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Resumo ALFABETIZAÇÃO DA CRIANÇA CEGA NAS SÉRIES INICIAIS1 Este trabalho teve como proposta fazer uma reflexão sobre a alfabetização da criança cega. Como trabalhar com crianças com deficiência? Isto é possível? Desde os primórdios, a educação de modo geral vem passando por significativas transformações. No que diz respeito ao trabalho com as crianças cegas, percebe-se inúmeras mudanças até em relação aos novos paradigmas que tem norteado a Educação Especial como um todo. A priori a educação era confiada somente às instituições, onde as pessoas cegas viviam num sistema de internato e ali permaneciam até a conclusão do Ensino Fundamental. Somente eram inseridas na escola comum a partir do Ensino Médio pautando-se num modelo integracionista. A partir da declaração de Salamanca, na década de 90, intensos debates sobre inclusão dos deficientes deram novos rumos à educação das pessoas com deficiências em geral culminando em um novo olhar, buscando novas propostas, repensando novas diretrizes para melhor nortear a prática docente, no sentido de atender as especificidades da criança cega e ou com deficiência. A pesquisa bibliográfica, base para a elaboração deste artigo, evidenciou a necessidade de atentar-se para as práticas pedagógicas que melhor se adéque às peculiaridades da criança com cegueira. Não só os Parâmetros Curriculares Nacionais (1998), como também os demais estudiosos pesquisados demonstram a necessidade de um aprimoramento no desenvolvimento do trabalho pedagógico com crianças cegas visando sua integração ao mundo que a rodeia. Desse modo, cabe ao professor desenvolver a autonomia social e intelectual da criança para que essa se veja enquanto sujeito no processo, desenvolvendo suas criticidades para que se torne um cidadão. Palavras-chave: Cegueira. Educação Especial. Prática Docente. Introdução No Brasil a educação de pessoas cegas tem um marco inicial em 1854, quando D. Pedro II, pelo do Decreto Imperial n.º. 428, de 12 de setembro de 1854, fundou o Imperial dos Meninos Cegos do Brasil, atualmente Instituto Benjamin Constant. Este foi rotulado como asilo de 1854 a 1973, onde exercia a função de assistência aos meninos cegos do Brasil. Essa instituição foi dotada de pequenas oficinas para trabalhos como: de oficinas de tipografia e encadernação; tricô para as meninas cegas e sapataria, pautação e douração para os meninos cegos. Na década de 20 do séc. passado, foram criadas três instituições: a União dos Cegos do Brasil no Rio de Janeiro (1924), o Instituto Padre Chico em São Paulo e o Sodalício da Sacra Família também no Rio de Janeiro, ambos em 1929. Também na década de 40, com o objetivo de produzir e distribuir livros em Braille por todo o Brasil foi criada a Fundação para o Livro do Cego no Brasil, atualmente com o nome de Fundação Dorina Nowill para Cegos. Outras instituições foram surgindo para atender as pessoas com cegueira, em regime de internato. A formação educacional dessas pessoas acontecia até a conclusão do Ensino Fundamental e, somente no Ensino Médio se inseriam na rede regular de ensino. Podemos salientar que o sistema de ensino estabelecia certos vínculos com as instituições para que estas dessem algum suporte pedagógico a estes alunos uma vez que, a escola não se encontrava, preparada para atender tais especificidades. Na realização deste estudo foi utilizado como proposta metodológica a pesquisa bibliográfica, que possibilita buscar informações e comprovações do assunto abordado. Sendo assim, serão abordados alguns aspectos que poderão servir como orientação para os profissionais desta área ainda tão necessitada de estudos e apoio para a implementação do que está definido na legislação brasileira. Inicialmente procura-se traçar as bases legais que prevêem o atendimento às crianças cegas nas escolas de ensino regular, para em seguida evidenciar como se pode trabalhar com crianças com deficiência, partindo da questão: isto é possível? E posteriormente refletir sobre a alfabetização da criança cega. 1. Do Conceito à Educação da Criança Cega Atualmente, entende-se por “deficientes visuais”, as pessoas que apresentam impedimento total ou parcial da visão, decorrente de imperfeição do sistema visual. Convencionalmente, diferencia-se a deficiência visual, em parcial, também designada de baixa visão e cegueira, quando a deficiência visual é total. Do ponto de vista legal tem-se no Decreto 5.296/04 Art. 5.