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Mitologia Grega

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MITOLOGIA GREGA
Grega, Mitologia, conjunto de crenças e práticas ritualísticas dos antigos gregos, cuja civilização formou-se por volta do ano 2000 a.C. É composta basicamente de um conjunto de histórias e lendas sobre uma grande variedade de deuses. A mitologia grega desenvolveu-se plenamente por volta do ano 700 a.C. Nessa data já existiam três coleções clássicas de mitos: a Teogonia, do poeta Hesíodo, e a Ilíada e a Odisséia, do poeta Homero.
A mitologia grega possui várias características específicas. Os deuses gregos assemelham-se exteriormente aos seres humanos e apresentam, ainda, sentimentos humanos. A diferença em relação a outras religiões antigas, como o hinduísmo ou o judaísmo, consiste em não incluir revelações ou ensinamentos espirituais. Práticas e crenças também variam amplamente, sem uma estrutura formal, como uma instituição religiosa de governo, nem um código escrito, como um livro sagrado.
Os gregos acreditavam que os deuses tinham escolhido o monte Olimpo, em uma região da Grécia chamada Tessália, como sua residência. No Olimpo, os deuses formavam uma sociedade organizada no que diz respeito a autoridade e poder, movimentavam-se com total liberdade e formavam três grupos que controlavam o universo conhecido: o céu ou firmamento, o mar e a terra. Os doze deuses principais, conhecidos como Olímpicos, eram Zeus, Hera, Hefesto, Atena, Apolo, Ártemis, Ares, Afrodite, Héstia, Hermes, Deméter e Posêidon.
A mitologia grega enfatizava o contraste entre as fraquezas dos seres humanos e as grandes e aterradoras forças da natureza. O povo grego reconhecia que suas vidas dependiam completamente da vontade dos deuses. Em geral, as relações entre os humanos e os deuses eram amigáveis. Porém, os deuses aplicavam severos castigos aos mortais que revelassem conduta inaceitável, como orgulho complacente, ambição extrema ou prosperidade excessiva.
GLOSSÁRIO DE MITOLOGIA
AMALTÉIA: Nome da cabra que amamentou Zeus enquanto este, ainda bebê, estava aos cuidados das Ninfas. Mais tarde Zeus corta um dos chifres da cabra e entrega-o às Ninfas em agradecimento. Este chifre fica conhecido como Cornucópia (ou Chifre da Abundância ou Corno da Abundância) - uma fonte inesgotável de comida e/ou riquezas. A cornucópia tornou-se o símbolo universal de fartura e abundância. A cabra Amaltéia foi, depois, colocada no céu como
 uma constelação. 
AQUERONTE: Um dos cinco rios do Hades. Era filho do Sol e de Gaia, a Terra. Durante a guerra dos deuses contra os Titãs, Aqueronte deu água para matar a sede dos Titãs. Zeus, então, lançou-o no Hades, transformado em um rio. Suas águas são sujas, lodosas, lamacentas e borbulhantes. Segundo algumas versões, o Aqueronte é o rio que as almas dos mortos têm de cruzar no barco de Caronte quando chegam ao Hades. Outras fontes dizem que tal rio é o Estige. 
CICLOPES: Raça de gigantes, filhos de Gaia e Urano, cuja característica é terem apenas um olho no centro da testa. Os Ciclopes são libertados do Tártaro por Zeus e ajudam-no na guerra contra os Titãs. 
CLÍMENE: Também chamada Ásia. Era filha de Oceano e Tétis. Esposou Iápeto e teve Atlas, Prometeu, Epimeteu e Menécio.Conforme outra versão casou-se com o Sol e teve Faetonte e as Helíades. Algumas lendas indicam-na ainda como mulher de Prometeu e mãe de Heleno, ancestral de todos os helenos. 
COCITO: Um dos cinco rios do Hades. Cocito é afluente do Estige, segundo uns ou do Aqueronte, segundo outros. Cocito é um rio cujas águas são formadas pelas lágrimas dos que foram maus na Terra e que estão sofrendo no Hades. É nas margens deste rio que as almas das pessoas que não receberam os ritos fúnebres vagam durante cem anos antes de poderem entrar no Hades e receber o seu julgamento. 
CORNUCÓPIA: Também chamada de Chifre da Abundância ou Corno da Abundância, a Cornucópia é um chifre que foi cortado por Zeus da cabra Amaltéia e presenteado às Ninfas. Amaltéia foi a cabra que amamentou Zeus quando aos cuidados das Ninfas. A Cornucópia é uma fonte inesgotável de comida e/ou riquezas e tornou-se um símbolo universal de fortuna, de abundância. 
DESTINO: Filho da Noite. Divindade cega (ou de olhos vendados), geralmente representado sentado num trono, com um pé sobre o globo terrestre e com um cetro na mão. Segundo consta, as Moiras são auxiliares do Destino. 
ENÉIAS: Príncipe troiano, filho de Afrodite com o mortal Anquises. Enéias é educado pelo centauro Quirão, na Tessália. Voltando para Tróia, ele se casa com Creusa. Apesar de ter ficado contra Páris quando este "raptou" Helena, ao iniciar-se a Guerra de Tróia , ele luta ao lado dos troianos. Seu nome está imortalizado por feitos heróicos sob a proteção de Apolo. Suas aventuras são contadas, também, pelo poeta latino Virgílio, em seu poema épico "Eneida". 
EPIMETEU: Titã, filho de Iápeto e Clímene, irmão de Prometeu, de Menécio e de Atlas. O nome Epimeteu quer dizer "reflexão tardia", ao passo que Prometeu quer dizer "reflexão prévia", o que equivale dizer que Prometeu significa "prudente" e Epimeteu vem a ser "imprudente" - e Epimeteu prova isto, quando, depois de advertido por Prometeu para não aceitar presentes de Zeus, ele aceita e abre a caixa de Pandora, soltando todos os males pelo mundo. 
ÉREBO: O mesmo que Hades ou Infernos. É o Mundo dos Mortos, lugar para onde vão as almas dos mortos para serem julgadas e terem seu destino decidido. Este destino pode ser o Hades, propriamente dito, ou o Tártaro, para onde vão aqueles que foram maus na Terra, ou os Campos Elísios, para onde vão os absolutamente justos. Érebo é, também, uma divindade primordial, personificação de um lugar de trevas. 
ÉTER: Filho da Noite. Representa o céu superior. Consta que teria ajudado Caos na ordenação da matéria cósmica primordial que originou a vida. Chamado, também, de Deus do Ar. 
FÍDIAS: O mais célebre escultor grego. Nascido em Atenas, Fídias viveu no Séc. V a.C. Encarregado por Péricles da reconstrução da Acrópole, o Partenon é obra sua, com suas estátuas e baixos-relevos - inclusive uma enorme estátua da deusa Atena que lá havia, feita de ouro e marfim. São dele, também, uma série de estátuas e relevos que foram retiradas do Partenon encontram-se expostas no Museu Britânico. Outra estátua famosa de Fídias é o seu Zeus da cidade de Olímpia. 
FLEGETONTE: Um dos cinco rios do Hades. O Flegetonte é um rio de enxofre e fogo que cerca as muralhas tríplices do Tártaro. 
GÓRGONAS: Filhas de Fórcis e de Ceto (dois irmãos, filhos de Oceano e Gaia). As Górgonas são três: Esteno, Euríale e Medusa. As três têm serpentes no lugar de cabelos, asas de ouro, mãos de bronze, presas longas como de javalis e uma aparência tão pavorosa que transforma em pedra quem as olha. Das três, apenas Medusa é mortal. 
GRÉIAS: Três criaturas que já nasceram velhas. São irmãs das Górgonas. Para enxergar, elas usam somente um olho que elas passam de uma para a outra. Para comer, elas usam um só dente que, também, repartem entre si. 
GUERRA DE TRÓIA: Guerra de dez anos entre gregos e troianos, causada pelo "rapto" de Helena (mulher de Menelau) pelo príncipe troiano, Páris. Esta guerra é a base do poema épico de Homero, intitulado "A Ilíada". 
HESÍODO: Poeta grego que viveu no séc. VIII a.C. Hesíodo é o autor da "Teogonia", onde ele organizou as histórias dos deuses gregos que estavam nas tradições orais e deu-lhes uma forma e uma ordem, com uma genealogia desses deuses, com sua origem, como também com a origem do Universo. 
HÉSTIA : Filha de Cronos e Réia, Héstia é a Deusa do Fogo e do Lar, muito cultuada na Grécia e em Roma. 
HIDRA DE LERNA: Uma espécie de dragão de sete (ou nove) cabeças que infernizava os habitantes de Lerna, na Argólida. A Hidra de Lerna tinha a seguinte peculiaridade: quando se cortava uma de suas cabeças, logo surgia outra em seu lugar. Exterminar este monstro foi um dos "12 Trabalhos de Héracles". Héracles conseguiu matar o bicho com a ajuda de seu sobrinho Iolas. O procedimento foi simples: quando Héracles cortava uma cabeça, Iolas cauterizava a ferida com fogo e,assim, não crescia outra cabeça. 
HIPERBÓREOS: Povo consagrado ao deus Apolo, os Hiperbóreos habitam Hiperbóreas, uma região no Círculo Polar Ártico. O nome Hiperbóreas quer dizer "além de Bóreas" - Bóreas é o vento norte. Hiperbóreas é uma terra mítica, onde os habitantes vivem em eterna felicidade e não conhecem doenças, nem frio nem calor excessivos.
HIPNOS: O Sono. Filho da Noite, irmão de Tânatos e dos Sonhos (ou pai destes, segundo algumas fontes). Hipnos percorre o mundo batendo suas asas e pondo todos para dormir. Segundo consta, ele vive no Hades, em um palácio onde todos dormem e cujas portas são guarnecidas por plantas e flores que causam o sono. O rio do esquecimento, o Lete, passa pelo palácio de Hipnos. 
HOMERO: O maior poeta grego, considerado o Pai da Poesia Épica, autor de "A Ilíada" e de "A Odisséia". Presume-se que Homero tenha vivido na Grécia por volta do Sec. IX a.C. Sete cidades disputam a honra de ter sido o local de nascimento do poeta: Atenas, Argos, Esmirna, Quios, Colofônia, Salamina e Ios. Homero era cego e vagava de cidade em cidade, onde pessoas reuniam-se em sua volta para ouvi-lo tocar sua lira e cantar suas histórias de deuses e heróis, na melhor tradição bárdica. 
