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doutrina e prática (A visão do Delegado de Polícia) doutrina e prática (A visão do Delegado de Polícia) Luiz Carlos Nóbrega Nelson Márcio Adriano Anselmo Márcio Alberto Gomes Silva Rubens De Lyra Pereira Ruchester Marreiros Barbosa Tácio Muzzi Vallisney de Souza Oliveira Alesandro Gonçalves Barreto Benito A.G Tiezzi Eduardo Mauat da Silva Everton Ferreira de Almeida Férrer Francisco Sannini Giovani Celso Agnoletto José Anchiêta Nery Neto Luís Flávio Zampronha Série Doutrina e Prática Organizadores O rg an iz ad or es CLAYTON DA SILVA BEZERRA GIOVANI CELSO AGNOLETTO C la yt on d a Si lv a Be ze rr a G io va ni C el so A gn ol et to 77 GIOVANI CELSO AGNOLETTO Aluno especial do curso de Doutorado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – USP, no Programa de Ciências da Comunicação, é Mestre pelo Instituto Mauá de Tecnologia (área de meio-ambiente), pós graduado em Investigação Criminal pela Academia Nacional de Polícia – ANP-DF, pós graduado em Administração de Empresas pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM-SP, graduado em Direito pela Universidade Bandeirante - Uniban-SP e também, graduado em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM-SP. Certificador Oficial do INEP e professor universitário desde 1989, em diversas instituições de ensino superior e atualmente está vinculado à Academia Nacional de Polícia em Brasília, como Tutor de EAD, em disciplinas afetas a área de segurança pública. É Delegado de Polícia Federal, lotado no Estado de São Paulo, já atuou como Policial Civil na cidade de São Paulo é também O� cial da Reserva da arma de Infantaria do Exército Brasileiro. CLAYTON DA SILVA BEZERRA O autor é Doutorando em Ciências Jurídica e Sociais pela Universi- dad Del Museo SocialArgentino - UMSA, Especialista em Direito e Processo Penal – AVM-Universidade CândidoMendes – 2008, Especialista em Direito Processual Civil – AVM Universidade Cân- dido Mendes - 2004, MBA em Gestão – Fundação Getúlio Vargas - 2003, Tutor da Academia Nacional de Polícia - ANP, É Delegado de Polícia Federal, Integrante do Grupo de Estudos da criminalidade cibernética Organizada - da Academia Nacional de Polícia - ANP - Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal no Rio de Janeiro. Vice-Presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal. Coordenador Geral da Ação Social Federal Kids. Foi Gerente Operacional de Segurança Cibernética para a Copa das Confederações – FIFA 2013, Gerente Operacional de Segurança Ci- bernética para Encontro Mundial da Juventude - 2013, Gerente do Projeto de Segurança Cibernética no evento da Organização das Nações Unidas – ONU, Rio+20 – junho – 2012 – GEPNet. Série Pensamentos Acadêmicos Compras pelo site: www.policiacidada.com.br Colaboradores Prefácio: Edvandir Felix de Paiva - Presidente da Associação dos Delegados de Polícia Federal Prefácio: Alexandre Garcia - Jornalista C OM BAT E À S ORG A N I Z AÇ ÕE S C R I M I NO S A S 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL (A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia)(A visão do Delegado de Polícia) C O M BA TE À S O RG A N IZ A Ç Õ ES C RI M IN O SA S 12 .8 50 /1 3 - A L EI Q U E M U D O U O B R A SI L COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 12.850/13, A LEI QUE MUDOU O BRASIL ISBN 978-85-53020-02-7 9 7 8 8 5 5 3 0 2 0 0 2 7 Polícia C i d a d ã Polícia C i d a d ã Laminação Brilho GIOVANI CELSO AGNOLETTO Aluno especial do curso de Doutorado da Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo – USP, no Programa de Ciências da Comunicação, é Mestre pelo Instituto Mauá de Tecnologia (área de meio-ambiente), pós graduado em Investigação Criminal pela Academia Nacional de Polícia – ANP-DF, pós graduado em Administração de Empresas pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM-SP, graduado em Direito pela Universidade Bandeirante - Uniban-SP e também, graduado em Comunicação Social pela Escola Superior de Propaganda e Marketing - ESPM-SP. Certificador Oficial do INEP e professor universitário desde 1989, em diversas instituições de ensino superior e atualmente está vinculado à Academia Nacional de Polícia em Brasília, como Tutor de EAD, em disciplinas afetas a área de segurança pública. É Delegado de Polícia Federal, lotado no Estado de São Paulo, já atuou como Policial Civil na cidade de São Paulo é também O�cial da Reserva da arma de Infantaria do Exército Brasileiro. CLAYTON DA SILVA BEZERRA O autor é Doutorando em Ciências Jurídica e Sociais pela Universi- dad Del Museo SocialArgentino - UMSA, Especialista em Direito e Processo Penal – AVM-Universidade CândidoMendes – 2008, Especialista em Direito Processual Civil – AVM Universidade Cân- dido Mendes - 2004, MBA em Gestão – Fundação Getúlio Vargas - 2003, Tutor da Academia Nacional de Polícia - ANP, É Delegado de Polícia Federal, Integrante do Grupo de Estudos da criminalidade cibernética Organizada - da Academia Nacional de Polícia - ANP - Presidente do Sindicato dos Delegados de Polícia Federal no Rio de Janeiro. Vice-Presidente da Federação Nacional dos Delegados de Polícia Federal. Coordenador Geral da Ação Social Federal Kids. Foi Gerente Operacional de Segurança Cibernética para a Copa das Confederações – FIFA 2013, Gerente Operacional de Segurança Ci- bernética para Encontro Mundial da Juventude - 2013, Gerente do Projeto de Segurança Cibernética no evento da Organização das Nações Unidas – ONU, Rio+20 – junho – 2012 – GEPNet. AGRADECIMENTOS Não poderíamos deixar de agradecer aos amigos de pro�ssão (Civil e Federal) que aceitaram o desa�o de escrever esta obra para mostrar ao mundo acadêmico o pensamento deste operador do Direito que é o Delegado de Polícia. Muito também nos honra e envaidece, a especialíssima participação acadê- mica do Excelentíssimo Dr. Vallisney De Souza Oliveira, Juiz Federal em Brasília, um pro�ssional respeitado pelos seus pares, admirado pelo seu zelo e dedicação e, sobretudo, um amigo. Também queremos agradecer ao cartunista Hector Salas, que gentilmente cedeu a charge que ilustra esta publicação, temos certeza de que, embora tenha sido a primeira vez que esta coleção de conteúdo jurídico, tenha fugido a regra da formalidade e pela primeira vez incluiu uma charge, muito nos envaidece e torna a obra ainda maior! Obrigado Hector! Clayton da Silva Bezerra Giovani Celso Agnoletto COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL 1a Edição - 2020 - Rio de Janeiro/RJ Projeto gráfico e diagramação Luiz Antonio Gonçalves Capa Luiz Antonio Gonçalves Supervisão editorial Clayton da Silva Bezerra Giovani Celso Agnoletto CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ 12.850 - A Lei que mudou o Brasil (Doutrina e Prática) / organizador: Clayton da Silva Bezerra / Giovani Celso Agnoletto. 1˚ ed. - São Paulo: Editora Posteridade, 2020 464 p:. 16x23 cm. (A visão do delegado de policia) Inclui Bibliográfia ISBN 978-85-53020-02-7 1. Processo penal. 2. Direito penal. I. Bezerra, Clayton da Silva. I. Agnoletto, Giovani Celso. III. Série. 15-27089 CDU: 343.1(81) Impresso no Brasil APRESENTAÇÃO Este sétimo livro da Coleção doutrina e prática a visão do Delegado de Polícia, traz a lume, vários artigos sobre a Lei no. 12.850 de 02 de agosto de 2013, que dentreoutras coisas, de�niu o que vem a ser organização criminosa, fala sobre a investigação criminal e os meios de obtenção de prova, sobre as infrações penais correlatas e também sobre o procedimento criminal, alterou o Decreto-Lei no. 2.848, de 07 de dezembro de 1940 (código penal) e revogou a lei no. 9.034 de 03 de maio de 1995. Se pudéssemos resumi-la numa única frase: é a lei que mudou o Brasil. Para nós policiais que nos dedicamos à prática investigativa cotidianamen- te, temos muito a celebrar, desde o advento deste novo instituto jurídico, seja por que de�niu efetivamente questões antigas e controversas, como “quadrilha ou bando”, que tanto discutimos nos bancos escolares, substituindo por “asso- ciação criminosa” e introduzindo o conceito de “organização criminosa (OR- CRIM)”, seja por que introduziunovos instrumentos jurídicos (ou que trouxe novos parâmetros de utilização), de�nindo de maneira inequívoca a capacidade do Delegado de Polícia em celebrar acordos de colaboração premiada, institu- tos como este, que já existiam de maneira esparsa em outras lei, como a previ- são do artigo 41 da Lei de Entorpecentes: “(...) art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identi�cação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um ter- ço a dois terços.”, porém, não havia uma clareza como se daria esta colaboração, alcance e a quais autoridades poderiam propô-la e principalmente, com relação a rati�cação pelo juízo. O instituto da “colaboração premiada” já existia no ordenamento jurídico brasileiro, mas não de maneira tão detalhada e especí�ca, como agora. Este sétimo livro, sem dúvida alguma irá tratar o tema da “colaboração premiada”, inclusive em mais de um artigo, com visões diferentes, trazidas por colegas autores que vivenciam na prática a sua aplicação, mas apresenta também a você leitor, todos os demais institutos, como meio de obtenção de prova, dos quais nos utilizamos diariamente, em cada uma das delegacias deste país afora: a captação ambiental de sinais eletromagnéticos, ópticos ou acústicos, a ação controlada, questões relacionadas ao acesso a registros de COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 6 ligações telefônicas e telemáticas, a dados cadastrais constantes de bancos de dados públicos ou privados e a informações eleitorais ou comerciais, inter- ceptação de comunicações telefônicas e telemáticas, afastamento dos sigilos �nanceiro, bancário e �scal,in�ltração, por policiais, em atividade de investi- gação e cooperação entre instituições e órgãos federais, distritais, estaduais