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Alfabetização para crianças cegas

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Resumo 
ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA CEGA NAS SÉRIES INICIAIS1 
 
 
Este trabalho teve como proposta fazer uma reflexão sobre a alfabetização da criança cega. 
Como trabalhar com crianças com deficiência? Isto é possível? Desde os primórdios, a 
educação de modo geral vem passando por significativas transformações. No que diz respeito 
ao trabalho com as crianças cegas, percebe-se inúmeras mudanças até em relação aos novos 
paradigmas que tem norteado a Educação Especial como um todo. A priori a educação era 
confiada somente às instituições, onde as pessoas cegas viviam num sistema de internato e ali 
permaneciam até a conclusão do Ensino Fundamental. Somente eram inseridas na escola 
comum a partir do Ensino Médio pautando-se num modelo integracionista. A partir da 
declaração de Salamanca, na década de 90, intensos debates sobre inclusão dos deficientes 
deram novos rumos à educação das pessoas com deficiências em geral culminando em um 
novo olhar, buscando novas propostas, repensando novas diretrizes para melhor nortear a 
prática docente, no sentido de atender as especificidades da criança cega e ou com deficiência. 
A pesquisa bibliográfica, base para a elaboração deste artigo, evidenciou a necessidade de 
atentar-se para as práticas pedagógicas que melhor se adéque às peculiaridades da criança 
com cegueira. Não só os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), como também os demais 
estudiosos pesquisados demonstram a necessidade de um aprimoramento no desenvolvimento 
do trabalho pedagógico com crianças cegas visando sua integração ao mundo que a rodeia. 
Desse modo, cabe ao professor desenvolver a autonomia social e intelectual da criança para 
que essa se veja enquanto sujeito no processo, desenvolvendo suas criticidades para que se 
torne um cidadão. 
 
Palavras-chave: Cegueira. Educação Especial. Prática Docente. 
 
 
Introdução 
No Brasil a educação de pessoas cegas tem um marco inicial em 1854, quando D. 
Pedro II, pelo do Decreto Imperial n.º. 428, de 12 de setembro de 1854, fundou o Imperial dos 
Meninos Cegos do Brasil, atualmente Instituto Benjamin Constant. Este foi rotulado como 
asilo de 1854 a 1973, onde exercia a função de assistência aos meninos cegos do Brasil. Essa 
instituição foi dotada de pequenas oficinas para trabalhos como: de oficinas de tipografia e 
encadernação; tricô para as meninas cegas e sapataria, pautação e douração para os meninos 
cegos. Na década de 20 do séc. passado, foram criadas três instituições: a União dos Cegos do
Brasil no Rio de Janeiro (1924), o Instituto Padre Chico em São Paulo e o Sodalício da Sacra 
Família também no Rio de Janeiro, ambos em 1929. Também na década de 40, com o objetivo 
de produzir e distribuir livros em Braille por todo o Brasil foi criada a Fundação para o Livro 
do Cego no Brasil, atualmente com o nome de Fundação Dorina Nowill para Cegos. 
Outras instituições foram surgindo para atender as pessoas com cegueira, em regime 
de internato. A formação educacional dessas pessoas acontecia até a conclusão do Ensino 
Fundamental e, somente no Ensino Médio se inseriam na rede regular de ensino. Podemos 
salientar que o sistema de ensino estabelecia certos vínculos com as instituições para que estas 
dessem algum suporte pedagógico a estes alunos uma vez que, a escola não se encontrava, 
preparada para atender tais especificidades. 
Na realização deste estudo foi utilizado como proposta metodológica a pesquisa 
bibliográfica, que possibilita buscar informações e comprovações do assunto abordado. 
Sendo assim, serão abordados alguns aspectos que poderão servir como orientação 
para os profissionais desta área ainda tão necessitada de estudos e apoio para a implementação 
do que está definido na legislação brasileira. 
Inicialmente procura-se traçar as bases legais que prevêem o atendimento às crianças 
cegas nas escolas de ensino regular, para em seguida evidenciar como se pode trabalhar com 
crianças com deficiência, partindo da questão: isto é possível? E posteriormente refletir sobre 
a alfabetização da criança cega. 
 
