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FILOSOFIA e ÉTICA – parte 02 Profa. Si lvânia Sottani si lvania.sottani@estacio.br A FILOSOFIA DE KANT Para Kant, não existe bondade natural. Por natureza, diz Kant, somos egoístas, ambiciosos, destrutivos, agressivos, cruéis, ávidos de prazeres que nunca nos saciam e pelos quais matamos, mentimos, roubamos. É justamente por isso que precisamos do dever para nos tornarmos seres morais. A FILOSOFIA DE KANT Não somos seres morais apenas. Também somos seres naturais, submetidos à causalidade necessária da Natureza. Nosso corpo e nossa psique são feitos de apetites, impulsos, desejos e paixões. Nossos sentimentos, nossas emoções e nossos comportamentos são a parte da Natureza em nós, exercendo domínio sobre nós, submetendo-se à causalidade natural inexorável. Quem se submete a eles não pode possuir a autonomia ética. A NATUREZA HUMANA A Natureza nos impele a agir por interesse. Este é a forma natural do egoísmo que nos leva a usar coisas e pessoas como meios e instrumentos para o que desejamos. Além disso, o interesse nos faz viver na ilusão de que somos livres e racionais por realizarmos ações que julgamos terem sido decididas livremente por nós, quando, na verdade, são um impulso cego determinado pela causalidade natural. Agir por interesse é agir determinado por motivações físicas, psíquicas, vitais, à maneira dos animais. Visto que apetites, impulsos, desejos, tendências, comportamentos naturais costumam ser muito mais fortes do que a razão, a razão prática e a verdadeira liberdade precisam dobrar nossa parte natural e impor-nos nosso ser moral. Elas o fazem obrigando-nos a passar das motivações do interesse para o dever. Para sermos livres, precisamos ser obrigados pelo dever de sermos livres. (....) KANT E MORAL: o uso prático da Razão Nossa razão não é somente teoria e conhecimento, mas também prática. A razão vai analisar nossas ações através da moral. Para Kant uma vida moral é possível se a razão estabelecer de forma racional a forma como devemos nos conduzir. A razão tem que criar leis morais objetivas, ou seja, que valham para ser aplicadas por qualquer ser racional. Seguindo esses argumentos Kant desenvolveu o Imperativo Categórico: “Age de tal maneira que o motivo da tua ação possa ser universal”, ou seja, minha ação vai ser moral se todas as pessoas puderem agir da mesma forma. KANT E MORAL: o uso prático da Razão No seu uso prático, a razão não deve atuar apenas a partir do sensível, mas a partir de princípios necessários e universais, os imperativos categóricos (princípios que são válidos para todo ser racional), libertos dos entraves subjetivos advindos da nossas experiências/sensibilidade. A MORAL, assim, deve ser guiada por determinações a priori, sem atender a inclinações particulares, e só é possível se existe LIBERDADE. Um imperativo seria qualquer proposição que declara uma determinada ação como necessária. Imperativos categóricos O dever, afirma Kant, não se apresenta através de um conjunto de conteúdos fixos, que definiriam a essência de cada virtude e diriam que atos deveriam ser praticados e evitados em cada circunstância de nossas vidas. O dever não é um catálogo de virtudes nem uma lista de “faça isto” e “não faça aquilo”. O dever é uma forma que deve valer para toda e qualquer ação moral. Essa forma não é indicativa, mas imperativa. O imperativo não admite hipóteses (“se… então”) nem condições que o fariam valer em certas situações e não valer em outras, mas vale incondicionalmente e sem exceções para todas as circunstâncias de todas as ações morais. Por isso, o dever é um imperativo categórico. Ordena incondicionalmente. Não é uma motivação psicológica, mas a lei moral interior." (Chauí) Imperativos categóricos Aquelas máximas que seriam aceitáveis como lei universal, podendo ser consideradas motivação adequada para a ação humana, seriam os imperativos categóricos, implicando em exigência absoluta e incondicional. Este não pode ser desobedecido, não importando as circunstâncias, sendo um fim em si mesmo, ou seja, nenhuma outra finalidade pode justificar a desobediência e o imperativo categórico não carece de qualquer outra justificação. É, pois, princípio da universabilidade. Diferente dos imperativos hipotéticos, que tem aplicação quando desejamos atingir algum fim/finalidade determinados. O imperativo é hipotético pois, uma vez que o agente não tenha interesse em realizar aquele fim, ou não esteja disposto a ação necessária para realiza-lo, não existe qualquer obrigação de segui-lo. É, neste sentido, facultativo e condicionado a nossas inclinações. KANT E MORAL: o uso prático da Razão O grande desafio de Kant, que determinou o objetivo de seu trabalho, foi o de apresentar um sistema moral que pudesse escapar dos aspectos subjetivos do utilitarismo. A maximização do bem para os envolvidos, premissa utilitarista, é irrelevante do ponto de vista daqueles que preocupam-se com a maximização do bem, ou do resultado positivo, apenas para si mesmos, sem importar-se com as demais pessoas. Por isto, a fim de persuadir a ação moral deve ser base para julgamentos morais contra as outras pessoas, seria preciso ir além do nível dos imperativos hipotéticos, que são subjetivos, uma vez que dependem do fim que se almeja atingir. Era preciso buscar um sistema moral deontológico baseado no imperativo categórico e suas exigências, uma forma de sistema moral que estivesse para além da subjetividade e pudesse ser aplicado universalmente. Imperativos categóricos Ainda, sob as condições do imperativo categórico, devemos aceitar que o valor moral de uma ação deriva-se de sua máxima e não por suas consequências. Em outras palavras, para determinar a moralidade de uma ação devemos considerar os motivos do agente e não as consequências da ação promovida por ele. EXEMPLO: Delação premiada: entrego os demais envolvidos em um crime porque é moral fazer isso ou apenas com vistas a um uso utilitário (redução da minha pena)? RISCO DO UTILITARISMO UTILITARISMO – STUART MILL "O utilitarismo é uma doutrina ética defendida principalmente por Jeremy Bentham e John Stuart Mill que afirma que as ações são boas quando tendem a promover a felicidade e más quando tendem a promover o oposto da felicidade. Filosoficamente, pode-se resumir a doutrina utilitarista pela frase: Agir sempre de forma a produzir a maior quantidade de bem-estar (Princípio do bem-estar máximo). Trata-se então de uma moral eudemonista, mas que, ao contrário do egoísmo, insiste no fato de que devemos considerar o bem-estar de todos e não o de uma única pessoa. Antes de quaisquer outros, foram Jeremy Bentham (1748-1832) e John Stuart Mill (1806- 1873) que sistematizaram o princípio da utilidade e conseguiram aplicá-lo a questões concretas “sistema político, legislação, justiça, política econômica, liberdade sexual, emancipação feminina, etc." IMPORTANTE: O utilitarismo, enquanto corrente filosófica, não prevê a busca por fins INDIVIDUAIS. Assistir e debater o video sobre o nihilismo de Nietzsche, Stuart Mill Assistir ao vídeo:https://www.youtube.com/watch?v=1X7bAjRhLRU HEGEL Nascido em 1770 na Alemanha, o filósofo Hegel desde sempre destacou-se em seus estudos, dedicando-se às ideias políticas e religiosas. Em meio a um contexto histórico que inclui a Revolução Francesa, em 1789, a obra do autor pode ser pensada, junto à de outros pensadores da época, influenciada pelos princípios que estavam às voltas de tal Revolução. Hegel é considerado um dos precursores do Idealismo Alemão, que inclui ideias como liberdade, igualdade e fraternidade, valores defendidos através da Revolução Francesa. Assim, os alemães elaboraram uma corrente filosófica que pudesse apontar as diferenças entre o que gostariam de viver (ideais) e a situação que realmente viviam na época. A HISTÓRIA É MOVIMENTO Ética em HEGEL "Hegel critica Rousseau e Kant por dois motivos: 1. Em primeiro lugar, por terem dado atençãoà relação sujeito humano-Natureza (a relação entre razão e paixões), esquecendo a relação sujeito humano-Cultura e História. 