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Justiça e diálogo sociaL O Poder Judiciário no Ceará Rafael Lira Monteiro 9 ESTA PUBLICAÇÃONÃO PODE SER COMERCIALIZADA GRATUITA Sumário 1. Primeira Instância ................................................................................................. 131 1.1. Considerações históricas .................................................................................... 131 1.2. Organização judiciária de Primeira Instância .................................................... 131 1.3. Divisão territorial da jurisdição e especialização ............................................. 134 2. Tribunal de Justiça ................................................................................................137 2.1. Introduções históricas ........................................................................................137 2.2. Organização do Tribunal de Justiça ................................................................. 138 3. Órgãos Administrativos ....................................................................................... 141 3.1. Órgãos diretivos .................................................................................................... 141 3.2. A Ouvidoria do Poder Judiciário ........................................................................ 142 Referências ........................................................................................................... 143 1. Primeira Instância 1.1. Considerações históricas Com base em registros históricos, po- de-se afirmar que o sistema judiciário cearense tem origem por volta do século XVII, quando revelava ainda um aspecto rudimentar, dependendo do sistema de outras localidades. Vinculando-se, em diferentes momentos, aos Estados da Bahia e do Maranhão, bem como à capi- tania do Pernambuco, apresentava estru- tura e prestação judiciária precárias, de- pendendo os jurisdicionados de longos e perigosos trajetos de deslocamento para persecução de seus direitos, o que eleva- da sobremaneira o custo dos processos e reduzia o acesso à justiça pela população. Com a criação da primeira Câmara no Iguape, no ano de 1700, observou-se um avanço na formação da estrutura ju- diciária do Ceará. Sobre esse sistema, afirma Geraldo da Silva Nobre (1974, p. 19): [...] em princípio, as atribuições das Câmaras constituíam uma delegação das atribuições do representante da justiça, administrada em nome do Rei, através de Ouvidorias, cabendo a presidência daquelas corporações políticas de cada Cidade, ou Vila, precisamente, ao juiz ordinário, e, ademais, ficando elas sujeitas às correções do magistrado superior. Mantendo-se, entretanto, a Capita- nia do Ceará subordinada a outra loca- lidade (Pernambuco, no início do século XVIII), os problemas resultantes da au- sência de um órgão próprio responsá- vel pela jurisdição local permaneceram, ocasionando morosidade e ineficácia na resolução de demandas judiciais, o que se agravava à medida que crescia o quantitativo populacional da Capitania. Em 1723, a Capitania do Ceará passou a ter ouvidores próprios, dando-se origem à Ouvidoria cearense. Após a transferência da Família Real para o Brasil, em 1808, houve dinamiza- ção das estruturas administrativa e eco- nômica brasileiras, o que atingiu as capi- tanias. No caso do Ceará, verificaram-se a criação de comarcas e a designação dos chamados Juízes de Fora, encarre- gados de resolver as demandas jurídicas das respectivas vilas. A criação de escolas de Direito contribuíram para evolução da educa- ção jurídica no Brasil, contribuindo para uma adequada formação de juristas no próprio território. Pode-se citar, como exemplo, Clóvis Beviláqua, jurista cea- rense nascido em Viçosa do Ceará e formado pela Faculdade de Direito de Recife. Por sua relevância no panorama jurídico brasileiro e representatividade cearense, seu nome foi dado ao atual Fórum de Fortaleza. Com Proclamação da Independên- cia, em 07 de setembro de 1822, houve profunda modificação da estrutura e da organização judiciária brasileira, o que teve reflexos sobre os sistemas locais. A Constituição Brasileira de 1824 pre- viu a criação de Tribunais da Relação em todas as províncias, os quais seriam responsáveis pelas funções de segunda instância. Entretanto, questões financei- ras e logísticas dificultaram a implanta- ção desses Tribunais tal como previsto na norma constitucional. No caso do Ceará, o Tribunal da Relação só foi final- mente instalado em 1874. O crescente aumento populacional da província do Ceará ensejou o aumen- to de comarcas, visando a atender a de- manda local. Outro reflexo das reformas judiciárias ocorridas na época foi a ex- tinção de cargos do Judiciário, seguida de outras modificações na organização judiciária brasileira resultantes de refor- mas ulteriores, até se alcançar a estrutu- ra atualmente em vigor. 1.2. Organização judiciária de Primeira Instância Assim como ocorre nos demais Estados da Federação, ao Poder Judiciário do Estado do Ceará, é assegurada autono- mia administrativa e financeira, que lhe permite certa liberdade de auto-organi- zação, obedecidos os critérios e normas legais e constitucionais para tanto. Des- sa forma, a definição da estrutura e do funcionamento do Poder Judiciário e de seus serviços auxiliares deve estar sem- pre consoante os princípios das Cons- tituições Federal e Estadual, devendo atentar, ainda, para as disposições da Lei Orgânica da Magistratura Nacional – LO- MAN (Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979). A organização judiciária dos Estados federativos é disposta em lei de iniciati- va dos respectivos Tribunais de Justi- ça, conforme prevê a norma constante no §1º do artigo 125 da Constituição da República de 19881. Atualmente, a or- FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE132 ganização judiciária do Estado do Ceará se encontra disposta na Lei Estadual nº 16.397 de 14 de novembro de 2017, que sucedeu o antigo Código de Divisão e Organização Judiciária (Lei Estadual nº. 12.342, de 1994) nessa função. Corrobo- rando a supracitada norma constitucio- nal, assim dispõe o artigo 3º da atual Lei de Organização Judiciária cearense: Artigo 3º Compete privativamente ao Tribunal de Justiça do Estado do Ceará a iniciativa de lei que disponha sobre a organização judiciária estadual e a criação de unidades judiciárias, bem como a elaboração de seu regimento interno, disciplinando a composição e as atribuições de seus órgãos, o processo e o julgamento dos feitos de sua competência e a disciplina dos seus serviços. Assim, a definição das diretrizes e da estrutura organizacional do Poder Judiciário estadual é apontada pelo Tri- bunal de Justiça, que o faz por meio de projeto de lei cuja iniciativa lhe é priva- tiva, bem como pela elaboração do seu Regimento Interno. A Lei de Organização Judiciária do Estado do Ceará enumera, em seu arti- go 21, os órgãos que compõem o Poder Judiciário estadual, quais sejam: o Tribu- nal de Justiça, as Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais e da Fazenda Pública, os Tribunais do Júri, os Juizados Especiais Cíveis, Criminais, Cíveis e Criminais, e da Fazenda Pública, os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, a Auditoria Mili- tar, os Juízes de Direito, os Juízes de Di- reito Substitutos e a Justiça de Paz, bem como outros órgãos criados por lei. Con- forme previsão dos incisos do artigo 42 da mesma lei, a primeira instância juris- dicional é composta da seguinte forma: Artigo 42. A Justiça de primeiro grau é composta pelos seguintes órgãos: I - Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, e da Fazenda Pública; II - Tribunais do Júri; III- Juizados Especiais Cíveis, Criminais, Cíveis e Criminais, e da Fazenda Pública; IV - Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; V - Auditoria Militar; VI- Juízes de Direito; VII - Juízes de Direito Substitutos;VIII - Justiça de Paz. No que diz respeito aos Juizados Es- peciais, segundo previsão do artigo 72 da Lei de Organização Judiciária, há, na Co- marca de Fortaleza, 20 (vinte) unidades dos Juizados Especiais Cíveis e 4 (qua- tro) unidades dos Juizados Criminais, cuja distribuição é disciplinada por Re- solução do Tribunal de Justiça, a quem também compete a regulamentação das respectivas jurisdições. Quanto às co- marcas do interior, referida lei prevê, em seu artigo 88, a instalação de 18 (dezoito) unidades dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais, localizadas nas Comarcas de Aquiraz, Aracati, Baturité, Caucaia (duas unidades), Crateús, Crato, Icó, Iguatu, Itapipoca, Juazeiro do Norte (duas Uni- dades), Maracanaú, Quixadá, Senador Pompeu, Sobral, Tauá e Tianguá. Aos Juizados Especiais Cíveis, competem as causas de menor com- plexidade, para conciliação, processa- mento, julgamento e execução, confor- me definição legal (artigo 73 da Lei nº 16.397/2017). Os Juizados Criminais são encarregados da conciliação, do proces- so, do julgamento e da execução de seus julgados, nos casos de infrações penais de menor potencial ofensivo, nos termos da lei, observadas as regras de conexão e continência e a competência da Vara de Execuções Penais e Corregedoria dos Presídios e da Vara de Execução de Pe- nas e Medidas Alternativas (artigo 74 da Lei nº 16.397/2017). Quanto aos Juízes de Direito dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, a estes compete, com exclusividade, a conciliação, o processamento e o julga- mento de causas cíveis de interesse da Fazenda Pública estadual e municipal, incluindo-se suas autarquias, fundações e empresas públicas, até o valor de 60 (sessenta) salários mínimos, nos termos da Lei Federal nº 12.153, de 22 de dezem- bro de 2009. A Lei nº 16.397/2017 prevê, ainda, as causas que não se encontram na competência dos Juizados Especiais da Fazenda Pública, elencadas no pará- grafo único do artigo 75. Os recursos interpostos contra as decisões dos Juizados Especiais serão objeto de apreciação e julgamento pelas Turmas Recursais, órgãos colegiados de primeiro grau com jurisdição sobre todo o território do Estado e sediados no mu- nicípio de Fortaleza. Existem três turmas: duas dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais e uma do Juizado Especial da Fazenda Pública, todas compostas, cada uma, por três juízes de direito, conforme previsão do artigo 43 da Lei de Organiza- ção Judiciária cearense. À competência das Turmas Recur- sais encontra-se delineada no parágrafo 3º do referido artigo, que assim dispõe: 1 Artigo 125. Os Estados organi- zarão sua Justiça, observados os princípios estabelecidos nesta Constituição. § 1º A competência dos tribunais será definida na Constituição do Estado, sendo a lei de organização judiciária de iniciativa do Tribunal de Justiça. JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 133 Artigo 43 [...] § 3º Compete às Turmas Recursais processar e julgar: I - o mandado de segurança e o habeas corpus contra ato de Juiz de Direito dos Juizados Especiais Cíveis, Criminais, Cíveis e Criminais, e contra seus próprios atos; II - os recursos interpostos contra sentenças dos Juizados Especiais Cíveis; Criminais; Cíveis e Criminais; e da Fazenda Pública; III - os embargos de declaração opostos a seus acórdãos; IV - as homologações de desistência e transação, nos feitos que se achem em pauta; V - agravo de instrumento interposto contra decisões cautelares ou antecipatórias proferidas nos Juizados Especiais da Fazenda Pública; VI - conflito de competência entre juízes de Juizados Especiais. Conforme previsão do §6º do artigo 43, o Tribunal de Justiça poderá cons- tituir tantas Turmas Recursais quantas forem necessárias à prestação jurisdi- cional, seja em caráter temporário ou permanente. Trata-se de atribuição do Órgão Especial da Corte, que o fará por meio de resolução e desde que median- te a destinação de cargos já existentes, sem aumento da despesa. São também previstos como órgãos da justiça cearense de primeiro grau, dentre outros, os Tribunais do Júri e a Justiça de Paz. Os primeiros são com- petentes para o julgamento de crimes dolosos contra a vida (competência essa atribuída pelo artigo 5º, inciso XXXVIII, da Constituição da República de 1988) e funcionarão em cada comarca do Estado, sendo sua composição e funcionamento orientados pelas normas estabelecidas em lei (artigo 44 da Lei nº 16.397/2017). A Justiça de Paz, criada e organizada con- forme o disposto no inciso II do artigo 98 FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE134 da Constituição Federal2, encontra-se devidamente regulamentada no artigo 106 da Lei nº 16.397/2017. Conforme prevê o mencionado dispositivo da Lei, a Justiça de Paz tem caráter temporário e é composta de ci- dadãos eleitos para cumprirem mandato de quatro anos. Aos juízes de paz, cum- pre verificar o processo de habilitação de casamento, celebrar casamentos civis e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdicional. Os requisitos para o exercício dessa função estão previstos no §1º do artigo 106, como se pode ob- servar adiante: Artigo 106. [...] § 1º São requisitos para o exercício do cargo: a) nacionalidade brasileira; b) pleno exercício dos direitos políticos; c) idade mínima de 21 (vinte e um) anos; d) escolaridade equivalente ao ensino médio completo; e) aptidão física e mental; f) idoneidade moral; g) certificado de participação e aproveitamento em curso específico ministrado pela Escola Superior da Magistratura do Estado do Ceará; h) residência na sede do distrito para o qual concorrer. Além dos mencionados órgãos que compõem o Poder Judiciário cearense, a Lei nº 16.397/2017 faz referência, em seus artigos 107 a 133, aos chamados serviços auxiliares da Justiça, cuja atua- ção permite o adequado funcionamento desse sistema e o exercício das funções jurisdicionais. Referidos serviços são compostos pelos órgãos que compõem o foro judicial e o extrajudicial. Integram os serviços do foro judicial as secretarias do Tribunal de Justiça, as Diretorias dos Foros e suas respectivas unidades. A composição e as atribuições das referidas secretarias e diretorias se definem em lei específica, que dispõe sobre a estrutura administrativa do Po- der Judiciário (Lei Estadual n.º 16.208, de 03 de abril de 2017). Compõem também o foro judicial, as secretarias de unidades judiciárias e juizados. Os serviços do foro extrajudicial compreendem os tabelionatos de no- tas, os ofícios de registro de distribui- ção, os ofícios de registro de imóveis, os ofícios de registro civil das pessoas naturais e os ofícios de registro de títu- los e documentos e civis das pessoas jurídicas, bem como os ofícios de pro- testos de títulos e ofícios de contratos marítimos. Nos referidos serviços, são lavradas as declarações de vontade das partes e executados os atos decorren- tes de legislação sobre notas e registros públicos (artigo 109 da Lei de Organiza- ção Judiciária do Ceará). 1.3. Divisão territorial da jurisdição e especialização Visando a melhor administração da juris- dição, o território cearense é dividido em comarcas sedes e comarcas vinculadas, as quais são subdivididas em distritos ju- diciários, na forma descrita em anexo da Lei de Organização Judiciária. O artigo 11 da referida lei descreve os limites das comarcas como sendo cor- respondentes aos de um município ou aos de um agrupamento de dois ou mais. Conforme imposição do artigo 6º mesma lei, cada município deverá conter sede de comarca. Nos casos em que a comarca corresponder a um agrupamento de mu- nicípios, um destes será considerado sua sede, enquanto os demais configurarão comarcas vinculadas. Sobre estas, as- sim dispõe o caput da Lei nº 16.397/2017: Artigo 12. As comarcas vinculadas são circunscrições que correspondem aos municípios que não constituem sedes de comarcas, integrando, enquanto nessa condição, a jurisdição decomarcas implantadas, a cujo juízo ficam afetos os respectivos serviços judiciais. As comarcas vinculadas, portanto, formam, com suas respectivas sedes, uma única jurisdição. A prestação jurisdi- cional nelas realizada fica sob a responsa- bilidade de juiz titular de unidade instalada na sede, em sistema de rodízio anual onde houver mais de uma; ou por juiz auxiliar da respectiva Zona Judiciária, exigindo-se prévia designação do Tribunal de Justiça em quaisquer dos casos (artigo 13). 2 Artigo 98. A União, no Distrito Fe- deral e nos Territórios, e os Estados criarão: [...] II - justiça de paz, remunerada, composta de cidadãos eleitos pelo voto direto, universal e secreto, com mandato de quatro anos e competência para, na forma da lei, celebrar casamentos, verificar, de ofício ou em face de impugna- ção apresentada, o processo de habilitação e exercer atribuições conciliatórias, sem caráter jurisdi- cional, além de outras previstas na legislação. JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 135 As comarcas podem ser classifica- das em três categorias ou entrâncias: inicial, intermediária e final. A categori- zação das comarcas cearenses se en- contra discriminada no Anexo I da Lei de Organização Judiciária em vigor, ad- mitindo-se elevação de entrância, caso cumpridos os requisitos legais expos- tos nos incisos do artigo 20 da Lei nº 16.397/2017, transcritos a seguir: Artigo 20. Para a elevação de comarca entre entrâncias devem ser observados requisitos