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Definição: A Antiguidade Clássica é um período fundamental da História. Estudaremos esse longo período, do século VIII a.C. ao século VI d.C., que representa as bases para a compreensão da educação ocidental. Você perceberá que os mundos grego e romano, às margens do mar Mediterrâneo, têm muito a ver com nossa sociedade e com a Educação atual. Propósito: Você, que estudou História, já deve ter se perguntado: é tão importante assim olhar para o passado? Provavelmente, encontrou algumas respostas ao longo de sua vida escolar. Neste conteúdo, você verá como a Educação foi concebida pelas sociedades do período clássico. Além disso, analisaremos suas heranças e fundamentos como influência na Educação contemporânea. Agora, destacaremos brevemente os ideais de três dos maiores pensadores da Filosofia clássica: · SÓCRATES Sócrates (469 a.C. – 399 a.C.) entendia a Filosofia como a procura da verdade, trilhando o caminho da sabedoria. Com a famosa frase “Conhece a ti mesmo”, o filósofo ateniense impulsionou a busca das verdades universais: o caminho para a prática do bem e da virtude. Em resumo, ele almejava que as pessoas se livrassem das falsas certezas para alcançar a verdade própria do ser humano. Assim, no século IV a.C., Sócrates criou a Maiêutica, método de ensino investigativo que se baseava nas interrogações para dar à luz o conhecimento. Maiêutica Esse método tinha duas etapas que destruíam as falsas verdades para criar a universal. São elas: 1ª etapa - De início, implantava-se a dúvida, de modo que o saber adquirido fosse interrogado para revelar as fraquezas e contradições na forma de pensar. 2ª etapa - Depois, estimulava-se a busca de novos conceitos, de novas opiniões, o pensamento por si mesmo, a fim de desvelar a verdade, livrando-se do falso conhecimento. · PLATÃO A teoria do conhecimento desenvolvida por Platão (429 a.C. – 348/347 a.C.) tem como base a convicção de que o mundo sensível em que vivemos é apenas um mundo aparente, incapaz de nos oferecer conhecimento verdadeiro. Para chegarmos a esse tipo de conhecimento, necessitamos buscar o mundo inteligível, onde está a verdadeira essência das coisas. Assim, o conhecimento se dá a partir da ideia até a realidade. Mito da Caverna Para ratificar suas concepções intelectuais, Platão criou o Mito da Caverna, cuja história é a seguinte: Prisioneiros acorrentados em frente a uma parede podiam ver apenas sombras. Quando um deles, enfim, se liberta, encontra uma realidade diferente. Impressionado, o preso volta para contar aos demais sobre o mundo que existia fora da caverna. A intenção dele era livrá-los da escuridão. Mas os outros prisioneiros não só se recusaram a acreditar no homem, como o mataram. · ARISTÓTELES Para Aristóteles (384 a.C. – 322 a.C.), somente na pólis, o homem se realizava plenamente em busca do bem supremo. No entanto, essa realização não era definitivamente alcançada, pois não estava presa a um tempo específico, mas se refazia – inclusive como sensação –, à medida em que o homem decidia por novas determinações em seu ato constitutivo e reconstitutivo. O Conhecimento segundo Aristóteles Aristóteles propõe uma teoria do conhecimento praticamente inversa à teoria de Platão (que foi seu mestre) ao defender que a relação de nossos sentidos com o mundo visível nos possibilita a chegada ao conhecimento. As etapas desse processo de chegada ao conhecimento seriam as seguintes: Para o pensamento aristotélico, o aprendizado era visto como uma prática política. Somente pelo entendimento do conceito de pólis seria possível compreender seu projeto de educação como canal capaz de desenvolver as condições necessárias para a segurança do regime e para a saúde do Estado. A Educação, para Aristóteles, deveria ocupar toda a vida do cidadão desde sua concepção. Ao Estado, cabia: 1. Guiar os cidadãos à prática das virtudes. 2. Ocupar-se da educação dos jovens. 3. Estabelecer leis que promovessem a educação conforme a moral, voltada à vida política, o que estabelecia seu equilíbrio. 4. Tornar a educação um assunto público. IMPORTANTE Não estamos resumindo o pensamento destes filósofos. Além da impossibilidade de fazer isto em poucas linhas, nosso objetivo aqui não é este, mas despertar para a influência destes autores na Educação grega. Educação grega Não existia o modelo de escola como conhecemos na Grécia Clássica. O jovem cidadão estava constantemente aprendendo. A própria família tinha essa responsabilidade, conforme a tradição religiosa, e muitas atividades reuniam os gregos em comemoração: esses eram os momentos que faziam a Educação acontecer naturalmente. O ensino das letras e dos cálculos demorou um pouco mais para se difundir, pois, na formação escolar, a preocupação recaía, prioritariamente, sobre a prática esportiva. Os gregos tratavam a educação como um processo de preparação para a vida social. O homem era visto não só como um ser racional, mas como o centro do universo. A busca pelo conhecimento e o estudo da natureza, do ser humano e das artes, da observação e da investigação do mundo levaram ao desenvolvimento da Filosofia, entendida como a formação do homem, de seu espírito e de sua alma. Assim como o aspecto intelectual, a educação pelas artes era fundamental para gerar esse homem. Esse processo era resumido pela palavra paideia, que não é possível traduzir em virtude de seus inúmeros significados. Mas segue uma boa tentativa de Werner Jaeger: “[...] a essência de toda a verdadeira educação, [o] que dá ao homem o desejo e a ânsia de se tornar um cidadão perfeito, [o que] o ensina a mandar e a obedecer, tendo a justiça como fundamento. Jaeger, 1995. A educação de cada pólis refletia a forma de organização e os ideais de cada sociedade. Iremos especificar os pormenores da educação ateniense e da espartana a seguir: · Educação ateniense O principal objetivo da educação em Atenas era preparar integralmente o cidadão. Aspectos gerais Na pólis ateniense, a Ágora era o principal lugar de manifestação da opinião pública, adequado à cidadania cotidiana, onde o povo se reunia em assembleia para debater e deliberar sobre as questões de interesse da comunidade. A Educação de Atenas tinha como finalidade preparar os futuros cidadãos para a política, ou seja, para a retórica, de modo que fossem capazes de se expressar oralmente, prontos para o diálogo e o convencimento. Educação elementar Até os sete anos de idade, a educação era responsabilidade das famílias e ocorria no espaço doméstico. As crianças atenienses eram preparadas para o debate e a deliberação. Tinham um dia de estudos e de instrução para a cidadania. Elas iam à palestra – local onde estudavam – duas vezes ao dia: de manhã, quando aprendiam música e ginástica, e à tarde, após o almoço em casa, para o ensino da leitura e da escrita, que era acompanhado por um escravo, chamado de pedagogo. Ensino Superior A partir dos 16 ou 18 anos, o jovem se dedicava ao Ensino Superior. Esse foi o momento em que Sócrates, Platão e Aristóteles desenvolveram suas reflexões e teorias. O ensino profissional desenvolvia-se no cotidiano, durante a própria execução do trabalho. Educação por gênero As meninas continuavam a ser educadas no ambiente familiar, especificamente no gineceu. A educação masculina organizava-se em três níveis: • Elementar (até os 13 anos); • Secundário; • Superior. A partir da Educação Elementar, as crianças eram encaminhadas para aprender algum ofício ou continuavam estudando e frequentando os ginásios. Inicialmente, esses lugares eram destinados apenas aos exercícios físicos, mas, com o tempo e as exigências da pólis, incluíram as práticas musicais e literárias. Educação elementar Até os sete anos de idade, a educação era responsabilidade das famílias e ocorria no espaço doméstico. As crianças atenienses eram preparadas para o debate e a deliberação. Tinham um dia de estudos e de instrução para a cidadania. Elas iam à palestra – local onde estudavam – duas vezes ao dia: de manhã, quando aprendiam música e ginástica, e à tarde, apóso almoço em casa, para o ensino da leitura e da escrita, que era acompanhado por um escravo, chamado de pedagogo. Assim, a educação ateniense propiciou o surgimento e o desenvolvimento da Filosofia, que pode ser dividida em três fases: · Período pré-socrático Buscava-se explicar as questões da natureza e a origem do mundo. · Período socrático A reflexão residia sobre o homem. Este foi o momento em os filósofos clássicos estudados se destacaram. · Período helenístico A Filosofia ficou marcada pela visão cristã e por soluções individuais em detrimento do coletivo. Educação Espartana A educação em Esparta era mais voltada para a formação de soldados para as guerras. · Educação por gênero As mulheres também se preparavam fisicamente e eram criadas para viver de maneira saudável, a fim de conceber filhos sadios. A educação sexual fazia parte da instrução feminina a partir da puberdade e era de responsabilidade da mãe. Em torno dos 20 anos, a moça recebia autorização do governo para casar e procriar e era estimulada a engravidar, pois, quanto mais filhos nasciam, mais soldados havia na cidade. · Aspectos gerais A estrutura da Educação espartana – chamada de agogê – foi organizada por Licurgo (800 a.C.-730 a.C.). O ensino era obrigatório e estava voltado à formação militar. O poder político-militar norteou a Educação de Esparta, que, patrocinada pelo Estado, tinha como principal objetivo preparar os futuros soldados. A prática educacional consistia em desenvolver as habilidades físicas para a formação do guerreiro, tais como força, bravura e obediência – virtudes necessárias à guerra. · Educação elementar Semelhante ao que ocorria em Atenas, até os sete anos, os meninos permaneciam em casa sob os cuidados das mães, que os treinavam de forma rigorosa. Após esse período, o Estado assumia a educação: os jovens eram afastados da família e encaminhados para as casernas públicas, onde recebiam ensinamentos militares e treinavam: ginástica, saltos, natação, corrida, lançamentos de dardo e de disco. Eles também aprendiam a suportar a fome, o frio, a dormir com desconforto e a vestir-se de forma despojada. Além disso, estudavam as armas e manobras militares, com o propósito de se tornar hábeis, perspicazes e com autodomínio. A disciplina era um valor, e o respeito dos guerreiros a seus superiores era primordial. Assim, a educação moral espartana valorizava a obediência, a aceitação dos castigos e o respeito aos mais velhos, bem como privilegiava a vida comunitária. ARANHA, 2000, p. 51 Para compreender a Educação no Império Romano, necessitamos buscar alguns elementos entre aqueles conhecidos como seus grandes pensadores: poetas, filósofos e historiadores. Destacaremos três destes ilustres personagens: · HORÁCIO Horácio (65 a.C. - 27 a.C.) Além de sua importância como poeta, pois trouxe muito da filosofia grega para Roma através de sua poesia, Horácio (65 a.C. - 27 a.C.) presenciou o nascimento do Império Romano, sendo contemporâneo de Julio Cesar, Marco Antonio, Cleópatra e Otaviano Augustus. De sua vasta obra, que influenciou o pensamento romano, podemos destacar uma frase que será reconhecida como a marca do filósofo: Sapere aude! Ouse saber! Séculos mais tarde, Immanuel Kant, um dos fundadores do pensamento contemporâneo, traduziu a frase como: “Tenha coragem de pensar por si mesmo”. · SÊNECA Sêneca (4 a.C - 65 d.C.) Vivenciou eventos fundamentais na sociedade romana, foi preceptor de Nero na sua infância e seu conselheiro até se tornar imperador. Como filósofo, advogado, dramaturgo e homem público, Sêneca é considerado um dos mais importantes autores do império. Além de vasta obra, deixou como herança sua preocupação ética: coerência entre aquilo que pensava e escrevia com aquilo que vivia. Também defendia o conceito de igualdade natural entre os homens – vivia em constante combate à escravidão, tão comum em seu tempo. · FLÁVIO JOSEFO Josefo (37d.C. – 100 d.C.) Foi um historiador judeu, tornado cidadão romano. Ele testemunhou eventos fundamentais de seu tempo, todos registrados em suas obras: a expansão definitiva do Império Romano sobre a Palestina, a destruição do Templo de Jerusalém (70 d.C.) e o nascimento do Cristianismo. Vivendo permanentemente dividido, não só como historiador, mas como homem público, deixou relatos fundamentais daquele período, que ainda hoje são fontes preciosas. Neste contexto, podemos falar em Educação Romana. Educação romana Na fase latina da Educação romana, havia resistência à influência helenística. Os pequenos camponeses do Lácio protegiam-se das inovações estrangeiras pelo respeito a uma tradição ancestral, de acordo com a qual a finalidade da educação era prática e social. Esperava-se que se proporcionasse à criança o saber necessário para o exercício de sua profissão de soldado ou de proprietário rural. “Nesse período, a educação da criança era de responsabilidade da família, do pater familias [...]. Isso significa que, desde os primeiros tempos da cidade, a autonomia da educação paterna era uma lei do Estado – o pai é dono e artífice de seus filhos.” Manacorda, 2006, p. 74. No século II a.C., o pater familias concedeu à mãe os direitos sobre a educação de seus filhos durante a primeira infância, incluindo as meninas, que também aprendiam os elementos iniciais do alfabeto. A criança crescia em casa, com os colegas, entre os brinquedos e as aprendizagens básicas. A mulher adquiriu uma autoridade desconhecida na Antiguidade grega. Essa tradição permaneceu por muito tempo, inclusive no século I d.C., conforme destaca Manacorda (2006, p. 75): “Quintiliano também atribui à mãe a tarefa de ensinar aos filhos os primeiros elementos do falar e do escrever”. Manacorda, 2006, p. 74. Resumindo, então, a formação da criança na Roma Antiga: · Por volta dos sete anos de idade, o pai deveria proporcionar ao filho a educação moral e cívica, baseada na tradição, bem como na aprendizagem de noções jurídicas e de conceitos estabelecidos na Lei das XII Tábuas, a fim de desenvolver sua consciência histórica e o patriotismo. Para isso, a Educação romana compreendia, também, os exercícios físicos e militares. · Em torno de 16 anos, finalmente livre da infância, o jovem dava início à aprendizagem da vida pública, militar ou política, acompanhado do pai ou, se necessário, de um parente e, até mesmo, de um escravo instruído, com o objetivo de se inserir na sociedade. Durante cerca de um ano, antes de cumprir o serviço militar, adquiria conhecimentos de Direito, de prática pública e da Eloquência (baseada diretamente nos estudos gregos em Retórica). Influência grega na Educação romana No início da República, o crescimento do comércio e a expansão de Roma propiciaram transformações na organização da sociedade. Inclusive, aos poucos, consolidou-se outro modelo de educação mais coerente com o novo momento vivido pelos romanos. ESCRAVO PEDAGOGO ESCRAVO MESTRE ESCRAVO LIBERTUS “Provavelmente, a evolução histórica foi do escravo pedagogo e mestre da própria família ao escravo mestre das crianças de várias famílias e, enfim, ao escravo libertus, que ensina na sua própria escola.” Manacorda, 2006, p. 78. · E quem eram esses escravos? A maioria deles veio da Grécia conquistada pelos romanos. Em Roma, os escravos gregos ensinaram a própria língua e transmitiram sua cultura aos romanos. Além disso, os etruscos (povo da Etrúria, uma terra antiga da Península Itálica) também foram influenciados pelos gregos, com quem aprenderam o alfabeto. De modo gradual, a Educação tornou-se um ofício praticado, inicialmente, por escravos no interior da família e, em seguida, por libertos na escola. Professor punido | Disponível em: https://goo.gl/Y56b6H. Nesse período, os mestres eram mais desprezados do que estimados e, muitas vezes, lembrados pelos castigos corporais e pela pobreza. Apesar de sua severidade, é comum encontrarmos relatos de revoltas por parte dos alunos, que até os agrediam fisicamente. Em seguida, foram criadas as cátedras de Retórica nas grandes cidades. Alémdisso, houve favorecimento e promoção da instituição de escolas municipais de gramática e de retórica nas províncias. Então, pela primeira vez, os romanos desenvolveram um sistema de ensino: um organismo centralizado que coordenava inúmeras instituições escolares espalhadas por todas as províncias do império, constituídas em caráter oficial pela intervenção do Estado. IMPORTANTE Observamos a influência grega e etrusca sobre a origem de uma forma de educação não familiar, mas institucionalizada na escola. Logo, a cultura grega converteu-se em patrimônio comum dos povos do Império Romano e, depois, foi repassada durante muito tempo à Europa medieval e moderna, chegando, assim, à nossa época. A herança da antiguidade clássica É provável que você já tenha identificado os elementos que marcam a influência da Educação Clássica sobre nós. No entanto, gostaríamos de destacar alguns pontos sobre isto, pois é importante que você possa posicionar-se frente a eles e, assim, repensar a prática educativa que conhece e aquela que assumirá como sua. · MUNDO INTELIGÍVEL (PLATÃO) É preciso conhecer as formas, a verdade e a razão de tudo o que existe no mundo sensível. Tudo o que nasce e desaparece não pode ser considerado o ser de maneira plena. Neste mundo, tudo é instável, pois se transforma com o tempo. A verdade é o lugar para onde devemos retornar, pois viemos dela, das formas inteligíveis e das essências. · EDUCAÇÃO: MISSÃO A instrução deve culminar na formação do cidadão e da cidade dos justos. Por isso, é necessário haver equilíbrio entre as três almas presentes no homem: animal, passional e intelectual. O intelecto (razão) tem de dominar as paixões e os instintos. · PRÁTICA DIALÉTICA Embora nossa legislação educacional, nos últimos anos, tenha passado por muitas alterações, é fácil perceber que alguns dos pontos definidos como essenciais por Platão estão presentes ainda hoje. Sim, a dialética ainda permanece nos discursos, mas é fundamental para que haja, verdadeiramente, Educação. · O MITO DA CAVERNA Provavelmente você já percebeu, mas é importante destacar que não há nada mais emancipador para o ser humano que a Educação. Ela que permite ao homem “ter coragem de pensar por si mesmo” (uma conclusão também romana). Moral da história: a educação liberta, ilumina os que estão no mundo das sombras e leva à verdade. · FORMAÇÃO CIDADÃ Outro ponto em que esta influência é perceptível corresponde à preocupação da formação do cidadão. Ou melhor: a Educação é uma prática social, no seio da pólis. Portanto, representa uma prática política. A educação era, portanto, uma condição da pólis e não podia ser negligenciada. Para Aristóteles, a política era a ciência mais importante, e, apenas por meio da educação, o homem desenvolvia a prática do bem-estar comum. Mas, para que a educação alcançasse seus objetivos, era necessário um conjunto de atividades pedagógicas e coordenadas, que visassem a uma cidade perfeita e a um cidadão feliz. O filósofo grego também deixou de herança o método peripatético, que discutia as questões filosóficas mais profundas, relacionadas à metafísica, à Física e à Lógica. · EDUCAÇÃO ROMANA A crítica a esse modelo de educação se fez presente e partiu de dentro da própria sociedade, que, por meio de seus importantes pensadores ou filósofos, não só condenou como também externou proposições a respeito da escola. Veremos uma dessas colocações a seguir. "A memorização e a repetição marcaram fortemente essa escola inicial. Certamente, o tédio de tal didática, o medo das varas e dos chicotes, e os conteúdos muito distantes da vida diária e dos interesses reais dos jovens e da sociedade não encorajaram a frequência aos estudos. [...] em Roma, encontramo-nos, pela primeira vez, perante uma crítica fundamental da escola pelo que ela é, e não pelos acidentes de sua vida diária – assistimos, enfim, ao nascimento de uma consciência crítica sobre a escola e a educação." Manacorda, 2006, p. 93-94. Percepções gerais sobre o atual modelo de ensino Precisamos superar a visão de que a escola não tem conseguido educar porque estamos muito mal posicionados na classificação mundial de desempenho. Devemos assumir nossa responsabilidade, como sociedade, para realizarmos uma educação plena. Dentre os inúmeros passos que podemos dar, além de oferecer formação acadêmica de qualidade, é preciso investir esforços para termos um relacionamento sadio e respeitoso entre escola e sociedade e entre professores e alunos. Se quisermos resumir a importância da Educação Clássica para o desenvolvimento das práticas educacionais atuais, seja em seu período específico ou através da herança deixada a nós, devemos nos concentrar na valorização e no respeito ao conhecimento, ou seja, há algo a ser aprendido. Daí o grande papel da Filosofia naquele contexto. Assim, formar o cidadão, nos tempos clássicos da Grécia e de Roma ou atualmente, é permitir a ele o acesso ao conhecimento e às condições para posicionar-se frente a este mesmo conhecimento e, consequentemente, frente à sociedade em que vive. Definição ducação na Europa Ocidental no período da Idade Média (entre os séculos V e XV). Legados medievais na forma de pensar a Educação: Artes Liberais, “monopólio” do campo educacional pelo clero, influência árabe para a cultura europeia, método de ensino da Escolástica e aparecimento das universidades. Propósito emonstrar que a base da Educação ocidental é fortemente influenciada pelas tradições educacionais desenvolvidas na Idade Média, em especial o papel da Igreja e a formação moral do sujeito, marca recorrente ainda na maneira como a Educação é vista e empreendida no Brasil e no mundo. Objetivos Identificar as principais características da transição da Educação entre a Antiguidade e a Idade Média Descrever a importância das artes liberais para a formação dos sujeitos na Idade Média Comparar aspectos da Reforma Carolíngia e da Educação islâmica na Europa Ocidental Determinar a importância da Escolástica para as escolas urbanas e universidades na Baixa Idade Média Introdução Como você imagina a Idade Média? Castelos e princesas, lembrando as histórias infantis? Lutas de espadas e as ações da Igreja, como nos filmes e séries? Professores que explicam que a Idade Média era a Idade das Trevas? Essas visões construídas fazem parte do nosso cotidiano e têm relação com os iluministas, que queriam se afirmar contra o pensamento da Igreja. Além disso, há o Romantismo, que idealizou as figuras do cavaleiro e da donzela e, por fim, o cinema e a literatura contemporânea que veem com certo fascínio a Idade Média. tarefa de resumir a Idade Média a esses conceitos é difícil, pois um milênio não é representado por uma coisa só. De fato, esse olhar europeu só tem sentido se pensamos nos legados medievais. As sociedades atuais são frutos de influências europeias e do seu auge, que gerou o colonialismo e o imperialismo. Esse período fez com que as instituições europeias e suas diversas formações dessem base às nossas estruturas sociais, políticas e, principalmente, educacionais. A Idade Média concentra os fundamentos da moral ocidental, marcados pela tradição judaico-cristã da Igreja. As referências da Antiguidade foram reconstruídas e marcam nossa forma de ver o mundo. Apesar de ter sido reconhecida de maneira pejorativa como apenas um período de transição, uma época de trevas, a Idade Média apresenta práticas que fazem parte de nosso cotidiano mesmo que nós não percebamos. Nosso objetivo, portanto, é demonstrar que as tais trevas tinham intelectuais importantes, debates vigorosos, além de disputas entre grupos sociais para organizar e manter a Educação. 1º Módulo Identificar as principais características da transição da Educação entre a Antiguidade e a Idade Média Contexto A Idade Média é um período marcado pelo surgimento de um novo tipo de intelectual na Europa Ocidental: os padres cristãos. Esse grupo foi o principal responsável por manter uma Educação formal (escolas) na Europa entre os séculos V e XV. Os primeiros ainaugurarem esse novo pensamento são conhecidos como membros da Patrística. A Igreja Cristã foi a única instituição que atravessou todo o período de transição da Antiguidade para a Idade Média. m meados do século III, o Império Romano apresentava graves sinais de crise econômica e política. Na busca de reformulações que permitissem sua permanência, foram procuradas novas formas de governo – chega-se a ter quatro imperadores de uma só vez. Outra tentativa foi a organização das mensagens e preceitos religiosos que dessem sentido à nova construção imperial. Quando o Imperador Constantino se converteu ao cristianismo, houve um movimento que pode ser interpretado como uma tentativa de coesão pela religião. Mesmo assim, após a fragmentação do Império Romano Ocidental, a Educação foi creditada à Igreja, já que valorizava os princípios educacionais herdados da Antiguidade para ocupação dos seus quadros e para sua pregação. Constantino, primeiro imperador cristão, foi canonizado pela Igreja Ortodoxa. Scriptorium - Copiste au travail. Bibl. nat. de France, manuscrit français n°9198, f. 19. A Igreja, por meio de seus membros, transmitiu uma mistura das culturas antigas (greco-romana) cristianizadas. Sua pregação era levada às praças, para o cotidiano dos reis, para todos que ouviam a Igreja, fazendo com que a Educação fosse difundida por meios não formais. No entanto, sua estrutura de manutenção era formal, organizada em centros de formação desses clérigos. O saber antigo preservou-se nos livros que os mosteiros e as igrejas agasalharam carinhosamente (NUNES, 2018). Clique na tocha para visualizar o conteúdo. Clique para visualizar o texto Curiosidade histórica O clero impulsionou fundamentalmente o fenômeno de latinização nos séculos IV e V, o que representou o embrião das línguas neolatinas, fio condutor que fez possível também a transmissão de elementos culturais da Antiguidade Clássica até a Baixa Idade Média. Conceitos essa época, a Igreja Católica foi muito importante para o desenvolvimento da ciência e para a preservação da cultura. Além disso, foi fundamental na manutenção da Educação. Os monges copistas foram responsáveis pela armazenagem do saber, pois copiavam e guardavam os registros escritos. Assim, toda a produção de conhecimento nas civilizações antigas – principalmente dos sábios gregos – foi preservada e retomada no período do Renascimento. Mesmo com a expansão do cristianismo, ainda na Antiguidade, bem como nos séculos subsequentes, os jovens romanos e cristãos frequentavam as mesmas escolas, liam os mesmos textos, recebiam a mesma instrução. O ensino da cultura clássica era necessário, sobretudo para aqueles oriundos das classes médias e altas, que formariam os quadros das carreiras administrativas. Por conta dessa característica, a cultura clássica influenciava os principais intelectuais da Igreja de forma intensa. O modelo educacional da Igreja era uma cópia do modelo do Império Romano. A arte da transição é um bom exemplo dessa mistura. De um lado, a forma é romana, de outro, o discurso é cristão. Repare nesta imagem. A Bíblia e a cruz, o pergaminho em grego e as roupas da nobreza. As obras clássicas foram adotadas, seus pensadores reconhecidos, sua forma de educar valorizada, mas os objetivos e formas universalistas foram abandonados e substituídos por elementos cristãos Por outro lado, a cultura romana também foi muito influenciada pelo catolicismo. As pinturas, as esculturas e os livros eram marcados pela temática religiosa. Os vitrais das igrejas apresentavam cenas bíblicas, pois essa era uma forma didática de transmitir o evangelho a uma população quase toda formada por iletrados. Assim como os romanos faziam com seus monumentos e afrescos, a Igreja repaginou e permaneceu com sua utilização. Clique na tocha para visualizar o conteúdo. Clique para visualizar o texto Curiosidade histórica Gregório (papa entre os anos 590 e 604) criou o canto gregoriano – outra forma de disseminar as informações e os conhecimentos religiosos por meio de um instrumento simples e interessante da tradição romana: a música. Correntes filosóficas medievais Pode-se dividir, de forma generalista, a Idade Média, no que diz respeito à Educação, em duas linhas principais: Agostinho de Hipona Patrística Pretende expor racionalmente a doutrina religiosa, com destaque para Agostinho de Hipona. Tomás de Aquino Escolástica Predominante nos espaços escolares durante o Renascimento Carolíngio e readaptada a partir do racionalismo cristão e de Tomás de Aquino. O termo patrística foi criado para designar os primeiros intelectuais da Igreja Romana, como Justino, Tertuliano, Orígenes, Atenágoras, Clemente. No entanto, dedicaremos nosso olhar a um membro tardio, mas fundamental para a Educação na Idade Média: Agostinho de Hipona A Patrística se configurou como uma corrente de pensamento fundada pelos padres da Igreja Católica que procuravam estabelecer uma concepção racional dos fundamentos dos dogmas da fé cristã e uma resposta às suas perspectivas antagônicas, que eles denominavam de heresias. Educação base do pensamento educacional na Idade Média é o neoplatonismo cristão. Essa corrente filosófica misturava traços da leitura de Platão e princípios diversos filosóficos do Mediterrâneo, como estoicismo, e os preceitos da religião cristã. O nome mais importante para a Educação formulada para a Igreja e para além dela é o bispo africano Agostinho de Hipona (354-430). Ele estruturou seu pensamento como os demais membros da Patrística, isto é, combinando elementos da fé a princípios filosóficos de nomes importantes da cultura clássica, como Platão (428 a.C.