Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
30/08/2016 1 Interpretação Bioquímica 1 Profa. Renata Aquino Interpretação Laboratorial • Os exames aqui discutidos fazem parte da rotina da maioria dos pacientes, pois necessitam de controles muitas vezes diários e indicam alterações por todo o organismo, como reflexo de diversas enfermidades diferentes. 30/08/2016 2 Avaliação da glicemia e alterações glicídicas • O exame mais realizado para avaliação da glicemia e das alterações relacionadas à taxa de glicose no sangue é a glicemia sanguínea. Existem diversas maneiras de fazer essa dosagem, as quais serão detalhadas a seguir • A - Glicemia de jejum • É a medida mais simples de dosagem de glicemia sanguínea, além de ser a mais utilizada. Deve ser feita com pelo menos 8 horas de jejum, e não deve ultrapassar 15 horas de jejum (para não aumentar a chance de hipoglicemia). Seus valores são demonstrados a seguir: Glicemia de jejum abaixo de 65mg/dL: Glicemia de jejum entre 65 e 99mg/dL: Glicemia de jejum entre 100 e 125mg/ dL: Glicemia de jejum maior ou igual a 126mg/ dL: • B - Glicemia capilar realizada com coleta de ponta de dedo • Não é recomendada para o diagnóstico de diabetes, sendo orientada apenas em situações de emergência, para guiar insulina regular prévia à realização ou em locais com indisponibilidade de exames laboratoriais. • C - Teste de tolerância a glicose / curva glicêmica • Este exame é reservado para definir casos de alterações glicídicas, não confirmadas como diabetes, apenas com glicemia de jejum. O exame é feito com a ingestão de 75g de glicose anidra, com coleta de glicemia no momento zero e 120 minutos após a ingestão ou em momentos variados entre 30 minutos após ingestão. A principal indicação é para pacientes com glicemia entre 100 e 125mg/dL. 30/08/2016 3 • C - Hemoglobina glicada (ou glicosilada) • Trata-se do exame solicitado para avaliar os níveis de glicemia até 120 dias antes da data da coleta, tempo médio de vida de uma hemácia. Valores abaixo de 5,5% são considerados normais. Da mesma forma, valores de hemoglobina glicada acima de 6,5% com 2 medidas diferentes já são considerados diabetes. 30/08/2016 4 HGL • Pela possibilidade de avaliar o controle glicêmico durante longos períodos antes da coleta do exame, a hemoglobina glicada é utilizada entre aqueles que já fazem acompanhamento e tratamento para diabetes. Mesmo que haja esforço para controlar a glicemia na data pré-exame, se o controle não tiver sido bom, esse exame o mostrará, levando a avaliação rotineira dos últimos 3 a 4 meses. Entretanto, o método não está isento de erros. Existem situações que podem alterar a hemoglobina glicada, e devem ser conhecidas para não haver risco de interpretações errôneas sobre o valor encontrado. 30/08/2016 5 • E - Glicosúria (avaliação das taxas de glicemia na urina) • Pode-se quantificar numericamente ou em número de cruzes. Eram usadas “fitas” para a dosagem, e o valor era aferido pelo tom da cor na fita. Encontra-se em desuso por haver métodos mais seguros e tão simples quanto esse. • F - Insulinemia • Trata-se da avaliação da taxa de insulina no organismo, feita para dosar possíveis alterações de resistência a insulina, o que pode causar, com o tempo, diabetes tipo 2. Avaliação da função renal • A bioquímica inicial diária utiliza 2 exames muito simples para a avaliação da função renal: a dosagem de ureia e a dosagem de creatinina. 30/08/2016 6 Função Renal • A - O valor normal da ureia varia entre 10 e 45mg/dL • A creatinina é produzida nos músculos e filtrada nos glomérulos, sendo seu valor variável não apenas com a função renal, mas também associada à musculatura, o que a faz variar interpessoalmente mais do que a ureia. • B - O valor normal de creatinina varia entre 0,5 e 1,2 • Depende de fatores como musculatura e peso. Desta maneira, uma pessoa de 100kg pode apresentar creatinina de 1,2 sem significar alteração de função renal. Em compensação, um adulto desnutrido grave de 30kg com uma creatinina de 0,9 pode significar insuficiência renal, pois neste peso e nesta pequena massa muscular se esperava creatinina bem abaixo desse valor. 