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Novas tecnologias, letramentos e gêneros textuais d igitais: interatividade no ensino de línguas Gisele dos Santos Rodrigues Especializanda em Metodologia do Ensino de Língua Portuguesa e Estrangeira Faculdade Internacional de Curitiba (FACINTER) gisele@insigne.com.br Resumo : Este estudo apresenta algumas considerações importantes sobre três recursos que visam o aprimoramento das práticas de ensino em aulas de línguas materna e estrangeira, buscando a interação em sala de aula. Por meio de pesquisas bibliográficas foi feito um levantamento das concepções teóricas que envolvem as novas tecnologias, o letramento digital e os gêneros textuais digitais, a fim de informar e orientar os docentes sobre os temas que estão relacionados com as tecnologias da informação e da comunicação e, consequentemente, causar o aperfeiçoamento das suas práticas pedagógicas em aulas de línguas. 1 Introdução As novas tecnologias têm provocado mudanças profundas em diversas atividades da vida moderna, inclusive na nossa forma de viver. Com o advento da Internet, de outros recursos e ferramentas tecnológicas, o processo de ensino/aprendizagem também mudou. Com isso, muitos docentes e profissionais dedicados à educação procuram investigar como os usos e os impactos que novas práticas de ensino aliadas aos recursos tecnológicos podem influenciar nos processos de aprendizagem. Em conformidade com os pressupostos teóricos de Xavier (2004, 2005), Soares (1998, 2002, 2010), Lévy (1996, 1999), Coscarelli (1999, 2007), entre outros, este estudo busca caracterizar alguns conceitos recentes e em voga, os quais permeiam as práticas de ensino e aprendizagem de língua materna e línguas estrangeiras, entre eles estão o letramento digital, uma modalidade de letramento para o uso de diversos recursos tecnológicos e os gêneros digitais, gêneros de textos/discursos específico das mídias e suportes textuais oriundos dos objetos digitais e virtuais da informação e da comunicação. Com este estudo também se espera relacionar a nova forma de letramento e gêneros oriundos de mídias digitais emergentes com os recursos e ferramentas das novas tecnologias, a fim de aperfeiçoar o trabalho do docente e consequentemente a qualidade das suas aulas, as quais se tornarão mais interativas, atraindo assim diferentes e interessantes olhares dos discentes, diante dessas novas práticas de ensino, tanto nas aulas de Língua Portuguesa, quanto língua estrangeira, especificamente as aulas de Língua Inglesa. 2 Novas tecnologias & Ensino Hoje as crianças já nascem imersas numa cultura em que as inovações tecnológicas estão presentes na sociedade, por outro lado, em alguns lugares essas conquistas ainda não são acessíveis, fazendo com que a escola seja um importante espaço de acesso a esses artefatos tecnológicos e à aprendizagem de suas linguagens específicas. Nesse sentido é fundamental que os docentes dominem o desenvolvimento de currículos e projetos pedagógicos em que as tecnologias da informação e da comunicação não sejam apenas ferramentas, mas recursos instituintes de novas formas de aprender e ensinar. Para que isso seja, de fato, profícuo, professores e educadores devem discutir, refletir e aplicar alternativas para o desenvolvimento e o fortalecimento de práticas que utilizam as Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs). Nesse contexto, a atividade do professor deve estar centrada “no acompanhamento e na gestão das aprendizagens: o incitamento à troca de saberes, a mediação relacional e simbólica, a pilotagem personalizada dos percursos de aprendizagem, etc.”, (LÉVY, 1999, p. 171). Ou seja, o professor deve se tornar um pesquisador permanente para que novas formas de ensinar surjam a fim de apoiar os alunos nos processos de aprendizagem, principalmente quando o docente adapta suas estratégias de ensino para auxiliar o desenvolvimento de aprendizagens em sala de aula. As contribuições das novas tecnologias para o ensino são inúmeras: Os novos meios abrem outras possibilidades para a educação, implicam desafios para o trabalho docente, com sua matéria e seus instrumentos, abrangendo o