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JARDIM SENSORIAL(1)

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Tecnologia em Gestão Ambiental
susan kelly tinoco
JARDINS NADA BABILÔNICOS
MARAVILHAS EDUCATIVAS
Penha
2019
susan kelly tinoco
JARDINS NADA BABILÔNICOS
Maravilhas educativas
Trabalho de Produção Textual apresentado como requisito parcial para a obtenção de média semestral na disciplina de ecologia e biodiversidade, recursos naturais e fontes de energia, educação ambiental, manejo de unidades de conservação e sistemas de gestão ambiental e auditoria ambiental. Orientado por professores e professoras: Douglas Caldera Giangarelli, Flavia Augusta Clocet Da Silva, Leliana Aparecida Casagrande, Rodrigo Menezes Trigueiro e Jamile Ruthes Bernardes.
 
Penha
2020
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO.......................................................................................................4
2 DESENVOLVIMENTO...........................................................................................7
3 CONCLUSÃO.......................................................................................................21
4 REFERÊNCIAS....................................................................................................22
.
Introdução
Espaços de convivência e contato com as mais variadas formas de vida, os jardins sempre estiveram presente na história da humanidade. 
Para CHIMENTTI & CRUZ (2008), o jardim sempre foi um espaço de lazer e prazer, que faz um paralelo entre os sonhos e a realidade, sendo considerado um fragmento de sonho e não apenas um espaço para inserir a natureza em espaços urbanos. Como tal, deve ser acessível a todos. 
Mesmo sendo um direito universal, nem sempre estes espaços estão preparados para atender a todos os tipos de pessoas, incluindo-se as com mobilidades reduzidas ou algum tipo de deficiência visual ou auditiva.
Desde os primórdios os jardins foram projetados mais com finalidade visual, ou seja, contemplativa. Nem sempre se levou em consideração as texturas das mais diferentes plantas ou a combinação dos aromas de flores e sabores de frutos, por exemplo.
Com a proposta de integrar os sentidos do tato, audição, olfato, paladar e visão, o jardim sensorial pode ser considerado uma ampliação das funções até então atribuídas a este espaço. Mais do que apenas um local de contemplação, o jardim sensorial torna-se um ativador dos sentidos, um instrumento de educação ambiental e uma fonte de ótimas sensações.
O espaço deve ser pensado também para acessibilidade a pessoas portadoras de deficiências visuais, auditivas, motoras e de mobilidade, contando com o auxílio de profissionais capacitados para o atendimento, de forma a proporcionar a melhor experiência para todos.
Jardins sensoriais passaram a ter mais importância a partir do início do Século XX, com a evolução dos estudos científicos sobre o potencial dos ambientes na melhora da qualidade de vida, o que inclui os ajardinamentos e o uso dos estímulos sensoriais. Inicialmente utilizados apenas para fins terapêuticos, com o tempo esses ambientes foram ganhando destaque também como locais de promoção de qualidade de vida e ambientes de aprendizado em diversas disciplinas, além da inclusão.
	No Brasil, o Jardim Botânico do Rio de Janeiro (Fig.1) é considerado um modelo de Jardim Sensorial para fins educacionais. Este formato foi implantado a partir de 1995, abrindo espaço para outros Jardins Sensoriais, como em Brasília/DF (Fig.2), Recife/PE e no estado do Amazonas, a maioria dentro de Jardins Botânicos ligados a órgãos públicos ou universidades, sendo poucos de iniciativa privada.
Fig 1. Jardim Sensorial do Rio de Janeiro. Fonte: Turismo Adaptado
Fig 2. Jardim Sensorial em Brasília. Foto de Ronilson José Paz
Este trabalho tem como objetivo apresentar uma proposta de Jardim Sensorial desenvolvido em uma Reserva Particular do Patrimônio Natural (RPPN), voltado a fins turísticos e educacionais sobre meio ambiente, preservação e outras disciplinas ligadas à natureza, como biologia, química, física. Este jardim sensorial também tem a proposta inclusiva, ao direcionar atividades a portadores de deficiências visuais, auditivas, de fala ou de mobilidade.
