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ECONOMIA DO SETOR PÚBLICO CAPÍTULO 2 - DE ONDE VEM, PARA ONDE VAI E COMO É ORGANIZADO O DINHEIRO DO ESTADO? Wagna Maquis Cardoso de Melo Gonçalves INICIAR Introdução A gestão pública deve fazer parte de um projeto amplo de desenvolvimento e alcançar um sentido estratégico que proporcione a melhoria das organizações. Para o Estado ter conhecimento no que deve executar, quais são os valores, quanto demorará para fazer e terminar os trabalhos e atingir os resultados em um prazo determinado, ele necessita de um orçamento bem estruturado e preciso no qual discrimine todas as entradas e saídas de competência dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário) e da administração direta e indireta. A preocupação com os custos na administração pública deveria ser uma constante no planejamento orçamentário, pois os recursos são limitados e há a grande necessidade de oferta de bens públicos de forma satisfatória. Além disso, é primordial que ela se adeque à logística para não prejudicar a sociedade, por conta da provável falta de gerenciamento nesse quesito. Em tempos de democracia direta, o controle social sobre a responsabilidade das ações governamentais é mais recorrente e exigente quanto à participação nos temas de transparência, ética e responsabilidade. Você sabia que o orçamento público deve ser instituído legalmente? Que o controle do orçamento também é realizado pela população? E que atualmente a governabilidade tem aberto espaço para o controle social? Neste capítulo, teremos a oportunidade de conhecer a gestão financeira e orçamentária do setor público, bem como o papel da análise orçamentária, da logística da administração pública com seus processos licitatórios e a gestão tributária. Desejamos um excelente estudo. 2.1 Gestão pública financeira e orçamentária Na gestão dos recursos públicos, o conhecimento sobre a administração financeira e orçamentária é imprescindível para que sejam cumpridas as metas e alcançados os objetivos previstos na Lei Orçamentária. Você conhece o significado e para que serve a gestão pública? Sabia que existe uma lei específica que detalha cada operação da peça do orçamento governamental? Sabia que a receita do governo não é proveniente apenas dos impostos e das contribuições? Neste tópico, aprenderemos a distinção entre gestão pública financeira e orçamentária, as características e as diferenças entre receita e despesa pública. 2.1.1 Receitas públicas Todos os países passam atualmente por um longo período de ajustamento à crise econômica, e o orçamento de cada um tem um papel-chave nesses esforços de ajustamento (GIACOMONI, 2017). Toda entrada financeira, de caráter irreversível, nos cofres do governo representa uma receita, cuja finalidade é cobrir uma despesa (NASCIMENTO, 2008) e ela deve estar rigidamente prevista no seu orçamento – pode acontecer, no entanto, de termos alguns casos de receita do orçamento, mas somente as “entradas definitivas” de valores na conta do governo são consideradas, de fato, receitas. Neste item, conheceremos o orçamento público e as características das receitas públicas. Segundo Giacomoni (2017, p. 58), o papel mais relevante “a ser cumprido pelo orçamento público seria o instrumento de controle econômico". Assim, a receita é estimada no orçamento e disciplinada no âmbito da legislação tributária (GIACOMONI, 2017). Quanto ao aspecto legal, isto é, de acordo com Lei n. 4.320 (BRASIL, 1964), as receitas públicas se dividem em dois tipos: Receita Corrente e Receita de Capital. art. 11, § 1° - São Receitas Correntes as receitas tributárias, de contribuições, patrimonial, agropecuária, industrial, de serviços e outras e, ainda, as provenientes de recursos financeiros recebidos de outras pessoas de direito público ou privado. § 2° - São Receitas de Capital as provenientes da realização de recursos financeiros oriundos de constituição de dívidas; da conversão, em espécie, de bens e direitos; os recursos recebidos de outras pessoas de direito público ou privado (BRASIL, 1964). No orçamento público, as Receitas Correntes são destinadas a cobrir exclusivamente as Despesas Correntes; já as Receitas de Capital são destinadas a cobrir as Despesas de Capital. Isso ocorre porque a estrutura de gastos dos governos é rígida e composta por muitas despesas de natureza obrigatória, impostas pela própria Constituição (BRASIL, 1988; NASCIMENTO, 2008). A Lei n. 4.320 (BRASIL, 1964), também conhecida como Lei do Orçamento, discrimina a entrada e a saída na elaboração e no controle dos orçamentos e balanços de todos os entes federativos (municipal, estadual, distrital e federal). É importante conhecê-la pois, além de ela “evidenciar a política econômica financeira e o programa de trabalho do Governo, orienta sobre o manejo legal do orçamento público obedecendo aos princípios de unidade universalidade e anualidade” (BRASIL, 1964, art. 2). Os princípios orçamentários devem ser estritamente obedecidos na elaboração dos orçamentos e balanços, e estes se encontram expressos na Constituição Federal (BRASIL, 1988) e na Lei n. 4.320 (BRASIL, 1964). São eles: unidade ou totalidade: cada ente da federação deve ter apenas um orçamento para eliminar a existência de orçamentos paralelos. O orçamento é composto das seguintes partes: a) fiscal; b) da seguridade social; c) de investimentos das estatais; universalidade: o orçamento deverá apresentar todas as receitas e despesas do Estado, a fim de que o Legislativo aprove o exato montante de gastos e volume de tributos projetados pelo governo; anualidade