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Tratados e os Terceiro Estado (Mazzuoli)

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266 CURSO DE DIREITO INTERNACIONAL PúBLICO 
16. Os tratados e os terceiros Estados. É princípio universal de Direito que 
um compromisso entre partes-contratantes não pode afetar terceiros. 26O Sendo um 
princípio universal, aplica-se também à teoria geral dos tratados. É dizer, os tratados 
somente produzem efeitos para as partes que manifestaram o seu consentimento em 
estar vinculadas ao compromisso internacional, sem atingir terceiros. Da mesma for-
ma, um Estado não membro é de todp estranho ao compromisso concluído entre os 
membros e, por isso, não pode exigir destes últimos a fiel execução da norma co!wen-
donaI. dado que esta é, para esse terceiro Estado, res inter alíos acta.261 Esta é a regra 
relativa à entrada em vigor espacial dos tratados, desde muito tempo consagrada pela 
juriaprudência e pela prática dos Estados. 
No acórdão nO 7, de 25 de maio de 1926, relativo aCertos interesses alemãeS na 
Alta-Silésia polonesa, a antiga Corte Permanente de Justiça Internacional já havia 
confirmado este entendimento ao declarar que «um tratado só faz lei entre os Estados 
que nele são partes" .262 Aplicou-se ali a máxima pacta tertiis fiee noeent nee prosunt: os 
tratados não podem impor obrigações nem conferir direitos a terceiros. 
A Convenção de Viena sobre o Direito dos Tratados, codificando a máxima referi-
da, seguiu idêntico caminho e estabeleceu, sem dificuldade, que "um tratado não cria 
obrigações nem direitos para um terceiro Estado sem o seu consentimento" (art. 34). 
Ocorre que apesar da existência de dessa índole, na prática, tratados há 
que, por estabelecerem ou modificarem situações jurídicas entre as partes acabam, de 
alguma maneira, afetando terceiros allieios às suas disposições normativas. Os efeitos 
que tais tratados produzem em terceiros Estados. portanto, precisam ser estudados. 
Seguindo a lição e os exemplos de Rezek, é possível visualizar três tipos de efeitos 
convencionais capazes de repercutir sobre Estados terceiros,263 os quais podem assim 
ser colocados: 
a) Efeito difuso de reconhecimento deumasituação jurtdicaobjetiva. Trata-se do caso 
em que um tratado entre duas ou algumas partes, por criar situaçao jurídica objetiva, 
produz sobre toda a sociedade internacional o mero efeito da exortação ao reconhe-
cimento. Em outras palavras, produz sobre terceiros Estados a observãncia daquela 
situação jurídica nova entre as partes. Assim, um tratado que modifica o curso da linha 
260. No que tange aos tratados internacionais, terceiros são todas-as pessoas jurídicas de Direito 
Internacional Público que deles não sejam partes. 
261. Cf.José Francisco Rezek. Direito dos tratados, dt" p, 399. Sobre o tema, v. ainda Adolfo Ma-
resca, n diritto dei trattati. .. , cit., pp. 409-427. 
262. Cf. Hildebrando Accioly. Tratado de direito internacional público, voI. l, cit., p, 603; e Dinh, 
Daillier & Pellet, Direito internacional públíco, cit., p. 246. 
263. V., por tudo, José Francisco Rezek, Direito dos tratados, cit., pp. 402-410, em quem aqui nos 
fundamentamos. V" também, Hildebrando Accioly, Tratado de direito internacional públíco, 
voI. l, cit" pp. 603-611; Philippe Cahier, Le probleme des effets des traités à l'égard des états 
tiers, in Recueil des Cours, voI. 143 0974-lII), pp. 589-736; e Paul Reuter, Introducci6n aI 
daecho delos tratados, clt:, pp. 123-154. 