Desenvolvimento
	
O Jardim Sensorial pode ser utilizado em diversas finalidades, entre elas a turística, a terapêutica e também a educacional, sendo esta última uma atividade interdisciplinar e complementar ao currículo, que cria vínculos entre o conteúdo e a vida dos estudantes, o que fixa os conhecimentos e dá estímulo a pesquisa e a busca por mais conteúdos (CENPEC & LITTERIS, 2001).
	De acordo com CLARKE (2002), locais como jardins botânicos, instituições de pesquisa e afins são alternativas de ensino e divulgação de conteúdos relacionados a ciências e, neste contexto, o Jardim Sensorial também pode ser inserido, por se tratar de um espaço não formal. Para BORGES & PAIVA (2009), a exposição de estudantes a espaços não-formais de ensino estimula a interatividade e a socialização. Acrescentam, ainda, que a sociedade atual necessita de espaços onde se desenvolvam atividades de educação ambiental e que estimulem a consciência da preservação dos recursos naturais e da biodiversidade.
Um estudo da aplicação do Jardim Sensorial como ferramenta educacional foi desenvolvido por BORGES & PAIVA, em 2008, na cidade de Niterói/RJ, durante a Semana Nacional de Ciência e Tecnologia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Contou com a participação de 64 estudantes entre 11 e 15 anos de duas escolas municipais, a atividade também foi ministrada a crianças entre 3 e 5 anos da creche da UFF.
A atividade consistiu em palestra de abertura, seguida pelas atividades interativas, nas quais os estudantes participaram descalços e vendados. O percurso foi dividido em duas etapas, cada uma delas supervisionada por guias que estimulavam os sentidos dos estudantes e ministravam os conteúdos de acordo com a etapa percorrida. As plantas foram divididas de acordo com os seus estímulos e, após a atividade, os estudantes entre 11 e 15 anos preencheram questionários desenvolvidos pela equipe, relatando as impressões obtidas pela experiência no Jardim Sensorial.
Na compilação dos dados obtidos durante o estudo, alguns fatores chamaram a atenção, entre eles o grande número de estudantes que reconheceram uma espécie de planta e também os que reconheceram mais de uma espécie. Os gráficos a seguir são referentes às proporções desse reconhecimento.
 
Gráfico 1 - Visitantes que reconheceram uma e mais de uma plantas no Jardim Sensorial 
(Fonte: BORGES & PAIVA, 2009)
Gráfico 2 - Espécies mais reconhecidas pelos estudantes participantes da atividade. 
(Fonte: BORGES & PAIVA, 2009)
O estudo publicado por BORGES & PAIVA (2009) demonstrou que o contato dos estudantes com o Jardim Sensorial trouxe resultados além dos puramente curriculares. A identificação com as plantas também despertou memórias afetivas e sensações que não seriam ativadas se os mesmos conceitos fossem apresentados apenas em ambiente escolar. 
Portanto, essa forma de aplicação para um Jardim Sensorial é importante no desenvolvimento cognitivo, no aprendizado e no estímulo a conscientização ambiental. As atividades podem abordar conceitos como a biodiversidade, as relações entre as espécies e sua influência no clima, nas águas e no solo, a importância das plantas na produção de oxigênio e controle do efeito estufa, podem também trabalhar conceitos relacionados a reciclagem, reaproveitamento e, principalmente, o respeito à natureza. Em um Jardim Sensorial podem ser trabalhados conteúdos em todas as áreas do conhecimento, sejam elas exatas, humanas, biológicas ou sociais.
