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blockchain e títulos de crédito

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO MULTIDISCIPLINAR
JÚLIA SOUZA DE DEUS DA SILVA
BLOCKCHAIN E TÍTULOS DE CRÉDITO
Nova Iguaçu
2019
JÚLIA SOUZA DE DEUS DA SILVA
BLOCKCHAIN E TÍTULOS DE CRÉDITO
Dissertação apresentada como forma de segunda avaliação da disciplina Direito Empresarial II na Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro – Instituto Multidisciplinar.
Nova Iguaçu
2019
RESUMO
	O presente trabalho tem por escopo analisar a relação entre tecnologia, principalmente a blockchain, e os títulos de crédito.
Palavras chaves: blockchain, direito empresarial, títulos de crédito.
ABSTRACT
	This present work has the scope of analyse the relationship between technology, especially blockchain, and credit titles.
Key-words: blockchain, business law, credit titles.
SUMÁRIO
Introdução.....................................................................................................................página 1
1. Escorço histórico dos títulos de crédito....................................................................página 1
2. Principais espécies de títulos de crédito...................................................................página 2
2.1. Letra de câmbio...............................................................................................página 2
2.2. Nota promissória.............................................................................................página 2
2.3. Cheque..............................................................................................................página 3
2.4. Duplicata..........................................................................................................página 3
2.4.1. Duplicata escritural..............................................................................página 3
3. Desmaterialização dos títutos de crédito..................................................................página 5
3.1. Princípios da cartularidade, da literalidade e da autonomia......................página 5
3.2. Blockchain........................................................................................................página 5
Conclusão......................................................................................................................página 7
Introdução
	Os títulos de crédito são documentos que representam, claro, crédito. Ora, crédito está ligado à palavra “confiança”, “acreditar”. Pode-se aliar várias caracterizações do crédito, dentre elas destacando-se: permissão de usar o capital alheio (John Stuart Mill), ofertando poder de compra a quem não o tem (Werner Sombart), otimizando a circulação de riquezas.
1. Escorço histórico dos títulos de crédito
	Doutrina André Santa Cruz (2019) que o Direito Cambiário, subramo do Direito Empresarial, nasceu na Idade Média, sendo delimitado por quatro etapas, quais sejam: período italiano, que vai até o ano de 1650; período francês, de 1650 a 1848; período alemão, de 1848 a 1930; e período uniforme, que subsiste desde 1930.
	A título de se localizar temporalmente, Layton Register (1913) elenca os períodos da evolução histórica do próprio Direito Comercial em: Antiguidade, na qual Rodes, Atenas e Roma têm papel fundamental, até a queda do Império Romano do Ocidente, em 476 d.C.; e Idade Média, marcada por uma época de anarquia e invasões no continente europeu, e uma época de restauração, com o crescimento do comércio através das Cruzadas e feiras medievais. 
	Seguindo essa linha do tempo, Fábio Ulhoa Coelho (2013) destaca outros quatro períodos: um subjetivo, entre XII e XVI, marcado pela autonomia corporativa; outro entre XVI e XIX; outro do século XIX ao XX, marcado pelos Atos de Comércio, presentes no Code de Commerce (1807); e o sucessor, subjetivo moderno, ainda vigente, cujo marco é a Teoria de Empresa, presente no Codice Civile (1942).
O objetivo do presente trabalho não é elucidar cada momento histórico. Contudo, deve-se ter em mente que, claro, sendo o Direito Cambiário espécie do gênero Direito Empresarial, têm ambos uma mesma bagagem de mudanças históricas. Não à toa, Santa Cruz (2019) aponta ter o surgimento de cada um se dado no mesmo período.
Bem, as operações de câmbio se desenvolvem no período italiano, surgindo o câmbio trajeticio, a cautio e a littera cambii. Tendo estímulo das grandes feiras medievais, consistem, respectivamente, no transporte de moedas de uma cidade para a outra, responsabilizando-se, para isso, um banqueiro; numa promessa de pagamento; e numa ordem de pagamento. Exemplificamente, estando um comerciante em dada vila e objetivando ir numa feira doutro lugar, para adquirir a moeda do lugar pretendido, dá a um banqueiro local determinada quantia monetária, para que o banqueiro, por sua vez, dê ordem de pagamento, ao seu correspondente do lugar pretendido, da mesma quantia, comprometendo-se com tal pagamento no prazo, lugar e moeda convencionados.