º, a seguinte definição para cegueira, quando a (...) acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em ambos os olhos for igual ou menor que 60 graus ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições anteriores. (BRASIL, 2004, p. 13) Sob o enfoque educacional, a cegueira representa a perda total ou o resíduo mínimo da visão que leva o indivíduo a necessitar do método Braille como meio de leitura e escrita, além de outros recursos didáticos e equipamentos especiais para a sua educação. O marco histórico da Inclusão foi em Junho de 1994 (BRASIL, 1994) com o surgimento da Declaração de Salamanca na Espanha, na Conferência Mundial sobre Necessidades Educativas Especiais, um movimento a favor da inclusão, estabelecendo aos órgãos federais e estaduais diretrizes educacionais e decretos oficiais para matricular as crianças com deficiência nas escolas regulares, tendo como princípio fundamental: todos os alunos devem aprender juntos, sempre que possível independente das dificuldades e diferenças que apresentam. A partir da década de 90 intensos debates sobre inclusão dos deficientes deram novos rumos à educação das pessoas com deficiências em geral culminando em um novo olhar, buscando novas propostas, repensando novas diretrizes para melhor nortear a prática docente, no sentido de melhor atender as especificidades da criança com cegueira. Devendo atentar-se para a inovação dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs), 1998 que melhor se adéqüe as peculiaridades da criança com cegueira. Segundo ao PCNs (1998): Considerar a diversidade que se verifica entre os educandos nas instituições escolares requer medidas de flexibilização e dinamização do currículo para atender, efetivamente, às necessidades educacionais especiais dos que apresentam deficiência(s), altas habilidades (superdotação), condutas típicas de síndromes ou condições outras que venham a diferenciar a demanda de determinados alunos com relação aos demais colegas. (BRASIL, 1998, p.13) Com a declaração de Salamanca a Educação Especial começou a tomar uma nova dimensão, e vários projetos foram surgindo no sentido de atender as pessoas com deficiência, na rede regular de ensino. Muitos debates e discussões aconteceram nessa década para pensar novas práticas pedagógicas que atendessem as pessoas com deficiências mediante suas necessidades. Nesta perspectiva, a escola hoje tem se preocupado em proporcionar melhor qualidade de ensino às pessoas com deficiência, tentando minimizar suas dificuldades buscando incluí- las nas atividades e na escola como um todo. Vários cursos de formação voltados para a inclusão das pessoas com deficiência têm sido oferecidos pelas Secretarias de Educação de Estado e Municípios. A realidade atual exige o envolvimento de todos, pois as escolas infantis recebem crianças com deficiência e, desde 1988 a Constituição Federal do Brasil em seu Art . 205 define “A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho”. Também a Lei Nº. 9394 de 20 de Dezembro de 1996-Lei de Diretrizes eBases da Educação Nacional- LDBEN - propõe uma educação de qualidade para todos, mas na prática faltam subsídios para tornar essas exigências legais uma realidade vivenciada pelas crianças com necessidades educacionais especiais. Para evidenciar essa preocupação na LDB constam dois artigos: Art.2º - A educação, dever da família e do Estado inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. No Art.58 - Entendem - se por Educação Especial para os efeitos desta lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades especiais (LDB, 1996, pp. 4, 28). Ainda quanto à legislação pode-se citar o Estatuto da Criança e do Adolescente, Lei nº 8.069/90, o Plano Nacional de Educação- PNE, Lei nº 10.172/2001 e, os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs) que estabelecem a educação, dever constitucional do Estado, como um direito de todos e que a Educação Especial inicia-se durante a Educação Infantil, na faixa etária de zero a seis anos, devendo ocorrer, preferencialmente, na rede regular de ensino. 