1. Do Conceito à Educação da Criança Cega 
 
 
Atualmente, entende-se por “deficientes visuais”, as pessoas que apresentam 
impedimento total ou parcial da visão, decorrente de imperfeição do sistema visual. 
Convencionalmente, diferencia-se a deficiência visual, em parcial, também designada de 
baixa visão e cegueira, quando a deficiência visual é total. 
Do ponto de vista legal tem-se no Decreto 5.296/04 Art. 5.º, a seguinte definição para 
cegueira, quando a 
(...) acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor 
correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 
no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a 
somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor 
que 60 graus ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições 
anteriores. (BRASIL, 2004, p. 13) 
 
Sob o enfoque educacional, a cegueira representa a perda total ou o resíduo mínimo da 
visão que leva o indivíduo a necessitar do método Braille como meio de leitura e escrita, além 
de outros recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação. 
O marco histórico da Inclusão foi em Junho de 1994 (BRASIL, 1994) com o surgimento 
da Declaração de Salamanca na Espanha, na Conferência Mundial sobre Necessidades 
Educativas Especiais, um movimento a favor da inclusão, estabelecendo aos órgãos federais e 
estaduais diretrizes educacionais e decretos oficiais para matricular as crianças com 
deficiência nas escolas regulares, tendo como princípio fundamental: todos os alunos devem 
aprender juntos, sempre que possível independente das dificuldades e diferenças que 
apresentam. A partir da década de 90 intensos debates sobre inclusão dos deficientes deram 
novos rumos à educação das pessoas com deficiências em geral culminando em um novo 
olhar, buscando novas propostas, repensando novas diretrizes para melhor nortear a prática 
docente, no sentido de melhor atender as especificidades da criança com cegueira. Devendo 
atentar-se para a inovação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), 1998 que melhor 
se adéqüe as peculiaridades da criança com cegueira. 
Segundo ao PCNs (1998): 
Considerar a diversidade que se verifica entre os educandos nas instituições 
escolares requer medidas de flexibilização e dinamização do currículo para 
atender, efetivamente, às necessidades educacionais especiais dos que 
apresentam deficiência(s), altas habilidades (superdotação), condutas típicas 
de síndromes ou condições outras que venham a diferenciar a demanda de 
determinados alunos com relação aos demais colegas. (BRASIL, 1998, p.13) 
 
Com a declaração de Salamanca a Educação Especial começou a tomar uma nova 
dimensão, e vários projetos foram surgindo no sentido de atender as pessoas com deficiência, 
na rede regular de ensino. Muitos debates e discussões aconteceram nessa década para pensar 
novas práticas pedagógicas que atendessem as pessoas com deficiências mediante suas 
necessidades. 
Nesta perspectiva, a escola hoje tem se preocupado em proporcionar melhor qualidade 
de ensino às pessoas com deficiência, tentando minimizar suas dificuldades buscando incluí- 
las nas atividades e na escola como um todo. 
Vários cursos de formação voltados para a inclusão das pessoas com deficiência têm 
sido oferecidos pelas Secretarias de Educação de Estado e Municípios. 
A realidade atual exige o envolvimento de todos, pois as escolas infantis recebem 
crianças com deficiência e, desde 1988 a Constituição Federal do Brasil em seu Art . 205 define 
“A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada 
com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo 
para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. 
Também a Lei Nº. 9394 de 20 de Dezembro de 1996-Lei de Diretrizes eBases da 
Educação Nacional- LDBEN - propõe uma educação de qualidade para todos, mas na prática 
faltam subsídios para tornar essas exigências legais uma realidade vivenciada pelas crianças 
com necessidades educacionais especiais. Para evidenciar essa preocupação na LDB constam 
dois artigos: 
Art.2º - A educação, dever da família e do Estado inspirada nos princípios 
de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o 
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da 
cidadania e sua qualificação para o trabalho. 
No Art.58 - Entendem - se por Educação Especial para os efeitos desta lei, a 
modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular 
de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais (LDB, 1996, 
pp. 4, 28). 
 
Ainda quanto à legislação pode-se citar o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 
8.069/90, o Plano Nacional de Educação- PNE, Lei nº 10.172/2001 e, os Parâmetros 
Curriculares Nacionais (PCNs) que estabelecem a educação, dever constitucional do Estado, 
como um direito de todos e que a Educação Especial inicia-se durante a Educação Infantil, na 
faixa etária de zero a seis anos, devendo ocorrer, preferencialmente, na rede regular de ensino. 
 
