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A GUERRA ALÉM DOS LIMITES - O Livro

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A GUERRA ALÉM 
DOS 
LIMITES 
 
 
CONJECTURAS SOBRE A GUERRA E A 
TÁTICA NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO 
 
QIAO LIANG E WANG XIANGSUI 
BEIJING: PLA LITERATURE AND ARTS PUBLISHING HOUSE, 
FEVEREIRO, 1999 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
- 2 -
NOTA DO EDITOR 
O texto constitui uma seleção do livro “A Guerra Além dos Limites: Conjecturas 
sobre a Guerra e a Tática na Era da Globalização”, publicado na China, em 
Fevereiro de 1999, incluindo o Índice, Prefácio, Palavras Finais, e as Informações 
Bibliográficas dos autores do livro. 
A obra propõe atitudes e procedimentos que transcendem as táticas militares, a 
serem implementadas por países em desenvolvimento, como a China em particular, 
visando compensar a sua inferioridade militar em relação aos EUA, em um conflito 
envolvendo meios de alta-tecnologia. 
O livro foi escrito por dois Coronéis da nova geração de oficiais chineses, 
integrantes do PLA (People´s Liberation Army), e publicado pela editora oficial “PLA 
Literature and Arts Publishing House”, em Pequim, sugerindo, desta forma, que a 
sua publicação tenha sido endossada por autoridades no comando do PLA. Esta 
sugestão foi reforçada por uma entrevista com Qiao Liang além de uma crítica 
louvável ao livro, publicada em 28 de junho de 1999, pelo periódico oficial da Liga 
Jovem do Partido o “Zhongguo Quignian Bao”. 
Tendo sido publicado antes do bombardeio da Embaixada chinesa em Belgrado, 
este livro, recentemente, chamou a atenção, tanto da imprensa ocidental, quanto da 
chinesa, por advogar o emprego de uma multiplicidade de meios, militares e, 
particularmente não-militares, para um ataque aos EUA na eventualidade de um 
conflito. A violação de sites da Internet, a o ataque a instituições financeiras, o 
terrorismo, a exploração da mídia, e a guerrilha urbana, estão entre os métodos 
propostos. 
Na entrevista concedida ao periódico “Zhongguo Quignian Bao”, Qiao Liang 
declarou que: “a primeira regra na guerra irrestrita é a de que não existem regras, 
nada é proibido”. Estendendo-se, ele declarou que países poderosos não adotariam 
esta abordagem contra países fracos porque “os países fortes fazem as regras, 
enquanto que os países emergentes às violam e exploram aspectos não previstos... 
os Estados Unidos violam (regras da ONU), e criam novas regras, quando aquelas 
regras não se adaptam (aos seus propósitos), mas eles têm de observar as suas 
próprias regras, pois ao contrário, perderão a confiança mundial”. 
 
 
- 3 -
ÍNDICE 
NOTA DO EDITOR .................................................................................................... - 2 - 
ÍNDICE ..................................................................................................................... - 3 - 
INTRODUÇÃO ........................................................................................................... - 5 - 
1ª PARTE – EM UM NOVO TIPO DE GUERRA ............................................................ - 9 - 
A TECNOLOGIA É O TOTEM DO HOMEM MODERNO ............................................ - 9 - 
CAP. 1 — A REVOLUÇÃO NOS ARMAMENTOS - INVARIAVELMENTE A PRIMEIRA A 
OCORRER .................................................................................................................. 17 
NÃO SERÁ MAIS POSSÍVEL ROTULAR A GUERRA .................................................... 18 
DOIS PENSAMENTOS DOUTRINÁRIOS — “GUERREAR COM AS ARMAS 
EXISTENTES OU ARMAS ESPECÍFICAS PARA GUERREAR” ................................... 23 
ARMAS DE EMPREGO NEOCONCEPCIONAL E ARMAS NEOCONCEPCIONAIS ..... 28 
A TENDÊNCIA PARA AS ARMAS SUAVES .................................................................. 33 
CAP. 2 — A FACE DO DEUS DA GUERRA TORNOU-SE INDISTINTA ............................ 39 
POR QUE E POR QUEM LUTAR? ................................................................................ 39 
ONDE LUTAR? ............................................................................................................ 44 
QUEM SÃO OS GUERREIROS? .................................................................................. 50 
QUAIS MEIOS E MÉTODOS SERÃO USADOS NA GUERRA? ..................................... 57 
CAP. 3 — UM CLÁSSICO QUE DIVERGE DOS CLÁSSICOS ........................................... 69 
UMA ALIANÇA REPENTINA ........................................................................................ 71 
A OPORTUNA LEI DE REORGANIZAÇÃO ................................................................... 75 
INDO ALÉM DO COMBATE INTEGRADO AR-TERRA ................................................. 78 
QUEM É O REI NAS AÇÕES DE GUERRA TERRESTRE? ........................................... 81 
UM OUTRO JOGADOR ESCONDIDO POR TRÁS DA VITÓRIA .................................... 86 
UMA MAÇÃ COM MUITAS FATIAS ............................................................................. 90 
CAP. 4 - O QUE OS NORTE-AMERICANOS GANHAM AO APALPAR O ELEFANTE ......... 94 
A MÃO ESTENDIDA ATRAVÉS DA CERCA — CADA FORÇA VÊ A GUERRA DE FORMA 
DIFERENTE. ............................................................................................................... 95 
O MAL DA EXTRAVAGÂNCIA E O “NÍVEL ZERO DE PERDAS” .............................. 107 
GRUPO DE BATALHA  FORÇA EXPEDICIONÁRIA  FORÇA INTEGRADA ........... 113 
DAS CAMPANHAS COMBINADAS ATÉ A GUERRA ONIDIMENSIONAL — UM 
PASSO PARA O COMPLETO ENTENDIMENTO ......................................................... 120 
PARTE 2 — UMA DISCUSSÃO SOBRE NOVOS MÉTODOS DE OPERAÇÃO .................. 131 
CAP 5 - NOVA METODOLOGIA DOS JOGOS DE GUERRA .......................................... 141 
REMOVENDO A COBERTURA DAS NUVENS DA GUERRA ...................................... 141 
A DESTRUIÇÃO DAS REGRAS E A AMBIÊNCIA DE PERDA DE EFICÁCIA .............. 148 
COQUETEL NA TAÇA DOS GRANDES MESTRES..................................................... 158 
 
 
- 4 -
USANDO A ADIÇÃO PARA VENCER O JOGO ........................................................... 164 
TIPOS DE GUERRA .................................................................................................. 170 
CAP 6 — A BUSCA DA REGRA DA VITÓRIA .......................................................... 174 
CONFORMANDO-SE À REGRA DA PROPORÇÃO ÁUREA ......................................... 175 
A GRAMÁTICA DA VITÓRIA — A REGRA COLATERAL-PRINCIPAL .......................... 182 
O ELEMENTO DOMINANTE E O CONJUNTO TODO — A ESSÊNCIA DA ESTRUTURA 
COLATERAL-PRINCIPAL ........................................................................................... 193 
UMA REGRA E NÃO UMA FORMULA PREESTABELECIDA ...................................... 198 
CAP. 7 - DEZ MIL MÉTODOS COMBINADOS EM UM ÚNICO ....................................... 204 
COMBINAÇÕES SUPRANACIONAIS ......................................................................... 207 
SUPRACOMBINAÇÃO DE AMBIÊNCIAS ................................................................... 216 
SUPRACOMBINAÇÃO DE MEIOS ............................................................................. 221 
SUPRACOMBINAÇÃO DE NÍVEIS ............................................................................. 228 
CAP. 8 - PRINCÍPIOS ESSENCIAIS ............................................................................ 233 
ONIDIRECIONALIDADE ............................................................................................ 235 
SINCRONIA ............................................................................................................... 237 
OBJETIVOS LIMITADOS........................................................................................... 238 
MEDIDAS ILIMITADAS ............................................................................................. 240 
DESEQUILÍBRIO ...................................................................................................... 242 
CONSUMO MÍNIMO ..................................................................................................243 
COORDENAÇÃO MULTIDIMENSIONAL .................................................................... 245 
AJUSTE E CONTROLE DE TODO O PROCESSO ...................................................... 247 
APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS NA GUERRA ALÉM DOS LIMITES ............................ 248 
CONCLUSÃO ......................................................................................................... - 249 - 
PALAVRAS FINAIS ................................................................................................ - 254 - 
CURRÍCULO DOS AUTORES ................................................................................. - 256 - 
 
