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1 2 3 Rita de Cássia Marques Costa Maria Nádia da Silva Sousa EDUCAÇÃO E MOVIMENTOS SOCIAIS 1ª Edição Sobral/2017 4 5 Sumário Palavra do professor autor Sobre o autor Ambientação à disciplina Trocando ideias com os autores Problematizando UNIDADE I: MOVIMENTOS SOCIAIS: CONHECENDO OS ANTIGOS E NOVOS ATORES SOCIAIS Conceito de movimento social na bibliografia geral das ciências sociais UNIDADE II: EXCLUSÃO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA O início do processo de exclusão social Exclusão social e a nova desigualdade: ressignificando o conceito UNIDADE III: EDUCAÇÃO E MODERNIDADE: DIMENSÕES DA PRÁTICA EDUCATIVA Diferença entre pedagogia e educação Explicando melhor com a pesquisa Leitura Obrigatória Pesquisando com a Internet Saiba mais Vendo com os olhos de ver Revisando Autoavaliação Bibliografia Bibliografia Web Vídeos 6 Palavra do professor autor O estudo da disciplina de movimentos sociais objetiva conhecer os principais movimentos sociais no Brasil e suas formas de atuação ao longo da história para compreensão de superação das demandas sociais. Na atualidade, o estudo dos movimentos sociais é compreendido por analistas como representações sociais através de ações mobilizadoras, de mudança social e de lutas de resistências. A presença dos movimentos sociais é uma constante na história política do país, mas ela é cheia de ciclos, com fluxos ascendentes e refluxos. Inicialmente, será de grande importância conhecer o conceito de movimentos sociais, estudar sobre as categorias teóricas utilizadas no Brasil dos anos 70 até os dias atuais. Em seguida, daremos continuidade ao estudo sobre como se deu o processo da exclusão social numa sociedade capitalista, fazendo relação com o papel da educação para a inclusão social e formação da cidadania. Por fim, abordaremos sobre a educação na modernidade e sua dimensão na prática para a construção do espírito ético e solidário. Todo processo de estudo da disciplina será construído pelo diálogo e criatividade entre aluno e professor. Serão propiciados momentos prazerosos de estudo e pesquisa, no qual o aluno poderá aprofundar seus conhecimentos sobre os autores que fundamentam esse estudo. A disciplina está fundamentada em estudos de Maria da Glória Gohn, Pedro Demo, dentre outros. 7 Sobre as autoras Rita de Cássia Marques Costa. Mestrado em Educação Brasileira. Linha de pesquisa: Movimentos Sociais, Educação Popular e Escola, no Eixo de Estudos Socioantropológicos e Políticos da Educação, pela Universidade Federal do Ceará-UFC (2009). Especialista em Docência na Saúde, pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS (2015), Graduada em Pedagogia pela Universidade Estadual Vale do Acaraú - UVA/ Sobral - (2004). Maria Nádia da Silva Sousa- Especialista em Gestão e Organização da Escola - Universidade Norte do Paraná-UNOPAR (2017). Possui Graduação em Pedagogia pela Universidade Estadual do Ceará-UECE (2003). Atualmente é Secretária da Pró-Reitoria de Ensino de Graduação- PRODEG/Centro Universitário INTA- UNINTA. Possui Curso Técnico em Secretariado Escolar. 8 Ambientação à disciplina Sabemos que os movimentos sociais têm sido considerados por vários analistas de organizações sociais como elementos de inovação e transformação social. Conforme Maria da Glória Gohn, os movimentos são elementos fundamentais na sociedade moderna, agentes construtores de uma nova ordem social e não agentes de perturbação da ordem, como as antigas análises conservadoras escritas nos manuais antigos, ou como ainda são tratados na atualidade por políticos tradicionais. Inicialmente, discutiremos nesse primeiro capítulo sobre o conceito de movimentos sociais nas ciências sociais e as primeiras abordagens entre os anos de 70 e 80 no Brasil. A perspectiva de estudo ajudará na compreensão do percurso histórico, das mudanças ocorridas no mundo e suas consequências sociais, políticas, econômicas e culturais. No segundo capítulo iremos abordar sobre a temática da exclusão social e o capitalismo. Iremos analisar os fenômenos socais e tentar analisar os mesmos na perspectiva da práxis. Compreender como se deu o processo de exclusão social ao longo da história e suas consequências em relação à educação brasileira. Sabemos que os processos educativos formais e não formais contribuem para uma análise do repensamento das práticas no trabalho, na escola, na convivência social, seja na relação da natureza com os demais seres humanos. Sendo assim, o papel do educador social é fundamental para o processo de inclusão, participação e integração das comunidades. A proposta agora é estudar sobre o papel do educador social na perspectiva da educação popular como mecanismo de facilitação para os processos de transformações sociais individuais e coletivos. Para esse estudo teremos como autores principais: Paugam, José de Souza Martins, Dalmo Dallari. 9 Trocando ideias com os autores Sugerimos que você leia o livro: Teoria dos Movimentos Sociais. Essa obra objetivou sistematizar as principais teorias e paradigmas; Realizar estudo comparativo entre teorias (semelhanças e diferenças); Apresentar o caso da América Latina e a inadequação de teorias correntes; Delinear tendências para o Brasil com base na globalização da economia, política e relações socioculturais. GOHN, Maria da Glória M. Teorias dos Movimentos Sociais. 2ª edição, edições Loyola, São Paulo, Brasil, 1997. Propomos a você também que leia a obra: Cidadania Pequena. Neste livro a autora relata Dados da Pesquisa Mensal de Emprego, em seu Suplemento de 1996, mostra perfil muito preocupante, sobretudo se comparado a dados de 1987 (suplemento da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios): não teríamos evoluído. DEMO, Pedro. Cidadania pequena. 1ª edição, coleção: polêmicas do nosso tempo, Brasil, 2001. Guia de estudo: Logo após ler essas obras, faça uma relação entre ambas, produza um texto argumentativo, abordando os pontos que contribuíram para uma sociedade moderna que está em constantes mudanças. 10 Problematizando Os movimentos sociais nascem no universo dos processos de interação social dentro da “teoria do conflito e mudança social”. O homem como ser social, através dos processos de interação social acaba por não se adaptarem as estruturas, e isso acaba gerando desajustes e conflitos. Os movimentos nasciam neste universo e eram vistos como elementos destrutivos a ordem social vigente. Guia de estudo: o homem como um ser social, na sua interação, mas com características diferentes, com pensamentos divergentes. Percebemos conflitos constantemente, entretanto com objetivos comuns, nessa linha de pensamento, como você compreende a formação dos movimentos sociais? O que eles representam em sua vida? Compartilhe no ambiente virtual. 11 MOVIMENTOS SOCIAIS: CONHECENDO OS ANTIGOS E NOVOS ATORES SOCIAIS 1 Conhecimentos Aprofundar estudos teóricos sobre as lutas coletivas e sua trajetória no Brasil, aprofundando estudos nos campos da educação popular e Ciências Sociais. Habilidades Desenvolver o espírito crítico no aluno, aproximando teoria e prática, para compreensão das demandas sociais na vida societária. Atitudes Capacitar os alunos para atuarem em ações sociais no coletivo tornando-os sujeitos sociais ativos e autônomos. 1213 Conceito de movimento social na bibliografia geral das ciências sociais A temática sobre os movimentos sociais surge como objeto de estudo junto com o nascimento da própria sociologia, onde defende uma necessidade de uma ciência da sociedade que se dedicasse ao estudo dos movimentos sociais. No século XX, a temática passa a ser vista no universo dos processos de interação social dentro da “teoria do conflito e mudança social”. As doutrinas do interacionismo simbólico norteamericano viram os movimentos como problemas sociais, um fator de disfunção e ordem. Elas se preocupavam em entender o comportamento dos grupos sociais. O grande ponto de destaque nos estudos clássicos é a ênfase na abordagem sociopsicológica. Formou-se uma tradição de se explicar o comportamento coletivo das massas por meio da análise de reações dos indivíduos. O sujeito era visto dentro de uma macroestrutura social. A grande questão era sua inadaptação aquelas estruturas, gerando desajustes e conflitos. Os movimentos nasciam neste universo, vistos como elementos destrutivos a ordem social vigente. As ideias Durkheimnianas da anomalia social permeavam as análises. Estas foram construídas sob a ótica do funcionalismo, a partir da análise estrutural funcionalista. Em relação à produção de estudos específicos sobre os movimentos sociais, observa-se grande parte de produção até os anos 60 no estudo do movimento operário, particularmente nas lutas sindicais. Portanto, a temática dos movimentos sociais é uma área clássica de estudo da sociologia e da política, tendo lugar de destaque nas ciências sociais. Não se trata de um tema dos anos 60, 70, 80. Ganharam maior visibilidade a partir dessas décadas, mas são muito anteriores a elas, na vida real e na teoria. Entretanto, o conceito tem sofrido historicamente, uma série de alterações. Nos anos 50 e 60, abordavam os movimentos no contexto das 14 mudanças sociais, vendo-os como fontes de conflitos e tensões, classificavam o movimento de forma dualista; religiosos seculares, reformistas revolucionários, violentos pacíficos. Na abordagem fundada no paradigma decorrente da teoria marxista, até os anos 50, o conceito de movimento social sempre esteve associado ao de luta de classes. Denominavam-se movimentos sociais; as guerras, os nacionalistas, as ideologias