2. Os Recursos Pedagógicos na Aprendizagem da Criança Cega 
 
 
Em relação à família constata-se que inicialmente ao descobrir que a criança tem 
comprometimento na visão, normalmente os pais procuram a cura através da ciência ou da 
religião esquecendo-se de trabalhar os conceitos básicos para sua formação, deixando de 
estimular os outros sentidos não desenvolvendo na criança as habilidades necessárias tais 
como: tátil, gustativo, olfativo e auditivo. 
Tal fato se dá pela inexperiência dos pais e provavelmente pelo despreparo para 
trabalhar com a nova realidade. Estas questões contribuirão para o atraso no aprendizado da 
mesma, uma vez que ela chega à escola com inúmeras dificuldades, para compreender certos 
pré- requisitos que deveriam trazer de casa, pois a criança cega não aprende por imitação 
devido à falta da visão, dificultando assim seu processo de aprendizagem. 
Em contrapartida, faltam-lhe também estimulação e apoio da família. Portanto, faz-se 
necessário que a criança seja inserida no programa de Estimulação ou Intervenção Precoce, 
que atende crianças que apresentam deficiência visual, na faixa etária de zero a quatro anos, o 
trabalho é desenvolvido por professor especialista, com objetivo de levar essa criança a ter um 
desenvolvimento próximo do normal. 
No dizer de Bueno (2003), a criança cega congênita, freqüentemente, apresenta 
atraso em seu desenvolvimento motor, o que restringe significativamente suas experiências e, 
conseqüentemente, o acesso às informações do mundo, gerando na maioria das vezes, 
dificuldades quanto à aquisição de conceitos, portanto, de ordem cognitiva. 
No que se refere ao desenvolvimento pedagógico, deve ser feito um trabalho inicial 
que antecede ao Braille2 que é o Pré - Braille sendo importante que esta seja estimulada com 
recursos diversos, envolvendo brincadeiras e utilizando materiais adaptados às suas 
necessidades. O sistema de Braille aproveita-se da sensibilidade epicrítica do ser humano, a 
capacidade de distinguir na polpa digital pequenas diferenças de posicionamento entre dois 
pontos diferentes. Um cego experiente pode ler duzentas palavras por minuto. 
A história de vida de Louis Braille relata que ele perdeu a visão aos três anos. Quatro 
anos depois, ingressou no Instituto de Cegos de Paris. Em 1827, então com dezoito anos, 
tornou-se professor desse instituto. Ao ouvir falar de um sistema de pontos e buracos 
inventado por um oficial para ler mensagens durante a noite em lugares onde seria perigoso 
acender a luz, Louis Braille fez algumas adaptações no sistema de pontos em relevo. 
 
Sistema Braille Escrita Braille 
 
 
2 
. Braille ou braile é um sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 
1827 em Paris. 
É importante salientar que o trabalho inicial deve partir da exploração de objetos 
concretos e compreensão do corpo, sempre inserindo o aluno no contexto da sala de aula 
estimulando-o a participar das atividades propostas. A falta de estímulos visuais para a 
criança cega, instrumento que serve de recursos para motivá-la a movimentar-se, a deslocar-se 
e a descobrir o mundo, poderá causar um retardo nas aptidões necessárias para a 
alfabetização. A criança cega precisa de materiais táteis para facilitar a aprendizagem da 
leitura, materiais que possa manusear para desenvolver a percepção tátil e coordenar os 
movimentos das mãos. 
A alfabetização em Braille, assim como a alfabetização em tinta, exige alguns pré- 
requisitos básicos. Para a alfabetização em tinta a criança precisa ter desenvolvidas algumas 
habilidades básicas trabalhadas durante a educação infantil e que são necessárias para que o 
processo de alfabetização flua. 
Vygotsky (2001, p. 332) afirma que: 
 
 
[...] a aprendizagem deve orientar-se nos ciclos já percorridos de 
desenvolvimento, no limiar inferior da aprendizagem [...] As possibilidades 
de aprendizagem são determinadas de maneira mais imediata pela zona de 
seu desenvolvimento imediato. 
 