IÁPETO: Titã, filho de Gaia e Urano, pai de Prometeu, Atlas, Epimeteu e Menécio. 
ILÍADA, A: Grande poema épico da autoria de Homero, que narra o final da Guerra de Tróia, começando pela saída de Aquiles do campo de batalha (com as conseqüências nefastas disto) e segue até a volta do herói e a conquista de Tróia pelos gregos. 
INFERNOS: O mesmo que Hades ou Érebo. Infernos vem do latim "Inferi" (lugares inferiores). É o Mundo dos Mortos, lugar para onde vão as almas dos mortos para serem julgadas e terem seu destino decidido. Este destino pode ser o Hades, propriamente dito, ou o Tártaro, para onde vão aqueles que foram maus na Terra, ou os Campos Elísios, para onde vão os absolutamente justos. 
MEDUSA: Uma das três Górgonas, filhas de Fórcis e de Ceto (dois irmãos, filhos de Oceano e Gaia). Medusa, como suas irmãs, tem serpentes no lugar de cabelos, asas de ouro, mãos de bronze, presas longas como de javalis e uma aparência tão terrível que quem a olha transforma-se em pedra (com exceção de Poseidon, que a ela se une, gerando o cavalo alado Pégasus - segundo uma versão). Medusa é morta pelo herói Perseu que corta-lhe a cabeça, depois de aproximar-se dela olhando o seu reflexo em um escudo. 
MENÉCIO: Titã, filho de Iápeto e Clímene, irmão de Prometeu, de Epimeteu e de Atlas. Ele luta na guerra dos Titãs contra os deuses olímpicos. Zeus fulmina-o e lança-o no Tártaro. 
MINOS: Filho de Zeus e Europa, Minos sobe ao trono de Creta quando seu pai adotivo, Astério, morre. Os filhos de Astério insurgem-se contra a usurpação e Minos pede a Poseidon que demonstre que ele, Minos, tem um direito divino ao trono. Poseidon atende e faz sair do mar um touro branco, perfeito em todos os detalhes. O touro é para ser exibido ao povo e, depois, sacrificado a Poseidon. Minos, no entanto, acha o touro tão bonito que resolve ficar com ele e sacrifica um outro a Poseidon. Este, furioso com o engodo, faz com que a esposa de Minos, Parsífae, se apaixone pelo touro. Da união de Parsífae com o touro branco nasce um ser monstruoso, um homem com cabeça de touro que alimenta-se de carne humana. O monstro fica conhecido como Minotauro. Minos manda construir um Labirinto e encerra o monstro lá dentro. Minos, então, impõe à cidade de Atenas um tributo periódico de sete mancebos e sete donzelas para alimentar sua criatura. Quem põe fim a este estado de coisas é Teseu, que penetra no Labirinto e mata o Minotauro. 
MINOTAURO: Aberração com corpo de homem e cabeça de touro que surge como resultado da união Parsífae, esposa de Minos (rei de Creta), com um touro branco enviado por Poseidon para demonstrar o suposto direito divino que Minos tem ao trono de Creta. O Minotauro é encerrado em um Labirinto especialmente construído a pedido de Minos e este passa a cobrar da cidade de Atenas um tributo periódico de sete mancebos e sete donzelas para alimentar o monstro. O herói Teseu, decidido a dar um fim a essa barbaridade, penetra no Labirinto e mata o Minotauro. 
NINFAS: Segundo consta, são filhas de Zeus. Divindades representativas da fecundidade da Natureza. São de diversas categorias e habitam o mar, lagos, rios, montanhas, florestas e até o interior de árvores. As Ninfas podem predizer o futuro. Os gregos cultuavam-nas e faziam-lhes oferendas de leite, frutas, flores, mel, etc. 
NOITE: Filha do Caos e irmã de Érebo. Gera o Éter, o Destino, as Moiras, Tânatos, Hipnos (o Sono) e os Sonhos (que algumas fontes dizem serem filhos de Hipnos). 
OCEANO: Titã, filho de Gaia e Urano. Oceano é a mais antiga divindade do mar, mas foi relegado ao segundo plano na divisão do Universo entre os três irmãos Zeus, Hades e Poseidon, ficando este último como o Deus do Mar. Oceano casou-se com sua irmã Tétis e tiveram alguns milhares de rebentos: três mil filhos (os Rios) e três mil filhas (as Oceânidas - Ninfas das águas). Mas, apesar de em segundo plano, Oceano era cultuado por navegadores que o invocavam antes de partirem em viagens pelo mar. 
ODISSÉIA, A: Grande poema épico da autoria de Homero, que narra a viagem de Odisseus de volta para o seu reino em Ítaca, depois de terminada a Guerra de Tróia. Esta viagem leva dez anos; anos em que Odisseus e seus companheiros enfrentam perigos de toda espécie. Odisseus é sempre ajudado por sua protetora, a deusa Atena. 
PANDORA: Mulher criada por Hefestos, a pedido de Zeus, para seduzir a raça humana e levá-la à perdição. Cada um dos deuses do Olimpo dotou-a com um dom: beleza, inteligência, charme, poder de sedução, etc. À Pandora é dada uma caixa lacrada com a recomendação que ela a entregue aos homens. Descendo à terra, a primeira pessoa que Pandora encontra é Epimeteu, irmão de Prometeu. Apesar de ter sido avisado pelo irmão para não aceitar nenhum presente dos deuses, Epimeteu, fascinado por Pandora, recebe a caixa e abre-a. De lá escapam flagelos de toda sorte: Fome, Miséria, Inveja, Ódio, Pestilência, etc. Apavorado, Epimeteu fecha rapidamente a caixa. Depois, notando uma luz dentro da caixa, Epimeteu abre-a bem devagar e, um sorriso ilumina-lhe o semblante. Dentro, com as pragas, tinha entrado na caixa a Esperança. Nem tudo estava perdido. 
PÁRIS: Príncipe troiano, filho do rei Príamo e da rainha Hécuba. Quando grávida de Páris, Hécuba sonha que dá à luz uma tocha que incendeia Tróia. Príamo procura um adivinho que lhe interprete o sonho. O adivinho aconselha que Páris seja morto tão logo nasça. Príamo decide fazer isto, mas Hécuba engana-o e dá o filho para ser criado por pastores no monte Ida. Quando cresce, Páris é selecionado por Zeus para arbitrar uma contenda entre Hera, Afrodite e Atena sobre qual delas é a mais bela. Páris escolhe Afrodite que promete-lhe, em troca, a mão da mais bela mulher do mundo. Páris volta para Tróia, revela-se ao rei e é recebido na corte. De volta de uma missão na Grécia, Páris para em Esparta, no palácio de Menelau e lá apaixona-se pela esposa deste, Helena. Helena foge com Páris para Tróia, o que resulta em os gregos declararem guerra contra aquela poderosa cidade. Assim tem início uma guerra que duraria dez anos e que ceifaria a vida de muitos heróis dos dois lados: a Guerra de Tróia. 
POLIFEMO: Nome do ciclope, filho de Poseidon, que aprisiona Odisseus e seus companheiros em sua caverna e passa a devorá-los um a um. Odisseus perfura-lhe o único olho com uma estaca afiada e ele e os companheiros conseguem escapar. Poseidon fica furioso por ver o filho cego e tenta de todos os modos matar Odisseus. Ele consegue retardar por dez anos a volta do herói para o seu reino em Ítaca. Esta história é narrada no poema épico de Homero "A Odisséia". 
PROMETEU: Titã, filho de Iápeto e Clímene, irmão de Epimeteu, de Menécio e de Atlas. Depois que sua raça, os Titãs, é vencida pelos deuses olímpicos e precipitada no Tártaro, Prometeu resolve criar uma criaturanova na Terra que possa, talvez, suplantar os deuses. Do barro, ele cria o Homem e lhe dá vida e inteligência. A nova criatura espalha-se pela Terra e deixa os deuses apreensivos com suas habilidades e capacidade de aprender. Os deuses, então, decidem negar a esta nova criatura o acesso ao fogo que acelerar-lhe-ia o progresso. Prometeu, vendo sua criatura privada do progresso, decide ir contra os desígnios dos olímpicos e ajudar o homem. Ele vai até o carro do sol, acende uma tocha e entrega-a ao homem. Furioso, Zeus ordena a Hefestos que prenda o Titã com grilhões no monte Cáucaso. Durante o dia, uma águia devora-lhe o fígado; este recompõe-se durante a noite para recomeçar a tortura toda outra vez no dia seguinte. Prometeu sofre este suplício durante trinta anos (ou trezentos anos, segundo algumas fontes). Durante esse tempo, Zeus e os olímpicos percebem que homem, apesar de sua inteligência e destreza, não despreza os deuses, mas cultua-os e faz-lhes sacrifícios. Com isto, a ira inicial do Senhor do Olimpo abranda-se, ele perdoa o Titã e permite que Héracles o liberte dos grilhões. Prometeu poderia ser, agora, recebido no Olimpo, mas o castigo lhe causou, também a perda da imortalidade. Eis que o centauro Quirão é ferido acidentalmente por Héracles com uma flecha envenenada e padece de dores atrozes que nada alivia. Quirão clama a Zeus que lhe conceda a bênção da morte e cede a Prometeu o seu dom da imortalidade. Prometeu é, então, recebido no Olimpo e Zeus transporta o centauro para o céu onde ele forma a constelação de Sagitário. 
QUIRÃO: Famoso centauro, filho de Cronos e Fílira (uma Ninfa, filha de Oceano). O fato de Quirão ser um centauro é devido a Cronos ter amado Fílira sob a forma de um cavalo. Quirão é totalmente diferente dos outros centauros quanto ao caráter. Com seu pai, Quirão aprende magia, medicina, música, astronomia... Sua caverna, no monte Pélion, na Tessália, torna-se uma fomosa escola onde ele ensina vários heróis e sábios, entre eles, Aquiles, Enéias, Esculápio, Odisseus, Héracles, Teseu, Jasão, etc. 
Consta que, lutando ao lado de Héracles contra os centauros, Quirão é atingido, acidentalmente, por uma flecha de Héracles que está envenenada com o sangue da Hidra de Lerna. A ferida de Quirão não sara jamais e ele padece de dores terríveis, até que, não suportando mais, ele pede a Zeus que lhe conceda a bênção da morte e transfere sua imortalidade para Prometeu que perdera a sua. Com isto, Prometeu pode entrar no Olimpo. Zeus transporta o centauro Quirão para o céu transformado na constelação de Sagitário. 
