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A Participação das Mulheres_ TCC_Lima

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A PARTICIPAÇÃO DAS MULHERES NA ELABORAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO 
FEDERAL DE 1988: O LOBBY DO BATOM1 
 
Caroline Araújo Florêncio de Lima2 
 
 
 
RESUMO: O presente artigo propõe-se a analisar e discutir os principais aspectos da 
participação das mulheres na elaboração da Constituição da República Federativa do Brasil de 
1988, tendo como foco principal o movimento político conhecido como “Lobby do Batom”. 
O referido lobby, criado a partir do Conselho Nacional de Direitos da Mulher- CDMN tinha 
como composição a união do movimento feminino, de ativistas feministas e deputadas 
(bancada feminina), regia-se pelo lema: “Constituinte pra valer tem que ter Palavra de 
Mulher”, e sua principal finalidade era garantir a inserção das demandas femininas nos 
dispositivos da nova Carta Magna. O escopo do ensaio é, portanto, resgatar, e propor 
reflexões acerca do lobby do batom no processo constituinte 1987/1988, identificando os 
avanços conquistados, seus desdobramentos, bem como os limites e obstáculos que ainda 
permeiam a efetivação da Constituição da República de 1988 quanto aos direitos das 
mulheres. Para esse intento, a metodologia utilizada foi pesquisa bibliográfica, com 
fundamento na doutrina que trata o tema, além de artigos científicos e teses. 
 
Palavras-chave: Constituição da República Federativa do Brasil de 1988, participação das 
mulheres, processo constituinte, “Lobby do Batom”. 
 
 
 
SUMÁRIO: 1. INTRODUÇÃO. 2. O DIREITO DAS MULHERES E A 
CONSTITUIÇÃO DE 1988. 2.1 DIREITO DAS MULHERES. 2.2 A EVOLUÇÃO DOS 
DIREITOS DAS MULHERES NAS CONSTITUIÇÕES BRASILEIRAS. 2.2 A 
CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 NA 
PERSPECTIVA DOS DIREITOS FEMININOS 3. CONSTITUINTE PRA VALER TEM 
QUE TER PALAVRA DE MULHER: O LOBBY DO BATOM. 4. AVANCOS, 
LIMITES E POSSIBILIDADES DE ENFRENTAMENTO: IMPACTO DO LOBBY DO 
BATOM 5. CONSIDERAÇOES FINAIS. REFERÊNCIAS. 
 
 
 
1 INTRODUÇÃO 
 
Historicamente a sociedade impôs às mulheres uma posição de inferioridade, de 
subordinação, e negação de direitos fundamentais, essa imposição determinava-se além de 
outros fatores, pelas próprias legislações que detinham caráter discriminatório e exclusivista, e 
ao invés de combater e enfrentar corroborava com o tratamento desigual destinado as 
mulheres. 
 
1Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito - CERES - UFRN como requisito para a 
obtenção do grau de Bacharela em Direito sob a orientação do Prof. Esp. Saulo de Medeiros Torres. 
2 Acadêmica do Curso de Direito da Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN 
 
 
2 
 
Com o intuito de romper as discriminações a que eram submetidas, ao longo da 
história as mulheres lutaram e reivindicaram pelo fim da desigualdade de gênero, bem como 
pela garantia e efetivação de seus direitos, e reconhecimento como cidadãs e sujeitos de 
direitos. 
No caso do Brasil não foi diferente, os movimentos das mulheres se agruparam para 
cobrar do Estado a garantia e proteção de seus direitos, seja o direito do voto, de participação 
no espaço público, igualdade salarial, igualdade de gênero, entre outros. 
No presente estudo será abordado, portanto, um dos marcos do movimento no Brasil- 
o “lobby do batom”, articulação de cunho inédito na história brasileira, o lobby do batom foi 
um movimento político – jurídico formado pela união do Conselho Nacional de Direitos da 
Mulher - CNDM, ativistas feministas, o movimento feminino, e deputadas, que detinha como 
escopo principal proporcionar a participação das mulheres na elaboração da Constituição de 
1988, e assim, garantir que suas demandas fossem recepcionadas na nova Carta. 
Dessa forma, tem-se como objetivo principal do trabalho apresentar e assim resgatar a 
história do lobby do batom, destacando seu legado não somente para os direitos das mulheres 
brasileiras, mas, também para a sociedade como um todo. Bem como identificar os 
desdobramentos advindos no processo constituinte; avaliar o seu papel como instrumento para 
a consolidação de seus direitos das mulheres como normas constitucionais. Além, de analisar 
os avanços proporcionados com a promulgação da Constituição Federal de 1988 no que tange 
o direito feminino, e o que ainda precisa ser conquistado e efetivado. 
Para a melhor análise do tema foi realizado um estudo acerca da evolução dos direitos 
das mulheres, considerando todas as Constituições brasileiras, desde a primeira de1824 até o 
advento da Constituição de 1988. Posteriormente, realizou-se uma análise da Carta Cidadã, 
destacando-se os artigos específicos que tratam os direitos das mulheres, por exemplo, o 
artigo 5° inciso I, que prevê a igualdade de gênero, uma das principais lutas do movimento 
feminino e reivindicações do lobby do batom. 
Por fim, o último capítulo tem como escopo realizar uma pesquisa acerca das 
consequências e efetivos avanços conquistados com o lobby do batom, analisando as 
propostas elencadas na “Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes”, sem deixar de 
enfrentar os limites e as barreiras que ainda permeiam a sociedade brasileira quanto à 
discriminação de gênero, identificando possíveis soluções para seu enfrentamento. 
Durante a realização do estudo, e da busca bibliográfica constatou-se o pouco 
conhecimento que se tem sobre o tema, isto é, poucos são os registros nos livros jurídicos, nos 
 
 
3 
 
livros de Direito Constitucional, nas discussões ou debates nas salas de aula da graduação. 
Essa ausência ao invés de me afastar do tema, realizou uma profunda necessidade de fazê-lo, 
pois, por ser um momento marcante para a história da luta das mulheres, e consequentemente 
para a história do país, deve ser reconhecido pela nova geração de estudantes de direito, e da 
própria sociedade brasileira. 
 Portanto, a escolha do tema deu-se justamente com o intuito de resgatar a histórica 
participação das mulheres através do lobby do batom no processo constituinte de 1988. E 
assim, desenvolver um assunto ainda visto com “reservas” pela sociedade e pela própria 
academia, desconhecido tanto pelos docentes como pelos discentes. Manter viva a memória 
deste momento fundamental da vida política do Brasil. E acima de tudo promover um convite 
para a reflexão sobre a condição e os direitos das mulheres na sociedade atual, suscitando o 
debate, pois um país só será realmente desenvolvido e democrático com a inclusão das 
mulheres, no espaço público e privado. 
 
