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1
UNIDADE 1
CIDADANIA E SOCIEDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
Esta unidade tem por objetivos:
• compreender diferentes conceitos de democracia, ética, cidadania e socio-
diversidade;
•	 verificar	os	padrões	de	conduta	moral	ao	longo	do	tempo	e	em	diversas	
culturas;
•	 identificar	a	importância	da	responsabilidade	social	e	os	três	setores:	pú-
blico,	privado	e	terceiro	setor	para	uma	sociedade	equânime;
•	 entender	a	importância	da	cultura	e	da	arte	no	desenvolvimento	da	sociedade.
Esta	unidade	está	dividida	em	cinco	tópicos.	No	decorrer	da	unidade	você	
encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	 –	DEMOCRACIA,	ÉTICA	E	CIDADANIA
TÓPICO	2	 –	SOCIODIVERSIDADE	E	INCLUSÃO	
TÓPICO	3	 –	MULTICULTURALISMO:	VIOLÊNCIA,	TOLERÂNCIA/INTO-
	 	 LERÂNCIA	E	RELAÇÕES	DE	GÊNERO
TÓPICO	4	 –	RESPONSABILIDADE	SOCIAL:	SETOR	PÚBLICO,	SETOR	PRI-
 VADO E TERCEIRO SETOR
TÓPICO	5	 –	CULTURA	E	ARTE
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
1 INTRODUÇÃO
Entraremos	 no	 mundo	 do	 comportamento	 humano	 em	 sociedade	 e	
suas	 regras	 de	 conduta	 e	 participação	 social,	 política	 e	 econômica,	 no	 qual	
trabalharemos	a	questão	da	formação	dos	princípios	morais	e	éticos	dos	homens	
que	vivem	e	convivem	em	sociedade,	além	de	abordarmos	questões	pertinentes	à	
democracia	e	à	cidadania.	
Esses	conceitos	estão	previstos	na	Portaria	INEP	nº	493	de	6	de	junho	de	
2017,	em	seu	Art.	1º,	que	destaca:
O	Exame	Nacional	de	Desempenho	dos	Estudantes	 (ENADE),	parte	
integrante	 do	 Sistema	Nacional	 de	Avaliação	da	Educação	 Superior	
(SINAES),	 tem	 como	 objetivo	 geral	 avaliar	 o	 desempenho	 dos	
estudantes	 em	 relação	 aos	 conteúdos	 programáticos	 previstos	 nas	
diretrizes	 curriculares,	 às	habilidades e competências para atuação 
profissional e aos conhecimentos sobre a realidade brasileira e 
mundial,	 bem	 como	 sobre	 outras	 áreas	 do	 conhecimento	 (BRASIL,	
2017,	grifos	nossos).
A	mesma	portaria,	 em	 seu	Art.	 5º,	 indica	 como	 referência	 do	perfil	 do	
concluinte,	no	âmbito	da	Formação Geral,	as	seguintes	características:	
I.	ético	e	comprometido	com	as	questões	sociais,	culturais	e	ambientais;	
II.	 humanista	 e	 crítico,	 apoiado	 em	 conhecimentos	 científico,	 social	 e	
cultural,	historicamente	construídos,	que	transcendam	o	ambiente	próprio	
de	sua	formação;	
III.	protagonista	do	saber,	com	visão	do	mundo	em	sua	diversidade	para	
práticas	de	letramento,	voltadas	para	o	exercício	pleno	de	cidadania;	
IV.	 proativo,	 solidário,	 autônomo	 e	 consciente	 na	 tomada	 de	 decisões	
pautadas	pela	análise	contextualizada	das	evidências	disponíveis;	
V.	 colaborativo	 e	 propositivo	 no	 trabalho	 em	 equipes,	 grupos	 e	 redes,	
atuando	com	respeito,	cooperação,	iniciativa	e	responsabilidade	social.
E	 no	Art.	 6º	 é	 indicado	 que	 a	 prova	 ENADE	 avaliará	 se	 o	 concluinte	
desenvolveu,	no	processo	de	formação,	competências	para:
I.	fazer	escolhas	éticas,	responsabilizando-se	por	suas	consequências;	
II.	ler,	interpretar	e	produzir	textos	com	clareza	e	coerência;	
III.	compreender	as	linguagens	como	veículos	de	comunicação	e	expressão,	
respeitando	 as	 diferentes	 manifestações	 étnico-culturais	 e	 a	 variação	
linguística;	
IV.	interpretar	diferentes	representações	simbólicas,	gráficas	e	numéricas	
de	um	mesmo	conceito;	
V.	 formular	 e	 articular	 argumentos	 consistentes	 em	 situações	
sociocomunicativas,	expressando-se	com	clareza,	coerência	e	precisão;	
VI.	organizar,	interpretar	e	sintetizar	informações	para	tomada	de	decisões;	
VII.	planejar	e	elaborar	projetos	de	ação	e	intervenção	a	partir	da	análise	de	
necessidades, de forma coerente, em diferentes contextos; 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
4
QUADRO 1 – FORMAS DE DEMOCRACIA
FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 133)
FORMAS DE DEMOCRACIA
Democracia 
direta
Na	 qual	 o	 povo	 decide	 diretamente,	 por	 meio	 de	 referendo/
plebiscito,	 se	 aceita	 ou	 não	 determinadas	 questões	 políticas	 e	
administrativas	de	sua	localidade,	Estado	ou	país.
Democracia 
indireta
Nesta,	 o	 povo	 participa	 democraticamente,	 por	meio	 do	 voto,	
elegendo	 seu	 representante	 político,	 ou	 seja,	 uma	 pessoa	 que	
o	 represente	 nas	 diversas	 esferas	 governamentais,	 para	 tomar	
decisões	cabíveis	em	nome	do	povo	que	o	elegeu.
VIII.	 buscar	 soluções	 viáveis	 e	 inovadoras	 na	 resolução	 de	 situações-
problema;	
IX.	 trabalhar	 em	 equipe,	 promovendo	 a	 troca	 de	 informações	 e	 a	
participação	coletiva,	com	autocontrole	e	flexibilidade;	
X.	 promover,	 em	 situações	 de	 conflito,	 diálogo	 e	 regras	 coletivas	 de	
convivência,	integrando	saberes	e	conhecimentos,	compartilhando	metas	
e	objetivos	coletivos.
Para	tanto,	abordaremos	a	compreensão	dos	significados	dos	princípios	
norteadores	da	democracia,	 ética	 e	 cidadania,	 além	de	 realizar	uma	 reflexão	e	
uma	discussão	sobre	as	questões	ético-morais,	na	relação	indivíduo	e	sociedade.
2 A DEMOCRACIA EM PAUTA 
Estamos	 vivendo	 em	 um	país	 apresentado	 como	 democrático!	 Será	 que	
todos	nós	compreendemos	o	sentido	real	da	democracia	e	seus	reflexos	na	sociedade	
brasileira?	Em	outros	termos,	o	que	realmente	é	este	Estado	Democrático	de	Direito	
em	que	vivemos?
Neste	sentido,	Moisés	(2010,	p.	277)	expõe	que	“o	significado	mais	usual	
da democracia se refere aos procedimentos e aos mecanismos competitivos de 
escolha	de	governos	através	de	eleições”,	ou	seja,	a	democracia	é	compreendida	
habitualmente	somente	como	um	processo	de	escolha	dos	nossos	representantes	
legais	em	todas	as	esferas,	tanto	local,	municipal,	estadual	quanto	federal,	no	qual	a	
população	dessas	esferas,	por	meio	de	seu	voto,	seleciona	e	elege	o	seu	representante	
para	legislar	em	nome	dessa	mesma	população.	Assim,	“podemos	considerar	que	
a	democracia	nada	mais	é	do	que	um	sistema de governo,	no	qual	o	povo	governa	
para	sua	própria	sociedade”	(PIERITZ,	2013,	p.	133,	grifos	do	original).
Deste	modo,	pode-se	observar	que	a	democracia	pode	ser	exercida	de	duas	
formas	distintas,	pois	 ela	pode	 ser	direta	ou	 indireta	 (Quadro	1).	O	conceito	de	
democracia	é	notoriamente	o	entendimento	de	toda	massa	populacional	brasileira	
nos	dias	de	hoje,	pois	quando	 se	 indaga	às	pessoas	 com	relação	ao	 conceito	de	
democracia,	 é	 este	 conceito	 de	 escolha	 de	 nossos	 representantes	 legais,	 por	
intermédio	do	voto	popular,	que	aparece	nos	discursos	da	população	de	nosso	país.
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
5
Cunha	 (2011,	 p.	 105)	 expõe	 que	 a	 democracia	 pode	 ser	 compreendida	
como	“método	de	organização	social	 e	política	 tendente	à	maior	 realização	da	
liberdade	 e	 da	 igualdade.	 [é	 um]	 Sistema	 político	 em	 que	 o	 povo	 constitui	 e	
controla	o	governo,	no	interesse	de	todos”.
Outro	 fator	 que	 não	 podemos	 esquecer	 é	 que,	 quando	 falamos	 em	
democracia,	 também	 falamos	 de	 Estado Democrático de Direito.	 Segundo	
Cunha	 (2011,	 p.	 138),	 o	 “Estado	de	direito	 [é	 aquele]	 que	 se	 organiza	 e	 opera	
democraticamente”.	Nossa	Carta	Magna	de	1988,	já	em	seu	preâmbulo,	instituiu	
um	 Estado	 Democrático	 de	 Direito,	 ou	 seja,	 a	 Constituição	 da	 República	
Federativa	do	Brasil	se	organizou	e	definiu	suas	normativas	em	prol	de	um	Estado 
Democrático, no	qual	a	democracia	deverá	ser	a	base	fundamental	da	República	
Federativa	 do	 Brasil.	 Assim,	 segundo	 Pieritz	 (2013,	 p.	 133),	 “este	 sistema	 de	
governo	democrático	possui	 formatos	diferentes	 nas	diversas	 sociedades,	 pois	
em	cada	uma	existem	regras	e	normas	diferentes,	e	 isto	acontece	por	causa	da	
constituição	dos	princípios	ético-morais	de	cada	localidade”.	
Vale	salientar	que	a	democracia	vai	muito	além	desse	discurso	sintético	de	
representação	e	de	voto,	pois	Moisés	(2010,	p.	277,	grifos	nossos)	coloca-nos	que:
existem	outras	perspectivas	que	ampliam	a	compreensão	do	conceito,	
incluindo	 tanto	 as	 dimensões	 que	 se	 referem	 aos	 conteúdos	 da	
democracia,	como	também	os	seus	resultados	práticos	esperadosno	
terreno	da	economia	e	da	sociedade.	Por	uma	parte,	acompanhando	
a	abordagem	minimalista	de	Schumpeter	(1950)	e	a	procedimentalista	
de	Dahl	(1971),	vários	autores	definiram	a	democracia	em	termos	de	
competição, participação e contestação pacífica do poder.	
Neste	 sentido,	 no	 que	 tange	 à	 conotação	 que	 a	 democracia	 tem	 de	
competição,	 participação	 e	 contestação	 pacífica	 do	 poder,	 pode-se	 expor	 que	
falar	 de	 democracia	 também	 está	 atrelado	 ao	 conceito	 do	 “jogo de poderes”,	
principalmente	 a	 disputa	 e	 concorrência	 de	 cargos	 em	 todas	 as	 esferas	
governamentais	 ou	 não,	 além	 da	 competição	 entre	 partidos	 políticos	 e	 outros	
grupos	econômicos,	políticos,	culturais	e	sociais.	
Além	 disso,	 não	 podemos	 esquecer	 um	 elemento	 fundamental	 da	
democracia,	que	é	a	questão	da	“participação do povo”,	em	que	cada	cidadão	
brasileiro	é	elemento	fundamental	no	processo	democrático	do	Brasil,	pois	direta	
ou	 indiretamente	 é	 parte	 do	 processo	 democrático	 instaurado	 neste	 país.	 Ao	
proferir	sua	escolha,	independentemente	do	que	for	ou	de	que	escolha	fora	feita,	
torna-se	automaticamente	parte	do	Estado	Democrático	de	Direito	e	integra-se	ao	
sistema	vigente	de	democracia	daquele	determinado	Estado.
Resumidamente,	 a	 Figura	 1	 apresenta	 o	 primeiro	 entendimento	 da	
definição	e	o	significado	da	democracia	e	o	Estado	Democrático	de	Direito.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
6
FIGURA 1 – DEMOCRACIA E O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO
FONTE: Os autores
Maciel	 (2012,	 p.	 73,	 grifos	 do	 original)	 complementa	 expondo	 que	 a	
democracia	“tornou-se	uma	aspiração	universal,	por	ser	o	regime	de	governo	mais	
propenso	a	garantir	os	direitos	individuais,	porém	não	se	resume	simplesmente	
ao	 ato	 de	 votar,	 sendo	 que	 o	direito à participação	 tornou-se	 uma	 atividade	
importante	diante	da	constituição	da	cidadania”.
Por	 conseguinte,	 pode-se	 expor	 que	 democracia	 denota	 participação	
direta	ou	indireta	da	população	em	todos	os	espaços	que	necessitem	do	veredito	
do	povo	em	prol	de	objetivos	comuns	a	ele	mesmo.	Assim,	Beethan	(2003,	p.	110	
apud	MACIEL,	2012,	p.	73,	grifos	nossos)	complementa	expondo	que:	
O	 direito	 à	 participação	 pode	 ser	 tanto	 reativo	 quanto	 proativo.	 Em	
sua	 forma	 reativa,	 a	 participação	 consiste	 na	 articulação coletiva de 
respostas	a	políticas	de	desenvolvimento.	Na	forma	proativa,	ela	invoca	
a responsabilidade popular	 no	 desencadeamento	 da	 articulação	 de	
políticas	de	desenvolvimento.	No	primeiro	caso,	os	governos	propõem	
e	os	cidadãos	reagem;	no	segundo,	os	cidadãos	propõem	e	os	governos	
reagem.	Em	ambas	as	formas,	o	direito de participação assume a lógica 
de colaborar com o desenvolvimento. “No	 coração	 da	 democracia	
repousa,	assim,	o	direito	do	cidadão	de	opinar	nos	assuntos	públicos	e	
de	exercer	controle	sobre	o	governo,	em	pé	de	igualdade	com	os	demais”.
Deste	modo,	 pode-se	 expor	 que	 um	 dos	 elementos	 da	 democracia	 é	 a	
articulação	 coletiva	 do	 povo	 em	 prol	 de	 uma	 determinada	 demanda	 social,	
política,	cultural	ou	econômica.	Para	que	se	possa	debater	coletivamente	os	prós	e	
contras,	no	que	tange	aos	assuntos	pertinentes	ao	interesse	coletivo,	dando	assim	
respostas	a	esta	mesma	demanda.
Vale	salientar	que	a	não	participação	e	a	omissão	também	são	formas	de	
participação,	 pois	 retratam	 a	 sua	 alienação,	 indiferença,	 contestação	 ou	 o	 seu	
descontentamento	em	relação	ao	sistema	vigente.	Então,	isto	não	quer	dizer	que	
aquele	 cidadão	 que	 se	 omitiu	 ou	 apenas	 não	 quis	 participar	 não	 fez	 parte	 do	
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
7
QUADRO 2 – CONDIÇÕES BÁSICAS PARA O REGIME DEMOCRÁTICO
FONTE: Adaptado de Moisés (2010, p. 277)
Disponível em: <http://
rafaelsilva.over-blog.es/arti-
cle-objetivo-democracia-
-iv-124370354.html>.
Direito	 dos	 cidadãos	 de	 ESCOLHEREM GOVERNOS por 
meio de eleições	 com	 a	 participação	 de	 todos	 os	 membros	
adultos	 da	 comunidade	 política.	 A	 isso	 se	 dá	 o	 nome	 de	
sufrágio universal (direito	ao	voto).
ELEIÇÕES	regulares,	livres,	competitivas,	abertas	e	significativas.
GARANTIA DE DIREITOS	de	expressão,	reunião	e	organização,	
em	especial,	de	partidos	políticos	para	competir	pelo	poder.
Acesso a fontes alternativas de INFORMAÇÃO	sobre	a	ação	
de	governos	e	a	política	em	geral.	
Essas	quatro	condições	mínimas	para	implantar	um	regime	democrático	
são	de	fundamental	importância	para	que	haja	a	participação	democrática	de	um	
povo	em	prol	dos	objetivos	comuns	do	próprio	povo,	uma	vez	que	a	democracia	
vai	muito	além	da	simples	representação	e	de	voto,	ela	se	efetiva	e	concretiza-se	
com	a	participação,	com	a	competição	e	a	contestação	dos	processos	pacíficos	da	
busca	do	poder	no	Estado	Democrático	de	Direito.
Sucintamente,	 a	 Figura	 2	 apresenta	 a	 ampliação	 da	 compreensão	 do	
entendimento	do	significado	da	democracia,	ou	seja,	o	seu	conceito	ampliado:
FIGURA 2 – CONCEITO AMPLIADO DE DEMOCRACIA
FONTE: Os autores
processo	democrático	de	um	país,	pelo	contrário,	todo	cidadão	tem	o	direito	de	
participar	ou	não,	mesmo	que	o	voto	no	Brasil	seja	obrigatório,	pois	ao	votar	ele	
exprime	a	sua	vontade,	ou	o	seu	desejo.
Aqui	fica	claro	que	a	população,	ao	exercer	seu	direito	de	participação	de	
forma	proativa,	demonstra	seus	direitos	e	responsabilidades	perante	os	efeitos	da	
decisão	coletiva.	Entretanto,	também	existem	quatro	condições	necessárias	para	
que	se	possa	instaurar	um	regime	governamental	pautado	na	democracia.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
8
3 A QUESTÃO DA ÉTICA
O	tema	que	abordaremos	neste	momento	é	 relativo	à	questão	da	ética,	
a	qual	permeia	constantemente	nosso	dia	a	dia,	 seja	no	âmbito	 familiar,	 social	
ou	profissional.	Aparentemente,	compreendemos	o	seu	significado	e	seus	efeitos,	
mas	será	que	realmente	compreendemos	o	seu	sentido	real?	Será	que	sabemos	o	
que	é	certo	ou	errado	para	nós	na	sociedade	em	que	vivemos?	
Neste	 sentido,	 Tomelin	 e	 Tomelin	 (2002,	 p.	 89)	 expõem	 que	 “a	 ética	 é	
uma	das	 áreas	 da	 filosofia que	 investiga	 sobre	 o	 agir	 humano	 na	 convivência	
com	os	outros	[...]”.	Em	outros	termos,	as	nossas	ações	perante	a	sociedade	em	
que	vivemos	são	orientadas	por	princípios	éticos	e	morais,	e	esses	princípios	são	
norteadores	de	consciência	moral do	certo	e	do	errado,	do	bem	e	do	mal.
De	modo	mais	abrangente,	a	ética	pode	ser	conceituada	como	a	área	da	
filosofia	 que	 investiga	 o	 agir	 humano,	 tanto	 aqueles	 com	 repercussão	 social,	
quanto	aqueles	sem	maiores	impactos	na	sociedade,	ou	seja,	não	somente	os	atos	
relativos	à	convivência	com	os	outros,	mas	também	consigo	mesmo.
Assim,	no	que	tange	a	esta	problemática	relativa	à	ética,	Pieritz	(2013,	p.	
3)	expõe	que	“a	ética	não	é	facilmente	explicável,	mas	todos	nós	sabemos	o	que	é,	
pois	está	diretamente	relacionada	aos	nossos	costumes	e	às	ações	em	sociedade,	
ou	seja,	ao	nosso	comportamento,	ao	nosso	modo	de	vida	e	de	convivência	com	
os	outros	integrantes	da	sociedade”.	E	que	esses	valores	éticos	são	construídos	
historicamente	pelos	povos,	de	geração	em	geração.
O	que	 são	valores?	Pedro	 (2014,	p.	 490)	 faz	um	 resgate	 etimológico	da	
palavra	Axiologia,	de	origem	grega,	que	significa	estudo	dos	valores	ou	ciência	do	
valor,	e	aponta	para	um	significado,	o	da	vivência	do	valor,	independentemente	
do	valor	que	for,	pois	este	é	experienciado	como	um	fenômeno	que	se	apresenta	
à	consciência	como	tal	e	como	um	acontecimento	que	nos	é	imediatamente	dado.
Para	a	filósofa	húngara	Agnes	Heller	(1972,	p.	4),	“valor	é	tudo	aquilo	que	
faz	parte	do	ser	genérico	do	homem	e	contribui,	direta	ou	mediatamente	para	a	
explicação	desse	ser	genérico”.	Vejamos	no	Quadro	3	quais	são	os	atributos	dos	
valores	humanos	na	perspectiva	de	Heller:
QUADRO 3 – ATRIBUTOS DOS VALORES HUMANOS
OBJETIVAÇÃO
-	que	se	expressa	prioritariamente	por	intermédio	do	trabalho;
-	 que	 proporciona	 sair	 do	 subjetivo	 e	 passar	 para	 o	 real	 e	
concreto.
Caro acadêmico, para colaborar com seusestudos, veja que a junção das Figuras 
1 e 2 proporciona o entendimento global do que é democracia.
ATENCAO
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
9
FONTE: Adaptado de Bonetti et al. (2010, p. 23)
FONTE: Os autores
QUADRO 4 – EXEMPLOS DOS VALORES E VIRTUDES HUMANOS
SOCIALIDADE
-	que	se	expressa	com	a	convivência	com	o	outro,	em	grupo;
-	aprendizagem	com	o	outro;
-	assimilação	de	normas	sociais.
CONSCIÊNCIA
-	tomar	ciência	dos	fatos	ou	de	alguma	coisa;
-	reconhecimento	da	realidade;
-	descoberta	de	algo;
-	capacidade	de	perceber	as	coisas.
UNIVERSALIDADE
-	universal;
- o todo;
-	fazer	parte	de	um	determinado	grupo.
LIBERDADE -	livre-arbítrio.	
Portanto,	os	atributos	dos	valores	humanos	apresentados	no	Quadro	3	são	
os	elementos	constitutivos	do	ser	humano,	do	ser	social,	que	formam	os	nossos	
valores	morais.	 Complementando,	 no	Quadro	 4	 apresentamos	mais	 exemplos	
dos	valores	e	virtudes	do	ser	humano,	que	vive	e	convive	em	sociedade.
Amizade Justiça Obediência Respeito Simplicidade
Lealdade Compreensão Sinceridade Pudor Generosidade
Paciência Ordem Humildade Autoestima Liberdade
Deste	 modo,	 podemos	 expor	 que	 “todos	 nós	 possuímos	 princípios	 e	
valores	que	foram	e	são	constituídos	por	nossa	sociedade.	E,	com	relação	a	esses	
valores,	cada	um	de	nós	possui	uma	visão	do	que	é	certo	e	errado,	do	que	é	o	bem	
e	o	mal”	(PIERITZ,	2012,	p.	57).
Não	podemos	nos	esquecer	de	que	“esta	consciência	moral	é	determinada	por	
um	consenso	coletivo	e	social,	ou	seja,	o	conjunto	da	sociedade	é	que	formula	e	compõe	
as	normas	de	conduta	que	o	regem.	Como	exemplo,	temos	a	nossa	Constituição	Federal	
e	outras	regras	e	normas	de	nossa	sociedade”	(PIERITZ,	2013,	p.	4).
São	estas	regras	e	normativas	jurídicas	e	sociais	que	determinam	o	nosso	
agir	em	sociedade,	e	cada	grupo	social	possui	suas	características,	ou	seja,	não	
se	pode	dizer	 que	 todos	nós	 somos	 iguais,	 que	 todas	 as	 nações	 e	Estados	 são	
iguais,	porque	não	somos,	pois,	independentemente	do	Estado,	do	país	ou	grupo	
social,	fomos	moldando	nossos	valores	e	princípios	de	forma	diferente	ao	longo	
de	nossa	existência.
Agora,	acadêmico,	raciocine	o	seguinte:	se	é	um	fato	que	nossa	consciência	
moral	é	construída	no	seio	de	uma	sociedade	e	com	a	influência	do	meio	e	das	
pessoas	com	as	quais	convivemos,	há ainda outros fatores que concorrem para 
a constituição da consciência moral, e esse elemento é chamado de Lei natural 
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
10
– pelos jusnaturalistas – e tem caráter universal, pois perpassa as sociedades 
políticas,	é	algo	mais	profundo	que	elas,	constitui-se	na	própria	natureza	humana	
em	sua	universalidade	(ROHLING,	2012).	Segundo	Valls	(2003,	p.	8):
 
costuma-se	 separar	os	problemas	 teóricos	da	 ética	 em	dois	 campos:	
num,	os	problemas	gerais	e	fundamentais	(como	liberdade,	consciência,	
bem,	valor,	 lei	e	outros);	e	no	segundo,	os	problemas	específicos,	de	
aplicação	concreta,	como	os	problemas	da	ética	profissional,	de	ética	
política,	de	ética	sexual,	de	ética	matrimonial,	de	bioética	etc.
Em	outros	termos,	os	problemas	éticos	permeiam	todas	as	nossas	ações	em	
sociedade.	Neste	sentido,	vale	salientar	que	“cada	sociedade	possui	suas	normas	
de	conduta	comportamental	e	seus	princípios	morais,	ou	seja,	cada	grupo	social	
constitui	o	que	é	certo	e	errado,	o	que	é	o	bem	e	o	mal	para	o	seu	povo,	portanto,	
nem	sempre	o	que	é	certo	para	nós	pode	ser	certo	para	um	outro	grupo	social	e	
vice-versa”	(PIERITZ,	2013,	p.	4).
Então,	como	desvelar	esta	situação?	Como	saber	se	estamos	no	caminho	
certo?	Se	estamos	fazendo	certo	ou	errado?	Ou	se	realmente	estamos	fazendo	o	
bem	ou	o	mal	a	alguém?	São	muitas	indagações!
Para	 auxiliar	 a	 reflexão	 sobre	 essas	 questões,	 Finnis	 (filósofo	 e	 jurista	
australiano)	identifica	sete	valores	básicos,	os	quais	são	os	seguintes:	
I)	vida;	II)	o	conhecimento;	III)	o	 jogo;	IV)	a	experiência	estética;	V)	a	
sociabilidade;	VI)	a	razoabilidade	prática;	e,	VII)	a	religião.	Esses	valores,	
contudo,	não	são	os	únicos,	pois	existem,	evidentemente,	muitos	outros,	
os	quais,	segundo	propõe	o	autor,	são	modos	ou	combinações	de	modos	
de	buscar	–	embora	nem	sempre	com	sensatez	–	e	de	 realizar	–	nem	
sempre	exitosamente	–	uma	das	sete	formas	básicas	de	bem,	ou	alguma	
combinação	delas	(ROHLING,	2012,	p.	163).
Neste	sentido,	podemos	observar	ainda	que:
os	 problemas	 éticos	 se	 distinguem	 da	moral	 pela	 sua	 característica	
genérica,	 enquanto	 que	 a	 moral	 se	 caracteriza	 pelos	 problemas	 da	
vida	cotidiana.	O	que	há	de	comum	entre	elas	é	fazer	o	homem	pensar	
sobre	a	responsabilidade	das	consequências	de	suas	ações.	A	ética	faz	
pensar	sobre	as	consequências	universais,	sempre	priorizando	a	vida	
presente	e	futura,	local	e	global.	A	moral	faz	pensar	as	consequências	
grupais,	adverte	para	normas	culturalmente	formuladas	ou	pode	estar	
fundamentada	num	princípio	ético.	A	ética	pode,	desta	forma,	pautar	
o	comportamento	moral	(TOMELIN;	TOMELIN,	2002,	p.	90).
 
Podemos	expor	que	deste	ponto	de	vista	existem	diferenças	nítidas	entre	
ética	e	moral,	sendo	que	a	ética	é	generalista	e	a	moral	reflete	o	comportamento	
socialmente	construído	e	 legitimado	pelo	seu	povo.	Enfim,	Tomelin	e	Tomelin	
(2002,	 p.	 89,	 grifos	 do	 original)	 complementam	 expondo	 que	 “a	 palavra	 ética 
provém	do	grego	ethos	e	significa	hábitos,	costumes,	e	se	refere	à	morada	de	um	
povo	ou	sociedade.	A	palavra	moral	provém	do	latim	moralis	e	significa	costume,	
conduta”.	Logo,	conforme	Pieritz	(2012,	p.	58,	grifos	nosso):	
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
11
A principal função	da	ética	é	sugerir	qual	o	melhor	comportamento	
que	cada	pessoa	ou	grupo	social	tem	ou	venha	a	ter.	Indicando	o	que	
é	certo	ou	errado,	o	que	é	bom	ou	mal.	Porém,	este	comportamento	
sempre	 partirá	 do	 ponto	 de	 vista	 dos	 princípios	 morais	 de	 cada	
sociedade,	ou	seja,	seu	grupo	social.	A	ética	auxilia	no	esclarecimento	e	
na	explicação	da	realidade	cotidiana	de	cada	povo,	procurando	sempre	
elaborar	 seus	 conceitos	 conforme	 o	 comportamento	 correspondente	
de	cada	grupo	social.
 Por	conseguinte, “o	ético	transforma-se	assim	numa	espécie	de	legislador	
do	comportamento	moral	dos	indivíduos	ou	da	comunidade”	(VÁZQUEZ,	2005,	
p.	20),	ou	seja,	a	ética	está	para	regular	o	nosso	comportamento	em	sociedade.
Complementando,	Vázquez	(2005,	p.	21)	coloca-nos	que	“a	ética	é	teoria,	
investigação	 ou	 explicação	 de	 um	 tipo	 de	 experiência	 humana	 ou	 forma	 de	
comportamento	dos	homens	[...]”,	ou	seja,	“o	valor	de	ética	está	naquilo	que	ela	
explica	–	o	fato	real	daquilo	que	foi	ou	é	–,	e	não	no	fato	de	recomendar	uma	ação	
ou	uma	atitude	moral”	(PIERITZ,	2013,	p.	7,	grifo	nosso).
Devemos	 compreender	 as	 diferenças	 conceituais	 de	 ética	 e	moral,	 pois	
“podemos	 afirmar	 que	 a	 ética	 estuda	 e	 investiga	 o	 comportamento	moral	 dos	
seres	humanos.	E	esta	moral	é	constituída	pelos	diferentes	modos	de	viver	e	agir	
dos	 homens	 em	 sociedade,	 que	 é	 formada	 por	 suas	 diretrizes	morais	 da	 vida	
cotidiana,	transformando-se	no	decorrer	dos	tempos”	(PIERITZ,	2013,	p.	19).
Todavia, o que é a moral?
Segundo	Aranha	e	Martins	(2003,	p.	301,	grifos	do	original),	“a	MORAL 
vem	 do	 latim	 mos, moris,	 que	 significa	 ‘costume’,	 ‘maneira	 de	 se	 comportar	
regulada	 pelo	 uso’,	 e	 de	moralis, morale,	 adjetivo	 referente	 ao	 que	 é	 ‘relativo	
aos	 costumes’”.	Assim,	 a	moral	 é	 compreendida	 como	um	 conjunto	de	 regras	
de	condutas	socialmente	admitidas	em	determinadas	épocas	ou	por	um	grupo	
de	pessoas,	ou	seja,	“a	moralidade	dos	homens	é	um	reflexo	direto	do	modo	de	
ser	 e	 conviver	 em	 sociedade,	 no	 qual	 o	 caráter,	 os	 sentimentos	 e	 os	 costumes	
determinam	 o	 seu	 comportamento	 individual	 e	 social,	 que	 foi	 ou	 está	 sendo	
perpetuado	num	espaço	de	tempo”	(PIERITZ,	2013,	p.	35).	Ainda	de	acordo	com	
Pieritz	(2013,	p.	38):	
A	moral	sugere,	constantemente,	a	valorização	de	nossas	ações	e	de	
nossos	comportamentos	em	sociedade,	mas	é	a	moral	que	determinaquais	 são	 os	 nossos	 direitos	 e	 deveres	 perante	 a	 sociedade	 em	 que	
vivemos.	 Estes	 deveres	 são	 conectados	 ao	 nosso	 modo	 de	 ser	 e	
conviver	em	sociedade,	gerando	certas	responsabilidades	com	relação	
a	si	próprio	e	aos	outros,	tais	como:	
• sentimentos;
•	escolhas;	
•	desejos;	
•	atitudes;	
•	posicionamentos	diante	da	realidade;	
•	juízo	de	valor;	
•	senso	moral;
•	consciência	moral.	
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
12
Sob	estas	concepções	de	ética	e	moral,	apresentamos	as	suas	principais	
diferenças	na	Figura	3:
FIGURA 3 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL
FIGURA 4 – DIFERENÇAS ENTRE ÉTICA E MORAL
FONTE: Adaptado de Tomelin e Tomelin (2002, p. 89-90)
FONTE: Adaptado de Paulo Netto (apud BONETTI et al., 2010, p. 23)
Assim,	 podemos	 observar	 que	 existem	diferenças	 concretas	 entre	 estes	
dois	conceitos,	no	entanto,	ainda	devemos	compreender	que:
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
13
Assim,	concluímos	que	a	moral:
Vem	se	constituindo	historicamente,	mudando	no	decorrer	da	própria	
evolução	do	homem	em	sociedade.	Em	que	seus	hábitos	e	costumes	
são	constituídos	por	esta	relação	social,	em	que	a	essência	humana	é	
pautada	por	estes	princípios	morais.	E	estes,	por	sua	vez,	constituem	o	
ser	social	que	somos.	E	a	ética	nesta	questão	chega	para	simplesmente	
regular	e	analisar	estes	preceitos	morais	(PIERITZ,	2013,	p.	21).
Por	 conseguinte,	 segundo	 Pieritz	 (2013,	 p.	 21,	 grifo	 nosso),	 “a	 ética	
é	 precursora	 da	 TRANSFORMAÇÃO SOCIAL dos	 diversos	 sistemas	 ou	
estruturas	 sociais.	 Sistemas	 estes	 que	 imprimiam	 suas	 mudanças	 sociais,	 tais	
como:	Capitalismo	e	Socialismo”.
Por	fim,	Pieritz	(2013,	p.	21)	expõe	que	“quando	é	constituída	uma	nova	
estrutura	 social,	 a	 ética,	 os	 valores	 e	 princípios	 morais	 são	 modificados	 para	
constituir	assim	esta	nova	concepção	de	sociedade”.	Ou	seja,	historicamente,	com	
as	transformações	sociais,	políticas	e	econômicas	de	um	povo,	automaticamente	
o	sistema	de	valores	morais	e	éticos	se	transforma,	para	que	assim	seja	possível	
constituir	um	novo	padrão	sócio-histórico	daquele	determinado	grupo.
Salientando	ainda	que	nesse	processo	de	transformação	social	devemos	
respeitar	 a	 permanência	 de	 alguns	 valores	 socialmente	 construídos,	 como	 a	
solidariedade,	a	igualdade	e	a	fraternidade,	para	que	todos	possamos	construir	
uma	sociedade	mais	justa,	ética,	democrática	e	cidadã.
4 O PRINCÍPIO CONSTITUCIONAL DA CIDADANIA
No	 que	 tange	 às	 questões	 pertinentes	 à	 cidadania,	 partiremos	 de	 sua	
concepção	advinda	do	Título	I	–	“Dos	Princípios	Fundamentais”	da	Constituição	
da	República	Federativa	do	Brasil	de	1988,	a	qual	assim	expressa:
Art.	 1º	 A	 República	 Federativa	 do	 Brasil,	 formada	 pela	 união	
indissolúvel	dos	Estados	e	Municípios	e	do	Distrito	Federal,	constitui-
se	em	Estado	democrático	de	direito	e	tem	como	fundamentos:	
I	-	a	soberania;	
II - a cidadania; 
III	-	a	dignidade	da	pessoa	humana;	
IV	-	os	valores	sociais	do	trabalho	e	da	livre	iniciativa;	
V	-	o	pluralismo	político.	
Parágrafo	 único.	 Todo	 o	 poder	 emana	 do	 povo,	 que	 o	 exerce	 por	
meio	 de	 representantes	 eleitos	 ou	 diretamente,	 nos	 termos	 desta	
Constituição.
Neste	sentido,	podemos	observar	que	um	dos	princípios	fundamentais	da	
Carta	Magna	brasileira	é	a	cidadania,	mas	você	sabe	o	seu	significado?
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
14
Vejamos:	cidadania	“é	um	conjunto	de	direitos	e	deveres	que	denotam	e	
fundamentam	as	condições	do	comportamento	de	cada	indivíduo	em	relação	à	
sociedade,	ou	seja,	a	cidadania	designa	normas	de	conduta	para	o	convívio	social,	
determinando	nossas	obrigações	e	direitos	perante	os	outros	integrantes	da	nossa	
sociedade”	(PIERITZ,	2013,	p.	132).	Neste	sentido:	
Ser	 cidadão	é	 respeitar	 e	participar	das	decisões	da	 sociedade,	para	
melhorar	 suas	 vidas	 e	 a	 de	 outras	 pessoas.	 Ser	 cidadão	 é	 nunca	
esquecer	 das	 pessoas	 que	 mais	 necessitam.	 A	 cidadania	 deve	 ser	
divulgada	através	de	instituições	de	ensino	e	meios	de	comunicação,	
para	o	bem-estar	e	desenvolvimento	da	nação.	A	cidadania	consiste	
desde	o	gesto	de	não	jogar	papel	na	rua,	não	pichar	os	muros,	respeitar	
os	 sinais	 e	 placas,	 respeitar	 os	 mais	 velhos	 (assim	 como	 todas	 as	
outras	pessoas),	não	destruir	telefones	públicos,	saber	dizer	obrigado,	
desculpe,	por	favor	e	bom	dia	quando	necessário	[...],	até	saber	lidar	
com	o	abandono	e	a	exclusão	das	pessoas	necessitadas,	o	direito	das	
crianças	 carentes	 e	 outros	 grandes	 problemas	 que	 enfrentamos	 em	
nosso	país.	‘A	revolta	é	o	último	dos	direitos	a	que	deve	um	povo	livre	
para	garantir	os	interesses	coletivos:	mas	é	também	o	mais	imperioso	
dos	deveres	impostos	aos	cidadãos’.	Juarez	Távora	-	Militar	e	político	
brasileiro	(WEB	CIÊNCIA,	2009	apud	PIERITZ,	2013,	p.	132).
Portanto,	podemos	observar	que	a	cidadania	possui	três	dimensões.
QUADRO 5 – DIMENSÕES DA CIDADANIA
FONTE: Adaptado de Pieritz (2013, p. 132-133)
	DIMENSÕES	DA	CIDADANIA
Cidadania 
civil
São	aqueles	direitos	advindos	da	LIBERDADE de cada indivíduo, 
por	exemplo:	
	 •	 o	livre-arbítrio	para	expressar	nossos	pensamentos;	
	 •	 o	direito	de	propriedade	(venda	e	compra	de	um	
	 	 imóvel,	um	bem	ou	serviço);	
	 •	 entre	outros.
Cidadania 
política
Podemos	considerar	que	a	cidadania	política	se	legitima	quando	
os	 homens	 exercem seu poder político de ELEGER e SER 
ELEITOS	para	o	exercício	do	poder	político,	independentemente	
da	 instituição	pública	 ou	privada	na	 qual	 venham	exercer	 suas	
atribuições.
Cidadania 
social
Compreendida como o conjunto de direitos concernentes ao 
CONFORTO de cada cidadão,	no	que	tange	à	sua	vida	econômica	
e	social,	ou	seja,	do	seu	bem-estar	social.
A	cidadania	expressa	os	direitos	e	deveres	de	todas	as	pessoas	que	vivem	
e	 convivem	em	sociedade,	 seja	na	esfera	 social,	política	ou	 civil,	no	que	 tange	
ao	respeito	a	si,	ao	próximo	e	ao	patrimônio	público	e	privado.	Além	de	que	a	
cidadania	é	participação	nos	espaços	públicos	de	discussão,	a	qual	permeia	as	
questões	de	democracia	e	ética	de	toda	a	população	daquele	determinado	grupo	
social,	político	ou	econômico.
TÓPICO 1 | DEMOCRACIA, ÉTICA E CIDADANIA
15
Deste	modo,	Maciel	 (2012,	 p.	 29)	 expõe	 que	hoje	 em	dia	 a	 cidadania	 é	
“sinônimo	de	participação	que	remete	ao	exercício	da	democracia	para	além	das	
eleições.	Somos	‘controladores’	da	política,	do	orçamento,	ou	seja,	das	ações	do	
Estado	como	um	todo”.	Cada	cidadão	tem	o	dever	e	o	direito	de	participar	de	
todos	os	espaços	democráticos	do	seu	município,	Estado	ou	Federação.
Nesse	sentido,	tem-se	a	participação	como	um	mecanismo	do	exercício	da	
cidadania,	ou	seja,	“O	conceito	contemporâneo	de	cidadania	transcende	a	simples	
lógica	da	garantia	de	direitos	 legais.	Segundo	a	concepção	de	Dallari	 (2004),	a	
cidadania	expressa	um	conjunto	de	direitos	que	dá	à	pessoa	a	possibilidade	de	
participar	da	vida	e	do	governo	de	seu	povo”	(MACIEL,	2012,	p.	31).	Portanto,	
a	palavra	de	ordem	é	“participar”,	fazer	parte	do	processo	democrático,	pois,	de	
acordo	com	Maciel	(2012,	p.	32),	quem	não	exerce	sua	cidadania	“está	excluído	
da	 vida	 social	 e	 da	 tomada	 de	 decisões.	 A	 cidadania	 não	 significa	 apenas	
uma	 conquista	 legal	 de	 alguns	 direitos,	 mas	 sim	 a	 realização	 destes	 direitos.	
Ela	 é	 construída	 e	 conquistada	 a	 partir	 da	 nossa	 capacidade	 de	 organização,	
participação	e	intervenção	social”.
Vale	salientar	que	a	cidadania	é	conquistada	pela	nossa	participação	nos	
momentos	das	discussões	e	decisões	coletivas,	portanto	a	cidadania	se	dá	pela	
participação	ativa	de	nossa	vida	em	sociedade	e	na	vida	pública.
16
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	 compreensão	 do	 significado	 mais	 usual	 da	 democracia	 denota	 que	 a	
democracia	é	compreendida	como	um	sistema de governo,	no	qual	o	povo	
governa	para	sua	própria	sociedade.
•	 A	democracia	pode	ser	exercida	de	duas	formas	distintas,	pois	ela	pode	ser	
direta	ou	indireta.
•	 	 A	 democracia	 é	 compreendida	 popularmentecomo	 a	 escolha	 de	 nossos	
representantes	legais,	por	intermédio	do	voto	popular.
•	 O	Estado	Democrático	de	direito,	que	é	aquele	Estado	que	se	organiza	e	opera	
democraticamente.
•	 A	Constituição	da	República	Federativa	do	Brasil	se	organizou	e	definiu	suas	
normativas	em	prol	de	um	Estado	Democrático, no	qual	a	democracia	deverá	
ser	a	base	fundamental	da	República	Federativa	do	Brasil.
•	 A	 democracia	 também	 está	 atrelada	 ao	 conceito	 do	 “jogo	 de	 poderes”,	
principalmente	 a	 disputa	 e	 concorrência	 de	 cargos	 em	 todas	 as	 esferas	
governamentais	ou	não.	
•	 É	 importante	 relembrar	 que	 o	 elemento	 fundamental	 da	 democracia	 é	 a	
“participação	do	povo”.	
•	 A	ética	é	uma	das	áreas	da	filosofia que	investiga	o	agir	humano	na	convivência	
com	os	outros.
•	 	 A	 ética	 está	 diretamente	 relacionada	 aos	 nossos	 costumes	 e	 às	 ações	 em	
sociedade,	 ou	 seja,	 ao	 nosso	 comportamento,	 ao	 nosso	modo	 de	 vida	 e	 de	
convivência	com	os	outros	integrantes	da	sociedade.
•	 Todos	nós	possuímos	princípios	e	valores	que	foram	e	são	constituídos	por	
nossa	sociedade.	E,	com	relação	a	estes	valores,	cada	um	de	nós	possui	uma	
visão	do	que	é	certo	e	errado,	do	que	é	o	bem	e	o	mal.
•	 A	consciência	moral	é	determinada	por	um	consenso	coletivo	e	social,	ou	seja,	
o	conjunto	da	sociedade	é	que	formula	e	compõe	as	normas	de	conduta	que	o	
regem.	
•	 Os	problemas	éticos	permeiam	todas	as	nossas	ações	em	sociedade.
 