e municipais na busca de provas e informações de interesse da investigação ou da instrução criminal. Apresenta também, todo o processo legislativo pelo qual passou esta lei, no Congresso Nacional brasileiro, e ainda, um artigo bastante interessante, do ponto de vista do direito comparado, apresentando instituto similar, na Argentina. Esperamos sinceramente que este livro seja de grande valia a todos os ope- radores do direito, para nós do Conselho Editorial desta coleção, após o lança- mento do primeiro título (Inquérito Policial) em outubro de 2015, nos senti- mos envaidecidos pela citação feita em pelo menos duas ocasiões, no Supremo Tribunal Federal, a mais alta corte deste país. Em junho de 2017, os Ministros Marco Aurélio de Mello e Luis Edson Facchin, �zeram referências expressas ao Livro 04 “colaboração premiada”, em um julgamento de grande importância (decisão parte do plenário da corte, com relação à colaboração premiada da JBS), o que nos faz acreditar que estamos no caminho certo para levar à frente o desa�o de estabelecer e divulgar uma “doutrina policial”. Além desta obra (a sétima...), já foram publicados cinco livros da Coleção “pensamentos acadêmicos” e a “radio polícia cidadã” já uma realidade nos meios de comunicação, levando ao ar, diariamente, para o mundo inteiro através da internet, a visão do Delegado de Polícia, a nossa visão... o nosso pensamento! Este sétimo livro “Lei 12.850 – A lei que mudou o Brasil. Doutrina e Prática (A visão do Delegado de Polícia) é o resultado do esforço acadêmico de vários estudiosos deste tema tão atual e inquietante como a “colaboração premiada”, grande vedete da Operação Lava-Jatoe que passou a fazer parte do linguajar comum de cada um de nós cidadãos brasileiros, principalmente do cidadão comum, sem formação jurídica. Como nos demais títulos desta coleção, nós do Conselho Editorial bem como os autores, não pretendemos esgotar o tema, até mesmo porque, o assunto merece vários volumes, talvez muitos deles, seja para a lei propriamente e também para cada um dos institutos que a lei traz no seu texto... en�m, há 7 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL uma inesgotável fonte de experiência a ser publicada, mesmo assim, este já é um ótimo começo. Assim, apresentamos a você leitor, o sétimo livro de uma série de estu- dos afetos ao trabalho daqueles que se interessam pela segurança pública e é, sobretudo, um relato prático do nosso dia-a-dia, é a forma como nós policiais e agora de outros pro�ssionais - todos estudiosos do direito, colaboramos com a justiça deste país. Desde o terceiro volume, quando convidamos colegas operadores do direi- to, mas que não são policiais, como advogados, por exemplo, tivemos a certeza de que apresentar uma visão acadêmica, séria e, sobretudo prática, do tema, só vem engradecer a obra, por isso, desta vez apresentamos a você leitor, a visão de um “juiz federal”, respeitado entre seus pares e admirado por seu zelo e dedicação. O objetivo desta coleção é apresentar um trabalho moderno, atualizado e, sobretudo, escrito principalmente a partir da visão de um Delegado de Polícia, àqueles que operam diariamente no direito criminal, seja como participante ou até mesmo responsável pela formulação de políticas públicas na área de segurança pública, ou até mesmo para estudiosos deste tema, como docente ou até mesmo, para o acadêmico do direito, aquele que na essência, todos somos e nunca deixaremos de ser. EgonBittner um grande pesquisador de temas da área de segurança públi- ca, nascido na antiga Tchecoslováquia eque emigrou para os Estados Unidos após a Segunda Guerra Mundial, a�rmou em um dos seus mais célebres traba- lhos (Aspectos do trabalho policial,Editora da Universidade São Paulo - USP, 2003) que ... é diferente escrever sobre a atividade desenvolvida pela polícia, com uma visão de dentro ou de fora da polícia, ou seja, escrever sobre a polícia sem ser policial, possivelmente irá ter uma visão diferente da realidade praticada... assim, mais uma vez, nós os coordenadores e todos os nossos colegas, nos esforçamos para trazer a visão de cada um a partir na nossa experiência cotidiana, espe- ramos sinceramente que esta obra lhe seja útil e que a partir dele, você leitor, possa ver o trabalho policial, a partir dos nossos olhos... Sabemos que nenhuma obra é perene, e certamente esta (até mesmo pela impressionante evolução do tema) não o será, mas o que se apresenta a leitura é de suma importância para os dias atuais e ainda permanecerá em discussão por muito tempo, certamente, até mesmo quando da futura revisão para novos COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 8 artigos, por isso, temos uma grande expectativa de que você leitor, irá apreciar bastante os novos e inquietantes temas que aqui são apresentados. No primeiro livro desta coleção, “inquérito policial”, reconhecia-se e destacava-se a merecida importância deste instrumento para a justiça e para a sociedade (....e não menos importante, também é através de inquérito policial, que aquilo que não é dito, ou declarado como verdadeiro... após um profundo trabalho investigado... vem a tona como verdade real, e os verdadeiros culpados aparecem... e aqui, cabe uma das máximas antigas, que poucos acreditam: o bem prevalece!) tantoque foi escolhido para ser o primeiro título desta coleção. Já no segundo título “Temas processuais penais da atualidade”, mais uma vez, até mesmo pela importância que se apresenta, e pela enorme responsabilidade que nos foi depositada, pelo sucesso desta coleção,escolhemos especialistas de diversas áreas de sua atuação, todos Delegados de Polícia, exercendo diuturnamente o trabalho de polícia judiciária, e com grande experiência na condução de investigações criminais e exercendo sua atividade nos mais diversos pontos deste imenso país. No terceiro volume “Combate ao crime cibernético”, dada a relevância do tema, e o alto grau de “expertise” de estudiosos do Direito Cibernético no Brasil que nos últimos anos vem colaborando para fomentar discussões e para aprimorar a legislação sobre esta matéria, o Conselho Editorial pela primeira nesta coleção, convidou um pro�ssional de renome deste ramo da ciências jurídicas e que faz parte dos quadros da OAB (Ordem dos Advogados do Brasil), para contribuir com seus estudos e engrandecer esta publicação, e acertamos em cheio, com uma publicação oxigenada com a visão de um pro�ssional do Direito (embora não seja policial...). No quarto volume “Colaboração Premiada”, pela primeira vez a Cole- ção publica a obra de um “único autor”, mas que sozinho, representa não só uma instituição, mas traduziu, com seu trabalho à frente da Operação Lava Jato, o que a população brasileira anseia e procura, que é a busca da justiça. Esta obra, prefaciada pelo Juiz federal Sérgio Moro, foi um sucesso editorial, antes mesmo de ter sido impressa, o tema da “colaboração premiada” é objeto de uma de uma ADIN junto ao STF, que tenta obstaculizar – por parte do PGR – o trabalho realizado pelos Delegados de Polícia, com relação a celebração de acordos de colaboração premiada, por isso a obra nos é tão importante. No quinto volume “Busca e Apreensão”, buscamos apresentar uma coletânea de artigos que buscaram apresentar uma das principais fontes de 9 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL prova, senão a mais importante de todas, que é a busca e apreensão, em várias modalidades de crimes. Certamente, de longe é o título que melhor retrata a parte “prática” do trabalho policial, quando vamos a campo, seja nas ruas, aeroportos, residências, prédios comerciais, en�m, quando estamos em busca de encontrar provas, para fortalecer o conjunto probatório e efetivamente conseguir identi�car o autor a materialidade delitiva. No sexto volume “Pedo�lia”,foi apresentado uma coletânea de artigos que buscaram tratar de maneira contundente e atual, os crimes de violência sexual contra crianças e adolescentes, que coloquialmente são apresentados e descritos de maneira coletiva como “pedo�lia”. Talvez um dos crimes mais perversos e cruéis pelas sequelas psicológicas que deixa nas suas vítimas e nos seus familiares. Buscamos também, para escrever o prefácio desta obra, outro amigo e colega de pro�ssão o Delegado de Polícia Federal Edvandir Paiva, Presidente da Associação Nacional de Polícia Federal (ADPF). Como este é um tema amplo e de destaque na sociedade, buscamos a opinião de um importante pro�ssional dos meios de comunicação e conhecido pelo seu trabalho sério e combativo. Agradecemos ao jornalista Alexandre Garcia por ter aceito o nosso convite, o que muito contribui para o reconhecimento desta obra.. Na medida em que cresce a sensação de insegurança e de impunidade, saber o que faz a polícia judiciária no Brasil cresce enormemente em importância. O cidadão comum quer saber também como são empregados os recursos, qual (ou quais) a (s) técnica (s) utilizadas, o grau de pro�ssionalismo de cada um dos pro�ssionais de segurança pública envolvidos, tudo isso aumenta a sua relevância e principalmente, como trabalha a polícia a serviço dos valores de uma sociedade democrática, identi�cando autores de delitos, produzindo um conjunto probatório valioso, en�m, para a sociedade que se a�ige diariamente, o que �ca de importante deste trabalho: resolver o crime, punir o responsável, colaborar com a justiça! Esperamos sinceramente que vocês apreciem este trabalho de pesquisa e que os inspire e incentive a discutir o que aqui está proposto. Por �m, retomando o que já foi dito no primeiro livro sobre o inquéri- to policial, esperamos que esta obra também seja útil para todos os atores da “penosa” vida jurídica, de estudantes a magistrados, tornando claro o trabalho COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 10 de investigação policial presidida pelo Delegado de