radicais, nazismo e fascismo. O principal sujeito desses movimentos era a classe trabalhadora, por isso a maioria dos estudos empíricos teve como objeto o movimento operário, os sindicatos e os partidos políticos. Não havia muita diferença entre movimento e organizações. Na Europa, a onda dos chamados novos movimentos sociais (NMS), a partir dos anos 60, (de estudantes, de mulheres, pela paz, ecologia), deu origem ao novo paradigma da ação social e foi responsável pelo surgimento de abordagens que elegeram os movimentos sociais como tema central de investigação. Com enfoques metodológicos distintos, os pesquisadores criticaram as abordagens macroestruturais, que se detinham excessivamente na análise das classes sociais como categorias econômicas e criticaram os estudos clássicos marxistas, que só se preocupavam com as ações da classe operária e dos sindicatos deixando de lado as ações coletivas de outros atores sociais relevantes. É bom lembrar que muito antes da elaboração sistemática da teoria dos (NMS), no paradigma europeu, que surgiu no rastro da revisão das teorias marxistas, os movimentos sociais já tinham ganhado estatuto teórico de eixo temático na análise da realidade social na América. No final dos anos 70, e durante toda década dos anos 80, surge uma nova fonte de estudos sobre os (MS): dos países do Terceiro Mundo, que apresentaram novos atores, novas problemáticas e novos cenários sociopolíticos (mulheres, índios, negros, pobres). Mas a maioria dos estudos foram histórico descritivos. Chegamos então nos anos 80 com um panorama mundial das formas de manifestação de movimentos sociais bastante alterados. O desenvolvimento do 15 novo cenário passou por revoltas dos negros pelos direitos civis nos Estados Unidos, pela estruturação dos movimentos feministas, pela revolta contra as guerras e armas nucleares. Nos anos 90, altera-se todo o quadro sobre os (MS) tanto no ponto de vista das manifestações como na produção teórica. Na América Latina, deslocam as atenções para outro fenômeno social, as (ONGs). A categoria da ação social volta a ter centralidade nos estudos. No Brasil, as mudanças advindas com a globalização da economia e a institucionalização dos processos gerados no período da redemocratização levaram ao surgimento de um novo ciclo de movimentos e lutas, menos centrados na questão dos direitos e mais nos mecanismos de exclusão social. Os mecanismos de exclusão social e os obstáculos à construção de democracia, segundo os princípios da cidadania, foi outro tema que atraiu a tenção de analistas. A tendência predominante nos anos 90, na análise dos (MS), tem sido unir abordagens elaboradas a partir de teorias macrossociais a teorias que priorizavam aspectos micro da vida cotidiana. O que são movimentos sociais: questões conceituais Inicialmente, é preciso chamar atenção pelo entendimento sobre o que são Movimentos Sociais: são compreendidos como ações sociais coletivas de caráter sócio-político e cultural que desencadeiam distintas formas da população se organizar e expressar suas demandas (GOHN, 2003). Em sua maior expressão, são manifestadas por pressões diretas como mobilizações, marchas, concentrações até as pressões indiretas. Na atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de rede sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais, utilizando de novos meios de comunicação e informação, como a internet. Por isso, constroem práticas comunicativas, representando a construção de novos saberes, produtos dessa comunicabilidade. 16 Na realidade histórica os movimentos sempre existiram e sempre existirão, devido a sua força social organizada que unem as pessoas como campo de atividades e de experimentação social e estas, acabam se mostrando como fontes geradoras de criatividade e de inovações socioculturais (GOHN, 2003). Conforme a autora, citado por Touraine, assegurou que movimentos sociais são o coração, o pulsar da sociedade, eles expressam energias de resistência ao velho que os oprime e fontes revitalizadas para construção do novo. Energias sociais que antes dispersas são canalizadas e potencializadas por meios de suas práticas, o que Gohn chama de “Fazeres Propositivos” (2003,p.14). Entretanto, não pudemos ignorar que existem tipos de movimentos sociais conservadores, fundamentados muitas vezes, em xenofobias nacionalistas, religiosas, raciais, etc. A autora afirma que esse tipo de movimento social não querem as mudanças sociais emancipatórias, mas impor as mudanças segundo seus interesses particularistas, pela força, utilizando a violência como estratégia principal em suas ações. A intolerância existe e ela tem estado presente em movimentos fanáticos/religiosos. Xenofobia: Hostilidade; receio, medo ou rejeição direcionados a quem não faz parte do local onde se vive ou habita. Surgem também os movimentos nacionalistas, com suas ideologias não democráticas, geradoras de ódios raciais e atos terroristas. São movimentos construídos a partir de práticas limitadas e estreitas, destrutivas e que negam a ordem social. Não representa movimentos abertos a participação de qualquer cidadão porque existem códigos, crenças, valores e ideologias específicos deles. A autora demonstra como exemplo, o que ocorreu em 11 de setembro de 2001, nos Estados Unidos da América pelos terroristas. 17 Já os movimentos sociais progressistas atuam segundo uma agenda libertadora, realizam análises sobre a realidade social e constroempropostas. Agem em redes, articulam ações coletivas que atuam como resistência à exclusão e lutam pela inclusão social. Eles constituem e desenvolvem capacidades e poder de atores da sociedade civil organizada, no momento que criam sujeitos sociais para a ação em rede. As redes são estruturas da sociedade atual globalizada e informatizada. Elas se referem a um tipo de relação social e atuam segundo objetivos estratégicos, produzindo articulações com resultados relevantes para os movimentos sociais e para a sociedade civil em geral (GOHN, 2003). A autora explica que existem redes de diferentes tipos são elas: Sociabilidade: (encontradas em nosso cotidiano a partir das relações por laços familiares, de amizade, etc.); Redes locais: (presentes no associativismo civil local, produzidas pela territorialidade de um bairro ou comunidade, exemplo; associações comunitárias); Redes virtuais: via online (que tercem as relações do movimento antiglobalização, exemplo: redes temáticas específicas, como as das mulheres ou das entidades que atuam sobre questões de gênero); Redes socioculturais: (firmadas por heranças ou características étnicas, religiosas, ocorridas da tradição ou práticas sociais presentes); Redes geracionais: (de jovens e de idosos); Redes históricas: (que cultuam a memória de um líder, de um ator ou cantor famoso, etc.); 18 Redes de governança: (que tentam articular a experiência de inovações da gestão pública, como os Fóruns das prefeituras que adotam o orçamento participativo); Redes de entidades afins, como as redes de (ONGs). Nesse novo milênio, os movimentos sociais estão retornando à cena e à mídia. Neles destacam-se quatro pontos: 1-As lutas de defesas das culturas locais contra os efeitos assoladores da globalização, numa tentativa de reconstruir um novo padrão de civilidade, orientado para o ser humano e não para o mercado; 2- Exigência pela ética na política e cuidado sobre a ação estatal/ governamental. Acaba orientando a população para prestarem mais atenção para o que deveria ser dela e que está sendo desviado; 3- Os movimentos têm coberto áreas do cotidiano de difícil penetração por outras entidades e instituições do tipo partido políticos, sindicatos e igrejas, fortalecendo aspectos subjetivos das pessoas relativos a sexo, crenças e valores, etc.; 4- Os movimentos construíram uma compreensão sobre a questão da autonomia, diferente do que existia nos anos 80. Conforme Maria da Glória Gohn (2003), atualmente, ter autonomia não é ser contra tudo e todos, ou estar isolado e de costas para o Estado, atuando no limite do instituído, e sim, ter autonomia é principalmente, ter planos estratégicos a partir de um projeto coletivo e pensar os interesses desse coletivo, envolvidos com uma autodeterminação. É termos metas e programas, com olhar crítico e com proposta de resolução para os problemas e conflitos envolvidos nas realidades, onde o grupo está inserido, com flexibilidade para provocar a inserção dos que ainda não participam e tem desejo de participar e de mudar as coisas da forma como estão. É tentar tornar universal as necessidades particulares, fazer política, vencendo os desafios dos localismos. Ter autonomia é privilegiar a cidadania, construindo-a, resgatando-a, onde foi contaminada. Por fim, ter 19 autonomia é ter pessoas capacitadas para representar os movimentos e negociações nos fóruns de debates. O novo associativismo Conforme Gohn (2003), o associativismo que mais predominou nos anos 90, originou de mobilizações pontuais a partir de centros de militantes que defendem uma causa e seguindo as diretrizes de uma organização. Já as mobilizações de massa se fazem a partir do acolhimento a uma solicitação feita por alguma entidade plural, fundamentada em objetivos humanitários e a partir da realidade local, onde a mobilização acontece independente de laços anteriores de pertencimento, o que não ocorre com o associativismo de militância político ideológica. O novo associativismo é mais propositivo, operativo e menos reivindicativo e mais estratégico. O conceito básico que fundamenta esse tipo de associativismo é o de Participação Cidadã, compreendida por um conceito