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CURSO DE DIREITO GRUPO 1 JOÃO BATISTA C. B. NUNES LAÍS MARA RODRIGUES FRAGA PEDRO HENRIQUE PEREIRA DE CARVALHO RAÍRA ROBERTA DE OLIVEIRA RÁVILA ALVEZ MENDES SARAH RILLER YARED DA SILVA TÁRCIA LIMA BRITO TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O JULGAMENTO DE NUREMBERG BOA VISTA-RR 2020.1 JOÃO BATISTA C. B. NUNES LAÍS MARA RODRIGUES FRAGA PEDRO HENRIQUE PEREIRA DE CARVALHO RAÍRA ROBERTA DE OLIVEIRA RÁVILA ALVEZ MENDES SARAH RILLER YARED DA SILVA TÁRCIA LIMA BRITO TRABALHO DE INVESTIGAÇÃO CIENTÍFICA SOBRE O JULGAMENTO DE NUREMBERG Trabalho apresentado como requisito para obtenção de nota na disciplina Teoria Geral do Direito do curso de bacharelado em Direito da Faculdades Cathedral do 1ºsemestre C, noturno. Orientação: Prof. Pós-doutor Mauro Campello. BOA VISTA-RR 2020.1 SUMÁRIO INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 4 1 CONHECENDO O CENÁRIO .................................................................................. 5 1.1 CENÁRIO PÓS-PRIMEIRA GUERRA ............................................................... 5 1.2 CENÁRIO QUE ANTECEDEU A SEGUNDA GUERRA .................................... 5 1.3 CENÁRIO DA SEGUNDA GUERRA ................................................................. 6 1.4 CENÁRIO DO JULGAMENTO DE NUREMBERG ............................................ 7 2 CONHECENDO OS FATOS .................................................................................... 8 3 ENTENDENDO A ACUSAÇÃO ............................................................................... 8 4 ENTENDENDO A DEFESA ................................................................................... 10 5 IMPORTÂNCIA DO PROCESSO PENAL DEMOCRÁTICO ................................. 20 CONCLUSÃO ........................................................................................................... 23 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA .............................................................................. 27 4 INTRODUÇÃO Trata-se de um trabalho acadêmico conjunto sobre o julgamento no Tribunal de Nuremberg. Com o objetivo de julgar os nazistas por decorrência da II Guerra Mundial, uma série de julgamentos foi realizada na cidade alemã de Nuremberg, entre os anos de 1945 e 1949. Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a derrota dos nazistas, os franceses, americanos, ingleses e soviéticos reuniram-se em Londres para definirem os destinos dos perdedores da guerra em um Tribunal, que ficou responsável pelo julgamento de criminosos, envolvidos com assassinatos, extermínios, escravidão, deportação, abuso de poder, entre outros crimes. O julgamento durou quase um ano ininterrupto, e foi marcado por diversas contradições e maculas a princípios fundamentais de direito, fato este que gerou diversas críticas em relação ao verdadeiro caráter do Tribunal Militar Internacional de Nuremberg. Dessa forma, essa pesquisa discorre sobre alguns aspectos no que diz respeito ao campo jurídico do tema, como: “A decisão tomada pelo tribunal de Nuremberg foi justa? Do que se trata esse julgamento de Nuremberg? O tribunal de Nuremberg foi ou não um tribunal de exceção?”. Para Muitos a Corte deixou a moral e a justiça de lado na busca de uma vingança a qualquer custo, onde os princípios mais fundamentais foram banalizados sem nenhum escrúpulos por parte dos vencedores. Outros dois princípios fundamentais que foram feridos, quais sejam o da Legalidade ou Reserva Legal “nullum crimen nulla poena sine legm”, e o da Irretroatividade da Lei Penal, que, evidentemente prejudicaram os réus, já que três dos quatro encargos coletivos pelos quais foram julgados e punidos foram criados ali naquele Tribunal. Nesse sentido, o trabalho está dividido em quatro tópicos, onde no primeiro, aborda-se um contexto histórico, o cenário em que ocorreu o julgamento, seus aspectos econômicos, político e social, dividindo-se em quatro subtópicos nos quais retratam os cenários pós-primeira guerra, o cenário que antecedeu a segunda guerra, onde Hitler, como chanceler, deu início a uma rápida expansão das polícias estatais, e nomeou Hermann Goering para comandar as forças de segurança, composto inteiramente por nazistas e dedicadas a erradicar qualquer oposição ao partido, os cenários na segunda guerra e de quando ocorreu o julgamento. 5 No segundo tópico, são exibidos os fatos ocorridos do julgamento em exposto. Já no terceiro e quarto tópicos, o trabalho aborda as questões da defesa e acusação, trazendo elementos importantes a serem analisados de forma critica e reflexiva acerca das questões de Imparcialidade, princípios que norteiam o sistema jurídico, como da Irretroatividade e legalidade das leis, bem como a possível ilegitimidade dos juízes que julgaram os réus. Outrossim, o trabalho faz-se relevante ao meio acadêmico tendo em vista que o Tribunal de Nuremberg foi o primeiro dessa magnitude e de suma importância histórica, com os vencedores da Grande Segunda Guerra Mundial, julgando os perdedores, em um tribunal especial, o que feria a proibição de um tribunal de exceção. Portanto, o trabalho tem por objetivo geral investigar através de pesquisa bibliográfica, a legitimidade das decisões do tribunal de Nuremberg, se essas decisões foram justas ou injustas, visto que muitas foram às limitações da defesa no julgamento, dispunham de pouca autoridade e não tinham recursos ou liberdade para colher provas em meio ao país devastado. 1 CONHECENDO O CENÁRIO 1.1 CENÁRIO PÓS-PRIMEIRA GUERRA Com o fim da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), a Alemanha encontrava-se aturdida, com sua infraestrutura em ruínas, com milhões de seus habitantes mortos, e teve de assinar o Tratado de Versalhes (acordo de paz dado entre britânicos, franceses e alemães). O Tratado de Versalhes condenou a Alemanha como a responsável pela Primeira Guerra, fazendo com que o Governo alemão assumisse sua culpa e assinasse o tratado. A Alemanha também foi obrigada a ceder seu território e colônias, pagar indenizações milionárias e reduzir seu exército para no máximo 100 mil militares, o que era considerado uma força militar inofensiva. Porém, o Tratado não foi bem recebido pela população alemã, menos ainda pelos militares. Fazendo com que houvesse uma grande insatisfação contra o atual Governo da Alemanha, cujo qual foi o responsável por assinar o Tratado. 