Deverá adquirir as noções de esquerda, direita, em cima e em baixo. 
Para atingir esse fim, deve manusear brinquedos com diferentes formas e texturas, além de 
materiais como massinha, argila ou pasta de papel. Tanto professores como outras pessoas 
envolvidas neste processo de aprendizagem, devem dispor de materiais variados. Deverão 
oferecer às crianças possibilidades de: 1. Discriminação tátil- com cartões ou tecidos de 
diferentes tamanhos com linhas em relevo umas maiores que outras. 2. Destreza manual - para 
separar objetos ou figuras geométricas grandes e progressivamente vão sendo cada vez 
menores, colocando-os em cima, em baixo, à esquerda e à direita. 3. - Movimentos dos dedos 
ou das mãos – a criança usa uma ou as duas mãos para seguir linhas curvas ou direitas (na 
horizontal e na vertical) de tamanhos diferentes. Este exercício a ajudará a seguir as linhas 
quando começar a ler e a interpretar relevos. 4. Toque suave dos dedos- a criança deve 
aprende a tocar os pontos ou as letras com suavidade com a ponta dos dedos. 5. - Mudança de 
linha e de página- a criança treinará acabar a leitura de uma linha com uma mão e iniciar a 
próxima com a outra. Deverá terminar a página com a mão esquerda e mudar para a seguinte 
com a direita. 
2.1. Como Escrever e Ler Em Braille 
 
O Braille escreve-se com pautas e punções, e também em máquinas datilográficas especiais. 
 
 
 
Pauta Punção Máquina de datilografia Braille 
 
 
A escrita pode ainda obter-se por meio de impressoras Braille ligadas a computadores 
assistidos por software apropriado, a partir da digitação do texto ou do seu reconhecimento 
óptico. Lê-se em folhas de papel escritas à mão, datilografadas ou impressas, e em linhas 
Braille incorporadas em terminais de computador. 
 
 
Para ensinar a leitura Braille tem-se recorrido ao método sintético, sendo as letras 
introduzidas uma a uma para depois formar a palavra. O ensino das letras pode fazer-se com 
uma célula em madeira. Trata-se de um tabuleiro retangular com seis rodas também em 
madeira que representam os pontos. Para quem não disponha deste recurso, pode-se utilizar 
uma caixa de ovos de isopor onde teremos os seis espaços, simulando tanto os pontos como a 
célula Braille. 
Segundo Vygotsky (2005, p.53), não existe diferença também no tato da pessoa cega e da 
vidente, o cego lê com as mãos os pontos convexos da cela Braille devido ao uso funcional, a 
utilização, a experiência, a necessidade de conhecer o mundo através das sensações táteis e de 
obter informações sem o sentido da visão. Estas não têm o dom de um melhor tato apenas por 
serem cegas 
 
 
 