amplo de cidadania que não se restringe ao direito ao voto, mas constrói o direito à vida do ser humano como um todo. Existe também outro conceito, de cultura cidadã, finalizado em valores éticos universais, impessoais. Uma concepção democrática que visa fortalecer a sociedade civil apontando caminhos para a construção de uma nova realidade sem desigualdades e respeitando as diversas realidades culturais. Veja o que diz a citação a seguir: A Participação Cidadã envolve direitos e deveres diferente da concepção neoliberal de cidadania que exclui os direitos e só destaca os deveres, vendo o cidadão como um mero cliente de um mercado ou um usuário de um serviço prestado. Os deveres na perspectiva cidadã articulam-se a ideia de civilidade, a concepção republicana de cidadão (GOHN, 2003, p. 18). A comunidade é tratada como sujeito ativo construtor dos programas e participante na própria intervenção social das políticas públicas. Para que aconteça a participação cidadã, os sujeitos de um território necessitam de uma 20 organização e mobilização com ideários mesmos em sua unidade e diversidades possam ser articulados. Ainda nos anos 90, surgiram outros novos conceitos, gerados no interior de outros movimentos sociais, como a cidadania planetária, sustentabilidade democrática, participação cidadã, etc. (cf. Sousa Santos, 2000; Scherer- Warrem, 1999; Gohn, 2001). Esses conceitos indicam que se devem respeitar as diferenças culturais, os valores, hábitos e comportamentos, de grupos e indivíduos, pertencentes a uma sociedade globalizada pela economia e pelas diversas interações midiáticas dadas pela TV, internet e outros. Categorias teóricas utilizadas na produção brasileira a partir dos anos 70. Vamos mostrar nesse momento, um mapeamento das produções bibliográficas brasileiras dos movimentos urbanos no final do século XX. Um dado muito importante que apontamos é que a maioria dos estudos realizados nos anos 80 e 90 houve declínio do interesse pelo estudo dos movimentos em geral e principalmente pelos populares. Mudanças substanciais na política em plena República no Brasil provocam contradições da sociedade e fazem com que os profissionais das áreas sociais (educadores, sociólogos, antropólogos e outros) tenham interesse pela temática. Já nos anos 90, a centralidade da maioria dos estudos passa a serem as redes de (ONGs) e os mecanismos institucionais da democracia participativa. No final dos anos 70, no Brasil, os novos movimentos sociais, movimentos populares urbanos, ganham peso. Era representações ligadas a igreja católica articulada com a teologia da libertação. Tinham um jeito diferente de se articular, de organizar a comunidade local. A categoria trabalhada era autonomia como uma estratégia política por detrás dos movimentos populares. 21 Matrizes de socialismo libertário do século passado, assim como o anarquismo, estavam embutidas e geravam concepções contraditórias. O anarquismo foi um movimento de revolta do passado pré-industrial contra o presente, que rejeitava a tradição, a religião e a igreja, o Estado e a burocracia e defendia as causas do progresso, da ciência e da tecnologia. Acreditavam nos processos educacionais como mola propulsora do progresso. Retomava propostas do iluminismo e rejeitava qualquer autoridade, pregando o socialismo libertário. A abordagem do paradigma marxista enfatiza mais os aspectos estruturais e analisa questões de reprodução da força de trabalho, do consumo coletivo, da importância estratégica dos movimentos para mudanças no próprio estado capitalista. A relação dos movimentoscom o Estado era vista em termos de incompatibilidade e aversão. As mudanças na conjuntura da política no início dos anos 80 vieram a alterar o panorama. No campo popular começou a questionar o caráter novo dos movimentos populares. No campo das práticas, iniciou-se o interesse por outros tipos de movimentos sociais, tais como o das mulheres, os ecológicos, os dos negros, índios, etc. eles ganharam expressão nesta época, embora já fossem lutas antigas. A exibição desses novos estudos delimitou duas novidades: uma nova concepção para o novo e uma divisão paradigmática. O novo passou a ser referência para movimentos que suas necessidades estavam pautadas no campo dos direitos sociais tradicionais (a vida, alimento, moradia...), para a igualdade e liberdade. O denominador comum nas análises dos novos movimentos sociais no Brasil foi à abordagem culturalista, em sobrepondo a marxista, presente com maior força na análise dos movimentos populares. Toda a ênfase estava na identidade dos novos atores políticos. O dilema aqui passou a ser outro; enfatizar mais o aspecto das mudanças socioculturais ou as transformações políticas que os movimentos poderiam gerar (GOHN, 2005). 22 Conforme a autora, no inicio da década de 80, novos tipos de movimentos foram criados, fruto da conjuntura política econômica da época. Foram os movimentos dos desempregados e das diretas já, que se definiam no campo da ausência do trabalho e na luta pela mudança do regime político brasileiro, relativas ao plano moral, da ética na política. O das diretas já, por exemplo, surgiu no momento de pico de um ciclo de protestos, contra o regime militar e a política excludente de desemprego que demarcou um novo ciclo de protestos. Abordagens nos anos 70 e 80 no Brasil até a atualidade No final da década de 70 e partir da década de 80, os movimentos sociais populares ficaram famosos e representaram articulações dos grupos de oposição ao regime militar, especificamente pelos movimentos de base cristã, sob a inspiração da Teologia da Libertação (GOHN, 2003). Inicialmente, houve uma diminuição das manifestações nas ruas que eram visíveis aos movimentos populares nas cidades. Alguns analistas detectaram que eles estavam em crise por não mais existir o regime militar. São diversas as causas das desmobilizações. É fato que nos anos 70 e 80, os movimentos cooperaram para as aquisições de novos direitos sociais, que foram inscritos em leis da Nova Constituição Brasileira de 1988. A partir de 1990, ocorreram outras formas de organização popular, mais institucionalizadas, como a constituição de Fóruns Nacionais de Luta pela Moradia, pela Reforma Urbana, pela Participação Popular, etc. Esses fóruns colocaram a prática de encontros nacionais gerando diagnósticos dos problemas sociais e criando estratégias de resoluções. Outro fato que marcou os anos 90, em relação ao organizativo, foi à criação da Central dos Movimentos Populares, que estruturou vários movimentos populares em nível nacional, como exemplo, a luta pela moradia. 23 A ética pela política foi um movimento ocorrido nos anos 90 e teve grande importância histórica, porque contribuiu, para a destruição do processo democrático, de um Presidente da República por atos de corrupção, o que nunca havia acontecido no país. Ele também contribuiu para o ressurgimento do movimento dos estudantes com o novo perfil de atuação, as “caras pintadas”. À medida que as políticas neoliberais avançaram surgiram outros movimentos sociais como: contra reformas estatais, a Ação da Cidadania contra a fome, movimentos de desempregados, etc. Surgiram outros movimentos no contexto de crescimento da economia informal. Muitas ações apareceram como respostas às crises socioeconômicas, agindo mais nos grupos de pressão do que nos movimentos sociais estruturados. Conforme Gohn (2003), os atos e manifestações pela paz, contra a violência urbana também são exemplos dessa categoria. Se antes, a paz se sobrepõe a guerra, hoje ela é almejada como necessidade ao cidadão/cidadã comum, em seu cotidiano. Também os grupos de mulheres foram organizados nos anos 90, em função da sua participação política, criando redes de conscientização de seus direitos e frentes de lutas contra discriminações. O movimento dos homossexuais também ganhou impulso. Os jovens geraram inúmeros movimentos culturais, especialmente na área da música, destacando temas de protesto. Enfatizamos três outros movimentos sociais importantes na década de 90: dos indígenas, dos funcionários públicos e especialmente das áreas de educação e saúde, e dos ecologistas. No início deste milênio há ainda um movimento que está em crescimento, que é o movimento contra a violência urbana, especialmente nos grandes centros urbanos. Representam o alvoroço da Sociedade Civil na área da segurança pública, na busca de proteção à vida do cidadão no cotidiano. 24 Conforme a autora, pesquisas de opinião pública estão demonstrando que a segurança está passando a ser o principal item de demanda da população, maior do que o medo do cidadão ficar desempregado. Os movimentos contra a violência, nos centros urbanos, são mais focalizados, pois partem de grupos e ações localizadas, motivados por perdas de entes queridos, passam a criar redes e mobilizam as associações comunitárias dos bairros. E o que aconteceu com os movimentos populares que nos anos 70 e 80, sumiram? Não, sempre foram heterogêneos em termos de temáticas e demandas. O que integra o universo de suas demandas são as carências socioeconômicas. Nos anos 90, eles criaram e desenvolveram redes com outros sujeitos sociais (no campo sindical, campo político partidário, campo religioso, campo das ONGs). Os movimentos populares criaram e fortaleceram a construção de redes sociais. Ocorreram alterações profundas no cotidiano da dinâmica interna dos movimentos populares. Saíram do nível das reivindicações para um nível mais operacional, propositivo, incorporando novas práticas. Seus discursos alteraram em função da mudança da conjuntura. Ajudaram a construir novos caminhos de participação, não se tratando mais de ficarem em oposição ao Estado. Como exemplo temos os Fóruns e a institucionalização de espaços públicos importantes, como os diferentes conselhos, criados nas esferas municipais, estaduais e nacional. A autora assinala que, Resulta desse processo uma identidade diferente, construída a partir da relação com o outro, e não centrada exclusivamente no campo dos atores populares. Esse outro estava presente nos relacionamentos desenvolvidos com novas formas de associativismo emergente, interações compartilhadas com ONGs e a participação das políticas públicas (GOHN, 2003, p. 24). 