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Artigo sobre Husserl e a transição à filosofia

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Artigo sobre Husserl e a transição à filosofia
A repercussão do movimento fenomenológico na história da psicologia pode ser notada pelas persistentes tentativas de transposição do caráter eidético da fenomenologia para a análise sistemática de empiria. Nesse sentido, o conceito de redução fenomenológica, descrito pelo filósofo Edmund Husserl (1859-1938) e operacionalizado para a pesquisa psicológica, foi retomado como meio para investigar as tentativas de transição entre filosofia e psicologia. A revisão inclui três modelos de transposição metodológica, a saber: psicologia empírico-fenomenológica, fenomenologia experimental e neurofenomenologia. O trabalho enfatiza as diferenças epistemológicas entre modelos hermenêuticos e naturais no trabalho com dados de primeira pessoa. Conclui-se que um aprofundamento das discussões sobre as influências da fenomenologia à ciência psicológica seria oportuno e viável através do estudo da história desta intersecção.
Quando se fala no método fenomenológico remete-se, quase invariavelmente, ao antigo conceito dos céticos gregos denominado de epoché que quer dizer abstenção ou suspensão das crenças. Por crença entende-se a persuasão de que algo contém caracteres de verdade. Assim, suspender as verdades pessoais pode gerar duas reações opostas. Uma reação negativa que é a idéia de vazio, de se perder a base, de se afastar da referência na qual se acredita. Neste caso, a epoché seria um projeto impossível ou indesejado. A outra reação seria positiva porque contempla a leveza de se colocar a referência de lado e abrir-se ao que aparece como um novo que se apresenta. Para estes, a epoché é um desafio, mas um alento de ricas possibilidades. Como praticá-la? Quase sempre a epoché é tomada como sinônimo de redução fenomenológica, mas nem sempre o é. Temos então o problema do presente estudo que pode ser formulado nesta simples pergunta: o que é redução fenomenológica e como foi transportada para a pesquisa psicológica?
O texto está organizado em três partes. Na primeira apresenta a fenomenologia husserliana como uma análise do movimento intencional ou fluxo dos vividos da consciência. Na segunda mostra que a análise do movimento intencional se faz por meio da redução fenomenológica, por meio de movimentos reflexivos e de variação imaginativa. 
A Fenomenologia
Husserl apresenta a sua fenomenologia como um método de investigação que tem o propósito de apreender o fenômeno , isto é, a aparição das coisas à consciência, de uma maneira rigorosa. “Como um método de pesquisa, a fenomenologia é uma forma radical de pensar” (MARTINS, 2006, p. 18). Como as coisas do mundo se apresentam à consciência, o filósofo alemão pretende perscrutar essa aparição no sentido de captar a sua essência (aquilo que o objeto é em si mesmo), isto é, “ir ao encontro das coisas em si mesmas” (HUSSERL, 2008, p. 17). Nesse sentido, a filosofia husserliana traz consigo um novo método de investigação que irá exercer grande influência no meio acadêmico, o que fará da fenomenologia um marco imprescindível na filosofia contemporânea. É oportuno enfatizar que a filosofia de Husserl é um tanto quanto vasta e densa, o que requer, por sua vez, certo esforço para interpretá-la. Diante disso, enfocaremos aqui apenas os aspectos capitais do pensamento husserliano. 
O rigor que Husserl reivindica para o seu método fenomenológico advém do  propósito desse pensador em dispensar à filosofia o mesmo rigor metodológico conferido à ciência. Por ter efetuado estudos nos campos da matemática e da lógica, Husserl sempre nutriu certo apreço pelo rigor metodológico. Contudo, Husserl não via “com bons olhos” os métodos empregados, por exemplo, pela psicologia experimental. Isso porque essa ciência, como outras ciências experimentais, parte dos dados empíricos para daí desenvolver seus postulados. Para o filósofo alemão, a instabilidade dos dados da empiria não fornecem o rigor necessário concernente à investigação filosófica. Assim, “enquanto a ciência positivista restringe seu campo de análise ao experimental, a fenomenologia abre-se a regiões veladas para esse método, buscando uma análise compreensiva e não explicativa dos fenômenos” (LAPORTE e VOLPE, 2009, p. 52 ) . Em contrapartida, o pensador alemão propõe a “análise compreensiva” da consciência, uma vez que todas as vivências (Erlebnis) do mundo se dão na e pela consciência . Daí a tão célebre definição husserliana de consciência: “toda consciência é consciência de algo” (FRAGATA, 1959, p. 130). Essa definição de consciência está vinculada, por seu turno, à noção de intencionalidade . 
Para Husserl, “a palavra intencionalidade significa apenas a característica geral da consciência de ser consciência de alguma coisa” (Idem, grifo do autor). Eis o ponto de partida adotado pelo filósofo alemão: a análise dos fenômenos no âmbito da consciência no intuito de se tentar apreender as coisas em si mesmas, isto é, como elas são. Podemos dizer que em Husserl o cogito cartesiano ganha uma nova roupagem onde a intencionalidade (toda consciência é consciência de) assume o lugar da certeza “clara e distinta” de René Descartes.
Bibliografia
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0102-37722011000200014

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