Já no período francês, surgiu a clausula à ordem e o endosso, possibilitando a circulação do título de crédito. Já no período alemão, ocorreu a Ordenação Geral do Direito Cambiário (1848), que separou as normas do Direito Cambiário das outras relativas ao comércio geral. Nota-se como o raciocínio dos Atos de Comércio foi além da seara comercial comum. Deve-se pôr em pauta o Decreto brasileiro 2.044/1908 (Lei Saraiva), que regia – e ainda rege, porém com menor aplicação – os títulos de crédito.
Finalmente, o período uniforme se iniciou com a Convenção de Genebra (1930), estabelecendo-se, sucessivamente, leis uniformes relativas aos títulos de crédito, que foram adotadas pelo Brasil, em 1966, através dos Decretos 57.595 e 57.663. 
Aliás, a era atual, do comércio eletrônico, destaca-se pelo que os doutrinadores denominam “desmaterialização dos títulos de crédito”. Ora, já é de praxe destacar a influêcia que a evolução da sociedade tem sobre o Direito, posto que este reflete a estrutura social, tratando de reger as relações sociais. Logo, conforme a própria tecnologia evolui e toma cada vez mais espaço no cotidiano das pessoas, é mister que o Direito acompanhe a evolução. 
2. Principais espécies de título de crédito
2.1. Letra de câmbio (LC)
	A Lei Saraiva, em seu primeiro artigo, expõe: a letra de câmbio é uma ordem de pagamento. Ela vincula uma ordem de pagamento, do sacador (quem emite o título, através do saque), ao sacado (quem recebe a ordem de pagamento, podendo aceitar ou não), em prol do tomador (beneficiário). Trata-se de titulo abstrato, pois não há causa legal específica para sua emissão; e presumivelmente à ordem, podendo ser endossado¹. 
2.2. Nota promissória (NP)
	Segundo o artigo 54, da Lei Saraiva: A nota promissória é uma promessa de pagamento. Aqui, vincula-se duas figuras, a do sacador – ou “promitente”, e o tomador. Também é título abstrato e presumivelmente à ordem. Pode ser em branco ou incompleta, cabendo ao credor de boa-fé completá-la antes da cobrança ou do protesto².
¹Ato de transmissão do título de crédito à ordem; pode ser feito no verso ou no anverso do título, com a assinatura do endossante, no caso do endosso em branco, do título ao portador; já o endosso em preto tem prévia identificação do endossatário.
²Ato por meio do qual se prova o não cumprimento da obrigação originada nos títulos, cuja lavração se dá em cartório e cuja vinculação se finda apenas com seu cancelamento e/ou o pagamento da dívida.
2.3. Cheque
	Cheque é ordem de pagamento à vista emitida contra um banco (sacado) em razão de fundos que uma pessoa (emitente) tem naquela instituição financeira (SANTA CRUZ, 2019), a favor do credor (tomador). Neste caso, o único devedor é o emitente, cabendo ao sacado a simples obrigação de acatar a ordem. Trata-se de título abstrato, podendo ser emitido em qualquer hipótese; vinculado, pois segue um modelo padrão fixado pelo Banco Central; e presumivelmente à ordem, podendo ser endossado. Difere da LC por sua função econômica ser mais específica, mais restrita, findando-se quando descontado o numerário da conta-corrente.2.4. Duplicata
	A Duplicata é ordem de pagamento cujo aceite é, em regra, obrigatório, diferentemente da LC. Trata-se de título genuinamente brasileiro; presumivelmente à ordem, podendo ser endossado; vinculado, por ter rígida padronização; e causal, pois só pode ser emitido nas situações previstas em lei, quais sejam: compra e venda mercantil e contrato de prestação de serviços (Artigo 1° e Capítulo VII, Lei 5.474/1968, respectivamente). Tal característica não obsta a aplicação do princípio da abstração, que prega a desvinculação do título à relação que lhe deu origem, quando em circulação. 