Nessesentido, a criança cega deve ser mais estimulada desde tenra idade, 
minimizando assim as dificuldades inerentes à cegueira. O ato de ler, para o cego, tende a ser 
mais lento que a leitura em tinta porque, ao contrário da escrita em tinta, em que o olho tem a 
capacidade para enxergar a palavra toda, o cego só tem esse todo quando passa o dedo na 
última letra. A leitura é feita letra por letra, por isso é mais lenta, o que não atrapalha na 
compreensão e interpretação do texto. 
Para Vygotsky (2005, p. 77) a invenção do sistema Braille fez muito mais para os 
cegos que milhares de ações filantrópicas. Para o autor, “[...] a possibilidade de ler e escrever 
é mais importante que o ‘sexto sentido’ e a agudeza do tato e do ouvido”, a possibilidade de 
ler, decodificar o signo e extrair as informações de um texto para atingir um objetivo. Ler para 
se defender, para participar, para libertar-se, por prazer, ou seja, fazer uso da leitura como 
uma prática social, possibilitando uma ascensão social para o indivíduo. Desse modo, cabe ao 
professor desenvolver a autonomia social e intelectual da criança para que essa se veja 
enquanto sujeito no processo, desenvolvendo suas criticidades para que se torne um cidadão. 
Faz-se necessário que o professor trabalhe essas noções, cumprindo bem as etapas, 
facilitando o processo de construção do conhecimento da criança com cegueira. É importante 
que o oriente, bem no espaço escolar, apresentando por partes e, fazendo caminho por 
repetidas vezes: estabelecendo pontos de referência. Este trabalho deve ser feito diariamente, 
no sentido de transmitir segurança à criança procurando estabelecer vínculos afetivos, que 
indubitavelmente contribuirão para o crescimento social, pessoal, afetivo e cognitivo. 
Quando a criança cega, não apresenta outros comprometimentos, possui uma boa 
memória, considera-se necessário que se trabalhe os sentidos: o tato, a audição, o olfato e o 
paladar. O diálogo também é importante, pois a partir dele a criança conseguirá fazer 
abstrações e tentar compreender o mundo com suas subjetividades. Para que isso aconteça, o 
mundo e as coisas que estão em torno da criança deverão ser bem descritos para que possam 
fazer uma imagem que mais se aproxime do real. 
A compreensão do indivíduo com cegueira acontecerá a partir do olhar do outro e 
nesse sentido é importante que o meio onde a criança esteja inserida seja rico de informações. 
De acordo com Wallon (1995, p.43), “a escola é um meio fundamental para o 
desenvolvimento aluno e professor”, portanto deve haver maior interatividade entre as partes, 
uma vez que a aprendizagem da criança se dá na interação com o meio e com seus pares. 
Em se tratando das crianças com a deficiência, não necessariamente a visual, a questão 
afetiva deve estar sempre presente para o bom desenvolvimento das percepções necessárias. 
Não apenas, no que se refere ao cognitivo, é importante que sejam trabalhadas as demais 
percepções, pois o indivíduo deve ser visto como um todo. É imprescindível que os 
educadores reflitam sobre suas práticas, que abandonem os modelos tradicionais e passem a 
trabalhar sob um novo olhar que contemple a todos num enfoque mais inclusivo. 
A educação tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos, 
em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, completando a ação da família e da 
comunidade, para tanto se deve respeitar a questão sócio-cultural da criança. No que se refere 
à educação da criança cega, em seu processo inicial da formação, é necessário que a prática 
do professor seja repensada para atender as peculiaridades da criança. 
O educador deve elaborar seu plano de aula considerando que existe em sua sala uma 
criança com dificuldade visual, portanto deve preocupar-se em adaptar as atividades para 
atender as necessidades dela, no entanto suas atividades não necessitam ser diferentes, apenas 
deverão ser adequadas mediante suas necessidades. 
Sabemos das dificuldades do professor da classe comum para atender o número grande 
de alunos e mais as crianças com deficiência. Mas é importante que esta desenvolva 
mecanismos para envolver as outras crianças com aquela que tem a limitação visual, não a 
deixando fora de atividades, procurando adequá-la as necessidades do aluno. 
Cabe ao professor inserir os alunos com deficiência no contexto da sala de aula, estes 
não podem e nem devem ser super protegidos e nem tão pouco tratados com diferenças ou 
com piedade, devendo assim participar de todas as atividades propostas com as adequações 
necessárias, no intuito de haver maior socialização da criança com cegueira. Só assim, 
conseguirá desenvolver a autonomia desta criança, contribuindo para que esta se torne mais 
independente e que consiga estabelecer vínculos com os colegas buscando maior 
interatividade entre os mesmos, como propõe Vygotsky (2005) uma concepção sócio- 
interacionista, que defende um novo olhar sobre o homem e uma nova sociedade. 
O papel do educador consiste numa certa postura, pautada em uma ética profissional 
em que a estratégia de ensino interdisciplinar deve ter como objetivo a aquisição do 
conhecimento em relação à área do saber. Nesse sentido, a metodologia ideal para o trabalho 
com a criança cega deve consistir em que a criança compreenda o mundo e, que consiga 
estabelecer conceitos de forma contextualizada. 
Galvão (2004, apud WALLON, 1995, p.56) propõe o estudo integrado do 
desenvolvimento, de forma a agregar os vários campos funcionais ocupados pela atividade 
infantil: afetividade, motricidade e inteligência, no qual a afetividade é um componente 
permanente da ação; recomenda o estudo contextualizado da criança, nas relações que 
mantém com o meio, afirmando que o “o homem se constitui um ser geneticamente social”. 
Tomar como consciência à realidade dos alunos quanto à ação docente deve sustentar 
uma prática social que valorize a imaginação, o brinquedo, a cidadania, as múltiplas 
linguagens que promovam o aspecto lúdico na aprendizagem da criança, assim os recursos 
utilizados para esse trabalho deverão ser bem diversificados para despertar o interesse da 
criança. 
Para o trabalho com os conteúdos de Ciências, podemos utilizar réplicas, recursos da 
natureza como tocar plantas percebendo suas características, identificando as partes, 
explorando o espaço físico da escola, tocando árvores maiores, menores, diferenciando 
texturas e formas, cheiros, sabores na tentativa de fazer as abstrações necessárias para a 
compreensão destes conteúdos. Neste sentido, também podemos trabalhar noções de higiene, 
cuidados pessoais partindo do próprio corpo da criança ou de bonecos. 
A Matemática deve utilizar-se de material concreto como: tampinhas de garrafa, 
palitos de picolé, ábaco, cubarítimo, quadro valor de lugar (QVL) confeccionado em tecido, 
relógio, quadro posicional para efetuar as operações fundamentais com números em Braille. 
Estes materiais propiciarão noções de quantidade, seriação, sequenciação, ordem, valores, 
tempo, medidas, espaço e o trabalho com as quatro operações com a utilização do material 
dourado. 
No ensino da Língua Portuguesa, podemos trabalhar com histórias, interpretação de 
textos propiciando oportunidades ao aluno de estabelecer conceitos relacionados com fatos do 
cotidiano. Isto porque suas abstrações são empobrecidas pela falta da visão e pobres em 
experiências táteis - sinestésicas vestibulares (o ouvido detecta sensações relacionadas com 
orientação e equilíbrio) e, proprioceptiva (quando a mão examina ativamente um determinado 
objeto, manipulando-o com os dedos, o sentido proprioceptivo e o tátil são combinados no 
cérebro, desse modo podemos analisar os aspectos tridimensionais das coisas que seguramos 
com as mãos -­­ é a consciência dos movimentos produzidos pelos nossos membros.), fato 
inerente à deficiência visual. No que se refere aos conteúdos de História e Geografia,podemos utilizar maquetes, explorar o meio em que o aluno está inserido, trabalhando de 
forma contextualizada. 
Nesse sentido, cabe destacar que professor de crianças deficientes visuais deve ter 
conhecimento prévio de cada caso, para que possa elaborar um plano de trabalho que atenda 
as necessidades individuais de cada aluno. É necessário que se tenham todas as informações 
possíveis sobre a patologia, a acuidade, o uso funcional que a criança faz da visão, e elaborar 
a adaptação de todos os materiais didáticos, quando necessário, e promover adaptações 
curriculares que dêem conta da formação de tais alunos. 
 
