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Parte 1 O ENSiNO DA HiSTóRiA E DA GEOGRAFiA: CONCEPçõES, CONCEiTOS, CuRRíCuLOS E FONTES 1 As ciências humanas e o conhecimento de História e de Geografia na educação básica Querido(a) aluno(a), daremos início ao nosso texto de funda- mentos e métodos de ensino de História e Geografia situando estas disciplinas no quadro das ciências humanas, onde estas se enqua- dram, tendo em vista as séries iniciais do ensino fundamental. Tam- bém veremos como as ciências humanas se configuram neste nível de ensino e de que forma podem contribuir para sua formação. Apresentaremos as concepções e os principais conceitos das disciplinas História e Geografia com o objetivo de que você tenha uma compreensão ampla das matérias. Este texto foi construído sob a consulta de outros autores. É uma compilação de outras pesquisas já feitas no cenário da disciplina, portanto é importante que você busque ampliar a compreensão deste tema lendo as indicações para leitura que são realizadas ao longo deste texto. Desejo a você uma boa leitura, recomendando que tenha à mão um dicionário para au- xiliar a sua compreensão de palavras que, por ventura, ainda não tenha domínio. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia14 1 .1 As Ciências Humanas no Ensino Fundamental Caro(a) aluno(a), vamos começar esse texto esclarecendo que as ciências naturais e as ciências humanas tratam de objetos bem diferentes, que não são sequer parecidos entre si. Os objetos tratados pelas ciências naturais1 diferem dos objetos tratados nas ciências huma- nas, pelo seu grau de complexidade. Nas ciências naturais, são permitidos os experimentos na busca de comprovações concretas, enquanto nas ciências humanas isso não acontece porque os métodos de estudos usados entre as duas corrente científicas diferem. Tenha em mente que as ciências naturais estuda os objatos da natureza – ciências físicas, químicas e biológicas fazem parte desses objetos. Os fatos tratados pelas ciências humanas se mostram bem mais complexos do que os fatos tra- tados pelas ciências naturais. Tenham em mente que os objetos tratados nas ciências humanas es- tão ligados as ações humanas, a exemplo dos fatos ligados ao comportamento do homem. Para Emile Durkheim2, considerado um dos pais do positivismo nas ciências humanas, há uma complexidade em compreender estas ciências de forma exata. Este autor defendia que devíamos “considerar os fatos sociais como coisas” e desta forma a mente humana apenas poderia compre- ender sob a condição de sair de si mesma pela observação e pela experimentação. Levemos em conta que a observação dos fatos humanos e so- ciais mostra e demonstram problemas que só são encontrados nesta modalidade das ciências, nun- ca nas ciências naturais. Vejamos como exemplo: o que podemos observar para compreender o fe- nômeno da evasão escolar no ensino básico, ou as atitudes de discriminação entre as pessoas, 1 Acreditamos que você tenha clareza do que tratam as ciências naturais e humanas já que é um tema recorrente no ensino médio e estudado nas matérias de metodo- logia científica entre outras. Entretanto, para relembrar recorra ao texto de metodologia científica ou veja os Parâmetros Cur- riculares Nacionais. PCNs no endereço: http://portal.mec. gov.br/seb/arquivos/ pdf/ciencias.pdf. Para as ciências humanas consulte: http://portal.mec. gov.br/seb/arquivos/ pdf/cienciah.pdf 2 Durkheim - Coleção Grandes Cientistas Sociais – Ática Disponível em http://www. culturabrasil.pro.br/ durkheim.htm 15Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica ou as desigualdades sociais no mundo, ou ainda as diversas faces do comportamento humano. Se pensarmos em submeter tais fatos à experimenta- ção, a complexidade aumenta nos afastando com- pletamente de uma resposta segura. Nas ciências naturais podemos dispor da experimentação com precisão, por exemplo, em química, a combinação de dois corpos, afastados os demais fatores, pos- sibilita a observação do efeito de um corpo sobre o outro determinando uma explicação causal - a causa leva ao efeito, o efeito explica a causa - prin- cípio da lei de causa e efeito. Podemos determinar experimentações, que sobre as mesmas condições darão sempre os mesmo resultados. Nas ciências humanas não podemos fazer o mesmo: imagine se pudéssemos colocar os alunos de uma determina- da turma numa sala de aula de vidro para observar seu comportamento! Os alunos ali presentes, ao saberem que estavam sendo observados teriam um comportamento completamente diferente do natu- ral exercido no cotidiano em sala de aula comum. Para compreendermos bem o aspecto do tra- balho pedagógico dentro da proposta dos funda- mentos de ensino de História e Geografia devemos saber que várias disciplinas contribuem na produ- ção do saber das ciências humanas para o ensino fundamental. Podemos destacar entre essas, a So- ciologia, a Antropologia, a História, a Geografia, a Economia e a Política, entre outras. De acordo com Penteado (2011 p.22), A Ge- ografia privilegia as relações do homem com o es- paço, buscando compreender as características do espaço natural no qual os homens se situam. A isso denominamos de Geografia Física. As formas de ocupação e uso desse espaço, através das rela- ções que os homens mantêm entre si, chamamos de Geografia Humana. A Geografia também recorre Fundamentos e Metodologias de História e Geografia16 às outras ciências humanas e naturais para se con- solidar. Por exemplo, a Física, a Matemática, entre outras. Ainda Conforme Penteado (2011, p.22) “A So- ciologia focaliza as relações que os homens tecem entre si, no seu espaço e tempo”, procurando com- preender a sociabilidade humana nas diversas re- lações, a exemplo do trabalho, da família, do lazer, bem como nas relações religiosas, e nas relações de poder, assim promove a inter-relação nessas re- lações, sua organização e seu funcionamento na sociedade. Seguindo o mesmo raciocínio, esta autora nos conta que a Antropologia foca seus estudos nos homens e nos resultados de suas ações, dedi- cando-se a aquisição de conhecimentos sobre o ser humano enquanto espécie animal, o que denomi- namos como Antropologia Física. Essa ciência tam- bém se ocupa das criações humanas, e neste caso denominamos como Antropologia Cultural. A Socio- logia utiliza também conhecimentos produzidos em outros campos das ciências humanas a exemplo da história e economia bem como das ciências da natureza além das ciências físicas, químicas e bio- lógicas. Penteado (2011, p.22), ainda nos brinda com a definição da disciplina, História a qual “procura estudar o homem através dos tempos, nos diferen- tes lugares em que tem vivido.” Neste contexto, a história pesquisa “permanências e mudanças ou transformações do seu modo de vida, no empenho de compreendê-las.” Concordamos que efetivamen- te esta disciplina necessita contar com o apoio de outras ciências humanas a exemplo da Sociologia, da Antropologia, da Economia e da Política. Com isso, já podemos observar que as ci- ências humanas formam uma vasta rede de co- 17Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica nhecimentos, valendo-se dos seus vários campos, constituindo assim, recursos didáticos, viabilizado e abordando o tratamento científico da realidade vivenciada pelos homens em sociedade. Podemos dizer praticamente o mesmo das outras ciências? Certamente sim! Pelo menos das ciências humanas e das ciências naturais, dado o fato que as duas se imbricam3 para se favorecer, mutuamente. Constatamos então que essas ques- tões favorecem sobremaneira as relações de produ- ção do conhecimento científico. Este se distingue dos demais conhecimentos e da compreensão da realidade, pois o conhecimento científico é produ- zido através do trabalho sistematizado, levando em conta normas indispensáveis à construção do sa- ber científicoque deve partir sempre da observação metódica do objeto que se pretende conhecer, para em seguida proceder-se a análise das informações coletadas e somente depois destes procedimentos podemos dar como terminado o trabalho. Após a conclusão deste processo, podemos identificar possíveis conceitos e generalizações que poderão reforçar conhecimentos produzidos anteriormente, como também, podem ampliar ou até negar sabe- res já existente. As Ciências Humanas nos currículos da Educa- ção Básica Tradicionalmente as ciências humanas sur- gem na educação fundamental através da discipli- na estudos sociais que veio a ser substituída pela matéria História e Geografia, não obstante permear várias outras disciplinas. Certamente isso caracte- riza a redução das ciências humanas a uma disci- plina e isso deve ser motivo de preocupação, pois embora essa tenha grande importância para a for- 3 Imbricar, interpor, sobrepor entrelaçar. Dispor coisas de modo que umas se sobreponham em parte às outras, como as telhas de um telhado. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia18 mação dos alunos de educação básica, as ciências humanas não está limitada apenas a esta discipli- na. Somos conhecedores que a escola, sobretudo, o ensino fundamental – direito de todos e dever do Estado - é o principal veículo de acesso da popu- lação ao conhecimento sistematizado e produzido pelas ciências. O conhecimento científico é por si desmisti- ficador em sua essência. É um saber que promove em quem o acessa várias inquietações e curiosida- de. O cidadão que tem acesso a esse conhecimento tende a se tornar indagador, passando a ser um cidadão mais crítico e atuante. É verdade que o acesso da população ao co- nhecimento produzido pelas ciências humanas tem sido negligenciado através do tempo no que se refere à educação escolarizada. As razões para isso são diversas, vão de questões históricas e sociais marcado por um passado colonialista, a razões politiqueiras pautadas em regimes autoritários e governos populistas onde a educação não é priori- dade. Ainda assim existem leis, a exemplo da LDB 9394/96, que conseguiu assegurar alguns direitos para a educação. Vamos então, refletir sobre o papel do saber científico nos espaços escolares. Como a História e a Geografia se apropriam das ciências humanas e das ciências naturais para representar seus sa- beres durante a educação básica? Aprofunde seus conhecimentos sobre esse assunto lendo este texto e também buscando outros autores que escrevem sobre o tema. É importante saber que nem sempre a matéria História e Geografia estiveram presentes nos currí- culos escolares. De acordo com Penteado (2011, p. 25) com o advento da lei 5692/71 introduziu-se no curso de primeiro grau os Estudos Sociais. Esta lei 19Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica acrescida do parecer 853/71 determinou que: “Estu- dos sociais é uma área que tem por objetivo a inte- gração espaço-temporal do educando, servindo-se para tanto dos conhecimentos da História e da Ge- ografia como base e das outras ciências humanas – Antropologia, Sociologia, Política e Economia – como instrumentos necessários para a compreen- são da história e ajustamento do meio social a que pertence o educando” Nesta perspectiva, a autora Heloísa Penteado (2011) lança três aspectos que julgamos importan- tes destacar aqui: - as Ciências Humanas como instrumento ne- cessário para a compreensão da História; - as Ciências humanas como instrumento ne- cessário para o ajustamento ao meio social a que pertence o educando; - a ideia de “área de estudos” interdiscipli- nar, importante pela possibilidade que criava de trabalho integrado entre profissionais de diferente formação, que introduzia na probabilidade de su- perar o corporativismo que caracterizava a organi- zação do trabalho escolar e também, nossa própria formação marcada pelo corporativismo das institui- ções que nos educaram. O que consideramos nestes três destaques? No primeiro destaque é relevante considerar a importância da compreensão do educando no que tange sua própria realidade social vivenciada naquele momento histórico, na condição de sujeito participante do fato histórico e social. No segundo destaque compreendemos esse ajustamento como um processo de interação cons- tante fruto da ação reação e transformação do meio em que o educando vivencia. O terceiro destaque já anuncia seu caráter interdisciplinar no âmbito do trabalho numa expec- Fundamentos e Metodologias de História e Geografia20 tativa que anuncia as relações interpessoais coope- rativas entre os atores do processo. Podemos dizer, com isso, que as ciências hu- manas estão presentes de forma efetiva na forma- ção do aluno de ensino médio e fundamental? Entendemos que há ainda a necessidade da quebra de velhos paradigmas constituídos nos mol- des colonialistas e regimes ditatoriais ou populis- tas que impedem a aplicação prática de inovações necessárias ao avanço das ciências humanas em direção à formação dos alunos de ensino funda- mental e básico. INDICAção DE LEITURA CoMPLEMENTAR PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia do Ensino do Ensino de História e Geografia. 4. ed., São Pau- lo: Cortez, 2011. A autora faz uma analise histórica e contemporâ- nea das ciências humanas no ensino de História e Geografia no ensino fundamental e básico com destaque para área do conhecimento humano. Pro- cure discutir com seus colegas a importância das ciências humanas no contexto escolar. DIONE, Jean; LAVILLE, Christian. A Construção do Saber: manual de metodologia da pesquisa em ci- ências humanas. São Paulo Artmed, 1999. Os autores fazem uma apresentação detalhada das ciências humanas no contexto da produção cientí- fica. Prossiga atentamente com sua leitura, pois este texto irá orientá-lo pelos caminhos da disciplina. 21Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica Busque outros autores além dos recomendados aqui, quanto mais você conhecer sobre o tema me- lhor preparado estará para atuar na sua profissão de professor. PARA REfLETIR Reflita com os seus colegas qual a importância das ciências humanas no cotidiano do estudante de pe- dagogia. 