SONHOS: Filhos da Noite (ou de Hipnos, segundo algumas fontes). São representados portando enormes asas negras de morcego. No Hades existem dois portais chamados Portais dos Sonhos: um deles é feito de marfim; o outro, de chifre. Os sonhos falsos saem pelo portal de marfim; os sonhos verdadeiros, ou aqueles que se tornam realidade, passam pelo portal de chifre ao sair do Hades. 
TÂNATOS (Mors, para os romanos): A Morte. Filho da Noite, irmão de Hipnos (o Sono), habita o Hades (o Mundo dos Mortos) onde auxilia o soberano Hades. 
TÁRTARO: Parte do Hades (Infernos) para onde são enviados aqueles que foram maus na terra ou que aqueles que se insurgiram contra os deuses, como no caso dos Titãs. 
TÊMIS: Titânia, filha de Gaia e Urano. Têmis é a deusa que personifica a Justiça, as Leis e os Costumes. Quando tratados eram feitos, Têmis era invocada para zelar por eles. Têmis é representada com os olhos vendados e segurando uma balança. Sua balança foi colocada nos céus, por Zeus, como uma constelação. 
TRITÃO: Filho de Poseidon e da Nereida Anfitrite. Tritão é metade homem, metade peixe e ele segue à frente do cortejo do deus Poseidon, soprando sua trombeta feita de concha. 
VELO DE OURO (ou Velocino de Ouro, ou Tosão de Ouro): Pele de ouro do carneiro Crisómalos. Crisómalos era filho de Poseidon com Teófana, que ele raptara e transformara a ela e a si próprio em carneiros para fugir dos perseguidores. Da união dos dois nasceu Crisómalos, um carneiro com lã de ouro e que tinha a capacidade de falar e de voar. Hermes deu o carneiro de presente para a rainha Néfele, casada com o rei Atamante, de Tebas. Como Néfele tinha acessos de loucura, o rei Atamante casou-se com Ino, que, como uma boa madrasta, começou a perseguir os filhos de Néfele, Frixo e Hele. Estes montaram no carneiro Crisómalos e fugiram do reino, indo parar na Cólquida, onde Frixo sacrificou o maravilhoso carneiro a Zeus e deu a pele para o rei da Cólquida, Eetes. Como o Velo de Ouro tinha o dom de trazer a prosperidade para o reino, Eetes colocou-o em um bosque consagrado a Ares, onde ele era guardado por um dragão. O Velo de Ouro lá ficou até que foi "confiscado" por Jasão.
ATENA
Deusa da Justiça. Segundo a mitologia, Atena é filha de Zeus, rei dos deuses, e Métis, deusa da Prudência, sua primeira mulher. Quando Métis ainda estava grávida, Urano previu que aquela criança seria mais poderosa que o pai. Para impedir que a profecia se cumprisse, Zeus engoliu a mulher antes da criança nascer. Logo depois foi acometido de uma dor de cabeça tão forte que quase enlouqueceu. Para curá-lo, Hefesto, o deus-ferreiro, abriu-lhe a cabeça com um machado de bronze. Para espanto de todos, da ferida aberta saltou, vestida e armada dançando uma dança de guerra, Atena, que soltou um grito de guerra triunfante. Diante da visão, todos os imortais ficaram pasmos. Mais tarde a deusa tornou-se a filha favorita de Zeus, preferência essa que suscitou ciúme e inveja por parte dos outros deuses. A inclinação guerreira de Atena foi reconhecida a partir do seu nascimento; entretanto, a deusa era diferente de Ares, o deus da Guerra, em muitos aspectos. As artes que Atena cultivava não tinham como base o amor à batalha sangrenta. Na verdade, toda a sua postura devia-se a seus altos princípios e a sua frieza de ponderação sobre a necessidade de lutar para preservar e manter a verdade. Atena era uma estrategista e não uma simples guerreira, equilibrando a força bruta de Ares com sua lógica, diplomacia e sagacidade. Protegia os valentes e os corajosos e tornou-se a guardiã de muitos heróis, entre eles Perseu e Ulisses. Entretanto, a proteção consistiam em armas que deveriam ser usadas com inteligência, mestria e planejamento. Atena foi uma exceção no seio do Olimpo, principalmente por causa de sua castidade. Além disso, deixou importante legado à humanidade ao ensinar aos homens como domar cavalos, e às mulheres ensinou a arte de tecer e bordar. As atividade de Atena não estavam apenas ligadas às coisas práticas e úteis da vida cotidiana, mas também às artes e à criação de um modo geral. Atena foi uma deusa civilizada, ao mesmo tempo em que foi guerreira para proteger e preservar a pacífica civilização que ela presidia.
ATENA. A VIRGEM GUERREIRA
Palas Atena é a deusa dos guerreiros vitoriosos porque no seu nascimento aparece armada e disposta para a sua missão. Mas, além disso, esse acontecimento partenogenético, sem mãe nenhuma, já proclama a sua futura condição virginal. Atena sai diretamente do crânio paterno e não necessita de nenhum seio materno que a acolha durante a gestação. Talvez por isso, Atena não conheça nenhum homem nem necessite dele. É uma mulher de uma única peça, sem fissuras nem ataduras familiares; por isso não é nada raro vê-la como uma divindade exclusivamente concebida para a vitória dos seus, dos filhos da Hélade. Com a passagem do tempo, Atena se vai tornando mais doce e toma um papel mais maternal para com os seus fiéis, dado que passa de ser uma mulher de ação a uma matrona tutelar, até que se converte na deusa guarda do Estado e dos lares atenienses, primeiro, e de toda a área grega, depois. Com a mudança sofrida, Atena já não é a brava deusa que acompanha as expedições armadas de conquista ou de castigo; com a passagem do tempo, a deusa não sai mais ao combate, mas se mantém permanentemente em guarda contra os inimigos que podem vir de fora. A cidade, sinônimo do Estado nuclear grego, é o seu âmbitonatural e a ela se dedica o seu reinado. Com a cidade também se englobam, muito mais adiante, os que vivem e trabalham dentro dos seus limites, e assim a guerreira Atena passa a preocupar-se pela sorte dos artesãos e termina atendendo os agricultores que alimentam os seus protegidos cidadãos. 
ASSIM COMEÇOU A SUA VIDA ETERNA
Atena nasceu de Zeus, saindo da sua cabeça, como já se disse; mas Zeus não era bom pai para os seus múltiplos filhos e abandonou a menina armada nas mãos do deus-rio Tritão. O bom deus tomou a mocinha sob a sua tutela como se fosse outra das suas filhas. Criada nesse ambiente familiar, a jovem Atena encontrou a sua melhor amiga na filha de Tritão, e com esta menina da sua mesma idade, com a gentil Palas, entreteve os dias felizes da infância. Mas a sua inocência ia acabar de um modo terrível: num dos muitos combates simulados entre as meninas, Palas esteve a ponto de bater seriamente na sua companheira Atena, mas Zeus, que não era tão mau pai depois de tudo, viu a cena e saiu em defesa da sua filha, distraindo Palas com a sua alforje de couro. Atena, livre do ataque, matou a distraída Palas sem reparar também no que estava acontecendo diante dos seus olhos. Noutras versões do mito se relata que a deusa Atena nasceu em Líbia, na margem do lago Tritão (ou Tritonis) e foi recolhida por três ninfas quem se encarregaram do seu cuidado e educação. Durante um dos jogos de guerra com que se entretinha Atena, como prelúdio infantil da sua vocação de guerreira, com a sua inseparável companheira Palas, perdeu o controle da sua lança e esta atingiu mortalmente a outra menina. Atena ficou horrorizada pelo acontecido e no seu escudo, que já nunca mais serviria de brinquedo, escreveu o nome de Palas e fez com que, já para sempre, o nome da perdida amiga fosse precedendo o seu próprio, Palas Atena. 
LÍBIA, TERRA DE ORIGEM
O que parece ser certo é o fato de que Líbia seja o lugar de origem do mito. Digamos que a Líbia clássica é um grande território, face ao Mediterrâneo, que arranca justamente no delta do Nilo e que se estende indefinidamente até chegar à Numídia, situada no que agora se chama Líbia e Tunísia. Partindo dessa costa (hoje Egito), através de Creta, um cruzamento de rotas muito importante, no centro do mundo civilizado da época. Através da escala insular, todas as influências de viajantes e comerciantes foram uma contínua via de comunicação cultural e religiosa. Platão conta que Neith, deusa líbia, é a base sobre a qual se constrói a nova história grega, sob a denominação de Atena. Naturalmente, entre a iconografia egípcia se podem encontrar muitas imagens de Neith, assimilada ao culto oficial faraônico. Outros autores também apontam a origem líbia da divindade, contando os ritos dessa deidade, nos quais figurava a luta sagrada anual entre as sacerdotisas de Neith como forma de acesso à posição de máxima sacerdotisa, numa recriação da morte da menina antagonista e da singularidade posterior da nova divindade, que se ergue como tal, uma vez que se produz o resultado final, aquele apontado pelo destino, como trâmite inicial do seu império. 
O MAL-ENTENDIDO DE HEFESTO
A virginal Atena recebeu em muitas ocasiões o requerimento amoroso dos seus pais, mas sempre se manteve fiel à sua idéia inicial de ser virgem por vocação. Ao fim e ao cabo, essa era a petição mais importante da sua vida e estava claro que não o tinha feito por capricho, mas porque compreendia que o seu nascimento marcava o seu destino, separada absolutamente do sexo que nem sequer tinha existido na sua concepção. Mas há um episódio que vem sublinhar a sua decisão melhor do que qualquer outro tipo de consideração. Trata-se daquele momento em que Atena deve procurar armas para intervir em Tróia. Zeus declarou solenemente que não tomará partido por nenhum dos dois bandos. Palas Atena não quer deixar de respeitar a sagrada vontade paterna e dirige-se ao deus da forja, Hefesto, para que ele seja o forjador do seu arsenal. Hefesto aceita a encomenda e se põe a trabalhar, apaixonado pela bela e decidida deusa. Apesar da sua feiúra, Hefesto foi o marido da bela entre as belas, de Afrodite (embora o seu casamento não tenha resultado tão satisfatório e nobre como devia ter sido), e a presença de Atena fá-lo pensar de novo na possível felicidade de estar com uma mulher tão maravilhosa como aquela que tem diante de si. Ao falar do preço a pagar pelo trabalho, Hefesto indica que lhe basta o amor de Atena: ela não pode compreender que seja muito mais do que uma lisonja o que o ferreiro dos deuses disse tão seriamente, mas para Hefesto sim, significa tudo a palavra dita. 