2 O DIREITO DAS MULHERES E A CONSTITUIÇÃO DE 1988. 
 
2.1 DIREITO DAS MULHERES. 
 Ao longo da história das civilizações à mulher foi relegado um papel secundário, 
tratada como figura inferior em relação ao homem, não apenas na vida doméstica, no âmbito 
familiar, mas também no espaço público, já que se demonstrava restrito aos homens. Ressalta-
se que desde a primeira infância, homens e mulheres absorvem, os conceitos culturais que 
determinam as características e as atribuições para cada gênero na sociedade. E essa fixação 
de papéis delimita o gênero masculino e o feminino, “incutindo valores e normas sociais que 
tendem a colocar as mulheres em posição hierarquicamente inferior aos homens. ” 3 
 Para se compreender a subordinação imposta é necessário entender que a mesma é fruto 
da forma como a mulher foi/é construída socialmente, e tendo a concepção de que aquilo que 
é construído pode ser desconstruído, as reivindicações feministas focaram suas lutas para a 
igualdade no exercício dos direitos, questionando, as raízes culturais de tais disparidades.4 
 Essa negação e a ausência de direitos, e a discriminação a que eram submetidas, 
fomentou o surgimento do feminismo. Deduz-se que seu surgimento ocorre exatamente 
 
3 HIRAO, Denise. A Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra a 
Mulher, p. 754. In. PIOVESAN, Flávia, IKAWA, Daniela(Coords). Direitos Humanos: Fundamento, Proteção 
e Implementação. Curitiba: Juruá, 2009, vol. 2, p. 754 
4 MACHADO, Érica Babini Lapa do Amaral et al. Sentenças de medida socioeducativa de internação e 
gênero: o olhar dos magistrados em Pernambuco sobre as adolescentes em conflito com a lei. Revista da 
Faculdade de Direito. UFPR, Curitiba, vol. 61, n. 2, maio/ago.2016. Disponível em: 
http://revistas.ufpr.br/direito/article/view/42294/29063. Acesso em: 25 out. 2016, p. 177. 
http://revistas.ufpr.br/direito/article/view/42294/29063
 
 
4 
 
quando as primeiras feministas perceberam que as relações sociais eram historicamente 
marcadas pela subordinação da mulher e pela sua exclusão dos espaços sociais e de poder. 
 Nessa perspectiva a autora Salete Maria Silva5 acrescenta que: 
 
 
As mulheres perceberam que a sua história era a história da ausência de direitos. O 
binômio feminismo/direito, portanto, se entrelaça desde a origem das primeiras lutas 
das mulheres por um lugar social. A compreensão de que havia uma exclusão 
histórica que submetia, em menor ou maior grau, as mulheres e que esta submissão 
era legitimada, por vários instrumentos dentre os quais leis e discursos jurídicos, 
justificadores e mantenedores desta segregação, obrigou as feministas a entender que 
a sua ação não poderia prescindir da defesa de leis que as incluíssem e as 
reconhecessem como sujeitos de direitos. 
 
 
 É imprescindível destacar os conceitos acerca dos movimentos das mulheres, sendo 
constituído como uma das modalidades dos chamados novos movimentos sociais, segundo 
Salete Maria da Silva considerado um movimento que congrega tantos grupos feministas 
propriamente ditos como movimentos femininos - como clubes de mães, associações de bairro 
e grupos de mulheres articulados em sindicatos, partidos políticos, entidades religiosas, dentre 
outras agremiações. Por sua vez o movimento feminista, congrega mulheres, (homens 
também) e possui como escopo a defesa de mudanças nas relações sociais de gênero, 
liberando as mulheres do jugo das hierarquias e desigualdades entre os sexos. Tendo um 
“caráter assumidamente político se preocupa com a teorização de suas ações e proposições, 
visando conquistar a equidade dos gêneros, especialmente através da participação feminina 
em todos os espaços sociais”.6 
 Dessa forma, diante da submissão e exclusão legitimada o movimento feminista, 
compreende a importância da luta pela igualdade de gênero, por participação no espaço 
público, bem como, estabelece como questão primordial de suas ações promover a garantia e 
reprodução de seus direitos e reivindicações nas legislações dos seus países, pois entende o 
importante papel da legislação na construção da cidadania de grupos que são historicamente 
excluídos, postos à margem da sociedade, como por exemplo, as mulheres.7 
 
5 SILVA, Salete Maria da. O Legado Jus-Político do Lobby do Batom vinte anos depois: a participação das 
mulheres na elaboração da Constituição Federal. XXI Encontro Regional de Estudantes de Direito e Encontro 
Regional de Assessoria Jurídica Universitária “20 anos de Constituição. Parabéns! Por quê? 2008, p. 05. 
Disponível em: http://www.urca.br/ered2008/CDAnais/pdf/SD3_files/Salete_Maria_SILVA_2.pdf. Acesso em: 
24 out. 2016. 
6 SILVA, Salete Maria da. A carta que elas escreveram: a participação das mulheres no processo de elaboração 
da Constituição Federal de 1988. Salvador, 2012. Tese de Doutorado em Direito, 322 f. UFBA p. 53. Disponível 
em: http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/handle/ri/7298. Acesso em: 24 out. 2016. 
7 Ibidem, p. 65. 
http://www.urca.br/ered2008/CDAnais/pdf/SD3_files/Salete_Maria_SILVA_2.pdf
 