Para efeitos de inclusão para pessoas portadoras de algum tipo de deficiência, um Jardim Sensorial é um indutor para o despertar de sentidos complementares. Um estudo desenvolvido com crianças entre cinco e dez anos de idade, na cidade de Curitiba/PR e publicado por SABBAGH & CUQUEL (2007), analisou as percepçõesde crianças com deficiência visual em contato com os estímulos proporcionados em um ambiente composto por plantas e diferentes estilos de pisos. Neste caso específico, o projeto levou em consideração as formas de estimular os sentidos do tato, audição e olfato, através do uso de espécies aromáticas, diferentes tipos de folhas e caules e uma rota desenvolvida sem bifurcações ou obstáculos que pudessem confundir a percepção das crianças. Observou-se que, nas primeiras experiências, foi necessário o auxílio de guias, porém, após o contato das crianças com os elementos integrantes desse Jardim Sensorial, muitas conseguiram refazer o percurso por conta própria, pela fixação da posição das plantas, os aromas e dos diferentes tipos de pisos. De acordo com o estudo, notou-se um aumento na autoestima dessas crianças através do contato e da percepção dos elementos integrantes do Jardim Sensorial.
O quadro a seguir, publicado por CARVALHO (2011), apresenta algumas da áreas trabalhadas através dos estímulos sensoriais em pessoas com deficiências visuais. (Adaptado de COIN & ENRÍQUEZ, 2002).
Quadro 1: Áreas trabalhadas na estimulação sensorial
	Auditiva
	Táctil
	Olfativa
	Cinestésica
	▪ Identificação; 
▪ Discriminação; 
▪ Localização; 
▪ Acompanhamento de sons.
	▪ Identificação; 
▪ Discriminação de: 
Texturas; Formas; Tamanhos; Temperaturas; Pesos.
	▪ Identificação; 
▪ Discriminação. 
	▪ Equilíbrio; 
▪ Movimento; 
▪ Memória muscular; 
▪ Postura e marcha. 
O Jardim Sensorial também apresenta resultados positivos na melhora da qualidade de vida em crianças com Autismo. Um estudo desenvolvido por ARAÚJO & SILVA (2019), com crianças na cidade de Pinhais/PR, trabalhou, além das percepções sensoriais, aspectos ambientais como a coleta e correta disposição de resíduos. Notou-se que a interação das crianças com as diferentes texturas, aromas e sabores auxiliou na redução do estresse. Percebeu-se, também, uma maior concentração e curiosidade por parte das crianças em relação aos nomes e utilidades das plantas.
Aproveitamento turístico das RPPNs
Reservas Particulares do Patrimônio Natural - RPPN - são áreas naturais protegidas a partir de iniciativas particulares. Criadas em 1990, a partir do Decreto nº 98.914, as RPPNs foram ganhando importância no contexto de conservação da biodiversidade e tiveram melhorias na regulamentação a partir de 1996, através do Decreto nº 1.922. 
No ano 2000, com a instituição do Sistema Nacional de Unidade de Conservação da Natureza (SNUC), através da Lei nº 9.985, as RPPNs passaram a ser definidas como unidade de conservação de uso sustentável. No ano de 2006, o Decreto nº 5.746 adequou os procedimentos de criação, gestão e manejo da categoria. A partir de então, a RPPN, tornou-se a primeira categoria de unidade de conservação regulamentada após a criação do SNUC. Segundo o Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio):
As RPPNs têm sido consideradas uma grande alternativa para a ampliação do SNUC, principalmente por ser uma categoria de unidade de conservação que integra a sociedade civil com o poder público, na busca pela conservação dos ecossistemas brasileiros.
De acordo com Leuzinger (2003):
As Reservas Particulares do Patrimônio Natural constituem, hoje, importantes atrativos para o ecoturismo, porquanto muitos proprietários criaram-nas com o duplo objetivo de proteger a natureza e explorar o turismo, o que são em si objetivos salutares, pois dão oportunidade ao público de ter acesso organizado aos atrativos naturais nelas existentes. Além do mais, o turismo angaria recursos com os quais o proprietário sustenta, aprimora e pereniza a proteção ambiental e gera empregos. Assim, as duas funções da RPPN saem ganhando, a preservação porque obtém recursos financeiros com o turismo e o turismo porque subsiste em razão da natureza preservada.