25 Ainda fazendo parte dos movimentos populares urbanos, a luta pela moradia continuou a ter a importância. Uma parte dela tornou-se institucionalizada, atuando no plano jurídico, obtendo resultados importantes como o estatuto da Cidade. Outra parte migrou com suas assessorias para as ONGs, participando de projetos institucionais, por exemplo, projetos de reurbanização. Uma terceira parte inovou suas práticas seguindo o modelo de movimento popular rural: realizando ocupações, não mais de áreas vazias, mas ocupando prédios públicos e privados, ociosos ou abandonados, nas áreas centrais das grandes cidades. A quarta categoria de luta pela moradia foi representada pelos moradores de rua, vivendo sob pontes, marquises, praças. Esses moradores aumentaram significativamente nos anos 90, em termos de número e locais de ocupação. Trabalhar em favor da organização de moradores de rua é muito difícil, porque eles mudam muito de locais e não têm trabalho fixo. Conforme Gohn (2003), muitos desses moradores foram angariados pelo MST (Movimento dosTrabalhadores Rurais Sem Terra) para fazer parte dos seus acampamentos e ocupações rurais. O MST é o mais famoso dentre os 20 movimentos sociais populares rurais do Brasil na atualidade. Os movimentos rurais tiveram, nos anos 90, mais visibilidade e importância política que os movimentos sociais populares urbanos. Outro movimento que teve sua importância foi o popular da saúde, com representações em Conferências Nacionais de Saúde e nos Conselhos de saúde no qual existia a representação dos usuários. Ainda, existiram os movimentos dos transportes, das creches da educação, ambientalistas, dentre outros. A partir dos movimentos citados e analisados, observamos que o perfil dos movimentos sociais foi alterado pela própria mudança da conjuntura política, na qual se redefiniram em função das mudanças. Foram vítimas dessa conjuntura que através das políticas neoliberais, acabaram que enfraquecendo os setores organizados. 26 Por esse motivo os movimentos dos anos 90, passaram a atuar em rede e em parceria com outros atores sociais dentro da institucionalidade redefinido suas relações para continuarem atuando em busca da igualdade e inclusão social. 27 EXCLUSÃO SOCIAL NA SOCIEDADE CAPITALISTA 2 Conhecimento Desenvolver no aluno a partir dos estudos teóricos, uma análise histórica dos processos sociais ligados à pobreza, trabalho e exclusão. Habilidades Preparar os alunos para o enfrentamento das situações sociais vigentes em nosso País como possibilidade de construção da civilidade humana. Atitudes Provocar o espírito de participação e cidadania ativa ligada a noção dos direitos, como possibilidade para alcançar patamares mínimos de uma sociedade mais justa e igual. 28 29 O início do processo de exclusão social Atualmente, existem muitas discussões sobre exclusão social, as suas causas e suas consequências relativas aos processos de transformações econômicas, sociais e políticas. Hoje a problemática da exclusão é colocada e debatida no seu conceito, como se esta, fosse uma situação recente da atualidade, só que a temática da exclusão, pertence a vários períodos da nossa história, vem desde a antiguidade, representada pelo humanismo, passando pela burguesia mercantil, depois pela revolução industrial onde surgem as classes trabalhadoras e daí, caímos no capitalismo, no neoliberalismo e no processo de globalização econômica. Todo este percurso histórico reflete o problema das desigualdades e da busca dos direitos da humanidade. Desde a antiguidade, já se buscava a consciência dos valores humanos, até mesmo, na época do humanismo, esses valores foram distorcidos e os trabalhadores sofreram humilhações e exclusões. Foi sob a inspiração dos valores humanos fundamentais que ocorreram as revoluções burguesas, nos séculos XVII e XVIII, onde acreditaram que através da imposição de limitações ao poder pessoal dos governantes e a eliminação de privilégios da nobreza, dariam lugar a uma nova ordem social justa, uma sociedade de pessoas livres e iguais. O que não aconteceu, pois houve uma tremenda distorção em relação à liberdade e igualdade dos direitos do cidadão. Para quem era nascido na pobreza, esses não tiveram direitos sobre esta liberdade e igualdade. A marca da sociedade do século XVIII foi à supremacia absoluta para a riqueza material, privilégios políticos e sociais para os detentores do poder e egoísmo em lugar de fraternidade e solidariedade, criando distâncias enormes entre o pobre e o rico. A aprovação da declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948, além de representar um grito de protesto representou também, a rejeição do individualismo egoísta e do materialismo disfarçado implantado no fim do século XVIII, onde utilizaram o rótulo do liberalismo, mas na verdade só cuidaram da liberdade dos privilegiados economicamente. 30 Só que através dessas transformações econômicas, a própria sociedade começa a questionar como está a humanidade dentro desse perfil conflituoso, e então começa a buscar com muita clareza a dignidade da pessoa humana. Desse modo, os valores essenciais na vida do homem foram colocados em primeiro plano. Dalmo Dallari (1998) afirma que, “é no contexto dos conflitos entre as diferenças econômicas, políticas e sociais, que nasce a necessidade de mudanças em uma determinada realidade de uma sociedade”. Já no século XVIII, houve a marca do capitalismo, que formou uma sociedade destrutiva e excludente. Só que a economia capitalista continuou forte e provocou um processo de conflitos, fazendo aparecer o Estado de bem-estar social. Esse Estado benfeitor possibilitou, principalmente na Europa Central, a oferta de serviços públicos, garantia de empregos e redistribuição de renda. Mas existiu uma contradição no Estado de bem-estar; ao atender os interesses dos burgueses, a fim de impedir a eclosão das constantes crises no modelo capitalista, possibilitou também, a organização dos trabalhadores na Europa. No Brasil esta situação foi bem mais diferente. Surge então o neoliberalismo, onde o Estado deixa de intervir na economia e no social transferindo a responsabilidade para a sociedade civil e o desemprego surge como consequência normal desse processo econômico. Com o surgimento da globalização da economia, tudo piora em relação aos direitos humanos. O (FMI) e o Banco Mundial realizam acordos internacionais. Esta globalização parece supor uma posição de igualdade entre todos (países, empresas e indivíduos), mas tudo é uma grande ilusão. Ela influenciou bastante para o crescimento da desigualdade entre países, tanto os emergentes como os de primeiro mundo, fazendo surgir uma “nova pobreza”, sendo o desemprego sua face mais visível. Sendo assim, existem três elementos teoricamente distintos, mas que se relacionam e se reforçam para produzir o desemprego, sua precarização e as quedas dos salários e consequentemente a desigualdade e a exclusão, são 31 eles: o processo de reestruturação produtiva, o neoliberalismo e o processo de globalização. Estamos tentando explicar toda esta polêmica em torno da exclusão na contemporaneidade, baseada não numa visão conceitual ligada ao modismo que está sendo tão usado atualmente, mas numa visão mais realista, onde o conceito estará ligado à própria prática vivencial da humanidade, onde Demo (2002) citado por Paugam, explica esta polêmica da seguinte forma “o sucesso da noção de exclusão é (...), em parte, ligado à tomada de consciência coletiva de uma ameaça que pesa sobre franjas cada vez mais numerosas e mal protegidas da população” (PAUGAM, 1996, p.15). A exclusão passa a ser um fenômeno típico da atual fase do capitalismo (globalização neoliberal), onde o setor social não consegue se integrar no desenvolvimento capitalista. Na educação, o processo de exclusão também está presente, onde o capitalismo provoca a promoção da educação para a qualificação do trabalho. A cartilha neoliberal indica a reorientação do modelo educacional, onde a educação passa a ser vista como um bem a ser consumido, baseada numa proposta de mercantilização da educação, comprometendo o desenvolvimento político ideológico da humanidade, promovendo a total ignorância e submissão. Uma nação que se submete às decisões das maiores potências mundiais, haja visto que o sistema educacional não passa de um produto de importação de sociedades dominantes, do que um resultado de um desenvolvimento originário e relativo a seu povo, logo, a educação é uma condição necessária, mas, não suficiente para o desenvolvimento e para a cidadania. Exclusão social e a nova desigualdade: ressignificando o conceito José de Souza Martins (1997) comenta que a discussão em torno da exclusãosocial nesta atualidade, expressa uma rotulação de conceitos, que ao invés da palavra expressar uma prática rica, ela acaba induzindo a uma prática 32 pobre, onde alguns teóricos da exclusão desenvolvem uma luta vazia em torno dos significados, sem raiz na prática dos que lutam pela vida, “uma