Polícia que nas palavras do Ministro Marco Aurélio Melo é o “primeiro garantidor da legalidade e da justiça” (HC 84548/SP). Lembrando as palavras do Delegado Federal Fábio Ricardo Ciavolih Mota “Ninguém quer o �m do Inquérito Policial, o que todos querem é O Inquérito Policial” Palavras dos coordenadores DEDICATÓRIA “in memoriam” “In memoriam” é uma expressão em latim que signi�ca “em memória” ou “em lembrança”. Costuma estar presente em obituários, epitá�os, citações e placas comemorativas, esta expressão é frequentemente vista ou impressa em obras de arte e livros, como forma de dedicatória a alguém que já faleceu. Desde o início dos estudos que antecederam ao primeiro livro, muitos anos atrás, jamais havíamos pensado neste momento, mas infelizmente acon- teceu e não podemos deixar de agradecer (ainda que postumamente, pois em vida, seu trabalho pro�ssional, acadêmico e sua trajetória como pai exemplar sempre serão reconhecidos). O Conselho Editorial faz uma homenagem póstuma ao nosso colega o Delegado de Polícia Federal, Davi Aragão, dedicamos a você o nosso esforço intelectual e, que Deus ilumine o seu caminho! Conselho Editorial Prefácio - Edvandir Felix de Paiva Quando ocorre um desastre aéreo, os órgãos responsáveis apuram as cau- sas, não somente para de�nir culpados, mas principalmente para que estudos tornem a aviação civil mais segura, mediante o saneamento das falhas, a implan- tação de rotinas e o desenvolvimento de mecanismos preventivos. Transportan- do tal raciocínio para a investigação criminal, a Lei 12.850/2013 é produto da análise sobre um desastre denominado criminalidade organizada, em que há grupos atuando em setores que vão de presídios a palácios governamentais. Hoje, organizações criminosas comandam ações de dentro das unidades prisionais, nos diversos ramos de atuação - trá�co de armas e de drogas, roubos de cargas e assaltos a bancos - criando territórios inacessíveis ao poder público e à polícia e causando grave lesão à paz social. Noutro ponto, outros grupos criminosos comandam de dentro de órgãos públicos dilapidação do erário e desvio de recursos que deveriam chegar à população, para investimento na saúde, educação, saneamento público, estrutura viária, aeroportuária e �uvial, bem como segurança. O potencial lesivo dessas ações foi multiplicado exponencialmente e demandou uma compilação, transformação e atualização no modo de repressão, de sorte que a denominada lei do crime organizado constitui um dos principais mecanismos no combate ao mais lesivo tipo de criminalidade que a�ige o país e o mundo, dado o fenômeno da globalização inclusive das práticas delituosas. Portanto, é extremamente oportuno que o sétimo livro da Coleção Doutrina e Prática – a visão do Delegado de Polícia se debruce sobre o tema. A nova legislação trouxe a de�nição legal de organização criminosa e a correlata tipi�cação, resolvendo as recorrentes discussões doutrinárias e jurisprudenciais advindas de diplomas legais incompletos, evidenciadas COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 14 inclusive por decisão em que a Suprema Corte a�rmou não haver no Brasil um diploma legal que de�nisse e tipi�casse essa espécie de delito e que a Convenção de Palermo não supriria essa lacuna. Trouxe também maior detalhamento dos instrumentos para investiga- ção da criminalidade organizada como a colaboração premiada, ação contro- lada, in�ltração policiale o acesso a registros, dados cadastrais, documentos e informações. Sob o título “Combate às Organizações Criminosas – 12850/13, a lei que mudou o Brasil”, esta obra fundamental traz a análise de Delegados de Polícia e do Juiz Federal Valisney acerca dos aspectos teóricos e práticos que permeiam o assunto. A coleção se mantém �rme e �el à sua proposta inicial: oferecer aos alunos, pro�ssionais do Direito e interessados em geral a visão daqueles que manuseiam diariamente, em sua rotina de trabalho, os conceitos e institutos trazidos pelo legislador. Em outras palavras se trata da análise de quem vive e entende do assunto! Neste livro, Benito Tiezzi faz um histórico. Márcio Anselmo contextua- liza a aplicação da lei 12.850/2013 nas investigações desenvolvidas durante a Operação Lava Jato. Rubens Lyra e o atual adido policial do Brasil na Argenti- na, Luiz Carlos Nóbrega, apresentam o estudo da legislação comparada, mais amplo feito pelo primeiro e uma mais especí�ca em relação ao ordenamento argentino, realizado pelo segundo. Rubens Lyra, Ruchester Marreiros, Márcio Alberto, Alessandro Barreto, Francisco Sannini e Luiz Flávio Zampronha dissecam os instrumentos de in- vestigação previstos naquele diploma legal. Marcio Anselmo, Eduardo Mauat e o Juiz Federal Valisney de Souza Oliveira analisam as questões doutrinárias e práticas do instituto da colaboração premiada, o qual, em que pese não seja uma inovação da lei do crime organizado, foi aperfeiçoado e minudenciado, se tornando fundamental para os trabalhos investigativos que vieram ao conheci- mento e admiração de toda a sociedade nos últimos anos. Por �m, Tácio Muzzi 15 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL fecha com chave de ouro com o tema da recuperação de ativos, intrinsecamente ligado à descapitalização das ORCRIM e a recomposição dos danos. Seria ingênuo acreditar que não haverá mais tragédias, nem aéreas, tampouco as causadas pela criminalidade organizada. Porém, é justo desejar que elas sirvam de lições e que sejam objeto de estudos acadêmicos e de formulação de novas doutrinas. E que o legislador seja ungido por essas ideias e análises e produza novas leis como a 12.850/13, cuidando para que o ordenamento jurídico esteja sempre atualizado e e�caz a �m de permitir aos atores da persecução penal a resposta proporcional e imediata às ações dos grupos criminosos. Nesse contexto, os Delegados de Polícia são protagonistas e sua visão imprescindível. Aproveitemos as valiosas lições deste livro e aguardemos os próximos volumes da coleção! Edvandir Felix de Paiva Delegado de Polícia Federal Pós-Graduado em Ciências Penais, pelas Faculdades Anhanguera Trabalhou na Delegacia de Polícia Federal em São José do Rio Preto/SP, na Corregedoria- Geral de Polícia Federal e na Divisão de Repressão a Crimes Previdenciários É o atual presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal Prefacio - Alexandre Garcia A LEI DA ESPERANÇA Na coleção Doutrina da Polícia Federal, este é o sétimo volume. Já foram lançadas outras obras que integram bibliogra�a recomendada pelo Superior Tri- bunal de Justiça, já citados pelos menos três vezes no Supremo. Obras, por exem- plo, sobre crime cibernético, pedo�lia, colaboração premiada, medidas protetivas da mulher (em edição). Este sétimo volume, sobre combate ao crime organizado, traz um tema mais popular, de maior apelo, de maior atualidade e talvez por isso tenham convidado um jornalista, um genérico, para esta apresentação. O subtítulo deste livro registra sobre a Lei 12850/13: “a lei que mudou o país”. Mas o que realmente salva o país é a aplicação da lei; em consequência, também salvam o país os que aplicam a lei na origem, na investigação - e esses são os policiais. Os que, por vocação, desprendimento, altruísmo, patriotismo, decidem oferecer suas vidas, suas 24 horas do dia, ao serviço da lei e de seus concidadãos. Uma lei sozinha é apenas um papel escrito. Ela precisa de todos para tornar-se viva, in�uente, capaz de punir os que prejudicam os demais, descumprindo-a. Aplicar a lei gera respeito e força capazes de dissuadir os que tenham a intenção ou a tendência de delinquir. A Constituição (art.144) diz que Segurança Pública “é responsabilidade de todos”. Não deve ser fácil para as polícias cumprirem esse dever do estado num pais em que a cultura não faz com que se assuma essa responsabilidade constitu- cional. Descumprindo a lei no varejo quotidiano, estamos, na verdade, enfraque- cendo as regras que nos protegem. Certa vez, numa feira em Brasília, eu ouvia a peroração de um advogado que reclamava da falta de segurança pública, por ter-lhe sido furtado da residência um bujão de gás. Entrei na conversa fazendo uma pergunta: “Aquele BMW parado sob o sinal de estacionamento proibido é seu, doutor?” Ele teve que con�rmar e aproveitei: “Pois o senhor, que jurou cum- prir a Constituição, está transgredindo e enfraquecendo a lei. E reclama que a lei não o protege?”