1.2 CENÁRIO QUE ANTECEDEU A SEGUNDA GUERRA 6 Em 1921, tudo estava dez vezes mais caro do que no fim da Primeira Guerra. Mas os salários tinham subido nove vezes, porém o dinheiro comprava 10% menos que antes. Aquela equação do mal: pouca produção + muita moeda = inflação fora do controle. Em 1923, aconteceria o ato que ficou conhecido como Putsch da Cervejaria (ou Putsch de Munique), que foi quando Adolf Hitler, líder do Partido Nazista e seus companheiros entraram em uma cervejaria, onde se encontravam membros do Governo reunidos ali, e ameaçou-os dizendo que tomaria posse da Alemanha a partir daquele dia. Mas foi uma tentativa falha de golpe, e seus companheiros que estavam armados foram mortos e Hitler foi preso. Porém isso só fez com que o Partido Nazista fortalece-se mais. Em 1933, Adolf Hitler, era nomeado chanceler da Alemanha. Ele vivia uma fase de ascensão meteórica, impulsionado pela frustração do povo com as péssimas condições econômicas. Hitler era publicamente contra o Tratado de Versalhes, deixando isso explícito inúmeras vezes. Hitler falava o que todos queriam ouvir, sobre como a Alemanha encontrava-se em meios à tanto caos, isso só fez com que o encantamento de muitos crescessepor ele. Hitler, como chanceler, deu início a uma rápida expansão das polícias estatais, e nomeou Hermann Goering para comandar as forças de segurança, compostas inteiramente por nazistas e dedicadas a erradicar qualquer oposição ao partido. Hitler conseguiu dominar a Alemanha, fazendo com que todos o seguissem (considerando que quem fosse contra seria exterminado), e ao ignorar o Tratado de Versalhes, criou novas tropas militares, que só estavam aumentando, e tomou posse de territórios próximos, com o Blitzkrieg (guerra-relâmpago), que é uma tática militar em nível operacional que consiste em utilizar forças móveis em ataques rápidos e de surpresa, com o intuito de evitar que as forças inimigas tenham tempo de organizar a defesa. Ele então tomou a Polônia, atacada em setembro de 1939, a Dinamarca e a Noruega em abril de 1940, a Bélgica, a Holanda, Luxemburgo e a França em maio de 1940, Iugoslávia e a Grécia em abril de 1941. 1.3 CENÁRIO DA SEGUNDA GUERRA Em meio ao caos que já estava implantando por conta da Guerra que então estava ocorrendo, em 1940, a Alemanha, Itália e Japão fizeram o Pacto Tripartite, 7 que foi uma aliança entre as três potências, cujo qual o objetivo principal era dominar o mundo. E nesse caso, se algum país declarasse guerra contra um desses três países, estaria em guerra também contra os outros dois. Apesar da existência do Pacto de Não Agressão Germano–Soviético de 1939, assinado entre a Alemanha e a União Soviética, em junho de 1941, as Potências do Eixo planejavam a Operação Barbarossa, que tinha como objetivo principal, invadir a União Soviética. Em meio a tudo isso, o Japão atacou a marinha americana, com o intuito de inutiliza-la no Oceano Pacífico, fazendo com que o presidente dos Estados Unidos declarasse guerra contra o Japão, aliando-se ao Reino Unido, União Soviética e China. Ainda em 1941, acontecia o que foi uma grande tragédia na história da humanidade: o Holocausto. O Holocausto foi o genocídio cometido pelos nazistas ao longo da Segunda Guerra, que vitimou aproximadamente seis milhões de pessoas, entre elas: judeus, ciganos, homossexuais, testemunhas de Jeová, deficientes físicos e mentais, opositores políticos, entre outros. De toda forma, o grupo mais foi vitimado no Holocausto foram os judeus. Em 1943, o governo brasileiro sofreu fortes pressões dos Estados Unidos para permitir às tropas norte-americanas o uso de portos e aeroportos do Norte-Nordeste, considerados fundamentais para a defesa do continente. Foi criada então a Força Expedicionária Brasileira (FEB), para lutar na Europa ao lado dos países Aliados, contra os países do Eixo, na Segunda Guerra. O dia 6 de junho de 1944 entrou para a História como o Dia D. Foi o dia em que os Aliados organizaram um grande esforço militar e desembarcaram suas tropas na Normandia, região do norte da França dominada pelos nazistas. O Dia D fez parte da Operação Overlord e foi responsável por aumentar o desgaste dos alemães durante o conflito. No início de maio de 1945, deu-se início a Batalha de Berlim, cujo qual foi o último confronto no cenário de guerra europeu, no final da Segunda Guerra. Nessa batalha, milhões de soldados soviéticos realizaram o ataque à cidade de Berlim, destruindo-a completamente. Com a conquista de Berlim, Hitler cometeu suicídio e a Alemanha Nazista rendeu-se. 1.4 CENÁRIO DO JULGAMENTO DE NUREMBERG 8 No dia 20 de novembro de 1945, foi criado um tribunal na cidade de Nuremberg, cujo qual tinha um grande significado, já que a cidade de Nuremberg recebia grandes comícios e passeatas, recebendo até mesmo Hitler. Outro motivo que justificou o lugar escolhido foi o Palácio da Justiça, que foi um tribunal que mesmo depois dos bombardeios continuou de pé. Então, no intuito de julgar os nazistas pelos crimes contra a humanidade, crimes contra a paz no mundo e crimes de guerra nas condutas dos líderes alemães, e serem justos ao julgar, e servir como exemplo para que o que aconteceu durante a Segunda Guerra, não se repetisse em nenhum outro momento na história. As pessoas encarregadas do julgamento e das sanções eram membros dos países Aliados. Os norte-americanos iniciaram o processo de investigação. No Tribunal havia quatro juízes, cada um representando um país. O presidente que decidiria em caso de desempate era o britânico Geoffrey Lowrence. Os representantes dos EUA foram Francis Biddel e John L. Parker. Da França eram os juízes Donnedieu de Valres e Robert Falco. Da União Soviética era Nikitchenko e Volchkov. Foram réus no Tribunal de Nuremberg: Hermann Goering, Rudolf Hess, Joachim Von Ribbentrop, Robert Ley, Wilhelm Keitel, Emst Kaltenbrunner, Alfred Rosemberg, Hans Frank, Wilhelm Frick, Julius Streicher, Wilhelm Funk, Hjalmar Sclacht, Gustav Krupp, Karl Donitz, Erich Raeder, Baldur Von Schirach, Frita Sauckel, Alfred Jodl, Martins Borman, Franz Von Papen, Arthur Seyss-Inquart, Albert Speer, Constantin Von Neurath e Hans Fritz-che. 2 CONHECENDO OS FATOS Em maio de 1945, semanas antes do fim dos conflitos na Europa, iniciam-se as negociações para a formação de um Tribunal Militar Internacional com o intuito de julgar os principais criminosos da II Guerra Mundial. Entre 26 de junho e 06 de julho