu que, entre 1930 e 1980, a acumulação de capital fosse constantemente 
crescente e, por isso, podemos caracterizar esta etapa como um período mais 
“organizado” do desenvolvimento do capitalismo, na qual o Estado exerce papel 
fundamental.
IMPORTANT
E
A partir da década de1930 as ideias do liberalismo econômico dão lugar à 
intervenção direta do Estado nas relações econômicas e sociais, originando o Estado de Bem-
Estar Social e a ascensão do fordismo.
Na década de 1980 o cenário do desenvolvimento do capitalismo sofre 
certa inversão em direção ao esgotamento. Altos níveis de inflação dos preços em 
diversos países do mundo, não freados por meio da intervenção do Estado, abrem 
caminho às políticas conhecidas como neoliberais, as quais serão vistas nos itens 
a seguir.
Ademais, a produção em massa, principal característica do sistema de 
produção fordista predominante até então, também entrou em crise: os produtos 
do tipo standard (em série) perdem espaço frente à diferenciação dos produtos e 
dos processos industriais mundiais. 
152
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
Esta terceira e mais recente etapa do desenvolvimento do capitalismo 
carrega a ideologia neoliberal como forma de orientar politicamente os 
territórios, mas é caracterizada, também, por fenômenos como a terceirização, 
cujos determinantes são específicos do processo de globalização. Nesta etapa 
há uma ampliação dos fluxos econômicos para o nível mundial, tanto por meio 
das atividades industriais e comerciais quanto pelas financeiras, estas últimas 
possuem função primordial na dinâmica da globalização. Outro aspecto é 
a diluição das fronteiras nacionais num cenário global de comércio com a 
estruturação de blocos supranacionais, tais como a União Europeia, NAFTA (que 
compreende México, Estados Unidos e Canadá), e outros blocos em implantação, 
bem como a Aliança de Livre Comércio das Américas (ALCA) e a Aliança 
Bolivariana para os Povos da Nossa América (ALBA).
IMPORTANT
E
A terceira e mais recente etapa do desenvolvimento do capitalismo intensifica-se 
na década de 1980 e é conhecida como globalização.
Contudo, é importante perceber que os processos de produção pós-fordistas 
possuem caráter plural no âmbito da organização econômica. Em países do centro 
do capitalismo as características são relativas à alta tecnologia e flexibilização das 
relações de trabalho (regime flexível do mercado de trabalho); nos países periféricos, 
subsistem formas de produção avançadas e atrasadas com exploração intensiva de 
força de trabalho (regime rígido do mercado de trabalho). Neste cenário o Estado 
tem, novamente, um importante e revalorizado papel: “O Estado é fundamental 
para todas as novas articulações do capitalismo contemporâneo, dependendo dele 
o próprio processo de ‘desregulamentação’ (e, parcialmente, nova ‘regulação’) do 
mercado” (DOMINGUES, 1999, p. 64-65).
2 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
A fase dos “anos dourados” do capitalismo, relativa ao período entre 1930 
e 1980, com resultados de crescimento econômico e taxas de lucro compensadoras, 
chega ao fim. As ondas longas expansivas são substituídas por ondas longas 
recessivas. A taxa de lucro começou a declinar rapidamente, conforme mostra a 
Tabela 1, a seguir.
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
153
2 REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA
TABELA 1 - TAXAS DE LUCRO EM PAÍSES SELECIONADOS
País Taxa de lucro (%)1968 1973
Alemanha Ocidental 16,3 14,2
Grã-Bretanha 11,9 11,2
Itália 14,2 12,1
Estados Unidos 18,2 17,1
Japão 26,2 20,3
FONTE: Netto; Braz (2006, p. 213).
O crescimento econômico também se reduziu: nenhum país capitalista 
central conseguiu manter as altas taxas observadas no período anterior (entre 1950 
e 1970). Ademais, dois fatores anunciaram o esgotamento dos anos gloriosos do 
desenvolvimento do capitalismo. Primeiro, o colapso do ordenamento financeiro 
mundial, pela decisão norte-americana de romper com o padrão-ouro a partir do 
fim do acordo de Bretton Woods; e, o segundo fator, refere-se ao choque do petróleo, 
com a alta dos preços determinada pela Organização dos Países Exportadores de 
Petróleo (OPEP). 