RESUMO DO TÓPICO 1
17
•	 Existem	diferenças	nítidas	entre	ética	e	moral,	sendo	que	a	ética	regula	a	moral,	
a	ética	é	generalista	e	a	moral	reflete	o	comportamento	socialmente	construído	
e	legitimado	pelo	seu	povo.
•	 A	principal	função	da	ética	é	sugerir	qual	o	melhor	comportamento	que	cada	
pessoa	ou	grupo	social	tem	ou	venha	a	ter.	Indicando	o	que	é	certo	ou	errado,	
o	que	é	bom	ou	mal.	
•	 O	valor	da	ética	está	naquilo	que	ela	explica,	o	fato	real	daquilo	que	foi	ou	é,	e	
não	no	fato	de	recomendar	uma	ação	ou	uma	atitude	moral.
•	 Um	dos	princípios	fundamentais	da	Carta	Magna	brasileira	é	a	cidadania.
•	 A	cidadania	designa	normas	de	conduta	para	o	convívio	social,	determinando	
nossas	obrigações	e	direitos	perante	os	outros	integrantes	da	nossa	sociedade.
•	 A	cidadania	expressa	os	direitos	e	deveres	de	todas	as	pessoas	que	vivem	e	
convivem	em	sociedade,	seja	na	esfera	social,	política	ou	civil,	no	que	tange	ao	
respeito	a	si,	ao	próximo	e	ao	patrimônio	público	e	privado.	
•	 Cada	 cidadão	 tem	 o	 dever	 e	 o	 direito	 de	 participar	 de	 todos	 os	 espaços	
democráticos	 do	 seu	 município,	 Estado	 ou	 Federação.	 A	 participação	 é	
compreendida	como	um	mecanismo	do	exercício	da	cidadania.
18
1 (ENADE-2010,	 Formação	 Geral,	 Questão	 9)	 As	 seguintes	 acepções	 dos	
termos	democracia	e	ética	foram	extraídas	do	Dicionário	Houaiss	da	Língua	
Portuguesa.
democracia. POL.	1 governo	do	povo;	 governo	 em	que	 o	 povo	
exerce	 a	 soberania	 2 sistema	 político	 cujas	 ações	 atendem	 aos	
interesses	populares	3 governo	no	qual	o	povo	toma	as	decisões	
importantes	 a	 respeito	 das	 políticas	 públicas,	 não	 de	 forma	
ocasional	ou	circunstancial,	mas	segundo	princípios	permanentes	
de	legalidade	4 sistema	político	comprometido	com	a	igualdade	
ou	com	a	distribuição	equitativa	de	poder	entre	todos	os	cidadãos	
5 governo	que	acata	a	vontade	da	maioria	da	população,	embora	
respeitando	os	direitos	e	a	livre	expressão	das	minorias.
ética. 1 parte	 da	 filosofia	 responsável	 pela	 investigação	 dos	
princípios	 que	motivam,	 distorcem,	 disciplinam	 ou	 orientam	 o	
comportamento	humano,	 refletindo	especialmente	a	 respeito	da	
essência	das	normas,	valores,	prescrições	e	exortações	presentes	
em	qualquer	realidade	social.	2 p.ext. conjunto	de	regras	e	preceitos	
de	ordem	valorativa	e	moral	de	um	indivíduo,	de	um	grupo	social	
ou	de	uma	sociedade.
Dicionário	Houaiss	da	Língua	Portuguesa.	Rio	de	Janeiro:	Objetiva,	2001.
Considerando	as	acepções	acima,	elabore	um	texto	dissertativo,	com	até	15	linhas,	
acerca	do	seguinte	tema: Comportamento ético nas sociedades democráticas.
Em	seu	texto,	aborde	os	seguintes	aspectos:
a)	conceito	de	sociedade	democrática;	
b)	evidências	de	um	comportamento	não	ético	de	um	indivíduo;	
c)	 exemplo	 de	 um	 comportamento	 ético	 de	 um	 futuro	 profissional	
comprometido	com	a	cidadania.	
2	(ENADE-2010,	Formação	Geral,	Questão	2)
AUTOATIVIDADE
19
A	charge	acima	representa	um	grupo	de	cidadãos	pensando	e	agindo	de	modo	
diferenciado,	 frente	 a	 uma	 decisão	 cujo	 caminho	 exige	 um	 percurso	 ético.	
Considerando	a	imagem	e	as	ideias	que	ela	transmite,	avalie	as	alternativas	
que	seguem.
I-	A	ética	não	se	impõe	imperativamente	nem	universalmente	a	cada	cidadão;	
cada	um	terá	que	escolher	por	si	mesmo	os	seus	valores	e	ideias,	isto	é,	praticar	
a	autoética.
II-	A	ética	política	supõe	sujeito	responsável	por	suas	ações	e	pelo	seu	modo	
de	agir	na	sociedade.
III-	A	ética	pode	se	reduzir	ao	político,	do	mesmo	modo	que	o	político	pode	se	
reduzir	à	ética,	em	um	processo	a	serviço	do	sujeito	responsável.
IV-	A	ética	prescinde	de	condições	históricas	e	sociais,	pois	é	no	homem	que	se	
situa	a	decisão	ética,	quando	ele	escolhe	os	seus	valores	e	as	suas	afinidades.
V-	 A	 ética	 se	 dá	 de	 fora	 para	 dentro,	 como	 compreensão	 do	 mundo,	 na	
perspectiva	do	fortalecimento	dos	valores	pessoais.
Estão	corretas:
a)	 (	 )	 I	e	II.	
b)	 (	 )	 I	e	V.	
c)	 (	 )	 II	e	IV.	
d)	(	 )	 III	e	IV.	
e)	 (	 )	 III	e	V.
20
21
TÓPICO 2
SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Vamos	iniciar	o	nosso	tópico	apresentando	algumas	definições	e	conceitos	
a	respeito	dos	problemas	sociais	ocasionados	pela	diversidade	que	gera	diferenças	
entre	 coisas	 e	 seres,	 que	 por	 consequência	 geram	 os	mais	 diversos	 preconceitos,	
desigualdades	e	conflitos	sociais.
Vamos	reconhecer	a	necessidade	e	a	essencialidade	da	inclusão	como	uma	
forma	de	democratização	das	relações	sociais,	principalmente	na	emancipação	e	na	
sutileza	do	trato	com	o	outro,	seja	em	relação	aos	“iguais”	ou	entre	iguais	e	diferentes,	
o	que	 significa	apenas	uma	concepção	criada	para	diferenciar	pessoas	ou	grupos	
sociais	que,	de	alguma	forma,	ainda	não	foram	incluídos	no	contexto	social.
2 CONCEITOS DE DIVERSIDADE CULTURAL E 
DESIGUALDADE SOCIAL
A	diversidade	cultural	e	a	desigualdade	social,	apesar	de	terem	conceitos	
distintos,	 desempenham	 uma	 ampla	 relação	 entre	 seus	 termos,	 isto	 é,	 quanto	
maior	for	a	diversidade	cultural,	maior	será	a	desigualdade	social.	
Neste	sentido,	Gomes	(2012,	p.	678)	afirma	que	“a	diversidade,	entendida	
como	 construção	 histórica,	 social,	 cultural	 e	 política	 das	 diferenças,	 realiza-se	
em	meio	 às	 relações	 de	 poder	 e	 ao	 crescimento	 das	 desigualdades	 e	 da	 crise	
econômica	que	se	acentuam	no	contexto	nacional	e	internacional”.
A	diversidade	cultural	brasileira	 se	deu	pelo	processo	de	miscigenação	
entre	brancos,	índios	e	negros	e	foi	marcada	por	uma	série	de	crenças,	hábitos,	
costumes	 e	 conceitos	 contraditórios,	 alimentando	 assim	 uma	 discussão	
permanente	a	respeito	dos	direitos	e	deveres	dos	seres	humanos.	Principalmente	
no	 combate	 aos	 preconceitos	 remanescentes	 e	 oriundos	 dessa	 relação,	 que	
perdurou	por	séculos,	trazendo	sérias	consequências	a	uma	imensa	população	de	
oprimidos,	incluindo-se	aí	os	negros,	os	índios,	os	pobres,	os	portadores	de	algum	
tipo	de	deficiência,	tipos	de	preferências,	relações	e	diferenças	sexuais,	doenças	
crônicas,	dentre	outras	 formas	de	relações	consideradas	por	uma	boa	parte	da	
sociedade	como	algo	fora	da	normalidade	e,	por	esse	motivo,	não	aceitável.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
22
3 DIVERSIDADE CULTURAL E DESIGUALDADE SOCIAL
A	diversidade	no	contexto	cultural	significa	uma	grande	quantidade	de	
coisas,	ações,	pensamentos,	ideias	e	pessoas	que	se	diferenciam	entre	si	dentro	de	
grupos	sociais	ou	dentro	de	uma	mesma	sociedade,	e	os	mesmos	são	passíveis	
de	 discussão,	 apelos,	 protestos,	 discórdia	 e	 geralmenteacabam	 em	 conflitos,	
chegando	até	às	desigualdades	sociais.		
Por	isso,	a	presença	da	diversidade	no	acontecer	humano	nem	sempre	
garante	um	trato	positivo	dessa	diversidade.	Os	diferentes	contextos	
históricos,	 sociais	 e	 culturais,	 permeados	 por	 relações	 de	 poder	 e	
dominação,	 são	 acompanhados	de	uma	maneira	 tensa	 e,	 por	 vezes,	
ambígua	de	lidar	com	o	diverso.	Nessa	tensão,	a	diversidade	pode	ser	
tratada	de	maneira	desigual	e	naturalizada	(GOMES,	2007,	p.	19).
No	 entanto,	 existem	 pontos	 de	 vista	 convergentes	 e	 pontos	 de	 vista	
divergentes,	ambos	discriminatórios,	um	no	sentido	positivo	e	outro	no	sentido	
negativo,	 isto	 é,	 no	 primeiro	 caso,	 trata-se	 daquilo	 que	 já	 foi	 estipulado	 pela	
sociedade	como	regras	relacionadas	com	bom	senso;	já	no	segundo	caso,	são	ações	
que	não	condizem	com	a	ordem	preestabelecida	através	das	leis,	normas	e	regras	
que	 regulam	 e	 inibem	 o	 que	 podemos	 definir	 como	 procedimentos	 absurdos.	
Portanto,	a	desigualdade	social	tem	os	seus	princípios	pautados	nas	tendências	e	
nas	diferenças	de	cada	indivíduo.	Vejamos:
A	 pobreza:	 é	 uma	 condição	 que	 faz	 parte	 de	 um	 determinado	 grupo	
de	pessoas	 que	vivem	à	margem	da	 sociedade,	 que	 são	 carentes	dos	 recursos	
existentes,	como	moradia,	alimentação,	situação	financeira	etc.	O	que,	na	visão	
de	alguns	autores,	é	a	condição	que	mais	degrada	o	ser	humano	e	a	que	mais	se	
aproxima	e	se	identifica	como	um	fator	ou	um	elemento	causal	do	desequilíbrio	
econômico	e	da	desigualdade	social.
Raça:	trata-se	da	discriminação	social,	o	que	é	muito	presente	nos	dias	de	
hoje	por	alguns	grupos	inescrupulosos	que	agridem	com	palavras	ou	pela	violência	
física	pessoas	que	não	são	da	mesma	etnia,	não	têm	a	mesma	cor	da	pele,	ou	são	de	
diferentes	religiões	ou,	até	mesmo,	por	causa	de	seu	comportamento	sexual.	
A	 discriminação	 racial	 diz	 respeito	 à	 raça/cor/fenótipo,	 que	 é	 um	 fator	
inerente	 à	pessoa.	Tal	discriminação	 é	 abominável,	 assim	como	a	discriminação	
a	 deficientes	 físicos	 ou	 idosos,	 pois	 tratam-se	 de	 aspectos	 involuntários	 e	 que,	
ademais,	revelam	a	riqueza	multifacetada	da	ordem	criada,	da	diversidade	natural.	
Outro	tipo	de	discriminação	é	a	avaliação	dos	atos	e	comportamentos,	seja	
na	escolha	de	uma	religião	e	suas	práticas	ou	nas	ações	que	envolvem	a	sexualidade,	
entre	outros	aspectos	do	comportamento	humano,	pois	nesses	casos	não	se	trata	
de	aspectos	inerentes	ou	involuntários,	mas	de	opções	sobre	as	quais	podemos	[e	
devemos]	fazer	 juízos	morais.	Do	contrário,	por	que	estaríamos	discutindo	isso?	
Será	 que	 o	 ser	 humano,	 com	 toda	 capacidade	 de	 raciocínio	 e	 reflexão	 sobre	 si	
mesmo,	reconhece	a	riqueza	da	pessoa?	Haveria	alguma	etnia	“melhor”	que	outra?
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
23
Podemos	citar	como	exemplo	o	que	aconteceu	com	os	judeus,	conhecido	
como	o	holocausto,	ou	o	caso	da	África	do	Sul,	que	teve	repercussão	mundial,	
também	conhecido	como	segregação	 racial	 (Apartheid),	 que	 significa	 separação	
entre	negros	e	os	brancos	das	classes	dominantes.
DICAS
Sugerimos que você assista ao filme Mandela, que fala sobre a vida do ex-
presidente da África do Sul e líder da luta contra o Apartheid. O filme tem como diretor 
Justin Chadwick.
Como	podemos	perceber,	o	preconceito,	a	discriminação	e	o	descaso	com	
algumas	pessoas	têm	ocasionado	uma	série	de	sofrimento	e	dor,	principalmente	
para	aquelas	que	são	rejeitadas	por	uma	grande	parte	da	sociedade,	em	que	as	
mesmas	são	 julgadas	e	condenadas	ao	mesmo	tempo,	após	serem	classificadas	
como	diferentes,	porém,	diferentes	no	sentido	tendencioso	e	pejorativo,	e	muitas	
vezes	 essas	 pessoas	 são	 taxadas	 e	 rotuladas	 como	 pervertidas,	 no	 caso	 dos	
homossexuais,	e	frágeis,	no	caso	das	mulheres.	Vejamos:
Mulher:	infelizmente,	as	estatísticas	comprovam	que	apesar	das	várias	leis	
existentes,	no	caso	específico	da	Lei	Maria	da	Penha,	instituída	para	a	proteção	
da	integridade	da	mulher	brasileira	contra	casos	de	violência	doméstica,	ainda	
existem	casos	absurdos	de	desrespeito	à	dignidade	humana,	não	discriminando	
raça,	religião	ou	posição	social.
Homossexualidade:	é	o	comportamento	sexual	entre	pessoas	do	mesmo	
sexo,	e	para	alguns	 indivíduos	esse	 tipo	de	comportamento	 fere	as	normas	de	
conduta	universal.	No	entanto,	 já	existem	projetos	no	Congresso	Nacional	que	
criminalizam	certas	atitudes	discriminatórias	contra	essa	parcela	da	sociedade,	o	
que	significa	um	avanço	na	busca	de	um	espaço	alternativo,	o	que	é	perfeitamente	
compreensivo	em	uma	sociedade	cultural	democrática.
De	 acordo	 com	 Silva	 (2007,	 p.	 133),	 “[...]	 os	 diferentes	 grupos	 sociais,	
situados	 em	 posições	 diferenciadas	 de	 poder,	 lutam	 pela	 imposição	 de	 seus	
significados	 à	 sociedade	mais	 ampla”.	Assim,	 é	 fundamental	 que	 percebamos	
as	diferenças	e	desigualdades	não	de	forma	natural,	mas	como	uma	construção	
histórica	possível	de	ser	desestabilizada	em	sua	forma	rígida,	para	ser	transformada	
em	algo	que	possa	ser	identificado	e	reconhecido	como	base	para	a	construção	de	
relações	 interpessoais	mais	democráticas	dentro	da	 sociedade,	 isto	é,	devemos	
pensar	e	repensar	o	seu	conceito	histórico	e	a	sua	trajetória	futura,	pois,	de	acordo	
com	Gomes	(2007,	p.	22):		
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
24
A	diversidade	cultural	varia	de	contexto	para	contexto.	Nem	sempre	aquilo	
que	julgamos	como	diferença	social,	histórica	e	culturalmente	construída	
recebe	 a	mesma	 interpretação	 nas	 diferentes	 sociedades.	Além	 disso,	 o	
modo	de	ser	e	de	interpretar	o	mundo	também	é	variado	e	diverso.
Por	 isso,	 a	 diversidade	 precisa	 ser	 entendida	 em	 uma	 perspectiva	
relacional.	 Ou	 seja,	 as	 características,	 os	 atributos	 ou	 as	 formas	
‘inventadas’	pela	cultura	para	distinguir	tanto	o	sujeito	quanto	o	grupo	
a	que	ele	pertence	dependem	do	lugar	por	eles	ocupado	na	sociedade	
e	da	relação	que	mantêm	entre	si	e	com	os	outros.	
Portanto,	 o	 caráter	 multicultural	 de	 nossas	 sociedades	 revela-se	 hoje	
temática	 quase	 obrigatória	 nas	 discussões	 sobre	 sociedade	 e	 sobre	 educação.	
Porém,	 refletir	 sobre	 a	diversidade	 exige	um	posicionamento	 crítico	diante	de	
uma	realidade	cultural	e	racialmente	miscigenada,	assunto	que,	apesar	de	já	ter	
sido	discutido	anteriormente,	achamos	prudente	e	viável	inserir	neste	parágrafo	
outra	opinião,	que	confirma	as	anteriores	a	respeito	do	processo	de	miscigenação.	
“Não	podemos	esquecer	que	a	sociedade	é	construída	em	contextos	históricos,	
socioeconômicos	 e	 políticos	 tensos,	 marcados	 por	 processos	 de	 colonização	 e	
dominação.	Estamos,	portanto,	no	terreno	das	desigualdades,	das	identidades	e	das	
diferenças”	(GOMES,	2007,	p.	22).	E	ainda	segundo	Gomes	(2003,	p.	73):
O	 reconhecimento	 dos	 diversos	 recortes	 dentro	 da	 ampla	 temática	
da	 diversidade	 cultural	 (negros,	 índios,	 mulheres,	 portadores	 de	
necessidades	 especiais,	 homossexuais,	 entre	 outros)	 coloca-nos	
frente	a	frente	com	a	luta	desses	e	outros	grupos	em	prol	do	respeito	
à	 diferença.	 Coloca-nos	 também	 diante	 do	 desafio	 de	 implementar	
políticas	públicas	em	que	a	história	e	a	diferença	de	cada	grupo	social	e	
cultural	sejam	respeitadas	dentro	das	suas	especificidades,	sem	perder	
o	rumo	do	diálogo,	da	troca	de	experiências	e	da	garantia	dos	direitos	
sociais.	A	luta	pelo	direito	e	pelo	reconhecimento	das	diferenças	não	
pode	se	dar	de	forma	separada	e	isolada	e	nem	resultar	em	práticas	
culturais,	políticas	e	pedagógicas	solidárias	e	excludentes.
No	entanto,	a	diversidade	e	a	diferença	dizem	respeito	não	somente	aos	
sinais	que	podem	ser	vistos	a	olho	nu,	mas	também	àqueles	que	são	construídos	
socialmente	ao	longo	de	um	processo	histórico,	tendo	os	seus	pontos	divergentes	
e	convergentes,	que	são	construídos	através	das	relações	sociais	e,	principalmente,	
nas	relações	de	poder	e	de	submissão,	e	para	algumas	pessoas,	nem	sempre	esse	
posicionamento	é	entendido	dessa	forma.	
Como	 nos	 diz	 Carlos	 RodriguesBrandão	 (1986	 apud	 GOMES,	 2007,	 p.	
25),	“por	diversas	vezes,	os	grupos	humanos	 tornam	o	outro	diferente	para	 fazê-
lo	 inimigo”.	Aprofundando	essa	reflexão,	 tomamos	como	exemplo	a	Constituição	
Federal	de	1988,	que	trata	no	Artigo	5º	dos	Direitos	e	Deveres	Individuais	e	Coletivos:
Art.	 5º	 Todos	 são	 iguais	 perante	 a	 lei,	 sem	 distinção	 de	 qualquer	
natureza,	garantindo-se	 aos	brasileiros	 e	 aos	 estrangeiros	 residentes	
no	País	a	inviolabilidade	do	direito	à	vida,	à	liberdade,	à	igualdade,	à	
segurança	e	à	propriedade,	nos	termos	seguintes:
I	-	homens	e	mulheres	são	iguais	em	direitos	e	obrigações,	nos	termos	
desta	Constituição;
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
25
II	 -	ninguém	será	obrigado	a	 fazer	ou	deixar	de	 fazer	 alguma	coisa	
senão	em	virtude	de	lei;
III	-	ninguém	será	submetido	a	tortura	nem	a	tratamento	desumano	ou	
degradante;	[...]	(BRASIL,	1988,	s.p.).
Neste	 sentido,	 surgem	 algumas	 perguntas	 relacionadas	 à	 diversidade	
humana	 e	 seus	 direitos:	 se	 “todos	 são	 iguais	 perante	 a	 lei,	 sem	 distinção	 de	
qualquer	 natureza”,	 tendo	 reconhecidas	 suas	 individualidades	 de	 homem	 e	
mulher	como	cidadãos,	por	que	tanto	se	discute	sobre	as	“questões	de	gênero”?	
Será	que	essa	ideologia	propõe	a	valorização	da	pessoa	humana?	Ou	está	disposta	
a	trazer	divisão,	confusão	de	ideias	ou	até	mesmo	a	negação	da	ordem	natural?	
Ao	 privilegiar	 determinados	 grupos	 em	 detrimento	 de	 outros,	 não	 estaria	
contrariando	a	própria	Constituição?
Acadêmico,	 são	 muitos	 os	 questionamentos,	 e	 conforme	 destacado	 na	
apresentação	deste	livro,	“aprender a questionar é tão importante quanto buscar 
o saber”.	Por	 isso,	nosso	propósito	é	 estimular	o	 seu	 raciocínio	 crítico	 sobre	a	
realidade	 em	 que	 vivemos,	 em	 um	 tempo	 de	 profundas	 e	 rápidas	mudanças	
culturais,	um	tempo	de	aumento	do	individualismo,	da	comunicação	quase	que	
exclusivamente	on-line,	em	que	pouco	se	ouve,	vê,	toca	ou	sente.	O	diálogo	é	o	
caminho	que	nos	une,	 revela	nossa	 capacidade	de	 aprender	 com	o	próximo	 e	
permite	que	as	diferenças	favoreçam	a	complementariedade	promotora	da	paz.
Pensar	 na	 diversidade	 cultural	 é	 pensar	 em	 sociedade,	 que	 envolve	
pensamento,	 ideia,	 ação	 e	 mudanças,	 isto	 é,	 significa	 pensar	 não	 apenas	 no	
reconhecimento	do	outro,	mas	pensar	na	relação	entre	o	eu	e	o	outro,	pois,	quando	
consideramos	o	outro	estamos	 também	considerando	a	nossa	história,	o	nosso	
grupo	e	o	nosso	povo,	mas	não	apenas	como	um	simples	padrão	de	comparação,	
e	sim	em	sua	totalidade.	
FIGURA 5 – DIVERSIDADE CULTURAL
FONTE: Disponível em: <http://educacaobilingue.com/2010/01/17/indigena/>. 
Acesso em: 12 fev. 2014.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
26
Nessa	 perspectiva,	 percebemos	 que	 “somos	 todos	 iguais	 como	 seres	
humanos.	 Por	 isso	 devemos	 combater	 qualquer	 forma	 de	 discriminação	 e	 de	
arrogância,	agindo	solidariamente	uns	com	os	outros”	(AQUINO	et	al.,	2002,	p.	
16).	O	ser	humano	veio	ao	mundo	não	somente	para	compor	ou	contribuir	para	o	
povoamento	da	Terra,	mas	para	ser	útil,	participativo,	democrático,	ético,	moral	
e	solidário	para	com	os	seus	semelhantes.	
Essas	são	as	diversas	opções	existentes,	que	além	de	motivadoras,	também	
servem	como	estímulo	na	adaptação	do	ser	humano,	bem	como	no	seu	processo	
de	desenvolvimento	pessoal	 frente	às	diversidades	existentes	no	universo,	que	
poderíamos	denominá-las	como	um	conjunto	de	atos	e	fatos	diferentes	entre	si	
que	formam	a	sociedade	como	um	todo.	Para	Saji	(2005,	p.	13),	“o	tema	diversidade	
é	bastante	amplo.	Sua	abordagem	vai	desde	definições	restritas	às	questões	de	
raça,	etnia	e	gênero,	até	as	mais	abrangentes,	que	consideram	como	diversidade	
qualquer	diferença	individual	entre	as	pessoas”.
AUTOATIVIDADE
Chegou	a	sua	vez!
Escreva	o	seu	conceito	para	Diversidade.
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Assim,	a	diversidade	faz	parte	da	natureza	das	coisas	existenciais,	sendo	
elas	 a	 diversidade	 relacionada	 à	 situação	 socioeconômica,	 ou	 à	 diversidade	
cultural,	em	que	as	mesmas	foram	se	transformando	em	essência	no	decorrer	dos	
tempos,	principalmente	em	se	tratando	das	diferenças	relacionadas	às	diferentes	
raças	e	suas	manifestações	culturais,	incluindo-se	aí	a	sua	descendência,	que,	por	
consequência,	deixam	de	fazer	parte	da	cultura	original	e	passam	a	fazer	parte	
de	outra	cultura	produzida	para	atender	a	uma	demanda	econômica.	Como	foi	
o	 caso	 da	 cultura	 da	 cana-de-açúcar,	 explorada	 pelos	 grandes	 latifundiários,	
gerando	 um	 longo	 período	 de	 uma	 relação	 conflitante	 e	 tumultuada	 entre	 o	
poder	daqueles	grupos	de	exploradores	e	a	submissão	dos	negros,	dos	 índios,	
das	mulheres,	das	crianças	e	adolescentes.	
Nenhum	povo	que	passasse	por	isso	como	sua	rotina	de	vida,	através	
de	séculos,	sairia	dela	sem	ficar	marcado	indelevelmente.	Todos	nós,	
brasileiros,	somos	carne	da	carne	daqueles	pretos	e	índios	supliciados.	
Todos	nós	brasileiros	somos,	por	igual,	a	mão	possessa	que	os	supliciou.	
A	doçura	mais	terna	e	a	crueldade	mais	atroz	aqui	se	conjugaram	para	
fazer	de	nós	a	gente	sentida	e	sofrida	que	somos	e	a	gente	insensível	e	
brutal,	que	também	somos.	Descendentes	de	escravos	e	de	senhores	de	
escravos,	seremos	sempre	servos	da	malignidade	destilada	e	instalada	
em	 nós,	 tanto	 pelo	 sentimento	 da	 dor	 intencionalmente	 produzida	
para	doer	mais,	quanto	pelo	exercício	da	brutalidade	sobre	homens,	
sobre	mulheres,	 sobre	 crianças	 convertidas	 em	pasto	de	nossa	 fúria	
(RIBEIRO,	1995,	p.	120).
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
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AUTOATIVIDADE
Qual	o	seu	conceito	para	desigualdade	social?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
Então,	caro	acadêmico,	existe	uma	diversidade	de	coisas	diferentes	e	uma	
diversidade	de	pessoas	diferentes	em	todos	os	seus	aspectos.	A	esse	tipo	de	diversidade	
denominamos	de	diversidade	cultural,	o	que	significa,	na	prática,	o	relacionamento	
comunitário,	ou	melhor,	o	relacionamento	em	diferentes	comunidades,	podendo	esse	
relacionamento	contribuir	significativamente	no	sentido	cooperativo	ou	na	geração	
de	conflitos,	que	são	chamados	de	conflitos	sociais.	
Portanto,	 são	 essas	 diferenças	 que	 geram	 o	 princípio	 da	 desigualdade	
social,	 que	vão	 além	das	 características	humanas,	ultrapassando	o	bom	senso,	
descaracterizando	o	princípio	da	igualdade	e	do	amor	ao	próximo,	modificando	
ou	 alterando	 outros	 princípios	 considerados	 de	 grande	 importância	 para	 as	
questões	 relacionadas	 com	 o	 respeito,	 a	 dignidade,	 a	 reciprocidade	 e	 as	 boas	
práticas	das	relações	humanas	no	contexto	social.	
Acadêmicos!	É	preciso	que	haja	um	basta	nesta	triste	trajetória	de	descaso	e	
discriminação	entre	os	seres	humanos,	principalmente	frear	os	impulsos	daqueles	
mais	exaltados,	que	ferem	com	palavras	e	atos	e	cada	vez	mais	maculam	a	imagem	
e	obscurecem	a	identidade	do	indivíduo	como	pessoa	e	como	cidadão	com	direitos	
e	deveres.	Dessa	forma,	contribuindo	para	o	desenvolvimento	econômico	e	social.	
Isso	é	cidadania,	isso	é	respeito	e	é	também	uma	forma	de	inclusão	social.
Assim,	a	desigualdade	significa	não	só	a	diferença	existente	entre	pessoas	
ou	coisas	que	compõem	o	universo,	mas	significa	também	a	diferença	no	tratamento	
e	no	respeito	para	com	o	outro.	Nesse	caso,	estamos	nos	referindo	à	desigualdade	
humana,	que	na	maioria	das	vezes	está	 caracterizada	pelo	preconceito	e	pelos	
diversos	tipos	de	violências	e	pelas	suas	relações	conflitantes	dentro	do	contexto	
social.	Exemplo:	a	desigualdade	socioeconômica,	as	desigualdades	raciais,	a	falta	
de	segurança,	a	falta	de	acesso	à	moradia,	ao	saneamento	básico,	dentre	outras	
formas	de	exclusão	social.Muitas	vezes,	essas	diferenças	são	ocasionadas	pela	
falta	de	 oportunidade,	 excluindo	 até	 o	mais	digno	do	 ser	 humano,	 o	 que	não	
deixa	de	ser	uma	forma	preconceituosa	de	relação	e	convivência	social.	Aquino	et	
al.	(2002,	p.	34-35)	afirmam	que:
Toda	vez	que	julgamos	uma	pessoa,	um	grupo	ou	mesmo	um	povo	sem	
conhecê-los,	 estamos	 usando	 de	 preconceito.	 [...].	 O	 termo	 preconceito	
significa	 o	 conjunto	 de	 opiniões	 formadas	 antecipadamente	 sobre	 o	
outro,	 sem	 levar	 em	 conta	 suas	 qualidades	 ou	 suas	 capacidades.	 Os	
preconceituosos	têm	atitudes	intolerantes	com	as	pessoas	que	são	diferentes	
deles.	Julgam-se	superiores	e,	por	isso,	desvalorizam	e	desrespeitam	outras	
pessoas.	Preconceito	e	intolerância	andam	sempre	juntos.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
28
São	atitudes	que	acontecem	no	dia	a	dia,	por	meio	de	atos,	gestos	ou	
palavras	que	tentam	diminuir,	rebaixar	os	modos	de	ser,	agir	e	sentir	
dos	outros.	E,	algumas	vezes,	elas	ocorrem	sem	que	as	percebamos	com	
clareza,	até	senti-las	na	própria	pele	–	por	exemplo,	quando	não	somos	
aceitos	por	alguém	ou	por	um	grupo.	Neste	caso,	somos	vítimas	de	um	
preconceito	aberto,	direto	e	explícito.	E	 isso	 já	aconteceu	com	 todos	
nós,	de	um	modo	ou	de	outro.	Mas	há	também	o	preconceito	indireto,	
implícito,	como	as	piadas	de	mau	gosto,	que	ofendem	as	pessoas	só	
por	causa	de	sua	raça,	nacionalidade,	sexo	e	outras	características.
Ainda	com	relação	aos	preconceitos,	segundo	a	denominação	de	inclusão	
e	exclusão	social,	 estas	 são	pautadas	e	divididas	em	grupos	ou	classes	sociais,	
que,	por	sua	vez,	são	classificadas	hierarquicamente	de	acordo	com	o	seu	poder	
aquisitivo,	 sua	 relação	 social,	 diferenças	 culturais,	 a	 cor	 da	 pele,	 sexualidade,	
etnia,	deficiências	físicas,	idade,	crenças	etc.	
Portanto,	 a	 diversidade	 humana	 (pessoas	 diferentes)	 deveria	 ser	 um	
instrumento	de	unificação	dos	seres,	diferentemente	das	desigualdades	sociais,	
que	significam	que	nem	todos	têm	as	mesmas	oportunidades,	o	que	em	grande	
parte	se	deve	às	diversas	formas	de	preconceito.	Alguns	deles,	no	modo	de	ver	
do	seu	praticante,	lhe	soam	como	se	isso	fosse	uma	espécie	de	elogio	ao	próximo.	
Exemplo:	E	aí,	negão!?	Essa	expressão,	que	parece	simples,	é	uma	forma	disfarçada	
de	discriminação.	“Algumas	expressões	corriqueiras	que	falamos	sem	pensar	são	
carregadas	de	preconceito”	(AQUINO	et	al.,	2002,	p.	44).
Aquino	et	al.	(2002,	p.	44)	trazem	mais	exemplos:	“é	o	caso	de	determinadas	
expressões	preconceituosas,	como:	os	negros	que	têm	‘almas	brancas’,	os	homossexuais	
que	parecem	‘pessoas	normais’,	os	idosos	que	parecem	‘jovens’,	os	obesos	que	são	
‘engraçados’,	as	pessoas	pobres	que	são	‘limpas’.	E	assim	por	diante”.
 
Como	sabemos,	o	descaso	e	as	práticas	discriminatórias	em	relação	a	essas	
pessoas,	que	fazem	parte,	assim	como	todos	nós,	de	um	mesmo	espaço	planetário,	
não	 deveriam	 existir,	 mesmo	 porque	 a	 diferença	 existente	 entre	 os	 seres	 de	
todas	as	espécies	faz	parte	de	um	processo	natural,	ou	melhor,	da	natureza	das	
coisas	existentes.	E	os	seres	humanos	vão	além	das	diferenças,	pois	nós	somos	
dotados	de	raciocínio	e	discernimento	para	avaliar	e	distinguir	o	certo	do	errado,	
comportamento	 esse	 que	 deveria	 ser	 institucionalizado	 pelas	 tradições,	 pelos	
valores	éticos	e	morais,	sem	a	necessidade	de	uma	imposição	legal,	como	é	o	caso	
da	Declaração	Universal	dos	Direitos	Humanos.
No	 entanto,	 parece	 que	 pouco	 têm	 efeito	 as	 leis	 que	 reprimem	 essas	
práticas	 discriminatórias,	 preconceituosas	 e	 racistas,	 visto	 que,	 infelizmente,	
parece	 existir	uma	autorrejeição	por	parte	de	 algumas	pessoas	ou	grupos	que	
ainda	mantêm	certos	padrões	de	comportamento	que	não	mais	condizem	com	
a	 realidade	dos	padrões	 atuais	 e	universais,	dos	direitos	 constituídos	 e	 com	o	
processo	democrático,	com	as	leis	de	proteção	às	crianças,	aos	idosos,	aos	negros,	
às	mulheres,	aos	indígenas,	aos	deficientes	físicos,	entre	outros.	São	seres	humanos	
que	sofrem	discriminação	e	negação	de	direitos	que	estão	incluídos	na	Declaração	
Universal	dos	Direitos	Humanos,	conforme	citado	no	parágrafo	acima.
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
29
Nesta	 perspectiva,	 não	 se	 desconsidera	 que	 as	 diferenças	 existam	
e	 estejam	 colocadas	 socialmente,	 porém,	 elas	 não	 significam,	
necessariamente,	 exclusão	 social.	 Por	 exemplo,	 a	 condição	 de	 raça,	
gênero,	religião,	entre	outras,	não	seria	elemento	de	exclusão,	mas	de	
diferenciação	entre	as	pessoas,	não	as	tornando	‘desiguais’.	As	pessoas	
são	diferentes	umas	das	outras	e	isto	nada	tem	a	ver	com	privilégios.	
Assim,	racismos	e	preconceitos	se	fundamentam	no	entendimento	da	
diferença/diversidade	como	desigualdade.	Nestes	termos,	as	pessoas	
e	 os	 grupos	 sociais	 têm	 o	 direito	 a	 ser	 iguais	 quando	 a	 diferença	
os	 inferioriza	 e	 o	 direito	 a	 ser	 diferentes	 quando	 a	 igualdade	 os	
descaracteriza	(SANTOS,	2003	apud	MARQUES,	2009,	p.	68).
 
Para	que	possamos	entender	e	discursar	sobre	o	conceito	de	diversidade	não	
é	tão	fácil	como	parece,	pois	é	preciso	nos	aprofundarmos	sobre	o	seu	real	significado	
e	a	sua	real	importância	no	equilíbrio	natural	e	social,	na	relação	homem-natureza,	e	
principalmente	na	relação	entre	seres	humanos,	tanto	no	que	diz	respeito	à	tolerância	
e	ao	respeito	mútuo	entre	seres	da	mesma	espécie,	bem	como	a	compreensão	e	o	
sentimento	solidário,	que	são	a	base	do	princípio	da	igualdade.
Sem	diversidade	não	há	estímulos	para	pensar	diferente,	não	há	estímulos	
para	pensar	no	princípio	da	igualdade.	Portanto,	pensar	diferente	é	o	caminho	
para	viver	 e	 compreender	 o	 sentimento	 solidário	 que	devemos	 ter.	Apesar	de	
que,	no	dia	a	dia,	relacionar-se	com	as	inúmeras	diferenças	humanas	e	sociais	do	
mundo	atual	nem	sempre	traz	harmonia.
Assim,	 seguindo	 o	 raciocínio	 de	Aquino	 et	 al.	 (2002),	 o	 problema	 é	 o	
seguinte:	se	todas	as	pessoas	são	únicas	e	especiais	a	seu	modo,	quem	haveria	de	
ser	“mais”	ou	“melhor”	do	que	o	outro?	Em	outras	palavras,	somos	únicos	como	
indivíduos,	 e	por	 isso	 somos	diferentes,	 somos	 iguais	 como	seres	humanos.	A	
isso	se	dá	o	nome	de	equidade.	Convém	lembrar	que	ser	igual	não	é	ser	idêntico.	
Ao	 contrário,	 somos	 semelhantes,	 embora	 diversos.	Afinal	 de	 contas,	 em	 que	
nos	diferenciamos	uns	dos	outros?	A	 resposta	 é	óbvia:	 em	praticamente	 tudo.	
A	começar	pela	nossa	história	de	vida,	passando	pelas	características	biológicas	
(raça,	cor,	sexo),	até	as	de	cunho	social	(escolaridade,	condição	econômica,	opções	
políticas	etc.).	Mesmo	sendo	únicos,	continuamos	a	pertencer	à	mesma	espécie,	à	
raça	humana.	Por	essa	razão,	não	há	seres	humanos	“superiores”	ou	“inferiores”.	
Cada	um	é	especial	a	seu	modo.	Só	teremos	um	convívio	democrático	e	pacífico	
se	tratarmos	o	outro	da	mesma	forma	que	gostaríamos	de	ser	tratados.
Todos	 esses	 conceitos	 fazem	 parte	 de	 uma	 cultura	 geral,	 ou	 seja,	 da	
construção	e	da	desconstrução	do	processo	de	desenvolvimento	humano,	e	da	
sua	própria	sobrevivência.	A	cultura	é,	pois,	“o	conteúdo	da	construção	histórica	
da	 humanidade	 dos	 seres	 humanos,	 humanizando-os	 ou	 desumanizando-
os”	 (SOUZA,	 2002,	 p.	 53).	 O	 principal	 objetivo	 do	 nosso	 estudo	 é	 justamente	
conscientizar	 os	 nossos	 acadêmicos	 rumo	 a	 uma	 reflexão	 mais	 humanista	 a	
respeito	das	nossas	ações	e	na	superação	definitiva	da	desigualdade	social,	o	que	
diz	respeito	ao	cidadão	e	à	relação	com	o	meio	em	que	ele	vive,	em	que	o	respeito	
pelas	diferenças	forma	o	espírito	da	academia	e	a	humanização	social.	
Com	base	no	que	foi	dito	e	analisado	até	aqui,	nos	parece	que	o	ponto	de	
partida	para	a	solução,	pelo	menos	de	parte	dos	problemas	raciais,	das	diferenças,	
da	exclusão	e	da	 inclusão	social,	pode	estar	na	educação	de	base,	ou	seja,	se	o	
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
30
aluno	 tiver	uma	educação	 inicial	que	o	motive	a	ultrapassar	essas	barreiras.	A	
partir	daí	ele	poderia	formar	uma	base	sólida	para	ingressar	na	faculdade	melhorpreparado,	 o	 que	 sem	 dúvida	 é	 parte	 integrante	 para	 o	 seu	 desenvolvimento	
profissional	e	pessoal.	
Você quer descansar um pouco, sem deixar de refletir 
sobre o conteúdo? Assista ao filme “O Visitante”, ele 
contribuirá com seus estudos.
Sinopse: Walter, solitário professor universitário, tem 62 
anos e já não encontra prazer na vida. Ao viajar a Nova 
York para uma conferência, encontra o casal Tarek e 
Zainab, imigrantes sem documentos, morando em seu 
apartamento. Eles não têm para onde ir, e Walter acaba 
deixando que fiquem. Para retribuir, o talentoso Tarek ensina 
Walter a tocar o tambor africano e os dois ficam amigos. 
Quando a polícia prende o jovem e decide deportá-lo, 
Walter faz de tudo para ajudá-lo, com uma garra que há 
muito não sentia. Surge então a mãe de Tarek em busca do 
filho e um improvável romance tem início.
FONTE: Disponível em: <https://www.youtube.com/
watch?v=1aSoTQbewiI>. Acesso em: 9 set. 2017.
DICAS
4 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE
Acadêmicos!	Já	compreendemos	o	caráter	plural	de	nossas	sociedades	e	
as	complexas	relações	estabelecidas	socialmente.	Diante	disso,	percebemos	que	
vivemos	em	uma	sociedade	dividida	em	classes,	em	que	a	luta	pela	manutenção	
ou	superação	das	divisões	sociais	é	constante.
Nesse	 sentido,	 lutamos	 em	 favor	 da	 inclusão	 escolar,	 em	 favor	 de	
currículos	 mais	 inclusivos,	 abertos	 às	 diferenças	 sociais,	 psíquicas,	 físicas,	
culturais,	religiosas,	raciais	e	ideológicas,	no	intuito	de	respeitar	o	caráter	plural	
da	 nossa	 sociedade,	 contribuindo	 para	 formar	 sujeitos	 autônomos,	 críticos	 e	
criativos,	aptos	a	compreender	como	as	coisas	são	e	por	que	são	assim.	
O	principal	objetivo	é	a	possibilidade	da	mudança,	da	construção	de	uma	
ordem	social	mais	justa	e	menos	excludente.	Sendo	isso	um	legado	do	presente	
para	as	gerações	futuras,	o	que	pode	ser	uma	prática	aprendida	e	reproduzida	
a	partir	da	família	e	da	escola,	que	são	os	agentes	formadores	de	opinião,	e	que	
juntamente	com	a	sociedade	esses	agentes	irão	definir	o	sucesso	ou	o	fracasso	no	
contexto	social.		
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
31
5 INCLUSÃO ESCOLAR E SOCIAL DA DIVERSIDADE HUMANA
Acadêmico!	A	inclusão	escolar	tem	sido	mal	interpretada	tanto	por	parte	da	
escola,	seja	ela	comum	ou	especial,	quanto	dos	profissionais	da	educação.	“O	certo,	
porém,	é	que	os	alunos	jamais	deverão	ser	desvalorizados	e	inferiorizados	pelas	suas	
diferenças,	seja	nas	escolas	comuns,	seja	nas	especiais”	(MANTOAN,	2006,	p.	190).
Ainda	com	base	nesse	raciocínio,	“[...]	a	educação	escolar	não	pode	ser	
pensada	 nem	 realizada	 senão	 a	 partir	 da	 ideia	 de	 uma	 formação	 integral	 do	
aluno	–	segundo	suas	capacidades	e	seus	talentos	–	e	de	um	ensino	participativo,	
solidário,	 acolhedor”	 (MANTOAN,	 2006,	 p.	 9).	 Reverter	 o	 que	 historicamente	
foi	 construído	 é	 difícil,	 implica	 em	 construir	 alternativas	 que	 possibilitem	 a	
emancipação	 social	 dos	 diferentes	 sujeitos,	 fazendo	 uma	 clara	 opção	 política	
por	um	compromisso	contra	as	discriminações,	as	desigualdades	e	o	respeito	à	
diversidade	cultural.
O	 que,	 de	 acordo	 com	Mantoan	 (2006,	 p.	 9,	 grifo	 do	 original),	 trata-se	
de	um	 trabalho	de	“‘ressignificação’	do	papel	da	escola	 com	professores,	pais	
e	comunidades	 interessadas,	bem	como	de	adoção	de	formas	mais	solidárias	e	
plurais	de	convivência.	Para	terem	direito	à	escola,	não	são	os	alunos	que	devem	
mudar,	mas	 a	 própria	 escola!”.	 E	 a	 autora	 continua:	 “O	 direito	 à	 educação	 é	
natural	e	indisponível.	Por	isso,	não	faço	acordos	quando	me	proponho	a	lutar	
por	uma	escola	para	todos,	sem	discriminações,	sem	ensino	à	parte	para	os	mais	
e	para	os	menos	privilegiados”.
Dessa	 forma,	 a	 escola	 pode	 fazer	 o	 anúncio	 da	 construção	 de	 novos	
tempos	na	educação,	contribuindo	para	formar	alunos	não	conformistas,	e	sim,	
questionadores,	reagentes	e	competentes,	aptos	a	rejeitar	valores	celebrados	pela	
nova	 ordem	mundial,	 como	o	 egoísmo	 e	 o	 individualismo.	Mantoan	 (2006,	 p.	
14)	nos	coloca	que,	seja	ou	não	“uma	mudança	radical,	toda	crise	de	paradigma	
é	 cercada	 de	muita	 incerteza	 e	 insegurança,	mas	 também	 de	muita	 liberdade	
e	 ousadia	para	 buscar	 outras	 alternativas,	 novas	 formas	de	 interpretação	 e	de	
conhecimento	[...]	para	realizar	a	mudança”.
Mudança	essa	que	é	direito	expresso	na	Constituição	Federal	de	1988.	A	
Constituição	respalda	em	seu	artigo	206,	inciso	I,	que	o	ensino	será	ministrado	em	
“igualdade	de	condições	para	o	acesso	e	permanência	na	escola”.	Portanto,	temos	
que	entender	que:	
Ao	 garantir	 a	 todos	 o	 direito	 à	 educação	 e	 ao	 acesso	 à	 escola,	 a	
Constituição	 Federal	 não	 usa	 adjetivos.	 Por	 essa	 razão,	 toda	 escola	
deve	 atender	 aos	 princípios	 constitucionais	 sem	 excluir	 nenhuma	
pessoa	 em	 decorrência	 de	 sua	 origem,	 raça,	 sexo,	 cor,	 idade	 ou	
deficiência.	Apenas	 esses	 dispositivos	 já	 bastariam	para	 que	 não	 se	
negasse	a	qualquer	pessoa,	com	ou	sem	deficiência,	o	acesso	à	mesma	
sala	de	aula	que	qualquer	outro	aluno	(MANTOAN,	2006,	p.	26-27).
Percebe-se	então	que	os	discursos	precisam	ser	revistos,	compreendendo	
a	diversidade	humana	 como	algo	positivo,	 liberto	de	olhares	preconceituosos,	
possibilitando	a	valorização	pela	cultura	do	outro.	Portanto,	a	inclusão:	
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
32
[...]	exige	uma	mudança	de	mentalidade	e	de	valores	nos	modos	de	vida	
e	é	algo	mais	profundo	do	que	simples	recomendações	técnicas,	como	
se	fossem	receitas.	Requer	complexas	reflexões	de	toda	a	comunidade	
escolar	 e	 humana	 para	 admitir	 que	 o	 princípio	 fundamental	 da	
educação	 inclusiva	 é	 a	 valorização	 da	 diversidade,	 presente	 numa	
comunidade	humana	(STRIEDER;	ZIMMERMANN,	2011,	p.	146).
E	na	sequência	os	autores	continuam	afirmando	que	a	escola:	
Foi	 e	 continua	 sendo	 um	 espaço	 de	 padronizações	 ao	 promover	 a	
construção	 de	 conhecimentos	 com	 pouco	 significado,	 formalizado,	
pronto,	sem	relação	e	sentido	com	a	vida	dos	seres	humanos	que	lá	
estão,	 sejam	alunos	ou	docentes.	Ela	 é	 construtora	de	pensamentos,	
ações	e	movimentos	que	denotam	igualdade	e	repetição.	
É	importante	a	escola	oportunizar	vivências	capazes	de	desconstruir	a	
realidade	do	igual,	da	repetição,	para	valorizar	a	diferença,	acreditando	
na	diversidade	da	vida,	das	cores,	sabores	e	movimentos	(STRIEDER;	
ZIMMERMANN,	2011,	p.	148).
Assim,	falar	sobre	inclusão	escolar	e/ou	social	é	falar	sobre	a	conscientização	
humana	na	democratização	das	relações	entre	os	povos	e	os	demais	indivíduos	
que	fazem	parte	do	contexto	social	como	um	todo,	independentemente	de	credo,	
raça,	poder	aquisitivo	ou	posição	social,	visto	que	fazemos	parte	de	uma	mesma	
sociedade	e	as	diferenças	fazem	parte	integrante	do	equilíbrio	social	e	da	própria	
espécie	humana.	No	entanto,	fica	aqui	a	indagação:	quais	as	oportunidades	que	
estão	 sendo	 oferecidas	 pelos	 agentes	 sociais	 a	 essa	massa	 de	 desamparados	 e	
excluídos	do	sistema	social?
De	acordo	com	texto	publicado	no	livro	“Ética	e	cidadania:	construindo	
valores	na	 escola	 e	na	 sociedade”,	desenvolvido	pelo	Ministério	da	Educação,	
a	escola	pode	e	deve	ser	um	ponto	de	partida	na	formação	de	cidadão	e	cidadã	
comprometidos	com	a	construção	dos	valores	éticos	e	morais,	tanto	no	contexto	
escolar,	como	no	âmbito	das	relações	sociais.
Aprender	 a	 ser	 cidadão	 e	 cidadã	 é,	 entre	 outras	 coisas,	 aprender	
a	 agir	 com	 respeito,	 solidariedade,	 responsabilidade,	 justiça,	 não	
violência;	aprender	a	usar	o	diálogo	nas	mais	diferentes	 situações	e	
comprometer-se	com	o	que	acontece	na	vida	da	comunidade	e	do	país.	
Esses	valores	e	essas	atitudes	precisam	ser	aprendidos	e	desenvolvidos	
pelos	estudantes	e,	portanto,	podem	e	devem	ser	ensinados	na	escola.
Para	 que	 o(a)s	 estudantes	 possam	 assumir	 os	 princípios	 éticos,	 são	
necessários	pelo	menos	dois	fatores:
-	que	os	princípios	 se	expressem	em	situações	 reais,	nas	quais	o(a)s	
estudantes	possam	ter	experiênciase	conviver	com	a	sua	prática;	
-	 que	 haja	 um	 desenvolvimento	 da	 sua	 capacidade	 de	 autonomia	
moral,	 isto	 é,	 da	 capacidade	 de	 analisar	 e	 eleger	 valores	 para	 si,	
consciente	e	livremente.
Outro	aspecto	importante	desse	processo	é	o	papel	ativo	dos	sujeitos	
da	aprendizagem,	estudantes	e	docentes,	que	interpretam	e	conferem	
sentido	aos	conteúdos	com	que	convivem	na	escola,	a	partir	de	seus	
valores	 previamente	 construídos	 e	 de	 seus	 sentimentos	 e	 emoções	
(LODI;	ARAÚJO,	2006,	p.	69).
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
33
Com	 relação	 aos	 agentes	 citados	 nos	 parágrafos	 anteriores,	 também	
concordamos	 que	 a	 partir	 da	 inclusão	 escolar,	 principalmente	 no	 tocante	 à	
educação	 básica,	 ela	 deveria	 ser	 um	 espaço	 voltado	 para	 a	 harmonização	 da	
convivência	social	e	não	simplesmente	uma	mera	reprodução	de	saberes.	Em	que,	
na	maioria	das	vezes,	esses	saberes	são	direcionados	apenas	para	produzir	agentes	
econômicos,	dando	pouca	ou	quase	nenhuma	ênfase	às	questões	relacionadas	à	
ética	e	às	características	comportamentais	do	ser	humano	como	uma	forma	de	
equilíbrio	no	convívio	das	relações	sociais,	o	que	já	é	um	processo	discriminatório	
e	 de	 exclusão,	 ou,	 no	mínimo,	 uma	 forma	 de	 omissão	 do	 próprio	 sistema	 de	
ensino,	principalmente	com	relação	aos	índios	e	negros.
A	luta	travada	em	torno	da	educação	do	campo,	indígena,	do	negro,	
das	 comunidades	 remanescentes	 de	 quilombos,	 das	 pessoas	 com	
deficiência,	 tem	desencadeado	mudanças	na	 legislação	 e	na	política	
educacional,	 revisão	 de	 propostas	 curriculares	 e	 dos	 processos	 de	
formação	 de	 professores.	 Também	 tem	 indagado	 a	 relação	 entre	
conhecimento	escolar	e	o	conhecimento	produzido	pelos	movimentos	
sociais	(GOMES,	2007,	p.	32).
E	na	continuação	o	autor	chega	às	seguintes	conclusões:
A	 diversidade	 é	 muito	 mais	 do	 que	 o	 conjunto	 das	 diferenças.	 Ao	
entrarmos	 nesse	 campo,	 estamos	 lidando	 com	 a	 construção	 histórica,	
social	e	cultural	das	diferenças,	a	qual	está	 ligada	às	relações	de	poder,	
aos	processos	de	colonização	e	dominação.	Portanto,	ao	falarmos	sobre	a	
diversidade	(biológica	e	cultural)	não	podemos	desconsiderar	a	construção	
das	identidades,	o	contexto	das	desigualdades	e	das	lutas	sociais.	
A	 diversidade	 indaga	 o	 currículo,	 a	 escola,	 as	 suas	 lógicas,	 a	 sua	
organização	 espacial	 e	 temporal.	No	 entanto,	 é	 importante	destacar	
que	as	 indagações	aqui	apresentadas	e	discutidas	não	 são	produtos	
de	uma	discussão	 interna	à	 escola.	São	 frutos	da	 inter-relação	entre	
escola,	 sociedade	 e	 cultura	 e,	 mais	 precisamente,	 da	 relação	 entre	
escola	 e	movimentos	 sociais.	Assumir	 a	diversidade	 é	posicionar-se	
contra	as	diversas	formas	de	dominação,	exclusão	e	discriminação.	É	
entender	a	educação	como	um	direito	social	e	o	respeito	à	diversidade	
no	interior	de	um	campo	político	(GOMES,	2007,	p.	41).
Assim,	 é	 através	 dos	 movimentos	 sociais	 que	 podemos	 melhorar	 o	
sistema	educacional	e	corrigir	as	distorções	sociais,	que	são	frutos	de	um	processo	
longo	que	vem	se	arrastando	através	dos	tempos,	em	que	pouco	ou	quase	nada	
tem	sido	feito	como	forma	de	reparar	ou	pelo	menos	minimizar	os	seus	efeitos	
negativos	e	na	reparação	dos	erros	cometidos.	Portanto,	é	de	extrema	necessidade	
a	inserção	e	a	interação	de	todos	os	seres	humanos,	independentemente	de	suas	
características	ou	condições	sociais.
Para	Stainback	(1999),	a	total	inclusão	de	todos	os	membros	da	humanidade,	
de	 quaisquer	 raças,	 religiões,	 nacionalidades,	 classes	 socioeconômicas,	
culturas	ou	capacidades,	em	ambientes	de	aprendizagem	e	comunidade,	
pode	facilitar	o	desenvolvimento	do	respeito	mútuo,	do	apoio	mútuo	e	
do	aproveitamento	dessas	diferenças	para	melhorar	nossa	sociedade.	É	
durante	seus	anos	de	formação	que	as	crianças	adquirem	o	entendimento	
das	diferenças,	o	respeito	e	o	apoio	mútuos	em	ambientes	educacionais	
que	promovem	e	celebram	a	diversidade	humana.
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
34
A	 construção	 de	 sociedades	 e	 escolas	 inclusivas,	 abertas	 às	 diferenças	
e	 à	 igualdade	de	 oportunidades	 para	 todas	 as	 pessoas,	 é	 um	objetivo	
prioritário	da	educação	nos	dias	atuais.	Nesse	sentido,	o	trabalho	com	as	
diversas	formas	de	deficiências	e	uma	ampla	discussão	sobre	as	exclusões	
geradas	 pelas	 diferenças	 social,	 econômica,	 psíquica,	 física,	 cultural,	
racial,	de	gênero	e	ideológica,	devem	ser	foco	de	ação	das	escolas.	Buscar	
estratégias	 que	 se	 traduzam	 em	 melhores	 condições	 de	 vida	 para	 a	
população,	na	igualdade	de	oportunidades	para	todos	os	seres	humanos	
e	na	construção	de	valores	éticos	 socialmente	desejáveis	por	parte	dos	
membros	das	comunidades	escolares	é	uma	maneira	de	enfrentar	essas	
exclusões	e	um	bom	caminho	para	um	trabalho	que	visa	à	democracia	e	à	
cidadania	(ARAÚJO,	2007,	p.	16-17).
Portanto,	as	mudanças	comportamentais	e	as	inclusões	sociais	relacionadas	
com	todos	os	povos	não	podem	e	não	devem	ser	somente	responsabilidade	da	família	
e	das	instituições	de	classes,	mas	também	de	responsabilidade	das	escolas	inclusivas	
e	dos	seus	agentes	sociais.	Neste	sentido,	reafirmamos	que	a	inclusão	escolar:	
Só	será	viável	se	o	professor	e	toda	a	comunidade	escolar	mudarem	
seu	jeito	de	lidar	com	a	diferença,	via	aceitação	de	formas	relacionais	
de	 afetividade,	 de	 escuta	 e	 de	 compreensão,	 suspendendo	 juízos	
de	 valores	 como	 pena,	 repulsa	 e	 descrença.	 Uma	 mudança	 como	
desejo	 interior,	porque	algo	 interior	nos	diz	que	vale	a	pena	mudar	
(STRIEDER;	ZIMMERMANN,	2011,	p.	148).
E	 quando	 falamos	 em	mudanças,	 estamos	nos	 referindo	 a	uma	mudança	
estrutural,	 em	que	 todas	 as	 partes	 se	 relacionam,	 interagem	 e	 se	 complementam	
para	a	harmonização	do	todo,	que	por	sua	vez	é	parte	de	uma	estrutura	maior,	que	
podemos	 chamar	de	 estrutura	 social,	 que	 é	 composta,	 dentre	 outras,	 pela	 escola,	
família,	igreja,	governo	com	suas	políticas	públicas,	instituições	financeiras,	jurídicas	
e	organizações	sociais	propriamente	ditas,	as	ONGs.	Como	podemos	perceber,	tudo	
isso	constitui	um	grande	desafio	rumo	a	uma	mudança	significativa.	E,	por	estas	e	
outras	razões,	nos	parece	que	a	sociedade	está	caminhando	no	rumo	certo.
AUTOATIVIDADE
Então,	 acadêmico,	 você	 acredita	 que	 ainda	 existe	 perspectiva	 e	 esperança	
de	 dias	melhores?	 	 Como	 podem	 ser	 superadas	 as	 barreiras	 que	 afetam	 a	
harmonia	entre	os	humanos?	
____________________________________________________________________
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TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
35
Vejamos	o	que	nos	propõem	os	autores	Assmann	e	Sung	(2000,	p.	103):	
A	 esperança	 humana,	 da	 qual	 estamos	 falando,	 é	 um	 horizonte	 de	
futuro	tecido	com	desejo.	Não	o	desejo	de	um	único	indivíduo,	nem	
o	desejo	de	 subir	na	 ‘escada	do	 sucesso’	 segundo	os	parâmetros	da	
eficiência	do	mercado	regendo	todos	os	aspectos	da	nossa	vida,	mas	o	
desejo	do	reconhecimento	mútuo	e	respeitoso	entre	pessoas	e	grupos	
sociais,	o	desejo	de	uma	vida	mais	digna	e	prazerosa	para	todos\as.	O	
desejo	de	um	mundo	onde	caibam	muitos	e	muitos	mundos.	
E	concluindo	o	seu	pensamento:
É	esse	horizonte	de	esperança	que	nos	mostra,	nos	revela,	a	mesquinhez	
e	 a	 irracionalidade	 de	 uma	 sociedade	 centrada	 na	 exclusão	 e	
insensibilidade,	e	a	desumanidade	de	uma	vida	humana	voltada	para	
negar	a	sua	condição	humana.
Horizonte	de	esperança	não	é	algo	que	se	toma	dentre	as	ofertas	do	
mercado,	 nem	 pode	 ser	 produzido	 individualmente.	 Como	 todo	
horizonte	de	compreensão,	ele	deve	ser	tecido	no	diálogo,	na	construção	
de	uma	 linguagem	e	esperanças	comuns.	Por	 isso,	um	horizonte	de	
esperança	que	nos	abra	e	nos	interpele	para	a	sensibilidade	solidária	
só	pode	ser	fruto	de	um	desejo	de	dialogar	com	os\as	que	estão	dentro	
e	fora	da	sociedade,	do	nosso	mundo	(o	mundo	de	cada	um,	o	mundo	
decada	 grupo	 social).	 Diálogo	 que	 pressupõe	 o	 reconhecimento	
mútuo	(ASSMANN;	SUNG,	2000,	p.	103).
O	que	Assmann	e	Sung	(2000)	nos	esclarecem	é	que	o	ser	humano	precisa,	
em	primeiro	lugar,	conscientizar-se	do	seu	papel	na	sociedade,	e	que	isso	não	pode	
ser	uma	ação	única,	mas	sim	uma	ação	conjunta,	como	um	grande	suporte	em	
prol	da	democratização	solidária.	Essa	solidariedade	deve	trazer	benefícios	tanto	
para	o	indivíduo,	quando	analisado	separadamente,	quanto	na	sua	convivência	
em	sociedade,	ou	 seja,	 a	 relação	do	 indivíduo	com	ele	mesmo	ou	no	 convívio	
social.	E	na	sequência	os	autores	analisam	com	muita	propriedade	o	resultado	
ocasionado	por	esse	processo	de	interação:	
Quando	 imergimos	 nesse	 horizonte,	 descobrimos	 algumas	 verdades	
humanas	básicas.	A	descoberta	da	minha	condição	humana	não	se	dá	
fora	 do	 reconhecimento	 da	 condição	 humana	 (da	 dignidade	 humana)	
dos	que	estão	‘dentro	e	fora’	da	sociedade.	Eu	não	posso	me	descobrir	
como	pessoa	humana	se	não	‘descobrir’	o\a	outro\a,	o\a	diferente,	como	
participante	 da	 mesma	 condição	 humana.	 É	 o	 reconhecimento	 do\a	
diferente	como	‘igual’,	isto	é,	coparticipante	da	mesma	condição	humana,	
que	me	possibilita	encontrar	comigo	mesmo.	Na	década	de	70	havia	uma	
propaganda	que	mostrava	um	menino	e	uma	menina,	cada	um	olhando	
dentro	do	short	de	banho	do\a	outro\a.	Acima	do	desenho,	a	frase:	‘Ah!	
Descobri	a	diferença!’	É	a	descoberta	de	que	existe	um	sexo	diferente	na	
mesma	espécie	humana,	que	me	faz	descobrir	que	eu	sou	um	ser	sexuado,	
masculino	ou	feminino	(ASSMANN;	SUNG,	2000,	p.	104).
E	para	finalizar,	os	autores	fazem	um	breve	resumo	a	respeito	das	relações	
de	 convivência	 e	 de	 reciprocidade	 humana,	 principalmente	 para	 aqueles	 que	
possam	 ter	 algumas	dificuldades	para	 entender	 a	 complexidade	 a	 respeito	da	
inclusão	social	e	escolar	da	diversidade	humana.	
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
36
Em	 resumo,	 tentar	 encontrar-se	 consigo	 mesmo	 e	 realizar-se	 como	
ser	humano	negando	o\a	outro\a	que	lhe	revela	e	lhe	lembra	as	suas	
angústias	e	medos	 inerentes	à	 sua	condição	humana	é	um	caminho	
trágico,	 no	 sentido	 grego	 desse	 conceito,	 isto	 é,	 não	 como	 destino,	
mas	como	tomada	de	consciência	de	um	desafio	radical	que	parte	da	
nossa	condição	humana.	A	única	forma	de	nos	realizarmos	como	seres	
humanos	é	 reconhecendo	e	assumindo	a	nossa	condição	humana.	É	
isto	 que	 nos	 possibilita	 vivermos	 as	 alegrias	 da	 vida,	mas	 também	
os	momentos	 tristes	 e	 angustiantes.	 Esse	 assumir	 a	 nossa	 condição	
humana	pressupõe	o	reconhecimento	do(a)	outro(a)	que	nos	 lembra	
das	 nossas	 inseguranças.	 Este	 reconhecimento	mútuo	 só	 é	 possível	
se	cultivarmos	e	vivermos	a	sensibilidade	solidária	e	o	horizonte	de	
esperança.	 Educar	 para	 a	 esperança	 é	 uma	 das	 chaves	 para	 educar	
para	a	sensibilidade	solidária	(ASSMANN;	SUNG,	2000,	p.	104).
 