 
5 
 
Nessa linha cita-se a figura de Olimpe de Gouges8 que em 1791 escreveu a pouco 
conhecida “Declaração dos direitos da mulher e da cidadã”9 um documento que 
explicitamente contrapunha a Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão de 1789. 
Posteriormente no âmbito internacional surgiram instrumentos que visavam proteger 
os grupos chamados “minoritários”, entre eles as mulheres, destacando-se nesse aspecto a 
Carta da ONU de 1945, primeiro documento internacional a incluir a igualdade de direitos de 
homens e mulheres. Outros tratados internacionais também estabeleceram em suas linhas os 
princípios da igualdade e a proibição a discriminação baseada no sexo, como por exemplo, a 
Declaração Universal de Direitos Humanos (1948) e o Pacto de Direitos Civis e Políticos.10 A 
Convenção sobre os Direitos Políticos da Mulher (1953); Conferência Mundial dos Direitos 
Humanos em Viena (1993), a IV Conferência Mundial da Mulher (1995) em Pequim, na 
China; a Convenção Interamericana sobre a Prevenção, Punição e Erradicação da Violência 
contra a Mulher- conhecida como Convenção do Pará. 
 Partindo dessa análise da influência internacional na garantia e proteção dos direitos 
das mulheres, ressalta-se a decretação da década da mulher (1975-1985) instituída pela 
Organização das Nações Unidas – ONU, bem como o ano de 1975 decretado como o Ano 
Internacional da Mulher também pelas Nações Unidas. 
Nesse contexto Salete Maria da Silva 11 define nos seguintes termos que: 
 
 
No ano de 1975, as mulheres deram um grande passo ao conseguir que a ONU 
decretasse como o Ano Internacional da Mulher. Tal reconhecimento refletiu 
amplamente e revigorou as ações do movimento feminista da época. A partir de 
então, esta década e, principalmente, as duas seguintes, foram cheias de pesquisas 
sobre a condição da mulher. Desde então, os encontros políticos e a criação ou 
modificação de leis têm sido focos do movimento feminista, com objetivos à 
ampliação e segurança de direitos. 
 
 
Ainda no âmbito dos frutos advindos com a referida Década da Mulher, destaca-se o 
ano 1979, a criação da Convenção sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação 
contra a Mulher- CEDAW, primeiro instrumento internacional a tratar e buscar de forma mais 
específica a questão da igualdade de gênero, o CEDAW concedeu uma proteção especial a 
situação da mulher que passou a ser tutelada. 
 
8 Revolucionária e escritora francesa (1748-1793). 
9Art.1° da Declaração, “A mulher nasce livre e permanece igual ao homem em seus direitos. ” 
10 HIRAO (2009), op. cit., p.754. 
11 SILVA, Luisa Stella de Oliveira Coutinho. Direitos das mulheres e organização no plano internacional 
moderno: uma revisão histórica da participação das mulheres nas relações internacionais. Rev. Fac. Direito 
UFMG, Belo Horizonte, n. 65, p. 513/547 jul./dez. 2014. Disponível em: 
http://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article. Acesso em: 24 out. 2016, p. 537. 
http://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article
 
 
6 
 
 A Convenção sobre Eliminação de todas as Formas de Discriminação contra a Mulher 
traz como um dos pontos mais importantes, o reconhecimento da discriminação da mulher e 
de sua tipificação.12De acordo com a autora o CEDAW foi o primeiro mecanismo 
internacional a tratar de uma forma mais específica a busca da igualdade da mulher, 
considerando-a como sujeito de proteção especial, combatendo a discriminação contra a 
mulher nas suas mais variadas formas: na educação, política, saúde, família, buscando assim 
um empowerment.13 
 Diante do exposto, é possível compreender que as Convenções Internacionais e 
regionais contribuíram sobremaneira e foram de suma importância para reforçar e incentivar o 
exercício pleno dos direitos políticos pelas mulheres, e também instituem em suas linhas 
medidas destinadas a aumentar a participação das mulheres nos três poderes.14 
 No que concerne o Brasil tem-se como um de seus pontos primordiais a promulgação 
da Constituição da República de 1988. A referida Carta Magna significou no âmbito do plano 
jurídico nacional um grande marco legislativo no tocante aosdireitos das mulheres e à 
ampliação de sua cidadania, pois possibilitou que históricas demandas femininas fossem 
convertidas em normas constitucionais.15 
 É imprescindível, entretanto, para compreender a importância e evolução da 
Constituição Federal de 1988 no âmbito do direito das mulheres no Brasil, a realização de 
uma análise das constituições anteriores, através de um breve histórico desde a de 1824 a 
promulgação da Constituição Cidadã. 
 
2.2 A EVOLUÇÃO DOS DIREITOS DAS MULHERES NAS CONSTITUIÇÕES 
BRASILEIRAS. 
 Ao longo de sua história o Brasil teve 8(oito) Constituições, duas delas outorgadas 
(impostas). A primeira Constituição, outorgada no período imperial em 25 de março de 1824 
foi a de mais longa duração- 65 anos, tendo sido marcada por forte centralismo administrativo 
e político, e pelo absolutismo, em decorrência da figura do Poder Moderador. 
 
12 SALGADO, Gisele Mascarelli. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas e Discriminação 
contra a Mulher (CEDAW) e seu Protocolo Facultativo: impacto no Direito brasileiro, p. 766, In: 
PIOVESAN, Flávia, IKAWA, Daniela (Coords). Direitos Humanos: Fundamento, Proteção e Implementação. 
Curitiba: Juruá, 2009, vol. 2. 
13 Traduzida como empoderamento. Frase utilizada pelos movimentos feministas para enfatizar a luta da mulher 
pelo poder, pela igualdade de gênero. 
14 ALMEIDA. Cecília Beatriz Soares. A afirmação dos Direitos da Mulher e a efetividade Jurídica nas 
Relações Familiares. Dissertação de Mestrado em Direito. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-SP, 
2007, p. 64. Acesso em: 24/10/2016. Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs 
15 SILVA (2012), op. cit., p.42. 
 