2.4.1. Duplicata escritural
	Foi aprovada, no final de 2018, a Lei n° 13.775, que autoriza a emissão da duplicata escritural – ou “eletrônica”. Antes do advento da dita lei, já se admitia a duplicata virtual (vide Lei n° 8.953/1994, Lei nº 9.492/1997, MP 2.200-2/2001 e Código Civil, artigo 889). A diferença está que o novel dispositivo traz um sistema eletrônico de escrituração a cargo das entidades autorizadas “por órgão ou entidade da administração federal direta ou indireta a exercer a atividade de escrituração de duplicatas” (art. 3º, §1º), sem contar um valor de taxa por duplicata, conforme dispõe o art. 3º, §4º, o que pode levar a crer que a regulamentação fora para o mero arrecadamento de taxas, embora não esteja explicita a proibição da duplicata virtual. 
Interessante é notar que havia certa insegurança com relação ao uso da informática nos títulos de crédito, por não ser acompanhado pela legislação:
É possível perceber que algumas pessoas se sentem ainda presas sob o dogma do uso da cártula, e a segurança que esta representa acerca da substituição do papel pelo registro eletrônico de dados. Patrícia Peck Pinheiro enfatiza que “emocionalmente nos sentimos mais protegidos quando há um documento por escrito, uma prova material, palpável de nossos direitos”. (LEMOS, F. 2013. p. 158)
O título escritural é aquele que não tem cártula; nasce e atua por via de computador, por e-mail, por Internet, não possui assinatura usual. Na assinatura digital há a transformação da comunicação criada e, com isso, surge o que autores costumam chamar de cártula eletrônica, conjunto de dados do título consubstanciado na memória do sistema eletrônico. (MARTINS. F. in LEMOS, F. 2013. p. 164).
A título de ilustração, vale destacar o procedimento para realização da duplicata escritural, pormenorizado pelo professor Márcio André Lopes Cavalcante (2018): 
1) O contrato de compra e venda ou de prestação de serviços é celebrado.
2) Em vez de emitir uma fatura e uma duplicata em papel, o vendedor ou fornecedor dos serviços transmite em meio magnético (pela internet) a uma instituição financeira os dados referentes a esse negócio jurídico (partes, relação das mercadorias vendidas, preço etc.).
3) A instituição financeira, também pela internet, encaminha ao comprador ou tomador de serviços um boleto bancário para que o devedor pague a obrigação originada no contrato. Ressalte-se que esse boleto bancário não é o título de crédito. O título é a duplicata que, no entanto, não existe fisicamente. Esse boleto apenas contém as características da duplicata virtual.
4) Se chegar o dia do vencimento e não for pago o valor, o credor ou o banco (encarregado da cobrança) encaminharão as indicações do negócio jurídico ao Tabelionato, também em meio magnético, e o Tabelionato faz o protesto do título por indicações.
5) Após ser feito o protesto, se o devedor continuar inadimplente, o credor ou o banco ajuizarão uma execução contra ele, sendo que o título executivo extrajudicial será: o boleto de cobrança bancária + o instrumento de protesto por indicação + o comprovante de entrega da mercadoria ou da prestação dos serviços.
	Segundo o relator Lei n° 13.775/2018, Armando Monteiro (PTB-PE): 
“Segurança e agilidade nas transações com esse título virtual são elementos fundamentais para a elevação da oferta e a redução do custo de crédito aos empreendedores, principalmente às pequenas e médias empresas. Além de evitar fraude, possível com a emissão de ‘duplicatas frias’ — títulos falsos que não correspondem a uma dívida real e podem ser levados a protesto sem o conhecimento do suposto devedor —, a inovação deve eliminar o registro de dados incorretos sobre valores e devedores.” 