Estamos	nos	referindo	ao	processo	de	educação	e	aprendizagem,	e	já	ficou	
evidente	que	esse	é	o	caminho.	No	entanto,	é	preciso	levantar	algumas	bandeiras	
e	 eliminar	 algumas	 barreiras,	 principalmente	 as	 do	 descaso,	 da	 arrogância	 e	
da	intolerância,	que	são	ações	que	principiam	e	dão	origem	ao	preconceito	e	à	
desigualdade	social,	que,	pelo	visto,	parece	povoar	e	circular	por	quase	todas	as	
fases	da	questão	educacional.	A	começar	pelas	dificuldades	de	acesso	à	educação	
de	base,	ou	pela	 falta	de	espaço	adequado,	não	 só	em	 termos	de	 locomoção	e	
acesso,	mas,	principalmente,	para	aquelas	pessoas	com	certo	grau	de	dificuldades.	
Com	relação	às	dificuldades	de	acesso,	estas	parecem	não	ser	privilégio	
somente	daqueles	com	alguma	deficiência	física,	mas	de	todos	aqueles	motivados	
por	razões	circunstanciais,	sejam	elas	pela	distância,	pelas	condições	de	transporte	
ou,	 ainda,	 pelo	 descaso	 das	 autoridades,	 que	 deveriam	 ser	 os	 mentores,	
incentivando	e	facilitando	o	acesso	às	escolas	da	rede	pública	e	privada,	oferecendo	
escolas	 e	 ensino	de	 qualidade,	 com	professores	 qualificados	 e	 comprometidos	
com	o	processo	educacional.	Isso	evitaria,	pelo	menos	em	parte,	a	desagregação,	
a	degradação	e	o	êxodo	escolar,	em	que	o	abandono	ou	o	afastamento	de	alunos	
das	salas	de	aulas	podem	ter	diversos	motivos,	muitos	deles	 justificados	pelas	
condições	 precárias	 de	 algumas	 escolas,	 bem	 como	 a	 falta	 de	 compromisso	 e	
atitude	 das	 autoridades,	 a	 improbidade	 administrativa,	 o	 desvio	 de	 verbas,	
dentre	outras	formas	de	descaso	das	autoridades	públicas.	
Observe,	 acadêmico,	que	ainda	 existe	uma	 série	de	problemas	a	 serem	
resolvidos	 nas	 instituições	 escolares.	 De	 acordo	 com	 Prieto	 (2006,	 p.	 33),	 “as	
instituições	 escolares,	 ao	 reproduzirem	 constantemente	 o	 modelo	 tradicional,	
não	 têm	demonstrado	 condições	 de	 responder	 aos	 desafios	 da	 inclusão	 social	
e	do	acolhimento	às	diferenças,	nem	de	promover	aprendizagens	necessárias	à	
vida	em	sociedade	[...]”.
Acadêmicos,	percebemos	que	os	que	mais	sofrem	com	essa	situação	de	
penúria	são	os	menos	afortunados,	os	que	não	possuem	as	mínimas	condições	
de	frequentar	uma	escola	particular,	ou	os	deficientes	físicos,	que,	muitas	vezes,	
além	das	condições	financeiras,	 também	lhes	faltam	as	condições	principais	ao	
acesso	e	permanência	no	âmbito	escolar.
TÓPICO 2 | SOCIEDADE E A DIVERSIDADE
37
6 CONSTRUÇÃO E RECONSTRUÇÃO DO SABER 
APRENDIDO 
Assim,	de	acordo	com	o	que	foi	aprendido	até	agora,	podemos	afirmar	que	a	
diversidade,	as	diferenças,	a	identidade,	a	exclusão	e	a	inclusão,	quando	reparadas	
na	sua	desarmonia	social,	representam	partes	integrantes	da	vida	em	comunidade,	
em	que	são	introduzidas	as	mudanças	necessárias	ao	desenvolvimento	social	e,	ao	
mesmo	tempo,	produzidas	outras	formas	de	relacionamentos,	outras	formas	de	
diversidade,	ou	até	mesmo	outras	maneiras	e	meios	de	abordagens	no	processo	
de	interação	do	eu	com	o	outro.	Isso	faz	parte	da	natureza	humana,	ou	seja,	um	
estado	em	movimento,	de	renovação	e	de	mudanças.	
Dessa	maneira,	 a	 sociedade	 continuará	a	produzir	 saberes	 e	 realidades	
relativas,	seja	em	relação	à	diversidade	existente,	seja	em	relação	ao	comportamento	
humano	na	convivência	social,	ou	na	interação	da	pessoa	com	ela	mesma,	com	os	
outros,	bem	como	as	abordagens	relacionadas	aos	contrastes	da	vida	cotidiana,	
caracterizadas	pelas	desigualdades	sociais.	Portanto,	essas	verdades	continuarão	
a	ser	questionadas,	até	que	outras	verdades	as	sobreponham.	
Assim,	 a	 exclusão	 e	 a	 inclusão	 social	 das	 diferenças	 são	 formas	 de	
construção	e	desconstrução	de	uma	variedade	de	elementos	históricos	e	atuais,	
distintos	e	circunstanciais	e	que,	muitas	vezes,	vão	além	da	nossa	compreensão.	
 
Caros	acadêmicos,	de	acordo	com	o	que	vimos,	percebemos	que	uma	das	
verdades	absolutas	é	que:	sempre	haverá	o	eu	e	o	outro,	e	esse	outro	será	sempre	
diferente	do	eu,	e	essa	diferença	continuará	sendo	o	fio	condutor	responsável	pela	
diversidade	cultural	 e	pelos	diversos	 tipos	de	 conflitos	 sociais,	 seja	no	 sentido	
negativo	ou	no	sentido	positivo.
38
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	diversidade,	no	contexto	cultural,	significa	uma	grande	quantidade	de	coisas,	
ações,	 pensamentos,	 ideias	 e	pessoas	que	 se	diferenciam	entre	 si	 dentro	de	
grupos	sociais	ou	dentro	de	uma	mesma	sociedade,	e	os	mesmos	são	passíveis	
de	discussão,	apelos,	protestos,	discórdia	e	geralmente	acabam	em	conflitos,	
chegando	até	às	desigualdades	sociais.
•	 É	fundamental	que	percebamos	as	diferenças	e	desigualdades,	não	de	forma	
natural,	mas	como	uma	construção	histórica	possível	de	ser	desestabilizada	
em	sua	forma	rígida,	para	ser	transformada	em	algo	que	possa	ser	identificado	
e	 reconhecido	 como	 base	 para	 a	 construção	 de	 relações	 interpessoais	mais	
democráticas	dentro	da	 sociedade,	 isto	é,	devemos	pensar	e	 repensar	o	 seu	
conceito	histórico	e	a	sua	trajetória	futura.
•	 A	desigualdade	significa	não	só	a	diferença	existente	entre	pessoas	ou	coisas	
quecompõem	o	universo,	mas	significa	também	a	diferença	no	tratamento	e	no	
respeito	para	com	o	outro.	Nesse	caso,	estamos	nos	referindo	à	desigualdade	
humana,	que	na	maioria	das	vezes	está	caracterizada	pelo	preconceito	e	pelos	
diversos	tipos	de	violência	e	pelas	suas	relações	conflitantes	dentro	do	contexto	
social.
•	 A	diversidade	humana	 (pessoas	diferentes)	 deveria	 ser	 um	 instrumento	de	
unificação	dos	seres,	diferentemente	das	desigualdades	sociais,	que	significam	
que	nem	todos	têm	as	mesmas	oportunidades,	o	que	em	grande	parte	se	deve	
às	 diversas	 formas	 de	 preconceito,	 algumas	 delas	 no	modo	 de	 ver	 do	 seu	
praticante.
•	 Falar	sobre	inclusão	escolar	e/ou	social	é	falar	sobre	a	conscientização	humana	
na	democratização	das	 relações	 entre	os	povos	e	os	demais	 indivíduos	que	
fazem	parte	do	contexto	social	como	um	todo,	independentemente	de	credo,	
raça,	 poder	 aquisitivo	 ou	 posição	 social,	 visto	 que	 fazemos	 parte	 de	 uma	
mesma	sociedade	e	as	diferenças	fazem	parte	integrante	do	equilíbrio	social	e	
da	própria	espécie	humana.
39
1	(ENADE-2014,	Pedagogia)	Da	visão	dos	direitos	humanos	e	do	conceito	da	
cidadania	fundamentado	no	reconhecimento	das	diferenças	e	na	participação	
dos	 sujeitos	 decorre	 uma	 identificação	 dos	 mecanismos	 e	 processos	 de	
hierarquização	que	operam	na	regulação	e	produção	de	desigualdades.	Essa	
problematização	explicita	os	processos	normativos	de	distinção	dos	alunos	
em	razão	de	características	intelectuais,	físicas,	culturais,	sociais	e	linguísticas,	
estruturantes	do	modelo	tradicional	de	educação	escolar.	
FONTE: BRASIL, MEC: Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da
Educação Inclusiva, 2008, p. 6 (adaptado).
As	questões	sucintas	no	texto	ratificam	a	necessidade	de	novas	posturas	docentes,	
de	modo	a	atender	à	diversidade	humana	presente	na	escola.	Nesse	sentido,	no	
que	diz	respeito	ao	seu	fazer	docente	frente	aos	alunos,	o	professor	deve:
I-	 Desenvolver	 atividades	 que	 valorizem	 o	 conhecimento	 historicamente	
elaborado	 pela	 humanidade	 e	 aplicar	 avaliações	 criteriosas	 com	 o	 fim	 de	
aferir,	em	conceitos	ou	notas,	o	desempenho	dos	alunos.
II-	 Instigar	 ou	 compartilhar	 as	 informações	 e	 a	 busca	 pelo	 conhecimento	
de	 forma	 coletiva,	 por	meio	 de	 relações	 respeitosas	 aceitas	 pelos	 diversos	
posicionamentos	dos	alunos,	promovendo	o	acesso	às	inovações	tecnológicas.
III-	Planejar	ações	pedagógicas	extracurriculares,	visando	ao	convívio	com	a	
diversidade,	selecionar	e	organizar	os	grupos,	a	fim	de	evitar	conflitos.
IV-	Realizar	práticas	avaliativas	que	evidenciem	as	habilidades	e	competências	
dos	alunos,	instigando	esforços	individuais	para	que	cada	um	possa	melhorar	
o	desempenho	escolar.
V-	 Utilizar	 recursos	 didáticos	 diversificados,	 que	 busquem	 atender	 às	
necessidades	 de	 todos	 e	 de	 cada	 um	 dos	 alunos,	 valorizando	 o	 respeito	
individual	e	coletivo.
É	correto	apenas	o	que	se	afirma	em:
a)	 (		)	I	e	II.
b)	 (		)	II	e	V.
c)	 (		)	II,	III	e	IV.
d)	(		)	I,	II,	IV	e	V.
e)	 (		)	I,	III,	IV	e	V.
2 (IFC-2015)	 Sobre	 a	 Educação	 Inclusiva,	 marque	 V	 para	 as	 afirmativas	
verdadeiras	e	F	para	as	falsas:	
(	 )	 Na	Educação	 Inclusiva,	 os	 alunos	 com	deficiência	 têm	a	 chance	de	 se	
prepararem	para	 a	vida	 em	 sociedade,	 os	professores	de	melhorarem	 suas	
habilidades	 profissionais	 e	 a	 sociedade	 passa	 a	 valorizar	 a	 igualdade	 para	
todos.	
AUTOATIVIDADE
40
(	 )	 Na	 Educação	 Inclusiva,	 o	 aluno	 com	 deficiência	 tem	 a	 facilidade	 de	
construir	conhecimento	como	os	demais	e	de	demonstrar	a	sua	capacidade	
cognitiva,	principalmente	nas	escolas	que	mantêm	um	modelo	conservador	
de	atuação	e	uma	gestão	autoritária	e	centralizadora.	
(	 )	 Na	 Educação	 Inclusiva,	 a	 escola	 se	 baseia	 na	 lógica	 do	 concreto	 e	 na	
repetição	alienante	e	descontextualizada	das	atividades.	
(	 )	 A	Educação	Inclusiva	requer	que	os	sistemas	educacionais	modifiquem	
não	 apenas	 as	 suas	 atitudes	 e	 expectativas	 em	 relação	 aos	 alunos	 com	
deficiência,	mas	que	se	organizem	para	construir	uma	real	escola	para	todos,	
onde	o	currículo	leve	em	conta	a	diversidade	e	seja	concebido	com	o	objetivo	de	
reduzir	barreiras	atitudinais	e	conceituais	e	se	pautar	por	uma	ressignificação	
do	processo	de	aprendizagem	na	sua	relação	com	o	desenvolvimento	humano.	
Assinale	a	alternativa	com	a	sequência	correta.	
a)	 (	 )	 V	–	F	–	F	–	V.		
b)	 (	 )	 F	–	F	–	V	–	V.
c)	 (	 )	 V	–	V	–	F	–	V.	
d)	(	 )	 F	–	V	–	V	–	F.	
41
TÓPICO 3
MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, 
TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E 
RELAÇÕES DE GÊNERO
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Neste	tópico,	vamos	trabalhar	o	conceito	de	multiculturalismo,	enfatizando	
as	 origens	 do	 surgimento	 do	 movimento	 e	 os	 campos	 de	 conhecimento	 que	
acolhem	os	estudos	multiculturais.	Nesse	sentido,	temos	como	objetivo	situar	o	
multiculturalismo	do	ponto	de	vista	político	(movimentos	sociais	multiculturais	
e	 políticas	 públicas)	 e	 teórico	 (ciências	 multiculturalistas),	 visando	 oferecer	
conteúdo	de	base	para	a	interpretação	desse	campo	de	estudos.
No	 desenvolvimento	 deste	 tópico,	 também	 será	 abordado	 os	 temas	
tolerância/intolerância	 e	 relações	 de	 gênero,	 discutindo	 de	 modo	 reflexivo	 os	
conceitos	de	feminismo	e	ideologia	de	gênero.	O	objetivo	é	apresentar	diferentes	
pontos	de	vista	para	os	referidos	conceitos,	e	conduzir	o	acadêmico	a	uma	reflexão	
crítica	da	realidade,	de	modo	que	possa	–	com	embasamento	crítico	e	sempre	que	
possível	científico	–	compreender	melhor	esses	temas.
2 CONCEITUANDO MULTICULTURALISMO
Como	 a	 própria	 etimologia	 da	 palavra	 nos	 sugere,	 o	 termo	 “multi”	
significa	 vários;	 o	 termo	 “culturalismo”	 refere-se	 à	 cultura;	 e	 o	 sufixo	 “ismo”	
está	 associado	 às	 posições	 assumidas	 ou	 ideias	 aceitas	 sobre	 a	 possibilidade	
do	conhecimento,	ou	 seja,	no	caso	do	multiculturalismo	significa	uma	posição	
assumida	sobre	as	diferentes	relações	entre	as	várias	culturas.	
O	‘multiculturalismo’	é	um	termo	polissêmico	e	existem,	pelo	menos,	
dois	sentidos	diferentes	em	que	este	pode	ser	utilizado.	Um	primeiro	
sentido é descritivo e	reporta	a	um	fato	da	vida	humana	e	social,	que	
é	 a	 diversidade	 cultural	 étnica,	 religiosa	 que	 se	 pode	 observar	 no	
tecido	 social,	 ou	 seja,	 um	 certo	 cosmopolitismo	 que	 atualmente	 é	
fácil	de	ver	em	qualquer	grande	cidade	da	Europa	e	da	América	do	
Norte.	Um	segundo	sentido	é	prescritivo e	está	associado	às	chamadas	
políticas	de	reconhecimento	da	 identidade	e/ou	da	diferença	que	os	
poderes	 públicos	 prosseguem,	 ou	deveriam	prosseguir,	 segundo	 os	
seus	defensores,	em	nome	dos	grupos	minoritários	e/ou	‘subalternos’	
(FERNANDES,	2011,	p.	2,	grifos	do	original).	
Dito	de	outra	forma,	multiculturalismo	significa	a	existência	de	grupos	de	
diversas	culturas,	assim	como	o	embate	político,	econômico	e	social	travado	pelos	
42
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
diferentes	grupos	sociais	na	luta	pelo	respeito	à	diversidade.	Por	isso,	além	de	
estudos	teóricos	e	empíricos,	o	termo	implica	na	conquista	de	reivindicações	das	
chamadas	minorias	ou	grupos	marginalizados,	como	os	negros,	índios,	mulheres,	
homossexuais	e	outros	tantos	que	buscam	assegurar	seus	direitos	sociais	através	
de	políticas	públicas	de	ação	afirmativa.
FIGURA 6 – MULTICULTURALISMO, DIVERSIDADE E DESAFIO DO HOMEM PARA 
O SÉCULO XXI
FONTE: Disponível em: <http://fadivagrupo7.blogspot.com/>. Acesso em: 7 dez. 2017.
O	multiculturalismo	é	pluralista,	porque	as	diferenças	coexistem	em	um	
mesmo	 país	 ou	 região.	 Ali	 convivem	 diferentes	 culturas,	 valores	 e	 tradições.	
Há	o	diálogo	e	convivência	pacífica	entre	as	culturas	diversas.	No	entanto,	esta	
coexistência	 pacífica	 não	 significa	 negar	 as	 diferenças	 entre	 as	 culturas,	 nem	
homogeneizá-las,	mas	compreendê-las	a	partir	de	uma	visão	dialética	sobre	os	
termos	igualdade	e	diferença,	na	medida	em	que	não	se	pode	falar	em	igualdade	
sem	levar	em	conta	as	diferenças	culturais,	e	não	se	poderelacionar	a	diferença	
como	medida	de	valor.
Nesse	 sentido,	 entendemos	 que	 igualdade	 e	 diferença	 não	 são	 termos	
opostos.	Na	verdade,	a	 igualdade	opõe-se	à	desigualdade,	 enquanto	diferença	
opõe-se	 à	 padronização,	 à	 homogeneização,	 à	 produção	 em	 série.	 O	 que	 o	
multiculturalismo	 quer	 é	 lutar	 pela	 igualdade	 e	 pelo	 reconhecimento	 das	
diferenças.
Por	esse	motivo,	um	dos	temas	centrais	do	multiculturalismo	tem	sido	o	
Direito	à	Diferença	e	à	Diminuição	das	Desigualdades,	bandeira	de	luta	de	vários	
movimentos	sociais	contemporâneos	espalhados	pelo	mundo	inteiro.	
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
43
3 SURGIMENTO DO MULTICULTURALISMO
O	termo	multiculturalismo	é	relativamente	recente	e	sua	utilização	ocorreu	
pela	primeira	vez	na	Inglaterra,	entre	as	décadas	de	1960	e	1970.	De	acordo	com	
Fernandes	(2006),	o	multiculturalismo	surgiu	na	linguagem	oficial	do	Canadá	e	
na	Austrália,	para	designar	as	políticas	públicas	com	o	objetivo	de	valorizar	e/ou	
promover	a	diversidade	cultural.	Ainda	nesse	período,	o	autor	destaca	que	outros	
países	anglo-saxônicos,	como	o	Reino	Unido,	a	Nova	Zelândia	e	os	EUA,	também	
iniciam	políticas	públicas	qualificadas	como	multiculturais.
NOTA
Países anglo-saxônicos são países cujos descendentes são provenientes de povos 
germânicos (anglos, saxões e jutos). Esta denominação é resultado da fusão desses povos 
que se fixaram ao sul e leste da Grã-Bretanha, no século V.
Tomando	 como	 base	 o	 caso	 dos	 Estados	 Unidos,	 o	 multiculturalismo	
surge	 como	movimento	organizado	na	década	de	1960,	 a	partir	dos	primeiros	
movimentos	sociais,	como:	o	negro,	feminista,	hippie,	ambientalista,	entre	outros.	
No	 entanto,	 para	 entender	 o	 motivo	 pelo	 qual	 esses	 movimentos	 surgiram,	
devemos	 resgatar	 o	 aspecto	 da	 constituição	 histórica	 dos	 Estados	 Unidos,	
marcada	por	um	longo	processo	de	colonização,	que	teve	como	base	a	eliminação	
e	a	opressão	das	diversas	tribos	indígenas	que	ali	estavam.	Além	disso,	prezado	
acadêmico,	devemos	 levar	 em	 conta	 o	processo	de	 escravidão	que	ocorreu	no	
país,	no	qual	os	negros	serviram	como	base	para	o	desenvolvimento	da	nação.
Essas	posturas	dos	colonizadores	norte-americanos	foram	influenciadas	
pelos	valores	 religiosos	de	 igrejas	protestantes,	 comuns	 à	maioria	dos	 colonos	
de	origem	anglo-saxã.	Esta	influência	permeou	o	pensamento	e	as	atitudes	dos	
colonizadores	norte-americanos	em	relação	aos	demais	grupos,	desencadeando,	
mais	tarde,	uma	série	de	movimentos	pela	busca	de	justiça	social.
O	que	queremos	destacar	neste	momento	é	que,	a	exemplo	do	caso	dos	
EUA,	o	movimento	multiculturalista	surgiu	em	grande	escala	nas	sociedades	nas	
quais	o	direito	à	diversidade	cultural	foi	historicamente	negado.
 
Segundo	 Silva	 (2000),	 o	 multiculturalismo	 teve	 início	 em	 países	 em	
que	 a	diversidade	 cultural	 era	 vista	 como	um	problema	para	 a	 construção	da	
unidade	nacional.	Muitas	nações	construíram	suas	 identidades	por	 intermédio	
de	processos	autoritários,	pela	imposição	de	uma	cultura,	dita	superior,	a	todos	
os	membros	da	sociedade.	
44
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
4 ÁREAS DE CONHECIMENTO QUE ABRIGAM O 
MULTICULTURALISMO
Já	 entendemos	 que	 o	 multiculturalismo	 é,	 ao	 mesmo	 tempo,	 uma	
rede	 de	 movimentos	 sociais	 em	 prol	 da	 afirmação	 dos	 grupos	 minoritários,	
historicamente	excluídos	pela	sociedade.	Neste	sentido,	podemos	compreender	
que	o	multiculturalismo	é	um	campo	de	estudos	que	aborda	a	problemática	dos	
grupos	de	forma	multidisciplinar.	Portanto,	vamos	tratar	agora	de	alguns	aspectos	
sobre	o	caráter	científico	do	multiculturalismo,	que	são	os	estudos	multiculturais.
Prezados	 acadêmicos,	 vocês	 sabiam	 que	 os	 estudos	multiculturais	 são	
provenientes	de	várias	áreas	do	conhecimento?
Pois	bem,	entre	as	áreas	de	conhecimento	podemos	destacar	os	campos	
da	Antropologia	Cultural,	Psicologia	Social,	História	e	Sociologia,	que	abordam	
diferentes	problemas	relativos	ao	multiculturalismo.	Algumas	áreas	se	ocupam	
do	ponto	de	vista	histórico	do	movimento,	outras	se	ocupam	da	genealogia	dos	
mesmos,	outras	se	ocupam	dos	processos	políticos	e	sociais	que	os	movimentos	
promovem,	 e	 ainda,	 outras	 áreas	 se	 ocupam	 de	 aspectos	 epistemológicos	 do	
estudo	dos	movimentos.	Enfim,	há	uma	variedade	de	estudos	sobre	o	tema	nas	
mais	diferentes	áreas	disciplinares.
NOTA
NOTA
GENEALOGIA: estudo da origem das famílias.
EPISTEMOLOGIA: estudo do grau de certeza do conhecimento científico em seus diversos 
ramos.
Abordagem Interdisciplinar: refere-se ao trabalho e estudo de profissionais de 
diversas áreas do conhecimento ou especialidades sobre um determinado tema ou área de 
atuação, implicando necessariamente na integração dos mesmos para uma compreensão 
mais ampla do assunto.
Portanto,	 o	 estudo	 do	 multiculturalismo	 requer	 uma	 compreensão	
interdisciplinar do	contexto	histórico,	socioeconômico	e	cultural	desses	diferentes	
grupos	sociais	e	da	sua	diversidade	cultural	construída	conforme	seu	 tempo	e	
suas	condições	humanas	e	geográficas.
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
45
Daí	a	complexidade	em	se	abordar	a	temática	do	multiculturalismo	em	
todas	as	regiões	do	planeta,	levando	em	consideração	a	diversidade	e	a	história	
dos	 seus	 diversos	 povos	 em	 cada	 um	 dos	 cinco	 continentes	 e	 seus	 diferentes	
países.	No	entanto,	o	multiculturalismo	já	alcançou	um	elevado	nível	na	discussão	
acadêmica.	De	acordo	com	Sidekum	(2003,	p.	9),	“esse	alcance	é	a	marca	principal	
das	últimas	décadas	do	século	XX,	consolidando-se,	especialmente,	pelos	estudos	
comparados	da	cultura,	desenvolvidos	pela	antropologia	cultural	e	pela	psicologia	
aplicada,	também	conhecida	por	psicologia	social	intercultural”.	
5 ESTUDOS DE GÊNERO
O	 surgimento	 dos	 estudos	 atuais	 sobre	 a	 condição	 feminina,	 o	 Estudo	
de	Gênero	 só	 foi	possível	porque,	 ao	 longo	do	 tempo,	 o	movimento	 social	de	
mulheres	“fez	muito	barulho”,	denunciando	as	situações	de	opressão,	preconceito	
e	dominação	que	sofreram.	A	amplitude	do	movimento	feminista	não	pode	e	não	
deve	ser	 reconhecida	apenas	como	um	dos	movimentos	de	 luta	das	mulheres,	
porque	muitas	mulheres	com	perfis	e	histórias	diferentes	participaram.	Se	hoje	
o	 gênero	 representa	 uma	 categoria	 de	 análise	 tão	 importante	 para	 as	 ciências	
humanas	e	sociais,	é	porque	se	fez	legítimo	pelas	tantas	batalhas	dos	movimentos	
feministas,	tornando-se	fundamental	para	a	compreensão	das	relações	humanas.
5.1 FEMINISMO
O	feminismo	é	um	conceito	múltiplo,	ele	possui	uma	dimensão	política,	
que	se	refere	aos	movimentos	de	luta	por	direitos,	e	uma	dimensão	acadêmica,	
que	se	refere	aos	estudos	da	condição	feminina.	A	dimensão	acadêmica,	ou	seja,	
o	campo	de	pesquisa	e	de	conhecimento	sobre	as	mulheres,	pode	ser	considerada	
multidisciplinar,	 porque	 ocorre	 em	 diferentes	 campos	 disciplinares,	 como:	
Antropologia,	História,	Educação,	Sociologia,	Direito	e	vários	outros.	
O	principal	objetivo	do	movimento	feminista	não	foi	alcançar	a	igualdade	
entre	homens	e	mulheres,	mas	sim	a	equidade	entre	eles.	Para	assegurar	a	igualdade	
não	deve	ser	necessário	que	as	mulheres	assumam	posturas	“masculinas”.	Elas	
devem	preservar	suas	identidades.	Por	isso	a	ideia	de	“equidade”	e	não	igualdade.
Com	 relação	 ao	Movimento	 Feminista,	 ele	 surgiu	 no	 século	 XVIII,	 na	
Europa,	 especialmente	 na	 Inglaterra	 e	 França,	mas	 logo	 repercutiu	 em	 outros	
países	 e	 se	 desenvolveu	 de	 diferentes	 formas	 e	 expressões	 até	 os	 dias	 atuais.	
Para	dar	uma	ideia	de	totalidade	ao	movimento,	ele	foi	dividido	em	três	grandes	
momentos,	que	explicam	as	diferentes	concepções	e	lutas	do	movimento.		
46
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
5.2 A PRIMEIRA ONDA FEMINISTA
FONTE: Disponível em: <http://justificando.cartacapital.com.br/2017/09/14/historia-da-
primeira-onda-feminista/>. Acesso em: 19 set. 2017.
FONTE: Disponívelem: <http://igualdadedegeneroeraca.blogspot.com/2011/09/movimento-
feminista>. Acesso em: 20 out. 2011.
Esse	primeiro	momento	do	 feminismo,	 chamado	“Primeira	Onda	
Feminista”,	refere-se	a	um	período	extenso	de	atividade	feminista	ocorrido	
durante	 o	 século	 XIX	 e	 fim	do	 século	 XX,	 no	 Reino	Unido,	 na	 França	 e	
Estados	Unidos,	que	tinha	o	foco	originalmente	na	promoção	da	igualdade	
nos	direitos	 contratuais	 e	de	propriedade	para	homens	e	mulheres,	 e	na	
oposição	de	casamentos	arranjados	e	da	propriedade	de	mulheres	casadas	
(e	 seus	 filhos)	 por	 seus	 maridos.	 No	 entanto,	 no	 fim	 do	 século	 XIX,	 o	
ativismo	passou	a	se	focar,	principalmente,	na	conquista	de	poder	político,	
especialmente	o	direito	ao	sufrágio	(voto)	por	parte	das	mulheres.	
As	 ativistas	 femininas	 fizeram	 campanhas	 pelos	 direitos	 legais	
das	 mulheres	 (direitos	 de	 contrato,	 direitos	 de	 propriedade,	 direitos	
ao	voto),	pelo	direito	da	mulher	à	sua	autonomia	e	à	 integridade	de	seu	
corpo,	pelos	direitos	ao	aborto	e	pelos	direitos	reprodutivos	(incluindo	o	
acesso	à	contracepção	e	a	cuidados	pré-natais	de	qualidade),	pela	proteção	
de	mulheres	e	garotas	contra	a	violência	doméstica,	o	assédio	sexual	e	o	
estupro,	 pelos	 direitos	 trabalhistas,	 incluindo	 a	 licença-maternidade	 e	
salários	iguais,	e	todas	as	outras	formas	de	discriminação.	
Ainda	 assim,	 muitas	 feministas	 já	 faziam	 campanhas	 pelos	 direitos	
sexuais,	reprodutivos	e	econômicos	das	mulheres.
Na	 França	 do	 século	 XVIII,	 envolvidas	 pelo	 ideal	 de	 “Liberdade,	
Igualdade	e	Fraternidade”	da	Revolução	Francesa,	mulheres	de	todas	as	classes	
sociais	 juntaram-se	 ao	movimento	 revolucionário.	 Elas	 acreditavam	 que,	 uma	
vez	estabelecida	a	democracia,	seus	direitos	ao	voto,	à	vida	pública,	ao	divórcio	
e	 à	 emancipação	 social	 (já	 que	 eram	 subordinadas	 ao	 pai	 ou	marido)	 seriam	
assegurados.	 Muitas	 mulheres	 lutaram	 nos	 fronts de	 batalha	 na	 revolução,	 e	
algumas	morreram	guilhotinadas,	por	defenderem	suas	convicções	depois	que	a	
Revolução	se	consolidou	e	lhes	negou,	de	forma	desleal,	seus	direitos.	
5.3 A SEGUNDA ONDA FEMINISTA
A	 Segunda	 Onda	 Feminista	 culminou	 com	 os	 movimentos	 sociais	 em	
andamento	nos	Estados	Unidos,	e	o	país	foi,	desta	vez,	a	referência	do	movimento	
para	o	restante	do	mundo.	A	segunda	onda	se	refere	a	um	período	da	atividade	
feminista	que	teve	início	na	década	de	60	e	durou	até	o	fim	da	década	de	80.
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
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Uma	das	autoras	mais	importantes	da	segunda	onda	é	Betty	Friedan,	com	
seu	famoso	livro	A Mística Feminina (The Feminine Mystique,	1963).
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Feminismo>. Acesso em: 20 out. 2011.
Disponível em: <http://www.veracruz.edu.br/palavradeprofes 
sor/2010/cinema1.htm>.
No	 livro,	 Friedan	 levanta	 a	 hipótese	 de	 que	 as	 mulheres	 seriam	
vítimas	 de	 um	 sistema	 falso	 de	 crenças,	 que	 exige	 que	 elas	 encontrem	
identidade	e	 significado	em	suas	vidas	através	de	 seus	maridos	e	filhos;	
esse	sistema	faz	com	que	a	mulher	perca	completamente	a	sua	identidade	
para	a	de	sua	família.	
Friedan,	 especificamente,	 localiza	 esse	 sistema	 nas	 comunidades	
suburbanas	 de	 classe	 média	 pós-Segunda	 Guerra	 Mundial;	 ao	 mesmo	
tempo, o boom econômico	 pós-guerra	 nos	 Estados	 Unidos	 levou	 ao	
desenvolvimento	de	novas	tecnologias	que	tornaram	o	trabalho	das	donas	
de	casa	menos	difícil,	mas	que	frequentemente	tinham	o	resultado	de	tornar	
o	trabalho	das	mulheres	menos	significante	e	menos	valorizado.	
48
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
5.4 A TERCEIRA ONDA FEMINISTA E O SURGIMENTO DOS 
ESTUDOS DE GÊNERO
De	acordo	com	Grossi	(2010),	o	movimento	feminista	e	o	movimento	gay 
merecem	destaque	como	aqueles	que	de	fato	questionaram	as	relações	“afetivo-
sexuais”	no	espaço	privado.	A	partir	de	então,	esses	questionamentos	começaram	
a	adentrar	o	espaço	universitário	e	pesquisas	passaram	a	ser	desenvolvidas	no	
interior	de	várias	disciplinas.	
No	Brasil,	a	partir	dos	anos	1970/80	começam	a	se	desenvolver	estudos	
sobre	 a	 condição	 feminina,	 em	 que	 basicamente	 se	 discutia	 a	 opressão	 das	
mulheres	 em	 uma	 sociedade	 patriarcal.	 Já	 a	 partir	 dos	 anos	 1980	 surgem	 os	
estudos	sobre	as	mulheres,	pois:	“[...]	se	percebe	que	não	é	possível	falar	de	uma	
única	 condição	 feminina	no	Brasil,	 uma	vez	que	 existem	 inúmeras	diferenças,	
não	apenas	de	classe,	mas	também	regionais,	de	classes	etárias,	de	ethos, entre as 
mulheres	brasileiras”	(GROSSI,	2010,	p.	3-4).
Nesse	 período,	 várias	 teses	 são	 desenvolvidas,	 porém,	 segundo	Grossi	
(2010,	p.	4),	a	referência	utilizada	para	o	reconhecimento	das	mulheres	enquanto	
grupo	está	ainda	associada	a	uma	“unidade	biológica	(vagina,	útero,	seios)”.	
6 CONCEITUANDO GÊNERO
O	 conceito	 de	 gênero	 surge	 no	 Brasil	 através	 de	 pesquisadoras	 norte-
americanas,	que	vão	tratar	as	relações	entre	homens	e	mulheres	de	forma	a	negar	
as	diferenças	biológicas	como	constituidoras	das	identidades	dos	seres	humanos,	
e	 introduzir	a	perspectiva	de	que	somos	construídos	a	partir	de	determinados	
mecanismos	sociais.	Uma	das	pensadoras	responsáveis	por	essa	nova	perspectiva	
é	a	autora	Joan	Scott.	No	artigo	intitulado	“Gênero:	uma	categoria	útil	de	análise	
histórica”,	ela	diz	que:	
O	gênero	 torna-se	uma	maneira	de	 indicar	 ‘construções	 sociais’	 –	 a	
criação	 inteiramente	 social	 de	 ideias	 sobre	 os	 papéis	 adequados	
aos	 homens	 e	 às	mulheres.	 É	 uma	maneira	 de	 se	 referir	 às	 origens	
exclusivamente	sociais	das	 identidades	subjetivas	dos	homens	e	das	
mulheres.	O	gênero	 é,	 segundo	 esta	definição,	 uma	 categoria	 social	
imposta	sobre	um	corpo	sexuado	(SCOTT,	1990,	p.	7).
Para	a	estudiosa	Françoise	Héritier	(1996),	o	conceito	de	gênero	é	relacional,	
ou	seja,	se	constrói	na	relação	entre	homens	e	mulheres,	haja	visto	que	ninguém	
vive	só,	pois	todas	as	pessoas	se	relacionam	desde	que	nascem,	independente	das	
regras	sociais	e	culturais.	
Segundo	Grossi	(2010),	papéis	de	gênero	são	as	representações	(tomadas	
como	representações	de	uma	personagem	no	teatro)	de	cada	sexo,	ou	seja,	papéis	
sexuais	são	as	características	atribuídas	a	cada	sexo,	de	acordo	com	sua	cultura.	
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
49
São	modelos	 do	 que	 é	 próprio	 e	 concernente	 a	 cada	 sexo.	 Sabe-se,	 através	 de	
relatos	de	historiadores,	que	os	papéis	de	gênero	podem	ser	alterados	dentro	de	
uma	mesma	sociedade,	dependendo	das	situações.
 
Com	relação	à	identidade	de	gênero,	ela	se	forma,	segundo	Grossi	(2010),	a	
partir	da	socialização	de	valores	e	comportamentos	que	são	internalizados	logo	nas	
primeiras	fases	da	infância.	Esses	valores	e	comportamentos	que	são	repassados	
são	diferentes	para	cada	sexo	e	também	variam	de	uma	cultura	para	outra.	
Um	 dos	 estudos	 da	 autora	 clássica	 de	 Antropologia,	 Margaret	 Mead	
(1979),	 poderá	 ilustrar	 o	 que	 procuramos	 dizer	 até	 aqui.	 Essa	 autora	 procura	
nos	 fazer	 refletir	 como,	 nas	diferentes	 sociedades,	 são	 construídos	padrões	de	
conduta,	 comportamento,	 culturas,	 atribuindo-se	 valores	 a	 algumas	 coisas	 e	
a	outras	não,	 como	 idade	e	 sexo,	 ritmo	de	nascimento,	maturação	e	velhice,	 a	
estrutura	do	parentesco	consanguíneo.	
Em	seu	livro	“Sexo e Temperamento”,	essa	antropóloga	aborda	três	grupos	
diferentes	 em	uma	 ilha	da	Nova	Guiné:	 os	montanheses	Arapesh,	 os	 canibais	
Mundugumor	e	os	 caçadores	de	 cabeças	de	Tchambuli.	A	autora	 faz	o	 estudo	
com	estes	três	grupos	porque	as	diferenças	de	sexo	fazem	parte	da	organização	
sociocultural	 dos	 mesmos,	 ainda	 que	 estas	 diferenças	 sejam	 percebidas	 e	
dramatizadas	de	formas	diferentes.	
A	partir	dessa	observação,	a	autora	constata:	ainda	que,	de	uma	 forma	
geral,	as	sociedades	se	organizem	levando	em	conta	as	diferenças	entre	os	sexos,	
não	significa	dizer	que	essa	organização	esteja	baseadaem	sistemas	de	oposição	
ou	dominação.	
Na	visão	do	 escritor	 argentino	 Jorge	 Scala,	 especialmente	 em	 seu	 livro	
intitulado	“Ideologia	de	Gênero:	o	neototalitarismo	e	a	morte	da	família”	(2011),	
bem	como	em	uma	entrevista	sobre	o	tema	(2012),	o	termo	gênero	é	associado	a	
uma	ideologia	e	não	a	uma	teoria	ou	hipótese,	pelo	seguinte	motivo:
Uma	 teoria	 é	 uma	 hipótese	 verificada	 experimentalmente.	 Uma	
ideologia	é	um	corpo	fechado	de	ideias,	que	parte	de	um	pressuposto	
básico	falso	–	que	por	isto	deve	impor-se	evitando	toda	análise	racional	
-,	e	então	vão	surgindo	as	consequências	lógicas	desse	princípio	falso.	
As	 ideologias	 se	 impõem	 utilizando	 o	 sistema	 educacional	 formal	
(escola	 e	 universidade)	 e	 não	 formal	 (meios	 de	 propaganda),	 como	
fizeram	os	nazistas	e	os	marxistas	(SCALA,	2012,	s.p.).
O	 autor	 argumenta	 ainda	 que	 o	 fundamento	da	 ideologia	 de	 gênero	 é	
falso.
Seu	fundamento	principal	e	falso	é	este:	o	sexo	seria	o	aspecto	biológico	
do	ser	humano,	e	o	gênero	seria	a	construção	social	ou	cultural	do	sexo.	
Ou	seja,	que	cada	um	seria	absolutamente	livre,	sem	condicionamento	
algum,	nem	sequer	o	biológico	-,	para	determinar	seu	próprio	gênero,	
dando-lhe	o	conteúdo	que	quiser	e	mudando	de	gênero	quantas	vezes	
quiser.	 Agora,	 se	 isso	 fosse	 verdade,	 não	 haveria	 diferenças	 entre	
50
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
homem	e	mulher	–	exceto	as	biológicas	-;	qualquer	tipo	de	união	entre	
os	sexos	seria	social	e	moralmente	bom,	e	todas	seriam	matrimônio;	
cada	tipo	de	matrimônio	levaria	a	um	novo	tipo	de	família;	o	aborto	
seria	um	direito	humano	inalienável	da	mulher,	já	que	somente	ela	é	
que	fica	grávida;	etc.	Tudo	isso	é	tão	absurdo,	que	só	pode	ser	imposto	
com	uma	espécie	de	“lavagem	cerebral”	global	(SCALA,	2012,	s.p.).
Para	concluir	sua	explicação,	Scala	responde	à	seguinte	pergunta:	quais	
são,	então,	as	consequências	para	nossos	filhos,	para	a	próxima	geração,	caso	a	
ideologia	de	gênero	seja	incentivada	nas	escolas	infantis?	
Eu	respondo	com	um	fato	real.	Dei	uma	palestra	sobre	esta	ideologia,	
a	todos	os	professores	de	uma	cidade	de	7.000	habitantes,	numa	área	
rural	 da	minha	província.	Gente	 simples	 e	 trabalhadora.	Ao	 concluí-
la,	uma	professora	comentou	em	voz	alta:	 ‘Agora	eu	entendo	porque	
há	alguns	dias	meu	filho	de	sete	anos	me	perguntou:	mamãe,	eu	sou	
menino	ou	menina	…?	As	pessoas	formadas	e	maduras	estão	imunes	
dessa	ideologia,	mas	se	a	permitirmos	penetrar	nas	crianças	desde	tenra	
idade	–	cinema,	rádio,	TV,	escola,	revistas	-,	em	muitos	casos,	teremos	
que	lamentar	com	o	tempo	tragédias	de	todo	tipo	(SCALA,	2012,	s.p.).
Vejamos	o	que	nos	apresenta	o	autor	Dale	O’Leary	(1997,	p.	1),	em	sua	
obra	“A	agenda	de	gênero”.
Sem	 alarde	 ou	 debate,	 a	 palavra	 ‘sexo’	 foi	 substituída	 pela	 palavra	
‘gênero’.	 Nós	 costumávamos	 falar	 de	 ‘discriminação	 de	 sexo’,	 mas	
agora	 é	 ‘discriminação	 de	 gênero’.	 Com	 certeza	 parece	 bastante	
inocente.	 ‘Sexo’	 possui	 um	 significado	 secundário,	 subentendendo	
relação	 sexual	 ou	 atividade	 sexual.	 ‘Gênero’	 parece	 mais	 delicado	
e	 refinado.	 As	 militantes	 feministas	 aprenderam	 a	 partir	 de	 suas	
derrotas.	Quando	elas	não	puderam	vender	sua	ideologia	radical	para	
as	mulheres	em	geral,	elas	lhe	deram	uma	nova	roupagem.	Agora	elas	
são	bastante	 cuidadosas	em	revelar	 seus	verdadeiros	objetivos.	Elas	
pretendem	alcançar	seus	fins	não	por	uma	confrontação	direta,	mas	
através	de	uma	mudança	no	significado	das	palavras.
No	decorrer	de	 seu	 texto,	O’Leary	 (1997)	 faz	menção	à	Conferência	da	
ONU	 sobre	 População,	 realizada	 no	Cairo,	 em	 1994,	 e	 a	Conferência	 sobre	 as	
Mulheres,	realizada	em	Pequim,	em	1995,	em	que	foi	incluída	na	plataforma	de	
ação	destas	conferências	a	“perspectiva	de	gênero”.	Sobre	este	tema,	o	autor	faz	
os	seguintes	questionamentos:
Qual	é	a	relação	entre	a	“perspectiva	de	gênero”	e	o	fato	de	que	os	seus	
proponentes	possuem	uma	extrema	aversão	a	palavras	como	mãe,	pai,	
marido	e	esposa?	Por	que	os	defensores	da	Agenda	de	Gênero	referem-se	
ao	casamento	e	à	família	em	termos	negativos?	Por	que	um	documento	da	
ONU	sobre	as	mulheres	não	tem	quase	nada	de	positivo	a	dizer	sobre	as	
mulheres	que	são	mães	de	tempo	integral?	Por	que	a	ONU	não	promove	
mais	a	“perspectiva	da	mulher”?	(O’LEARY,	1997,	p.	2).
Caro	acadêmico,	agora	é	com	você.	Diante	das	discussões	apresentadas	
até	o	momento,	como	você	define	gênero?	O	que	você	pensa	sobre	o	assunto?	
Você	considera	que	o	objetivo	da	 ideologia	de	gênero	é	promover	a	defesa	da	
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
51
mulher?	Promover	a	defesa	do	homem?	Defender	a	vida	humana	e	as	crianças?	
Lutar	pela	 equidade	 entre	homens	 e	mulheres?	 São	muitas	 as	 indagações	que	
precisam	ser	feitas	para	elucidar	seu	pensamento,	e	para	que	de	modo	crítico	e	
racional	você	possa	chegar	às	suas	próprias	conclusões.
DICAS
Para complementar nossa conversa, leia atentamente a introdução do livro 
de Marilena Chauí sobre “O que é ideologia” e tire suas próprias conclusões sobre os 
fundamentos da “ideologia de gênero”.
“Frequentemente, ouvimos expressões do tipo “partido político ideológico”, é preciso ter 
uma “ideologia”, “falsidade ideológica”.
Essas expressões tomam a palavra ideologia para com ela significar “conjunto sistemático 
e encadeado de ideias”. Ou seja, confundem ideologia com ideário.
Nossa tarefa, aqui, será desfazer a suposição de que a ideologia é um ideário qualquer 
ou qualquer conjunto encadeado de ideias e, ao contrário, mostrar que a ideologia é 
um ideário histórico, social e político que oculta a realidade, e que esse ocultamento é 
uma forma de assegurar e manter a exploração econômica, a desigualdade social e a 
dominação política.
FONTE: Chauí, M. O Que é Ideologia. 2. ed. São Paulo: Brasiliense, 2001. Disponível em: 
<https://goo.gl/VMihTF>. Acesso em: 9 set. 2017.
7 ESTUDOS DE GÊNERO
Especialmente	nas	três	últimas	décadas,	os	estudos	de	gênero	passaram	
a	 se	preocupar	 com	várias	 questões	 relativas	 ao	universo	das	 relações	 sociais.	
Observar	a	realidade	a	partir	da	análise	de	gênero	possibilitou	novas	interpretações	
sobre	o	comportamento	humano	e	a	observação	das	desigualdades	de	gênero.	
Vejamos,	a	seguir,	alguns	estudos	de	gênero	e	suas	principais	contribuições.
A construção social da desigualdade de Gênero (Educação Diferenciada): 
Os	 estudos	 compreendem	que	há	uma	 educação	diferenciada	para	meninos	 e	
meninas	desde	o	seu	nascimento.	Nessa	educação,	reproduzem-se	idealizações	e	
modelos	de	papéis	destinados	a	homens	e	mulheres	na	sociedade.	Por	exemplo,	
os	meninos	brincam	de	bola	e	carrinho,	enquanto	as	meninas	brincam	de	boneca	
e	casinha,	deixando	claro	o	espaço	que	cada	um	ocupará	dentro	da	sociedade.	Por	
este	motivo	é	que	se	organizam	papéis	diferenciados	para	homens	e	mulheres.
Papéis femininos ou Feminilidades: De	acordo	com	os	estudos,	os	modelos	
de	feminino	em	nossa	sociedade	são	criados	a	partir	de	símbolos	antagônicos:	Eva	
e	Maria,	bruxa	e	fada,	mãe	e	madrasta.		Sendo	que	essas	definições	propõem	o	que	
é	bom	para	as	mulheres	e	culpam-nas	quando	não	correspondem	a	este	padrão.	
A	sociedade	espera	que	as	mulheres	cuidem	da	casa,	dos	filhos	e	do	marido,	que	
52
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
sejam	as	guardiãs	da	moral	da	família,	que	sejam	meigas,	atenciosas,	maternais	e	
frágeis.	Outras	expressões	de	feminino	são	marginalizadas.
Papéis masculinos ou Masculinidades:	Os	estudos	sobre	masculinidade	
tratam	da	construção	da	identidade	masculina	e	das	diferentes	masculinidades.	
Além	 disso,	 tratam	 do	 discurso	 sobre	 o	 masculino,	 a	 idealização	 dele	 e	 os	
padrões	de	masculinidade.	O	que	a	sociedade	espera	do	papel	desempenhado	
pelos	 homens	 é	 que	 sejam	 provedores,	 fortes	 e	 viris.	 Outras	 expressões	 de	
masculinidade	também	são	consideradas	desviantes.
Violência de gênero: Os	estudos	apontam	que	a	violência	de	gênero	 é	
demonstrada	no	exercício	depoder	dos	homens	 (na	 forma	de	espancamentos,	
insultos,	ameaças,	estupros,	assédio,	assassinatos	e	outros)	sobre	as	mulheres	e	
demais	pessoas	 consideradas	 "inferiores"	 (homossexuais,	 crianças,	 idosos	 etc.).	
Esses	estudos	demonstram	uma	série	de	situações	em	que	as	mulheres	têm	sido	
historicamente	 violentadas	 em	 seus	 direitos,	 tanto	 no	 aspecto	 físico,	 quanto	
psicológico.
Famílias: Muitos	 estudos	 reconhecem	que	há	uma	visão	 tradicional	de	
família	que	não	reconhece	a	existência	de	núcleos	familiares	chefiados	somente	
por	mulheres	 ou	 a	 constituição	de	 famílias	 compostas	por	 "agrupamento".	De	
igual	 forma,	 são	 abordadas	 aqui	 as	 questões	 relativas	 aos	 papéis	 tradicionais	
desempenhados	por	homens	e	mulheres	dentro	das	estruturas	familiares.
 