-347 a.C.) e Plotino (204 d.C.-270 d.C.). A influência de Agostinho de Hipona no campo educacional foi notória na Idade Média com suas obras: · A doutrina cristã A obra que mais influenciou a Educação medieval, servindo de guia para os estudos dos intelectuais cristãos, bem como de ideário e planejamento para as escolas desse período. Para Agostinho, o lugar de aprendizagem era a Bíblia. Além disso, para ele, Deus era o único mestre. Os professores, na realidade, nada ensinavam, apenas despertavam em seus alunos a busca pelo conhecimento. Agostinho idealizou a Educação como um processo por meio do qual o “homem exterior”, material, mutável e mortal cedia espaço para o “homem interior”, espiritual, imutável e imortal. Essa transformação se dava à medida que o homem se aproximava e se familiarizava com Cristo: a Verdade, a Palavra de Deus que se fez homem (MELO, 2002, p. 67). Assim, fica claro que o Bispo de Hipona acreditava que a aprendizagem se dava por intermédio de Deus, uma vez que Ele permitia que se captassem as coisas da verdade essencial. · De Magistro Em De Magistro, Agostinho dedica-se a explicar a postura do mestre (professor). A estrutura é de um diálogo filosófico entre Agostinho, no papel de mestre, sendo questionado por um discípulo chamado Adeodato. Um dos elementos centrais da obra é a forma como a Educação pode ser atingida e para que ela serve. A proposta é mostrar que o conhecimento pelo conhecimento, como muito era pensado e visto na tradição romana, não levaria a lugar algum. Assim, o único mestre possível era Jesus, e a Salvação era atingir o mundo real, abandonar a ilusão e as dificuldades desse mundo. O professor seria, portanto, um guia, alguém que deveria mostrar que as paixões e prazeres desse mundo são insignificantes diante do peso e da beleza da Salvação efetiva. Esse sentido pode parecer religioso, mas ainda é recorrente na maneira do senso comum interpretar a Educação em nossos dias. A percepção de que o conhecimento deve formar o sujeito para que ele se torne um ser melhor, aqui possui sentido religioso; mas podemos pensar no âmbito da moral. A Educação como o caminho de formação do ser humano, incutindo valores sociais necessários é, sem dúvida, parte do legado agostiniano. Um dos legados é a ideia de que religião e Educação podem ser tratadas como elementos indissociáveis, isto é, a formação educacionale a formação religiosa podem e devem ser feitas com base nos mesmos instrumentos e para o mesmo fim. Veja que as escolas de matriz religiosa, por exemplo, continuam fortemente reconhecidas no nosso cotidiano. Além disso, os pastores, padres e afins assumem funções didáticas com seus fiéis nas pregações e nas homílias, demonstrando a proximidade, que bebe, sem dúvida, na tradição inaugurada por Agostinho. Vimos que para Agostinho o conhecimento era advindo de Deus, mas para quem se destinava os ensinamentos? Quem eram os alunos? Quem estudava, nesse momento, era a elite. Essa escola servia para formar novos quadros de clérigos, mas acabava também servindo à elite local. Resumo Neste vídeo, veremos um resumo dos principais tópicos deste módulo, com foco no principal representante da corrente filosófica Patrística: Agostinho de Hipona. Figuras relevantes · Constantino Vamos conhecer alguns dos sujeitos que foram apresentados ao longo deste módulo. Primeiro imperador romano a professar a religião cristã. · PAPA GREGÓRIO Criador do canto gregoriano. · Agostinho de Hipona Representante da corrente Patrística que influenciou fortemente a Educação medieval. · TOMAS DE AQUINO Representante da corrente Escolástica, com influências na Filosofia e Teologia. · PAULO DE TARSO Disseminou a religião entre os gentios. · JERONIMO DE ESTRIDÃO Traduziu a Bíblia para a primeira versão em latim, chamada de Vulgata. · CIRILO DE ALEXANDRIA Alcançou multidões com suas pregações, expandido a doutrina cristã. Introdução oa parte do conhecimento originário da Antiguidade foi preservado graças ao papel desempenhado pelos mosteiros e igrejas, que reproduziram manuscritos clássicos e elaboraram manuais e enciclopédias. Depois da Patrística, uma nova geração de bispos se notabilizou por escrever, defender e disseminar a Educação, como Marciano Capela, Cassiodoro, Boécio, Isidoro de Sevilha e Beda. Clique na tocha para visualizar o conteúdo. Clique para visualizar o texto Curiosidade histórica No século IV, houve o aparecimento do códice, que levou ao desaparecimento do papiro – formato de pergaminho. Tal invenção teve consequências psicológicas fundamentais, pois permitiu dispensar um escravo leitor quando havia necessidade de se tomar nota. Podia-se estudar o texto com uma das mãos e escrever com a outra, ou seja, ler e escrever simultaneamente, o que reforçou a prática da leitura mental. Também ofereceu a facilidade de copiar um texto ou comparar vários exemplares ao mesmo tempo. evemos lembrar que o pensamento de Agostinho é referência na orientação dos estudos nessa fase, o que significa que continuamos com a figura dos mestres e dos discípulos, com a relação pessoal e com a Educação como um caminho para a Salvação. Por outro lado, os conhecimentos do mundo antigo permanecem vivos e presentes. O modelo patrístico é um dos mais longos e presentes. Por isso, neste segundo módulo, estudaremos seu modelo “curricular”. As aspas não são à toa, pois seria anacronismo imaginar a existência de um currículo escolar nesse momento. Porém, há conteúdos que são centrais para a Educação ao longo de toda Idade Média e um legado que ainda nos influencia atualmente. As Sete Artes Liberais uando falamos em Educação no período em questão, notamos a prevalência do modelo chamado de Sete Artes Liberais, que foi criado por Marciano Capela. Essa divisão é marcada por três artes da alma (Trivium), inspiradas por Deus, e quatro artes humanas (Quadrivium), como veremos a seguir. Trivium A capacidade de bem falar, bem escrever e bem argumentar é atribuída à Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo. Dialética Exercício filosófico do convencimento, o ponto preciso para se atingir a verdade. É uma das grandes bases de relação entre o exercício da cultura greco-romano e a religião. Retórica Exercício do bem falar, da praça pública, e lida com estilo, com o envolvimento. Gramática Exercício de escrever, dominar os aspectos do que já havia sido escrito, reproduzir e construir a escrita com perfeição. O latim era uma língua entendida como sagrada. Quadrivium As artes humanas tinham relação direta com a mão humana, trabalhos artesanais e com a interpretação do mundo. Aritmética Representa a interpretação do mundo, a base matemática de explicação das coisas. Ela fez com que muitos clérigos virassem contadores, ou controladores dos reinos. Os números são seu principal objeto. Geometria Era usada nos exercícios de medida, normalmente voltados à prática e à interpretação da prática, como construção de moinhos, rodas de transportes e construções como igrejas e muralhas. Envolve também a medida de distâncias, rios e trajetos diversos. Música Muitos não sabem, mas existiam escalas e teoria musical na Idade Média. No entanto, é importante destacar que, para a Igreja, só era música aquilo que tinha as escalas corretas, tocadas nos ambientes corretos e com o objetivo de aproximar o homem de Deus. Músicas de festa e cantos de guerra eram duramente recriminados. Astronomia A mais contestada das artes. Muitos defendiam que era perigosa por ser confundida com relações pagãs, pois era responsável pelas colheitas, marcação de datas e calendários e ainda efeitos Todas as artes eram adaptações ordenadas de estudos que já existiam no mundo grego. De alguma forma, é como se tivessem criado um currículo. O homem comum aprendia o quadrivium, mas o trivium era para aqueles que gostariam de assumir uma outra condição, de líderes, de próximos à Igreja. Ao passo que as instituições escolares oficiais e a dos mestres particulares (literatores) iam sumindo, a Igreja passou a adotar medidas para garantir a formação dos pretendentes ao sacerdócio, com o objetivo de promover a instrução básica indispensável para o ofício do ministério sacerdotal. A fase inicial desse ensino era realizada nas escolas paroquiais, enquanto o nível superior nas episcopais/catedralícias. ambém devemos destacar as escolas monásticas. Estas se originaram a partir dos mosteiros, ainda sem a adesão dos estudos filosóficos. A regra agostiniana, por exemplo, recomenda muitas horas de estudo, enquanto a Regula Monachorum, de São Jerônimo, sugere instruir-se com os filósofos segundo a sua utilidade religiosa. Por fim, os mosteiros beneditinos, na prática, podem ser avaliados como “escola”, afinal, a própria Regra de São Bento indica duas noções pedagógicas em seu capítulo 30: “Cada idade e cada inteligência deve ser tratada segundo medidas próprias e os que cometem faltas serão punidos com muitos jejuns ou refreados com ásperas varas, acris verberibus”. São Bento. É importante informar que a cultura intelectual estava monopolizada pela Igreja. Isso fazia da Educação um campo feito de sacerdotes para sacerdotes, com os conteúdos orientados às necessidades do culto. Desse modo, nas escolas paroquiais, episcopais e, especialmente, nas monásticas – diga-se de passagem, na realidade, as únicas existentes –, lecionava-se as denominadas Sete Artes Liberais. Você sabe por que 7 é um número tão importante para o cristianismo? O numeral é a referência da perfeição, são as idades do mundo, é marca do escolhido. Trivium A capacidade de bem falar, bem escrever e bem argumentar é atribuída à Santíssima Trindade – Pai, Filho e Espírito Santo. Dialética Exercício filosófico do convencimento, o ponto preciso para se atingir a verdade. É uma das grandes bases de relação entre o exercício da cultura greco-romano e a religião. Retórica Exercício do bem falar, da praça pública, e lida com estilo, com o envolvimento. Gramática Exercício de escrever, dominar os aspectos do que já havia sido escrito, reproduzir e construir a escrita com perfeição. O latim era uma língua entendida como sagrada. Quadrivium As artes humanas tinham relação direta com a mão humana, trabalhos artesanais e com a interpretação do mundo. Aritmética Representa a interpretação do mundo, a base matemática de explicação das coisas. Ela fez com que muitos clérigos virassem contadores, ou controladores dos reinos. Os númerossão seu principal objeto. Geometria Era usada nos exercícios de medida, normalmente voltados à prática e à interpretação da prática, como construção de moinhos, rodas de transportes e construções como igrejas e muralhas. Envolve também a medida de distâncias, rios e trajetos diversos. Música Muitos não sabem, mas existiam escalas e teoria musical na Idade Média. No entanto, é importante destacar que, para a Igreja, só era música aquilo que tinha as escalas corretas, tocadas nos ambientes corretos e com o objetivo de aproximar o homem de Deus. Músicas de festa e cantos de guerra eram duramente recriminados. Astronomia A mais contestada das artes. Muitos defendiam que era perigosa por ser confundida com relações pagãs, pois era responsável pelas colheitas, marcação de datas e calendários e ainda efeitos Todas as artes eram adaptações ordenadas de estudos que já existiam no mundo grego. De alguma forma, é como se tivessem criado um currículo. O homem comum aprendia o quadrivium, mas o trivium era para aqueles que gostariam de assumir uma outra condição, de líderes, de próximos à Igreja. Ao passo que as instituições escolares oficiais e a dos mestres particulares (literatores) iam sumindo, a Igreja passou a adotar medidas para garantir a formação dos pretendentes ao sacerdócio, com o objetivo de promover a instrução básica indispensável para o ofício do ministério sacerdotal. A fase inicial desse ensino era realizada nas escolas paroquiais, enquanto o nível superior nas episcopais/catedralícias. ambém devemos destacar as escolas monásticas. Estas se originaram a partir dos mosteiros, ainda sem a adesão dos estudos filosóficos. A regra agostiniana, por exemplo, recomenda muitas horas de estudo, enquanto a Regula Monachorum, de São Jerônimo, sugere instruir-se com os filósofos segundo a sua utilidade religiosa. Por fim, os mosteiros beneditinos, na prática, podem ser avaliados como “escola”, afinal, a própria Regra de São Bento indica duas noções pedagógicas em seu capítulo 30: “Cada idade e cada inteligência deve ser tratada segundo medidas próprias e os que cometem faltas serão punidos com muitos jejuns ou refreados com ásperas varas, acris verberibus”. São Bento. É importante informar que a cultura intelectual estava monopolizada pela Igreja. Isso fazia da Educação um campo feito de sacerdotes para sacerdotes, com os conteúdos orientados às necessidades do culto. Desse modo, nas escolas paroquiais, episcopais e, especialmente, nas monásticas – diga-se de passagem, na realidade, as únicas existentes –, lecionava-se as denominadas Sete Artes Liberais. Você sabe por que 7 é um número tão importante para o cristianismo? O numeral é a referência da perfeição, são as idades do mundo, é marca do escolhido. Comparar aspectos da Reforma Carolíngia e da Educação islâmica na Europa Ocidental Introdução gora vamos falar da segunda grande reforma da Educação na Idade Média: a Escolástica. Muitos manuais de História da Educação citariam Tomás de Aquino e a recuperação de textos aristotélicos, um movimento chamado de racionalismo cristão. Mas falta uma peça desse quebra-cabeça, pois, é claro, que não foi uma mudança repentina a ideia de mudar o caminho filosófico que seguíamos e, com isso, a Educação. A Escolástica é um movimento que vem de diversas influências. Optamos por duas delas: Reforma Carolíngia Termo histórico inventado para mostrar como importantes mudanças da Educação na corte de Carlos Magno foram iniciadas e abriram caminho para a Escolástica. Influência dos muçulmanos Maomé não trouxe só outra religião. A partir da sua fundação, um novo mundo, um novo sistema de governo e uma nova forma de ver a Educação foram criados. O tamanho e o poder dessa presença foram tão grandes que fizeram com que eles dominassem norte da África, sul da Europa e partes importantes da Ásia. Mas não era pela espada, era uma expansão que tinha muito comércio e cultura. Contexto: Império carolíngio x Islamismo ssas duas culturas desempenharam importante papel na História da Educação e a junção dessas influências possibilitam a compreensão do surgimento da Escolástica. A seguir, identificaremos o ponto de vista dessas culturas tão diferentes e muito importantes para o desenvolvimento da Educação. eremos, a seguir, como cada cultura, cristã e islâmica, se desenvolveu, além de suas influências na Educação durante a passagem da Alta Idade Média para a Baixa Idade Média. Cultura cristã x islâmica Será que é possível comparar as duas culturas? Sim, é. Vamos perceber as características de um modelo e de outro e, dessa forma, mostrar como a Escolástica bebe desta relação. Erudição Islamismo Essa cultura teve dois tipos de escola: elementar e superior. Na escola elementar, o foco do ensino era o Alcorão, que possui um conteúdo interdisciplinar, pois aborda, além da questão religiosa, assuntos sobre direito, política, sociedade e noções básicas sobre ciências. Já no ensino superior, além da abordagem religiosa, havia várias áreas do saber, como a Química e a Erontologia, estudo do sexo, e a Medicina – inclusive com o desenvolvimento de cirurgias. A erudição se manifestava pela tradução de intelectuais de diversas religiões e partes do mundo para o árabe, permitindo que suas ideias circulassem. Cristianismo O que dá legitimidade a algum elemento, ou seja, o que deixa algo reconhecido de forma viva e valorizada? Mostrar que existem antecessores importantes e pares poderosos. Esse é um traço da cultura escolar construída. O tempo todo afirma-se por meio de herdeiros de santos, herdeiros de intelectuais, pares de reis, bispos, ou seja, criando uma rede, que é valorizada ao dizer que um estudou com o outro e isso foi tônica durante o Renascimento Carolíngio. A pregação é feita sempre usando as Sagradas Escrituras, mas nunca apenas elas. Primeiramente, o pregador mostra como é erudito e busca as palavras de um clérigo importante que tenha comentado sobre a mesma passagem. Escrita O sentimento de que o mundo falava árabe era comum aos cronistas que, ao andar pelo mundo, sempre encontravam alguém que conhecia o idioma. A expansão do islamismo teve diversos desafios, mas um dos maiores foi integrar povos tão diversos. Os muçulmanos não impunham a sua religião, no entanto, davam vantagens a quem se convertia. Mesmo para grupos tão diferentes, todos os que buscavam a conversão precisavam escrever e falar em árabe. O entendimento era de que o Alcorão não era uma revelação só pela mensagem, mas na forma. O árabe era a língua em que a mensagem se manifestou. Assim, durante a aquisição das primeiras letras, nas escolas fundamentais, a instrução aos jovens começava pelo mesmo caminho: ensino da língua e domínio da escrita árabe. Para mostrar e difundir este olhar sobre a Educação, não basta uma revisão superficial do texto bíblico, que já tinha sido modificado no decorrer dos séculos. Era preciso ir além. Assim, duas inovações foram seguidas. A primeira foi a adoção de uma escrita de melhor qualidade. Dessa forma, os clérigos carolíngios generalizam o uso da minúscula carolíngia, espécie de letra menor e mais elegante, que foi utilizada nos séculos precedentes. Essa mudança tornou os livros mais manuseáveis e legíveis. A segunda mudança, também na época carolíngia, foi a adoção do hábito de separar as palavras e as frases umas das outras com um novo sistema de pontuação em oposição ao modo antigo de escrita que o ignorava completamente. Essas duas alterações, acrescidas de uma melhor organização dos scriptoria favoreceu a popularização da escrita. Língua O crescimento de seu domínio e o despertar do interesse de governos gerava uma ampla circulação de pessoas, que desejavam conhecer e dominar a língua e os ensinamentos. O reino do Gana, por exemplo, vai aos principais intelectuais pedir ajuda para se converter. Turcos e mongóis, que surgem como inimigos da religião e do domínio muçulmano, acabam sendo convertidos pelos seus líderes à nova religião. Professores e intelectuais eram contratados nas cidades maiores e circulavampelo mundo muçulmano dedicados a ensinar a língua e outros fundamentos da cultura e da religião. Esse interesse se dava pelo que representava seus conhecimentos. Sua expansão fazia com que o mundo conhecesse seus domínios de medicina, leis, navegação etc. As trocas constantes e intensas geraram uma rica dinâmica comercial e cultural. Não é exagero dizer que, durante a Idade Média, o mundo muçulmano representava os mais importantes centros de cultura, pesquisa e comércio, atraindo vários povos. Outra forma de divulgação das obras antigas é a perpetuação de um conhecimento regular das regras do latim, que faz com que a gramática e a retórica sejam as principais disciplinas da erudição carolíngia. Vale lembrar que estamos em um período em que a língua latina evolui de maneira distinta em cada região. Nesse momento, os eclesiásticos carolíngios adotam uma decisão que conduziu o futuro linguístico da Europa. Eles admitiam que as línguas faladas pelas populações se distanciavam irrevogavelmente do latim clássico, a ponto de aconselharem que os sermões fossem traduzidos para as distintas línguas vulgares. De um lado, havia uma multiplicidade de línguas vernáculas faladas localmente pela população e, de outro, uma língua erudita, aquela do texto sagrado e da Igreja, incompreensível para os fiéis. Escolas A instrução básica ocorria em centros formados dentro das mesquitas. Deveria ser ensinado a todos uma formação básica no idioma e alguns rudimentos de filosofia/religião islâmica. Os estudos avançados eram realizados em centros maiores conhecidos como “Casas de Cultura” chamados por muitos de embriões das universidades medievais. Esses espaços reuniam escritos, sábios de regiões diversas e o ensino era marcado pelo ecletismo. Só poderiam participar muçulmanos ou povos dos livros – salvo quando cristãos e muçulmanos estavam em conflito. As escolas cristãs eram organizadas principalmente nos mosteiros. A partir dos oito anos, as crianças seguiam para esses locais e, ao completarem 18 anos, poderiam escolher se seguiriam a vida eclesiástica ou não. No período do governo Franco de Carlos Magno, surgem as primeiras escolas nas cidades, com profissionais que ofereciam seus serviços como professores particulares. Esses locais eram reconhecidos como escolas menores. Elas eram depreciadas pelas grandes escolas monacais e, por isso, tratadas com desdém, como escolinhas ou Escolástica. Em pouco tempo, esses professores e as escolas dos centros urbanos motivaram uma importante mudança no pensamento medieval. Podemos dizer que os francos salvaram a cultura ocidental? Claro que não! Há outros povos importantes. Quer conhecer mais? Leia o texto Os visigodos no Explore +. Clique na tocha para visualizar o conteúdo. Clique para visualizar o texto Curiosidade histórica Muitos imaginam que somente os homens escreviam e que as mulheres estavam fora desse processo, mas não era bem assim. Alcuíno, conselheiro de Carlos Magno, é também o conselheiro de Gisele, irmã de Carlos Magno e abadessa de Chelles. Ela foi estimulada a desenvolver uma vida intelectual e uma intensa atividade de cópia de manuscritos em seu mosteiro. Uma grande aristocrata da Aquitânia, Dhuoda, longe da corte, transmitiu saber, no começo do século IX, ao seu filho Bernardo, duque de Septimânia, redigindo para ele um manual educativo. Abadessa de Chelles. Desenvolvimento da Educação na cultura islâmica povo árabe foi, de alguma forma, aquele que reinseriu a cultura clássica no Ocidente. Esse fato foi possível em virtude, do entendimento que tiveram da ciência grega, o que não se caracterizou como imitação. Dessa maneira, ao inserir seus elementos religiosos e científicos, acabaram difundindo elementos gregos que tinham sido remodelados. O ensino árabe também recebeu forte influência das escolas gregas e romanas. Escola Islâmica. Em parte, isso se deu pelo ensinamento de Maomé que mandou que seu povo fosse atrás do conhecimento não importando onde tivesse que chegar. Trilhando esse princípio, filósofos e sábios árabes edificaram uma grande civilização que incorporou a cultura e o conhecimento de outros povos. Foi dessa maneira que os árabes transmitiram grande conhecimento à Europa, como ocorreu, por exemplo, com a bússola, o astrolábio, o papel e a pólvora (PILETTI; PILETTI, 2012, p. 51-52). A religião islâmica se expandiu para além das fronteiras do mundo árabe. Em 711, consolidava seu domínio na península Ibérica, dominando uma parte importante deste território, como mostra o mapa a seguir. Expansão do Islã na península Ibérica. A expansão muçulmana cessa com a vitória de Carlos Martel em Poitiers. Ainda que os carolíngios sejam exaltados por essa vitória, não devemos imaginar anos de conflito na relação entre cristãos e muçulmanos. Depois da expansão no século VIII, os séculos seguintes foram marcados pela intensa troca comercial entre esses povos. Como sabemos, o comércio leva bem mais que seus produtos. Dessa forma, elementos da cultura árabe-islâmica se difundiram e influenciaram o pensamento cristão. Durante o domínio muçulmano na península Ibérica, os cristãos que permaneceram em suas regiões aprenderam a falar e escrever em árabe e nas línguas locais. Essa troca permitiu que tradutores recuperassem textos da Grécia Clássica – Aristóteles, principalmente –, que só existiam, até então, em árabe para as línguas conhecidas, fundamentando o caminho para o racionalismo cristão no século XII. Normalmente, imaginamos um mundo de conflito, em especial quando começam os movimentos das Cruzadas, em 1095, mas a relação de troca no mundo mediterrânico foi intensa. Em um primeiro momento, os textos gregos traduzidos para o árabe ajudam a consolidar os espaços culturais muçulmanos conhecidos como casas de cultura. Depois, esses mesmos materiais foram traduzidos do árabe para as línguas românticas (início das línguas modernas). Desenvolvimento da Educação na cultura cristã s reformas realizadas por Carlos Magno e seus conselheiros foram importantes. A principal delas foi a reforma da escrita. A nova escrita, minúscula carolíngia, é clara, normalizada, elegante, mais fácil de ler e escrever. Podemos dizer que foi a primeira escrita europeia. Numa intensa atividade de cópia de manuscritos nos scriptoria monásticos, reais e episcopais, Alcuíno introduziu uma nova preocupação com a clareza e a pontuação. Exemplo de minúscula carolíngia. Carlos Magno também buscou corrigir o texto da Bíblia. Esse cuidado de correção, que animará a grande atividade de exegese bíblica no Ocidente Medieval, é uma preocupação importante que concilia o respeito pelo texto sagrado original e a legitimidade das emendas devidas ao progresso dos conhecimentos e da instrução. A renascença carolíngia impõe-se ainda hoje, sobretudo pela riqueza de sua ilustração, as iluminuras. Alguns evangeliários ou saltérios (salmos) são obras de arte carolíngia. O gosto pelo texto dos salmos, que atravessará a Idade Média, fez nascer na Europa um atrativo pela poesia bíblica que dura até hoje. Rumo à Escolástica A Educação urbana, considerada menor, que passou a se organizar e se difundir a partir da Reforma Carolíngia, é fortalecida com o crescimento das cidades. Assim, aumentaram as trocas comerciais e culturais com o mundo muçulmano. A soma destes dois fatores criou um terreno fértil para outra cultura educacional. Por isso, o movimento intelectual conhecido como Escolástica, que marca a mudança do pensamento educacional medieval, só pode ser compreendido a partir do entendimento deste novo mundo. Figuras relevantes MADMÉ- O profeta dos muçulmanos. Como portador da mensagem, lidera o processo político-religioso de fundamentar a umma – união dos seguidores do profeta – sua ação praticamente unifica a península Arábica e, com suas propostas, fundamenta os pilares da nova religião. CARLOS MAGNO - Foi coroado pelo