redimensionamento do ensino como um todo: da sua dimensão epistemológica aos procedimentos mais específicos, passando pelos modos de objetivação dos conteúdos, pelas questões metodológicas e pelas propostas de avaliação. (BARRETO, 2004, p.23). Com o uso de novas tecnologias em aula o ambiente da educação deixa de ser tão formal, já que existem tantos outros espaços a serem explorados, tanto no mundo real como no virtual. Por esse sentido, os recursos digitais de aprendizagem, também chamados objetos de aprendizagem, são ótimos para apoiar a prática dos professores preocupados em motivar seus alunos para que participem, de forma efetiva, do processo de ensino e aprendizagem. De acordo com Beck (apud WILEY, 1999), um objeto de aprendizagem é “qualquer recurso digital que possa ser reutilizado para suporte ao ensino”. Os objetos de aprendizagem, além de mediadores, também podem ser acessíveis a diversos ambientes de ensino/aprendizagem e podem ser reaproveitados em diferentes situações de uso. Bergman & Ferro (2008, p.22) classificam os objetos de aprendizagem em informática, multimídia e telecomunicações. Entre eles destacam-se os softwares, histórias em quadrinhos em sites da web, animações em CDs multimídias e/ou Internet, hipertexto, vídeos, jogos, áudios, e-mails, chats, redes de comunicação, entre outros que podem trabalhar os mais variados assuntos de forma lúdica e atraente para os alunos. Nas aulas de língua materna o professor pode explorar o trabalho com recursos digitais usando a língua escrita nos “gêneros textuais, teorias da leitura e diferentes estratégias exigidas por diferentes gêneros textuais”, (SOARES, 2010, p.10). Além dessas práticas, nas aulas de língua estrangeira o docente também pode explorar as terminologias e as pronúncias dos diversos softwares, recursos e sites disponíveis em Língua Inglesa, assim como estudar o uso de qualquer língua estrangeira em suportes distintos que exigem variações linguísticas diversas. Essa prática já foi explorada por SANTOS COSTA (2006), ao usar o suporte textual do telefone celular como um recurso para o estudo de abreviações, variações linguísticas, produção textual, entre outras possibilidades pedagógicas. Em suma, os objetos de ensino e aprendizagem tecnológicos disponibilizam várias possibilidades de práticas em aula. Como considerado anteriormente, cabe ao docente o preparo adequado para lidar com essas novas práticas apoiadas aos recursos dos objetos de aprendizagem, principalmente porque cada momento da situação de aprendizagem deve ser adaptado, pois exigem uma estratégia diferente. Em conformidade com essa afirmação, é imprescindível que cada docente esteja preparado para lidar também uma nova forma de letramento, conhecida como letramento digital, de conhecimento útil para que toda essa prática tenha sentido. Nesse contexto é possível ampliar os conhecimentos sobre essa nova modalidade de letramento de acordo com um estudo bibliográfico que segue no decorrer deste estudo, o qual relaciona o letramento digital com o uso intenso das novas tecnologias de informação e comunicação e pela aquisição e domínio dos vários gêneros digitais. 3 Letramento Digital Como visto anteriormente, muitas práticas sociais de leitura e de escrita podem ser propiciadas pelos diversos meios tecnológicos, como o computador, a Internet e os telefones celulares, ou seja, meios de comunicação “cercados por palavras, textos, imagens e por tantos outros conjuntos de signos. Assim é que se caracteriza uma sociedade letrada”, (FERNANDES & PAULA, 2008, p. 21). Para aprofundar o conceito de letramento digital é importante destacar a relevância da compreensão dos modos de inserção e de uso da escrita nas sociedades letradas de hoje, bem como os processos históricos que vêmdeterminando os diferentes gêneros discursivos, tanto orais, como escritos, além de incluí-los em novos suportes tecnológicos. Para tanto, é preciso reconhecer o letramento digital como todas as possibilidades de contato com língua escrita nos ambientes digitais que ela ocorre, seja nas práticas de leitura ou de escrita. Segundo Xavier (2005, p.133) o letramento digital é importante por considerar a necessidade