A imagem das mulheres nos meios de comunicação: Os	 estudos	
demonstram	que	os	meios	de	comunicação	parecem	dar	às	mulheres	"visibilidade"	
e	"espaço	para	discussão",	mas	que	reforçam	constantemente	o	seu	papel	de	"objeto	
de	consumo",	de	"utilidade	pública"	e	"sexual".	Por	exemplo,	nas	propagandas	de	
bebidas	alcoólicas.
A educação escolar:	 Os	 estudos	 reforçam	 que	 a	 educação	 escolar	 é	
transmissora	de	valores,	atitudes	e	preconceitos,	reprodutora	das	desigualdades	
de	gênero	e	homofobia.	Isso	porque,	no	universo	das	instituições	de	ensino	do	
nosso	país,	assuntos	como	Gênero	e	Sexualidade	têm	sido	tratados	historicamente	
como	tabus.	Quando	se	permite	falar	sobre	esses	temas,	a	escola	tende	a	tratar	
a	questão	como	uma	dimensão	da	vida	adulta,	ligada	à	constituição	da	família	
e	 da	 reprodução,	 através	 de	 uma	 perspectiva	 biológica.	 Desta	 forma,	 tanto	 o	
exercício	da	sexualidade	por	si,	quanto	as	orientações	homoafetivas,	neste	espaço	
disciplinar,	são	negados.	A	escola	tem	assumido,	entre	outros,	o	papel	de	vigiar	
os	 limites	entre	as	 identidades	e	os	papéis	de	gênero.	Nesta	função,	de	acordo	
com	Louro	(1997),	a	norma	a	ser	mantida	e	reafirmada	pela	instituição	valoriza,	
prioritariamente,	o	modelo	tradicional	dos	papéis	de	gênero	e	o	comportamento	
heterossexual,	reafirmando	os	padrões	da	moral	dominante	vigente	na	sociedade,	
tomando	 por	 modelo	 as	 relações	 hierárquicas	 e	 desiguais	 entre	 os	 sexos	 e	 o	
homem	e	a	mulher	branca	heterossexual	de	classe	média	urbana	e	cristã.	Os	que	
são	diferentes	deste	modelo	são	considerados	como	tendo	um	comportamento	
"desviante".	Louro	(1997,	p.	36)	destaca	que	“ninguém	é	essencialmente	diferente,	
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
53
ninguém	é	essencialmente	o	outro;	a	diferença	é	sempre	constituída	a	partir	de	
um	dado	lugar	que	se	toma	como	centro".
No	Brasil,	os	Parâmetros	Curriculares	Nacionais	(PCN)	e	a	Secretaria	de	
Educação	Continuada	 (SECAD/MEC)	possuem	a	perspectiva	de	 que	 os	 temas	
gênero,	 identidade	de	gênero	e	orientação	sexual	devem	ser	considerados	pela	
política	 educacional	 como	uma	questão	de	direitos	 humanos.	 Por	 este	motivo	
é	 que	 existe	no	Brasil	 uma	agenda	de	 enfrentamento	 ao	 sexismo	e	homofobia	
através	do	Plano	Nacional	de	Políticas	para	as	Mulheres	(PNPM)	e	do	Programa	
Brasil	sem	Homofobia	(BSH).
Por	 outro	 lado,	 a	 questão	 tornou-se	 tão	 polêmica	 a	 ponto	 de	 gerar	 a	
elaboração	de	um	projeto	de	lei	(Projeto	de	Lei	7382/2010),	que	prevê	a	penalização	
pela	discriminação	contra	heterossexuais	e	determina	que	as	medidas	e	políticas	
públicas	 antidiscriminatórias	 atentem	 para	 essa	 possibilidade,	 ou	 seja,	 pune	
a	 “heterofobia”.	 No	 momento,	 o	 projeto	 encontra-se	 em	 pedido	 de	 vista	 pela	
Comissão	de	Direitos	Humanos	e	Minorias	(CDHM).
Público e Privado:	Os	estudos	demonstram	que,	a	partir	da	consolidação	
do	capitalismo,	consolida-se	também	a	ideologia	de	que	existe	uma	esfera	pública	
e	 outra	privada.	Esfera	privada:	Lugar	próprio	das	mulheres,	do	doméstico,	da	
subjetividade,	 do	 cuidado,	 da	 honra.	 Esfera	 pública:	 Espaço	 dos	 homens,	 da	
objetividade,	dos	iguais,	da	liberdade	e	do	direito.	Desta	maneira,	convencionou-se	
nas	sociedades	ocidentais	o	espaço	privado	para	a	mulher,	a	casa,	o	cuidado	com	
os	filhos	e	marido;	e	o	espaço	público	ao	homem,	relações	sociais,	políticas	e	de	
trabalho.		Essa	“ordem”	social	criou	diferenças	e	justificou	desigualdades	sexuais	
ao	longo	da	história,	sendo	que	muitas	ainda	permanecem	nos	dias	de	hoje.	
A divisão sexual do trabalho: Os	estudos	demonstram	que	historicamente	
a	divisão	sexual	do	trabalho	enfatiza	para	os	homens	a	produção	e	a	subsistência	da	
família	e	para	as	mulheres	a	reprodução	e	a	educação	das	crianças.
Acadêmico,	sobre	esses	temas,	reflita	as	seguintes	perguntas:	O	que	você	
entende	por	viver	sem	preconceito	de	gênero?	E	sem	preconceito	de	sexo?	Existe	
diferença	entre	essas	perguntas?	Como	você	responderia	cada	uma	delas?
Você	 deve	 ter	 percebido	 que	 nos	 últimos	 cinco	 ou	 dez	 anos	 houve,	 no	
Brasil,	uma	evidente	tendência	ao	uso	do	termo	gênero	–	em	referência	aos	papéis	
masculinos	e	femininos	das	pessoas	–	em	substituição	ao	termo	sexo	–	referente	ao	
sexo	biológico	–	em	muitos	sites	governamentais	e	não	governamentais,	quando	da	
necessidade	de	informar	dados	pessoais	para	cadastros.	Já	se	deparou	com	isso?
Apesar	 de	 serem	 conceitos	 diferentes	 (sexo	 e	 gênero),	 observe	 que	 são	
perguntas	semelhantes,	que	nos	remetem	ao	reconhecimento	das	diferenças	entre	
homens	e	mulheres	e	ao	respeito	para	com	ambos.	No	entanto,	até	pouco	tempo	
não	 se	 fazia	 esse	 questionamento,	 mesmo	 reconhecendo	 que	 há	 manifestações	
de	comportamento	afetivo	ou	sexual	diferente	do	sexo	de	nascimento.	Contudo,	
o	momento	delicado	em	que	a	sociedade	vivencia	esse	debate	não	pode	motivar	
violência	e	intolerância	e,	muito	menos,	a	adoção	do	relativismo,	teoria	filosófica	
que	 admite	 que	 todo	 conhecimento	 é	 relativo.	 Pois	 se	 assim	o	 fosse,	 perguntas	
54
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
como	“de	onde	vim?”,	“o	que	sou?”	e	“para	onde	vou?”	não	seriam	tão	intrigantes	
quanto	são	para	a	única	espécie	capaz	de	raciocinar	sobre	si	mesma,	o	Homo sapiens.
Assim,	o	modo	como	o	termo	gênero	vem	sendo	utilizado	nos	diversos	
meios	 de	 comunicação	 apresenta	 uma	 fragilidade.	 Por	 exemplo,	 se	 o	 gênero	
representa	o	comportamento	social	da	pessoa	e	o	sexo	a	determinação	biológica,	
as	duas	perguntas	deveriam	ser	feitas.	Agora,	se	só	existe	uma	espécie	humana	e	
nesta	se	manifestam	apenas	dois	sexos	(ou	dois	gêneros),	estaria	coerente	discutir	
relações	de	gênero?
O	debate	acerca	do	assunto	é	amplo,	e	para	nós,	brasileiros,	a	Constituição	
prevê,	no	Art.	3º,	inciso	IV,	que	constituem	objetivos	fundamentais	da	República	
Federativa	do	Brasil,	dentre	outros,	promover	o	bem	de	todos,	sem	preconceitos	de	
origem,	raça,	sexo,	cor,	religião,	idade	e	quaisquer	outras	formas	de	discriminação	
(BRASIL,	1988).	Portanto,	já	estaria	respaldado	o	reconhecimento	da	diversidade	
humana	e	o	combate	à	discriminação	de	qualquer	origem.
A	 produção	 foi	 sempre	 mais	 valorizada	 do	 que	 a	 reprodução,	
por	este	motivo	é	que	as	atividades	ditas	 reprodutivas,	 como	as	 funções	
domésticas,	são	desvalorizadas.	De	acordo	com	Faria	(1997),	referindo-se	
ao	trabalho	das	mulheres	rurais	no	Brasil:
Carpir	no	sertão	nordestino	era	uma	tarefa	dos	homens	e	era	
considerado	 um	 trabalho	 pesado.	 Carpir	 no	 brejo	 paraibano	
era	tarefa	das	mulheres	e	era	considerado	trabalho	leve.	Como	
se	vê,	no	cultivo	da	cana	o	que	caracterizava	um	trabalho	como	
leve	ou	pesado	não	era	a	força	física	necessária	para	realizá-lo,	
mas	o	valor	social	de	quem	o	fazia	(FARIA,	1997,	p.	14).
Nesse	 sentido,	 a	 desigualdade	 sexual	 não	 é	 refletida	 como	 um	
problema	 de	 gênero,	 ela	 é	 naturalizada.	 Essa	 postura	 é	 que	 mantém	 o	
padrão	de	desvalorização	do	trabalho	feminino,	e	é	o	que	explica	porque	
muitas	mulheres	ainda	ganham	menos	que	os	homens,	mesmo	ocupando	
cargos	iguais.		
Por	outro	 lado,	após	a	expansão	do	capitalismo,	quando	as	mulheres	
entram	no	mercado	de	trabalho	permanecemainda	com	as	atividades	domésticas,	
o	cuidado	com	a	casa	e	com	os	filhos.		De	acordo	com	o	IBGE	(2005):	
O	 IBGE	 mostra	 que	 a	 crescente	 participação	 das	 mulheres	
no	mercado	de	 trabalho	não	 reduziu	a	 jornada	delas	 com	os	
afazeres	domésticos.	Pelo	contrário,	na	faixa	etária	de	25	a	49	
anos	 de	 idade,	 onde	 a	 inserção	 das	mulheres	 nas	 atividades	
remuneradas	é	maior	e	que	coincide	com	a	presença	de	filhos	
menores,	 o	 trabalho	 doméstico	 ocupa	 94%	 das	 mulheres.	
Aumentando	 o	 tempo	 de	 trabalho	 da	mulher	 em	 função	 da	
dupla	jornada	de	trabalho.
FONTE: Disponível em: <http://www.abed.org.br/congresso2012/anais/122f.pdf>. Acesso em: 2 
jun. 2015.
TÓPICO 3 | MULTICULTURALISMO: VIOLÊNCIA, TOLERÂNCIA/INTOLERÂNCIA E RELAÇÕES DE GÊNERO
55
A	 partir	 da	 segunda	 metade	 do	 século	 XX,	 com	 a	 expansão	 do	
capitalismo,	as	mulheres	entraram	definitivamente	no	mercado	de	trabalho.		
Fato	 que,	 por	 um	 lado,	 possibilitou	 a	 inserção	da	mulher	 no	mundo	do	
trabalho	“produtivo”	e	no	espaço	público,	e	por	outro,	lhe	manteve	a	condição	
de	 trabalhadora	 doméstica,	 pois	 ela	 continuou	 com	 a	 integralidade	 das	
atividades	do	lar.		Ocorre,	assim,	o	acúmulo	de	funções,	chamado	de	dupla	
jornada	de	trabalho.	Além	disso,	do	ponto	de	vista	do	desenvolvimento	do	
capitalismo,	a	 contratação	de	mulheres	 foi	estrategicamente	conveniente,	
pois	a	remuneração	do	trabalho	feminino	era	mais	baixa	do	que	a	masculina,	
dada	a	sua	condição	histórica	de	inferioridade.		Por	esse	motivo,	ainda	nos	
dias	de	hoje,	em	alguns	setores,	o	trabalho	feminino	é	menos	valorizado	do	
que	o	masculino.	
Dupla Jornada de Trabalho: 
FONTE: Disponível em: <https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos14/20320175.pdf>. Acesso 
em: 7 dez. 2017.
56
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 O	 multiculturalismo	 significa	 a	 existência	 de	 grupos	 de	 diversas	 culturas,	
assim	 como:	 o	 embate	político,	 econômico	 e	 social	 travado	pelos	diferentes	
grupos	sociais	na	luta	pelo	respeito	à	diversidade.
•	 O	termo	“multiculturalismo”	é	recente,	e	sua	utilização	ocorreu	pela	primeira	
vez	na	Inglaterra,	entre	as	décadas	de	1960	e	1970.
•	 A	 ideia	de	que	os	 estudos	multiculturais	 são	multidisciplinares,	na	medida	
em	 que	 são	 provenientes	 de	 diversos	 campos	 de	 conhecimento,	 como:	
Antropologia	Cultural,	Psicologia	Social,	História,	Sociologia,	entre	outros.
•	 O	 direito	 à	 diferença	 e	 a	 diminuição	 das	 desigualdades	 são	 temas	 centrais	
para	 o	 multiculturalismo,	 bandeira	 de	 luta	 de	 vários	 movimentos	 sociais	
contemporâneos	espalhados	pelo	mundo	inteiro.	
•	 O	conceito	de	cultura	corresponde	ao	conjunto	das	regras	sociais	aceitas	como	
normas	pela	sociedade	ou	grupo	que	as	compõe.
•	 O	etnocentrismo	é	a	maneira	de	ver	os	“outros”	com	base	nos	nossos	padrões	
culturais,	com	os	nossos	valores	sociais,	morais	e	éticos,	e	não	os	valores	do	
outro.
•	 O	 relativismo	 cultural	 significa	uma	perspectiva	mais	 ampla	 sobre	o	outro,	
uma	perspectiva	que	vê	e	compreende	o	outro	a	partir	dos	parâmetros	e	regras	
sociais	do	outro.
•	 O	feminismo	como	conceito	múltiplo.	Ele	possui	uma	dimensão	política,	que	
se	refere	aos	movimentos	de	luta	por	direitos,	e	uma	dimensão	acadêmica,	que	
se	refere	aos	estudos	da	condição	feminina.
•	 O	Movimento	Feminista	surgiu	no	século	XVIII,	na	Europa,	e	foi	dividido	em	
três	grandes	momentos,	sendo	a	1ª,	a	2ª	e	a	3ª	ondas	feministas.
•	 A	 primeira	 onda	 feminista	 se	 refere	 a	 um	 período	 extenso	 de	 atividade	
feminista,	 ocorrido	durante	o	 século	XIX	 e	 início	do	 século	XX,	na	Europa.	
Sendo	 que	 o	 foco	 original	 do	 movimento	 se	 concentrou	 na	 promoção	 da	
igualdade,	nos	direitos	contratuais	e	de	propriedade	para	homens	e	mulheres.
57
•	 A	 segunda	 onda	 feminista	 tem	 como	 cenário	 de	 surgimento	 os	 Estados	
Unidos	já	no	século	XX,	na	década	de	1960,	na	medida	em	que	o	processo	de	
industrialização	se	acelera.	O	movimento	feminista,	neste	momento	histórico,	
luta	por	melhores	condições	de	trabalho	e	renda,	além	de	questionar	as	relações	
na	família.
•	 Com	a	terceira	onda	feminista	–	a	partir	da	década	de	1980	–,	vem	a	introdução	
da	discussão	da	desigualdade	de	gênero	no	meio	 acadêmico,	momento	 em	
que	surge	o	conceito	de	gênero.	
 
•	 O	 conceito	 de	 gênero	 surge	 no	 Brasil	 através	 de	 pesquisadoras	 norte-
americanas,	que	vão	tratar	as	relações	entre	homens	e	mulheres	de	forma	a	
negar	as	diferenças	biológicas	como	constituidoras	das	identidades	dos	seres	
humanos,	 e	 introduzir	 a	 perspectiva	 de	 que	 somos	 construídos	 a	 partir	 de	
determinados	mecanismos	sociais.
•	 Existem	pensamentos	contrários	à	ideologia	de	gênero	e	outros	favoráveis,	a	
depender	do	autor	que	se	leva	em	consideração.
•	 Questionar	é	tão	importante	quanto	buscar	o	saber,	e	que	é	preciso	estimular	o	
pensamento	crítico	diante	dos	problemas	cotidianos,	de	modo	a	desenvolver	a	
capacidade	de	propor	soluções	viáveis	e	sustentáveis.
•	 Avaliar	 criticamente	 a	 realidade	 à	 luz	 dos	 conhecimentos	 científicos,	 éticos	
e	 morais	 contribui	 para	 o	 reconhecimento	 da	 diversidade	 e	 o	 respeito	 à	
dignidade	humana.
58
1 As	mulheres	frequentam	mais	os	bancos	escolares	que	os	homens,	dividem	
seu	tempo	entre	o	trabalho	e	os	cuidados	com	a	casa,	geram	renda	familiar,	
porém,	continuam	ganhando	menos	e	trabalhando	mais	que	os	homens.
As	políticas	de	benefícios	implementadas	por	empresas	preocupadas	em	facilitar	
a	vida	das	funcionárias	que	têm	criança	pequena	em	casa	já	estão	chegando	ao	
Brasil.	Acordos	de	horários	flexíveis,	programas	como	auxílio-creche,	auxílio-
babá	e	auxílio-amamentação	são	alguns	dos	benefícios	oferecidos.	
FONTE: Adaptado de <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 30 jul. 2013. 
JORNADA	MÉDIA	DE	TRABALHO	POR	SEMANA
NO	BRASIL	-	(EM	HORAS)
AUTOATIVIDADE
FONTE: Disponível em: <http://ipea.gov.br>. Acesso em: 30 jul. 2013.
Considerando	o	texto	e	o	gráfico,	avalie	as	afirmações	a	seguir.
I-	O	somatório	do	tempo	dedicado	pelas	mulheres	aos	afazeres	domésticos	
e	 ao	 trabalho	 remunerado	 é	 superior	 ao	 dedicado	 pelos	 homens,	
independentemente	do	formato	da	família.
II-	O	fragmento	do	texto	e	dos	dados	do	gráfico	apontam	para	a	necessidade	
de	criação	de	políticas	que	promovam	a	igualdade	entre	os	gêneros	no	que	
concerne	a	tempo	médio	dedicado	ao	trabalho	e	remuneração	recebida.
III-	No	fragmento	de	reportagem	apresentado,	ressalta-se	a	diferença	entre	o	
tempo	dedicado	por	mulheres	e	homens	ao	trabalho	remunerado,	sem	alusão	
aos	afazeres	domésticos.
59
É	correto	o	que	se	afirma	em:
a)	 (	 )	 I,	apenas.
b)	 (	 )	 III,	apenas.
c)	 (	 )	 I	e	II,	apenas.
d)	(	 )	 II	e	III	apenas.
e)	 (	 )	 I,	II	e	III.
2	 O	conceito	de	feminismo	possui	uma	perspectiva	política,	que	se	refere	ao	
movimento	social	em	prol	de	políticas	de	reconhecimento	e	uma	perspectiva	
acadêmica,	que	se	refere	aos	estudos	feministas.	Com	relação	ao	conceito	de	
feminismo	e	à	atuação	do	movimento	feminista,	classifique	V	para	as	sentenças	
verdadeiras	e	F	para	as	falsas:	
 
(	 )	 O	feminismo	é	um	movimento	social	e	um	campo	de	conhecimento	que	
tem	como	objetivo	defender	a	 igualdade	entre	homens	e	mulheres,	 seja	do	
ponto	de	vista	jurídico,	político	ou	econômico.
(	 )	 O	movimento	 feminista	 está	 dividido	historicamente	 em	 três	 "ondas",	
sendo	 que	 a	 primeira	 onda	 refere-se	 ao	 feminismo	do	 século	XVIII,	 e	 tem	
como	referências	países	como	França	e	Inglaterra.
(	 )	 Os	 estudos	 feministas	 têm	 como	 objetivo	 denunciar	 as	 desigualdades	
biológicas	entre	homens	e	mulheres,	no	sentido	de	garantir	direitos	apenas	
para	as	mulheres.
(	 )	 Os	estudos	feministas	podem	ser	classificados	como	multidisciplinares,	
pois	são	desenvolvidos	a	partir	de	várias	áreas	de	estudos.
 
Agora,	assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (	 )	 V	–	V	–	F	–	V.
b)	 (	 )	 F	–	V	–	F	–	F.
c)	 (	 )	 F	–	F	–	V	–	F.
d)	(	 )	 F	–	V	–	F	–	V.
3	 O	feminismo	é	um	movimento	social	e	um	campode	estudos	cujo	objetivo	é	
defender	a	igualdade	entre	os	sexos.	Na	história	do	feminismo,	convencionou-
se	dividir	o	movimento	em	três	momentos:	primeira,	segunda	e	terceira	onda	
feminista.	Classifique	V	para	as	sentenças	verdadeiras	e	F	para	as	falsas:	
(	 )	 Uma	das	autoras	mais	importantes	da	Segunda	Onda	Feminista	é	Betty	
Friedan.	Ela	ficou	conhecida	por	escrever	o	livro	"A	Mística	Feminina".	Nele,	
a	autora	enobrece	a	vida	vazia	das	donas	de	casa	de	classe	média	nos	Estados	
Unidos,	destacando	que	a	identidade	da	mulher	deve	ser	exclusiva	da	família.
(	 )	 Na	 Segunda	 Onda,	 a	 revolucionária	 Olímpia	 de	 Gouges,	 em	 1791,	
escreveu	uma	declaração	muito	importante,	argumentando	que	as	mulheres	
deveriam	ter	os	mesmos	direitos	que	os	homens,	podendo	participar	da	vida	
política,	governando	e	formulando	leis.
(	 )	 A	 Segunda	Onda	Feminista	 culminou	 com	os	movimentos	 sociais	 em	
andamento	 nos	 Estados	 Unidos.	 Esse	 momento	 do	 feminismo	 começa	 na	
década	de	1960	e	dura	até	o	fim	da	década	de	1980.	
60
(	 )	 A	Terceira	Onda	Feminista	inicia	na	década	de	1990,	com	o	objetivo	de	
compreender	os	problemas	femininos	de	um	ponto	de	vista	mais	amplo,	e	não	
apenas	do	ponto	de	vista	das	"mulheres	brancas	de	classe	média-alta",	como	
fez	a	segunda	onda.
 
Agora,	assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	 (	 )	 F	–	F	–	V	–	V.
b)	 (	 )	 F	–	V	–	F	–	F.
c)	 (	 )	 V	–	F	–	V	–	F.
d)	(	 )	 V	–	V	–	F	–	V.
4 (ENADE	-	2017,	FORMAÇÃO	GERAL,	questão	1).	
TEXTO 1
Em	 2001,	 a	 incidência	 da	 sífilis	 congênita	 –	 transmitida	 da	mulher	 para	 o	
feto	durante	a	gravidez	–	era	de	um	caso	a	cada	mil	bebês	nascidos	vivos.	
Havia	uma	meta	da	Organização	Pan-Americana	de	Saúde	 e	da	Unicef	de	
essa	 ocorrência	 diminuir	 no	 Brasil,	 chegando,	 em	 2015,	 a	 cinco	 casos	 de	
sífilis	congênita	por	10	mil	nascidos	vivos.	O	país	não	atingiu	esse	objetivo,	
tendo	se	distanciado	ainda	mais	dele,	 embora	o	 tratamento	para	sífilis	 seja	
relativamente	simples,	à	base	de	antibióticos.	Trata-se	de	uma	doença	para	a	
qual	a	medicina	já	encontrou	a	solução,	mas	a	sociedade	ainda	não.
FONTE: Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br>. Acesso em: 23 jul. 2017 (adaptado).
TEXTO 2 
O	Ministério	da	Saúde	anunciou	que	há	uma	epidemia	de	sífilis	no	Brasil.	Nos	
últimos	cinco	anos,	foram	230	mil	novos	casos,	um	aumento	de	32%	somente	
entre	2014	e	2015.	Por	que	isso	aconteceu?
Primeiro,	ampliou-se	o	diagnóstico	com	o	teste	rápido	para	sífilis	realizado	
na	unidade	básica	de	 saúde	 e	 cujo	 resultado	 sai	 em	30	minutos.	Aí	 vem	o	
segundo	ponto,	um	dos	mais	negativos,	que	foi	o	desabastecimento,	no	país,	
da	matéria-prima	 para	 a	 penicilina.	 O	Ministério	 da	 Saúde	 importou	 essa	
penicilina,	mas,	 por	um	bom	 tempo,	 não	 esteve	disponível,	 e	 isso	 fez	 com	
que	mais	pessoas	se	infectassem.	O	terceiro	ponto	é	a	prevenção.	Houve,	nos	
últimos	dez	anos,	uma	redução	do	uso	do	preservativo,	o	que	aumentou,	e	
muito,	a	transmissão.
A	incidência	de	casos	de	sífilis,	que,	em	2010,	era	maior	entre	homens,	hoje	recai	
sobre	as	mulheres.	Por	que	a	vulnerabilidade	neste	grupo	está	aumentando?
As	 mulheres	 ainda	 são	 as	 mais	 vulneráveis	 a	 doenças	 sexualmente	
transmissíveis	(DST),	de	uma	forma	geral.	Elas	têm	dificuldade	de	negociar	
o	 preservativo	 com	 o	 parceiro,	 por	 exemplo.	 Mas	 o	 acesso	 da	 mulher	 ao	
diagnóstico	também	é	maior,	por	isso,	é	mais	fácil	contabilizar	essa	população.	
Quando	um	homem	faz	exame	para	a	sífilis?	Somente	quando	tem	sintoma	
aparente	ou	outra	doença.	E	a	sífilis	pode	ser	uma	doença	silenciosa.	A	mulher,	
61
por	outro	 lado,	vai	 fazer	o	pré-natal	e,	automaticamente,	 faz	o	 teste	para	a	
sífilis.	No	Brasil,	 estima-se	 que	 apenas	 12%	dos	 parceiros	 sexuais	 recebam	
tratamento	para	sífilis.
FONTE: Entrevista com Ana Gabriela Travassos, presidente da regional baiana da 
Sociedade Brasileira de Doenças Sexualmente Transmissíveis. Disponível em: <http://www.
agenciapatriciagalvao.org.br>. Acesso em: 25 jul. 2017 (adaptado).
TEXTO 3
Vários	 estudos	 constatam	 que	 os	 homens,	 em	 geral,	 padecem	 mais	 de	
condições	severas	e	crônicas	de	saúde	que	as	mulheres	e	morrem	mais	que	
elas	em	razão	de	doenças	que	levam	a	óbito.	Entretanto,	apesar	de	as	taxas	de	
morbimortalidade	masculinas	assumirem	um	peso	 significativo,	observa-se	
que	a	presença	de	homens	nos	serviços	de	atenção	primária	à	saúde	é	muito	
menor	que	a	de	mulheres.
GOMES, R.; NASCIMENTO, E.; ARAUJO, F. Por que os homens buscam menos os serviços de 
saúde do que as mulheres? As explicações de homens com baixa escolaridade e homens com 
ensino superior. Cad. Saúde Pública [on-line], v. 23, n. 3, 2007 (adaptado).
A	 partir	 das	 informações	 apresentadas,	 redija	 um	 texto	 acerca	 do	 tema:	
Epidemia de sífilis congênita no Brasil e relações de gênero
Em	seu	texto,	aborde	os	seguintes	aspectos:
•	 A	vulnerabilidade	das	mulheres	às	DSTs	e	o	papel	social	do	homem	em	
relação	à	prevenção	dessas	doenças.
•	 Duas	ações,	especificamente	voltadas	para	o	público	masculino,	a	serem	
adotadas	no	âmbito	das	políticas	públicas	de	saúde	ou	de	educação,	para	
reduzir	o	problema.
5 (ENADE	–	2017,	FORMAÇÃO	GERAL,	questão	2).	
A pessoa trans precisa	que	alguém	ateste,	confirme	e	comprove	que	ela	pode	
ser	 reconhecida	 pelo	 nome	 que	 escolheu.	 Não	 aceita	 que	 se	 autodeclare	
mulher	ou	homem.	Exige	que	um	profissional	de	saúde	diga	quem	ela	é.	Sua	
declaração	é	o	que	menos	conta	na	hora	de	solicitar,	judicialmente,	a	mudança	
dos	documentos.	
FONTE: Disponível em: <http://www.ebc.com.br>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).
No	chão,	a	travesti	morre
Ninguém	jamais	saberá	seu	nome
Nos	jornais,	fala-se	de	outra	morte
De	tal	homem	que	ninguém	conheceu
FONTE: Disponível em: <http://www.aminoapps.com>. Acesso em 31 ago. 2017 (adaptado).
62
Usava	meu	nome	oficial,	feminino,	no	currículo	porque	diziam	que	eu	estava	
cometendo	um	crime,	que	era	falsidade	ideológica	se	eu	usasse	outro	nome.	
Depois	fui	pesquisar	e	descobri	que	não	é	assim.	Infelizmente,	ainda	existe	
muita	desinformação	sobre	os	direitos	das	pessoas	trans.
FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).
Uma	vez	o	segurança	da	balada	achou	que	eu	tinha,	por	engano,	mostrado	o	
RG	do	meu	namorado.	Isso	quando	insistem	em	não	colocar	meu	nome	social	
na	minha	ficha	de	consumação.
FONTE: Disponível em: <http://www.brasil.elpais.com>. Acesso em: 31 ago. 2017 (adaptado).
Com	base	nessas	falas,	discorra	sobre	a	importância	do	nome	para	as	pessoas	
transgêneras	e,	nesse	contexto,	proponha	uma	medida,	no	âmbito	das	políticas	
públicas,	que	tenha	como	objetivo	facilitar	o	acesso	dessas	pessoas	à	cidadania.
63
TÓPICO 4
RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR 
PRIVADO E TERCEIRO SETOR
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Nosso	 tempo	 apresenta	 enormes	 desafios	 éticos	 que	 decorrem	 da	
diversidade	 cultural	 das	 sociedades	 contemporâneas,	 do	 consumismo,	 do	
individualismo,	do	hedonismo,	do	desprezo	ao	próximo	e	à	natureza,	gerando	
um	quadro	de	crise	que	tem	sérias	implicações	sobre	a	ética,	sobre	os	valores	e	
sobre	a	responsabilidade	social.
Podemos	notar	um	triplo	aspecto	nesta	crise:	primeiro,	o	agravamento	da	
desigualdade	social,	com	crescente	pobreza	e	miséria	de	uma	parte	considerável	
da	população	mundial.	A	desigualdade	hoje	se	mostra	tão	grande	que	pode	até	
levar	à	desumanização	de	uma	parte	considerável	das	pessoas,	com	os	laços	de	
cooperação	e	solidariedade	atingindo	níveis	tão	baixos	como	nunca	vistos	antes	
na	história	de	nossa	espécie.
Em	 segundo	 lugar,	 vemos	 uma	 crise	 do	 sistema	 de	 trabalho,	 com	 o	
desemprego,	 a	 perda	 dos	 postos	 de	 trabalho	 para	 a	 automação,	 e	 a	 exclusão	
social,	que	colocam	o	problema	ético	de	como	construir	uma	sociedade	que	não	
gere	destituídos	dela.
Em	terceiro	lugar,	vemos	a	crise	ecológica,	com	os	níveis	de	consumo	atuais	
esgotando	os	recursos	naturais	e	degradando	a	natureza	a	ponto	de	comprometer	
a	sobrevivênciados	seres	vivos,	o	que	nos	chama	a	atenção	para	a	necessidade	de	
uma	nova	ética	em	nossa	relação	com	a	natureza.
2 SETOR PRIVADO
Toda	 a	 realidade	 relatada	 anteriormente	 vem	 acompanhada	 do	
entendimento	de	que	cada	setor	da	sociedade	tem	suas	responsabilidades.	
O	 setor	 privado,	 por	mais	 óbvio	 que	 seja,	 não	deveria	 ter	 participação	
do	setor	público.	Esse	setor	também	é	conhecido	como	‘iniciativa	privada’	e	tem	
papel	preponderante	na	economia	e	desenvolvimento	de	um	país.
 