os representantes dos Aliados, reunidos em Londres, alcançam um consenso quanto à realização de um processo coletivo dos grandes criminosos de guerra, de acordo com a proposição norte-americana, a formação de um Tribunal Militar Internacional para realizar um julgamento ex post facto. Com tal informação, deve-se considerar que tais crimes, ainda que expressamente cruéis, quando realizados, não eram caracterizados em lei, salvo os 9 Crimes de Guerra, em sentido estrito, nunca haviam sido qualificados como tal no sistema internacional antes daquele julgamento, ferindo assim o princípio da anterioridade, vindo a possuir tipificação legal pos factum, de forma que, com base no filme "Julgamento em Nuremberg" a devida implantação deste tribunal internacional e como necessária a instauração de um processo penal foi à tentativa de passar uma mensagem importante, que apesar de infringir os pilares da nossa Constituição e inúmeros princípios, foi a melhor maneira que os vencedores da Segunda Guerra Mundial acharam para que as torturas, as mortes, as barbáries feitas com o povo alemão não ficasse impune, sendo baseado mais num caráter de vingança do que justiça. Sendo assim escolhida para sediar este julgamento histórico, a cidade de Nuremberg na Alemanha, devido seu precedente de acontecimentos marcantes como as maiores manifestações de Hitler, o centro espiritual do Terceiro Reich, tendo como enfoque principal uma devastação terrível, havia poucas construções intactas, somente destroços, o mau cheiro era fortíssimo, porque havia cerca de 30 mil corpos sob os escombros. O local escolhido para ser a sede do julgamento foi um dos poucos prédios ainda intactos, que foi o antigo palácio da Justiça de Nuremberg. Desta forma, foram escolhidos para irem a julgamento 24 homens que comandavam os campos de concentração, que implantaram o trabalho escravo e os utilizaram. No entanto, destes, apenas 21 realmente participaram do processo, pois, um cometeu suicídio no presídio e o outro não compareceu por motivo de saúde. Durante o filme, tem-se como marcante presença o Marechal Hermann Goering, que durante os 169 minutos de história, se porta sempre com uma postura de um grande líder, e em nenhum momento mostrava arrependimento pela crueldade as quais submeteu os alemães, característica presente em líderes, e sempre relatava que fez o melhor para as coisas que foi designado. Informado inclusive, que foi ele o idealizador dos campos de concentração. Seguindo com base no documentário fictício, o promotor escolhido para a acusação é Bob Jackson que fazia parte da suprema corteamericana, devido seu belíssimo trabalho como promotor, este vai à outra cidade falar Biddle, demonstrando assim uma relação de amizade entre ambos e pede que aceite o cargo de juiz do caso e chegue antes do início do julgamento para que eles pudessem resolver detalhes do julgamento, fazendo assim o formato de um 10 processo inquisitório, pois em um procedimento legal os princípios da imparcialidade e impessoalidade das partes não podem ser feridos. Logo a defesa passa a atuar somente como coadjuvante. Todo o cenário apresentado nos faz retomar ideias referentes à reserva legal que em nosso ordenamento jurídico baseia-se, como uma cláusula pétrea descrita no art 5°, XXXIX de nossa Carta Magna, ou seja, trata-se de um Direito, e principalmente uma Garantia Fundamental, sendo, portanto, inadmissível sua violação, supressão, ou desrespeito à sua prevalência em relação às normas infraconstitucionais. Que se tem como desdobramento o princípio da legalidade, em que alguém só é obrigado a fazer ou deixar de fazer se previsto em lei, juntamente com o princípio da anterioridade que determina que a lei penal deva ser anterior ao fato que pretende punir. Ou seja, a lei somente pode punir ou agravar fatos futuros. Desta maneira, por força deste princípio, num sistema normativo-punitivo – como é o Direito Penal - a criminalização de comportamentos só deve ocorrer quando se constituir meio necessário à proteção de bens jurídicos ou à defesa de interesses juridicamente indispensáveis à coexistência harmônica e pacífica da sociedade. Tornando, imunes ao livre arbítrio do Estado, pois nenhum agente será punido imotivadamente, sendo necessária a demonstração clara de indício de autoria de conduta previamente tipificada como criminosa, cuja investigação se deu dentro dos limites da Lei, e a punição será proporcional ao abalo causado à vítima, para que a pena não se torne leve, ou pesada demais ao réu, medida esta, não cumprida no julgamento de Nuremberg. 3 ENTENDENDO A ACUSAÇÃO Os promotores titulares responsáveis pela condução da acusação foram indicados cada um por uma das quatro potências. Foram eles: Robert H. Jacson (apontado pelos EUA, era Procurador-Geral e juiz da Suprema Corte), Sir. Hartely Schawcross (apontado pela Grã-Bretanha, era Procurador-Geral), François De Menthon (apontado pela França, Procurador-Geral e ex-ministro da justiça na França) e Roman Rudenko (apontado pela URSS, General do Exército Vermelho, Promotor na URSS, comandante do Campo Especial nº 7 da NKVD). 11 Esses tinham o apoio de um conjunto de ajudantes, que tinham como trabalho de arrecadar provas em forma de documentos por toda a Europa. Ademais, os promotores decidiram dividir entre si as pautas para acusação: Norte Americanos: Cuidaram das acusações de conspiração. Britânicos: Resolveriam os crimes contra a paz. Soviéticos: Crimes cometidos na Europa Oriental. Franceses: Crimes cometidos na Europa Ocidental. O tribunal de Nuremberg ficou responsável pelo julgamento de criminosos envolvidos com assassinatos, extermínios, escravidão, deportação, abuso de poder, entre outros crimes. O julgamento mais esperado era os dos 24 oficiais que trabalharam nas estruturas do governo nazista ou nas Forças Armadas. Estes responderam pelos crimes de conspiração ou plano comum (acusação número um), crimes contra a paz (acusação número dois), crimes de guerra (acusação número três) e crimes contra a humanidade (acusação número quatro) Devido às gravidades das acusações mantiveram os 10 mandamentos na entrada da audiência pelo fato de os judeus terem uma forte ligação com os mandamentos, principalmente na época em que eles foram massacrados pelas tropas de Hitler. Os 10 mandamentos representam a terra prometida e os judeus já se encontravam nessa terra. Não havia motivos para serem massacrados. O