2. Os Recursos Pedagógicos na Aprendizagem da Criança Cega Em relação à família constata-se que inicialmente ao descobrir que a criança tem comprometimento na visão, normalmente os pais procuram a cura através da ciência ou da religião esquecendo-se de trabalhar os conceitos básicos para sua formação, deixando de estimular os outros sentidos não desenvolvendo na criança as habilidades necessárias tais como: tátil, gustativo, olfativo e auditivo. Tal fato se dá pela inexperiência dos pais e provavelmente pelo despreparo para trabalhar com a nova realidade. Estas questões contribuirão para o atraso no aprendizado da mesma, uma vez que ela chega à escola com inúmeras dificuldades, para compreender certos pré- requisitos que deveriam trazer de casa, pois a criança cega não aprende por imitação devido à falta da visão, dificultando assim seu processo de aprendizagem. Em contrapartida, faltam-lhe também estimulação e apoio da família. Portanto, faz-se necessário que a criança seja inserida no programa de Estimulação ou Intervenção Precoce, que atende crianças que apresentam deficiência visual, na faixa etária de zero a quatro anos, o trabalho é desenvolvido por professor especialista, com objetivo de levar essa criança a ter um desenvolvimento próximo do normal. No dizer de Bueno (2003), a criança cega congênita, freqüentemente, apresenta atraso em seu desenvolvimento motor, o que restringe significativamente suas experiências e, conseqüentemente, o acesso às informações do mundo, gerando na maioria das vezes, dificuldades quanto à aquisição de conceitos, portanto, de ordem cognitiva. No que se refere ao desenvolvimento pedagógico, deve ser feito um trabalho inicial que antecede ao Braille2 que é o Pré - Braille sendo importante que esta seja estimulada com recursos diversos, envolvendo brincadeiras e utilizando materiais adaptados às suas necessidades. O sistema de Braille aproveita-se da sensibilidade epicrítica do ser humano, a capacidade de distinguir na polpa digital pequenas diferenças de posicionamento entre dois pontos diferentes. Um cego experiente pode ler duzentas palavras por minuto. A história de vida de Louis Braille relata que ele perdeu a visão aos três anos. Quatro anos depois, ingressou no Instituto de Cegos de Paris. Em 1827, então com dezoito anos, tornou-se professor desse instituto. Ao ouvir falar de um sistema de pontos e buracos inventado por um oficial para ler mensagens durante a noite em lugares onde seria perigoso acender a luz, Louis Braille fez algumas adaptações no sistema de pontos em relevo. Sistema Braille Escrita Braille 2 . Braille ou braile é um sistema de leitura com o tato para cegos inventado pelo francês Louis Braille no ano de 1827 em Paris. É importante salientar que o trabalho inicial deve partir da exploração de objetos concretos e compreensão do corpo, sempre inserindo o aluno no contexto da sala de aula estimulando-o a participar das atividades propostas. A falta de estímulos visuais para a criança cega, instrumento que serve de recursos para motivá-la a movimentar-se, a deslocar-se e a descobrir o mundo, poderá causar um retardo nas aptidões necessárias para a alfabetização. A criança cega precisa de materiais táteis para facilitar a aprendizagem da leitura, materiais que possa manusear para desenvolver a percepção tátil e coordenar os movimentos das mãos. A alfabetização em Braille, assim como a alfabetização em tinta, exige alguns pré- requisitos básicos. Para a alfabetização em tinta a criança precisa ter desenvolvidas algumas habilidades básicas trabalhadas durante a educação infantil e que são necessárias para que o processo de alfabetização flua. Vygotsky (2001, p. 332) afirma que: [...] a aprendizagem deve orientar-se nos ciclos já percorridos de desenvolvimento, no limiar inferior da aprendizagem [...] As possibilidades de aprendizagem são determinadas de maneira mais imediata pela zona de seu desenvolvimento imediato. Deverá adquirir as noções de esquerda, direita, em cima e em baixo. Para atingir esse fim, deve manusear brinquedos com diferentes formas e texturas, além de materiais como massinha, argila ou pasta de papel. Tanto professores como outras pessoas envolvidas neste processo de aprendizagem, devem dispor de materiais variados. Deverão oferecer às crianças possibilidades de: 1. Discriminação tátil- com cartões ou tecidos de diferentes tamanhos com linhas em relevo umas maiores que outras. 