1 .2 Concepções e conceitos da História e da Geografia Caro(a) aluno(a), para que possamos compre- ender bem este conteúdo precisamos entender as concepções da História e da Geografia, portanto vamos falar um pouco sobre isso. Tenha em mente que somos agentes partici- pantes da História e dos fatos históricos. Da mes- ma forma interferimos, transformando os espaços geográficos, em muitas situações modificando ge- ográfica e historicamente estes espaços. Os espa- ços geográficos estão imbricados4 na história e vice versa. Neste conteúdo faremos uma exposição em separado da História e da Geografia para uma com- preensão mais completa. A história da história: um dropes Quando falamos da história existem certas definições que são julgadas como sendo desneces- sárias para o assentamento do conceito. Convive- 4 Diz-se das partes de um agregado que se sobrepõem parcialmente umas às outras, como as telhas de um telhado, as escamas dos peixes. Algo que se interpõe. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia22 mos cotidianamente com o termo história desde a nossa infância. Se perguntarmos para alguém o que é história, possivelmente essa pessoa se con- siderará apta a responder, mas isso não acontece em outras situações. Entretanto, ao responder a pergunta, possivelmente, a pessoa se enrolará não chegando a uma definição precisa, ou apelará para um consenso generalizado, dizendo que “história é o que já aconteceu há muito tempo”. Se levarmos em conta a chamada civilização europeia ocidental, sabemos que o Brasil pode ser considerado um país muito jovem e praticamente sem história, ou pelo menos sem o registro histórico nos padrões civilizatório.Os cinco séculos de registro oficial não são suficientes para gerar uma consciência desse passado e menos ainda uma consciência do pas- sado anterior a esse registro. De acordo com IBGE tínhamos no Brasil em 2010, uma população de 190.755.7995 pessoas, desta população mais de 15 milhões são analfabetos. Como podemos ver a quantidade de analfabetos é enorme e isso pro- move um afastamento da cultura letrada e conse- qüente desprestígio das ciências humanas e como se não bastasse temos um ensino, em muitos mo- mentos, antiquado e desmotivador. O resultado disso é que enfrentamos um descaso constante com a preservação das fontes históricas, resultando na destruição dos vestígios do nosso passado – construções, paisagens, do- cumentação pictórica, escrita e falada – tudo isso resulta num desinteresse pela história do país. Sabemos que se lançarmos um olhar sobre o passado colocado como algo distante e sem ligação com o presente sentiremos realmente uma grande desmotivação em estudá-lo, pois o passado pelo passado pode não representar algo significativo, entretanto a história hoje em dia não visa explicar 5 Disponível em http://www.ibge.gov. br/home/presidencia/ noticias/noticia_vi- sualiza.php?id_ noticia=1866&id_pa- gina=1 23Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica um passado distante e morto, mas busca contribuir para a compreensão da realidade em que vivemos. Precisamos difundir a história para além dos muros das universidades se desejarmos que essa perspec- tiva mude. É preciso compreender que a história, assim como as outras formas de conhecimento da realidade, está permanentemente se constituindo, sabemos que o conhecimento que ela produz, as- sim como os demais saberes, não é definitivo, não está pronto e acabado, cabendo sempre novas pes- quisas e novas interpretações. Caro aluno, não entenda com isso que os conhecimentos produzidos são algo sem valor. O que estamos dizendo é que a partir de pesquisas novos elementos surgem que podem alterar certos conhecimentos assentados ou construindo novos saberes. Para isso, é preciso uma pesquisa criterio- sa e adequada. Mas enfim o que é história e o que essa pa- lavra representa? “História” é uma palavra de origem grega, que significa investigação, informação. Surgiu no século VI, antes de Cristo (a.C) (BORGES, 1993, p.11), entretanto, sabemos que os homens sempre sentiram a necessidade de se comunicar e comu- nicar aos outros seus feitos e sua vivência. Então é correto dizer que a história existe desde que o homem existe. Uma forma de registrar a história na antigui- dade era o uso do mito que passava de geração para geração através da comunicação oral. Efetiva- mente havia outras formas de transmitir a informa- ção dessa história: a escrita nas pedras, pinturas em cavernas e artefatos produzidos para suprir as necessidades humanas foram e são registros da história, entretanto o mito foi por muito tempo um veículo eficiente no registro da história. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia24 Os mitos contam histórias da criação do ho- mem e seus feitos, seus deuses, suas angústias e amores e também se reportam ao momento em que tudo começou, o que alguns estudiosos chamam de “O mito da Criação”. Obviamente não vamos aprofundar aqui o que diziam esses mitos, pois não é a proposta do texto e, por outro lado, não é pos- sível precisar em que tempo isso aconteceu. São histórias sagradas em um tempo sagrado, além das possibilidades de cálculo, em que a cultura oral predominava. Não quaremos registrar cronologica- mente os fatos históricos, mas vamos dar alguns exemplos para facilitar sua compreensão: entre VI e III século a.C., haviam sociedades avançadas que registraram através da escrita sua forma de organi- zação e como funcionava sua sociedade. Era uma sociedade monárquica dirigida por um rei que era considerado como um deus que tomava todas as decisões. Destacavam-se a egípcia e mesopotâmi- ca. Essas civilizações entraram para a história como as mais importantes da antiguidade oriental6. Embora a explicação mítica perdure até nos- sos dias a história, como ciência, não privilegia o mito e é registrada de forma sistemática em nossa sociedade. A história como conhecemos surge junto com a filosofia, como várias outras ciências, mas, como as demais ciências, a história também se tor- na independente. São os gregos os primeiro a des- cobrirem a importância da história como ciência. Influenciado por Hecateu de Mileto (550-486 a.C.), Heródoto (484-420 a.C.) foi o primeiro a se propor a fazer investigações em busca da verdade e por isso é considerado o pai da história. 6 Para melhor compreender esse tema leia o texto “O que é história” da autora Vavy Pacheco Borges. Da Coleção Primeiros Passos. Editora Brasiliense. 25Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica Para que serve a Geografia e o que ela repre- senta – um dropes A Geografia como conhecemos, a exemplo da História e das demais ciências, também tiveram ori- gens ligadas à filosofia. Agora, você pode refletir um pouco sobre o que a Geografia representou e representa para a formação das sociedades. Vamos pensar que desde o surgimento do homem, ele ne- cessitou se utilizar do conhecimento do tempo e especo para se locomover e se situar no espaço- tempo. Então podemos afirmar que a Geografia existe desde que os homens buscam demarcar seus territórios e promover suas conquistas. Os historiógrafos afirmarão com segurança que a Geografia é um saber tão antigo quanto à história dos homens. Podemos usar como referência a Grécia e suas batalhas que se desenrolaram nas cidades gregas em prol da democracia. Essas lutas perdura- ram em sua história, pois estava em jogo o interes- se do comércio imposto pelos mercadores. Naquele momento, a Geografia evolui em duas vertentes, a primeira está ligada exatamente as lutas democráti- cas, o que seria uma vertente política, e a segunda representa os territórios demarcações em mapas e determinações de áreas que vêm representar os in- teresses do comércio. Mas então, quando surgiu a Geografia que aprendemos na escola? A Geografia que estudamos e que usamos em nossa sociedade nasce no século XIX com os alemães. Por volta de 1750 os pensado- res alemães, Kant, Humboldt e Ratzel, vão instalar as bases da escola de geografia alemã, mas a his- tória fala de outras vertentes além da escola alemã. Fala da escola francesa, a escola angla saxônica e escola sueca de geografia. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia26 A escola alemã ou o imperialismo alemão como se costumou chamar, desenvolveu duas ver- tentes na ciência geográfica: a primeira era a “geo- grafia político-estatística” dando prosseguimento às ideias de geografia ântica e conhecida até aquele momento. A segunda referenda as questões limites natural de território. Ambas despontam no sec. XIX buscam favorecer uma questão recorrente: o desen- volvimento do capitalismo alemão: “... a saída do atraso perante os níveis mais avançados do capi- talismo na Inglaterra e França, e a solução do pro- blema doméstico devido à aceleração do desenvol- vimento capitalista, ou seja, a necessária unificação do território alemão.” (MOREIRA, 1994, p. 21) A escola francesa surge em 1870, como re- sultado da derrota da França perante a Alemanha Prussiana7. A França derrotada precisa se reerguer e a escola de geografia será de suma importância neste processo de recuperação pós-guerra. No en- tanto, a Geografia na França ainda é muito atrasada diante da Geografia alemã, pois se trata de uma matéria secundária atrelada a disciplina de História. Então entendendo que o estudo da geografia po- derá lançar a França ao nível da Alemanha, aquele país trata de dar outra conotação a sua geografia. Assim, a Geografia alemã será o espelho para a escola francesa, sobretudo o trabalhodo geógra- fo alemão Ratzel- (1844-1904). Os trabalhos deste geógrafo promoverão vários debates na academia francesa. Um dos maiores intelectuais daquela épo- ca Emile Durkheim8 (1858 – 1917)um dos criadores da Sociologia, se somará ao propósito dos geógra- fos naquele momento. Da crítica Ratzel brota um elemento chave para o fortalecimento da escola francesa, conhecida como possibilismo – (Doutrina política e social que preconiza reformas sucessivas, sem violência). Seu criador foi Paul Vidal de La Bla- 7 A origem da Prússia aconteceu no território dos prussianos bálticos (hoje sul da Lituâ- nia, distrito russo de Kaliningrado e nordeste de Polônia, região dos lagos Mazúrios). Neste sítio físico, as tribos dos germanos (Mitologia postados no Blog) estavam instalados a oeste, os polacos ao sul, os sudóvios ao leste, os curlândios ao nordeste e os lituanos ao noro- este. Fonte: http:// cc25dejulho.blogs- pot.com/2010/11/um- pouco-de-historia- prussia-e-alemanha. html 8 Durkheim, nascido em 1858 na cidade francesa Épinal, fazia parte de uma família pobre de origem judia. Durkheim é considerado como um dos fundadores da Sociologia, essa é um ramo das ciências humanas que estuda as relações sociais e seus fenômenos. Durkheim ingressou na Escola Normal Superior de Paris em 1879, depois de 8 anos ele se tornou o primeiro professor na França de Ciência Sociológica. Fonte: http://www. mundoeducacao. com.br/sociologia/ emile-durkheim.htm. 27Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica che (1845 - 1918), seu trabalho ganha o status de oficialidade na França, se tornando a cátedra da Geografia encampada pela Sorbonne9. Das escolas de geografia houve um embate epistêmico10 entre a escola alemã e a escola france- sa que resultou na Geografia contemporânea. Transposto para o plano do saber geográfico, o conflito in- terimperialista franco-alemão traduzir-se-á em divergência en- tre “escolas” de geografia: a “es- cola alemã”, matriz primeira da geografia científica, e a “escola francesa” (MOREIRA, 1994 p.15) Sobre esta questão os historiadores classifi- carão como um embate de concepções divergentes, referentes à defesa da forma como se dá a relação do homem e seu meio e inter-relação homem, so- ciedade e ambiente. A Geografia permite aos homens melhorar suas relações sociais possibilitando acordos de produção exploração, comércio internacional e lo- cal, além de possibilitar as mais variadas relações sociais que promovem um encontro harmônico en- tre sociedade e natureza. INDICAção DE LEITURA CoMPLEMENTAR BORGES, Vavy Pacheco. o que é História. ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 1993. Vavy, apresenta a história da história com grande propriedade fazendo uma retrospectiva deste tema. Você compreenderá melhor o surgimento da histó- 9 Universidade Francesa, de renome internacional famosa em todo o mundo. 10 Epistemologia Filos Teoria ou ciência da origem, natureza e limites do conhecimento. s.f. Estudo das ciências, no que cada uma, e o seu conjunto, tem por objeto apreciar seu valor para o espírito humano; teoria do conhecimento. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia28 ria sua relação o homem seus mitos e suas divin- dades. Para quem quer compreender a importância da história para os nos dias encontrará neste texto muitas informações pertinentes. MOREIRA, Rui. o que é Geografia. 14. ed. São Pau- lo: Brasiliense, 1994. Este autor faz uma apresentação da Geografia e sua evolução, destacando os principais pontos de discussão sobre a Geografia, desde a idade antiga até a contemporaneidade. Com essa leitura você poderá se aprofundar sobre a relação da que a Ge- ografia tem com os fatos políticos, as guerras, fei- tos humanos, a História e a sociedade atual. PARA REfLETIR Estabeleça com um grupo de colegas uma discus- são sobre a importância de compreender a função da História e Geografia para o cotidiano do profes- sor pedagogo 29Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica 1 .3 A trajetória da História e da Geografia na escola brasileira Para que possamos atuar na disciplina de História e Geografia nas séries iniciais do ensino fundamental é necessário proceder a uma reflexão sobre a representação destas matérias na formação do aluno em consonância com sua história cultural e social. Tivemos, durante muito tempo nas escolas, uma metodologia de ensino de História que apre- sentava heróis bonzinhos agindo de forma inusi- tada, realizando feitos retumbantes11 e totalmente fora do seu contexto. A estes feitos atribuem-se datas lineares e aleatórias difíceis de verificação, acabando por im- pedir, ou no mínimo, dificultar qualquer verificação e associação com a realidade. “O apego à ordem cronológica dos acontecimentos sequenciados line- armente, como se a história se desenvolvesse num sentido único, constitui outro filão que alimentou