Considerações finais 
 
 
Este tema surge da necessidade, enquanto profissional na área de cegueira, de repensar 
a prática do educador e futuro pedagogo, uma vez que se considera que o período de 
alfabetização e aquisição do Braille seja o mais difícil no que se refere à educação da criança 
cega. É importante esclarecer que a família pouco tem contribuído no processo de estimulação 
da criança com cegueira o que torna a criança cega isolada em seu universo, criando hábitos 
que lhe são peculiares, dificultando sua interação com os colegas, decorrentes do “medo” e 
“resistência ao desconhecido”. 
Pesquisas e estudos nessa área têm evidenciado que a aquisição dos conceitos básicos 
é realizada na maioria das vezes no espaço escolar. A estimulação das crianças com cegueira, 
baixa visão, ou mais comprometida acontece mais tarde do que com as outras crianças que 
enxergam, pois esta traz consigo de casa um universo de informações que por diversas vezes 
adquirem por imitação. Já com a criança cega este fato não acontece devido à ausência de 
visão dificultando assim seu processo de aprendizagem. 
A criança cega vai conhecer o mundo através do tato, da audição, do olfato, do 
paladar, enfim, a falta da visão dificulta na orientação espacial e ela deve ser estimulada por 
meio de objetos específicos, andador, brinquedos móveis, bengala raquete, para adquirir uma 
organização sobre o espaço. Deve ser estimulada a utilização do toque para conhecer o mundo 
por meio da manipulação de objetos, brinquedos variados para identificar texturas, formas, 
tamanho, espessuras e conseqüentemente o desenvolvimento do tato, necessário a leitura 
Braille. 
Para minimizar tais dificuldades é necessário que busquemos recursos diversos, 
utilizando-se de materiais concretos e principalmente investir em metodologias que atendam 
mais as necessidades do educando com cegueira. Portanto, os educadores de crianças cegas 
devem colaborar com o desenvolvimento e a aprendizagem desta criança e refletir sobre sua 
prática pedagógica buscando adequá-la para que a criança compreenda o mundo e, que 
consiga estabelecer conceitos de forma contextualizada. 
	Resumo
	1. Do Conceito à Educação da Criança Cega
	2. Os Recursos Pedagógicos na Aprendizagem da Criança Cega
	2.1. Como Escrever e Ler Em Braille
	Considerações finais

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