NOTA
As conferências de Bretton Woods estabeleceram, em julho de 1944, as regras 
para as relações comerciais e financeiras entre os países mais industrializados do mundo, 
convencionando o ouro como lastro para o comércio internacional.
Em face desta inversão da dinâmica do desenvolvimento do capitalismo 
mundial (que passou de uma condição de prosperidade para uma de prejuízos 
econômicos), os grandes monopólios passaram a formular e implementar um 
conjunto articulado de respostas para a profundidade da crise que se passava, 
o qual transformou largamente a cena mundial: mudanças econômicas, sociais, 
políticas e culturais ocorreram e estão ocorrendo num ritmo extremamente veloz. 
Estas respostas podem ser descritas como a restauração do capital, sintetizadas 
como uma estratégia articulada sob o tripé: reestruturação produtiva, ideologia 
neoliberal, financeirização do capital. Todas as transformações implementadas 
pelos grandes monopólios capitalistas tiveram como objetivo reverter a queda da 
taxa de lucro.
154
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
IMPORTANT
E
O processo de restauração do capital a partir da década de 1980 pode ser 
descrito pelo tripé formado por (1) reestruturação produtiva, (2) a ideologia neoliberal e (3) a 
financeirização do capital.
Um primeiro fator relativo à reestruturação produtiva refere-se ao violento 
ataque ao movimento sindical e diretamente aos sindicatos de trabalhadores de 
diversos setores e de diversos países do mundo. Cabe lembrar, a formação dos 
sindicatos de trabalhadores foi um dos suportes do sistema de regulação social 
conduzido pelo Estado de Bem-Estar Social. Desta forma, os capitalistas atribuíam 
às conquistas do movimento sindical a responsabilidade pelos gastos públicos 
com as garantias sociais, bem como atribuíam a queda das taxas de lucro às suas 
demandas por aumentos salariais.
FIGURA 29 - MOVIMENTO SINDICAL DE TRABALHADORES NO FINAL DA DÉCADA 
DE 1970
FONTE: Disponível em: <http://www.spbancarios.com.br/Uploads/ckfinder/
userfiles/images/capa_pagina1.jpg>. Acesso em: 22 jan. 2015.
Ao fim da década de 1970, esses ataques ocorrem por meio de medidas 
legais restritivas, as quais reduzem o poder de intervenção do movimento sindical 
de trabalhadores; nos anos oitenta, o assalto do patronato (classe dos patrões) toma 
formas claramente repressivas, os exemplos são as ações dos governos Thatcher, 
da Inglaterra, e Reagan, nos Estados Unidos.
Ao mesmo tempo, começam a ser introduzidas alterações nos circuitos 
produtivos do mundo inteiro, que deslocam aquele padrão das relações de 
trabalho predominante nos “anos dourados”. Isto é, a modalidade de acumulação 
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
155
denominada por rígida, própria do período do modelo fordista de produção, 
começa a ser substituída pela modalidade de acumulação flexível.
IMPORTANT
E
Na reestruturação produtiva esgota-se a modalidade rígida das relações de 
trabalho, a qual passa a ser substituída pelo regime de acumulação flexível.
A acumulação flexível se refere à flexibilidade dos processos de trabalho e 
de produção, dos mercados de trabalho, dos produtos e dos padrões de consumo. 
Neste momento, passam a formarem-se setores inteiramente novos, fornecimento 
de serviços financeiros novos, mercados novos e, ainda, intensifica-se a inovação 
comercial, tecnológica e organizacional. Um exemplo é o método “just in time” de 
produção, no qual os produtos somente são fabricados no momento exato em que 
forem necessários, ou quando já forem vendidos. Da mesma forma, ocorre com 
as matérias-primas necessárias para a produção, as quais apenas são adquiridas 
no momento em que forem ser utilizadas, reduzindo ao mínimo os estoques de 
matérias-primas e de produtos. Este método pôde ser difundido amplamente 
pelo mundo devido ao avanço das tecnologias da informação, que permitiram 
comunicação rápida e eficiente de fornecedores.
A reestruturação produtiva opera na base da acumulação flexível. Pois, a 
produção “rígida” é substituída por um tipo diferenciado de produção. Nesta nova 
modalidade, a produção em massa, já referida anteriormente,tem a característica 
de produção em larga escala mantida, mas procura romper com a “standartização” 
(produtos iguais e padronizados). Desta forma, passa a destinar-se a mercados 
específicos, buscando atender variabilidades culturais e regionais, bem como as 
especificidades de cada grupo de consumidores.