CAPÍTULO V - DIREITO DOS TRATADOS 267 
limítrofe entre dois Estados cria situação jurídica objetiva nova, cuja observãncia por 
parte de terceiros se impõe, ainda que para o simples efeito de se inteirarem do que 
virá a ser, doravante, a nova cartografia da região. Da mesma forma, repercute sobre 
terceiros'um tratado entre A e B, Estados condôminos de águas interiores ,fluviais ou 
lacustres, que franqueia tais águas à livre navegação civil de todas as bandeiras. Mas 
é bom fique nítido que, diferentemente do que ocorre no Direito Privado, em que as 
situa'ções jurídicas objetivas são oponíveis a porque garantidas pelaautori-
dade estatal, no Direito Internacional não há uma obrigatoriedade de reconhecimento 
dessas mesmas situações, uma vez que a sociedade internacional é descentralizada 
e não conhece autoridade supranacional que lhe imponha a observância de regras 
rígidas, tal como. faz a Constituição ao Direito interno estatal. 
b) Efeito de fato de repercussão sobre terceiro Estado das consequências de um 
tado, Cuida-se da hipótese em que um Estado sofre as consequências diretas 
de - normalmente bilateral-, em decorrência de um tratado anterior"que 
o vincule a uma das partes. Um dos exemplos sempre lembrados nesse domínio (mas 
que não é o único) é o da chamada cláusula da nação mais favorecida. 2M Por meio de tal 
cláusula (geralmente presente em acordos bilaterais de ordem comercial) as partes se 
comprometem (umas em relação às outras) a dar o mesmo tratamento mais benéfico 
que, porvenmra, possa ser atribuído a qualquer outro Estado no futuro. A sua ínten-
ção -como já destacou a Corte Internacional deJustiça, em sentença de 27 de agosto 
de 1952, relativa ao caso dos nacionais, americanos no Marrocos - é "estabelecer e 
manter em todo o tempo, entre os países interessados, uma igualdade fundamental, 
sem discriminação" .265 Assim, se A e B celebraram um tratado estabelecendo cada um 
deles uma alíquota menor em relação aos produtos de importação originários do outro, 
se no futuro um deles,vier a atribuir alíquota' menor aos produtos de qualquer outro 
país, o copactuante (pela previsão expressada referida cláusula) terá o direito lmediato 
a igual benefício.266 Portanto, na cláusula da nação mais favorecida os signatários se 
264. V, Samuel B. Crandall. Treaties: their making and enforcement, cit" pp. 404-422; e Adolfo 
Maresca, n diritto dei trattati. .. , cit., pp. 429-448. 
265. V. CIJRecueil (1952), p.192. Frise-se, contudo, queolnstítutdeDroitlnternactonal, nasuasessão 
deBruxelasde 1936, deixou claro que a clausulada naçãomaís favorecida "não dá-direito: nem 
ao tratamento concedido ou que possa ser concedido por qualquer dos países contratantes a 
um terceiro Estado limítrofe para facilitar o tráfico de fronteira; nem ao tratamento de uma 
união aduaneira concluída ou a ser conclUída; C ••• ) nem ao tratamento resultante de acordos 
mútuos e exclusivos entre Estados e que impliquem a organização de regimes econômicos 
de caráter regional ou continental", 
266. No Brasil, a cláusula da nação mais favorecidajá, se encontrava no tratado de paz e aliança, de 
29 de agosto de 1825, por meio do qual Portugal reconheceu a independência do Brasil. Lia-
-se no art, 5° do referido acordo que "os súditos de ambas as nações brasileira e portuguesa, 
serão considerados e tratados, nos respectivos Estados, como os da nação mais favorecida 
e amiga". Modernamente, a cláusula tornou-se também um dos princípios que norteiam 
acordos como o GATT, tendo o seu art. l° estabelecido que: "No comércio mundial não deve 
haver discriminação. Todas as partes contratantes têm que conceder a todas as demais partes 
268 CURSO DE DIREITO INTERNACIONAL PÚBLICO 
comprometem a estender a todas as demais partes no acordo o tratamento que f?Y 
mais favorável a um terceiro Estado (uma exceção aceita é a participação em zonas 
de livre comércio), devendo o mesmo ser aplicado às empresas e serviços nacionais, 
que não podem então ser subvencionadas pelos Estados, para que não haja prejuízos 
à livre concorrência. 