 
- 5 -
INTRODUÇÃO 
Todos que viveram a última década do século XX têm uma grande percepção das 
mudanças ocorridas no mundo. Não acreditamos que exista alguém que possa 
alegar a existência de uma outra década na História, em que tenha ocorrido um 
maior número de mudanças. É evidente, que as causas por traz dessas enormes 
mudanças são inúmeras, para serem citadas, não obstante, existem algumas que 
são sistematicamente mencionadas, e uma delas é a 2ª Guerra do Golfo (1990-91). 
A 2ª Guerra no Golfo foi a guerra que mudou o mundo. Associar esta conclusão a 
uma guerra limitada, tanto no tempo (durou apenas 42 dias), quanto à área de 
operações, parece um pouco de exagero. Não obstante, os fatos corroboram essa 
assertiva, bastando citar, todos os novos termos e conceitos que começaram a 
surgir após 17 de janeiro de 1991, tais como: a antiga União Soviética, Bósnia-
Herzegovina, Kosovo, clonagem, Microsoft, hackers, Internet, a crise financeira do 
Sudeste Asiático, o Euro, bem como a única superpotência remanescente, os 
Estados Unidos. Pode-se alegar que estes termos e conceitos seriam suficientes e 
constituíram, em grande parte, os principais temas na década de 80. No entanto, o 
que nos propomos a afirmar, é que todos esses termos e conceitos estão 
relacionados àquela guerra, quer direta, quer indiretamente. 
Não temos a intenção de mitificar a guerra, e em particular, uma guerra 
desbalanceada, na qual havia uma significativa diferença no poder efetivo dos 
contendores. Muito pelo contrário, em nossa análise desta guerra, que em 15 dias 
praticamente mudou o mundo inteiro, notamos um outro fato, qual seja, o de que a 
guerra em si também havia mudado. Percebemos que a guerra como nós a 
conhecíamos, descrita em termos gloriosos e dominantes, até a conclusão do 
recente conflito, marcando um ápice na História Militar, deixou de ser considerada 
um dos mais importantes eventos no cenário mundial, e passou a ter, a 
importância de um ator secundário. 
Uma guerra que mudou o mundo, e em última análise, transformou a própria 
natureza da guerra. Este fenômeno é realmente fantástico, e ao mesmo tempo, 
estimula profundas ponderações. Não nos referimos às mudanças nos instrumentos 
da guerra, na tecnologia dos meios empregados, nos modelos de condução da 
guerra, ou nos tipos de guerra. Estamos nos referindo, isto sim, à natureza da 
guerra. Quem poderia imaginar que um ator intolerável e arrogante, cuja aparição 
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- 6 -
provocou uma completa mudança de enredo, subitamente dar-se-á conta de que, é 
o último capaz de encenar aquele personagem singular. E mais ainda, que mesmo 
antes mesmo dele deixar o palco, já lhe foi dito que ele não vai exercer, novamente, 
o papel de protagonista, ou pelo menos um papel central, no qual ocuparia sozinho 
o centro do palco. Que tipo de sentimento isso despertaria? 
Possivelmente, aqueles que sentem tal condição mais profundamente são os norte-
americanos os quais, provavelmente, pensam dever ser incluídos entre aqueles 
poucos que querem assumir todos os papéis, compreendendo o de salvadores, o de 
bombeiros, o de polícia mundial, o de emissários da paz, etc. Ao final da 
“Tempestade no Deserto” o “Tio Sam”, novamente, não foi capaz de alcançar uma 
vitória convincente; e tanto na Somália, quanto na Bósnia-Herzegovina, o desfecho 
foi, invariavelmente, o mesmo. 
Particularmente, nas ações mais recentes, nas quais os EUA e a Grã-Bretanha 
juntaram-se para realizar ataques aéreos ao Iraque, tratava-se do mesmo palco, do 
mesmo método, e dos mesmos atores; não havia, porém, maneira de se reeditar a 
bem sucedida atuação que causou, oito anos antes, uma impressão tão marcante. 
Diante das atuais questões políticas, econômicas, culturais, diplomáticas, étnicas e 
religiosas, e etc., cujas complexidades são bem maiores do que as vislumbradas 
pela maioria dos militares no mundo, as limitações quanto aos meios bélicos, que 
até agora constituíam um fator de sucesso, subitamente tornaram-se evidentes. No 
entanto, numa era em que “o poder é a razão”  e grande parte da história deste 
século está contida neste período  estes temas não constituíram entraves. A 
questão é que as forças multinacionais lideradas pelos EUA, operando na região 
desértica do Kuwait, marcaram o fim de um período, inaugurando, assim, uma 
nova era. 
Na atualidade, ainda é difícil vislumbrar se esta nova era irá redundar no 
desemprego de grandes efetivos militares, ou se irá abolir a guerra da face da Terra. 
Tudo isso ainda é indeterminado. A única conclusão certa é a de que, a partir de 
agora, a guerra não será mais como sempre foi. Em outras palavras, se no futuro, a 
humanidade não tiver alternativas que não a de engajarem-se em guerras, estas 
não serão mais conduzidas dentro dos moldes que nos eram familiares. 
É impossível negar o profundo impacto exercido sobre a sociedade pelas novas 
motivações representadas pela liberdade econômica, concepção dos direitos 
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- 7 -
humanos e percepção da importância da proteção ambiental. Mas é certo que a 
metamorfose da guerra provocará um cenário ainda mais complexo, caso contrário, 
o imortal pássaro da guerra, na eminência de seu declínio, não será capaz de 
atingir o seu nirvana. 
Quando as pessoas começarem a aceitar e regozijar-se com a redução do uso da 
força militar para a resolução de conflitos, a guerra renascerá sob outro formato, 
em outro cenário, tornando-se um instrumento de enorme poder nas mãos dos que 
nutrem a intenção de controlar outros países e regiões. 
O ataque financeiro realizados por George Soros no Sudeste Asiático, os ataques 
terroristas conduzidos por Osama Bin Laden às embaixadas norte-americanas, o 
ataque com gás sarin no metrô de Tókio, realizado pelos discípulos de Aum Shinri 
Kyo, e a devastação causada por Morris Jr. na Internet, são eventos cujos graus de 
destruição são comparáveis aos de uma guerra. São eventos que representam uma 
forma embrionária de um novo tipo de guerra. 
Seja qual for o nome atribuído a estas evoluções na ambiência da guerra, elas não 
nos tornam mais otimistas, e isto porque a redução da natureza da guerra, em sua 
essência, não significa o seu fim. Mesmo na chamada era pós-moderna, ou pós-
industrial, a guerra não deixará de existir. Ela apenas irá permear a sociedade 
humana, de uma forma mais complexa, mais penetrante, encoberta e sutil. É como 
Byron citou em seu poema “Mourning Shelley”  “Nada aconteceu, ele apenas 
passou para um outro nível de vida”. 
A guerra, que se submeteu às mudanças da moderna tecnologia e do sistema de 
mercado, será desencadeada de formas ainda mais atípicas. Em outras palavras, 
enquanto presenciamos uma relativa redução na violência militar, estamos 
evidenciando, definitivamente, um aumento na violência política, econômica e 
tecnológica. 
No entanto, a despeito das formas que a violência possa assumir, a guerra continua 
sendo a guerra, e as mudanças, em sua aparência externa não impedem que ela 
continue a ser regida pelos Princípios da Guerra. 
Os novos princípios de guerra não prescrevem mais “o emprego da força armada 
para compelir um inimigo a submeter-se à nossa vontade”, e sim,“a utilização de 
todos os meios, militares e não-militares, letais e não-letais, para compelir um 
inimigo a submeter-se aos nossos interesses”. Isto representa uma mudança, 
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- 8 -
tanto na guerra em si, quanto no modelo de guerra provocado por essa 
transformação. 
Se estas mudanças existem que ou o que as determinou? Que tipos de mudanças 
são estas? Que novos rumos estas mudanças estão determinando? E como encarar 
estas mudanças? Estes são os tópicos que este livro procura abordar, constituindo, 
também, nossa motivação para escrevê-lo. 
Qiao Liang e Wang Xiangsui 
Em 17 de janeiro de 1999, 8º aniversário do início da Guerra no Golfo. 
 
 - 9 -
1ª PARTE – EM UM NOVO TIPO DE GUERRA 
“Apesar de Estados antigos terem sido grandes, eles, 
inevitavelmente, pereceram quando se tornaram adeptos 
da guerra.” 
Sima Rangju 
A TECNOLOGIA É O TOTEM DO HOMEM MODERNO1 
AA TTEECCNNOOLLOOGGIIAA —— UUMM PPAARR DDEE SSAAPPAATTIILLHHAASS MMÁÁGGIICCAASS 
Impulsionada pela morna brisa do utilitarismo, não é uma surpresa que a 
tecnologia tenha sido mais favorável ao homem do que a ciência. A era das grandes 
descobertas científicas já estava ultrapassada, antes mesmo da época de Einstein, 
no entanto, ainda hoje, o homem se inclina, cada vez mais, para realização de todos 
os seus sonhos, em seu próprio tempo de vida. Esta perspectiva levou o homem 
esperar o seu próprio futuro, adotando uma atitude de prostração e de expectativa 
quanto às maravilhas que lhe podem ser proporcionadas pela tecnologia, 
vislumbradas através de uma lente côncava, com magnitude elevada à potencia de 
1000. 
Desta forma, a tecnologia produziu desenvolvimentos surpreendentes e magníficos, 
num período de tempo relativamente curto, resultando em inúmeros benefícios para 
uma humanidade que estava ávida por um sucesso rápido e a correspondente 
recompensa. Não obstante, ao enaltecermos orgulhosamente este progresso, não 
nos damos conta de que ao abrigo desta benigna era da tecnologia nos abstraímos 
dos nossos melhores sentimentos. 
 
1 No livro “In Man and Technology”, O. Spengler afirma: “como Deus, nosso Pai, a 
tecnologia é eterna e imutável, e como o Filho de Deus, irá salvar a humanidade, e 
como o Espírito Santo, brilha sobre nós”. A adoração do filósofo Spengler pela 
tecnologia, semelhante à de um teólogo por Deus, não era nada mais do que uma 
manifestação de um outro tipo de ignorância, na medida em que o homem entrava 
na grande era do industrialismo, que florescia de forma intensa na era pós-
industrial. 
 - 10 -
 
Atualmente, a tecnologia está se tornando cada vez mais fascinante e incontrolável. 
Os laboratórios da Bell e da Sony desenvolvem continuamente novos “brinquedos”; 
Bill Gates lança uma nova versão do “Windows” a cada ano; e a “Dolly”, uma ovelha 
gerada por clonagem, é a prova de que o homem está, agora, planejando tomar o 
lugar de Deus, como Criador. Dentro do ritmo alucinante em que a tecnologia se 
desenvolve, o surpreendente caça russo SU-27 Flanker, nem chegou a ser 
empregado em combate, e o SU-35 Super-Flanker já se apresenta como o seu 
sucessor2. A tecnologia, portanto, é como um “par de sapatilhas mágicas” que após 
serem calçadas e firmemente presas pelos interesses comerciais, não nos deixa 
alternativas que não a de dançar de acordo com o ritmo por elas estabelecido3. 
AA TTEECCNNOOLLOOGGIIAA NNÃÃOO PPOODDEE MMAAIISS RROOTTUULLAARR EERRAASS 
Adotar nomes como Watt e Edison, que quase sinônimos de grandes invenções 
tecnológicas, para designar as eras em que viveram, até que poderia ser 
considerado lógico. No entanto, a partir deles a situação mudou, e as incontáveis e 
variadas descobertas tecnológicas, ocorridas no último século, tornaram difícil a 
identificação de um simples desenvolvimento, que possa ter assumido uma 
importância magna no âmbito da humanidade. 
 