relativos à população, eleitorado e demanda, nos seguintes termos: I - da entrância inicial para a intermediária: a) população mínima de 30.000 (trinta mil) habitantes; eleitorado não inferior a 60% (sessenta por cento) de sua população; e média anual de casos novos, considerado o triênio anterior ao da elevação, igual ou superior a 1.300 (um mil e trezentos) feitos; ou b) população mínima de 40.000 (quarenta mil) habitantes; eleitorado não inferior a 60% (sessenta por cento) de sua população; e média anual de casos novos, considerado o triênio anterior ao da elevação, igual ou superior a 1.200 (um mil e duzentos) feitos; ou c) população mínima de 50.000 (cinquenta mil) habitantes; eleitorado não inferior a 60% (sessenta por cento) de sua população; e média anual de casos novos, considerado o triênio anterior ao da elevação, igual ou superior a 1.100 (um mil e cem) feitos; II - da entrância intermediária para a final: população mínima de 200.000 (duzentos mil) habitantes e eleitorado não inferior a 60% (sessenta por cento) de sua população; ou média anual de casos novos, considerado o triênio anterior ao da elevação, igual ou superior a 8.000 (oito mil) feitos. A implantação de comarcas depen- derá do atendimento aos requisitos dis- postos na Lei nº 16.397/2017, prevendo o seu artigo 17 e incisos as seguintes exi- gências para tanto: Artigo 17. São requisitos para a implantação de comarcas: I - população mínima de 15.000 (quinze mil) habitantes e eleitorado não inferior a 60% (sessenta por cento) de sua população; II - haver registrado média anual de casos novos, considerado o triênio anterior ao da implantação, igual ou superior a 50% (cinquenta por cento) daquela registrada, por juiz, no âmbito do Poder Judiciário do Estado do Ceará. Os distritos judiciários integram suas respectivas comarcas e terão a de- nominação e os limites correspondentes aos da divisão administrativa dos res- pectivos municípios. Os que atendam a determinados requisitos populacionais e socioeconômicos contarão, a critério do Tribunal de Justiça, com um juizado de paz e um ofício de registro civil de pes- soas naturais, criado por lei (artigos 15 e 16 da Lei nº 16.397/2017). Ainda acerca da organização territo- rial do Poder Judiciário cearense, dispõe a Lei de Organização o agrupamento das comarcas do interior do Estado em zonas judiciárias, dotadas de juízes auxiliares com jurisdição no respectivo território previamente designados pelo Presidente do Tribunal de Justiça (artigos 5º e 9º). Trata-se de uma forma de organiza- ção que visa a melhor administração das demandas jurisdicionais, contribuindo para a consolidação de uma estrutura mais eficiente. Para tanto, afirma o pa- rágrafo único do artigo 10 que “a zona judiciária poderá ter mais de uma sede, de modo a atender à racionalidade e à eficiência do serviço”. Atualmente, há quatorze zonas ju- diciárias no Ceará, sediadas, conforme o Anexo II da Lei nº 16.397/2017, em Juazei- ro do Norte (1ª); Iguatu (2ª); Quixadá (3ª); Russas (4ª); Caucaia e Maracanaú (5ª); Itapipoca (6ª); Sobral (7ª); Tianguá (8ª); Crateús (9ª); Baturité (10ª); Camocim (11ª); Aracati (12ª); Canindé (13ª); e Tauá (14ª). As comarcas são organizadas em varas judiciais, cuja distribuição, assim como a quantidade de juízes, é propor- cional à demanda judicial e à respectiva população, conforme determinação do artigo 8º da Lei de Organização Judiciária. O mesmo dispositivo afirma que as co- marcas de mais de 50.000 (cinquenta mil) habitantes deverão ter, no mínimo, duas unidades judiciárias. No caso da comarca de Fortaleza, prevê a referida lei, em seu artigo 50, a seguinte distribuição em rela- ção à especialização das varas: Artigo 50. Na Comarca de Fortaleza, a jurisdição será exercida de acordo com as atribuições e competências definidas nesta Lei e nas normas pertinentes editadas pelo Tribunal de Justiça, nos termos do artigo 42, § 1º, contemplando as seguintes especialidades: I - 26 (vinte e seis) Varas Cíveis Comuns; II - 13 (treze) Varas Cíveis Especializadas nas Demandas em Massa; III - 2 (duas) Varas de Recuperação de Empresas e Falências; IV - 18 (dezoito) Varas de Família; V - 5 (cinco) Varas de Sucessões; VI -11 (onze) Varas da Fazenda Pública; VII - 2 (duas) Varas de Registros Públicos; VIII - 18 (dezoito) Varas Criminais, uma das quais privativa de Audiências de Custódia; IX - 5 (cinco) Varas do Júri; X - 1 (uma) Vara da Auditoria Militar; XI - 4 (quatro) Varas de Delitos de Tráfico de Drogas; XII -3 (três) Varas de Execução Penal e Corregedoria dos Presídios; FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE136 XIII - 1 (uma) Vara de Execução de Penas e Medidas Alternativas; XIV - 6 (seis) Varas de Execução Fiscal; XV - 5 (cinco) Varas da Infância e da Juventude; XVI - 20 (vinte) Juizados Especiais Cíveis; XVII - 4 (quatro) Juizados Especiais Criminais; XVIII - 4 (quatro) Juizados Especiais da Fazenda Pública; XIX - 1 (um) Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; XX - 2 (duas) Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais; XXI - 1 (uma) Turma Recursal dos Juizados Especiais da Fazenda Pública; XXII – 36 (trinta e seis) Juizados Auxiliares, assim divididos: a) 5 (cinco) Juizados Auxiliares Privativos das Varas do Júri; b) 1 (um) Juizado Auxiliar Privativo do Juizado da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; c) 2 (dois) Juizados Auxiliares Privativos das Varas da Infância e Juventude, para o atendimento das atribuições previstas nos parágrafos únicos, dos arts. 67 e 69 desta Lei; d) 1 (um) Juizado Auxiliar Privativo da 17ª Vara Criminal – Vara Única Privativa de Audiências de Custódia; e) 1 (um) Juizado Auxiliar Privativo das Varas de Execução Penal e Corregedoria dos Presídios, para o atendimento das atribuições previstas no artigo 