 
7 
 
 No que tange os direitos da mulher, a Carta do Império, como era conhecida, foi 
marcada pela inexistência de normas constitucionais reconhecedoras da cidadania feminina, 
pois considerava como cidadão, com plenos direitos, somente o homem, branco e 
proprietário.16 
 Em 1891 foi promulgada a primeira Constituição da República do Brasil, a segunda do 
constitucionalismo pátrio, e como a sua antecessora também não reconhecia a mulher como 
cidadã de direitos, permanecendo a exclusão da condição de eleitoras. 
 Já a Constituição de 1934, por sua vez, previa a situação jurídica da Mulher, no Título 
II- Da Declaração de Direitos, Capítulo II- Dos Direitos e das Garantias Individuais, no artigo 
113, § 1º proibia quaisquer privilégios ou distinções por motivo de sexo. “Todos são iguais 
perante a lei. Não haverá privilégios, nem distinções, por motivo de nascimento, sexo, raça, 
profissões próprios ou dos pais, classe social, riqueza, crenças religiosas ou ideias políticas” 
 Destaca-se que a Constituição de 1934, incorporou ao seu texto normativo a previsão 
do voto feminino, fruto das inúmeras articulações políticas do movimento sufragista da época. 
Seguindo a trilha do Código Eleitoral de 1932, definiu no seu artigo 108 previa: “São eleitores 
os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de 18 anos, que se alistarem na forma da lei. '' 
essa expressão outro sexo, referia-se a mulher, já que o homem era considerado o 
paradigma/modelo a ser seguido, enquanto a mulher era o “outro” 17 
 A Constituição de 1937, a Constituição dos Estados Unidos do Brasil, outorgada no 
Estado Novo, período ditatorial de Getúlio Vargas, foi apelidada de “Polaca” pela influência da 
Constituição polonesa, por sua vez, ao tratar os direitos e garantias individuais suprimiu a 
expressão igualdade jurídica entre os sexos, conforme previa a Carta anterior. Estabelecendo 
somente em seu art. 122, I: “Todos são iguais perante a lei”. Repetiu-se acerca do direito ao 
voto, no “Art. 117: “São eleitores os brasileiros de um e de outro sexo, maiores de dezoito 
anos, que se alistarem na forma da lei. ” 
 Quanto a Carta de 1946, promulgada em 18 de setembro, considerada uma das mais 
progressistas até então, segundo Salete Maria da Silva “limitou-se a reproduzir o texto da 
Constituição anterior, não avançando em absolutamente nada no que respeita às questões 
femininas. ” 18 
 No regime militar, duas foram as Constituições, a Constituição de 1967 e a Emenda 
Constitucional de 1969, ressalta-se que ocorreram sem a experiência de Assembleias 
 
16 Ibidem, p. 40. 
17 Ibidem, p. 41. 
18 Ibidem, p.41. 
 
 
8 
 
Constituintes, e quanto aos direitos das mulheres também não demonstraram inovações, 
tendo, contudo, fixado a igualdade de todos sem distinção de sexo, já que foram elaboradas 
após a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que o Brasil era subscritor.19 
 Diante do exposto, observa-se distinções ente as Constituições quanto à igualdade, 
posto que as Constituições de 1824, 1891, 1937 e 1946 consagraram o princípio da igualdade 
de forma geral, sem estabelecer distinções quanto ao sexo. Diferentemente das Cartas de 
1934, 1988 e a Constituição de 1967/Emenda de 1969 que estabeleceram a expressão “sem 
distinção de sexo”, reveladora da preocupação com a isonomia ente os gêneros. E no que 
tange o direito do voto, tanto a Constituição de 1824, como a de 1891 não admitiam o direito 
ao voto para a mulher. Apenas na Constituição de 1934 que foi concedido à mulher o direito 
ao voto, utilizando-se a expressão “de um e outro sexo”, bem como a obrigatoriedade do 
alistamento e voto para os homens e as mulheres20. 
 
2.3 A CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988 NA 
PERSPECTIVA DOS DIREITOS FEMININOS. 
 Até a promulgação da vigente Constituição Federal, em 1988, “as constituições 
brasileiras sempre tiveram um caráter flagrantemente machista, reforçando preconceitos e 
gerando exclusão e discriminações contra a mulher, tanto no âmbito da vida privada quanto na 
vida pública. ” 21 
 Diante do exposto, reforça-se a importância da Constituição da República Federativa 
do Brasil de 1988 conhecida como Constituição Cidadã, que após décadas na escuridão da 
ditadura militar (1964-1985), surge como uma luz, uma esperança ao povo brasileiro 
inaugurando uma nova ordem constitucional, uma nova era, considerada a mais democrática, 
humanista e liberal de todas as Constituições brasileiras. 
 No dia 05 de outubro de 1988 foi promulgada a Constituição cidadã, um dos 
documentos jurídicos de maior relevância para a história brasileira, garantindo direitos 
sociais, fundamentais, individuais e coletivos jamais contemplados em outras Constituições. 
 A relevância e destaque para o ordenamento jurídico brasileiro da Constituição de 
1988, pode ser observado desde o preâmbulo da Carta, pois assegurava o exercício dos 
direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a 
 
19 ALMEIDA. Cecília Beatriz Soares. A afirmação dos Direitos da Mulher e a efetividade Jurídica nas Relações 
Familiares. Dissertação de Mestrado em Direito. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo-SP, 2007, p. 55. 
Disponível em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs. Acesso em: 24 out. 2016. 
20 Ibidem, p. 55 
21SILVA (2012), op. cit., p 42. 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs
 
 
9 
 
igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem 
preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, 
com a solução pacífica das controvérsias.22 
 A Constituição foi inovadora já que voltou as suas atenções para a proteção dos 
sujeitos mais vulneráveis, as minorias, instituindo dispositivos voltados à defesa de grupos 
como as mulheres, consumidores, crianças e adolescentes, idosos, indígenas, 
afrodescendentes, pessoas com deficiência e presidiários.23 
Essa mudança advinda com a nova Carta pode ser observada nas palavras do autor 
Dirley da Cunha Jr.24: 
 
Erauma tarde de quarta-feira, um dia ansiado por todos os brasileiros, ávidos por 
um novo Brasil e uma nova sociedade, plural e aberta, na qual todos, depois de anos 
de sombra e escuridão, pudessem nascer, viver e conviver livres e iguais em 
dignidade e direitos. Às 16:00 horas dia 05 de outubro de 1988, um dia diferente e 
especial para o Brasil e todos os brasileiros, promulgou-se a nova Constituição do 
País, a Constituição da esperança, da democracia, da felicidade, do ser humano: a 
Constituição cidadã, como assim intitulada por quem presidia a tão emocionada e 
histórica Sessão da Assembleia Nacional Constituinte. 
 