64
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
3 TERCEIRO SETOR 
Tradicionalmente,	as	organizações	são	pensadas	e	divididas	a	partir	de	
uma	 lógica	 política	 administrativa	 que	 dirige	 a	 organização,	 partindo	 de	 dois	
pontos:	de	ordem	pública	ou	de	ordem	privada.	As	organizações	que	estão	fora	
desses	dois	grupos,	que	não	apresentam	objetivo	meramente	 lucrativo	ou	não	
(apenas)	 desempenham	 funções	 públicas,	 são	 as	 organizações	 sociais,	 ou	 seja,	
todas	as	organizações	residuais	são	definidas	nesse	guarda-chuva,	o	que	abarca	
um	conjunto	muito	heterogêneo	de	tipos	e	práticas.	Não	podemos	aqui	confundir	
com	o	terceiro	setor	do	ponto	de	vista	econômico,	ou	também	conhecido	como	
setor	terciário,	que	se	caracteriza	por	desenvolver	as	atividades	de	comércio	da	
produção	industrial,	e	por	serviços,	como	transportes,	telecomunicações	e	energia.
“A	 expressão	 ‘terceiro	 setor’	 pode	 considerar-se	 também	 adequada	 na	
medida	em	que	sugere	uma	terceira	forma	de	propriedade	entre	a	privada	e	a	
estatal,	mas	 se	 limita	 ao	 não	 estatal	 enquanto	 produção,	 não	 incluindo	 o	 não	
estatal	enquanto	controle”	(BRESSER-PEREIRA;	GRAU,	1999,	p.	16).
Pode-se	notar	que	existe	um	problema	de	definição	conceitual	sobre	o	que	
abrange	o	terceiro	setor.	“[...]	o	conceito	de	terceiro	setor	descreve	um	espaço	de	
participação	e	experimentação	de	novos	modos	de	pensar	e	fazer	sobre	a	realidade	
social.	É	um	campo	marcado	por	uma	irredutível	diversidade	de	atores	e	formas	
de	organização”	(CARDOSO,	1997	apud BRESSER-PEREIRA;	GRAU,	1999,	p.	37).
É	importante	levar	em	conta	que	a	Organização	Social	é	um	tipo	específico	
de	ator	dentro	do	terceiro	setor.	Apesar	disso,	algumas	características	podem	ser	
apontadas	como	típicas	das	Organizações	Sociais	 (BRESSER-PEREIRA;	GRAU,	
1999),	que	aqui	são	listadas:
•	 iniciativas	privadas	que	buscam	suprir	uma	utilidade	de	ordem	pública,	ou	
seja,	seus	fins	são	públicos;
•	 constituído	 em	 grande	 parte	 por	 voluntários.	 Isso	 quer	 dizer	 que	 alguns	
membros	devem	trabalhar	sem	remuneração;	
•	 sem	fins	lucrativos	(o	que	não	quer	dizer	que	não	haverá	salário	para	alguns	
membros,	mas	sim	que	o	objetivo	não	é	enriquecer);
•	 deve	ser	formalmente	constituída.	Isso	não	significa	que	deve	necessariamente	
ser	 uma	 instituição	 legalizada,	mas	 sim	 possuir	 regras,	 procedimentos	 que	
assegurem	a	existência	e	atuação	da	organização;
•	 a	gestão	é	própria,	não	deve	ser	realizada	por	grupos	externos;
•	 passar	por	processo	de	regulamentação	nesses	últimos	anos.
Assim,	pode-se	afirmar	que	o	terceiro	setor	não	é	público	nem	privado.	
Ele	 se	 situa	 num	 entremeio,	 preenchendo	 lacunas	 do	 Estado	 através	 de	 uma	
atuação	na	 esfera	privada.	Assim,	 as	 organizações	visam	prestar	 serviços	 com	
fins	de	atender	demandas	sociais	em	áreas	como	saúde,	educação,	cultura	etc.	
Seu	formato	típico	não	é	da	Organização	Não	Governamental	(ONG),	e	sim	do	
setor	estatal	e	do	setor	privado,	que	visam	suprir	as	falhas	do	Estado	e	do	setor	
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR
65
privado	no	atendimento	às	necessidades	da	população,	numa	relação	conjunta.	
Entretanto,	 algumas	 organizações	 estão	 evitando	 tal	 denominação,	 motivos	
explicados	por	Fischer	e	Falconer	(1998,	p.	4):
Esta	 característica	 pode	 ser	 observada	 quando	 se	 analisa	 a	 adoção	
do	termo	ONG	–	Organização	Não	Governamental	–	pelas	entidades	
brasileiras.	O	termo	foi	adotado	mais	por	influência	dos	financiadores	
internacionais	do	que	por	uma	tendência	espontânea	das	organizações	
brasileiras.	 Até,	 pelo	 contrário,	 muitas	 entidades	 atualmente	 não	
aceitam	 esta	 denominação	 por	 considerá-la	 restritiva,	 ou	 mesmo	
porque	ela	omite	princípios	e	valores	que	lhe	são	mais	caros	do	ponto	
de	 vista	 ideológico,	 ou	 que,	 na	 sua	 opinião,	 expressam	 com	 mais	
clareza	sua	missão	institucional.	
De	 fato,	a	 imagem	das	Organizações	Sociais	colou	nas	ONGs,	mas	elas	
são,	 na	 verdade,	 múltiplas	 e	 assumem	 vários	 formatos.	 Uma	 das	 críticas	 a	
essas	organizações	seria	sobre	uma	atuação	que	serviria	apenas	a	fins	privados,	
não	 abrangendo	 a	 dimensão	 social	 da	 questão.	 Outro	 ponto	 seria	 sobre	 o	
enriquecimento	de	 algumas	organizações,	 que	obtinham	 lucro	 irregularmente.	
Entretanto,	 as	 organizações	 sociais	 se	 apresentam	 como	 uma	 alternativa	 que,	
quando	 considerados	 todos	os	 seus	preceitos,	 funcionam	efetivamente	 junto	 à	
população.
3.1 HISTÓRICO 
O	surgimento	das	Organizações	Sociais	acontece	no	contexto	de	crise	do	
último	quarto	do	 século	XX,	 a	partir	da	proposta	de	Estado	mínimo	nos	anos	
1980	pelo	neoliberalismo,	que	significa	a	maior	redução	possível	do	Estado	na	
economia,	 o	 que	 significou	 um	 corte	 nos	 programas	 destinados	 ao	 apoio	 da	
população.	Na	década	de	1990	essa	proposta	começa	a	se	mostrar	irreal	e	se	inicia	
um	retorno	do	Estado	a	uma	posição	mais	atuante.
O	contexto	foi	agravado	pela	abertura	do	capitalismo	na	década	de	1990	
e	pela	globalização.	O	processo	de	globalização	e	o	fortalecimento	das	estruturas	
capitalistas	 no	 mundo,	 com	 o	 fracasso	 dos	 sistemas	 socialistas,	 aumentam	 a	
competitividade	entre	as	empresas,	que	a	partir	deste	momento	não	concorrem	
apenas	com	as	nacionais,	mas	com	aquelas	situadas	em	outras	partes	do	mundo.	
Assim,	 o	 Estado	 nacional	 teve	 dificuldade	 em	 proteger	 as	 empresas	
nacionais	e	os	seus	trabalhadores,	o	que	levou	à	crise.	“Esta	crise	levou	o	mundo	a	
um	generalizado	processo	de	concentração	de	renda	e	a	um	aumento	da	violência	
sem	 precedentes,	mas	 também	 incentivou	 a	 inovação	 social	 na	 resolução	 dos	
problemas	 coletivos	 e	 na	 própria	 reforma	 do	 Estado”	 (BRESSER-PEREIRA;	
GRAU,	1999,	p.	15).
Uma	dessas	inovações	refere-se	justamente	ao	fortalecimento	do	controle	
social	através	do	público	não	estatal.	 Isso	a	 tal	ponto	que	se	pode	afirmar	que	
66
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
o	século	XXI	é	o	momento	em	que	o	público	não	estatal	 torna-se	chave	para	a	
manutenção	da	vida	social.	Outro	ponto	que	fortalece	é	a	visão	dessas	organizações	
como	espaço	possível	para	a	prática	da	cidadania,	tornando	efetiva	a	democracia	
participativa.
No	 Brasil,	 existem	 algumas	 particularidades	 sobre	 o	 histórico	 dessas	
organizações.	Na	verdade,	desde	o	período	militar,	em	meados	do	século	XX,	o	
Estado	brasileiro	realizou	intervenção	maciça	na	economia.	Na	década	de	1990	
esse	modelo	começou	a	ser	criticado,	algumas	críticas	em	direção	do	desvio	da	
função	do	papel	do	Estado,	outras	em	direção	do	gasto	gerado	por	essa	atuação.	
Na	década	de	1990	surge,	de	fato,	uma	reação	a	essa	conjuntura:	“Só	em	meados	
dos	anos	90	surge	uma	resposta	consistente	com	o	desafio	de	superação	da	crise:	
a	ideia	da	reforma	ou	reconstrução	do	Estado,	de	forma	a	resgatar	sua	autonomia	
financeira	 e	 sua	 capacidade	 de	 implementar	 políticas	 públicas	 conjuntamente	
com	a	sociedade”	(BRASIL,	1997a,	p.	8).
Desta	forma,	o	Estado	inicia	um	processo	de	repensar	o	desenvolvimento.	
Ele	toma	para	si	outros	papéis,	o	de	promotor	e	regulador	do	desenvolvimento,	
deixando	de	 se	 responsabilizar	 diretamente,	 como	 o	 fazia	 antigamente.	Nesse	
sentido,	por	um	lado,	ele	deixa	a	função	de	prestador	direto	de	serviços	sociais,	
principalmente	saúde	e	educação,	para	assumir	a	sua	regulação.	Por	outro	lado,	
enquanto	promotor,	ele	oferece	subsídios	a	esses	novos	atores	que	assumirão	essa	
atuação	direta	(BRASIL,	1997b).
Nesse	contexto,	surgem	asOrganizações	Sociais,	figura	fundamental	para	
o	processo	da	reforma	do	Estado.	O	Estado,	na	verdade,	fomenta	esse	novo	ator.	
Ainda	está	em	curso	essa	troca	de	atores,	da	saída	do	Estado	para	a	ocupação	das	
Organizações	Sociais,	 que	 foi	 impulsionada	pela	 regularização	da	 sua	atuação	
promovida	na	última	década.
3.2 REALIDADE DAS ORGANIZAÇÕES SOCIAIS NO BRASIL
Possuir	um	 título	de	Organização	Social	no	Brasil,	 atualmente,	garante	
o	recebimento	de	benefícios	do	Estado,	que	abrangem	dotações	orçamentárias,	
isenções	 fiscais,	 subsídios	 etc.	 Reiterando	 que	 as	 Organizações	 Sociais	 devem	
atender	a	uma	demanda	específica	da	comunidade.
Elas	se	fazem	presentes	atualmente	na	gestão	de	hospitais,	santas	casas,	
museus,	institutos	de	fomento	à	pesquisa,	de	projetos	voltados	a	algumas	áreas	
específicas	(saúde	e	cultura,	esporte,	no	caso	de	alguns	estados),	manutenção	de	
grupos	(como	a	Fundação	Orquestra	Sinfônica	do	Estado	de	São	Paulo).
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR
67
FIGURA 7 – OBJETIVOS DE DESENVOLVIMENTO DO MILÊNIO – ODM
FONTE: Disponível em: <http://www.odmbrasil.gov.br/os-objetivos-de-desenvolvimento-do-
milenio>. Acesso em: 7 dez. 2017.
Essas	Organizações	Sociais	realizam	a	gestão	do	espaço	público	e	querem	
melhorar	a	vida	das	pessoas,	e,	por	consequência,	a	sociedade	como	um	todo.
O	espaço	continua	sendo	público,	ou	seja,	do	Estado,	mas	quem	administra	
os	recursos,	os	negócios	e	as	pessoas?	Isso	significa	dizer	que	a	associação	de	um	
museu	faz	desde	a	gestão	dos	funcionários	que	ali	trabalham	até	o	controle	da	
bilheteria,	programação	cultural,	peças	e	curadoria	das	peças.
O	Estado	de	São	Paulo	 foi	pioneiro	na	 implantação	do	sistema	na	área	
de	 saúde.	A	 seleção	 envolve	uma	 convocatória	pública	 exigindo	a	 experiência	
mínima	 na	 área	 de	 gerenciamento.	 Esse	 método	 visa	 garantir	 que	 entidades	
sólidas	assumam	a	frente	das	instituições	e	o	sucesso	do	modelo.
O	trabalho	e	o	estudo	são	compreendidos	como	essenciais	para	humanizar	
o	 indivíduo.	Além	disso,	 o	 trabalho	principal	 é	 aquele	que	provê	os	meios	de	
vida.	 Já	 o	 estudo	 é	 responsável	 pelo	 desenvolvimento	 humano.	 São	 eles	 que	
transformam	 as	 pessoas	 e	 a	 sua	 realidade	 (SCHERER-WARREN,	 2000).	Nesse	
sentido,	há	um	intenso	investimento	na	educação	dentro	dos	acampamentos,	não	
financeiro,	mas	de	conhecimento	humano	através	de	parcerias	com	universidades	
e	capacitação	constante	dos	professores.	Assim,	o	Movimento	Sem-Terra	amplia	
sua	dimensão	de	atuação:	
O	objetivo	material	imediato	(a	terra)	‘não	basta’,	como	dizem,	deve	vir	
acompanhado	de	lutas	pelos	direitos	sociais	(a	cidadania	plena)	e	em	
direção	à	 construção	de	uma	sociedade	mais	 justa	 (a	 socialista).	Para	
atingir	 este	 objetivo	 é	 que	 a	 educação,	 considerada	 como	um	direito	
essencial,	deve	se	desenvolver	como	um	processo	que	inclui	educação	
formal	 (ensino	 fundamental)	 e	 informal	 (participação	no	movimento,	
nas	 mobilizações,	 em	 ações	 de	 solidariedade	 etc.),	 incluindo	 neste	
processo	todas	as	gerações	e	gêneros	(SCHERER-WARREN,	2000,	p.	48).
68
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
Segundo	 avaliação	 da	 experiência	 de	 São	 Paulo	 pelo	 Banco	 Mundial	
em	 2006	 (apud	 CAMARGO	 et	 al.,	 2013),	 a	 solução	 gerou	 uma	 experiência	
de	 modernização	 positiva	 em	 relação	 ao	 modelo	 anterior,	 mais	 produtiva	 e	
barata.	Entretanto,	há	muitas	críticas	na	proposta,	a	primeira	seria	o	desvio	de	
função,	 com	alta	probabilidade	de	as	organizações	passarem	a	 atuar	para	fins	
privados;	 segundo,	 que	 há	 pouca	 transparência	 na	 sua	 atuação	 em	 relação	 à	
disponibilidade	de	 informações	 (CAMARGO	et	al.,	 2013).	 Isso	não	apenas	por	
parte	das	organizações,	como	também	a	postura	do	próprio	Estado.
4 AS ORGANIZAÇÕES NÃO GOVERNAMENTAIS
No	Brasil,	as	Organizações	Não	Governamentais	(as	ONGs)	surgem	no	país	
no	contexto	da	entrada	da	sociedade	civil	de	forma	orgânica,	quer	dizer,	da	sua	
participação	efetiva	nos	rumos	do	país	através	da	política.	Isso	acontece	nas	últimas	
décadas	do	século	XX,	ou	seja,	pouco	mais	de	20	anos.
Entretanto,	qual	 seria	de	 fato	o	espaço	ocupado	pelas	ONGs	em	relação	
à	sociedade	civil	na	atualidade?	Elas	atuam	politicamente?	“[...]	no	Brasil,	temas	
como	direitos	humanos,	meio	ambiente	e	fome	têm	tido	como	porta-voz,	em	grande	
parte,	um	conjunto	de	ONGs,	que	toma	a	iniciativa	diante	do	Estado,	propondo	
políticas	diretamente	ao	Poder	Executivo	ou	pressionando	o	Congresso	Nacional	
para	aprovações	de	leis”	(PINTO,	2006,	p.	654).
Exercendo	o	papel	de	pressionar	governantes,	as	ONGs	tratam	de	temas	
relativos	a	grupos	e	questões	não	trabalhadas	sistematicamente,	entre	outras	formas	
de	atuação	política.	Como	exemplo,	podemos	citar	a	questão	do	meio	ambiente.	
Dentro	das	plataformas	dos	partidos,	recentemente	a	discussão	surgiu,	e	mesmo	
assim	algo	ainda	raso,	que	não	compreende	o	problema	de	forma	profunda.
IMPORTANT
E
É interessante pensar que quem começa com as discussões ambientais são as 
ONGs. Na Amazônia, não se sabe ao certo o número de ONGs que atuam. As informações 
variam de 1.000 a 100.000. Abaixo, seguem os símbolos de algumas delas.
TÓPICO 4 | RESPONSABILIDADE SOCIAL: SETOR PÚBLICO, SETOR PRIVADO E TERCEIRO SETOR
69
Outros	 temas	 relativos	 a	 grupos	 minoritários	 no	 país,	 como	 sobre	
as	 mulheres,	 direitos	 homoafetivos,	 indígenas,	 moradores	 de	 rua,	 são	
sistematicamente	 trabalhados	 e	 elaborados	pelas	ONGs.	É	bom	esclarecer	que	
as	vozes	desses	grupos	não	são	substituídas	pelas	ONGs,	mas	elas	servem	como	
intermediadoras	na	realização	de	projetos	e	sistematização	das	demandas,	já	que	
possuem	uma	preocupação	maior	em	termos	de	organização	que	os	movimentos	
sociais	(PINTO,	2006).	Dentro	das	ONGs	também	atuam	indivíduos	pertencentes	
a	essas	minorias,	não	existe	uma	fronteira,	mas	uma	integração.
No	 que	 concerne	 às	 formas	 como	 as	 ONGs	 se	 movem	 no	 espaço	
público,	 vale	 chamar	 a	 atenção	 para	 o	 potencial	 de	 construção	 de	
redes,	abrangendo	os	espaços	locais,	regionais	e	globais,	como	também	
as	 potencialidades	 de	 incluir,	 nessas	 redes,	 desde	 organizações	
internacionais,	como	as	do	sistema	ONU	e	 fundações	financiadoras,	
até	grupos	 semimarginalizados	em	bairros	da	periferia	das	grandes	
cidades.	A	noção	de	rede	em	relação	às	ONGs	pode	ser	pensada	de	duas	
formas:	uma	é	a	rede	entre	ONGs	incluindo	também	os	movimentos	
sociais,	na	qual	cada	organização	é	ponto	de	transmissão	para	outras,	
maiores	ou	menores,	locais	ou	globais.	Outra	forma	de	pensar	a	rede	é	
como	um	espaço	tridimensional	onde	as	ONGs	funcionam	não	apenas	
como	pontos	de	transmissão,	mas	como	pontos	nodais,	que	acumulam	
e	 distribuem	 informações,	 acumulam	 poder,	 credenciam-se	 como	
representantes	fazendo	a	ligação	entre	o	Estado	e	a	sociedade	em	geral	
(PINTO,	2006,	p.	658).
Dessa	 forma,	 as	ONGs	adquirem	poder,	 conseguem	estabelecer	pontes	
entre	diferentes	grupos.	Por	um	lado,	isso	é	positivo,	pois	elas	conseguem	fazer	
ressoar	as	vozes	daqueles	que	pouco	seriam	ouvidos	e	colocar	suas	demandas	aos	
governos.	Por	outro	lado,	esse	poder	pode	ser	perigoso,	quando	as	populações	
apoiadas	por	essas	ONGs	passam	a	depender	de	sua	atuação,	ou	seja,	as	ONGs	
podem	desenvolver	territórios	de	domínio,	não	estimulando	a	prática	da	cidadania	
e	a	busca	dos	direitos	por	si	mesmo,	mas	uma	dependência	de	sua	atuação.
O	 fato	 é	que	as	ONGs	possuem	na	 realidade	brasileira	 contemporânea	
uma	 atuação	 política	 real	 e	 que	 conseguem	 pressionar	 o	 governo	 por	 uma	
atuação	mais	social.	O	espaço	significa	uma	atuação	política	potencial,	mas	não	
existem	 limites	 das	 ações.	 Elas	 “não	 podem	 ser	 vistas	 de	 maneira	 simplista,	
como	 substitutas	de	partidos	políticos,	 do	Estado	ou	mesmo	dos	movimentos	
sociais.	Suas	ações	têm	limites,	entre	eles	o	fato	de	serem	fragmentadas,	atingirem	
o	 conjunto	 da	 sociedade	 de	 forma	 limitada	 e	 dependerem	 de	 financiamentos	
pontuais”(PINTO,	2006,	p.	667).
DICAS
O diretor Sergio Bianchi desenvolve uma crítica sobre a atuação das ONGs no 
Brasil. Busque e assista!
70
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
O	 que	 se	 espera	 de	 uma	 sociedade	 que	 se	 vê	 desafiada	 pelos	 seus	
indivíduos	é	que	ela	seja	capaz	de:
•	 orientar	 as	 pessoas	 e	 os	 recursos	 materiais	 e	 financeiros	 para	 a	 promoção	
humana;
•	 manter	uma	atitude	crítica	frente	às	propostas	políticas	vigentes;
•	 vivenciar	o	espírito	de	partilha	e	ajuda	mútua	na	comunidade	educativa;
•	 realizar	campanhas	comunitárias	diante	das	situações	emergentes.
A	participação	ativa	e	efetiva	das	pessoas	na	vida	política	e	social	é	um	
grande	desafio,	pois	tem	como	objetivo	externar	a	cidadania	que	todos	almejam.	
O	 que	 ainda	 vemos	 é	 que	 conceitos	 como	 cidadania,	 os	 direitos	 e	 deveres	 do	
cidadão,	 algo	 que	 deveria	 estar	 entranhado	 em	 nossas	 vidas,	 não	 são	 tão	
conhecidos,	muito	menos	praticados	em	nossa	sociedade.	São	só	conceitos.
71
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Tradicionalmente,	as	organizações	são	pensadas	e	divididas	a	partir	de	uma	
lógica	 política	 administrativa	 que	 dirige	 a	 organização,	 partindo	 de	 dois	
pontos:	de	ordem	pública,	ou	de	ordem	privada.
•	 O	 surgimento	 das	 Organizações	 Sociais	 acontece	 no	 contexto	 de	 crise	 do	
último	quarto	do	século	XX.
•	 Exercendo	um	papel	de	pressão,	as	ONGs	tratam	de	temas	relativos	a	grupos	
e	questões	não	trabalhadas	sistematicamente,	entre	outras	formas	de	atuação	
política.
•	 A	participação	ativa	e	efetiva	das	pessoas	na	vida	política	e	social	é	um	grande	
desafio,	como	forma	de	externar	a	cidadania	que	todos	almejam.
72
AUTOATIVIDADE
1	 Os	direitos	humanos	são	compartilhados	por	todos	os	indivíduos,	contudo,	
a	charge	mostra	a	violação	deles	em	um	período	específico	da	história	brasileira:	
a	ditadura	militar.	A	personagem,	através	de	uma	fala	irônica,	narra	fatos	que	
aconteceram	na	época.	A	partir	desse	contexto,	analise	as	sentenças	a	seguir:
I-	A	charge	mostra	a	violação	do	direito	à	vida	por	conta	das	perseguições	e	
mortes	ocorridas.
II-	Segundo	a	charge,	os	direitos	humanos	são	respeitados	universalmente	em	
todos	os	períodos	da	história.
III-	 A	 charge	 mostra	 um	 contexto	 histórico	 de	 grandes	 liberdades	 para	 o	
indivíduo	se	expressar,	apesar	das	perseguições	narradas.
IV-	A	charge	mostra	a	violação	do	direito	à	liberdade,	tanto	pela	perseguição	
aos	indivíduos	como	pela	censura	da	imprensa	e	intelectuais.
FONTE: Disponível em: <http://historianovest.blogspot.com/2010/07/charges-
declaracao-dos-direitos-humanos.html>. Acesso em: 3 fev. 2014
Agora,	assinale	a	alternativa	CORRETA:
a)	(		)	Somente	a	sentença	IV	está	correta.
b)	(		)	As	sentenças	I	e	III	estão	corretas.
c)	(		)	As	sentenças	I	e	IV	estão	corretas.
d)	(		)	As	sentenças	II,	III	e	IV	estão	corretas.
73
2	 Com	 os	 protestos	 de	 junho	 de	 2013,	 veio	 à	 tona	 a	 insatisfação	 popular	
quanto	aos	rumos	como	a	política	no	Brasil	está	sendo	gestada.	Entretanto,	
deve-se	ter	conhecimento	dos	espaços	e	atores	políticos	para	além	do	governo	
que	 aproximam	 a	 sociedade	 civil	 de	 uma	 ação	mais	 contundente.	 Sobre	 o	
tema,	associe	os	itens,	utilizando	o	código	a	seguir:
I-	Conferências	de	Políticas	Públicas.
II-	Organização	Social.
III-	Organização	Não	Governamental	(ONG).
(	 )	 Cuidam	 de	 grande	 parte	 de	 temas	 referentes	 às	minorias,	 ou	 seja,	 os	
indígenas,	as	mulheres,	os	homoafetivos.
(	 )	 Debatem	políticas	públicas,	sendo	imprescindível	a	participação	popular.
(	 )	 Realizam	a	gestão	de	espaços	públicos,	como	hospitais,	museus.
Agora,	assinale	a	alternativa	que	apresenta	a	sequência	CORRETA:
a)	(		)	III	-	I	-	II.
b)	(		)	I	-	II	-	III.
c)	(		)	II	-	III	-	I.
d)	(		)	III	-	II	-	I.
74
75
TÓPICO 5
CULTURA E ARTE
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
A	cultura	e	a	arte	são	áreas	que	interagem	entre	si	e	com	as	demais	áreas	
de	conhecimento.	Estudar,	pesquisar	e	refletir	sobre	as	diferentes	culturas	e	suas	
manifestações	artísticas	possibilita	a	compreensão	da	vida	e	das	relações	entre	os	
sujeitos	no	meio	social.	A	cultura,	assim	como	a	arte,	é	dinâmica,	vai	mudando	
conforme	o	tempo	e	o	espaço.	A	cultura	e	a	arte	devem	ser	estudadas	a	partir	de	
três	concepções:	erudita,	popular	e	de	massa.	
A	 cultura	 erudita	 é	 aquela	 proveniente	 de	 estudos,	 pesquisas	 e	 que	
geralmente	está	associada	às	instituições	acadêmicas,	por	se	tratar	de	um	processo	
de	legitimação.	A	arte	está	associada	a	esta	área,	pois	envolve	a	compreensão	de	
conhecimentos	 artísticos,	 históricos,	filosóficos	 e	 sociais.	Assim,	 a	 arte	 erudita,	
também	conhecida	como	a	de	vanguarda,	é	concebida	conhecendo	lugares	como	
galerias	de	arte,	exposições	e	museus,	bem	como	toda	a	estrutura	e	dinâmica	de	
mediação	que	ocorrem	entre	os	locais	e	o	espectador,	propondo	humanização	dos	
sentidos.
Já	 a	 cultura	 de	massa	 surge	 com	 as	 novas	 tecnologias	 e	 com	os	meios	
de	comunicação,	como:	jornais,	televisão,	rádio,	cinema,	música,	internet,	entre	
outros.	A	cultura	de	massa	tem	relação	com	o	consumismo,	devido	à	influência	
que	a	mídia	exerce.	A	arte	está	relacionada	à	cultura	de	massa,	devido	à	tecnologia	
utilizada	e	à	grande	quantidade	de	signos	criados.		
E,	por	último,	a	cultura	popular,	que	está	relacionada	ao	que	pertence	à	
maioria	do	povo	e	que	não	é	ensinada	necessariamente	em	espaços	formais	de	
educação.	É	a	definição	de	várias	áreas	de	conhecimento,	como:	folclore,	dança,	
música,	festa,	literatura,	arte,	artesanato	etc.	O	conhecimento	da	cultura	popular	
é	passado	de	geração	a	geração.	
Desta	 forma,	 caro	 acadêmico,	 convidamos	 você	 para	 primeiramente	
compreender	a	cultura	e	a	arte	e	como	essas	áreas	de	conhecimento	interagem	
com	o	meio	social.
76
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
2 CULTURA
A	cultura	é	um	aspecto	social	mutante	em	constante	questionamento,	pois	
é	considerada	por	muitos	pesquisadores	como	representação	da	intervenção	da	
sociedade	nos	ambientes,	sendo	por	isso	difícil	de	conceituar.	Para	José	Luiz	dos	
Santos	(2006,	p.	45):	
Cultura	é	uma	construção	histórica,	seja	como	concepção,	seja	como	
dimensão	do	processo	 social.	Ou	 seja,	 a	 cultura	 não	 é	 algo	 natural,	
não	é	decorrência	de	leis	físicas	e	biológicas.	Ao	contrário,	a	cultura	é	
produto	coletivo	da	vida	humana.	Isso	se	aplica	não	apenas	à	percepção	
da	 cultura,	mas	 também	 à	 sua	 relevância,	 à	 importância	 que	 passa	
a	 ter.	Aplica-se	 ao	 conteúdo	de	 cada	 cultura	particular,	 produto	da	
história	de	cada	sociedade.	Cultura	é	um	território	bem	atual	das	lutas	
sociais	por	um	destino	melhor.	É	uma	realidade	e	uma	concepção	que	
precisam	ser	apropriadas	em	favor	do	progresso	social	e	da	liberdade,	
em	favor	da	luta	contra	a	exploração	de	uma	parte	da	sociedade	por	
outra,	em	favor	da	superação	da	opressão	e	da	desigualdade.	
Nesta	 perspectiva,	 a	 cultura	 é	 avaliada	 como	 um	movimento	 humano	
que	acontece	a	partir	da	convivência	em	grupo	e	da	 interação	social.	Portanto,	
é	necessário	percebermos	as	especificidades	de	cada	grupo	cultural,	para	assim	
observar	e	descobrir	os	signos	existentes	em	busca	da	identidade	de	cada	povo.	
São	 os	 valores	 culturais	 que	 identificam	um	povo,	 uma	 comunidade	 e	
cada	pessoa.	É	através	da	cultura	que	se	pode	observar	e	caracterizar	a	história	de	
vida,	os	costumes,	as	crenças	e	os	hábitos	de	um	determinado	grupo	social.	
José	Luiz	dos	Santos	(2006,	p.	7)	descreve	que	a	cultura	é	uma	preocupação	
do	mundo	atual,	buscando	“entender	os	 caminhos	que	conduziram	os	grupos	
humanos	 às	 suas	 relações	 presentes	 e	 suas	 perspectivas	 de	 futuro”.	 O	 autor,	
quando	relata	cultura	e	diversidade,	descreve	que:
O	 desenvolvimento	 da	 humanidade	 está	 marcado	 por	 contatos	 e	
conflitos	 entre	 modos	 diferentes	 de	 organizar	 a	 vida	 social,	 de	 se	
apropriar	dos	recursos	naturais	e	transformá-los,	de	conceber	a	realidade	
e	expressá-la.	A	história	registra	com	abundância	as	transformações	por	
que	passam	asculturas,	mais	 frequentemente	por	ambos	os	motivos.	
Por	 isso,	 ao	 discutirmos	 sobre	 cultura,	 temos	 sempre	 em	 mente	 a	
humanidade	 em	 toda	 a	 sua	 riqueza	 e	 multiplicidade	 de	 formas	 de	
existência.	São	complexas	as	realidades	dos	agrupamentos	humanos	e	
as	características	que	os	unem	e	diferenciam,	e	a	cultura	as	expressa.
Nesse	 sentido,	 Eduardo	 David	 de	 Oliveira	 (2006,	 p.	 155)	 se	 manifesta	
dizendo	 que	 “o	 homem	 é	 um	 ser	 cultural.	A	 cultura	 é	 construída,	 forjada	 de	
acordo	 com	os	 acontecimentos	da	história	 e	 criada	 a	partir	 das	 contingências,	
sempre	muito	singulares,	das	comunidades	humanas”.	
A	 compreensão	 de	 cultura	 é	 extremamente	 complexa,	 pois	 recebe	 novas	
definições	com	o	passar	do	tempo,	mas	a	partir	da	segunda	metade	do	século	XX	cria-
se	uma	concepção	ampliada	de	cultura,	como	descreve	Marilena	Chauí	(2008,	p.	57):	
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
77
A	partir	de	então,	o	 termo	cultura	passa	a	 ter	uma	abrangência	que	
não	possuía	antes,	sendo	agora	entendida	como	produção	e	criação	da	
linguagem,	da	religião,	da	sexualidade,	dos	instrumentos	e	das	formas	
do	trabalho,	das	formas	da	habitação,	do	vestuário	e	da	culinária,	das	
expressões	 de	 lazer,	 da	música,	 da	 dança,	 dos	 sistemas	 de	 relações	
sociais,	particularmente	os	sistemas	de	parentesco	ou	a	estrutura	da	
família,	das	relações	de	poder,	da	guerra	e	da	paz,	da	noção	de	vida	
e	morte.	A	cultura	passa	a	ser	compreendida	como	o	campo	no	qual	
os	sujeitos	humanos	elaboram	símbolos	e	signos,	instituem	as	práticas	
e	 os	 valores,	 definem	 para	 si	 próprios	 o	 possível	 e	 o	 impossível,	 o	
sentido	da	linha	do	tempo	(passado,	presente	e	futuro),	as	diferenças	
no	interior	do	espaço	(o	sentido	do	próximo	e	do	distante,	do	grande	
e	do	pequeno,	do	visível	e	do	invisível),	os	valores	como	o	verdadeiro	
e	o	falso,	o	belo	e	o	feio,	o	justo	e	o	injusto,	instauram	a	ideia	de	lei,	e,	
portanto,	do	permitido	e	do	proibido,	determinam	o	sentido	da	vida	e	
da	morte	e	das	relações	entre	o	sagrado	e	o	profano.
Na	perspectiva	de	 cultura	 como	aprendizagem	de	 saberes	 cotidianos	 é	
fundamental	que	se	traga	a	posição	de	Waldenyr	Caldas	(1986,	p.	13),	ao	dizer	
que	o	pensamento	humano	cria	o	modo	de	vida,	os	costumes	e	as	regras,	dizendo	
que	a	cultura:
Quando	aplicada	ao	nosso	estilo	de	vida,	ao	convívio	social,	nada	tem	
a	ver	com	a	leitura	de	um	livro	ou	aprender	a	tocar	um	instrumento,	
por	exemplo.	Na	realidade,	o	trabalho	do	antropólogo,	estudioso	da	
cultura	humana,	começa	pela	 investigação	de	culturas,	ou	seja,	pelo	
modo	de	vida,	padrões	de	 comportamento,	 sistema	de	 crenças,	que	
são	 características	 de	 cada	 sociedade.	 Noutras	 palavras,	 pode-se	
dizer	 que	 nenhuma	 sociedade,	 nenhum	 povo,	 seja	 ele	 atrasado	 ou	
desenvolvido,	primitivo	ou	civilizado,	jamais	agirá	de	forma	idêntica	
aos	demais.	Poderá	haver,	isto	sim,	algumas	semelhanças.
A	cultura	pode	ser	entendida	como	importante	agente	para	debater	o	estar	
e	 ser	no	mundo,	que	 é	 entendido	 como	um	movimento	que	 está	 intimamente	
ligado	 a	 tudo	 e	 a	 todos	 os	 aspectos	 sociais,	 culturais,	 históricos	 e	 filosóficos.	
Segundo	José	Luiz	dos	Santos	(2006,	p.	8),	“cada	realidade	cultural	tem	sua	lógica	
interna,	que	devemos	conhecer	para	que	façam	sentido	suas	práticas,	costumes,	
concepções	e	as	transformações	pelas	quais	passam”.
AUTOATIVIDADE
Analise	e	responda	esta	questão	da	prova	ENADE	2007:
Jornal do Brasil, 3 ago. 2005. 
78
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
Tendo	 em	vista	 a	 construção	da	 ideia	 de	 nação	 no	 Brasil,	 o	 argumento	 da	
personagem	expressa:
a)	(		)	A	afirmação	da	identidade	regional.	
b)	(		)	A	fragilização	do	multiculturalismo	global.	
b)	(		)	O	ressurgimento	do	fundamentalismo	local.	
d)	(		)	O	esfacelamento	da	unidade	do	território	nacional.	
e)	(		)	O	fortalecimento	do	separatismo	estadual.
Cada	povo,	cada	região	tem	suas	especificidades	culturais	que	compreendem	
a	sua	forma	de	pensar	e	de	agir,	evidenciando	a	diversidade	cultural	existente.	A	
partir	da	diversidade	cultural	compreende-se	a	identidade	cultural	de	cada	povo.	
Para	 Oliveira	 (2006,	 p.	 84):	 “a	 identidade	 se	 constrói	 com	 relação	 à	 alteridade.	
Com	aquilo	que	não	sou	eu.	É	diante	da	diferença	do	outro	que	a	minha	diferença	
aparece”.	Diferentes	nações,	etnias,	identidades	regionais,	comunidades	ou	outros	
tipos	de	grupos	sociais	organizam	e	dão	sentido	à	sua	existência.	
O	Brasil,	por	exemplo,	apresenta	uma	diversidade	cultural	ampla,	pois	
é	 resultado	 de	 uma	miscigenação	 étnica	 e	 cultural,	 principalmente	 dos	 povos	
indígenas,	 africanos	 e	 europeus.	 Esta	miscigenação	 se	 dá	 devido	 ao	 processo	
histórico	que	ocorreu	no	Brasil.
Assim,	a	educação	no	Brasil	estabeleceu,	nas	diretrizes	e	bases	da	educação	
nacional,	 a	 obrigatoriedade	 do	 estudo	 da	 história	 e	 cultura	 afro-brasileira	 e	
indígena	 no	 currículo	 escolar	 da	 educação	 básica.	 A	 lei	 tem	 como	 propósito	
o	 conhecimento	desses	dois	grupos	 étnicos,	 tais	 como	o	 estudo	da	história	da	
África	 e	 dos	 africanos,	 a	 luta	 dos	 negros	 e	 dos	 povos	 indígenas	 no	 Brasil,	 a	
cultura	negra	e	indígena	brasileira,	o	negro	e	o	índio	na	formação	da	sociedade	
nacional,	resgatando	as	suas	contribuições	nas	áreas	social,	econômica	e	política,	
pertinentes	à	história	do	Brasil.	
Os	 Parâmetros	 Curriculares	 Nacionais	 (PCN),	 em	 seu	 documento,	
também	 descrevem	 sobre	 Pluralidade	 Cultural,	 explicando	 que	 o	 estudo	 das	
diferentes	culturas	deve	contribuir	para	a	formação	de	uma	nova	mentalidade,	
onde	toda	forma	de	discriminação	e	exclusão	seja	superada,	proporcionando	ao	
povo	brasileiro	“uma	vivência	plena	de	sua	cidadania”	(BRASIL,	1997,	p.	13).	
Tal	perspectiva	vem	ao	encontro	da	necessidade	de	ampliar	o	conhecimento	
cultural,	 com	o	propósito	 de	 banir	 aspectos	 de	 enxergar	 apenas	 a	 sua	 cultura	
específica.	A	partir	da	concepção	de	que	o	ser	humano	apenas	considera	o	seu	
modo	de	vida	como	o	“mais	correto”	e	“melhor”,	assim,	ele	age	em	uma	lógica	
do	etnocentrismo.	De	acordo	com	Meneses	(1999,	p.	13):
Etnocentrismo	é	um	preconceito	que	cada	sociedade	ou	cada	cultura	
produz,	ao	mesmo	tempo	em	que	procura	incutir,	em	seus	membros,	
normas	 e	 valores	 peculiares.	 Se	 sua	maneira	 de	 ser	 e	 proceder	 é	 a	
certa,	 então	 as	 outras	 estão	 erradas,	 e	 as	 sociedades	que	 as	 adotam	
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
79
constituem	‘aberrações’.	Assim,	o	etnocentrismo	julga	os	outros	povos	
e	culturas	pelos	padrões	da	própria	sociedade,	que	servem	para	aferir	
até	 que	 ponto	 são	 corretos	 e	 humanos	 os	 costumes	 alheios.	 Desse	
modo,	 a	 identificação	 de	 um	 indivíduo	 com	 sua	 sociedade	 induz	 à	
rejeição	das	outras.
Por	meio	do	conhecimento	da	diversidade	cultural	é	possível	distanciar	
pensamentos	 etnocêntricos	 que	 promovem	 o	 preconceito.	 Entende-se	 que	
conhecendo	a	cultura	do	outro	em	um	contexto	de	diversidade	pode-se	identificar	
e	valorizar	cada	movimento	cultural	de	forma	a	promover	uma	vivência	plena	
com	respeito	e	ética	social.	Entende-se	que	conhecendo	a	cultura	do	outro	em	um	
contexto	de	diversidade	se	pode	identificar	e	valorizar	cada	movimento	cultural,	
de	forma	a	distanciar	preconceitos	e	desigualdades.
3 ARTE
“A	ciência	descreve	as	coisas	como	são;	a	arte,	como	são	sentidas,
como	se	sente	que	são”.	(Fernando	Pessoa,	1986)
Desde	a	pré-história	o	ser	humano	está	cercado	de	fenômenos	artísticos,	
como	 desenho,	 gravura,	 pintura,	 dança,	 escultura,	 música,	 literatura,	 entre	
outros.	Atualmente,	percebe-se	uma	grande	variedade	de	práticas	artísticas	que	
permeiam	o	universo	cultural,	que	circundam	entre	as	várias	linguagens	artísticas,	
como:	artes	visuais,	artes	cênicas,	dança	e	música.	Ao	refletir	sobre	a	arte,	alguns	
questionamentos	surgem:	O	que	é	arte?	Que	tipo	de	arte	conhecemos?	A	arte	tem	
alguma	função?	
O	 homem	 primitivo,	 por	 exemplo,	 precisou	 criar	 objetos	 que	
correspondessem	 às	 suas	 necessidades	 de	 sobrevivência,representando	 por	
meio	de	desenhos	nas	cavernas	os	seus	anseios	para	suas	caçadas.	A	partir	da	
concepção	 de	 arte	 primitiva,	Marilena	 Chauí	 (2008,	 p.	 403)	 questiona	 sobre	 o	
“que	dizem	os	desenhos	nas	paredes	da	caverna”.	A	autora	afirma	que	“o	mundo	
é	visível,	 e	para	 ser	visto	 é	que	o	artista	dá	a	ver	o	mundo”.	Com	 isso,	 a	 arte	
inicialmente	teve	aspecto	de	utilidade,	mas	com	o	passar	do	tempo,	os	utensílios	
e	as	representações	começaram	a	ser	criados	pelo	prazer	em	si,	desvinculando	
da	ideia	unicamente	de	utilidade.	Assim,	a	arte	surge	com	novas	compreensões,	
como	cita	Marilena	Chauí	(2003,	p.	406-407):
A	distinção	entre	artes	da	utilidade	e	artes	da	beleza	acarretou	uma	
separação	entre	técnica	(o	útil)	e	arte	(o	belo),	 levando	à	imagem	da	
arte	 como	 ação	 individual	 espontânea,	 vinda	 da	 sensibilidade	 e	 da	
fantasia	 do	 artista	 como	 gênio	 criador.	 Enquanto	 o	 técnico	 é	 visto	
como	aplicador	de	regras	e	receitas	vindas	da	tradição	ou	da	ciência,	
o	 artista	 é	 visto	 como	 dotado	 de	 inspiração,	 entendida	 como	 uma	
espécie	de	iluminação	interior	e	espiritual	misteriosa,	que	leva	o	gênio	
a	criar	a	obra.
O	belo	para	a	arte	passa	a	ser	concebido	pela	experiência	artística.	A	partir	da	
abordagem	do	belo	ou	juízo	do	gosto,	a	arte	também	é	estudada	por	uma	disciplina	
80
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
filosófica	que	é	conhecida	como	estética.	A	palavra	estética	é	a	tradução	da	palavra	
grega	aesthesis,	que	significa	conhecimento	sensorial,	experiência	e	sensibilidade.	
A	estética	estuda	as	sensações	que	a	arte	provoca	no	ser	humano,	desde	sensações	
boas	até	sensações	que	causam	desconforto,	inquietude,	aflição	etc.	
 
A	 partir	 das	 manifestações	 artísticas	 criadas	 desde	 a	 pré-história	 até	
a	 contemporaneidade,	 percebe-se	 que	 diferentes	 povos	 culturais	 criam	 suas	
particularidades	artísticas,	como	é	o	caso,	por	exemplo,	das	culturas	indígenas.	Os	
povos	indígenas,	devido	aos	saberes	ancestrais,	se	apropriam	de	elementos	da	sua	
etnia	para	conceber	o	belo	por	meio	das	manifestações	culturais.	A	pintura	corporal	
dos	povos	 indígenas	 tem	representação	ritualística,	desta	 forma,	cada	sociedade	
assume	um	significado	artístico	diferente,	como	é	o	caso	da	pintura	corporal	na	
atualidade,	que	é	representada	pela	tatuagem,	e	esta	tem	apenas	o	significado	de	
decorar.	
A	arte	tem	inúmeras	possibilidades	de	definição,	pois	se	compreende	como	
uma	manifestação	dinâmica,	onde	são	atribuídos	conceitos	no	tempo	e	espaço.	
A	 arte	 é	muitas	 coisas.	Uma	das	 coisas	 que	 a	 arte	 é,	 parece,	 é	uma	
transformação	 simbólica	 do	 mundo.	 Quer	 dizer:	 o	 artista	 cria	 um	
mundo	outro	–	mais	bonito	ou	mais	intenso	ou	mais	significativo,	ou	
mais	ordenado	–	por	cima	da	realidade	imediata	[...].	Naturalmente,	
esse	mundo	do	outro	que	o	artista	cria	ou	inventa	nasce	de	sua	cultura,	
de	sua	experiência	de	vida,	das	ideias	que	ele	tem	na	cabeça,	enfim,	de	
sua	visão	de	mundo	[...]	(GULLAR,	1982	apud	CHAUÍ,	2003,	p.	271).
A	 palavra	 arte	 deriva	 do	 latim	 ars, artis,	 que	 significa	 profissão	 ou	
habilidade	natural	 ou	 adquirida.	Também	corresponde	 ao	 termo	grego	 tékhne, 
“técnica”,	que	significa	“toda	atividade	humana	submetida	a	regras	em	vista	da	
fabricação	de	alguma	coisa”	(CHAUÍ,	2003,	p.	275).	Este	conceito	também	se	tem	
na	cultura	greco-romana,	que	significava	ofício.	Assim,	a	primeira	definição	da	
arte	estava	ligada	ao	propósito	de	fazer	ou	produzir.	A	segunda	definição	de	arte	
é	compreendida	como	conhecimento,	visão	ou	contemplação,	isto	significa	que	a	
obra	pode	retratar	aspectos	históricos,	sociais	e	educativos.	Já	a	terceira	definição	
está	ligada	à	arte	como	expressão,	que	é	uma	experiência	com	o	sensível.	
A	partir	dessas	abordagens,	percebe-se	que	é	difícil	um	conceito	definitivo	
para	responder	o	que	é	arte,	pois	a	arte	se	transforma,	se	modifica	de	acordo	com	
o	contexto	cultural	no	qual	está	inserida.	
A	obra	Mona	Lisa,	criada	pelo	artista	do	Renascimento	Leonardo	da	Vinci,	
é	tida	como	um	exemplo	de	obra	de	arte	que	é	conhecida	por	grande	parte	da	
população	mundial.	Seu	misterioso	sorriso	é	pesquisado	e	admirado	por	muitos.
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
81
FIGURA 8 – LEONARDO DA VINCI. MONA LISA. 1503–1507
Óleo sobre madeira de álamo, color. 77 cm x 53,5 cm. Museu do Louvre, Paris.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Mona_Lisa#/media/
File:Mona_Lisa,_by_Leonardo_da_Vinci,_from_C2RMF_retouched.jpg>. Acesso 
em: 20 maio 2015.
Séculos	depois	de	Leonardo	da	Vinci,	 o	 artista	do	movimento	 artístico	
Dadaísmo,	 Marcel	 Duchamp,	 atuou	 como	 um	 dos	 maiores	 expoentes	 da	
vanguarda	artística	do	 século	XX.	Duchamp	 reproduziu	 a	obra	original	Mona	
Lisa	em	cartões	postais,	desenhando	na	imagem	um	bigode	e	escrevendo	embaixo	
da	mesma:	L.H.O.O.Q.	A	obra	do	artista	Duchamp	não	se	trata	de	uma	ofensa	à	
obra	original,	mas	uma	brincadeira	irônica	com	reverência	aos	antigos	mestres	da	
pintura.	
82
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
FIGURA 9 – MARCEL DUCHAMP. MONA LISA (L.H.O.O.Q). 1919. 
READY-MADE CERTIFICADO
Lápis sobre produção fotográfica. Color; 17,8 cm x 12 cm. Coleção privada.
FONTE: Disponível em: <http://museuhoje.com/app/v1/br/arte/55-
marcelduchamp>. Acesso em: 20 maio 2015.
Foi	 com	 o	 princípio	 de	 repensar	 o	 sentido	 de	 arte	 do	 seu	 tempo	 que	
Duchamp	colocou	em	questão	o	que	seria	arte.	Isso	leva	a	pensar	que	conceituar	
arte	não	é	definitivo,	uma	vez	que	cada	um	pode	conceber	a	obra	de	uma	forma.	
Chauí	(2003,	p.	403)	descreve	que	“a	obra	de	arte	dá	a	ver,	a	ouvir,	a	sentir,	
a	pensar,	a	dizer.	Nela	e	por	ela,	a	realidade	se	revela	como	se	jamais	a	tivéssemos	
visto,	ouvido,	sentido,	pensado	ou	dito”.	Assim,	para	a	autora	(2003,	p.	407),	as	
artes	na	atualidade	tornam-se:
Trabalho	 da	 expressão	 e	 mostram	 que,	 desde	 que	 surgiram	 pela	
primeira	vez,	foram	inseparáveis	da	ciência	e	da	técnica.	Assim,	por	
exemplo,	a	pintura	e	a	arquitetura	da	Renascença	são	incompreensíveis	
sem	a	matemática	e	a	teoria	da	harmonia	e	das	proporções;	a	pintura	
impressionista,	incompreensível	sem	a	física	e	a	óptica,	isto	é,	sem	a	
teoria	das	cores	etc.	A	novidade	está	no	 fato	de	que,	agora,	as	artes	
não	 ocultam	 essas	 relações,	 os	 artistas	 se	 referem	 explicitamente	 a	
elas	 e	 buscam	nas	 ciências	 e	 nas	 técnicas	 respostas	 e	 soluções	 para	
problemas	artísticos.
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
83
Nesta	abordagem,	a	arte	parte	para	a	construção	de	um	sentido	novo	(a	
obra)	e	o	institui	como	parte	da	cultura.	Segundo	Chauí	(2008,	p.	329),	“o	artista	
é	um	ser	social	que	busca	exprimir	seu	modo	de	estar	no	mundo	na	companhia	
dos	outros	seres	humanos,	reflete	sobre	a	sociedade,	volta-se	para	ela,	seja	para	
criticá-la,	seja	para	afirmá-la,	seja	para	superá-la”.
A	obra	Guernica,	pintada	pelo	artista	do	Cubismo,	Pablo	Picasso,	propaga	
o	sentido	da	arte	enquanto	expressão,	pois	revela	na	obra	o	sentido	da	dor,	do	
belo,	do	terrível,	do	sublime,	ou	seja,	mostra	por	meio	da	arte	o	sentido	da	cultura	
e	da	história	na	vida	em	sociedade.		Essa	obra	retratou	o	bombardeio	que	a	cidade	
espanhola	Guernica	sofreu	por	aviões	alemães.
FIGURA 10 – PABLO PICASSO. GUERNICA. 1937
Pintura a óleo. 349 cm x 776 cm. Museu Nacional Centro de Arte Reina Sofia.
FONTE: Disponível em: <http://pt.wikipedia.org/wiki/Guernica_%28quadro%29#/media/
File:Mural_del_Gernika.jpg>. Acesso em: 20 maio 2015.
Nota-se	 que	 a	 arte	 é	 uma	 ciência	 do	 conhecimento	 que	 representa	 um	
elo	 entre	 o	 passado,	 o	 presente	 e	 o	 futuro,	 pois	 demonstra	 o	 pensar,	 o	 agir	 e	
todos	 os	 aspectos	 culturais	 existentes	desde	o	homem	primitivo	 até	 o	homem	
contemporâneo.	
A	arte	pertence	à	cultura	erudita,	que	são	as	artes	desenvolvidas	a	partir	
de	um	conhecimento	acadêmico,	são	aquelas	que	estão	dentro	de	lugares	como	
galerias	de	arte	e	museus,	mas	 também,	a	arte	 faz	parte	da	cultura	popular,	 e	
este	conhecimento	popular	é	reconhecido	como	patrimônio	cultural.	Para	Suíse	
Monteiro	Leon	Bordest:84
UNIDADE 1 | CIDADANIA E SOCIEDADE
O	patrimônio	cultural	de	um	povo	é	formado	pelo	conjunto	dos	saberes,	
fazeres,	expressões,	práticas	e	seus	produtos,	que	remetem	à	história,	
à	memória	e	à	identidade	de	um	povo.	A	preservação	do	patrimônio	
cultural	 significa,	 principalmente,	 cuidar	 (reproduzir	 sempre	 e	 os	
manter	vivos)	dos	bens	aos	quais	esses	valores	estão	associados,	ou	
seja,	 cuidar	 de	 bens	 representativos	da	 história	 e	 da	 cultura	de	um	
lugar	ou	de	um	grupo	 social.	A	Constituição	brasileira	de	1988,	 em	
seus	 artigos	 215	 e	 216,	 ampliou	 a	 noção	 de	 patrimônio	 cultural	 ao	
reconhecer	 a	 existência	 de	 bens	 culturais	 de	 natureza	 material	 e	
imaterial	 e,	 também,	 ao	 estabelecer	 outras	 formas	de	 preservação	 –	
como	o	registro	e	o	inventário	–	além	do	tombamento,	instituído	pelo	
Decreto	nº	25,	de	30	de	novembro	de	1937,	que	determina	especialmente	
a	proteção	de	 edificações,	paisagens	 e	 conjuntos	históricos	urbanos.	
O	 patrimônio	 imaterial	 cuida	 da	 preservação	 dos	 bens	 culturais	 de	
natureza	imaterial,	como	os	ofícios	e	saberes	artesanais,	as	maneiras	
de	pescar,	 caçar,	 plantar,	 cultivar	 e	 colher,	de	utilizar	plantas	 como	
alimentos	e	remédios,	de	construir	moradias,	mas	também	manifestos	
através	das	danças	e	músicas,	incluindo	também	os	modos	de	vestir	
e	falar,	os	rituais	e	festas	religiosas	e	populares,	as	relações	religiosas,	
sociais	 e	 familiares	 que	 revelam	 os	 múltiplos	 aspectos	 da	 cultura	
cotidiana	de	uma	comunidade	(apud	IPHAN/MinC,	2012).
Nos	dias	atuais	a	arte	contemporânea	está	associada	à	indústria	cultural,	
apropriando-se	 da	 tecnologia	 e	 das	 interferências	 da	 mídia,	 fazendo	 parte	
da	 cultura	 de	massa.	 Os	meios	 de	 comunicação,	 como	 a	 televisão,	 fotografia,	
cinema,	 internet,	rádio	e	redes	sociais	fazem	com	que	o	conhecimento	artístico	
seja	divulgado	com	maior	facilidade	e	rapidez,	de	forma	acessível	a	grande	parte	
da	população.
A	 arte	 na	 atualidade	 ou	 arte	 contemporânea,	 que	 surgiu	 mais	
intensamente	a	partir	de	1960,	busca	romper	com	aspectos	tradicionais	da	arte.	
A	arte	contemporânea	passa	a	ser	pensada	como	integrante	da	vida	e	do	mundo,	
em	que	é	concebida	em	lugares	formais	e	informais,	buscando	a	participação	do	
público.	Tem	como	característica	a	apropriação	de	materiais	e	objetos	encontrados	
no	cotidiano.	Neste	sentido,	a	obra	tem	um	tempo	de	duração	determinado.		
A	artista	canadense	Jana	Sterbak	fez	uma	exposição,	em	1987,	causando	
polêmica	por	mostrar	que	o	corpo	humano,	por	mais	bem	vestido	e	arrumado	
que	esteja,	não	passa	de	carne	e	osso.
TÓPICO 5 | CULTURA E ARTE
85
FIGURA 11 – JANA STERBAK, VANITAS. VESTIDO DE CARNE PARA ALBINO 
ANORÉXICO.1987
FONTE: Disponível em: <http://performatus.net/jana-sterbak/>. Acesso em: 
20 maio 2015.
A	arte	contemporânea	proporcionou	aos	artistas	maior	liberdade	de	criação,	
sendo	que	ampliou	o	conceito	das	linguagens	artísticas	do	que	pode	ou	não	ser	
considerado	como	arte.		Desta	forma,	podemos	dizer	que	a	arte	contemporânea	
é	uma	arte	conceitual,	pois	a	ideia	proposta	pelo	artista	é	mais	importante	que	o	
objeto	em	si,	valorizando	a	experiência	que	irá	causar	no	público.	Desta	forma,	
pode-se	pensar	a	arte	na	atualidade	como	uma	área	do	conhecimento	em	uma	
relação	com	a	natureza,	com	a	realidade	urbana	e	com	o	mundo	tecnológico.	Com	
isso	 surgem	 diferentes	 linguagens	 contemporâneas	 que	 se	 articulam,	 como	 a	
pintura,	gravura,	escultura,	desempenho,	happening,	instalação,	assemblage, ready-
made,	fotografia,	literatura,	video-art, body-art, land-art	etc.
86
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 Estudar,	pesquisar	e	refletir	sobre	as	diferentes	culturas	e	suas	manifestações	
artísticas	possibilita	a	compreensão	da	vida	e	das	relações	entre	os	sujeitos	no	
meio	social.	A	cultura	e	a	arte	devem	ser	estudadas	a	partir	de	três	concepções:	
erudita,	popular	e	de	massa.
•	 A	 cultura,	 assim	 como	a	 arte,	 é	dinâmica,	 vai	mudando	 conforme	o	 tempo	
e	espaço,	e	são	duas	áreas	de	conhecimento	de	difícil	definição,	porém	elas	
interagem	entre	si	e	com	as	demais	áreas	de	conhecimento.
•	 A	 cultura	 é	 considerada	 como	 um	 movimento	 humano	 decorrente	 da	
convivência	em	grupo	e	da	interação	social.	Portanto,	é	necessária	a	percepção	
das	especificidades	de	cada	grupo	cultural,	para	com	elas	observar	e	descobrir	
os	signos	existentes	em	busca	da	identidade	de	cada	povo.	
•	 É	por	meio	do	conhecimento	e	da	valorização	da	cultura	que	se	pode	observar	
e	caracterizar	a	história	de	vida,	os	costumes,	as	crenças	e	os	hábitos	de	um	
determinado	grupo	social	a	fim	de	distanciar	preconceitos	e	desigualdades.
•	 A	arte	tem	sua	definição	a	partir	de	três	concepções:	do	fazer,	do	conhecimento	
e	da	experiência	com	o	sensível.	A	arte	pode	ser	representada	por	meio	das	
artes	visuais,	artes	cênicas,	música	e	dança.
87
1	 (ENADE	–	2008,	questão	1)	O	filósofo	alemão	Friedrich	Nietzsche	(1844-
1900),	talvez	o	pensador	moderno	mais	incômodo	e	provocativo,	influenciou	
várias	 gerações	 e	 movimentos	 artísticos.	 O	 Expressionismo,	 que	 teve	
forte	 influência	 desse	 filósofo,	 contribuiu	 para	 o	 pensamento	 contrário	 ao	
racionalismo	 moderno	 e	 ao	 trabalho	 mecânico	 através	 do	 embate	 entre	 a	
razão	e	a	fantasia.	As	obras	desse	movimento	deixam	de	priorizar	o	padrão	de	
beleza	tradicional	para	enfocar	a	instabilidade	da	vida,	marcada	por	angústia,	
dor,	 inadequação	do	 artista	diante	da	 realidade.	Das	obras	 a	 seguir,	 a	 que	
reflete	esse	enfoque	artístico	é:	
AUTOATIVIDADE
A B C
Homem idoso na poltrona. 
Rembrandt van Rijn – Louvre, 
Paris. 
Disponível em: <http://www.
allposters.com>.
Figura e borboleta. Milton 
Dacosta.
Disponível em: <http://www.
unesp.br>.
O grito. Edvard Munch, Oslo. 
Disponível em: <http://
members.cox.net>.
C D
Menino mordido por um lagarto. 
Michelangelo Merisi (Caravaggio), 
National Gallery, Londres.
Disponível em: <http://vr.theatre.
ntu.edu.tw>.
Abaporu. Tarsila do Amaral. 
Disponível em: <http://tarsilado 
amaral.com.br>.
88
89
UNIDADE 2
POLÍTICA, TECNOLOGIA E 
GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS 
SOBRE A SOCIEDADE
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• compreender os fundamentos e concepções sobre Ciência, Tecnologia e Socie-
dade;
• ampliar a percepção acerca das relações entre Ciência, Tecnologia e Sociedade;
• conceber as tecnologias da informação e comunicação como fator determinante 
no advento da sociedade da informação;
• contribuir para o debate sobre a sociedade da informação;
• compreender as práticas de inovação, as comunidades virtuais e seus impactos 
e conhecer novidades tecnológicas existentes;
• compreender o processo político, social e histórico contemporâneo;
•	 refletir	sobre	relações	de	trabalho.
Esta	unidade	 está	dividida	 em	cinco	 tópicos.	No	decorrer	da	unidade	você	
encontrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO	1	–	CIÊNCIA,	TECNOLOGIA,	SOCIEDADE	E	AMBIENTE
TÓPICO	2	–	TECNOLOGIAS	DA	INFORMAÇÃO	E	COMUNICAÇÃO	(TIC)
TÓPICO	3	–	AVANÇOS	TECNOLÓGICOS
TÓPICO	4	–	GLOBALIZAÇÃO	E	POLÍTICA	INTERNACIONAL
TÓPICO	5	–	RELAÇÕES	DE	TRABALHO
90
91
TÓPICO 1
CIÊNCIA, TECNOLOGIA, 
SOCIEDADE E AMBIENTE
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, para adentrarmos nos assuntos relacionados à Ciência, 
Tecnologia e Sociedade é necessário entendermos os fundamentos de cada tema, 
e,	 somente	então,	 relacionarmos	com	o	 todo.	Desta	 forma,	 convidamos	você	a	
discutir	ciência	sob	diferentes	óticas,	analisar	definições	e	pensamentos	acerca	da	
tecnologia	e	interpretar	a	sociedade.	
Abordaremos	 algumas	 relações	 sobre	 ciência	 e	 tecnologia,	 tratando	
do contrato de neutralidade dessa parceria; trataremos ainda do processo de 
análise da evolução da sociedade sob algumas perspectivas; para, assim, analisar 
a entrada da participação da sociedade nas discussões da já vencida parceria 
ciência	 e	 tecnologia.	 Somente	 então	 abordaremosa	 nova	 formatação	 da	 CTS	
(Ciência,	Tecnologia	e	Sociedade)	com	embasamento	nas	discussões	levantadas	
pelo	trabalho	dos	pesquisadores	Milton	Santos	e	Wiebe	Bijker.	E	para	finalizar,	
algumas	considerações	acerca	de	modernidade,	pós-modernidade	e	globalização.
2 CIÊNCIA
Entender eventos, situações ou fatos novos é sempre uma tarefa fácil para 
você? Se fosse designado para a incrível tarefa de defender um determinado 
episódio,	como	você	procederia?	Essas	indagações	fazem-se	necessárias	para	que	
ampliemos	nossos	horizontes	sobre	o	fato	de	que	as	pessoas	constroem	formas	
próprias para compreender a realidade, seja observando pelo viés cultural, 
histórico,	geográfico,	ambiental.	
A	mitologia,	a	arte,	a	religião	e	até	mesmo	a	ciência	são	observadas	quando	
o	foco	é	explicar	as	situações	que	cercam	os	seres	humanos.	Você,	com	certeza,	
já	deve	ter	ouvido	sobre	Isaac	Newton!	Não	se	recorda?	E	sobre	Isaac	Newton	
e a história da maçã que caiu sobre a cabeça dele, originando assim a teoria da 
gravidade?	Ficou	mais	fácil,	não?	Pois	bem,	é	desta	forma	que	a	sociedade	explica	
situações do cotidiano: apoiando-se em diferentes pensamentos para defender o 
que	acontece	ao	seu	redor.	
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
92
Quando contrapomos a ciência natural à ciência humana podemos 
perceber	o	jogo	de	conflitos,	pois,	conforme	Omnés	(1996),	a	ciência	é	capaz	de	
explicar	a	realidade,	bastando	para	isso	princípios,	regulamentos	e	normas.	De	
qualquer	maneira,	tais	conflitos	são	indissociáveis	da	epistemologia	e	da	política,	
uma	vez	que	ocorre	a	tentativa	de	autoridade	de	uma	ciência	sobre	a	outra.	Desta	
forma,	a	realidade	é	comumente	explicada	pela	ciência.	
A	 ciência	 apresenta	 características	 que	 a	 fazem	 singular;	 é	 cumulativa,	
ou seja, não se costuma descartar informações ou dados obtidos; é computável, 
permite o devido registro de tais informações ou dados, e, além disso, é 
irrevogável.	Segundo	Abbagnano	(2000),	além	de	utilizar	sua	própria	linguagem,	
é	baseada	em	métodos	e	fundamentos	epistemológicos,	o	que	faz	com	que	seja	
clara	e	objetiva.	
Diversos	são	os	métodos	utilizados	para	explicar	o	cotidiano	através	da	
ciência.	Severino	(2007,	p.	102)	nos	diz	que	um	método	científico	pode	ser	“um	
conjunto de procedimentos lógicos e de técnicas operacionais que permitem o 
acesso	às	relações	causais	constantes	entre	os	fenômenos”.	Já	para	Omnés	(1996,	
p.	272),	é	“um	conjunto	de	regras	práticas	que	permitem	garantir	a	qualidade	da	
correspondência	entre	a	representação	científica	e	a	realidade”.	
Nessa	mesma	perspectiva,	Omnés	(1996)	também	propõe	que	o	método	deve	
cumprir	ainda	algumas	etapas	que	visam	diminuir	a	distância	entre	a	cientificidade	
do conhecimento e a proposta de explicação do mesmo, que seriam: 
FIGURA 12 – ETAPAS PARA EXPLICAÇÃO DO COTIDIANO ATRAVÉS DA CIÊNCIA
FONTE: Adaptado de Omnés (1996)
•	 EMPÍRICA	OU	EXPLORATÓRIA
•	 análise	dos	fatos	e	determinação	de	regras	baseadas	na	experiência.
Etapa 1
Etapa 2
Etapa 3
Etapa 4
•	 CONCEPÇÃO	OU	PERCEPÇÃO
•	 apropriação	de	conceitos	e	criação	de	princípios.
•	 ELABORAÇÃO
•	 indicação	das	consequências	dos	princípios.
•	 CONSTATAÇÃO	OU	COMPROVAÇÃO	
•	 aprovação	ou	não	das	hipóteses	propostas.
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
93
Faz-se	de	suma	importância	a	compreensão	sobre	ciência	e	o	conhecimento	
gerado	 por	 ela.	 Porém,	 não	 se	 pode	 deixar	 de	 lembrar	 que	 o	 conhecimento	
científico	avança	pelo	campo	da	prática	e	não	só	pelo	patamar	teórico.	
3 TECNOLOGIA
O que surge no seu pensamento ao ouvir a palavra tecnologia? Porventura 
seriam	máquinas	sofisticadas,	ou,	quem	sabe,	computadores	de	última	geração?	
Exatamente, esses são sinônimos de tecnologia, mas convidamos você a aprofundar 
seus	conhecimentos	ainda	mais.	Veja,	pelo	menos,	outras	três	vertentes	possíveis	
para	a	utilização	dessa	palavra,	segundo	Ferreira	(2004):	
1.	 Linguagem	 peculiar	 a	 um	 ramo	 determinado	 do	 conhecimento,	 teórico	 ou	
prático.	
2.	 Conjunto	 dos	 processos	 especiais	 relativos	 a	 uma	 determinada	 arte	 ou	
indústria.	
3.	 Aplicação	dos	conhecimentos	científicos	à	produção	em	geral.
Por	mais	simplificadas	que	sejam	estas	três	conceituações,	elas	permitem	
a	análise	inicial	acerca	da	discussão	sobre	tecnologia.	
Vamos	 iniciar	 falando	 sobre	 o	 conjunto	 de	 processos	 utilizados	 em	
uma	determinada	área,	neste	estamos	falando	de	 teoria	e	prática	aliadas	a	fim	
de	 atingir	 um	 objetivo.	 Isso	 nos	 faz	 inferir	 que	 o	 conhecimento	 científico	 não	
ocorre somente na academia, mas também no ambiente de trabalho, ou seja, 
não	só	há	produção	de	conhecimento	científico	no	ambiente	acadêmico,	mas	nas	
prestadoras de serviço, as quais testam a teoria promovida pela ciência, agora no 
campo	da	prática.
IMPORTANT
E
Há de se destacar uma situação relevante nas questões tecnológicas, no âmbito 
de país, a capacidade de produção de tecnologia também diferencia os países desenvolvidos 
dos em desenvolvimento.
Você	consegue	perceber,	nessa	explanação	inicial,	a	ação	do	ser	humano	
em	tudo	o	que	se	refere	à	tecnologia?	Normalmente,	quando	se	fala	nesse	assunto,	
logo	se	pensa	em	tecnologia	de	ponta,	sondas	espaciais,	nanotecnologia,	enfim;	
porém, a própria transformação das peles de animais em roupas, dos elementos 
da	natureza	em	utensílios	domésticos,	o	uso	do	fogo,	entre	outros	ao	longo	da	
história,	 são	 exemplos	 de	 tecnologia.	 E,	 sim,	 a	 tecnologia	 está	 presente	 desde	
muito	cedo	na	vida	do	ser	humano.
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
94
Maior	complexidade	há	quando	analisamos	a	tecnologia	do	ponto	de	vista	
técnico, pois incluímos o campo de atuação da atividade humana e aumentamos 
os	 dados	 acerca	 do	 que	 vem	 a	 ser	 tecnologia.	 Como	 já	 exposto,	 a	 tecnologia	
está	em	todos	os	meios,	seja	científico,	cultural,	social;	com	isso,	ratificamos	as	
colocações de que em todas as ações humanas há técnica e, portanto, a tecnologia 
está	amplamente	disseminada,	como	preconiza	Abbagnano	(2000).	Outrossim,	é	
relacionada às implicações sobre todo esse conhecimento desenvolvido; segundo 
Dias	e	Silveira	(2005),	o	uso,	o	aproveitamento	e	os	resultados	são	de	acordo	com	
o	objetivo	para	o	qual	foi	desenvolvida	e	o	meio	em	que	está	inserida.	
FIGURA 13 - A PRIMEIRA RODA
FONTE: Disponível em: <http://waz.com.br/blog/2013/08/26/cinco-tecno 
logias-que-mudaram-o-mundo/>. Acesso em: 15 maio 2015.
Pode-se	perceber	que	a	técnica	está	tão	enraizada	entre	a	natureza	e	o	ser	
humano	que,	para	Santos	(2006),	é	quase	impossível	separá-la,	pois	o	homem	já	
não se vê mais sem o uso de tecnologia, que facilita, medeia e auxilia em muitos 
processos.	 Talvez	 possa	 surgir	 aí	 um	 fator	 de	 preocupação:	 substituição	 (em	
demasia)	dos	elementos	naturais	por	processos	artificiais.	Fica	a	deixa	para	você	
pesquisar	e	analisar	o	que	se	apresenta	de	prós	e	contras	nessas	questões.
Agora,	 partimos	 para	 a	 análise	 do	 último	 item	 sobre	 tecnologia,	 esse	
pode	ser	traduzido	como	tecnocracia,	ou	seja,	o	uso	do	conhecimento	científico	
nos demais meios, porém, com a divulgação exclusiva a partir do que a ciência 
e	a	 técnica	propõem	como	resultado.	Nesse	último,	 tal	ação	elimina	as	demais	
análises feitas a partir da concepção política, ideológica e social, o que, por sua 
vez,	pode	causar	o	determinismo	tecnológico.	Não	se	esqueça,	 tais	ações	 terão	
reflexo	direto	nas	questões	relacionadas	à	sobreposição	das	ciências	humanas	e	
às	ciências	da	natureza.
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
95
Pelo que foi apresentado nesta breve explanação, pode-se perceber que as 
ações	são	interligadas	e	que	agem	como	reação	em	cadeia.	Nesse	processo,	faz-se	
necessário entender a sociedade como agente integrante e mediador de todos os 
processos	descritos.	
4 SOCIEDADE 
Ao	entender	a	importância	de	discutir	a	sociedade	como	parte	integrante	
de todo o processo relacionado àtecnologia, se abre precedentes para muitas 
indagações.	As	discussões	 seriam	 inúmeras,	pois	haveria	necessidade	de	 abrir	
alinhamentos	no	mais	amplo	sentido	a	fim	de	ajustar	as	arestas	para	que	se	forme	
o	 conhecimento	 acerca	do	 assunto.	 Seja	 no	 âmbito	 político,	 econômico,	 social,	
cultural,	ambiental,	faz-se	necessário	apurar	o	contexto	em	que	ocorrem,	a	fim	de	
compreender	seu	impacto.	Lembrando	que	a	ciência	humana	apresenta	grande	
diversidade de pressupostos metodológicos e epistemológicos, e estes serão 
abordados,	através	de	alguns	autores	e	suas	perspectivas,	a	seguir.
FIGURA 14 – PERSPECTIVAS DE TEORIAS E SEUS AUTORES SOBRE SOCIEDADE
FONTE: Adaptado de Tello e Mainardes (2012)
•	 Auguste	Comte	(1898):	teoria	do	positivismo.	Cita	três	etapas	para	a	evolução	
da	humanidade:	teológica,	metafísica	e	positiva.		
•	 Lewis	Henry	Morgan	 (1978):	mudança	 social	 através	 da	 integração	 com	 a	
descoberta	das	forças	motoras.
•	 Osvald	Spengler	(1932):	propõe	que	as	evoluções	ocorrem	de	maneira	cíclica	
e	que	têm	período	para	iniciar	e	para	encerrar.
•	 Karl	 Marx	 (1867):	 a	 mudança	 na	 sociedade	 só	 ocorre	 impulsionada	 pelo	
conflito	entre	as	diferentes	classes	sociais.
•	 Edmund	 Husserl	 (1859):	 apregoava	 que	 a	 sociedade	 necessitava	 apenas	
de análise no âmbito da consciência e que o mundo exterior poderia ser 
desconsiderado	nesta	análise.
•	 Heidegger	e	 Jean-Paul	Sartre	 (1905):	apresentaram	correntes	filosóficas	que	
analisavam a relação entre o homem e o mundo, considerando homem um 
ser	independente	e,	portanto,	capaz	de	definir	suas	próprias	ações.
A Sociedade como Organismo.
A teoria dos ciclos históricos.
O materialismo histórico e a mudança social.
Fenomenologia
Existencialismo
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
96
Pode-se perceber que cada autor defende uma linha de pensamento, ora 
específica,	ora	compartilhada	por	outro	autor,	porém,	divergentes;	no	entanto,	
nas propostas de conceituação sobre sociedade, cada um nas suas perspectivas 
defende	seus	pontos	de	vista.	Vejamos,	por	exemplo,	Comte,	em	cuja	teoria	fez	uso	
de leis e métodos das ciências naturais, entendendo a sociedade como um grande 
organismo	vivo,	 interligado	e	interdependente.	O	principal	conceito	defendido	
por Comte era de que a sociedade evoluía apenas em uma direção, ou seja, sua 
postura	frente	às	mudanças	era	conservadora.	Com	base	nesta	 teoria	surgiram	
outras,	nesta	mesma	linha	de	pensamento,	denominadas	como	Neopositivismo.
Por outro lado, Spengler entendia que a sociedade evoluía em ciclos 
que se encerravam em grandes períodos, citando como exemplos as sociedades 
babilônica,	egípcia,	romana.	
Marx,	por	sua	vez,	defendia	a	ideia	de	que	a	sociedade,	como	capitalista,	
começara a dividir as classes sociais e tal divisão proporcionava observar a 
evolução	da	sociedade	num	viés	de	produtividade	e	capitalismo.
Husserl	tinha	grande	preocupação	com	a	essência	dos	objetos	e	não	com	
o	 materialismo.	 Desta	 forma,	 considerava	 mais	 importante	 a	 experiência	 da	
consciência	do	que	os	demais	fatores	materiais	ou	ideias.
Michel	Foucault	defendia	a	ideia	de	que	o	saber	estava	fortemente	ligado	
ao poder, e propunha uma genealogia para analisar a sociedade com a ideia de que 
o	saber	estaria	presente	nas	relações	humanas	e	nas	instituições	disciplinadoras.
 