esse trabalho” (PENTEADO, 2011, p.32). Com o en- sino de Geografia não foi diferente: Extensas listas de nomes de acidentes geográficos, bem como extensas listas de números – indicando altura de picos e montanhas, altitudes de planaltos e planícies, ex- tensão de rios, seus volume de água, graus de temperatura máxima e mínima de diferentes locais da terra etc., como se esses dados fossem dados aleatórios e independentes entre si, eternos constantes 11 Significado de Retumbar Refletir o som com estrondo; ressoar, ecoar, estrondear, ribom- bar: os tambores retumbavam; as praças retumbavam o eco dos cantos fúnebres. Fonte: http://www. dicio.com.br Fundamentos e Metodologias de História e Geografia30 e imutáveis – nortearam a docência dessa disciplina, en- tão preocupada com procedi- mentos meramente descri- tivos. (PENTEADO, 2011, p.32) Atualmente os estudos desenvolvidos no espaço da escola se apresentam de maneira mais concêntrica12: nasce no espaço social habitado pelo aluno que compreende o âmbito da família, do bair- ro, da escola e da sua cidade, para então abranger o espaço de mundo. As ações acontecem de forma integrada respeitando a vivência dos alunos. Esta abordagem recente deverá tratar os te- mas escolares em consonância com o fazer cotidia- no aproximando a escola e a prática pedagógica com a história social dos atores envolvidos no pro- cesso. Com isso, podemos concordar com Penteado (2011, p. 32) quando afirma que desta forma “o processo de aprendizagem do homem ocorre mais facilmente [...] assegura que o processo de apren- dizagem se dá de forma mais fácil e rendosa” ao desenvolvermos o caminho do próximo pra o dis- tante, do concreto para o abstrato atuamos mais facilmente na zona proximal dos sujeitos afinando sua práxis com a teoria produzindo resultados mais satisfatórios. Ainda de acordo com o pensamento de Pen- teado (2011, p. 32) há um terceiro procedimento que “apoia-se na convicção de que nosso processo de aprendizagem realiza-se de maneira mais aces- sível e eficiente quando se caminha da ‘parte’ para o ‘todo’”. Embora seja consenso, a ideia de que apren- demos melhor partindo do “simples” para o “com- plexo”, precisamos relativizar essa prática tomando 12 adj. Geom. Diz-se das curvas, que têm o mesmo centro e raios diferentes. Que partem do centro e em várias direções. 31Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica o máximo cuidado ao aplicar em sala de aula, sob pena do uso indevido da metodologia, podendo desembocar em uma prática esvaziada com conse- quência inesperadas e até prejudicando a aprendi- zagem, por conta de desse uso indevido. Para que você compreenda melhor como podemos desenvolver esta prática, vamos partir do princípio de que podemos considerá-la como simples, um evento que comporta uma pequena quantidade de variáveis intervenientes entre si. “É precisoentão identificar o evento que correspon- de a tal critério no campo das ciências humanas” (PENTEADO, 2011, p. 33) Se tomarmos como exem- plo a escola submetendo-a ao evento em questão, percebe-se que diversas variáveis conjuntas apa- recerão como parte do processo correspondente a sequencia citada acima. Nesta composição pode- mos observar: variáveis de competência política es- tatal, competência educacional familiar, da compe- tência sociocultural e da competência profissional dos professores da área de ensino que integram. Devemos ter em mente que a escola se apre- senta como um novo espaço de aprendizagem na vida do educando e que por ser novo se converte num espaço atemorizante ou, no mínimo, assusta- dor sob a ótica do aluno. Mas o que seria um evento próximo e um evento distante? Esta concepção de próximo e de distante estaria ligada espacialmente ao que está próximo ou afasta- do do sujeito, limitando o sentido espacial geográfico como sendo o elemento de aproximação da apropria- ção de determinado conceito de aprendizagem? Está próximo de você o que se situa nas ad- jacências da sua residência? Vamos ilustrar melhor esta questão contando uma experiência vivenciada em sala de aula numa Fundamentos e Metodologias de História e Geografia32 escola em Aracaju. Havia, entre a turma alguns alu- nos que moravam no bairro João Alves, na cidade de Nossa Senhora do Socorro e, todos os dias, ao irem para a escola, cruzavam a ponte sobre o rio que faz divisa entre as duas cidade. Mas estes alunos,ao serem perguntados, não tinham lembrança do rio, entretanto lembravam-se muito bem da praia de Ata- laia, que fica bem mais distante das suas casas e que eles também eles frequentam esporadicamente. Com este exemplo fica claro que a represen- tação de próximo e distante necessita de relativi- dade que cada professor poderá identificar na sua prática pedagógica. Quando pensamos no evento concreto e abs- trato podemos conceituá-la da mesma forma. O evento abstrato seria mais complexo que o evento mais simples? Na sua concepção o que seria “o concreto”? Podemos afirmar que o concreto está vinculado a experiências palpáveis? Vamos ilustrar com uma experiência vivencia- da pela autora Heloísa Penteado: Fazendo um levantamento lin- guístico junto à população de uma ilha de difícil acesso, situada no litoral brasileiro na altura de São Sebastião, es- tado de São Paulo, algumas pesquisadores constataram que as crianças desta ilha um agudo sentido de percepção para detectar a presença de cobras, abundantes no local. Raramente morriam em con- sequência de picadas. Porém, quando por qualquer razão iam ao continente eram vítimas 33Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica frequentes de atropelamentos por carro em São Sebastião. O que seria mais visível, audível e palpável: uma cobra ou um car- ro? (PENTEADO, 2011, p. 33-34) Podemos compreender com essa experiência a necessidade de relativizar também o concreto e o abstrato, pois estes também carecem de verificação apurada, considerando a história e o conhecimento prévio de cada um. As habilidades desenvolvidas pelos alunos são fruto de diversas variáveis que incidem sobre suas experiências e nesta condição é necessário que o professor consiga estabelecer critérios de ob- servação que contemplem essas habilidades. Vamos refletir como fica mais fácil para uma criança aprender? Devemos partir das partes para o todo ou do todo para as partes? Seria mais fácil para uma criança montar um bolo de formato desconhecido a partir de suas fa- tias ou seria mais fácil conhecendo o formato do bolo inteiro dividi-lo em fatias? Como podemos querer que uma criança tenha a dimensão do planeta terra para depois cortá-lo em pedaços e entender cada continente, cada país, cada região, cada estado, cada cidade, cada bairro, cada casa e por fim as divisões destas casas? Seria mais eficiente começar estudando o es- paço do seu quarto para então pensar na casa, no bairro e ampliar até pensarmos no planeta? Seria suficiente apresentar a criança uma re- presentação do planeta através do globo ou de um mapa-mundi e apenas dizer para ele aqui é a terra? Como resolver esses problemas sabendo que a criança não tem um domínio empírico do espaço do