ação que se reduz ao discurso que não se nutre do vivido”. Que a ideia de exclusão é pobre e insuficiente, onde se discute a exclusão e deixa de se discutir as formas de pobres, as formas indecentes de inclusão. Consequentemente, surge uma conceituação rotuladora, onde os militantes envolvidos na batalha pedagógica pela luta da igualdade social, através de seu idealismo, não derivam os conceitos da práxis, mas procuram fazer da práxis a realização dos conceitos, provocando uma “coisificação conceitual”. Para conceituar exclusão, o autor, tenta fazer uma leitura da realidade reflexiva, sem pré-julgamentos e sem arrogância. Pretendem descobrir os significados ocultos e ocultados, os mecanismos invisíveis da produção de miséria, do sofrimento e das privações. Em seu livro, Exclusão Social e a Nova Desigualdade, tem o objetivo de nos propor a ideia de que a reflexão crítica é que situa o nosso agir no processo histórico, e que sem isso, a ação se torna um equívoco. Adota uma linha de trabalho baseado numa perspectiva sociológica política, antieconomicista, onde provoca uma reflexão política entre sociedade e o Estado, defendendo que este é o âmbito de reivindicação de exigências dos direitos sociais, das vítimas da exclusão. Colocam em discussão dois pontos; o primeiro, que não existe exclusão e o segundo, o que chamam de exclusão, são dolorosas situações de ajustamento econômico, social e político, decorrentes da mesma. E essas vítimas através dos conflitos, proclamam pelo seu inconformismo, sua revolta e seu mal-estar. A própria população está construindo, uma alternativa includente, que provoca a necessidade de resolver, de criticar. Falamos das necessidades radicais, desenvolvida pelo sociólogo francês Henri Lefebvre, que explica: “são necessidades que derivam das contradições insuportáveis, ajustando-as de acordo com as necessidades do homem e não as conveniências do capital”. 33 Martins defende a fetichização da ideia de exclusão, onde todos os problemas sociais passam a ser atribuídos mecanicamente a exclusão. Sendo assim, esta, passa a ser um momento de percepção que cada um pode ter e traduzir em privação; privação de emprego, de participação do mercado de consumo, de bem-estar, de direitos, de liberdade, de esperança, é o que chamamos vulgarmente de pobreza. Fetichismo: Ocultismo. Culto aos objetos tidos como poderosos e/ou sobrenaturais; Ação de estar do lado de alguém, contra uma terceira pessoa, sem se importar com a verdade. Hoje, esta privação é mais do que econômica, existe nela certa dimensão moral, onde a nova pobreza já não oferece alternativa a ninguém, onde o valor do trabalho mudou e vai sendo desmoralizado, deixando de ser de integração positiva na sociedade atual. É o que o autor chama de inclusão marginal. As políticas econômicas atuais, no Brasil, com o modelo neoliberal, implicam esta inclusão, que não são políticas de exclusão. Cria-se então, uma sociedade dupla, como se fossem dois mundos que se excluem reciprocamente; parecidos na competição, mas não são parecidos nas oportunidades. Uma nova sociedade não mais gerada pelo aparecimento das classes sociais, pois resulta no fim das possibilidades de ascensão social. Esse momento da passagem de exclusão para o momento de inclusão está se transformando em um modo de vida e está criando uma grande massa de população sobrante. Além da inclusão marginal, produz também a reinclusão ideológica no imaginário da sociedade de consumo. Surge o que o autor chama de “estado de drogado”, o moderno colonizado, o homem que já não sabe ser um verdadeiro igual, mas que se sente feliz porque pode imitar os ricos e os poderosos, confundindo o falso com o verdadeiro, pensando que nisso está à igualdade. Esta é uma sociedade da imitação, do falso novo, que não mais cede lugar a invenção, a criação, a revolução, prevalecendo à perda da capacidade de cultivar a inteligência crítica. 34 Martins (1970) coloca que, esse “estado de drogado” está se proliferando facilmente como substituto manipulável e mercantilizado do sonho. Ele defende que é aí que se revela o que de fato deve ser objeto de crítica e de combate por parte daqueles que não perderam a dimensão da humanidade do homem, como o grande projeto dos que tem sede de justiça. Sendo assim, a compreensão da realidade social exige das ciências sociais um esforço permanente de crítica dos conceitos utilizados nas análises da sociedade. Espera-se que, frente às alterações que estas realidades sociais vêm sofrendo ao longo do tempo, façam emergir novos conceitos que melhor se relacionem às mudanças, dando lugar à forma como os problemas sociais se manifestam ou nos fatores que os determinam. O papel do educador social na condução do processo de inclusão, integração e participação das comunidades. O contexto político-social e econômico do Brasil no final dos anos 80, influenciado pela política social europeia, impôs ao Brasil situações desconfortáveis e comprometedoras de seu processo de desenvolvimento social. É que neste período, nosso país começa a apresentar complexas feições características da globalização com consequências negativas para a sociedade. É que o processo de globalização tem o poder de provocar diferentes situações de desigualdades sociais. Tal processo tem afetado as mobilizações e organizações sociais no cotidiano da realidade dos movimentos sociais, contribuindo para a ampliação das desigualdades e exclusões sociais, associadas à perda dos direitos sociais e trabalhistas. Com isso, está ocorrendo um crescente aumento de projetos voltados para o atendimento aos múltiplos aspectos das condições de vida da população brasileira. Entretanto, um significativo contingente de atores sociais tem se utilizado dessa realidade política e social, para desenvolver ações que favorecem poucas interferências na transformação da sociedade. Porém, muitas vezes, esses projetos sociais revelam interesses de classes, 35 beneficiando aos grupos sociais favorecidos e negligenciam aos interesses comunitários. Assim reforça a continuidade das práticas, a reprodução das desigualdades e manutenção do poder dominante. Nesta compreensão, o educador social engajado na luta pelas transformações da realidade concreta, exerce papel fundamental na construção de novos caminhos históricos, atuando sobre as causas que originam os problemas, buscando medidas preventivas, atentando para a elaboração de projetos sociais que respondam às necessidades do coletivo, a partir do comprometimento dos sujeitos sociais em busca de objetivos comuns que, ao longo do processo histórico, consiga erradicar as desigualdades e as exclusões sociais existentes. Somente assim, justificam-se as preocupações com a ampliação do índice de ONGs, associações diversas. Caso contrário nada de novo ocorrerá no cenário brasileiro. Logo, a atuação dos projetos sociais deve assumir a forma de uma atuação preventiva, e para tal, deve atuar sobre as causas. Pensando na atuação social com esta orientação, no sentido de prevenção e erradicação das desigualdades e desvantagens nas nossas sociedades, devemos ter bastante cuidado e estar atentos aos objetivos e instrumentos para a realização dos projetos sociais. Sendo assim, os projetos sociais podem ser indutores de novas políticas públicas e são frequentes as intervenções da política social, que têm em suas atuações a preocupação em resolver e integrar a dimensão dos direitos sociais, a fim de reduzir as situações de carênciae atuações inclusivas de integração social, políticas que tenta proporcionar ao beneficiário, meios que lhe permitam reinserir-se na sociedade, seja pela participação no mercado de trabalho ou em outras formas de participação, voltadas para o atendimento às necessidades coletivas. Ao mesmo tempo em que a sociedade civil, com sua heterogeneidade, vem se fortalecendo e desenvolvendo novas formas de organizações (não governamentais, redes, entre outras), torna-se protagonista da ação social, atuando de forma direta nas questões sociais e também participando 36 ativamente de políticas públicas, formando um ambiente que produz efeitos educativos. Já no contexto educacional, dentro de uma perspectiva pedagógica de estruturação, mobilização e conscientização da comunidade torna-se fundamental, a presença do educador social. Ele se apresenta como interventor da realidade com seus problemas, daí sua importância nesta ação. O educador social favorece ao desenvolvimento de uma consciência crítica de caráter intencional para a produção de impactos e iniciativas e sua ação deve ser permeada pelos valores humanistas. São esses valores que, atualmente, estão sendo priorizados pela comunidade comprometida com a construção da sociedade justa e igualitária. Desse modo, o ambiente social, político e cultural vai implicando na geração sempre mais, de processos educativos. Firma-se então, que na sociedade estão presentes novos processos educativos informais, espontâneos, difusos, envolvendo práticas de socialização. Por fim, a análise dos fenômenos sociais deve ser consistentemente bem alicerçada num conjunto sólido de conceitos, acompanhada de reflexão crítica sobre adequação desses projetos sociais sob os fenômenos analisados, devendo este trabalho social ser reavaliado e reajustado a nossa realidade, de forma continuada, exigindo uma constante revisão de sua práxis para que possam proporcionar bons resultados. O êxito, neste sentido, será alcançado em face da possibilidade concreta de realizar mudança e transformação social. A Pedagogia Social está referenciada como uma política que atua numa formação para atuação na área