Fica nítido, então, que o tratado posterior não atinge terceiros como 
jurídica, mas como simples fato. A concessão de favor maior a outro Estadp já é 6 fato-
-condição anteriormente previsto no acordo (no qual consta a cláusula) coricluído entre 
as partes originárias, sendo a cláusula a norma jurídica que efetivamente garante ao 
terceiro Estado (frise-se: terceiro Estado em relação ao tratado-fato, mas Estado-parte 
em relação ao tratado-norma) o benefício do favorecimento. 
c) Efeito jurídico na atríbuição de obrigações e na concessão de direitos a terceiros 
Estados. Desse terceiroefeito, por ser juridicá, cuida expressamente a Convenção de 
Viena nos seus arts. 35 a 38. Trata-se do caso em que terceiros Estados - em exceção à 
regra já citada do art. 34 da Convenção de 1969, segundo a qual "um tratado não cria 
obrigações nem direitos para um terceiro Estado sem o seu consentimento" - pas-
sam a ser titulares de obrigações ou de direitos no plano internacional, em virtude da 
conclusãO de um tratado entre outras Vejamos cada uma dessas hipóteses: 
Tratados que criam obrigações para terceiros Estados. Uma obrigação nasce para 
um terceiro Estado quando as partes no tratado internacional, por meio de disposição 
convencional, deixam assente seu propósito de criar uma obrigaçãO ao terceiro Estado 
por meio dessa disposição, aceitando este Estado, expressamente e por escrito, tal 
obrigaçãO (art. 35). Como se denota, a Convenção não se contenta coma manifestação 
expressa do Estado em aceitar a obrigação a ele conferida em de um tratado 
celebrado por outroS Estados. Além de expressa, sua aceitação deve ser escrita, de 
modo a deixar clara sua vontade em obrigar-se por aquilo que foi convencionado por 
outrem. Não há nada de estranhar-se aqui. É a teoria geral do Direito, não o Direito 
dos Tratados, que impõe como medida de validade de um negócio entre partes que 
resulta obrigações a terceiros, o consentimento induvidoso destes. Este acordo em que . 
o Estado terceiro aceita as obrigações a ele impostas pelo tratado celebrado entre os 
demais Estados designa-se acordo colateraL 268 
Parece difícil visualizar-se a exata condição de terceiro a que se refere o art. 35 da 
Convenção de 1969. O chamado sistema de garantias ilustra bem a situação em que se 
espelha o citado dispositivo, não sendo porém o único exemplo da serventia do art. 35. 
o tratamento que concedem a um país em especial. Portanto, nenhum país pode conceder a 
outro vantagens comerciais especiais, nem discriminar um país em especial" . 
267. Sobre o assunto, v. José Francisco Rezek, Efeitos do tratado internacional sobre terceiros: o 
artigo 35 da Convenção de Viena, in O direito internacional contempordneo: estudos em home-
nagem ao Professor ]acob Dolínger, Carmen Tibúrcio & Luís Roberto Barroso (orgs.), Rio de 
Janeiro: Renovar, 2006, pp. 491-504. 
268. Cf. Dính, Daíllier &: Pellet. Direito internacional público, cit., p. 249. 
CAPÍTULO V -.DlREITO DOS TRATADOS 269 
o sistema de garantias não aparece na Convenção de Viena de 1969, vindo expresso 
na Convenção de Havana sobre Tratados, de 1928, cujo art. 13 dispõe: 
"A execução do tratado pode, por cláusula expressa ou em virtude de convê-
nio especial, ser posta, no todo ou em parte, sob a garantia de um ou mais Estados. 
O Estado garante não poderá intervir na execução dó tratado, senão 'em 
. virtude de requerimento de uma das partes interessadas e quando se realizarem as 
condições sob as quais foi estipulada a intervenção, e-ao fazê-lo, só lhe será lícito 
meios autorizados pelo direito internacional e sem outras exigências 
de maior alcance do que as do próprio Estado garantido". 
Como se percebe, essa qualidade de garante que um Estado assume (aceita) nos 
termos do dispositivo acima, se encaixa p.erfeitamente na hipótese do art. 35 da Con-
venção de Viena, ficando nítido que uma obrigaçãO aceita por terceiro Estado pode ser 
distinta do objeto mesmo do tratado concluído entre os seus Estados-partes. . 
As obrigações nascidas aos terceiros Estados, no? termos do citado art . .J5, só 
poderãO ser revogadas ou modificadas com o consentimento tanto das partes no tra-
tado, como do terceiro Estado, a menos que conste que haviam convencionado outra 
coisa a respeito (art. 37, § l°); tal acordo colateral consolidar-se-á num tratado em 
separado neste caso. 