julgamento se deu início pelo fato da população não conseguir ignorá-los e nem sobreviveria a uma repetição dos atos nazistas novamente. Acusações de desejo de poder, orgulho patológico, crueldade, perturbação a igreja, repressão aos sindicatos, perseguição aos judeus da Europa, longas séries de agressão, conquistas e quebras de tratados. A promotoria tem como encargo, por lei, oferecer acusação (denuncia) contra o indivíduo suspeito de contrariar a lei em um julgamento criminal e atua como representante da acusação onde possui como propósito fazer justiça, o promotor natural ou legal, também chamado de promotor imparcial, é um princípio constitucional implícito que decorre do juiz natural previsto no art. 5º, inciso LII, da Constituição Federal. No tribunal de Nuremberg, inédito na história, houve a intenção de condenar os réus, fato esse salientado no Estatuto do Tribunal que tem em seu primeiro artigo, sua competência de “julgar e punir os Grandes Criminosos de Guerra dos países do Eixo Europeu”. 12 Destarte, é importante abordar o ônus da prova. Esta parte do princípio que toda afirmação precisa de sustentação, de provas para ser levadas em consideração, e quando não são oferecidas, essa afirmação não tem valor argumentativo. Na visão jurídica, é papel dos litigantes de provar, isto é, o réu não precisa provar a inocência, o ônus da prova é da acusação a qual deve provar cada um dos elementos indicativos da culpabilidade e assim cabe à defesa provar o que alega, art. 156 do Código de Processo Penal “a prova da alegação incumbirá a quem fizer”. O julgamento fere o ônus da prova, visto que o objetivo era punir, logo, a defesa devia provar inocência. Quando isto ocorre, é imprescindível não considerar o Princípio do Estado da Inocência o qual abarca: Art. 5º, inciso LVII “Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença penal condenatória”. Art. XI, item 1 “Toda pessoa acusada de um ato delituoso tem o direito de presumido inocente, até que sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei, em julgamento público no qual lhe tenha sido assegurado todas as garantias necessárias à sua defesa”. Quando violado, permite interpretações de um processo ilegal e os riscos de uma decisão precipitada dos magistrados são maiores. No caso da dúvida a respeito dos fatos ou provas a decisão judicial caminha sempre em favor do réu, é preferível absolver um culpado a condenar um inocente, segundo os princípios básicos do direito. O princípio do promotor natural ou legal, também chamado de promotor imparcial, é um princípio constitucional implícito que decorre do princípio do juiz natural previsto no artigo 5º, inciso LIII, da Constituição Federal, in verbis: “ninguém será processado nem sentenciado senão pela autoridade competente”. Assim como o imputado tem o direito de ser processado por um juiz competente e previamente constituído, é improcedente um tribunal constituído pelos aliados (vencedores da 2ª Guerra Mundial) e o eixo como réu (perdedores da guerra). Ademais, o princípio da lealdade entre partes é ferido, pois esse é o princípio da boa-fé o qual está atrelado ao dever de lealdade processual, a honestidade e a integridade entre as partes e quando não atendido, trata-se de uma afronta não só a parte contrária na relação 13 processual, mas, ainda, a transposição de tais efeitos contra o próprio Estado, que por sua vez, tem como base a entrega de maneira justa da tutela jurisdicional. Portanto, as sentenças foram: 1. Hermann Wilhelm Goering – um dos mais antigos seguidores do Partido Nazista, Goering era, certamente, o mais importante réu em Nuremberg, tanto por sua fama quanto pelo efetivo poder que exerceu durante os 12 anos do regime nazista. Condenado por todas as acusações, foi sentenciado à forca, mas suicidou-se horas antes da execução. 2. Rudolf Hess – Tal Goering, Hess fora um dos primeiros membros do Partido Nazista, tendo acompanhado Hitler na prisãoquando do putsch (tentativa de golpe) deste em 1923, tornando-se confidente do ditador alemão desde então, chegando a ser nomeado seu sucessor na hipótese de Goering não poder ocupar a liderança do país. Assim, foi condenado em todas as acusações, tendo sido sentenciado à prisão perpétua. 3. Joachim von Ribbentrop – Ministro das Relações Exteriores. Condenado por todas as quatro acusações, foi sentenciado à forca. 4. Robert Ley – Ley fora chefe da Frente de Trabalho Alemã (Deutsche Arbeitsfront), organização que substituíra todos os sindicatos alemães. Era responsável pela “coordenação” da população trabalhadora alemã para seguir a ideologia nazista. Denunciado pela Promotoria nas quatro acusações, enforcou-se em sua cela pouco menos de um mês antes do início do julgamento. 5. Wilhelm Keitel – Chefe do Alto Comando das Forças Armadas. Foi condenado em todas as acusações, e sentenciado à forca. 6. Ernst Kaltenbrunner-Sucessor do temido Reinhard Heydrich na chefia do Reichssicherheitshauptamt (conglomerado dos serviços secretos alemães - RHSA). Foi condenado, porém, pelas acusações 3 e 4, e sentenciado à forca. 7. Alfred Rosenberg – considerado um dos mentores ideológico do nazismo. Foi condenado em todas as quatro acusações, sendo sentenciado à forca. https://jus.com.br/tudo/sindicatos 14 8. Hans Frank – apelidado de “Açougueiro da Polônia”, Frank fora chefe do Governo Geral (Generalgouvernment). Foi absolvido da acusação 1, mas condenado pelas acusações 3 e 4, e sentenciado à forca. 9. Wilhelm Frick – Ministro do Interior entre 1933 a 1943 e, posteriormente, Reichsprotektor da Boêmia e da Moravia até 1945. Frick acabou sendo condenado em todas as quatro acusações, e sentenciado à forca, mesmo tendo 69 anos de idade – era o réu mais velho a ser enforcado em Nuremberg. 10. Julius Streicher – Streicher fora Gauleiter de Nuremberg e editor do Der Sturmer, o jornal nazista mais anti-semita à época. Foi condenado somente pela acusação 4, mas ainda assim sentenciado à forca. 11. Walther Funk- Fora Ministro da Economia em 1938 e Presidente do Reichsbank (Banco Central alemão). Condenado pelas acusações 2, 3 e 4, foi sentenciado à prisão perpétua. 12. Hjalmar Schacht- Ministro da Economia entre 1933 a 1938, ele fora um dos responsáveis pela milagrosa recuperação econômica da Alemanha durante os meses posteriores à ascensão de Hitler ao poder. Absolvido. 