ou periodicidade: o orçamento deverá ser elaborado para um período de tempo determinado (um ano) e a cada ciclo ele precisa ser reelaborado; exclusividade: o orçamento deverá conter apenas os dispositivos de matéria orçamentária e financeira previstos em lei, sem qualquer elemento estranho à sua formação; especificação, especialização ou discriminação: as receitas e despesas deverão aparecer no orçamento de forma detalhada e pormenorizada. VOCÊ QUER LER? Eliminam, assim, especificações globais sobre a origem e aplicação dos recursos; não vinculação ou não afetação das receitas: a receita com impostos não poderá ser vinculada para atender determinados gastos; orçamento bruto: não poderá haver a inclusão de valores líquidos de receitas e despesas no orçamento – apenas os valores brutos; equilíbrio: deverá conter no orçamento o equilíbrio entre as operações de crédito e o montante das despesas de capital; publicidade: o orçamento público de todos os entes federativos e poderes deverá ser divulgado para conhecimento dos cidadãos; clareza ou objetividade: o orçamento deverá ser apresentado em linguagem clara e compreensível a todas as pessoas; exatidão: as estimativas das receitas e despesas devem garantir ao orçamento a consistência mínima de exatidão para programação e controle. Devemos acrescentar que as receitas extraorçamentárias não têm uma periodicidade permanente: elas ocorrem extraordinariamente e, por isso, são computadas à margem do orçamento. No entanto, as orçamentárias são recebidas com regularidade e com vínculo certo, portanto, são previstas dentro do movimento financeiro. Resta-nos discutir quanto à origem destas receitas. Segundo Giacomini (2017), elas podem ser: originárias: vêm da exploração da atividade econômica dos entes federativos; derivadas: vêm do patrimônio ou contraprestação de serviços prestados, como os tributos e as suas respectivas multas; transferidas: vêm dos repasses entre os entes federativos. Portanto, conhecer as fontes das receitas do governo e os princípios básicos que as regem na elaboração de um orçamento público requer o conhecimento básico dos seus tipos. A seguir, completaremos o conteúdo englobando as despesas públicas. 2.1.2 Despesas públicas Figura 1 - Os princípios orçamentários devem ser rigorosamente obedecidos na elaboração do orçamento por todos os entes da federação. Fonte: Rawpixel.com, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom Despesas públicas se referem ao conjunto de gastosdo governo com a finalidade de manter em funcionamento os serviços públicos, seja na construção de novos bens públicos, seja na manutenção e conservação de suas atividades (BRASIL, 1964). Você sabia que existem alguns parâmetros que vedam o empenho dos municípios no último mês de mandato do prefeito? Que para ocorrer a execução da despesa ela deve percorrer alguns estágios? E que há alguns tipos despesas que não necessitam da prévia autorização do Legislativo? Neste item, daremos continuidade aos estudos sobre o orçamento público e aprenderemos as características das despesas públicas. É vedada à administração pública gastar sua receita como bem entender, isto é, suas despesas devem ser respaldadas nas leis que direcionam a finalidade dos gastos. Além do mais, cabe ao Legislativo conhecer e autorizar todas as receitas e despesas previstas no orçamento público – isso vale também para as despesas dos princípios discorridos no item das receitas: unidade, universalidade e anualidade (NASCIMENTO, 2008). Segundo a Lei n. 4.320 (BRASIL, 1964), as despesas públicas também são divididas em Despesas Correntes e Despesas de Capital. Quanto à sua classificação legal, as Despesas Correntes são subdivididas em Despesas de Custeio e Transferências Correntes. Já as Despesas de Capital são subdivididas em Investimentos, Inversões Financeiras e Transferência de Capital. No art. 12 da referida lei (BRASIL, 1964), as despesas são classificadas nas seguintes categorias econômicas: despesas de custeio: dotações para manutenção de serviços, obras de conservação e adaptação de bens imóveis; transferências correntes: dotações para despesas que não corresponda à contraprestação direta em bens ou serviços, contribuições e subvenções sociais e econômicas destinadas a atender à manifestação de outras entidades de direito público ou privado. Em síntese, Giacomoni (2017, p. 111) nos afirma que são classificadas como Despesas Correntes as destinadas à produção de bens e serviços correntes [...]. Classificam-se como Despesas de Capital as que contribuem para a formação ou aquisição de bens de capital e de produtos para revenda; a concessão de empréstimos; e a amortização de dívidas. A discriminação e a especificação de cada despesa e receita em cada unidade administrativa ou órgão do governo podem ser conferidas na Lei do Orçamento Público n. 4320 (BRASIL, 1964). No capítulo II, art. 11, você pode encontrar as receitas, e no capítulo III, art. 13, as despesas. Ficou interessado? Acesse: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L4320.htm (http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L4320.htm)>. As despesas também podem ser orçamentárias ou extraorçamentárias, sendo estas últimas destinadas àquelas não programadas no orçamento. As despesas orçamentárias, por seu oposto, são as que constam no orçamento público, sendo renovadas a cada ano. Segundo Nascimento (2008, p. 93), “a despesa extraorçamentária [tem] a singular natureza de ser independente de prévia autorização”. De acordo com a Lei n. 4320 (BRASIL, 1964), a despesa deve ser executada percorrendo