Tratados que criam direitos para terct;iros Estados. Nada impede que as partes-
-contratantes, por expressa de vontade, atribuam a um terceiro não 
parte no tratado algum direito ou privilégio. É o que dispõe o art. 36, § l°, da Con-
venção de Viena, segundo o qual: "Um direito nasce para um terceiro Estado de uma 
disposição de um tratado se as partes no tratado tiverem a intenção de conferir, por 
meio dessa disposição, esse direito quer a um terceiro Estado, quer a um grupo de 
Estados a que pertença, quer a todos os Estados, e o terceiro Estado nisso consentir" . 
É certo que a amplitude desse enunciado toma difícil elencar um rol corriqueiro de 
exemplos, sendo possível compreender que é direito atribuído a um terceiro Estado 
desde a estipulaçãO em favor de outrem até a permissibilidade de adesão nos tratados 
multilaterais. Este consentimento de que trata o art. 36, até indicação em contrário, 
é considerado presumido (§ 1"). Isto significa que o terceiro Estado, grupo de Es-
tados ou todos os Estados beneficiários do direito advindo de uma das disposições 
do tratado, não necessitam manifestar expressamente e por escrito a sua vontade 
em aceitar tal direito, sendo suficiente para tanto o seu silêncio, ao contrário do que 
ocorre com a aceitação de obrigações por parte de terceiro Estado, como já se falou 
acima. O terceiro Estado, ao exercer o direito a ele conferido pelo tratado do qual 
não foi parte, deverá respeitar as condições previstas no tratado ou estabelecidas de 
acordo com o mesmo (§ 2°). 
Os Estados podem, portanto, por meio de um tratado, obrigar-se a conceder direi-
tos a um ou mais terceiros Estados, sem que estes necessitem manifestar expressamente 
e por escrito a sua vontade em aceitar tal direito, sendo suficiente o seu silêncio. Mas 
o Estado beneficiário da estipulação, como destaca Accioly, não adquire ipso facto o 
270 CURSO DE DIREITO INTERNACIONAL púBuco 
direito de exigir a sua execução, conservando as partes-contratantes a liberdade de 
modificar esse tratado ou de lhe pôr termo, pela forma que tiverem acordado.'" . 
Qualquer direito que tiver nascido para um terceiro Estado, nos tennos do art. 
36, não poderá ser revogado ou modificado pelas partes, se ficar estabelecido ter ha-
vido a intenção de que o mesmo não fosse revogável ou sujeito a modificação sem o 
consentimento do terceiro Estado (art. 37, § 2°). 
Por fim, esclareça-se que não é só por força da vontade dos que 
uma regra contida em tratado pode gerar direitos ou obrigações a um terceiro Estado. 
Nada impede que uma regra contida num tratado internacional se tome obrigatória 
para um terceiro Estado, em virtude dessa norma ter se tomado uma, regra consuetu-
dindria de Direito Internacional, reconhecida exatamente como tal. E o que dispõe o 
ar!. 38 da Convenção de Viena de 1969. Esta regra perntite nitidamente que um ato 
internacional seja criador de um costume internacional, o que demonstra que não é 
somente a prdticados Estados ou organizações internacionais que tema potencialidade 
de criar norma costumeira internacional, podendo também a regra costumeira nascer 
das disposições de um tratado firmado por outros Estados. E isto é lógico. Sendo a 
execução do tratado uma prática, nada de estranho existe em dizer que essa prática 
d e d d ..' 1270 poderá criar prece entes lOTIna ores e5erta norma costumeua lntemaClona . 
17. Anulabilidade e nulidade dos tratados. A Convenção de Viena, ao contrário 
do que se vê na doutrina, trata detalhadamente do problema dos vícios do consenti-
mento que podem influir na va1idade dos tratados perante o Direito Internacional. 
Dos artigos 48 a 53, a Convenção em tela estabelece os casos de anulabilidade e de 
nulidade dos tratados, que integram o tema da liberdade de consentimento no direito 
convencional positivo. 271 Nos artigos 69 e 71 a Convenção deixa explicitada as con-
sequências (ou efeitos) da nulidade de um tratado (tema que será estudado no item 
n° 23, infra). 