2 Apesar do armamento como capacidade “BVH” (beyond visual range) ter 
incorporado significativas mudanças nos conceitos básicos de combate aéreo, e 
mesmo após tudo o que já foi dito e feito a respeito, os conceitos de combate à curta 
distância ainda não foram completamente invalidados. Ambos, o SU-27 e o SU-35, 
dotados de extraordinária manobrabilidade, constituem as melhores aeronaves de 
interceptação na atualidade. 
3[N.T.] A alusão é feita a um balé criado por Peter Ilich Tchakovisky, compositor 
russo. Ao calçar as sapatilhas de balé, a bailarina não consegue mais controlar a 
sua dança, e ao final, morre de exaustão. 
A este respeito, o filósofo e cientista francês Jean Ladrihre tem um ponto de vista específico. Ele acredita que ciência e a 
tecnologia têm um efeito, tanto destrutivo quanto orientador sobre a cultura. Sob a combinação destes dois efeitos é 
muito difícil para a humanidade manter uma correta avaliação sobre a tecnologia, e assim estamos constantemente 
oscilando entre dois extremos, o do fanatismo técnico e o dos movimentos “anticientíficos”. Munir-se da disposição para 
ler a obra “The Challange Presented to Cultures by Science and Technology”, um texto obscuro, mas com uma linha de 
raciocínio conciliadora, pode ser útil para percebermos o impacto da tecnologia sobre os diversos aspectos da sociedade 
humana, a partir de uma ampla perspectiva. 
 - 11 -
Expressões como “era da máquina a vapor” e “era da eletricidade” podem ser 
consideradas formulações que refletiam a realidade de suas épocas. Porém, na 
atualidade, com o progresso acelerado da tecnologia, as pessoas praticamente não 
dispõem do tempo necessário para reconhecer aclamar os desenvolvimentos 
tecnológicos, antes que estes sejam sucedidos por tecnologias mais avançadas ou 
por novas ondas tecnológicas. 
Assim, a possibilidade de se batizar uma nova era, a partir de um desenvolvimento 
tecnológico específico ou, a partir de um único invento, tornou-se um aforismo do 
passado. É por este motivo, que se alguém chamar a época atual de “era nuclear”, 
ou, “era da cibernética”, podemos dizer que ela estará enfocando um aspecto 
particular do desenvolvimento humano, para tipificar uma situação genérica. 
AA TTEECCNNOOLLOOGGIIAA CCIIBBEERRNNÉÉTTIICCAA 
Indubitavelmente o aparecimento da tecnologia cibernética4 foi uma novidade 
benéfica para a civilização. Isto se deve ao fato de na atualidade ela ser o único 
recurso, capaz de amplificar a epidemia tecnológica, que parece ter sido liberada de 
uma “Caixa de Pandora”, e simultaneamente, incorporar o encantamento mágico de 
representar um meio de controlar essa tecnologia. A questão que permanece, no 
entanto, é: Quem terá o “encantamento mágico” para controlar a tecnologia 
cibernética? 
O ponto de vista pessimista quanto a essa questão é que, se a tecnologia cibernética 
desenvolver-se a ponto de não poder mais ser controlada pelo homem, e em última 
análise, transformará a humanidade em sua vítima. 
 
4 [N.T.] Usamos a expressão “tecnologia cibernética” como tradução para 
“information technology” porque a palavra cibernética — cujo significado é: “ciência 
que estuda as comunicações e o sistema de controle não só nos organismos vivos, 
mas também nas máquinas” — é a que tem o significado mais próximo do atual 
conceito de “information”. 
 - 12 -
 
No entanto, mesmo diante desta amedrontadora perspectiva, a humanidade não é 
capaz de reduzir o ardor por este desenvolvimento tecnológico. 
Por outro lado, as perspectivas otimistas que a tecnologia cibernética apresenta são 
significantemente sedutoras, para uma humanidade ávida de progresso tecnológico. 
Afinal de contas, suas características singulares de facultar a troca e o 
compartilhamento entre diferentes áreas da tecnologia, representam um facho de 
inteligência, que esperamos, oriente a humanidade no seu afastamento do 
barbarismo tecnológico,muito embora, esta perspectiva ainda não seja suficiente 
para nos compararmos aos futuristas, que ao verem algumas árvores não 
vislumbram a floresta a que elas pertencem, e assim, usam o enunciado tecnologia 
cibernética para rotular toda uma era. 
Não obstante, este predomínio tende a não ocorrer, porque característica intrínseca 
da tecnologia cibernética, que é proporcionar a inteiração entre outras tecnologias 
é, precisamente, o fator que a impede de substituir as diversas tecnologias que já 
existem, estão emergindo, ou estão ainda por surgir. Ou seja, por ser um elemento 
de ligação ela não subsiste isolada. Por exemplo, a biotecnologia, a tecnologia de 
materiais, e a nanotecnologia, têm uma intensa relação de simbiose promovida pela 
tecnologia cibernética, da qual dependem para promover umas às outras. 
AA RRAAMMIIFFIICCAAÇÇÃÃOO TTEECCNNOOLLÓÓGGIICCAA 
Nos últimos 300 anos, as pessoas vêm adquirindo o hábito de aderir cegamente às 
novas tecnologias, descartando-se do que é velho. A interminável busca por uma 
nova tecnologia tornou-se a panacéia para resolver todas as difíceis questões 
relativas à existência, e envolvidas por esta perspectiva, as pessoas têm 
gradualmente perdido o seu próprio rumo. 
Freqüentemente, cometem-se diversos erros para encobrir um erro inicial, e da 
mesma forma, para a resolução de um problema difícil, não hesitarão em criar dez 
F.G.Ronge é o mais contundente dos pessimistas da tecnologia. Desde 1939, Ronge identificou uma série de problemas 
que a moderna tecnologia traz embutida em si, incluindo o crescimento do controle tecnológico, e a ameaça de 
problemas ambientais. Em seu ponto de vista, a tecnologia já se tornou uma força diabólica inalcançável. Ela não só 
suplantou a natureza, como também eliminou a liberdade do homem. Na obra “Being and Time”, Martin Heidegger 
denominou a tecnologia como um “destacado absurdo”, conclamando os homens a se voltarem para a natureza, de 
modo a evitar a tecnologia, a qual representava a sua maior ameaça. Os mais famosos otimistas em relação à 
tecnologia foram Norbert Wainer e Steinbuck. Nas obra de Weiner - “Cybernetics, God and Robots”, e de Steinbuck - 
“The Human use of Human Beings” de Wiener, e “The Information Society, Philosophy and Cybernetics”, e outros 
trabalhos semelhantes, pode-se identificar as brilhantes perspectivas que eles descrevem para sociedade humana, 
motivadas pela tecnologia. 
 - 13 -
outros problemas5. Como por exemplo, o automóvel, que foi desenvolvido para 
tornar-se um meio de transporte mais conveniente. No entanto, na esteira deste 
desenvolvimento, surgiu uma longa lista de problemas: a mineração e a fundição; o 
processamento mecânico; a prospecção e refino de petróleo; a industrialização da 
borracha e dos sintéticos; a construção e pavimentação de estradas; e assim por 
diante. Estes problemas, por sua vez, demandaram a adoção de métodos e técnicas 
as quais, em última análise, produziram a poluição ambiental, o esgotamento de 
recursos, a ocupação de áreas rurais, o aparecimento de acidentes de trânsito, além 
de uma série de outros problemas intrincados. Apesar disso, e sob uma ampla 
perspectiva, se comparados à meta original, que era o de desenvolver um meio de 
transporte, esses problemas decorrentes praticamente perderam significado. 
Desta forma, a expansão irracional da tecnologia tem continuamente levado a 
humanidade a não só, perder de vista seus objetivos no complexo emaranhado da 
árvore do desenvolvimento tecnológico, como também, a perder a possibilidade de 
reverter o processo. Podemos, inclusive, apelidar esse fenômeno como o “efeito de 
ramificação”. 
AA TTEECCNNOOLLOOGGIIAA DDEEVVEE SSEERR AAPPEENNAASS UUMMAA FFEERRRRAAMMEENNTTAA 
Afortunadamente, surgiu a tecnologia cibernética, e podemos dizer, com certeza, 
que esta representa a mais importante revolução na história da tecnologia. A sua 
relevância não está apenas no fato de ser uma inovação, e sim, por se tratar de uma 
espécie de agente agregador, dispondo da capacidade de penetrar fluidicamente 
através das barreiras existentes entre diferentes tecnologias, interligando aquelas 
que pareciam ser totalmente dissociadas. 
O poder agregador da tecnologia cibernética também permite o desenvolvimento de 
novas tecnologias, que mesmo sendo distintas daquelas que as originaram retêm, 
simultaneamente, semelhanças às tecnologias originais; e mais do que isso, 
proporciona um novo modelo de relacionamento entre o homem e a tecnologia. 
 
5 Em seu livro “The Arrogance of Humanism”, David Ehrenfeld cita numerosos 
exemplos desta afirmativa. Em “To Clever” Schwartz declara que “a resolução de um 
problema pode gerar uma série de novos problemas, e estes problemas podem, em 
última instância, inviabilizar a solução do problema original.” Rene Dibo em sua 
obra “Rational Consciousness”, também aborda este fenômeno particular. 
 - 14 -
No processo de resolução dos difíceis problemas com os quais a humanidade se 
depara ao longo de sua existência, somente a partir da perspectiva da tecnologia 
cibernética, poderá a humanidade perceber a essência do que é a tecnologia  
uma ferramenta  e somente então, poderá evitar escravização pela tecnologia. 
AA FFUUSSÃÃOO DDEE DDIIFFEERREENNTTEESS GGEERRAAÇÇÕÕEESS DDEE TTEECCNNOOLLOOGGIIAASS 
A humanidade é plenamente capaz de desenvolver plenamente a sua engenhosidade 
e imaginação, de modo usar todo o potencial de uma tecnologia específica, até a sua 
exaustão, ao invés de simplesmente utilizá-la e substituí-la quando surge uma 
tecnologia mais avançada. 
Na atualidade, é inimaginável o uso de uma tecnologia de forma independente ou 
isolada, e a emergência da tecnologia cibernética tem apresentado possibilidades 
ilimitadas de casamento de novas e velhas tecnologias, bem como, entre as novas e 
as tecnologias mais avançadas. Inúmeros fatos têm demonstrado que o uso 
integrado de tecnologias é capaz de promover mais progresso social que o 
desenvolvimento de novas tecnologias6. 
Os desempenhos solos estão no processo de sua substituição pela manifestação 
conjunta de múltiplas partes, como num coro. A fusão de tecnologias, em caráter 
geral, está orientando, de modo irreversível, a tendência para a globalização. Em 
contrapartida, a globalização acelera o processo de fusão geral das tecnologias, e 
este processo de realimentação é a característica básica da nossa era, e que irá, 
inevitavelmente, projetar seus efeitos em todas as direções, e naturalmente, a 
ambiência da guerra não será uma exceção. 
Nenhuma força militar que aspire por modernização pode ser bem sucedida, sem 
desenvolver novas tecnologias, sendo que, neste sentido, a guerra tem sido o berço 
destas novas tecnologias. Durante a 2ª Guerra do Golfo, mais de 500 itens 
representativos da nova e avançada tecnologia da década de 80 estiveram em cena, 
 