62, parágrafo único, desta Lei; f) 7 (sete) Juizados Auxiliares das Varas Cíveis Comuns; Cíveis Especializadas nas Demandas em Massa; Recuperação de Empresas e Falências; e Registros Públicos; g) 6 (seis) Juizados Auxiliares das Varas Criminais; de Delitos de Tráfico de Drogas; de Penas Alternativas; da Auditoria Militar; e da Vara de Delitos de Organizações Criminosas; h) 5 (cinco) Juizados Auxiliares das Unidades dos Juizados Especiais Cíveis; Juizados Especiais Criminais; Turmas Recursais dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais; i) 4 (quatro) Juizados Auxiliares das Varas de Família; Sucessões;e Infância e Juventude; j) 2 (dois) Juizados Auxiliares das Varas da Fazenda Pública; dos Juizados Especiais da Fazenda Pública e da Turma Recursal dos Juizados Especiais da Fazenda Pública; k) 1 (um) Juizado Auxiliar das Varas de Execuções Fiscais e da Vara de Crimes contra a Ordem Tributária. XXIII - 1 (uma) Vara de Delitos de Organizações Criminosas; XXIV - 1 (uma) Vara de Crimes contra a Ordem Tributária. A distribuição dos feitos deve, por- tanto, orientar-se a partir dessa subdi- visão, observando-se a especialização de cada juízo e, consequentemente, a competência adequada para o respec- tivo julgamento. JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 137 2. Tribunal de Justiça 2.1. Introduções históricas O Tribunal de Justiça do Estado encon- tra origem no Tribunal da Relação da Província do Ceará, instalado em 3 de fevereiro de 1874 por força do Decreto nº 5.456, de 5 de novembro de 1873, em cumprimento ao disposto no artigo 158 da Constituição Brasileira de 1824. Re- ferida norma previa a criação de Tribu- nais da Relação em cada província do Império, visando a aperfeiçoar o atendi- mento das demandas jurisdicionais em segunda instância. A criação de um Tribunal da Relação em cada província possibilitaria um me- lhor acesso do jurisdicionado à justiça, considerando as dificuldades inerentes ao deslocamento para outra localida- de para se proceder a um recurso em segunda instância. No caso do Ceará, a urgência na criação do Tribunal se fazia presente também em face do elevado número de habitantes da província, bem como por questões geográficas. Dessa forma, em fevereiro de 1874, inaugurou-se o Tribunal da Re- lação do Ceará, sediado inicialmente na Rua Amélia, nº 38, e presidido pelo Conselheiro Bernardo Machado da Costa Dória, graduado em Direito pela Academia de Olinda. Em 1980, após a Proclamação da República, o Tribunal da Relação passou a ser denominado Tribunal de Apelação, voltando, entretanto, à sua denominação original em 1892. A Corte recebeu, ain- FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE138 da, outros nomes, como Superior Tribu- nal de Justiça e Tribunal de Apelação. A denominação atual – Tribunal de Justiça – sobreveio em 1947, com a respectiva Constituição do Estado do Ceará. Atualmente, a Corte é composta por quarenta e três desembargadores, cuja nomeação é realizada segundo as dire- trizes das Constituições Federal e Esta- dual, bem como da Lei Orgânica da Ma- gistratura Nacional – LOMAN, figurando como seu Presidente o Desembargador Washington Luis Bezerra de Araújo. 2.2. Organização do Tribunal de Justiça No âmbito da justiça estadual, as funções de órgão de segundo grau são exercidas pelo Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, sediado na capital. Com jurisdição sobre todo o territorial estadual, ao Tri- bunal de Justiça, são atribuídas compe- tências de índole administrativa e judicial. São exemplos das primeiras a eleição de seus órgãos diretivos; a elaboração do seu regimento interno; o provimento dos cargos necessários à administração da justiça, consoante as normas das Cons- tituições Federal e Estadual sobre a ma- téria; o encaminhamento de propostas orçamentárias do Judiciário Estadual ao Poder Executivo; a apresentação de pro- XI. a Vice-Presidência; XII. a Corregedoria-Geral da Justiça; XIII. a escola superior da magistratura (ESMEC); XIV. a ouvidoria-geral do Poder Judiciário; XV. o núcleo Permanente de métodos Consensuais de solução de Conflitos (NUPEMEC); XVI. o Conselho editorial e de Biblioteca; XVII. o Conselho Judiciário para a infância e Juventude do estado do Ceará (CINJ); XVIII. o núcleo socioambiental; XIX. a Comissão de Regimento, legislação e Jurisprudência; XX. a Comissão de informática; XXI. a Comissão estadual Judiciária de Adoção internacional (CEJAI-CE); XXII. a Comissão de segurança Permanente; XXIII. a Assistência militar; XXIV. a Coordenadoria da infância e Juventude (CIJ); XXV. a Coordenadoria estadual da mulher em situação de Violência doméstica e Familiar; XXVI. a Coordenadoria dos Juizados especiais Cíveis e Criminais e da Fazenda Pública (JECCs); jeto de lei propondo alteração da orga- nização judiciária; dentre outras atribui- ções (artigo 24). No que diz respeito às competên- cias jurisdicionais, algumas estão enun- ciadas no artigo 25 da Lei nº 16.397/2017, que aponta competências de natureza originária (por exemplo, a apreciação de remédios constitucionais contra deter- minadas autoridades) e recursal, além de outras incumbências. O artigo 4º do Regimento Interno do Tribunal em questão enumera os ór- gãos que compõem a estrutura da Corte, adiante apresentados na transcrição dos incisos desse dispositivo: Artigo 4º. Compõem o tribunal de Justiça: I. o Tribunal Pleno; II. o Órgão Especial; III. a seção de direito Público; IV. a seção de direito Privado; V. a seção Criminal; VI. a Primeira, a segunda e terceira Câmaras de direito Público; VII. a Primeira, a segunda, a terceira e a Quarta Câmaras de direito Privado; VIII. a Primeira, a segunda e a terceira Câmaras Criminais; IX. o Conselho superior da magistratura; X. a Presidência; JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 