2. Em segundo lugar, por terem admitido a relação entre a ética e a sociabilidade dos seres humanos, mas tratando-a a partir de laços muito frágeis, isto é, como relações pessoais diretas entre indivíduos isolados ou independentes, quando deveriam tê-la tomado a partir dos laços fortes das relações sociais, fixadas pelas instituições sociais (família, sociedade civil, Estado). As relações pessoais entre indivíduos são determinadas e mediadas por suas relações sociais. São estas últimas que determinam a vida ética ou moral dos indivíduos. Ética em HEGEL Somos, diz Hegel, seres históricos e culturais. Isso significa que, além de nossa vontade individual subjetiva (que Rousseau chamou de coração e Kant de razão prática), existe uma outra vontade, muito mais poderosa, que determina a nossa: a vontade objetiva, inscrita nas instituições ou na Cultura. Ética em HEGEL A vontade objetiva – impessoal, coletiva, social, pública – cria as instituições e a moralidade como sistema regulador da vida coletiva por meio de mores, isto é, dos costumes e dos valores de uma sociedade, numa época determinada. A moralidade é uma totalidade formada pelas instituições (família, religião, artes, técnicas, ciências, relações de trabalho, organização política, etc.), que obedecem, todas, aos mesmos valores e aos mesmos costumes, educando os indivíduos para interiorizarem a vontade objetiva de sua sociedade e de sua cultura." (Chauí) Filosofia Política em Hegel O indivíduo é sempre, portanto, SOCIAL. Crítica ao liberalismo e ao individualismo, ao indivíduo atomizado. A consciência plena de mim só vem depois da consciência da coletividade. Tudo em mim é socialmente construído. A própria expressão das minhas ideias só são expressadas pela linguagem, por exemplo, que é social, é da coletividade. Família Sociedade Estado O Estado é o ABSOLUTO, aquilo que une, de forma transformadora, as esferas subjetiva (Como a família) e a sociedade (o coletivo). Eu sou Eu com os Outros, mas existe algo acima de todos nós. RISCO: defesa dos estados totalitários A razão para Hegel OBRA IMPORTANTE: Fenomenologia do Espírito (1806) Fenomenologia – ciência dos atos da consciência. ZEITGEIST: A consciência/mentalidade de uma época Importância do TEMPO: o homem é ser histórico As ideias/verdades são sempre imutáveis e universais? NÃO O ser está em constante DEVIR – o devir se dá pela dialética. A dialética não é um método, mas a própria estrutura da realidade. A razão para Hegel A constante transformação do homem também se aplica ao conhecimento por ele produzido. O conhecimento é processo histórico que não pode estar desvinculado das condições históricas que o determinaram. É também progressivo – não existem verdades eternas. A verdade está submetida à razão humana e a razão está submetida à história. Hegel e a Dialética Ao conhecer os conceitos do filósofo Hegel, é importante que você se lembre que a filosofia deste pensador está relacionada ao seu caráter dialético. A dialética demonstra os movimentos complexos e dinâmicos da realidade, estando nos objetos e nos pensamentos. O mundo real e o pensamento estão assim ligados por uma lei da contradição. O movimento constante e contraditório constitui essencialmente a dialética. Para Hegel, tal movimento é composto por três fases: • Em si –> Tese • Para si –> Antítese • Em si-para –> Síntese. Deste modo, o movimento do mundo se dá de modo em que cada sujeito limita-se a si (em si, tese), mas busca superar-se. Assim, se transforma, sendo então para si (antítese). A partir de uma nova negação, ele irá buscar novamente um novo estado, em si-síntese. Hegel e a Dialética • A essência do real é a contradição ou o choque permanente dos contrários. • TESE X ANTÍTESE: geram sempre novas sínteses. • A história vai mudando, se transformando, nessa luta de contrários. • Um movimento em espiral. Hegel e a Dialética Hegel e a Dialética • A razão e as verdades seguem esse movimento: a racionalidade vai sempre tomando novas formas. • A racionalidade posterior é sempre maior do que a racionalidade anterior. • A história é portanto, um processo. A dialética é o motor desse processo. • Gradualmente, vamos, então, expandindo a consciência. Do individual ao amplo, coletivo, social. • Assim, harmonia entre o subjetivo e o objetivo. Hegel e a Dialética O ESPÍRITO (consciência), vai se expandindo em três níveis: Cada vez que a consciência vai se ampliando, o mundo vai mudando. A CONSCIÊNCIA / IDEIA É O QUE DÁ FORMA AO MUNDO. SER PARA SI – Espírito Subjetivo/Individual: a percepção de si, a consciência sensível, o que vamos adquirindo nas nossas experiências SER PARA O OUTRO – Espírito Objetivo: exteriorização do ser; há mais ao redor do indivíduo; percepção do Outro, da Coletividade, do Social; não estamos sós. A minha consciência dá sentido ao que está ao meu redor. Ex.: A Cultura, a Moral, o Direito, a Política (instituições organizadas) SER EM-SI-PARA – o espírito ABSOLUTO - Retorno à consciência de si, reinteriorização do mundo exterior pelo Ser. Uma consciência de si integrada aos outros; percebo que há algo maior do que EU. Maior do que apenas a justaposição entre eu e os outros. IMPORTÂNCIA DA NEGATIVIDADE Dialética é conflito; é negação do estado anterior; é superar esse estado em prol do próximo. Ao compreender a Dialética em Hegel, devemos ter em mente que para o filósofo, toda a realidade é essencialmente “negativa”. Para o filósofo, a negatividade vem da natureza do mundo e do homem. Negar o estado anterior para criar um novo, trata-se de um processo constante, e é deste modo que as transformações mundiais acontecem. Segundo Andery (2006), a negatividade seria então a matriz do processo de transformação contínua para toda a sociedade. “No mundo, não há progresso uniforme: o aparecimento de cada condição nova envolve um salto; o nascimento do novo é a morte do velho” (Marcuse, 1978) INTERSUBJETIVIDADE Dialética do Senhor e do Escravo. Supera a oposição entre sujeito e objeto para algo mais relacional. Processo de constituição da identidade da consciência na luta pelo reconhecimento do OUTRO. “A consciência-de-si é em-si e para-si quando e porque é em-si e para uma Outra, quer dizer, só é como algo reconhecido” Inicialmente, uma consciência visa submeter a outra, apreendê-la como objeto. Porém, para ser reconhecida pela outra, precisa considera-la como sujeito. Assim, a outra consciência é ao mesmo tempo sujeito e objeto. IDEAL: relação entre dois SUJEITOS Dialética do Senhor e do Escravo •O reconhecimento mútuo e recíproco ocorre quando os sujeitos apreendem o Outro como objeto possuidor de consciência. •As relações morais explicam o papel do Outro na formação da consciência de um indivíduo. Ele só se torna um sujeito na medida em que é reconhecido como tal pelo outro, ou seja, pelas outras consciências. •Para o que o reconhecimento do sujeito aconteça, ele não pode apreender o Outro apenas como objeto, mas também como consciência. •Para Hegel o desenvolvimento da dialética se faz através do embate e da superação das contradições e a relação entre o Sujeito e o Outro também se dá de forma dialética. •A consciência-de-si (sujeito) precisa ser uma Consciência para um Outro. A consciência-de-si só é algo se for assim reconhecida. HEGEL E A PSICOLOGIA Hegel concebe o ser, a partir de seus pensamentos, em um sujeito que está sempre em movimento, estando em processo constante, que não retira quem ele é, mas é exatamente o processo contraditório que o orienta e desenvolve. O verdadeiro ser seria então um ser em movimento. Através de suas potências, o ser pode se desenvolver, apresentando então novas possibilidades. Algo negativo é deixado e inicia-se então a busca pelo novo. Assim ocorre o desenvolvimento do individuo e da históriapara o pensador. CONEXÃO Para a Psicologia, o indivíduo pode transformar-se, através de suas potências e possibilidades. Algumas vertentes da Psicologia se utilizam de alguns recursos que se baseiam nesses conceitos. Deste modo, torna-se possível tratar o sujeito, que busca a psicoterapia ou a análise para seu desenvolvimento e resolução de conflitos. HEGEL E A PSICOLOGIA Assim, rompe-se, com Hegel, a ideia de que uma coisa só pode ser ela mesma e que, ao transformar-se, perde sua identidade para jamais ser recuperada. O ser é, fundamentalmente, um vir-a-ser, que mantém sua identidade, mas dentro de um processo contraditório de constante negação. Ou seja, constante movimento. O modo como me apresento em determinado momento não é meu ser, mas meu modo temporal/histórico de existir. Todo estado de existência deve ser ultrapassado. Nada é imutável ou definitivo. HEGEL E A PSICOLOGIA “Não há nada no céu e na terra que não contenha, ao mesmo tempo, o ser o nada” Para que algo possa ser, deve passar a ser o que não é. Deve negar algo, abandoná-lo (NADA) para um novo SER. Assim, todo ser contem em si o próprio ser e o seu oposto, o NADA. O terceiro momento da relação entre o ser e nada é o DEVIR. Isso vale para todos os seres, inclusive para o CONHECIMENTO. SER NADA ÉTICA EM MARX Baseia-se na crítica ao modo de produção capitalista e sua maneira de conceber, pensar, agir, organizar as relações homem-natureza-sociedade. A afirmação fundante da ética marxista são as condições materiais da existência humana. A ética marxista faz a crítica da totalidade das ações e relações que sustentam o estado de opressão e exploração humana, especificamente a exploração do trabalho. ÉTICA EM MARX A ética marxista parte da compreensão da realidade na sua dinâmica, contradições e interesses sociais, econômicos. Parte-se da constatação que o modo de produção capitalista, pela sua lógica interna de exploração e por suas implicações e mazelas históricas provoca a desumanização do homem e da sociedade, como a fome, as guerras, as legiões de refugiados, a exploração do trabalho, a produção destrutiva, a exclusão de grande parte dos seres humanos do processo de produção e apropriação das condições materiais fundamentais de existência. MATERIALISMO HISTÓRICO Não é a consciência que determina a vida material, mas a vida material que determina a consciência. ▪todas as coisas naturais ou históricas não são fatos estáticos, acabados, mas em movimento. ▪todas as coisas naturais ou históricas construídos a cada momento, sempre em transformação, logo historicamente determinados. ▪são as condições materiais instituídas pela sociedade que propiciam ao ser humano sua consciência: pensar desta ou daquela maneira O capitalismo transforma tudo em mercadoria ÉTICA EM MARX Assim, é a existência social dos homens que determina sua consciência, mas igualmente são os homens mesmos que transformam as circunstâncias. Por isso, a ética marxista não parte de conceitos abstratos, especulativos, mas das condições materiais de vida dos indivíduos