dos indivíduos em dominarem um conjunto de informações e habilidades mentais que devem ser trabalhadas pelas escolas e demais instituições de ensino, a fim de capacitar os alunos a viverem como verdadeiros cidadãos neste novo milênio, cercado cada vez mais por máquinas eletrônicas e digitais. SOARES (1998, p.145), em conformidade com essa ideia, conceitua o letramento como “o estado ou condição de indivíduos ou de grupos sociais de sociedades letradas que exercem efetivamente as práticas sociais de leitura e de escrita”. O que essa concepção acrescenta ao conceito de letramento digital é o pressuposto de que indivíduos ou grupos sociais que dominam o uso da leitura e da escrita em ambientes digitais, possuem habilidades e atitudes necessárias para uma participação ativa e de competência em situações em as que práticas de leitura e/ou de escrita são necessárias, fazendo com que eles, os outros e o ambiente que os cerca crie “formas de interação, atitudes, competências discursivas e cognitivas que lhes conferem um determinado e diferenciado estado ou condição de inserção em uma sociedade letrada”, (SOARES, 2002, p.146, grifos do autor). Em suma, o letramento digital pode ser considerado como algo que designa o estado ou condição em que vivem e interagem indivíduos ou grupos sociais letrados digitalmente. Dessa forma, supõe-se que as tecnologias de escrita, instrumentos das práticas sociais de leitura e de escrita, desempenham um papel de organização e reorganização desse estado ou condição. Sob essas concepções, o letramento digital também é visto como uma prática cultural, pois suas formas de interação possibilitam o aproveitamento de vantagens e outros recursos, a fim de que o indivíduo possa “participar efetivamente e decidir, como cidadão do seu tempo, os destinos da comunidade à qual pertence e as tradições, hábitos e costumes com os quais se identifica”, (XAVIER, 2005, p.134). Ou seja, o letramento digital possibilita que o indivíduo veja além dos limites do código, pois alguém que é letrado digitalmente reconhece e relaciona textos falados ou escritos e através disso também cria inferências. A nova modalidade de letramento também implica a realização de práticas de leitura e escrita diferentes das formas tradicionais de letramento e alfabetização. Segundo Xavier (2005), ser um indivíduo letrado digitalmente pressupõe assumir mudanças nos modos de ler e escrever os códigos e sinais verbais e não-verbais, como imagens e desenhos, pois o suporte sobre o qual estão os textos digitais é também digital. Os suportes digitais como a Internet e outros recursos tecnológicos estão em constante mudança e, por seu grande alcance e disseminação entre as pessoas, acabam por introduzir muitas mudanças acerca do papel da leitura e da escrita na atualidade, além de constituir-se como um novo ambiente propício à pesquisa e publicação de textos. Com o crescimento desses meios de comunicação tecnológicos, novos recursos linguísticos são usados e há uma revolução na forma da produção textual, caracterizada pelas mudanças na estrutura e pela própria forma escrita. “A globalização e a revolução tecnológica da Internet estão dando origem a um ‘novo mundo linguístico’”, (CRYSTAL, 2007, p.89). Por esse fator, tais mudanças implicam novos tipos de classificação para os gêneros textuais próprios dos ambientes digitais. O letramento digital está intrinsecamente relacionado com o estudo gêneros textuais digitais. Os conceitos que seguem no decorrer desse trabalho foram formulados por estudiosos da linguagem e servem como embasamento teórico para a compreensão dos gêneros textuais encontrados no ambiente da Internet e de outros objetos de aprendizagem digitais, também reconhecidos como gêneros textuais emergentes no contexto da tecnologia digital. 