139 XXVII. a Coordenadoria do Juizado do torcedor e de grandes eventos; XXVIII. o núcleo de Cooperação Judiciária; XXIX. o grupo de monitoramento e Fiscalização do sistema Carcerário (GMF); XXX. as Comissões, secretarias, Auditoria Administrativa de Controle interno e outros órgãos instituídos por lei e por este Regimento. XXXI. o núcleo de gerenciamento de Precedentes (NU-GEP). Os órgãos julgadores do Tribunal de Justiça são o Tribunal Pleno, o Órgão Especial, a Seção de Direito Público, a Seção de Direito Privado, a Seção Cri- minal, as Câmaras de Direito Público, as Câmaras de Direito Privado e as Câma- ras Criminais. Enquanto o Tribunal Pleno é integra- do por todos os membros da Corte, o Ór- gão Especial é composto por dezenove desembargadores escolhidos consoante as normas previstas nas Constituições Federal e Estadual, na Lei Orgânica da Magistratura Nacional (Lei Complemen- tar nº 35, de 14 de Março de 1979) e no Regimento Interno do Tribunal de Justiça (artigo 28 da Lei nº 16.397/2017). FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE140 Como bem descreve o artigo 4º da Lei Estadual nº 16.208/2017, o Tribu- nal Pleno constitui o órgão máximo da Administração Superior do Poder Ju- diciário estadual. Suas incumbências se encontram delineadas no artigo 6º do Regimento Interno do Tribunal de Justiça. Dentre elas, incluem-se eleger o Presidente do Tribunal, o Vice-Presi- dente e o Corregedor-geral, dando-lhes posse; aprovar o Regimento do Tribunal de Justiça e suas respectivas emendas, mediante assentos; formar listas trípli- ces para o preenchimento das vagas da Corte reservadas aos juízes, advoga- dos e membros do ministério Público; apreciar e votar proposta de orçamento anual para o Poder Judiciário, para en- caminhamento aos Poderes Executivo e Legislativo, consoante a Constituição e a Lei de Diretrizes Orçamentárias; e pro- cessar e julgar reclamação para preser- vação de sua competência e garantia da autoridade de suas decisões. O Órgão Especial, por sua vez, exer- ce atribuições administrativas e jurisdi- cionais delegadas da competência do órgão Pleno. A direção de seus trabalhos é realizada pelo Presidente do Tribunal, que integra o Órgão Especial na condi- ção de membro nato, assim como o Vi- ce-Presidente e o Corregedor-geral. Em observância ao inciso XI do ar- tigo 93 da Constituição da República, metade da composição do Órgão Es- pecial atende o critério da antiguidade, enquanto a outra metade é provida por eleição realizada pelo Tribunal Pleno, em sessão pública especialmente convoca- da para esse fim. O mandato dos mem- bros eleitos tem duração de dois anos, admitindo-se uma recondução, confor- me previsão do §8º do artigo 12 do Regi- mento da Corte. O artigo 13 do Regimento Inter-no enumera as diversas competências do Órgão Especial da Corte, como, por exemplo, “solicitar, quando cabível, a intervenção federal no estado, por inter- médio do supremo tribunal Federal, nos termos da Constituição da República” (inciso VI). São previstas atribuições ju- risdicionais de notável relevância, dentre as quais se podem citar a declaração, por voto de maioria absoluta, de inconstitu- cionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, nos casos de sua com- petência originária e nos que, para tal fim, lhe forem remetidos pelos demais órgãos julgadores do Tribunal (inciso X); o julgamento, nos crimes comuns e de responsabilidade, de juízes estaduais, de membros do Ministério Público e da Defensoria Pública, do Vice-Governador e dos deputados estaduais, ressalvada a competência da Justiça eleitoral (inciso XI, alínea “a”); apreciação e julgamento de ações declaratórias de constituciona- lidade e ações diretas de inconstitucio- nalidade de lei ou ato normativo estadual ou municipal em face da Constituição do Estado (inciso XI, alínea “h”); a aprecia- ção de conflitos de competência entre desembargadores e câmaras vinculadas a diferentes seções, bem como entre o Conselho da magistratura e qualquer órgão julgador do tribunal (alíneas “o” e “p”); dentre outras incumbências. JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 141 No que diz respeito às Seções de Direito Público, de Direito Privado e Cri- minal, conforme previsão do artigo 29 da Lei de Organização Judiciária do Ceará, elas são formadas pelos integrantes das Câmaras de Direito Público, de Direi- to Privado e Criminal e presididas, cada uma, pelo membro mais antigo do res- pectivo órgão julgador. Cada uma das referidas Câmaras é composta por quatro Desembargadores, e seus julgamentos são realizados pelo voto de três deles (artigo 30 da Lei nº 16.397/2017). A Presidência das Câmaras é exercida em mandatos de dois anos de duração, por meio de sistema de rodízio, utilizando-se o critério da antiguidade no Tribunal. A recondução é vedada até que todos os membros tenham exercido a função de presidente, respeitado o pedi- do de dispensa (art. 75). 3. Órgãos Administrativos A estrutura administrativa do Poder Ju- diciário do Ceará é definida em lei espe- cífica, atualmente, a Lei nº 16.208, de 03 de abril de 2017. Especificamente quanto ao Tribunal de Justiça, são também ins- trumentos normativos responsáveis pela definição da organização administrativa o Regimento Interno e resoluções pró- prias (artigo 23, §1º). Uma das diretrizes que se revela nos primeiros artigos da referida lei é a busca pela concretização de uma orga- nização administrativa eficiente e mo- derna do Poder Judiciário, com claras características de uma administração gerencial. Para tanto, é dada ênfase à atualização de instrumentos adminis- trativos e à aplicação de recursos tec- nológicos, bem como à constante capa- citação e treinamento de pessoal, sejam magistrados ou servidores. A preparação e a realização de pla- nos e programas periódicos de aparelha- mento dos órgãos desse Poder também são medidas previstas para uma gestão organizada do Judiciário estadual, visan- do a compatibilidade do atendimento de suas demandas e necessidades com a reserva de recursos do Erário. 