	Vale mencionar a MP 897 de 2019, popular MP do Agro, que criou os títulos de crédito Cédula Imobiliária Rural (CIR) e Certificado de Depósito Bancário (CDB), sendo ambos título de crédito nominativo, transferível e de livre negociação, representativos de promessa de pagamento (arts. 14 e 26). A CIR é cartular, antes do seu depósito e após a sua baixa, e escritural enquanto permanecer depositada (art. 16). Já o CDB pode ter forma escritural por meio de lançamento em sistema eletrônico do emissor (art. 29), neste caso tendo endosso ocorrendo exclusivamente por meio de anotação específica no sistema eletrônico da instituição emissora ou, quando tenha sido depositado em depositário central, por meio de anotação específica no sistema eletrônico correspondente (art. 30, §1º).
	No caso da duplicata escritural, os atos cambiais, como endosso e aval, deverão ocorrer no sistema eletrônico de que trata o art. 3º (art. 4°, III).
3. Desmaterialização dos títulos de crédito
	Com o surgimento do Direito Comercial Virtual, há uma aprimoração do conceito de velocidade nos títulos de crédito. Sua virtualização não muda o fato de que se pode cobrar e protestar o título; a própria Lei nº 9.492/1997, em seu artigo 8°, no antigo p.ú., atual parágrafo primeiro (enumerado pela Lei nº 13.775/2018), dispõe da recepcionação “das indicações a protestos das Duplicatas Mercantis e de Prestação de Serviços, por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados, sendo de inteira responsabilidade do apresentante os dados fornecidos, ficando a cargo dos Tabelionatos a mera instrumentalização das mesmas”. 
O documento eletrônico, de fato, nem sequer chega a materializar entre as duas pessoas que compõem a relação creditória. A cártula eletrônica seria o conjunto de dados registrados na memória ou no sistema magnético de um computador. Considerando que a cártula é o meio que permite o reconhecimento do titular e do direito contido no título, chegar-se-á à conclusão que não faz muita diferença se o título é representado por um papel ou por um sistema computadorizado. Até porque, pelo registro feito eletronicamente, é possível reconhecer a obrigação de crédito e os seus titulares. Não obstante, a problemática da falta da cártula ainda poderia ser sanada com a assinatura digital, garantindo uma maior segurança. (LEMOS, F. 2013. p. 166)
	Para compreender melhor o fenômeno da desmaterialização, segue abaixo os principais princípios dos Títulos de Crédito e, posteriormente, a influência da tecnologia blockchain.
3.1. Princípios da cartularidade, da literalidade e da autonomia
	O princípio da cartularidade diz respeito à necessidade do título estar materializado em um documento, em uma cártula que deve ser apresentada para exigir o crédito nela contido. 
	Por sua vez, o princípio da literalidade busca evitar que se receba ou se cobre mais do que foi acordado, devendo tal negócio estar devidamente expresso na cártula.
	Finalmente, o princípio da autonomia caracteriza a independência entre o título e as obrigações e as obrigações entre si. São desdobramentos dessa máxima a inoponibilidade das exceções pessoais ao terceiro de boa fé e a abstração.
3.2. Blockchain
	Blockchain é uma tecnologia criada em 2008, como sistema da Bitcoin – a peer to peer electronic cash, cujo fundador esconde-se por trás do pseudônimo “Satoshi Nakamoto”. Tal moeda tem como principal característica a desvinculação de instituições financeiras por ter um sistema baseado na criptografia e, ainda, ter baixo custo e proporcionar celeridade se comparada às transações realizadas pela via tradicional (HAZAR, M. e FERREIRA, T. 2017, p. 3). Não obstante, trata-se uma moeda eletrônica internacional sem taxas para sua transferência, tendo sua regulamentaçãoainda defasada em diversos países. 
	A tecnologia blockchain envolve uma rede de computadores universal, cujos usuários validam os negócios realizados, podendo representar dinheiro, música, propriedade e até mesmo contratos – os smart contracts. Ethereum is another blockchain system that is more than just virtual currency. Its protocols also include the ability to create “smart contracts.” This could be anything from a deed to a ledger containing a person’s financial history and credit rating. (Farrell. A. 2017)
Usando tal tecnologia, os negócios realizados são registrados em forma de blocos e, caso origine transações posteriores, constará nesses novos blocos referências ao bloco anterior, e assim sucessivamente, o que torna a adulteração de uma transação mais difícil. A isso se denomina hash (algoritmo que mapeia dados grandes de tamanho variável para pequenos dados de tamanho fixo – TechTudo, 2012). A contabilidade pública (blockchain) contém o histórico de todas as transações ocorridas na rede, protegidas através de chaves públicas, por meio de códigos alfanuméricos (HAZAR, M. e FERREIRA, T. 2017, p. 11) – criptografia. Sem contar a chave privada, que protege os dados dos usuários. 