seu bairro? Fundamentos e Metodologias de História e Geografia34 Certamente devemos trabalhar com essa criança oferecendo condições de acesso a com- preensões anteriores, pois para ela compreender, olhando para um globo que está na sua mão que ela é uma ínfima, parte daquilo se torna muito di- fícil quando ela sabe que o seu bairro e a sua casa já é grande ao ponto de não caber na sua mão, Penteado sugere que devemos desenvolver uma forma de preparar a criança para compreender no- vas questões que surgirem a partir de etapas ante- riores: “inicialmente seria importante proporcionar à criança a oportunidade de lidar com o espaço dominável por ela” (PENTEADO, 2011, p. 37). Para isso devemos explorar as possibilidades que tivermos à mão, entre estas possibilidades po- demos desenvolver habilidades lúdicas. Você pode, por exemplo, realizar experiências lúdicas e ao final de uma delas confeccionar sua representação através de um desenho. Assim a criança vivencia noções de dentro e fora pode experimentar limites e fronteira de for- ma prazerosa em quanto aprende, poderia viven- ciar as noções espaços concêntricos, descobriria a impossibilidades de estar simultaneamente dentro de espaços heterocêntricos, enquanto isso ela esta sendo iniciada, através do desenho em representa- ção espacial, que irá facilitar a sua compreensão na leitura dessas representações a exemplo de mapas. Lembre que as representações por desenho e fotografias facilitam a compreensão e interpretação por parte da criança. Conforme esta criança alcan- ça graus mais elevados no seu aprendizado mais fácil fica compreender representações históricas e geográficas. As diversas teorias existentes sobre educa- ção comprovam que não devemos encarar o ser humano como um depósito de informações, asse- 35Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica melhando-se a um arquivo, onde estas podem ser gravadas e recuperadas a qualquer momento, sem prejuízo do entendimento e da compreensão. O saber se constitui na relação das informa- ções e experiências vivenciadas, que propiciam a construção do conhecimento do sujeito. É importante compreendermos que as várias teorias existentes sobre educação e aprendizagens são frutos de pesquisas e também de experiências. A experimentação empírica traduz resultados bem aceitos no campo da Pedagogia, segundo Penteado (2011, p.38) as experiências no ensino de História e Geografia vêm atendendo a novas constatações positivas que, segundo a autora, nos fazem chegar a seguintes conclusões: • a aprendizagem se faz num movimen- to que vai tanto das partes para o todo como do todo para as partes, ao longo de todo seu processo; • é concreto para o aprendiz aquilo que ele acredita que realmente existe; ignorar esse fato nos faz incorrer em erros como confundir “concreto” com o que simples- mente acontece ou ao lado das crianças e que é perceptível aos órgãos dos sen- tidos; • é próximo do aprendiz aquilo que pela significação e importância por ele atribuí- da, passa a fazer parte de sua realidade; se isso não fosse verdade, os meios de comunicação de massa não teriam a in- fluência que têm. Vamos fazer aqui uma ressalva importante: quando uma criança chega ao 1º ano, ela já viveu, pelo menos, seis anos de sua vida e durante este Fundamentos e Metodologias de História e Geografia36 tempo aprendeu muito junto a sua família e amigos sobre o espaço onde mora, já reconhece no mínimo o seu bairro e pode fazer pequenas distinções, em- bora não tenha a habilidade de explicar para alguém, esse reconhecimentoé feito de forma espontânea. Geralmente, os professores da escola, nas aulas de História e Geografia, desconsideram esse conhecimento. Com isso, despreza grande oportu- nidade trabalhar com a criança num campo de do- mínio que facilita sua compreensão. É preciso considerar a História e Geografia como disciplinas responsáveis por gerar no a aluno a possibilidade de acesso aos conhecimentos pro- duzidos no campo das ciências humanas, criando as possibilidades de atuarmos nessas disciplinas ultrapassando os limites demarcados por proble- mas que até hoje enfrentamos em sala de aula. Vamos finalizar este tema afirmando a ne- cessidade que temos de nos afastar da apreensão fragmentada da vida social que são apresentadas ao aluno para oferecer uma compreensão articula- da da vida social, contemplando sua historicidade conforme seu funcionamento. INDICAção DE LEITURA CoMPLEMENTAR PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia do Ensino do Ensino de História e Geografia. 4. ed., São Pau- lo: Cortez, 2011. A autora faz uma análise de como acontece e de como deve acontecer às aulas de Hstória e Geogra- fia no ensino fundamental. Com esta leitura, você irá desvendar novas possibi- lidades de atuação na sua sala de aula. Descobrirá 37Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica o incentiva a criatividade a buscar resposta para questões propostas a prática reflexiva poderá ofe- recer. BORGES, Vavy Pacheco. o que é História. ed. rev. São Paulo: Brasiliense, 1993. Lendo esta autora, você compreenderá claramente as contribuições da História para a formação do indivíduo. Para quem quer compreender a impor- tância da história para os nossos dias encontrará neste texto muitas informações pertinentes. PARA REfLETIR Discuta com seus colegas qual é a função das dis- ciplinas História e Geografia nas escolas de ensino fundamental. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia38 1 .4 A importância Social da História e da Geografia Querido(a) aluno(a), começaremos esse con- teúdo convidando você a pensar sobre a sociedade que lhe cerca. Pense nas instituições sociais que você conhece: as empresas, as igreja, os super- mercados, as escolas, as famílias, enfim tudo que compõe a sociedade a nossa volta. Todas as instituições, juntamente com as pessoas, formam uma sociedade com sua cultura, sua forma ver, sentir e fazer ações que somadas definem o perfil cultural de uma sociedade. E o que a História e a Geografia têm a ver com isso? Vamos fazer uma pequena incursão histórica sobre os nossos feitos e nosso avanço tecnológi- co e social. Mas antes queremos lembrar a você para prosseguir essa leitura tendo em mente que os seres humanos, embora, sejam o animal que é menos pronto ao nascer é também o que mais tem a capacidade de adaptação e assim o conhecimen- to produzido na sociedade é passado de geração para geração. Isso significa que ao nascermos não temos que aprender tudo novamente, partindo do zero, nós não necessitamos redescobrir as ciências ou refazer os saberes. Nascemos dentro de deter- minada cultura onde os valores nos são ensinados através da família, dos costumes, da escola, entre outras instituições. Está aí a principal importância da história para a sociedade. Agora vamos fazer uma pequena viagem em direção ao tempo histórico. O tempo que chamamos de Idade Média ficou marcado pela grande ascendência da fé. Naquele momento as lendas eram predominantes e acredi- tava-se em paraíso, cidades de ouro, pregava-se o 39Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica elixir da vida eterna e a pedra filosofal tinha a co- notação de um objeto. A exploração do mundo es- tava referendada por lendas que diziam que o mar era a moradia de monstros que devoravam aquele que se aventurasse em busca de novas conquistas, consequentemente, todos que se aventuravam vi- ravam heróis. As pessoas que viveram naquela época acre- ditavam que a terra era plana e que acabava su- bitamente, que navios que chegassem ao fim do mundo poderiam cair da Terra. Tudo isso influenciou a forma como escreve- mos a história. Mas tudo isso vai mudando com a produção do conhecimento. O surgimento de novas ciências gerou novos conhecimentos sobre o globo terrestre, surgem os estudos de Geografia, mapas são feitos, novas expectativas surgem e tudo isso é refletido na história e na forma como registramos. Com o início da modernidade, a sociedade europeia ocidental entra num processo de des- construção do modelo feudal para dar início a um novo modelo de sociedade onde um grupo social em ascensão – a burguesia, estavam interessados em promover um novo modelo de sociedade atra- vés do comércio e a indústria – manufatura - como sendo a atividade principal das cidades. Um novo mundo em expansão está nascendo e os homens vão se dedicar a sua compreensão. Aquela sociedade está diante do progresso e com ele vem à erudição e a razão, um dos princí- pios do saber científico. Tenha em mente que essas mudanças são graduais e lentas, a visão dogmática da Idade Mé- dia tinha muitos adeptos e afetava profundamente os estudiosos da época. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia40 Neste processo de transformação, a filosofia favoreceu bastante a compreensão sobre as mu- danças que aconteciam, a exemplo do questiona- mento a estrutura dogmática imposta pela igreja. Vale destacar aqui a importância da filosofia árabe e a filosofia grega – aristotélica - que influencia so- bre maneira o ambiente cultural naquele momento. O resultado é a concepção não teológica do mundo e da história referendada pela geografia e a organização do espaço. O conhecimento deixa de ser uma explicação divina para ser uma explicação baseada na razão. Esse conteúdo sobre a construção do conhecimen- to, você já viu no texto de “Ensino e Pesquisa: organização de Projetos”, no período passado. Se julgar necessário, retome-o no primeiro tema. Por hora, voltemos ao nosso assunto! Outra corrente importante é o empirismo que valoriza a importância da experiência na construção do conhecimento. As mudanças continuam acontecendo e du- rante o Renascimento, a cultura europeia ocidental resolve retomar culturas mais antigas no aspecto do seu registro histórico. Com a preocupação pelos tex- tos antigos e sua exatidão, com a pesquisa e a formação de coleções de moedas, de objetos de arte, de inscrições antigas, vai ser levantado um enorme material para a re- construção desse passado. Do século XVI ao XIX, vão-se multiplicar as técnicas para reunir, preparar e criticar toda essa documentação, que for- 41Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica nece os dados e os elementos para a interpretação históri- ca. (BORGES, 1993, p. 28) Esse texto trata a importância social da His- tória e da Geografia daí a necessidade de balizar- mos determinados momentos importantes na his- tória. Essa retomada a Idade Média e momentos mais antigos serve para situar o tempo histórico e geográfico. Então vamos retomar o séc. XIX, para referen- ciar um fato social importante com a efetivação da sociedade burguesa e a implantação do capitalismo industrial, onde a História e a Geografia foram fun- damentais. Em meados do séc. XIX dois pensadores im- portantes, sobretudo, para a história do mundo ocidental, lançam uma nova concepção filosófica de mundo – materialismo dialético – esses pen- sadores foram: Karl Marx (1818-1883) e friedrich Engels (1820-1895). Esses autores criticaram o capi- talismo como forma eficiente de organização social. Esta crítica resultou em um método conhe- cido com materialismo histórico que busca uma transformação da sociedade e suas relações de produção. Entretanto não houve até o presente um resultado prático das suas ideias, não obstante têm sido amplamente discutida nos meiosacadêmicos. O nosso sistema de produção continua sendo o capitalista implementado pelos burgueses, com poucas exceções, a exemplo de Cuba que tem um sistema diferente do nosso – o socialista. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia42 Para Marx e Engels,a história é um processo dinâmico, dialéti- co, no qual cada realidade social traz dentro de si o princípio de sua própria contradição o que gera a transformação constante na história. A realidade não é estática, mais dialética, ou seja, está em transformação pelas suas contradições internas. No processo histórico, essas contradições são geradas pela luta entre as diferentes classes sociais. (BORGES, 1993, p. 37) As ideias destes autores renderam bastantes discussões acadêmicas e têm um grande número de adeptos desta teoria, embora isso seja um fato, o capitalismo continua sendo referencia em todo o mundo. Mas então, depois dessa retrospectiva his- tórica, eu convido você a fazer uma releitura do significado social da história na sua vida. Vejamos o homem com um ser criador e trans- formador da sua própria história. Refiro-me aqui ao homem com um ser social e como tal, transforma- dor do seu fazer cultural e dos espaços em sua volta numa inter-relação histórica e geográfica das transformações humanas. Então para que serve a história? Borges (1993, p.49) nos conta que “a função da história desde o seu início, foi a de fornecer à sociedade uma expli- cação sobre ela mesma.” Dia após dia, a história se aproxima com mais veemência das outras áreas do conhecimento – geografia, Antropologia, Sociolo- gia, Economia, Psicologia, entre outras – se somam para promover a função social que cabe a cada um 43Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica desses conhecimentos, entretanto é a união desses conhecimentos que tornam possível o cumprimento dessa função social. “A história é filha do seu tempo” mesmo quando apresenta ou estuda fatos antigos, é neste tempo que a história se faz socialmente presente e é para seu tempo que ela tem valor. A essa altura você já compreendeu bem o papel social da História. Mas e a Geografia, qual é o seu papel social? Vamos criticar um pouco essa disciplina para compreender melhor sua função. Façamos um rá- pido mergulho nos seus fundamentos e na sua es- trutura. A Geografia é um saber que exerce um lu- gar de destaque perante os outros. Signos como o mapa e a paisagem são exemplos do uso corriquei- ro da Geografia em nossas vidas, esses elementos fazem parte da nossa linguagem em vários lugares onde atuamos: nas lojas, nas fábricas, em nossa casa, na televisão, nos comícios, nos quartéis, nas delegacias, nas instituições públicas nas escolas, nas empresas onde trabalhamos e também nos veí- culos de propagandas como folhetos, folders e out- doors. Ora, se a Geografia é tão popular é porque ela realmente faz parte da vida