A utilização de RPPNs para fins turísticos no Brasil ainda é pouco aproveitada, mesmo com o imenso potencial que essas áreas representam. Porém, bons exemplos também se destacam, um deles é a RPPN Cabeceira do Prata, localizada na cidade de Jardim, estado do Mato Grosso do Sul. Esta reserva já foi premiada em várias ocasiões, nos mais importantes veículos de comunicação especializados em turismo, entre eles o Guia Quatro Rodas. Este modelo de uso ecoturístico mescla atividades como cavalgadas, observação de aves nativas e fauna pantaneira, trilhas e mergulhos em piscinas naturais no Rio da Prata.
Fig. 3 - Atividade ecoturística na RPPN Cabeceira do Prata.
Foto de Haroldo Palo Junior. Fonte: WWF
	
Outro exemplo bem sucedido é a RPPN da Vaga Fogo, na cidade de Pirenópolis, estado de Goiás. Esta propriedade desde 1990 produz alimentos a partir das frutas da região, além de derivados de leite, produtos estes que são comercializados na região e também para os visitantes da RPPN, que desenvolve atividades ecoturísticas como rapel, tirolesa e arvorismo. 
	De acordo com o ICMBio, é possível tornar as RPPNs um negócio sustentável, sem alterar as características que definem estes espaços de conservação. Visão semelhante é defendida por organizações internacionais de proteção à biodiversidade, como a WWF. 
Estudo publicado por RUDZEWICZ e LANZER (2008) apontou os biomas brasileiros que mais contam com RPPNs voltadas ao ecoturismo: Mata Atlântica (41% dos casos), Pantanal (24%), Cerrado (17%), Amazônia (7%), biomas Costeiros (5%), Caatinga e Campos Sulinos (ambos com 3%). Este estudo foi desenvolvido em quatorze RPPNs em todo o país e mostrou que 79% dessas unidades de conservação tinham finalidades voltadas ao ecoturismo e 72% delas voltadas a educação ambiental. 
	As atividades mais desenvolvidas dentro das RPPNs, de acordo com o estudo de RUDZEWICZ e LANZER (2008) são as consideradas de baixo impacto, como a observação da fauna, trilhas interpretativas, cavalgadas, arvorismo, cicloturismo, entre outras.
O conceito de Jardim Sensorial pode ser inserido, por exemplo, no perfil de trilhas interpretativas e também de interação com a fauna e flora locais, somando-se às atividades educacionais sobre o meio ambiente e atividades relacionadas.
Proposta de Jardim Sensorial em espaço de RPPN
Dentro dos contextos turísticos, educacionais e inclusivos, para a implantação de um Jardim Sensorial em espaço privado é necessária a disponibilização de uma área em localização que proporcione facilidades de deslocamento por parte das comunidades e unidades educacionais. Em se tratando de uma RPPN, geralmente localizada fora dos limites urbanos, é de se considerar as malhas viárias próximas, como rodovias e ruas de acesso. Denominaremos doravante por “visitante” as pessoas ou grupos que vão usufruir do espaço e atividades do Jardim Sensorial, para uniformizar a descrição.
O espaço destinado ao Jardim Sensorial na RPPN do Barão deve ter total acessibilidade, com rampas, cantos arredondados, pegadores e pisos táteis, além da disposição elevada de plantas para facilitar o contato. Em um ambiente de RPPN, em que são restritas as formas de edificações, deve-se considerar o uso de madeira para a produção desses elementos de acessibilidade, preferencialmente a partir de fontes de reflorestamento ou reaproveitamento, por exemplo, de madeiras de demolição. 
Fig 4. Passarelas em madeira facilitam acessibilidade e protegem a vegetação.