A TRISTE BRINCADEIRA DE POSSÊIDON
Apaixonado visivelmente Hefesto, faltou pouco para que Possêidon, que Atena tão pouco estimava (se temos em conta essa lenda da filha de Possêidon, que procura a adoção no seu tio Zeus), fosse com o conto de que a séria Atena queria, realmente, provocar uma violenta paixão no armeiro, que a única coisa que procurava, com a desculpa das armas e em combinação com Zeus, era o momento de ser possuída brutalmente por um deus como ele. Ao ouvi-la entrar na forja, e sem duvidar um momento, Hefesto lançou-se sobre a virgem, julgando que estava cumprindo com o capricho de Palas, mas a situação congelou-se quando a deusa reagiu surpreendida e indignada perante tal ataque. Hefesto, que já não entendia nada senão os seus impulsos sexuais, ejaculou contra a coxa da sua amada. Já se tinha acabado a penosa aventura da qual os dois eram vítimas inconscientes, pela perversidade de Possêidon. A agoniada Atena limpou a coxa com uns fios de lã que encontrou na forja. Depois, contrariada pela desagradável experiência, arrojou o pingo ao chão, pensando que assim dava o incidente por resolvido, e não chegou a pensar no que ia suceder imediatamente com esse pingo encharcado com o esperma do envergonhado Hefesto. 
ERICTÔNIO, FILHO DE UMA VIRGEM
Se estudam os textos clássicos, à parte destas disparidades sobre o seu nascimento, sua paternidade e as suas complicadas relações com o resto dos deuses maiores e menores, vemos como a lição da morte de Palas transforma a primitiva figura de guerreira decidida noutra divindade, a quem preocupa mais a segurança, a estabilidade e a paz do que as armas vitoriosas. É uma deusa desarmada, não como Ártemis, que vai equipada com o seu arco e seguida pelos seus lebréus, nem tem o porte brilhante do fardado Ares. Atena está mais preocupada pelo lar do que pelos frontes de batalha e a sua idéia é que a paz se pode conseguir, que um acordo é melhor do que uma batalha, embora o clamor da vitória, quando existe, soe e ressoe com maior intensidade, se converta em regozijo popular e em instrumento de ascensão para os heróis. Atena tem a seu lado o mocho, pássaro da sabedoria, e também a acompanha o corvo, que é uma ave dotada de uma especial inteligência simbólica. 
INVENTORA PARA A HUMANIDADE
Sábia e doméstica, depois de ter demonstrado o seu valor militar, Atena se dedica a pensar em favor do seu povo; à sua dedicação pelos humanos se atribuem invenções de todos os tipos, mas sempre industriosas, do arado e o jugo que vai ungir as bestas ao aparelho de um carro ou desse arado, a instrumentos musicais, como a flauta ou a corneta metálica e marcial. Também é quem desenha os veículos terrestres ou os marinhos e, não contente com esse repertório de máquinas e de instrumentos, se põe a pensar em como continuar facilitando a existência de todos . Para as mulheres, Atena desenvolve as artes culinárias, a fiação e o tecido. Para os que querem conhecer os segredos do cálculo, Atena prepara a aritmética. E não pára aí, pois é a primeira oleira e a responsável desse invento tão prático para domar as cavalarias: o freio e a brida. Como não podia ser menos, Possêidon, o seu constante rival, também se atribui o invento da brida para os cavalos, embora pareça ser verdade que, naquele tempo, a deusa foi a predecessora. 
A MISERICÓRDIA CHEGA COM A MATURIDADE
Apesar do seu passado, da sua aparição sobre a face da terra,de ter nascido armada e predisposta à luta, Palas Atena, a convencida pacifista, só empunha as armas quando há que defender o sagrado solo próprio, mas então tem que recorrer ao seu pai Zeus, que está sempre disposto a acudir em sua ajuda e a proporcionar-lhe o arsenal necessário, salvo quando Zeus declarou a sua intenção de não entrar no conflito troiano e Atena teve que recorrer a outro fornecedor, para não fazer com que Zeus incorresse na contradição de ser neutro e armar a filha, em benefício exclusivo duma das partes contendentes. Mas em todos os casos em que ela intervém, quando todos os trâmites de conciliação se cumpriram e, só então, uma vez que todas as muito ponderadas e sabiamente meditadas propostas de pacificação tenham sido ignoradas ou seja o caso em que os rivais tenham decidido definitivamente que se prefere o desquite violento, a até essa altura pacífica e equilibrada senhora, imediatamente equipada com as armas cedidas para a ocasião pelo poderoso pai Zeus, arranca como um furacão ao qual só a vitória aplaca. Atena se lança a fundo e não perdoa a ninguém entre os seus inimigos, a nenhum, porque se trata dos mesmos que foram responsáveis de que a paz não seja consumada. A sua razão reside - diremos outra vez - em que o céu, o eterno, a responsabilizou pela defesa pertinaz. Atena é a representação da vitória final, não só uma deidade do combate entre os homens da terra, e nada pode pará-la no meio do campo de batalha. Isto não obsta para que Palas Atena, embora tenha uma origem guerreira, não seja depois, com a passagem do tempo, o mais benévolo dos juizes e dos seus lábios só saiam propostas de absolvição, de perdão para os que estão sendo julgados e contra os quais o tribunal não tem suficientes queixas e, portanto, não sabe que sentenciar. Então, perante a dúvida raciocinada, a gentil dama do céu se converte em intercessora para a sua defesa, em permanente libertadora do réu. Apesar de ficar tão bem definida como protetora dos fracos, como mestra de misericórdia, se dão casos em que a gentil divindade convive com outras interpretações surpreendentemente opostas, como o acontecimento que se narra o que aconteceu entre Atena e a donzela Aracne, como veremos agora. 
OS CIÚMES PROFISSIONAIS DE ATENA
Atena, conforme consta nos arquivos mitológicos, nem conheceu homem nem se preocupou por nenhum deles, fosse mortal, semi-divino ou plenamente entronado no Olimpo. Mas a deusa-virgem também foi a sagrada inventora da maior parte das coisas e dos ofícios úteis para a humanidade que nela confiava. Entre as suas invenções está a fiação e o tecido e, nessas questões, os seus ciúmes profissionais eram tão fortes como os de uma mulher apaixonada no amor. Pois bem, há um momento na crônica de Atena em que surge a paixão e a divina dama perde o controle dos seus temperados nervos de aço. O caso foi que Aracne, princesa de Lídia, que era uma hábil e primorosa donzela com o tear, elaborou uma tela maravilhosa, que teria que ser a sua última obra. Atena teve nas suas mãos o pano de Aracne e, à medida que o examinava, crescia a sua irritação, porque o pano da princesa era mais belo do que nenhum que tivesse visto, tão perfeito como se tivesse sido obra dos poderes celestiais. Aquela demonstração de perfeição e arte era demasiada humilhação para a deusa. Perante o delicado desenho de um Olimpo cheio de quadros plenos de colorido e intenção, em que se descreviam as mais românticas cenas dos povoadores de tão ilustre morada, Atena não soube senão que não devia: destroçar o pano até reduzi-lo a farrapos. Aracne, dolorida ou aterrorizada pela crueldade da sua rival têxtil, suicidou-se, enforcando-se no teto. A vingança de Atena não terminou com a sua morte e a deusa satisfez-se até o infinito, fazendo com que, a partir desse momento, a pobre Aracne passasse a ser uma aranha, com a sua corda de morte transformada em fio salvador que lhe permitiu desandar o caminho da morte até voltar à vida, embora - isso sim - já convertida num inseto pouco engraçado e ainda menos apreciado. 
MINERVA RECEBE ATENA EM ROMA
Palas Atena, a deusa grega protetora do antigo centro do mundo, de Atenas, também se muda para Roma com o resto do panteão olímpico e nessas terras se funde com o culto a Minerva, encharcando o rito latino de Minerva, que contava com uma cultura mais imperial, isto é, mais prática e comercial, com a rude personalidade ateniense. Em Roma, Minerva começa a aparecer como uma divindade da inteligência, do pensamento, da memória. Nos idos de março, quando já começa a adivinhar-se a chegada da Primavera e o mundo ressurge, os romanos celebravam os cinco dias de festividade postos sob o patrocínio de Minerva. Eram dias de festa para todos, mas mais nomeadamente para os intelectuais e os artistas; pela sua nova e pacífica condição de senhora da sabedoria e do encanto artístico, sob Minerva ficava a celebração das festas; até os estudantes tinham que pagar aos seus professores e maestros o salário nesses dias, pois era a época dos "minervais", dias impacientemente esperados pelos mestres para receber o seu sempre escasso soldo. Mas a boa imagem de Minerva se vai enchendo, pouco a pouco, das conotações marciais de Palas Atena; apesar de Atena já ser - quando se consolida como defensora do lar grego- uma divindade pacificadora, Minerva recebe a mensagem marcial dos inícios de Atena, e termina por tornar-se uma divindade armada, com aquelas quase esquecidas características bélicas do passado ateniense, até se afastar totalmente entre os bons fiéis romanos do outrora bondoso patrocínio exclusivo do pensamento e do estudo, e chegar a estabelecer-se como a simbólica deusa guerreira que foi originalmente na Grécia, nos seus primeiros passos entre os seres humanos. 
UMA DIVINDADE DE SEGUNDA FILA
Na capital imperial, Minerva estava como amostra de reflexão e de estudo, mas com a importação dos mitos deformados, chega a Roma uma muito específica Atena, a definitiva Minerva acaba por estar sempre presente como uma mulher destinada ao culto das batalhas, erguida e desafiante, sempre com o seu capacete de guerra, com o seu escudo e com o seu braço armado. Embora a tradição helênica nos falasse duma bondosa dama, que tinha aprendido na sua infância a dura lição do sangue, de quem se dizia que pedia a Zeus as suas armas só quando se tinha rejeitado a paz; no seu novo papel de avançada religiosa de um império sempre orgulhoso dos seus soldados, agora já se encontra definitivamente afastada do estudo e das belas artes, da invenção de barcos e carros, dos utensílios de lavrar e das indústrias domésticas: o seu papel na sociedade latina é o de guerreira celestial, unida com a sorte dos seus exércitos. A primitiva protetora das profissões liberais, a pacífica e sábia Minerva, fica fora do contexto de partida e passa à luta permanente, mas num segundo plano, atrás de muitas outras divindades masculinas e femininas que lhe ganham em prestígio e em fervor popular, e são outras as que ocupam o seu posto como deusas tutelares das fainas domésticas e do trabalho, da misericórdia e da intercessão pacificadora. 