"Using cryptography to keep exchanges secure, blockchain provides a decentralized database, or “digital ledger”, of transactions that everyone on the network can see. This network is essentially a chain of computers that must all approve an exchange before it can be verified and recorded." (Hutt, R. in Farrell A. 2017)
A empresa brasileira PROOF destaca cinco características da blockchain, quais sejam: transparência – é possível ter a visualização de qualquer transação; descentralização – não há necessidade de um órgão intermediário que aprove a transação ou que regre o contrato, sendo os usuários o próprio intermediador; segurança – o banco de dados é imutável, não podendo ser alterado, revisado ou adulterado, nem mesmo por seus operadores; confiança – a validação de uma transação requer que outros participantes entrem em consenso para tal; e automatização – o software foi desenvolvido para que não haja duplicidade ou informação conflituosa, logo, transações que não respeitem essa regra não são registradas. 
Nas palavras da Mi Firma Electrónica Avanzada (MiFiel), do México:
Una solución para endosar títulos de crédito electrónicamente debe permitir su firma garantizando la identidad de los involucrados, y registrar la propiedad y sus transferencias en una base de datos descentralizada. [...] Aunque la práctica en papel no ha cambiado mucho durante los últimos años y funciona, su digitalización puede traer beneficios a las organizaciones, como reducir los costos de operación, eliminar restricciones geográficas y, con la visión correcta, pueden inventarse nuevos modelos de negocio. Gracias a ello, es posible que las empresas digitalicen procesos existentes para innovar la forma de realizarlos como lo ha hecho Armadillo Rent, e introduzcan al mercado nuevos modelos de negocio como es el caso de 100 Ladrillos, con una certeza jurídica inigualable.
	Finalmente, A Lei Modelo (1996), da Comissão das Nações Unidas sobre Direito Comercial Internacional (United Nations Commission on International Trade Law – UNCITRAL), dispõe em seu quinto artigo: “Não se negarão efeitos jurídicos, validade ou eficácia à informação apenas porque esteja na forma de mensagem eletrônica”.
	Assim, o princípio da cartularidade entra em desuso, o documento caracterizado materialmente em um papel é visto como algo menos hábil e dispendioso, pela análise do atual modelo econômico reinante no globo, marcado pela quebra de fronteiras e de imensa movimentação financeira, busca de maiores lucros e menores despesas (LEMOS, Florence. 2013. p. 157). Sem contar que:
considerando as transações comerciais realizadas via internet [...] o documento nem sequer é emitido, não há sentido algum em se condicionar a cobrança do crédito à posse de um papel inexistente. Representa uma dispensável formalidade exigir-se a confecção do título em papel, se as relações entre credor e devedor documentaram-se todas independentemente dele. (COELHO, 2012 in HAZAR, M. e FERREIRA, T. 2017, p. 6).
4. Conclusão
Os princípios cambiários, tão preservados pela tradicional doutrina, impõem a ciência do direito repensar sobre estes princípios, de modo a torná-los compatíveis com a nova prática comercial em face da moderna tecnologia de documentos virtuais, intangíveis e imateriais. (LEMOS, F. 2013. p. 158-159)
Enfim, é vantajosa a utilização da blockchain nos títulos de crédito, pois é um sistema eficiente e seguro, diferentemente das cártulas – e de quaisquer outros documentos físicos3, como certidões, certificados, diplomas, contratos etc, que contam com as vertentes da boa-fé entre as partes negociantes e entre terceiros. 