3.1. Órgãos diretivos A direção Tribunal de Justiça é realiza- da pelo Presidente, pelo Vice-Presiden- te e pelo Corregedor-geral de Justiça da Corte. Os titulares de tais cargos são escolhidos por meio de eleição decidida pela maioria absoluta dos membros efe- tivos do Tribunal, para exercício de man- dato com duração de dois anos, não se admitindo reeleição. O Presidente do Tribunal de Justiça exerce a chefia do Poder Judiciário es- tadual, representando-o em suas rela- ções com os demais Poderes. Conforme aponta o artigo 3º, I, da Lei de Organiza- ção Administrativa do Poder Judiciário (Lei nº 16.208/2017), a Presidência da Corte é um órgão superior de definição de políticas e estratégias. Ao Presiden- te, são conferidas diversas atribuições previstas no Regimento Interno e na Lei nº 16.208/2017. Dentre elas, podem-se mencionar a direção dos trabalhos do Tribunal Pleno, do Órgão especial e do Conselho da Magistratura; e a autoriza- ção da realização de despesas, obser- vada a legislação específica (artigo 20, incisos II e VIII, do Regimento Interno). Algumas das competências da Presidência da Corte são também pre- vistas no artigo 37 da Lei de Organiza- ção Judiciária, como o processamento e a expedição de ordem de pagamento das requisições judiciais resultantes de sentenças proferidas contra a Fazenda Pública (precatórios e requisições de pequeno valor), bem como a suspensão da execução de liminar ou de sentença, nos casos previstos na legislação fede- ral, bem como (incisos IV e II, respecti- vamente). O Vice-Presidente, conforme previ- são do artigo 38 da Lei de Organização Judiciária, auxilia o Presidente da Corte no exercício de suas atribuições, substi- tuindo-o, com igual posição hierárquica, em suas ausências, férias, licenças, sus- peições e impedimentos. Outras atribui- ções da Vice-Presidência estão previs- tas nos incisos do referido artigo, como presidir a distribuição dos processos no Tribunal, deliberar sobre pedido de desis- tência de ação, incidente ou recurso em feitos ainda não distribuídos e despachar os recursos interpostos de decisões da Corte para o Supremo Tribunal Federal e para o Superior Tribunal de Justiça, reali- zando o juízo de admissibilidade (incisos II, III e IV, respectivamente). Outro relevante elemento da estru- tura administrativa do Tribunal é a Cor- regedoria-Geral da Justiça, órgão de controle interno e disciplinar da função jurisdicional. Referido órgão é gerido por um desembargador investido na função de Corregedor-Geral, que atua com au- xílio de juízes de primeiro grau, na forma prevista na Lei de Organização Judiciária. A atuação da Corregedoria-Geral é dirigida para a fiscalização, a disci- plina e a orientação dos juízes de pri- meiro grau, juízes de paz, servidores e serviços notariais e de registro (artigo 39, Lei nº 16.397/2017). O artigo 41 da Lei de Organização Judiciária enumera atribuições do referido órgão, dispondo da seguinte forma: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE142 Corregedoria-Geral de Justiça e de suas atribuições, assim como das demais unidades administrativas integrantes da estrutura da Corregedoria. Nela, atuam a Coordenadoria de Correção e Gestão da Produtividade, na qual funcionam a Se- ção de Inspeção e Correição e a Seção de Monitoramento de Produtividade e Metas; e a Coordenadoria de Orientação e Padronização. Em sua atuação, a Corregedoria- -Geral busca coibir abusos e garantir a observância de garantias constitucio- nais, como a ampla defesa e o contra- ditório. É responsável, ainda, por realizar procedimentos disciplinares, como a Sindicância e o Processo Administrativo Disciplinar – PAD, seguindo as diretrizes estabelecidas pelo Conselho Nacional de Justiça. Dessa forma, a Corregedoria representa uma importante ferramenta na prevenção de irregularidades na pres- tação da função jurisdicional no Estado, contribuindo para um melhor desempe- nho desta. 3.2. A Ouvidoria do Poder Judiciário Ainda acerca dos órgãos componentes da organização administrativa do Poder Judiciário do Ceará, impõe-se mencio- nar a Ouvidoria, que constitui uma das unidades específicas de interação direta com os jurisdicionados, de políticas pú- blicas e solução alternativa consensual de conflitos (artigo 3º, inciso V, da Lei nº 16.208/2017). A função precípua da Ouvidoria tem estreita relação com a participação dos indivíduos na correta condução da ativi- dade jurisdicional. Ao representar um elo de aproximação do Judiciário com o ju- risdicionado, o órgão em questão contri- bui para o aperfeiçoamento do exercício das funções vinculadas a esse poder. A direção dos trabalhos da Ouvidoriano Tribunal é atribuição do Desembarga- dor Ouvidor. O órgão tem suas atividades coordenadas por um profissional de nível superior de reputação ilibada e compe- tência técnica na área, preferencialmen- te bacharel em Direito, nomeado em co- missão pela Presidência da Corte (artigo 31, §1º, da Lei nº 16.208/2017). A Lei de Organização Administrativa do Poder Judiciário do Ceará prevê, no §2º do seu artigo 31, a existência de uma Ouvidoria no Fórum da Capital, coorde- nada por um Juiz de Direito. A escolha deste resulta de indicação do Diretor do Fórum, a qual é objeto de apreciação pelo Órgão Especial do Tribunal, para então se proceder à nomeação. O Juiz coordenador na Ouvidoria no Fórum da Capital atua sob a orientação e colabora- ção do Desembargador Ouvidor do Tri- bunal de Justiça, conforme previsão do referido dispositivo legal. A interação do jurisdicionado