	Assim,	diversas	são	as	teorias	acerca	da	evolução	da	sociedade,	que	não	
se encerram e tampouco foram todas apresentadas, mas que permitem dar-nos 
base para analisar, no contexto da sociedade atual, a implicação da sociedade 
nas	 práticas	 atuais.	 Acertadamente,	 podemos	 inferir	 que	 nenhum	 fator	 até	
aqui	estudado	age	sozinho	ou	de	maneira	isolada,	é	no	conjunto	da	obra	que	a	
sociedade	evolui,	a	ciência	melhora	e	a	tecnologia	se	adapta	(BAZZO,	2010).
5 SOCIEDADE ENTRE CIÊNCIA E TECNOLOGIA 
Já	vimos	a	definição	de	tecnocracia,	pela	qual	a	ciência	passa	a	ter	razão	
sobre	tudo	e	todos.	Pois	bem,	esta	visão	apresenta	um	modelo	de	progresso	linear,	
pelo qual o desenvolvimento social é apenas consequência do desenvolvimento 
proposto	pela	ciência,	que,	por	sua	vez,	geraria	o	desenvolvimento	tecnológico	e,	
somente	então,	chegaria	no	desenvolvimento	social.
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
97
FIGURA 15 – O PROGRESSO DO PONTO DE VISTA DA TECNOCRACIA
 FONTE: Adaptado de Auler e Delizoicov (2006)
Quando se trata do modelo linear apresentado, a perspectiva é de que 
tanto a ciência quanto a tecnologia determinam as ações e melhorias, e a sociedade, 
por	sua	vez,	somente	as	recebe	sem	possibilidade	de	interação.	Nesse	modelo,	a	
relação	entre	o	desenvolvimento	científico	e	o	social	é	casual,	o	que	é	fortemente	
criticado;	outro	fator	de	desagrado	nesse	modelo,	conforme	Bourdieu	(1983a),	é	da	
neutralidade	da	ciência.	Segundo	ele,	esse	fator	é	tido	como	“utopia	de	interesses”,	
ou	seja,	coloca	a	ciência	como	melhor	explicação	da	real	condição	da	sociedade.
Conforme pudemos observar, a tecnocracia, ou seja, a decisão de manter 
apenas uma vertente entre ciência, tecnologia e sociedade não é neutra, pois age 
sobre	interesses	políticos.	O	movimento	ciência	e	tecnologia,	ainda	nos	anos	1960	
e	 1970,	 foi	 duramente	 criticado	por	 promover,	 além	do	 já	 exposto,	 problemas	
ambientais, além da aplicação da tecnologia bélica, por exemplo, nas guerras 
mundiais.
Foi	a	partir	das	décadas	de	1960	e	1970	que	o	movimento	de	neutralidade	
da dupla ciência e tecnologia perdeu força e a sociedade passou a exercer seu 
papel de analisar criticamente a parceria entre as duas frentes e participar das 
discussões	 técnico-científicas	propostas	pelo,	agora,	grupo	 (ANGOTTI;	AUTH,	
2001,	AULER;	BAZZO,	 2001).	A	partir	desse	movimento,	 outras	 frentes	 foram	
incorporadas	às	discussões	sobre	o	que	seria	conhecimento	científico	e	tecnológico,	
bem	como	suas	evoluções.	
Como	fora	visto,	mais	precisamente	após	a	II	Guerra	Mundial,	a	parceria	
entre ciência e tecnologia passou por profundas mudanças, principalmente por 
começar	a	levar	em	conta	o	bem-estar	social.	O	primeiro	avanço	foi	no	sentindo	
de considerar o desenvolvimento tecnológico um dos impulsionadores do 
progresso.	A	ciência,	de	certa	maneira,	também	passou	por	mudanças,	ganhando	
a	cada	período	maior	importância.	Passemos,	agora,	a	analisar	algumas	reações	
entre a parceria da ciência, da tecnologia e da sociedade, que se deu após essas 
grandes	adequações	e	modificações.
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
98
6 CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE (CTSA) 
– INTERPRETAÇÕES SOBRE A NOVA FORMAÇÃO
Sob a nova ótica de formação, agora com o criticismo social, ciência e 
tecnologia	passam	a	ter	uma	conotação	diferente	e	menos	isolada.	O	ensino	de	
Ciências	com	enfoque	ciência,	tecnologia,	sociedade	e	ambiente	(CTSA)	a	partir	de	
questões	sociocientíficas	(QSC),	“tem	por	objetivo	a	emancipação	dos	sujeitos	ao	
fazer	com	que	eles	problematizem	a	ciência	e	participem	de	seu	questionamento	
público, engajando-se na construção de novas formas de vida e de relacionamento 
coletivo”	(MARTINEZ,	2012,	p.	55).
Para	o	referido	autor,	as	questões	sociocientíficas	e	a	perspectiva	CTSA	
“têm	em	comum	o	objetivo	de	 focar	o	 ensino	de	Ciências	na	 formação	para	a	
cidadania dos estudantes no ensino básico e superior, bem como nos processos 
de	formação	cidadã	mais	amplos	abrangidos	na	sociedade”.
Para	 contextualizar	 esta	 temática,	 convido-o	 para	 analisarmos,	 juntos,	
duas	interpretações,	baseadas	nos	filósofos	Wiebe	Bijker	e	Milton	Santos.	
6.1 CTS SOB NOVAS ÓTICAS
Ao	debater	o	tema	CTS,	procuramos	trazer	para	a	conversa	a	contribuição	
dos	seguintes	pesquisadores:	Wiebe	Bijker	e	Milton	Santos.
Wiebe	 Bijker	 (1951-	 )	 é	 um	 construtivista	 social	 que	 trabalhou	 visando	
estabelecer	 novas	 bases	 teóricas	 e	metodológicas	 entre	 a	CTS.	O	 elo	 para	 esta	
nova parceria seria a sociedade e, no momento em que assume este ponto de 
vista,	 começaa	 trabalhar	 com	 o	 também	 construtivista	 social	 Trevor	 Pinch.	
Ambos	envolvidos	na	divulgação	de	documentos	que	debatem	o	relacionamento	
entre ciência e tecnologia, e destacando a importância da essência social 
(BENAKOUCHE,	2005).	
Outro	pesquisador	que	traremos	para	a	discussão	é	Milton	Santos	(1926-
2001),	um	geógrafo	brasileiro	que,	por	sua	vez,	tratou	das	questões	relacionadas	
à	CTS	sob	a	ótica	da	informação.	
6.2 CTS SOB A ÓTICA DE MILTON SANTOS 
Milton	 Santos	 traz	 à	 luz	 a	 discussão	 do	 meio	 ambiente	 e	 sua	 relação	
com CTS, portanto, na visão desse pesquisador já poderíamos usar o conceito 
CTSA.	Ele	aborda	questões	como	o	espaço	e	a	sucessão	de	relacionamento	entre	
o	homem	e	a	natureza,	bem	como	a	da	organização	humana.	Dessa	forma,	faz	
uma	 interessante	 análise	 sobre	 a	 divisão	 do	 espaço	 geográfico.	 Para	 entender	
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
99
melhor,	trazemos	um	trecho	do	texto	“A	natureza	do	espaço”,	que	trata	sobre	as	
considerações	do	autor	sobre	meio	natural,	meio	técnico	e	meio	técnico-científico-
informacional.
O meio natural
Quando	 tudo	 era	 meio	 natural,	 o	 homem	 escolhia	 da	 natureza	
aquelas suas partes ou aspectos considerados fundamentais ao exercício da 
vida,	valorizando,	diferentemente,	segundo	os	lugares	e	as	culturas,	essas	
condições	naturais	que	constituíam	a	base	material	da	existência	do	grupo.
Esse	 meio	 natural	 generalizado	 era	 utilizado	 pelo	 homem	 sem	
grandes	transformações.	As	técnicas	e	o	trabalho	se	casavam	com	as	dádivas	
da	natureza,	com	a	qual	se	relacionavam	sem	outra	mediação.
O que alguns consideram como período pré-técnico exclui uma 
definição	restritiva.	As	transformações	impostas	às	coisas	naturais	já	eram	
técnicas, entre as quais a domesticação de plantas e animais aparece como 
um	momento	marcante:	o	homem	mudando	a	Natureza,	impondo-lhe	leis.	
A	isso	também	se	chama	técnica.
Nesse	 período,	 os	 sistemas	 técnicos	 não	 tinham	 existência	
autônoma.	 [...].	 A	 harmonia	 socioespacial	 assim	 estabelecida	 era,	 desse	
modo,	 respeitosa	 da	 natureza	 herdada,	 no	 processo	 de	 criação	 de	 uma	
nova	 natureza.	 Produzindo-a,	 a	 sociedade	 territorial	 produzia,	 também,	
uma	série	de	comportamentos,	cuja	razão	é	a	preservação	e	a	continuidade	
do	meio	de	vida.	Exemplo	disso	são,	entre	outros,	o	pousio,	a	rotação	de	
terras, a agricultura itinerante, que constituem, ao mesmo tempo, regras 
sociais	e	regras	territoriais,	 tendentes	a	conciliar	o	uso	e	a	“conservação”	
da	 natureza:	 para	 que	 ela	 possa	 ser	 outra	 vez	 utilizada.	 Esses	 sistemas	
técnicos sem objetos técnicos não eram, pois, agressivos, pelo fato de serem 
indissolúveis	 em	 relação	 à	Natureza	 que,	 em	 sua	 operação,	 ajudavam	 a	
reconstituir.
O meio técnico 
O	 período	 técnico	 vê	 a	 emergência	 do	 espaço	 mecanizado.	 Os	
objetos que formam o meio não são, apenas, objetos culturais; eles são 
culturais	 e	 técnicos	 ao	mesmo	 tempo.	Quanto	 ao	 espaço,	 o	 componente	
material	 é	 crescentemente	 formado	do	“natural”	e	do	“artificial”.	Mas,	o	
número	e	a	qualidade	de	artefatos	variam.	As	áreas,	os	espaços,	as	regiões,	
os países passam a se distinguir em função da extensão e da densidade da 
substituição, neles, dos objetos naturais e dos objetos culturais, por objetos 
técnicos.
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
100
Os	 objetos	 técnicos,	 maquínicos,	 juntam	 à	 razão	 natural	 sua	
própria	 razão,	 uma	 lógica	 instrumental	 que	 desafia	 as	 lógicas	 naturais,	
criando,	nos	 lugares	atingidos,	mistos	ou	híbridos	conflitivos.	Os	objetos	
técnicos	e	o	espaço	maquinizado	são	 lócus	de	ações	“superiores”,	graças	
à	sua	superposição	triunfante	às	 forças	naturais.	Tais	ações	são,	 também,	
consideradas superiores pela crença de que ao homem atribuem novos 
poderes,	o	maior	é	a	prerrogativa	de	enfrentar	a	Natureza,	natural	ou	 já	
socializada,	vinda	do	período	anterior,	 com	 instrumentos	que	 já	não	são	
prolongamento do seu corpo, mas que representam prolongamentos do 
território,	verdadeiras	próteses.	Utilizando	novos	materiais	e	transgredindo	
a distância, o homem começa a fabricar um tempo novo, no trabalho, no 
intercâmbio,	no	 lar.	Os	tempos	sociais	 tendem	a	se	superpor	e	contrapor	
aos	tempos	naturais.	[...].
O meio técnico-científico-informacional
O	 terceiro	 período	 começa	 praticamente	 após	 a	 Segunda	 Guerra	
Mundial,	 e	 sua	 firmação,	 incluindo	 os	 países	 de	 terceiro	 mundo,	 vai	
realmente	dar-se	nos	anos	70.	É	a	 fase	a	que	R.	Richta	 (1968)	chamou	de	
período	 técnico-científico,	 e	 que	 se	distingue	dos	 anteriores	pelo	 fato	da	
profunda interação da ciência e da técnica, a tal ponto que certos autores 
preferem falar de tecnociência para realçar a inseparabilidade atual dos 
dois	conceitos	e	das	duas	práticas.
Essa	união	entre	técnica	e	ciência	vai	dar-se	sob	a	égide	do	mercado.	
E o mercado, graças exatamente à ciência e à técnica, torna-se um mercado 
global.	A	ideia	de	ciência,	a	ideia	de	tecnologia	e	a	ideia	de	mercado	global	
devem ser encaradas conjuntamente, e desse modo podem oferecer uma 
nova interpretação à questão ecológica, já que as mudanças que ocorrem na 
natureza	também	se	subordinam	a	essa	lógica.
Neste	período,	os	objetos	 técnicos	 tendem	a	ser	ao	mesmo	tempo	
técnicos e informacionais, já que, graças à extrema intencionalidade de 
sua	produção	e	de	sua	localização,	eles	já	surgem	como	informação;	e,	na	
verdade,	a	energia	principal	de	seu	funcionamento	é	também	a	informação.	
Já	hoje,	quando	nos	referimos	às	manifestações	geográficas	decorrentes	dos	
novos	progressos,	não	é	mais	de	meio	técnico	que	se	trata.	Estamos	diante	
da produção de algo novo, a que estamos chamando de meio técnico-
científico-informacional.
Da	mesma	forma	como	participam	da	criação	de	novos	processos	
vitais	e	da	produção	de	novas	espécies	(animais	e	vegetais),	a	ciência	e	a	
tecnologia, junto com a informação, estão na própria base da produção, 
da	utilização	e	do	 funcionamento	do	espaço	e	 tendem	a	 constituir	o	 seu	
substrato.	[...].
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
101
Podemos	então	falar	de	uma	cientificização	e	de	uma	tecnicização	
da	paisagem.	Por	outro	 lado,	a	 informação	não	apenas	está	presente	nas	
coisas, nos objetos técnicos, que formam o espaço, como ela é necessária à 
ação	realizada	sobre	essas	coisas.	A	informação	é	o	vetor	fundamental	do	
processo social e os territórios são, desse modo, equipados para facilitar a 
sua	circulação.	[...].	
Os	espaços	assim	requalificados	atendem,	sobretudo,	aos	interesses	
dos atores hegemônicos da economia, da cultura e da política e são 
incorporados	 plenamente	 às	 novas	 correntes	mundiais.	 O	meio	 técnico-
científico-informacional	é	a	cara	geográfica	da	globalização.
Sustentando que os vários elementos envolvidos no processo de 
inovação	tecnológica	constituem	uma	teia	contínua	(“seamless web”),	Bijker	
pretende dar conta dessa realidade através da elaboração de uma teoria que: 
a)	explique	tanto	a	mudança	quanto	a	estabilidade	das	técnicas;	
b)	seja	simétrica,	ou	seja,	possa	ser	aplicada	tanto	às	técnicas	que	dão	certo	
como às que falham;
c)	 considere	 tanto	 as	 estratégias	 inovadoras	 dos	 atores	 como	 o	 caráter	
limitador	das	estruturas;	e,	finalmente
d)	evite	distinções	a priori	entre	o	social,	o	técnico,	o	político	ou	o	econômico.	
FONTE: Santos (2006, p. 157-161)
Após	 esta	 leitura,	 você	 conseguiu	 identificar	 os	 aspectos	 importantes	
da	relação	entre	CTS(A)	que	Milton	Santos	aborda?	Como	você	pôde	ver,	essa	
questão é analisada na perspectiva de que as relações foram sendo estabelecidas 
ao	longo	do	tempo	e	de	maneira	dialética.	O	autor	destaca	questões	que	merecem	
ser reanalisadas, como: a necessidade de determinar as características do mundo 
atual	 (como	 modernidade,	 pós-modernidade	 e	 globalização),	 assim	 como	 a	
história	das	relações	entre	CTSA.	Outro	ponto	que	merece	ser	revisitado	sãoas	
relações	entre	CTSA	em	uma	lógica	de	mercado,	ou	seja,	buscar	reflexões	sobre	o	
sistema	produtivo	como	um	todo.
6.3 CTSA SOB A ÓTICA DE WIEBE BIJKER
Um	dos	principais	incentivadores	do	movimento	construtivista	social	foi	
Wiebe	Bijker.	Para	entendermos	melhor	suas	ideias	e	ideais,	compartilharemos	
um	pequeno	trecho	do	artigo	“Tecnologia	é	Sociedade:	contra	a	noção	de	impacto	
tecnológico”,	 de	 Benakouche	 (1999,	 p.	 11-13),	 que	 aborda	 os	 principais	 vieses	
deste	pesquisador.	
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
102
Diante	de	 tal	agenda,	propõe	o	uso	de	alguns	conceitos	básicos	e	
operacionais, postos inclusive à prova nos vários estudos de caso que 
realizou,	 dentre	 os	 quais	 se	 destacam	 os	 de	 grupos	 sociais	 relevantes,	
estrutura	 tecnológica	 (“technological frame”),	 flexibilidade	 interpretativa	
(“interpretative flexibility”)	e	estabilização	ou	fechamento	(“closure”).		
Os	 “grupos	 sociais	 relevantes”	 são	 aqueles	 mais	 diretamente	
relacionados ao planejamento, desenvolvimento e difusão de um artefato 
dado; na verdade, seria na interação entre os diferentes membros desses 
grupos	 que	 os	 artefatos	 são	 constituídos.	 Nesse	 processo,	 os	 atores	 não	
agem	 aleatoriamente,	 mas	 segundo	 padrões	 específicos,	 isto	 é,	 agem	 a	
partir	 das	 “estruturas	 tecnológicas”	 às	 quais	 estão	 ligados;	 esta	 noção	 –	
central,	neste	quadro	analítico-descritivo	–	é	ampla	o	suficiente	para	incluir	
teorias,	conceitos,	estratégias,	objetivos	ou	práticas	utilizadas	na	resolução	
de problemas ou mesmo nas decisões sobre usos, pois não se aplica apenas 
a	 grupos	 profissionais	 especializados,	 mas	 a	 diferentes	 tipos	 de	 grupos	
sociais.	 Segundo	 Bijker,	 existiriam	 diferentes	 graus	 de	 inclusão	 nessas	
estruturas,	isto	é,	de	envolvimento.
Na	medida	em	que	os	grupos	atribuem	diferentes	significados	a	um	
mesmo artefato, sua construção supõe um exercício de negociações entre 
esses mesmos grupos, onde o uso da retórica é um recurso poderoso, ou seja, 
é	objeto	de	uma	“flexibilidade	 interpretativa”.	Quando	esta	atividade	de	
ajustes	se	estabiliza	e	um	significado	é	fixado	ou	aceito,	diz-se	que	o	artefato	
atingiu	o	estágio	de	“fechamento”.	É	justamente	a	prática	da	flexibilidade	
interpretativa que retira dos artefatos sua obturacidade; é ela que explica 
porque os mesmos não têm uma identidade ou propriedades intrínsecas, as 
quais	seriam	responsáveis	por	seu	sucesso	ou	o	seu	fracasso,	seus	“impactos”	
positivos	 ou	 negativos.	 Em	 outras	 palavras,	 o	 não	 reconhecimento	 da	
importância desse processo é que leva à crença equivocada do determinismo 
da	técnica.	Assim	é	que	tudo,	numa	tecnologia	dada,	do	seu	planejamento	a	
seu uso, estaria sujeito a variáveis sociais e, portanto, estaria aberto à análise 
sociológica.	No	entanto,	pode-se	perguntar:	ao	se	adotar	essa	perspectiva	
não	se	corre	o	risco	de	se	cair	num	reducionismo	social?	Não,	respondem	os	
pesquisadores	identificados	com	a	mesma.	O	reconhecimento	da	existência	
de estruturas tecnológicas evitaria esse risco: na medida em que as mesmas 
influenciam	a	ação	dos	diferentes	grupos	sociais	relevantes,	essas	estruturas	
seriam justamente as pontes que ligam tecnologia e sociedade, levando à 
constituição	de	conjuntos	sociotécnicos	(BIJKER,	1995).
Após	esta	leitura,	você	pode	traçar	os	principais	pontos	elencados	pelo	autor?	
Se você citou a questão da importância de debater as ações dos conceitos 
CTSA	em	conjunto,	com	o	enfoque	nas	ações	sociais,	fez	uma	excelente	leitura.	
Wiebe	Bijker	 foi	um	dos	grandes	defensores	da	participação	da	 sociedade	nas	
discussões relacionadas à ciência, e como consequência, demonstra em todos os 
seus	discursos	o	repúdio	à	parceria	entre	sociedade	e	tecnologia.
TÓPICO 1 | CIÊNCIA, TECNOLOGIA, SOCIEDADE E AMBIENTE
103
A	 partir	 das	 colocações	 proporcionadas	 pelos	 dois	 autores	 é	 possível	
elencar pontos que merecem ser revistos, como a forma com que as comunicações 
de	 massa	 são	 disponibilizadas	 e	 utilizadas	 pela	 sociedade,	 assim	 como	 a	
importância	da	tecnologia	no	cotidiano	e	a	dependência	tecnológica.	
7 CARACTERIZANDO O MUNDO ATUAL
Ao	caracterizar	o	mundo	atual,	faz-se	necessário	observar	três	vertentes	
singulares:	modernidade,	pós-modernidade	e	globalização.	É	importante	analisar	
esses	três	pontos	para	que	se	possa	avançar	nos	estudos	sobre	CTSA.	Vamos	lá?
O que vem a ser a modernidade? Para muitos, o conceito de modernidade 
refere-se a ideias bastante controversas, compreendendo desde pequenas 
práticas	a	formas	de	perceber,	conceber	e	viver	o	mundo.		Para	melhor	situá-lo,	
relembramos	três	grandes	eventos:	Revolução	Industrial,	Revolução	Francesa	e	
Revolução	Científica.	
A	pós-modernidade	ainda	é	complexa	e	a	ideia	não	é	amplamente	aceita	
por	todos	os	cientistas	e	pensadores.	As	dúvidas	e	diferenças	surgiram	por	volta	
de	 1970	 e	 1990,	 mas	 ainda	 assim	 pode-se	 verificar	 duas	 linhas	 de	 discursos,	
quando	o	termo	é	pós-modernidade:	a	da	continuidade	e	a	do	rompimento.
FIGURA 16 – PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS DOS CONCEITOS DE MODERNIDADE, PÓS-
MODERNIDADE E GLOBALIZAÇÃO
FONTE: Adaptado de David Harvey (2003)
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
104
Agora,	 quando	 o	 assunto	 é	 globalização,	 o	 termo	 é	 mais	 conhecido,	
tendo em vista que é assunto atual e amplamente divulgado e trabalhado na 
mídia.	 Como	 todo	 conceito,	 esse	 também	 apresenta	 seus	 prós	 e	 contras,	 pois	
está	fortemente	ligado	à	maneira	como	foi	apreendido	pela	sociedade.	O	marco	
inicial	 da	 globalização	 é	 fracamente	 indicado,	 como	no	período	da	Revolução	
Tecnocientífica,	porém,	viu-se	nesse	uma	importante	ferramenta	de	longo	alcance,	
com	ligações	para	diferentes	partes	do	mundo.	
A	globalização	está	amparada,	principalmente,	nos	avanços	tecnológicos,	
assim como nas relações sociais e econômicas, no mercado da conectividade e da 
virtualidade.	A	compressão	da	globalização,	conhecida	como	compressão	tempo-
espaço, é abordada como sendo a responsável por alterar a forma de comunicação 
entre	as	pessoas,	como	a	telefonia	móvel	(HARVEY,	2003).	Porém,	como	tudo	tem	
seu	outro	lado,	assim	também	é	na	globalização,	podendo	proporcionar	tanto	a	
inclusão	como	a	desigualdade	social.	
Uma	 importante	 observação	precisa	 ser	 feita	 sobre	 esse	ponto:	 deve-se	
cuidar para que os avanços tecnológicos não venham a causar o determinismo 
tecnológico, o que ocasionaria o mesmo pensamento de que a ciência e a 
tecnologia	são	neutras.	Nesse	momento,	o	que	se	deve	buscar	é	usar	a	tecnologia	
como	ferramenta	e	não	como	base.
105
RESUMO DO TÓPICO 1
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	 ciência,	 como	 forma	 de	 explicar	 a	 realidade,	 apresenta	 as	 seguintes	
características: linguagem própria; conhecimento acumulável, registrável e 
refutável; e articulação entre procedimentos metodológicos e fundamentos 
epistemológicos.
•	 A	tecnologia,	como	sinônimo	de	técnica,	nos	permite	pensar	das	tecnologias	
mais simples até as mais avançadas, como roupa, ferramentas e celulares; e, 
quando	 falamos	 em	 tecnocracia,	 podemos	 entender	 como	 ideologização	da	
técnica.
•	 A	sociedade	pode	ser	analisada	e	interpretada	de	diversas	formas	e	são	vários	
os	autores	que	apresentam	algum	parecer	sobre	o	tema	sociedade.	
•	 A	ciência	e	a	 tecnologia	apresentam	um	modelo	de	crescimento	e	evolução	
linear.
• O movimento que engloba ciência, tecnologia e sociedade está baseado em uma 
visão mais crítica sobre a parceria entre ciência e tecnologia, o que permitiu 
inserir outros pontos para debate das questões sociais, políticas, culturais e 
econômicas	acerca	da	ciência	e	das	tecnologias.
•	 Há	várias	interpretações	acerca	das	relações	CTS(A),	e	as	de	Milton	Santos	e	
Wiebe	Bijker	são	duas	delas.
•	 Os	conceitos	de	modernidade,	pós-modernidade	e	globalização	são	importantes	
para a discussão acerca de ciência, tecnologia e sociedade, mas apresentam 
concepçõese	interpretações	bastante	controversas.
106
AUTOATIVIDADE
1 Leia	a	charge	a	seguir:	
FONTE: Disponível em: <http://www2.uol.com.br/laerte/tiras/>. Acesso em: maio 2015.
A	 análise	 da	 charge	 nos	 remete	 ao	 fenômeno	 da	 insegurança	 no	
emprego,	 vivido,	 nos	 dias	 atuais,	 por	 muitas	 pessoas.	 Esta	 insegurança	
também está atrelada ao desenvolvimento de novas tecnologias, o que, por 
sua	 vez,	 tornou-se	 mais	 evidente	 nos	 últimos	 anos.	 Com	 base	 nos	 efeitos	
nocivos,	é	correto	afirmar	que:
a)	 (	 )	 Produz	sensação	de	apreensão	quanto	à	continuidade	futura	de	um	
cargo	e/ou	de	um	papel	dentro	do	ambiente	de	trabalho.	
b)	 (	 )	 O	maior	aumento	da	insegurança	no	trabalho	ocorreu	em	meados	dos	
anos	de	1990,	entre	os	trabalhadores	que	exercem	atividades	manuais.	
c)	 (	 )	 Trata-se	de	um	fenômeno	recente	causado	por	profundas	alterações	
no	contexto	do	mercado	de	trabalho.	
d)	(	 )	 Os	 estudos	 apontam	 que	 a	 insegurança	 no	 emprego	 é	 restrita	 ao	
ambiente de trabalho, não afetando a saúde e a vida pessoal dos 
empregados.
2	 Com	referência	à	comunicação	de	massa,	identifique	a	opção	correta.	
a)	 (	 )	 A	 comunicação	 de	 massa	 engendra	 um	 tipo	 de	 comunicabilidade	
do	 “entre	 nós”,	 que	 se	 reporta	 aos	 telespectadores,	 ouvintes	 e	
aos brasileiros, em geral, gerando a ilusão de pertencerem a uma 
comunidade.	
b)	 (	 )	 A	comunicação	de	massa	caracteriza-se	pela	divisão	entre	a	figura	do	
emissor	e	a	do	receptor	autorizado	e	pela	negligência	do	monopólio	
comunicativo	e	do	cerceamento	de	práticas	populares.	
c)	 (	 )	 A	 comunicação	 de	massa	 fundamenta-se	 na	 premissa	 de	 que	 tudo	
pode ser mostrado e dito, não estabelecendo critérios sobre quem 
pode	dizer	e	quem	pode	ouvir.	
107
d)	(	 )	 O	receptor	autorizado	tem	um	espaço	da	fala	para	opinar	e	contradizer,	
não	sendo	necessário	que	suas	funções	sejam	definidas	na	estrutura	
do	campo	comunicativo.	
e)	 (	 )	 Na	comunicação	de	massa,	o	espaço	social	sui generis é transformado 
em um espaço social heterogêneo, em que emissor e receptor têm 
papéis	bem	definidos.	
108
109
TÓPICO 2
TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E 
COMUNICAÇÃO (TIC)
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, ao falarmos das tecnologias da informação e comunicação 
como fator determinante no advento da sociedade da informação, estamos a falar 
das	transformações	resultantes	do	processo	da	globalização	de	mercados	e	dos	
avanços	 do	 uso	 dos	 processos	 tecnológicos	 na	 vida	 cotidiana	 dos	 indivíduos.	
Desse	mosaico	 de	 transformações	 exercidas	 pelos	meios	 tecnológicos	 na	 vida	
cotidiana	 dos	 indivíduos	 emerge	 o	 conceito	 de	 sociedade	 da	 informação.	 Sob	
este prisma, o que iremos apresentar nas próximas páginas busca assinalar as 
tecnologias da informação e comunicação como fator determinante no advento da 
sociedade	da	informação.	Portanto,	esperamos	que	este	tópico	possa	contribuir,	
de certa forma, para inseri-lo no debate sobre a sociedade da informação e que 
sirva	de	ferramenta	para	expandir	o	seu	horizonte	pensante.
2 AS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E 
COMUNICAÇÃO (TIC) COMO FATOR DETERMINANTE NO 
ADVENTO DA SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
Nos	 últimos	 anos	 do	 século	 XX	 o	 mundo	 vem	 adquirindo	 uma	 nova	
configuração,	 fundamentada	nas	 tecnologias	da	 informação	e	da	comunicação.	
A	 sociedade	 pós-industrial	 vem	 sofrendo	 modificações	 de	 forma	 acelerada,	
reestruturando o capitalismo, na medida em que todas as economias do planeta 
passam	a	interdepender	umas	das	outras,	em	escala	global.
Diante	disso,	observa-se	que	as	grandes	organizações	mundiais	passam	
por	 um	 processo	 de	 descentralização	 e	 interconexão	 das	 empresas,	 exemplos	
desse processo são: o aumento do capital frente ao trabalho, com o declínio do 
sindicalismo e crescente desemprego e a incorporação massiva da mulher no 
mundo	do	trabalho.	
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
110
FIGURA 17 – SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO
FONTE: Disponível em: <http://webquests.edufor.pt/webquest/soporte_
horizontal_w.php?id_actividad=2826&id_pagina=1>. Acesso em: maio 2015.
Com o crescente aumento do uso das Tecnologias da Informação e 
de Comunicação nos diversos setores da atividade humana, bem como a sua 
integração às facilidades das telecomunicações, tornou-se evidente a possibilidade 
de	ampliar	cada	vez	mais,	tanto	o	acesso	à	informação,	quanto	o	desenvolvimento	
de novos meios que proporcionem de forma rápida sua distribuição no campo 
das	 pesquisas	 científicas.	As	 atividades	 tradicionais,	 como	 a	 leitura,	 a	 escrita,	
o	 correio,	o	 comércio,	a	publicidade	ou	o	ensino,	em	atividades	 realizadas	em	
ambientes virtuais, passam agora a ser capturadas por esses novos dispositivos 
tecnológicos	de	informática,	cada	vez	mais	avançados.
Esse	processo,	que	teve	a	sua	origem	no	fim	dos	anos	1960	e	 início	dos	
anos	1970,	não	foi,	por	si	só,	responsável	pela	nova	forma	de	organização	social.	
Centrado na ideia de informação e comunicação, o uso das TIC resultou da 
interação de três processos independentes: revolução da tecnologia da informação; 
da	 economia	 (crise	 econômica	 do	 capitalismo	 e	 do	 estatismo	 e	 a	 consequente	
reestruturação	de	ambos);	e	apogeu	de	movimentos	sociais	e	culturais,	tais	como	
a	afirmação	das	liberdades	individuais,	dos	direitos	humanos,	do	feminismo	e	do	
ambientalismo	(CASTELLS,	2001).
Na	escala	 societária,	 as	Tecnologias	de	 Informação	e	Comunicação	 (TIC)	
constituíam um limiar sobre o qual se sucediam os acontecimentos políticos, militares 
ou	científicos,	tornando-se	desta	forma	uma	expressão	de	competição	global,	cuja	
lógica encontrava-se inserida dentro de uma economia informacional/global; e 
uma nova cultura, a cultura da virtualidade real, em que a sociedade e a cultura 
estão	subjacentes	à	ação	e	às	instituições	sociais	em	um	mundo	interdependente.	A	
interação	entre	esses	processos	e	as	reações	por	eles	desencadeadas	fez	surgir	uma	
nova	estrutura	social	dominante,	a	sociedade	em	rede.
Na	época	atual,	as	chamadas	Tecnologias	de	Informação	e	Comunicação	
(TIC)	 constituem	 ferramentas	 indispensáveis	 no	 processo	 de	 fortalecimento	
e	 integração	 das	 nações	 na	 nova	 cadeia	 global.	 Segundo	 Castells	 (2001),	 esse	
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
111
processo foi de extrema importância, pois seu papel conferiu uma dinâmica e 
formação	de	redes	das	diversas	esferas	da	atividade	humana.	Esta	nova	lógica	
preponderante de redes, sobre a qual a nova sociedade se assenta, transformou 
todos	os	domínios	de	vida	social	e	econômica.
Por intermédio da tecnologia, redes de capital, de trabalho, de 
informação e de mercados conectaram funções, pessoas e locais 
valiosos ao redor do mundo, ao mesmo tempo em que desconectaram 
as populações e territórios desprovidos de valor e interesse para 
a	 dinâmica	 do	 capitalismo	 global.	 Seguiram-se	 exclusão	 social	 e	
não pertinência econômica de segmentos de sociedades, de áreas 
urbanas, de regiões e de países inteiros, constituindo o que chamo 
de	 ‘o	 Quarto	 Mundo’.	 A	 tentativa	 desesperada	 de	 alguns	 desses	
grupos sociais e territórios para conectar-se à economia global e 
escapar da marginalidade levou a uma situação que chamo de ‘a 
conexão	 perversa’,	 quando	 o	 crime	 organizado	 em	 todo	 o	 mundo	
tirou vantagem de sua condição para promover o desenvolvimento 
da	economia	do	crime	global.	O	objetivo	é	satisfazer	o	desejo	proibido	
e fornecer mercadorias ilegais à contínua demanda de sociedades e 
indivíduos	abastados	(CASTELLS,	1999,	p.	411).
A	fim	de	 compreender	o	 surgimento	das	novas	 formas	de	organização	
social por conta das tecnologias informacionais, devemos observar os resultados 
dessa	“revolução	tecnológica	na	estrutura	social”,	a	saber:
• informação e conhecimento estão profundamente inseridos na cultura das 
sociedades; 
• as novas tecnologias da informação agregam processos de produção, distribuição 
e direção, permitindo diferentestipos de atividades interligadas de acordo com 
o	modo	organizativo	que	se	ajusta	melhor	à	estratégia	da	empresa	ou	à	história	
da	 instituição.	 Três	 conceitos	 surgem	 dessa	 transformação	 fundamental	 do	
modo em que o sistema de produção opera e, juntos, formam as bases atuais 
da	nova	economia	e	forçarão	a	redefinição	da	estrutura	ocupacional,	além	do	
sistema de classes da nova sociedade: articulações entre as atividades; redes que 
configuram	as	organizações;	e	fluxos	de	fatores	de	produção	e	de	mercadorias;	
flexibilidade	e	adaptabilidade	são	necessidades	fundamentais	para	a	direção	de	
organizações,	 pois	 complexidade	 e	 incerteza	 são	 características	 essenciais	 do	
novo	meio	ambiente	organizacional;	
• as novas tecnologias de comunicação têm um impacto direto sobre os meios de 
comunicação e sobre a formação de imagens, representações e opinião pública 
em	suas	sociedades,	resultando	em	uma	tensão	crescente	entre	globalização	e	
individualização	no	universo	dos	audiovisuais;	
• as fontes de poder na sociedade e entre as sociedades são alteradas pelo caráter 
estratégico das tecnologias e da informação na produtividade da economia e na 
eficácia	das	instituições	sociais.	A	habilidade	de	promover	a	mudança	tecnológica	
está relacionada diretamente com a habilidade de uma sociedade para difundir 
e	intercambiar	informações	e	relacioná-las	com	o	restante	do	mundo.
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
112
3 TECNOLOGIA DA INFORMAÇÃO
E COMUNICAÇÃO – TIC
Desde	 os	 primórdios	 da	 humanidade,	 o	 homem	 sempre	 sentiu	 a	
necessidade	de	se	comunicar	com	os	outros	homens.	As	novas	tecnologias	vêm	
efetuando	mudanças	sociais	drásticas	nos	diversos	segmentos	da	sociedade.	As	
chamadas	Tecnologias	da	Informação	e	Comunicação	(TIC)	têm	se	apresentado	
como	um	fator	decisivo	na	nova	organização	social,	sem	precedentes	na	história.
O próprio capitalismo passa por um processo de profunda 
restauração,	caracterizado	por	maior	flexibilidade	de	gerenciamento;	
descentralização	 das	 empresas	 e	 sua	 organização	 em	 redes	 tanto	
internamente quanto em suas relações com outras empresas; 
considerável fortalecimento do papel do capital vis-à-vis o trabalho, 
com	o	declínio	concomitante	da	influência	dos	movimentos	de	trabalho;	
incorporação maciça das mulheres na força de trabalho remunerada, 
geralmente em condições discriminatórias; intervenção estatal para 
desregular	os	mercados	de	forma	seletiva	e	desfazer	o	estado	do	bem-
estar social com diferentes intensidades e orientações, dependendo da 
natureza	das	forças	e	instituições	políticas	de	cada	sociedade;	aumento	
da concorrência econômica global em um contexto de progressiva 
diferenciação	dos	cenários	geográficos	e	culturais	para	acumulação	e	a	
gestão	de	capital	(CASTELLS,	1999,	p.	21).
Primeiramente, para melhor compreender o conceito de Tecnologias da 
Informação e Comunicação - TIC e o seu papel nas sociedades atuais, de forma a 
dar	uma	“robustez”	mais	ampla	às	nossas	reflexões,	faremos	um	pequeno	aporte	
histórico	 sobre	 o	 conceito	 de	 tecnologia	 em	 Manuel	 Castells.	 Neste	 sentido,	
segundo	afirma	o	autor	(1999,	p.	24):
Para dar os primeiros passos nessa direção, devemos levar a tecnologia a 
sério,	utilizando-a	como	ponto	de	partida	desta	investigação;	devemos	
localizar	 esse	 processo	 de	 transformação	 tecnológica	 revolucionária	
no contexto social em que ele ocorre e pelo qual está sendo moldado; 
e devemos lembrar que a busca pela identidade é tão poderosa quanto 
a	transformação	econômica	e	tecnológica	no	registro	da	nova	história.
O termo tecnologia provém do verbo grego tictein,	que	significa	"técnica,	
arte,	ofício",	juntamente	com	o	sufixo	"logia",	que	significa	"estudo",	portanto,	o	
conhecimento	prático	que	almeja	alcançar	um	determinado	fim	concreto.
O	 Dicionário	 de	 Sociologia,	 de	 Alan	 Johnson	 (1997),	 indica	 a	 palavra	
“tecnologia”	 como	 o	 repositório	 acumulado	 de	 conhecimento	 cultural	 sobre	
ambientes	físicos	e	seus	recursos	materiais,	com	vistas	a	satisfazer	desejos	e	vontades.	
Contudo,	segundo	afirma	Johnson	(1997),	tecnologia	não	pode	ser	confundida	com	
a ciência, na medida em que ela consiste de conhecimentos práticos sobre como 
usar recursos materiais, ao passo que a ciência consiste de conhecimento abstrato e 
teorias	sobre	como	o	processo	do	conhecimento	se	constrói.
Na	sociedade	industrial,	o	conceito	de	tecnologia	esteve	associado	à	forma	
de produto, passando, portanto, a não mais designar a forma de produção, ou seja, 
concentra-se	nos	produtos,	nos	processos,	nos	equipamentos	e	nas	operações.
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
113
Assim,	na	visão	de	Masi	(1999),	esta	lógica,	em	que	a	tecnologia	se	torna	uma	
ferramenta indispensável nas relações de produção, obrigou o mundo da produção 
industrial a sofrer grandes mudanças, tanto no processo de regulamentação da 
empresa,	como	na	organização	do	trabalho,	de	forma	a	responder	aos	imperativos	
que a própria tecnologia trouxe para o aperfeiçoamento das condições de vida do 
homem.	Nesse	 sentido,	 para	Masi	 (1999,	 p.	 158),	 as	 principais	 transformações	
provocadas por esses imperativos são as seguintes:
•	Um	intervalo	de	tempo	mais	curto	exigido	pelo	processo	produtivo	
para	levar	até	o	fim	a	realização	de	um	produto.
•	Um	aumento	da	necessidade	de	capital	para	a	produção.
•	Maior	 especialização	e	definição	de	 funções,	operações,	processos	
e	materiais,	com	uma	consequente	rigidez	que	impede	conversões	de	
uma	operação	para	outra.
•	Maior	necessidade	de	mão	de	obra	especializada.
•Maior	exigência	de	organização	de	todas	as	atividades	especializadas	
envolvidas, o que resulta na posterior exigência de outros especialistas: 
os	especialistas	em	organizações.
•	A	necessidade	de	planejamento,	 em	 face	do	 tempo	 e	dos	 capitais	
empregados,	da	rigidez	dos	processos,	das	exigências	organizacionais	
e da instabilidade do mercado em relação aos sistemas industriais que 
utilizam	tecnologias	avançadas.
Já	 no	 século	XX,	 a	 tecnologia	 passa	 a	 ser	 descrita	 como	um	 campo	do	
conhecimento	 que,	 além	 de	 usar	 o	 método	 científico,	 cria	 e/ou	 transforma	
processos	 materiais.	 Assim,	 segundo	 Masi	 (1999),	 a	 tecnologia	 passa	 a	 ser	 o	
motor do desenvolvimento da sociedade, elevando o padrão de vida de uma 
determinada	sociedade,	reduzindo	desta	forma	as	desigualdades.	Nesse	sentido,	
na	visão	de	Masi	(1999,	p.	159),	a	tecnologia	passa	a	ser:
uma	 nova	 forma	 de	 racionalidade	 funcional	 que	 modifica	 os	
modelos educacionais, ‘os sistemas de especulação, tradição e 
razão’;	 revolucionando	 os	 transportes	 e	 as	 comunicações,	 cria	
novos	 tipos	 de	 relações	 sociais	 (onde,	 por	 exemplo,	 as	 relações	 de	
parentesco	são	substituídas	por	 ligações	de	 trabalho	e	profissionais)	
e	 de	 interdependência	 econômica.	 A	 tecnologia,	 enfim,	 modifica	 a	
percepção	(também	estética,	como	testemunham	as	novas	tendências	
das	artes	figurativas)	do	espaço	e	do	tempo.
Na	visão	de	Castells	(2001,	p.	49),	a	tecnologia	corresponde:
(ao)	uso	de	conhecimento	científico	para	especificar	as	vias	de	se	fazer	as	
coisas	de	uma	maneira	reproduzível.	Entre	as	tecnologias	da	informação	
incluo, como todo o conjunto convergente de tecnologias em microeletrônica, 
computação	 (software e hardware),	 telecomunicações/radiodifusão,	 e	
optoeletrônica.	Além	disso,	diferentemente	de	 alguns	 analistas,	 também	
incluo nos domínios da tecnologia da informação a engenharia genética e 
seu	crescente	conjunto	de	desenvolvimento	e	aplicações.
Com base nessa citação, torna-se claro que a tecnologia não determina a 
sociedade,	nem	a	sociedade	escreve	o	curso	da	transformação	tecnológica.	Portanto,	
para	Castells	(2001),	a	tecnologia	e	a	sociedade	são	categorias	interdependentes,	
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
114
na medida em que a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas 
“ferramentastecnológicas”.	Nesse	 sentido,	 para	Castells	 (2001),	 a	 tecnologia	 é	
uma	condicionante,	e	não	determinante,	da	sociedade.	
Por conseguinte, a relação entre tecnologia e sociedade está marcada pela 
presença do papel do Estado, podendo estimular ou constranger ambientes de 
inovação	tecnológica,	organizando	as	forças	sociais	dominantes	em	determinado	
tempo	 e	 espaço.	 Em	 grande	 medida,	 o	 grau	 de	 tecnologia	 existente	 numa	
sociedade é a representação de sua capacidade coletiva de controle sobre o meio 
político, isto é, de determinação sobre o formato das instituições, ou seja, do 
próprio Estado, no sentido de que este permita o melhor desenvolvimento das 
iniciativas	e	o	uso	das	tecnologias	a	favor	dos	indivíduos.	Desta	feita,	“o	processo	
histórico em que esse desenvolvimento de forças produtivas ocorre assinala as 
características da tecnologia e seus entrelaçamentos com as relações sociais” 
(CASTELLS,	2001,	p.	31).
Sob	esta	ótica,	a	 tecnologia	não	pode	ser	vista	como	uma	“ferramenta”	
que busca resolver problemas imediatos que se apresentam numa determinada 
sociedade, mas sim como um meio integrante e compatível com a sociedade em 
que	está	inserida.	Para	o	sociólogo	espanhol	Manuel	Castells	Oliván,	o	suposto	
dilema	do	determinismo	tecnológico	é	falso.	Portanto,	não	se	trata	de	perguntar	
se a tecnologia determina comportamentos na sociedade ou se a sociedade 
é	quem	controla	 a	 tecnologia.	Como	diz	Castells	 (2001,	 p.	 25),	 “a	 tecnologia	 é	
a sociedade e a sociedade não pode ser entendida ou representada sem suas 
ferramentas	 tecnológicas”.	 Isso	 não	 impede	 de	 admitir	 que	 no	 começo	 é	 uma	
parte da sociedade que dá o start, para depois os outros se apropriarem das 
inovações.	Foi	o	que	aconteceu	nos	EUA,	quando	um	setor	específico	da	sociedade	
introduziu	essas	novas	formas	de	produção,	comunicação,	gerenciamento	e	vida	
(CASTELLS,	2001).
Nessa	medida,	tanto	a	informação	como	o	conhecimento	criam	um	novo	
sistema baseado num complexo integrado de rede global de interação, em que 
a produtividade e a competitividade das suas unidades dependem basicamente 
de	sua	capacidade	de	gerar,	processar	e	aplicar	de	forma	eficiente	a	informação	
baseada	no	conhecimento.
Sem dúvida, informação e conhecimento sempre foram elementos 
cruciais no crescimento da economia, e a evolução da tecnologia 
determinou em grande parte a capacidade produtiva da sociedade e os 
padrões	de	vida,	bem	como	formas	sociais	de	organização	econômica	
[...].	A	emergência	de	um	novo	paradigma	tecnológico	organizado	em	
torno	de	novas	tecnologias	da	informação,	mais	flexíveis	e	poderosas,	
possibilita que a própria informação se torne o produto do processo 
produtivo.	 Sendo	 mais	 preciso:	 os	 produtos	 das	 novas	 indústrias	
de tecnologia da informação são dispositivos de processamento da 
informação.	 Ao	 transformarem	 os	 processos	 de	 processamento	 da	
informação, as novas tecnologias da informação agem sobre todos 
os domínios da atividade humana e possibilitam o estabelecimento 
de	conexões	infinitas	entre	diferentes	domínios,	assim	como	entre	os	
elementos	e	agentes	de	tais	atividades	(CASTELLS,	2001,	p.	88).
TÓPICO 2 | TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO (TIC)
115
Assim,	para	Castells	(2001),	o	que	caracteriza	a	atual	revolução	tecnológica	
não	é	a	centralização	do	conhecimento	e	da	aplicação,	senão	o	uso	da	informação	
para a gestão de todo o processamento da informação e gerenciamento, num 
processo de retroalimentação eterno, promovendo a passagem de três estágios 
das novas tecnologias de telecomunicações nas últimas décadas, quais sejam: a 
automação	das	tarefas,	as	experiências	de	usos	e	a	reconfiguração	das	aplicações.	
“Nos	dois	primeiros	estágios,	os	avanços	tecnológicos	se	caracterizam	pelo	learn 
by using,	isto	é,	pelo	aprender	usando.	No	último,	são	os	usuários	que	aprenderam	
a	 tecnologia	 fazendo,	o	que	acabou	resultando	na	configuração	das	redes	e	na	
descoberta	de	novas	aplicações”	(CASTELLS,	2001,	p.	51).
Desta	 feita,	 seria	 incorreto	 falar	 de	 uma	 Sociedade	 Informacional,	
implicando	uma	inadequada	“homogeneidade	das	formas	sociais”	em	qualquer	
lugar	do	globo	sob	o	novo	sistema.	Não	se	trata	de	reduzir	os	povos	da	Terra	ao	
novo paradigma informacional, mas, segundo o pensador espanhol, poderíamos 
falar	de	uma	sociedade	informacional	assim	como	falamos	da	“sociedade	urbano-
industrial,	cujas	características	são	bem	definidas	e	algumas	de	suas	principais	
estão	difundidas	mundialmente”	(CASTELLS,	1999,	p.	38).
116
RESUMO DO TÓPICO 2
Neste tópico, você aprendeu que:
●	 As	novas	tecnologias	da	informação	e	comunicação	têm	um	impacto	direto	na	
vida	social	dos	indivíduos.
●	 Os	 novos	 dispositivos	 de	 informação	 constituem	 verdadeiras	 fontes	 de	
poder nas sociedades, e são alterados de acordo com o caráter estratégico da 
produtividade	da	economia	e	na	eficácia	das	instituições	sociais.
●	 O	 termo	 tecnologia	 provém	 do	 verbo	 grego	 tictein,	 que	 significa	 criar,	
produzir,	significando,	portanto,	o	conhecimento	prático	que	almeja	alcançar	
um	determinado	fim	concreto.
●	 O	que	caracteriza	a	renovação	tecnológica	não	é	a	centralidade	do	conhecimento	
e	nem	da	informação.
●	 Tecnologia	 não	 pode	 ser	 confundida	 com	 ciência,	 na	 medida	 em	 que	 ela	
consiste de conhecimentos práticos sobre como usar recursos materiais, ao 
passo que a ciência consiste de conhecimento abstrato e teorias sobre como o 
processo	do	conhecimento	se	constrói.
●	 A	 expressão	 Tecnologias	 da	 Informação	 e	 Comunicação	 –	 TIC	 refere-se	
ao	 conjunto	 de	 recursos	 tecnológicos	 capazes	 de	 produzir	 e	 disseminar	
informações, ou seja, ferramentas que permitem arquivar e manipular 
informações em forma de textos, imagens e sons, permitindo, desta forma, 
que	nos	comuniquemos	uns	com	os	outros.
●	 São	cinco	os	elementos	que	caracterizam	o	novo	paradigma	das	tecnologias	da	
informação	e	comunicação.
117
AUTOATIVIDADE
1	 (ENADE	 -	 2011)	 Exclusão	 digital	 é	 um	 conceito	 que	 diz	 respeito	 às	
extensas	camadas	sociais	que	ficaram	à	margem	do	fenômeno	da	sociedade	
da	 informação	 e	 da	 extensão	 das	 redes	 digitais.	 O	 problema	 da	 exclusão	
digital	 se	 apresenta	 como	 um	dos	maiores	 desafios	 dos	 dias	 de	 hoje,	 com	
implicações diretas e indiretas sobre os mais variados aspectos da sociedade 
contemporânea.
Nessa	nova	 sociedade,	o	 conhecimento	 é	 essencial	para	 aumentar	 a	
produtividade	e	a	competição	global.	É	 fundamental	para	a	 invenção,	para	
a	 inovação	 e	 para	 a	 geração	 de	 riqueza.	 As	 tecnologias	 de	 informação	 e	
comunicação	 (TICs)	 proveem	uma	 fundação	para	 a	 construção	 e	 aplicação	
do	 conhecimento	 nos	 setores	 públicos	 e	 privados.	 É	 nesse	 contexto	 que	 se	
aplica o termo exclusão digital, referente à falta de acesso às vantagens e 
aos	 benefícios	 trazidos	 por	 essas	 novas	 tecnologias,	 por	 motivos	 sociais,	
econômicos,	políticos	ou	culturais.
Considerando	as	ideias	do	texto	acima,	avalie	as	afirmações	a	seguir.
I-	Um	mapeamento	da	exclusão	digital	no	Brasil	permite	aos	gestores	de	políticas	
públicas	escolherem	o	público-alvo	de	possíveis	ações	de	inclusão	digital.
II- O uso das TICs pode cumprir um papel social, ao prover informações 
àqueles que tiveram esse direito negado ou negligenciado e, portanto, permitir 
maiores	graus	de	mobilidade	social	e	econômica.
III-	O	direito	à	informação	diferencia-se	dos	direitos	sociais,	uma	vez	que	esses	
estão focados nas relações entre os indivíduos e, aqueles, na relação entre o 
indivíduo	e	o	conhecimento.
IV-	O	maior	problema	de	acesso	digital	no	Brasil	está	na	deficitária	tecnologia	
existente em território nacional, muito aquém da disponível na maior parte 
dos	países	de	primeiro	mundo.
É	correto	apenas	o	que	se	afirma	em:
a)	 (	 )	 II	e	IV.
b)	 (	 )	 I	e	II.
c)	 (	 )	 III	e	IV.
d)	(	 )	 I,	II	e	III.
e)	 (	 )	 I,	III	e	IV.
2	 (ENADE	 –	 2011)	 A	 cibercultura	 pode	 ser	 vista	 como	 herdeira	 legítima	
(embora	 distante)	 doprojeto	 progressista	 dos	 filósofos	 do	 século	XVII.	De	
fato,	 ela	 valoriza	 a	 participação	 das	 pessoas	 em	 comunidades	 de	 debate	 e	
argumentação.	Na	linha	reta	das	morais	da	igualdade	ela	incentiva	uma	forma	
de	reciprocidade	essencial	nas	relações	humanas.	Desenvolveu-se	a	partir	de	
uma prática assídua de trocas de informações e conhecimentos, coisa que os 
filósofos	do	Iluminismo	viam	como	principal	motor	do	progresso.
118
[...]	A	cibercultura	não	seria	pós-moderna,	mas	estaria	inserida	perfeitamente	
na continuidade dos ideais revolucionários e republicanos de liberdade, 
igualdade	 e	 fraternidade.	A	 diferença	 é	 apenas	 que,	 na	 cibercultura,	 esses	
“valores”	 se	 encarnam	 em	 dispositivos	 técnicos	 concretos.	 Na	 era	 das	
mídias	 eletrônicas,	 a	 igualdade	 se	 concretiza	 na	 possibilidade	 de	 cada	 um	
transmitir a todos; a liberdade toma forma nos softwares	de	codificação	e	no	
acesso a múltiplas comunidades virtuais, atravessando fronteiras, enquanto a 
fraternidade,	finalmente,	se	traduz	em	interconexão	mundial.
O desenvolvimento de redes de relacionamento por meio de computadores e a 
expansão da internet abriram novas perspectivas para a cultura, a comunicação 
e	a	educação.	De	acordo	com	as	ideias	do	texto	acima,	a	cibercultura:
a)	 (	 )	 Representa	uma	modalidade	de	cultura	pós-moderna	de	liberdade	de	
comunicação	e	ação.
b)	 (	 )	 Constituiu	 negação	 dos	 valores	 progressistas	 defendidos	 pelos	
filósofos	do	Iluminismo.
c)	 (	 )	 Banalizou	a	ciência	ao	disseminar	o	conhecimento	nas	redes	sociais.
d)	(	 )	 Valorizou	o	isolamento	dos	indivíduos	pela	produção	de	softwares de 
codificação.
e)	 (	 )	 Incorpora	valores	do	Iluminismo	ao	favorecer	o	compartilhamento	de	
informações	e	conhecimentos.
119
TÓPICO 3
AVANÇOS TECNOLÓGICOS
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Caro acadêmico, ao falarmos de avanços tecnológicos, se torna importante 
compreendermos sobre as práticas de inovação, compreender comunidades 
virtuais e seus impactos e conhecer um pouco das novidades tecnológicas 
existentes.
A	tecnologia	faz	parte	do	nosso	dia	a	dia	e	vem	se	expandindo	cada	vez	
mais.	Neste	tópico,	queremos	apenas	trazer	algo	sobre	as	novas	tecnologias,	mas	
fique	antenado	nos	noticiários,	todos	os	dias	temos	o	lançamento	de	uma	nova	
tecnologia.
2 TENDÊNCIAS ORGANIZACIONAIS DO SÉCULO XXI
Muitas	pessoas	não	conseguem	trabalhar	sem	seu	 laptop ou smartphone.	
Além	disso,	para	muitos	é	impossível	imaginar	o	dia	sem	o	Google ou, para outros, 
mensagens de texto, WhatsApp ou Facebook	para	ficar	em	contato	com	uma	grande	
rede	 de	 colegas.	 Em	 apenas	 uma	 década	 a	 tecnologia	mudou	muito	 a	 forma	
como	trabalhamos	e	nos	comunicamos.	E	na	próxima	década,	com	o	aumento	da	
velocidade das conexões da internet, haverá mudanças mais profundas para o 
trabalho	do	que	qualquer	coisa	vista	até	o	momento.	Todas	as	informações	serão	
mais	fáceis	de	visualizar	e	analisar.
As	empresas	enfrentam	mudanças	mais	abrangentes	e	com	maior	alcance	
em	suas	implicações	do	que	qualquer	coisa	desde	a	Revolução	Industrial	moderna,	
que	 ocorreu	 no	 início	 de	 1900	 (BALTZAN;	 PHILLIPS,	 2012).	 Para	 auxiliar	 na	
compreensão	 e	 influência	das	 tecnologias	 em	nosso	modo	de	vida,	 observe	as	
informações	das	figuras	a	seguir,	nelas	consta	uma	nova	tecnologia	que	já	vem	
sendo	utilizada	por	empresas	e	pela	educação,	chama-se:	comunidades	virtuais.
120
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
FIGURA 18 – COISAS QUE VAMOS DIZER PARA NOSSOS NETOS
FONTE: Baltzan e Phillips (2012)
FIGURA 19 – COMO SEREMOS LEMBRADOS POR NOSSOS NETOS
FONTE: Disponível em: <https://goo.gl/JJh21n> Acesso em: 13 dez. 2017.
3 COMUNIDADES VIRTUAIS
Você	 já	 ouviu	 falar	 em	 comunidade	 virtual?	 Também	 encontramos	
com	o	nome	de	grupo	virtual,	mas	perante	a	bibliografia	vamos	trabalhar	com	
comunidade	virtual.
TÓPICO 3 | AVANÇOS TECNOLÓGICOS
121
As	 comunidades	 virtuais	 são	 redes	 virtuais	de	 comunicação	 interativa,	
organizadas	em	interesses	compartilhados.	Ao	analisarmos	o	passado,	na	origem	
das	primeiras	civilizações,	o	ser	humano	era	nômade,	vivia	da	caça,	pesca	e	coleta	
de	produtos	na	natureza.	Com	o	passar	dos	anos	o	ser	humano	aprendeu	a	se	
organizar	em	grupos,	assim	nascendo	as	primeiras	comunidades,	as	quais	deram	
origem	 às	 civilizações.	 Esses	 grupos	 humanos	 definiram	 formas	 de	 expressar	
valor	moral	 e	 cultural,	 de	 acordo	 com	 cada	 época.	 Com	 as	 novas	 tecnologias	
constituíram-se	grupos	de	sujeitos	ligados	por	vínculos	não	formalizados,	com	
características	comuns,	formando-se	as	comunidades	virtuais	(MUSSOI;	FLORES;	
BEHAR,	2007).
NOTA
As comunidades virtuais se constituem de grupos de pessoas interconectadas 
em busca da inteligência coletiva.
FIGURA 20 – PRINCÍPIOS DA CIBERCULTURA 
FONTE: Os autores
122
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
Uma	comunidade	virtual	é	uma	 inteligência	coletiva	em	potencial.	Um	
grupo humano se interessa em constituir-se como comunidade virtual para 
aproximar-se	do	ideal	do	coletivo	inteligente,	mais	imaginativo,	mais	capaz	de	
aprender	 e	 inventar.	A	 virtualização	 ou	 desterritorialização	 das	 comunidades	
no	ciberespaço	são	condições	para	haver	inteligência	coletiva	em	grande	escala.	
A	inteligência	coletiva	é	o	 terceiro	princípio	da	cibercultura.	O	ciberespaço	é	a	
ferramenta	de	organização	de	comunidades	de	todos	os	tipos,	o	melhor	uso	do	
ciberespaço pode ser alcançado ao se colocar em sinergia os saberes, as imaginações 
e	as	energias	espirituais	daqueles	que	estão	conectados	a	ele.	A	cibercultura	é	a	
expressão da aspiração de construção de um laço social, fundado sobre a reunião 
em torno de centros de interesses comuns, no compartilhamento de informações, 
na	cooperação	e	nos	processos	de	colaboração	(MUSSOI;	FLORES;	BEHAR,	2007).
DICAS
Quer conhecer mais sobre a Cibercultura? Então leia o livro de Pierre Lévy. 
Cibercultura. Rio de Janeiro: Editora 34, 1999.
Para estimular sua leitura e aprofundar o conceito de cibercultura, 
trazemos	alguns	trechos	do	livro	de	Pierre	Lévy	(1999,	p.	11).
Pensar	 a	 cibercultura:	 esta	 é	 a	 proposta	 deste	 livro.	 Em	 geral	 me	
consideram	um	otimista.	Estão	 certos.	Meu	otimismo,	 contudo,	não	
promete que a Internet resolverá, em um passe de mágica, todos 
os	 problemas	 culturais	 e	 sociais	 do	 planeta.	 Consiste	 apenas	 em	
reconhecer	 dois	 fatos.	 Em	 primeiro	 lugar,	 que	 o	 crescimento	 do	
ciberespaço resulta de um movimento internacional de jovens ávidos 
para experimentar, coletivamente, formas de comunicação diferentes 
daquelas	 que	 as	mídias	 clássicas	 nos	 propõem.	 Em	 segundo	 lugar,	
que estamos vivendo a abertura de um novo espaço de comunicação, 
e cabe apenas a nós explorar as potencialidades mais positivas deste 
espaço	nos	planos	econômico,	político,	cultural	e	humano.
 