social na intervenção, propiciando a criação de ações orientadas e intencionais. O objeto da Pedagogia Social é a própria intervenção na realidade social, numa análise da sociedade e do indivíduo. A expansão da ação da pedagoga social ocorre na educação não formal, é o conjunto de processos, meios e instituições específicas, organizadas em função de objetivos explícitos de formação e instrução que não estão diretamente vinculados à obtenção de graus próprios do sistema educativo 37 formal. É diferente da escola, mas é uma ação com planejamento e com intenção e organização para o aprendizado. No Brasil, um exemplo é a Educação Popular que em 1960, na qual o educador Paulo Freire com a Educação de Jovens e Adultos teve notável influência com as campanhas de alfabetização e formação política. Então, se nos anos 1960 e 1970, os movimentos populares foram marcados pela luta de contestação ao sistema contra a concentração de riqueza, de poder, de injustiça, do autoritarismo, os anos 1980 trazem à cena agentes sociais com nova natureza, nova lógica. Surgem lutas específicas de mulheres, jovens, negros, ecologistas, todos em defesa da conquista de suas identidades culturais e da igualdade dos direitos; lutas que apontam para um modelo de democracia, que permita a convivência com as diferenças e redução de desigualdades. Já os anos 1990, caracterizaram-se pela exacerbação do eu, do desejo, da subjetividade, da descrença política, do recuo aos movimentos sociais, favorecendo o surgimento do liberalismo e o fortalecimento do capitalismo. Para alguns estudiosos na atualidade, a tarefa mais importante da (EP) é a de reconstituir criticamente a linguagem popular para a libertação. O problema expresso diante de tal ação comunicativa é que muitas das suas deformações, obstáculos para o sucesso dos diálogos, existem porque ocorrem numa sociedade desigual e estas deformações advêm de mecanismos que legitimam a dominação, impedindo a problematização dos discursos interativos. Os processos educativos, sejam formais ou não formais, contribuem para o repensar das relações de trabalho, seja no processo de convivência social, seja na produção de sua sobrevivência e afirmação, seja na relação com a natureza ou com os demais seres humanos, o homem elabora conhecimento, processa educação, aprende e desenvolve capacidades. 38 39 EDUCAÇÃO E MODERNIDADE: DIMENSÕES DA PRÁTICA EDUCATIVA 3 Conhecimentos Conhecer as modalidades da prática educativa (informal, não formal e formal) para formação profissional do educador nessa atualidade com um olhar ampliador no campo profissional, abrangendo além dos conteúdos teóricos e práticos, valores e atitudes para viver e se desenvolver. Habilidades Preparar o aluno para atuar como educador nas diversas dimensões educativas nos múltiplos contextos da prática social do pedagogo com capacidade para realizar ações competentes. Formar um profissional qualificado para atender as demandas socioeducativas do tipo formal, informal e não formal. Atitudes Provocar no aluno uma formação pedagógica para construção de sujeitos autônomos, solidários e participativos, com atitudes transformadoras, tomando agentes educativos conforme a instância que operem, atuando com novas metodologias e linguagens. 40 41 Diferença entre pedagogia e educação A pedagogia está ligada aos processos educativos, aos métodos, maneiras de ensinar, tendo um significado mais amplo: é uma diretriz orientadora da ação educativa. O pedagógico refere-se a finalidades da ação educativa. A pedagogia se ocupa do estudo sistemático da educação, ou seja, do ato educativo, da prática educativa. Estabelece-se pelos processos formativos. Ocorrem nas instituições, na família, trabalho, rua, e meios de comunicação. Por isso, existem diferentes manifestações e modalidades de prática educativa (formal informal e não formal). A educação informal são ações e influências exercidas pelo meio, pelo ambiente sociocultural, através das relações dos indivíduos e grupos que não estão ligadas a uma instituição, nem são intencionais e organizadas. Já a educação não formal, é realizada em instituições educativas fora dos marcos institucionais, mas com certo grau de sistematização e estruturação. A educação formal compreende as instituições de formação, escolares ou não, onde há objetivos explícitos, é sistematizada e intencional e organizada. Sendo assim, se existem várias práticas educativas, existem também, várias pedagogias: a pedagogia familiar, sindical, social, escolar, etc., mas a pedagogia trabalha com a educação intencional, aquela que há sempre uma intervenção voltada para fins desejáveis do processo de formação. A partir da complexidade em nossa sociedade e das diversas ações educativas o conceito de educação torna-se ampliado afetando a própria pedagogia. Em vários âmbitos da sociedade surge a necessidade de disseminar saberes, conhecimentos, modos e atitudes, levando a diversas práticas pedagógicas. Numa visão funcionalista, a educação é compreendida como algo que se transmite que se repete e que é imutável, dando uma ideia que a educação será sempre a mesma para uma mesma sociedade. A educação tem de fato 42 uma função adaptadora, existindo um vínculo de fato, entre o ser humano que se educa e o meio natural e social. Mas a educação também é uma prática ligada à produção e reprodução da vida social, e o acontecer educativo corresponde à ação e ao resultado de um processo de formação de sujeitos a partir das exigências impostas num determinado contextosocial. “Conforme Demo (1999), citado por Dewey (1979: 83), a educação não é preparação para vida é a própria vida”. É representada como uma constante reconstrução de nossas experiências vividas. Para a concepção culturalista, a educação é uma atividade cultural dirigida para formação das pessoas a partir da transmissão de bens culturais, ou seja, um modo de ser subjetivo da cultura. Já a concepção ambientalista joga o meio externo como toda força de atuação sobre o indivíduo. Conforme Demo, na compreensão do sociólogo Durkheim, é a sociedade que propicia valores, ideias e regras, as quais o espírito do educando deve submeter-se. Outra corrente ambientalista é a do behaviorismo, na qual o homem é um ser moldável ao meio externo, a partir de estímulos externos o homem se desenvolve e seu comportamento é controlado. Na concepção interacionista, a educação é compreendida da seguinte forma: o ser humano se desenvolve biologicamente e psiquicamente na interação com o ambiente, onde homem e meio interagem. Encontramos diversas formas de compreensão da educação, umas colocam o ideal educativo fora do indivíduo outras identificam com o desenvolvimento individual. Mas essas definições se movem em torno de uma visão individualista e liberal de educação. O processo educativo é um fenômeno social, em suas contradições e lutas sociais e nos embates da práxis social é que vai se formando o ideal de 43 formação da humanidade. Nesse sentido, a tarefa educativa se reflete em superar a antinomia entre fins individuais e fins sociais. A educação está inserida no processo de desenvolvimento pessoal e de relação interpessoal, mas também, inserida no conjunto das relações sociais, econômicas, políticas, culturais numa determinada sociedade. Esse vínculo da prática educacional com prática social faz com que a educação fique subordinada aos interesses dos grupos sociais e daí tende a representar interesses dominantes e ser transmissora das ideologias que responde a esses interesses. Torna-se uma expressão de determinadas formas de organizações das relações sociais em nossa sociedade. Partindo da concepção crítico-social sobre a educação, é compreendida como um conjunto de processos formativos que acontecem no meio social, podendo ser intencional ou não, sistematizado ou não, institucionalizado ou não. Quando nos referimos à intencionalidade da educação estamos nos referindo a uma prática social para potencializar a atividade humana, tornando- a mais rica, produtiva, visando o desenvolvimento a partir dos processos de transmissão e apropriação dos conhecimentos, valores, habilidades, técnicas, organizadas para esse fim. A família, a escola, as instituições e grupos sociais fazem parte dessa educação intencional. Existem outros sentidos da educação: a educação como instituição social que corresponde à estrutura organizacional e administrativa; a educação como processo, que corresponde à ação educadora suas condições e modos pelos quais os sujeitos podem se educar. Indica a atividade formativa nas várias instâncias, com objetivos e conteúdos definidos; e a educação produto, onde a educação tem o sentido de caracterizar os resultados obtidos de ações educativas. 