30/08/2016 7 Avaliação dos distúrbios hidroeletrolíticos • Ao se comentar sobre avaliação de distúrbios hidroeletrolíticos, consideram-se principalmente as alterações de sódio, potássio, cálcio e magnésio. • Alterações na concentração de sódio • O valor de sódio sérico normal está entre 130 e 150mEq/mL. Isso significa que valores abaixo de 130 são chamados hiponatremia, enquanto valores acima de 150 são chamados hipernatremia. • Hiponatremia • É considerada quando os valores de sódio estão abaixo de 130 (para alguns laboratórios 135mEq/mL). Entre pacientes em que a dosagem de sódio fica abaixo de 120, o risco de óbito e outras complicações é maior. Isso porque valores muito baixos ou muito altos levam mais tempo para correção e provavelmente levam a alterações permanentes no sistema nervoso central. • Hipernatremia • A hipernatremia caracteriza-se como a apresentação de sódio plasmático acima de 150mEq/mL (podendo ser considerado para alguns laboratórios >145mEq/mL). • Alterações na concentração de potássio • Enquanto o sódio é o principal íon no extracelular, do outro lado da bomba de controle de íons está o potássio, que tem sua maior parcela no intracelular. Por esse motivo, o valor plasmático encontrado de potássio é baixo, em torno de 3,5 a 5mEq/L. 30/08/2016 8 • O potássio é importante no intracelular, fazendo parte do bom funcionamento da musculatura do corpo, da condução nervosa e do ritmo cardíaco. Assim, alterações no valor do potássio podem levar a arritmias cardíacas, muitas vezes fatais. • A - Hipocalemia (também chamada de hipopotassemia) • A hipocalemia é caracterizada como valor de potássio abaixo de 3,5mEq/L. Pequenas diminuições de potássio raramente são sentidas. Valores abaixo de 2,5mEq/L costumam causar sintomatologia, que incluem cãibras, arritmias cardíacas, entre outros. 30/08/2016 9 • Hipercalemia ou hiperpotassemia • Na hipercalemia, os níveis de potássio devem estar acima de 5mEq/L. Na maioria dos casos, não existem sintomas, mas especialmente nos casos acima de 5 podem ocorrer dores pelo corpo, além de arritmias cardíacas. • Alterações na concentração de cálcio • As alterações na concentração de cálcio são importantes. Apesar de não haver grandes concentrações desse cátion no sangue, a pequena quantidade disponível interfere na contração da musculatura e na transmissão neuromuscular. A maior parte do cálcio, no entanto, fica armazenada nos ossos. • O valor normal de cálcio total varia entre 8,5 e 10,5mg/dL em adultos. 30/08/2016 10 • A hipocalcemia é uma condição grave, definida como valores de cálcio abaixo de 7mg/dL. Se os valores são muito baixos, podem ocorrer situações clínicas graves, como convulsões e coma. • A hipercalcemia é assim chamada quando os valores de cálcio total ultrapassam 11mg/dL. Entretanto, apenas acima de 13mg/dL é que se apresentam os sintomas mais aparentes. Podem acontecer letargia, psicose, fraqueza muscular, constipação e arritmias. 30/08/2016 11 • As alterações na concentração de magnésio raramente causam alterações mais graves a princípio, mas alteram outros íons. • Em algumas outras situações, a perda de magnésio ocorre por alterações crônicas, como no caso de desnutrição. Nestes casos, a reposição instantânea pouco aumenta os valores de magnésio, e reposições prolongadas (alimentares) seriam a melhor maneira de fazer a reposição. • Os valores normais de magnésio variam de 1,5 até 2,4mg/dL. Dessa maneira, valores abaixo ou acima destes são considerados desvios. Entretanto, para que ocorram alterações sintomáticas, os valores de hipomagnesemia devem estar abaixo de 1mg/dL enquanto os de hipermagnesemia devem estar acima de 4mg/dL. • Na hipomagnesemia, assim como na hipocalcemia, podem ocorrer letargia e sinais de Trousseau e de Chvostek. Pode haver manifestações neurológicas e arritmias. Na hipermagnesemia, pode haver hiperventilação,bradicardia e parada respiratória. 