2. Destreza manual - para separar objetos ou figuras geométricas grandes e progressivamente vão sendo cada vez menores, colocando-os em cima, em baixo, à esquerda e à direita. 3. - Movimentos dos dedos ou das mãos – a criança usa uma ou as duas mãos para seguir linhas curvas ou direitas (na horizontal e na vertical) de tamanhos diferentes. Este exercício a ajudará a seguir as linhas quando começar a ler e a interpretar relevos. 4. Toque suave dos dedos- a criança deve aprende a tocar os pontos ou as letras com suavidade com a ponta dos dedos. 5. - Mudança de linha e de página- a criança treinará acabar a leitura de uma linha com uma mão e iniciar a próxima com a outra. Deverá terminar a página com a mão esquerda e mudar para a seguinte com a direita. 2.1. Como Escrever e Ler Em Braille O Braille escreve-se com pautas e punções, e também em máquinas datilográficas especiais. Pauta Punção Máquina de datilografia Braille A escrita pode ainda obter-se por meio de impressoras Braille ligadas a computadores assistidos por software apropriado, a partir da digitação do texto ou do seu reconhecimento óptico. Lê-se em folhas de papel escritas à mão, datilografadas ou impressas, e em linhas Braille incorporadas em terminais de computador. Para ensinar a leitura Braille tem-se recorrido ao método sintético, sendo as letras introduzidas uma a uma para depois formar a palavra. O ensino das letras pode fazer-se com uma célula em madeira. Trata-se de um tabuleiro retangular com seis rodas também em madeira que representam os pontos. Para quem não disponha deste recurso, pode-se utilizar uma caixa de ovos de isopor onde teremos os seis espaços, simulando tanto os pontos como a célula Braille. Segundo Vygotsky (2005, p.53), não existe diferença também no tato da pessoa cega e da vidente, o cego lê com as mãos os pontos convexos da cela Braille devido ao uso funcional, a utilização, a experiência, a necessidade de conhecer o mundo através das sensações táteis e de obter informações sem o sentido da visão. Estas não têm o dom de um melhor tato apenas por serem cegas Nessesentido, a criança cega deve ser mais estimulada desde tenra idade, minimizando assim as dificuldades inerentes à cegueira. O ato de ler, para o cego, tende a ser mais lento que a leitura em tinta porque, ao contrário da escrita em tinta, em que o olho tem a capacidade para enxergar a palavra toda, o cego só tem esse todo quando passa o dedo na última letra. A leitura é feita letra por letra, por isso é mais lenta, o que não atrapalha na compreensão e interpretação do texto. Para Vygotsky (2005, p. 77) a invenção do sistema Braille fez muito mais para os cegos que milhares de ações filantrópicas. Para o autor, “[...] a possibilidade de ler e escrever é mais importante que o ‘sexto sentido’ e a agudeza do tato e do ouvido”, a possibilidade de ler, decodificar o signo e extrair as informações de um texto para atingir um objetivo. Ler para se defender, para participar, para libertar-se, por prazer, ou seja, fazer uso da leitura como uma prática social, possibilitando uma ascensão social para o indivíduo. Desse modo, cabe ao professor desenvolver a autonomia social e intelectual da criança para que essa se veja enquanto sujeito no processo, desenvolvendo suas criticidades para que se torne um cidadão. Faz-se necessário que o professor trabalhe essas noções, cumprindo bem as etapas, facilitando o processo de construção do conhecimento da criança com cegueira. É importante que o oriente, bem no espaço escolar, apresentando por partes e, fazendo caminho por repetidas vezes: estabelecendo pontos de referência. Este trabalho deve ser feito diariamente, no sentido de transmitir segurança à criança procurando estabelecer vínculos afetivos, que indubitavelmente contribuirão para o crescimento social, pessoal, afetivo e cognitivo. Quando a criança cega, não apresenta outros comprometimentos, possui uma boa memória, considera-se necessário que se trabalhe os sentidos: o tato, a audição, o olfato e o paladar. O diálogo também é importante, pois a partir dele a criança conseguirá fazer abstrações e tentar compreender o mundo com suas subjetividades. Para que isso aconteça, o mundo e as coisas que estão em torno da criança deverão ser bem descritos para que possam fazer uma