13. Gustav Krupp – chefe das empresas de siderúrgica e armamentos Krupp. A Promotoria terminou por decidir retirar as acusações contra ele, não sem antes tentar, sem aprovação dos juízes, substituí-lo por seu filho, Alfried. 14. Karl Doenitz – Tal qual Schacht, o Grossadmiral Doenitz, chefe dos submarinos alemães até 1943, chefe da marinha alemã de 1943 a 1945 e sucessor de Hitler como novo presidente da Alemanha após sua morte, apresentou um dos casos mais discutidos pelo Tribunal. Condenado pelas acusações 2 e 3, e sentenciado a 10 anos de prisão. 15. Erich Raeder – comandante da Marinha alemã antes de Doenitz. Foi, portanto, condenado pelas acusações 1, 2 e 3, e sentenciado a prisão perpétua. 15 16. Baldur von Schirach – líder da famosa Juventude Hitlerista (Hitlerjugend). Condenado pela acusação 4, e sentenciado a 20 anos de prisão. 17. Fritz Sauckel – Plenipotenciário do Trabalho, o ex-operário Sauckel fora diretamente responsável pela deportação e pelas condições cruéis a que milhões de trabalhadores escravos utilizados no esforço de guerra alemão foram submetidos. Condenado nas acusações 3 e 4, foi sentenciado à forca. 18. Alfred Jodl – terceiro na hierarquia do Exército, abaixo de Hitler e Keitel. Foi condenado pelas quatro acusações e sentenciado à forca. 19. Martin Bormann –Secretário-geral do Partido Nazista. Condenado pelas acusações 3 e 4 e sentenciado à forca. 20. Franz von Papen – Vice-chanceler do Reich. Foi ele o primeiro réu que os juízes decidiram absolver. 21. Arthur Seyss-Inquart – Governador (Reichsstatthalter) da Áustria anexada à Alemanha, e posteriormente, Reichskommissar da Holanda ocupada. Condenado em todas as acusações e sentenciado à forca. 22. Albert Speer – Ministro dos Armamentos entre 1943 a 1945 e, nessa posição, responsável por toda a economia da Alemanha durante a guerra. Condenado a 20 anos de prisão, pelas acusações 1 e 2. 23. Constantin von Neurath – Ministro das Relações Exteriores antes de von Ribbentrop. Condenado em todas as quatro acusações, mas sentenciado a 15 anos de prisão. 24. Hans Fritzsche- Ministério da Propaganda. Absolvido. 4 ENTENDENDO A DEFESA Após o fim da Segunda Guerra Mundial, com a derrota dos nazistas, os franceses, americanos, ingleses e soviéticos reuniram-se em Londres para definirem os destinos dos perdedores da guerra em um Tribunal. A carta de Londres, em agosto de 1945, definiu as regras dos processos de julgamento e definiu os crimes a 16 ser tratados. As autoridades aliadas não fizeram esforços em descobrir advogados de talento excepcional para os réus. Estes, amparados pelo art. 16 do Estatuto, teriam direito a advogado que poderia ser escolhido pelo próprio réu, ou dentre uma lista de advogados alemães, preparada pelo tribunal, ou por indicação pessoal que seria submetido à aprovação da Corte. Os advogados de defesa eram: Otto Stahmer, representou os réus Hermann Göering, Franz von Papen e Julius Streicher; Fritz Sauter, representou os réus Joachim von Ribbentrop, Walther Funk e Baldur von Schirach; Rudolf Dix, representou os réus Hjalmar Schacht, Albert Speer e Wilhelm Frick; Otto Kranzbuhler, representando: Karl Dönitz, Ernst Kaltenbrunner e Alfred Rosemberg; Franz Exner, representando: Alfred Jodl, Hans Frank e Konstantin von Neurath; Robert Servatius, representou os réus Fritz Sauckel, Arthur Seyss-Inquart, Wilhelm Keitel; Gunther Von Rohrscheidt, representando: Rudolf Hess, Erich Raeder e Hans Fritzsche. É importante salientar que, não obstante, as acusações sejam de grande horror, a defesa é um direito natural e sagrado de todos aqueles que são acusados. Dessarte, a linha de defesa dos advogados alemães resumiu-se em 400 sessões públicas em que adotaram uma posição que protegesse o homem comum da Alemanha e defendesse a reputação do país, lutaram para expungir da Alemanha a infâmia da culpa coletiva onde viveram uma experiência dolorosa como advogados de defesa. Sofriam os advogados, como todos os alemães, o choque da derrota e da destruição, e tristeza que os cercavam, nutriam sentimentos antinazistas, em sua maioria, responsabilizavam os réus pela desgraça própria e pela desgraça do país. Ficavam muito irritados, como a corte e o público, pela revelação de exemplos puros de fria brutalidade. Muitas foram às limitações da defesa no julgamento, dispunham de pouca autoridade e não tinham recursos ou liberdade para colher provas em meio ao país devastado. Não lhes fora dado tempo razoável para preparar as defesas, o modo como a promotoria apresentava provas (muitas vezes documentos únicos, sem que cópias fossem disponibilizados previamente à defesa), a atitude dos réus (alguns admitiam abertamente a realização de condutas criminosas, despertando a ira dos juízes), alguns réus se odiavam, e culpavam uns aos outros pelos crimes que eram acusados. Ademais, deu-se a proibição de utilizar algumas teses de defesa, dentre elas quaisquer que utilizassem questões internacionais. Contudo, a proibição mais 17 danosa, pois nela a maioria dos casos os acusados poderiam se escudar, era a que vinha prevista no art. 8º do Estatuto: “O fato de o réu ter agido em cumprimento a ordem de seu governo ou seu superior não eximirá de responsabilidades, mas poderá ser considerado atenuante quanto à punição se o tribunal entender que a justiça assim requer”. Para a compreensão do julgamento quanto à justiça,o trabalho abordará os fatos ocorridos com respostas na visão jurídica. Quando ignoraram o art. 8º, violaram: 1. Império da Lei (obediência pelas autoridades alemãs). Legalismo significa “império da Lei, amor e fidelidade à legalidade”. Coloca as normas legais estatais como a verdade absoluta, independentemente de qualquer argumento ou interpretação extensiva que possa colocar em prova àquelas normas. O legalismo é utilizado como uma estratégia autoritária de impor uma ação estatal justificada apenas como na necessidade de cumprimento “da lei”. Quando utilizada, é para validar uma lei estatal que não possui consenso. 2. As ideias de legitimação do poder. Atua como instrumento de alienação ideológico de classes, para tornar aceitáveis, pela dissimulação e omissão, essa própria dominação. A legitimação não explica qual conteúdo dessa “crença”, apenas reproduz o legalismo com o seguinte silogismo: consideração inicial (executar judeus é imoral) -> legitimação (por meio da ideologia pregada por Hitler, os indivíduos creem no dever de cumprir a norma) -> consideração final (execução em massa de judeus). 