 
 Nessa linha de inovações e avanços em defesa de grupos em situação de maior 
vulnerabilidade analisamos mais de perto quanto aos direitos das mulheres, o objeto do 
presente artigo. 
 Demonstra-se que a Constituição de 1988 foi sem sombra de dúvidas um documento 
jurídico de real importância para o direito das mulheres, já que se deu a ampliação 
constitucional de direitos de cidadania feminina. Dessa forma, além de restaurar a democracia 
no Brasil, a Carta Magna também é um marco na defesa de direitos igualitários para as 
mulheres, nunca antes vivenciado. 
 Para ressaltar esse avanço citamos os artigos da CRFB/1988 quanto aos direitos das 
mulheres: inicialmente cita-se o artigo 3°, IV que determina que um dos objetivos 
fundamentais da República Federativa do Brasil é a promoção do bem de todos, sem 
preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação. 
Destaca-se também a proibição de diferença de salários, de exercício de funções e de critério 
 
22 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. 
23 SARMENTO, Daniel. 21 Anos da Constituição de 1988: a Assembleia Constituinte de 1987/1988 e a 
Experiência Constitucional Brasileira sob a Carta de 1988. DPU Nº 30 – Nov-Dez/2009, p. 31. Disponível em: 
http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/667. Acesso em: 27 nov. 2016. 
24 CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito Constitucional. 8ª Ed. Salvador: Jus Podium, 2014, p. 412. 
 
http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/667
 
 
10 
 
de admissão por motivo de sexo, idade, cor ou estado civil (art. 7°, XXX); a igualdade nas 
relações de família (art. 226, §5°); o planejamento familiar como livre decisão do casal (art. 
226, § 7°). 
 Na gama desses direitos introduzidos na Carta Política, um dos principais artigos 
presentes na Constituição Federal de 1988 quanto aos direitos das mulheres é o dispositivo do 
artigo 5°, que dispõe: 
 
“Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, 
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade 
do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos 
seguintes: 
I - homens e mulheres são iguais em direitos e obrigações, nos termos desta 
Constituição. ” 25 
 
 
 O primeiro inciso deste artigo estabelece a igualdade entre gêneros, ou seja, homens e 
mulheres são iguais em direitos e obrigações nos termos desta Constituição, conclui-se que o 
intuito é proporcionar uma igualdade mais justa que a do caput do referido dispositivo, ou 
seja, busca-se um tratamento isonômico para igualar os desiguais, conforme célebre frase de 
Rui Barbosa influenciada pela visão Aristotélica, tratar igualmente os iguais e desigualmente 
os desiguais na medida de suas desigualdades. 
 Outros artigos da Constituição Federal de 1988 que tratam acerca das mulheres são: às 
presidiárias serão asseguradas condições para que possam permanecer com seus filhos durante 
o período de amamentação (art. 5°, L); licença à gestante, sem prejuízo do emprego e do 
salário, com a duração de cento e vinte dias (art. 7°, XVIII); as mulheres e os eclesiásticos 
ficam isentos do serviço militar obrigatório em tempo de paz, sujeitos, porém, a outros 
encargos que a lei lhes atribuir (art. 143, § 2°); é assegurada aposentadoria no regime geral de 
previdência social, nos termos da lei, obedecidas as seguintes condições, I - trinta e cinco anos 
de contribuição, se homem, e trinta anos de contribuição, se mulher; II - sessenta e cinco anos 
de idade, se homem, e sessenta anos de idade, se mulher, reduzido em cinco anos o limite para 
os trabalhadores rurais de ambos os sexos e para os que exerçam suas atividades em regime 
de economia familiar, nestes incluídos o produtor rural, o garimpeiro e o pescador artesanal 
(art. 201, §7°, I e II) 
 
 
 
25 Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. 
 
 
11 
 
3 CONSTITUINTE PRA VALER TEM QUE TER PALAVRA DE MULHER: O 
LOBBY DO BATOM. 
 
 A política se constitui como um campo estratégico de atuação do movimento 
feminista, uma vez que a ascensão das questões femininas no meio público proporciona uma 
maior visibilidade para as mulheres e para os movimentos engendrados por elas.26 
 Nesse aspecto, tem-se a criação do Conselho Nacional dos Direitos da Mulher- 
CNDM criado pela lei nº 7.353, de 29 de agosto de 1985, vinculado ao Ministério da Justiça 
em 1985, de iniciativa do presidente José Sarney. Inicialmente é imprescindível salientar que 
foi fundamental para a sua criação a influência internacional que o Brasil sofreu, através da 
efervescência da Década da Mulher, bem como a pressão exercida pelos movimentos 
feministas. 
 Este caracterizou-se como um espaço de caráter público em que se podia deliberar, 
articular e promover debates, discussões acerca das questões femininas, auxiliando na 
promoção dos direitos das mulheres. Um espaço de vigilância do exercício pleno da 
cidadania, proporcionando o agenciamento de mulheres e o diálogo com os diversos 
movimentos sociais do país. 27 
 O CNDM foi de suma importância para a promoção dos direitos das mulheres, 
assegurando a igualdade de condições perante os homens no que tange a participação na vida 
política, e ainda afirma que: 
 
Constituído em seu quadro por mulheres de classe média, vinculadas a movimentos 
de mulheres ou a política, como a socióloga Jacqueline Pitanguy De Romani, e a 
deputada estadual Ruth Escobar (PMDB), o CNDM encabeçou e promoveu a 
participação das mulheres no debate Constituinte, realizando encontros, palestras, 
reuniões, que tratassem da questão, visando à constituição de uma plataforma 
política que olhasse para as reivindicações femininas, fazendo com que essas 
pudessem ser amplamente discutidas. As mulheres das camadas populares também 
tiveram uma atuação significativa no movimento.28 
 
 
 Dessa forma, é possível aduzir que a referida politização das questões femininas 
permitiu “um olhar mais de perto” acerca do processo de redemocratização da sociedade, bem 
como uma participação mais efetiva no debate Constituinte e na elaboração da nova Carta 
 
26 AMÂNCIO, Kerley Cristina Braz. “Lobby do Batom”: uma mobilização por direitos das mulheres. 
Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.3, nº5 jul.-dez, 2013.p.75. Disponível em: 
http://seer.ufms.br/index.php/RevTH/article/viewFile/444/244. Acesso em: 24 out. 2016. 
27 Ibidem, p.75. 
28 Ibidem, p.75. 
 