imagem que mais se aproxime do real. A compreensão do indivíduo com cegueira acontecerá a partir do olhar do outro e nesse sentido é importante que o meio onde a criança esteja inserida seja rico de informações. De acordo com Wallon (1995, p.43), “a escola é um meio fundamental para o desenvolvimento aluno e professor”, portanto deve haver maior interatividade entre as partes, uma vez que a aprendizagem da criança se dá na interação com o meio e com seus pares. Em se tratando das crianças com a deficiência, não necessariamente a visual, a questão afetiva deve estar sempre presente para o bom desenvolvimento das percepções necessárias. Não apenas, no que se refere ao cognitivo, é importante que sejam trabalhadas as demais percepções, pois o indivíduo deve ser visto como um todo. É imprescindível que os educadores reflitam sobre suas práticas, que abandonem os modelos tradicionais e passem a trabalhar sob um novo olhar que contemple a todos num enfoque mais inclusivo. A educação tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança até seis anos, em seus aspectos físicos, psicológicos, intelectual e social, completando a ação da família e da comunidade, para tanto se deve respeitar a questão sócio-cultural da criança. No que se refere à educação da criança cega, em seu processo inicial da formação, é necessário que a prática do professor seja repensada para atender as peculiaridades da criança. O educador deve elaborar seu plano de aula considerando que existe em sua sala uma criança com dificuldade visual, portanto deve preocupar-se em adaptar as atividades para atender as necessidades dela, no entanto suas atividades não necessitam ser diferentes, apenas deverão ser adequadas mediante suas necessidades. Sabemos das dificuldades do professor da classe comum para atender o número grande de alunos e mais as crianças com deficiência. Mas é importante que esta desenvolva mecanismos para envolver as outras crianças com aquela que tem a limitação visual, não a deixando fora de atividades, procurando adequá-la as necessidades do aluno. Cabe ao professor inserir os alunos com deficiência no contexto da sala de aula, estes não podem e nem devem ser super protegidos e nem tão pouco tratados com diferenças ou com piedade, devendo assim participar de todas as atividades propostas com as adequações necessárias, no intuito de haver maior socialização da criança com cegueira. Só assim, conseguirá desenvolver a autonomia desta criança, contribuindo para que esta se torne mais independente e que consiga estabelecer vínculos com os colegas buscando maior interatividade entre os mesmos, como propõe Vygotsky (2005) uma concepção sócio- interacionista, que defende um novo olhar sobre o homem e uma nova sociedade. O papel do educador consiste numa certa postura, pautada em uma ética profissional em que a estratégia de ensino interdisciplinar deve ter como objetivo a aquisição do conhecimento em relação à área do saber. Nesse sentido, a metodologia ideal para o trabalho com a criança cega deve consistir em que a criança compreenda o mundo e, que consiga estabelecer conceitos de forma contextualizada. Galvão (2004, apud WALLON, 1995, p.56) propõe o estudo integrado do desenvolvimento, de forma a agregar os vários campos funcionais ocupados pela atividade infantil: afetividade, motricidade e inteligência, no qual a afetividade é um componente permanente da ação; recomenda o estudo contextualizado da criança, nas relações que mantém com o meio, afirmando que o “o homem se constitui um ser geneticamente social”. Tomar como consciência à realidade dos alunos quanto à ação docente deve sustentar uma prática social que valorize a imaginação, o brinquedo, a cidadania, as múltiplas linguagens que promovam o aspecto lúdico na aprendizagem da criança, assim os recursos utilizados para esse trabalho deverão ser bem diversificados para despertar o interesse da criança. Para o trabalho com os conteúdos de Ciências, podemos utilizar réplicas, recursos da natureza como tocar plantas percebendo suas características, identificando as partes, explorando o espaço físico da escola, tocando árvores maiores, menores, diferenciando texturas e formas, cheiros, sabores na tentativa de fazer as abstrações necessárias para a compreensão destes conteúdos. Neste sentido, também