4 Hipertexto e Gêneros Digitais A maioria dos estudos sobre gêneros é consideravelmente influenciada pelas teorias de Mikhail Bakhtin. O linguista russo introduziu a noção gênero no campo dos estudos da linguagem. Para Bakhtin (2003, p.264), o estudo dos gêneros é de extrema importância porque qualquer trabalho de investigação de um material linguístico concreto opera enunciados que desempenha alguma relação com campos da atividade humana e comunicação. O ambiente da Internet oferece diversos gêneros textuais chamados de gêneros emergentes. Sob essa concepção Freire (2003, p.70) salienta que os gêneros “surgem ao lado de necessidades e de atividades sócio-culturais, assim como as inovações tecnológicas”. Nesse contexto os gêneros são definidos como parte de fenômenos sociais e históricos, pois surgem de mudanças institucionais, novas exigências, formas de uso e tecnologias. Ao tomarmos os gêneros como textos situados histórica e socialmente, de formas estilística e composicionalmente estáveis, como pressupõe Bakthin (2003), servindo como textos de cunho comunicativo e com propósitos específicos, como define Swales (1990) e com características que proporcionam a interação social, como na visão de Miller (1984), é possível prever que todo meio tecnológico que surge pode interferir diretamente na natureza e na forma de todo gênero que é produzido. A Internet é o meio de comunicação que ilustra de forma mais adequada esse caso e com isso também é possível destacar que os gêneros oriundos de ambientes multimídia (ambiente caracterizado por tecnologias com suporte digital para criar, manipular, armazenar e pesquisar conteúdos diversos, como imagem e som) são repletos de interação social. Os gêneros possuem “formas sociais de organização e expressões típicas da vida cultural. Contudo, os gêneros não são categorias taxionômicas para identificar as realidades estanques”, (MARCUSCHI, 2004, p.16). Assim, entendemos que, para tratar da classificação e identificação de um gênero, é preciso levar em conta o ambiente em que ele ocorre. De acordo com essas informações sobre os gêneros textuais o hipertexto é conhecido como a alternativa mais eficaz para a comunicação no meio digital, na medida em que minimiza os limites impostos para a leitura na tela e explora, de forma funcional, as possibilidades de construção de sentidos viabilizadas pelo computador. Embora pareça recente, a origem do hipertexto é datada na década de sessenta. Criado por Theodor H. Nelson, o nome hipertexto se refere a um tipo de texto eletrônico, a uma nova tecnologia informativa. Entretanto, apesar de sua nomenclatura ser relativamente nova, o hipertexto, ou pelo menos sua ideia essencial, já havia sido encontrada tecnicamente, por meio de projeto de uma máquina, no ano de 1945, pelo americano Vannevar Bush. O hipertexto possui uma grande e visível diferença entre os textos tradicionais, pois é dinâmico e flexível por ter em sua composição os links, que fazem um elo com outras páginas do mesmo tipo. Segundo Antônio Xavier o hipertexto pode ser entendido como uma “forma híbrida, dinâmica e flexível de linguagem que dialoga com outras interfaces semióticas, adiciona e condiciona à sua superfície formas outras de textualidade”, (XAVIER, 2004, p.171, grifos do autor). O termo hipertexto “designa uma escritura não-sequencial e não-linear, que se ramifica de modo a permitir ao leitor virtual o acesso praticamente ilimitado a outros textos, na medida em que procede a escolhas locais e sucessivas em tempo real”, (KOCH, 2007, p.25). A partir dessas descrições breves sobre hipertexto, é possível pensar nas possibilidades de uso desta nova ferramenta de informação e com os gênerostextuais digitais também não é diferente, pois o leitor pode dar rumo a sua leitura, uma vez que ele mesmo escolhe por onde navegar por meio dos links. Todavia, todos os recursos do hipertexto não se apresentam somente sob forma verbal (texto escrito, apenas), pelo contrário, os recursos semióticos estão presentes a começar pelos ícones. Hiperlinks não são mais frases sublinhadas em azul, hoje eles podem ser uma figura, partes de uma figura, símbolos, animações, fotos, gráficos, etc. Independente da forma, os hiperlinks são um elo entre hipertextos eletrônicos de temáticas idênticas ou semelhantes, cuja ligação é determinada pelo autor da página por meio de uma palavra. Através dos hiperlinks e de seu repertório pessoal o leitor participa da construção da significação que o texto assume, tornando assim cada leitura uma construção particular. Lévy (1996, p. 38) observa a leitura na virtualidade da seguinte forma: Enquanto dobramos o texto sobre si mesmo, produzindo assim sua relação consigo próprio, sua vida autônoma, sua aura semântica, relacionamos também o texto a outros objetos, a outros discursos, a imagens, a afetos, a toda a imensa reserva flutuante de desejos e de signos que nos constitui. O hipertexto é dinâmico e flexível, exigindo do leitor a ativação simultânea de saberes múltiplos (sobre a estrutura do suporte, conhecimentos de mundo, leituras semióticas) que devem fazer parte de seu repertório individual no momento da leitura. Essa exigência também é uma característica dos diversos gêneros textuais digitais e é por isso que o conjunto desses conhecimentos necessários para as práticas de leitura e escrita são reconhecidos como o letramento digital. Apesar de parecer um advento complexo, estudos e pesquisas anteriores já apontaram o hipertexto como uma constituição de textos simplificada. Nesse sentido, o conhecimento dos diferentes gêneros textuais digitais se faz necessário, uma vez que nem todos são oriundos dos hipertextos, mas também de SMS (Short Message Services), também reconhecidas como torpedos aqui no Brasil. A classificação dos gêneros desenvolvidos em maneira digital aumenta comumente e de forma extraordinária. Erickson1 (1997, p.4 apud Marcuschi (2004, p.17) informa que “a interação online tem o potencial de acelerar enormemente a evolução dos gêneros” e, à medida que se desenvolvem novos programas de interação on-line, também surgem novos gêneros, ou, pelo menos, os já existentes sofrem uma mudança considerável para necessitar de uma nova classificação. Os gêneros oriundos do hipertexto e de interação online, tais como os chats, o e-mail, as listas de discussão, os fóruns, as redes sociais, entre outros, são elucidativos para melhor compreensão do conceito de letramento digital, uma vez que se confrontam (apesar de apresentar muitas semelhanças) com as formas de interação “face-a-face ou por meio da escrita no papel”, (SOARES, 2002, p. 148). Contudo, pela diversidade de gêneros que existem atualmente, não é possível caracterizar como somente um gênero textual todas as formas de textos que encontramos na web, justamente porque as intenções dos usuários e as próprias possibilidades de interação são inúmeras, além de que essas não são as mesmas nos chats, blogs, fóruns, e listas de discussão, etc. Para apontar características dos gêneros textuais digitais é preciso relacionar os discursos que neles são produzidos, além de reconhecer suas situações de uso. Além do mais, os gêneros textuais digitais são reconhecidos também por serem instrumentos de comunicação, interação e principalmente de ação social. Por meio dessas características, é possível identificar alguns gêneros textuais digitais que podem ser de utilidade nas aulas de língua materna e estrangeira como e-mail; chats em salas de bate-papo; chats em programas de conversa instantânea; fóruns, lista de discussão ou textos de redes sociais e comunidades virtuais; SMS ou torpedos de telefones celulares; blogs e os recentes microblogs. Após a caracterização dos gêneros textuais digitais, cabe ressaltar que os gêneros do meio digital não podem ser confundidos com hipertextos, ambientes digitais ou virtuais. Como aponta Marcuschi (2004) o hipertexto é um modo de produção textual dos ambientes digitais ou virtuais e que se estende a diversos gêneros, atribuindo a eles algumas propriedades específicas. Todavia, a Internet se destaca como um ambiente heterogêneo e nesse contexto é importante frisar que os ambientes dessa rede possuem características próprias, servindo como ambientes para o processamento textual em que surgem os gêneros desse meio. Para exemplificar os ambientes virtuais e os ambientes digitais, é possível destacar a rede web, conhecida também como WWW; os ambientes de e-mails, como os programas de correio eletrônico ou sites que oferecem esse serviço; programas de conversas instantâneas ou salas de bate-papo; ambientes de videoconferências; comunidades virtuais, como o site Orkut; fóruns de 1 ERICKSON, Thomas. Social Interaction on the Net: Virtual Community as participatory Genre.