 
12 
 
Magna, sendo uma peça relevante no desenvolvimento da luta por direitos das mulheres, 
atuando como mediador entre os movimentos de mulheres e os parlamentares constituintes. 29 
 A atuação do CNDM consolidou-se na Campanha “Mulher e Constituinte” com o 
slogan “Constituinte Pra Valer Tem Que Ter Palavra De Mulher”, o foco primordial da 
campanha era a elaboração de uma carta contendo as propostas e demandas femininas e 
entregá-la aos deputados na Assembleia Constituinte, para efetivar a sua inclusão na nova 
Constituição, a referida carta foi denominada Carta das Mulheres Brasileiras aos 
Constituintes. 
 Esse movimento foi denominado delobby do batom30e teve como seu escopo 
principal, inserir na nova Constituição (enquanto fundamento jurídico do Estado), os preceitos 
legais que permitissem mudanças nas relações entre mulheres e homens, igualando-os em 
direitos e obrigações, garantindo assim, a cidadania plena das mulheres, o reconhecimento 
como cidadãs, construindo um novo paradigma social, ou seja, garantir às suas reivindicações 
um status constitucional, configurando como um compromisso estatal.31 
 O movimento feminino almejava a igualdade de direitos entre homens e mulheres, 
garantir seu espaço no ambiente público, deixando de ser expectadora para ser protagonista. O 
lobby do batom foi um desses exemplos de protagonismo feminino. Criado pelo Conselho 
Nacional dos Direitos da Mulher- CNDM foi intitulado de lobby do batom32, quanto a essa 
alcunha é necessário afirmar que não pode ser lembrado apenas como um apelido cunhado 
pela imprensa para, à época, retratar com desdém, a mais um dos inúmeros grupos que 
circulavam no âmbito do Congresso Nacional durante a elaboração da atual Constituição 
Federal brasileira. 
O lobby do batom era composto pelo CNDM, o movimento feminino, ativistas 
feministas e 26 (vinte e seis) deputadas eleitas- a chamada bancada feminina, o objetivo 
fundamental era promover à participação das mulheres no processo constituinte 1987/1988, e 
promover consequentemente a adesão de suas reivindicações. Tal movimento político-jurídico 
 
29 Ibidem, p. 74. 
30Quanto ao nome que lhe foi dado - lobby do batom salienta-se que “não pode ser lembrado apenas como um 
apelido cunhado pela imprensa para, à época, em princípio, se referir, com desdém, a mais um dos inúmeros 
grupos que circulavam no âmbito do Congresso Nacional durante a elaboração da atual Constituição Federal 
brasileira. ” (SILVA, 2012) 
31 SALETE Maria. A carta que elas escreveram: a participação das mulheres no processo de elaboração da 
Constituição Federal de 1988. Salvador/BA, 2011. Tese (Doutorado em Direito), 322 f. UFBA, p. 42. Disponível 
em: http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/handle/ri/7298. Acesso em: 24 out. 2016. 
32 Segundo Comba Marques Porto, apud SILVA (2012, p. 194) “A expressão, em verdade, surgiu na imprensa, 
mais exatamente no Jornal do Brasil, com o qual tínhamos contato e passávamos as informações que queríamos 
ver difundidas. Achamos a expressão interessante e a incorporamos” 
http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/handle/ri/7298
 
 
13 
 
foi uma articulação inédita na história brasileira, um verdadeiro marco que possibilitou a 
criação de um documento constitucional mais igualitário. 
A sua atuação se deu paralelamente aos parlamentares constituintes, e a proposta era 
entregar a Carta na Assembleia Nacional Constituinte (ANC) e assim, ocorreu, no dia 26 de 
março de 1987 fora entregue ao Congresso Nacional nas mãos do então presidente da ANC, o 
deputado Ulisses Guimarães. 
 Nesse contexto vale mister salientar a composição da Assembleia Constituinte para se 
compreender a real necessidade de formação de um grupo de pressão para que os direitos das 
mulheres fossem incorporados, pois vejamos, no total formado de 559 membros – 487 
deputados federais e 72 senadores, apenas 26(vinte e seis) eram mulheres, a chamada 
“bancada feminina”. 33 A composição da ANC detinha claramente características patriarcais, 
formada majoritária e hegemonicamente por homens, como sustenta Sarmento34 “as mulheres 
estavam absolutamente sub-representadas na Assembleia Constituinte, contando com apenas 
26 congressistas (4,6 % do total). ” 
 Pode-se perceber que em termos de representação de gênero uma enorme 
desigualdade35: 
 
Em um universo de mais de cinco centenas de parlamentares, menos de 5% eram 
mulheres, tal desigualdade, em termos de gênero, era traduzida pela pífia 
representação feminina neste espaço de poder - levando-se em conta que as 
mulheres, nas eleições de 1986, constituíam 54% da população e 52% do eleitorado 
nacional - confirma a tese do patriarcado, segundo a qual, historicamente, o poder e 
a política se articularam como privilégio dos homens, restando às mulheres as 
atividades da esfera privada e suas funções correlatas. 
 
 
 Dessa forma, o papel do lobby do batom foi imprescindível exigindo como salientou 
Salete Maria da Silva afirma um trabalho mais intenso, criando estratégias de ação voltadas 
para a apresentação de demandas, fortalecer e intensificar os diálogos e pressões sobre os 
congressistas, bem como fiscalizar e monitorar as fases da Constituinte, sempre com o intuito 
de garantir a constitucionalização de suas bandeiras históricas. 
 
 
33De acordo com SILVA (2008) até 1986, apenas uma mulher havia sido eleita deputada constituinte: a médica 
paulista Carlota Pereira de Queiroz, que em 1934 atuou junto ao parlamento nacional na elaboração da Lei 
Maior. Na realidade eram 25 deputadas eleitas presentes na ANC, pois foram eleitas 26, mas a deputada Beth 
Mendes se licenciou para ocupar a Secretaria de Cultura da prefeitura de São Paulo. 
34 SARMENTO, Daniel. 21 Anos da Constituição de 1988: a Assembleia Constituinte de 1987/1988 e a 
Experiência Constitucional Brasileira sob a Carta de 1988. DPU Nº 30 – Nov. Dez/2009, p. 15. Disponível em: 
http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/667. Acesso em: 27 out. de 2016. 
35 SILVA (2012), op. cit., p 167. 
http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/667.%20Acesso
 
