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SOCIOLOGIA JURÍDICA_042020

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a) Por que, para Ferdinand Lassalle, os problemas constitucionais não são problemas do direito, mas do poder? Além disso, estabeleça as diferenças entre as concepções de Constituição real e Constituição como folha de papel, segundo o autor em questão 
O que diferencia a Constituição das leis comuns é seu caráter fundamental em relação ao restante da organização jurídica, submetendo as outras leis a serem de fato o que são, não podendo ser de outro modo. A Constituição é uma força ativa, dinâmica, viva, pois é, em seu âmago, efeito dos elementos reais de poder presentes na sociedade.
Segundo LaSalle, uma vez escrita uma Constituição é considerada boa e duradoura por quando se molda à Constituição real, espelhando os fatores reais de poder que regem a nação. Em se existindo conflito entre a Constituição real e a Constituição escrita, a última sucumbirá à real. A Constituição, mesmo que escrita em papel diga diferente, continuará sendo o que ela realmente é. LaSalle diz, portanto, que os problemas constitucionais são problemas de poder, e não problemas de direito.  
b) Porque a perspectiva do direito como fenômeno social, apresentada pela Sociologia Jurídica, defende que o profissional do direito não deve basear sua compreensão a respeito dos fenômenos jurídicos, apenas por meio da aplicação de normas constituídas por meio de uma lógica jurídica pura, neutra e abstrata.
De acordo com esse modelo lógico-formal, o Direito, ou mais especificamente, o raciocínio jurídico, seria construído a partir de normas que se vinculam por inferência lógica, de sorte que seria possível fazer-se um encadeamento racional das normas, desde uma norma geral e abstrata, de hierarquia superior e na qual se fundam as demais, até a mais concreta e específica, diretamente aplicável ao caso concreto,  formando-se assim uma pirâmide normativa cujo ápice seria ocupado pela Constituição.  Além desssa relação entre normas, haveria também uma relação lógica de inferência entre as normas e o fato posto em julgamento, de tal modo que a conclusão, isto é, a sentença, seria o produto de um ato racional de aplicação lógica.
 Lógica jurídica, pois, estuda todas as formas racionais de justificação de uma proposição normativa, incluindo-se aí não só aquelas que assumem a forma de raciocínios dedutivos ou indutivos, objeto da lógica formal, mas também aquelas justificações fundadas na analogia, na argumentação e na retórica.  Questão tormentosa daí decorrente é a relativa a saber como as leis e princípios da lógica são (ou devem ser) aplicáveis ao direito[6], ou, em outros termos, quais são as os princípios ou leis da lógica jurídica e qual o seu papel nos processos de justificação racional de uma decisão jurídica. 
c) Considerando a perspectiva de Émile Durkheim, é correto afirmar que os fenômenos estudados pelo Direito não podem ser considerados como fatos sociais? Responda sim ou não e justifique a sua reposta. (2,0) 
Sim. Os fenômenos estudados pelo direito podem ser considerados como fatos sociais. Durkheim parte da ideia fundamental de que a sociedade deve ser vista como um organismo vivo. Utilizava-se do pressuposto de que as sociedades apenas se mantém conexas quando de alguma forma compartilham sentimentos e crenças comuns. No entanto, critica a perspectiva evolucionista, entende que os povos que sucedem os anteriores não necessariamente são superiores, apenas são diferentes em sua estrutura, seus valores, seus conhecimentos, sua forma organizacional. Entende as sociedades subsequentes se adaptam-se melhor a semelhança de uma árvore cujos ramos se orientam em sentidos opostos que uma linha geométrica evolucionista. o pensamento de Durkheim, cuja fundamento alinha-se com as seguintes conjecturas ou noções fundamentais
· Os fatos sociais devem ser tratados como coisas; desta forma os fenômenos estudados pelo direito estariam inclusos nos fatos sociais;
· A análise dos fatos sociais exige reflexão prévia e fuga de ideias pré-concebidas;
· O conjunto de crenças e sentimentos coletivos são a base da coesão da sociedade;
· Destaca o estudo da moral dos indivíduos; e
· A própria sociedade cria mecanismos de coerção internos que fazem com que os indivíduos aceitem de uma forma ou de outra as regras estabelecidas (a explicação dos fatos sociais deve ser buscada na sociedade e não nos indivíduos – os estados psíquicos, na verdade, são consequências e não causas dos fenômenos sociais)
d) Considerando a perspectiva de Max Weber, diferencie as ações sociais afetiva (Emocional) e Tradicional, destacando a relação delas com o conceito de Dominação. Além disso, discorra sobre a Dominação Racional-Legal e seus efeitos nas sociedades modernas. (3,0)
Weber utiliza a noção de conceito puro, que ele considera essencial para as ciências sociais, para estabelecer os modelos de poder, teorizando três como ideais. A partir dos modelos weberianos se torna possível uma série de analogias com os fatos sociais de todas as épocas, tornando possível a casuística sociológica.
A DOMINAÇÃO AFETIVA (também conhecida com CARISMÁTICA)
É aquela devida ao apreço puramente dito, à admiração pessoal ao dominador e a seu carisma, ou seja, suas qualidades, seus poderes. Os tipos mais puros são com o dominador na posição de profeta, herói guerreiro ou demagogo.
