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Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Biofilme dental Também chamado de placa bacteriana, consis- te em um agrupamento de microrganismos aderi- dos aos dentes, próteses e superfícies bucais, como no sulco gengival e bolsas periodontais. É formado por uma matriz orgânica, composta por microrganismos, polissacarídeos, enzimas, restos de alimentos e células descamadas, e por uma matriz orgânica, composta de cálcio e fos- fato. É o fator mais importante para o desenvolvimento de doença periodontal, devido a estimulação de resposta inflamatória frente a esses microrganis- mos. As bactérias do biofilme têm capacidade de comu- nicação celular por meio de sinalizadores quími- cos (citocinas). Esse fenômeno de comunicação é denominado Quorum Sensing, o qual depende da densidade celular. É removido por métodos mecânicos, como a escovação dentária. ESTRUTURA DO BIOFILME Biofilme Supragengival É o biofilme clinicamente visível, pois está fora do sulco gengival. De acordo com Antonio Olavo Cardoso Jorge, autor do livro Microbiologia e Imunologia Oral, esse biofilme pode ser dividido em 4 áreas: 1. Biofilme da superfície dentária: • Assentamento das bactérias sobre a película adquirida. 2. Camada bacteriana condensada: • Camada densamente preenchida por microrganismos cocoides. • Apresenta espessura de 3-20 células, com arranjo colunar. 3. Corpo do biofilme dentário: • Maior parte do biofilme. • Apresenta diferentes espécies de mi- crorganismos, arranjados ocasionalmen- te (exceto os filamentos, os quais ficam dispostos perpendiculares à superfície dental, em paliçada). 4. Superfície do biofilme dentário: • É preenchida mais frouxamente, com amplos espaços intercelulares. • Também apresenta grande variedade de microrganismos. Biofilme Subgengival É o biofilme formado abaixo da borda gengival, a partir da migração apical do biofilme devido ao aumento da quantidade e diversidade de micror- ganismos. Por não ser visível, sua remoção é dificultada. É mais fino do que o supragengival (devido a características anatômicas), e pode ser divido em 3 áreas: 1. Biofilme aderido: • Biofilme associado à superfície dental. 2. Biofilme não-aderido: • Biofilme associado ao epitélio do sulco gengival. Etiopatogênese da doença periodontal Periodontia Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) 3. Camada entre o biofilme aderido e não-aderido: • Camada frouxamente organizada, onde os microrganismos parecem “flutuar” no sulco gengival. Biofilme Periimplantar É a formação de biofilme sobre implantes. A presença desse biofilme pode ocasionar a perda do implante, pois pode induzir a uma reabsorção óssea ao calcificar (formação de cálculo periim- plantar). Cálculo dental Biofilme dentário mineralizado. É constituído por cálcio, sódio, magnésio, potássio, entre outras substâncias orgânicas. Apresenta mineralização intra e extracelular, e sua adesão pode se dá em 4 tipos: 1. Pela película adquirida; 2. Por irregularidades no cemento; 3. Penetrações microbianas no cemento; 4. Por lacunas de reabsorção no cemento. O cálculo pode ainda ser sub ou supragengival. CÁLCULO SUBGENGIVAL Por se situar dentro do sulco, não é possível vê- lo, por isso, é detectado de forma tátil durante a sondagem periodontal. Ocasionalmente, pode-se verificar esse tipo de cálculo em radiografias (quando há a presença de grandes depósitos). Após a raspagem, não é possí- vel verificar resquícios de cálculo por meio de radiografias. Sua coloração varia de marrom a preto, e normal- mente apresenta superfície rugosa. É encontrado frequentemente nas bolsas periodontais. CÁLCULO SUPRAGENGIVAL O cálculo supragengival apresenta coloração branco-amarelada, amarelo-acastanhada ou até mesmo marrom, e apresenta dureza moderada. A formação de cálculo não depende somente do