3. A imperatividade e obrigatoriedade das leis alemãs. As leis de Nuremberg, assim denominadas as leis de Hitler, eram: Lei de cidadania do Reich (sangue ou ascendência alemã, três ou mais avós nascidos na comunidade religiosa judaica era judeu por lei) Lei de proteção do sangue e da honra alemã (proibia matrimônio entre judeus e não-judeus e relação sexual entre aquelas pessoas, perseguição de negros e ciganos). 18 A história conta que Hitler torna-se Füher, isto é, possuía o poder centralizado e estava acima das leis. O medo dos órgãos de repressão, os quais agiam de modo despótico, e das arbitrariedades de Hitler, ajuda entender o silêncio e a conivência diante das atrocidades cometidas pelo regime nazista. No filme, em 1h41min, mostra como os nazistas lidavam com os suspeitos de crime, o promotor Robert Jackson, indaga Göering: -Por prisão preventiva o senhor considera levar presas as pessoas que não cometeram crimes e que o senhor acreditava que possivelmente cometeriam no futuro? -Sim! Seria possível que alguém se opusesse aos desejos das autoridades ou de Hitler ou ousasse desobedecer às ordens estabelecidas? Às 2h21min de filme, no testemunho, Albert Speer diz que pessoas foram fuziladas por discordarem de Hitler. O tribunal preferiu abster-se de qualquer discussão quanto a esse aspecto, simplesmente proibindo qualquer alegação a ordens superiores ou governamentais. 4. Princípio tu quoque. “Ambos os lados cometeram crime”, o qual considera que, dentre os crimes denunciados, havia também alguns cometidos pelos aliados. O Estatuto do Tribunal tem em seu primeiro artigo, sua competência de “julgar e punir os Grandes Criminosos de Guerra dos países do Eixo Europeu”, isto é, os Aliados não estavam em julgamento, e não era cabível colocá-los nessa posição, pelos termos do Estatuto. No decorrer do filme foi exposto na fala de Hermann Göering, com clareza: -O que foi Hiroshima? Não foi a experiência médica de vocês? Os americanos teriam jogado bombas tão facilmente na Alemanha como o fizeram no Japão? Matando tantos civis quanto fosse possível? Eu acho que não. Para a sensibilidade americana, uma criança caucasiana é considerada mais humana do que uma japonesa. - Nós estávamos em guerra com o Japão, um país que nos atacou sem provocação. Vocês mataram milhões de seus próprios cidadãos. - E os cidadãos americanos descendentes de japoneses, que foram colocados em custódia preventiva em seus próprios campos de concentração? - Isso foi errado. 19 - Por que o mesmo não ocorreu com os cidadãos americanos descendentes de alemães e italianos? - Eu disse que isso foi errado! - E os negros em seu exército? Eles têm permissão para comandar tropas em combate? Podem se sentar, nos mesmos ônibus que os brancos? As leis de segregação em seu país e as leis antissemitas no meu não são diferentes apenas quanto ao grau? A criação, instalação, funcionamento e consequências do Tribunal de Nuremberg suscitaram, desde as negociações para sua constituição até hoje, inúmeras questões controversas quanto à sua natureza, aos seus procedimentos e à sua eficácia. Quando definiram o julgamento e suas regras foram taxados como um tribunal de exceção (aquele criado posteriori às condutas, que por ele serão apreciadas, com jurisdição e regras próprias, com caráter temporário e/ou excepcional, logo, os procedimentos serão sempre suspeitos de cercearem a defesa dos acusados), feriram: 1. O princípio da legalidade e o Estado de direito. O princípio da legalidade é a essência do Estado de direito, o qual é regido pelas leis, assim, garante que todos as cumpram, inclusive os governantes que só poderão agir conforme as leis e não conforme as vontades daqueles que estão no poder. Mas para acontecer o julgamento foi necessário aplicarem o Juízo ex post facto cuja a lei penal é instituída após a ocorrência do fato por ela declarada como criminosa, isto é, a lei retroage para benefício de uma das partes, destarte viola nullum crimen, nula poena sine praevia lege “não há crime, não há pena sem lei anterior”. O julgamento de Nuremberg criou leis que prejudicassem com veemência todos os réus. O artigo 26º do Estatuto estabelecia que “O julgamento do tribunal quanto à culpabilidade ou inocência de qualquer réu deverá expressar as razões em que se basear, será definitivo e não estará sujeita a revisão”, fulminou com qualquer possibilidade dos réus terem sua sentença revistas por instâncias superiores, portanto na visão jurídica o objetivo do julgamento foi no âmbito de punição, o que nas palavras de Hermann Goering, exemplifica “O vencedor será sempre o juiz, e o vencido será sempre o acusado.”. 20 Sem embargo de inúmeras limitações da defesa, Papen, Schacht e Fritzche foram absolvidos, Schirach (20 anos de prisão), Donitz (10 anos de prisão), Speer (20 anos de prisão), Neurath (15 anos de prisão), Hess, Funk, Raeder foram condenados à prisão perpetua e as demais morte por enforcamento. Pelos ataques e pressão que sofreram, pelas astúcias processuais criadas pelo tribunal, pela discriminação injusta decorrentes da nacionalidade alemã, pela gravidade dos crimes imputados aos seus clientes, os advogados da defesa encararam com fidelidade o realismo, o destemor e a fibra que se exige de um verdadeiro advogado. 5 IMPORTÂNCIA DO PROCESSO PENAL DEMOCRÁTICO Para entender a função do processo no Estado democrático de Direito, imperioso recordar a indagação: qual face (sistema acusatório, inquisitivo ou misto) o processo penal deve assumir para garantir a continuidade (ou imposição) de um Estado Democrático de Direito? Em outras palavras, qual a função do processo penal no Estado Democrático de Direito? “O Tribunal de Nuremberg foi uma experiência extremamente dolorosa para os advogados alemães a defesa de seus clientes, acusados perante o Tribunal de Nuremberg de graves crimes de guerra. Advogar perante o Tribunal dos vencedores em favor dos vencidos era tarefa hercúlea de heróis, pois a Alemanha vencida na Segunda Guerra Mundial estava submetida aos aliados, que instituíram o Tribunal de Nuremberg para julgar os vencidos de guerra.” Além disso, o Tribunal elogiara os serviços prestados pelos advogados em condições que os juízes entendiam ser extremamente difíceis e notificara, oficialmente, o Comando Militar Aliado na Alemanha de que os advogados de defesa se encontravam sob a proteção do Tribunal e que a Corte não toleraria quaisquer outros ataques públicos ou pela imprensa que lhes fossem dirigidos. Na verdade, a linha de defesa dos advogados alemães resumiu-se nas 400 sessões públicas do Tribunal de Nuremberg, em adotar uma posição que protegesse o homem comum da Alemanhae defendesse a reputação do país. Frustrados por não poderem lastrear-se em argumentos mais jurídicos, lutaram por expungir da Alemanha a mácula de culpa coletiva, no que despenderam, com louvor e admiração pública, um esforço sobre-humano. 