os estágios de empenho, liquidação e pagamento. Sendo assim, os art. 58, 63, 64 e 65 desta lei dizem que art. 58 - O empenho de despesa é o ato emanado de autoridade competente que cria para o Estado obrigação de pagamento pendente ou não de implemento de condição. art. 63 - A liquidação da despesa consiste na verificação do direito adquirido pelo credor tendo por base os títulos e documentos comprobatórios do respectivo crédito. [...] art. 64 - A ordem de pagamento é o despacho exarado por autoridade competente, determinando que a despesa seja paga. [...] art. 65 - O pagamento da despesa será efetuado por tesouraria ou pagadoria VOCÊ QUER LER? http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L4320.htm regularmente instituídas, por estabelecimentos bancários credenciados e, em casos excepcionais, por meio de adiantamento (BRASIL, 1964, grifos nossos). Resta ainda mencionarmos o Princípio da Reserva Legal, que declara a obrigatoriedade de o orçamento ser um objeto de lei e que ele deve percorrer como um processo legislativo completo. A Escola Virtual da Secretaria do Orçamento Federal (EVSOF) possui um acervo de vídeos sobre diversos assuntos do orçamento público, como “vinculação de receitas, a composição das despesas, a elaboração da LDO – Lei de Diretrizes Orçamentárias, elaboração e execução do LOA – Lei Orçamentária Anual e do PPA – Plano Pluri Anual” (BRASIL, 2018a). Veja mais em: <https://ead.orcamentofederal.gov.br (https://ead.orcamentofederal.gov.br)>. A legalização do orçamento também segue as fases das demais propostas encaminhada ao Legislativo: “[1ª] elaboração da proposta do projeto de lei do orçamento pelo Executivo; [2ª] submissão ao Legislativo para que possa ocorrer apreciação (autorização – controle político); [3ª] devolução da lei ao poder Executivo para sanção e publicação” (NASCIMENTO, 2008, p. 98-99). Assim, o orçamento recebe autorização legal e é executado. No próximo item, nos aprofundaremos a respeito das questões relacionadas ao papel do orçamento na gestão pública. VOCÊ QUER VER? 2.2 Análise orçamentária O aumento da dívida do setor público está relacionado ao déficit público no orçamento brasileiro e, em geral, é proveniente do resultado primário negativo, sendo resultado das despesas acima das receitas (déficit primário). https://ead.orcamentofederal.gov.br/ Você sabia que o orçamento público é uma lei? Que sua elaboração é obrigatória a todos os níveis de governo? E que há algumas diferenças quanto às origens dos recursos orçamentários federal, estadual e municipal? Neste tópico, aprenderemos a reconhecer as diferenças entre os orçamentos dos diferentes entes federativos e a analisar os resultados do orçamento e a sua importância socioeconômica para a saúde econômica do país. 2.2.1 Papel do orçamento na gestão pública A gestão do setor público deve ser orientada estrategicamente para o desenvolvimento econômico e social do ente federativo a qual é destinada (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR, 2017). Você sabia que cabe ao poder Executivo elaborar o orçamento? Que a aprovação deste orçamento depende unicamente do Legislativo? E que o Judiciário participa nos trâmites quando há alguma excepcionalidade na origem e no destino dos recursos? Neste item, você conhecerá os principais componentes do orçamento público, bem como a importância socioeconômica de um orçamento público. O planejamento orçamentário é idealizado pelo poder Executivo em três instrumentos integrados e harmônicos entre si. PPA: é um plano que define metas, estratégias e diretrizes da gestão pública para quatro anos e deve ser elaborado pelo chefe do Executivo de acordo com o ente federativo e em conjunto com os respectivos responsáveis da administração. Para Giacomoni (2012), ele é voltado à programação da administração pública e idealizado como guia plurianual para as autorizações orçamentárias anuais. Periodicamente (a cada ano), é revisado e aperfeiçoado para readequar à previsão do ano seguinte. Ele está previsto no art. 165, inciso I, da Constituição Federal e é integrado à LDO, à LOA e à Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF), pois orienta e converge as funções desses instrumentos (NASCIMENTO, 2008). Sobre a interação dos prazos à sanção, o PPA deve ser encaminhado pelo poder Executivo ao Congresso Nacional até “o dia 31 de agosto do primeiro ano de governo, devendo o Congresso aprová-lo até o término da sessão legislativa daquele ano (meados de dezembro). Sua vigência irá até o dia 31 de dezembro do primeiro ano do governo subsequente” (NASCIMENTO, 2008, p. 111). LOA: determina os orçamentos da União, por meio das receitas e despesas do Governo Federal, o que acaba impactando diretamente em todos os cidadãos. O Congresso Nacional é responsável por julgar e adequar a sugestão do poder Executivo. O Orçamento Brasil é uma ferramenta que auxilia na transparência das contas públicas e permite que todo brasileiro siga e vigie o uso correto dos recursos públicos (BRASIL,2018b). LDO: é um instrumento que funciona entre o PPA e os orçamentos anuais, com o objetivo de estabelecer os parâmetros necessários à alocação dos recursos no orçamento anual e garantir o alcance das metas e dos objetivos vigentes no PPA (GIACOMONI, 2017). Sobre sua interação com os prazos à sanção, a Constituição (BRASIL, 1988) nos diz que "o projeto de lei de diretrizes orçamentárias será encaminhado até oito meses e meio antes do Figura 2 - O PPA estabelece quais serão os investimentos da administração pública em cada área em que atua. Fonte: pedrosek, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom encerramento do exercício financeiro e devolvido para sanção até o encerramento do primeiro período da sessão legislativa". Os prazos dos estados e municípios se referem aos que estiverem dispostos em suas respectivas constituições e leis orgânicas. Portanto, o PPA, a LOA e a LDO são os principais componentes do orçamento público. São constituídos como uma lei, devendo ser seguidos à risca e com a participação dos poderes Executivo (elaborando as peças) e Legislativo (aprovando as peças). No geral, após cumpridos os prazos de interação, o relatório final é encaminhado pelo poder Executivo ao poder Legislativo. No plenário, as peças são rediscutidas e votadas. Depois de aprovada a redação final, os projetos são encaminhados ao chefe do Executivo (presidente, governador ou prefeito) para sanção e, assim, são postos em prática no ano subsequente. No próximo item, discutiremos os resultados do orçamento público, isto é, o déficit ou o superávit. 2.2.2 Superávit e déficit orçamentário Para falarmos dos resultados orçamentários da administração pública, é necessário ter em mente como são geradas as receitas e as despesas em cada ente federativo. Você sabia que o orçamento federal é diferente dos orçamentos estadual e municipal? Que algumas fontes de receitas são diferentes? E que muitos municípios do Brasil sobrevivem somente de transferências do governo? Neste tópico, conheceremos as diferenças entre um orçamento federal, estadual e municipal e analisaremos a composição de um orçamento público. O saldo entre o que se arrecada (receitas) e o que se gasta (despesas) é denominado de resultado, podendo ser positivo (configurando um superávit) ou negativo (configurado um déficit). Mas, antes de conhecermos seus pormenores, falaremos a respeito das fontes de receitas de cada ente federativo. Nascimento (2008) cita que as Receitas Correntes (principais fontes de receitas da União) advêm das contribuições – as quais são recebidas dos setores público e privado, estando vinculadas às despesas com a seguridade social e os tributos. As Receitas de Capital, por sua vez, têm como sua maior fonte as operações de crédito com o refinanciamento da dívida federal (emissão de títulos). Sobre as receitas estaduais, a arrecadação tributária (o Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços – ICMS – e o Imposto sobre a Propriedade de Veículos Automotores – IPVA) e as transferências do Governo Federal (constitucionais e voluntárias) são as principais fontes de recursos. Já nos municípios, as principais fontes de receitas com tributos advêm do Imposto sobre Serviço (ISS) e o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU). As transferências do Governo Federal e do Governo Estadual também constituem como uma importante fonte de receita (BRASIL, 1966). O saldo das operações, seja déficit ou superávit, influencia diretamente no valor da dívida pública e na saúde financeira do governo. Existem seis medidas de aferição do saldo das contas governamentais e, segundo Euzébio (2006, p. 60, grifos do autor), são elas: Déficit fiscal ou superávit fiscal - diferença entre despesa e receita do governo. Quando os gastos são maiores do que a arrecadação, há déficit e o governo é forçado a recorrer ao mercado para se financiar. O montante do déficit é também chamado de necessidade de financiamento do setor público. O governo poderia também emitir moeda, mas esta medida tem inúmeros inconvenientes. Déficit nominal - necessidade de financiamento do setor público, incluindo os efeitos da correção monetária e cambial nas despesas e nas receitas. Déficit operacional - necessidade de financiamento do setor público, excluindo-se os efeitos da correção monetária e cambial nas despesas e nas receitas. Déficit orçamentário - despesa maior do que receita, havendo distinção entre déficit previsto no orçamento e o déficit da execução orçamentária. Déficit primário - déficit operacional retirando-se os encargos financeiros embutidos no conjunto das despesas e das receitas. Déficit previdenciário - diferença entre o que o governo arrecada de contribuição para a manutenção da Previdência Social e o valor pago em benefícios. É importante dizer que o resultado primário, por si só, não mostra a completa situação das contas do governo, pois ainda restam outros conceitos que serão paulatinamente agregados. Porém, este é um indicador muito importante, pois mostra o impacto da política fiscal, fornecendo uma comparação simples e exata entre as receitas e despesas do setor público (NASCIMENTO, 2008). VOCÊ SABIA? O superávit primário não é apenas a sobra dos gastos do governo, mas também é o quanto ele deixou de gastar do orçamento. Em outras palavras, o orçamento pode não apresentar um excesso de receitas sobre as despesas pelo simples fato de ter havido economia no exercício e por conta de alguns contingenciamentos nos gastos que ficaram impedidos – portanto, não puderam ser gastos (NASCIMENTO, 2008). Por fim, o resultado operacional é considerado a medida mais adequada do governo, haja vista que inclui a variação das taxas de inflação, juros e câmbio ao resultado nominal. Assim, em períodos de inflação elevada, o acompanhamento do déficit operacional se torna mais relevante, pois as despesas com juros representam uma grande saída nos gastos do governo (NASCIMENTO, 2008). No próximo tópico, estudaremos os passos para uma logística eficiente da administração pública. 