. Ele �cou com a cara no chão, sem resposta. É essa cultura que enfraquece as leis e faz faltar o apoio popular ao trabalho da polícia. Hoje, os resultados do combate ao crime organizado, em especial à cor- rupção, trazem a esperança de recuperar a crença popular nas leis e o apoio aos que estão no front dessa guerra. O trabalho isento dos policiais federais tem promovido avanços sobre a praga da cultura da esperteza e do oportunismo egoísta que tanto nos prejudicam como nação. Os resultados têm feito surgir perguntas nas redes sociais: em que você é diferente daqueles que você conde- na? Em que você é melhor que os criminosos que têm sido alvo do noticiário político-policial? No país em que a vizinhança saqueia um caminhão aciden- tado, a gente �ca a desejar que a ação policial seja traduzida por o crime não compensa, e um dia consiga mudar esse descaso com a lei e a ordem social. Quando a polícia ostensiva entra em “greve” e pais, mães e �lhos menores saqueiam juntos um supermercado, �ca-se a perguntar por quantas décadas precisamos ainda repetir a palavra ordem, consagrada na Bandeira. No combate ao crime organizado, a PF tem feito a sua parte, junto com o Ministério Público e a Justiça Federal. E nisso mais uma vez a conspiração dos astros ajudou na medida em que boa parte do trabalho convergiu para um juiz muito especial. Saído de lições duramente aprendidas no processo do escândalo Banestado (Banco do Estado do Paraná, operações CC5), o juiz Sérgio Moro teve a humildade ir à Polícia Federal para frequentar aulas sobre lavagem de dinheiro, evasão de divisas e operações internacionais ilícitas, com todos os seus truques e meandros. Ficou ali, nos bancos escolares e a presença dele signi�cou a união entre a polícia, que faz o inquérito e o juiz que recebe a denúncia. A e�cácia do combate ao crime organizado está na razão direta do conhecimento que o julga- dor tem da matéria e a proximidade do magistrado em relação ao inquérito. O combate ao crime organizado não pode ser mais um ciclo, neste país ciclotímico. Tem que ser contínuo, até que haja uma mudança na cultura da esperteza e do oportunismo. Constante, sem perder o impulso que hoje estimu- la os agentes da lei. Constante, independentemente dos governos que passam; constante, com a ética, a técnica e a inteligência – e, claro, também a força que, em nome da lei – garante esse trabalho. Até que os resultados se re�itam em mudanças de comportamento das pessoas, esse combate representa a Esperança no país enfraquecido pela diluição de valores. Não ouso comentar sobre um livro eminentemente técnico, mas percebo sua extrema utilidade, como um vade-mecum sobre o combate às organiza- ções criminosas, com tudo sobre investigação, sobre essa vedete do noticiário, que é a colaboração premiada e sobre o que interessa, além da punição dos criminosos: a recuperação dos ativos que o crime surrupiou. Um livro cuja utilidade não se limita aos que presidem e participam de inquéritos na Polícia Federal;é sem dúvida uma obra de estudo e consulta necessária para o Mi- nistério Público e para os juízes, além, é claro, fonte para todos os operadores e estudiosos do Direito. Um dos males do Brasil tem sido a impunidade e sempre se reclama dos legisladores a mudança de leis lenientes, que estimulam o crime. Mas também há esta lei de 2013 que pode salvar o país. A lei da Esperança. Alexandre Garcia Alexandre Garcia é formado na PUC/RS, com primeiro lugar no ves- tibular e em todo curso. Trabalhou no Jornal do Brasil por 10 anos e na TV Manchete. Foi subsecretário de imprensa da Presidência da República por 18 meses. Está na TV Globo há 30 anos. Comentarista no Bom Dia Brasil e DFTV. Ancora o programa Alexandre Garcia na GNews. Lecio- nou jornalismo na PUC/RS e no UNICEUB em Brasília. Faz comentários diários em 270 emissoras de rádio e escreve semanalmente para 17 jornais. Cobriu três guerras: Líbano, Angola e Malvinas/Falklands. Condecorado pela Rainha Elisabeth com a Ordem do Império Britânico e é detentor de 20 condecorações nacionais. EPIGRAFE aiu um avião?!... aparecem os “especialistas” em queda de avião... Copa do mundo?!... surgem os especialistas em futebol... Manifestações de rua?! materializam-se os especialistas em manifestações... Alta da in�ação?!... instantaneamente os especialistas em economia... Baixa da in�ação, ajuste �scal, impeachment?!... especialistas em política... Maioridade penal, liberação de drogas, refugiados, sim, também temos especialistas; e por aí afora... E como não poderia deixar de ser, quando se discute “segurança pública”, também há uma oportunidade única para aqueles que se autodenominam “especialistas em segurança pública”, mas que na verdade, em sua maioria ou quase a totalidade, são oportunistas! O inquérito policial – atacado e criticado por muitos desses especialistas – é o principal instrumento utilizado para se chegar à justiça no Brasil, senão o único! A luta fundamental pelo poder é a batalha pela construção de signi�cado na mente das pessoas, o que explica em grande medida a luta desenfreada desses “especialistas” em criticar a polícia e o trabalho policial, sobretudo, o inquérito. É possível haver um trabalho investigativo sério, com cadeia de custódia probatória preservada, com organização temporal, com exposição crítica e técnica dos fatos, com sigilo, com ciência, com tecnicidade... se não houver um inquérito? Todos aqueles que colaboraram para que esta obra existisse são policiais! Se não somos especialistas, ao menos somos aqueles que fazem do inquérito a razão da nossa existência e lutamos para que este instrumento �que melhor, buscando aprimorar e melhorar a cada dia que entramos em uma Delegacia em qualquer parte deste vasto país. Nós, os policiais, quando acordamos cedo (ou por vezes, nem dormimos), para ir às ruas e realizar o trabalho que escolhemos por vocação e por orgulho de pertencer a uma instituição policial, certamente podemos resumir em três palavras o nosso dia-a-dia e a nossa expectativa: força, coragem e honra! Há justiça sem polícia? C CAPÍTULO 1 HISTÓRICO DA LEI 12.850/2012 ............................................................................................ 25 Benito Tiezzi CAPÍTULO 2 A INVESTIGAÇÃO DE ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS .............................................. 111 Luís Flávio Zampronha CAPÍTULO 3 COLABORAÇÃO PREMIADA .............................................................................................. 137 Márcio Adriano Anselmo CAPÍTULO 4 SIMPLIFICANDO OS ACORDOS DE COLABORAÇÃO ............................................... 195 Eduardo Mauat da Silva CAPÍTULO 5 COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS EM AEROPORTOS A aplicação da Lei 12.850/13 - Aeroporto internacional de São Paulo – Guarulhos - Estudo de Caso .............................................................................. 231 Giovani Celso Agnoletto CAPÍTULO 6 COLABORAÇÃO PREMIADA E QUESTÕES PROCESSUAIS ........................................ 257 Vallisney de Souza Oliveira CAPÍTULO 7 AÇÃO CONTROLADA .......................................................................................................... 273 Rubens de Lyra Pereira SUMÁRIO CAPÍTULO 8 ACESSO REGISTROS A função requisitória e mandamental da polícia Judiciária na busca de dados bancários, �nanceiros e �cais na investigação criminal ............................................................................................. 293 Ruchester Marreiros Barbosa CAPÍTULO 9 INTERCEPTAÇÃO A QUEBRA DO SIGILO DAS COMUNICAÇÕES TELEFÔNICAS ................................ 321 Marcio Alberto CAPÍTULO 10 ACESSO A DADOS EM CELULAR: NECESSIDADE DE AUTORIZAÇÃO JUDICIAL ............................................................. 335 Alesandro Gonçalves Barreto Everton Ferreira de Almeida Férrer José Anchiêta Nery Neto CAPÍTULO 11 INFILTRAÇÃO POLICIAL INFILTRAÇÃO DE AGENTES REPRESENTA AVANÇO NAS TÉCNICAS DE INVESTIGAÇÃO CRIMINAL ................................................................... 351 Francisco Sannini Neto CAPÍTULO 12 RECUPERAÇÃO DE ATIVOS: ESTRATÉGIAS E DESAFIOS ........................................ 377 Tácio Muzzi CAPÍTULO 13 A LEI DE CRIME ORGANIZADO E OPERAÇÃO LAVA JATO ...................................... 393 Márcio Adriano Anselmo CAPÍTULO 14 CRIME ORGANIZADO: CONCEITO E EXEMPLOS NO DIREITO COMPARADO ......................................................................................................... 413 Rubens De Lyra Pereira CAPÍTULO 15 BREVES COMPARATIVOS ENTRE A LEI DE CRIME ORGANIZADO DO BRASIL E A LEI DE DELITOS COMPLEXOS DA ARGENTINA ............................................................................................433 Luiz Carlos Nóbrega Nelson apítulo 1 – HISTÓRICO DA LEI 12.850/2012 Benito Tiezzi1 Em 23 de maio de 2006 a então Senadora Serys Marly Slhessarenko, natural de Cruz Alta – RS, apresentou o Projeto de Lei do Senado cuja ementa descrevia: “Dispõe sobre a repressão ao crime organizado e dá outras providências.” A proposição foi denominado PLS no 150 de 2006. A justi� cação da parlamentar foi no sentido de “disciplinar a investigação criminal, os meios de obtenção de prova e o procedimento judicial aplicável ao referido crime, sem desrespeito às garantias do devido processo legal, tampouco às atribuições constitucionais dos órgãos envolvidos na persecução criminal.” Nos seus argumentos salientou que “a proposta diverge de outras inicia- tivas legislativas que escolheram o verbo “associar” como núcleo do tipo penal em construção. Ora, não nos parece que as idéias participantes do vocábulo “associar” sejam su� cientemente explícitas para a compreensão mais abrangen- te do fenômeno delitivo que mereça o nomen iuris de “crime organizado” (não obviamente de “organização criminosa”, que possui um sentido mais sociológi- co do que jurídico-penal). O fato criminoso a ser descrito não se resume à mera reunião, agregação, partilha ou divisão de alguma coisa, ou seja, na conduta de união, em si mesma, de um certo número de pessoas, mas sim na ação prece- dente de promover, constituir, � nanciar, cooperar ou integrar essa associação.” Também esclarecia: Antes de tudo, é mister que se explicitem os verbos que constituem o núcleo do tipo penal, os quais retratam condutas humanas que evidenciam a aludida prática criminosa. Para tanto, recorreu-se a cinco verbos que também são desprovidos de carga de ilicitude, mas que adquirem tal característica quando postos em conexão com os outros elementos da composição típica. Promover quer dizer “ser a causa de, gerar, provocar”; constituir signi� ca “ formar, organizar, criar”; � nanciar designa a idéia de “sustentar os gastos (de, com), prover o capital necessário para; custear, bancar”; cooperar representa “atuar, juntamente com outros para um mesmo � m, contribuir com 1 Delegado de PolíciaCivil do Distrito Federal C COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 26 trabalho, esforços, auxílio, colaborar”; e integrar exprime o conceito de “ incluir-se um elemento no conjunto, formando um todo coerente, incorporar-se, integralizar”. A primeira indagação é saber quem poderia realizar tais ações. A �gura criminosa não descreve pessoa determinada, com características próprias para ser o sujeito ativo do crime