humanos, ou seja, os conceitos éticos, filosóficos como a liberdade, a consciência, a responsabilidade humana, a emancipação só podem ser entendidos pela compreensão da base material social e histórica na qual surgem. Portanto, a ética, do ponto de vista marxista, é uma investigação crítica, racional, imanente do processo histórico-social de produção e reprodução das ações humanas, na sua totalidade, no sentido de descobrir, elucidar os fundamentos materiais, sociais e históricos que condicionam e determinam suas ações humanas concretas, efetivas. Burguesia X Proletariado burguesia proletariado RELAÇÕES DE: Dependência (base para o topo) Exploração (topo para a base) A distribuição desigual dos meios de produção BURGUESIA X PROLETARIADO LUTA DE CLASSES A luta de classes, na perspectiva materialista da história, relaciona-se diretamente à mudança social, à superação dialética das contradições existentes. Daí a luta de classes ser considerada o Motor da História, a responsável pelas transformações sociais. LUTA DE CLASSES São os homens que transformam as circunstâncias materiais e históricas. Mas, quem seria esse homem? Eles encontram no trabalhador o homem concreto, histórico, social, aquele que vive e sofre toda forma de alienação, opressão e exploração. É este homem que, na sua efetiva condição de desumanização, tem a missão histórica de ser sujeito da auto-emancipação e da emancipação humana universal. A ética marxista é uma ética de classe, forjada sob o ponto de vista da classe trabalhadora. A transformação do homem e da sociedade não se efetivará como aspiração e sonho sem base concreta, mas como possibilidade histórica real no sentido de avançar para além das determinações e condicionamentos do modo de produção capitalista, mediante concepções teóricas e ações concretas específicas como a educação revolucionária da classe trabalhadora. CONSCIÊNCIA DE CLASSE Contudo, para que os explorados possam empreender a luta de classes, é preciso que tenham o que Marx chamava de consciência de classe, ou seja, que se percebam como partes (indivíduo) de um todo (classe). Dessa forma, a consciência de classe possibilita a união dos grupos mais explorados na sociedade em diferentes instituições (partidos políticos, sindicatos, movimentos sociais) buscando a transformação do quadro de exploração, que é, a seu ver, estrutural no sistema capitalista. LEITURA RECOMENDADA: “A ética marxista: aproximações conceituais, perspectivas políticas e educacionais” Antonio Carlos Souza - https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rfe/article/view/8651032/17342 https://periodicos.sbu.unicamp.br/ojs/index.php/rfe/article/view/8651032/17342 PRÁXIS x ALIENAÇÃO É um conceito central no pensamento de Marx. A Práxis não se confunde com a prática. A Práxis é a união da interpretação da realidade (teoria - conhecimento científico) à prática (realização efetiva, atividade), em outras palavras, é a ação consciente do sujeito na transformação de si mesmo e do mundo que o cerca. É por meio da práxis que se dá o combate à ALIENAÇÃO, permitindo não apenas interpretar o mundo, mas transformá-lo. Como mostrado na famosa canção de Geraldo Vandré ? “quem sabe faz a hora, não espera acontecer?.” “Os filósofos se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é transformá-lo”. (Karl Marx) ÉTICA EM MARX “superação do estado atual de coisas” (MARX; ENGELS, 2002, p. 32) e da construção de um novo modo de produção, de novas relações sociais, de uma nova sociedade, “da emancipação humana universal” (MARX, 2004, p. 89). “É ético o que serve para destruir a velha sociedade exploradora, para unir os trabalhadores em classe, produtora da nova sociedade”. Se consideramos que são os homens que produzem, sob determinadas condições objetivamente dadas, a realidade, os complexos valorativos que tais homens erigem e constituem são igualmente frutos de suas aspirações, perspectivas teóricas e práticas. Daí que, uma análise ética, nesta perspectiva, não se restringe a abstrações, imaginações e, portanto, a reflexão ética produz teorias, conceitos, mas parte de ações concretas, da “práxis” como categoria central da filosofia que se concebe ela mesma não só como interpretação do mundo, mas também como guia de sua transformação ÉTICA EM MARX A Crítica às Visões Transcendentais / Religião: • interferência da religião no processo de construção e desenvolvimento histórico material e espiritual do ser humano; • a consideração da religião como um dos esteios em que se apoia a ordem social e política dominante, isto é, sua relação com os poderes econômicos e políticos estabelecidos; • as causas históricas que explicam as razões pelas quais as condições e relações sociais tornam a religião indispensável à existência humana; • a influência social da religião e a sua relaçãocom a classe trabalhadora; • a prática moral de natureza religiosa como expressão do individualismo; • a crítica à ineficácia do discurso cristão do amor, da fraternidade universal. A Crítica às Visões Transcendentais / Religião: Do ponto de vista das relações entre o homem e a divindade, a religião se caracteriza: pelo sentimento de dependência do homem com respeito a Deus; pela garantia de salvação dos males terrenos que a religião oferece ao homem no outro mundo. Esta caracterização aplicada, sobretudo, ao cristianismo significa: a afirmação de Deus como verdadeiro sujeito e a consequente negação da autonomia do homem; a transposição da verdadeira libertação do homem para um mundo transcendente, ultraterreno, que somente se pode alcançar depois da morte. (SÁNCHEZ VÁZQUEZ 1998, p. 70) Dentre as críticas à ética de fundamento religioso, Marx e Engels se referem especificamente do cristianismo, devido a sua influência social, o seu caráter mistificador, de ocultação da exploração humana. Ao invés da atitude de denúncia e proposta de superação da exploração, a religião apela para o além-transcendental para proclamar a ressignificação e a conformidade do presente. Assim, a paciência, a aceitação, a humildade, diante do sofrimento presente transforma-se em virtude e na mediação necessária para a salvação futura. Ou seja, o oposto da luta de classes. Marx denuncia que “os princípios sociais do cristianismo pregam a necessidade de uma classe dominante e outra oprimida e para esta última só tem o desejo piedoso de que a primeira seja generosa” (MARX; ENGELS, 1976, p. 95). A Crítica às Visões Transcendentais / Religião: A religião é uma das formas de opressão espiritual que pesa em toda a parte sobre as massas populares esmagada pelo seu perpétuo trabalho para outros, pela miséria e pelo isolamento. A impotência das classes exploradas na luta contra os exploradores também gera tão inevitavelmente a fé em uma vida melhor além-túmulo, como a impotência dos selvagens na luta contra a natureza gera a fé em deuses, diabos, milagres, etc. Àquele que toda a vida trabalha e passa miséria a religião ensina a humildade e a paciência na vida terrena com a esperança da recompensa celeste. E àqueles que vivem do trabalho alheio a religião ensina a beneficência na vida terrena, propondo-lhes uma justificação muito barata para toda sua existência de exploradores e vendendo-lhes a preços módicos bilhetes para a felicidade celestial. “A religião é o ópio do povo”, afirma Marx. Ética: Ruptura com o Capitalismo Neste sentido, só podemos falar de progresso histórico se a este acompanhar um progresso moral. No modo de produção capitalista isto não ocorre, pois não há correspondência entre o desenvolvimento técnico-científico e sua apropriação material, pois numa mesma sociedade nem todos os indivíduos participam da produção e apropriação dos bens produzidos. Assim, o progresso histórico realiza-se mediante a exploração, a opressão nas relações sociais. Por isso, é impossível para o modo de produção capitalista criar as condições de adequação entre progresso histórico-social e progresso moral. O marxismo defende, como moral do futuro, a moral da classe trabalhadora, pois esta classe, pela sua consciência e ação, pode abolir a alienação humana, pois é a classe a vivê-la e a sofrê-la na sua forma mais perversa. Só a classe trabalhadora pode libertar a sociedade e o homem libertando-se a si próprio, criando novos valores. Mas a classe trabalhadora não é identificada como um ser eticamente superior, mas aquela classe social que, elevada à desumanização mais extrema, tem uma missão histórica. O proletariado pode e deve libertar- se a si mesmo. Ora, ele não se pode libertar sem abolir as suas próprias condições de vida ÉTICA EM MARX E, se a história é um movimento de superação, então é preciso superar o egoísmo e o individualismo capitalista, onde reina a hostilidade, a indiferença dos homens entre si, onde há a exploração humana por parte da classe dominante sobre os trabalhadores. A superação deste estado, como necessidade histórica, se dará no movimento revolucionário de fundamentação socialista, com a prática de novas relações sociais e produtivas. Então cessa a luta pela existência individual [...] As condições de vida que cercam ao homem e que até agora o dominavam passam, a partir desse instante, sob seu domínio e seu mando, e o homem, ao converter-se em dono e senhor de suas próprias relações sociais, se converte, pela primeira vez, em senhor consciente e efetivo da natureza.