2.3 Administração pública e logística No setor público, o uso dos recursos de forma economicamente eficaz, eficiente e efetiva requer o estabelecimento de atividades logísticas para atender ao público- alvo com todas as condições e formas idealizadas pelo gestor. Você sabia que o setor público é um dos maiores consumidores de bens e serviços? Que, para isso, a administração pública possui uma logística operacional? E que existe um lei específica de gestão pública da cadeia de suprimentos? Neste tópico, conheceremos os procedimentos que devem ser seguidos pela administração pública para o exercício de uma logística eficiente no território nacional. 2.3.1 Operacionalização oficial dos serviços Administrar e gerir recursos públicos, prestando serviços úteis à sociedade, requer que seja seguida uma série de disposições legais. Você sabia que o setor público possui uma cadeia de suprimentos? Que, apesar de parecidas, existem diferenças entre as logísticas do setor público e do setor privado? E que, para adquirir bens e serviços de terceiros, o setor público deve abrir um processo licitatório? Neste item, adquiriremos conhecimentos para analisar os procedimentos que devem ser levados em consideração pela administração pública em relação ao planejamento da sua cadeia de suprimentos. Segundo Dias (2017, p. 3), “logística é uma parte da cadeia de abastecimento que planeja, implementa e controla com eficácia o fluxo e a armazenagem dos bens, dos serviços e das informações entre o ponto da origem e o ponto de consumo destes itens”, com vistas a atender às exigências dos clientes em geral. O conceito de logística adaptada aos negócios públicos não é muito diferente daquela do setor privado: tanto o gestor público quanto o privado atua no intuito de prestar serviços e/ou executá-los para a sociedade planejando, desenvolvendo, adquirindo, armazenando, transportando, distribuindo e expedindo o material (LINO, 2013). Figura 3 - A logística atua em cadeia: desde o planejamento e desenvolvimento,passando pela aquisição, pela armazenagem e pelo transporte, até chegar à distribuição e expedição. Fonte: johnkworks, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom No entanto, no setor público, suas atribuições são mais complexas, já que, além das questões operacionais inerentes ao processo de aquisição, elas devem considerar o que dispõe a legislação a esse respeito (LINO, 2013). Dessa forma, a liberdade do setor público para administrar sua cadeia de suprimentos é mais restrita, pois deve seguir religiosamente a Lei de Licitação e Contratos Administrativos n. 8.666 (BRASIL, 1993) e a LRF (BRASIL, 2000). VOCÊ SABIA? Para executar a despesa pública, o gestor deve utilizar o processo licitatório, o qual “representa o conjunto de procedimentos adotados pelo Estado, visando à aquisição de bens e serviços” (NASCIMENTO, 2008, p. 166). Essa exigência está prevista na Constituição (BRASIL, 1988). Conheça a Lei de Licitações n. 8666 (BRASIL, 1993): <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm)>. Denominamos como licitação o processo pelo qual a administração pública realiza a coleta de propostas para fornecimento de materiais ou serviços, entre as quais selecionará o que julgar mais vantajoso para a celebração de um contrato. Segundo Nascimento (2008), os atos licitatórios serão reunidos em um processo administrativo devidamente autuado, protocolado e enumerado, conforme previsto no art. 38 da Lei de Licitações, contendo: autorização, indicação de seu objeto e indicação dos recursos próprios para a despesa (BRASIL, 1993). A LRF (BRASIL, 2000), neste caso, atuará para garantir que os recursos legalmente vinculados a uma finalidade específica serão utilizados somente para atender ao objeto de sua vinculação. O art. 2 da Lei de Licitações n. 8.666 (BRASIL, 1993) obriga a necessidade de licitar a contratação de terceiros nas seguintes modalidades: ”obras, serviços, inclusive de publicidade, compras, alienações, concessões, permissões e locações da administração pública”; no entanto, há algumas ressalvas – conhecidas como contratações diretas, as quais podem ocorrer quando a licitação é impossível ou inviável de acontecer. Isso se aplica somente em alguns casos (BRASIL, 1993): licitação dispensada (art. 17): a lei não permite licitar, pois isso seria desnecessário ou antieconômico. A licitação só acontece, portanto, com http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L8666cons.htm autorização legislativa; licitação dispensável (art. 24): é possível licitar, mas a lei autoriza sua dispensa; licitação inexigível (art. 25): não há viabilidade de competição. Finalmente, as modalidades mais comuns de licitação utilizáveis para qualquer tipo de contratação são: concorrência; tomada de preços e convite. Há o caso de modalidades especiais para contratações peculiares, como concurso (trabalho técnico e científico) e leilão (alienações). Figura 4 - Contratações diretas sem o processo licitatório ocorrem quando a lei não permite, dispensa ou não viabiliza a licitação. Fonte: skvoor, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom Para aquisição de bens e serviços comuns, temos o pregão. Para a execução de programas e projetos específicos, existe um Regime Diferenciado de Contratações – RDC (LINO, 2013). Em cada tipo de licitação, as propostas são analisadas por uma comissão específica e todos os processos são fiscalizados pelo poder Legislativo e pelo Tribunal de Contas da União – TCU (NASCIMENTO, 2008). Analisaremos, a seguir, como acontece o exercício de uma logística eficiente da administração pública. 