Por outro lado, a reestruturação produtiva resultou numa dinâmica de 
desconcentração industrial, cuja principal característica está na desterritorialização 
da produção. Neste processo, unidades produtivas (completas ou desmembradas) 
são deslocadas para novos espaços territoriais, especialmente países 
subdesenvolvidos e periféricos, nos quais a exploração da força de trabalho pode 
ser mais intensa, seja pelo baixo preço da mão de obra, seja pela ausência de 
legislação protetora do trabalho e de tradições de luta sindical.
Este movimento de desterritorialização da produção permite o controle 
da produção por um grande monopólio, o qual, na verdade, não produz um só 
produto. Exemplo disto é a empresa Nike. Em 1996, não era produzido nem mesmo 
um cadarço na sede da empresa, mesmo assim, empregava 9.000 funcionários nos 
setores de organização estratégica, desenvolvimento de produtos e subcontratação 
156
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
de serviços. Entretanto, juntas, as empresas que terceirizavam suas atividades de 
produção, espalhadas pelo mundo, somavam 75 mil empregados. (NETTO BRAZ, 
2006).
IMPORTANT
E
Na reestruturação produtiva ocorre uma intensa desterritorialização da produção 
por meio da terceirização das etapas do processo de produção das grandes empresas, para 
outras menores, situadas em diversos países do mundo, na maioria das vezes, países mais 
pobres.
Um elemento essencial à reestruturação produtiva se trata de uma intensiva 
incorporação na produção de tecnologias resultantes de avanços técnico-científicos. 
Assim, o desenvolvimento da produção de um modo geral ocorre de tal forma que 
reduz enormemente a demanda por força de trabalho. Ou seja, ocorre um aumento 
na produção, mas uma redução no nível de pessoas empregadas, uma vez que há 
uma substituição de homens e mulheres por máquinas no momento da fabricação 
dos produtos. 
FIGURA 30 - INCORPORAÇÃO DE TECNOLOGIAS NO PROCESSO DE PRODUÇÃO
FONTE: Disponível em: <http://2.bp.blogspot.com/cfeWxhTuWR0/VJm8zuG2wJI/
AAAAAAAACg8/AXBOzgi45lY/s1600/MB-robot.jpg>. Acesso em: 22 jan. 2015.
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
157
A introdução da microeletrônica e dos recursos informáticos e robóticos na 
esfera da produção vem alterando os processos de trabalho e afetando fortemente 
o contingente dos trabalhadores ligados à produção. Talvez esta dinâmica 
possa ser vista até como uma terceira Revolução Industrial ou uma Revolução 
Informacional. O fato é que a base produtiva vem se deslocando rapidamente dos 
suportes eletromecânicos para os eletroeletrônicos (NETTO; BRAZ, 2006).
Quanto às implicações resultantes desta específica organização do modo 
de produção capitalista ao trabalhador, uma delas se refere às exigências que são 
postas à força de trabalho. Pois, devido a estas alterações, se requer aos trabalhadores 
envolvidos na produção uma qualificação mais alta e, ao mesmo tempo, a 
capacidade para participar de atividades múltiplas. Isto é, os trabalhadores devem 
ser qualificados e polivalentes para estarem inclusos nos empregos ofertados sob 
este novo cenário proporcionado pela reestruturação produtiva.
Contudo, ainda assim, cabe observar certo paradoxo: enquanto os 
processos de produção passam a exigir certa mão de obra altamente qualificada, 
noutros setores muitas atividades são desqualificadas, de forma a empregar 
trabalhadores substituíveis a qualquer momento. Portanto, de um lado, se 
encontram trabalhadores extremamente qualificados, mas com pouca segurança 
no emprego, os quais formam um pequeno núcleo; de outro lado, uma grande 
parcela de pessoas trabalhando em atividades precarizadas, com alta rotatividade 
(isto é, também com pouca segurança no emprego), salários baixos e, normalmente, 
em empresas terceirizadas vinculadas àquelas do pequeno núcleo qualificado 
(NETTO; BRAZ, 2006).