(ENGELS, 1976, p. 265-266). NIETZSCHE Nietzsche coloca em suspeita de nossas maneiras de pensar, agir e sentir. A verdade nada mais é o que um valor, dentre outros, que nos orientam. A verdade pode nos induzir a erros e a atitudes não-éticas. AFINAL, PARA QUE SERVE A VERDADE? A QUEM ELA SERVE? A história do pensamento humano é a história da negação da vida, porque tenta criar VERDADES. É a história da construção de um modelo de Homem que não existe. Ou seja, crítica ao ANTROPOCENTRISMO. NIETZSCHE Nietzsche propôs uma nova abordagem sobre a genealogia moral, a formação histórica dos valores morais. As concepções morais são elaboradas pelos homens, a partir de interesses humanos. E as religiões têm papel fundamental nisso, pois impõem valores humanos como sendo produtos da “vontade de Deus”. Ele chegou à conclusão de que não existem noções absolutas de bem e mal. Afinal, se os valores morais são produto histórico-cultural, logo, também são mutáveis. Desespero, Mats Eriksson NIETZSCHE A grande crítica de Nietzsche às éticas socrática, kantiana e cristã, é a de que estas são “morais de rebanho”. O conceito de ética universal coincide com os preceitos de uma religião que tenta controlar as paixões e assim, homogeneizar os homens. A individualidade, tão valorizada por Nietzsche, acaba sendo diluída no meio do rebanho. Nietzsche busca a “transmutação de todos os valores”, questionando o conceito de bem e mal em busca de novos valores “afirmativos da vida”, como a vontade, a criatividade e o sentimento estético. NIETZSCHE A moral racionalista foi erguida com finalidade repressora e não para garantir o exercício da liberdade; a moral racionalista transformou tudo o que é natural e espontâneo nos seres humanos em vício, falta, culpa, e impôs a eles, com os nomes de virtude e dever, tudo o que oprime a natureza humana. Paixões, desejos e vontade referem-se à vida e à expansão de nossa força vital, portanto, não se referem, espontaneamente, ao bem e ao mal, pois estes são uma invenção da moral racionalista; a moral racionalista foi inventada pelos fracos para controlar e dominar os fortes, cujos desejos, paixões e vontade afirmam a vida, mesmo na crueldade e na agressividade. Por medo da força vital dos fortes, os fracos condenaram paixões e desejos, submeteram a vontade à razão, inventaram o dever e impuseram castigos para os transgressores. NIETZSCHE FORTES FRACOS Transgredir normas e regras estabelecidas é a verdadeira expressão da liberdade e somente os fortes são capazes dessa ousadia. Para disciplinar e dobrar a vontade dos fortes, a moral racionalista, inventada pelos fracos, transformou a transgressão em falta, culpa e castigo; a força vital se manifesta como saúde do corpo e da alma, como força da imaginação criadora. Por isso, os fortes desconhecem angústia, medo, remorso, humildade, inveja. NIETZSCHE A moral dos fracos é atitude preconceituosa e covarde dos que temem a saúde e a vida, invejam os fortes e procuram, pela mortificação do corpo e pelo sacrifício do espírito, vingar-se da força vital; a moral dos fracos é produto do ressentimento, que odeia e teme a vida, envenenando-a com a culpa e o pecado, voltando contra si mesma o ódio à vida; a moral dos ressentidos, baseada no medo e no ódio à vida (às paixões, aos desejos, à vontade forte), inventa uma outra vida, futura, eterna, incorpórea, que será dadacomo recompensa aos que sacrificarem seus impulsos vitais e aceitarem os valores dos fracos. A moral seria, então, uma criação dos fracos para minar a VIDA e sua POTÊNCIA nos fortes. Ou seja, uma estratégia psicológica de dominação. NIETZSCHE O poder que se estabeleceu no mundo é o poder da fraqueza. A ideia de mal ou ruim surge para atender aos interesses da MORAL DOMINANTE, dos que se julgam superiores. A moral dos senhores se afirma a partir de si mesma: EU sou bom, EU sou belo, EU sou forte. Automaticamente, cria os conceitos do que é RUIM, MAL, ERRADO. Se o OUTRO é mal, logo, eu sou BOM. SUPER HOMEM: o homem que cria a si próprio, superando-se e superando a MORAL. Ele se abre para a invenção de SI. NIETZSCHE “A sociedade, governada por fracos hipócritas, impõe aos fortes modelos éticos que os enfraqueçam e os tornem prisioneiros dóceis da hipocrisia da moral vigente; é preciso manter os fortes, dizendo-lhes que o bem é tudo o que fortalece o desejo da vida e o mal tudo o que é contrário a esse desejo.” (Chauí) NIETZSCHE VONTADE DE POTÊNCIA A vida é Vontade de Potência, mas não se pode restringi-la apenas à vida orgânica; ela está presente em tudo, desde reações químicas mais simples até à complexidade da psiquê humana (e é é no ser vivo que a vontade de potência pode se expressar com mais força). Ela é aquela que procura expandir-se, superar-se, juntar-se a outras e se tornar maior. Tudo no mundo é Vontade de Potência porque todas as forças procuram a sua própria expansão. Neste campo de instabilidade e luta, jogo constante de forças instáveis, a permanência é banida junto com a identidade: neste mundo reina a diferença. Força como superação, como constante ir para além dos próprios limites. VONTADE DE POTÊNCIA Se, em física, potência é a capacidade de realizar trabalho; na filosofia, Vontade de Potência é a capacidade que a Vontade tem de efetivar-se. Nietzsche argumenta que o homem não pode e não quer apenas conservar-se ou adaptar-se para sobreviver, só um homem doente desejaria isso; ele quer expandir-se, dominar, criar valores, dar sentidos próprios. Isto significa ser ativo no mundo, criar suas próprias condições de potência. É um efetivar-se no encontro com outras forças. Para Nietzsche, a Potência é aquilo que quer na Vontade. E o que é a potência? É um eterno dizer- sim. A potência se afirma na vontade quando diz “Sim” ao devir. É a afirmação pura de sua própria efetivação, a alegria provém da afirmação. E o sentido é o resultado destas forças. É necessário ao homem moderno apropriar-se de sua Vontade de Potência para poder voltar a criar valores. Fazer experimentações, estabelecer novas hierarquias, ultrapassar os valores de seu tempo. Só assim poderá superar a si mesmo e livrar-se da camisa de força que a sociedade colocou em si há séculos. Só a Vontade de Potência permite uma análise imanente capaz de entender o mundo sem ceder para explicações metafísicas e capaz de dar novos sentidos, superando os atuais. NIETZSCHE MÁ CONSCIÊNCIA: instintos reprimidos que não podem se exteriorizar e então fazem o homem voltar-se contra si mesmo. Eu devo: CULPA. MÁ CONSCIÊNCIA A culpa e a má consciência são consequências diretas do ressentimento e inversão dos valores. A cultura existiria primariamente para dobrar o homem, moldar sua consciência, criar um ponto de apoio onde ele poderia subir e superar-se. Contudo, ela permitiu que a erva daninha da má consciência crescesse e se espalhasse. A dor, antes externa e parte do processo se tornou algo interno e motivo de vergonha. O homem é um animal que foi quebrado, sua cultura é pesada demais para ele carregá-la em seus ombros; como um camelo ele se esforça para levar consigo sua moral, seus deveres, suas leis e suas responsabilidades. Não há contrato social, apenas uma guerra interna dos instintos que antes se exteriorizavam. A doença da má consciência é uma desordem fisiológica. Seu resultado? O “cidadão de bem”: cômodo, conciliado, obediente, vão, sentimental, cansado. A pré-história preocupou-se com o adestramento das forças reativas; na história, inverteram-se os valores, preponderaram a fraqueza e a desordem. Resultado: o homem se tornou um plano que fracassou, uma promessa não cumprida. Ele se arrasta no tempo esperando redenção. https://razaoinadequada.com/2014/09/12/genealogia-da-moral-culpa-ma-consciencia-e-coisas-afins/ MÁ CONSCIÊNCIA Todos os instintos que não se descarregam para fora voltam-se para dentro – isto é o que chamo de interiorização do homem: é assim que no homem cresce o que depois se denomina sua ‘alma’. Todo o mundo interior, originalmente delgado, como que entre duas membranas, foi se expandindo e se estendendo, adquirindo profundidade, largura e altura, na medida em que o homem foi inibido em sua descarga para fora” – Nietzsche, Genealogia da Moral, segunda dissertação, § 16 A sociedade exige o amansamento da fera, a expansão dos instintos não tem mais vazão. É o momento da introjeção. Olhando para a vida com rancor, como uma mentira, estas forças viram-se contra si mesmas. O homem escoa agora todos os seus instintos, toda sua agressividade, para dentro. A força é interiorizada e se torna dor; a dor é interiorizada e se torna culpa. Bicho-homem interiorizado, acuado dentro de si mesmo, aprisionado no ‘Estado’ para fins de domesticação, que inventou a má consciência para se fazer mal” – Nietzsche, Genealogia da Moral, segunda dissertação, § 22 NIETZSCHE Niilismo Negativo: Aqui, nega-se o mundo em nome de outros valores. Mas o niilista engana a si próprio, ele nunca diz negar o mundo, pelo contrário, ele se diz afirmando Deus, uma utopia, o que quer que seja. Divisão de dois mundos, um debaixo: sensível, mutável, corporal, imperfeito, temporal; outro supra-sensível: imutável, ordenado, perfeito, atemporal. O niilista negativo cria outros mundos para poder suportar este. Se esta ordem terrena o faz sofrer, ele diz: “Deus é misterioso, escreve por linhas tortas“. Se o homem sofre aqui na terra ele diz: “Deus, tenha piedade de nós“. A vontade se torna doente, remete a mundos fora deste. “Não amem o mundo nem o que nele há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele” [1Jó 2:15]. Este mundo é ruim, portanto, o niilista deve provavelmente ser o escolhido de Deus (um deus dos fracos, oprimidos, que sofrem), esta é a figura do ressentimento; Niilismo Reativo: o homem capitalista não nega o niilismo negativo ele dá um passo adiante: a morte de Deus. Ah, somos todos ateus! Deus morreu porque nosso cotidiano não é mais guiado pelos preceitos divinos. Sim, matamos Deus e ele mereceu, mas agora o homem é sagrado. Viva os direitos do homem! De que adianta? O além agora é o futuro, “no dia da revolução todos serão redimidos“. Trabalhe por um mundo melhor, sirva à sociedade, faça o bem para os seus filhos. A ciência dará todas as respostas. Enfim, ainda somos religiosos, o homem matou a verdade fora deste mundo, mas ainda acredita numa verdade metafísica neste mundo, um mundo melhor por vir. Perspectiva do futuro que tira o homem do tempo, do presente. O homem apenas aguarda. Niilismo Passivo: aos poucos, a vontade de potência se esgota no niilismo, ela vaza, escoa, procura afirmar-se em outros lugares. O homem cada vez mais doente tem cada vez menos capacidade de afirmar-se. O niilismo passivo é o dos últimos dos homens (Zaratustra, parte IV). “Onde está o mar para que eu possa me afogar?