É importante distinguir que a origem do poder é intrínseca às qualidades do líder, seus seguidores não o obedecem por sua posição ou cargo, ou mesmo pela tradição, mas pura e simplesmente por suas qualidades, tendo esse carisma desaparecido assim desaparece também sua dominação.
Da mesma forma o carisma é o fator de escolha do corpo administrativo, a administração não é regida por regras estamentais ou estatuídas, as decisões vem do irracional, da decisão pessoal do chefe, e só podem ser substituídas por outra decisão do Líder.
Um dos exemplos da administração puramente regida pela vontade do Líder se deu no período da ascenção dos regimes totalitários, antes de se oficializarem a obediência dos seguidores se devia apenas ao carisma do líder, foi o que aconteceu na Itália fascista por exemplo. Onde os membros do partido fascista construiram grandes milícias de camisas negras, foram armados por oficias e prestavam cega obediência ao Duce (Benito Mussolini) 
DOMINAÇÃO TRADICIONAL
Esse é o segundo tipo de dominação, é o poder da tradição, da ordem social em sua mais pura forma, das instituições que perduram no tempo, sendo a sua forma mais pura o patriarcalismo, nessa dominação quem manda é o Senhor, e quem obedece é o súdito.
O senhor diferentemente do líder é deificado através do tempo, dos costumes, se o senhor vai de encontro com algum aspecto consuetudinário ele põe em risco sua posição, já que abala a fonte de sua legitimidade, a tradição.
A tradição é talvez a instituição mais forte dentro de uma sociedade, já que é aceita como correta pela maioria, é geralmente algo incontestável, se sempre foi feito de uma maneira para sempre o será pois ela é corretíssima; não se pode datar o surgimento exato de uma tradição, ela é imemorial, válida desde sempre, por isto sua contestação é difícil. O livro “O Livreiro de Cabul” de Arsne Seierstad[10], é uma ficção com elementos históricos que fala sobre a cultura e tradição afegãs e aqueles que são oprimidos por irem de encontro a ela, no estrato, "Leila vive um impasse. Entre a lama da sociedade e a poeira das tradições. Ela quer enfrentar um sistema fundamentado em séculos de tradição e que paralisa metade da população.”, percebe-se a força tradicional sobre um Estado na atualidade, algo não incomum em países orientais.
A derrocada do poder tradicional, dá-se com o contato com novos povos, com a modernização e o surgimento de novos hábitos, que, aos poucos, mitigam a tradição; Mas enquanto permanece no poder, este vai até o limite da tradição, apesar de que as decisões são tomadas por virtude própria do indivíduo, não existe código de leis para determinar sua ação. Por isso, esse tipo de dominação tem sobrevida maior em comunidades isoladas, por exemplo o que acontecena Coréia do Norte; isso não significa dizer que não possa existir em meio a uma sociedade de grande intercâmbio cultural, bastando dos detentores do poder criarem meios de difundir e proteger a tradição.
A estrutura administrativa se baseia na fidelidade, ela é constituída de pessoas próximas ao senhor, pessoas de confiança, familiares, estreitando-se o elo público-privado. Isso é claro nas antigas monarquias europeias da baixa idade média e nos próprios feudos, existia uma família real, uma dinastia, quanto mais próximo, sanguineamente, do senhor, maior seu cargo, indo de príncipe, em caso de primogênitos, infantes, outros filhos, Duque, Marquês, Barão, etc. Sempre em consideração à proximidade pessoal, sendo a vida do senhor impossível de se separar do seu domínio.
DOMINAÇÃO RACIONAL-LEGAL
Dominação Racional-Legal (onde qualquer direito pode ser criado e modificado através de um estatuto sancionado corretamente), tendo a “burocracia” como sendo o tipo mais puro desta dominação. Origina-se de regras, estatutos e leis sancionadas pela Sociedade ou Organização. Tais regras definem a quem obedecer e até quando obedecer, tornando possível a aceitação, por parte dos subordinados, de um superior devido uma consciência de que este tem direito de dar ordens, ou seja, reconhecem que a Autoridade está no cargo ocupado e não na pessoa que o ocupa, que só pode exercer a Dominação dentro dos limites estabelecidos pelo cargo ocupado.
Os princípios fundamentais da burocracia, segundo o autor são a Hierarquia Funcional, a Administração baseada em Documentos, a Demanda pela Aprendizagem Profissional, as Atribuições são oficializadas e há uma Exigência de todo o Rendimento do Profissional. A obediência se presta não à pessoa, em virtude de direito próprio, mas à regra, que se conhece competente para designar a quem e em que extensão se há de obedecer. Weber classifica este tipo de dominação como sendo estável, uma vez que é baseada em normas que, como foi dito anteriormente, são criadas e modificadas através de um estatuto sancionado corretamente. Ou seja, o poder de autoridade é legalmente assegurado.
Logo, conclui-se que esta forma de Autoridade nos remete diretamente às instituições burocráticas, onde quem ordena é dito superior e os que obedecem são os profissionais, e que tal Dominação só foi possível com a consolidação do Sistema Capitalista de Produção, que realizou a transição de uma Sociedade baseada em valores (tradicional) para uma orientada para objetivos, com regras e controle racional dos meios para atingir os fins. Exemplos: empresas capitalistas privadas, a estrutura moderna do Estado, forças armadas, etc.

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