ATENA E MINERVA NA ARTE
Temos a representação mais difundida de Atena, de Palas Atena, na moeda ática e, posteriormente, na moeda grega. Atena é uma divindade que exige estar em solitário, é uma deusa estatuária; por isso é mais fácil vê-la ou recordá-la como efígie soberba, como estátua que preside, do que como uma presença pintada num cenário natural. Também associada a ela estão os seus fiéis ou sacerdotisas, a grega donzela "Kore", que apregoa a sua importância e a sua presença. Finalmente, como deusa tutelar, Palas Atena pode ser encontrada em estátua ou em relevo, em muitas formas de menor entidade, para presidir a casa e dar prova do seu compromisso com os lares e com o ambiente familiar. Minerva, a latina versão da deusa, é outra figura escultórica que se continua vivendo como símbolo de empresas pujantes do século XIX, rematando edifícios e presidindo, de novo em solitário e com majestosidade incomparável,a atividade de uma sociedade industriosa que quer aderir ao progresso, unindo industriosidade e conhecimento, como já o fizera nos seus longínquos dias originais, além na Grécia do esplendor máximo. Minerva é um nome comercial que se pode encontrar em multidão de marcas da Europa e América, quase tão abundantemente como o seu colega divino Hermes ou Mercúrio. Porque é deusa da ação e da vitória, da sabedoria e a prudência, e dela não se recordam veleidades ou devaneios. Minerva se converte, com a revolução industrial, na mais positiva das divindades femininas, na que melhor pode ser corporalizada ao bronze industrial. 
ÁRTEMIS /DIANA
Esta adscrição a Selene (para os gregos) ou Lua (para os seus herdeiros romanos) é um fato que aparece mais tarde, quando já a imagem de Ártemis estava consolidada como rainha dos bosques, com a sua corte de donzelas prodigiosas. Quando é levada a ser divindade do satélite, se está deslocando a sua "proprietária" Febe ou Selene, uma titânida da primeira onda da mitologia primigênia, irmã de Hélios, a divindade do Sol. Por certo, que ao deslocar Ártemis para a posição lunar, o seu gêmeo Apolo também se desloca até ocupar o posto de Hélios, o que resulta plenamente equilibrado para o conjunto fraternal face à importância que têm que ocupar os dois irmãos no quadro mitológico. Mas o movimento não pára aí e Ártemis continua avançando, até encaixar também no buraco de Hécate, no lugar que antes pertencia a esta divindade da sombra da lua. Com as três personalidades, a sua identidade complica-se e já está perante os seus fiéis uma deusa com três rostos: o de Ártemis sobre a face do planeta; de Selene no firmamento, e de Hécate nas sombras eternas dos infernos. Assim, por translação, se obtém uma deidade que ocupa os mesmos três espaços que - no devido momento, e após vencer Crono - ocuparam Zeus, Possêidon e Hades, como uma segunda edição do império da época paterna, em que se teria eliminado o triunvirato a favor duma concentração total do poder. A deusa termina por ser uma poderosa criatura que tão depressa pode provocar a doença e a morte, como pode curar toda uma nação com a sua vontade. Vai-se tornando cada vez mais poderosa, mas não é Ártemis quem (naturalmente) exige esse poder total, senão que são os seus fiéis quem, com a passagem do tempo, vão reivindicando para ela, para a sua divindade favorita, o monopólio do poder, a união de todos os possíveis atributos olímpicos nas suas mãos, como prova da sua popularidade, do afeto dos seus seguidores e do encanto que despertava a deidade caçadora, a decidida mulher que vive na natureza, entre as feras e a graças dos elementos, aqui abaixo, no mesmo mundo que os humanos, dando prova de ser, apesar de tudo, da mesma madeira que nós, os filhos da terra, preocupada pelos rebentos das bestas e entusiasmada com a idéia de dar caça a qualquer animal de bom tamanho que se ponha a tiro. 
QUEM É ÁRTEMIS?
Afinal de contas, a personalidade clara e concreta da donzela ciumenta da sua virgindade e defensora pertinaz da das suas protegidas se vai turvando, e chega um ponto em que Ártemis /Diana se vê tremendamente complicada, como uma manipuladora dos poderes ocultos da morte e das trevas. É a viva representação de toda a maldade possível no céu, embora então o representasse Hécate; da luz que nos orienta na noite e serve de guia para caminhantes e apaixonados, já como Selene; e a inquieta defensora de animais para proveito de caçadores, de protetora dos bosques para desfrute dos mortais. Como ocorre com quase todos os deuses da antigüidade, o seu papel nunca fica perfeitamente definido a um ou a outro lado da linha entre bondade e maldade e Ártemis flutua, à maneira que os seres humanos sabem que eles o fazem, entre muitos matizes, sem ficar inteiramente no branco puro nem no desesperado poço sem saída do negro absoluto, ao modo das hagiografias ou das condenas totais das religiões do livro, do trio judeu-cristão-islamita. Mas também é necessário dizer que essa trindade, tão querida depois pelos cristãos, não é exclusiva de Ártemis, mas que outra das suas grandes companheiras olímpicas, Atena, também era menina que brincava à guerra com Palas, donzela vestida de peles de cabra, ao estilo dos líbios, e armada como guerreiro para as ocasiões em que a batalha era inevitável, e mulher madura e sábia, em companhia do corvo e do mocho. Três eram as estações do ano para os gregos; inverno, primavera e verão; três as esferas do Universo: celestial, terrena e subterrânea; três as fases da lua: nova, crescente e velha. O número três tinha um significado mágico, divino, e não é de estranhar, pois, que uma deidade da categoria de Ártemis fosse ascendendo pela escala do reconhecimento, até chegar a possuir, também ela, as três caras que lhe davam a categoria de máxima representação divina. 
ÁRTEMIS E AS SUAS DONZELAS
Se importante é Ártemis, não menos importância tem a ampla comitiva de ninfas que rodeia a deusa. Trata-se de oitenta belíssimas ninfas, donzelas que se comprometeram com a sua deusa à virgindade, o que vai fazer despertar a curiosidade e os desejos de deuses e de heróis ao redor desta corte de jovenzinhas, de virginais meninas de nove anos, escolhidas pela própria Ártemis nas bravas águas do Oceano e nas mais mansas do rio Anisos de Creta. Naturalmente, e com a passagem do tempo, os artistas foram acrescentando anos e desenvolveram as formas das meninas primitivas, até que conseguiram fazê-las nubentes e muito desejáveis, mas isto é uma questão devida à necessidade de adequar o mito às exigências morais de cada época, dado que -fora do contexto original grego - era muito duro o que os deuses ou os humanos pudessem tentar atropelar tão inocentes criaturas, e resultava mais conveniente representar o coro de ninfas com bastante mais peso e envergadura do que as infantis virgens. Mas, antes de continuar para a frente, temos que contar a história de Ártemis, a Diana dos romanos, tal como se narra nos textos clássicos conhecidos. 
OS SEUS PRIMEIROS ANOS
Zeus, no seu romance com a bela Leto, teve outro dos seus românticos raptos amorosos e encerrou o seu par, e ele próprio, na corporalidade mágica de um casal de codornas em cio. Após esse rapto poético, Leto ficou grávida; levava no seu seio os gêmeos Apolo e Ártemis. Após o idílio, e sem ter quase tempo para despedir-se do seu amante nem compreender bem o alcance do seu ato de amor, a futura mãe dos grandes deuses devia ter que fugir do ataque da ciumenta Hera, esposa legítima e verdadeira de Zeus, farta das suas histórias românticas e extra-matrimoniais. Para castigar quem tanto tinha incomodado o seu veleidoso marido, Hera lançou a serpente Píton em perseguição da horrorizada grávida, com a maldição de que não consentiria o parto em nenhum canto da terra que estivesse iluminado pelo sol. Com a ajuda do vento, Leto foi até as proximidades de Delos. Lá pariu o primeiro dos gêmeos, iniciando-se um longo processo de parto. Nascida Ártemis e já consciente do perigo que a sua inocente mãe corria, esta pequena começou a utilizar parte dos recursos da divindade e, apesar de ser somente uma menina recém-nascida, ajudou a mãe a passar para o outro lado, da terra firme para uma ilha instável. 
ÁRTEMIS, PROTETORA DE MÃES E FILHOS
Este fato, absolutamente milagroso e surpreendente, de que Ártemis, nada mais vir ao mundo, empreendesse a sua tarefa, ajudando a mãe a continuar o seu destino e atravessar as águas para poder chegar finalmente à ilha de Delos, é prova de que se trata duma personalidade mitológica extraordinária. Fugindo de Píton e da conseguinte vingança de Hera, Leto coloca-se na ladeira norte do monte Cinto, a coberto da luz do sol; lá, a fatigada e assustada parturiente deu à luz Apolo, após nove dias de contrações e dores. Delos, após o nascimento do deus, ficou para sempre fixa no seu lugar e aí está, como prova tangível de que o que se conta é verdade, como tudo o que a mitologia nos relata. Com tão complicado parto, não é de admirar que Ártemis, por ser a fêmea dopar de gêmeos, fosse associada desde esse nascimento sobrenatural com as mulheres grávidas, como protetora dos partos, e que também se convertesse, por assimilação, em deusa tutelar das crias de todos os animais mamíferos e, muito especialmente, dos meninos de peito, embora não fosse tão serviçal com os mamíferos crescidos nem com os seres humanos adultos, dado que uns eram os seus alvos móveis na caça e os outros podiam converter-se em objetivo da sua especial androginia, da sua persecução terrível dos homens crescidos. Mas quase todos os personagens do Olimpo têm as suas virtudes e defeitos construídos como os humanos e vividos tão desmesuradamente como só o podem fazer eles, os deuses. 
O PRESENTE DE ZEUS
Quando, um pouco mais crescida, se encontra com o seu pai Zeus, a menina pede um raro favor: ser virgem para sempre e levar arco e flechas, como leva o seu irmão Apolo. Além disso, quer ter o privilégio de ser portadora da luz, vestir uma preciosa capa de caçadora, vaidosamente rematada em vermelhos e que termina à altura dos seus joelhos; também pede uma companhia de sessenta ninfas do oceano, outras vinte do rio Anisos, cães de caça, todos os montes do Universo e, se tivesse tal vontade, qualquer cidade que quisera possuir. O pai Zeus, poderoso deus e humano personagem, acha graça na petição da menina e concede-lhe tudo o indicado; sabe que o que a menina quer para si é muito, mas isso é também um claro sinal de crescimento e o pai aceita a longa lista de obséquios e de privilégios e mostra-se ainda mais generoso, dado que lhe dá trinta cidades, para começar, enquanto que, considerando que já é suficientemente séria para aceitar responsabilidades protetoras, a põe ao cuidado dos caminhos e dos portos do seu mundo, que é o grego, o mundo do seu reinado inicial como deusa dos montes e da caça que neles se encerra, e diz-lhe que aí não vai acabar a sua fama nem a sua glória, dado que serão muitas as cidades que se porão sob a sua proteção. 