2.3.2 Análise territorial Nas entidades públicas, as possíveis formas de reduzir os custos operacionais de suas atividades têm se tornado fonte de grandes preocupações. Cada processo licitatório precisa ser melhorado para que a gestão alcance os resultados pretendidos. Você sabia que os processos licitatórios são demorados? E que essa demora pode impactar na regularidade da distribuição de bens à população, além de as operações de logísticas terem custos elevados? Neste item, focalizaremos na análise dos custos operacionais que a administração utiliza para o exercício de uma logística eficiente no território nacional. Com a Lei de Acesso à Informação (BRASIL, 2011), a logística do setor público passou a ganhar mais importância. As atividades administrativas rotineiras específicas à logística, como o transporte, a manutenção de estoques e o processamento de pedidos, são funções primordiais dentro do processo logístico e se destacam pelo valor elevado dos custos (DIAS, 2017). Transporte: é essencial em qualquer modal, pois é por meio dele que os produtos e serviços entram no setor público e são fornecidos aos cidadãos. A merenda escolar, os livros, as vacinas, os insumos hospitalares, o material de expediente, todos passam pelo transporte – desde o fornecedor até o setor de armazenamento público e deste último ao destino final, implicando o preço final de aquisição do produto e o custo interno com transportes. Manutenção de estoques: a urgência em satisfazer as demandas da sociedade em tempo hábil requer, por parte da administração pública, um estoque que seja capaz de suprir as necessidades emergentes, acompanhando o tempo gasto em novas aquisições. Não é necessário um elevado volume de estoque, mas sim um que seja adequado e capaz de suprir a população, independentemente de atrasos em entregas e compras de bens. É importante a dedicação constante no controle dos itens mais e menos utilizados pela população para que haja a otimização da logística pública, o que evita prejuízo à sociedade e ao erário. Processamento de pedidos: dizemos que é o start do processo de logística, sendo o elo entre estoque e transporte. Há quem defenda que as compras deveriam ser centralizadas em um núcleo responsável pelo processamento dos pedidos, racionalizando os atos da logística e causando uma economia considerável. Os atos de compra ou processamento de pedidos devem ser realizados de forma clara com todas as características e peculiaridades do bem, pois são essenciais ao atendimento de interesse da população. É importante que essa atividade seja categoricamente planejada e executada por uma equipe responsável e com afinidade nas leis e necessidades do seu respectivo ente federativo. Já imaginou uma aquisição excessiva de livros didáticos ou uma compra insuficiente deles? Tanto em um caso quanto no outro há o uso de verbas desnecessárias com prejuízos financeiros: no primeiro caso, a verba de excesso de livros poderia ter sido direcionada à aquisição de outros produtos essenciais; no segundo, seria necessário realizar uma nova licitação para comprar os itens que faltaram. Assim, o departamento de Central de Compras na administração pública já é realidade em muitos estados e municípios de médio e grande porte (LINO, 2013), resultando em significativas vantagens e maximizando esse processo. Em organizações nas quais ele não existe, cada setor ou secretaria é responsável por conduzir as respectivas compras de forma individualizada. Por exemplo, suponha que as Secretarias de Obras, Saúde e Desenvolvimento Social necessitem adquirir objetos semelhantes: mobília. Se a administração pública desse local dispuser de uma central, as secretarias efetuariam suas demandas e, em um único processo licitatório, seria comprada toda a mobília. Na hipótese de as secretarias não terem uma central, seriam três processos licitatórios semelhantes tramitando concomitantemente. Assim, é vantajoso à administração ter uma central que cuide de forma unificada do processamento de pedidos, manutenção de estoques e transportes. De igual modo, um departamento de Central de Armazenamento também é vantajoso para a administração pública: com esse sistema, os fornecedores reduzem seus custos com entregas – além de os produtos serem entregues aos órgãos que fizeram o pedido com a quantidade necessária para ser consumida no momento certo, possibilitando a redução de custoscom as rotas de distribuição e periodicidade das entregas (LINO, 2013). O controle e o armazenamento dos estoques, para a iniciativa privada, são vistos com mais preocupação em relação ao setor público. Ademais, existe uma lei que trata sobre compras, mas não sobre estocagem. A partir destas linhas, podemos trazer algumas constatações psobre o comportamento da logística da administração pública em relação à privada: de modo geral, podemos perceber que a iniciativa privada se preocupa em gastar o menos possível em toda a cadeia logística; na administração pública, a preocupação é diferente, pois há um paradigma que prega o seguinte: quando o orçamento não é completamente utilizado no exercício, no período seguinte ele sofrerá uma redução. A seguir, continuaremos nosso assunto sobre a gestão pública, incluindo o conteúdo da gestão tributária. 2.4 Gestão tributária O sistema de tributação brasileiro congrega impostos nos âmbitos federais, estaduais e municipais, que podem ser vinculados ou não a uma atividade específica do ente federativo. Você sabia que o Brasil é mundialmente conhecido por sua elevada carga tributária? Que há muito tempo existe uma proposta de reforma tributária engavetada? E que a Constituição Federal contribuiu para a guerra fiscal dos estados, descentralizando os tributos? Neste tópico, estudaremos os diferentes tipos de tributos e o programa de privatização do Governo Federal. 