humana. Podemos notar isso observando que todos os dias fazemos o nosso percurso geográfico, indo para o trabalho, para a academia, para a escola, indo ao supermer- cado ou mesmo quando você se desloca do quarto para a sala está traçando um percurso geográfico. Notadamente a geografia faz parte do nosso cotidiano então é natural que ela seja bem popu- lar. Talvez você esteja pensando “não precisamos ir à escola para ter contato com a geografia”, é um pensamento válido, pois aprendemos e senti- mos a geografia ao nosso redor apenas pelo fato Fundamentos e Metodologias de História e Geografia44 de estamos vivos e nos locomovendo. Mas seria o bastante para entendê-la como ciência? Vamos pensar um pouco sobre isso. Vivemos em um lugar diferente de onde vivem nossos pa- rentes ou alguns amigos, às vezes a diferença é pequena, apenas de bairro ou de cidade, mas, em outras circunstâncias, as diferenças são de estados ou de países. Em todos os lugares são produzidas coisas que são transportadas, vendidas, trocadas e con- sumidas por outras pessoas. Temos aí um grande fluxo de movimentos geográficos. Mandamos e re- cebemos objetos, adquirimos diferentes coisas de lugares bem distintos. Na nossa sociedade as coisas são organiza- das geograficamente. Por exemplo: no supermerca- do vende os produtos que devem conter naquele espaço específico. Assim se queremos um remédio devemos ir à farmácia, se queremos pão devemos ir à padaria, cimento se encontra em uma loja de material de construção. Então uma combinação de lugares e suas relações, cria uma unidade de espaço. É o que chamamos de espaço geográfico que constitui o espaço de existência dos homens. Feita essa afirmação, vamos buscar mais ele- mentos. Devemos então buscar a compreensão do significado político da Geografia, que a meu ver não está estritamente ligado a sua popularidade, fatos que percebemos nesta leitura, mas na forma como esse saber é usado. A Geografia pode transformar o cidadão em um ser “esclarecido” ou “alienado” con- forme o uso que se faça e o objetivo que se busque. Embora saibamos que para reconhecer a Geografia, necessitamos apenas da percepção, em muitas situ- ações o que parece óbvio pode ser onde há o maior 45Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica perigo de alienação do que o que aparenta ser mais complexo. Todos nós concordamos que embora a Geografia possa ser identificada apenas pela ação imperícia, este saber não deve estar limitado às apa- rências, a um saber constituído apenas no senso co- mum baseado na primeira impressão. Há um jargão popular que diz que “as aparências enganam” e a Geografia não seria uma ciência se estivesse conde- nada apenas ao nível da percepção. Assim a função política da Geografia depende do uso de que se faça deste saber. “A organização da sociedade nem sempre é a que está escrita. Há semelhanças formais e ai reside um detalhe que pode servir para uma teoria deformante da reali- dade” (MOREIRA, 1994, p. 59). Por este motivo, devemos ver a Geografia como a ciência que ela é realmente. Devemos considerar que a sociedade é o tema real da Geografia, precisamos estudá-la como representação visível do espaço social. Entretanto, a nossa sociedade não é uma so- ciedade igualitária, mas uma sociedade de classes e, por este motivo, sempre será fabricada as apa- rências que nortearão a interpretação da Geografia como ciência organizadora dos espaços sociais. Numa sociedade de classes a informação é um bem muito valioso para se entender as relações de poder e o poder do capital sob a ótica da força de trabalho. Os homens sobrevivem a partir da sua força de trabalho, vendendo para outros homens de clas- ses sociais diferentes o seu tempo de produção. O reflexo dessa produção interfere diretamente na economia e faz girar a força do negócio no modelo de produção capitalista em que estamos inseridos. Alguns destes homens têm consciência do seu papel social e buscam reverter sua condição Fundamentos e Metodologias de História e Geografia46 procurando outras formas de produzir. Outros me- nos favorecidos no processo de produção do mo- delo capitalista sequer conseguem identificar os modos de produção e não têm clareza do seu papel nesta cadeia produtiva. As chances destes indivídu- os residem na sua formação escolar Para isso existe a escola, com a função de pre- parar o indivíduo para a vida em sociedade. Moreira (1994, p.69) diz que “por isso a Geografia secularizou- se como uma disciplina escolar”. Portanto a pedago- gia se torna mais eficiente na promoção da aprendiza- gem quando está em contato com o currículo exterior fortalecendo as relações de teoria e prática. Desta maneira, o fio tênue que separa a forma como a Ge- ografia será utilizada – para alienar ou esclarecer - se torna mais definido a partir da organização dos currí- culos escolares e da relação de ensino-aprendizagem no tempo e espaço do homem na escola. INDICAção DE LEITURACoMPLEMENTAR MOREIRA, Rui. o que é Geografia. 14. ed. São Pau- lo: Brasiliense, 1994. O autor apresenta a definição de Geografia e seu papel social trazendo aspectos relevantes que con- tribuem bastante pera essa apreensão. Neste texto, você terá a oportunidade de compreender a relação da Geografia com o espaço da escola, sua relação com a sociedade do trabalho, a separação social das classes e os aspectos geográficos para política social. Brasil, Secretaria de Educação Fundamental. Parâ- metros curriculares nacionais: História e Geografia – Brasília: MEC/SEF, 1997. 47Tema 1 | As ciências humanas e o conhecimento de história e de geografia na educação básica Os parâmetros curriculares de ensino de História e Geografia apresentam sugestões de instrução da matéria no ensino fundamental e orienta professo- res, sobre os procedimentos e atitudes na sala de aula. Nesta leitura, você terá a oportunidade de se apro- priar as recomendações do Ministério da Educação no tange ao ensino de História e Geografia nos currículos escolares PARA REfLETIR Convide alguns colegas para discutir a função so- cial da História e da Geografia nas escolas e tam- bém na vida profissional e política do cidadão. RESUMo Do TEMA Caro aluno, neste tema vimos como as matérias História e Geografia são importantes para a forma- ção da cidadania, lemos sobre o contexto social, professional e político das matérias. Vimos também como nossas vidas estão imbricadas com as ciên- cias humanas e naturais e o que estas ciências têm a ver com as matérias História e Geografia. Apren- demos um pouco mais sobre as ciências físicas, químicas e biológicas que compreendem as ciên- cias naturais e estão se entrelaçadas nos processos de aprendizagem. Fundamentos e Metodologias de História e Geografia48 Tivemos uma retrospectiva da história e do tempo histórico, reconhecemos o significado da Geografia no espaço tempo e também nas relações sociais. Fizemos uma amostragem do surgimento da Geogra- fia e a influência alemã para disseminação da desta no mundo. Com isso amadurecemos os conceitos de História e Geografia, no ensino fundamental.
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