(Publicado no Proceedings of the Thirtieth Hawaii International Conference on System Science. January, Vol. VI, pp. 13-21, 1997, Mauai hawaii). discussão e redes sociais, isto é, os sites que permitem a criação de uma rede de relacionamentos como o Twitter e o Facebook. 5 Práticas interativas no ensino de línguas O letramento digital agrega situações de comunicação ainda não exploradas e com isso novas formas de interação são criadas por meio dos recursos tecnológicos e textos que neles se constituem, como os gêneros textuais digitais: Por essa razão é que dizemos que o advento da Internet vem contribuir para o surgimento de práticas sociais e eventos de letramento inéditos, bem como deixa vir à tona gêneros textuais, até então, nunca vistos nem estudados. Os dispositivos informáticos hoje disponíveis na rede digital de comunicação possibilitam a criação de formas sociais e comunicativas inovadoras que só nascem pelo uso intenso das novas tecnologias. (XAVIER, 2005, p.135). Sob esse contexto teórico é possível considerar que a eficácia das práticas de ensino e aprendizagem nas aulas de línguas depende inclusive do trabalho que o docente exerce com o uso de gêneros textuais digitais, hipertextos e objetos de aprendizagem, que já estão relacionados com os Parâmetros Curriculares, tanto em língua portuguesa quanto em língua estrangeira. Entre os trabalhos do professor citados nos PCNEMs (2004, p.88-89), estão o uso de novas tecnologias, como o computador e a Internet. Esses recursos fazem a integração entre as competências e habilidades com a aplicação de tecnologias da comunicação e da informação, em situações relevantes, como, por exemplo, quando a Internet é usada para leitura não- linear em hipertextos (PCNEM, 2004, p.62-64). O conceito de hipertexto é destacado na relação que une um texto B (hipertexto) a um texto anterior (hipotexto), e alguns exemplos de como trabalhar essa competência em sala são apresentados, para que os docentes consigam aprimorar as habilidades de leitura dos alunos. As práticas de leitura em hipertexto envolvem processos cognitivos múltiplos, no qual o leitor percebe e reflete o conjunto dos componentes textuais e simbólicos que compõem o texto, pois o desenvolvimento da tecnologia digital e o uso do computador como suporte textual desencadeou um novo processo de leitura no qual a tela “imaterializa” o texto, e o leitor deixa de ter a noção do todo e algumas orientações visuais importantes, como páginas, por exemplo, que podem auxiliá-lo durante a leitura de textos impressos. O gênero e-mail pode ser explorado em sala de aula da mesma maneira que os gêneros carta e bilhete, pois é uma variante desses dois gêneros, constituída de forma digital. “Quanto ao formato textual é normal compará-lo com uma carta, um bilheteou um recado”, (MARCUSCHI, 2004, p.40). Nas aulas de línguas o professor pode fazer uso da estrutura do e-mail para aplicar alguns conteúdos gramaticais, como termos da oração (nos campos de remetente, destinatário e cópias), entre outros; estimular a produção textual (utilizando o corpo da mensagem e o assunto do e-mail), exercitando variantes linguísticas específicas desse gênero textual, além da adequação de uso e tipos de texto, como resumos, geralmente utilizados nos e-mails, por serem textos breves. Algumas dessas práticas já foram exploradas por em 2006, por Beltrão em Gordilho2 e podem de grande utilidade nas aulas de Língua Portuguesa no Ensino Fundamental. O docente também pode explorar os gêneros textuais blogs e microblogs, além das ferramentas blog, comunidades virtuais e redes sociais, que são ótimos sites para a prática da escrita colaborativa. Entre os benefícios das ferramentas em aula, é possível destacar o enriquecimento das discussões em nas aulas, o aumento do interesse dos alunos para pesquisas, tanto em aula, quanto extra-classe, motivação dos alunos e, principalmente, a interdisciplinaridade. Com os gêneros blogs e microblogs o professor pode avaliar a compreensão do aluno, sua capacidade de sintetização, domínio e análise de conteúdos e, também, a interação entre professor e aluno e aluno e colegas. “O inglês