44 A educação não formal e a construção da cidadania De forma genérica, a educação não formal era vista como processos educativos para alcançar a participação de indivíduos e grupos em áreas de extensão rural, animação comunitária, treinamento vocacional, planejamento familiar, etc.. Em 1990, ela se destacou devido às mudanças na economia, na sociedade e no mundo do trabalho. Começou a dar importância aos processos de aprendizagem coletiva, aos valores culturais, exigindo de novas habilidades para além da sala de aula. Nesse cenário, o modelo desenhado pela Organização das Nações Unidas (ONU), adotado para área da educação, passou a vigorar com toda força. O poder do conhecimento aparece em pauta, e não mais o da economia. Exige-se agora, o domínio das habilidades básicas como: comunicar-se bem, domínio das máquinas e habilidade de gestão, de gerir sua carreira, os conflitos, sua vida. Cobra-se um perfil de trabalhador criativo, que compreenda os processos e incorpore novas ideias, que tenha autoestima e assuma responsabilidades e seja cidadão ativo. Os cursos entram para fazer parte do modelo econômico vigente, na nova sociedade globalizada, que priorizam o interesse do capital internacional em detrimento do desenvolvimento nacional. Nesse cenário, o resultado é uma sociedade competitiva, individualista e violenta. Uma educação que requer reciclagem, aperfeiçoamento, atualização e especialização emergindo mais nas áreas do terceiro setor que é constituído por organizações sem fins lucrativos e não governamentais, que tem como objetivo gerar serviços de caráter público. É nesse sentido que a educação não formal ganha importância, porque envolve a aprendizagem política dos direitos dos indivíduos. Ela capacita os indivíduos para o mundo do trabalho por meio da aprendizagem de habilidades e potencialidades. Favorece a organização coletiva dos indivíduos. Os espaços onde se desenvolve a atuação da educação não formal são dos mais variados; no bairro, nas associações, nas organizações, nas igrejas, 45 sindicatos e nos partidos políticos e Organizações Não Governamentais (ONGs). Existem dois campos de atuação da educação não formal, um que abrange a área da educação popular e educação de jovens e adultos destinados a transmitir conhecimentos diferentes dos planejados nas escolas e o outro que abrange a educação voltada para o processo de participação social não voltado para educação de conteúdos. Na educação não formal a cidadania é o objetivo principal, e se caracteriza por seu caráter voluntário, promovem a socialização, a solidariedade, visa desenvolvimento humano, político, social e econômico, preocupa-se com a mudança social, favorecem a participação descentralizada, proporcionam projetos de intervenção e a aprendizagem se dá pela prática social através de vivências de situações problema. Ao estudarmos a educação não formal, desenvolvida nos grupos sociais organizados ou movimentos sociais devemos atentar para as questões metodológicas e os modos de funcionamento. Sistematizar a metodologia contida nos processos de aprendizagem irá depender da nossa capacidade, enquanto educadores, de entender e ouvir os sujeitos pensantes e falantes. Precisamos estar prontos para escutar as falas e também o silêncio que acompanha aquela fala. Devemos desenvolver capacidades e habilidades no campo da linguística, captar conteúdos motivacionais, ideológicos e emocionais. Dessa forma, se queremos pensar dialeticamente a educação temos que refletir sobre o homem como ser histórico e suas relações sociais, ou seja, considerar o homem como conjunto das relações sociais. A dialética concebe o homem como ser histórico: portanto, toma como referência o homem concreto que age sobre si e que se relaciona e age sobre seu meio. Esta linha de análise deixa claro que o processo educativo é entendido como atividade que exige por parte do educando grande esforço e um trabalho disciplinado e metódico. Evidencia-se que a ação educativa é política e não neutra. Cabe ao educador não se opor à vida do grupo social 46 onde o educando se insere, mas se mostra como aprendiz e confere maior rigor lógico ao saber popular. Educar para solidariedade: o homem como problema ético O problema da solidariedade refere-se à justiça e que as raízes da injustiça estão fixadas tanto em atitudes pessoais como em estruturas injustas. Dessa forma, a luta pela justiça tem relação em muitos aspectos, com a educação para a cultura da solidariedade. Gostaria de inserir a ideia de educação como humanização, socialização e singularização. É necessáriae urgente a construção de novos valores, de uma nova ética. É imprescindível um impulso ético para a construção do bem comum. Será considerada a reflexão crítica sobre os valores, os ideais e os estilos de vida dominantes. A cultura da solidariedade é totalmente inversa à homogeneização. Pelo contrário, tem um projeto alternativo que busca a diversidade cultural endógena, com identidade e autonomia complementares. Representa uma chamada para a sensibilização da problemática global do desenvolvimento: pobreza, injustiça, degradação ambiental, todo tipo de conflito. O objetivo da educação é formar pessoas adultas, solidárias e abertas para o mundo plural e a formação profissional deve vir depois de tudo isso. O objetivo da aprendizagem é o crescimento pessoal do indivíduo mediante a intervenção social e como esse indivíduo assume os sistemas de valores. Os valores são independentes dos bens, ou seja, não precisam encarnar nas coisas reais. São criações humanas e só existem e se realizam no homem e pelo homem. Os trabalhos em educação falam sobre eixos transversais, a transversalidade. Alguns compreendem que a transversalidade está no âmbito da ética, ou seja, dos valores básicos para a vida e a convivência – a educação de valores. Define-se como ética o comportamento moral do homem na sociedade, ética como ciência da moral. Portanto, ética e moral se relacionam. 47 Não existe direito sem obrigação e não há nem direito e nem obrigação sem uma norma de conduta. A noção de direito moral introduz também, a obrigação moral. Ter direito moral em face de alguém significa que há outro indivíduo que tem obrigação moral para comigo. Os valores não são algo abstrato que se aprendem, eles estão inseridos em contextos reais, na interação humana. Toda educação de valores deve estar em relação dinâmica com a realidade das pessoas. Muito acostumados a um sistema educativo que privilegia os conteúdos conceituais em detrimento dos procedimentos das atitudes, para se trabalhar na educação para solidariedade, será necessário articular o desenvolvimento de capacidades críticas e analíticas. Devemos entender a educação como um direito e não como instrumento de desenvolvimento econômico e social e nem é preparação para o mercado de trabalho, mesmo que possa contribuir para formação profissional. Ela é movimento de humanização, de socialização, de subjetivação. A educação é um instrumento importante para a luta pelo direito, pela paz, contra a discriminação, exploração e degradação do ser humano. A globalização neoliberal atual impõe princípios contraditórios aos direitos dos cidadãos. Estes só podem ser conquistados por meio de lutas por uma sociedade e por um mundo solidário na educação, o processo de exclusão também está presente, onde o capitalismo provoca a promoção da educação para a qualificação do trabalho. A cartilha neoliberal indica a reorientação do modelo educacional, onde a educação passa a ser vista como um bem a ser consumido, baseada numa proposta de mercantilização da educação, comprometendo o desenvolvimento político ideológico da humanidade, promovendo a total ignorância e submissão. É importante destacar que os excluídos: pobres, minorias, comunidades indígenas, etc. não devem ser somente beneficiados da educação, devem participar ativamente por meio do debate público. A exclusão está na realidade social de nosso país, onde a sociedade se coloca autoritária e hierarquizada em relação aos direitos do homem. 48 Esse processo que chamamos de exclusão não cria mais pobres, cria uma sociedade paralela que é includente do ponto de vista econômico e excludente do ponto de vista social, moral e político. A nossa sociedade está se constituindo em sociedade dupla, duas humanidades: humanidade constituídas de integrados (ricos e pobres) e outra, de sub-humanidade, incorporada do trabalho precário, no trambique, das privações. Toda exclusão é a negação do humano. Não basta falar dos Direitos Humanos, devemos ter disposição para respeitar e fazê-los respeitar. Através da educação para solidariedade e para os direitos humanos os excluídos adquirem consciência dos direitos e começam a lutar por eles. Devemos ensinar para que as pessoas compreendam melhor o sentido do mundo, da vida humana, das relações com os outros e consigo mesmo. É respeitando o direito ao sentido que a educação contribuirá para construção de um mundo solidário. A contribuição dos Movimentos Sociais para construção de políticas públicas educacionais Os movimentos sociais vêm desempenhando um papel muito importante na articulação entre o Estado e a sociedade civil, através da luta por direitos, na construção das políticas públicas e os seus desdobramentos no âmbito da Educação Básica. Neste sentido, buscamos comprovar que o princípio da equidade e da formação de sujeitos de direitos, vocalizado pelos novos movimentos sociais a partir das lutas e de suas transformações que receberam maior impulso desde a promulgação da Constituição Federal de 1988, se institui como pressuposto fundamental da educação em direitos humanos (PEREIRA, 2015). Conforme Pereira (2015) é importante demonstrar os princípios da educação em direitos humanos preconizados no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH), como a principal política indutora dos direitos humanos nos contextos educacionais, na qual foi proposto um conjunto de ações programáticas que norteiam a transversalidade das ações, dos 49 programas e dos projetos de promoção dos direitos humanos nas políticas públicas do poder executivo. A certeza da pluralidade de interesses e o oferecimento das condições necessárias à participação social dos sujeitos “[...] faz com que os movimentos sociais emergidos e mobilizados ajudem a mudar o centro de gravidade sociopolítico, de uma democracia política estruturada a partir do Estado para uma democracia mais participativa, mobilizada a partir do poder da sociedade civil.” (RAMÍREZ, 2003, p. 