DICAS
Um movimento de reação a este processo ocorreu recentemente na Argentina, 
por meio da recuperação de empresas que precisaram ser fechadas. O videodocumentário 
“Ocupar, resistir, produzir”, produzido pelo Canal Futura, está disponível em: <https://www.
youtube.com/watch?v=U6qh_PT_kuk>
Outra implicação ao conjunto dos trabalhadores relaciona-se à gestão da 
força de trabalho. Sem um regime rígido das relações de trabalho, a organização 
da produção também sofre alterações: o controle da força de trabalho pelo sistema 
capitalista ocorre por meio da “participação” e do “envolvimento” dos funcionários, 
os quais, agora, tornam-se “colaboradores”, “cooperados” ou “associados”, 
valorizando a comunicação e a redução de hierarquias mediante a utilização de 
“equipes de trabalho” que buscam constantemente atingir metas e resultados. 
Em outras palavras, esta configuração reformulada do processo produtivo busca 
quebrar a consciência de classe dos trabalhadores, utilizando-se de um discurso 
“de que a empresa é sua casa” e vinculando diretamente o êxito pessoal com o da 
empresa, para garantir que o trabalhador não se sinta explorado.
158
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
A Figura 32, a seguir, procura mostrar as possíveis alterações nas relações 
de trabalho, isto é, a relação entre empregados e empregadores. No eixo vertical 
estão as possibilidades externas do regime de trabalho e do contrato salarial, do 
mais “rígido” para o mais “flexível”. No eixo horizontal, as variações internas, ou 
seja, as formas de organização e cooperação no interior das firmas: do “controle 
direto” para uma “autonomia responsável” ou “participação”. No interior deste 
cenário encontram-se diferentes formas das relações do mercado de trabalho, tal 
como a brasileira, que se encontra na condição de um fordismo periférico: com 
maior flexibilidade do contrato salarial, mas com controle direto do mercado 
interno de trabalho (LIPIETZ, 1991).
FIGURA 31 - RELAÇÕES DO MERCADO DE TRABALHO
FONTE: Adaptado de Lipietz (1991)
O que se passa é que esta nova relação entre empregadores e empregados 
no mundo do trabalho, a flexibilização, resultou em ônus que recaíram fortemente 
sobre os trabalhadores, como a redução salarial (entre 1973 e 1992, o preço da 
hora de trabalho daqueles envolvidos com a produção, nos Estados Unidos, caiu 
de US$ 10,37 para US$ 8,80) e a precarização dos empregos. Formas precárias 
são observadas quando, por exemplo, passam a existir poucas garantias de 
continuidade no emprego e pela implementação do emprego em tempo parcial 
(também frequentemente sem garantias) (NETTO; BRAZ, 2006).
A Tabela 2, a seguir, revela alguns dados estatísticos com relação ao 
desemprego em países selecionados. Uma das informações relevantes refere que 
entre 1991 e 2000 a maioria dos indicadores revela aumento do desemprego, seja 
em países mais ricos ou nos mais pobres. Nos anos seguintes é possível perceber 
os países que foram mais ou menos atingidos pela crise financeira de 2008, 
impactando no aumento do nível de desemprego. Destaque para a Espanha, com 
maior índice de desemprego em 2013, 26,6%.
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
159
FIGURA 31 - RELAÇÕES DO MERCADO DE TRABALHO
TABELA 2 - TAXA DE DESEMPREGO EM PAÍSES SELECIONADOS (% DO TOTAL DA FORÇA DE 
TRABALHO)
País / Região 1991 1995 2000 2005 2010 2011 2012 2013
Argentina 5,8 18,8 15,0 10,6 7,7 7,2 7,2 7,5
Austrália 9,6 8,5 6,3 5,0 5,2 5,1 5,2 5,7
Bolívia 2,9 5,0 4,8 5,4 3,3 2,7 2,7 2,6
Brasil 6,9 6,0 9,5 9,3 7,9 6,7 6,1 5,9
Canadá 10,3 9,5 6,8 6,7 8,0 7,4 7,2 7,1
Chile 8,2 7,3 9,2 8,0 8,1 7,1 6,4 6,0
China 4,9 4,5 4,5 4,1 4,2 4,3 4,5 4,6
Alemanha 5,6 8,1 7,7 11,1 7,1 5,9 5,4 5,3
Leste Asiático & Pacífico 4,7 4,2 4,7 4,7 4,4 4,3 4,4 4,5
Europa & Ásia Central 9,4 10,0 9,7 8,8 9,3 9,0 9,3 9,6Espanha 16,4 23,1 14,2 9,3 20,2 21,7 25,2 26,6
União Europeia 8,8 10,8 9,2 8,9 9,6 9,6 10,5 10,9
França 9,1 11,8 10,2 8,9 9,3 9,2 9,9 10,4
Reino Unido 8,5 8,7 5,6 4,8 7,9 7,8 8,0 7,5
Japão 2,1 3,2 4,8 4,4 5,0 4,5 4,3 4,0
América Latina & Caribe 6,9 8,1 8,8 8,0 7,3 6,7 6,3 6,2
Federação Russa 12,2 9,4 10,6 7,1 7,3 6,5 5,5 5,6
Uruguai 7,6 10,4 10,3 9,0 7,2 6,3 6,5 6,6
Estados Unidos 6,9 5,7 4,1 5,2 9,7 9,0 8,2 7,4
FONTE: Banco Mundial
DICAS
Assista ao videoentrevista com o prof. Ricardo Antunes, da Unicamp. Por meio 
desse material é possível entender o perfil da classe trabalhadora no Brasil. Disponível em: 
<https://www.youtube.com/watch?v=pcY8bXrxslg> (Quem é a classe trabalhadora no Brasil? 