organizado. Qualquer um pode, em tese, atuar no crime organizado, e não apenas pessoalmente, mas também através de interposta pessoa. Nada impede, portanto, que alguém possa agir às ocultas, colocando-se por detrás do operar criminoso. O que não se admite é que uma pessoa isolada baste para a con�guração típica. Trata-se, no caso, de fm1014t2-200306987 12 um crime plurissubjetivo que exige o número mínimo de cinco pessoas. Assim, no momento em que houver a convergência de vontades entre cinco ou mais pessoas para a constituição do crime organizado, o tipo dar-se-á por consumado. Note-se que o “promover”, o “constituir”, o “�nanciar”, o “cooperar” e o “ integrar” só passam a ter relevância típica quando se vinculam a um determinado objeto, qual seja, uma associação que não prescinde de algumas características próprias: a) ser constituída de cinco ou mais pessoas. Essa pluralidade de pessoas, como dissemos, é inafastável; b) apresentar estrutura organizacional estável e hierarquizada, bem como divisão de tarefas entre seus integrantes. É imprescindível que a associação possua um mínimo de organização de pessoas e de meios e tenha uma certa estabilidade, isto é, tenha a duração temporal necessária para a realização de sua �nalidade, ou, dito de melhor forma, revele ser algo autônomo que ultrapasse um acordo de vontades meramente ocasional; c) ter caráter tanto lícito quanto ilícito, pois nada obsta que a forma de estruturação da associação siga as regras exigíveis para a sua constituição legal. Isso permitirá que sejam reprimidas as atividades criminosas perpetradas por meio de empresa juridicamente construída. Sabe-se, ainda, que crime organizado, para que possa atingir seu escopo, emprega determinados modos de execução. Há um espectro muito amplo de modus operandi. Freqüentemente, vale-se da violên- cia, da força intimidativa, da manobra fraudulenta, do trá�co de in�uência ou mesmo de atos de corrupção. Infelizmente, não há como negar a estreita ligação entre o crime organizado e a corrupção. 27 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL Os incisos I a XVI do art. 2° da proposição relacionam os vários delitos que o crime organizado pode empreender. No que se refere aos crimes contra a administração pública, crimes contra o sistema �nan- ceiro e crimes contra a ordem econômica ou tributária, entendemos melhor limitar os tipos que ensejam a atuação do crime organizado. É que várias �guras típicas incluídas entre os crimes contra a admi- nistração pública, como também o art. 4º da Lei 7.492, de 1986, e mesmo os crimes contra as relações de consumo, não traduzem as formas mais reprováveis de associação criminosa. Em contrapartida, o projeto não ignora diversas condutas que, por sua natureza, devem ser equiparadas ao crime organizado (vide art. 2º, §§ 1º e 2º). Com relação aos meios de obtenção de prova, entendemos que a interceptação das comunicações telefônicas e a quebra dos sigilos �nan- ceiro, fm1014t2-200306987 13 bancário e �scal já estão disciplina- dos em legislações especí�cas (Lei nº 9.296, de 24 de julho de 1996, e Lei Complementar nº 105, de 10 de janeiro de 2001), as quais, indubitavelmente, oferecem um melhor tratamento da matéria. Não haveria razão, portanto, para desconsiderar o marco legal em vigor. Daí recorrermos à remessa para a legislação especí�ca (art. 3º, II e V). No que se refere à colaboração premiada, o projeto manteve-se �el à idéia de que a extinção da punibilidade ou a redução da pena devem partir do Poder Judiciário. A nosso sentir, a�gura-se inconsti- tucional a proposta de atribuir tal competência ao órgão acusador. Isso implicaria verdadeiro esvaziamento de poder, função e atividade do órgão judicial, com �agrante desrespeito à garantia de que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito” (art. 5º, XXXV, da CF) e, no âmbito processual, afronta à cláusula do devido processo legal (art. 5°, LIV, da CF). A proposta não hesita, ainda, em suprimir o instituto da “ in- �ltração policial” do direito brasileiro (art. 2º, V, da Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995), porque viola o patamar ético-legal do Estado Democrático de Direito, sendo inconcebível que o Estado-Administra- ção, regido que é pelos princípios da legalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), admita e determine que seus membros (agentes po- liciais) pratiquem, como co-autores ou partícipes, atos criminosos, sob o pretexto da formação da prova. Se assim fosse, estaríamos admitindo que o próprio Estado colaborasse, por um momento que seja, com a COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 28 organização criminosa na execução de suas tarefas, o que inclui até mesmo a prática de crimes hediondos. Muito melhor será que o Esta- do-Administração, localizando uma organização criminosa, ao invés de in�ltrar nela seus agentes, debele essa organização, seja de forma imediata ou retardada (através de ação controlada). Não bastassem as razões constitucionais, éticas, legais e lógicas já destacadas, ainda é possível opor outros argumentos de ordem prática contra a “ in�ltração de agentes”. A situação mais grave será o desres- peito a qualquer limite jurisdicional imposto à atuação dos agentes in- �ltrados. Imagine-se, por exemplo, quando o agente in�ltrado estiver na presença de criminosos e lhe for ordenada a prática de um crime (v. g., o homicídio de um tra�cante preso pela organização rival). Nessa situação, o agente não terá como escolher entre cometer e não cometer o crime (limite imposto judicialmente), pois, se não obedecer aos inte- grantes da organização, poderá simplesmente ser executado. É isso que o Estado pretende de seus agentes? É isso que podemos esperar de um Estado Democrático de Direito? É isso que podemos denominar por “moralidade pública”? Resta destacar que os mais experientes policiais já são conhecidos dos criminosos, logo, as pessoas escolhidas para essa difícil missão, de escolher entre a própria “ ida” ou o desrespeito aos limites judiciais de�nidos para a sua atuação, serão policiais recém ingressos na carreira, sem qualquer experiência e ainda com bases ético-pro�ssionais não solidi�cadas, o que, não resta dúvida, poderá propiciar o surgimento de “agentes duplos”. Quanto ao acesso a dados cadastrais, registros, documentos e informações, o projeto pautou-se pela estrita obediência aos preceitos constitucionais, notadamente ao art. 5º, X, XI e XII, da CF. Em que pese inexistir garantia absoluta em nosso ordenamento jurídico, caberá ao órgão judicial ponderar, no caso concreto, o con�ito entre os direitos individuais e o interesse coletivo. Tal responsabilidade não poderia �car a cargo do órgão policial ou do Ministério Público, cujas funções, na persecução criminal, são bem outras. A fórmula adotada é, seguramente, a mais adequada para evitar devassas injusti�cadas e medidas afoitas (art. 3º, parágrafo único). 29 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL Em termos do procedimento penal, o art. 18 da proposição prevê que o interrogatório do acusado preso poderá ser realizado no estabe- lecimento prisional em que se encontrar, em sala própria, desde que estejam garantidas a segurança do juiz, auxiliares e demais partici- pantes, a presença do defensor e a publicidade do ato, assegurando-se, ainda, o direito de entrevista reservada, por tempo de até trinta mi- nutos, do acusado com seu defensor. A matéria relativa ao direito de apelar em liberdade foi disci- plinada em consonância com o princípio da presunção de nãoculpa- bilidade (art. 5º, LVII, da CF).Ao contrário do texto legal em vigor, sobre o qual pairam fortes dúvidas de inconstitucionalidade (“o réu não poderá apelar em liberdade”, art. 9º da Lei nº 9.034, de 1995), preferimos uma redação mais equilibrada e compatível com o referido princípio constitucional, atribuindo ao juiz o dever de justi�car a necessidade da prisão provisória antes do trânsito em julgado da con- denação (art. 25). Na mesma data de sua propositura, o projeto de lei recebeu o seguin- te despacho: “À Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania em decisão terminativa onde poderá receber emendas por um período de cinco dias úteis, após sua publicação e distribuição em avulsos.” Em 07 de novembro de 2007, o Relator da matéria, o então Senador Aloizio Mercadante, oferece parecer onde, analisando a matéria, dispõe: É, certamente, louvável a preocupação dos ilustres autores das Emendas com o aperfeiçoamento do PLS nº 150, de 2006. No que concerne à exclusão do número mínimo de integrantes para que se con�gure uma organização criminosa, tal como pretende a Emenda nº 25, a nosso sentir, haveria confronto com o texto da Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado Transnacional, promulgada pelo Decreto Presidencial nº 5.015, de 12 de março de 2004, cujo art. 2º, alínea a, de�ne Grupo criminoso organizado como um grupo estruturado de três ou mais pessoas, existente há algum tempo e atuando concertadamente com o propósito de cometer uma ou mais infrações graves ou enunciadas na presente Convenção, com a intenção de obter, direta ou indiretamente, um benefício econômico ou outro benefício material. COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 30 A Emenda nº 26 propõe alterar o § 1º do art. 2º para prever que, nas mesmas penas do caput, incorrerá o agente que, por meio de organização criminosa, intimide ou in�uencie qualquer funcio- nário público e não apenas aqueles envolvidos na apuração de crimes relativos à atuação de organizações criminosas. De fato, parece-nos inapropriada a restrição constante da redação atual do PLS. Apresen- tamos, assim, subemenda, nos termos propostos pelo Senador Marconi Perillo, com alguns ajustes redacionais. Porém, no que se refere à segunda alteração proposta por esta Emenda, entendemos desnecessária a