Fonte: Ambiente Magazine
Pode haver diferentes tipos de pisos, como terra, pedriscos, grama, areia, entre outros, porém a disposição dos mesmos deve ser pensada para o uso por cadeirantes, por exemplo. Entre as alternativas está a implantação de uma parte central ou lateral que permita a passagem das cadeiras de roda ou muletas e, ainda assim, permitindo o contato dos pés com os diferentes tipos de superfícies. As placas informativas devem contar com linguagem em braile para deficientes visuais e pictogramas para auxílio aos deficientes auditivos. Todo o percurso terá monitoria de profissionais capacitados para atendimento a cada perfil de visitante.
Fig 5. É importante o uso de superfícies elevadas, de forma a facilitaro contato.
(Fonte: Viver Com Plantas)
Fig 6. Acessibilidade a cadeirantes deve ser levada em consideração. 
(Fonte: Quadro Consultoria)
 Ao chegar no Jardim Sensorial, o visitante será recebido com explicações sobre a proposta do espaço. Na entrada já podem constar elementos como rochas, tijolos e terra, além de água e variedades aromáticas de plantas. A proposta é o desenvolvimento de percursos, que poderão ser feitos distintamente ou integrados em um roteiro completo, de acordo com as possibilidades de cada visitante e o objetivo da visita. Para fazer o percurso será preciso seguir as texturas, sons, cores, aromas e sabores. Visitantes com limitações sempre contarão com a monitoria profissional, para que possam completar os percursos estimulando os sentidos complementares a limitação. 
Durante o trajeto, diversos elementos ativadores das sensações podem fazer parte da composição do Jardim Sensorial. Para a visão, as cores de flores, frutos e diferentes espécies de plantas; animais adaptados às espécies existentes no local, rochas, terra, areia e água. Para estímulos a audição: o som do vento, de água corrente, de pássaros e animais adaptados às espécies existentes no local. Para o tato, podem ser utilizadas diferentes espécies de plantas, entre arbóreas, foliares, rasteiras, suculentas, entre outras, desde que não possam causar reações como alergias, queimaduras ou cortes; também podem fazer parte rochas de diferentes formatos, terra, areia e água. Para o olfato espécies aromáticas, como flores, temperos e frutos e para estímulos ao paladar, frutos, sementes e espécies aromáticas. 
Dentro dessa visão de estimuladores para as percepções, os percursos serão divididos de acordo com a distância em relação ao local de recepção dos visitantes, a topografia e a relação entre as espécies existentes na RPPN do Barão e os estímulos que se pretendem ativar nos visitantes.
A primeira etapa é a mais próxima do local de recepção, sendo o formato mais acessível aos portadores de mobilidades reduzidas, cadeirantes e crianças, composta de elementos de estímulo ao olfato em uma espiral composta por temperos, onde o visitante poderá ter contato com os diferentes aromas, conhecer as origens das espécies, como as combinações são aplicadas na culinária e também as propriedades terapêuticas dessas plantas. Essa espiral pode ser construída em uma combinação de pedras, bambu e madeira, o que já estimula também o tato através do contato com as texturas de cada um desses elementos.
Fig 7. Modelo de Espiral Aromática, com variedades de ervas. (Fonte: Verde Orgânico)
Em seguida, o percurso se afasta mais um pouco do local de recepção e leva a um pequeno labirinto, composto de diferentes tipos de pisos (terra, grama e pedriscos, por exemplo) e cujas paredes são compostas por plantas, madeira, bambu, pedras e estimulantes olfativos, como flores ou temperos. O visitante, ao adentrar neste espaço, precisará atentar para os sentidos, de forma a completar este trecho do percurso. No caminho vai encontrando placas informativas sobre as espécies existentes nesse labirinto, observando, sentindo os aromas e tocando nas plantas e superfícies a partir das orientações das placas. No caso de visitantes que possuam mobilidade reduzida ou não percepção da visão, faz-se necessária a companhia do monitor, que vai acompanhar o trajeto de forma minimamente invasiva, ou seja, deixando que o visitante procure percorrer o labirinto por si próprio, intervindo para auxílio apenas em casos de muita dificuldade por parte do visitante. 