Em três blocos).
Outros indicadores permitem perceber que a precarização das relações 
de trabalho trouxe de volta formas de exploração próprias do passado, tais 
como aumento das jornadas de trabalho, trabalho infantil, salários diferenciados 
entre homens e mulheres, trabalho semiescravo. O Quadro 10, a seguir, mostra, 
por exemplo, os dados relativos aos grupos ocupacionais e aos estratos sociais 
ocupados pelos trabalhadores no Brasil, para o ano de 2007 e, ainda, a posição 
ocupada pelas mulheres.
160
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
QUADRO 10 - GRUPOS OCUPACIONAIS E ESTRATOS 
SOCIAIS OCUPADOS POR MULHERES, BRASIL, 2007
Grupo ocupacional Estrato social % mulheres
Empregadores
1,2,3 26,0
4,5 33,1
Total 26,5
Colarinhos-brancos
1,2,3 44,5
4,5 58,8
Total 49,1
Trabalhadores não agrícolas
1,2,3 23,3
4,5 52,1
Total 41,0
Trabalhadores agrícolas
1,2,3 8,60
4,5 12,9
Total 12,0
Não remunerados
não agrícolas
1,2,3 54,5
4,5 59,8
Total 59,5
Não remunerados agrícolas
1,2,3 60,1
4,5 57,7
Total 57,8
Total
1,2,3 33,8
4,5 49,5
Total 42,3
FONTE: Adaptado de Quadros; Maia (2010)
Os Estratos sociais referem-se à renda total dos indivíduos: 1, 2 e 3 são 
relativos aos salários acima de R$ 500,00; os estratos 4 e 5, abaixo de R$ 500,00. 
Desta forma, é possível perceber, primeiramente, que, no geral, as mulheres 
estão presentes em apenas 33,8% dos estratos que recebem maior remuneração. 
Ao focarmos nos dados sobre a classe dos empregadores, vê-se que apenas 26,5% 
destes postos de trabalho são ocupados por mulheres. E, ainda, a maioria delas 
(33,1%) encontra-se no estrato social que recebe menor remuneração. No estrato 
social com maior remuneração, apenas 26% dos postos de trabalho são ocupados 
por mulheres.
Existem dois grupos ocupacionais em que as mulheres são predominantes: 
justamente os dois grupos não remunerados não agrícolas (59,5% são mulheres) 
e agrícolas (57,7% são mulheres). Ademais, em todos os grupos ocupacionais da 
pesquisa as mulheres estão mais presentes naqueles estratos sociais com menor 
remuneração. Portanto, estes dados buscam ilustrar parte da realidade das relações 
de trabalho em pleno século XXI.
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
161
DICAS
Para entender ainda mais sobre o processo de reestruturação produtiva e o 
mundo do trabalho no Brasil, não deixe de ler o artigo do prof. Ricardo Antunes, da Unicamp, “A 
nova morfologia do trabalho no Brasil. Reestruturação e precariedade”, publicado em 2012, na 
Revista Nueva Sociedad. Disponível em: <http://www.nuso.org/upload/articulos/3859_1.pdf>.
3 NEOLIBERALISMO
Vimos que na terceira fase do desenvolvimento do capitalismo, a etapa do 
capitalismo contemporâneo, também conhecida por globalização, houve diversas 
mudanças relativas ao mundo do trabalho: a dinâmica denominada reestruturação 
produtiva. Tais alterações são fruto de uma forma específica de orientar o 
desenvolvimento dos países, isto é, uma forma específica de política, chamada de 
neoliberalismo.