inserção do termo “explosivo” no § 2º do art. 2º do PLS nº 150, de 2006, haja vista a redação atual já contemplar “ instrumentos destinados ao crime organizado”, os quais certamente os abrangem. Entre os crimes enumerados no parágrafo único do art. 1º do PLS nº 150, de 2006, consta o crime contra empresas de transporte de valores ou cargas e receptação de bens ou produtos que constituem pro- veito auferido por esta prática criminosa. O Senador Marconi Perillo tem razão ao a�rmar que o bem jurídico a merecer tutela da futura lei não é a empresa em si, mas o transporte de valores ou cargas. Apre- sentamos, porém, subemenda, uma vez que o dispositivo a ser alterado é o inciso IX do art. 2º do PLS e não o inciso VIII, conforme constante da Emenda nº 27. Por meio da Emenda nº 28, pretende-se incluir entre os meios de obtenção de prova a quebra do sigilo de correspondência. Ocorre que o art. 5º, XII, da Constituição Federal determina ser inviolável o sigilo da correspondência. A violação dessa garantia constitucional em relação a pessoas que sequer se encontram sob custódia de um es- tabelecimento penal e com estrita �nalidade de reunir provas não se justi�ca. A própria Constituição excepciona esse direito tão-somente nos casos de decretação de estado de defesa e de sítio (art. 136, § 1º, I, b, e art. 139, III). As Emendas nº 29, 30 e 32, do Senador Pedro Simon, preten- dem regulamentar o instituto da colaboração premiada, ressaltando a atuação do Ministério Público, o qual deverá, inclusive, formular a proposta. Vale lembrar que, no direito brasileiro, tem prevalecido, em termos de colaboração premiada, a redução da pena, admitindo-se, em caráter excepcional, o perdão judicial (art. 1º, § 5º, da Lei nº 9.613, 31 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL de 1998; art. 13 da Lei nº 9.807, de 1999; art. 32, § 3º da Lei nº 10.409, de 2002). As Emendas referidas, diferentemente, privilegiam a discricionariedade do órgão acusador, cuja constitucionalidade pode, inclusive, ser contestada. Por exemplo, propõe-se que a sentença �cará vinculada aos termos do acordo celebrado entre o investigado e o Minis- tério Público (Emenda nº 29). Isso, a nosso ver, contraria os princípios constitucionais da individualização da pena, da independência e do li- vre convencimento do magistrado (arts. 5º, XLVI e XXXV, e 93, IX, da CF). Parece-nos mais adequado que o debate sobre este e outros aspectos da colaboração premiada sejam objeto de um projeto de lei especí�co. Quanto à alteração de�nitiva da identidade civil do colabora- dor, tal como preconizada pela Emenda nº 31, já existe essa previsão no ordenamento jurídico vigente. A Lei nº 9.807, de 13 de julho de 1999, estabelece normas para a organização e a manutenção de pro- gramas especiais de proteção a vítimas e a testemunhas ameaçadas, institui o Programa Federal de Assistência a Vítimas e a Testemunhas Ameaçadas e dispõe sobre a proteção de acusados ou condenados que tenham voluntariamente prestado efetiva colaboração à investigação policial e ao processo criminal. O art. 16 da citada Lei altera o art. 57 da Lei nº 6.015, de 31 de dezembro de 1973 (Lei de Registros Públicos), para disciplinar o procedimento a ser seguido pelo juiz no caso de alteração de nome em razão de fundada coação ou ameaça decorrente de colaboração com a apuração de crime. No que tange à realização do interrogatório por meio de video- conferência (Emenda nº 33), essa possibilidade já foi inserida no texto do projeto por meio da Emenda nº 10-CCJ. O mesmo ocorre com a Emenda nº 35, pois o texto �nal aprovado nesta Comissão também já faz referência, de forma genérica, a “órgãos de inteligência brasilei- ros”, retirando a menção expressa e restritiva ao Sistema Brasileiro de Inteligência – SISBIN (conforme Emenda nº 11-CCJ). Quanto à possibilidade de con�sco (Emenda nº 34), cumpre es- clarecer que ela dispensa previsão expressa no projeto, uma vez que o art. 91 do Código Penal – que determina a perda em favor da União de produto ou proveito do crime – é aplicável tanto a crimes de sua Parte Especial quanto aos tipi�cados em legislação extravagante. Além disso, o PLS nº 150, de 2006, prevê a possibilidade de o juiz COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 32 “decretar, no curso da investigação ou da ação penal, a apreensão ou seqüestro de bens, direitos ou valores do acusado, ou existentes em seu nome, objeto dos crimes previstos nesta Lei, procedendo-se na forma dos arts. 125 a 144 do Decreto-Lei nº 3.689, de 3 de outubro de 1941 – Código de Processo Penal” (art. 22, caput). Por �m, a Emenda nº 36 sugere a alteração do art. 288 do Código Penal para caracterizar o crime de quadrilha ou bando pela associação de três ou mais pessoas, para o �m de cometer infração penal e não apenas crime, conforme o ordenamento vigente. Vale lembrar que mesmo o texto original do PLS nº 150, de 2006, já contemplava a alteração nos termos sugeridos pela Emenda. Em seu voto, o Relator pugna pela “rejeição das Emendas nºs 25 e 28 a 36 – PLEN, e pela aprovação das Emendas nºs 26 e 27 – PLEN, apresentadas ao PLS nº 150, de 2006, na forma das seguintes submendas:” SUBMENDA À EMENDA Nº 26 – PLEN Dê-se ao § 2º do art. 2º do PLS nº 150, de 2006, a seguinte redação: “Art. 2º............................................... ........................................................... § 2º Nas mesmas penas incorre quem: I – por meio de organização criminosa: a) frauda licitações em qualquer de suas modalidades, ou concessões, permissões e autorizações administrativas; b) intimida ou in�uencia testemunhas ou funcionários públicos responsáveis pela apuração de infração penal; c) impede ou di�culta a apuração de crimeque envolva organização criminosa. II – �nancia campanhas políticas destinadas à eleição de candidatos com a �nalidade de garantir ou facilitar as ações de organizações criminosas.” 33 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL SUBMENDA À EMENDA Nº 27 – PLEN Dê-se ao inciso IX do art. 2º do PLS nº 150, de 2006, a seguinte redação: “Art. 2º ..................................................... .................................................................. IX – contra o transporte de valores ou cargas e a receptação dolosa dos bens; .................................................................................................” Votado o parecer do Relator, a Comissão de Constituição, Justiça e Cida- dania, em Reunião Ordinária realizada nesta data, após as adequações redacio- nais sugeridas pelo Relator, Senador Aloizio Mercadante, na alínea b, inciso I, § 2º, do art. 2º, constante da Subemenda à Emenda nº 26, de Plenário, decide pela aprovação das Emendas nºs 26-PLEN e 27-PLEN, na forma das Submen- das-CCJ, e pela rejeição das Emendas nºs 25-PLEN e 28-PLEN a 36-PLEN. A proposição permaneceu na Comissão de Constituição, Justiça e Cidada- nia do Senado até que, em face do acolhimento, pelo Plenário, do Requerimen- to nº 334, de 2009, de autoria do então Saudoso Senador Romeu Tuma, apre- sentado por ocasião do anúncio da matéria na Ordem do Dia de 31 de março de 2009, a matéria retornou à CCJ para nova análise, nos termos do art. 279, inciso II, do Regimento Interno do Senado Federal, tendo-se por justi�cação, segundo o autor, a necessidade de substituir-se, no corpo da proposição, nota- damente nos dispositivos atinentes ao denominado “procedimento criminal”, a expressão “investigação” por “inquérito policial”. Em novo parecer, o Relator, ainda o então Senador Aloizio Mercadante, revisa integralmente o PLS 150 de 2006 e, em sua análise, dispõe: Embora a Convenção das Nações Unidas contra o Crime Organizado (Convenção de Palermo) ofereça, em seu art. 3º, com as remissões aos arts. 2º, 5º (notadamente, o número 3 da alínea “b” do parágrafo 1), 6º (em especial, as alíneas “a” e “b” do parágrafo 2), 8º e 23, meios para o legislador arrolar infrações penais que sirvam de supedâneo para a tipi�cação – autônoma, frise-se -- do crime de organização de facção criminosa, convenci-me da pertinência da tese esposada pela Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 34 à Lavagem de Dinheiro – ENCCLA, quanto à conveniência de o legislador �xar um critério objetivo, que é o da 4 prática de “ infração grave”, assim entendido o ato que “constitua infração punível com uma pena de privação de liberdade, cujo máximo não seja inferior a quatro anos ou com pena superior” (art. 2º, parágrafo único, alínea “b”, da Convenção de Palermo, incorporada à ordem jurídica nacional por via do Decreto nº 5.015, de 2004). Destarte, reconsiderando minha posição anterior, opto por não distinguir um rol de infrações penais porque o que importa é a tipi�cação da conduta de constituir uma organização criminosa, crime contra a paz e/ou a ordem pública, e que não está atrelado às espécies de infrações para as quais a organização é constituída. Bem lembrou aqui, perante esta Comissão, a Juíza Federal Salise Monteiro Sanchotene, Presidente do Grupo Jurídico da ENCCLA, a título de ilustração, que o crime de estelionato contra a Previdência Social não estaria no rol da proposição, e que esse delito pode ser praticado por organização criminosa destinada a isso. Assim, entendo ser melhor estabelecer o critério limitativo de aplicação do tipo de organização criminosa com base na duração máxima da pena. A alteração, além de conferir maior coerência ao sistema, que dá tratamento mais grave aos crimes que o legislador assim considerou, ao de�nir suas penas, facilita a aplicação da lei pela inexistência de elenco detalhado de crimes e obsta modi�cação, pelo juiz, da classi�cação do delito para “quadrilha ou bando”, ante eventual alegação dos réus de ser numerus clausus o arrolamento estabelecido ou imprecisa a tipi�cação. Mas é certo, também, que pode haver caráter transnacional, foco das preocupações da Convenção de Palermo, em delitos para os quais a legislação interna preveja pena máxima inferior a quatro anos. Cito aqui o caso do crime tipi�cado no art. 206 do Código Penal, com a rubrica de “aliciamento para �m de emigração”, que se enquadraria no gênero convencional de “trá�co de migrantes”. Ocorre, porém, que a pena máxima prevista no indigitado dispositivo codi�cado para a infração ali tipi�cada é de três anos. Dessa maneira, uma organiza- ção criminosa voltada para a emigração ilegal de trabalhadores não seria considerada como tal, mas como quadrilha ou bando e, portan- to, sujeita a pena menor do que a prevista nesta proposição. 