podemos trabalhar noções de higiene, cuidados pessoais partindo do próprio corpo da criança ou de bonecos. A Matemática deve utilizar-se de material concreto como: tampinhas de garrafa, palitos de picolé, ábaco, cubarítimo, quadro valor de lugar (QVL) confeccionado em tecido, relógio, quadro posicional para efetuar as operações fundamentais com números em Braille. Estes materiais propiciarão noções de quantidade, seriação, sequenciação, ordem, valores, tempo, medidas, espaço e o trabalho com as quatro operações com a utilização do material dourado. No ensino da Língua Portuguesa, podemos trabalhar com histórias, interpretação de textos propiciando oportunidades ao aluno de estabelecer conceitos relacionados com fatos do cotidiano. Isto porque suas abstrações são empobrecidas pela falta da visão e pobres em experiências táteis - sinestésicas vestibulares (o ouvido detecta sensações relacionadas com orientação e equilíbrio) e, proprioceptiva (quando a mão examina ativamente um determinado objeto, manipulando-o com os dedos, o sentido proprioceptivo e o tátil são combinados no cérebro, desse modo podemos analisar os aspectos tridimensionais das coisas que seguramos com as mãos - é a consciência dos movimentos produzidos pelos nossos membros.), fato inerente à deficiência visual. No que se refere aos conteúdos de História e Geografia,podemos utilizar maquetes, explorar o meio em que o aluno está inserido, trabalhando de forma contextualizada. Nesse sentido, cabe destacar que professor de crianças deficientes visuais deve ter conhecimento prévio de cada caso, para que possa elaborar um plano de trabalho que atenda as necessidades individuais de cada aluno. É necessário que se tenham todas as informações possíveis sobre a patologia, a acuidade, o uso funcional que a criança faz da visão, e elaborar a adaptação de todos os materiais didáticos, quando necessário, e promover adaptações curriculares que dêem conta da formação de tais alunos. Considerações finais Este tema surge da necessidade, enquanto profissional na área de cegueira, de repensar a prática do educador e futuro pedagogo, uma vez que se considera que o período de alfabetização e aquisição do Braille seja o mais difícil no que se refere à educação da criança cega. É importante esclarecer que a família pouco tem contribuído no processo de estimulação da criança com cegueira o que torna a criança cega isolada em seu universo, criando hábitos que lhe são peculiares, dificultando sua interação com os colegas, decorrentes do “medo” e “resistência ao desconhecido”. Pesquisas e estudos nessa área têm evidenciado que a aquisição dos conceitos básicos é realizada na maioria das vezes no espaço escolar. A estimulação das crianças com cegueira, baixa visão, ou mais comprometida acontece mais tarde do que com as outras crianças que enxergam, pois esta traz consigo de casa um universo de informações que por diversas vezes adquirem por imitação. Já com a criança cega este fato não acontece devido à ausência de visão dificultando assim seu processo de aprendizagem. A criança cega vai conhecer o mundo através do tato, da audição, do olfato, do paladar, enfim, a falta da visão dificulta na orientação espacial e ela deve ser estimulada por meio de objetos específicos, andador, brinquedos móveis, bengala raquete, para adquirir uma organização sobre o espaço. Deve ser estimulada a utilização do toque para conhecer o mundo por meio da manipulação de objetos, brinquedos variados para identificar texturas, formas, tamanho, espessuras e conseqüentemente o desenvolvimento do tato, necessário a leitura Braille. Para minimizar tais dificuldades é necessário que busquemos recursos diversos, utilizando-se de materiais concretos e principalmente investir em metodologias que atendam mais as necessidades do educando com cegueira. Portanto, os educadores de crianças cegas devem colaborar com o desenvolvimento e a aprendizagem desta criança e refletir sobre sua prática pedagógica buscando adequá-la para que a criança compreenda o mundo e, que consiga estabelecer conceitos de forma contextualizada. Resumo 1. Do Conceito à Educação da Criança Cega 2. Os Recursos Pedagógicos na Aprendizagem da Criança Cega 2.1. Como Escrever e Ler Em Braille Considerações finais
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