6 Em sua obra “In The Age of Science and the Future of Mankind” E. Shulman 
enfatiza que “no dinâmico desenvolvimento da cultura moderna, o qual é baseado 
no explosivo desenvolvimento da moderna tecnologia, nós estamos continuamente 
nos deparando com a cooperação multidisciplinar... é impossível para um ramo 
específico da ciência, guiar nossa prática científica de uma forma suficiente“. 
 - 15 -
e marcaram a sua presença, transformando a guerra num painel de demonstração 
dos novos sistemas de armas. 
No entanto, o aspecto que chamou a atenção de forma mais contundente, não foi o 
novo armamento em si, e sim, a tendência à sistematização no desenvolvimento e 
emprego dos sistemas de armas. Como exemplo tem o sistema “Patriot”, empregado 
para interceptar os mísseis “Scud”. 
O que parecia uma ação local de tiro ao alvo, na realidade, envolvia um conjunto de 
sistemas interligados, cobrindo praticamente metade do globo terrestre,ou seja: um 
satélite DSP7 identificava o alvo, enviava um sinal de alarme para uma estação 
receptora na Austrália; esta por sua vez retransmitia o sinal para um Posto de 
Comando localizado em território norte-americano, e a partir deste, o sinal era 
enviado para o Comando das forças norte-americanas em Ryadh, deste Posto é que 
saia o comando de disparo para as baterias de mísseis “Patriot”. Somente após este 
trâmite, que durava apenas 90 segundos, os mísseis “Patriot” eram lançados 
configurando o que se poderia dizer “um disparo ouvido no mundo inteiro”. 
A coordenação à longa distância, e em tempo real, de inúmeros sistemas de armas, 
criou uma capacidade de combate sem precedentes, e este é um exemplo preciso, 
de algo inimaginável antes do surgimento da tecnologia cibernética. 
Enquanto que o desenvolvimento de armas singulares, antes da 2ª Guerra Mundial, 
ainda era capaz de gerar uma revolução militar, na atualidade, ninguém é capaz de 
dominar, sozinho, toda uma ambiência. 
Na era atual, a integração e globalização tecnológica eliminaram a possibilidade das 
armas rotularem as guerras, e com relação a esta nova realidade, as armas para 
novas concepções, e em particular, as novas concepções de armas, obscureceram a 
face da guerra. 
O ataque de um hacker pode ser considerado um ato hostil? A utilização de 
instrumentos financeiros para destruir a economia de um país pode ser vista como 
uma batalha? Será que a reportagem da rede CNN, mostrando os corpos de 
soldados norte-americanos nas ruas de Mogadishu, despertou a determinação 
 
7 Os Satélites DSP (Defense Support Program), desenvolvidos na década de 70, em 
sua configuração original eram posicionados em órbitas geoestacionárias, sendo 
dotados de sensores para prover alarme contra mísseis além do horizonte. 
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norte-americana em atuar como uma “polícia mundial” e, portanto, alterou a 
configuração estratégica mundial? Deveriam as análises das ações em uma guerra 
enfocarem os meios? Ou os resultados? 
É óbvio, que raciocinando com a definição tradicional de guerra, não há mais como 
responder estas questões. Ao nos darmos conta, de que todas essas ações de não-
guerra podem tornar-se os elementos constituintes de uma guerra no futuro, 
concluímos que devemos criar uma nova designação para este novo tipo de guerra: 
uma guerra que transcenda todas as fronteiras e limites, em resumo  a Guerra 
Além dos Limites. 
Por este novo conceito, a guerra prescreve a prontidão de todos os meios 
disponíveis, a onipresença da informação, e presença do campo de batalha em 
todos os lugares. Significa a fusão de todas as armas com a tecnologia disponível, 
como for desejado; a eliminação de todas as fronteiras entre as duas ambiências, a 
da guerra e da paz; dos militares e dos não-militares; a mudança de todos os 
princípios de guerra, e até mesmo, as regras da guerra poderão ter que ser 
reformuladas. 
No entanto, é difícil medir o pulso do Deus da Guerra. Se quisermos discutir a 
guerra, e particularmente a guerra que irá ocorrer amanhã à noite, ou depois de 
amanhã, só existe uma maneira, qual seja, determinando, com toda a 
tranqüilidade, a sua natureza e medindo, cuidadosamente, o pulso do Deus da 
Guerra no momento atual. 
 
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CAP. 1 — A REVOLUÇÃO NOS ARMAMENTOS - 
INVARIAVELMENTE A PRIMEIRA A OCORRER 
“Tão logo os avanços tecnológicos possam ser aplicados às 
metas militares, ou já estejam em uso para fins militares, 
quase que imediatamente, tornam-se obrigatórios, e 
freqüentemente, contrariam a vontade dos Comandantes 
no sentido de provocar mudanças ou até mesmo 
revoluções nos modos de combate.” 
Engels 
 
A revolução nos armamentos invariavelmente antecede as revoluções nos assuntos 
militares. Seguindo-se ao surgimento de uma arma revolucionária, o aparecimento 
de uma revolução em assuntos militares é simplesmente uma questão de tempo. 
A história da guerra tem proporcionado contínuas evidências dessa assertiva: as 
lanças de bronze ou de aço permitiram o desenvolvimento da temida falange da 
infantaria1. O arco e flecha e os estribos proporcionaram novas táticas para a 
cavalaria. 
 
Os canhões usando a pólvora negra que foram o berço de uma completa gama de 
novas táticas de guerra; e quando as balas e os fuzis2 chegaram aos campos de 
batalha, como a vanguarda da uma nova era tecnológica, as armas passaram, a 
 
1 O autor se refere á Falange Macedônica, desenvolvida por Felipe II da Macedônia e 
aperfeiçoada e consagrada por seu filho Alexandre “O Grande”. 
2 Comparado ao desenvolvimento de qualquer tecnologia avançada de armamento, 
a invenção do fuzil e da bala cônica, entre os anos de 1850 e 1860, teve o maior e 
mais profundo e imediato impacto revolucionário. O impacto causado pelos 
desenvolvimentos das bombas de alto-explosivo, do avião, e do tanque, todos 
ocorridos no século XX, certamente não se compara ao que foi causado pelo 
desenvolvimento do fuzil à sua época. 
Segundo Engels, “Na época do barbarismo o arco e flecha ainda era uma arma decisiva, assim como a espada de aço 
numa era não civilizada e as armas de fogo na era da civilização.” (Collected Works de Marx e Engels, Vol. 4, People’s 
Press, 1972, p.19) Com relação a como o estribo modificou o modo de combate, citamos o comentário e tradução de Gu 
Zhun de um artigo intitulado “Stirrrups and Feudalism  Does Technology Create History?”.  “Os estribos....tornaram 
imediatamente possível o combate direto “mão a mão” e este era um modo revolucionário de combate....freqüentemente 
apareciam invenções tão simples quanto o estribo, mas raramente, elas tiveram um papel tão catalisador na história 
quanto esta”.”O estribo provocou uma série de revoluções militares e sociais na Europa” (Collected Works of Gu Zhun, 
Guizhou People’s Press, 1994, p293-309). 
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identificar e designar ações de guerra e a própria guerra em si. Inicialmente, foram 
os enormes navios dotados de couraças de aço que comandavam os mares, 
inaugurando a era dos encouraçados; em seguida seus irmãos terrestres, os 
tanques, que passaram a comandar a guerra terrestre, e na seqüência os aviões 
dominariam os céus, e assim, até o nascimento da bomba atômica, que anunciava 
a proximidade da era nuclear. 
Atualmente, uma grande quantidade de armamentos de tecnologia avançada 
continua a ser desenvolvida, e as armas, formalmente, tornaram-se o principal 
elemento representativo da guerra. 
Quando tratamos da guerra na atualidade, já é costume adotar a designação de 
determinadas armas ou tecnologias para rotulá-la, como por exemplo: a guerra 
eletrônica, o ataque de precisão, a guerra de minas, a guerra anti-submarino, os 
ataques cirúrgicos e a guerra cibernética3. No entanto, embora os indícios já 
existam, ainda não foi percebido claramente que uma mudança muito importante 
está cada vez mais próxima. 
 NÃO SERÁ MAIS POSSÍVEL ROTULAR A GUERRA 
OO PPAARRAADDOOXXOO EENNTTRREE AASS AARRMMAASS EE AA GGUUEERRRRAA 
As revoluções nos assuntos militares não serão mais deflagradas pelo surgimento 
de uma ou duas armas singulares. O dinamismo e o nível de difusão da evolução 
tecnológica, além de estimular a ansiedade e o deslumbramento por novas armas, 
contribuíram para desvendar seus mistérios, laicizando-as. 
No passado, a invenção de uma nova arma, ou de partes de um equipamento, tais 
como o estribo ou a metralhadora Maxim4, era o suficiente para alterar a face da 
 
3 [N.T.] Expressão usada na tradução de “information warfare”. 
4 Na Batalha do Rio Somme, durante a 1ª Guerra Mundial, no dia 1º de julho de 
1916, as forças inglesas lançaram uma ofensiva contra as forças alemãs, e os 
alemães utilizaramas metralhadoras Maxim contra as tropas inglesas, que 
adotando uma formação cerrada, tiveram 60.000 baixas em um só dia. A partir 
desta ocorrência, as táticas de ataque empregando formações maciças foram 
gradualmente sendo eliminadas dos campos de batalha. (Weapons and War  The 
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guerra. Ao passo que, atualmente, é necessário o desenvolvimento de diversos tipos 
de armas, que vão interagir para compor sistemas que possam produzir um efeito 
sensível numa guerra, criando assim, um paradoxo, inerente ao relacionamento 
entre as armas e a guerra, qual seja: qquuaannttoo mmaaiioorr oo nnúúmmeerroo ddee aarrmmaass iinnvveennttaaddaass,, ee 
qquuaannttoo mmaaiioorr aa tteeccnnoollooggiiaa eennvvoollvviiddaa,, mmeennoorr tteemm ssiiddoo ssuuaa iimmppoorrttâânncciiaa rreellaattiivvaa nnuummaa 
gguueerrrraa. 
AA TTEECCNNOOLLOOGGIIAA NNÃÃOO PPOODDEE MMAAIISS RROOTTUULLAARR AA GGUUEERRRRAA 
Desta forma, com a exceção das armas nucleares, (cujo emprego improvável poderia 
designar uma guerra nuclear), nenhuma arma atual por si só, mesmo aquelas 
consideradas as mais revolucionárias, possui a magnitude e a perenidade para 
rotular uma guerra do futuro. 
Possivelmente, este seja o motivo para que se tenham desenvolvido novas formas de 
identificação, tais como “gguueerrrraa ddee aallttaa--tteeccnnoollóóggiiaa” ou “gguueerrrraa cciibbeerrnnééttiiccaa,,” com a 
intenção de utilizar designações tecnológicas ou científicas, de natureza ampla e 
vaga, ao invés de designações específicas, baseadas em armamentos. 
 