tem sido adotado como a língua franca da Internet”, (MARCUSCHI, 2004, p.89). Nesse sentido, nada melhor que o professor aproveitar os estrangeirismos, a pronúncia e o vocabulário próprio do inglês nas aulas de Língua Inglesa. O professor também pode estimular a leitura para aperfeiçoar diferentes habilidades, como reconhecimento dos elementos de coesão, funções sintáticas, sentidos do texto, ampliação do vocabulário, entre outros, pois a variedade de sites em língua inglesa disponíveis em diferentes gêneros digitais são insumos linguísticos com grande potencial de promoção da competência linguística nos alunos. Com e-mails, blogs, microblogs, chats, textos em comunidades virtuais e redes sociais o professor também pode trabalhar muito a escrita, inclusive pode explorar atividades que visam as colagens, pois são formas de construção textual comuns à escrita digital. Em fim, os gêneros textuais digitais permitem amplas formas de atividades em aula. Em todas as sugestões citadas, o docente deve pôr em prática a utilização do “texto como unidade de ensino e os gêneros como objetos de ensino”, (BUNZEN, 2006, p.153, grifos do autor). “Tão importante quanto a tecnologia em si, é como ela está sendo usada para fins educacionais”, (COSCARELLI, 1999, p.8). É por isso que ao professor cabe o papel de preparar bem as aulas, oferecendo desafios e questões interessantes para os alunos, explorando da melhor maneira possível os recursos que o computador lhe oferece, além de adequar cada gênero textual de acordo com sua função de uso, fazendo um bom uso dos objetos de aprendizagem, a fim de estimular a reflexão crítica e competente dos alunos em relação aos elementos linguísticos envolvidos nas leituras e produções textuais que serão realizadas com essas ferramentas pedagógicas. 6 Considerações finais A partir desse estudo foi possível informar e orientar os docentes sobre como encarar um novo desafio nas suas práticas pedagógicas de línguas, que consiste em letrar digitalmente uma nova geração alunos que crescem já 2 BELTRÃO, Eliana Santos; Gordilho, Tereza. Coleção Novo Diálogo: língua portuguesa. 1. ed. São Paulo: FTD, 2006. vivenciando uma nova realidade com evolução das tecnologias de informação e comunicação. À medida que a língua evolui também precisamos nos colocar a par dessa mudança, pois os nossos objetos de estudo também mudam. Como professores, devemos acompanhar esse processo estudando, aprimorando nossos conhecimentos e, principalmente, exercendo nossa função de educadores, de acordo com as melhores concepções de ensino e ferramentas pedagógicas, porque as mudanças na língua também implicam mudanças nas formas de ensino da língua. Nas aulas de línguas, as atividades pedagógicas que favorecem seus estudos, podem e devem estar relacionadas aos novos gêneros textuais. Além do mais, nas concepções de ensino em que o letramento digital está envolvido, os professores precisam encarar o desafio do aprendizado e do uso das tecnologias educacionais, além de se prepararem para essa nova realidade, aprendendo a lidar com os recursos básicos e planejando formas de usá-los nas salas de aula. Para isso, o docente já deve lidar com as tecnologias digitais durante sua formação, de modo mais detalhado nas didáticas de conteúdos específicos, adequando o seu conhecimento e relacionando-o com esses conteúdos, independente da disciplina. Dessa forma, o aluno não só interagirá com o professor e os outros alunos, mas também com o computador, os programas e a Internet. Assim, ele desenvolverá habilidades de leitura e escrita bastante seletivas no processo de aprendizagem, como as apontadas anteriormente. Sob essas concepções e ideias apresentadas é possível construir práticas que consolidem a relação indissociável entre educação, linguagem e tecnologia, criando novas aulas em sintonia com as demandas da sociedade. Mais do que isso, aulas que promovam a interatividade nos ambientes de aprendizagem e consequentemente criem novas formas de construção de sentidos. Referências BAKHTIN, Mikhail M.. Estética da criação verbal . 4. ed. São Paulo: Martins Fontes, 2003. XII, 476 p. 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