O QUE SE CONTA DELA
Após conseguir do seu pai o lote de desejos, Ártemis vai à ilha de Lipata, convidada por Hefesto, o feio deus-ferreiro. As ninfas virginais que acompanham Ártemis têm medo do aspecto dos moradores da ilha, os gigantescos Ciclopes, mas a deusa viu que os monstros estão trabalhando na sua forja, cumprindo uma encomenda de Possêidon, para puxar os cavalos do seu carro e - ao vê-los trabalhar tão habilmente - sabe que devem ser eles os que elaboram o desejado arco e a correspondente funda onde guarda as suas flechas. O arco tem que ser de prata (este detalhe, que agora significa pouco, é importante, dado que a prata era mais valiosa para os gregos do que o ouro) e ela necessita dele para esse mesmo momento, de maneira que os Cíclopes devem abandonar a encomenda de Possêidon e põe mãos à obra para que Ártemis tenha um arco como o do seu irmão gêmeo. Os ferreiros duvidam, mas a jovem convence-os com a promessa de que, assim que o arco esteja nas suas mãos, sairá caçar carne fresca e a primeira presa será para eles. A oferta é aceita e os habilidosos artesãos (encarregados também de forjar os raios de Júpiter no Etna, em Sicília, na mitologia romana) realizam o precioso arco para a caçadora. Realmente, mais do que a peça prometida, o que move os Ciclopes a trabalhar tão rapidamente é a ordem recebida do seu superior de que qualquer desejo da jovem seja atendido imediatamente e com exatidão. 
A SUA PRIMEIRA CAÇA
Da ilha, Ártemis salta para Arcádia, deixando atrás às suas infantis e assustadiças ninfas, indo com o seu arco preparado para abater qualquer peça que se ponha a tiro. Lá encontra-se com Pã, e este proporciona-lhe uma matilha, com os dez melhores cães de caça que se podem conseguir no planeta. Empreende a marcha e captura durante o caminho um par de belas corças que vão servir-lhe de esplêndida e insólita força para puxar o seu carro, construído em ouro. Já apetrechada, preparada a matilha que Pã lhe ofereceu, as corças unidas ao carro de ouro e o seu arco de prata tenso e pronto para a caça, vai para o monte Olimpo, para iniciar a sua vida de deusa adulta. No monte, Ártemis ensaia o arco e dispara duas flechas contra as árvores; mata uma besta selvagem com a terceira; ao quarto tiro alcança uma cidade impura. Com os quatro tiros do seu arco, o que também é emblema da Lua em quarto crescente, a jovem Ártemis abriu a panóplia das suas faculdades divinas. São quatro flechas com as quais assentou o seu poder sobre os bosques e os animais. Poder sobre a vida e a morte dos seus patrocinados, enquanto que, de passagem, recordou que também as cidades foram postas sob a sua tutela e vigilância, por ordem expressa e generosa do pai Zeus. Terminada a sua primeira expedição, Ártemis dá a volta e ordena à sua tropa animal o regresso à Grécia, para reunir-se com as suas ninfas, contar-lhes o resultado e dar repouso às suas corças, que recebem das gentis donzelas nada menos que o trevo dos campos privados de Hera; o trevo que dá a força e assegura o crescimento instantâneo aos animais que o comam. É o reconhecimento total ao seu reinado apenas começado sobre a face da terra. 
PROBLEMAS COM OS HOMENS 
Mas esta bela mulher e as suas não menos esplêndidas acompanhantes vão sempre sofrer o acosso dos varões, divinos e humanos, que passam pelo seu lado ou se aproximam maliciosamente. Como sucede com Calisto, uma das oitenta ninfas concedidas por Zeus à sua filha. Esta jovem é filha do rei Licaon de Arcádia, mas a sua hierarquia importa pouco em caso de desobediência a Ártemis, que não é uma tímida donzela, senão a personificação de todos os poderes possíveis, e já se pode imaginar o final de qualquer desobediência. Até com o seu pai bem amado, quando Zeus se abate sobre Calisto e consegue o seu propósito, a irritação é tremenda e a sedução da donzela é castigada terrivelmente, dado que não pode levantar-se contra o deus supremo. Ao parecer, após os amores da jovem com o deus, ela aparta-se da sua deusa e das restantes ninfas, tentando ocultar essa inquietante curva que se desenha perigosamente no seu ventre. Mas ocultar-se não funciona eternamente e Calisto é levada a presença da sua deusa e chefe mais do que espiritual. Ordena-lhe que se dispa e assim, perante a airada Ártemis, produz-se a confirmação da suspeita. Ártemis, uma vez que se encontra com a infiel Calisto grávida pelo seu pai, converte-a em ursa e ordena à matilha de cães de caça que terminem com o animal. Zeus, comovido pelo fim que o seu desejo provocou, apiadada-se da ursa encantada e coloca-a nos céus a salvo da cólera da sua filha. Também se conta que a filha havida, a pequena ursa, também encontra a sua nova e eterna morada no firmamento, e que ambas, mãe e filha, são simplesmente as constelações mais próximas do norte: Ursa maior e Ursa Menor. Ártemis não podia compreender nem justificar que uma virgem, como ela própria, faltasse à sua promessa de castidade e essa falta era suficiente condena por si própria, como para incomodar-se em julgar se a intervenção de um deus tão poderoso como Zeus não podia ter tergiversado os sentidos e a mente da sua menina Calisto. Em outras versões, é Zeus quem faz de Calisto e da sua filha duas ursas, mas que são os ciúmes de Hera, os mesmos que promoveram a escandalosa perseguição por Píton de Leto, a mãe de Apolo e Ártemis, perante outra infidelidade do seu volúvel marido. Se se quer pensar que foi assim, então a persecução da ursa, ordenada por Ártemis, estaria dentro do normal, dado que era uma peça de caça maior e nada mais, enquanto que o filho da transformada Calisto, salvo da morte pela proteção invisível da fortuna, seria o jovem Arcade, outra figura mítica e fundadora de uma povoação com raízes no Olimpo. 
E CONTINUAM OS PROBLEMAS
Alfeu, filho de Tétis, também caiu apaixonado perante Ártemis, mas a sua paixão não foi castigada de maneira nenhuma. Resulta que Alfeu, louco de amor pela sua dama, foi perseguindo-a por todo o litoral mediterrâneo. No final, Ártemis e as suas ninfas untaram de barro os seus rostos e o apaixonadoviu diante de si um enxame de oitenta e uma máscaras de lodo, entre as quais não podia reconhecer a sonhada cara da deusa. Todas as donzelas se riram do confuso deus fluvial, que não teve mais remédio que voltar para ao seu lugar, com a convicção de que tinha sido ridicularizado. Com certeza, não parece que chegasse a notar que tinha salvo a sua pele em troca de ser gozado. Mas Ártemis tem um momento de fraqueza com o belo pastor Endimião. Um meio-irmão seu, filho do prolífico Zeus e de Cálice, a ninfa. Tão belo era que Selene só teve que vê-lo (adormecido no reino noturno da deusa da Lua) para apaixonar-se total e perdidamente por ele. Ora bem; prudente, como corresponde à sua virgindade quanto a Ártemis-Selene, a deusa limitava-se a jazer a seu lado, imóvel, beijando-o nos seus fechados olhos, até que Endimião ficou suspenso num Sono do qual nunca despertaria. Há quem diz que Endimião, temeroso de um envelhecimento que terminasse com o seu esplendor, pediu ao seu pai Zeus manter-se assim para sempre, sem mudar absolutamente nada, adormecido e sem sonhar . Pela magia do casto amor de Selene, ou pelo favor de Zeus, a advocacia lunar de Ártemis passa noites e noites na cova onde repousa o belíssimo e eterno jovem, dormindo junto do seu platônico amor, para não incorrer na falta imperdoável de atuar contra o seu voluntário voto de castidade. Para terminar, digamos que há quem afirma que Endimião, presumido e ousado, passa-se com a mal-humorada Hera e esta, tão enfurecida como é costume nela, ordena a expulsão do moço e o seu castigo ao Sono intemporário. De todas as versões que se dão do mito de Endimião e Ártemis ou Diana, sem dúvida a mais querida pelos artistas foi a de Selene ternamente apaixonada, logicamente, dado que proporciona à deusa uma dimensão sensível que a humaniza e a faz aparecer mais digna de ser querida e compreendida na sua rigidez, dado que ela também se obriga a prescindir de uma paixão, servindo de exemplo à sua corte de ninfas no Olimpo e aos seus fiéis mortais que vivem na terra. 
DIANA DE ROMA
Diana, como o resto do panteão latino, recebe a influência dos deuses gregos entre os anos 200 a 100 a. C. Entram com muita força os elaborados mitos helênicos e terminam por apoderar-se da lenda local, passando a formar parte duma mistura de notas originais e importadas. Assim Diana, celebrada especialmente no mês de agosto, no dia décimo-terceiro, que é a contrapartida romana de Ártemis, deixa atrás as suas corças e se coloca junto à vaca, um animal mais doméstico, prático e familiar que o silvestre corço grego. Evidentemente, a mudança é de importância e Diana, que continua sendo uma divindade de primeira fila na sua nova residência, se transforma totalmente em divindade muito doméstica, e passa a ser protetora do povo humilde e dos menos felizes escravos, em lugar de ser a rainha e senhora das cidades por inteiro. Num dos seus mais destacados lugares de culto romano, no templo levantado em sua honra por Sérvio Túlio no Aventino, o edifício consagrado converte-se em lugar protegido, de refúgio para todos os plebeus exaltados, para os romanos de segunda que protestam do governo da capital imperial, numa resistência cidadã à injustiça, que é o primeiro protesto popular não cruento colhido pelas crônicas da história. A nova divindade tutelar tem pouco que ver, num caso como este, com a terrível Ártemis, tão pouco dada a apiedar-se dos adultos e, menos ainda, dos habitantes da urbe, da capital por excelência. A passagem da Grécia para a latinidade conferiu uma personalidade diferente e mais amável à deusa tripla da mitologia helenística; por isso Diana é mais recordada do que a perigosa Ártemis ou Ártemis. 