Uma das peculiaridades do capitalismo contemporâneo é que a partir da 
década de 1980, aquelas garantias sociais e de trabalho conquistadas anteriormente 
estão, pouco a pouco, sendo destruídas pelas políticas neoliberais. A desmontagem 
total ou parcial dos diversos tipos de Estado de Bem-Estar Social é o exemplo 
emblemático da estratégia neoliberal na atualidade. Por meio de políticas 
tipicamente neoliberais prioriza-se a supressão de direitos sociais conquistados 
arduamente, os quais, pela perspectiva neoliberal, tratam-se de privilégios dos 
trabalhadores (e não direitos), e liquida-se com as garantias ao trabalho em nome 
da flexibilização das relações de trabalho.
O que se pode denominar ideologia neoliberal compreende uma concepção 
de homem (considerado atomisticamente como possessivo, competitivo 
e calculista), uma concepção de sociedade (tomada como um agregado 
fortuito, meio de o indivíduo realizar seus propósitos privados) 
fundada na ideia da natural e necessária desigualdade entre os homens 
e uma noção rasteira da liberdade (vista como função da liberdade de 
mercado) (NETTO; BRAZ, 2006, p. 226, grifos do autor).
A ideologia neoliberal tem papel de legitimar o projeto de romper com as 
restrições e regulamentações sociopolíticas que limitam a liberdade de movimento 
das forças do mercado. Ou seja, o objetivo de orientar o desenvolvimento por 
meio de políticas neoliberais está na inteira desregulamentação das atividades 
econômicas para que se obtenha um máximo de liberdade nas relações econômicas.
Uma primeira frente do projeto neoliberal diz respeito à intervenção 
do Estado na economia. Aí, o Estado é visto como um empecilho para o 
desenvolvimento das forças produtivas, que deve ser reformado urgentemente. 
Contudo, esta reforma trata-se, na verdade, de uma contrarreforma, ou seja, trata-
se da supressão da participação e intervenção do Estado na economia e da redução 
de direitos e garantias sociais.
162
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
Mas, é importante salientar: uma economia, mesmo que voltada somente 
para o crescimento econômico, não pode funcionar sem a intervenção estatal. 
Desta forma, o Estado não deixa de existir, nem mesmo deixa de intervir nas 
relações econômicas e sociais, mas recebe novos papéis, tais como: proteção dos 
mercados consumidores, garantia de acesso privilegiado a contratos públicos em 
setores estratégicos de alta tecnologia, oferta de incentivos fiscais e investimentos 
em ciência e tecnologia.
Na Tabela 3, a seguir, é possível perceber os dispêndios realizados com 
investimento em ciência e tecnologia pelo Governo Federal do Brasil entre 2000 
e 2010. Tanto os dados da esfera federal quanto os da esfera estadual apresentam 
constantemente crescimento ao longo dos anos. Os resultados, portanto, dão ideia 
das novas formas apresentadas pelas políticas de desenvolvimento implementadas 
pelo Estado brasileiro, os quais podem ser aplicados e dizem respeito à realidade 
de diversos outros países.
TABELA 3 - INVESTIMENTOS EM C&T NO BRASIL (EM MILHÕES CORRENTES)
Ano PúblicosFederais Estaduais Total
2000 5.795,4 2.854,3 8.649,7
2001 6.266,0 3.287,1 9.553,1
2002 6.522,1 3.473,3 9.995,4
2003 7.392,5 3.705,7 11.098,2
2004 8.688,2 3.900,5 12.588,6
2005 9.570,1 4.027,3 13.597,4
2006 11.476,6 4.282,1 15.758,6
2007 14.083,5 5.687,4 19.770,9
2008 15.974,5 7.138,0 23.112,5
2009 18.475,2 8.424,8 26.900,0
2010 22.577,0 10.201,8 32.778,7
FONTE: Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação
Aliado a este processo de desregulamentação das relações de trabalho (a já 
referida flexibilização), outra reforma importante no que diz respeito à atuação do 
Estado na economia foi o processo de privatização, pelo qual o Estado repassa ao 
campo privado setores que anteriormente eram de administração pública. Desta 
forma, torna-se possível a exploração privada e lucrativa de complexos industriais 
inteiros, como a siderurgia, a indústria naval e automotiva, também a indústria 
petroquímica, além de serviços de grande importância, relativos à distribuição de 
energia, transportes, telecomunicações, saneamento básico, bancos e seguros. 