papa em Roma e aclamado como imperador. Manteve uma apurada política de vitórias militares e não se afastou dos ideais políticos francos, deixando o reino para todos seus filhos.ALCUINO - Foi importante conselheiro de Carlos Magno, fundamentando a organização das principais escolas do reino, tanto para formar nobres como para organizar os mosteiros – femininos e masculinos. ALFARABI - Filósofo e teólogo que fundamenta um movimento aristotélico no mundo muçulmano, atuando na aproximação entre as questões políticas e filosóficas. O conhecimento é algo integrado. AVERROIS - Filósofo que fundamentava seu olhar em Aristóteles, estudou Teologia, Medicina, Direito, Filosofia e Matemática. Sua grande contribuição foi por seus comentários às obras de Aristóteles, que foram de suma importância para o Renascimento na Europa medieval. Introdução A Escolástica não é algo fácil de entender. Para facilitar a compreensão, veja algumas chaves de explicação: Ela é um movimento relacionado ao crescimento do comércio e dos centros urbanos na Europa e, consequentemente, marcado pela disputa de intelectuais. Ela muda o lugar de Deus. Sim! Se Deus era algo a ser alcançado, agora Ele está dentro de cada um de nós e alcançá-lo é uma operação racional. O papel da Educação nisso é preparar o sujeito para que ele possa ativar sua centelha divina, seu lugar de razão e mergulhar em si para poder alcançar a Deus e explicar o mundo. Neoplatonismo x Neoaristotelismo e um lado, temos uma tradição histórica, monástica, que bebe nos chamados pais da Igreja, com uma forma reconhecida e reafirmada: o modelo neoplatônico. Do outro lado, aparecem os movimentos urbanos e as novas tendências educacionais recebidas pelo mundo árabe. As cidades se tornam um local de debates públicos e valorização da razão. Lembrando que é uma razão cristianizada. Filosoficamente, esses modelos têm questões fundamentais com a Educação: Neoplatonismo Herdeiro da Patrística, partindo especialmente de Agostinho – Deus deve ser sentido, ele não precisa de uma explicação racional. Precisamos de mestres para conduzir os sujeitos pela prática, pela repetição de nomes da Igreja para alcançar Deus. Como Deus é tudo, inclusive todo o conhecimento, a busca por Ele é um exercício constante de alcançar a verdade em algum lugar. Neoaristotelismo Herdeiro da Escolástica, em especial de Tomás de Aquino – Deus deve ser explicado. Todo homem tem uma essência, um caminho racional que explica tudo. Essa essência, no caso dos homens, é divina. Logo, Deus não está em um lugar que deva ser alcançado, mas deve ser buscado dentro de cada um. Se minha capacidade de pensar e entender o mundo é centelha divina e a razão é divina, é divino fomentar o conhecimento e o racionalismo. Deus deve ser conhecido. Veja, a seguir, uma comparação entre essas duas correntes filosóficas. O professor Rodrigo Rainha explica as principais diferenças entre Patrística e Escolástica. Mas por que isso acontece? Vamos ver o contexto. século XIII europeu, caracterizado pelo crescimento urbano e comercial, foi também, no ambiente citadino, o século da Europa escolar e universitária. Assistiu-se, a partir do século XII, beneficiadas pelos burgueses, a multiplicação das escolas urbanas. Por extensão, criou-se uma fundação capital para o ensino na Europa, o nascimento mais extraordinário e que introduziu uma tradição ainda viva atualmente: a das “escolas superiores”, também chamadas de universidades. Essas escolas superiores ganharam, ao término do século XII, a denominação de stadium generale (escola geral), que significava uma condição superior e uma instrução de traço enciclopédico. As universidades, localizadas em regiões de grande presença de organização de ofícios urbanos, aparelharam-se em corporação como os outros ofícios e adotaram a terminação “universidade”, que expressava corporação. Tal vocábulo foi usado pela primeira vez em Paris, no ano de 1221, para indicar o grupo de mestres e de estudantes parisienses (universitas magistrorum et scholarium). Manuscrito medieval mostrando uma reunião de doutores na Universidade de Paris. BNF, Français 1537, fol. 27v. Modelo bolonhês Apenas os alunos constituíam juridicamente a universitas. Modelo parisiense Mestres e estudantes compunham uma única comunidade. Somente o exemplar parisiense chegou aos dias atuais. As universidades A primeira universidade foi a de Bolonha, ainda que tenha sido regulamentada pelo papa apenas em 1252. Desde 1154, o Imperador Frederico Barba Ruiva conferira prerrogativas aos mestres e aos estudantes de Bolonha. Só para entendermos, há várias associações de mestres que transformavam as cidades em polos de atração de alunos. Esses alunos eram famosos pelas bebedeiras, festas e pelo conhecimento, mas estas escolas não eram reconhecidas como nada diferente do que um centro de cultura. Universidade Escolástica. (VOLTOLINA, Laurentius. Liber ethicorum des Henricus de Alemannia. The Yorck Project (2002) 10.000 Meisterwerke der Malerei (DVD-ROM)) A partir do final do século XII, principalmente ao longo do XIII, vemos a consolidação de uma instituição, com regras e cátedras (cadeiras) reconhecidas pelo papa. Seu modelo era semelhante ao de um mosteiro, mas, ao invés de um abade, havia um rector (reitor). Além disso, o reconhecimento do título passa a ter uma cerimônia em que o mestre, representando ser o portador do conhecimento, dá a outorga ao aluno, transformando-o em um novo portador do dom. Para entender isso melhor, olhe para os cerimoniais de formatura que ainda existem hoje. Todos ainda se baseiam na tradição e sua reprodução. O magnífico reitor outorga o grau – não mais por Deus, mas pelo Estado e pela instituição – colocando o aluno na condição de membro da Universitas. A Universidade de Bolonha é um exemplo. Podemos ver processos parecidos destas duas fases – organização e status formal de universidade – igualmente em Paris: 1174 1200 1215 1231 Clique para ver as obras. 1174 Mestres e estudantes de Paris ganham privilégios do Papa Celestino III. As novas universidades não nasceram do nada. São filhas das escolas que se formaram desde Carlos Magno, mas seu modo de pensar e operar, sua formalização, dependeu do novo momento político, vivido no século XIII. As universidades são campos abertos para novas ideias. Não à toa, são espaços vitais da Escolástica e do pensamento aristotélico. Clique na tocha para visualizar o conteúdo. Clique para visualizar o texto Curiosidade histórica A Bula Universitas Parens Scientiarum conferida à Universidade de Paris pelo Papa Gregório IX continha um elogio famoso a respeito da instituição universitária e da Teologia, que se tornara na universidade, segundo expressão do Padre Chenu, uma “ciência”. Fundamento aristotélico da Escolástica Dois grandes nomes se destacam na corrente Escolástica. São eles: Aristóteles De certo modo, foi o principal teórico das universidades do século XIII e, especialmente, da Universidade de Paris. Apesar de seus textos já terem sido traduzidos para o latim há muitos séculos, foi a partir do século XIII que se destacaram nessas traduções oriundas do árabe para línguas vernáculas a sua metafísica, sua ética e sua política. Assim, podemos afirmar que houve um aristotelismo medieval por volta de 1260-1270, pois suas ideias estavam presentes em quase todo o ensino universitário. Tomás de Aquino Foi um dos grandes introdutores do pensamento aristotélico nas universidades. No entanto, aproximadamente em 1270, o aristotelismo recuou por causa da condenação de tradicionalistas, como Estêvão Tempier, e pelos ataques de mestres mais “modernos”, que opunham a ele ideias mais místicas e menos racionalistas, tais como os franciscanos João Duns Escoto (1266-1308) e Guilherme de Ockham (1285-1347), além do dominicano Meister Eckhart (1260-1328). O legado da ação intelectual, especialmente a universitária, do século XIII, foi a série de métodos e de textos que foram categorizados como Escolástica, inicialmente no século XII, e, mais profundamente, nas universidades no século XIII. Escolástica deriva do desenvolvimento da Dialética, uma das artes que compõem o Trivium, “a arte de argumentar por perguntas e respostasnuma situação de diálogo”. O fundador da Escolástica é Anselmo de Cantuária (1033-1109), para quem a Dialética é o procedimento principal da sustentação da reflexão ideológica. O objetivo da Dialética é a inteligência da fé, cuja fórmula ficou famosa desde o período medieval: fé em busca de entendimento (fides quaerens intellectum). Esse método era baseado em três etapas: 1 Quaestio Elaboração de um problema, ou seja, na exposição de uma questão. 2 A disputatio Discussão do questionamento entre mestres e alunos. 3 A Determinatio Resolução do problema por parte do mestre. Vale lembrar que, no século XII, no programa das universidades, havia um exercício cujo fim era a demonstração do talento intelectual dos mestres. Nessas oportunidades, duas vezes ao ano, os discentes propunham ao mestre uma questão de qualquer temática. O renome e o status dos mestres, muitas vezes, se faziam em cima de sua competência de replicar a esses assuntos. Clique na tocha para visualizar o conteúdo. Clique para visualizar o texto Curiosidade histórica No século XIII, o filósofo que promoveu a transição real do platonismo para uma forma mais sofisticada de Filosofia foi Tomás de Aquino (1225-1274): o grande nome da Escolástica. Sua obra-prima, Summa Theologica (1485), é o maior exemplo desse método de aprendizagem. Escolástica ampliou-se quando Tomás de Aquino introduziu ao método elementos da Filosofia de Aristóteles. Historicamente, na Idade Média latina, a partir da segunda metade do século XIII e no século XIV, a Filosofia apresentava-se de duas formas distintas. Vejamos: Filosofia articulada à Teologia Sob a regência normativa da Teologia – ou, como diria Tomás de Aquino, subalternada a essa ciência –, tal Filosofia era oficialmente praticada nas Faculdades de Artes das universidades. Esse era o degrau necessário para atingir a Faculdade de Teologia. Filosofia voltada à tradição antiga Esta Filosofia retomava, pela mediação do ideal de vida filosófica – renascido em terras do Islã –, a tradição antiga do exercício de filosofar como fonte do mais alto prazer e da felicidade. As universidades foram fundadas a partir das disciplinas disponíveis nas faculdades. Existiam quatro faculdades que faziam parte de todas as universidades: Direito Elaboração de um problema, ou seja, na exposição de uma questão. Teologia Estudo da exegese bíblica e da fundamentação filosófica de Deus. Medicina Dava à Medicina uma aparência mais livresca e teórica do que experimental e prática. Artes Onde se lecionavam as Artes, principalmente as do Quadrivium. Mas vale lembrar que, acima de todas elas, no que tange ao status e ao reconhecimento social, impunha-se a faculdade suprema: a de Teologia. Com muita frequência, uma faculdade prevalecia por sua importância sobre as outras da universidade. Nesse sentido: Bolonha foi prioritariamente uma Faculdade de Direito; Paris foi uma Faculdade de Teologia. Montpellier foi uma Faculdade de Medicina. Representação dos jograleses – prática comum entre os estudantes durante o período. Fonte: Livro Germânico de Música – ilustrado por Heinrich von Meißen. avia uma hierarquia pelo lugar no curriculum e pela reputação entre uma faculdade de base propedêutica. Na prática, a Faculdade de Artes foi frequentemente dominada pelas disciplinas que hoje chamaríamos de científicas. Do ponto de vista social, a faculdade foi povoada por estudantes mais jovens, mais turbulentos, menos ricos, e só uma minoria deles prosseguia seus estudos em uma faculdade superior (Direito, Teologia e Medicina). Assista ao vídeo a seguir, que trata das universidades e suas características na Idade Média. Entrevista com o professor Rodrigo Rainha sobre as quatro faculdades existentes na Idade Média, e a comparação entre as universidades medievais e atuais. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Figuras relevantes Vamos conhecer alguns dos sujeitos que foram apresentados ao longo deste módulo. ANSELMODE CANTUARIA - A proximidade com a península Ibérica e as traduções de Aristóteles acabam por transformar Anselmo no fundador da Escolástica. TOMAS DE AQUINO- Principal nome da Escolástica, foi um dos grandes introdutores do pensamento aristotélico nas universidades. FREDERICO BARBA RUIVA - Imperador do Sacro Império Romano-Germânico. Morreu partindo para as Cruzadas antes mesmo de lutar. DUNS ESCOTO - Filósofo escocês que seguiu a Escolástica e explicou a origem filosófica de Deus. GUILHERME DE OKKAM - Defendia que a única forma de atingir a verdade era a adoção da razão para chegar a fé. URBANO II - Papa que “convocou” a primeira Cruzada. Finalizamos nossa jornada sobre a Educação na Idade Média estudando os elementos que a Igreja Católica resgatou da Antiguidade e as características das escolas romanas e do Trivium e Quadrivium e a readequação desses princípios da cultura clássica pela Patrística, com destaque para Agostinho de Hipona, o Renascimento Carolíngio e o contraponto da cultura do Islã e sua influência na Europa medieval até chegarmos nas universidades e o método da Escolástica com destaque para Tomás de Aquino. Devemos pensar a Educação como um evento que pode assumir formas e maneiras diversas dependendo dos diferentes grupos humanos e suas correspondentes etapas de organização. Dessa forma, a Educação resulta em intencionalidade, bem como em imposição para alcançar seus propósitos, procurando que seus elementos cheguem a todas as partes que compõem a sociedade, como modo de se legitimar, buscando, assim, determinar uma série de valores e práticas particulares. No nosso caso, o período medieval. EDUCAÇÃO E RENASCIMENTO Conceituar modernidade para a História Introdução Quantas vezes escutamos, em nosso dia a dia, o uso da expressão moderno se referindo a algo novo ou diferente? Mas, de onde vem exatamente essa ideia sobre o que é moderno? É importante analisarmos mais detalhadamente o conceito de moderno para compreendermos como ele interfere na Educação que conhecemos. Moderno e seu derivado, modernidade, não são apenas palavras; são conceitos e, por isso, podem ter múltiplos significados. Invenção da sociedade ocidental Neste vídeo, os professores Flávia Miguel e Rodrigo Rainha debatem conceitos importantes para a construção do entendimento sobre o Ocidente e a modernidade. Vamos assistir! Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Origens A origem da ideia de moderno como novo surge de uma construção histórica. Tradicionalmente, os historiadores convencionaram dividir a História em eras para melhor compreendê-la e ensiná-la. Essa proposta, que chamamos de linha do tempo, foi muito utilizada como método de estudo, sobretudo no século XIX, pelos positivistas. Clique aqui para baixar a versão para impressão. Nesse recurso, vemos que a História começa na Idade Antiga com o aparecimento da escrita. Isso se fundamenta na premissa da tradição europeia de que povos sem escrita não teriam história, por isso, Pré-História. Essa concepção justifica, por exemplo, o estudo dos povos indígenas e africanos ter sido relegado durante tanto tempo. Após a Idade Antiga, surgiu a Idade Média, considerada a Idade das Trevas. Esse termo surge no período renascentista, já na Idade Moderna. Os historiadores desse período não viam um valor na Idade Média, entendendo-a simplesmente como uma fase entre a cultura clássica e a moderna. Daí a visão, equivocada, de que a Idade Média havia sido um período de estagnação e obscurantismo. O Moderno surge em oposição ao Medieval. O Novo e o Velho. Essa ideia se populariza, e temos ainda dificuldade em compreender que o moderno é algo concebido em seu próprio tempo. Nesse caso, seguindo a convenção, entre os séculos XV e XVIII. Moderno novo close Medieval velho Embora ainda utilizemos o recurso da linha do tempo - que atualmente possui diversos usos, desde histórico até biográfico – é sempre importante fazê-lo de forma crítica, entendendo que representa apenas convenções. Um período histórico não começa e termina com um único evento, por mais importantee significativo que ele seja. O conhecimento e a cultura são frutos de um acúmulo, que ocorre ao longo dos séculos. Temos, portanto, em nosso modo de viver, contemporâneo, diversos legados de períodos anteriores, dos quais alguns são notórios enquanto outros são menos evidentes. Como exemplo, podemos citar a nossa percepção estética, que é claramente derivada da cultura clássica, greco-romana. Com certeza gostos, culturas e ideais de beleza se alteram, porém de modo lento e sempre deixando resquícios. Clique nas duas esculturas abaixo. Qual delas chamou sua atenção de forma mais imediata? Essa construção estética que observamos foi articulada durante a Idade Moderna, período em que parte da sociedade ocidental como conhecemos se estruturou. Veja como Deus pode ser retratado de formas diversas. Passe o mouse sobre as imagens para ver as informações. Idade Antiga Os fenômenos do mundo e da vida humana eram explicados pela mitologia. Havia deuses que se encarregavam de manter a ordem da Terra e seu funcionamento. Imagem de Apollo da Antiguidade. Idade Média Os deuses deram lugar a um único Deus cristão, em torno do qual o mundo medieval se organizava culturalmente. A Imagem de Deus Esculpida na Igreja de Vitória em Portugal. Idade Moderna O saber científico começa a ganhar espaço. Iluminura do racionalismo medieval, considerado o movimento pai da modernidade. Idade Contemporânea Consolida o saber científico. O homem que produz conhecimento, aqui representado por Copérnico e a tensão entre as tradições religiosas e Deus. Período Moderno A Idade Moderna foi um período de intensos questionamentos e rupturas. Não que, subitamente, tudo se fez novo e tudo que era ultrapassado tenha desaparecido. Mas, aos poucos, surgem novas formas de ver o mundo, novas maneiras de explicar aquilo que se vive. O ser humano é questionador por natureza; e esse desejo de aprender, sobre si e sobre o ambiente em que vive fortalece e consolida a criação de instituições escolar. Em cada tempo histórico, esse aprendizado teve um fundamento, uma forma de organização. Importante Perceba que o fato da Ciência começar a se estruturar como fonte de conhecimento na modernidade não faz, de forma alguma, com que a questão religiosa seja deixada de lado ou esquecida. A religião, em geral, e o cristianismo, em particular, assumem novos papéis na ordem social que se altera progressivamente. Consolidação do moderno Dois elementos foram fundamentais para que a Idade Moderna se consolidasse: Clique nos botões para ver as informações. Família Escola Se antes apenas as crianças de origem nobre eram alvo de alguma educação estrutural, agora também se começa a educar fora da nobreza. Um dos principais estudiosos da questão familiar, Philippe Ariès (1914-1984), afirma que: Abre aspas Os pais não se contentavam mais em pôr filhos no mundo, em estabelecer apenas alguns deles, desinteressando-se dos outros. A moral da época lhes impunha proporcionar a todos os filhos (no fim do século XVII, até mesmo às meninas), e não apenas ao mais velho, uma preparação para a vida. (ARIÈS,1986, p.277) Fecha aspas Essa estrutura familiar, que se tornou uma das características da modernidade, fez com que surgisse outro conceito que modificaria definitivamente as relações sociais: a infância. Retomando Ariès (1986), no medievo não havia uma grande separação entre as idades, e as crianças eram tratadas como pequenos adultos. Até então, não houvera grande preocupação com as crianças, seu desenvolvimento, aprendizado ou bem-estar. A mortalidade infantil no medievo era acentuada, a mobilidade social, improvável. Se o destino de uma criança era repetir – se tivesse sorte – o ofício de seu pai, a educação formal, letrada, não fazia sentido. Foram a modernidade e a retomada do letramento como algo a ser apreciado que modificaram, pouco a pouco, esse cenário. A criança deixou de ser um “adulto em miniatura” e tornou-se um indivíduo com necessidades próprias e sobre o qual ampliam-se as expectativas familiares. A modificação da forma como a infância era entendida reflete uma alteração no comportamento social, e a escola, elaborada a partir de então, traduz essa mudança. O sentido de aprendizado passa a se estruturar em torno de uma proposta didática que, por sua vez, constitui o cerne de diversas disciplinas e saberes organizados. Agora vamos conhecer um pouco mais sobre Educação e Modernidade com o Professor Rodrigo Rainha: Veremos, a seguir, como esses saberes se conformam a partir da perspectiva de movimentos caros à modernidade: o Renascimento, a Reforma e a Contrarreforma. Reconhecer a Educação no Renascimento Renascimento O Renascimento, movimento intelectual ocorrido no final da Idade Média e durante a Idade Moderna, é um tema que tem sido exaustivamente estudado. Não só pela sua importância na concepção da história intelectual do Ocidente, mas também pelas rupturas que provocou na organização do conhecimento até então estabelecido. Quando falamos em Renascimento, imaginamos a arte do período e seus representantes, como Michelangelo e Leonardo da Vinci. Essa é a face mais popular do movimento e tem sido constantemente recuperada em filmes e obras literárias de ficção. Não que esse aspecto seja irrelevante; longe disso, a questão estética e cultural é um dos fundamentos da ideologia renascentista. Contudo, é preciso desfazer o equívoco de que esse é o principal aspecto de toda a movimentação intelectual gerada pelos cientistas, artistas e filósofos do período. Dica Assista ao filme O Mercador de Veneza, baseado na obra de William Shakespeare, que apresenta uma narrativa envolvente, instigante e ainda nos ambienta na Veneza renascentista. Quer saber mais e conhecer o texto original? Acesse o Explore+ e leia o livro digital. Renascimento e Arte Neste vídeo os professores Rodrigo Rainha e Flávia Miguel debatem conceitos importantes para a construção do entendimento sobre a Arte no Renascimento. Vamos assistir! Adicione um comentário Avalie esse vídeo: O Renascimento não é apenas um. Por ser multifacetado, ele pode ser pensado em aspectos distintos (comercial, urbano, científico e cultural), os quais estão interligados e juntos compõem um quadro de mudanças extraordinárias e de grande movimentação intelectual que marcaria definitivamente o campo da Educação. A dinâmica do Renascimento é expressa em um movimento de rupturas e continuidades. Por um lado, há a retomada de valores clássicos que passaram a ser discutidos e aperfeiçoados, não só do ponto de vista estético – a arte renascentista recupera em grande medida a arte clássica –, mas também do ponto de vista político e filosófico. É necessário atentar para a ideia de retomada que tão frequentemente se utiliza ao discutir esse momento. Essa “retomada de valores” não é, sob nenhuma circunstância, uma mera transposição. Historicamente, não é possível fazer uma transposição sem alteração de um período histórico para outro. Um bom exemplo é a transformação das tecnologias e como elas impactam o mundo. Se antes os livros eram belos e coloridos feitos nos scriptoria, com a prensa de Gutenberg sua produção foi acelerada e houve o aumento de leitores. Arraste a seta pela imagem para ver as imagens. Saiba mais Vamos utilizar o pensamento do filósofo Heráclito de Éfeso, que viveu no século V a.C., para compreendermos melhor essa impossibilidade. Ele afirmava que uma pessoa jamais se banharia duas vezes no mesmo rio, pois suas águas nunca são as mesmas; estão sempre fluindo. Da mesma forma, a humanidade muda todos os dias: suas ideias, concepções, gostos e opiniões são impermanentes. Em essência, o pensamento de Heráclito traduz a ideia de mutação constante. Quando se recuperam valores ou modos de pensar que existiram no mundo clássico greco-romano, eles são adaptados ao pensamento moderno, ou seja, a um tempo diferente daquele em que foram originalmente concebidos. Portanto, por mais que o pensamento renascentista traga para a modernidade conceitos clássicos, como a ideia de cidadão, eleo faz de acordo com seu próprio tempo e não apenas reproduzindo o que se entendia como cidadão na Antiguidade. O Renascimento foi um terreno fértil para que se discutisse a condição humana. As mudanças no modo de vida da população, a substituição progressiva do sistema feudal pela centralização política, a recuperação e dinamização do comércio trouxeram novos questionamentos ao indivíduo moderno e, dentre eles, qual era a natureza humana de fato e, sendo ela estabelecida, qual o papel do Estado no seu controle. À medida que o Feudalismo, fundamentado na fragmentação de poder, era substituído pela centralização política, tornava-se importante compreender o Estado que derivaria dessa centralização. Vejamos alguns pensadores que retrataram essa mudança. Pensadores O pensamento educacional no Renascimento e no movimento intelectual que o segue, o Iluminismo, se estrutura apoiado em diversos autores. Analisaremos dois diferentes pensadores para compreendermos suas ideias e como eles influenciaram o campo da educação. Comecemos pelo italiano Nicolau Maquiavel (1469-1527), autor de uma das principais obras de política já produzidas, O Príncipe; um manual de política escrito no século XVI, que expunha suas principais ideias acerca da arte de governar. Importante De sua obra-prima nasceu o termo maquiavélico, que adquiriu o sentido de luta e manutenção do poder a qualquer custo. Os estudiosos da obra de Maquiavel contestam amplamente esse sentido porque - apesar de ter afirmado que os fins justificam os meios - há ressalvas e condicionantes, como a ideia de justiça e bem comum, também trabalhadas pelo filósofo. Quais as funções de um rei e suas obrigações com o povo? Quais os limites impostos ao soberano, se é que deve haver limites? Esses questionamentos estão no cerne da obra de Maquiavel e, em busca dessas respostas, o filósofo discorre extensamente sobre a natureza humana, o Estado e o papel da Educação. Note que não é ainda a ideia de educação formal como mais tarde seria estruturada, mas uma educação prática, para a vida em sociedade. La Divina Commedia di Dante, de Domenico di Francesco Maquiavel e outros pensadores que o sucederam entendiam que o ser humano em estado natural tende a ser selvagem. Sem um Estado e leis que o regulem, ele é dominado por suas paixões e seus desejos, tomando para si aquilo que cobiça sem que haja consequências ou punições. Essa natureza torna impossível a vida em sociedade, pois - sem disciplina e regulamentos, além de uma figura de autoridade para impor, mesmo que com o uso da força - não haveria a ordem social. A educação dá-se pelo exemplo. Cabe ao governante educar pelo exemplo para que se construa o sentido da cidadania e formem-se bons cidadãos. Como colocam Oliveira e Rubim (2012): Abre aspas Depreende-se das reflexões de Maquiavel que ele concebe o ser humano como agente de seus atos, portanto capaz de escolher seu caminho, pelo fato de possuir livre arbítrio, mas precisa de um direcionamento que o ajude a fazer as escolhas corretas. Esse direcionamento pode ser realizado por meio do exemplo do governante, pela educação e com boas leis. (OLIVEIRA e RUBIM, 2012) Fecha aspas É importante percebermos que esse sentido de educação pelo exemplo é uma das primeiras concepções de educação da modernidade. Na ausência de um formalismo, o mestre torna-se exemplo daquilo que deve ser aprendido. Essa ideia de mestre e discípulo, de aprendizado pelo exemplo, já existia na Antiguidade entre as primeiras escolas filosóficas, onde também se debatia a natureza humana e seu comportamento social. Esse é um exemplo de retomada de valores clássicos, adaptados por Maquiavel ao mundo moderno. A Educação para Maquiavel estava, inegavelmente, vinculada à virtude. Mas ele não é o único pensador moderno que entendia