55) Em relação à construção de políticas públicas, vale destacar que em 1996 o Brasil lançou o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH I), contendo as diretrizes para atuação do Poder Público no âmbito dos direitos humanos, cujo principal objetivo era a garantia dos direitos civis e políticos; relançado em 2002, o Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH II) outorga as demandas dos movimentos sociais, contemplando os direitos econômicos, sociais e culturais. Os eixos orientadores estabelecidos no Programa Nacional de Direitos Humanos obedecem à seguinte divisão: Interação democrática entre Estado e sociedade civil; Desenvolvimento e Direitos Humanos; Universalizar Direitos em um Contexto de Desigualdades; Segurança Pública, Acesso à Justiça e Combate à Violência; Educação e Cultura em Direitos Humanos; Direito à Memória e à Verdade. (BRASIL, 2010, p. 9-10) Logo, a implementação desses eixos promove a ações com vistas à promoção do direito à igualdade, combate à discriminação e a promoção da equidade, igualmente encontra respaldo nas propostas de ações governamentais relativas à educação, conscientização e mobilização contidas no Plano Nacional de Políticas para as Mulheres de (2004), no Programa Brasil sem Homofobia de (2004), no Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos de (2006), e no Plano Nacional dos Direitos da Pessoa com Deficiência de (2011), gestados de maneira articulada com ativistas, 50 inaugurando o reconhecimento por parte do Estado brasileiro das reivindicações dos movimentos sociais por cidadania, transformando diversas iniciativas pontuais em políticas de Estado (PEREIRA, 2015). Contudo, foi necessário alterar as práticas educativas, a produção de conhecimento, a cultura e a legislação, como instrumentos necessários ao exercício de todos os direitos e liberdades fundamentais dosgrupos sociais historicamente discriminados e excluídos das políticas públicas. Conforme Pereira (2015), em 2010 houve uma alteração do Plano, a terceira versão do Programa Nacional de Direitos Humanos (PNDH – III) que resume as principais exigências dos movimentos sociais, reunindo as resoluções aprovadas nas conferências territoriais, estaduais e nacional, realizadas desde 2003, pelo Governo Federal, em articulação com os governos municipais, estaduais, os movimentos sociais e a sociedade civil, nos 27 estados da Federação. Nestas conferências foram idealizadas as diretrizes que nortearam a concepção de políticas públicas nas seguintes áreas temáticas consideradas prioritárias, tais como: direitos humanos, segurança pública, educação, saúde, igualdade racial, direitos da mulher, juventude, crianças e adolescentes, pessoas com deficiência, idoso e meio ambiente. O processo educativo é responsável diretamente, pelos direitos sobre os indivíduos que pretende formar, na medida em que difunde valores, ideais e concepções do homem e da sociedade. Sendo assim, o Eixo “Educação e Cultura em Direitos Humanos” é definido como prioritário, constituindo-se como tarefa importante da educação em direitos humanos para fazer valer os princípios e as diretrizes do Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNEDH) e promover processos educativos para a formação de uma cultura pautada no respeito aos direitos, no reconhecimento as diferenças e implementação da cultura da paz. Veja a citação a seguir: O Governo Federal convocou, em 2010, a 1ª Conferência Nacional de Educação (Conae), reunindo representantes da sociedade civil organizada dos 27 estados brasileiros, tendo como temática “Construindo o Sistema Nacional Articulado: O 51 Plano Nacional de Educação, Diretrizes e Estratégias de Ação”. Esta Conferência aprovou diretrizes, metas e ações para a política nacional de educação, na perspectiva da inclusão, igualdade e diversidade, com o objetivo de se constituir como subsídio para a construção do novo Plano Nacional de Educação (PNE 2011-2020), atualmente em fase de elaboração. (BRASIL, 2010b) Existe o estreito vínculo entre educação e participação política e em todos os textos oficiais, a educação é assumida como elemento central para a construção de uma cultura alicerçada nos ideais e valores da democracia, da inclusão social e da formação de sujeitos de direitos. (ARROYO, 1996). Sendo assim, A LDB (9.394/96) recomendou, para todos os níveis de ensino, a formação ética e a formação para a cidadania “[...] inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando” (BRASIL, 1996, art. 2º). Estes documentos preconizam, sob o ponto de vista normativo, o objetivo de promover e cultivar uma educação pautada em princípios éticos identificados com a noção universalista de Direitos Humanos. (CARVALHO, 2008) A partir da LDB, em 1997 surgem os Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), cujo escopo consistia em estruturar as disciplinas dos ensinos: fundamental e médio, no qual, este documento sugere que sejam incorporadas nas propostas educacionais problemáticas sociais, sob a forma de Temas Transversais, não se constituindo como novas disciplinas, mas assuntos necessários à formação de cidadãos e cidadãs. Designou a promoção de uma educação orientada pelos princípios éticos proclamados pelos direitos humanos, cujas diretrizes gerais foram posteriormente incorporadas ao Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos (PNDEH). Oficialmente lançado em (2006), depois de ter sido submetido ao olhar e aceitação da sociedade civil organizada, o (PNEDH) passa a constituir-se como marco legal da educação em direitos humanos no Brasil, confirmando a adesão do Estado brasileiro ao Programa Mundial de Educação em Direitos Humanos (PMEDH), compreendendo processos de educação formal e não formal com vistas à formação de uma cultura de respeito à dignidade dos seres humanos. 52 Conforme Pereira (2015), a partir dessa concepção, a educação em direitos humanos deve favorecer o conhecimento destes direitos e de suas garantias no curso da evolução social e histórica da sociedade, bem como dos instrumentos nacionais e internacionais que concedem sua concretização. Portanto, os conteúdos devem estar comprometidos com a revisão de valores, atitudes e comportamentos, capazes de formar os sujeitos para o exercício competente da cidadania. No eixo Educação Básica, o Plano destaca a “[...] necessidade de concentrar esforços, desde a infância, na formação de cidadãos, com atenção especial às pessoas e segmentos sociais historicamente excluídos e discriminados.” (BRASIL, 2009, p. 32) Segundo Pereira (2015), a escola como local onde a educação em direitos humanos deve se instalar para a formação da cidadania promovendo a equidade e da formação de sujeitos de direito, como espaço social privilegiado onde se definem a ação institucional pedagógica e a prática e vivência dos direitos humanos. O tema da educação em direitos humanos proclama, portanto, uma perspectiva mais ampliada do que significa educar. Portanto, a consciência deste direito não se faz espontaneamente, é por meio da educação que o sujeito se reconhecerá como protagonista de direitos, e será através do processo educacional que se preparará para o exercício da cidadania, imprescindível para uma participação mais efetiva na condução dos destinos do seu país. Atualmente, diante do contexto político e econômico que estamos vivenciando em nosso país, é mais do que necessário disseminar a educação em direitos humanos junto aos professores, escolas, intensificando o oferecimento de cursos que priorizem a abordagem deste tema em sala de aula, promovendo a transversalidade desta temática no currículo das unidades escolares, e a produção de materiais educativos específicos para a abordagem dos direitos humanos, para que algum tipo de repercussão se efetive em sua prática pedagógica e para que possamos vivenciar efetivamente, uma democracia ativa e cidadã. 53 Pereira (2015, p.37), afirma que “Os ideais emancipatórios inscritos na reivindicação por direitos protagonizados pelos novos movimentos sociais produziram um impacto significativo no cenário das mudanças sociais em curso na contemporaneidade”, que no Brasil geraram políticas públicas importantes e que as legislações educacionais têm enfatizado a formação para o exercício da cidadania como essencial para a construção de uma sociedade democrática, justa e igualitária. , mas que ainda existe um enorme distanciamento entre os marcos jurídicos de proteção e promoção dos direitos humanos e a contínua e permanente realidade de violações aos direitos humanos. Ainda precisamos transformar a realidade escolar para que ela se torne mais inclusiva, configurando-se como um espaço decisivo para construção de relações sociais pautadas na compreensão de que o reconhecimento e o respeito às diversidades concebem grandes oportunidades de aprendizado e possibilidades de transformações sociais. 54 Explicando melhor com a pesquisa Sugerimos a leitura do artigo: movimentos sociais e participação popular: luta pela conquista dos direitos sociais. Este artigo tem como objetivo resgatar o reconhecimento histórico dos movimentos sociais e da participação popular como elementos fundamentais na conquista. Propomos também a leitura do artigo: Desafios dos movimentos sociais hoje no Brasil / Challenges of social movements in Brazil today. : Este artigo recupera fragmentos do processo de construção da cidadania no Brasil, nas últimas três décadas, destacando a participação da sociedade civil organizada. Guia de estudo: Após a leitura dos artigos propostos, faça uma relação entre eles,
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