DIANA NA ARTE
Escolhemos aqui a invocação latina, porque Diana é a protagonista da maior parte das representações artísticas, ao passo que a terrível Ártemis fica relegada quase exclusivamente ao seu terreno helênico. E Diana é a escolhida para as mais belas pinturas, porque se presta ao grande quadro de nus e natureza, dado que ela aparece na maioria dos casos rodeada pelas suas ninfas, como se fosse inseparável delas, compondo um fresco de irresistível beleza feminina do qual os pintores flamengos não puderam afastar-se e onde também se encontram todos os artistas de corte do barroco, sem poder-se negar a utilizar uma desculpa tão simples para iluminar os palácios com esses corpos exuberantes das divindades, únicas figuras femininas ou masculinas que, com a sua nudez, podiam decorar e alegrar inocentemente os salões e os grandes corredores, sem incorrer na crítica moralizante da muito inoportuna hierarquia eclesiástica. Além disso, a inclusão de faunos, sátiros, Acteões e Calistos, dá uma nota de picardia e voyeurismo que se soma também aos grandes encantos adicionais das cenas de caça, entretimento e paixão dos senhores da nobreza, com o que se consegue aumentar a carga da história pictórica, sem possibilidades de ser mal interpretada pelos outros estritos observadores. No entanto, Diana não está tão presente na grande escultura, porque o seu lugar tridimensional está, preferentemente, na porcelana e nas reproduções em fundição, como um adorno que embeleza uma estância, mais do que como uma estátua que preside uma construção ou domina um ambiente. Da trindade de invocações, permanece a de uma deusa juvenil e elástica que corre pelos seus montes e bosques, acompanhada pelos seus cães ou por suas corsas, com o arco ao ombro ou na mão, enquanto se esquece do seu poder de decisão sobre a vida ou a morte, ou do seu papel de protetora de todas as mães e dos seus filhos, dado que tem que ceder para sempre às divindades oficiais cristãs. 
ARES /MARTE
Zeus e Hera foram, de fato, os pais de Ares e da sua irmã gêmea em tudo, Eride, mas assegura-se que em breve se arrependeram de ter trazido semelhantes criaturas para o Olimpo. Alguma outra lenda cita a casta Atena como mãe partenogenética de Ares, mas não é um mito demasiado admitido pelos ortodoxos. Homero assegurava que Zeus e Hera tiveram que odiar o seu filho e, na "Ilíada", só se mostra este deus como a um ser desprezível pelos seus fatos e pelas suas paixões bélicas, podendo-se encontrar na obra inesquecível um surtido de exemplos da sua desprezabilidade aos olhos dos deuses e, inclusive, aos dos mais humildes mortais. Os dois grandes, Zeus e Hera, também tiveram outros filhos de diversas laias, como Hebe e Hefesto, embora haja quem assegure que Hefesto, o ferreiro dos olímpicos e amigo dos fogos interiores das entranhas da terra e das suas bocas - os vulcões - só era filho de Hera e Zeus não tinha nada que ver com o rapaz. De todos os outros parentes, só Afrodite e Hades tinham relações com Ares e bem estranhas, pois - ao parecer - era mais do que nada uma perversa paixão entre Afrodite e Ares a que os mantinha próximos, e também era esse perverso sentido de agradecimento profissional o que fazia com que Hades, nos seus infernos, estivesse sempre disposto a agradecer os contínuos envios de mortos em combates que Ares proporcionava sem cessar ao seu companheiro encarregado da gestão dos negócios de ultra-tumba. 
ARES E COMPANHIA
Está claro que Ares não gozou, nem sequer, do carinho dos seus pais e também não chegou a poder fazer-se compreender entre os seus muito complicados companheiros do céu, entre os quais havia todo esse surtido tão surpreendente de caprichos e raridades que configuram a teia-de-aranha mitológica. Embora a maldade ou a crueldade de Ares não seja única, também não é um caso de atuação em solitário, pois os gregos colocam Eris ou Eride, a irmã, junto de Ares na mesma escala de malícia. É ela quem difunde a discórdia entre os deuses e os humanos, porque ela representa a discórdia. A sua tarefa é a elaboração de rumores, de maquinações, de ciúmes. O seu trabalho consiste em fazer que as más artes da sua imaginação e a sua experiência, essas mensagens voluntariamente envenenadas, se transformem em causas remotas de guerras e de ódios, como sementes bem colocadas pela insana habilidade da sempre presenteirmã. Também Ares faz o possível por encher o vácuo e combina astúcias para aumentar o mal. Junto deles vai sempre o sinistro grupo dos seus filhos respectivos, formado por Ênio, a filha de Eride, divindade da guerra, e os dois filhos de Ares: Deimos, escudeiro de Ênio e personificação do espanto, e o outro escudeiro de Ênio, Fobos, a representação do medo. Há que dizer que tão má era a fama dos irmãos guerreiros Ares e Eride, que os gregos adjudicavam ao casal uma origem trácia para sublinhar que se tratava de deuses próprios da gente da longínqua Trácia, uma comarca rústica e primitiva, como se assim sacudissem de cima deles a responsabilidade de aceitar no Olimpo umas divindades tão pouco felizes, tão pouco dignas de serem atenienses. 
A AVENTURA COM AFRODITA 
A bela Afrodite, já se disse, era atraída e repelida pela figura discutida do seu compadre Ares; era uma estranha relação a que os manteria próximos em muitas ocasiões. Mas, especialmente, uma dessas situações recordadas para a eternidade é a que se produz quando o casamento de Afrodite com o deforme Hefesto estava no seu declive. Hefesto era o feliz e orgulhoso esposo da bela entre as belas, e quis o destino infeliz, para desgraça do laborioso e bondoso Hefesto, que Ares se apaixonasse por Afrodite e que esta lhe correspondesse. Os amores de Ares e Afrodite foram longos, tanto que os três filhos havidos no tempo do casamento com Hefesto o foram da infidelidade. Estes filhos eram nada menos que Deimos e Fobos, os dois escudeiros que teriam de acompanhar Ares à batalha, e a gentil Harmonia. Mas o adultério terminou por descobrir-se por um excesso de confiança do irregular casal e, quando assim foi, o marido troçado recebeu a mensagem de um espião do Olimpo, Hélios, deus do sol, que teve a ocasião de surpreendê-los dormindo tranqüilamente à luz do amanhecer. O marido, sempre apaixonado pela sua adorada Afrodite, reagiu de um modo muito peculiar e, em lugar de sair irado ao encontro de Ares e Afrodite, inventou um plano para apanhá-los em flagrante delito; se o que se conta é certo, há que reconhecer que Hefesto recorreu a um ardil trabalhoso e excessivamente complicado. Elaborou na sua forja uma rede de metal fina e tão resistente que nem o temível Ares a podia partir, e dispô-la no leito do seu lar, de modo que quem nele se deitasse ficasse apanhado irremissivelmente até a chegada do único que sabia da sua colocação e funcionamento. Para assegurar-se do estranho triunfo da sua cilada, Hefesto fez saber a Afrodite que passaria um extenso período de tempo fora de casa, na ilha de Lenos, e que demoraria em regressar. Naturalmente, a infiel esposa alegrou-se da singular ocasião de gozar sem pressas da companhia do seu amante Ares e, assim que o marido partiu para a sua astuta viagem, chamou a seu lado o adúltero deus, para continuar com o seu já duradouro romance nas insuperáveis condições que a partida de Hefesto pareciam propiciar. Felizes por estarem sem preocupações por um possível retorno do marido, os dois foram diretamente para o quarto onde Hefesto tinha preparado a cama com a sua cilada. 
APANHADOS E À VISTA DE TODOS
Lançados na sua paixão, os dois desavergonhados ficaram apanhados pela rede que se disparou sobre os seus nus corpos. Quando Hefesto regressou a casa, lá estava o casal e ele, sem perder tempo em considerações, mandou reunir o tribunal excepcional dos deuses. As deusas não quiseram saber nada daquela situação ignominiosa e deixaram que fossem os homens os que vissem e decidissem como terminar aquela embaraçosa disputa. Hefesto pedia a dissolução do casamento e a devolução do que tinha pago a Zeus pela sua filha, este não queria saber nada de repúdios e também não estava nada contente com o método público empregado pelo seu genro; logicamente, pensava que as infidelidades se deviam discutir dentro do recinto familiar: era ele o menos adequado para falar perante os outros dessas questões que tantas dores de cabeça tinham proporcionado com Hera e com tantas outras deusas ou mortais. Entretanto, perante a beleza revelada de Afrodite, os deuses comentavam com ironia a excelente sorte de Ares, apesar da impertinente malha, e não faltava quem fizesse ostensíveis declarações de querer estar no seu lugar, embora fossem apanhados de tal maneira. Por fim Possêidon, cansado do espetáculo e do que ouviar, propôs que Ares restituísse o dote pago por Hefesto para recuperar a sua liberdade, e em caso de que este não quisesse fazer honra à dívida contraída com o seu comportamento, algo que o marido temia, ele, Possêidon, estava disposto a supri-lo e a casar com a infiel Afrodite para resolver o pleito e deixar que as águas voltassem ao seu leito. Naturalmente, Ares não pagou nada pela sua liberdade, e Afrodite, cansada do seu acompanhante, decidiu provar novas aventuras, agora que tivesse apaixonado uma boa parte dos que a tinham visto em todo o seu esplendor. 
OS CIÚMES DE ARES
Muito tempo depois, quando já Afrodite tinha passado muitas noites por outros muitos leitos dos céus e da terra, Perséfone, dolorida por sua vez por algo muito grave que Afrodite lhe tinha feito com o seu adorado Adônis, foi dizer a Ares que a ligeira e leviana deusa do amor estava muito mais apaixonada pelo belo e mortal Adônis do que por ele, soberbo e divino. Os ciúmes se apoderaram imediatamente do terrível Ares e a sua fúria arrastou-o a tomar a forma de um javali e, sob este aspecto, dirigiu-se para o monte Líbano, onde Adônis estava caçando, na companhia de Afrodite, ambos totalmente ignorantes do triste fim que Ares daria aos seus dias de esplendor. À primeira acometida, Adônis foi furado pelas despiedadas facadas que davam os terríveis dentes do javali em cio e o seu sangue regou os campos do monte, fazendo nascer anêmonas tão vermelhas como ele. Mas Ares não conseguiu terminar com o amor entre Afrodite e Adônis, muito ao contrário, dado que a bela e apaixonada deusa conseguiu da compaixão do seu pai Zeus que o infeliz amante ressuscitasse todos os estios, deixasse as trevas do Tártaro e pudesse passar os seis melhores meses do ano, os mais cálidos e apetecíveis do Verão grego, na amorosa e eterna companhia de Afrodite. Como sempre, Ares terminava por encontrar-se com a adversa sorte operando em favor dos seus rivais, e tinha que voltar a comprovar mais uma vez que, fizesse o que fizesse, perdia sempre, nessa e em todas as suas restantes empresas, corroborando o pouco apreço do Olimpo pela sua figura. 