 
14 
 
4 AVANCOS, LIMITES E POSSIBILIDADES DE ENFRENTAMENTO: 
IMPACTO DO LOBBY DO BATOM 
No que tange os avanços adquiridos às mulheres, é necessário desmistificar a ideia de 
que os direitos das mulheres conquistados, como os da Constituição de 1988 foram 
outorgados pelos grandes homens ou surgidos da boa vontade ou elevada capacidade racional 
do legislador, e sim através das lutas e resistências das próprias mulheres. Omite-se a 
importância da mulher como partícipe da sua própria história.36 
 O papel do CNDM juntamente com o lobby do batom foi crucial na inclusão de 
direitos das mulheres na nova Constituição, tornando-se um marco significativo na trajetória 
da conquista de direitos das mulheres, bem como promoveu a democracia participativa. 
 Sendo um divisor de águas na luta pelos direitos das mulheres no Brasil, o lobby do 
batom, teve um papel fundamental para que reivindicações concernentes as mulheres reunidas 
na Carta das Mulheres Brasileiras aos Constituintes (entregue na Assembleia Constituinte) 
fossem convertidas em normas constitucionais, introduzidas na Constituição Federal de 1988, 
e também teve um papel importante, já que seu trabalho de articulação possibilitou a 
promoção de discussões e debates em todo o país, permitindo a dissipação e reconhecimento 
da luta feminina. 
Entretanto, apesar dos inúmeros avanços conquistados nas últimas décadas, muito 
ainda precisa ser feito para que a sociedade seja efetivamente igualitária, conforme prevê a 
Constituição, em seu art. 5°. Ainda não é possível afirmar que existe uma igualdade de 
condições entre homem e a mulher. 
 É imprescindível, todavia, enfrentar a realidade que a existência de um direito 
positivado, não é suficiente, pois exige-se a contrapartida, qual seja, a efetivação desses 
direitos por parte do Estado. Pois, apesar de seus direitos estarem protegidos na legislação 
nacional, muitas vezes essa proteção não encontra reflexos na sociedade. Salienta-se queexiste 
uma “clara distinção do que já está exposto na legislação e o que existe na realidade, 
ocasionado um grande abismo entre o jus e o fato, ente o dever-ser e o ser”.37 
 
36 Como assevera SILVA (2012, p. 45) a prova inconteste da referida invisibilidade (para não dizer omissão 
total!) da presença das mulheres enquanto partícipes ativas do processoconstituinte e, consequentemente 
coautoras da Carta Magna, emerge das diversas obras utilizadas nos cursos jurídicos e políticos do país, bem 
como das variadas pesquisas, acadêmicas ou não, dedicadas especificamente ao estudo do processo constituinte e 
da história constitucional do Brasil, cujos jurídicos e políticos do país, bem como das variadas pesquisas, 
acadêmicas ou não, dedicadas especificamente ao estudo do processo constituinte e da história constitucional do 
Brasil, cujos conteúdos são coincidentes no quesito “ausência” (quiçá ignorância?) da atuação feminina, seja 
como deputadas, seja como ativistas, no âmbito do processo de elaboração da Lei Maior. 
37 SALGADO, Gisele Mascarelli. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas e Discriminação 
contra a Mulher (CEDAW) e seu Protocolo Facultativo: impacto no Direito brasileiro, p. 765-773, In: 
 
 
15 
 
 É necessário tornar a história da luta das mulheres, dos movimentos como o lobby do 
batom mais presente nos debates e discussões das salas de aulas nas escolas e universidades, 
nas ruas, para que a sociedade brasileira possa conhecer a sua própria história, as personagens 
e as lutas, e as conquistas e avanços conseguidos. Assim tomar a história como sua e passar a 
defendê-la, impedindo a negação e o retrocesso dos direitos garantidos. 
 No que tange os mecanismos de enfrentamento determina-se, dentre outras 
possibilidades, a promoção e elaboração de políticas públicas e programas governamentais 
direcionados aos direitos da Mulher. Tomar como base e incentivo, programas como o 
desenvolvido pela ONU Mulheres, “Planeta 50-50 em 2030: um passo decisivo pela 
igualdade de gênero”, em que se estabelece com compromissos concretos para se construir 
um mundo igualitário, sem distinções de gênero. Pode-se citar também a criação de 
programas para erradicar a violência contra mulheres e meninas, incentivando a participação 
das mulheres na tomada de decisão, promover o investimento em planos de ação para a 
igualdade de gênero, bem como a criação campanhas de educação pública para promover a 
igualdade de gênero. 
 Nessa análise Luisa Stella de Oliveira Coutinho Silva38 aduz: 
 
 
Agora, aos poucos, é que vão sendo introduzidos nas Escolas de Direito disciplinas 
de estudo do direito das mulheres, de gênero, história e das minorias. As 
organizações internacionais e as manifestações das mulheres provam que a luta não 
foi infrutífera. Entretanto, o avanço é tímido. O que há poucos anos vem sendo 
construído, é uma pequena atuação diante de centenas de anos de subjugação das 
mulheres. 
 
 O caminho certo a ser seguido para efetivar e possibilitar o cumprimento dos direitos 
constitucionais garantidos é promover a ação de políticas públicas, bem como programas que 
fomentem a igualdade de gênero, por exemplo, nas escolas, com disciplinas específicas acerca 
do tema: Mulheres e seus Direitos. É dever dos três poderes: do poder legislativo, Executivo, 
e Judiciário, bem como da própria sociedade civil garantir a inclusão e garantir a cidadania 
plena de todos.39 
 
PIOVESAN, Flávia, IKAWA, Daniela (Coords). Direitos Humanos: Fundamento, Proteção e Implementação. 
Curitiba: Juruá, 2009, vol. II, p. 771 
38 SILVA, Luisa Stella de Oliveira Coutinho. Direitos das mulheres e organização no plano internacional 
moderno: uma revisão histórica da participação das mulheres nas relações internacionais. Rev. Fac. Direito 
UFMG, Belo Horizonte, n. 65, pp. 513 - 547, jul./dez. 2014, p. 542. 
39 Nessa perspectiva ALMEIDA (2014, p. 17) afirma: “Diante do fato de que aproximadamente metade da 
população mundial é composta de mulheres, negar-lhes direitos fundamentais corresponde ao não-
reconhecimento dos direitos humanos à “metade dos humanos”, para utilizar a feliz expressão de Boutros Ghali”. 
Boutros-Boutros Ghali foi ex-Secretário da ONU 
 