O	referido	autor	apresenta	a	contextualização	dos	princípios	da	cibercultura	
no mundo atual, e conclui que o programa da cibercultura é o universal sem 
totalidade, ou seja, possui uma relação profunda com a ideia de humanidade e se 
abastece	da	diversidade	cultural.
A	interconexão	para	a	interatividade	é	supostamente	boa,	quaisquer	
que sejam os terminais, os indivíduos, os lugares e momentos que ela 
coloca	em	contato.	As	comunidades	virtuais	parecem	ser	um	excelente	
meio	(entre	centenas	de	outros)	para	socializar,	quer	suas	finalidades	
sejam lúdicas, econômicas ou intelectuais, quer seus centros de 
interesse	sejam	sérios,	frívolos	ou	escandalosos.	A	inteligência	coletiva,	
enfim,	seria	o	modo	de	realização	da	humanidade	que	a	rede	digital	
TÓPICO 3 | AVANÇOS TECNOLÓGICOS
123
universal	 felizmente	favorece,	sem	que	saibamos	a priori em direção 
a	quais	resultados	tendem	as	organizações	que	colocam	em	sinergia	
seus	recursos	intelectuais.	Em	resumo,	o	programa	da	cibercultura	é	o	
universal	sem	totalidade	(LÉVY,	1999,	p.	132).
As	 comunidades	 virtuais	 podem	 ter	 diversidade	 depessoas,	 como	 de	
assuntos.	Para	educação,	uma	comunidade	virtual	cria	uma	relação	de	professor-
aluno	que	dialogam	e	estabelecem	regras	juntos.	O	professor,	nesta	situação,	é	o	
mediador,	orientador,	instigador	do	processo.	
Palloff	e	Pratt	(2004)	apresentam	técnicas	instrucionais	centradas	no	aluno	
para que o professor tenha sucesso nas interações das comunidades:
•	 Acesso	e	habilidade:	o	professor	deve	utilizar	apenas	tecnologias	que	sirvam	
aos	objetivos	da	aprendizagem;	a	 tecnologia	deve	ser	mantida	em	um	nível	
simples,	para	que	seja	transparente	ao	aluno;	o	professor	deve	se	certificar	de	
que	o	aluno	tenha	habilidade	necessária	para	usar	a	tecnologia.
•	 Abertura:	 sempre	 comece	 a	 atividade	 com	 apresentação;	 use	 atividades	 de	
aprendizagem	 que	 levem	 em	 consideração	 a	 experiência	 e	 a	 resolução	 de	
problemas.
•	 Comunicação:	deixe	claro	ao	aluno	as	diretrizes	para	a	comunicação,	incluindo	
a	net	etiqueta;	exemplifique	como	realizar	uma	boa	comunicação;	estimule	a	
participação;	acompanhe	os	alunos	que	não	participam.
•	 Comprometimento:	 explique	 suas	 expectativas	 em	 relação	 à	 utilização	 do	
tempo;	 explique	a	 realização	de	 trabalhos,	prazos	de	 entrega	e	meios	pelos	
quais a avaliação será elaborada; crie uma agenda de publicação junto aos 
alunos; apoie o desenvolvimento de boas habilidades de gerenciamento de 
tempo.
• Colaboração: trabalhe com estudos de caso, trabalhos em pequenos grupos, 
simulações	e	utilização	do	pensamento	crítico;	faça	com	que	os	alunos	enviem	
seus trabalhos para a comunidade, para maior interação com os demais 
colegas;	faça	perguntas	abertas	para	estimular	a	discussão.
•	 Reflexão:	coloque	regras	quanto	ao	tempo	de	postagem	da	mensagem;	estimule	
os	alunos	a	refletir,	escrever	off-line e depois transcrever para a comunidade; 
faça	perguntas	abertas	e	estimule	a	reflexão	sobre	o	material	utilizado.
•	 Flexibilidade:	varie	as	atividades	para	atender	todos	os	estilos	de	aprendizagem	
e	oferecer	um	interesse	adicional;	negocie	as	diretrizes	da	atividade	com	os	
alunos, assim promovendo maior engajamento; use a internet como uma 
ferramenta e um recurso de ensino e estimule os alunos a buscar referências 
que	possam	compartilhar.
Analisando	 ao	 nosso	 redor,	 temos	 diversas	 formas	 de	 comunidades	
virtuais,	e	você	deve	conhecer	muitas	delas.	Veremos	no	próximo	subtópico	essas	
formas,	conhecidas	por	redes	sociais.
124
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
3.1 REDES SOCIAIS
As	 redes	 sociais	 podem	 ser	 vistas	 como	 uma	 tecnologia	 com	 menos	
seguidores	 para	 a	 sua	 utilização	 como	 uma	 ferramenta	 de	 trabalho,	mas	 não	
deve	ser,	devido	ao	número	de	assinantes	dessa	tecnologia.	Esses	sites permitem 
que	o	usuário	faça	várias	atividades,	tais	como:	postar	um	perfil,	fotos,	vídeos,	
chat, blog, e se conectar com seus pares através de boletins individuais, grupos 
privados	e	fóruns.
Quais	são	os	aspectos	críticos	que	definem	uma	tecnologia	de	rede	social?	
Tradicionalmente, os traços dessas ferramentas incluem a criação de um login no 
site,	que	fornece	uma	página	de	perfil,	em	que	muitas	vezes	você	pode	adicionar	
fotos	e	outros	conteúdos.	Você	pode	se	conectar	com	outras	pessoas	que	conhece	
ou pode encontrar novas pessoas através do site,	tornando-se	o	seu	"amigo".	Este	
título serve para designar, no site, que duas pessoas estão ligadas de alguma 
forma.	 Isso	proporciona	a	capacidade	de	receber	atualizações	em	suas	páginas	
"de	amigos",	comunicar-se	com	eles	através	de	e-mail no local/comentários/chat, e 
criar	grupos	específicos	no	site	em	torno	de	temas	ou	conteúdo.	A	seguir,	veremos	
algumas	novidades	tecnológicas.
DICAS
Alguns sites que você deve acessar para ficar dentro das atualidades tecnológicas:
<http://www.cienciahoje.pt/3445>
<http://olhardigital.uol.com.br/home>
<http://noticias.r7.com/tecnologia-e-ciencia>
<http://revistapesquisa.fapesp.br/>
<http://www2.uol.com.br/sciam/>
<http://www.abc.org.br/centenario/>
<http://www.scielo.org/php/index.php?lang=pt>
125
RESUMO DO TÓPICO 3
Neste tópico, você aprendeu:
•	 Algumas	tendências	para	as	empresas	perante	as	tecnologias.
•	 O	que	são	comunidades	virtuais	e	para	que	servem.
•	 O	que	é	cibercultura	e	seus	princípios.
•	 O	que	são	redes	sociais.
126
1	 (ENADE	 –	 2014)	 O	 trecho	 da	 música	 “Nos	 bailes	 da	 vida”,	 de	 Milton	
Nascimento,	“todo	artista	tem	de	ir	aonde	o	povo	está”,	é	antigo,	e	a	música,	
de tão tocada, acabou por se tornar um estereótipo de tocadores de violões 
e	 de	 roda	 de	 amigos	 em	Visconde	 de	Mauá,	 nos	 anos	 de	 1970.	 Em	 tempos	
digitais,	porém,	ela	ficou	mais	atual	do	que	nunca.	É	fácil	entender	o	porquê:	
antigamente, quando a informação se concentrava em centro de exposição, 
veículos de comunicação, editoras, museus e gravadoras, era preciso passar por 
uma série de curadores, para garantir a publicação de um artigo ou livro, a 
gravação	de	um	disco	ou	a	produção	de	uma	exposição.	O	mesmo	funil,	que	
poderia ser injusto e deixar grandes talentos de fora, simplesmente porque não 
tinham acesso às ferramentas, às pessoas ou às fontes de informação, também 
servia	como	filtro	de	qualidade.	Tocar	violão	ou	encenar	uma	peça	de	teatro	em	
um	grande	auditório	costumava	ter	um	peso	muito	maior	do	que	fazê-lo	em	um	
bar,	um	centro	cultural	ou	uma	calçada.	Nas	raras	ocasiões	em	que	esse	valor	
se	 invertia,	 era	 justamente	 porque,	 para	 uso	 do	 espaço	 “alternativo”,	 havia	
mecanismos	de	seleção	tão	ou	mais	rígidos	que	o	espaço	oficial.	
A	partir	do	texto	acima,	avalie	as	asserções	a	seguir	e	a	relação	entre	elas.
I-	O	processo	de	evolução	tecnológica	da	atualidade	democratiza	a	produção	
e	a	divulgação	de	obras	artísticas,	reduzindo	a	importância	que	os	centros	de	
exposição	tinham	nos	anos	de	1970.
PORQUE
II-	 As	 novas	 tecnologias	 possibilitam	 que	 artistas	 sejam	 independentes,	
montem	seus	próprios	ambientes	de	produção	e	disponibilizem	seus	trabalhos,	
de	forma	simples,	para	um	grande	número	de	pessoas.
A	respeito	dessas	asserções,	assinale	a	opção	correta.
a)	 (	 )	 As	asserções	I	e	II	são	proposições	verdadeiras,	e	a	II	é	uma	justificativa	
correta	da	I.
b)	 (	 )	 As	asserções	I	e	II	são	proposições	verdadeiras,	mas	a	II	não	é	uma	
justificativa	correta	da	I.
c)	 (	 )	 A	asserção	I	é	uma	proposição	verdadeira,	e	a	II	é	uma	proposição	falsa.
d)	(	 )	 A	asserção	I	é	uma	proposição	falsa,	e	a	II	é	uma	proposição	verdadeira.
e)	 (	 )	 As	asserções	I	e	II	são	proposições	falsas.	
2	(ENADE	–	2013)	Uma	revista	lançou	a	seguinte	pergunta	em	um	editorial:	
“Você	pagaria	um	ladrão	para	invadir	sua	casa?”.	As	pessoas	mais	espertas	
diriam provavelmente que não, mas companhias inteligentes de tecnologia 
estão,	 cada	 vez	mais,	 dizendo	 que	 sim.	 Empresas	 como	 a	Google oferecem 
recompensas para hackers que consigam encontrar maneiras de entrar em seus 
softwares.	Essas	companhias	frequentemente	pagam	milhares	de	dólares	pela	
AUTOATIVIDADE
127
descoberta de apenas um bug,	o	suficiente	para	que	a	caça	a	bugs possa fornecer 
uma	 renda	 significativa.	As	 empresas	 envolvidas	dizem	que	os	programas	
de	 recompensa	 tornam	 seus	produtos	mais	 seguros.	 “Nós	 recebemos	mais	
relatos de bugs,	o	que	significa	que	temos	mais	correções,	o	que	significa	uma	
melhor	 experiência	para	nossos	usuários”,	 afirmou	o	gerente	de	programa	
de	 segurança	 de	 uma	 empresa.	 Mas	 os	 programas	 não	 estão	 livres	 de	
controvérsias.	 Algumas	 empresas	 acreditam	 que	 as	 recompensas	 devem	
apenas ser usadas para pegar cibercriminosos, não para encorajar as pessoas a 
encontrar	as	falhas.	E	também	há	a	questão	de	double-dipping, a possibilidade 
de um hacker receber um prêmio por ter achado a vulnerabilidade e, então, 
vender a informação sobre o mesmo bug	para	compradores	maliciosos.
Considerando o texto acima, infere-se que: 
a)	 (	 )	 Os	 caçadores	 de	 falhas	 testam	 os	 softwares, checam os sistemas e 
previnem os erros antes que eles aconteçam e, depois,revelam as 
falhas	a	compradores	criminosos.
b)	 (	 )	 Os	 caçadores	 de	 falhas	 agem	 de	 acordo	 com	 princípios	 éticos	
consagrados no mundo empresarial, decorrentes do estímulo à livre 
concorrência	comercial.
c)	 (	 )	 A	maneira	como	as	empresas	de	tecnologia	lidam	com	a	prevenção	
contra ataques dos cibercriminosos é uma estratégia muito bem-
sucedida.
d)	(	 )	 O	 uso	 das	 tecnologias	 digitais	 de	 informação	 e	 das	 respectivas	
ferramentas	dinamiza	os	processos	de	comunicação	entre	os	usuários	
de	serviços	das	empresas	de	tecnologia.
e)	 (	 )	 Os	usuários	de	serviços	de	empresas	de	tecnologia	são	beneficiários	
diretos dos trabalhos desenvolvidos pelos caçadores de falhas 
contratados	e	premiados	pelas	empresas.
128
129
TÓPICO 4
GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA 
INTERNACIONAL
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Os	elementos	que	compõem	o	repertório	da	civilização	ocidental	em	termos	
de	 instituições,	 códigos	 jurídicos,	 leis,	 estatutos	 reguladores	 e	 pacificadores,	
por muito tempo encontraram-se centrados em favorecer o poder político e os 
sistemas econômicos, os quais, no momento presente, encontram-se em situação 
de crise e mal-estar dos indivíduos, e a alternativa diante deste cenário tem sido a 
retomada	das	formas	de	viver	e	fazer,	dos	costumes,	valores,	relações	e	vínculos	
de	interdependência	e	reciprocidade	no	interior	das	comunidades.	
Vivemos	 em	 um	 momento	 de	 crises	 e	 impasses,	 isso	 encontra-se	
diretamente	relacionado	com	as	matrizes	e	modelos	teóricos	que	legitimavam	o	
crescimento	econômico	equilibrado	(crença	no	mercado	autorregulado),	o	modelo	
de	 organização	 política	 (Estado	 neoliberal),	 o	 sistema	monetário	 internacional	
(baseado	no	padrão-ouro)	 e	o	 equilíbrio	de	poder	na	geopolítica	 internacional	
(hegemonia	norte-americana	e	europeia).	
Sem	 sombra	 de	 dúvidas,	 representamos	 uma	 civilização	 centrada	 no	
otimismo	do	progresso	e	do	trabalho	capitalista,	e	cada	vez	mais	é	reconhecida	
a	afirmação	do	 individualismo.	À	medida	que	avança	o	processo	de	conquista	
da	 propriedade	 e	 da	 individualização	 dos	 sujeitos,	 faz-se	 necessário	 cada	 vez	
mais constituir normas e um conjunto de outros valores éticos, sociais e de 
regulamentação	 que	 garantam	 equidade	 e	 paz	 nas	 relações	 dos	 indivíduos.	
Bem,	você	deve	estar	se	perguntando:	como	chegamos	a	este	estado?!	Ao	longo	
dos próximos dois subtópicos procuramos apresentar elementos para que se 
compreenda	o	processo	político,	social	e	histórico	desse	quadro.	
2 GLOBALIZAÇÃO: UMA PERSPECTIVA HISTÓRICA
Trata-se	de	um	fenômeno	de	organização	e	circulação	política,	econômica,	
comercial e cultural, que foi praticado pelas mais diversas sociedades e desde 
os	mais	antigos	mercadores	 (fenícios)	da	antiguidade,	que	se	organizavam	em	
caravanas	por	terra	e	expedições	de	navegadores	por	mares	e	oceanos.
130
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
FIGURA 21 – GLOBALIZAÇÃO
FONTE: Disponível em: <http://queconceito.com.br/wp-content/uploads/Globaliza 
ção.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.
Alguns	autores	situam	o	 fenômeno	no	final	do	século	XV	e	ao	 longo	do	
século	XVI,	quando	se	dá	início	às	grandes	navegações	que	partiam	do	continente	
europeu	em	direção	a	regiões	como	a	América,	África,	Oceania	e	Ásia.	
A	 globalização	 também	 é	 apresentada	 como	 sendo	 resultante	 das	
concepções	e	direitos/deveres	que	existiam	no	interior	da	Revolução	Francesa	e	da	
Revolução	Industrial	inglesa	do	século	XVIII,	ao	desenvolvimento	do	capitalismo	
em	 escala	 mundial,	 bem	 como	 uma	 continuidade	 da	 lógica	 civilizacional	 que	
tem	 sido	designada	por	modernidade	 (concentração	da	 população	 nas	 cidades,	
industrialização	da	produção,	racionalização	do	pensamento,	laicidade	do	Estado),	
que	se	acentuará	ao	longo	do	século	XIX.
As	 possibilidades	 de	 atuação	 da	 economia,	 em	 favor	 dos	 interesses	 de	
mercado,	 foram	 potencializadas	 pelo	 espírito	 capitalista,	 que	 estava	 amparado	
na	 livre	 circulação	de	mercadorias	 das	doutrinas	do	 “deixe	 ir,	 deixe	 vir	 e	 tudo	
se	autorregulará”.	Esta	fórmula	e	 lei	 foram	responsáveis	por	conferir	ao	sistema	
financeiro	a	dinâmica	da	“oferta	e	da	procura”	de	produtos,	a	transitoriedade	e	a	
flutuação	de	preços,	de	lucros	e	de	taxas	de	impostos,	que	por	sua	vez	atribuíram	
ampla	independência,	liberdade	nas	relações	comerciais	e	na	prestação	de	serviços.
O mercado preocupou-se, também, em perceber o potencial de consumo/
mercado,	passando	a	intercambiar	produtos	entre	as	regiões	que	não	eram	capazes	
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
131
de	produzi-los.	A	 esta	 prática	 pode-se	 exemplificar	 com	os	 produtos	 ingleses	 e	
franceses, que eram negociados com produtos e as populações dos países indianos, 
americanos,	africanos.
Resumidamente,	o	mercado	atendia	às	demandas	de	economia	(comércio,	
circulação	e	consumo	de	produtos);	o	Estado,	por	sua	vez,	atendia	a	necessidades	
de	 serviços	 junto	 à	 população	 (serviços	 educacionais,	 infraestrutura,	 habitação,	
saúde	e	lazer).
A	 globalização,	 que	 se	 apresenta	 ao	 nosso	 momento	 histórico,	 ganhou	
ênfase	no	final	dos	anos	de	1980,	quando	foi	reconhecido	o	fim	do	cenário	da	Guerra	
Fria,	 com	as	experiências	da	URSS	 (União	das	Repúblicas	Socialistas	Soviéticas)	
e	 foi	desfeito	o	muro	de	Berlim,	que	separava	a	Alemanha	Oriental	 (comunista/
socialista)	da	Alemanha	Ocidental	(capitalista).	
Ocorreu	também	a	formação	da	OMC:	Organização	Mundial	do	Comércio	
(que	conta	com	a	adesão	de	mais	de	150	países)	e	os	blocos	econômicos	da	UNIÃO	
EUROPEIA,	 NAFTA,	 MERCOSUL,	 APEC,	 ASEAN,	 entre	 outros.	 Na	 América	
Latina	estruturou-se	a	CEPAL	 (Comissão	Econômica	para	a	América	Latina	e	o	
Caribe),	órgão	para	pensar	o	desenvolvimento	econômico,	social	e	sustentável.	Esta	
articulação	de	países	 indica	um	forte	movimento	de	regionalização	das	relações	
econômicas e políticas, assim como das relações sociais e culturais entre os mesmos, 
e	por	sua	vez,	dos	conceitos	de	fronteira,	espaço,	nação,	Estado,	entre	outros.
Ianni	 (1994)	 foi	 categórico	 quando	 refletiu	 que	 a	 fábrica	 global	 é	 tanto	
metáfora quanto realidade, altamente determinada pelas exigências da reprodução 
ampliada	do	capital.	
No	 âmbito	da	 globalização,	 os	 interesses	 de	mercado	 revelam-se	 ávidos	
por	 processos	 que	 sejam	 capazes	 de	 promover	 cada	 vez	mais	 a	 concentração	 e	
centralização	do	capital,	para	tanto	articulam	em	torno	de	si	empresas,	mercados,	
forças produtivas, centros decisórios, alianças, estratégias e planejamentos de 
corporações, que se estendem e ultrapassam províncias, nações e continentes, ilhas 
e	arquipélagos,	mares	e	oceanos	(IANNI,	1994).
Os	Estados,	em	vez	de	desaparecer,	adquirem	uma	nova	lógica	de	operação,	
em que seu poder é limitado frente à expansão das forças transnacionais que 
reduzem	a	capacidade	dos	governos	de	controlar	os	contatos	entre	as	sociedades	e	
os	indivíduos,	por	sua	vez	são	forçados	a	impulsionar	as	relações	transfronteiriças.	
Nessa	perspectiva,	 os	problemas	políticos	nem	sempre	 são	 resolvidos	de	 forma	
adequada	e	satisfatoriamente,	então,	eis	que	se	faz	necessário	buscar	a	cooperação	
com	 outras	 nações	 e	 agentes	 não	 estatais	 a	 fim	 de	 atender	 tais	 demandas	
(KEOHANE;	NYE,	1989).
132
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
2.1 O TERCEIRO SETOR
O terceiro setor ganhou espaço de constituição e atuação a partir dos 
anos	de	 1990.	 E	 instalou-se	 como	 alternativa	 em	meio	 ao	 setor	 público/estatal	
(primeiro	setor)	e	o	setor	privado/industrial/mercado	(segundo	setor),	no	sentido	
de intermediar, gerenciar e prestar serviços de interesse público em situações e 
contextos	que	os	dois	outros	setores	não	atingem/alcançam.
Por meio dessa formulação e composição de setores, cria-se um vácuo 
de	 poder	 e	 ação	 que	 favorece	 a	 constituição	 de	 organizações,	 coletividades	
internacionais e transnacionais, governamentais e não governamentais,que se 
propõem	a	apresentar	decisões	políticas	e	ações	sociais.
O	terceiro	setor	constitui	uma	espécie	de	sociedade	civil	de	caráter	jurídico.	
Os órgãos que compõem o terceiro setor podem ser sociedades, associações, 
fundações,	 institutos,	 ONGs	 (Organismos	 Não	 Governamentais),	 OSCIPs	
(Organização	da	Sociedade	Civil	de	Interesse	Público).	As	ONGs	que	compõem	
uma	 associação	 civil	 de	 direito	 privado,	 sem	 fins	 lucrativos	 ou	 econômicos,	
encontram-se	 pautadas	 nas	 normas	 e	 legislações	 da	Declaração	Universal	 dos	
Direitos	Humanos	e	na	Constituição	Federal.	Essas	associações	recebem	doações	
de	 empresas	 e	pessoas	 físicas	que	procuram	deduzir	 impostos	que	devem	ser	
pagos ao governo federal, para tanto precisam atuar em atividades que se 
caracterizam	como:	entidades	de	interesse	público,	como	fundos	de	direitos	da	
criança e do adolescente; instituições de ensino e pesquisa; e atividades culturais 
e	audiovisuais.
Entre as críticas que são feitas à modalidade, encontram-se as situações em 
que	se	caracterizam	espaços	que	favorecem	a	atuação	de	grupos	que	se	utilizam	
de	verbas	públicas	em	nome	de	grupos	privilegiados.	
3 GLOBALIZAÇÃO: UM BALANÇO
A	globalização	pode	apresentar	sua	face	mais	bem-sucedida,	que	reside	
no	fato	de	que	foi	capaz	de	favorecer	a	intercomunicação	entre	povos	e	as	pessoas	
das mais diferentes e inusitadas regiões do planeta, diminuir as fronteiras no 
campo dos transportes e promover intercâmbios nas atividades de comunicação 
e	informações.
A	formação	dos	grupos	regionais	é	capaz	de	conferir	aos	seus	membros	
uma melhor possibilidade de negociação e barganhas no jogo das relações que 
se	dão	no	cenário	mundial.	Por	outro	 lado,	quando	 interpretadas	nas	 relações	
internas,	em	especial	com	os	membros	que	compõem	o	grupo	do	qual	fazem	parte,	
evidenciam-se realidades sociais, culturais, condições de produção e capacidade 
de consumo desigual, de forte dependência tecnológica e vulnerabilidades 
política	e	econômica	(a	exemplo	disso	pode-se	considerar	o	grupo	NAFTA,	que	é	
composto	pelos	países:	Canadá,	Estados	Unidos	da	América	e	México).
Todavia,	 acabou	por	prevalecer	 o	 caráter	de	 fazer	 com	que	 as	 relações	
políticas, os governos, os grupos sociais e movimentos culturais fossem colocados 
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
133
a	favor	dos	interesses	da	economia.	Acabou-se	por	padronizar	cada	vez	mais	os	
processos de produção, os desejos de consumo, os estilos de vida e as culturas, 
anulando	cada	vez	mais	as	diferenças,	identidades,	as	especificidades,	as	tradições	
locais	e	regionais,	qualquer	tipo	de	fronteiras	e	valores	morais	tradicionais.
Os	modelos	ideais	de	globalização	que	foram	postulados	garantiam	que	
os	 indivíduos	 se	 abrissem	 a	 uma	 imensa	 variedade	 e	 riqueza	 de	 itens,	 tanto	
materiais	como	imateriais.	Munidos	desses	itens,	a	vida	ganharia	uma	dinâmica	
e	a	criatividade	dos	ares	de	liberdade,	que	por	sua	vez	contagiariam	com	imensa	
alegria e colocariam em movimento o ambiente cultural e intelectual dos hábitos, 
dos costumes, das mentalidades de todos e a todos em toda face da Terra 
(BERMAN,	1986).
A	partir	das	formulações	de	produção,	 trabalho	e	economia	postuladas	
pelos	teóricos	do	século	XIX,	gerou-se	uma	espécie	de	novo	modelo	antropológico	
de homem, o Homo economicus, que tem como centro e modo de vida os princípios da 
economia, que se revela pelos aspectos de um comportamento de individualismo 
exacerbado, competição desenfreada e o consumismo sem sentido, numa espécie 
de	busca	pelo	ter	e	ter	cada	vez	mais,	e	obtido	a	qualquer	custo.
AUTOATIVIDADE
1	 (ENADE	 –	 2014)	 Com	 a	 globalização	 da	 economia	 social	 por	 meio	 das	
organizações	não	governamentais,	surgiu	uma	discussão	do	conceito	de	empresa,	
de	sua	forma	de	concepção	junto	às	organizações	brasileiras	e	de	suas	práticas.	
Cada	vez	mais	é	necessário	combinar	as	políticas	que	priorizam	modernidade	e	
competitividade com incorporação dos setores atrasados mais intensivos de mão 
de	obra.	A	respeito	desta	temática,	avalie	as	afirmações	a	seguir:
I- O terceiro setor é uma mistura dos dois setores clássicos da sociedade, o 
público representado pelo Estado, e o privado representado pelo empresariado 
em	geral.	
II-	 É	 o	 terceiro	 setor	 que	 viabiliza	 o	 acesso	 da	 sociedade	 à	 educação	 e	 ao	
desenvolvimento	de	técnicas	industriais,	econômicas,	financeiras,	políticas	e	
ambientais.
III-	A	 responsabilidade	 tem	 resultado	 na	 alteração	 do	 perfil	 corporativo	 e	
estratégico	 das	 empresas,	 que	 têm	 reformulado	 a	 cultura	 e	 a	 filosofia	 que	
orientam	as	ações	institucionais.	
Está	correto	o	que	se	afirma	em:		
a)	 (	 )	 I,	apenas.
b)	 (	 )	 II,	apenas.
c)	 (	 )	 I	e	III,	apenas.
d)	(	 )	 II	e	III,	apenas.
e)	 (	 )	 I,	II	e	III.
134
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
4 A POLÍTICA INTERNACIONAL
A	 política	 ganhou	 um	 caráter	 internacional	 a	 partir	 do	 século	 XVIII,	
quando	do	surgimento	do	Estado	Moderno,	em	que	o	sistema	capitalista	irá	se	
instalar	a	fim	de	obter	condições	e	favorecimentos	para	expandir	seus	alcances	em	
termos	de	matérias-primas,	frentes	de	investimento	e	mercado	consumidor.	Ela	
pode	ser	identificada	ainda	quando	da	vigência	do	regime	de	Colonialismo,	que	
vigorou na era das grandes navegações, quando Espanha e Portugal estabeleciam 
e	 organizavam	 politicamente	 suas	 colônias	 de	 exploração	 nos	 continentes	
americano	e	africano.
5 O ESTADO MODERNO E O LIBERALISMO
Surge	no	contexto	em	que	ocorre	o	enfraquecimento	do	Antigo	Regime	
(marcado	pelas	monarquias),	das	aristocracias,	do	clero,	da	Igreja	Católica	como	
um todo, diante do fortalecimento crescente do Estado moderno, da burguesia 
comercial,	do	liberalismo	e	do	capitalismo.	
O Estado moderno possuía como principal intento reestruturar os 
governos de forma laica/secular, de forma a estabelecer regulação política, 
jurídica e institucional das relações entre religião e política, Igreja e Estado, ou 
seja, conferir emancipação do Estado e do ensino público dos poderes eclesiásticos 
e	de	 toda	 referência	 e	 legitimação	 religiosa.	Nesse	 contexto,	 caberia	 ao	Estado	
garantir	 a	 neutralidade	 em	 matéria	 religiosa	 (ou	 a	 concessão	 de	 tratamento	
estatal	isonômico	às	diferentes	agremiações	religiosas),	a	tolerância	religiosa	e	as	
liberdades	de	consciência,	de	religião	(incluindo	a	de	escolher	não	ter	religião)	e	
de	culto	(CASANOVA,	1994).	
A	busca	por	um	novo/outro	conjunto	de	valores	morais,	o	exercício	de	
métodos	 sofisticados	 de	 pensar	 e	 sentir,	 a	 racionalidade	 desprendida	 de	 uma	
matriz	 religiosa	 dogmática,	 o	 reconhecimento	 da	 subjetividade	 inerente	 às	
relações humanas, a defesa da liberdade de pensar e agir conforme uma ética 
particular/interiorizada,	tudo	isto	vai	reforçar	a	crítica	aos	resquícios	que	ainda	
persistiam	do	mundo	feudal,	do	Antigo	Regime	e	dos	sistemas	monárquicos	que	
perduraram	ao	longo	dos	séculos	XVII	e	XVIII.
O	 Estado	 Moderno	 e	 o	 Liberalismo	 concatenam	 todo	 um	 processo	
histórico,	com	múltiplas	determinações:	a	ideia	moderna	de	indivíduo	(que	não	
se	 restringe	ao	 ideário	 liberal)	e	que	surgiu	em	meio	a	mudanças	profundas	e	
que abrangiam as mais diversas relações humanas, tais como religião, política, 
economia, trabalho, família, ideias, artes: tudo convergindo e reforçando 
mutuamente	para	produzi-la.
O Imperialismo que surgiu foi uma formação de governo e política, que 
se	praticou	muito	no	século	XIX,	e	foi	exercido	pelos	países	europeus	para	com	
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
135
os	países	de	regiões	como	a	África,	América	e	Ásia,	de	onde	obtinham	matérias-
primas para empreender sua produção industrial, consolidavam relações 
comerciais	e	mercados	consumidores	e	exerciam	influência/dominação	cultural.	
6 O NEOLIBERALISMO E A TERCEIRA VIA
O neoliberalismo forjou-se a partir dos elementos já existentes no interior 
do	 liberalismo	 clássico	 do	 século	 XVIII,	 porém,agora	 privilegiou	 os	 ideais	
econômicos, em especial os princípios de liberdade de empreendimento, de 
propriedade e de lucro, em detrimento das demandas/necessidades políticas e 
sociais	(legitimidade,	direitos	e	serviços)	dos	indivíduos.
Dentre	 as	 críticas	 que	 são	 feitas	 ao	 neoliberalismo	 tem-se	 as	 políticas	
que promovem a redução da interferência/regulação do Estado nas atividades 
econômicas/financeiras,	permitindo	o	livre	funcionamento	do	mercado,	inclusive	
na	distribuição	da	riqueza;	assim	como	na	promoção	de	bem-estar,	em	prol	da	
privatização	 por	 grupos	 privados	 na	 oferta	 de	 serviços	 de	 saúde,	 educação,	
cultura,	pensões,	entre	outros.
No	contexto	de	política	econômica,	os	governos	deveriam	atuar	no	sentido	
de favorecer mudanças tecnológicas e a rentabilidade das empresas, favorecendo 
cada	vez	mais	o	mercado	livre	e	a	redução	da	taxa	de	acumulação.
As	principais	experiências	de	governos	neoliberais	podem	ser	identificadas	
com	o	caso	da	Inglaterra,	sob	o	governo	da	primeira	ministra	Margareth	Thatcher,	
e	 dos	 Estados	Unidos,	 com	 o	 presidente	 Ronald	 Reagan;	 do	 ditador	Augusto	
Pinochet, no Chile; e em termos de bases teóricas, a Escola de Chicago, liderada 
pelos	economistas	Milton	Friedman	e	George	Stigler.
A	 ‘terceira	 via’	 foi	 apresentada	 como	 alternativa	 frente	 às	 crises	 que	
emergiam	das	políticas	neoliberais,	que	propõe	uma	espécie	de	humanização	do	
capitalismo, nos aspectos do malefício do Estado neoliberal e da sociedade de livre 
mercado.	Na	qual	estariam	engajados	tanto	dirigentes	políticos	de	países	ricos	e	
representantes de empresas transnacionais, que em meio às crises econômicas se 
dedicariam	a	amenizar	os	 impactos	sociais,	as	 injustiças,	 revoluções	e	caos,	no	
sentido	de	manter	a	paz	e	coesão	social.
 