“, o mar secou! As figuras anteriores tinham uma vontade de nada mas o niilista passivo passa para o nada de vontade, estamos chegando perto do fim… É aquele que prefere extinguir-se passivamente. A chama se apaga, surge a escuridão sem fim. Mortos-vivos, não encontram vida dentro de si (mesmo ela estando lá), mas ainda se movem… perdidos… entorpecidos… Niilismo Ativo: “O homem é uma criação recente cujo fim talvez esteja próximo” (Foucault). Quando as forças de negação atingem o seu limite, elas chegam do outro lado. O niilismonega a si mesmo, há um rompimento. Encontramos então alguém que quer perecer, ser ultrapassado, morrer, sim, e para isso ele faz da vontade de potência uma negação das próprias forças reativas. Se destruir ativamente! Destruir o niilismo dentro de si! Como podemos acelerar a roda do devir? Negando as forças de negação. O que vem depois do homem moderno? O que está além do homem? Não foi Nietzsche quem matou Deus, foi o homem moderno, Nietzsche é o filósofo da morte do homem! Para que? Para criar novos valores! Só é escapar destes valores humano, demasiado humanos, criando novos; o maior perigo do homem, no fim das contas, sempre foi o próprio homem, criar é sempre ir para além do homem! https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/nietzsche/4-formas-de-niilismo/ https://razaoinadequada.com/2015/11/11/niilismo-negativo-platonismo-e-cristianismo/ https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/nietzsche/ressentimento/ https://razaoinadequada.com/2015/11/25/niilismo-reativo-a-falsa-morte-de-deus/ https://razaoinadequada.com/2013/05/03/deus-esta-morto/ https://razaoinadequada.com/2016/02/17/niilismo-passivo-nada-de-vontade/ https://razaoinadequada.com/2016/03/02/niilismo-ativo-transvaloracao-de-todos-os-valores/ https://razaoinadequada.com/filosofos-essenciais/foucault/ https://razaoinadequada.com/2014/03/08/nietzsche-o-alem-do-homem-ou-o-super-homem/ FREUD E A ÉTICA “De fato, tanto a palavra ética quanto o termo moral dizem respeito às tentativas históricas – sempre precárias e provisórias – que as várias culturas empreendem para regular especialmente as relações sociais, visando uma vida boa e justa, tanto para os indivíduos como para a comunidade em seu todo. Todavia, se admitirmos que a palavra ética evoca a necessidade humana da Lei, de recriar no mundo da cultura uma regularidade instituída para viabilizar a convivência humana, sem que isso implique ser fiadora dos códigos morais que se cristalizam numa determinada comunidade histórica, então poderíamos falar de uma psicanálise freudiana que se coloca certamente do lado do desejo, mas não contra a Lei, de uma psicanálise que critica o moralismo, mas não a Ética ou pelo menos certa concepção de Ética. O que fazer com os nossos desejos de vida e de morte diante das interdições de nossa cultura? O Mal-Estar na Civilização. FREUD E A ÉTICA Seu principal objetivo era o de desvendar a gênese da consciência moral e dos sentimentos éticos nos indivíduos e na sociedade. Segundo ele, tais sentimentos não são naturais ou inerentes ao espírito humano, como pensaram alguns filósofos; são criados a partir da convivência em comunidade e se justificam a partir da necessidade de domínio das forças da natureza e da agressividade humana, tendo como função regular os relacionamentos entre os homens - uma necessidade da ordem da sobrevivência da espécie. Sustenta a ideia que a civilização e a neurose têm a mesma origem, a saber, a renúncia pulsional. Uma das implicações dessa hipótese é pensar que os conflitos éticos vividos pelos pacientes são na realidade conflitos pulsionais que podem, portanto, ser tratados em análise. FREUD E A ÉTICA Do ponto de vista do inconsciente, mentir, matar, roubar, seduzir, destruir, temer, ambicionar são simplesmente amorais, pois o inconsciente desconhece valores morais. Inúmeras vezes, comportamentos que a moralidade julga imorais são realizados como autodefesa do sujeito, que os emprega para defender sua integridade psíquica ameaçada (real ou imaginaria). Se são atos moralmente condenáveis, podem, porém, ser psicologicamente necessários. De fato, a psicanálise encontra duas instâncias ou duas faces antagônicas no inconsciente: 1. o id, em busca da satisfação 2. O superego, interiorizado pelo sujeito, que absorve os valores de sua sociedade. FREUD E A ÉTICA Nossa psique é um campo de batalha inconsciente entre desejos e censuras. O id desconhece as fronteiras da sociedade, enquanto o superego só conhece suas barreiras. Vencedor, o id é violência que destrói os outros. Vencedor, o superego é violência que destrói o sujeito. A batalha interior só pode ser decidida em nosso proveito por uma terceira instância: a consciência. No caso específico da ética, a psicanálise mostrou que uma das fontes dos sofrimentos psíquicos, causa de doenças e de perturbações mentais e físicas, é o rigor excessivo do superego, ou seja, de uma moralidade rígida que produz um ideal do ego irrealizável, torturando psiquicamente aqueles que não conseguem alcançá-lo, por terem sido educados na crença de que esse ideal seria realizável. Fonte: https://sigifreud.wordpress.com/2013/11/13/a-etica-e-a-pscicanalise/ https://sigifreud.wordpress.com/2013/11/13/a-etica-e-a-pscicanalise/ FREUD E A ÉTICA Quando uma sociedade reprime os desejos inconscientes de tal modo que não possam encontrar meios imaginários e simbólicos de expressão, quando os censura e condena de tal forma que nunca possam manifestar-se, prepara o caminho para duas alternativas igualmente distantes da ética: ou a transgressão violenta de seus valores pelos sujeitos reprimidos, ou a resignação passiva de uma coletividade neurótica, que confunde neurose e moralidade. Em outras palavras, em lugar de ética, há violência; por um lado, violência da sociedade que exige dos sujeitos padrões de conduta impossíveis de serem realizados e, por outro lado, violência dos sujeitos contra a sociedade, pois somente transgredindo e desprezando os valores estabelecidos poderão sobreviver. Em suma, sem a repressão da sexualidade, não há sociedade nem ética, mas a excessiva repressão da sexualidade destruirá, primeiro, a ética e, depois, a sociedade. Fonte: https://sigifreud.wordpress.com/2013/11/13/a-etica-e-a-pscicanalise/ https://sigifreud.wordpress.com/2013/11/13/a-etica-e-a-pscicanalise/ FREUD E A ÉTICA O que a psicanálise propõe é uma nova moral sexual que harmonize, tanto quanto for possível, os desejos inconscientes, as formas de satisfazê-los e a vida social. Essa moral, evidentemente, só pode ser realizada pela consciência e pela vontade livre, de sorte que a psicanálise procura fortalecê-las como instâncias moderadoras do id e do superego. Somos eticamente livres e responsáveis não porque possamos fazer tudo quanto queiramos, nem porque queiramos tudo quanto possamos fazer, mas porque aprendemos a discriminar as fronteiras entre o permitido e o proibido, tendo como critério ideal a ausência da violência interna e externa. Fonte: https://sigifreud.wordpress.com/2013/11/13/a-etica-e-a-pscicanalise/ https://sigifreud.wordpress.com/2013/11/13/a-etica-e-a-pscicanalise/ FREUD E A ÉTICA de acordo com a proposta freudiana, os indivíduos só são capazes de aderir às normas éticas e de viver em civilização porque contam com um aparelho psíquico capaz de organizar as pulsões que devem ser renunciadas, procurando dar-lhes outros destinos possíveis. Psiquicamente, a ética é descrita por Freud (1939) como uma limitação da pulsão e está, desse modo, na origem de certas patologias psíquicas. Os dois principais meios para lidar com a pulsão que deve ser renunciada são o recalque, que freqüentemente aparece relacionado aos processos patológicos, e a sublimação, relacionada com os processos saudáveis e criativos. FREUD E A ÉTICA A Pulsão e a Sublimação A “Pulsão é o processo dinâmico que consiste numa pressão ou força que faz o organismo tender para um objetivo. Segundo Freud, uma pulsão tem a sua fonte numa excitação corporal. O seu objetivo ou meta é suprimir o estado de tensão que reina na fonte pulsional. É no objeto ou graças a ele que a pulsão pode atingir suas metas. Também a Pulsão é vista como pressão ou força. Esta