35 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL Pelo exposto, acredito que a melhor formulação para o parágrafo único do art. 1º (que passaria a ser § 1º pela razão adiante apresen- tada) seria a seguinte: §1º Considera-se organização criminosa a associação, de três ou mais pessoas, estruturalmente ordenada e caracterizada pela divisão de tarefas, ainda que informalmente, com objetivo de obter, direta ou indiretamente, vantagem de qualquer natureza, mediante a prática de crimes cuja pena máxima seja igual ou superior a quatro anos ou que sejam de caráter transnacional. Corolário da reforma do parágrafo único do art. 1º, com a supressão do inciso XIX -- “outros crimes previstos em tratados ou convenções internacionais de que o Brasil seja parte” --, é a inserção de um novo parágrafo que assegure a observância do disposto no inciso expungido e, outrossim, dê conta da adequada aplicação da cláusula constitucional de extraterritorialidade da lei penal, nos termos do inciso V do art. 109 da Constituição Federal. Desta forma, teríamos, ainda no art. 1º, o seguinte parágrafo: §2º Esta lei se aplica também aos crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciproca- mente. Tomando por referência o piso da pena restritiva de liberdade para o delito de “associação para o trá�co”, prevista no art. 35 da Lei nº 11.343, de 2006, julgo oportuno reduzir o mínino da sanção penal de cinco para três anos, em observância à técnica de sistematicidade. Como a pena do delito em exame deve ser aplicada “sem prejuízo das penas correspondentes aos demais crimes praticados”, estou convencido da adequação técnica de se �ncar como ponto de partida uma pena razoável, cominada tão-somente para a associação organizada em si, e, após, acrescentarem-se causas de aumento, conforme o per�l da organização. Em decorrência, modi�cações precisariam ser levadas a cabo no corpo do art. 2º, com maior modulação das causas de aumento de pena, fazendo-se uso dos fatores assinalados em quantidade �xa ou em limites. Daí resulta meu entendimento de que o fato de haver em- prego de arma de fogo deve ser causa de aumento da pena �xada já na COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 36 quantidade máxima do limite previsto no § 3º do art. 2º, o que faz com que essa particularidade deve ser gravada em dispositivo especí�- co, deslocado do atual § 3º, o qual seria renumerado. O § 4º do art. 2º, igualmente, considerado o tratamento sistêmico da matéria, precisaria ser alterado, trocando-se a causa de aumento de pena por circunstância agravante, dado que, consoante o disposto no art. 62, inciso I, do Código Penal, o exercício de direção de atividade criminosa agrava a pena quando essa é calculada pela autoridade judicial. Passo agora aos reparos que merecem ser feitos no § 3º, que, em virtude do desdobramento a que me referi acima, terá nova numera- ção. A causa de aumento de pena deve ser mudada: “de um terço até a metade” seria cambiado para “de um sexto até dois terços”. A mudan- ça é feita para guardarproporcionalidade com as causas de aumento previstas no Código Penal, além de dar maior amplitude ao grau de elevação, possibilitando que o juiz individualize adequadamente a pena, conforme a realização concreta das causas de aumento. O inciso I do referido parágrafo deve ser suprimido. Com efeito, a quantidade de participantes estipulada não se baseia em nenhum critério objetivamente de�nido. Não se consegue justi�car por que uma organização constituída por dez pessoas seria menos lesiva que outra constituída por quinze ou vinte pessoas. As hipóteses – concurso de agente público responsável pela repres- são criminal – e – colaboração de criança e adolescente – não guar- dam relação alguma entre si. Portanto, devem ser desmembradas em dois incisos autônomos. Mas, neste passo, é preciso ter em mente que o concurso de funcionário público, em sentido genérico, previsto no inci- so III do §3º, já agasalha o “agente público responsável pela repressão criminal”. Como não há nenhuma diferenciação na gravidade do au- mento de pena entre o inciso II e inciso III, é bastante que se considere apenas a hipótese mais ampla. Os incisos IV e V, que adiciono ao parágrafo, cuidam de causas de aumento que levam em conta a irradiação territorial da atuação da organização criminosa por força de conexões internas e externas, o que acarreta maior e mais dispendioso desempenho do poder público na persecução e punição dos meliantes, com mobilização de distintas circunscrições e jurisdições e articulação de vários Estados nacionais. 37 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL Proponho nova redação para o § 6º desse mesmo artigo. O obje- tivo seria, neste caso, dar tratamento à matéria de forma equivalente àquela adotada pelo Senado Federal no PLS nº 138, de 2007 (PL nº 1396, de 2007, na Câmara dos Deputados), de autoria do Senador Demóstenes Torres. Já no art. 3º, advogo a supressão, em seu inciso I, da expressão “do investigado ou acusado”. A uma, porque é desnecessária; a duas, porque, com a supressão, se alcança harmonização em todo o artigo, posto que os incisos seguintes apenas enumeram as técnicas sem in- formar o destinatário ou agente. No inciso II, substituo o vocábulo “ interceptação” por “captação”, que, tecnicamente, é considerado mais apropriado e deve, portanto, ser empregado (art. 11, inciso I, alínea “a”, da Lei Complementar nº 95, de 1998). Inciso IV: proponho, nesse ponto, a ampliação das bases acessíveis em termos compatíveis com o que já foi discutido nesta Comissão, quando da apreciação do PLS nº 140, de 2007, relatado pelo Senador Jarbas Vasconcellos, sendo autor o Senador Demóstenes Torres. Rati�co, após muito re�etir, minha posição favorável à manu- tenção do instituto da “ in�ltração policial”. Durante os debates, tornaram-se evidentes as resistências a esse recurso de investigação. A própria autora, Senadora Serys Slhessarenko, ao justi�car a proposi- ção, defendera a supressão do inciso V do art. 2º, da Lei nº 9.034, de 3 de maio de 1995, acrescentado pela Lei nº 10.217, de 2001, aduzindo, na oportunidade, que a in�ltração violaria “o patamar ético-legal do Estado Democrático de Direito, sendo inconcebível que o Estado-Administração, regido que é pelos princípios da legalidade e da moralidade (art. 37, caput, da CF), admita e determine que seus membros (agentes policiais) pratiquem, como coautores ou partícipes, atos criminosos, sob o pretexto da formação da prova. Se assim fosse – prossegue a representante do Estado do Mato Grosso – estaríamos admitindo que o próprio Estado colaborasse, por um momento que seja, com a organização criminosa na execução de suas tarefas, o que inclui até mesmo a prática de crimes hediondos. Muito melhor será que o Estado-Administração, localizando uma organização crimino- sa, ao invés de in�ltrar nela seus agentes, debele essa organização, seja de forma imediata ou retardada (através de ação controlada).” COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 38 Mais ainda tenho a mencionar como motivo de preocupação em torno dessa questão. A Senadora Serys Slhessarenko e o Senador Ro- meu Tuma chamaram a atenção, em especial, para o problema da segurança pessoal do agente policial in�ltrado que se apresente recal- citrante quando instado a praticar determinada ação delituosa por membros da organização criminosa. Observo, inicialmente, em face das alegações de inconstitucio- nalidade, que o inciso V do art. 2º da Lei nº 9.034, de 1995, não foi, até o presente momento, objeto de qualquer impugnação, em sede de controle concentrado de constitucionalidade, perante o Supremo Tribunal Federal, mesmo já tendo sido o referido diploma legal sub- metido ao crivo da revisão judicial pela Suprema Corte (v. ADI nº 1.570, de 2004). A in�ltração policial também está prevista no art. 53, inciso I, da Lei nº 11.343, de 2006, cuja constitucionalidade segue irretocável. Estamos aqui naquela situação em que, valendo-me de metáfora, se torna necessária a inoculação de uma vacina produzida a partir de veneno para sanar um mal maior. Sem dúvida alguma, esta será uma decisão difícil a ser tomada, cum granum salis, no curso de uma investigação. Deve ser evitada a todo custo, mas não há de ser descar- tada. A in�ltração pode ser, de acordo com a situação se apresente, inevitável, levando a que o juiz tenha de decidir por autorizá-la, de forma “circunstanciada, motivada e sigilosa”. Repito: a autorização judicial deverá ser pormenorizada, o que, certamente, implicará esti- pulação dos limites, na atuação do agente in�ltrado, do que venha a ser estrito cumprimento de dever legal, para efeito de consideração de exclusão de antijuridicidade, nos termos da legislação penal. Ademais, não é crível que se venha a encetar a in�ltração sem liame com a ação controlada, o que, com efeito, permitiria obstar movimentos do agente in�ltrado se constrangido pelos membros da organização criminosa. Todavia, por cautela, julgo conveniente introduzir neste capítulo toda uma seção que venha a dispor sobre um rito a ser rigorosamente obser- vado, se necessária a in�ltração. Tecerei considerações detalhadas um pouco mais adiante. Após ter ouvido as judiciosas advertências do Presidente do STF, Sua Excelência o Ministro Gilmar Mendes, admito que reparos, de larga monta, devem ser feitos também no art. 4º, que trata da “colaboração premiada”. 