2.4.1 Classificação dos tributos De acordo com o Código Tributário Nacional (BRASIL, 1966), "tributo significa toda prestação pecuniária, compulsória, em moeda ou cujo valor nela se possa exprimir, instituído em lei e cobrado mediante atividade administrativa plenamente vinculada". Você sabia que ninguém está isento de ser tributado? Que, sem notarmos, pagamos impostos em tudo o que consumimos? E que há casos de isenções tributárias? Neste item, conheceremos os tipos de tributos que existem nas esferas da administração pública, bem como a importância da gestão tributária. A Lei n. 5.172 (BRASIL, 1966, grifos nossos) os divide em: art. 16 - Impostos: [...] tributo[s] cuja obrigação tem por fato gerador uma situação independente de qualquer atividade estatal específica, relativa ao contribuinte; art. 77 - Taxas: [...] têm como fato gerador o exercício regular do poder de polícia, ou a utilização, efetiva ou potencial, de serviço público específico e divisível, prestado ao contribuinte ou posto à sua disposição; art. 81 - Contribuições de melhorias: [...] instituída[s] para fazer face ao custo de obras públicas de que decorra valorização imobiliária, tendo como limite total a despesa realizada e como limite individual o acréscimo de valor que da obra resultar para cada imóvel beneficiado. A instituição do imposto não está diretamente vinculada a uma atividade específica do Estado em relação ao contribuinte. Todavia, as taxas e contribuições de melhorias estão diretamente vinculadas à contraprestação do Estado e somente podem ser cobradas no caso de este colocar à disposição do contribuinte um serviço ou uma benfeitoria (BRASIL, 1966). Os impostos ainda podem ser classificados em direto ou indireto: o primeiro incide diretamente no patrimônio do contribuinte, variando conforme o valor de seu patrimônio e pago diretamente ao governo; o segundo incide indiretamente, pois está embutido no valor das mercadorias, variando conforme o volume da transação dos bens e serviços, e o contribuinte transfere para outra pessoa o ônus do custo do tributo (RIANI, 2016). O rei George III foi protagonista de umas das leis mais icônicas na história mundial dos tributos. Ao impor a Lei do Imposto sobre o Chá, em 1773, aos colonos norte-americanos, deu seu monopólio comercial à Companhia das Índias Orientais. A revolta dos colonos contra essa lei na cidade de Boston Figura 5 - Independentemente do tipo de tributo, o valor arrecadado pelos cofres públicos será utilizado na construção, manutenção e ampliação dos bens e serviços públicos. Fonte: vodograj, Shutterstock, 2018. VOCÊ O CONHECE? Deslize sobre a imagem para Zoom ficou conhecida como a Festa do Chá de Boston e deu início à luta pela independência dos Estados Unidos, em 1776 (WOOD, 2013). De acordo com o Código Tributário Nacional, Lei n. 5.172 (BRASIL, 1966) compete à União, aos estados e aos municípios instituir seus impostos. Quanto aos seus objetivos, os tributos podem ser classificados, de acordo com Nascimento (2008), em: fiscais: seu objetivo é obter receita para o ente federativo (por exemplo, o Imposto sobre a Renda e Proventos de Qualquer Natureza – IRPQN); extrafiscais: seu objetivo é realizar a interferência econômica (por exemplo, o Imposto sobre a Exportação), pois a receita líquida é destinada à formação de reservas monetárias; parafiscais: seu objetivo é destinar o custo de uma atividade paralela às funções típicas do serviço público (por exemplo, a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social). Quadro 1 - Comparação dos recebimentos de caixa por atividades operacionais com impostos nos diversos entes federativos. Fonte: Elaborado pela autora, 2018, baseado em BRASIL, 1966. Deslize sobre a imagem para Zoom No item a seguir, daremos continuidade à análise da gestão fiscal do governo. 2.4.2 Programa de privatização Tivemos, na década de 1980, o início das privatizações no Brasil, mas sua dinâmica se deu a partir de 1990 com o Governo Collor em seu Plano Nacional de Desestatização (PND). Você sabia que privatizar estatais não é exclusivamente vender empresas e que isso envolve a transferência do controle acionário para o setor privado? Que, até o fim de 1993, mais de 25 empresas estatais foram privatizadas? Forneceremos neste item elementos que nos auxiliarão na análise do programa de privatização do Governo Federal. Privatizar envolve as empresas da administração direta e indireta, por isso que não se trata apenas da venda em si, mas também a transferência do controle acionário de empresas com personalidade de economia mista da administração indireta ao setor privado nacional ou internacional (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR, 2011). A primeira estatal privatizada foi a Usiminas, em 1991. Aos poucos, a privatização dos setores siderúrgico e petroquímico foi sendo concluída, dando fôlego às negociações para o setor de telecomunicações. Após o impeachment de Collor, seu vice Itamar Franco e sua nova equipe econômica, liderada por Fernando Henrique Cardoso, pregavam que o combate à inflação só poderia ser alcançado com a redução dos gastos públicos e com a intensificação do processo de privatização. Segundo Gremaud; Vasconcellos; Toneto Jr (2011, p. 563), várias são as razões alegadas para privatizar as empresas estatais, como: a) ineficiência das empresas públicas, destacada pela baixa qualidade dos serviços e/ou pela existência de déficit financeiro nas empresas estatais; b) diminuição da