é concebida como um fator quantitativo econômico, uma exigência de trabalho imposta ao aparelho psíquico […]. Um conceito-limite entre o psiquismo e o somático. Quando não recalcada, essa pulsão encontra o seu destino na sublimação. Isso pode ser simplesmente uma libertação pela distração daenergia pulsional não recalcada. Ou pode ser apenas um mecanismo de defesa do ego. FREUD E A ÉTICA Em o Mal-Estar na Civilização (1930), Freud discute a renúncia pulsional que temos de fazer como seres humanos, para que a civilização possa sobreviver. Ele se pergunta: “o que pedem eles da vida, e o que desejam nela realizar? Esforçam-se para obter felicidade, querem ser felizes e assim permanecer” (FREUD, v.XXI, p.94). Freud nos ensina que para sobreviver nesse mal-estar, cada um deve encontrar sua própria “Regra de ouro”. Alguns exemplos de sublimação como mecanismo de defesa são muito claros: Estou com raiva, logo, eu saio e vou cortar lenha. Acabo com uma pilha de lenha e passo a descontar minha raiva na lenha e ninguém mais sai ferido ou prejudicado. Uma pessoa que tem necessidade obsessiva pode ser um empreendedor de um negócio bem sucedido. Um marido que tem desejos extraconjugais pode se ocupar com reparações domésticas e situação comezinhas enquanto sua esposa estiver fora da cidade. Vejo a sublimação como o mais útil e construtivo dos mecanismos de defesa do ego, por conseguir levar a energia de algo que é potencialmente prejudicial e transformar em algo bom é útil. Freud acreditava que as maiores conquistas da civilização foram feitas pela via da sublimação. FREUD E A ÉTICA RECALQUE Freud, em seu artigo de 1915, se pergunta: “Por que uma moção pulsional deveria ser vítima de semelhante destino (recalcamento)?” Entendemos que a resposta cabível é: Porque o caminho em direção à satisfação pode acabar produzindo mais desprazer do que propriamente prazer. No que tange à satisfação da pulsão, sempre temos que levar em conta a “economia” presente no processo. Assim, se levar em conta a presença das instâncias psíquicas, poderemos notar que aquilo que dá prazer em algum lugar, bem como pode vir a ser extremamente desprazeroso em outro. Qual seria a “condição para o recalque”? Desta forma, fica estabelecida a “condição para o recalque”: é preciso que a potência do desprazer seja maior do que o prazer da satisfação. “Devemos compreender que o recalque está a serviço da satisfação pulsional e não contra ela”. FREUD E A ÉTICA O ‘mal-estar’ dos indivíduos, quando não a neurose, a doença, a hipocrisia, a revolta, em outras palavras, o conflito ético decorre do fato que os impasses entre pulsão e cultura são estruturais e não conjunturais, o que revela a intransponível situação de desamparo psíquico em que se encontra o sujeito num mundo sem deus e assujeitado às exigências da Cultura. Mesmo com todas as limitações da liberdade do sujeito (determinismo do inconsciente, forças pulsionais incontroláveis, exigências culturais excessivas), a psicanálise freudiana não é fiadora de uma moral conformista. O Ego ‘deve’ advir onde havia Id ou Superego, o que coloca a psicanálise na seqüela do pensamento iluminista: crença na autonomia da razão para investigar o mundo da physis e do ethos; a reivindicação do indivíduo ao prazer e à felicidade, a despeito e à revelia das exigências morais da tradição e da coletividade; a crença no universalismo da natureza humana. Essas não são apenas as características da Ética da modernidade, mas também da Ética freudiana (Rouanet, 1993, p.96ss). FREUD - O fenômeno religioso A religião funciona também para o psiquismo humano como função paterna, castradora, inibidora, punitiva e reguladora. Desta forma, não é nada estranho que emerjam comportamentos morais rígidos interligados às práticas e aos ideais religiosos. Assim, Freud, no artigo os atos obsessivos e as práticas religiosas (1907) faz uma analogia entre as práticas obsessivas e os cerimoniais religiosos (FREUD, 1906/2006, p. 110). Ou seja, a construção da ética e da moral também jornadeia pelos caminhos da religião, no sentido de acolher o sujeito para que o mesmo tenha algum direcionamento comportamental e, inconscientemente destine as suas energias pulsionais para atitudes e comportamentos socialmente aceitos. A esse mecanismo de escoar as energias pulsionais para fins aparentemente mais elevados Freud deu o nome de sublimação (FREUD, 1910/ 2006, p. 42). SARTRE Uma filosofia da existência consequente com seus pressupostos e seus propósitos – como é o caso de Sartre – deve obrigatoriamente considerar as implicações recíprocas entre ontologia, história, ética e política. Precedência da existência em relação à essência CONCEITOS CENTRAIS: • existência • liberdade • responsabilidade. SARTRE - LIBERDADE LIBERDADE: Sartre construiu um sistema filosófico defendendo a criatura humana naquilo que mais a dignifica: a sua liberdade de ser. Mas seu conceito de liberdade não traduz exatamente aquilo que o senso comum entende por tal questão. A liberdade para Sartre tem um sentido ontológico, isto é, o homem é intrínseca e ontologicamente livre. A liberdade surge como uma necessidade: “o homem está condenado a ser livre” – afirma Sartre. Contudo, não se trata de uma liberdade abstrata, ou de absoluta transcendência; a liberdade desponta na origem de uma consciência que está inserida no mundo e comprometida com ele por uma relação indissolúvel , ou seja, que está “em situação”. SARTRE - LIBERDADE Relação da liberdade com a responsabilidade: “É pela liberdade humana que os valores vêm ao mundo: o homem inventa os seus próprios valores. Não há, a priori, valores inscritos num céu inteligível, NÃO há um imperativo categórico universalmente válido, nem uma lei ética geral que determine as suas escolhas. O que há, é a decisão humana de criá-los. Na sua liberdade de escolha, portanto, reside o único fundamento no qual o homem pode se apegar. Não faz sentido para Sartre, o que os moralistas nomeiam como “valores universalmente válidos e logicamente necessários”. É ele que escolhe seus próprios valores. Com isso, Sartre abre a assustadora possibilidade de uma moral variável.” Leitura complementar - ÉTICA E LIBERDADE EM SARTRE: http://www.paradigmas.com.br/index.php/revista/edicoes-11-a-20/edicao-13/217-etica-e-liberdade-em-sartre http://www.paradigmas.com.br/index.php/revista/edicoes-11-a-20/edicao-13/217-etica-e-liberdade-em-sartre SARTRE – imperativos morais? Em primeiro lugar, vejamos o que significa moral para Sartre. “ Chamaremos de moral ao conjunto de imperativos, valores e critérios axiológicos que constituem os lugares comuns de uma classe, de um ambiente social ou de uma sociedade inteira”. Tais imperativos porém - apesar de manter com o homem um nexo de ligação externa assegurando seu caráter de alteridade - são, também a forma pela qual o homem se afirma como um sujeito de interioridade, autônomo e que tem por si mesmo o domínio das circunstâncias externas. O caráter de alteridade fica camufladamente substituído pela autonomia, ou seja, construímos uma falsa moral autônoma, mantendo de forma velada o aspecto heterônomo desta mesma moral Dessa forma, os imperativos e os valores - que nada mais são do que imperativos afetivos ligados à imperativos práticos - nos surgem como fórmulas tranqüilizadoras, estreitamente ligadas às possibilidades: “deves, logo podes”, afirma a moral kantiana que, com seu caráter formal e universal, negligencia, por um lado, as características contingentes da realidade humana em situação, e por outro, deixa encoberto nesta fórmula, que tal possibilidade, aí afirmada, retorna e recai incondicionalmente sobre o dever interiorizado. Este aspecto incondicional da possibilidade não leva em consideração o meu ser passado, as minhas vivências anteriores, nem as minhas reais possibilidades; estes ficam falazmente suplantados pelo imperativo do dever, cujo cumprimento fará de mim um sujeito de interioridade. SARTRE – imperativos morais? Sem dúvida alguma, tais aspectos normativos são bastante confortáveis e tranquilizadores, pois aliviam a responsabilidade pela escolha livremente assumida diante de determinada situação. Isto é, opto por certas atitudes porque as leis, os costumes, os valores impostospela sociedade assim me “obrigam”, logo não posso ser responsabilizado pelas consequências que advieram da minha escolha. Mas o fato não-desvelado é que sou eu que significo tais imposições como valores que deverão nortear as minhas decisões. É a minha consciência sempre significante que dá o sentido de valor às coisas do mundo, que em si mesmo não têm valor algum. SARTRE A vida não tem sentido algum antes de darmos sentido a ela, não há nada anterior ao ser que possa definir o que ele será. O homem não pode apenas SER. Ele precisa FAZER-SE. Noção de PROJETO: o homem só existe na medida em que se realiza. Não faz sentido perguntar sobre o sentido da vida. O homem tem que CRIAR esse sentido. SARTRE EXISTENCIALISMO ATEU: não há um criador que tenha predeterminado a essência de cada pessoa. Visão Antideterminista Visão Antideterminista O fundamento do movimento intencional não é o Eu, não é um ser e sim o Nada, uma vez que a única realidade que posso designar como consciência é o movimento para as coisas e para-si. Ora, nesse caso, a conduta interrogante também se refere a uma interrogação radical acerca do que sou, porque o campo das respostas não é o campo do ser constituído ou da realidade