O PAR REJEITADO
Com esta laia, não é de admirar que os diferentes moradores das alturas também tratem de afastar-se de Ares e a sua irmã. Em qualquer ocasião em que os divinos enfrentam Ares, os outros companheiros olímpicos põem-se contra ele. Na única ocasião em que Ares se submete ao tribunal dos pares é porque foi acusado por esse mesmo tribunal, não porque ele queira levar os seus assuntos à magistratura divina. E o desenvolvimento do julgamento é um assunto pouco claro. Trata-se de responder à acusação de assassinato. O morto era o jovem Halirrotio, um impulsivo filho de Possêidon e a causa dessa morte estava em que Halirrotio tinha violado Alcípe, filha de Ares e este só tinha agido com o direito que lhe assistia de vingar o atentado pela sua mão. A conclusão da causa aberta contra o violento deus não podia ser outra que terminar por absolver o réu da acusação de assassinato por falta doutras provas contra a sua asseveração, dado que o falecido não podia apresentar-se para refutar a alegação e nem o pai vingador nem a filha violada iam contradizer-se. O assunto ficou totalmente resolvido com a sentença absolutória, e já nunca mais Ares passou por uma corte de justiça olímpica, nem para reclamar direitos nem para procurar compensações a danos ou lesões, dado que ele não era dos que tratavam de procurar arbitragem, senão de tentar impor sempre - pela força e pela violência - a sua especial forma de ver a história, sempre com as armas no primeiro plano e a morte alheia como único e grande aliciante da sua existência. 
UM PRESENTE MUITOPRÓPRIO DE ARES 
Hipodâmia era a filha muito querida do rei Enomau de Pisa, na Elida; a princesa devia ser atraente, além de desejável pela sua hierarquia e posição, dado que eram muitos os que se arriscavam à dura prova imposta pelo rei para todos os ousados que se atreviam a tentar alcançar a pretensão de conseguí-la. O rei Enomau, por alguma razão que não se conta, tinha recebido uma presente muito especial do seu amigo, o violento Ares. A prenda era um casal de cavalos imbatíveis que o deus lhe tinha oferecido para que, sempre que os utilizasse, o rei saísse vencedor sobre os seus oponentes. Naturalmente, dada a qualidade de Ares e os seus amigos, não se tratava somente de ganhar ou perder uma corrida eqüestre. Se alto era o prêmio, a posse da princesa, mais alto era o preço da derrota, dotado com a inapelável condena à morte do desgraçado pretendente de turno. Como se pode comprovar pelo relato, a classe de presentes que Ares oferecia levava a sua marca pessoal e os amigos escolhidos para tais obséquios também não 
eram dos que sentiam muitos escrúpulos pelas vidas alheias. 
PÉLOPE E HIPODÂMIA
Mas a chegada de Pélope à Elida veio terminar com a história de derrotas mortais. Pélope era o filho de Tântalo, a quem este tentou oferecer como manjar insultante aos deuses, fato pelo qual Tântalo foi castigado eternamente, enquanto o inocente Pélope era devolvido à vida por eles, após ser recomposto quase totalmente. Após o incidente, o jovem protegido dos deuses chegou às terras de Enomau e apaixonou-se pela bela Hipodâmia. Como era natural, o rei desafiou-o à mortal corrida e o jovem, sentindo-se acompanhado pela boa vontade divina, aceitou o desafio. Há quem diz que Pélope contava com uns cavalos ainda melhores, oferecidos por Possêidon, e a melhor qualidade dos corcéis foi a causa exclusiva do seu triunfo; há outros que preferem a versão do amor da princesa, e por isso asseguram que foi Hipodâmia quem decidiu terminar com a sanha do rei Enomau, que se negava a aceitar a possibilidade de ser o sogro, e preferia evitar o laço político potencial, atuando como um pai muito ciumento. Hipodâmia, farta de ter que resignar-se a ver desaparecer na fossa tantos admiradores valentes, sem chegar a desfrutá-los, inventou uma solução definitiva ao seu problema, fazendo com que um suborno chegasse a Mirtilo, moço de cavalariça do rei, para que este atentasse contra Enomau, deixando o eixo do carro real quase partido ao meio. A corrida começou e o carro real ficou de fora, sem nenhuma possibilidade de chegar, embora fosse o último, à meta. Para rematar a história, conta-se que Pélope deu morte a Mirto, não sem que este o maldissesse antes de morrer. Resulta trágico que Mirto morresse pelas mãos de quem tinha ajudado a viver, apesar de ter sido ele responsável do seu triunfo, mas isto pode ser interpretado como outro desses fatos infelizes que trouxeram a desgraça a toda a estirpe de Tântalo e que vêm justificar ainda mais o infortúnio do clã. O que se pode dizer com certeza é que o sangüinário e implacável deus do sofrimento alheio, Ares, embora só o fosse por intermédio do fracasso do seu amigo Enomau, também terminou a aventura numa má situação, dado que a derrota desse cúmplice era - em boa medida - também uma derrota própria. E sem nenhum gênero de dúvida, os gregos colocavam a prenda de Ares num lugar proeminente da lenda de Hipodâmia, para que se pudesse claramente ver a classe de indivíduo celestial que era o deus próprio das guerras. 
O SARILHO DE TRÓIA
Para começar, deve esclarecer-se que Tróia existiu e que o seu descobrimento foi tardio, quando ninguém suspeitava que a história pudesse ter alguma relação com a mitologia. Mas muitos estudiosos, sobretudo após a verificação de que essa cidade das margens do Helesponto existiu, trabalharam na análise a fundo dos mitos clássicos, para chegar à sua essência, como é o caso do trabalho historiador do próprio Robert Graves, um dos mais destacados que coincidiram interpretar toda a mitologia básica helenística como uma explicação herdada da história não escrita dos diversos povos que depois dariam forma ao conjunto grego. Tróia era uma cidade próspera e muito bem situada, um encravamento perfeito para o comércio entre os dois lados da embocadura do Mar Negro, entre a Europa e a Ásia e, também pela mesma causa, um ponto estratégico cobiçado pelas diferentes etnias e tribos que queriam conseguí-la. Foram descobertas dez ruínas diferentes de Tróia, sobrepostas, e todas elas amostras dos conflitos originados pela sua posse e controle. A Tróia da qual nos fala "A Ilíada" deve ser a que corresponde à sétima camada de restos. A guerra de Tróia que nos contam Homero, Esquilo, Eurípides, Apolodoro, Sófocles e, de Roma, Virgílio, é um fato certo, embora se tenha maquilhado o seu aspecto com diferentes ornamentos de exemplaridade, crueldade, heroísmo ou absurdo. Com a sétima destruição de Tróia e a consecução da hegemonia de Atenas sobre o comércio do Mar Negro, os gregos asseguraram o poder total sobre a sua zona de influência. Foi um ato importante essa guerra e, no entanto, Ares, deus da guerra e responsável em boa medida do acontecido, não sai nada bem descrito do relato; antes pelo contrário, a guerra é mostrada sob o prisma da sua falta de razão, sobretudo nas palavras de Eurípides, que vem repisar o monstruoso conceito da luta entre os seres humanos, e qualifica de absurdas e desnecessárias as mortes de soldados e civis, não só no caso troiano, mas em quaisquer outras guerras que se tenham conhecido ou se vão conhecer no futuro. Também Homero trata, em "A Ilíada", com especial desprezo o nada estimado deus Ares, e não duvida um segundo em qualificá-lo como um personagem ignominioso, que desconhece a piedade para com os outros, sem ser capaz de obedecer à mesma regra quando as coisas se voltam contra ele; para ele, Ares é simplesmente um homicida, o que está banhado no sangue das suas vítimas, ao qual todos os homens dedicam as suas justificadas maldições. Ares é também para Homero um deus covarde no combate, incapaz de suportar o terror que semeou no campo de batalha; um ser pouco nobre, que prefere a fuga antes que responder pelo mal causado. 
ROMA E MARTE
Em Roma, como antes na Grécia, Marte tinha começado a ser uma divindade camponesa. Se na Grécia tinha sido protetor dos gados, em Roma o era dos cultivos, mas afinal, e transformado em senhor da guerra, o que possa restar do Ares grego perde a sua carga negativa e passa a incrustar-se na couraça do venerado deus Marte, como pai de Rômulo e Remo, ou como filho de Juno. Sob a sua advocacia se constróem as zonas militares, os campos de Marte. As tropas já são marciais, como sinônimo de virtude castrense. As conquistas são a forma apropriada de expandir o império e as vitórias se celebram para sempre como fundações das novas bases de partida para o renovado mundo latino. A das armas é uma das grandes e nobres carreiras dos cidadãos de Roma, se não a primeira, e por isso o grande deus Marte, junto com a sua imprecisa companheira Belona como condutora dos seus carros de guerra (a antiga Ênio dos gregos), se converteram em divindades muito positivas e muito exemplares a partir do reinado de Numa Pompílio, quando o deus lhe fez chegar à terra o seu escudo de bronze, como sinal do seu apoio na guerra. O escudo sagrado e outras cópias idênticas, para evitar que alguém pudesse roubar a peça divina e terminar com Roma, são guardados pelos sábios, os encarregados de manter o império a salvo da desgraça. Agora acompanhavam-os Pavor, Pallor (a palidez), como antes o tinham feito Deimos e Fobos na sua terra de origem. Também estavam no cortejo marcial Honos (a honra), Pax, Vitória, Vica Pota (a que arrebata) e Virtus, numa comitiva que descreve muito precisamente a perfeita máquina de guerra e de absorção que o império tinha montado, não só para apoderar-se de novas terras, mas também para fazer-se respeitar e admirar dentro dos territórios conquistados. Embora Marte seja o protagonista, a presença da paz faz

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