No entanto, o que se pode constatar é que a complexidade inerente à utilização de 
conceitos genéricos ou abstratos indica não ser esta, ainda, a forma de resolver o 
problema. Por exemplo, a expressão “aallttaa--tteeccnnoollooggiiaa”, surgiu nos Estados Unidos no 
âmbito da arquitetura, com um significado um tanto vago. O que é alta-tecnologia? 
A que ela se refere? 
Sob o ponto de vista da lógica, o termo “alta” é relativo e, portanto, impreciso, por 
depender de uma avaliação por vezes subjetiva. Este aspecto, por si só, não o 
credencia para designar um fenômeno como a guerra, cujo próprio dinamismo já se 
 
Historical Evolution of Military Technology, Liu Jifeng, University of Science and 
Technology for National Defense Publishing House, 1992, pp172-173). 
Se não considerarmos as opiniões de Wiener a respeito das máquinas de jogos de guerra, como as primeiras 
referências às “armas cibernéticas”. Um comentário feito por Tom Luona em 1976, descrevendo a “guerra cibernética” 
como “uma luta entre sistemas de tomadas de decisão”, torna-o o primeiro a mencionar “guerra cibernética” (Douglas 
Dearth “Implications, Characteristics and Impact of Informations Warfare”). Através de pesquisa independente, em 1990, 
Shen Weiguang, um jovem estudioso chinês, com mais de dez anos no serviço militar ativo, publicou um trabalho 
denominado “Information Warfare”, o qual pode ser considerado, provavelmente, a mais antiga monografia sobre “guerra 
cibernética”. No bojo de sua Terceira Onda, em um outro “best-seller” intitulado “Power Shift”, Tofler conferiu à “guerra 
cibernética” um caráter global, enquanto que a 2ª Guerra no Golfo, ocorrendo em paralelo, tornou-se a propaganda 
perfeita para esta nova concepção de combate. À época, a discussão em torno do tema “guerra cibernética” tornou-se 
um modismo. 
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constitui num considerável problema, que é inerente às tecnologias passíveis de 
evolução, qual seja, a fixação de um conceito no tempo. 
A dinâmica das inovações gera um difícil processo de classificação e reclassificação 
sucessivas do que poderia ser enquadrado como “alta-tecnologia”. De mesma forma, 
fica difícil a distinção entre o que é mais, ou menos novo, além da necessidade do 
estabelecimento do referencial para esta determinação. Deve-se considerar, 
também, que cada tecnologia por si mesma, possui aspectos e parâmetros de 
desenvolvimento próprios, o que significa dizer, que cada uma tem os seus próprios 
limites temporais, e em decorrência, comparar tecnologias diferentes é um processo 
extremamente relativo. 
Por exemplo: o tanque M-60, o helicóptero AH-1 “Cobra”, e o bombardeiro B-52, 
armamentos oriundos dos anos 60 e 70, são considerados de “bbaaiixxaa--tteeccnnoollooggiiaa” se 
comparados ao tanque M1A1 “Abrams”, ao helicóptero AH-64 “Apache”, ao caça 
“invisível” F-117, ou aos mísseis “Patriot” e “Tomahawk”. Porém, estes últimos 
também seriam de “bbaaiixxaa--tteeccnnoollooggiiaa” se comparados ao bombardeiro B-2, ao caça 
F-22, ao helicóptero RAH-64 “Comanche”, ou ao sistema de radar combinado de 
vigilância e ataque “J-Star”. 
Pode-se dizer que o conceito de alta-tecnologia é como a título de “miss”, concedido 
periodicamente determinadas a jovens, em diversos pontos do mundo, e que tal 
título, inevitavelmente, será transferido para outras jovens algum tempo depois. 
Porem as jovens, mesmo tendo passado o cetro da beleza, guardam para si a faixa 
de misse referente ao ano em que foram eleitas5. 
Portanto, no processo dinâmico que caracteriza a guerra, cada arma pode passar da 
condição de ponta para a condição de obsoleta, a qualquer momento e em qualquer 
lugar. E como, independentemente de local, a marcha do tempo não se deterá, 
nenhuma arma poderá ocupar, por muito tempo, o trono da “aallttaa--tteeccnnoollooggiiaa”. 
Aceitando-se essa premissa como verdadeira, a que tipo de tecnologia a designação 
“gguueerrrraa ddee aallttaa--tteeccnnoollooggiiaa” poderia se referir? 
 
5 [N.T.]  A metáfora empregada neste parágrafo pelo tradutor é diferente da 
empregada pelo autor, e na adaptação procurou-se ser o mais fiel possível a idéia 
do autor. A mera tradução literal não teria um significado preciso em nossa 
cultura. 
 21
Desta forma, a expressão “aallttaa--tteeccnnoollooggiiaa” não poderia ser considerada como um 
rótulo para a um tipo de guerra do futuro, assim como qualquer expressão derivada 
de “tteeccnnoollooggiiaa cciibbeerrnnééttiiccaa” — uma das formas de alta-tecnologia da atualidade, 
ocupando uma posição de destaque no projeto de todos os sistemas de armas 
atuais. 
Mesmo considerando que numa guerra do futuro, todos os sistemas de armas 
incorporem componentes derivados da tecnologia cibernética, ainda assim não 
poderíamos rotular tal guerra como “guerra cibernética”. 
 
Na melhor das hipóteses, poderíamos considerar a designação “guerra 
computadorizada”6, e essa consideração deve-se ao fato de que, a despeito da 
importância da tecnologia cibernética, ela não consegue suplantar todas as funções 
e atribuições de cada tecnologia de per si. 
Por exemplo, uma aeronave F-22, que incorpora de forma predominante, 
dispositivos e sistemas de tecnologia cibernética, não deixa de ser um caça, da 
mesma forma o míssil “Tomahawk”, que apesar de toda a sua sofisticação, 
incorporando da mesma forma sistemas de tecnologia cibernética, ainda é um 
míssil, e não é possível reuni-los sob um só conceito de armas, como, por exemplo 
 
6 A guerra computadorizada num sentido genérico e a guerra cibernética num 
sentido mais restrito, são conceitos completamente diferentes, o primeiro referindo-
se às ações que são aprimoradas e acompanhadas pela tecnologia cibernética, e o 
segundo, de uma forma resumida, referindo-se às ações de na qual a tecnologia 
cibernética é utilizada para obter, explorar, negar e proteger a informação. 
Com relação à definição de guerra cibernética até os dias de hoje (1999) ainda não há um consenso. De acordo com a 
definição adotada pelo Departamento de Defesa dos EUA— “são as ações tomadas para interferir com acapacidade 
cibernética de um inimigo compreendendo o processamento de informações, os sistemas de informações, as redes de 
computadores, visando obter a superioridade cibernética sobre o inimigo, ao mesmo tempo em que visam, também, à 
proteção das nossas informações, sistemas associados e redes de computadores". 
 “De acordo com o manual do Exército norte-americano FM-106, o entendimento do Departamento de Defesa relativo à 
guerra cibernética enfoca os efeitos da cibernética no âmbito dos conflitos atuais, ao passo que o entendimento do 
Exército é de a cibernética já permeia todos os aspectos, desde a situação de paz até a situação de uma ação militar 
numa guerra global” (Military Science Publishing House, tradução chinesa, pp. 24-25). 
George Stein, um professor da Universidade da Força Aérea dos EUA, propõe a definição a seguir para “guerra 
cibernética”: “Num sentido genérico, a guerra cibernética compreende ações que utilizam a informação para a 
consecução dos objetivos nacionais.”, e esta definição reflete uma opinião de alguma forma mais ampla que a do 
Exército. 
Em artigo na edição do verão 1997 do periódico “Joint Forces Quarterly,” o Coronel Brian Fredericks propôs que: “a 
‘guerra cibernética’ é um assunto em nível nacional, que está além da abrangência da defesa nacional, e provavelmente, 
esta seja a descrição mais precisa de ‘guerra cibernética’ num sentido amplo”. 
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— armas cibernéticas — assim como não se poderia designar a guerra que os 
emprega como sendo uma “guerra cibernética”. 
 
Adicionalmente, a cibernética tornou-se um mito contemporâneo, gerando a crença 
de que ela é a única tecnologia em desenvolvimento, e que as demais já 
encontraram o seu ocaso. Este tipo de mito pode engordar a conta bancária de Bill 
Gates, porém, não pode alterar o fato de que o desenvolvimento da tecnologia 
cibernética também se apóia no desenvolvimento de outras tecnologias, assim como 
o desenvolvimento da tecnologia de materiais relacionados constitui um limitador 
direto dos avanços da tecnologia cibernética. 
Por exemplo, o desenvolvimento da biotecnologia é um fator determinante do 
destino da tecnologia cibernética. 
 