Fig. 8 - Modelo de Labirinto eco-sensorial em Ribeiras do Uíma, Portugal
(Foto: Adriano Miranda - Fonte: Publico.pt)
Ao final do labirinto, o visitante vai adentrar um novo percurso, desta vez composto por estímulos ao paladar. À medida em que vai percorrendo o caminho, o visitante recebe informações sobre os alimentos que vai experimentar, sejam eles frutas, verduras, legumes, flores comestíveis ou temperos, sempre levando em consideração as espécies de época, preferencialmente nativas ou oriundas da própria RPPN. Esses alimentos poderão ficar à mostra em bancadas apropriadas, nas próprias plantas para serem colhidos ou até mesmo escondidos, para estimular o visitante a procurar e, assim, interagir com os elementos existentes no percurso. Também nesta parte o visitante receberá informações sobre os valores nutricionais, culturas de época e espécies nativas desses alimentos.
Ao final dos percursos, o visitante vai entrar em contato com a água, através de pequenas fontes criadas com pedras, plantas aquáticas e peixes. Nestes cursos d’água, o visitante poderá exercitar a visão, o tato e a audição e, no caso dos portadores de limites aos sentidos da visão, audição ou ambos, o estímulo aos outros sentidos mais desenvolvidos. Nesta etapa, o visitante também receberá informações sobre o ciclo hídrico no planeta: composição, evaporação, formação das nuvens, precipitação, aquíferos, nascentes, penetração no solo, benefícios a saúde e a importância da preservação dos recursos hídricos para o equilíbrio do planeta e a sobrevivência dos seres vivos.
Fig 9. Fontes permitem o contato com a água em um Jardim Sensorial
(Fonte: Get Ninjas) 
Um circuito mais amplo e com maior complexidade poderá integrar o Jardim Sensorial construído com as áreas nativas, mais afastadas do ponto de recepção. Neste circuito podem ser incluídas outras atividades de ecoturismo, como trilhas em meio a mata baseadas na orientação, de forma a estimular a percepção de espaço, a audição e a visão. Este circuito poderá envolver atividades como o arvorismo e tirolesas, podendo ser desenvolvido também em forma de gincana, de forma a estimular o espírito de equipe, a cooperação e o foco nos objetivos. Atividades de observação de aves também podem ser desenvolvidas, de forma a estimular também a visão, a audição, a concentração e a atenção focada.
	
Espécies para estimular os sentidos
A variedade é o fator-chave de um Jardim Sensorial (Rosa, 2015). Existem espécies que podem se adaptar melhor a proposta destes espaços. Plantas como Hibiscus (Hibiscus sabdariffa), Crisântemos (Chrysanthemum morifolium), Violetas (Violeta odorata), Camélias (Camelia japônica), Calêndulas (Calendula officinalis), Gerânios (Pelargonium crispum), Flor-de-cera (Hoya carnosa), Cavalinha (Equisetum hyemale) são algumas das espécies que estimulam a visão, por suas cores e belezas.
Ervas aromáticas são ideais para estimular o olfato. Para um Jardim Sensorial são propícias variedades como o Alecrim (Rosmarinus officinalis), a hortelã (Menta piperita), o Manjericão (Oncimum basilicum), o Orégano (Origanum vulgare), a Camomila (Chamomilla recutita), entre outras. Espécies de flores como os Jasmins (Stephanotis floribunda), Lavandas (Lavandula officinalis) e Gardenias (Gardenia augusta) também têm estímulos olfativos, assim como o Capim-limão (Cymbopogon citratus).
Espécies para estimular o tato podem ter toques suaves e aveludados, como o Veludo-roxo (Gynura) ou cipestres como as Tuias (Cupressus macrocarpa). Algumas espécies de cactos têm variedades sem espinhos e possuem formas interessantes ao toque, como o Vela (Cereus peruvianus). Espécies de suculentas possuem muitas formas diferentes e podem ser mescladas de forma a estimularem sensações táteis distintas. Algumas, como a Aloe arborerscens, também possuem propriedades medicinais e de estímulo visual. 