21 O Processo Penal em um Estado Democrático de Direito funciono como um meio necessário de garantia dos direitos do acusado. Não é apenas um instrumento de efetivação do Direito Penal, mas, verdadeiramente, um instrumento de satisfação de direitos humanos fundamentais e, sobretudo, uma garantia contra o arbítrio do Estado. Assim, a norma processual, ao lado de sua função de aplicação do Direito Penal (que é indiscutível), tem a missão de tutelar aqueles direitos previstos nas constituições e nos tratados internacionais. Exatamente por isso, o processo penal de um país o identifica como uma democracia ou como um Estado totalitário. Observando o sistema acusatório é o que melhor encontra o respaldo em uma democracia, pois distingue perfeitamente as três funções essenciais em uma ação penal, a saber: o julgador, o acusador e a defesa. Tais sujeitos processuais devem estar absolutamente separados, no que diz respeito às respectivas atribuições e competência, de forma que o julgador não acuse, nem defenda, preservando a sua necessária e inafastável imparcialidade, o acusador não julgue e o defensor cumpra a sua missão constitucional de exercer a chamada defesa técnica. E uma discussão mediante a um fator mais subjetivo, que seria o da coerência de se julgar pessoas que eram apenas parte de um sistema e que atendiam aos comandos a qual eram submetidas, isto é, aqueles que eram servos obedientes às ordens impostas pelo patrão, até porque se assim não fizessem, cometeriam o crime de ir contra o regime nazista. Lembrando que os acusados são chefes do regime nazista, neste caso outros irão dizer que os réus eram justamente aqueles que impunham ordens, para que outros a executassem, e que por isso deveriam ser julgados, pois foram realmente os responsáveis pelos crimes em questão, já que eram autoridade, eles davam as ordens. O Artigo 5º da Constituição Federal de 1988, em seu inciso XXXVII, é muito claro ao afirmar “que não haverá juiz ou tribunal de exceção”. E qual seria o grande problema dos tribunais de exceção O primeiro e mais claro é que eles geralmente não são imparciais, como exemplo, o de Nuremberg, cuja criação foi ideia dos países vencedores para “julgar” os perdedores da guerra. Outro problema é que a pessoa, ao ser julgada por um tribunal de exceção, perde algumas das outras garantias do processo, como a do duplo grau de jurisdição e do juiz natural. Observar o Tribunal de Nuremberg possui um lado positivo e outro negativo. Falando do positivo, esse tribunal certamente foi pioneiro na intenção de se julgar 22 um grande crime internacional, isto é, ele foi, sob este prisma, uma forma de mostrar ao mundo que determinadas atrocidades não seriam mais aceitas, e isso fez com que se criassem tribunais como no caso da Iugoslávia e Ruanda, e também, o Tribunal Penal Internacional Permanente, que possui basicamente todos os requisitos legais para tal tarefa. E o lado negativo desse ato histórico, sem dúvida, há de se constatar que a forma com a qual ele procedeu, principalmente por definir determinados atos como crimes depois que eles já tinham acontecido, ou seja, não havia tipificação de crimes e, portanto, abstraindo concepções ideológicas e humanitárias, não havia possibilidades jurídicas de condenação por eles, ofendeu determinadas garantias que ferem o princípio do devido processo legal. A identificação da função do processo penal no Estado Democrático de Direito precisa perceber que o Estado brasileiro detém a titularidade exclusiva do jus puniendi, ou seja, quando há violação de uma norma penal só ele tem o direito e a obrigação de aplicar uma sanção previamente estabelecida, investigar e punir o transgressor da norma, como forma de proteger a sociedade e, principalmente, aquele que está sendo acusado. Essa exclusividade revela que o monopólio do poder de punitivo, ou melhor, a concentração nas mãos do Estado da aplicação da pena estatal, sendo vedada à vingança privada. Tal função do Estado é também denominada de princípio da necessidade do processo penal em relação à pena, pois quando há uma transgressão do ordenamento jurídico-penal impõe utilização do processo penal em que, mediante a atuação de um terceiro imparcial, cuja designação não corresponde à vontade das partes e resulta da imposição institucional, será apurada a existência do delito e sancionado o autor. Diversamente do que ocorre no Direito Civil, somente o magistrado, através de um processo, tem a autorização soberana estatal para estabelecer o resultado jurídico pena, pois não há como se conceber a aplicação de uma pena sem um processo penal prévio. Isso porque, se no direito privado os sujeitos podem praticar determinados atos jurídicos, como elaboração de contratos, compra e venda de imóveis, sem a necessidade de uma intervenção direta do Estado, no Direito Penal é imprescindível que o Estado realize unicamente o percurso que levará o acusado a se tornar um condenado. Outra característica do processo penal revelada é a instrumentalidade, pois é devido à proeminência de que todo exercício de repressão no processo penal 23 importa em uma das intervenções mais drásticas nos direitos fundamentais do acusado, que se defende o processo penal como instrumento de efetivação da democracia. O que se pretende, é compreender o fenômeno do sistema punitivo como um todo, porque é o processo penal quem mais sofre com a expansão do sistema punitivo. O processo penal é algo imediato, que não necessita esperar o trânsito em julgado para restringir as garantias do acusado, enquanto o direito penal é mais lento, estático e mediato. Por conta disso, essa abordagem é essencial para reforçar a ideia de que o processo penal tem a função de garantir os direitos fundamentais do acusado, e isso só pode ocorrer por meio do sistema acusatório, que foi devidamente adotado pela Magna Carta. Deve servir para conter toda essa construção de processo penal do inimigo, de selecionar quem e quando punir, de eleger o criminoso como sendo alguém advindo de uma classe social desfavorecida economicamente. A função do processo penal é servir como instrumento efetividade do Estado Democrático de Direito, por meio de mecanismos que irão obstar a onda punitiva estatal, seja utilizando os princípios constitucionais ou os elementos do sistema acusatório. 