Para que possamos avaliar a complexidade, atual e futura, de se rotular guerras, 
podemos fazer uma pequena suposição, usando a biotecnologia como um exemplo: 
Se usarmos armas biotecnológicas equipadas com sistemas de orientação 
cibernéticos, como se poderiam designar as ações de guerra relacionada à utilização 
dessas armas: guerra biotecnológica, guerra cibernética, ou guerra digital? Ainda 
que ninguém esteja capacitado a responder esta questão, de uma forma sumária, 
este é um cenário perfeitamente passível de ocorrer. 
De fato, em termos básicos, não há uma necessidade das pessoas se preocuparem 
Contrariando a tendência de uma abordagem cada vez mais genérica dos conceitos relativos à “guerra cibernética”, 
alguns oficiais mais jovens nas forças armadas dos EUA questionam, cada vez mais, o conceito de “guerra cibernética”. 
O Tenente-Coronel da Força Aérea James Rogers frisa que “a ‘guerra cibernética’, na realidade, não é uma novidade... 
...queira ou não, aqueles que afirmam que as técnicas e estratégias associadas à ‘guerra cibernética,’ inevitavelmente, 
substituirão a guerra com armas , estão com uma autoconfiança um pouco exagerada.” (revista U.S. Marines, abril, 
1997). O Capitão-Tenente da Marinha Robert Guerli propôs que “as sete áreas de mal entendimento com relação à 
‘guerra cibernética’ são: (1) o uso excessivo de métodos análogos; (2) o exagero na ameaça; (3) superestimar a própria 
força; (4) a relevância histórica e a precisão; (5) evitar a crítica relativa a tentativas anômalas; (6) conjecturas 
completamente infundadas; e (7) definições não padronizadas.” (revista U.S. Events, edição de Setembro de 1997). O 
major da Força Aérea Yulin Whitehead escreveu na edição de outono de 1997 da revista Air Power Journal que a 
cibernética não à a toda poderosa, e que as “armas cibernéticas” não são “armas mágicas”. Os questionamentos quanto 
à guerra cibernética não se restringem a opiniões de caráter pessoal, na medida em que um documento oficial da Força 
Aérea dos EUA intitulado “The Foundations of Information Warfare” apresenta uma estrita diferença entre a “guerra na 
era da cibernética” e a “guerra cibernética.” Este documento atesta que a “guerra na era da cibernética” e a guerra em 
que se empregam armas computadorizadas, tais como o emprego de um míssil de cruzeiro para atacar um alvo, 
enquanto que a “guerra cibernética” trata a informação como uma ambiência independente e uma arma poderosa. De 
forma semelhante, conhecidos estudiosos também emitiram suas opiniões. O professor Eliot Cohen da Universidade 
John Hopkins nos relembra que “assim como a arma nuclear não resultou na eliminação das forças convencionais, a 
revolução cibernética, não eliminará as táticas de guerrilha, o terrorismo, ou as armas de destruição em massa”. 
Sistemas macromoleculares projetados e produzidos usando a biotecnologia constituem a fonte de materiais para 
componentes eletrônicos da mais alta-tecnologia. Por exemplo, computadores utilizando moléculas de proteína têm 
capacidade de processamento e memória centenas de milhões de vezes maiores que os computadores de tecnologia 
atual. (New Military Perspectives for the Next Century, Military Science Publishing House, Edição de 1997, pp142-145). 
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quanto à questão atual da tecnologia cibernética crescer de maneira forte e 
descontrolada, devido a sua característica de ser uma síntese de outras 
tecnologias. Desde o seu aparecimento, e cada passo do seu desenvolvimento, 
sempre foi um processo de mesclagem com outras tecnologias, tendo se tornado 
parte integrante das mesmas e vice e versa. E esta síntese tornou-se a 
característica mais fundamental da era da integração tecnológica e da globalização, 
e naturalmente, assim como um selo identificador de uma peça de aço, esta 
característica de integração tecnológica deixará suas impressões em cada sistema 
de armas moderno. 
Ao discorrermos sobre as dificuldades atuais, para se rotular a guerra a partir de 
armas específicas, não estamos negando a possibilidade de que em guerras futuras, 
determinadas armas possam exercer um papel preponderante, e até mesmo 
decisivo, ocupando, assim, uma posição de prestígio incontestável. O que 
afirmamos, é que esta posição de liderança não será mais ocupada de forma isolada 
e permanente, ou, em outras palavras, não há tecnologia que possa, de forma 
independente, rotular uma guerra moderna. 
DOIS PENSAMENTOS DOUTRINÁRIOS — “GUERREAR COM AS 
ARMAS EXISTENTES OU ARMAS ESPECÍFICAS PARA 
GUERREAR” 
Esses dois pensamentos marcam, de forma clara, a linha divisória entre a guerra 
tradicional e a guerra do futuro, e dão o contorno do relacionamento entre as armas 
e a tática, nestas duas modalidades temporais de guerra. O primeiro pensamento 
reflete a adaptação passiva ou involuntária do homem ao armamento e à tática, no 
âmbito de uma guerra, enquanto que a segunda, sugere uma opção livre, ativa e 
consciente. 
GGUUEERRRREEAARR CCOOMM AASS AARRMMAASS EEXXIISSTTEENNTTEESS 
Historicamente, uma regra geral não escrita tem sido a maior adesão ao 
pensamento  “gguueerrrreeaarr ccoomm aass aarrmmaass eexxiisstteenntteess”. Na maioria dos casos, verificou-
se que somente após o desenvolvimento das armas é que se criaram as táticas para 
o seu emprego, e assim, o desenvolvimento das armas sempre teve um efeito 
condicionador na evolução das táticas. Coma as armas aparecendo em primeiro 
lugar, sendo então acompanhadas pela evolução tática, vemos que a evolução das 
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armas teve um efeito decisivo sobre a evolução da tática. 
Na evolução das armas é evidente que a tecnologia e a idade são fatores 
significativos, mas não há como negar a relaçãolinear pela qual, a motivação dos 
especialistas em armamentos, no desenvolvimento de novas gerações de armas seja, 
apenas, a busca de um desempenho melhor e mais avançado, sem considerar 
qualquer outro aspecto. Possivelmente, seja esse o motivo para que a revolução nas 
armas, invariavelmente, preceda as revoluções nos assuntos militares. 
AA SSIINNEERRGGIIAA EENNTTRREE DDIIFFEERREENNTTEESS GGEERRAAÇÇÕÕEESS DDEE AARRMMAASS 
Embora o pensamento de “gguueerrrreeaarr ccoomm aass aarrmmaass eexxiisstteenntteess” tenha uma natureza 
essencialmente negativa, por refletir em espécie de impotência, não podemos nos 
esquecer do significado positivo deste pensamento nos dias de hoje. Este significado 
positivo é a busca da melhor tática para o armamento que se tem, ou em outras 
palavras, buscar o melhor modo de combate representado pelo melhor casamento 
com as armas existentes, e desta forma, fazer com que as armas que se tem tenham 
o seu desempenho máximo. 
Atualmente, aqueles que estão envolvidos em guerras, já evoluíram, consciente ou 
inconscientemente, de uma visão negativa do pensamento de “gguueerrrreeaarr ccoomm aass 
aarrmmaass eexxiisstteenntteess”, para a sua atual visão positiva. No entanto, ainda existem 
aqueles que acreditam que esta seja uma alternativa exclusiva de países 
considerados atrasados devido à sua impotência, sem levar em conta de que os 
EUA, a maior potência no mundo, também enfrenta este tipo de impotência. Mesmo 
sendo o país mais rico do mundo, os EUA não conseguem arcar com o emprego 
exclusivo, do seu arsenal de ponta, utilizando e adaptando, também, o seu 
armamento já obsoleto, de acordo com as necessidades das guerras atuais7. O que 
diferencia, no caso do EUA, é a sua maior capacidade para a seleção do casamento 
ideal entre o armamento moderno e o antigo. 
 
7 Mesmo na Guerra do Golfo, que foi considerada um campo de testes para os 
novos armamentos, verificou-se que um grande número de armas e munições 
consideradas antigas e convencionais, teve um emprego importante. (Para maiores 
detalhes ver “The Gulf War  U.S. Department of Defense Final Report to Congress 
 Appendix”). 
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A prática de mesclar o armamento novo com o antigo, se resultar em um perfeito 
casamento com a tática, além de eliminar as deficiências originadas por uma 
excessiva uniformidade do armamento, pode atuar como um fator multiplicador da 
sua eficácia. A título de exemplo, o bombardeiro B-52, que de acordo com muitas 
previsões já deveria ter sido desativado, teve o seu emprego operativo revigorado, 
após ser adaptado para o lançamento de mísseis de cruzeiro e de armas de 
precisão. O avião ataque A-10, após a incorporação de mísseis com sistemas de 
orientação infravermelha, passou a dispor da capacidade para realizar operações 
noturnas, (capacidade inexistente em sua versão original). O seu emprego com o 
helicóptero “Apache” além de formou um eficiente binômio de ataque, passando a 
ser uma importante plataforma de combate, apesar de projetada nos anos 70. 
Desta forma, o pensamento de “gguueerrrreeaarr ccoomm aass aarrmmaass eexxiisstteenntteess” não constitui, de 
forma alguma, uma atitude de passividade ou de inação. Na atualidade, mais do 
que em qualquer era no passado, o crescente mercado de armamentos, e os seus 
múltiplos canais de suprimento, têm proporcionado um variado leque de opções, 
para a seleção de armamentos, e a coexistência de várias gerações de diversos 
sistemas de armas, tem proporcionado uma base mais ampla e funcional para a 
realização de hibridismos entre gerações de armamentos. Assim sendo, a única 
necessidade real é a do rompimento com a mentalidade de que as gerações de 
armas, seus empregos e combinações são parâmetros fixos no tempo, adquirindo-
se, assim, a capacidade de transformar sistemas tidos como ultrapassados em algo 
significativo. Se confiarmos apenas em armamentos avançados, para engajar numa 
guerra moderna, assumindo uma convicção cega com relação a sua eficácia, 
podemos nos deparar com a transformação daquilo que era miraculoso em algo 
inútil. 
Estamos vivendo numa era em que um salto revolucionário está ocorrendo no 
âmbito dos armamentos, passando dos sistemas baseados no poder da pólvora para 
aqueles baseados no poder da informação, e este salto pode demandar um longo 
período de maturação, situação em que ocorrerão alternâncias entre sistemas de 
armas. Na atualidade, não temos como prever qual será a duração deste período de 
transição, o que temos certeza é que, enquanto durarem essas alternâncias, o 
pensamento de se “gguueerrrreeaarr eemm ffuunnççããoo ddaass aarrmmaass” será a abordagem básica para 
qualquer país, incluindo os EUA e seu arsenal de ponta. 
AARRMMAASS EESSPPEECCÍÍFFIICCAASS PPAARRAA GGUUEERRRREEAARR 
RMM
Realce
RMM
Realce
RMM
Realce
RMM
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 26
No relacionamento entre as armas e a guerra, deve-se sempre enfatizar — que um 
fato, por mais básico que seja na atualidade, não é necessariamente uma verdade 
no futuro. Iniciativas intempestivas, tomadas sob condições adversas, podem 
constituir linhas de ação aceitáveis para um determinado período, mas de forma 
alguma podem ser tomadas como regra. 
O progresso científico há muito, passou de um processo passivo de descoberta para 
o de uma ação ativa de invenção, e quando os norte-americanos propuseram a 
concepção doutrinária de “aarrmmaass eessppeeccííffiiccaass ppaarraa gguueerrrreeaarr” deflagraram a maior 
mudança singular no relacionamento entre armas e táticas, desde o advento da 
guerra. 
Nesta nova linha de pensamento, primeiro determina-se o modo de combater, e em 
decorrência, desenvolve-se o armamento, e o primeiro passo dado pelos norte-
americanos foi o desenvolvimento do conceito de “Air-Land Battle” em 1982. 
Daquele conceito, as atuais concepções de “Teatro Informatizado” e “Unidades 
Informatizadas”, (que têm gerado muita controvérsia), constituem seu estágio mais 
avançado. 
 