Fig 9. Cacto Vela, sem espinhos. (Fonte: Minha Vida Suculenta)
Fig 10. Aloe arborerscens. (Fonte: Annie's Annuals) 
As mesmas ervas aromáticas que estimulam o olfato podem também ser usadas para despertar sensações gustativas. Algumas delas podem ser consumidas diretamente das plantas ou através de chás. O uso de frutíferas também é um recurso muito proveitoso para estimular sensações do paladar, sendo interessante variar as espécies de acordo com as frutificações ao longo do ano, de forma a despertar diferentes sensações e ampliar a taxa de retorno do visitante. 
	
Conclusão
Jardins Sensoriais têmse mostrado, em diversos estudos ao redor do mundo, ser um espaço que proporciona aos visitantes um despertar de sensações físicas e também psicológicas, contribuindo na melhoria da qualidade de vida. Podem ser usados nas mais diversas finalidades, sejam elas terapêuticas, turísticas, educacionais e também inclusivas. 
O desenvolvimento de um Jardim Sensorial deve sempre levar em consideração a sua finalidade e a disposição dos elementos, de forma a despertar os sentidos, colaborar para a melhora nos estudos, na fixação dos conteúdos e na construção de uma personalidade cidadã, com conscientização da importância da preservação do meio ambiente e a relação pessoal com a natureza.
Em sua maioria, os Jardins Sensoriais fazem parte de espaços públicos, como Jardins Botânicos, ou ligados a instituições de pesquisa e universidades. É possível e viável a implantação de Jardins Sensoriais em espaços privados, pois a utilização, como já mencionado anteriormente, é ampla, trazendo bons resultados institucionais, educacionais e de responsabilidade social. 
Já no caso das Reservas Particulares do Patrimônio Natural, o desenvolvimento turístico, educacional e de pesquisa são as principais atividades que permitem a manutenção e a sustentabilidade destas áreas. Existem bons exemplos de uso destas áreas para o ecoturismo e o imenso potencial que ainda pode ser desenvolvido. 
	Dentro desta proposta, o Jardim Sensorial em uma RPPN mostra-se uma alternativa que reúne as características das principais atividades em uma Unidade de Conservação, podendo ser aproveitado tanto na área construída especificamente para esta finalidade quanto em sua área natural, proporcionando assim a possibilidade de criação de roteiros diversos, para atendimento a visitantes dos mais variados perfis, de escolas a turistas em busca de novas experiências, tornando-se assim uma fonte de renda e de conhecimentos que vão fazer a diferença para o futuro do planeta.
REFERÊNCIAS:
ARAÚJO, ARTHUR S., SILVA, LARISSA R. G. Autismo: Estudo de caso em Jardim Sensorial para criança no Espectro Autista. 2019. Disponível em https://even3.blob.core.windows.net/anais/194472.pdf
BORGES, Thaís Alves; PAIVA, Selma Ribeiro de. Utilização do jardim sensorial como recurso didático In: Revista Metáfora Educacional (ISSN 1809-2705) – versão on-line, n. 7., dez./2009.p. 27-38. Disponível em: <http://www.valdeci.bio.br/revista.php>
CARVALHO, Carla Susana Pinheiro de. O Jardim Sensorial: um recurso para a estimulação sensorial de surdocegos. Instituto Politécnico de Lisboa, Escola Superior de Educação de Lisboa. 2011. Disponível em
https://repositorio.ipl.pt/bitstream/10400.21/817/1/O%20jardim%20sensorial.pdf
CENPEC & LITTERIS. O jovem, a escola e o saber: Uma preocupação social no Brasil. In:Charlot, B.(org.). Os jovens e o saber – Perspectivas mundiais. Porto Alegre. Artmed Ed., 2001.