dada, mas sim o campo dos possíveis, aquele em que o que posso ser se constitui fora de mim, e mesmo longe de mim. POSSIBILIDADES: Todas as possibilidades nascem e crescem no futuro, e é no futuro que descobriremos se elas se podem realizar ou se frustrar, se eram promessas ou sonhos. E isso porque nenhuma delas está determinada a realizar-se: tornar-se-ão realidades na medida em que minhas escolhas e minhas ações puderem fazê-las reais, num processo em que me tenho que haver com a adversidade das coisas SARTRE- Responsabilidade LIBERDADE E RESPONSABILIDADE Deste ponto de vista, a atividade moral apresenta, segundo Sartre, dois aspectos: um aspecto relativo que supõe o homem-no-mundo, em situação e um aspecto absoluto que tem origem no próprio homem, e que diz respeito às decisões por ele tomadas em sua relação com o outro em função de sua situação. O absoluto surge, portanto como produto do relativo, e não ao contrário. É pela situação que o homem escolhe o absoluto que vai direcionar a sua escolha. Não há valores prescritos, nem receitas pré-determinadas. A cada momento e em cada situação ele inventa suas soluções e decide, pela sua liberdade, o caminho a seguir, tornando-se, assim, o único responsável pelas decisões escolhidas. E é essa responsabilidade que Sartre coloca em questão em sua conceituação filosófica. SARTRE- Responsabilidade Está implicada a interrogação constante pelo ser desse sujeito que não é, precisamente porque será o que fizer de si de acordo com suas escolhas e suas condutas, então a precedência da existência, enquanto experiência constituinte da realidade humana, só pode ser de caráter ético. Mas precisamente porque esse processo de realização é consciente, precisamente porque o sujeito é consciente de si como de algo que ele ainda não é, mas que precisa vir-a-ser, precisamente porque, não sendo determinado, esse sujeito tem de inventar a cada momento o seu ser, isto é, o significado que julga dever atribuir ao fato de existir, por tudo isso é que esse processo de tornar-se sujeito pela sucessão de suas escolhas estará sempre na dependência de um projeto existencial pautado por escolhas morais. Mundo objetivo e Subjetividade A realidade de cada sujeito existente se constitui a partir da facticidade, isto é, de um contexto de realidade objetiva, formado por fatos que o sujeito não pode escolher nem mudar. REALIDADE OBJETIVA: Ao nascer, encontro um mundo histórico já constituído que não escolhi e que não posso mudar. São determinações naturais (se nasci no deserto ou no litoral, em país frio ou tropical) e históricas (econômicas, sociais, familiares) que influirão decisivamente sobre minhas possibilidades e, portanto, sobre minhas escolhas. Não há dúvida de que elas estão, de certa forma, condicionadas por fatores sobre os quais não tenho qualquer poder. Em que isso pode ser entendido como limitação ou restrição de minha liberdade? Mundo objetivo e Subjetividade Com efeito, não posso mudar os fatos, mas o sentido que lhes atribuo depende de mim. Se o fato está fora do alcance da minha liberdade, o sentido que posso lhe atribuir – a maneira como o assumo para mim – está na esfera de minhas escolhas livres. E como é o sentido atribuído aos fatos que vai orientar minha conduta, permanece a responsabilidade pelas consequências da opção por este ou aquele sentido. Sendo o sujeito uma consciência que representa os fatos para si, conferindo-lhes significação humana e subjetiva, a determinação só pode ocorrer por via da mediação da subjetividade singular. Mundo objetivo e Subjetividade Desse modo, escolha subjetiva e determinação objetiva não se configuram como visões mutuamente exclusivas, mas devemos supor entre elas uma relação de reciprocidade que vem a ser propriamente a dialética do subjetivo e do objetivo. Sartre nos mostra um sujeito que se constitui ao mesmo tempo por meio da interiorização da exterioridade e da exteriorização da interioridade. O ser objetivo, o inteiramente constituído ou a mera exterioridade não comportariam a atividade necessária ao fazer-se do sujeito, ainda que este fazer-se inclua a passividade inerente ao ser feito. Precisamente, faço-me com o que fazem de mim porque atividade e passividade não estão em oposição analítica, mas são dialeticamente opostos. Não há ato humano (moral, político e histórico) que não se defina pelas duas dimensões, opostas e necessariamente presentes Mundo objetivo e Subjetividade A filosofia da existência é uma filosofia da ação e não da contemplação, porque é uma filosofia do processo de subjetivação e não da essência do sujeito. Se o processo de subjetivação, que não é outra coisa senão a trajetória existencial de formação do sujeito, é sempre um processo em que as escolhas se sucedem a partir da liberdade vivida nas situações históricas, então é coerente qualificar esse processo de moral, tendo em vista as opções e as eleições de valores que o constituem. Todo indivíduo está inserido na História ou no espírito objetivo tal como se manifesta determinadamente; e todo indivíduo é uma história, que em princípio pode ser desvelada e narrada como formação da subjetividade singular. Mundo objetivo e Subjetividade Deveria ficar evidente que uma ética da existência histórica não pode ser prescritiva, não pode constituir-se como um conjunto de normas fundadas em um princípio, ainda que tal princípio seja a razão imanente. Primeiramente porque qualquer prescrição é incompatível com a precedência da existência em relação à essência. Em segundo lugar, porque, a partir da visão dialética das relações entre o singular e o universal, não se pode aceitar que a ação particular e subjetiva simplesmente se submeta à norma geral e dessa tire inteiramente o seu sentido. Sempre pareceu óbvio que, se a moral supõe a responsabilidade, tem de supor também a liberdade. O existencialismo de Sartre, ao recolocar a questão, radicalizou a noção de liberdade e com isso levou às últimas consequências a ética da responsabilidade. LIBERDADE, RESPONSABILIDADE E O OUTRO: O ser humano é liberdade. O ser humano, que existe, nada mais é do que seu próprio projeto livremente escolhido, um sujeito que organiza objetos a seu redor como tentativa de realizar intentos livremente escolhidos. Com a entrada do Outro, essa liberdade sofre limitação. A concepção de mim mesmo depende, pois, da relação estabelecida com os Outros. Por estar em conexão com as infinitas possibilidades dos outros-livres, temos uma infinita e inesgotável fonte de propriedades a serem reveladas. Com o olhar do outro, pois, o homem já não é dono da situação. É dono, mas a situação passa a ter possibilidades inesperadas, não desejadas pelo homem. Essa imprevisibilidadecaracteriza, para Sartre, a condição de “Ser-no-meio-do-mundo- para-outro” EXEMPLOS: Vergonha e Orgulho – dependentes do olhar do Outro. LIBERDADE, RESPONSABILIDADE E O OUTRO: LIBERDADE E O OUTRO: “O olhar do Outro me faz experimentar a minha existência; me desperta para o fato de que há consciências para as quais eu existo” (1997: 360). Assim, pensar a indispensável existência do Outro para a formação do Mim implica evitar o solipsismo e prescindir do recurso à Deus. Essa relação Eu- Outro vai constituir, pois o projeto do sujeito, cuja busca se dá através de um processo dialético por vezes angustiante. “Sartre não se cansa de acentuar que a noção de liberdade originária envolve uma responsabilidade radical, e que a solidão em que é feita a escolha não isenta o sujeito do compromisso com a universalidade, isto é, com os outros. A invenção do valor imanente a cada ato de escolha, decorrente da inexistência de valores prévios determinantes da conduta humana, faz com que a liberdade não se dissocie nunca da responsabilidade pela afirmação de valores e critérios em cada ato livre”. LIBERDADE, RESPONSABILIDADE E O OUTRO: LIBERDADE, RESPONSABILIDADE E O OUTRO: A noção sartreana de responsabilidade faz do homem um ser inteiramente comprometido com o mundo no qual está inserido, pois, segundo tal noção, esse homem, ao escolher suas condutas, ao apresentar ao mundo suas ações e suas possibilidades, está apresentando a imagem do homem como ele julga que deve ser; uma imagem por ele escolhida e construída sobre valores por ele mesmo fundados e consciente ainda, de que o que é possível para ele, em sua liberdade, é possível também para todos os outros homens. Logo suas escolhas comprometem toda a humanidade e ele se torna com isso, não somente responsável por si, mas também responsável pela humanidade inteira. SARTRE – Angústia ANGÚSTIA ausência de fundamento da própria existência enquanto contínuo processo de escolha, constante exercício de liberdade, orientado pelo projeto existencial, que não é outra coisa senão a projeção de possibilidades que orientam precariamente o sujeito em direção a si mesmo. Angústia é um sentimento associado ao desamparo e ao desespero em que se encontra o homem no ato de decidir sua ação. Agir implica liberdade Liberdade implica responsabilidade Responsabilidade implica angústia SARTRE – Angústia ANGÚSTIA o homem, como ser consciente, está sempre querendo preencher o "nada" que é a sua essência buscando transformar-se em vez de permanecer perpetuamente num estado em que as possibilidades estão sempre irrealizadas. Essa liberdade traz consigo a angústia, já que o homem está condenado porque sem diretrizes absolutas e deve, pois, sofrer a agonia da tomada de decisão e