Esta nova abordagem é uma indicação de que a condição dos armamentos, como 
precursores das revoluções em assuntos militares, foi abalada. Agora, a definição 
tática vem em primeiro lugar, e dela decorrem as armas, e na seqüência, uma 
promove a outra, num processo de desenvolvimento baseado numa realimentação, 
que se tornou a nova forma de relacionamento entre armas e tática. 
Sistemas de armas, isoladamente, já provocaram mudanças que marcaram época, 
mas na atualidade, no desenvolvimento de um sistema de armas considera-se, além 
da melhoria no desempenho, a sua capacidade de integração e compatibilidade com 
outros sistemas de armas já existentes, evitando casos como o da aeronave F-111, 
que ao ser desenvolvida representava um modelo único de aeronave, cujo avanço 
tecnológico a tornava incompatível com qualquer outro sistema de armas existente, 
restrição essa que acabou por antecipar a sua retirada de serviço. Esta lição foi 
Partindo do conceito de “Air-Land Battle” o processo de desenvolvimento de armamentos empregado pelos militares 
norte-americanos pode ser dividido, basicamente, em 5 estágios: especificação de requisitos; esboço de projeto; 
avaliação da concepção; desenvolvimento técnico e produção; e dotação das unidades. O desenvolvimento relativo às 
unidades informatizadas segue o mesmo padrão. (U.S. Army Times, Out 1995). Em Março de 1997, o Exército 
Americano realizou um exercício de combate ao nível de brigada, testando um total de 58 tipos de equipamentos 
digitais. (U.S. Army Times, 31 March, 7 April, 28 April 1997). Segundo John E. Wilson, Comandante do U.S. Army’s 
Material Command, sua missão é a de colaborar com o Training and Doctrine Command, na idealização e 
desenvolvimento de novos equipamentos, com tecnologias avançadas e que atendam as suas necessidades. (U.S. 
Army magazine,October 1997). 
 27
aprendida, e a idéia de se basear no desenvolvimento de sistemas de armas 
tecnologicamente estanques e que poderiam isoladamente derrotar um inimigo já 
está ultrapassada. 
O pensamento de se “aarrmmaass eessppeeccííffiiccaass ppaarraa gguueerrrreeaarr” é uma abordagem que 
possui as características da era atual, da prática e da pesquisa laboratorial, não 
significando, apenas, uma opção que privilegie a inventiva ou a inovação, mas 
também, a ação de se copiar e alterar eventos, com base em princípios 
fundamentais. 
Adicionalmente, além de ser um avanço na história da preparação para a guerra, 
este pensamento incorpora, também, um potencial de crise na guerra moderna: 
configurar armamentos sob medida, para executar táticas que ainda estão sendo 
desenvolvidas, é como se preparar um banquete sem saber quem são os 
convidados, uma situação em que um pequeno erro pode gerar um grande desvio 
do objetivo. 
Neste sentido, pode-se citar o desastroso desempenho de forças de elite norte-
americanas na Somália, quando se defrontaram com as milícias de rua de Hussein 
Mohammed Aidid. Do que ocorreu naquele confronto podemos concluir que a mais 
moderna força militar do mundo não teve a habilidade para controlar o clamor 
público, e, muito menos, para lidar com um inimigo que empreendia ações não 
convencionais. 
Decorre deste fato a possibilidade de, num teatro de operações do futuro, forças 
informatizadas encontre-se na situação de um “chef de cousine”, excelente no 
preparo de lagostas, mas diante da guerrilha, — um freguês que come “arroz com 
feijão”8 — não tenha alternativa, que não seja a de suspirar em desespero. 
O hiato entre gerações de armamentos9 e de forças militares constitui um tema que 
talvez exija uma atenção especial. Quanto menor for o hiato no desenvolvimento 
 
8 [N.T.] A tradução não foi feita de forma literal, visando o emprego de uma imagem 
brasileira que resguardasse a idéia original que o autor pretendeu dar na versão em 
inglês. 
9 Slipchenko, Chefe do Departamento de Pesquisa Científica da Academia de 
Estado-Maior da Rússia, acredita que tanto a guerra, quanto os armamentos já 
passaram por cinco eras, e que agora estamos indo para a sexta era. (Zhu Xiaoli, 
RMM
Realce
 28
tecnológico, entre forças oponentes em um teatro, maiores serão as probabilidades 
de sucesso para a força mais sofisticada; na medida em que o hiato se expande, 
mais difícil fica a interação entre as forças oponentes, chegando-se a ponto de 
nenhuma ser capaz de eliminar a outra. Examinando exemplos específicos de 
batalhas passadas, verifica-se a dificuldade que tiveram as tropas de alta-tecnologia 
para lidar com a guerra não convencional ou de tecnologia rudimentar, e neste 
sentido, talvez, até exista um paradoxo, mas pelo menos é um fenômeno 
interessante, e que vale a pena ser estudado. 
ARMAS DE EMPREGO NEOCONCEPCIONAL E ARMAS 
NEOCONCEPCIONAIS 
Se comparadas às “aarrmmaass ddee eemmpprreeggoo nneeooccoonncceeppcciioonnaall”, todas as armas que 
conhecemos podem ser consideradas antiquadas, pelo fato de suas características 
básicas de emprego ainda serem: mobilidade e poder letal. Até mesmo as atuais 
bombas inteligentes (dotadas de sistemas de planeio e de guiagem de precisão) e 
outras armas semelhantes ditas de “alta-tecnologia”, não acrescentaram inovações 
concepcionais, ou seja, apenas os seus elementos de arquitetura estrutural e de 
inteligência foram inovados ou aprimorados. 
Sob a perspectiva de emprego, nenhuma mudança na configuração externa destas 
armas alterou o fato de serem armas tradicionais, ou seja, de serem usadas e 
controladas por soldados profissionais em teatros específicos. Nenhuma dessas 
armas, ou suas respectivas plataformas, desenvolvidas segundo a linha de 
pensamento tradicional, está em condições de evoluir visando à sua adaptação às 
guerras futuras. 
O desejo de se usar o poder mágico da alta-tecnologia como num processo de 
alquimia, para que pudéssemos refazer completamente os armamentos, caiu na 
chamada armadilha da alta-tecnologia, resultando num infindável desperdício de 
recursos limitados e numa corrida armamentista. E este é o paradoxo que, 
 
Zhao Xiaozhuo, “The New U.S. and Russian Military Revolution”, Military Science 
Publishing House, Edição de 1996, p6). 
A edição nº. 11 de 1998 do “Journal of the National Defense University” traz um artigo sobre a entrevista concedida por 
Philip Odeen, Chefe do ‘U.S. National Defense Panel’ a Chen Bojiang, na qual Odeen cita a expressão “guerra 
assimétrica” diversas vezes, acreditando-a como sendo a nova ameaça aos Estados Unidos. Antulio Echeverria publicou 
um artigo na revista “Parameters” no qual ele propõe que “na era pós-industrial, aquilo com o que será mais difícil de 
lidar será guerra do povo”. 
RMM
Realce
 29
inevitavelmente, deve ser encarado no processo de desenvolvimento do armamento 
tradicional. 
AA AARRMMAADDIILLHHAA DDAA AALLTTAA--TTEECCNNOOLLOOGGIIAA 
Para assegurar a liderança no campo dos armamentos, é necessário que seja 
previsto o crescimento dos custos de desenvolvimento; o resultado da contínua 
elevação no investimento é que nenhum país tem recursos suficientes para manter-
se na liderança. O resultado final deste processo é que as armas idealizadas para 
defender o país poderão ser as causas de sua falência. Neste sentido, exemplos 
recentes são os mais convincentes. 
AA UURRSSSS NNAA AARRMMAADDIILLHHAA DDAA AALLTTAA--TTEECCNNOOLLOOGGIIAA 
Na antiga URSS, na ambiência da corrida armamentista da era nuclear, o Marechal 
Nikolai Orgakov, então Chefe do Estado-Maior do Exército Soviético, adotando uma 
visão prospectiva, relativa ao desenvolvimento de armamentos na era nuclear, 
programou o que seria uma revolução em assuntos militares. A adoção desse 
projeto demandou o redirecionamento de recursos, já escassos, para este propósito, 
e ao contrário dos benefícios vislumbrados, contribuiu significativamente para a 
derrocada e o colapso do seu país. 
 