CLARKE, G. As exposições vistas pelos olhos dos visitantes – a chave para o sucesso da comunicação em museus. In: Anais Seminário Internacional de Implantação de Centros e Museus de Ciências. Rio de Janeiro, 2002.
COIN, M., & ENRÍQUEZ, I. (2002). Servicio de Rehabilitación Integral. Málaga: ONCE – Organización Nacional de Ciegos.
LEUZINGER, Claudio. Funções de preservação ambiental e ecoturismo da Reserva Particular do Patrimônio Natural – RPPN: supressão por desapropriação. Brasília, 2003. Disponível em
https://www.bdm.unb.br/bitstream/10483/386/1/2003_ClaudioLeuzinger.pdf
RUDZEWICZ, Laura; LANZER, Rosane Maria. Práticas de ecoturismo nas Reservas de Patrimônio Natural. Revista Hospitalidade, São Paulo, ano V, n. 1, p. 81-96, jun. 2008
SABBAGH, Maria Carolina; CUQUEL, Francine Lorena. Jardim sensorial: uma proposta para crianças deficientes visuais In: Revista Brasileira de Horticultura Ornamental - versão on-line, v. 13, n.2, p. 95-99, 2007. Disponível em: https://www.researchgate.net/publication/277637750_Jardim_sensorial_uma_proposta_para_criancas_deficientes_visuais 
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, ICMBio. Sobre RPPN. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/criesuareserva/sobre-rppn
WWF, RPPN Recanto Ecológico Rio do Prata. Disponível em: https://www.wwf.org.br/?15500 
MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, ICMBio. Gestores Avaliam Sustentabilidade das RPPNs. 29 de junho de 2017. Disponível em: https://www.icmbio.gov.br/portal/ultimas-noticias/20-geral/9001-gestores-avaliamsustentabilidade-das-rppns 
Fontes das imagens:
Fig 1. Jardim Sensorial do Rio de Janeiro - Turismo Adaptado
https://turismoadaptado.wordpress.com/viagens/rio-de-janeiro-rio-de-janeiro/jardim-sensorial-jardim-botanico/ 
Fig 2. Jardim Sensorial de Brasília - Foto de Ronilson José Paz
https://www.researchgate.net/figure/Figura-4-Jardim-Sensorial-do-Jardim-Botanico-de-Brasilia_fig1_279516123 
Fig 3. - Passarela em madeira no Jardim Eco-Sensorial do Parque das Ribeiras da Uíma - Portugal 
https://www.ambientemagazine.com/labirinto-eco-sensorial-no-parque-das-ribeiras-do-uima/ 
Fig 4. Floreira elevada - Viver com Plantas
https://vivercomplantas.wordpress.com/2017/06/23/jardim-e-para-todos-deficiencia-visual-e-o-jardim-sensorial/#jp-carousel-1237 
Fig 5. Jardim Sensorial Acessível (Quadro Consultoria)
https://www.quadroconsultoria.com.br/como-criar-um-jardim-sensorial/ 
Fig 6. Jardim Eco-Sensorial do Parque das Ribeiras da Uíma - Portugal
https://www.publico.pt/2016/09/09/local/noticia/ribeiras-do-uima-transformamse-num-labirinto-ecosensorial-1743538#&gid=1&pid=5 
Fig 7. Exemplo de espiral de ervas aromáticas (Verde Orgânico)
https://veorganico.wordpress.com/2014/03/03/espiral-de-ervas-aromaticas/ 
Fig 8. Fonte em Jardim Sensorial 
https://www.getninjas.com.br/guia/reformas-e-reparos/jardinagem/aprenda-fazer-um-jardim-sensorial/ 
Fig 9. Cacto Vela
https://www.minhavidasuculenta.com.br/produtos/cacto-vela-cacto-sem-espinhos/ 
Fig 10. Aloe arborescens
https://www.anniesannuals.com/signs/a/images/aloe_arborescens_habit_01.jpg 
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