a educação dessa maneira. O sentido de virtude aparecia em outras propostas pedagógicas, como a do filósofo inglês John Locke (1632-1704). Clique no botão para ver as informações. Autores contratualistas Apesar de os renascentistas questionarem e criticarem a Igreja como instituição, entendiam-na separada da fé em Deus. Os movimentos do Renascimento não eram ateus, mas colocavam em xeque as instituições e a forma como elas se relacionavam. O racionalismo renascentista permitiu que essas discussões ocorressem. Esse princípio buscava compreender o mundo por meio da observação dos fenômenos, recusando explicações simplistas ou de caráter religioso. Mesmo os questionamentos simples, possuíam anteriormente, respostas teológicas. A partir do momento em que o ser humano se dedica a estudar o mundo que o cerca a partir de outro olhar que não seja o religioso, diferentes explicações tornam-se possíveis, e a Ciência começa a se estruturar como fonte legítima de conhecimento. A Física, a Química, a Medicina e a Botânica passam a oferecer novas formas de compreender o mundo. Essas ciências se baseiam no empirismo, na observação dos fenômenos. O empirismo foi um dos pilares da modernidade e, como pensamento, está presente até nossos dias. Locke fundamentou dinâmicas pautadas na liberdade e na condição social de formação do sujeito. A partir desses fundamentos, formulou uma série de propostas pedagógicas que acreditou serem importantes para estabelecer princípios educacionais sólidos e bem-sucedidos. Essas propostas foram reunidas em sua obra Alguns pensamentos sobre a Educação, produzida em 1693. Para Locke, a educação possuía um caráter eminentemente moral. De nada adianta a um indivíduo dominar os princípios da Ciência se isso não o torna uma pessoa e um cidadão melhor. Vemos aí uma sofisticação da premissa maquiavélica de educação virtuosa posto que, também segundo Locke, a Educação deve servir a um propósito maior. A preocupação com o mestre, que Locke chama de tutor, é constante: Abre aspas O preceptor não deve ser somente um indivíduo bem educado; é preciso que conheça o mundo, os costumes, os gostos, as loucuras, as mentiras, as faltas do século em que o destino tem lançado, sobretudo, o país em que vive. É preciso que saiba fazer conhecer e descobrir tudo isso a seus discípulos, à medida que estes se capacitam para compreender; que os ensine a conhecer os homens e seus caracteres; que descubra a careta com que disfarçam com frequência seus títulos e suas pretensões; que faça distinguir o que está oculto no fundo dessas aparências. (LOCKE, apud BALABAN, 2012) Fecha aspas Educar pelo exemplo, educação para cidadania. Esses princípios são fundamentais para compreender a Educação no Renascimento. A eles, Locke acrescenta um outro viés, herdado das concepções greco-romanas: a saúde e o desenvolvimento físico. Locke demonstra cuidado no aperfeiçoamento moral e físico do ser humano. Renascimento ou Iluminismo? Você já deve ter notado que é muito comum confundir o pensamento Renascentista com o Iluminista. Embora o primeiro tenha acontecido nos séculos XV e XVI e o segundo no século XVIII, parece que são a mesma coisa. Não são! Contudo, são inegáveis as influências e continuidades na ruptura desses pensamentos. A razão e a empiria renascentista eram alguns dos pilares do movimento iluminista, que ocorreu no século XVIII. Esse período ficou conhecido como Século das Luzes, em oposição às trevas que obscureciam a razão. Cada vez mais razão e ciência passaram a ser vistas como fontes de conhecimento, e aumentava a necessidade de se educar com base nos princípios da empiria e da razão. Um de seus principais representantes, no que toca ao debate acerca do conhecimento e do aprendizado, foi Immanuel Kant (1724-1804). Sua proposta fundamentava-se na seguinte ideia: Todo conhecimento deve ser questionado afastando, cada vez mais, o conhecimento científico do teológico. Partindo desse princípio, Kant foi além; defendia que devemos criticar a própria razão e que nem mesmo ela é imune a erros. Sobre a pedagogia kantiana, Silva (2007) afirma que: Abre aspas A pedagogia expressa na filosofia kantiana, embora fiel aos ideais iluministas, é, ao mesmo tempo, uma críticaa esses mesmos ideais. Para Kant, a razão jamais deve prescindir de uma crítica de sua própria capacidade. A preocupação essencial do filósofo com a educação insere-se no campo da moral, posto que o ser humano não nasce moral, mas torna-se por meio da educação, cuja função primordial consiste em fazer despertar a reflexão crítica no aluno. A formação do caráter na pedagogia kantiana assenta-se no cultivo da boa vontade, cujo fundamento é o imperativo categórico que, por meio do exercício crítico da razão, une o subjetivo e o objetivo, o individual e o coletivo numa mesma ordem. (SILVA, 2007) Identificar o movimento da Reforma, da Contrarreforma e o modelo de educação jesuítica implantado no Brasil Religião no Renascimento Apesar da Idade Moderna ter sido marcada pelo enaltecimento da razão, o quesito religioso não deixou de ser importante. Seria um equívoco enorme imaginar que suas manifestações não estavam em meio à religião. Se na Idade Média a religião era o centro do conhecimento e da vida em sociedade, na Idade Moderna ela se modificou e adquiriu novo sentido. Isso ocorre, em parte, devido às transformações, como os movimentos renascentistas, e pelo movimento de Reforma Religiosa. As obras de Michelangelo são encontradas no Vaticano e não chegaram lá por acidente! Veja: se as ideias mudaram, a vida social mudou, tornando-se mais individualista, e o próprio conceito de Ciência se alterou; certamente a religião, parte tão importante da cultura ocidental, também sofreu mudanças. No caso da Igreja Católica, as propostas de mudança remontam ainda à Idade Média. Ao longo do tempo, a Igreja se tornara uma grande proprietária de terras, acumulando imensa riqueza e poder. Sua soberania e influência política na maior parte dos reinos europeus entrava em contradição com aquilo que era pregado pela Bíblia, sobretudo no que diz respeito ao Novo Testamento. O papel primeiro da Igreja, salvar almas, foi, na visão de seus críticos, sendo deixado de lado. St. Peter’s, de Viviano Codazzi. A Arte é um bom relevo do poderio da Igreja e da contradição de sua força social. Essa representação foi feita de muitas formas, contudo uma das melhores é absorver toda a dor e a contradição nos detalhes das obras de Caravaggio. A perspectiva, a Arte, a serviço da crença. À medida que a instituição enriquecia, afastava-se das questões espirituais e se aproximava do campo da política. Reforma Religiosa Não havia uma separação entre Igreja e Estado. Isso significa que a Igreja podia prender e julgar aqueles que, segundo seu entendimento, cometessem crimes de fé, como renegar princípios católicos. A despeito do temor que as punições provocavam, diversos pensadores, chamados de reformistas, questionavam a conduta da Igreja Católica, o que desencadeou, na Idade Moderna, na chamada Reforma Religiosa. Um dos primeiros pensadores a questionar a doutrina e a conduta da Igreja Católica foi Jan Hus (1369-1415), ainda no século XIV. Para Hus, a Igreja devia se aproximar de seus fiéis e, por essa razão, defendia que as missas deviam ser celebradas na língua de cada povo. A modificação do idioma para facilitar a compreensão da missa (naquela época, as missas eram rezadas somente em latim, idioma que a população não compreendia) tornou-se um tema constante para os reformistas, os quais acreditavam que dessa maneira poderiam aproximar os fiéis da prática religiosa. Embora houvesse punições severas, elas não impediram o movimento reformista. Diversas contradições eram apontadas pelos críticos da Igreja: Comércio de relíquias Enriquecimento ao invés da caridade Venda de indulgências Adoração de santos Celibato Importante A condenação da usura, do enriquecimento pelo lucro, incomodava particularmente a burguesia, que tinha aí sua fonte de riqueza. Além disso, era visto como contraditório a Igreja ser uma instituição rica, mas não permitir que a população também o fosse. À medida que essas contradições se tornavam mais evidentes, os reformistas foram ganhando apoio não só das classes burguesas, mas também de alguns governantes, reis e príncipes, cujo poder era cerceado pela interferência eclesiástica. Atuação de Lutero É nesse contexto que as reformas de Martinho Lutero (1483-1546), considerado o Pai da Reforma Protestante, ganham força. Daquilo que via como contradição, era a venda de indulgências um dos principais alvos de suas críticas. Sua recusa em retroceder em suas críticas o fez ser excomungado em 1521. Sua defesa da salvação somente pela fé, no entanto, o fez ser acolhido em principados dos quais se tornou protegido. As propostas teológicas de Lutero logo se espalharam, em parte, devido a uma invenção que modificou o mundo intelectual: a imprensa. A impressão de livros permitiu que a Educação ganhasse corpo e que a leitura, antes restrita, começasse a ser popularizada. O reformista traduziu a Bíblia para o alemão, aumentando assim o número de pessoas com acesso à sua doutrina. Martinho Lutero e a Reforma Protestante provocaram uma enorme mudança na Educação, posto que na Idade Média cabia apenas à Igreja Católica o papel de ensinar, além de ela monopolizar a produção de livros. Dica Assista ao filme O Nome da Rosa, de 1986, baseado no romance homônimo do crítico literário italiano Umberto Eco; No filme, é possível ver o scriptorium de um mosteiro medieval, onde os monges se dedicavam à cópia dos livros permitidos pela Igreja. Lutero estimulava o desenvolvimento da Educação a fim de que não fosse restrita à elite e à nobreza, mas alcançasse a população para que esta pudesse ler a Bíblia livremente, permitindo-lhe se aproximar de Deus e de sua própria salvação. Contrarreforma A Reforma Protestante provocou a resposta da Igreja Católica, conhecida como Contrarreforma Católica. Foi realizado então o Concílio de Trento, que começou em 1545, cujas competências eram: Clique nos botões a seguir. Importante Não podemos esquecer que o século XVI foi o século da Expansão Marítima. Os reinos europeus se lançaram ao mar a fim de conquistar novas terras e chegaram ao continente americano, habitado por povos que desconheciam o cristianismo. Para a Igreja, a conversão dos povos nativos da América era fundamental para manter seu corpo de fiéis e consolidar sua influência no novo continente. É importante explicar que uma historiografia vista mais de perto observa que não podemos considerar a Contrarreforma como uma resposta pura e simples, mas sim como a consolidação de um processo que a Igreja já experimentava: retomar seus preceitos conservadores, rompendo ciclos de “devassidão” muito atribuídos a papas como Rodrigo Borgia, recuperando os mandamentos que marcam a Igreja. A fundamentação teológica da Igreja é que, se houve perda de fiéis, foi porque alguns fundamentos, caminhos, precisavam ser recuperados, os desvios combativos. A fé precisava ser quente, pregada; ainda que o ideal das missões militares do período das cruzadas não devesse mais existir, seu sentido missionário – cumprir e atender uma missão – deveria ser alcançado. Santo Domingos queimando livros Reforma e Contrarrefoma Neste vídeo, Rodrigo Rainha e Flavia Miguel debatem a Reforma e a Contrarreforma. Vamos assistir! Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Os jesuítas Santo Inácio de Loyola (1491-1556) deixou a Autobiografia com a qual podemos conhecer um pouco mais de suas inspirações. Na obra, sobre a Educação, ele afirma: Abre aspas exercitava-se em dar exercícios espirituais e a declarar a doutrina cristã, e com isso fazia-se fruto para a glória de Deus. E houve muitas pessoas que chegaram a grande conhecimento e gosto de coisas espirituais. (AUTOBIOGRAFIA, Santo Inácio de Loyola) Fecha aspas O exercício do ensinar e do aprender não podia ser para si, mas para conduzir, para levar os outros à divindade, à salvação. O princípio máximo jesuítico era ensinar o caminho da salvação e, para isso, era necessário ser educado, direcionado. Os jesuítas eram considerados uma ordem militar. Sua missão era converter os povos não cristãos e desde suaorigem aproximaram-se da Educação, seguindo o que ficou conhecido como metodologia inaciana, em referência ao fundador da ordem, Inácio de Loyola. Sua pedagogia estava fundamentada no Ratio Studiorum, publicado em 1599. Saiba mais Os jesuítas chegaram ao Brasil com o Governo Geral, em 1549, portanto, antes da publicação do Ratio Studiorum. Nos primeiros anos da presença jesuíta, destaca-se a atuação do padre Manoel da Nóbrega (1517-1570), que criou os aldeamentos, locais onde os índios de diferentes etnias eram agrupados a fim de serem catequizados. Não podemos esquecer que a prática pedagógica jesuíta possuía um objetivo: converter os não cristãos. Além disso, a visão do europeu sobre o indígena era extremamente etnocêntrica, desconsiderando que esses povos tinham sua própria cultura e formas diversas de organização. Os primeiros ensinamentos jesuítas focavam o domínio da língua portuguesa pelos indígenas, o estudo da doutrina católica e, posteriormente, o aprendizado de um ofício. Os jesuítas viviam junto aos índios, nos aldeamentos, para coordenar e manter o processo de catequese. Surgem então os chamados colégios jesuítas, aos quais se deve a fundação de cidades como São Paulo, cujo núcleo de povoamento inicial se deu através do colégio fundado por Manoel da Nóbrega e José de Anchieta, denominado Colégio de São Paulo de Piratininga. Com o estabelecimento do Ratio Studiorum, os jesuítas ganharam uma importante ferramenta pedagógica. Esse manual determinava não só os conteúdos e as disciplinas que deveriam ser ministrados, mas se detinha de forma detalhada na própria prática docente que seria aplicada pelos membros da ordem. Clique no botão para ver a informação. José de Anchieta e a Educação no Brasil Importante É importante frisar que o Ratio Studiorum foi um dos primeiros planejamentos pedagógicos e escolares da educação ocidental, tendo influenciado a Pedagogia séculos depois de sua elaboração. Constitui-se de uma sistematização inédita de métodos, teorias, procedimentos curriculares que se tornaram um dos pilares da pedagogia moderna. A despeito do objetivo catequético, o Ratio Studiorum teve como fundamento a formação do indivíduo, considerando aspectos como virtude e caráter, aliando as Artes Liberais e as Letras, unindo campos como Retórica e Gramática, além da Teologia. Coube, portanto, aos jesuítas, o primeiro modelo educacional brasileiro, que influenciou, de uma forma ou de outra, todos os demais que o seguiram. Distinguir as linhas do pensamento pedagógico na modernidade Pedagogos Neste vídeo, Rodrigo Rainha e Flávia Miguel debatem o papel dos pedagogos na história da educação moderna. Vamos assistir! Adicione um comentário Avalie esse vídeo: A Pedagogia na modernidade A Idade Moderna trouxe uma preocupação com a natureza do conhecimento, o que levantou alguns questionamentos: Qual o método de aprendizagem mais eficiente? Como acontece o aprendizado? O aprendizado se dá somente por aquilo que aprendemos ao longo da vida? Nascemos com algum conhecimento? Nascemos como telas em branco? Apesar de terem sido formulados há séculos, alguns desses questionamentos ainda não possuem uma resposta consensual. É o caso do conhecimento inato. Nascemos com algum tipo de conhecimento ou somos uma tabula rasa como dizia John Locke? Saiba mais A expressão em latim tabula rasa tem o sentido de “folha de papel em branco”. Busque saber mais sobre esse conceito de Locke e aprofunde seus conhecimentos! Você consegue reparar que nossa forma de ver, pensar e discutir a Educação tem muita influência desse momento? trescartas.jpg Essa época trouxe modelos que ainda nos guiam e ofertam possibilidades de vivenciar a Educação. Vamos conhecer essa herança! Como educar Se, na Idade Média, não houve uma grande preocupação em sistematizar a Educação para todos, de modo geral, a partir de então se começa a pensar qual a melhor e mais eficiente forma de educar. O pensamento moderno foi muito importante para se debater a natureza do conhecimento. A disciplina, tão importante na Idade Média e na educação religiosa, seria rediscutida, sendo revista como o principal fator do aprendizado. Importante Não houve uma ruptura definitiva. Os projetos pelo racionalismo e pela empiria influenciaram o processo iluminista, passaram a se digladiar e acabaram se unindo. Autores Para entender esse projeto, precisamos conhecer um autor muito importante: Johann Heinrich Pestalozzi (1746-1827). Ele escreveu depois do início do movimento que marcou a modernidade, porém tornou-se um ícone desse movimento por não estar preso à dinâmica do pensamento iluminista francês, mas às demais correntes filosóficas presentes na sociedade. Saiba mais No final do século XVIII, a Suíça foi invadida pela França durante as chamadas Guerras Napoleônicas. Essa invasão provocou um aumento no número de crianças órfãs. Pestalozzi reuniu as crianças para que fossem cuidadas e educadas, desenvolvendo algumas de suas ideias mais significativas a partir de então. Para Pestalozzi, o afeto seria um dos principais componentes do processo educacional. É o amor que estimula a criança a aprender, preenchendo-a de dentro para fora. Sua teoria comparava a escola a uma casa. Uma casa bem organizada funciona a partir do amor e da disciplina. A disciplina não seria o principal fator do aprendizado, mas sim o afeto. O que não quer dizer que ela fosse deixada de lado, apenas não seria obtida a partir de castigos e punições. Antes de se dedicar à Educação, Pestalozzi tentou ser agricultor, tarefa na qual não obteve sucesso. Essa curta experiência permitiu que ele comparasse a criança à semente, referindo-se ao potencial que esta teria se bem cuidada. Os valores e o desenvolvimento moral seriam, em sua perspectiva, mais importantes do que somente o conteúdo que pudesse ser aprendido. O aprendizado se dá pela prática e pelo exemplo dos mestres. Pestalozzi entendia que alunos e mestres deveriam compartilhar todos os aspectos da vida, frequentemente vivendo no mesmo lugar e estimulando o pensamento autônomo, o que faria da criança um indivíduo racional e moral. Suas ideias, extremamente avançadas, encontraram eco e se tornaram o fundamento de práticas educacionais que aboliram, progressivamente, a disciplina de forma repressora e violenta, buscando uma educação mais autônoma e harmônica. Se a afetividade de Pestalozzi se afastava do caráter científico proposto pela Idade Moderna, não podemos dizer o mesmo das teorias de Johann Friedrich Herbart (1776-1841). Ao compartilhar a ideia de Locke sobre a tabula rasa, entendendo que nascemos desprovidos de conhecimento e o vamos adquirindo ao longo da vida, Herbart via a Educação como uma ciência. Coube a Herbart a tarefa de cientificizar a Pedagogia, dotando-a de métodos, formas de medir e de avaliar o conhecimento obtido. Um aspecto fundamental – e revolucionário – em sua obra foi a aproximação com a Psicologia, ciência que, no início do século XIX, ainda engatinhava. Assim como Pestalozzi, Herbart também defendia que o objetivo final do processo educativo era a formação moral e não meramente conteudista, mas entendia que a forma para chegar a esse objetivo era distinta da afetividade proposta por Pestalozzi. Sua proposta se dividia em três procedimentos fundamentais: Clique nos botões para ver as informações. Governo Instrução Disciplina Dos três processos, a instrução - o processo de aprendizado propriamente dito - seria o mais importante. Não podemos desvincular a pedagogia científica de Herbart do seu contexto de produção. Herdeira da tradição iniciada por Kant acerca da racionalidade e da razão, essa pedagogia é fruto das transformações intelectuais ocorridas entre os séculos XVIII e XIX. A Idade Moderna era baseada no individualismo enquanto a Pedagogia, progressivamente, voltava-se para uma concepção mais coletiva, o aprender como prática social. Importante Tanto Herbart quanto Pestalozzi trabalharam o aprendizado como algo individual, particular, o que a Pedagogia contemporânea tende a rejeitarcomo objetivo final do processo educativo. A criança saiu do adulto em miniatura, na Idade Média, para o sujeito do pensamento pedagógico nos séculos XVIII e XIX. Essa premissa se torna mais evidente ao estudarmos o pensamento de um dos mais notáveis discípulos de Pestalozzi, o alemão Friedrich Wilhelm August Fröbel (1782-1852). Assim como Pestalozzi, Fröebel foi criado na doutrina protestante, o que influenciou sobremaneira seu pensamento. Desenvolveu várias ideias de Pestalozzi, criando o primeiro segmento educacional voltado totalmente para a criança, o que chamamos de jardim de infância. jardim-de-infancia.jpg jardim-de-infancia2.jpg A ideia de jardim vem do princípio de a prática do educador ser semelhante à do jardineiro, que cuida de suas plantas até que alcancem seu total desenvolvimento. A expansão das potencialidades da criança seria alcançada não somente pelo aprendizado rígido, mas por uma proposta lúdica. Fröebel foi quem primeiro entendeu o brincar como uma forma de aprender e desenvolveu a ludicidade como ferramenta pedagógica. Ainda preso ao individualismo da modernidade, Fröebel propôs o desenvolvimento autônomo, não vinculado a uma prática coletiva, embora focasse também na moralidade como objetivo do processo de aprendizagem. É interessante notar que esses pensadores têm em comum a ideia de uma educação prática. Que o aprendizado só ocorre através do fazer e que a teoria, sozinha, é algo vazio. Essa característica está muito ligada à modernidade, em que a ideia do “saber fazer” se desenvolve dotando a Educação de seu caráter prático. Evolução não linear da Educação Os fatores culturais renascentistas contribuíram para a busca de uma melhor forma de educar. Embora os desdobramentos históricos desse movimento não tenham seguido uma linearidade, ora sendo influenciados pela Ciência, ora pela religião, também não se pode dizer que sofreram um ruptura definitiva; ainda somos guiados por alguns desses modelos quando vivenciamos a Educação. Para ajudá-lo a entender melhor como o modo de ver a Educação foi influenciado ao longo da História pelo contexto de cada época, faça o download do esquema. Considerações finais Falamos sobre Renascimento ou de modernidade? De ambos! Modernidade é um termo genérico criado para definir o momento de ruptura e afirmação do poderio Europeu. Apesar de sua construção, ele é cheio de contradições, que você acompanhou ao longo deste tema. Então, uma vez que, no século XV – XVI, a Europa inaugura uma ruptura do pensamento, conhecida como Renascimento, descortina-se um conjunto enorme de possibilidades. Ao mesmo tempo, o campo religioso se coloca em disputa na Reforma × Contrarreforma, chegando até o Brasil e marcando a questão jesuítica. A Educação é influenciada e passa a ser uma métrica ocidental, valorizada, que aponta para o entendimento do nosso mundo. O Renascimento foi a pedra angular que inaugurou uma profunda mudança de nosso mundo. O pensamento iluminista A Idade Contemporânea, na qual vivemos, começa com uma série de eventos que podem ser resumidos nas revoluções no fim do século XVIII, que são: Revolução Industrial Inglesa, Revolução Francesa e Revolução Americana. Mas, além dessas, outra revolução foi fundamental naquele momento e afetou diretamente a Educação: o Iluminismo! O Iluminismo foi um movimento intelectual francês do século XVIII, denominado também de “Esclarecimento”. Esse movimento foi liderado por filósofos e políticos, que pregavam a necessidade de se “trazer luz/ esclarecimento” à sociedade, combatendo, especificamente, o absolutismo e a religião, entendidos como entraves ao livre pensar. O Iluminismo teve a sua maior representação na Revolução Francesa (1789), mas já havia expandido suas ideias na Europa bem antes disso. Em qual contexto o Iluminismo se estabeleceu? No século XVI, período conhecido como Antigo Regime, um acordo de governo foi estabelecido entre a burguesia e a nobreza. Nesse acordo, a Igreja era a base ideológica, responsável por legitimar o poder do rei e por educar os burgueses sobre a ordem natural do mundo. Nesse contexto, por um lado, o rei era visto como uma figura divina e ungida por Deus; por outro, era responsável pela manutenção da ordem e da lei, fazendo justiça e guerra, quando necessário. A ilustração de Luís XVI e Maria Antonieta com o povo de Paris ilustra essa visão da divindade do rei. Observe que, à frente deles, está o povo junto com anjos ajoelhados e, por trás de Luís XVI e Maria Antonieta, há uma cruz, caracterizando o poder divino concedido ao rei. Desde o Humanismo, o pensamento racionalista instaurou-se buscando superar o regime anterior, apresentando a razão humana como única necessária e capaz de dar aos homens condições plenas de vida. No século XVIII, o Iluminismo manifestou esse racionalismo de forma radical. Um exemplo concreto ocorreu na França, que passava por uma grande crise política, inflamando o povo contra o absolutismo do rei Luiz XVI, que foi deposto durante a Revolução Francesa e executado no ano seguinte. Observe, na ilustração, uma representação do momento em que Luís XVI foi preso. Como vimos, o Iluminismo atingiu seu apogeu na luta contra a monarquia absolutista durante a Revolução Francesa, que tinha como lema Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Nesse contexto dois elementos se destacam: Valorização da razão como único guia dos desejos e vontades iluministas Kant, filósofo alemão, contemporâneo àquele movimento, chega a afirmar que, até aquele momento, as pessoas viviam como que em uma “infância da racionalidade”. Ou seja, não haviam chegado à maturidade do conhecimento humano. Iluminismo Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão (1789) Caracteriza a fundação das ideias iluministas, pois acreditava estabelecer leis gerais que protegeriam todo homem de qualquer forma de exploração social; especialmente de um governo absolutista, como aquele que seria destituído pela Revolução Francesa. Essa declaração inspirará a Declaração Universal dos Direitos Humanos, proclamada na ONU, em 1948. O desejo dos iluministas era iluminar as trevas, pois consideravam que o pensamento religioso era equivocado e obscuro. Por isso, o século XVIII ficou conhecido como o Século das Luzes. Foi nesse período que ocorreu o apogeu da razão, que combatia o teocentrismo da Idade Média. Nesse sentido, cabia à razão – e somente a ela – responder as indagações humanas. Qualquer outra concepção, inclusive advinda da Teologia, atrapalhava o desenvolvimento da humanidade. O Iluminismo, então, colocou o homem como centro do universo. Essa exaltação à razão convidava ao desprezo de qualquer outra forma explicativa ou especulativa da verdade. Nesse sentido, somente através da razão seria possível chegar ao conhecimento verdadeiro. É nesse contexto que a ciência racional se estabelece, tendo como base o antropocentrismo. O pensamento, então, era de que no homem, pelo homem, com o homem e somente nele estava a possibilidade de progresso, que aconteceria pela valorização exclusiva da razão. Apesar de ter sido construído no período do Renascimento, o desenho “O homem Vitruviano” de Leonardo da Vinci ilustra bem essa concepção do homem como centro de tudo. Observe: Clique na imagem. O Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci. Principais representantes do iluminismo O Iluminismo influenciou diversas pessoas, que passaram a agir de acordo com as ideias e motivações dessa forma de pensamento. Dentre elas, destacam-se Voltaire e Jean-Jacques Rousseau. Vamos conhecê-los, a seguir. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Perceba que o Iluminismo influenciou de forma significativa a sociedade, promovendo mudanças políticas, econômicas e sociais. No entanto, apesar de trazer um discurso de liberdade e de garantia de direitos, muitas das práticas dos iluministas eram contraditórias. Dentre essas incoerências internas, podemos destacar: O rei Luiz XVI e a rainha Maria Antonieta foram guilhotinados em praça pública em 1793. Apesar do artigo 11 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão.Art. 11º. A livre comunicação das ideias e das opiniões é um dos mais preciosos direitos do homem. Todo cidadão pode, portanto, falar, escrever, imprimir livremente, respondendo, todavia, pelos abusos desta liberdade nos termos previstos na lei.” Dezesseis religiosas carmelitas de Compiègne foram guilhotinadas em 1794. Apesar do artigo 10 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Art. 10º. Ninguém pode ser molestado por suas opiniões, incluindo opiniões religiosas, desde que sua manifestação não perturbe a ordem pública estabelecida pela lei.” O príncipe Delfim, filho de Luiz XVI e Maria Antonieta, morreu desnutrido e doente, em um calabouço, aos dez anos, em 1795. Apesar do artigo 8 da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão. Art. 8º. A lei apenas deve estabelecer penas estrita e evidentemente necessárias e ninguém pode ser punido senão por força de uma lei estabelecida e promulgada antes do delito e legalmente aplicada.” A influência do Iluminismo na Educação Como vimos, o Iluminismo transformou a sociedade de maneira significativa, afetando diretamente a Educação. Nesse campo, o propósito era romper drasticamente com o modelo de educação tradicional anterior (monárquico, religioso), denominado pelos iluministas de obscuro e oposto à verdade. Veja o que disse o iluminista Condorcet a esse respeito: Seja que se trate de corpos de ordens monásticas, de congregações semimonásticas, de universidades, de simples corporações, o perigo é o mesmo. A instrução que eles irão ministrar terá sempre por objetivo, não o progresso das luzes, mas o aumento de seu poder. Não de ensinar a verdade, mas de perpetuar os preconceitos úteis a suas ambições, as opiniões servem a sua vontade.” (CONDORCET apud PRIOZZI: 2016, p. 340) De maneira prática, quais foram as mudanças que o Iluminismo trouxe para a Educação? Para compreender esse processo de mudança, trouxemos o modelo de ensino proposto por marquês de Pombal. Mas, antes, vamos entender em qual contexto essa mudança se desencadeou. Estamos em Portugal, país que também foi alcançado pelos ideais iluministas. Como em outras monarquias, o rei D. José I temia perder o seu trono em decorrência do grande avanço do Iluminismo. Como forma de evitar a perda do trono, D. José I nomeou Sebastião José de Carvalho e Melo, o marquês de Pombal (defensor das ideias iluministas), como o seu primeiro ministro, desenvolvendo, assim, o chamado Despotismo Esclarecido. A principal missão de Pombal era reformar o governo português e adequá-lo aos ideais iluministas. Mapa de Portugal Pombal, como defensor do Iluminismo, era contrário aos Jesuítas. Assim, traçou um plano para acabar com a Companhia de Jesus e expulsá-los de Portugal. Como estratégia, convenceu o rei D. José I de que o atentado que o mesmo havia sofrido teria sido planejado pela família da marquesa e pelos jesuítas. O rei, então, elaborou o decreto régio de setembro de 1759, ordenando a expulsão dos religiosos da Companhia de Jesus que estivessem em seus domínios continentais e ultramarinos. Clique no botão acima. Com a expulsão dos jesuítas, o que mudou? Com a expulsão dos jesuítas, não só em Portugal, mas em todas as suas colônias, inclusive no Brasil, houve mudanças significativas, principalmente no campo da Educação. Isso, em decorrência do fato de que todo o sistema de ensino da época era jesuíta. Elencamos, a seguir, as principais consequências da expulsão dos jesuítas no campo da Educação: Grandes prejuízos para os aldeamentos indígenas Eliminação dos métodos de ensino Agressão à identidade jesuítica em suas comunidades religiosas Proibição do exercício do ministério sacerdotal Proibição de 271 missões em todo o mundo Permanência da Companhia de Jesus como oculta e inativa durante 41 anos Reforma educacional de marquês de Pombal Após a expulsão dos jesuítas, marquês de Pombal precisou criar um novo modelo de ensino, tendo como base os ideais iluministas. Seu principal objetivo era formar uma elite econômica portuguesa preparada para o comércio. Para isso, ele criou a Escola de Comércio e a Escola Náutica, nas quais se aprendia caligrafia, contabilidade, escritura comercial e línguas modernas. Assim, a estrutura deixada pelo sistema único de educação dos jesuítas foi destruída pela reforma educacional de Pombal. No dia 28 de junho de 1759, Pombal decretou, por meio do alvará régio, a suspensão das escolas jesuíticas de Portugal e de todas as colônias. Também criou as aulas régias ou avulsas de Latim, Grego, Filosofia e Retórica, oferecendo um esquema completamente diferente do que era oferecido pela pedagogia jesuítica. Estabelece-se, assim, a Educação Pública, que, vale destacar, naquele momento, não correspondia a uma educação direcionada a todas as pessoas, mas a uma educação que é mantida pelo governo, ou seja, marquês de Pombal estruturou um modelo de educação vinculado aos Governos Gerais e suas províncias. Quais são os principais pontos da reforma educacional de marquês de Pombal? A reforma educacional empreendida por Pombal, com a expulsão dos jesuítas do Brasil, se baseou nos seguintes aspectos: Criação das aulas régias gratuitas de Gramática latina, Grego e Retórica, junto com o decreto que expulsou os jesuítas. Centralização do ensino com a criação do cargo de diretor-geral dos estudos, que tinha a função de fazer cumprir as disposições do diploma, ficando a ele subordinados todos os professores régios das disciplinas citadas. Estabelecimento de cadeiras de retórica e dos chamados Estudos Menores, que incluíam, também, o estudo de Filosofia com quatro professores: um para Lisboa, um para Coimbra, um para Évora e um para o Porto. Estabelecimento da educação laica, definida como responsabilidade do governo. Assim, a Educação passou a ser controlada pelo Estado, com currículo centralizado. Ensino feito exclusivamente em português, mesmo para os índios, aos quais era oferecido na língua tupy pelos jesuítas. Instituição do subsídio literário, uma espécie de imposto, para gerar recursos para o pagamento dos professores. Clique aqui para baixar a versão para impressão. Para atender a essa nova demanda, diversos professores foram nomeados. Aqueles que foram direcionados para atuar no Brasil provavelmente não tinham a formação específica para lecionar na área a qual foram designados. Apesar do esforço de marquês de Pombal, houve inúmeras perdas com o desmantelamento de um aparato educativo que já funcionava há mais de duzentos anos, que era o modelo de educação jesuíta. Um exemplo que ilustra essa perda é o fato de que as aulas régias, isoladamente, não conseguiram suprir o conjunto de aulas e disciplinas que eram aplicadas pelos jesuítas. Sobre isso, reflita: A modernização da Educação A estrutura educacional instituída pelo marquês de Pombal, posteriormente, foi modernizada com a chegada da família real portuguesa ao Brasil. Mas, antes de abordarmos essa mudança na Educação, vamos entender o que motivou a vinda da família real ao território brasileiro. O ano é 1799 Clique no botão acima. A primeira medida de D. João VI ao chegar ao Brasil foi a abertura dos portos às nações amigas. Essa atitude foi de crucial importância para reverter a condição do Brasil de colônia de Portugal, pois rompeu com o monopólio comercial da metrópole portuguesa até então existente. A partir de então, todos os países poderiam negociar livremente em portos brasileiros. Ao retornar a Portugal em 1821, D. João deixa seu filho D. Pedro no comando do Brasil. Em 1822, D. Pedro assume o governo brasileiro, agora como D. Pedro I. Sua breve administração se encerra em 1831, quando abdica do trono. Como sucessor, ele deixou seu filho, D. Pedro II, que ainda era uma criança. Inicia-se, assim, o Período Regencial no Brasil. Considerando esses três períodos – Período Joanino (1808 - 1821), Primeiro Reinado (D. Pedro I) e Período Regencial (1831 - 1840) - elencamos, a seguir, algumas mudanças implementadas nos âmbitos social, político e econômico, e na Educação. Período Joanino Criaçãoda Imprensa Régia A importação de máquinas permitiu, pela primeira vez, a impressão oficial e a circulação de ideias na corte do Rio de Janeiro. No mesmo ano, surgiu o primeiro jornal impresso no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro. Criação do Jardim Botânico A extensa variedade de exemplares da flora tropical atraiu uma série de pesquisadores e estudiosos estrangeiros. Criação de uma biblioteca com quase 60 mil volumes trazidos nos navios Essa biblioteca daria origem à futura Biblioteca Nacional, localizada no Rio de Janeiro, uma das maiores do mundo. Criação das escolas de ensino superior na Bahia e no Rio de Janeiro Essas escolas foram criadas com o objetivo de atender às necessidades de instrução dos filhos da nobreza e da aristocracia brasileira. Até então, uma colônia não poderia ter cursos de educação superior. A criação dessas escolas foi um dos marcos do processo de desenvolvimento de uma identidade própria do Brasil. Esse processo se estendeu até 1810. Missão cultural francesa Teve como principal destaque o artista Jean Baptiste Debret, que, em suas telas, retratou modos e costumes da vida urbana da cidade do Rio de Janeiro. Criação do Museu Real O acervo do museu, mais tarde, daria origem ao Museu Nacional. Primeiro Reinado Constituinte de 1823 é dissolvida O imperador decidiu dissolver a constituinte de 1823, entre outras razões, por apresentar um projeto de constituição em que as ideias liberais eram predominantes, o que limitava o poder do imperador. Primeira constituição do Brasil A outorga da primeira Constituição do Brasil pode ser entendida como um ato autoritário e conservador por parte de D. Pedro I e do grupo de portugueses que o apoiava. Proposta de adoção do método Lancaster em escolas primárias Esse foi o primeiro método oficial de ensino implementado no Brasil, que marca o início da descolonização e da instituição do Estado nacional. Nesse ano, também foram criados dois cursos jurídicos, em São Paulo e no Recife. Além disso, ocorreu a transformação de alguns cursos superiores em faculdades isoladas. Período Regencial Ato adicional Em pleno período regencial, ocorreu uma reforma na constituição que deixou marcas na Educação. O Ato Adicional definiu que o Ensino Elementar, o secundário e a formação de professores seriam responsabilidade das províncias. O Ensino Superior ficaria a cargo do poder central. Oficializou-se a descentralização do ensino. Primeira escola normal Em Niterói, então província do Rio de Janeiro, é fundada a primeira escola normal do país. Em seguida, surgiram as escolas normais de Minas Gerais. Escola normal da Bahia Nesse ano, ocorreu a fundação da escola normal na Bahia. Definição do Pedro II como escola modelo O colégio Pedro II passou a ser o estabelecimento-modelo do estudo secundário. A suposta descentralização de 1834 foi desrespeitada com a criação da escola pelo regente Araújo Lima para atender aos filhos daqueles que faziam parte da elite intelectual do país. Saiba mais No Segundo Reinado (1840-1889), no governo do imperador D. Pedro II, as mudanças seguiram inexpressivas. Para saber qual era o cenário educacional desse período, leia o texto “A educação de D. Pedro II, imperador do Brasil” de Marli Quintanilha e Celina Murasse. Como você percebeu, mesmo depois da Abdicação de D. Pedro I (1834), o Período Regencial continuou realizando mudanças no cenário educacional brasileiro. No entanto, apesar dessas medidas terem representado uma modernização da estrutura educacional implementada por Pombal, as mudanças ocorridas não atenderam às reais necessidades da população brasileira. Mesmo no Segundo Reinado (1840-1889), governado pelo Imperador D. Pedro II, as medidas no campo educacional foram inexpressivas. Isso mostra que, em quase 400 anos de história, não havia sido criada no país uma estrutura escolar sólida que permitisse à população plena formação e, consequentemente, fornecesse condições de um desenvolvimento que atendesse a todos os cidadãos. Quais foram as instituições criadas nesses períodos que resistiram a todas essas mudanças de governo, durando até os dias de hoje? Como vimos, o projeto de educação iluminista nasceu no contexto das transformações ideológicas (Iluminismo), econômicas e de produção (Revolução Industrial), políticas e sociais (Revolução Francesa), que marcaram o fim do século XVIII, dando origem à Idade Contemporânea. Tendo como principal objetivo o combate ao modelo educacional anterior, baseado na autoridade religiosa e sob tutela da monarquia, esse projeto trouxe uma proposta de educação laica e pública. O Estado, a partir de então, assumiria a responsabilidade de educar o cidadão, tendo como base a chamada “razão iluminista”. Eles tinham como objetivo formar plenamente o homem contemporâneo a partir da construção de um conhecimento baseado fortemente em princípios científicos e longe de qualquer influência religiosa. Esse projeto de Educação, no entanto, não conseguiu oferecer à população brasileira a educação necessária para uma formação efetiva. Foi necessário esperar um pouco mais para que essa proposta de uma educação efetiva começasse a ser delineada. Introdução do Tema Tente por um segundo imaginar uma grande inovação tecnológica. No mundo contemporâneo, o que mais emblematicamente mostraria um mundo em transformação? Durante séculos, homens usaram seus pés, animais, carroças e barcos para se locomoverem. Até que o desenvolvimento de sistemas, máquinas com engrenagens, vapor e caldeiras aceleraram o mundo. A velocidade mudou quando colocamos a máquina a vapor nos caminhos marcados com ferro e dormente. O mundo ficou menor, mais veloz. A integração entre as pessoas tornou-se cada vez mais rápida, as trocas de mercadorias e informações aceleraram. Precisávamos aprender mais, ter novas possibilidades. O trem, que estampa a nossa imagem de abertura, é um ícone da sociedade contemporânea e seus avanços. Passamos a ser supervelozes, andar por baixo da terra e até mesmo por baixo do mar. A metáfora do trem serve para toda a Era Contemporânea, carregada de conhecimentos cada vez maiores, mais velozes e intensos. O trem da tecnologia é o trem do conhecimento e da Educação, que, sem dúvida alguma, marcou os séculos XIX, XX e XXI. Sigamos viagem! 5.6.2020 Sexta-feira Módulo 1 #25071986 Identificar as transformações da Educação no mundo contemporâneo Introdução Neste módulo, você será apresentado ao mundo contemporâneo e sua relação com a História da Educação, para que as discussões não pareçam ter surgido de um momento para o outro. Este é um dos grandes desafios da disciplina: tirar a face de algo cristalizado para mostrar que está viva e presente. A História é um exercício de discurso, uma reflexão sobre o presente, só que o presente não existe sem essa memória, sem a reflexão sobre o passado. A verdade depende do ponto de vista, das influências que você tem, das escolhas que você faz, pois a verdade não é uma realidade indiscutível. Em especial, nas Ciências Humanas. No vídeo a seguir, veremos como a verdade pode ser diferente de acordo com o ponto de vista de cada pessoa. Pessoas respondem como se sentem em relação ao período que passaram na escola, e o professor Rodrigo Rainha comenta. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: A divisão do tempo Provavelmente, você já ouviu dizer que determinada pessoa é alguém à frente do seu tempo. Mas será que existe alguém que viva fora do seu próprio tempo? A resposta é não. Todos nós somos, sem exceção, frutos da nossa própria época. Talvez você esteja se perguntando: “Eu aprendi na escola que a Idade Contemporânea começou após a Revolução Francesa, lá no século XVIII. Como é possível, então, que a gente ainda seja contemporâneo?”. A razão é simples: a ideia de separar o tempo foi criada por pessoas que viviam seu próprio tempo. Elas não tinham noção de como aquele momento seria chamado no futuro. Dessa forma, o tempo foi dividido em: A visão de tempo europeia visava exaltar o que eles entendiam como seu auge: do desenvolvimento da escrita emáreas próximas ao Mediterrâneo – com gregos e romanos, incluindo as civilizações reconhecidas como poderosas, como os egípcios –, passando por um período considerado pouco produtivo para o homem – Idade Média –, quando retoma o seu caminho de crescimento, na Era Moderna, até atingir o ápice, no início da Era Contemporânea. Antes de falarmos mais sobre isso, faremos uma provocação... E se o tempo fosse contado de outra forma? Maias, astecas, chineses e muçulmanos, por exemplo, têm calendários bem diferentes, em formato circular ou espiral. Calendário maia Calendário chinês Calendário asteca Calendário muçulmano Como vimos, a vitória da visão europeia construiu o conceito de um calendário, uma vivência e, consequentemente, um mundo ocidental. Dessa forma, em sua divisão do tempo, tudo o que estava após o seu auge passa a ser chamado de contemporaneidade. Em outras palavras, essas divisões cronológicas da História foram pautadas pelos acontecimentos ocorridos na Europa e por sua forma de pensar os acontecimentos históricos, ou seja, a História da humanidade ficou restrita, durante muito tempo, às definições dos historiadores europeus. A História Contemporânea Agora que já entendemos a História como um fenômeno ativo, dinâmico e, sobretudo, presente, que não é apenas um amontoado de fatos e pessoas do passado, daremos o próximo passo. Se alguém lhe perguntar em qual século estamos neste momento, a resposta é simples: século XXI! Se a mesma pessoa disser que nós somos contemporâneos dos homens e das mulheres que viveram no século XIX, por exemplo, você saberia responder o que isso significa? A contemporaneidade nada mais é do que a ideia de estar em seu próprio tempo. Estar no seu tempo é perceber que a História é viva. Alguns dizem que é a recuperação da imagem de Cronos – dos gregos – e o tempo que engole seus filhos. Mas, aqui, no nosso cronotopo, ele é constantemente recriado. O que chamamos de contemporaneidade em História é a junção de dois grandes eventos europeus: Revolução Francesa Nome dado ao levante da burguesia contra a nobreza e a Igreja no final do século XVIII. Seu principal resultado é a mudança dos regimes políticos, com impactos no mundo inteiro. Ferdinand Delacroix (1798-1863) “Liberdade nas barricadas” (1830). Reprodução do álbum ilustrado “Delacroix”, publicado em Budapeste, Hungria, 1963. / Ferro e Carvão, de William Bell Scott (1855-60). Revolução Industrial Fenômeno inglês do século XVIII. Representa o desenvolvimento das corporações de ofício e a multiplicação do uso de maquinário. No início, o desenvolvimento é pautado em máquinas a vapor e carvão mineral, e o foco era a indústria têxtil. É seguido pelo desenvolvimento dos transportes e pela mudança de todo o regime econômico. A contemporaneidade é nosso tempo, nossa Era. Ela começa com uma leve aceleração, mas, ao longo do século XX, a velocidade só aumentou: Clique nas imagens abaixo. As Revoluções Industriais mudam economicamente o mundo, criando novos padrões comerciais, sedimentando o capitalismo que dominaria o século XX, além da mudança dos modelos políticos, com a ascensão de repúblicas, democracias e federações. O resultado da mudança é um incremento de trocas comerciais em todo o planeta e disputas intensas por mercados, que fomentaram conflitos mundiais fortes, a Primeira e a Segunda Guerra Mundial, e ajudaram a consolidar novas potências, como França, Inglaterra, Estados Unidos e União Soviética. Após os conflitos mundiais, as guerras não cessaram, mas se tornaram mais locais, dentro de novas modalidades de comércio e disputa por hegemonia mundial, entre União Soviética (URSS) e Estados Unidos (EUA). O fim do século trouxe muitas mudanças: Clique nas imagens abaixo. O Muro de Berlim cai, marcando o fim da Guerra Fria. Mais do que isso, consolida-se a ideia de globalização e trocas comerciais que se materializam em todo o mundo. As guerras não cessaram e continuaram definindo nosso cotidiano. Alguns exemplos de conflitos são: Guerra do Golfo, Guerra do Iraque, Guerra da Síria, conflitos nos Balcãs, na África e na América Latina, além da presença do terrorismo. A tecnologia é o grande marco, levando-nos para a Era da Informação, com microcomputadores, redes de Internet, multiplicação de mídias e difusão de informações. Por que estamos falando de tudo isso? Para chamar sua atenção para o fato de que a compreensão europeia da História e da divisão do tempo também esteve presente de forma marcante na maneira de fazer e pensar a Educação. Essas ideias não estão soltas ou desconectadas no tempo e espaço. A Educação Contemporânea é fruto de uma grande expansão das características da Educação europeia. Já reparou como a escola vem mudando?Será? Repare abaixo os modelos que herdamos dos europeus e como elas modernizam, mas o formato é sempre muito parecido... As matérias que nós costumamos estudar, a implementação de linhas educacionais adotadas nas escolas, as formas de construir a Pedagogia e a Didática e suas principais teorias: tudo isso foi produzido por europeus ou intelectuais influenciados pelo pensamento eurocêntrico. É claro que o mundo já mudou muito, que não seguimos mais cegamente o modelo europeu, pois cada país tem buscado desenvolver novas formas de pensar, de educar, de aproximar as pessoas de sua forma de ver o mundo. Sempre houve sociedades que resistiram mais a essa influência, como o mundo muçulmano, mas também é inegável que os anos de dominação econômica europeia, depois expandida pela continuidade da dominação estadunidense, marcaram o mundo. A noção de mundo ocidental contemporâneo é um processo de expansão de valores europeus. Esse impacto está vivo na Educação. A seguir, notaremos a quantidade de modelos pedagógicos europeus incorporados à realidade brasileira nos últimos anos. Hoje, o mundo inteiro tende a dividir o processo de formação em: Formação voltada às crianças Formação voltada aos jovens Formação voltada aos adultos Não restam dúvidas de que o eurocentrismo, que marcava isoladamente a nossa cultura nas últimas décadas, de 1980 em diante, sofreu a influência de novos fenômenos: a globalização, com maior integração tecnológica, política e econômica, e o encurtamento de distâncias favoreceu esse movimento. Mas qual é a origem desse modelo? Podemos dizer que, atualmente, o mundo inteiro tem adotado uma Educação mais técnica. Esse modelo é bastante antigo, veio do grande movimento das industrializações, quando precisavam preparar funcionários para assumir cargos e funções técnicas. Os primeiros eram empiristas, olhavam, tentavam, erravam e acertavam, e, se acertavam mais do que erravam, viravam grandes técnicos, e passavam a treinar e formar aqueles que os substituiriam. Atente para o fato de que o capitalismo transformou a Educação em um bem para o trabalhador. Acreditava-se que as nações só iriam se desenvolver plenamente nesse novo urbano com a formação de mão de obra mais qualificada. Não significa que o modelo pedagógico é tecnicista, mas, sim, que a formação é de especialistas, isto é, sujeitos que se assumem como técnicos em uma função. Durante o período da Primeira e da Segunda Guerra Mundial – entre 1914 e 1945 –, a Educação passa a ganhar um novo papel: atender aos anseios nacionalistas. Fascistas e nazistas apostavam no papel da Educação como um importante instrumento de convencimento das massas, trabalhando de maneira incisiva a ideia de que o jovem precisava estar integrado à noção de país, civilidade e nacionalismo. Tais valores deveriam ser estimulados e mantidos na escola. Do lado da URSS e de seus signatários, a Educação também era fomentada. Ali, seu papel era afastar os jovens dos valores tradicionais da sociedade – entendidos como atrasados – para que atendessem aos anseios do Partido e da Ideologia norteadora. Na Alemanha nazista, os alunos recebiam na escola livros antissemitas. Uma reflexão interessante é notar que a Educação se tornou vital para os governos como estratégias políticas. Note que até mesmo regimes bem diferentestinham uma coisa em comum: viam a Educação como algo vital. Repare: Socialistas Formar para atender aos anseios da sociedade e do governo. Fascistas/nazistas Formar para despertar paixão, ordem e respeito pela nação. Capitalistas Formar para o mundo do trabalho. Essas influências se espalharam pelo mundo e não devem ser entendidas de forma fechada, mas de uma maneira dinâmica e com constantes adaptações. Em outras palavras, será que isso é engessado e cada um faz de um jeito? Claro que não. Percebemos que a Educação se tornou um bem, um objeto governamental, parte do mundo do trabalho, uma marca do mundo contemporâneo. Vejamos a opinião do especialista para entendermos melhor a Educação em transformação com foco no Brasil. Professor doutor da UFRJ, Francisco Carlos Teixeira, fala do valor da Educação na história recente do Brasil. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Tendência: o mundo em contestação A Educação, ao mesmo tempo em que representa diálogo com o governo e manutenção da ordem, também pode ser a base da luta contra determinadas estruturas políticas. É isso que visamos apresentar com as tendências. Com a Guerra Fria, eclodiram uma série de guerras locais na África, Ásia e América Latina. Entre as décadas de 1950 e 1960, o mundo assistiu ao surgimento de movimentos de contestação da ordem política. Toda essa efervescência também se fez sentir no campo educacional. Vamos conhecer alguns desses movimentos: · Levante de Paris Um dos movimentos mais famosos é o Levante de Paris. Em maio de 1968, os estudantes parisienses se levantaram contra as formas tradicionais de ensino. Os temas abordados eram, em especial, o modo como as academias de Ciências Sociais e Economia davam base a novas formas de pensar, visando uma nova forma de fazer a Educação. Barricadas em Bordeaux, em maio de 1968. O movimento também recebeu apoio dos trabalhadores e teve como marco a proposta de uma Universidade popular para abrir espaço para novos segmentos na Educação universitária. · Movimentos sociais – Direitos Civis protesto em 1963. Provavelmente você já deve ter assistido a algum filme em que as pessoas negras, nos Estados Unidos, não podiam frequentar os mesmos espaços públicos que as pessoas brancas. As chamadas leis de segregação racial deixaram marcas que são sentidas até hoje na sociedade norte-americana. Mas, sobretudo após os anos 1950, foram muitos os ativistas que lutaram e se insurgiram contra essas leis. O pastor protestante Martin Luther King foi uma dessas personalidades que passaram a denunciar os graves crimes que atingiam a população negra. Além dele, destacam-se Malcom X, líder da luta contra opressão e racismo, e a resistente e silenciosa luta de Rosa Parks. A Educação também foi atingida em cheio pelas leis de segregação racial, já que existiam escolas separadas para pessoas negras e brancas. Todos esses líderes foram formados em tais espaços. Sobre a relação entre o Direitos Civis e a Educação, também podemos falar de Linda Brown. · Protesto da Praça da Paz Celestial Durante a organização do modelo comunista na China, intelectuais foram perseguidos. No entanto, com a chegada de Deng Chao Pin ao poder, o modelo chinês assumiu características reformistas. Neste contexto, Yaobang chega ao governo. As medidas políticas passaram a afastar os líderes mais radicais do reformismo, e o secretário-geral foi afastado. Os estudantes iniciam um movimento lento de ocupação da praça Tian'anmen para pressionar o governo a desistir de suas ações. Liderados por estudantes, os protestos foram ganhando simpatizantes até a ocupação do local e a decisão do governo de impor lei marcial contra os protestos. Tian'anmen em 1989. A manifestação estudantil foi dissolvida pelos militares, matando entre 200 e 2.000 pessoas. Esse movimento, apesar de ter sido registrado pelas câmeras do mundo inteiro, foi negado pela China em diversos momentos de sua história. Isso mostra que, mesmo em regimes diversos, como o chinês, a Educação e os estudantes são vistos como uma forma de negação ao poder estabelecido. O que destacamos aqui é a contradição central da Educação Contemporânea, pois seu crescimento é uma ação e responsabilidade de Estados. No entanto, ela está envolta em projetos políticos e econômicos em que a Educação pode funcionar como negação, libertação e crítica ao cotidiano social. Imagens emblemáticas Algumas imagens ficaram marcadas na História como símbolos dos importantes movimentos que influenciaram a Educação, como estas: · A pequena Ruby Bridges, em 1960, em Nova Orleans, foi escoltada por oficiais para ter o direito de frequentar uma escola, por meio de mandado judicial. · Protestante resistindo aos tanques enviados pelo governo para debelar os protestos na praça Tian'anmen (praça da Paz Celestial), em Pequim, em 4 de junho de 1989. · Estudantes franceses no protesto de maio de 1968, conhecido como Levante de Paris. · Inspirados pelo movimento dos Panteras Negras, atletas que ganharam a medalha de ouro e bronze nas Olimpíadas do México, em 1968, foram punidos e perderam suas medalhas pelo gesto de punho cerrado. Comparar as perspectivas futuras da Educação a partir de modelos educacionais brasileiros e de outros países Introdução Ao nos debruçarmos sobre os modelos e as estratégias pedagógicas adotadas no Brasil e no mundo nas últimas décadas, notamos que muita coisa mudou para melhor. Isso significa que o trabalho está terminado e que o Brasil pode ser considerado um modelo quando o assunto é Educação? Provavelmente, não. Apesar da Constituição de 1988 determinar que se trata de um direito inalienável, o Brasil ainda conta com altas taxas de analfabetismo, evasão escolar, falta de infraestrutura etc. Precisamos caminhar bastante para chegar a um patamar em que a Educação de qualidade seja considerada um direito de todos. Uma das vantagens do encurtamento de distâncias promovido pelo processo de globalização em curso é pensar como podemos aprender com outros modelos ao redor do mundo. E ensinar também. Por isso, este módulo é um convite para pensarmos a Educação brasileira contemporânea inserida em um contexto mais global de iniciativas. Afinal de contas, uma das grandes características do mundo em que vivemos é justamente a construção de redes que interligam pessoas e ideias. Sem dúvidas, a Internet é um fator fundamental nesse processo. O Brasil está inserido no contexto mundial, ou seja, todas as principais mudanças que acontecem no mundo, de alguma forma, chegam até nós. Veja a linha do tempo: Brasil 1889 Torna-se República 1910 Brasil inicia seu processo de urbanização 1930 “Revolução” – chegada de Vargas ao poder 1942 Brasil entra na Guerra 1945 Retorno ao regime democrático 1964 Ditadura civil-militar 1985 Retorno do governo civil 1990 Retorno ao governo democrático Mundo 1789 Revolução Francesa 1850 – 1900 Imperialismo (domínio de África e Ásia) 1914 – 1918 Primeira Guerra Mundial 1929 Crise de 1929 1939 Início da Segunda Guerra Mundial 1945 Fim da Segunda Guerra Mundial e início da Guerra Fria 1989 Queda do Muro de Berlim 1991 Fim da Guerra Fria Conceitos Qual é o grande ícone de “mundialização” da Educação Contemporânea? Sem dúvida, podemos indicar dois documentos, a saber: Declaração Universal dos Direitos Humanos No ano de 1948, no contexto do final da Segunda Guerra Mundial, foi aprovada a Declaração Universal dos Direitos Humanos. Naquele momento, o mundo teve conhecimento dos campos de concentração (nazistas e soviéticos), responsáveis pela morte de milhões de pessoas. Assim, essa declaração nasceu como uma forma de negar a guerra e todas as formas de violência. Outro ponto de destaque presente na declaração é justamente a ideia que “toda pessoa tem direito à Educação”. Declaração Universal do Direito das Crianças Essa declaração representa o reconhecimento da criança como um ente com os mesmos direitos, mas com especificidades. O direito ao cuidado, ao desenvolvimento, à proteção e à segurança acabam criando um pacto mundial nesse sentido.Alguns países, no entanto, demoram a ser signatários desses documentos. O Brasil só vai reconhecer e transformar seus fundamentos em lei em 1988, com a Constituição Cidadã. A despeito do proposto, veja estes números: Mais de 100 milhões de crianças não têm acesso ao ensino primário. Mais de 960 milhões de adultos são analfabetos, e o analfabetismo funcional ainda é um problema significativo em países industrializados ou em desenvolvimento. Cerca de 2,5 bilhões dos adultos do mundo não têm acesso ao conhecimento impresso, às novas habilidades e tecnologias, que poderiam melhorar a qualidade de vida e ajudá-los a perceber e a adaptar-se às mudanças sociais e culturais. Mais de 100 milhões de crianças e adultos não conseguem concluir o ciclo básico. Além disso, milhões de pessoas, apesar de concluí-lo, não adquirem conhecimentos e habilidades essenciais. De 1988 para cá, houve muitas discussões, como: Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) Além de outros documentos que pensavam a formação do professor, estrutura das escolas, entre outros. Mas qual é o resultado? Como podemos pensar a contemporaneidade em termos de Educação? Como é possível imaginar, os desafios para melhorar os índices educacionais estão presentes no mundo inteiro, não apenas no Brasil. Dessa forma, com o aprofundamento do processo de globalização, cada vez mais presenciamos a necessidade de uma reflexão conjunta sobre como alcançar a justiça social e a convivência harmoniosa entre os povos. A solução para tornar a Educação uma linguagem universal pode ser a cooperação internacional entre os países, já que é um problema de todos. As ações praticadas pela Unesco, por exemplo, têm essa perspectiva: contribuir para o estabelecimento da paz entre os povos, a erradicação da pobreza, o desenvolvimento de políticas públicas para a Educação, o estímulo à diversidade cultural etc. Podemos perceber até aqui que desafio é a palavra-chave para todos aqueles que assumem a Educação, profissionalmente ou não, como algo com grande relevância na vida das pessoas. É neste mesmo contexto de desafios a serem enfrentados que somos levados a percebê-los também como perspectivas e oportunidades. Na impossibilidade de levantar todas as propostas e ações educativas da Educação Contemporânea, destacamos aquelas que, de alguma forma, estão ou podem estar relacionadas não somente à reflexão necessária sobre a Educação que somos convidados a fazer cotidianamente, mas porque afetam a prática educativa que temos ou podemos ter nas próximas décadas. “Educação: um tesouro a descobrir” Tomemos como ponto de partida o documento Educação: um tesouro a descobrir, relatório para a UNESCO da Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI. Esse relatório, publicado em 1996, foi solicitado à equipe de educadores de várias parte do mundo, liderada por Jacques Delors, para que pudesse refletir os caminhos da Educação nos países ligados à ONU. Esse documento influenciou de forma intensa e definitiva os rumos da Educação, reforçando ou questionando ações já realizadas e propondo novas ações a fim de alcançar seus objetivos. Este, aliás, é um ponto de convergência: o mundo precisa dialogar aos moldes dos congressos que levaram à formação do documento. A Educação deve considerar o indivíduo, mas ainda é pensada como um fenômeno social. Jacques Delors: Economista e político francês. Entre 1992 e 1996, presidiu a Comissão Internacional sobre Educação para o século XXI da Unesco. No documento, Delors traz o conceito de que a Educação é baseada em quatro Pilares: Juntos, esses pilares servem de base para a transmissão da informação e da comunicação adaptada à sociedade. Veremos um pouco mais sobre esse assunto no vídeo a seguir. O professor Rodrigo Rainha o convida a conhecer os pilares de Delors a partir da prática de educadores da cidade de São Paulo, vencedores do prêmio Territórios Educativos. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Base Nacional Comum Curricular Um importante passo para a Educação brasileira foi a preparação e publicação da Base Nacional Comum Curricular (BNCC). Pelo menos dois aspectos são fundamentais para compreendermos melhor a importância da BNCC: Logo da Base Nacional Comum Curricular 1 Foi pensada na esteira da LDB/96, dos PCN e das DCNEB, portanto faz sentido pensar todos esses documentos conjuntamente, como se um auxiliasse e completasse o outro. 2 É mais do que um documento que estabelece como, quando e por que determinados conteúdos serão ensinados. Assim, o que importa é construir um projeto educacional que contemple todas as dimensões do desenvolvimento humano, como os aspectos cognitivo e socioemocional, o desenvolvimento físico, cultural etc. A ideia é que o aluno consiga aplicar o conhecimento aprendido no seu cotidiano. O objetivo é formar o indivíduo para a vida cidadã, por meio da transmissão de valores que permitam a boa convivência social. Nesse sentido, o Projeto Político-Pedagógico de cada escola ganha destaque no cenário, pois será preciso que toda comunidade seja reunida para discutir, refletir e planejar os rumos do processo de ensino-aprendizagem. Os professores também terão a incumbência de elaborar seus planos de aula de acordo com a BNCC. Outro ponto importante a ser destacado é que a BNCC não é uma medida vinculada a determinado governo ou partido. Ela é uma política de Estado, prevista no Plano Nacional de Educação, na LDB/96 e na Constituição de 1988. Competências na Base Nacional Comum Curricular A palavra-chave da Base Nacional Comum Curricular é competências. Na Introdução da BNCC, competência é definida como: “Mobilização de conhecimentos (conceitos e procedimentos), habilidades (práticas cognitivas e socioemocionais), atitudes e valores para resolver demandas complexas da vida cotidiana, do pleno exercício da cidadania e do mundo do trabalho”. Percebeu que aqui aparecem novamente, assim como está nos PCN, a importância das três dimensões da condição humana: estudo, cidadania e trabalho? A BNCC propõe o desenvolvimento de dez competências distribuídas nas disciplinas curriculares e que devem, por meio do desenvolvimento das diversas habilidades, serem respondidas pelas atitudes concretas do aluno em todos os locais de sua convivência. Ao longo da Educação Básica, as aprendizagens essenciais definidas na BNCC devem concorrer para assegurar aos estudantes o desenvolvimento de dez competências gerais, que consubstanciam, no âmbito pedagógico, os direitos de aprendizagem e desenvolvimento. Assim, cada área do conhecimento tem competências específicas que foram traçadas a partir das dez competências gerais. As competências específicas devem influenciar diretamente as habilidades que se pretendem formar ao estudar os componentes curriculares. Mas quais são essas dez competências gerais? Vamos conferir! Competências Gerais – BNCC Confira as dez Competências Gerais da Educação Básica (Ensinos Infantil, Fundamental e Médio): · 1 Conhecimento Valorizar e utilizar os conhecimentos historicamente construídos sobre o mundo físico, social, cultural e digital Para Entender e explicar a realidade, continuar aprendendo e colaborar para a construção de uma sociedade justa, democrática e inclusiva. · 2 Pensamento científico, crítico e criativo Exercitar a curiosidade intelectual e recorrer à abordagem própria das ciências, incluindo a investigação, a reflexão, a análise crítica, a imaginação e a criatividade Para Investigar causas, elaborar e testar hipóteses, formular e resolver problemas e criar soluções (inclusive tecnológicas) com base nos conhecimentos das diferentes áreas. · 3 Senso estético Valorizar as diversas manifestações artísticas e culturais, das locais às mundiais Para Fruir e participar de práticas diversificadas da produção artístico-cultural. Agora veja quais são as cinco Áreas de Conhecimento, de acordo com o Parecer CNE/CEB nº 11/201025: As competências previstasdevem ser desenvolvidas nas atividades que serão realizadas nas salas de aula. Dessa forma, haverá uma sintonia entre o que se espera alcançar a longo prazo e a curto prazo. Por isso, a BNCC aponta os eixos estruturantes das práticas pedagógicas e as competências gerais da Educação Básica. Todas as competências são igualmente importantes. O professor Francisco Carlos nos convida a pensar sobre a tradição curricular brasileira e os desafios que estão sendo propostos pela BNCC. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Por se tratar de um documento novo, as diretrizes da BNCC podem parecer, em um primeiro momento, algo muito difícil de ser implementado e realizado. A mudança de hábitos não é um processo fácil, sobretudo quando envolve tantas pessoas ao mesmo tempo, não é mesmo? Porém, o importante é dar o passo inicial. Para os professores, é essencial ler a BNCC em sua totalidade para pensar como introduzir as mudanças no contexto da sala de aula. Os desafios são muitos, e a renovação passa por toda a comunidade escolar. Para entendermos melhor, veremos uma linha do tempo começando na Lei de Diretrizes e Bases (Lei n° 9394/96) e finalizando na Base Nacional Comum Curricular (BNCC). 1996 Lei nº 9394/96 - Lei de Diretrizes e Bases. 1997 Parâmetros Curriculares Nacionais (primeiras quatro séries da Educação Fundamental 1999 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, preparado para cada disciplina. 2000 Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio, definidos pelas áreas de linguagens, códigos e suas tecnologias. 2001 Criação do Plano Nacional de Educação. 2003 Lei nº 10639 – Obrigatoriedade do ensino de História e cultura afro-brasileira. Além disso, entra para o calendário escolar o dia 20 de novembro, quando é celebrado o Dia da Consciência Negra. 2004 Lei nº 10861: É criado o SINAES – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior. 2005 Lei nº 11096: criação do PROUNI – Programa Universidade para Todos. 2006 Emenda Constitucional nº 53 cria o FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação. 2007 Decreto nº 6096: criação do REUNI – Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais. 2008 Lei nº 11465: Obrigatoriedade do ensino de História e Cultura Indígena na rede de ensino. 2012 Lei nº 12711: Lei de Cotas raciais nas universidades federais. 2017 Homologação da Base Nacional Curricular Comum. A proposta das competências do BNCC já estava sendo gestada e aplicada em outros países. Talvez o caso mais emblemático seja o Common Core (Currículo Comum) dos Estados Unidos. Lançado em 2010, chegou a receber apoio de 90% da população e de 80% dos professores. Hoje, uma década após sua implantação, este índice caiu pela metade nos dois casos. Uma reflexão sobre isso pode nos ajudar a olhar de forma perspectiva para a situação nacional. O exemplo americano é importante para que tenhamos uma compreensão clara do que significa uma Base Comum, seus limites e suas perspectivas positivas. Modelos tradicionais de Educação x Modelos inovadores Um ponto bastante atual é a contradição (aparente ou não) entre os modelos tradicionais de Educação e aqueles considerados inovadores. Esta é uma situação presente em grande parte do mundo. Veja alguns exemplos: Clique nos países abaixo. img-fluid ctHover Embora a proposta da “Educação centrada no aluno” não tenha sido aceita de forma unânime no exterior (como o caso da pedagoga sueca Inger Enkvist), no Brasil, esse pensamento tem crescido e confunde-se com a utilização das tecnologias digitais na Educação por meio das chamadas metodologias ativas. Vamos aprofundar um pouco mais o conhecimento sobre os modelos de ensino ao redor do mundo? Veja o vídeo. O professor Antônio Giacomo faz um comparativo entre os sistemas de ensino brasileiro e internacionais. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Tendências Para que não percamos a percepção do que isso significa, levantamos um questionamento simples: O que é uma Educação de sucesso? De acordo com publicação do jornal O Globo, os países nórdicos e asiáticos possuem altas taxas de suicídio. Isso nos leva a perguntar por que, nos locais onde a Educação é mais bem-sucedida e nos países que possuem as maiores rendas per capta do mundo, as pessoas se matam? Essa reflexão é relevante para que busquemos um modelo educacional que, além da formação técnica do indivíduo, possa formá-lo de forma integral. Imagens emblemáticas Vejamos algumas imagens representativas de importantes acontecimentos relacionados à Educação. Clique nas imagens abaixo. Malala Yousafzai foi baleada na cabeça por Talibãs ao sair da escola. Ela lutava para que as meninas paquistanesas tivessem o direito de estudar. Massacres cometidos por estudantes que retornam à escola em que estudaram têm se multiplicado. Isso mostra como o ambiente escolar pode ser marcado pela exclusão e violência. Casos famosos, como Columbine, nos Estados Unidos, e Suzano, em São Paulo, mostram a continuidade do problema. Protesto e organização de estudantes em prol de uma escola pública de qualidade em 2015. O filme O aluno é baseado em fatos. Em 2003, após ouvir uma propaganda do governo que dizia que a escola era para todos, Kimani Ng'ang'a Maruge começa a lutar para poder estudar. Introdução A partir das diversas leis, medidas e dos decretos estruturados para o âmbito educacional, é possível entender que uma das grandes inovações nas últimas décadas é a ampliação dos currículos escolares para além do desenvolvimento das habilidades cognitivas. Isso significa que o espaço escolar não tem como finalidade apenas transmitir conhecimento, mas proporcionar instrumentos para que as potencialidades dos alunos sejam exploradas. Arraste a seta pela imagem para ver as informações. Afinal de contas, qual é o papel do ambiente escolar e de seus profissionais em um mundo globalizado? O século XXI é marcado por muitas contradições. Imaginamos, de forma geral, o futuro do mundo e da Educação da seguinte forma: O desenvolvimento de tecnologias velozes e poderosas. Mas na prática o mundo ainda é marcado por: Desigualdades O agravamento das desigualdades sociais, sobretudo em regiões periféricas. Consumo sustentável acelerado Aceleração da sociedade de consumo descartável em todos os sentidos. Essa nova ordem mundial causou e ainda causa impactos profundos no ambiente escolar. Uma das dúvidas colocadas para os educadores é como lidar com os chamados “novos desafios do mundo contemporâneo”, que envolvem o conhecimento de tecnologias e a crescente competitividade no mercado de trabalho. Nas bases legais dos Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio, temos a reafirmação constante de que a Educação não deve ser estruturada a partir do acúmulo de conhecimentos, mas a partir da preparação do aluno para o desenvolvimento da capacidade de lidar com os desafios da sociedade tecnológica. “O volume de informações, produzido em decorrência das novas tecnologias, é constantemente superado, colocando novos parâmetros para a formação dos cidadãos. Não se trata de acumular conhecimentos. A formação do aluno deve ter como alvo principal a aquisição de conhecimentos básicos, a preparação científica e a capacidade de utilizar as diferentes tecnologias reativas às áreas de atuação”. Parâmetros Curriculares Nacionais Portanto, neste módulo, vamos buscar as respostas para as seguintes perguntas: Qual é o papel da História da Educação na observação do mundo contemporâneo em permanente processo de mudança? Será que a História não deve observar isso? Devemos esperar esses movimentos ficarem mais velhos para analisá-los? A História é uma ciência humana que estuda a relação de homens e sociedade, utilizando o tempo como seu objeto de referência. Mas isso não a transforma em uma ciência do passado, pois seu objeto e suas práticas estão no presente. Usamos o passado para refletir sobre nossa própria sociedade, com o passado nos iluminando, permitindodebates. Se imergíssemos na contemporaneidade, poderíamos nos afastar dessas reflexões. O compromisso das ciências humanas é compreender como os estudos sobre a Educação nos fornecem ferramentas para enfrentarmos os desafios da sociedade contemporânea e refletirmos sobre o futuro. Os personagens da Educação no século XXI Antes de mais nada, é preciso ter em mente que todos os modelos e as experiências pedagógicas que vimos até agora são fundamentais para compreender o papel da Educação atualmente. O desafio é pensar como o ambiente escolar e os profissionais que nele atuam estão respondendo a tantas mudanças estruturais e éticas. Durante muito tempo, a transmissão do conhecimento se dava da seguinte maneira: Clique na imagem abaixo. Professor O detentor do conhecimento, que passava o conteúdo para os alunos sem muita crítica ou embasamento. Aluno Absorvia o conteúdo sem questionamento sobre o que era transmitido pelo docente. Precisamos provocar o olhar sobre esses personagens presentes na escola e avaliar nossa responsabilidade como educadores. A professora Nilda Alves é doutora em Educação, e um de seus objetivos é fazer a escola reconhecer os conhecimentos do mundo. A professora Nilda Alves é professora titular da Universidade Estadual do Rio de Janeiro e comenta sobre os saberes e seu papel. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Esse cenário não mudou completamente, mas podemos afirmar que o ambiente escolar não é o mesmo. Ele vem sendo reciclado continuamente. Ainda assim, muitos educadores olham para as transformações com certa desconfiança. De fato, sair da zona de conforto e se abrir para novas possibilidades não é tarefa fácil. O uso de tecnologias em sala de aula, por exemplo, depara-se com a falta de habilidade do professor em dominar as tecnologias e suas linguagens: web, podcast, software, armazenar na nuvem, Google, Facebook etc. Ou seja, é cada vez mais difícil supor que o docente em sala de aula seja o único detentor do conhecimento. Com a explosão tecnológica, a um clique de distância, o aluno tem acesso a uma quantidade infinita de informações de todos os tipos possíveis. Ao mesmo tempo, sabemos que, na Era da Informação, não faltam conteúdos falsos ou notícias com fontes desconhecidas. São as famosas fake news! No âmbito das novas propostas pedagógicas adotadas pela legislação brasileira, a ideia é que a Educação forneça instrumentos para que o aluno construa seu próprio conhecimento e tenha curiosidade sobre tudo aquilo que o rodeia. A formação de um indivíduo para a vida cidadã parte, em primeiro lugar, da sua atuação como sujeito ativo. Segundo Paulo Freire (1985): “Conhecer não é o ato através do qual um sujeito transformado em objeto recebe dócil e passivamente os conteúdos que o outro lhe dá ou lhe impõe. O conhecimento, pelo contrário, exige uma presença curiosa do sujeito em face do mundo. Requer sua ação transformadora sobre a realidade. Demanda uma busca constante. Implica invenção e reinvenção”. (FREIRE, Paulo. Extensão ou comunicação? São Paulo: Paz e Terra, 1985, p. 7) A formação de sujeitos críticos implica, portanto, a revisão das práticas educativas. Como já vimos, uma das propostas presentes na BNCC é a formação por competências. A ideia é que o aluno tenha autonomia para decodificar determinada informação, pesquisar outras referências, comparar fontes e saber estabelecer conexões entre o passado e o presente. A Educação do futuro tem como pressuposto incentivar o aluno a construir seu próprio conhecimento, associando o conteúdo ensinado na escola à sua trajetória de vida. Nesse sentido, a tecnologia, quando usada de modo correto, é um instrumento bastante eficaz na democratização da informação e do conhecimento. O importante é capacitar o educador para que conheça as potencialidades e os limites dos recursos virtuais. Você considera que o projeto “Escola sem Partido” se encaixa nesse tipo de abordagem que supõe a autonomia dos indivíduos na construção do conhecimento? Que caminhos seguir? Você provavelmente deve se recordar do seu tempo de escola. Se estudou em um colégio privado, mais tradicional, ou mesmo em alguma escola pública que sofria em razão dos problemas de infraestrutura e escassez de profissionais mais qualificados, deve lembrar que muitas aulas se resumiam a copiar o que o professor escrevia no quadro. Os espaços de discussão não eram incentivados, quase não havia dinamismo nas aulas, e era muito comum que o corpo docente não entendesse por que os alunos pareciam tão pouco interessados em prestar atenção no conteúdo. A História da Educação está atenta a esse debate e, hoje, nota que tem se discutido a possibilidade de que muitos desses problemas poderiam ser resolvidos a partir da adoção de modelos pedagógicos ativos. Ou seja, colocar o aluno como agente central no processo de aprendizagem. Como isso pode ser feito na prática? A despeito das ferramentas utilizadas, a noção é sempre a mesma: incentivar a autonomia, reconhecer e respeitar a diversidade no ambiente escolar e estimular a cooperação e integração entre alunos, estimulando a construção de projetos em grupos. Veja alguns exemplos: Feiras de talentos Mostras artísticas Rodas de leitura A ideia é que cada vez mais os projetos educacionais adotem a chamada metodologia ativa de aprendizagem. Metodologia ativa de aprendizagem O psiquiatra americano William Glaser, a partir de suas pesquisas no campo da Educação, construiu uma pirâmide que avalia como aprendemos. Como aprendemos A modalidade EaD (Ensino a Distância) é um ótimo exemplo da adoção da metodologia ativa de aprendizagem. Essa metodologia parte da ideia de que o aluno é o principal responsável pela sua própria aprendizagem. O ideal é que ele seja estimulado a aprender a partir de exemplos concretos, que tenham correspondência com seu cotidiano. A transmissão de conhecimento levando em consideração a vivência do estudante confere mais dinamismo e interatividade. Segundo essa lógica, a simples memorização de conteúdos não seria eficiente. Qual é o caminho da aprendizagem nesse processo? É o que descobriremos no vídeo a seguir. Os professores Rodrigo Rainha, Guilherme Dutra e Luís Claudio Dallier dialogam sobre o ponto de vista de suas áreas sobre o Ensino a Distância. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Temas Tranversais Os chamados temas transversais não são disciplinas curriculares, mas debates de cunho social e político presentes na sociedade contemporânea, como meio ambiente, ética, consumo etc. A função dos temas transversais é conduzir o professor, em sua ação educativa, a sintonizar o cotidiano do aluno com a aprendizagem cognitiva. Os temas transversais anunciaram a responsabilidade de formar o indivíduo para a vivência cidadã em todas essas dimensões. A ética é compreendida como o principal tema, que permeia os demais. Imagens emblemáticas Conheça algumas das escolas mais inovadoras da atualidade. Clique nas imagens abaixo. Consegue pensar em uma escola sem salas, sem séries, sem separações, sem turmas, com aulas sendo pensadas e trocadas por projetos feitos pelos próprios alunos? Leia sobre a Escola da Ponte. E se as atividades da escola fossem feitas a partir de jogos? O tempo todo, os alunos estão praticando, trocando e construindo com base em jogos e níveis de interações diferentes. Duvida? Conheça a Quest to Learn, em Nova York. Escolas para recuperação de alunos, ou, ainda, para jovens infratores, crianças em condição de rua. É preciso muita disciplina para controlar os alunos, certo? Não! Você precisa conhecer a Escola Meninos e Meninas do Parque... “Em locais pobres, é impossível desenvolver centros de tecnologia”. Sugata Mitra discorda dessa afirmação e, a partir da tecnologia, desenvolveu na Índia a busca de um novo modelo. Sua proposta consiste em leitura de livre aprendizagem, sem a presença de uma autoridade, e pelo computador... Definição Este tema é um convite para voltarmos um pouco no tempo, ao final do Império e início da República, para entendermoscomo os desafios para instrução da sociedade brasileira começaram a ser resolvidos quando a Educação passou a ser entendida como um importante instrumento de superação do atraso econômico, político e social do Brasil. PROPÓSITO As diversas conjunturas históricas – 1889 até 1960 – influenciaram de modo decisivo as diversas reformas educacionais que foram implementadas. Ao final, será mais fácil entender os avanços e retrocessos em relação à Educação e sua influência hoje em dia. OBJETIVOS MÓDULO 1 Identificar os fatos referentes à Educação que fizeram parte da transição do Brasil Império para o Brasil República MÓDULO 2 Relacionar a influência do Positivismo na sociedade brasileira e consequentemente na Educação MÓDULO 3 Analisar as várias reformas educacionais ocorridas no período do Brasil República até a década de 1960 Introdução No vídeo, Rodrigo Rainha faz uma breve retrospectiva dos fatos que levaram à criação da República. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Somos tão acostumados com a ideia da Educação como um valor universal que parece estranho imaginar um tempo em que crianças, jovens e adultos não tinham o direito à Educação. Proclamação da República Rio de Janeiro (1889) "Proclamação da República", 1893, óleo sobre tela de Benedito Calixto (1853-1927). Acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo. A República no Brasil foi proclamada no dia 15 de novembro de 1889, instaurando a forma republicana presidencialista de governo e inaugurando uma época com desafios de diferentes ordens. Contra a monarquia, forças muito diversas se uniram, mas seus interesses não eram semelhantes. Contexto social A população marginalizada, acumulada em grandes capitais como Rio de Janeiro e Salvador, morava em Cabeças de Porco, e, sem instrução, organizava levantes contra os governos municipais que pregavam uma higienização das cidades. Ou seja, era o início de um novo regime político marcado por antigas questões brasileiras Diante do caos da criação da República, alguns fatores foram eleitos como primordiais para transformar o Brasil, e um dos principais era a Educação. Não houve um compromisso de transformação dos problemas sociais brasileiros através da Educação. Mas, a ideia de modernização da sociedade – que era o objetivo – passava obrigatoriamente pela criação de um projeto de Educação que atendesse ao principal anseio do país: capacitar trabalhadores urbanos para que eles cumprissem seus papeis em sociedade. Este é o ideal positivista e sua movimentação em favor da Educação. Primeiras décadas após a Proclamação Centros urbanos do Brasil (1900-1920) As décadas seguintes à Proclamação da República foram marcadas pelo desenvolvimento da indústria: Segundo Helena Bomeny: “o Brasil do início da República era um país eminentemente rural (60% da população), recém-saído de um longo período de escravidão (mais de três séculos até a abolição da escravatura em 1888), com taxas de analfabetismo homogêneas, que superavam 80%, com índices muito próximos do Norte ao Sul do país, excetuando-se a Capital Federal, onde a taxa rondava os 45%”. (BOMENY, 1993) Saiba mais O lema da bandeira do Brasil é positivista. O novo regime exigia a criação de um novo símbolo que representasse os ideais sob os quais estavam assentados a República recém-proclamada. “Amor por princípio, a ordem por base e o progresso por fim” – o famoso lema positivista foi impresso na bandeira brasileira sob a inscrição Ordem e Progresso. Era cada vez mais urgente pensar formas de preparar essa população de imigrantes e recém-libertos para a nova realidade que surgia: um país que se urbanizava cada vez mais rápido e cujos postos de trabalho não encontravam mão de obra especializada. A instrução pública torna-se uma peça importante do desenvolvimento do país. Quem deveria comandar essa Educação, pensada tanto pelo Império, como pela República, era o Estado. O governo garantiria o ordenamento necessário, a criação de uma sequência lógica, que permitisse o contínuo progresso do país. O ideal do pensamento de Ordenar para atingir o Progresso foi marcante na Capital Federal, bem como em novas capitais criadas pela República: Belo Horizonte, retirando o peso da imperial Ouro Preto, e Aracaju, saindo da tradicional São Cristóvão, foram planejadas seguindo os novos modelos de cidade e receberam grandes educandários públicos, com estruturas modernas. O povo precisava ser instruído a ser brasileiro, levado a perceber seu papel social e como poderia atuar para a melhora do grande projeto nacional. Saiba mais No Rio de Janeiro, tentando apagar o passado Imperial, o tradicional colégio Pedro II perdeu seu nome, recuperado depois por iniciativa dos alunos. Escolas Profissionalizantes (Liceus de Ofício) se multiplicaram em todo país, assim como foi ampliado o número de Escolas Normais, para permitir a formação de professoras primárias. Iniciativas Educacionais A maior parte da população era autodidata por necessidade ou simplesmente não tinha educação formal. Classes médias de profissionais liberais, filhos de funcionários públicos, ou filhos da elite financeira ocupavam os bancos formais de Educação e, entre eles, existiam posições diferentes. Mas a pressão pelo avanço que seria proporcionado pela modernização cresceu e as iniciativas pela Educação acompanharam. Repare, então, nas iniciativas: Clique nos botões abaixo para ver as informações. 1850 1854 1882 1891 1900 1850 A partir desse ano, ainda no Império, ocorreu a uniformização do ensino em todo o país. Essa ação reformadora atingiu as Faculdades de Medicina e os cursos jurídicos que passaram a se denominar Faculdades de Direito. O Regulamento de Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, entre outras importantes providências, criou a Inspetoria Geral da Instrução Primária e Secundária do Município da Corte, órgão ligado ao Ministério do Império e destinado a fiscalizar e orientar o ensino público e particular dos níveis primário e médio, estruturando em dois níveis (o elementar e o superior) a Instrução Primária gratuita. Saiba mais Veríssimo (1985, p. 15) apontou o tamanho do desafio da novíssima República: “E tanto mais é de crer este resultado, não só desejável como, a bem da unidade moral da Pátria, indispensável, quando a reforma do Sr. Benjamin Constant criou no Pedagogium um órgão que devia ser o fator consciente dessa obra de unificação moral”. Conteúdos previstos Seguindo sobre a questão da moral: Foi organizada em duas categorias: de 1º grau, para crianças de 7 a 13 anos e de 2º grau para os de 13 a 15 anos. Para ingressar nas escolas primárias de 2º grau, o aluno deveria apresentar o certificado de estudos do grau precedente. O ensino no primeiro grau compreendia: Leitura e escrita, ensino prático da língua portuguesa Contar e calcular: aritmética prática até regra de três Sistema métrico procedido do estudo da geometria prática Elemento de geografia e história, especialmente do Brasil Lições de coisas e noções concretas de ciências físicas e história natural Instrução moral e cívica Desenho Elementos de música Ginástica e exercícios militares Trabalhos manuais para os meninos e trabalho de agulha para as meninas Noções práticas de agronomia Dentre todas as disciplinas estudadas, a Instrução Moral e Cívica teve objetivos específicos na formação do alunado, conforme anunciava o parágrafo único do Regulamento da Instrução Primária e Secundária do Distrito Federal, “a instrucção moral e cívica não terá curso distincto, mas ocupará constantemente e no mais alto gráo a atenção dos professores” (DECRETO Nº 981, 1890, p. 3476). Com isso, a Escola Primária do 1º grau foi dividida em três cursos: • Elementar, para os alunos de 7 a 9 anos; • Médio, para os de 9 a 11; • Superior, para os de 11 a 13 anos de idade. Em cada curso, as matérias eram gradualmente estudadas, tendo o método intuitivo para todos eles. Vejamos a seguir como Moral e Cívica era abordadaem cada curso: CURSO ELEMENTAR A disciplina Instrução Moral e Cívica trabalhava com “narrativa de anecdotas, fabulas, contos e provérbios que contenham tendência moral”, e tinha por objetivo “fazer sentir constantemente aos alumnos, por experiência directa, a grandeza das leis moraes [sic]”. (DECRETO 981, 1890, p. 3500). Na classe 2ª, ainda no curso elementar, a disciplina seguia o seu curso de modo mais expressivo, buscando em sala de aula trabalhar com “conversações e leituras moraes. Exemplificação comparativa da generosidade e do egoísmo, da economia e da avareza, da actividade e da preguiça, da moderação e da ira, do amor e do ódio, da benevolência e da inveja, da sinceridade e da hypocrisia, dos prazeres e das dores (physicas e moraes), dos bens e males (falsos e verdadeiros) [sic]” (DECRETO 981, 1890, p. 3502). CURSO MÉDIO Na classe 1ª, havia a sequência lógica no conteúdo da disciplina Instrução Moral e Cívica para alunos um pouco mais velhos do que no curso anterior, com outras temáticas relacionadas, conforme mostrava o Decreto: “Instrucção Moral e Cívica – Conversação e leituras moraes. Exercícios tendentes a por em acção na própria classe: 1º pela observação individual dos caracteres; 2º, pela aplicação inteligente da disciplina escolar como meio educativo; 3º, pelo incessante appello para o sentimento e para o juízo do proprio alumno; 4º, pelo desvanecimento dos preconceitos e das superstições grosseiras; 5º, pelo ensinamento tirano dos factos observados pelo próprio alumno; 6º, pelas sãs emoções Moraes [sic]” (DECRETO 981, 1890, p. 3504). Na classe 2ª, existia a continuação do programa da classe anterior. A disciplina Instrução Moral e Cívica estava presente em todos os cursos da escola de 1º grau, mas não fazia parte da de 2º grau. CURSO SUPERIOR O superior também foi dividido em duas classes. Na classe 1ª objetivou-se trabalhar os “Deveres do homem para consigo mesmo. Hygiene physica e moral [sic]” (DECRETO 981, 1890, p. 3507). Na classe 2ª, a disciplina seguiu dando continuação da classe anterior. Observação: nas demais escolas, a Primária do 2º grau e na Escola Normal a disciplina Instrução Moral e Cívica não era trabalhada em sala de aula. Introdução Já falamos sobre o positivismo como principal referência para a criação de um objetivo para a reforma educacional na então República. Mas como essa relação aconteceu? Rodrigo Rainha explica. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Conceito de positivismo O positivismo foi uma corrente filosófica que surgiu na França no século XIX. Augusto Comte (1798-1857) é considerado o Pai da Sociologia por ter usado pela primeira vez o conceito de Sociologia em seu Curso de Filosofia Positiva. Elaborou de maneira muito organizada suas ideias, fundamentando sua teoria nos modelos das ciências naturais, tendo como principal objetivo encontrar as leis universais dos fenômenos sociais. Ele intitulou sua reflexão acerca da sociedade como uma Física Social. Em função da crise que vivia a França de sua época, Comte queria encontrar soluções para resolvê-la, pois eram nítidos o atraso e o impedimento do progresso por causa do caos estabelecido. Foi nesse contexto de crises e instabilidades que ele buscou responder aos problemas sociais com sua teoria positivista. De acordo com Gomide (1999), o positivismo apresenta algumas premissas fundamentais: Toda proposição científica deve ser empiricamente significante e toda premissa universal deve ter origem indutiva. A teoria tem origem em proposições certíssimas obtidas mediante indução. As leis científicas não fornecem os porquês dos fenômenos. O empirismo, a observação e a objetividade são características fundamentais do pensamento positivista. Saiba mais Clique aqui e veja um exemplo. Compreendia-se que o positivismo era o canal para a reforma intelectual do Homem. Para que essa reorganização acontecesse, as ideias positivistas estavam assentadas na noção de que somente pela ordem e pelo progresso seria possível alcançar uma sociedade estruturada, que pudesse ecoar e aperfeiçoar todas as estruturas permanentes: religião, família, propriedade, linguagem, acordo entre poder espiritual e temporal etc. Caminhos para o progresso social Augusto Comte apostava no conhecimento científico como o único saber verdadeiro. Na concepção dele, o positivismo seria a possibilidade de pensar os problemas sociais pelos critérios e parâmetros das ciências naturais. Dessa forma, seria plenamente possível organizar a sociedade nas suas variadas dimensões, pois o positivismo respondia às questões sociais com um caráter de exatidão, oposto à visão de mundo da Teologia e da Metafísica. Por isso, a importância da Física Social, que explica os fatos pela lógica do conhecimento único e verdadeiro que vem da experiência, não do idealismo. Para Comte, não se tratava de negar o estado Teológico e o Metafísico. Ambos eram importantes e necessários, mas deveriam ser utilizados nas interpretações dos fatos com os quais tinham ligação direta; por exemplo, a relação do homem com a transcendência e com o universo cultural. O positivismo no Brasil constituiu a base de nosso modelo pedagógico nacional. Seu grau de utilitarismo e pragmatismo, sua presença em jornais, nos meios de comunicação, como o rádio, transformaram a percepção de Educação no Brasil. Positivismo no Brasil Precisamos voltar no tempo para que seja compreensível. O Brasil da transição, que abordamos no primeiro módulo, tinha o positivismo como um modelo ideal. Nossas principais linhas reformistas republicanas pensavam na criação de um modelo de educação que permitisse o desenvolvimento nacional. O que passamos a perceber ao longo das décadas seguintes foi a implementação desse modelo. Agora que você já está mais familiarizado com as ideias positivistas, vamos entender um pouco sobre sua recepção no contexto brasileiro. O positivismo floresceu no Brasil de modo muito acentuado durante a transição do fim do Império e o começo da República. Em um contexto marcado por muitas mudanças políticas e sociais, os republicanos assumiram o positivismo como o ideal para a República que nascia. Segundo essa lógica, tornava-se cada vez mais urgente modernizar o Brasil e acelerar o progresso. Em 1891, foi promulgada a primeira Constituição da República, inspirada na Carta Constitucional dos Estados Unidos e sob forte inspiração positivista. O divulgador do positivismo no Brasil foi o militar e político brasileiro, Benjamin Constant (1836-1891). Ele criou, junto com outros adeptos, em 1876, a Fundação da Sociedade Positivista do Brasil. Um deles foi Teixeira Mendes (1855-1927), que era o presidente da Associação Positivista chamada Apostolado Positivista do Brasil. Por que Apostolado? Porque o positivismo ganhou o status de uma “nova religião” e tinha seguidores. Saiba mais Além de Benjamin Constant e Teixeira Mendes, também foram responsáveis pela idealização da Bandeira Nacional dois catedráticos: Miguel de Lemos (filósofo) e Manuel Pereira Reis (astrônomo). A influência do positivismo na educação brasileira Vimos como o positivismo esteve no horizonte dos republicanos na promulgação da nova Constituição e na criação de uma nova bandeira para o Brasil. As ideias positivistas precisavam estruturar a sociedade brasileira em todos os seus aspectos: culturais, sociais, econômicos e políticos. Multiplicaram-se pelo país as escolas privadas elementares e profissionais, a maior parte de ensino secundário. Também surgiram muitas instituições beneficentes oferecendo ensino primário e secundário. Nos anos iniciais da Primeira República, tivemos a ocorrência de uma série de reformas de clara inspiração positivista. Clique nos botões para ver as informações. REFORMA BENJAMIN CONSTANT (1890) CÓDIGO EPITÁCIO PESSOA (1901) REFORMA RIVADÁVIA (1911) Mudança nos debates 1920-1930 Chegaram ao Brasil novas ideias pedagógicas e se formou um novo corpo de sujeitos: especialistas em Educação, que passaram a questionar os modelos que estavamsendo estabelecidos, escolas que eles chamavam de tradicionais, centradas na atuação do professor e na repetição. Os especialistas tinham a ideia de que o Brasil, uma vez mais, estava atrasado e essa crítica não ficava só no campo da Educação. O novo movimento foi chamado Pedagogia Liberal. O ideal liberal econômico apontava também para outros segmentos. Façamos uma breve viagem para acompanharmos essas mudanças: Clique nas setas laterais. 01 Washington Luiz brigava para que o Brasil ampliasse suas estradas e transformasse o carro em um meio mais presente em nossas cidades e, principalmente, para que o Brasil pudesse ser produtor desses novos bens que representavam o futuro e as novas dinâmicas sociais. Previous Next Em um país com novas exigências, os momentos de mudança são marcantes. Um novo golpe terminou com a Primeira República: na tentativa de Washington Luiz em eleger o também paulista Júlio Prestes, as potências Minas, Rio Grande do Sul e Paraíba se uniram para tentar vencê-lo. Foram derrotados, mas o assassinato de João Pessoa, presidente da Paraíba, ainda que por motivos familiares, foi o argumento para a articulação que terminou com a impressionante imagem de Getúlio Vargas chegando com sua tropa de cavalos e apeando no obelisco da avenida Rio Branco, no centro da capital brasileira. Esse momento foi chamado (por uma historiografia pró-Vargas) como Revolução. E, dessa forma, o governo de Vargas foi iniciado. Saiba mais As mudanças vividas impactaram o Brasil e o documento educacional mais famoso dessa época é um manifesto de educadores brasileiros defendendo uma intensa reforma de nossa educação. Ficou conhecido como Manifesto dos Pioneiros. Já leu? Falaremos mais dele no próximo módulo. Século da Pedagogia O século XIX ficou conhecido como o Século da Pedagogia. Naquele momento, buscava-se cada vez mais um modelo educacional que respondesse de forma crítica às demandas da luta de classes, burguesia versus proletariado, que envolveu a sociedade desse tempo. Houve uma radicalização das ideias pedagógicas, colocando-as como centro do processo de controle social. De acordo com Cambi (1999): “(...) bastante rico em modelos formativos, em teorizações pedagógicas, em compromisso educativo e reformismo escolar, em vista justamente de um crescimento social a realizar-se da maneira menos conflituosa possível e da forma mais geral.” (CAMBI, 1999) Fábrica Bangu Após a intensa transição entre os séculos XIX e XX, com a necessidade de uma Educação técnico-fabril por um lado e a Educação do cidadão iluminista por outro, sob uma economia com fundamentos cada vez mais liberais, surgiu o teor do novo processo educacional. De modo que, já no século XX, a didática, até então considerada tradicional, passou a se preocupar com o método mais adequado para a aprendizagem de um conteúdo específico ou de determinada habilidade. Ideias que viajam A renovação das práticas pedagógicas Você pode estar se perguntando de onde vieram e quais foram as pessoas que difundiram essas ideias no Brasil. Veja, a seguir, as teorias de cada um desses pensadores que contribuíram de alguma forma para essa renovação das práticas pedagógicas. Clique nas imagens para ver as informações. Desenvolvimento Você percebeu que até aqui, nós já elencamos uma série de propostas e novas ideias pedagógicas que tiveram influência no modo como a Educação passou a ser estruturada no século XX. O exercício daqui por diante é conhecer as reformas, decretos e leis que tivemos durante o período republicano e pensar como que essas novas práticas pedagógicas influenciaram a Educação brasileira. A década das reformas educacionais (1920) A década de 1920 ficou conhecida, no campo educacional, como a década das reformas educacionais. Naquele momento, ocorreram intensos debates envolvendo diferentes propostas para pensar a Educação e a organização do sistema escolar. Uma dessas propostas trazia consigo os ideais da chamada Escola Nova. Em uma conjuntura marcada por importantes transformações econômicas, políticas e sociais, os defensores do escolanovismo defendiam a urgência na renovação das práticas de ensino. Para eles, a Educação tradicional não estimulava os alunos a pensarem por conta própria. No decorrer dos anos 1920, alguns estados brasileiros realizaram algumas reformas educacionais do ensino primário, através dos seguintes pressupostos: Extensão do ensino Articulação entre os diferentes níveis da escolarização Adaptação ao meio social Adaptação às ideias modernas de Educação Saiba mais Nesse período, muitos intelectuais tentaram colocar em prática os ideais escolanovistas, por meio de uma série de reformas do ensino primário que foram feitas no âmbito estadual. Em um intervalo de oito anos (1920 – 1928), destacaram-se alguns educadores em vários estados da federação: clicando aqui. Era vargas (1930-1945) O ano de 1930 é considerado o marco final da República Velha e o início da chamada Era Vargas. Alguns fatores ocasionaram o colapso da Primeira República como a insatisfação de muitos setores sociais que contestavam cada vez mais o Estado oligárquico, além da crise da economia cafeeira com o fim dos investimentos estrangeiros. A crise dos anos vinte conduziu o país à denominada Revolução de 1930 e levou Getúlio Vargas ao comando da nação. Em termos educacionais, apesar das tentativas de reforma nos anos 1920, ao final da Primeira República pouca coisa havia realmente mudado. Nosso país continuava sem um sistema de ensino coerente e eficiente. Além disso, o analfabetismo entre jovens e adultos, um problema de âmbito nacional, não foi resolvido com as reformas. As camadas mais pobres da população permaneciam fora das salas de aula e apartadas do acesso ao conhecimento. Mesmo com um cenário político conturbado, alguns nomes de projeção na Educação (desde os anos 1920) ocuparam posições de destaque no campo educacional. Vários reformadores dessa década foram convidados a ocupar cargos de relevância no interior do novo governo. Assim, pela primeira vez em nossa história da Educação, teve início um movimento em direção à criação de um sistema organizado de ensino. De modo geral, a Revolução de 1930 no campo educacional foi produtiva: ainda naquele ano, foi criado o Ministério da Educação e Saúde Pública, coordenado por Francisco Campos. A atuação de Francisco Campos se deu no sentido de estabelecer um sistema nacional de Educação. O novo ministro visava estruturar o ensino secundário e o ensino superior. Esses decretos ficaram conhecidos como Reforma Francisco Campos. Nem todas essas reformas educacionais foram plenamente aceitas por todos os setores da sociedade. A situação política conturbada e a noção de que o governo não estava totalmente comprometido com a renovação do sistema educacional pressionava os defensores da Pedagogia da Escola Nova. Em 1932, um grupo de 26 educadores apresentou ao governo um documento que ficou conhecido posteriormente como o Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, escrito por Fernando de Azevedo. O documento apresentava várias propostas e defendia algumas posições que, a partir de então, foram colocadas em prática ou foram combatidas por grupos que não aceitavam as mudanças advindas pela Educação. Enquanto os defensores do escolanovismo acreditavam que a Educação funcionava como um instrumento de emancipação dos indivíduos, a arena pública via crescer com força e intensidade a defesa do ensino religioso, sob forte influência da ideologia católica. Nesse conflito de ideias, cada grupo apresentava conceitos e propostas para a Educação brasileira. Nesse contexto de disputa de narrativas e projetos distintos, foi promulgada uma nova Constituição para o país: a Constituição de 1934. Qual o papel da Constituição de 1934 nesse contexto de discussão e estabelecimento de diretrizes e propostas para a Educação? A Constituição de 1934 foi a primeira Carta Magna brasileira a incluir em seu texto um capítulo inteiro sobre a Educação. Pela primeira vez, foram apontadas questões importantes emrelação ao ensino no Brasil, como o acesso ao ensino primário. Clique aqui e leia os artigos 148 e 149. Como é possível perceber, os anseios dos pioneiros foram atendidos, ainda que não em sua totalidade. Mesmo assim, a nova Carta Constitucional trouxe muitos avanços na Educação brasileira. Estado Novo (1937-1945) Apenas quatro anos depois da Constituição de 1934, instaurou-se o período que ficou conhecido como Estado Novo. Com a promulgação de uma nova Constituiçãode caráter claramente autoritário, em 1937, Getúlio iniciava a fase ditatorial da Era Vargas. Os oito anos que duraram o Estado Novo foram de intensa repressão política a todos aqueles que faziam oposição ao governo. No campo educacional, permaneceram intactos a gratuidade e obrigatoriedade do ensino primário. Por outro lado, tornou obrigatória a disciplina Educação Moral e Cívica nas escolas. Acompanhando as mudanças na sociedade e o aprofundamento do processo de industrialização, ficava cada vez mais evidente a carência de mão de obra profissional. Assim, outra mudança trazida na Constituição de 1937 foi a introdução do ensino profissionalizante. Nos primeiros anos do Estado Novo, em um contexto de ascensão de forças conservadoras, os ideais dos intelectuais da Escola Nova caíram em certo descrédito. A instituição do ensino profissional, voltado sobretudo para as classes menos favorecidas, marcou claramente essa mentalidade. No começo da década de 1940, ocorreram algumas iniciativas de reforma da Educação, mais voltadas para o ensino primário e secundário, mas ainda articuladas ao projeto político autoritário de Vargas. No ano de 1942, Gustavo Capanema, Ministro da Saúde e Educação, empreendeu algumas mudanças sob o nome de Leis Orgânicas do Ensino. Popularmente conhecidas como Reforma Capanema, essas reformas tinham um viés claramente nacionalista e moralizante. Nova República (1946-1963) Com o final do Estado Novo, mais uma vez tivemos a promulgação de uma nova Constituição, dessa vez com um viés liberal e democrática. Observe o fato de que em 12 anos (1934-1946), o Brasil teve três constituições diferentes (a de 1934, a de 1937 e a de 1946). Em 1945, quando Getúlio Vargas foi derrubado do poder, o Brasil voltou, finalmente, a respirar ares democráticos. Por isso, a expressão Nova República. Diante de tanta informação e tantas reformas diferentes, você pode estar se perguntando sobre o que acontece agora. Avanços ou retrocessos? Felizmente, o período conhecido como Nova República ficou conhecido por importantes transformações no âmbito educacional. Não é possível esquecer que o rápido crescimento demográfico e o acelerado processo de industrialização impulsionaram as demandas por Educação. Na Constituição de 1946, a Educação aparece novamente como “um direito de todos”, inspirada nos princípios defendidos pelos escolanovistas. Saiba mais Ainda em 1946, o ensino primário passou por uma reestruturação através da chamada Lei Orgânica do Ensino Primário, instituída a partir desses decretos-leis. Naquele contexto, tivemos ainda outro debate muito importante envolvendo o setor educacional: o Ministro da Educação, Clemente Mariani, criou uma comissão de educadores com o objetivo de pensar uma reforma geral para a Educação. Assim, em 1948, a primeira Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional começou a ser discutida e pensada. “Durante 13 anos, travou-se intenso debate, no âmbito do Estado e da sociedade civil, entre os que defendiam a prioridade da escola pública e os partidários da liberdade de ensino. Para os primeiros, os recursos do Estado deveriam ser empregados na manutenção e na expansão das escolas oficiais, que deveriam ministrar um ensino obrigatório, gratuito e laico. Para os outros, esses recursos deveriam ser transferidos às instituições particulares, que ministrariam o ensino conforme as orientações ideológicas das famílias, cabendo ao Estado apenas ocupar o espaço não preenchido pela iniciativa privada”. (LEI Nº 4.024, DE 20 DE DEZEMBRO DE 1961) Após intensos debates envolvendo entidades estudantis, sindicatos e organizações religiosas, o projeto da LDB finalmente virou a Lei no 4.024, no ano de 1961, já no governo de João Goulart. A seguir alguns pontos contemplados na LDB: 1 Obrigatoriedade de matrícula nos quatros anos do ensino primário. 