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Joana Borges Moura RA:2358339 Turma: 003204B01 APS – DIREITO CIVIL: FAMÍLIA E SUCESSÕES No caso desta disciplina será prevista como tal atividade a leitura e discussão interpretativa de precedentes jurisprudenciais sobre a matéria do Direito de Família e Sucessões, especificamente sobre os princípios constitucionais que versam sobre a matéria, que serão devidamente indicados pelo professor em sala de aula. A familiarização com o julgado será realizada em horário não presencial pelos alunos, seguido da elaboração pelo aluno de texto descritivo que será postado no ambiente virtual (BlackBoard). Ao se trabalhar com a normatividade dos princípios, é essencial a definição de qual a teoria dos direitos fundamentais será utilizada, no caso específico deste trabalho, será utilizado como base hermenêutica a teoria dos direitos fundamentais, com foco na para interpretação do direito de família na atualidade, bem como na solução dos conflitos e colisões que possivelmente ocorram. O direito de família tem o papel de harmonizar a igualdade plena entre os indivíduos, sendo eles: homens e mulheres ou entre os filhos havidos ou não do casamento ou união estável. Os princípios que regem sobre essa área do direito não são taxativos, pois não há consenso doutrinário sobre este assunto. É entendido por grande parte da doutrina, que o tema da possibilidade de diminuir a hierarquia familiar e estabelecer características diferenciadas nestas relações. É dado ao indivíduo o direito de escolher e auto regulamentar sua vida, fazendo suas próprias escolhas da melhor forma que o convém e sem qualquer tipo de intervenção. O conceito de casamento deixou de ser somente a figura de um contrato passando a dar lugar a afetividade, com interesse de o assegurar a afetividade. Nada mais coerente do que aceitação da união homoafetiva, tal como a adoção conjuntiva, ou seja, se o que prevalece acima de tudo é o bem estar do menor, não deve ser analisado a questão da diversidade de sexos e sim nos termos já habituais, como capacidade, regras regulamentadas pelo ECA. Em meio a passos tão modernos, existe o conservadorismo baseado principalmente em tema religioso, o que deveria ser neutro, mas não ocorre no judiciário brasileiro, tendo em vista que propostas relacionadas ao tema estão paradas, sem a visibilidade necessária. No Direito de família, percebe-se a superação do modelo patriarcal, havendo, atualmente, o reconhecimento normativo da igualdade entre os consortes (artigo, 226, §5º, CF), deixando a finalidade reprodutiva de ser condição para o reconhecimento de uma entidade familiar, passando a afetividade a ser reconhecida como a principal característica da família atual. O casamento deixar de ser a única entidade familiar reconhecida pelo Estado, passando a receber proteção jurídica também as uniões estáveis e as famílias monoparentais, que são figuras típicas elencadas no artigo 226 da Constituição Federal de 1988, como citado anteriormente, contudo, não esgotam as possibilidades de Joana Borges Moura RA:2358339 Turma: 003204B01 organização e formatação das entidades familiares, também devendo ser protegidas pelo Estado e pela sociedade as entidades familiares atípicas. Neste sentido são precisas as lições de Vianna da Silva e Catalan: “A família homoafetiva, portanto, demanda tanta tutela quanto qualquer outro modelo familiar, e, no entanto, ainda sofre na obscuridade e é vista como um tabu, o que se verifica não só pela questão da homofobia, mas pela própria questão legislativa não inclusiva, levando-se em conta não só a questão da homossexualidade em si, como ainda o é a própria união estável, apesar de todos os avanços legislativos.” O Brasil é o único país que a despeito de ter previsão constitucional expressa fazendo referência ao gênero masculino e feminino quando trata da união estável, teve seu reconhecimento estendido às uniões homoafetivas por decisão de sua Corte Constitucional. Pela procedência das ações e com efeito vinculante, no sentido de dar interpretação conforme a CF para excluir qualquer significado do artigo 1.723, do CC, que impeça o reconhecimento da união entre pessoas do mesmo sexo como entidade familiar. “Se o reconhecimento da entidade familiar depende apenas da opção livre e responsável de constituição de vida comum para promover a dignidade dos partícipes, regida pelo afeto existente entre eles, então não parece haver dúvida de que a Constituição Federal de 1988 permite seja a união homoafetiva admitida como tal. – Ministro Marco Aurélio” “Estamos diante de uma situação que demonstra claramente o descompasso entre o mundo dos fatos e o universo do direito – Ministro Joaquim Barbosa” Se a afetividade é a razão das relações familiares, justificando a sua proteção pelo Estado, abre-se o espaço necessário para o reconhecimento das uniões afetivas de pessoas do mesmo sexo como entidade familiar, devendo também estarem presentes os demais requisitos da estabilidade e ostensividade. Em que pese os robustos argumentos utilizados pelo autor, e reconhecendo que a atuação legislativa é a melhor opção não só em termos de legitimidade, mas também de maior capacidade de sistematização dos institutos que regulam o direito de família, a inércia do poder legislativo sobre esta questão é evidente, inclusive sendo chamada a atenção sobre este ponto por vários ministros no julgamento conjunto da ADPF 132 e ADI 4277. Joana Borges Moura RA:2358339 Turma: 003204B01 Neste sentido, superar uma regra é sempre mais difícil do que superar um princípio, pois nestes casos a ponderação já foi realizada pelo legislador, e para se afastar a incidência da regra, é necessário a realização de um discurso com ônus argumentativo bastante acentuado, sopesando o princípio que serve de fundamento para criação de uma exceção, com os princípios substanciais e formais que justificam a regra, sob pena de se substituir a ponderação legislativa pela judicial, sem o fundamento constitucional adequado. Todos os princípios decorrem da existência da proteção da dignidade da pessoa humana. “Por votação unânime, acordam em julgar procedentes as ações, com eficácia erga omnes e efeito vinculante, com as mesmas regras e consequências da união estável hetero afetiva” Sobre as relações homoafetivas, por este mesmo motivo, é inviável a utilização da interpretação conforme a constituição do artigo 1.723, C.C., por se tratar de um decalque da norma constitucional. Portanto, além da dificuldade inerente à superação de uma regra infraconstitucional que representa um sopesamento inicial realizado pelo legislador, acrescenta-se uma barreira extra, por se tratar de uma regra constitucional produzida pelo constituinte originário. Nenhuma das três hipóteses foi a que obteve a maioria dos votos dos ministros do STF no julgamento da ADPF 132/RJ e ADI 4277/DF, que optou por enquadrá-las como inseridas no §3º do artigo 226, C.F./88, como uniões estáveis. Elucida Maria Berenice Dias: “O silêncio da lei, no entanto, não impediu conquistas no âmbito do Judiciário. Quer fazendo analogia com a união estável, quer invocando os princípios constitucionais que asseguram o direito à igualdade e o respeito à dignidade, a Justiça vem deferindo direitos no âmbito do Direito das Famílias e do Direito Sucessório. O próprio Superior Tribunal de Justiça, ao afastar a extinção do processo sob o fundamento da impossibilidade jurídica do pedido, garantiu às uniões de pessoas do mesmo sexo acesso à justiça. Tudo isso, porém, não supre o direito à segurança jurídica que só a norma legal confere. O silêncio é a forma mais perversa de exclusão, pois impõe constrangedora invisibilidade que afronta um dos mais elementares direitos, que é o direito à cidadania, base de um Estado que se quer democrático de direito.”
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