30/08/2016 12 Avaliação de distúrbios relacionados ao ferro • A avaliação do metabolismo do ferro é essencial para discutir alterações deste mineral no corpo. Sua principal função é ser carreadora de oxigênio nas hemácias e, então, seu déficit causar o principal motivo de anemia no mundo, a anemia ferropriva. • Ferro sérico • É o ferro circulante no corpo, que é dosado para avaliar sua deficiência. Seu valor no plasma é baixo, ficando em torno de 50 a 150μg/dL. • Ferritina • É a maneira como o ferro é armazenado em todas as células do corpo. O valor normal de ferritina é de 10 a 80μg/L. • Capacidade de ligação de ferro total (TIBC) • Este exame demonstra literalmente o que se lê. • Saturação de transferrina • A transferrina é a proteína que carreia o ferro. Se existe anemia, a saturação da transferrina está baixa, pois a porcentagem de ferro para ser transportado é pequena. 30/08/2016 13 Avaliação de lipídios séricos • A avaliação dos lipídios séricos na rotina diária é necessária por conta da deposição de gorduras que podem obstruir artérias e predispor alterações importantes da circulação e doenças graves, como o infarto e o acidente vascular encefálico. O aumento de triglicérides também pode levar a quadros de pancreatite aguda, o que deve ser sempre monitorado. • Colesterol Total • HDL (High-Density Lipoprotein): • LDL (Low-Density Lipoprotein): • VLDL (Very Low-Density Lipoprotein): Casos Clínicos • Paciente nega antecedentes mórbidos até a idade de 42 anos, época em que, durante exame médico de rotina no trabalho, foram detectados valores de pressão arterial de 140/96 mmHg. Nessa ocasião, o paciente era completamente assintomático do ponto de vista cardiovascular. Exames laboratoriais normais, exceto por uma glicemia de 136 mg/dl e triglicérides de 180 mg/dl. • Outros exames • Exames laboratoriais: Glicemia de jejum de 172 mg/dl, potássio plasmático de 3,7 mEq/l, ácido úrico de 8 mg/dl, colesterol total de 230 mg/dl, HDL- colesterol de 28 mg/dl, LDL colesterol não calculado devido aos valores elevados de triglicérides (450 mg/dl). Creatinina sérica de 1,8 mg/dl e uréia de 96 mg/dl. 30/08/2016 14 Casos Clínicos • Queixa: encaminhado para tratar descompensação de diabetes. O paciente soube ser diabético aos 49 anos, em exame de rotina no pré-operatório de colecistectomia, (glicemia= 210 mg/dl). • O paciente nega qualquer sintomatologia nesta ocasião, a não ser dor abdominal após a ingestão de alimentos gordurosos. Foi medicado com Diabinese®,1 comprimido ao dia por 2 meses; fez dieta, reduzindo a ingestão de massas e evitando açúcar, e então, após controle clínico ,foi operado. • Após a alta hospitalar passou a fazer controle glicêmico a cada 6 meses, com glicemias “boas”, sempre entre 150 e 211 mg/dl, tendo ficado despreocupado porque foi-lhe informado que o seu diabetes era do tipo leve. • Exames laboratoriais Glicemia =232 mg/dl; HB A1c=11,4%(Nl=até 5%) Ureia=38 mg/dl; Creat=0,9mg/dl; Colesterol=260, HDL=34,LDL=180 Triglicérides=210 mg/dl. 30/08/2016 15 Casos Clínicos • Uma paciente do sexo feminino, 15 anos, branca, comparece à emergência com dor abdominal, náuseas e vômitos e relata que, na última semana, apresentou poliúria. Logo que a paciente chega à emergência, constata-se hálito cetótico. Ao realizar exame, evidenciam-se mucosas secas, hipotensão e taquicardia. • O abdome apresenta-se com ruídos hidroaéreos, depressível, doloroso à palpação difusa, sem peritonismo. A glicemia capilar é de 437 mg/dL. Nos exames complementares, verificam-se acidose metabólica, glicemia elevada cetonúria positivas. No leucograma, consta aumento da contagem leucocitária (15.000/ L), sem formas jovens. 