 
16 
 
 
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 
A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 foi um marco significativo 
na história do país, voltada para a construção de um Estado Democrático, ficou conhecida 
como Constituição cidadã, em razão da ampla participação da sociedade civil brasileira em 
sua elaboração. 
Nesse estudo destaca-se a participação das mulheres no processo constituinte de 
1987/1988, através do movimento político intitulado lobby do batom, formado pelo 
movimento feminino, ativistas feministas e pela bancada feminina, conseguiu proporcionar 
uma participação mais ativa e efetiva tanto no debate Constituinte, bem como na elaboração 
da Carta Constitucional. 
É imprescindível destacar a importância do grupo quanto a inserção dos direitos das 
mulheres na Constituição de 1988, o lobby do batom elaborou uma “Carta” contendo as 
reivindicações que deveriam ser reproduzidas na nova Constituição, o documento continha 
propostas relacionadas à educação (enfatizando na igualdade de gênero), à saúde feminina, a 
fundamentação da família, ou seja, pontos visando eliminar discriminações. 
Os avanços conquistados no que tange o direito das mulheres e hoje asseguradas em 
lei, como por exemplo, o artigo 5°, inciso I da Constituição de 1988 ocorreram por meio de 
lutas e resistências do movimento feminino, de ativistas feministas. E um desses exemplos foi 
o próprio lobby do batom, alvo do estudo, em que de forma inédita e organizadamente se deu 
a participação das mulheres no processo constituinte. 
Os resultados e a importância são incontestes. No entanto, o que ocorre, de fato, é a 
praticamente ausência de informações sobre o tema, o que as ativistas denominam de 
androcentrismo. 
Por fim, a conclusão é que apesar de ser um movimento de suma importância para a 
história não somente das mulheres, mas também do próprio Brasil, ainda faltam pesquisas 
mais específicas, com dados e elementos mais detalhados, é necessário realizar uma reflexão 
acerca da escassez de estudos e pesquisas acerca do tema do lobby do batom, apesar deste ser 
um movimento marcante e inédito e de grande relevância na história do constitucionalismo 
brasileiro. 
Dessa forma, o intuito do presente trabalho, é resgatar e apresentar o tema, sem 
esgotá-lo, levando-o ao conhecimento da nova geração de mulheres, bem como o seu 
reconhecimento nas salas de aulas das escolas e universidades, ou seja, proporcionar ao 
 
 
17 
 
movimento do lobby do batom e acima de tudo a luta feminina a importância e o destaque que 
merecem, pois não existe um país realmente desenvolvido, sem que os direitos das mulheres 
sejam reconhecidos e garantidos nas suas legislações e efetivados. 
 
REFERÊNCIAS 
 
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jurídica nas Relações Familiares. Tese de Mestrado em Direito- PUC-SP, 2007. Disponível 
em: http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs>. Acesso em: 24 out. 2016. 
 
AMÂNCIO, Kerley Cristina Braz “Lobby do Batom”: uma mobilização por direitos das 
mulheres. Revista Trilhas da História. Três Lagoas, v.3, nº5 jul.-dez, 2013.p.72-85. 
Disponível em: <http://seer.ufms.br/index.php/RevTH/article/viewFile/444/244. Acesso em: 
24 out. 2016. 
 
CUNHA JÚNIOR, Dirley. Curso de Direito Constitucional. 8ª Ed. Salvador: Jus Podium, 
2014. 
 
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Humanos: Fundamento, Proteção e Implementação. Perspectivas e Desafios Contemporâneos. 
Vol. II. Curitiba: Juruá, 2009, vol. II. 
 
MACHADO, Érica Babini Lapa do Amaral et al. Sentenças de medida socioeducativa de 
internação e gênero: o olhar dos magistrados em Pernambuco sobre as adolescentes em 
conflito com a lei. Revista da Faculdade de Direito. <disponível em: 
http://revistas.ufpr.br/direito/article/view/42294/29063>.Acesso em: 25 out. 2016. 
 
SARMENTO, Daniel. 21 Anos da Constituição de 1988: a Assembleia Constituinte de 
1987/1988 e a Experiência Constitucional Brasileira sob a Carta de 1988. DPU Nº 30 – nov. 
Dez/2009. Disponível em: <http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/667>. 
Acesso em: 27 out. 2016. 
 
SALGADO, Gisele Mascarelli. Convenção sobre a Eliminação de Todas as Formas e 
Discriminação contra a Mulher (CEDAW) e seu Protocolo Facultativo: impacto no 
Direito brasileiro, p. 765-773, In: PIOVESAN, Flávia, IKAWA, Daniela (Coords). Direitos 
Humanos: Fundamento, Proteção e Implementação. Curitiba: Juruá, 2009, vol. II. 
 
SILVA, Luisa Stella de Oliveira Coutinho. Direitos das mulheres e organização no plano 
internacional moderno: uma revisão histórica da participação das mulheres nas relações 
internacionais. Rev. Fac. Direito UFMG, Belo Horizonte, n. 65, pp. 513 - 547, jul. /dez. 2014. 
<Disponível em: http://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article>. Acesso em: 25 
out. 2016. 
 
http://www.dominiopublico.gov.br/download/teste/arqs
http://seer.ufms.br/index.php/RevTH/article/viewFile/444/244
http://revistas.ufpr.br/direito/article/view/42294/29063
http://dspace.idp.edu.br:8080/xmlui/handle/123456789/667
http://www.direito.ufmg.br/revista/index.php/revista/article
 
 
18 
 
SILVA, Salete Maria da. A carta que elas escreveram: a participação das mulheres no 
processo de elaboração da Constituição Federal de 1988. Salvador, 2012. Tese de Doutorado 
em Direito. UFBA. 322. Disponível em: 
<http://www.repositorio.ufba.br:8080/ri/handle/ri/7298>. Acesso em: 24 out. 2016. 
 
_______________________. O Legado Jus-Político do Lobby do Batom vinte anos 
depois: a participação das mulheres na elaboração da Constituição Federal. XXI 
Encontro Regional de Estudantes de Direito e Encontro Regional de Assessoria Jurídica 
Universitária “20 anos de Constituição. Parabéns! Por quê? 2008. Disponível em: 
<http://www.urca.br/ered2008/CDAnais/pdf/SD3_files/Salete_Maria_SILVA_2.pdf>. Acesso 
em: 24 out. 2016.

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