2 Ensino religioso facultativo. 3 Ano letivo de 180 dias. 4 Concede mais autonomia aos órgãos estaduais, através da diminuição da centralização do poder no MEC. 5 Formação do professor para o ensino médio nos cursos de nível superior. A Educação Como Prática Libertadora (1960) No início da década de 1960, não foram apenas os debates envolvendo o Projeto de Lei de Diretrizes e Bases para a Educação Nacional que marcaram o cenário brasileiro. O professor Paulo Freire (foto) passou a ser conhecido por ter conseguido alfabetizar, na cidade de Angicos, no Rio Grande do Norte, 300 cortadores de cana em apenas 45 dias. O chamado método Paulo Freire ficou conhecido porque rejeitava as formas tradicionais de alfabetização que usavam cartilha. Para Freire, essas cartilhas levavam o aluno a aprender pelo método da repetição. Ao contrário disso, Freire acreditava que o aprendizado deveria vir como parte integrante da realidade e experiência das pessoas. No vídeo, Rodrigo Rainha contextualiza os acontecimentos que levaram o país do momento de criação da Lei de Diretrizes e Bases, em 1961, ao Golpe Civil-militar, em 1964. Adicione um comentário Avalie esse vídeo: Ou seja, ele partia do universo familiar dos indivíduos para formar palavras e articular sílabas. Considerações finais Este tema fez um passeio sobre as principais linhas educacionais que formaram o Brasil entre o fim do Império até as vésperas do Golpe Civil-militar de 1964. Podemos perceber que este período é marcado por duas grandes tendências pedagógicas: as linhas oriundas do positivismo e as caraterísticas marcantes do tecnicismo. Enquanto até 1930 (período denominado República Velha) a tradição positivista ajudou a organizar as bases da educação brasileira, a partir da chamada Era Vargas (1930-1945) e até 1964, temos a consolidação de um sistema educacional organizado através de Manifestos, Leis e, inclusive, a LDB (Diretrizes de Base da Educação, de 1961) que marcaram profundamente a tradição escolar brasileira e que, de algum modo, permanecem ainda hoje em nosso ideário educacional. Definição Série de mudanças que ocorreram no âmbito da Educação brasileira, dos anos 1960 até a Redemocratização, incluindo as transformações econômicas, sociais e políticas que influenciaram reformas, leis e decretos criados para embasar os projetos de governo. PROPÓSITO Compreender as diversas mudanças e os discursos que pautaram as diferentes reformas, decretos e leis para a Educação brasileira no processo de redemocratização, com a identificação das iniciativas que permanecem em nossas práticas pedagógicas e estruturas de ensino. Objetivos MÓDULO I Identificar as reformas ocorridas na organização da Educação brasileira durante o Regime Militar MÓDULO II Reconhecer a Constituição Federal de 1988 e a Lei de Diretrizes e Bases como promotoras de avanços na Educação brasileira Apresentação Vamos nos ambientar ao tema assistindo ao vídeo a seguir? Introdução: A educação dos anos 1960 até a constituição de 1988. Educação na década de 1960 Vamos entender o momento brasileiro na segunda metade da década de 1960. A segunda metade da década de 1960 foi marcada por importantes transformações políticas, econômicas e sociais. O clima político no Brasil encontrava-se absolutamente conturbado. No dia 13 de dezembro de 1968, o general Arthur da Costa e Silva baixou aquele que ficou conhecido como AI-5 ou Ato Institucional nº 5. Estudantes, professores, trabalhadores urbanos e rurais: naquele momento, centenas de pessoas encontravam-se na clandestinidade, exilados, mortos ou presos. Jornal Última Hora. Fonte: Arquivo Público do Estado de São Paulo. Ao mesmo tempo, o regime fazia questãode imprimir certa aparência de normalidade ao cotidiano das pessoas, lançando mão de recursos midiáticos de forma doutrinária, como veremos no vídeo a seguir. Propagandas ufanistas eram utilizadas como forma de educação e difusão ideológica. No vídeo anterior, vimos o quanto as propagandas visavam a doutrinação ideológica pelo seu teor nacionalista. Quando falamos desse momento para a Educação, é importante lembrarmos que o objetivo da criação das disciplinas Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira era incutir na mentalidade dos estudantes valores como civismo e patriotismo. Durante a Semana da Pátria (7 de setembro), era obrigatório cantar o Hino Nacional e hastear a bandeira brasileira. Em muitas escolas – públicas ou particulares –, essa prática foi incorporada sem muito questionamento. É muito comum nos depararmos, ainda hoje, com escolas que repetem esses rituais durante a Semana da Pátria ou mesmo semanalmente. Reflita... Na sua escola isso acontecia? Você consegue se recordar de outros elementos punitivos, durante sua trajetória escolar, que possam ser herança de uma cultura autoritária? Você ainda entende isso como algo importante? 1964: a tal página infeliz da nossa história O período compreendido entre 1964 e 1985 ficou conhecido em função da interrupção do processo democrático brasileiro e pela instauração de uma ditadura que duraria longos 21 anos. Uma ditadura é geralmente caracterizada pela imposição de uma visão de mundo, muitas vezes na base da força. Por isso mesmo, aqueles anos foram marcados pela extinção dos partidos políticos, cassação de direitos, censura, perseguição de opositores políticos, mortes e desaparecimentos. Você pode estar se perguntando: como a Educação foi afetada durante a Ditadura Militar? O ambiente escolar mudou? E os educadores progressistas, eles também foram alvos de perseguições e forçados a interromper suas atividades? Repressão militar na Praça da Sé. Foto: Evandro Teixeira Após o golpe de 1964, muitos educadores foram mortos, perseguidos e exilados em função de suas ideias ou posturas políticas. Uma das bandeiras levantadas pelos defensores dessa escola nova era o potencial da Educação como instrumento de emancipação dos indivíduos. Isso significa que o governo civil-militar conhecia o poder transformador da Educação e, para atender o lema de recuperar a ordem e a estabilização de seu projeto, a Educação passou a ser pauta do dia durante esse período. Professores (da esquerda para direita): Ana Rosa Kucinski, Tito Arcoverde Cavalcanti, Anísio Teixeira, Fernando Henrique Cardoso, Darcy Ribeiro, Heleneide Nazaré, Haity Moussatché, Maria Yedda Linhares, Erney Camargo, Eulália Lobo, Luiz Hildebrando Pereira da Silva, Rubim Aquino, Victor Nunes Leal, Walter Oswaldo Cruz, José Grabois e Paulo Freire. Você sabia? No mesmo dia em que os militares deram um golpe de Estado instaurando a Ditadura Militar (1° de abril de 1964), eles invadiram e incendiaram a sede da maior representação estudantil, União Nacional dos Estudantes (UNE). Muitos líderes estudantis foram presos naquela ocasião. Durante todo o regime militar, a UNE, mesmo atuando na ilegalidade, atuou combativamente contra o projeto de educação implementado pelos militares. O ambiente escolar tornou-se cada vez mais hostil para qualquer pessoa que contestasse a ordem vigente, seja aluno, funcionário ou professor. Naquela época, era prática comum que a direção das escolas públicas fosse indicada pelos políticos locais. Para isso, tinham por base: Mérito Ampliação efetivo do número de vagas e formalização de que era função do Estado garantir a Educação. Problema Promover um clima de vigilância contra algum conteúdo ou ideias consideradas subversivas para os alunos. Você consegue lembrar como a Ditadura Militar era trabalhada nos livros didáticos que utilizou durante sua formação escolar? Se você tem mais de quarenta anos, provavelmente estudou com livros que citam a “Revolução de 1964” ou “movimento de março de 1964”. Quem iniciou a formação escolar nos anos 1990 e 2000, provavelmente presenciou uma mudança de abordagem. Os livros didáticos, acompanhando, em parte, as renovações na historiografia sobre o período da Ditadura são quase unânimes em classificar o período entre 1964-1985 como uma época de interrupção da democracia, ou seja, um golpe de Estado protagonizado pelas Forças Armadas. Tente fazer esse exercício e busque em sua memória como eram os livros didáticos que você já utilizou. Busque por algum livro didático em sua casa ou na biblioteca mais próxima de você. Observe a divisão dos assuntos, veja quais temas são abordados e, sobretudo, verifique o ano de produção desse livro. Esse exercício é importante, pois nos ajuda a contextualizar essa obra, lembrando que todo livro didático é reflexo do seu tempo. Durante todo o período da Ditadura Militar, tivemos diversas intervenções que atingiram diretamente o setor educacional. Veja algumas intervenções promovidas pela Constituição de 1967: A União e os estados estavam desobrigados a investirem um percentual mínimo na Educação, contrariando o que estava disposto na LDB de 1961. Além disso, outra alteração promovida por essa carta constitucional foi a transferência de recursos públicos para instituições privadas de ensino. Confira o que Dermeval Saviani argumenta no artigo O legado educacional do regime militar. “(...) a Constituição de 24 de janeiro de 1967, baixada pelo regime militar, eliminou a vinculação orçamentária constante das Constituições de 1934 e de 1946, que obrigava a União, os estados e os municípios a destinar um percentual mínimo de recursos para a educação. A Constituição de 1934 havia fixado 10% para a União e 20% para estados e municípios; a Constituição de 1946 manteve os 20% para estados e municípios e elevou o percentual da União para 12%. A Emenda Constitucional nº1, baixada pela Junta Militar em 1969, também conhecida como Constituição de 1969 porque redefiniu todo o texto da Carta de 1967, restabeleceu a vinculação de 20%, mas apenas para os municípios (artigo 15, § 3º, alínea f)”. 1968: Movimento Brasileiro de Alfabetização (MOBRAL) Propaganda veiculada na Revista Veja, em setembro de 1973. Fonte da imagem: Revista Veja, São Paulo: Editora Abril, nº 261, 05/09/1973. Clique nos botões a seguir para ver as informações. QUAL ERA O OBJETIVO DOS MILITARES COM A CRIAÇÃO DO MOBRAL? QUAL FOI A METODOLOGIA DE IMPLEMENTAÇÃO DO PROGRAMA? QUAL FOI O FUNDAMENTO TEÓRICO QUE INSPIROU O MOBRAL? COMO O MOBRAL FUNCIONAVA? RESULTADOS 1969: inclusão das disciplinas Educação Moral e Cívica e Organização Social e Política Brasileira Em 1969, os militares determinaram a retirada do ensino de Filosofia e Sociologia das escolas. Sob o Decreto-lei nº 869, passou a ser obrigatória a disciplina Educação Moral e Cívica (EMC) nas escolas brasileiras. Fonte: Acervo Estadão. A implantação dessa disciplina fazia parte de um contexto em que a moral e o civismo estavam em alta. O ano de 1970, por exemplo, foi o ano da Campanha do Civismo Brasileiro. Nesse período, além da Educação Moral e Cívica, ganhou destaque também a instituição, no Segundo Grau, da disciplina Organização Social e Política Brasileira (OSPB), responsável por difundir o nacionalismo e o patriotismo nos alunos. Conteúdos moralizantes Os conteúdos tinham cunho moralizante, pautados em preceitos considerados fundamentais à sociedade. A Educação era empreendida também em meios não formais. Com base nos mesmos conteúdos, foram constituídos, por exemplo, personagens como o Sujismundo para que, no cotidiano, as pessoas pudessem trazer para si o sentimento de civilidade, cuja falta era entendida como um dos males brasileiros. Sujismundo. Fonte: Arquivo nacional Ensino Superior: tendência pedagógica tecnicista e neopositivista Veja, no vídeo a seguir, qual foi o tratamento dado às universidades brasileiras pelo governo da época, no contexto em que ganharam destaque as tendências pedagógicas pautadas no ensinotecnicista, neopositivista e no modelo behaviorista de Psicologia. Agora a professora Flávia Miguel fala a Reforma Universitária durante o Governo Civil-militar. 1971: A reforma de 1° e 2° graus A Lei no 5692/71, chamada de Lei de Diretrizes e Bases de forma errônea. O que há de errado com a Lei no 5692/71? A lei se refere exclusivamente a dois segmentos da Educação, que correspondem ao que, atualmente, chamamos de Educação Básica. Essa lei não tratava também dos objetivos gerais e finalidades da Educação para o país, apenas era específica para dois segmentos do ensino. Como vimos, a reforma universitária de 1968 voltou suas atenções para o ensino superior. Objetivo da Lei no 5692/71 A Lei no 5692/71 foi criada por um grupo de trabalho instituído pelo presidente Médici, que tinha por objetivo adequar o ensino ao momento político instaurado pelo Golpe de 1964 e às necessidades sociais e econômicas que o governo militar se empenhava em garantir. O país precisava de trabalhadores, mas, mais do que isso, precisava de mão de obra especializada. Em linhas gerais, ela criou a estrutura de ensino que se organizava em 1º e 2º graus. Vamos entender melhor as principais alterações na Educação Básica em decorrência da reforma de 1971? 1 Primeiro grau passou a abranger os antigos primário e ginásio, atendendo às crianças dos 7 aos 14 anos. 2 Ampliação da obrigatoriedade escolar de 4 para 8 anos. 3 Transformação do antigo curso secundário em ensino de segundo grau. 4 Segundo grau passou a ser obrigatoriamente profissionalizante. Com a promulgação da lei, o segundo grau passou a combinar uma dupla característica: Garantia a terminalidade para aqueles que pretendiam a formação em nível técnico. Garantia a continuidade para os que desejavam prestar o vestibular. Como o ensino profissionalizante contribuiu para a elitização do ensino superior? É importante observar que a necessidade de formar mão de obra levou o governo a alterar radicalmente o ensino básico. Apesar dessa lei valer para o ensino público e para o ensino privado, o que se verificou, na prática, foi a concentração da adoção do ensino profissionalizante no ensino público. De modo que, os filhos da elite continuaram a ser preparados para o ingresso nas carreiras universitárias. Veja algumas consequências dessa reforma: Além da instituição do ensino profissionalizante, um deslocamento cada vez maior de recursos públicos para o setor privado. A Lei n° 5692/71 também foi a primeira legislação educacional que criou um capítulo para tratar do ensino supletivo. Além disso, a Lei n°5692/71 introduziu algumas propostas que contribuíram para o debate pedagógico, pois previa a integração vertical e a integração horizontal. A valorização do magistério é outra questão presente na lei. Foi citada especialmente buscando a crescente profissionalização dos professores, o aperfeiçoamento daqueles já formados, e adequando os vencimentos salariais segundo os critérios do nível de formação, ao contrário do nível que ministrava. Fim do regime militar, promulgação da Lei de Anistia e Nova Constituição Chamada de “Constituição Cidadã” pelo deputado Ulysses Guimarães, o novo texto que regeria a vida de milhares de brasileiros tinha como desafio imediato restituir direitos fundamentais negados durante muito tempo à sociedade. Além disso, tinha como tarefa olhar para o futuro. Ulysses Guimarães segurando uma cópia da Constituição de 1988. Fonte:Wikipedia. Politicamente, a abertura lenta e gradual foi ampliando a participação popular nas votações, primeiro para prefeitos, depois governadores até a querela sobre quando seriam as primeiras eleições diretas. Apesar do Movimento das Diretas Já, a emenda que pretendia antecipar as eleições foi derrotada. Em uma articulação política, foi eleito Tancredo Neves pelo colegiado dos deputados, tendo como vice-presidente José Sarney. O presidente da câmara era o deputado Ulysses Guimarães. Educação no contexto da transição de regime Neste contexto a Educação brasileira seguia os moldes de 1971. As mudanças, no entanto, não acontecem neste campo de forma uniforme até o fim da década. Foram tomadas ações peculiares em capitais e estados. Dois exemplos importantes vêm do Distrito Federal e do Rio de Janeiro. Brasília Foi proposto um modelo de educação integral que aproximasse a universidade – principalmente de Brasília – das escolas de Educação Básica. O principal nome deste projeto foi Cristovam Buarque. Rio de Janeiro A controversa eleição de Leonel Brizola, ferrenho crítico do governo anterior e mesmo de seus antagonistas – membros do partido MDB – propõe uma intensa ruptura na educação. Darcy Ribeiro foi chamado para liderar este projeto. A ideia era de que, para proteger o trabalhador e as crianças, era necessário que elas fossem acolhidas, educadas, ficando longe dos ambientes de conflito e criminalidade, que já eram notórios na cidade. Os Centros Integrados de Educação Pública (CIEP) trabalhavam com a compreensão de que não se forma o sujeito em conteúdos, pois o sujeito deve ser preparado para ser cidadão e lutar pela cidadania e pelo coletivo. O projeto, moderno em termos pedagógicos, foi bastante atacado em virtude da sua operacionalização e uso político. Foi descaracterizado a partir da eleição de outros grupos que se opunham às políticas brizolistas. Significado das reformas da Educação brasileira na redemocratização Para que seja possível entender este longo processo, é importante que possamos conhecer e entender um pouco mais sobre o que significam as reformas da Educação brasileira na sua redemocratização, conhecendo alguns dos seus direcionamentos. Constituição Atual Lei de Diretrizes e Bases da Educação Com a promulgação da Constituição de 1988 , a LDB anterior (4024/61) foi considerada obsoleta, mas, apenas em 1996, o debate sobre a nova lei foi concluído. A atual LDB, 9394/96, foi sancionada pelo presidente Fernando Henrique Cardoso e pelo ministro da Educação, Paulo Renato, em 20 de dezembro de 1996. Baseada no princípio do direito universal à Educação para todos, a LDB de 1996 trouxe diversas mudanças em relação às leis anteriores, tais como: Gestão democrática do ensino público e progressiva autonomia pedagógica e administrativa das unidades escolares (art. 3 e 15); Carga horária mínima de oitocentas horas distribuídas em cento e oitenta dias letivos na educação básica (art. 24); Orientação para a União gastar, no mínimo, 18% e os estados e municípios, no mínimo, 25% de seus orçamentos para a manutenção e desenvolvimento do ensino público (art. 69); Criação do Plano Nacional de Educação (art. 87). Essa LDB aponta em seu artigo 22 para uma formação do indivíduo que atenda a três dimensões da condição humana: cidadania, estudo e trabalho. A ideia é que os currículos escolares e os saberes compartilhados no ambiente escolar estejam atentos às distintas realidades sociais, além de funcionarem como instrumentos em que os alunos consigam praticar o exercício da cidadania na busca por uma sociedade mais justa e igualitária. A LDB pressupõe uma série de ações que foram, desde então, desenvolvidas e que passamos a enunciar. Fundo para Desenvolvimento da Educação Básica – FUNDEB Como surgiu o FUNDEB? Quando, durante o governo FHC, houve a intensa discussão de que precisávamos ampliar o número de vagas, garantir o acesso às escolas e, o mais crítico, trabalhar contra a evasão escolar, o ministro Paulo Renato tomou isso como meta e modelo, "ameaçando" os estados e municípios de que deveriam atingir essas metas ou não receberiam dinheiro. Com a criação do FUNDEB, prevista na própria LDB , muitas prefeituras e governos criaram programas, deixando de lado a qualidade em prol da continuidade – aprovações automáticas, criação de projetos em que separavam potenciais alunos repetentes, entre outros. Quais as vantagens e as desvantagens do FUNDEB? Esse modelo tem como mérito a ampliação do número de pessoas com alguma formação. A maior parte do Brasilpassa pela escola. O demérito, por sua vez, é a perda de qualidade mensurável. Problemas dos modelos anteriores Gráfico de reprovações. Fonte: Nova escola. Com as reprovações, as escolas dos modelos anteriores atingiam números grandes de evasão e distorção idade/série. A imagem de que elas eram “melhores” é uma ilusão provocada pela reprovação, uma vez que poucos conseguiam obter a formação. Esses programas, apesar de importantes, jogaram a Educação Básica em uma situação complexa, ainda que inequivocamente mais democrática, pois exigiram mais investimento, diversificação, o que é custoso e, sem o foco específico, faz com que os números se arrastem quando comparados a índices internacionais. Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN) Os Parâmetros Curriculares Nacionais foram organizados também no processo de redemocratização nacional, impulsionados pela nova LDB/96. Esses parâmetros curriculares podem ser caracterizados como orientações explicitamente práticas da legislação, ou seja, funcionam como um importante referencial para aquilo que oficialmente se espera da Educação, do professor e do aluno – muito embora essa função não corresponda à necessária clareza conceitual do documento. Assim como os PCN, os PCNEM (Parâmetros Curriculares para o Ensino Médio) responderam pela intenção de estabelecer uma base curricular nacional comum e introduziram o que passou a ser designado de ensino por competências. Considerando exatamente o termo parâmetros, os PCNEM têm como princípio servir de referência básica e geral à comunidade escolar (professores, coordenadores pedagógicos, alunos etc.) na organização e implementação do projeto educativo das escolas, no intuito de garantir uma base nacional comum ao currículo da Educação Básica. As disciplinas no PCNEM foram distribuídas de forma que as variadas áreas do conhecimento fossem contempladas. O próprio termo tecnologias caracteriza as contribuições de cada uma das áreas para a proposta curricular. Base Nacional Curricular Comum (BNCC) e as perspectivas para a Educação Depois dos Parâmetros Curriculares Nacionais, a grande novidade para a Educação foi a homologação, no ano de 2018, da Base Nacional Curricular Comum (BNCC). Trata-se de um documento normativo para a Educação Básica (Educação Infantil, Ensinos Fundamental e Médio). A BNCC, ao ser elaborada, teve os PCN e as DCNEB (Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Básica) como pano de fundo. Você pode estar se perguntando: qual é a novidade e a importância da BNCC? Levando em consideração a LDB/96, os PCN e as DCNEB, a inovação trazida pela BNCC é a clareza dos objetivos de aprendizagem de cada ano escolar. Ou seja, ela estabelece os conteúdos norteadores que serão ensinados. A BNCC tornou-se obrigatória nos currículos de todas as redes do país, públicas e particulares. Dessa forma, os documentos anteriores devem continuar sendo consultados, mas apenas como documentos orientadores, sem caráter obrigatório. Diferentemente da BNCC, os PCN foram orientações e não legislação. Eles não geraram uma Base Comum, mas apontaram sugestões para um currículo escolar diversificado e significativo, levando em conta o respeito às diversidades regionais, culturais e políticas. A BNCC, prevista no artigo 10 da Constituição de 1988, instituída pela LDB n°9.394/1996 e fundamentada pelas Diretrizes Curriculares Nacionais, define o conjunto orgânico e progressivo de aprendizagens essenciais que todos os alunos devem desenvolver ao longo das etapas e modalidades da Educação Básica. Os currículos de todas as escolas públicas e privadas de Educação Infantil, Ensino Fundamental e Ensino Médio do Brasil serão norteados por ela. A BNCC operacionalizará os fundamentos das Diretrizes, indicando os conteúdos de cada ano de escolaridade da parte comum do currículo, ou seja, o que deve ser ensinado em todo território nacional e o que se espera alcançar em cada etapa da Educação Básica. Pelo menos dois aspectos são fundamentais para compreendermos melhor a importância da BNCC: Ela foi pensada na esteira da LDB/96, dos PCN e das DCNEB. Dessa forma, faz sentido pensar em todos esses documentos conjuntamente, como se um auxiliasse e completasse o outro. A BNCC é mais do que um documento que estabelece como, quando e por que determinados conteúdos serão ensinados, ou seja, o que importa é construir um projeto educacional que contemple todas as dimensões do desenvolvimento humano, como os aspectos cognitivo e socioemocional, o desenvolvimento físico, cultural etc. A ideia é que o aluno consiga aplicar o conhecimento aprendido na escola no seu cotidiano. O objetivo é formar o indivíduo para a vida cidadã, através da transmissão de valores que permitam a boa convivência social. Veja dois aspectos importantes sobre a BNCC: POLITICA DE ESTADO A BNCC não é uma medida vinculada a um determinado governo ou partido. Ela é uma política de Estado, prevista no Plano Nacional de Educação, na LDB/96 e na Constituição de 1988. DESENVOLVIMENTO DE COMPETÊNCIAS A palavra-chave da Base Nacional Curricular Comum é competências. Ela propõe o desenvolvimento de competências distribuídas nas disciplinas curriculares, que devem, por meio do desenvolvimento das diversas habilidades, serem respondidas pelas atitudes concretas do aluno em todos os locais de sua convivência. Considerações Finais O contexto educacional dos anos 1960 deveria ser, ao menos, inspirador. Afinal, em 1961, foi publicada nossa primeira LDB (Lei 4.024), ainda que tenha demorado trinta anos desde a criação do Ministério da Educação e Saúde, em 1930. Com o Regime Militar instaurado em 1964, não somente a política e as relações sociais sofreram abalo, mas também a Educação Com a visão de uma educação estritamente tecnicista, sob a justificativa de desenvolvimento industrial do país, tornou-se necessária a publicação de novas leis de cunho educacional. A mais importante delas, a Lei 5.692, de 1971, chamada por alguns de Segunda LDB, tinha um caráter estritamente reformador: a definição clara dos segmentos da Educação: 1º e 2º Graus (atual Educação Básica: Ensino Fundamental e Médio). Ela definia, por exemplo, que todo estudante deveria sair do 2º Grau tendo uma formação técnica. Outra mudança foi a substituição do projeto “De pé no chão também se aprende a ler”, fundamentado nas ideias de Paulo Freire, pelo MOBRAL, em 1967. Embora ambos tivessem o objetivo de erradicar o analfabetismo do país, o projeto militar esvaziava-se do caráter de “educação crítica” do anterior. Com o fim do Regime Militar, em 1984, e a definição da chamada Nova República, ainda que com muitos aspectos de transição do antigo modelo político-econômico, a necessidade de uma nova constituição e de uma reforma educacional foi imediatamente percebida. Assim, em 1988, com a promulgação da Constituição Cidadã (como ficou conhecida), já era possível perceber mudanças significativas da Educação, como, por exemplo, a redefinição dos Sistemas de Educação, responsabilizando federação, estados e municípios e trazendo o famoso artigo 205: “A Educação é direito de todos e dever do Estado e da Família”. A partir daí, vários educadores (destaca-se a figura de Darcy Ribeiro) começam a pensar e estruturar uma nova LDB, que, no entanto, somente será publicada em 1996 (Lei 9.394). Apesar de ela já ter sido bastante alterada, através de leis complementares, trouxe propostas que, embora não correspondessem às expectativas de todos os educadores envolvidos, trazia pontos relevantes para a Educação no país: a proposta de uma “gestão democrática” para as unidades escolares, valorizando muito mais o papel das equipes pedagógicas, o aumento da carga horária mínima para o ano letivo (800h/180 dias, na Educação Básica) e a criação do Plano Nacional de Educação.