a) Anulabilidade dos tratados. Aanulabilidade (ou nulidade relativa) de um tratado, 
segundo a Convenção, pode se dar pelo irregular consentimento da parte (que ocorre 
quando o Executivo manifesta sua aquiescência sem respaldo constitucional), por 
erro, dolo e pela corrupçãode representante de um Estado, restringindo-se a invocação 
ao Estado-vítima.272 A primeira causa de anulabilidade (irregular consentimento da 
parte) ocorre quando o Executivo ratifica o compromisso internacional desrespeitan-
do norma constitucional sobre competência para celebrar tratados, ao que também 
se chama de ratificação impeifeita; este tema será estudado detalhadamente adiante 
(item nO 19, infra). Além daqueles tratados concluídos pelo Executivo sem respaldo 
constitucional, são anuláveis os tratados cujo consentimento nasceu viciado por erro, 
269. HUdebrando Accioly. Tratado de direito internacional público, voI. I, cit., p. 610. 
270. Cf. Paul Reuter. IntroducdÓH aI derecho de los tratados, cit., p. 131. 
271. V., por tudo, Adolfo Maresca, Il diritto dei trattati ... , cit., pp. 601-649. 
272. V. Anthony Aust. Modem treaty law and practíce, cit., pp. 252-257. 
CAPÍTULO V - DIREITO DOS TRATADOS 271 
dolo ou corrupção de representante de um Estado. Estas Outras causas de anulabilidade 
. serão estudadas agora. 
O erro pode ser invocado por um Estado como terrao .invalidado o seu consen-
timento em obrigar-se pelo tratado, desde quede se refira a um fato ou situação que 
esse Estado tivesse suposto existir no momell:to em que o tratado foi concluído e que 
constituía a base essencial de seu consentimento em obrigar-se peIo mesmo (art. 
48, § 1°). É dizer, para se anular um tratado por erro, deve ele ser essencial, por dizer 
respeito à natureza do ato. A regra da Convenção não.se aplica se o Estado concorreu 
para o erro em virtude de sua conduta ouse as circunstâncias forem tais que o Estado' 
deveria ter se apercebido de tal possibilidade (§ 2°). 
O dolo, para Convenção, ocorre quando um Estado é levado a concluir um tra-
tado pela conduta de outro Estado negociador (ar!. 49). O dolo implica 
necessariainente em uma conduta ilícita de engodo ou engano. Diferentemente do 
erro, o dolo implica punÍção mais severa à luz do Direito Internacional, por constituir-
-se num delito. Daí entender Reuter que um tratado eivado de dolo é com efeito um 
ato ilícito, com todas as consequências jurídicas qp.e isso implica .. 273 
inexistentes exemplos de dolo na conclUSão de tratados. Um exemplo muito remoto 
foi documentado na época colonial, no contexto especial das relações entre potências 
europeia? e chefes tribais da África Central a quem se mostravam mapas voluntaria-
mente falsificados.274 . 
Por fim, é também passível de anulaçãO o compromisso cuja manifestação do 
consentimento foi obtida por meio de corrupção de representante do Estado, pela ação 
direta ou indireta de outro Estado negociador (ar!. 50). Só o Estado que foi vítima 
de alguma dessas causas de anulabilidade é que as pode invocar a seu favor, e mais 
nenhum outro, postá terem sido estabelecidas no âmbito de seu interesse particular. 
Daí não poder o Estado alegá-las se, após ter tomado conheCimento de sua ocorrência, 
aquiesceu, expressa ou tacitamente, com a validade do tratado. 
A anulabilidade dos tratados produz efeitos ex nunc, ou seja, a declaração de 
anulabilidade só começa a produzir efeitos a partir de sua prolaçãO, sem modificar os 
efeitos passados que o ato "internacional já produziu. 
b) Nulidade dos tratados. A nulidade (ou nulidade absoluta) de um tratado, por sua 
vez, ocorre em virtude da existência de coação sobre o representante de um Estado 
(art. 51) ou sobre o próprio Estado soberano (art. 52), bem como se no momento de 
sua celebração estava o tratado em conflito com uma norma imperativa de Direito 
Internacional geral (jus cogens). 275 
273. Paul Reuter. Introducd6n aI derecho de los tratados, cit., p. 206. 
274. V. Dinh, Daillier &: Pellet. Direito intemadonalpúblico, cit., p. 200. Para detalhes deste prece-
dente, v. Marcel Paisant, Les droits de la Franceau Niger (avec trois canes), inRevueGénérale 
<lu Droit lnternationalPublic, vol. 5 (1898), pp. 31-33. 
275. Cf.joão Grandino Rodas. Tratados internacionais, dt., pp. 19-20. 
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