24 CONCLUSÃO Partindo do fato que o direito não é uma ciência exata, é de grande relevância pontuar o contexto em que o julgamento estava inserido, pós II Guerra Mundial. Conquanto no aspecto jurídico, conforme apresentado, não tenha características de legítimo, se julgá-lo como uma forma de correção pedagógica para o mundo, discerne-se que é válido. Desse modo, diante da pesquisa realizada, constatou-se que de fato, o tribunal de Nuremberg foi um Tribunal de exceção, visto que os juízes foram escolhidos pelos vencedores sem absolutamente qualquer critério prévio e, além disso, o tribunal foi extinto após proferirem as sentenças aos réus. Outro fator de grande relevância foi o fato de que a defesa foi amplamente prejudicada, desde a dificuldade de conciliação dos sistemas jurídicos que eram diferentes, haja vista que a Corte se compunha de cinco nações diferentes. Os advogados não obtiveram tempo necessário para a preparação da defesa, tampouco poderiam utilizar de questão de política internacional. Fato este que se reveja extremamente injusto do ponto de vista jurídico, pois, conforme verificado em diversas fontes de pesquisa para o referido trabalho acadêmico, notou-se flagrantesilegalidades ocorrida no Tribunal de Nuremberg em desfavor dos réus, com criações de leis totalmente prejudicais, e muito menos dando beneficio aos acusados de que qualquer de suas sentenças fossem revistas. Vale destacar que, para um Tribunal ser considerado justo e moralmente correto, ele deve, antes de tudo, dar garantias às partes envolvidas, o que é possível observar através do respeito aos princípios fundamentais de direito, sendo ainda, mais importantes tais garantias quando se trata de processo penal onde o bem jurídico em pauta é o próprio ser humano. Muitas críticas surgiram dos opositores, tendo como principal a ausência de leis de guerra, o que contrariava o princípio de que não há crime nem pena sem lei anterior que o defina, bem como o princípio da retroatividade, visto que as leis foram criadas após o advento da Segunda Guerra Mundial. Alegando, tratar-se de um julgamento dos vencedores contra os vencidos. O argumento de que o Tribunal de Nuremberg seria o exemplo ao mundo que barbáries contra a humanidade não seriam mais toleradas, é definitivamente válida. Entretanto o que se questiona é a presença da URSS como acusador e juiz, uma 25 vez que os soviéticos foram responsáveis por iniciar as agressões nazistas juntamente com a Alemanha além de ter cometido diversas barbáries nos territórios da Polônia, Finlândia e Países Bálticos. Em uma análise geral, o Tribunal de Nuremberg teve grande importância ao levantar o debate internacional a respeito da culpabilidade de Estados soberanos e a punição de indivíduos por atos de Estado. Importante pontuar, ainda, como marco de um novo sistema jurídico internacional, no qual a guerra deveria ser definitivamente excluída, crimes contra a paz e, principalmente, crimes contra a humanidade passaram a ser considerados inaceitáveis. Posto isto, o Tribunal de Nuremberg foi o embrião para que se criasse a Organização das Nações Unidas que na atualidade possui a finalidade manter a segurança e a paz mundial, promover os direitos humanos, auxiliar no desenvolvimento econômico e no progresso social, isto é, empregar no sentindo amplo e integral o conceito da palavra justiça. A influência e os efeitos que o Tribunal Militar Internacional trouxe para o mundo no que diz respeito consolidação internacional dos direito humanitários, isto é, a institucionalização de um conjunto de normas que dariam as bases para todo um novo sistema jurídico internacional. Desta forma, com os argumentos aqui discutidos fica claro que a intenção dos aliados ao criarem o Tribunal não era só mostrar a inaceitabilidade dos atos nazistas e a criação de um precedente jurídico para a criação de novas cortes e tratados internacionais, mas havia também todo um jogo político de afirmação de poder e vingança. Assim, faz-se necessário destacar que a Constituição Federal do Brasil de 1988 adota em seu texto a negativa de que não haverá juiz ou tribunal de exceção, sendo, portanto, inadmissível sua violação, supressão, ou desrespeito à sua prevalência em relação às normas infraconstitucionais. Por fim, fica evidente que partindo de uma visão crítica a respeito da moral e da política envolvidas no Tribunal, nos deparamos com diversas contradições, hora revoltantes, hora aceitáveis frente à necessidade de se punir os criminosos e de se criar um precedente jurídico que desse fundamento aos Direitos Humanitários que surgiu num novo mundo de Direitos e Relações Internacionais, de forma que a técnica-jurídica e a justiça foram deixadas de lado para que entrasse em cena um julgamento político-moral e até mesmo uma espécie de processo inquisitório onde 26 os vencedores estipularam as regras, e os vencidos pouco puderam fazer para se defender. 27 REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA FERREIRA,Walace. Notas críticas sobre o Tribunal Militar Internacional de Nuremberg. Disponível em: Acesso em: 09 de jun de 2020. GOMES, Luiz Flavio. Há diferença entre neutralidade e imparcialidade do juiz? 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Acesso em: 09 de jun de 2020 MELO, Matheus Barbosa. A interpretação das lacunas no direito penal e processual penal. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/68235/a-interpretacao- das-lacunas-no-direito-penal-e-processual-penal. Acesso em: 07 de jun de 2020 PUPO, Sergio Tadeu. O tribunal de Nuremberg: Entre o Positivismo e o Jusnaturalismo. Disponível em: http://www.publicadireito.com.br/artigos/?cod=c7b4bb942f0b5d48. Acesso em: 09 de jun de 2020. TORRANO, Bruno. O positivismo jurídico legitimou o nazismo?. Disponível em: http://www.justificando.com/2014/12/14/o-positivismo-juridico-legitimou-o-nazismo/. Acesso: 08 de jun de 2020. TORRANO, Bruno. O direito não é o que você pensa ser justo. Disponível em: https://www.conjur.com.br/2016-fev-11/bruno-torrano-direito-nao-voce-pensa-justo. 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