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
163
TABELA 3 - INVESTIMENTOS EM C&T NO BRASIL (EM MILHÕES CORRENTES)
NOTA
O movimentode privatização de setores públicos é uma característica principal 
do capitalismo contemporâneo e das políticas neoliberais de condução da economia.
A transferência da administração pública para a privada também significou 
uma profunda desnacionalização da economia, isto é, setores nacionais na 
economia passaram a ser operados e controlados por empresas estrangeiras. Pois, 
uma vez que certa empresa que assume, por exemplo, a administração de uma 
empresa siderúrgica estatal no Brasil, aquela empresa pode não possuir sede no 
país. Na Tabela 4, a seguir, encontra-se o número de empresas desnacionalizadas, 
isto é, a quantidade de empresas nacionais adquiridas por empresas estrangeiras 
entre 2004 e 2012, e a variação percentual entre um ano e outro.
TABELA 4 - EMPRESAS DESNACIONALIZADAS, BRASIL, 2004-2012
Ano Quantidade de empresas desnacionalizadas Variação (%)
2004 69 -
2005 89 28,99
2006 115 29,21
2007 143 24,35
2008 110 -23,08
2009 91 -17,27
2010 175 92,31
2011 208 18,86
2012 296 42,31
FONTE: Adaptado de Lopes (2013)
Durante toda a série somam-se 1.296 empresas nacionais que passaram 
para o controle estrangeiro, com significativo aumento a cada ano; o último 
período, 2012, se revela com maior número de desnacionalizações, 296, contra as 69 
observadas em 2004. Apenas nos anos de 2008 e 2009 não se observou crescimento 
deste indicador (claros indícios da crise financeira de 2008). Contudo, no ano 
subsequente, em 2010, o crescimento foi de 92,31%, o mais alto registrado.
Algumas consequências do movimento de desnacionalização da economia:
• Aumento das remessas de lucros para fora do país: entre 2004 e 2011, as remessas 
totais para o exterior elevaram-se 238,4%.
• Aumento das importações: entre 2004 e 2011 houve aumento de 260% do total 
das importações, passou de US$ 62,835 bilhões para US$ 226,233 bilhões. 
Este dado revela que as multinacionais importam grande quantidade de bens 
164
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
intermediários para a produção de bens finais, enfraquecendo a dinâmica 
interna da economia; ou importam os próprios bens finais produzidos nas 
matrizes estrangeiras utilizando as filiais somente para venda final. 
• Estagnação tecnológica: pois, as inovações tecnológicas (ou o investimentos em 
pesquisa e desenvolvimento) são realizadas no interior das matrizes estrangeiras 
e não em suas filiais em outros países, gerando um atraso competitivo para 
a economia interna e, consequentemente, uma estagnação do crescimento 
econômico.
FONTE: Lopes (2013)
Com relação à última consequência da desnacionalização da economia 
brasileira, o indicador de registro de patentes junto ao United States Patent and 
Trademark Office (USPTO) contribui no esclarecimento do grau de inovação 
tecnológica nos diferentes países. No Brasil, o número de patentes concedidas 
(inovações tecnológicas) cresceu 6,3% entre 1981 e 2009, contudo, considerando 
números bem baixos na década de 1980, o Brasil, em comparação com outros 
países, não tem motivos para comemorar. Em 2009, por exemplo, os Estados 
Unidos registraram 82 mil patentes; o Japão, mais de 35 mil; a Coreia do Sul, 
8.762; e o Brasil, apenas 103 patentes (THEIS, 2014). Embora o investimento em 
ciência e tecnologia esteja crescendo constantemente (como se viu), poucas são 
empresas nacionais que decidem inovar, e este cenário é agravado pela referida 
desnacionalização propiciada pelo neoliberalismo.
DICAS
Para saber mais sobre a história das privatizações e consequente desnacionalização 
no Brasil, assista ao documentário “Privatizações: a distopia do capital”, dirigido por Silvio 
Tendler, em 2014. Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=A8As8mFaRGU>.