30/08/2016 16 Caso Clínico • Um paciente do sexo masculino, 76 anos, negro, procura atendimento devido a febre, fraqueza, distúrbio visual, poliúria e sonolência. O paciente apresenta sinais clínicos de desidratação na admissão, mucosas secas, hipotensão e taquicardia. Familiares relataram que tinha febre há três dias, dificuldade para respirar e tosse produtiva. O paciente tem história de diabetes e hipertensão há mais de 10 anos e está em tratamento regular. Nos achados laboratoriais, verificam- se glicemia de 807 mg/dL. Informações do exame -Gasometria • A gasometria arterial é um exame específico para a determinação das trocas gasosas centrais e, desta maneira, observar possíveis alterações orgânicas descritas como distúrbios do equilíbrio acidobásico. Além do equilíbrio acidobásico, ela avalia as trocas de oxigênio e gás carbônico, com medidas centrais. 30/08/2016 17 Entenda o que se pede na gasometria • Os aspectos avaliados no exame de gasometria são o pH, a paO2 (pressão arterial de oxigênio dita como parcial, pois avalia apenas aquela amostra), a paCO2 (pressão arterial parcial de gás carbônico), o bicarbonato, a saturação de oxigênio e o valor de excesso de base (Base Excess ou BE). Vamos às explicações: 30/08/2016 18 pH • É o parâmetro inicial da análise, que determina se existe acidose ou alcalose. Os valores normais do pH ficam entre 7,35 e 7,45. Isso implica dizer que qualquer valor >7,45 é considerado alcalose, e valores <7,35 são considerados acidose. paO2 • Neste caso, fala-se em pressão parcial, mas o valor que se quer medir é a pressão de oxigênio real, a pO2, sendo o seu valor ideal, para um paciente jovem, de 96mmHg. Entretanto, para cada ano de vida, estima-se uma perda de 0,4 ponto neste valor. Desta forma, uma pO2 de 80mmHg pode ser normal, dependendo da idade do paciente. 30/08/2016 19 paCO2 • Neste caso, a avaliação do valor de CO2 sanguíneo é uma das medidas diretas de avaliação do equilíbrio acidobásico. Assim, queda de CO2 pode representar hiperventilação, para compensar acidose metabólica. O valor normal de paCO2 é de 40mmHg (com mais ou menos 5mmHg). Bicarbonato • É o principal sistema utilizado pelo corpo para a manutenção do equilíbrio entre os ácidos e as bases. O bicarbonato faz parte dos ânions do corpo, cujos representantes principais são ele mesmo e o cloro. Sempre que houver desequilíbrio entre cátions e ânions haverá aumento ou diminuição do cloro ou do bicarbonato (mais frequentemente do bicarbonato). 30/08/2016 20 Base excess • O BE é a quantidade de base necessária para neutralizar o ácido no sangue (ou base) necessária para manter o pH em 7,4, considerando uma pCO2 de 40mmHg. Isso quer dizer que o BE normal deveria ser zero (com variação entre 2,5 para cima ou baixo). O que implica dizer que, se o excesso de base estiver em +6, por exemplo, haverá acidez no sangue necessária para neutralizar o ácido neste. Saturação de oxigênio • A saturação de oxigênio apresenta valor diferente da pressão de oxigênio parcial, pois mede o valor em porcentagem. O valor normal desta avaliação é acima de 96% 30/08/2016 21 acidose ou alcalose / metabólica ou respiratória • Definição (acidose ou alcalose) • Para tanto, o 1º passo é sempre verificar o pH. • Avaliação (alteração metabólica ou respiratória) • Para este fim, observe o bicarbonato e a paCO2. Se for distúrbio metabólico, o bicarbonato alterará (<22 ou >26mEq/L). Se for um distúrbio respiratório, haverá mudança na paCO2, <35 ou >45mmHg. 30/08/2016 22
Compartilhar