biofilme, mas também da secreção das glândulas salivares. Por isso, é muito encontrado em dentes próximos às saídas de ductos salivares maiores (incisivos inferiores e molares superiores). Não é a causa da periodontite (produto secundário da infecção). A patogênese da Doença Periodontal é o mecanis- mo pelo qual o hospedeiro responde à agressão microbiana e às alterações patológicas resultantes nos tecidos periodontais. Bolsa periodontal É uma extensão anormal da gengiva cervical em sentido apical causada pela migração do epitélio juncional ao longo da superfície radicular. Ocorre desinserção do ligamento periodontal causado por processo de doença. Doenças periodontais As doenças periodontais são doenças multifato- riais, as quais dependem: 1. Dos fatores de virulência dos microrga- nismos; 2. De fatores ambientais de risco; 3. Da susceptibilidade do hospedeiro. Fases das lesões periodontais LESÃO INICIAL Também chamada de gengivite subclínica, é a formação de biofilme no terço cervical, em torno de 2 a 4 dias. Nessa fase, já são iniciados alguns fenômenos inflamatórios, como dilatação vascular e aumento do fluxo do fluido gengival. Ocorre infiltração de células polimorfonucleares (PMNs) nos epitélios juncional e sulcular, e as células mononucleares (Linfócitos) ficam retidas no tecido conjuntivo. LESÃO PRECOCE Caso a lesão inicial não seja solucionada, em 7 dias tem-se a evolução para a lesão precoce. Nessa fase, tem-se o aparecimento do biofilme subgengival. Nota-se aumento da vermelhidão da margem gen- gival, causada pela proliferação vascular do sulco. Patogênese da doença periodontal Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) As células mais predominantes são os linfócitos e PMNs. Pode-se perceber degeneração fibroblásti- ca no tecido conjuntivo, como uma tentativa de permitir uma maior infiltração leucocitária no tecido afetado pelos microrganismos. Nota-se aumento na proliferação das células basais dos epitélios juncional e sulcular, como uma ten- tativa de aumentar a barreira mecânica e impedir a invasão dos microrganismos e seus subprodutos (formação de projeções epiteliais). Além disso, nota-se a perda da porção coronária do epitélio juncional. Esta lesão pode persistir por longos períodos, e caso não seja solucionada, a evolução da doença dependerá da susceptibilidade do indivíduo. LESÃO ESTABELECIDA Caso a exposição ao biofilme persista, a lesão precoce evolui para a lesão estabelecida, na qual a resposta inflamatória do tecido gengival é aumentada, assim como o fluxo do fluido gengi- val. Normalmente, essa fase se desenvolve em cerca de 2 a 3 semanas. Ocorre transmigração do epitélio juncional no sentido da junção cemento-esmalte (CEJ), além de um número aumentado de leucócitos, espe- cialmente linfócitos (indivíduos mais jovens) e plasmócitos (indivíduos mais velhos). Também ocorre perda contínua de colágeno à medida que o infiltrado inflamatório expande (permite a infiltração leucocitária). O epitélio juncional é substituído por um epitélio da bolsa, o qual não está aderido à superfície dentária. Isso permite a migração apical do biofil- me. Esse epitélio da bolsa pode apresentar regiões ulceradas, e também apresenta maior permeabi- lidade às substâncias advindas do tecido conjun- tivo. Nesse tipo de lesão, podem ocorrer duas diferen- tes situações: a) A lesão fica estável, permanecendo como uma gengivite; b) A lesão permanece ativa, e ocorre evo- lução para a lesão avançada (periodon- tite). LESÃO AVANÇADA Com o aprofundamento da bolsa, o biofilme continua migrando apicalmente, tornando o ambiente propício para as bactérias Gram- negativas anaeróbias. O tecido gengival oferece reduzida resistência à sondagem, o que pode acarretar em sangramentosdurante a sondagem. A lesão avançada é muito semelhante à estabele- cida em muitos aspectos; porém, uma caracterís- tica muito importante que as difere é que a lesão avançada apresenta perda de inserção do tecido conjuntivo e do osso alveolar (o epitélio da bolsa migra apicalmente à junção cemento-esmal- te). As células predominantes nesse tipo de lesão são os plasmócitos, e o infiltrado de células inflamató- rias já se estendeu no interior do tecido conjun- tivo. Os fatores relacionados à progressão de uma gen- givite a uma periodontite ainda não são claros e precisos, e são diferentes de indivíduo para indi- víduo, assim como pode diferir de dente a dente. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Microrganismos Como já dito, a proporção de microrganismos se eleva significativamente conforme o aumento da severidade da doença. Os microrganismos podem apresentar dois tipos de efeito no organismo do hospedeiro susceptível: 1. Efeito direto: relacionado diretamente às bactérias e seus subprodutos. O efeito ocorre a partir da invasão tecidual. 2. Efeito indireto: mediados pelo hospe- deiro por meio de resposta imunológica contra as bactérias e subprodutos. As bactérias mais relacionadas às doenças perio- dontais são as bactérias Gram-negativas anaeró- bias: • Ocorre invasão tecidual por meio da liberação da hialuronidase e colagenase, presentes no tecido conjuntivo. • As bactérias, ao invadirem o tecido con- juntivo, liberam endotoxinas (LPS) e subprodutos bacterianos, os quais se difundem para o interior dos tecidos. • Essa difusão ativa resposta imunológica, composta por mediadores pró-inflama- tórios e citocinas. Fatores das doenças periodontais A Resposta Imunológica do hospedeiro frente às agressões microbianas desempenha importante papel, já que diversos fatores imunológicos po- dem causar alterações na hemostasia do perio- donto durante o combate aos microrganismos agressores. A Resposta Imunológica pode ser Inata ou Adquirida. A resposta inata é a primeira linha de defesa do organismo, e é constituída por barreiras mecâni- cas, como a pele e mucosa oral, além de macró- fagos teciduais, neutrófilos, células do ligamento periodontal... Já a resposta adquirida é a resposta específica a determinado agente agressor. Pode ser dividida em resposta celular ou humoral, permite adapta- ção do corpo a determinados microrganismos, conferindo memória imunológica às células (Linfócitos T e B). Moduladores da Resposta Inflamatória 1. Fatores genéticos: a genética pode apresentar influência nas respostas infla- matórias, além de influenciar na predis- posição a desenvolver ou não certas doenças periodontais. 2. Fatores ambientais: podem alterar a microbiota bucal, predispondo a microrganismos patogênicos. 3. Fatores comportamentais: hábitos parafuncionais, como roer as unhas, bru- xismo, etc. podem agravar um quadro pré-existente. Composição da microbiota bucal A microbiota bucal é composta por microrga- nismos residentes (presentes em grande núme- ro na cavidade oral de forma fixa), suplemen- tares (sempre presentes, porém em menor quan- tidade) e transitórios (podem ou não ser pato- gênicos). Numa situação de gengiva saudável, os microrga- nismos mais presentes são cocos e bacilos sem mobilidade, como Actinomyces spp. e Streptococcus spp. Entretanto, conforme o biofilme migra apical- mente, a microbiota vai se alterando, e predomi- nam espécies anaeróbias como o Porphyromonas gingivalis, Prevotella intermedium, Aggregatibacter actinomycetencomitans, Fusobacterium nucleatum. FATORES PREDISPONENTES Alguns fatores predisponentes para o desenvolvi- mento ou agravamento das doenças periodontais são: a) Inserção do freio junto às margens gengivais; b) Diastemas; c) Má posição dentária; d) Anatomia e forma do dente (pode apre- sentar concavidades na superfície radicu- lar); e) Restaurações impróprias da anatomia coronária; f) Cimentos dentários retidos no sulco; g) Margens gengivais subgengivais. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) FATORES MODIFICADORES Diabetes melito Existem dois tipos de diabetes melito: a do tipo I é relacionada à destruição das células β pancreá- ticas. Já a do tipo II relaciona-se à diminuição da produção de insulina. Em pacientes diabéticos não-controlados, nota-se maior susceptibilidade ao desenvolvimento de doença periodontal, a qual pode ser mais severa também. Isso acontece porque a ação dos neutrófilos é deficiente (quimiotaxia, aderência, fagocitose), o metabolismo de colágeno está alterado e existem alterações vasculares. Entretanto, esse aumento da susceptibilidade não está relacionado a aumento de biofilme e cálculo dental. Fumo (Tabagismo) Em fumantes pesados (mais de 10 cigarros por dia), nota-se o desenvolvimento de periodontite mais severa, que apresenta maior perda óssea (possivelmente por haver alterações nas defesas do indivíduo), bolsas mais profundas e com maior número de sítios afetados. No entanto, indivíduos fumantes apresentam menos sangramento gengival, o que pode masca- rar uma gengivite. Isto porque as substâncias pre- sentes no cigarro promovem uma vasoconstrição dos vasos presentes no sulco, o que também diminui a resposta inflamatória: • A quimiotaxia e fagocitose tornam-se prejudicadas pela vasoconstrição, além da inibição da função dos neutrófilos. • Essa vasoconstrição promove redução de oxigênio, tornando o ambiente mais favorável às bactérias anaeróbias. Além disso, também ocorre diminuição do fluxo salivar, e maior acúmulo de biofilme e cálculo salivar. Estresse O estresse pode alterar os comportamentos do indivíduo, como seus hábitos de higiene, e tam- bém pode agravar os hábitos parafuncionais, como citados anteriormente. Alterações hormonais Na puberdade ocorre maior facilidade de cresci- mento de certos microrganismos. Mulheres durante a gravidez apresentam maior susceptibilidade de desenvolver gengivite, e sua severidade dependerá do ciclo hormonal. A menopausa também é um fator influenciador no desenvolvimento de doença periodontal. Medicamentos Existem alguns medicamentos que podem apresentar como reação um aumento do tecido gengival, como a Fenitoína (anticonvulsivante), Ciclosporina (imunossupressor), bloqueadores de cálcio... Além disso, o uso de anticoncepcionais orais pode ocasionar doenças periodontais. Destruição óssea A destruição óssea pode se apresentar em um padrão horizontal ou vertical, e um dos fato- res determinantes sobre o padrão de reabsorção óssea é a largura do septo ósseo. Na reabsorção óssea horizontal, forma-se uma bolsa supra-óssea (acima da crista óssea). A reab- sorção pode apresentar graus diferentes em um mesmo dente. Já na reabsorção óssea vertical, também chamada de angular, a bolsa formada é infra-óssea. Bruna de Alencar Peres – Odontologia Unesp São José dos Campos (T64) Os defeitos ósseos verticais podem ainda ser clas- sificados quanto à quantidade de paredes ósseas remanescentes. 1. Defeito ósseo de 3 paredes: apenas 1 parede foi afetada pela doença, apresen- tando 3 paredes ósseas remanescentes. 2. Defeito ósseo de 2 paredes: 2 pare- des foram acometidas pela doença, e outras 2 permanecem íntegras. 3. Defeito ósseo de 1 parede: apenas 1 parede remanescente. As demais foram acometidas. 4. Defeito ósseo circular: também cha- mado de envolvente, é o tipo de defeito ósseo que apresenta todas as paredes ós- seas afetadas. Nesses casos, a reabilitação é muito mais difícil. Referências Jorge, Antonio Olavo Cardoso: Microbiologia e Imunologia Oral, 2ª edição, Parte II, Capítulo 6 e Parte V, Capítulos 26, 28 e 30. Carranza: PeriodontiaClínica, 11ª edição, Parte 4, Capítulo 21. Lindhe, J.: Tratado de Periodontia Clínica e Implantodontia Oral, 5ª edição, Parte 3, Capítulo 8, Parte 4, Capítulo 11.
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