4 FINANCEIRIZAÇÃO DO CAPITAL
Caro(a) aluno(a), primeiramente, cabe lembrar, rapidamente, do que vimos 
até este momento no Tópico 2. Para compreendermos a formação da sociedade 
contemporânea, o desenvolvimento do capitalismo foi dividido em três grandes 
etapas:
1) O liberalismo econômico, que tem auge durante o século XIX com a crença no 
livre mercado como melhor ajuste da economia, e perdura até a década de 1930, 
cujo fim é demarcado pela crise econômica de 1929.
2) A partir daí surge uma segunda etapa, cuja intervenção do Estado nas relações 
econômicas e sociais é fundamental para seu entendimento; este período se 
alonga desde 1930 até o início da década de 1980. É o período no qual muitos 
países implementam políticas específicas para orientar o desenvolvimento.
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
165
4 FINANCEIRIZAÇÃO DO CAPITAL
3) Por fim, viu-se uma última etapa, do capitalismo contemporâneo, que se 
estende desde 1980 até os dias de hoje, a qual é reconhecida na mídia em geral 
por globalização. 
Em nossos estudos vimos, também, que o capitalismo contemporâneo (a 
globalização) representa a restauração do capital, por motivo da profunda crise 
econômica em que se encontrava. No Brasil, por exemplo, os índices de inflação 
foram os mais altos da história durante este período. Mas, ainda, é importante não 
perder de vista que a restauração do capital pode ser entendida por meio do tripé: 
reestruturação produtiva – neoliberalismo – financeirização do capital.
O item que será visto a partir de agora tratará da última parte deste tripé: 
a financeirização do capital. A Figura 32 ilustra a organização da dinâmica da 
restauração do capital.
FIGURA 32 - TRIPÉ DO PROCESSO DE RESTAURAÇÃO DO CAPITAL
FONTE: O autor
A possibilidade dos fluxos econômicos alcançarem um nível de circulação 
mundial sempre foi uma marca do capitalismo, ampliada ainda mais no 
capitalismo contemporâneo. Contudo, existem particularidades no atual estágio 
de desenvolvimento do capitalismo que vão além de sua grande expansão. 
Antes de estudarmos, de fato, a financeirização do capitalismo, vejamos outras 
características do desenvolvimento do capitalismo contemporâneo.
Um primeiro elemento diz respeito à forma das transações econômicas 
mundiais. As interações comerciais intensificaram-se especialmente entre os 
países mais ricos (centrais). Estas transações tornaram-se muito mais importantes 
e significativas do que aquelas entre os países centrais e periféricos (pobres). A 
chamada Tríade (Estados Unidos, União Europeia e Japão) realiza entre si a maior 
parte das transações econômicas e comerciais mundiais, as quais são operadas por 
grandes monopólios e processadas nas matrizes e filiais.
Outro fator diferencial das relações econômicas mundiais do capitalismo 
contemporâneo é a estruturação de blocos supranacionais que passam a constituir 
espaços geoeconômicos regionais, com normas próprias para suas transações e 
166
UNIDADE 3 | O DESENVOLVIMENTO DO CAPITALISMO CONTEMPORÂNEO
promovendo a integração de investimentos e mercados, os quais favorecerão, 
fundamentalmente, os grandes monopólios que passaram a comandar estes 
processos (NETTO; BRAZ, 2006).
NOTA
Blocos supranacionais são acordos econômicos e comerciais realizados entre um 
grupo específico de países e/ou regiões. Os blocos podem ser classificados em: zona de livre 
comércio, união aduaneira, mercado comum e união econômica ou monetária.
Vejamos a formação de alguns destes blocos.
• União Europeia: tem origem na Comunidade Econômica Europeia, formada na 
década de 1950, sendo instituída com o atual nome em 1993. Possui 28 países-
membros independentes. O objetivo é assegurar trânsito livre para pessoas, 
bens, serviços e comércio.
FIGURA 33 - PAÍSES MEMBROS DA UNIÃO EUROPEIA
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Ficheiro:UE-EU-ISO_3166-1.
png>. Acesso em: 23 jan. 2015.
TÓPICO 2 | OS PROCESSOS DE GLOBALIZAÇÃO
167
FIGURA 33 - PAÍSES MEMBROS DA UNIÃO EUROPEIA
• NAFTA (Tratado Norte-Americano de Livre Comércio): envolve México, Estados 
Unidos e Canadá, tendo o Chile como associado. O objetivo é garantir livre 
comércio entre os três países, com custo reduzido para troca de mercadorias. O 
NAFTA entrou em vigor a partir de 1994. (NAFTANOW, 2015).

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