Desta forma, corroborando com o paradoxo do desenvolvimento bélico, a 
implementação da concepção de Orgakov, inicialmente vista por seus pares como 
um ajuste no ritmo de crescimento militar, provocou um incremento da corrida 
armamentista, fato este que, fugindo a qualquer previsão, iria redundar na ruptura 
da União Soviética e sua completa eliminação na disputa entre as superpotências. 
Um poderoso império entrava em colapso, sem que um único disparo tivesse sido 
feito, confirmando os versos do famoso poema de Kipling: “Quando um império 
Orgakov prevendo que o desenvolvimento de tecnologia não-nuclear iria causar uma nova revolução no campo militar 
iniciou o desenvolvimento da incorporação da tecnologia cibernética aos sistemas de armas enfocando a aquisição de 
alvos de guiagem de precisão. A presunção era a de que um Exército equipado com esta tecnologia — a qual ainda 
estava em seus estágios iniciais de desenvolvimento — estaria em condições de produzir armas com capacidade 
destrutiva consideravelmente maior do que as armas nucleares. No entanto, a antevisão de Orgakov, com relação a uma 
revolução nos assuntos militares foi por terra devido a problemas estruturais. “Se no processo de manutenção de uma 
revolução em assuntos militares a um custo elevado, um país exceder os limites do que pode ser gerado pelas 
condições de seus sistemas e material, e mesmo assim manter-se engajado numa disputa pelo poder militar com os 
seus oponentes, o único resultado possível é que este país irá cair numa posição secundária com relação à 
disponibilidade de forças militares que poderá empregar. Esta foi a sina da Rússia, tanto na era czarista, quanto na era 
soviética. A União Soviética assumiu uma carga militardifícil de suportar e os militares não estavam dispostos a aceitar 
a necessidade de uma nova redução estratégica.” (Steven Blank, “Preparing for the Next War: Some Views on the 
Revolution in Military Affairs”, Strategic Review, primavera 1996). 
 30
sucumbe, ele não o faz com um estrondo, mas em silêncio”. 
OOSS EEUUAA NNAA AARRMMAADDIILLHHAA DDAA AALLTTAA--TTEECCNNOOLLOOGGIIAA 
No entanto, este fato parece não ser uma verdade somente para a antiga União 
Soviética. Atualmente, os EUA parecem estar seguindo os mesmos passos de seu 
antigo adversário, apresentando novas evidencias da validade do paradoxo do 
desenvolvimento bélico. 
Na medida em que a integração tecnológica alcança uma dimensão cada vez maior, 
os EUA investem, cada vez mais, no decorrente desenvolvimento de armas, há um 
custo, em termos absolutos, cada vez mais elevado. O desenvolvimento do F-14 e do 
F-15, que nos anos 60 e 70 custou um bilhão de dólares, enquanto que o 
desenvolvimento do B-2 nos anos 80 custou cerca de dez bilhões de dólares, e o 
desenvolvimento do F-22 nos anos 90 excedeu a cifra dos 20 bilhões de dólares. 
Se estabelecermos uma relação matemática entre o peso do B-210 (≈ 71.688 Kg) e o 
seu custo (considerado a aeronave em operação mais cara jamais produzida), 
conclui-se que ele corresponde a três vezes o seu peso em ouro11 (ouro = 
US$30,00/grama) , e o arsenal norte-americano está repleto de outros sistemas de 
armas tão caros quanto o B-2, como é o caso do F-117-A, do F-22 e do helicóptero 
RAH-64 “Comanche”. O preço de cada um destes sistemas de armas excede US$ 
100 milhões, e este investimento, tem imposto uma carga cada vez mais pesada ao 
orçamento norte-americano, levando os EUA, passo a passo, na direção da 
 
10 Em 1981, a Força Aérea americana estimou que poderia produzir 132 aeronaves 
B-2 com um investimento de 22 bilhões de dólares. No entanto, oito anos após, com 
este montante de capital só havia conseguido produzir uma unidade de B-2. Tendo-
se por base o seu valor por unidade de peso, o B-2 vale três vezes o seu peso em 
ouro. (Ver Modern Military Technology, Nº 8, 1998, p33; e “Analysis of U.S. Stealth 
Technology Policy” por Zhu Zhihao) 
11 O Departamento de Defesa dos EUA analisou o ataque aéreo realizado em 13 de 
janeiro de 1993 sobre o Iraque, e considera que existam inúmeras limitações ás 
armas de alta-tecnologia, e que a eficácia das bombas de efeito combinado, em 
alguns casos, foi superior à das bombas de precisão. (Aviation Week and Space 
Technology, 25 de Janeiro de 1993). 
 31
armadilha da alta-tecnologia12, onde investimentos geram desenvolvimentos 
tecnológicos que descortinam horizontes para novos investimentos. Se este fato é 
real para um país rico e determinado como os EUA, até onde poderão ir os demais 
países, com limitados recursos financeiros? 
AARRMMAASS DDEE EEMMPPRREEGGOO NNEEOOCCOONNCCEEPPCCIIOONNAALL 
Obviamente, será difícil, para qualquer outro país manter-se nesse dispendioso 
processo, e a via para se libertar desse caminho tem sido o desenvolvimento de uma 
nova abordagem, dando origem ao conceito de “aarrmmaass ddee eemmpprreeggoo nneeooccoonncceeppcciioonnaall”. 
No entanto, até mesmo nesta vertente, considerada como a alternativa dos países 
com recursos limitados, aparentemente, são os EUA que está na liderança. 
Na Guerra do Vietnã, por exemplo, a pulverização da região da “Trilha Ho Chi Min” 
com iodeto de prata, resultando em chuvas torrenciais, e o emprego de agentes 
desfolhantes sobre as florestas subtropicais, colocaram os “diabólicos norte-
americanos”13 na liderança isolada, tanto em relação ao método, quanto à forma 
impiedosa de emprego dessas armas neoconcepcionais. E atualmente, 30 anos 
após, com a dupla vantagem de dispor de recursos e tecnologia, ninguém consegue 
superá-los nesta área. 
AARRMMAASS NNEEOOCCOONNCCEEPPCCIIOONNAAIISS 
Apesar de tudo, os norte-americanos não detêm a liderança isolada em tudo. As 
“aarrmmaass nneeooccoonncceeppcciioonnaaiiss” que sucedem e decorrem do desenvolvimento de “aarrmmaass 
ddee eemmpprreeggoo nneeooccoonncceeppcciioonnaall”, conferem uma maior abrangência ao conceito de 
armas. Contudo é justamente neste campo onde os norte-americanos não têm tido 
muito sucesso. O desenvolvimento de “aarrmmaass nneeooccoonncceeppcciioonnaaiiss” não depende, 
apenas, do aporte de recursos e de novas tecnologias, e sim, de um raciocínio 
 
12 [N.T.] Devido aos gastos militares com a Guerra do Iraque (2003) os EUA 
enfrentam, na atualidade, o maior déficit orçamentário de sua história. 
13 Tanto as aspas, quanto a expressão, foram originalmente colocadas pelo autor no 
texto original. 
As armas de emprego neoconcepcional incluem, basicamente, as armas de energia-cinética, armas de ação energética, 
armas subsônicas, armas geofísicas, armas meteorológicas, armas de energia solar, armas genéticas, armas de energia 
cinética, armas de energia dirigida, armas subsônicas, armas geofísicas, armas meteorológicas, armas de energia solar, 
armas genéticas, etc. (“New Military Perspectives for the next Century”, Military Science Publishing House, Ed de 1999, 
p3). 
 32
abstrato, lúcido e perspicaz, não sendo este o ponto forte dos norte-americanos, 
cujo raciocínio é condicionado e circunscrito à metodologia tecnológica. 
É inegável o fato de alguns fenômenos, que atualmente podem ser induzidos pelo 
homem, podem ser classificado como “armas de emprego neoconcepcional”, e que 
estas apresentam enormes diferenças em relação aos artefatos que formalmente 
designamos como “armas”; mesmo assim, continuam sendo “armas”, cujos 
propósitos imediatos são o de matar e destruir, estando ainda relacionadas aos 
assuntos militares, como estão os soldados e diferentes tipos de munição. Desta 
forma, não constituem nada além do que armas dotadas de características e 
mecanismos não-tradicionais e cujos poderes de destruição foram ampliados 
muitas vezes. 
No entanto o conceito de “aarrmmaa nneeooccoonncceeppcciioonnaall” é diferente, sendo completamente 
distinto do que denominamos “aammaa ddee eemmpprreeggoo nneeooccoonncceeppcciioonnaall.” 
Na medida em que podemos dizer que as “aarrmmaass ddee eemmpprreeggoo nneeooccoonncceeppcciioonnaall” 
transcendem o conceito tradicional de armas, por poderem ser controladas e 
manipuladas em um nível tecnológico, sendo capazes de infligir danos tanto 
materiais, quanto psicológicos, tais sistemas ainda são armas num sentido estrito 
da palavra. Já as “aarrmmaass nneeooccoonncceeppcciioonnaaiiss” têm uma perspectiva mais genérica, 
englobando todos os meios, inclusive aqueles que transcendem a ambiência militar, 
mas que podem ser empregados em operações de guerra. 
Na perspectiva de “aarrmmaass nneeooccoonncceeppcciioonnaaiiss,” qualquer coisa que possa beneficiar o 
ser humano também pode prejudicá-lo, ou seja, qualquer coisa neste mundo pode 
ser transformada numa arma, e esta possibilidade requer que o nosso 
entendimento e percepção, do que vem a ser uma arma, ultrapasse todas as 
fronteiras. Neste sentido, o desenvolvimento tecnológico, impulsionando o processo 
de diversificação de armas, proporcionará uma abertura ao nosso raciocínio, 
permitindo o entendimento e a percepção dessa nova realidade, rompendo de uma 
vez por todas, o campo de domínio do conceito tradicional das armas. 
Desta forma, a indução de um colapso de um mercado acionário, a contaminação 
de uma rede de computadores por um vírus, um rumor ou escândalo que resulte na 
flutuação do cambio ou, a exposição comprometedora de lideres de um país, 
constituem ações que podem ser enquadradas como “aarrmmaass nneeooccoonncceeppcciioonnaaiiss”. 
As “aarrmmaass nneeooccoonncceeppcciioonnaaiiss” têm proporcionado uma orientação para o 
desenvolvimento das “aarrmmaass ddee eemmpprreeggoo

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