[...] debes tener en mente que la digitalización más que una tendencia, es una necesidad. Digitalizar la firma y endoso de documentos permite menores costos de operación, expansión geográfica sin fuertes inversiones y una mejor experiencia de usuario. Además, se evita la pérdida o daño de los mismos derivando en una mayor certeza jurídica. (MiFiel - Firma Electrónica Avanzada)
Dir-se-ia que vivemos numa tentativa de renascimento no sentido de extinguir as atividades laborativas. A preocupação é se todos podem acompanhar tal evolução. Num mundo que até mesmo o conceito de democracia é deturpado, dificilmente presume-se que as pessoas em geral têm acesso ao mísero conhecimento da existência de tais institutos e tecnologias abordados no presente trabalho. 
While we are moving further away from paper documents and fiat currencies, it will still be some time before blockchain technology will be implemented by mortgage and title professionals [...] Advancements to increase the data storage of the blocks, decrease the verification time, and regulations to mitigate risk will make systems like Bitcoin and Ethereum a valuable tool in real estate transaction of the future. (Farrell. A. 2017)
 
__________________________________________________________________________________________
3 A Companhia de Software Ubitquity, por exemplo, em abril de 2017, estava sendo utilizada para registrar imóveis, usando a tecnologia blockchain, objetivando agilizar a compra e venda, a movimentação cartorial etc.
BIBLIOGRAFIA
BRASIL. LEI Nº 13.775, DE 20 DE DEZEMBRO DE 2018. Dispõe sobre a emissão de duplicata sob a forma escritural, Brasília, DF. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2015-2018/2018/Lei/L13775.htm>. Acesso em: 30 de setembro de 2019.
BRASIL. MEDIDA PROVISÓRIA Nº 897, DE 1º DE OUTUBRO DE 2019. Mp do Agro, Brasília, DF. Disponível em: <https://legis.senado.leg.br/sdleg-getter/documento?dm=8018951&ts=1570223640940&disposition=inline>. Acesso em: 06 de outubro de 2019.
CAVALCANTE, Márcio. Lei 13.775/2018: regulamenta a duplicata sob a forma escritural ("duplicata virtual"). Dizer o Direito. Disponível em: <https://www.dizerodireito.com.br/2018/12/lei-137752018-regulamenta-duplicata-sob.html> Acesso em: 03 de outubro de 2019.
Entenda Blockchain em menos de 15 minutos. PROOF. Disponível em: <https://www.proof.com.br/blog/blockchain/> Acesso em: 06 de setembro de 2019.
FARRELL, Amanda. 4 Things Title Agents Should Know About Blockchain Technology. 2017. PROPLOGIX. Disponível em: <https://www.proplogix.com/blog/4-things-title-agents-should-know-about-blockchain-technology>. Acesso em: 06 de setembro de 2019.
HAZAR, M.; FERREIRA, T. Análise jurídica dos bitcoins e seu reflexo no contexto jurídico brasileiro. ATHENAS vol. 1, ano. VI, jan-dez. 2017. Disponível em: <http://www.fdcl.com.br/revista/site/download/fdcl_athenas_ano6_vol1_2017_artigo02.pdf>. Acesso em: 03 de outubro de 2019.
LEMOS, Florence. O título de crédito eletrônico no direito brasileiro. Revista Jurídica UNIARAXÁ, Araxá, v. 17, n. 16, p. 149-178, ago. 2013. Disponível em: <https://www.uniaraxa.edu.br/ojs/index.php/juridica/article/view/428/407>. Acesso em: 03 de outubro de 2019.
LÓPEZ R,Carlos. Cómo la blockchain y la FIEL hicieron posibles los títulos de crédito electrónicos. Mifiel. Disponível em: <https://blog.mifiel.com/titulos-de-credito-electronicos-posibles-blockchain-fiel/>. Acesso em: 06 de setembro de 2019.
REGISTER, Layton B. Notes on the history of commerce and commercial law. University of Pennsylvania Law Review, vol. 1, n. 7, 1913. Disponível em: <https://scholarship.law.upenn.edu>. Acesso em: 01 de junho de 2019.
SANTA CRUZ, André. Direito Empresarial. 9 ed. Volume único. 2019. Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método.
Senado Federal. CCJ aprova emissão de duplicata eletrônica. Brasília: 2018. Disponível em: <https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2018/10/10/ccj-aprova-emissao-de-duplicata-eletronica>. 2018. Acesso em: 30 de setembro de 2019.

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