a angústia de suas possíveis consequências. Para Sartre, age de má fé aquele que tenta fugir da angústia fingindo que não é livre. Negar a liberdade é, aos olhos do filósofo, uma tomada de posição covarde, a fim de fugir da angústia da escolha, e achar o repouso e a segurança na confortável ilusão de ser uma essência acabada. O homem não pode desculpar sua ação dizendo que está forçado por circunstâncias ou movido pela paixão ou determinado de alguma maneira a fazer o que faz. SARTRE A sujeição aos determinismos (MORAL) também é uma forma de escolher. Não importa o que me foi dado, o importante é o que eu faço com o que recebi. “O homem está condenado a ser livre.” MODERNIDADE LIQUÍDA As SOCIEDADES são formadas por uma rede de instituições destinada a garantir: • repetição de rotinas • padrões de conduta aceitáveis • justiça e conforto para todos os membros da sociedade • guiar nossa conduta de sorte que possamos nos sentir seguros em nossa relações recíprocas, ajudar-nos uns aos outros, cooperar e derivar nossa de convivência prazer não corrompido pelo medo ou pela desconfiança. • Para isso, as instituições devem limitar as escolhas individuais (qualidade e quantidade) MODERNIDADE LIQUÍDA Como fazer isso se essas sociedades não conseguem manter sua forma por muito tempo – nem se espera que o façam? SOCIEDADES LÍQUIDAS: Se dissolvem mais rápido que o tempo que leva para moldá-las e estabelecê-las. MODERNIDADE LIQUÍDA VIVEMOS NUMA ERA PÓS-MODERNA?? O período que se seguiu ao fim da Segunda Guerra Mundial foi palco de mudanças rápidas e profundas de inúmeras características nas nossas relações sociais, instituições dos Estados, construções culturais e várias outras configurações do mundo social que se construiu durante o período que se denominou de “moderno”. Para alguns estudiosos das disciplinas que se dedicam ao estudo desses fenômenos, essas mudanças foram tão significativas que eles acreditam que é preciso falar agora da superação ou do fim do período moderno, ou da pós-modernidade, por assim dizer. Essa transição teria ocorrido em função da quebra de certos paradigmas que seriam pilares de sustentação da Modernidade de um ponto de vista sócio-histórico. Esses pilares seriam as narrativas e ideologias fundadoras de explicações sobre o mundo social moderno que fundamentavam ações e perspectivas que agora já não mais se sustentam. MODERNIDADE LIQUÍDA - BAUMAN Entre os teóricos que tratam da modernidade tardia, ou da pós-modernidade, o sociólogo polonês Zygmunt Bauman é uma referência absoluta. Em suas obras, Bauman cunha o termo “modernidade líquida” para tratar da fluidez das relações em nosso mundo contemporâneo. O conceito de modernidade líquida refere-se ao conjunto de relações e dinâmicas que se apresentam em nosso meio contemporâneo e que se diferenciam das que se estabeleceram no que Bauman chama de “modernidade sólida” pela sua fluidez e volatilidade. Agora, nada é prédeterminado ou irrevogável. ERA DAS INCERTEZAS MODERNIDADE LIQUÍDA - BAUMAN Quando se chega à modernidade líquida, toda estrutura social montada em torno da relativa fixidez moderna dilui-se. Para Bauman, as relações transformam-se, tornam-se voláteis na medida em que os parâmetros concretos de “classificação” dissolvem-se. Trata-se da individualização do mundo, em que o sujeito agora se encontra “livre”, em certos pontos, para ser o que conseguir ser mediante suas próprias forças. A liquidez a que Bauman se refere é justamente essa inconstância e incerteza que a falta de pontos de referência socialmente estabelecidos e generalizadores gera. São esses padrões, códigos e regras a que podíamos nos conformar, que podíamos selecionar como pontos estáveis de orientação e pelos quais podíamos nos deixar depois guiar, que estão cada vez mais em falta. Isso não quer dizer que nossos contemporâneos sejam livres para construir seu modo de vida a partir do zero e segundo sua vontade, ou que não sejam mais dependentes da sociedade para obter as plantas e os materiais de construção. Mas quer dizer que estamos passando de uma era de 'grupos de referência' predeterminados a uma outra de 'comparação universal', em que o destino dos trabalhos de autoconstrução individual (…) não está dado de antemão, e tende a sofrer numerosa e profundas mudanças antes que esses trabalhos alcancem seu único fim genuíno: o fim da vida do indivíduo. (BAUMAN, 2001) A pós-modernidade passou a ser vista, então, como o momento histórico em que há uma crise das grandes narrativas (com suas normas e valores a conformar os sujeitos). Exemplos: fim de grandes tradições, da religião, do trabalho previsível, da ideia clássica de família, crises da ciência, etc. COMO DEFINIR A ÉTICA NESSE CONTEXTO? MODERNIDADE LIQUÍDA - BAUMAN • Dificuldade de lidarmos com a liberdade: “a libertação é uma bênção ou uma maldição?” • Necessidade de uma crítica social que saiba trabalhar com as duas características de nossa situação: inexistência de um telos e desregulamentação e privatização das tarefas e deveres. • Realocação do discurso ético/político do quadro da “sociedade justa” para o dos “direitos humanos” – os indivíduos têmo direito de permanecerem diferentes e de escolherem à vontade seus próprios modelos de felicidade e de modo de vida adequado. • O indivíduo é o pior inimigo do cidadão: a individuação consiste em transformar a “identidade” humana de um “dado” em uma “tarefa” e de encarregar os atores da responsabilidade de realizar esta tarefa e das consequências (e do efeitos colaterais) de sua realização. OU SEJA: as questões éticas agora recaem sobre o indivíduo? Risco da CULPABILIZAÇÃO INDIVIDUAL PÓS-VERDADE A “pós-verdade” despontou para a fama graças ao Dicionário Oxford, editado pela universidade britânica, que anualmente elege uma palavra de maior destaque na língua inglesa. Oxford definiu a acepção e mostrou a evolução do termo, observando que ele não foi cunhado neste annus horribilis da história humana, mas seu uso cresceu 2.000% nele no ano de 2016. Na definição britânica, “pós-verdade” é um adjetivo “que se relaciona ou denota circunstâncias nas quais fatos objetivos têm menos influência em moldar a opinião pública do que apelos à emoção e a crenças pessoais”. PÓS-VERDADE Não seria então, exatamente, o culto à mentira, mas a indiferença com a verdade dos fatos. Eles podem ou não existir, e ocorrer ou não da forma divulgada, que tanto faz para os indivíduos. Não afetam os seus julgamentos e preferências consolidados. Relação com MÍDIA e POLÍTICA: Se é assim, se a notícia é o que o veículo quer que ela seja, se a “verdade” é tão relativa e subjetiva quanto qualquer opinião, por que o espanto com a explosão da “pós-verdade”? O cidadão comum posiciona-se sobre um terreno movediço de informações, cada vez mais instável, e precisa angustiadamente da segurança das certezas. EXEMPLOS: Eleição Trump, Brexit, Armas Químicas... E a Política no Brasil? PÓS-VERDADE Relação com as Fake News • No Facebook, os conteúdos mais curtidos e compartilhados têm maior alcance e disseminação, não importando se é uma notícia real ou uma informação falsa • Quando as pessoas compartilham apenas informações que confirmam suas crenças, elas se isolam em um ambiente restrito (as bolhas virtuais), sem contato com pessoas que pensam diferente delas • Por meio do histórico de navegação, o feed de notícias do Facebook traz mais informações que combinam com seu ponto de vista e reforçam suas crenças, reduzindo o alcance de ideias divergentes • Um quadro de radicalização política ajuda a difundir notícias falsas. Para disseminar sua visão de mundo, muitas pessoas compartilham informações sem se preocupar com a veracidade ou checar a fonte • Com tudo isso, se chegou à paradoxal situação de que as pessoas já não acreditam em nada e ao mesmo tempo são capazes de acreditarem em qualquer coisa Referências: TEXTOS: SILVA, F. L. Sartre e a Ética. Disponível em https://www.saocamilo-sp.br/pdf/bioethikos/78/Art02.pdf Sobre Pós-Verdade - A arte de manipular multidões https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/22/opinion/1503395946_889112.html Camila Junqueira; Nelson Ernesto Coelho Junior. Considerações acerca da ética e da consciência moral nas obras de Freud, Klein, Hartmann e Lacan - http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382005000100009 Vincenzo Di Matteo. Os discursos éticos de Freud. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372006000100009 VÍDEOS: • AULA 10: Café Com Nietzsche Tópicos Nietzschianos com Scarlett Marton Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=1X7bAjRhLRU&feature=youtu.be • Marilena Chauí: Sociedade autoritária, ética e violência no Brasil Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=YB3SnE4RMos • Especial Nietzsche Viviane Mosé Café Filosófico Exibido dia 29 03 2009) avi Disponível em https://www.youtube.com/watch?v=0sZXdZrT5bc https://www.saocamilo-sp.br/pdf/bioethikos/78/Art02.pdf https://brasil.elpais.com/brasil/2017/08/22/opinion/1503395946_889112.html http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382005000100009#II http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1415-11382005000100009 http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-34372006000100009 https://www.youtube.com/watch?v=1X7bAjRhLRU&feature=youtu.be https://www.youtube.com/watch?v=YB3SnE4RMos https://www.youtube.com/watch?v=0sZXdZrT5bc
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