capacidade estatal em fazer os investimentos necessários à manutenção e da ampliação dos serviços e atualização tecnológica das empresas; c) necessidade de gerar receitas para abater a elevada dívida estatal; d) mudança no quadro tecnológico e financeiro internacional. Ainda de acordo com Gremaud; Vasconcellos; Toneto Jr (2017, p. 571), o argumento da ineficiência das empresas está calcado “[no] baixo nível de eficiência operacional; [...] [na] fraca mobilização de recursos financeiros; [...] [na] crescente deterioração física dos ativos [...] [e no] desbalanceamento entre oferta e demanda”. Além desses fatores, os autores também destacam a ingerência política (grande parte das empresas privatizadas foram criadas durante o governo militar), que obrigou as estatais a se endividarem fortemente para atender a demandas macroeconômicas. Desse modo, a mobilização de recursos financeiro para investimentos ficou comprometida. Acrescentamos a esses fatores a crise fiscal do Governo Federal e a dívida interna e externa (GREMAUD; VASCONCELLOS; TONETO JR, 2011). Além do mais, fatores externos ao governo brasileiro também contribuírampara fertilizar o debate sobre privatizações, tais como: abertura econômica, globalização financeira, aumento da concorrência internacional e inovações no Sistema Financeiro Internacional. Posto isso, Gremaud; Vasconcellos; Toneto Jr (2017, p. 580, grifos nossos) dividem o processo de privatização brasileiro em quatro partes: 1980 - venda de 39 das empresas estatais que estavam em situação de falência, a principal foi a Aracruz Celulose. Arrecadado US$ 735 milhões; 1991 e 1992 - PND em 1991, durante o governo Collor, 18 empresas foram vendidas, as principais estão nos setores produtores de bens siderúrgicos, petroquímicos e fertilizantes. Arrecadado US$ 5.371 milhões; 1993 e 1994 - ampliação do aceite das chamadas moedas podres, a não limitação ao capital estrangeiro e a venda de participações minoritárias. Foram privatizadas 15 empresas em sua maioria produtoras de bens. Arrecadado US$ 6.503 milhões. 1995 em diante - ocorrem privatizações estaduais e concessões de serviços públicos. Foram privatizadas 33 empresas no final de 2000, além de sete concessionárias de serviços públicos dentro do PND. No entanto, apesar de poder auxiliar em parte o financiamento do déficit público, isso não foi suficiente para reduzir a dívida pública. Por fim, Gremaud; Vasconcellos; Toneto Jr (2017, p. 574) constatam que “a privatização brasileira foi um dos maiores processos do gênero e realizado em um período de tempo bastante curto”. As dúvidas que ficam estão relacionadas aos ganhos de eficiência e à regulamentação dos setores que foram privatizados, especialmente os de serviços. CASO Existe uma série de problemas que precisa ser sanada pela administração pública e pela sociedade no âmbito das finanças. A dívida pública é um exemplo: há muito tempo, o Fundo Monetário Internacional (FMI) interfere nas metas para pagamento da dívida externa e nos resultados primários do orçamento público. O estoque da dívida é composto de déficits do governo, porém seu volume aumenta quando os juros se elevam e quando parte dos juros não é paga. Entre os anos de 2002 a 2013, o Brasil gastou com juros da dívida o montante de R$ 1.795.233 – e ressaltamos que a Figura 6 - Empresa que não foi privatizada até o presente momento: a Petrobrás, que atua no ramo da exploração de petróleo. Fonte: PhotoStock10, Shutterstock, 2018. Deslize sobre a imagem para Zoom dívida pública não foi alterada. Isso representa uma grande sangria dos recursos financeiros, não gerando nenhum benefício à grande massa da população. Só para termos uma ideia, no orçamento da União, as despesas financeiras abarcam 52%. Esse percentual é composto por amortizações (39,5%), juros (7,9%) e outras despesas financeiras (4,4%). A título de comparação, a soma dos gastos com a previdência (19%) e com pessoal (9%) passa longe do total de gastos com amortização da dívida. Portanto, buscar uma forma mais eficiente para os gastos do governo é algo urgente (RIANI, 2016). Em resumo, essas são as principais características dos estudos acerca da gestão orçamentária da administração pública, com suas formas peculiares de arrecadação e pagamento das despesas quanto aos componentes do orçamento e toda a sua base legal. Síntese Você concluiu os estudos do capítulo. Com essa discussão, esperamos que você se sinta competente para refletir sobre de onde vem, para onde vai e como é organizado o dinheiro do Estado. Neste capítulo, você teve a oportunidade de: conhecer a gestão pública financeira e orçamentária, bem como a diferença entre receita e despesa para saber interpretar o orçamento público anual; identificar os principais componentes de um orçamento público, reconhecendo as particularidades dos orçamentos dos entes federativos; analisar os procedimentos considerados pela administração pública quanto à necessidade de uma logística operacional eficiente; identificar os tipos de tributos e analisar o programa de privatização adotado pelo Governo Federal. Bibliografia BRASIL. Lei n. 4.320, 17 de março de 1964. Brasília: Casa Civil, 1964. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L4320.htm (http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/leis/L4320.htm)>. Acesso em: 22/3/2018. ______. Lei n. 5.172, 25 de outubro de 1966. Brasília: Casa Civil, 1966. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L5172.htm (http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/leis/L5172.htm)>. 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