com o Poder Judiciário por meio da Ouvido- ria é uma das formas de aproximação do referido Poder com a sociedade, contri- buindo para que suas funções atendam os interesses de seus destinatários de uma forma mais eficaz. Somando-se a outras importantes formas de controle, como a transparência na gestão da má- quina judiciária, essa ferramenta amplia a participação dos indivíduos no exercício da função jurisdicional, tornando acessí- vel a todos o controle social sobre esta. Artigo 41. São ações próprias da Corregedoria-Geral da Justiça: I - orientar e fiscalizar os serviços judiciais e extrajudiciais em todo o Estado; II - avaliar o desempenho dos juízes em estágio probatório para o fim de vitaliciamento; III - fiscalizar as secretarias das unidades judiciais de primeiro grau e as serventias extrajudiciais; IV - realizar correições e inspeções em comarcas, varas e serventias; V - editar atos normativos para: a) instruir autoridades judiciais, servidores do Poder Judiciário, notários e registradores; b) evitar irregularidades; c) corrigir erros e coibir abusos com ou sem cominação de pena; VI - realizar sindicâncias e propor a abertura de processos administrativos disciplinares; VII - aplicar as penas disciplinares cominadas aos ilícitos administrativos praticados por seus servidores; VIII - responder a consultas a respeito do correto funcionamento do Poder Judiciário de primeiro grau e das serventias extrajudiciais. Em outras palavras, portanto, a Cor- regedoria-Geral da Justiça fiscaliza a regularidade da função jurisdicional no Estado. Para tanto, apoia-se nas unida- des previstas no §1º do artigo 8º da Lei Estadual nº 16.208/2017, quais sejam: Juízes Auxiliares, Diretoria de Gabine- te, Inspetoria e Diretoria-Geral. Esta é encarregada da coordenação e da su- pervisão administrativa dos serviços da JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL 143 Referências ARAGÃO, R. Batista. História do Ceará. Vol. I. Fortaleza: IOCE, sd. BRASIL. Constituição Política do Impé- rio do Brazil (1824). Constituição Política do Império do Brasil, elaborada por um Conselho de Estado e outorgada pelo Imperador D. Pedro I, em 25.03.1824. Disponível em: <http://www.planalto. gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui- cao24.htm>. Acesso em: 29 out. 2019. ______. Constituição (1988). Consti- tuição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF, Senado, 1988. ______. Lei Complementar nº 35, de 14 de março de 1979. 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Regi- mento Interno da Corregedoria Geral da Justiça do Tribunal de Justiça do Ceará. Fortaleza: Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, 2015. ______, Tribunal de Justiça. Regimen- to Interno do Tribunal de Justiça do Ceará. Fortaleza: Tribunal de Justiça do Estado do Ceará, 2018. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA. Tribunal de Justiça do Ceará: 140 anos - 1874-2014. Fortaleza: FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA, 2014. MOTA, Aroldo. História Política do Cea- rá – 1930-1945. 2. ed. Fortaleza: ABC, 2000. NOBRE, Geraldo. História do Tribunal de Justiça do Ceará: 1874-1974. Fortaleza: Imprensa Universitária da Universidade Federal do Ceará, 1974. NOBRE, Geraldo da Silva. Notas para a História Jurídica do Ceará, in: VAS- CONCELOS, Abner Carneiro de. História Judiciária do Ceará. Vol. I. Fortaleza: Ins- tituto do Ceará, 1987. SOUSA, Eusébio de. Tribunal de apela- ção do Ceará: Síntese histórica e dados biográficos (1874-1945). Fortaleza: 1945. VASCONCELOS, Abner Carneiro de. História Judiciária do Ceará. Fortaleza: Instituto do Ceará, 1987. Apoio Realização RAFAEL LIRA MONTEIRO (Autor) Bacharel em Direito pelo Centro Universitário Farias Brito. Mestre em Direito Constitucional pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa. Professor de turmas preparatórias para concursos. Advogado e consultor jurídico. KARLSON GRACIE (Ilustrador) Nasceu em Paulista, Pernambuco. Desenha desde criança. A arte e a leitura estiveram sempre presentes em sua vida. Filmes, desenhos animados, histórias em quadrinhos e videogames eram inspirações para desenhar. Integra o Núcleo de Design (NDE) da Fundação Demócrito Rocha, onde faz o que mais gosta: imaginar, criar e ilustrar. FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR) Presidência: João Dummar Neto Direção Administrativo-Financeira: André Avelino de Azevedo Gerência Geral: Marcos Tardin Gerência Editorial e de Projetos: Raymundo Netto Análise de Projetos: Emanuela Fernandes e Fabrícia Góis | UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (UANE) Gerência Pedagógica: Viviane Pereira Coordenação de Cursos: Marisa Ferreira Design Educacional: Joel Bruno Secretaria Escolar: Thifane Braga | CURSO JUSTIÇA E DIÁLOGO SOCIAL Concepção e Coordenação Geral: Cliff Villar Coordenação Executiva: Ana Cristina Barros Coordenação Adjunta: Patrícia Alencar Coordenação de Conteúdo: Gustavo Brígido Editorial e Revisão: Verônica Alves Edição de Design: Amaurício Cortez Projeto Gráfico e Diagramação: Welton Travassos Ilustração: Karlson Gracie Coordenação de Produção: Gilvana Marques Produção: Juliana Guedes Análise de Projeto: Narcez Bessa Marketing e Estratégia: Andrea Araújo, Kamilla Damasceno e Wanessa Góes Performance Digital: Alice Falcão | TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO CEARÁ Presidente do Tribunal de Justiça do Ceará: Desembargador Washington Luís Bezerra de Araújo Vice-Presidente do Tribunal de Justiça do Ceará: Desembargadora Maria Nailde Pinheiro Nogueira Corregedor-Geral do Tribunal de Justiça do Ceará: Desembargador Teodoro Silva Santos | ISBN 978-65-86094-10-7 Todos os direitos desta edição reservados à: Fundação Demócrito Rocha Av. 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