39 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL Devemos examinar o instituto com muito cuidado. A�nal, ainda é incipiente a experiência brasileira com o plea bargain, essa interes- sante prática do direito anglo-saxão. De fato, desde a vigência da Lei nº 9.807, de 1999, na qual foram dispostos procedimentos relativos aos réus colaboradores, muito se tem discutido a respeito de variados aspectos ligados à sua aplicação. Assinalo, primeiramente, que deveria ser reconhecida a possibi- lidade de concessão dos benefícios ex o�cio, pelo magistrado. Vem de longa data essa tradição no direito brasileiro, não sendo razoável que o juiz deixe de aplicar os benefícios quando o acusado colaborou efe- tivamente e esse fato é reconhecido pelo juiz na sentença. Ademais, a leitura da Lei nº 9.807, de 1999, permite-nos observar que já há pre- visão da concessão do perdão judicial de o�cio (art. 13). Portanto, com o �m de preservar o avanço atingido por referida norma, creio ser de importância permitir que a autoridade judicial conceda tais benefí- cios sem a necessidade de provocação das partes. Havendo provocação, é de todo conveniente que a postulação seja formulada conjuntamente, de maneira a deixar assente a aquiescência do Ministério Público com o benefício requerido. De outra parte, não haveria sentido facultar ao magistrado conce- der o perdão judicial e não permitir a substituição da pena. A possibili- dade de substituição da pena é relevante para dar maior amplitude aos benefícios e, em consequência, maior e�cácia à colaboração. O termo “alternativamente”, constante da parte �nal do caput do art.4º, foi retirado para que reste claro que os benefícios dispostos na parte inicial do artigo serão arbitrados pelo juiz de acordo com a efetividade e e�cácia da colaboração. A redação anterior permitia a interpretação de que o cumprimento de quaisquer dos incisos daria o direito ao réu colaborador de obter o grau máximo de benefícios. Não se quer com isso exigir que as hipóteses previstas nos incisos ocorram de forma cumulativa, mas sim que a dosimetria do benefício leve em conta o grau de e�cácia da colaboração. Reportando-me a alterações já levadas a efeito nos arts. 7º e 13, pelas Emendas nº 5 e 7- CCJ (v. Parecer nº 264, de 2007), os incisos I e III são modi�cados e o inciso II aditado, tão-somente para �ns de padronização, substituindo-se a expressão “crime organizado” por “organização criminosa”. COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 40 O parágrafo único desse artigo é, após pequenos ajustes redacio- nais e agregação da variável “e�cácia da colaboração”, transformado em § 1º, por conta dos que lhe devem seguir. O § 2º que ora se insere traz como proposta uma cláusula de me- lhoramento do benefício deferido, permitindo ao juiz, por provocação do Ministério Público, reconhecer a posteriori que a colaboração pres- tada foi mais completa e e�ciente do que inicialmente se acreditava, no momento da celebração do acordo, e que, portanto, tratamento ainda mais bené�co deve ser admitido para o colaborador. O § 3º leva em conta a possibilidade de o resultado da colabora- ção não ser imediato. Eventualmente, pode ser demorado o interregno entre a colaboração e a fruição no procedimento das informações re- colhidas. Por outro lado, o prazo processual penal para o oferecimento da denúncia tem limitação temporal. Esta alteração possibilita que a colaboração continue sendo prestada, sem que o Ministério Público �que obrigado ao cumprimento do prazo de quinze dias (réu solto) previsto no Código de Processo Penal. Evita-se, assim, uma denúncia precipitada, sem todos os elementos de convicção, preocupação exter- nada perante a Comissão pelo Presidente do STF, Ministro Gilmar Mendes. Quanto ao prazo de denúncia em caso de réu preso (cinco dias, pelo CPP), se essa prisão se dever apenas ao inquérito no qual está ocorrendo a colaboração, esse prazo não se aplica, ou seja, a prisão não seria mantida por seis meses sem oferecimento da denúncia (res- salvado o caso de o réu estar preso por outro motivo). Trata o § 4º da hipótese de um acordo de imunidade seme- lhante ao acordo de leniência previsto nos arts. 35-B e 35-C da Lei nº 8.884, de 1994. A propositura da ação penal �ca sobrestada pelo prazo da colaboração. Se a colaboração for realmente efetiva, superior àquelas que dariam margem à simples redução de pena, não sendo o colaborador o líder da organização criminosa, e sendo ele o primeiro a prestar colaboração, o benefício concedido poderá consistir em não ser denunciado. Esse acordo de sobrestamento esteve previsto nos arts. 32, §2º e 37, IV, da Lei nº 10.409, de 2002, sendo bom salientar que este instituto é derivado do princípio da oportuni- dade da ação penal, típico do sistema acusatório instituído pelo art. 129, I da Constituição Federal. 41 12.850/13 - A LEI QUE MUDOU O BRASIL O § 5º introduz regra de exceção pertinente à exigência, como norma geral, de primariedade para o �m de concessão de benefício de redução de pena ou progressão de regime. É que o requisito pode restringir muito a aplicação do instrumento da colaboração porque, não raro, o colaborador já tem passagens na justiça criminal e é rein- cidente. É preciso ter claro que a colaboração não visa apenas bene�- ciar o réu, em relação ao delito que praticou. Seu objetivo principal é otimizar a justiça criminal como um todo, na medida em que permite a apuração e a prova de outros crimes graves, o desbaratamento da criminalidade sistêmica, o estancamento da contumácia, bem como a recuperação de bens e valores, o que pode só poderá acontecer se a cola- boração não �car limitada ao processo e ao delito que o réu cometeu. Note-se que a regra do § 5º não se confunde com a do § 2º: nessa – o § 2º -- há colaboração desde o início, enquanto que o § 5º prevê be- nefício para colaboração prestada após a sentença ter sido prolatada. Tendo em vista a adoção do sistema acusatório pelo Brasil, o juiz não deve intervir na negociação entre as partes, a não ser para garantir os direitos fundamentais do réu. É o que procuro deixar explícito no § 6º do art. 4º. Não obstante, os §§ 7º e 8º destacam o poder judicial de supervisão das tratativas para veri�cação de ocorrência de vício de vontade, de forma, ilegalidade ou lesão a direito fundamental do réu. Quanto ao § 9º, embora reconheça o seu potencial de suscitar po- lêmicas, creio que deva ser adicionado. Este parágrafo visa explicitar a possibilidade de retratação do acordo de colaboração, com a salva- guarda do direito fundamental à não-autoincriminação. Como mencionei, o acordo é inicialmente submetido ao controle dos §§7º e 8º. Posteriormente, e é disso que trata o § 10, o juiz avalia- rá a efetividade e a e�cácia da colaboração, de forma a analisar se os termos do acordo foram cumpridos pelo colaborador, passando a fazer jus aos benefícios acordados. Se o colaborador for excluído do processo por perdão judicial ou acordo de sobrestamento, ainda assim poderá ser ouvido como testemu- nha, isto é, com a obrigação de dizer a verdade (cf. art. 203 e seguintes do Decreto-Lei nº 3.689, de 1941 – Código de Processo Penal), sem que se subtraia ao juízo a prerrogativa de avaliar a credibilidade do depoimento, em razão de estar a testemunha envolvida no delito. COMBATE ÀS ORGANIZAÇÕES CRIMINOSAS 42 Os §§ 12, 14, 15 e 16 visam a assegurar a observância do art. 5º, inciso LV, da Constituição Federal, que garante aos acusados em geral o exercício do contraditório e a ampla defesa. Cumpre-se, igualmente, o disposto no art. 133 da Constituição Federal, que diz que o advo- gado é indispensável à administração da Justiça. Particularmente, no que tange ao § 16, vale registrar que a sua previsão elimina qualquer discussão em torno da revelação de nome de colaborador, facilitan- do-se sobremaneira o propósito de auxílio à prestação jurisdicional. Evidentemente, quando colaborador concordar, sua identidade po- derá ser revelada, não subsistindo a necessidade de previsão expressa na lei. Por essas razões suprimo o art. 19 do texto consolidado. Con- sequentemente, se torna dispensável o art. 20, pois o sistema adotado no processo penal é do livre convencimento motivado e é tranquilo o entendimento da jurisprudência no sentido de que a “chamada de corréu” não é, por si só, prova su�ciente para condenação. Ainda no art. 4º, com o § 13, busca-se dar maior segurança jurí- dica ao ato, tanto para os intervenientes – os agentes públicos – quanto para o colaborador. Além disso, facilita-se a recuperação da prova em juízo e o exercício da defesa. As relevantes contribuições do Procurador-Geral da República, Antônio Fernando de Souza, permitiram-me apresentar, nos arts. 4º a 8º, um procedimento bastante minudente sobre a colaboração pre- miada, levando, contudo, em consideração, exigências do princípio da publicidade e do amplo direito de defesa, a partir de decisões do Supremo Tribunal Federal. No art. 5º, as alterações são singelas. No inciso II acrescento a expressão “ imagem” ao elenco das informações pessoais que devem ser preservadas; nos incisos III e VI faço ajustes redacionais por necessida- de de atualização ortográ�ca. A modi�cação que é feita no caput do art. 9º, embora simples (in- clusão da expressão “ou administrativa”), é de amplo efeito. A inclusão tem por objetivo facultar à autoridade administrativa, em especial à Receita Federal e aos Fiscos Estaduais, retardar os procedimentos de �scalização de forma a garantir maior efetividade à investigação. Justi�ca-se a nova redação dada ao § 1º do art. 9º. A ação con-
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