Anthony	Giddens	(2001),	um	dos	principais	estudiosos	e	defensores	da	
‘terceira	via’,	a	explica	como	sendo	uma	estratégia	de	âmbito	mais	global,	a	fim	de	
favorecer e melhorar as sociedades burguesas e democráticas, uma perspectiva 
de	que	os	Estados/governos	devem	se	reformar	e	a	sociedade	civil	se	qualificar/
educar no sentido de os indivíduos exercerem a cidadania para participar e 
decidir	diante	das	demandas	de	caráter	coletivo.
136
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
Os	defensores	da	‘terceira	via’	interpretam	que	grande	parte	dos	problemas	
que acometem os países pobres e subdesenvolvidos não são fruto da economia 
global ou das práticas de exploração das nações ricas, e sim das condições internas 
das	próprias	sociedades.
A	terceira	via	pode	ser	observada	quando	partidos	políticos	de	esquerda,	
ou de cunho social, trabalhista e democrático, procuram ajustar suas políticas aos 
moldes	neoliberais	 e,	por	outro	 lado,	 criar	modos	particulares	de	amenizar	os	
problemas sociais e os riscos de degradação sociopolítica de seus países, em meio 
ao	capitalismo	que	se	torna	cada	vez	mais	global	e	ao	mercado	que	se	faz	cada	vez	
mais	onipresente,	ambos	processos	de	pouca	probabilidade	de	reversão.	
7 TENDÊNCIAS AOS GOVERNOS E À POLÍTICA 
INTERNACIONAL
Existem impasses que se abatem sobre as mais diversas nações e países 
do	globo,	 tais	 como	governos	e	os	 sistemas	políticos	altamente	burocratizados	
e	 quase	 falidos,	 e	 incapazes	 de	 conseguirem	 proporcionar	 justiça	 e	 bem-estar	
social,	envolvidos	em	redes	profundas	de	corrupção.
O	estudioso	Ladislau	Dowbor	procura	fazer	uma	síntese	da	trajetória	e	
do	perfil	do	 conceito	de	governo,	 levando	 em	consideração	o	 caráter	 que	 este	
apresentou em termos de princípios na responsabilidade pela administração, na 
relação com os cidadãos e no atributo que norteia os espaços, os processos e as 
instâncias	que	compõem	um	governo.
Observe	com	atenção	o	quadro	a	seguir,	que	faz	as	devidas	distinções	e	
estabelece	comparações	e	reflexões.
QUADRO 6 – EVOLUÇÃO DO CONCEITO DE GOVERNO - LADISLAU DOWBOR
FONTE: World Public Sector Report (2005, p. 7)
ADMINISTRAÇÃO	
PÚBLICA
NOVA	GESTÃO	
PÚBLICA
GOVERNANÇA	
PARTICIPATIVA
PRINCÍPIOS	
ORIENTADORES
Cumprimento de 
leis e regras
Eficiência e 
resultados
Responsabilidade, 
transparência e 
participação
RESPONSABILIDADE	
DA	
ADMINISTRAÇÃO	
SUPERIOR
Políticos Clientes Cidadãos, atores
RELAÇÃO	
CIDADÃO-ESTADO
Obediência Credenciamento Empoderamento
ATRIBUTO-CHAVE Imparcialidade Profissionalismo Participação
TÓPICO 4 | GLOBALIZAÇÃO E POLÍTICA INTERNACIONAL
137
Estabelecendo relação com o quadro geral dos modelos econômicos que 
influenciaram	e	 configuraram	os	 sistemas	políticos,	pode-se	 situar	os	modelos	
de	 liberalismo	à	estrutura	de	governo	denominada	de	 ‘administração	pública’,	
modelo de governo que vigorou ao longo do neoliberalismo na categoria de ‘nova 
gestão	pública’	como	que	sendo	pertencente	à	terceira	via,	identificado	também	
como	‘governança	participativa’.
Nesse	 contexto	de	mudanças	de	modelos	de	Estado/governo,	 cada	vez	
mais o Estado é chamado a ampliar os investimentos em recursos humanos e 
infraestrutura local, sendo de responsabilidade do Estado proteger os grupos 
vulneráveis e o meio ambiente, aproximar o Estado da população, criar meios e 
políticas	que	favoreçam	a	 inclusão	e	participação	efetiva	dos	cidadãos,	reduzir	
as oportunidades de corrupção, garantir estabilidade macroeconômica, favorecer 
parcerias	entre	o	setor	público	e	o	privado,	gerir	os	processos	de	privatização,	
fortalecer redes industriais em nível nacional, regional e internacional; apoiar as 
exportações,	entre	outros.		
DICAS
Acesse a página do professor da Universidade de São Paulo/USP Ladislau Dawbor. 
Aprofunde seus conhecimentos sobre política, governo, economia, tecnologia e sociedade 
com as dicas e sugestões de livros, artigos e filmes lá indicados. Disponível em: <http://
dowbor.org/>. Acesso em: 4 jun. 2015.
138
RESUMO DO TÓPICO 4
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	globalização	consiste	em	um	fenômeno	antigo	em	meio	às	sociedades	que	
procuravam intercambiar produtos, tecnologias e informações, porém, ganhou 
forte	impulso	ao	final	da	década	de	1980,	quando	ocorreu	a	queda	do	Muro	de	
Berlim	e	do	fim	da	União	das	Repúblicas	Socialistas	Soviéticas	(URSS).
•	 O	 fenômeno	 da	 mundialização	 das	 relações	 financeiras	 e	 da	 globalização	
favoreceu alguns grupos regionais que buscam tanto favorecer como proteger 
os processos industriais que existem no interior dos países membros, e neste 
contexto	os	governos	desempenham	papel	fundamental.	
•	 Dentre	 os	 desafios	 que	 ocorrem	 no	 interior	 dos	 grupos	 econômicos	 está	
a heterogeneidade das bases produtivas, a vulnerabilidade econômica, 
instabilidades	políticas	e	a	diversidade	sociocultural	de	cada	país	membro.
•	 A	 terceira	via	 consiste	em	uma	união	de	 representantes	de	órgãos	políticos	
e	 financeiros	 que	pretendem	apresentar	 soluções	 no	 sentido	de	 amenizar	 e	
humanizar	 os	 impactos	 do	 sistema	 neoliberal	 em	 meio	 à	 sociedade	 e	 às	
populações.	
•	 O	perfil	de	Estado/governo	que	se	faz	necessário	no	cenário	político	atual	é	o	
de	um	governo	capaz	de	proteger	os	grupos	vulneráveis	e	o	meio	ambiente,	
criar meios e políticas que favoreçam a inclusão e participação efetiva dos 
cidadãos,	 reduzir	 a	 corrupção,	 garantir	 estabilidade	macroeconômica,	 gerir	
os	processos	de	privatização,	 fortalecer	 redes	 industriais	 em	nível	nacional,	
regional	e	internacional.
139
1	 (ENADE	 –	 2014)	 Ideais	 liberais	 e	 métodos	 democráticos	 vieram,	
gradualmente, se combinando num modo tal que, se é verdade que os direitos 
de liberdade deram início à condição necessária para a direta aplicação das 
regras do jogo democrático, é igualmente verdadeiro que, em seguida, o 
desenvolvimento da democracia se tornou o principal instrumento para a 
defesa	dos	direitos	de	liberdade.		
De	 acordo	 com	 a	 orientação	 teórica	 expressa	 no	 texto	 acima,	 avalie	 as	
afirmações	a	seguir.
I-	 Liberalismo	 e	 democracia,	 doutrinas	 políticas	 distintas,	 exercem	 grande	
influência	no	ordenamentopolítico	das	sociedades	atuais.
II-	 Liberalismo	 e	 democracia	 são	 doutrinas	 políticas	 que	 surgiram	 em	
momentos	diferentes	e	convergiram	para	dar	origem	à	democracia	liberal.
III-		Liberalismo	é	uma	doutrina	política	incongruente	com	o	ideal	igualitário,	
que	caracteriza	a	tradição	democrática.	
É	correto	o	que	se	afirma	em:	
a)	 (		)	I,	apenas.
b)	 (		)	III,	apenas.	
c)	 (		)	I	e	II,	apenas.
d)	(		)	II	e	III,	apenas.	
e)	 (		)	I,	II	e	III.	
AUTOATIVIDADE
140
141
TÓPICO 5
RELAÇÕES DE TRABALHO
UNIDADE 2
1 INTRODUÇÃO
Um	indivíduo/trabalhador,	 consciente	de	 si	 e	de	 seu	 fazer	profissional,	
geralmente pergunta-se sobre aspectos inerentes ao ofício, tais como: saber 
fazer,	técnica,	matéria-prima	e	energia,	os	meios	de	produção,	o	produto,	custo,	
margem de lucro, jornada de trabalho, remuneração, condições de trabalho, 
comércio, consumo, categoria de trabalho, reconhecimento e valor/sentido social 
e	 a	 realização,	 a	 satisfação/sentido	 pessoal,	 os	 âmbitos	 e	 as	 instituições	 que	
intermedeiam	seu	fazer	profissional.
2 ORIGEM/SIGNIFICADO DA PALAVRA TRABALHO
Ao	pensar	e	refletir	sobre	relações	de	trabalho,	parece	que	se	toca	em	uma	
questão que é responsável por causar entusiasmo e resistência aos indivíduos, ao 
mesmo tempo as pessoas se sentem dispostas e se dedicam a certa atividade e, 
por	outro	lado,	recuam	diante	das	condições,	regramentos	e	normatizações	em	
que	precisarão	 estar	 alinhadas	 e	 adequadas.	 Percebe-se,	 também,	uma	 espécie	
de um relutar diante do fato da exploração do homem pelo próprio homem, no 
sentido	de	obter	e	gerar	riqueza.		
Conta-se com todo um processo e imaginário histórico para que isso 
ocorra, no sentido de que as relações de trabalho se encontram forjadas em meio 
a elementos religiosos, sociais, econômicos e políticos, e procura-se apresentar as 
principais concepções e dinâmicas que o homem atribuiu ao trabalho ao longo 
de sua jornada histórica, bem como as possibilidades do momento presente e 
vislumbrar	tendências	que	as	relações	de	trabalho	podem	trilhar.	
Albornoz	 (2008)	 apresenta	 que	 a	 expressão	 trabalho	 contém	 muitos	
significados,	 tais	 como	 esforço,	 fadiga,	 sofrimento,	 labuta,	 castigo,	 realização,	
sacrifício; que existem muitas expressões, nas mais diferentes línguas, como labor 
e operare no italiano, travailler no francês, work no inglês; bem como comporta 
correlações entre as mesmas, como no caso da palavra latina arvum,	que	significa	
terreno arável, que surgiu da noção do alemão arbeit,	que	significa	trabalho.	
Na	Grécia	antiga,	pode	ser	associada	à	noção	de	poiesis,	que	significava	
o	 fazer,	a	 fabricação,	o	que	o	ser	humano	produz	 tanto	material:	uma	obra	de	
arte executada por um artista, escultor, ceramista; como não material: instituições 
sociais,	referências	culturais	etc.	
142
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
A	expressão	trabalho,	tal	como	é	escrita	e	utilizada	na	língua	portuguesa,	
deriva da expressão latina tripalium,	que	ao	 longo	da	Idade	Média	era	o	nome	
dado	a	um	instrumento	de	tortura	que	apresentava	três	paus	reunidos,	utilizado	
pelos	camponeses	e	servos	para	bater	o	trigo,	as	espigas	de	milho,	e	para	desfiar	
e	esfiapar	o	linho;	certa	vez	foi	adaptado	e	utilizado	como	instrumento	de	tortura	
(ALBORNOZ,	2008).	
O	 missionário	 católico	 Raimundo	 Lélio	 (1232-1315),	 que	 atuou	 entre	
os	povos	catalães	no	século	XIII,	 foi	o	 responsável	por	 reabilitar	a	expressão	e	
concepção	 ‘trabalho’,	 que	 foi	 amplamente	 difundida	 na	 sociedade	 moderna	
industrial	e	capitalista	(GANDILLAC,	1995).	A	concepção	de	trabalho	também	é	
identificada	na	denominação	de	tripalium, que foi extraída do latim e designava 
um	 instrumento	 de	 tortura	 reservado	 aos	 escravos.	 Lélio	 a	 substituiu	 pela	
expressão treballan, que é oriunda do idioma catalão, que designa a habilidade 
em	elaborar	a	matéria	bruta,	transformando-a	em	obra,	realização	e	propriedade	
humana,	e	dignificadora	do	próprio	homem.
Labor	e	trabalho	são	expressões	muito	utilizadas	e	até	sinônimos,	porém	
Arendt	 (2007)	 nos	 propõe	 que	 se	 faça	 distinção	 entre	 elas.	 Por	 labor	 a	 autora	
relaciona o ato de trabalhar, que está na labuta, numa lógica de estar em curso, 
na disposição de verbo no gerúndio, está ocorrendo, não comporta a noção de 
produto	final.	Por	trabalho	designa	as	atividades	feitas	com	as	mãos,	a	noção	de	
produto,	trata-se	de	um	trabalho	que	é	apresentado	como	acabado.		
Os estudiosos são unânimes ao apresentar que a palavra trabalho deve 
ser	 identificada	 e	 compreendida	 ainda	 nas	 sociedades	 ágrafas	 (sociedade	 sem	
escrita),	 quando	 ocorreu	 a	 passagem	 das	 atividades	 de	 caça,	 coleta	 e	 pesca	 à	
prática	da	agricultura	e	na	domesticação	dos	animais.	
Durante	muitos	séculos,	a	moral	e	a	ética	do	“trabalho”	e	da	“conquista”	
permaneceram, em grande parte, como um fato circunscrito ao universo rural, 
ao	 lavrar	 e	 semear	 a	 terra,	 colher	 e	 armazenar	 alimentos,	 domesticar	 e	 tratar	
animais, construir pontes, moinhos, celeiros, castelos, palácios, igrejas, minerais, 
metais	preciosos,	entre	outros.
As	 concepções	 foram	 alteradas,	 inclusive	 as	 mais	 antigas,	 quando	
reunidas	nos	livros	da	Bíblia	Sagrada,	em	que	o	trabalho	não	é	mais	visto	como	
um	indício	da	maldição	de	Deus	a	Adão	e	Eva,	com	a	expulsão	do	paraíso,	sendo	
que	teriam	que	ganhar	o	pão	com	o	suor	do	próprio	rosto.	Os	gregos	distinguiam	
entre esforço do trabalho na terra, a fabricação do artesão que servia ao usuário, 
e	a	atividade	 livre	do	cidadão	que	discutia	os	problemas	da	cidade.	De	modo	
muito	semelhante	na	Idade	Média,	trabalhar	com	as	mãos	era	sinônimo	de	ser	
escravo ou servo, um indício de que o indivíduo pertencia aos grupos inferiores 
da	sociedade.
A	 partir	 da	 reforma	 protestante,	 empreendida	 pelo	 teólogo	 Martinho	
Lutero	(1483-1546),	a	concepção	de	trabalho	foi	profundamente	reformulada	no	
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
143
sentido	de	que	o	trabalho,	como	vocação,	conduziria	os	indivíduos	à	salvação	da	
alma.	 João	Calvino	 (1509-1564),	 teólogo	 francês,	apresentava	a	noção	de	que	o	
trabalho, o êxito e a prosperidade material em vida deveriam ser compreendidos 
como	 uma	 forma	 de	 conquistar	 a	 benevolência	 de	 Deus.	 Ambas	 as	 teorias	
favoreceram o contexto no qual implantavam-se políticas de mercantilismo e 
capitalismo.	
O	sociólogo	Max	Weber	(1864-1920)	defendeu,	em	seus	estudos,	que	os	
valores religiosos do protestantismo favoreceram e coincidiam com o espírito do 
capitalismo, no sentido de que superavam a moral católica de renúncia ao mundo 
material,	do	acúmulo	de	bens	financeiros	e	ao	lucro,	na	vida	religiosa	de	devoção	
contemplativa	e	de	renúncia	ao	mundo	material.
A	 noção	 de	 vocação	 para	 o	 trabalho	 foi	 associada	 também	 à	 ideia	 de	
amor	 ao	 próximo,	 e	 quanto	 mais	 intensa	 a	 atividade	 profissional,	 maior	 a	
aproximação	da	salvação.	Por	outro	lado,	a	falta	de	vontade	de	trabalhar	passou	
a ser compreendida como ausência do estado de graça e do não merecimento da 
salvação	de	Deus.	Assim,	estava	autorizado	que	todo	indivíduo	empreendesse	a	
busca	pela	riqueza	material,	podendo	realizar	grandes	ações	e	assim	galgar	sua	
própria	salvação.	
Uma	 das	 principais	 alterações	 que	 a	 modernidade	 realizou	 foi	 a	 de	
apropriar-se	da	concepção	positiva	de	trabalho	e	mudar	o	ambiente	de	realização	
do mesmo, que do interior das casas ou no interior das corporações de ofício 
passou	a	ser	realizado	em	cidades,	no	interior	dos	espaços	das	fábricas.
Foi	nesta	época	que	surgiram	as	noções	de	divisão	de	trabalho,	na	qual	
cada indivíduo, com a fração/parte que desempenha, na sua especialidade, 
contribui	à	soma	de	 trabalho	coletivo,	que	por	sua	vez	gera	a	riqueza	de	cada	
nação, o que se tornaria uma espécie de consciência e interesse coletivo e comum 
a	todo	indivíduo.		É	nesse	momento	que	a	mudança	de	percepção	da	noção	de	
trabalho passa a ocorrer, no sentido de que as pessoas passama trabalhar para 
poder	consumir,	e	não	mais	para	produzir	algo.
A	partir	do	século	XVIII,	os	economistas	Adam	Smith	(1723-1790)	e	David	
Ricardo	(1772-1823)	reforçam	os	valores	de	atividades	produtivas	e	de	riqueza	
material,	e	defendem	que	o	trabalho	é	o	grande	responsável	pela	riqueza	social,	o	
que	por	sua	vez	supervalorizou	a	ideia	de	homem	operário,	Homo economicus, que 
produz	riqueza,	que	contribui	para	que	o	sistema	econômico	continue	a	alcançar	
seus	objetivos	e	lançar	novas	possibilidades	de	investimentos	e	lucratividade.	Foi	
nesse	 contexto	que	o	 estudioso	alemão	Karl	Marx	 (1818-1883)	defendeu	que	a	
essência	do	homem	é	o	trabalho	e	não	a	sua	vida	espiritual.	Passou	a	observar	
mais de perto a relação do homem e do trabalho, ao ponto de analisar dimensões 
peculiares e subjetivas da relação do homem com o trabalho e a mercadoria, e se 
engajar	ativamente	em	fazer	o	processo	de	crítica	e	denúncia	das	contradições	
que envolviam trabalhadores, proprietários dos meios de produção e burgueses 
comerciantes,	abrangendo	o	sistema	capitalista	como	um	todo.
144
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
No	entanto,	a	perspectiva	de	Marx	era	a	de	que	o	exercício	crítico,	através	
da	intelectualidade,	não	era	suficiente,	para	ele	o	mundo	não	se	transforma	com	o	
pensamento	e	leis,	o	mundo	deveria	ser	transformado	pela	práxis,	na	organização	
dos	trabalhadores	e	na	realização	de	atos	revolucionários.	A	divisão	do	trabalho	
era responsável pela alienação do homem na sociedade capitalista, que por sua 
vez	se	revelava	em	face	à	perda	da	totalidade	e	da	dignidade	humana.	Caberia	
ao	proletariado	a	responsabilidade	pelo	ato	de	fazer	a	revolução	e	transformar	a	
sociedade,	tomar	o	poder	e	abolir	a	relação	capitalista	de	produção.	Em	meio	ao	
campo de luta e revoluções, os trabalhadores deveriam estar conscientes de si e 
de	sua	classe/categoria	e	empreender	as	revoluções	que	fossem	necessárias	a	fim	
de	 desfazer	 o	 quadro	 de	 desigualdade,	 injustiças	 e	 exploração	 que	 o	 trabalho	
favorecia.	Marx	 defendia	 a	 superação	 do	 sistema	 capitalista	 pelo	 comunismo,	
numa espécie de sociedade associativa em que o livre desenvolvimento individual 
seria	a	condição	do	livre	desenvolvimento	de	todos	(MARX;	ENGELS,	2010).
Segundo	Abbagnano	(2000),	a	relação	do	trabalho	com	a	existência	humana	
passa	 a	 ser	 lugar-comum	 na	 cultura	 contemporânea.	 Mesmo	 fora	 do	 âmbito	
marxista, o caráter penoso atribuído ao trabalho não é atribuído ao trabalho em 
si, mas às condições sociais em	que	ele	é	realizado	nas	sociedades	industriais.
O	trabalho	passa	a	ser	visto	como	parte	fundamental	da	natureza	humana.	
O trabalho é ainda hoje visto como um valor social, sendo o trabalhador um 
personagem social merecedor de respeito, admiração e dignidade pelas obras 
que	faz	a	si,	a	seus	familiares	e	semelhantes.
A	nova	concepção	que	foi	atribuída	ao	trabalho	combina	com	os	valores	das	
mudanças	no	interior	da	fabricação	de	produtos.	O	homem,	reconhecendo	que	o	
trabalho não era mais motivo de sofrimento e castigo, mas sim uma atividade que 
o tornaria socialmente reconhecido, sentiu-se motivado e disposto a se dedicar e 
doar	a	fim	de	preencher	as	oportunidades	e	a	demanda	da	manufatura	e	indústria	
nascente, bem como o campo das invenções de máquinas e técnicas e o próprio 
sistema	capitalista,	que	estavam	exigindo.
Trabalho,	 geralmente,	 pode	 ser	 definido	 como	 atividade	 coordenada	
de caráter físico ou intelectual, necessária a qualquer tarefa, serviço ou 
empreendimento,	 ocupação,	 ofício,	 exercício	 de	 profissão.	 Um	 aspecto	 que	
distingue o trabalho humano do trabalho dos outros animais está no fato de que o 
trabalho e esforço humanos são atribuídos à intencionalidade, além da operação 
instintiva	e	programada	que	é	reconhecida	nas	atividades	dos	animais.	No	homem	
é	percebido	o	grau	de	especialização,	complexidade,	tanto	das	atividades,	como	
dos	meios	dos	quais	ele	se	utiliza	para	realizar	o	trabalho.
A	 produção	 artesanal,	 produção	 familiar	 em	 espaços	 domésticos	 ou	
pequenas	oficinas,	como	alfaiates,	ceramistas,	sapatarias,	na	qual	importa	fazer	
um	bom	trabalho,	um	produto	único,	com	maestria	e	arte	de	fazê-lo.	O	trabalhador	
encontrava-se	livre	para	organizar	seu	trabalho,	a	seleção	de	sua	matéria-prima,	
o	começo,	a	forma,	a	técnica,	o	ritmo,	os	detalhes,	o	acabamento,	a	entrega.	Não	
ocorre	a	distinção	de	trabalho	e	lazer,	divertimento	e	cultura,	ambos	se	fundem.	
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
145
A	Europa	viveu	 seu	momento	de	desenvolvimento	 industrial	 ainda	no	
século	XIX,	na	América	Latina	ocorreu	somente	na	segunda	metade	do	século	XX,	
realidades nas quais o processo de aprimoramento da produção acabou por se 
modificar,	não	seguindo	a	lógica	de	fases	e	processos	que	ocorreram	na	Europa.	
O quadro industrial dessa região apresenta-se ora como que ainda na segunda 
revolução	industrial,	e	ora	na	produção	que	se	utiliza	de	tecnologia	de	ponta	e	
robotização,	em	especial	a	migração	e	empregabilidade	no	setor	de	serviços.	Ao	
mesmo	tempo,	encontram-se	inúmeros	desafios	em	termos	de	dependência	em	
relação	a	tecnologias	e	desigualdades	no	que	diz	respeito	ao	acesso	ao	emprego.
No	século	XIX,	pode-se	falar	que	a	produção	capitalista,	que	introduziu	
a	máquina	 a	 vapor	 e	 a	modernização	 dos	métodos	 de	 produção,	 desintegrou	
costumes	e	introduziu	novas	formas	de	organização	da	vida	social.	A	transição	
da produção artesanal para a manufatureira e desta para a produção fabril, a 
migração	 do	 campo	 para	 a	 cidade;	 o	 fim	da	 servidão;	 o	 desmantelamento	 da	
família	patriarcal;	a	introdução	do	trabalho	feminino	e	infantil.
A	 individualização	da	produção,	 a	programação	das	 atividades,	 linhas	
de	montagem,	produção	em	série	e	o	consumo	em	massa	(fordismo	e	taylorismo)	
almejavam articular o acesso a matérias-primas, à mão de obra, ao fácil 
escoamento da produção e obter maiores margens de lucros entre os custos e 
a	comercialização	da	produção,	que	por	sua	vez	acarretam	deslocamentos	que	
desperdiçavam	tempo	significativo	na	vida	dos	trabalhadores,	além	da	produção	
de	poluição	e	impactos	ao	meio	ambiente.
 
A	maquinização	e	a	mecanização	da	produção	conferiram	ao	trabalhador	
a	percepção	da	perda	do	saber	fazer,	a	perda	da	noção	de	produtor.	Diante	disso,	
o trabalhador se sentiu pressionado a se adaptar para poder operar as máquinas 
que	estavam	sendo	introduzidas	nos	espaços	de	trabalho.	A	separação,	divisão	
e	especialização	da	produção	fizeram	com	que	o	produtor	não	conseguisse	mais	
reconhecer	a	totalidade	do	produto	depois	de	pronto.	Mudanças	da	concentração	
da população em relação às atividades econômicas e oportunidades de trabalho, 
assim como o trabalho na indústria, acabaram por concentrar a população em 
determinadas	regiões	e	cidades,	tornando-as	superpovoadas.	
O	 que	Marx	 procurou	 definir	 como	 ‘alienação’	 encontrava-se	 nascente	
nesses	processos,	e	depois	poderia	ainda	ser	verificada	em	situações	como	a	do	
consumo	dos	produtos	que	estavam	sendo	produzidos/consumidos,	no	contexto	
industrial	em	que	a	produção	se	dava	em	grande	escala	e	para	consumo	em	massa.	
Trabalhadores como alfaiates, costureiras, sapateiros, eram os testemunhos mais 
expressivos	desse	processo.
Diante	da	reflexão	de	Arendt	(2007),	podemos	afirmar	que,	desde	o	século	
XIX,	o	Homo faber	foi	perdendo	sua	aura	e	passou	a	ser	valorizado	o	“princípio	
da	felicidade”.	De	fato,	o	progresso	da	civilização	não	produziu	uma	sociedade	
de indivíduos políticos ou de trabalhadores que amam seu ofício, e sim uma 
sociedade	de	consumidores,	de	indivíduos	isolados	e	desenraizados,	uma	cultura	
146
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
de	 massa	 imersa	 em	 futilidade.	 E	 a	 construção	 da	 identidade	 deixou	 de	 ser	
pautada em atividades criativas e produtivas, à medida que o trabalho se tornou 
apenas	um	meio	de	satisfazer	necessidades	ou	desejos	de	consumo.
3 AS MULHERES NO CONTEXTODA REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
As	 mulheres	 participaram	 da	 produção	 de	 utensílios,	 alimentos	 e	
mercadorias desde os tempos mais remotos, que envolviam desde as atividades no 
interior	da	casa,	família	e	comunidade.	A	alimentação,	o	artesanato	e	a	educação	
das crianças foram inseridos no interior dos espaços de trabalho com fortes 
projetos	a	partir	da	Revolução	Industrial.	Os	maiores	problemas	surgem	quando	
as mulheres passam a ser empregadas no interior das indústrias modernas, em 
meio a longas jornadas de trabalho, com a presença de maquinários, em que os 
salários	pagos	às	mulheres	eram	inferiores.
	A	 gradual	 introdução	 das	mulheres	 no	 campo	 de	 trabalho	 favoreceu	
a	mudança	de	 hábitos	 e	 costumes	 por	 parte	 das	mesmas.	O	 fato	 de	 trabalhar	
no interior das fábricas exigia novos comportamentos, posturas e até uma 
indumentária	 que	 favorecesse	 a	 realização	 das	 atividades	 e	 evitasse	 possíveis	
acidentes	 de	 trabalho.	 Os	 vestidos	 longos	 e	 rodados,	 os	 chapéus	 e	 demais	
acessórios ofereciam risco de acidentes se usados nos espaços de trabalho em 
meio	às	máquinas.
As	roupas	que	deveriam	ser	usadas	no	interior	das	indústrias	precisavam	
ser	justas,	retas	e	que	cobrissem	o	corpo	o	máximo	possível.	A	condição	e	imposição	
do meio de trabalho foram responsáveis por depreciar a feminilidade, fragilidade 
e	sensibilidade	da	mulher	e	favorecer	uma	postura	rígida,	tenaz	e	ereta.	Foi	neste	
contexto	que	a	estilista	francesa	Coco	Chanel	(1883-1971)	começa	a	projetar	roupas	
com design mais favorável às atividades no interior das fábricas e empresas, nas 
quais se destacam cortes e precisão geométrica das roupas e modelos ajustados 
ao	corpo,	ausentes	de	babados,	volumes,	acessórios,	entre	outros.
1º de Maio: Dia do Trabalhador, Dia do Trabalho ou Dia Internacional dos 
Trabalhadores 
Esta data, que é comemorada em diversos países, como Brasil, Portugal, Austrália, Angola, 
França, Suécia, Moçambique, é resultante de uma greve geral de trabalhadores que ocorreu 
no ano de 1886, no interior de Chicago, nos Estados Unidos da América. A paralisação 
foi responsável por envolver diversos parques industriais da cidade. Dentre as causas da 
paralisação encontrava-se a redução da jornada de trabalho. A presença dos manifestantes 
na rua se estendeu por diversos dias e acabou por ser reprimida com violência pelas tropas 
do governo, causando inúmeras mortes.
ATENCAO
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
147
A	 partir	 dos	 anos	 de	 1990	 o	 toyotismo,	 idealizado	 pelo	 engenheiro-
mecânico	Taiichi	Ohno	(1912-1990),	tornou-se	tendência	no	interior	dos	sistemas	
produtivos.	Esse	 rearranjo	produtivo	apresenta,	 como	princípios,	 a	otimização	
da produção em todas as fases e a integração de todos os setores no interior dos 
espaços	produtivos;	no	campo	deliberativo	requer	a	descentralização	da	tomada	
de decisões; produção de itens diferenciados; formação de alianças e redes de 
atividades empresariais; por parte dos indivíduos requer trabalho em equipe, 
proporciona	a	participação	nos	 resultados,	 subcontratação	e	 exige	qualificação	
constante.
4 O TRABALHO NOS TEMPOS CONTEMPORÂNEOS
O homem contemporâneo possui uma relação com o trabalho, que foi 
instaurada	ainda	no	século	XIX	e	que	ganhou	desenvolvimento	e	aprofundamento	
ao	longo	do	século	XX.	Trata-se	da	produção	industrial,	tecnológica	e	a	prestação	
de	serviços	no	interior	de	grandes	cidades.	O	espaço	primordial	de	realização	dos	
indivíduos torna-se o espaço no interior das cidades, os espaços das indústrias e 
o	âmbito	público	das	relações.
A	 era	 industrial	 deixou	 de	 cumprir	 sua	 ‘grande	 promessa’:	 fabulosas	
realizações	materiais	e	intelectuais.	O	sonho	de	sermos	senhores	independentes	de	
nossas vidas terminou quando despertamos para o fato de que todos nos tornamos 
peças	ínfimas	da	máquina	burocrática,	com	nossos	pensamentos,	sentimentos	e	
gostos manipulados pelo governo, pela indústria e pelas comunicações de massa 
que	controlam	tudo	(FROMM,	1987).
Uma	das	 questões	 cruciais	 de	 tal	 processo	diz	 respeito	 à	 passagem	do	
regime	fordista	(século	XIX)	ao	regime	chamado	de	produção	toyotista.	A	técnica	
tornou	cada	vez	mais	fragmentado	o	processo	de	trabalho	e,	consequentemente,	
independente	dos	 indivíduos,	bem	como	aleatório	com	quem	o	 faz,	em	que	 já	
não	importa	como	cada	um	o	faz;	importa	sim	que	cada	indivíduo	mantenha-se	
submetido	ao	todo,	mantenha	os	laços,	as	passagens,	o	fluxo	do	processo,	com	o	
mínimo	de	interferência	criativa,	inovação	que	possa	tornar	os	fluxos	ainda	mais	
eficientes.
 
Trabalhar em uma mesma empresa por muitos anos, ser homenageado 
e	receber	condecorações	de	três,	cinco,	dez,	15,	20	anos	de	empresa,	faz	parte	da	
geração	anterior	à	qual	nos	encontramos	e	que	tende	a	se	tornar	cada	vez	mais	
raro.	Especialmente	no	ramo	do	terceiro	setor.	
No	 interior	 das	 grandes	 organizações	 descortinam-se	 tendências	 à	
rotatividade,	 à	 terceirização,	 cooperativas	 de	 trabalho,	 atividades	 autônomas,	
grupos	de	 voluntariado,	 economia	 solidária,	 entre	 outras.	No	panorama	 atual	
de sistemas de governos, grupos empresariais e relações de trabalho, cadencia-
se	 a	 internacionalização	 dos	 processos	 de	 produção	 e	 comercialização	 e	 a	
148
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
mercantilização/financeirização	das	relações	econômicas	e	sociais,	no	sentido	de	
que reforçam o sistema capitalista e o poder do mercado, dimensões em que a 
noção	de	competição	e	propriedade	prevalecem	como	moral	e	finalidade	última,	
o	que	por	sua	vez	acaba	por	fragilizar	as	estruturas	de	Estado,	as	relações	sociais	
e	culturais	entre	os	indivíduos.
A	 tecnologia	da	 informação,	 a	descoberta	 e	desenvolvimento	de	novos	
materiais, as mudanças e oscilações nas estruturas de mercado e a capacidade 
de competitividade e as relações intra e interpessoais parecem ser os elementos 
que	mais	permeiam	as	relações	de	trabalho.	No	interior	dessas	novas	tendências	
identifica-se	a	busca	dos	indivíduos	em	vivenciar	experiências	que	aliem	trabalho,	
moradia,	 realização	 de	 projetos	 pessoais,	 formação	 continuada,	 vivências	
familiares,	sociais	e	de	lazer.
4.1 AS POSSIBILIDADES DO TRABALHO INFORMAL
O trabalho informal é o que ocorre nas experiências de trabalho artesanal 
e prestação de serviços, em que envolve intensa dedicação de mão de obra, de 
caráter temporário, geralmente apresenta pouco montante de capital envolvido 
e acaba apresentando acordos à parte das legislações trabalhistas; o que por sua 
vez	 acaba	não	 concorrendo	 como	 linhas	de	financiamentos,	 seja	de	bancos	 ou	
governos; como exemplo, pode-se relacionar as práticas de trabalho no ramo do 
vestuário	e	alimentação.
Como economia solidária, pode-se entender as atividades que ocorrem 
de forma coletiva e em estruturas suprafamiliares, articuladas em associações, 
cooperativas,	empresas	autogestadas,	grupos	de	produção,	clubes	de	trocas	etc.,	
cujos	participantes	tanto	podem	ser	trabalhadores	dos	meios	urbano	e	rural.	
Os envolvidos nas atividades de economia solidária exercem forte 
controle	e	gerenciamento	das	atividades	e	dos	resultados.	Realizam	atividades	
econômicas de produção de bens, de prestação de serviços, de fundos de crédito 
(cooperativas	 de	 crédito	 e	 os	 fundos	 rotativos	 populares),	 de	 comercialização	
(compra,	venda	e	troca	de	insumos,	produtos	e	serviços)	e	de	consumo	solidário.	
As	atividades	econômicas	devem	ser	permanentes	ou	principais,	ou	seja,	a	razão	
de	ser	da	organização.
4.2 RELAÇÕES DE TRABALHO E OS PROCESSOS LEGAIS 
NO BRASIL
O trabalho livre e assalariado ganhou espaço após a abolição da escravidão 
aplicada	aos	trabalhadores	negros	no	Brasil	em	1888	e	com	a	gradual	vinda	dos	
imigrantes	europeus.	As	condições	impostas	eram	ruins,	acabaram	por	gerar	no	
interior	 do	 país	 as	 primeiras	 discussões	 sobre	 leis	 trabalhistas.	 Os	 imigrantes	
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
149
traziam	consigo	a	experiência	do	movimento	operárioe	sindical	no	interior	dos	
países	europeus,	o	que	por	sua	vez	favoreceu	a	estruturação	de	organizações	de	
trabalhadores,	círculos	operários,	sindicatos	e	demais	frentes	de	representação.	
No	final	do	século	XIX	surgem	as	primeiras	normas	trabalhistas,	por	meio	
do	Decreto	nº	1.313,	de	1891,	que	regulamentou	o	 trabalho	dos	menores	de	12	
a	18	anos.	Em	1912,	 foi	 fundada	a	Confederação	Brasileira	do	Trabalho	 (CBT),	
durante	 o	 4º	Congresso	Operário	Brasileiro.	Dentre	 as	 causas	defendidas	pela	
Confederação	estavam:	a	 jornada	de	trabalho	de	oito	horas,	fixação	do	salário-
mínimo,	indenização	para	acidentes,	contratos	coletivos	ao	invés	de	individuais.
No	 cenário	 internacional	 do	 pós-1ª	 Guerra	Mundial,	 em	 1919,	 surge	 a	
Organização	 Internacional	do	Trabalho	 (OIT),	órgão	 internacional	que	por	sua	
vez	 impulsionou	 a	 formação	 de	 um	Direito	 do	 Trabalho.	O	 surgimento	 deste	
órgão,	naquele	momento	histórico,	visava	intermediar	o	conflito	entre	o	capital	e	
o trabalho, e que era visto como uma das principais causas dos desajustes sociais 
e	econômicos,	inclusive	motivadores	de	guerras.
DICAS
Caro estudante, procure saber mais sobre a atuação da Organização Internacional 
do Trabalho-OIT. Trata-se do órgão responsável pelas convenções e recomendações que 
norteiam as questões relacionadas ao trabalho em nível internacional.
Disponível em: <http://www.oitbrasil.org.br/content/apresenta%C3%A7%C3%A3o>. Acesso 
em: 3 jun. 2015.
A	política	trabalhista	brasileira	se	consolida,	de	fato,	após	a	Revolução	de	
30,	quando	Getúlio	Vargas	cria	o	Ministério	do	Trabalho,	Indústria	e	Comércio.	
A	Constituição	de	1934	foi	a	primeira	a	 tratar	de	Justiça	do	Trabalho	e	Direito	
do Trabalho, assegurando a liberdade sindical, salário-mínimo, jornada de 
oito horas, repouso semanal, férias anuais remuneradas, proteção do trabalho 
feminino	e	infantil	e	igualdade	salarial.
No	Brasil	de	1964,	com	o	golpe	militar	e	a	instalação	da	ditadura,	ocorreram	
fortes	medidas	de	 repressão	 à	 classe	 trabalhadora,	 com	o	Decreto	 nº	 4.330,	 as	
intervenções	 atingiram	 sindicatos	 em	 todo	 o	 Brasil.	 Este	 decreto	 é	 conhecido	
como	a	 lei	antigreve,	que	 impôs	tantas	regras	para	realizar	uma	greve	que,	na	
prática,	elas	ficaram	proibidas.
Depois	de	anos	sofrendo	cassações,	prisões,	 torturas	e	assassinatos,	em	
1970	um	novo	movimento	sindicalista	se	reestrutura	no	interior	do	Estado	de	São	
Paulo,	no	chamado	ABCD	paulista.	No	ano	de	1978	ocorre	uma	grande	greve	em	
150
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
DICAS
Conheça o site do Ministério do Trabalho e Emprego - MTE. Lá você encontrará 
resoluções sobre o funcionamento das centrais sindicais, leis e convenções ao exercício das 
profissões, orientações sobre os trâmites contratuais e demissionais, seguro-desemprego, 
trabalho temporário, políticas de microcrédito, trabalho decente, entre outros.
MTE. Ministério do Trabalho e Emprego. Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/portal-
mte/>. Acesso em: 3 jun. 2015.
São	Bernardo	do	Campo	(SP)	e	que	ganhou	aderência	de	trabalhadores	de	todo	
o	país.
Após	 o	 fim	 da	 ditadura	militar,	 em	 1985,	 e	 em	meio	 às	mudanças	 no	
cenário	econômico,	com	a	promulgação	da	Constituição	de	1988,	as	conquistas	
dos	 trabalhadores	 foram	 restabelecidas;	 por	 exemplo,	 a	 Lei	 nº	 7.783/89,	 que	
restabelecia	 o	 direito	 de	 greve	 e	 a	 livre	 associação	 sindical	 e	 profissional,	 a	
aposentadoria	 rural;	 Fundo	 de	 Amparo	 ao	 Trabalhador	 (FAT);	 Benefício	 de	
Prestação	 Continuada	 (BPC);	 Programa	 de	 Erradicação	 do	 Trabalho	 Infantil	
(PETI);	bolsa	escola	e,	ulteriormente,	bolsa	família,	entre	outros.
LEITURA COMPLEMENTAR
A TERCEIRIZAÇÃO DE POSTOS DE TRABALHO
Grupos	 de	 empresários	 e	 empregadores	 apresentam	 argumentos	 no	
sentido de que a geração de emprego formal, e até a abertura de empresas, 
no	 Brasil,	 são	 dificultadas	 diante	 dos	 custos	 que	 as	 leis	 trabalhistas	 acabam	
acarretando.	Alegam	que	em	torno	de	67%	do	salário	consiste	em	tributos,	que	
são	pagos	ao	governo,	que	procura	atender	a	leis	de	descanso	remunerado,	13º	
salário,	 FGTS,	 adicionais	 em	 casos	 de	 horas	 extras,	 insalubridade	 e	 trabalho	
noturno.	E	diante	deste	cenário	é	que	ganham	espaço	as	ideias	de	terceirização	
no	interior	dos	postos	de	trabalho.
Terceirização	 é	 o	 processo	 pelo	 qual	 uma	 empresa	 deixa	 de	 executar	
uma	ou	mais	 atividades	 realizadas	por	 trabalhadores	diretamente	 contratados	
e	as	 transferem	para	outra	empresa.	A	terceirização	se	realiza	de	duas	formas,	
não	 excludentes.	Na	 primeira,	 a	 empresa	 deixa	 de	 produzir	 bens	 ou	 serviços	
utilizados	em	sua	produção	e	passa	a	comprá-los	de	outra	–	ou	outras	empresas	
–, o que provoca a desativação, parcial ou total, de setores que anteriormente 
funcionavam	no	interior	da	empresa.	
TÓPICO 5 | RELAÇÕES DE TRABALHO
151
A	outra	forma	é	a	contratação	de	uma	ou	mais	empresas	para	executar,	
dentro	 da	 “empresa-mãe”,	 tarefas	 anteriormente	 realizadas	 por	 trabalhadores	
contratados	 diretamente.	 Essa	 segunda	 forma	 de	 terceirização	 pode	 referir-se	
tanto	 a	 atividades-fim	 como	 a	 atividades-meio.	 Entre	 as	 últimas	podem	estar,	
por	 exemplo,	 limpeza,	vigilância,	 alimentação.	Tem-se	observado	 também	que	
vem	ocorrendo	o	processo	de	quarteirização,	a	contratação	de	uma	empresa	pela	
empresa-mãe, que deverá gerir as relações com o conjunto das empresas terceiras 
contratadas	no	interior	da	mesma.
	O	processo	de	terceirização	da	produção	e	da	prestação	de	serviços	no	
Brasil,	 e	 em	quase	 todos	 os	 países	 capitalistas,	 desenvolveu-se	 como	parte	 do	
rearranjo	produtivo,	iniciado	na	década	de	70	do	século	XX,	a	partir	da	terceira	
Revolução	 Industrial,	 e	 que	 se	 prolonga	 até	 os	 dias	 de	 hoje.	 São	 mudanças	
importantes	na	organização	da	produção	e	do	trabalho	e,	no	caso	específico	da	
terceirização,	na	relação	entre	empresas.	
A	 adoção	 deste	 processo	 foi	 intensificada	 e	 disseminada	 no	 âmbito	
da	 reestruturação	 produtiva	 que	marcou	 os	 anos	 90.	A	 partir	 do	 ano	 2000,	 a	
economia brasileira iniciou um lento processo de recuperação, com taxas de 
crescimento positivas, porém o cenário do mercado de trabalho já é o da difusão 
generalizada	 da	 terceirização	 da	 mão	 de	 obra.	 Se,	 inicialmente,	 as	 empresas	
precisaram enxugar os custos para garantir sua sobrevivência, o processo de 
terceirização	não	apresentou	retrocesso	diante	da	melhora	do	cenário	econômico,	
tendo permanecido como um elemento fundamental da mudança do processo 
produtivo	e	do	mercado	de	trabalho	brasileiros.
Em nível internacional destaca-se que as atividades mais atingidas pela 
terceirização,	em	suas	diferentes	formas,	são	aquelas	próprias	da	Tecnologia	da	
Informação	 (TI),	 o	que	 inclui	 o	 trabalho	de	programadores,	de	processamento	
de dados e de desenvolvimento de softwares.	O	avanço	rápido	e	constante	nesses	
processos tecnológicos facilita a troca de dados, a execução de projetos e a entrega 
de	produtos,	independentemente	do	local	onde	o	trabalho	é	executado.
A	maior	preocupação	constatada	a	partir	das	fontes	de	informação	sobre	
os	 Estados	Unidos	 é	 a	 possibilidade	 de	 demissão	 em	massa	 de	 trabalhadores	
americanos	 qualificados	 em	 decorrência	 de	 processos	 de	 terceirização	 nos	
quais	as	contratantes	são	empresas	americanas.	Nesse	caso,	o	mais	comum	tem	
sido a adoção do international outsourcing	 (compra	 do	 componente	 ou	 serviço	
em	outro	 país),	 do	 offshoring	 (realocação	da	 empresa	 em	outro	 país)	 ou	 ainda	
do on-site offshoring	 (contratação	 de	 trabalhadores	 estrangeiros	 imigrantes	
ou	 de	 trabalhadores	 em	 seus	 países	 de	 origem).	 Os	 países	 europeus,	 quando	
comparados	com	os	Estados	Unidos,	demandam	menos	serviços	terceirizados	e	
adotam	algumas	barreiras	culturais	que	dificultam	a	transferência	de	atividades	
de	um	país	para	outro.	
Dentre	 os	 setores	 mais	 vulneráveis	 à	 terceirização	 no	 continente,tem-se que a maioria está relacionada à área de TI, que atuam nos ramos de 
152
UNIDADE 2 | POLÍTICA, TECNOLOGIA E GLOBALIZAÇÃO: OS IMPACTOS SOBRE A SOCIEDADE
desenvolvimento de softwares, processamento de dados, vendas, serviços de 
atendimento ao cliente, pesquisa, desenvolvimento e designs,	finanças,	recursos	
humanos	e	gerenciamento.	Estima-se	que	os	trabalhadores	indianos	da	área	de	
computação,	por	exemplo,	recebam	entre	1/5	e	1/10	do	que	é	pago	a	um	americano	
pela	mesma	função.
No	 Brasil	 os	 ramos	 de	 atividades	 que	 mais	 registram	 processos	 de	
terceirização	são	o	 setor	público,	no	 interior	das	unidades	de	governo,	o	 setor	
financeiro,	como	bancos,	os	setores	elétrico,	químico,	de	petróleo	e	petroquímico	
e	da	construção	civil.
Diante	 das	 formas	 mais	 explícitas	 de	 precarização	 das	 condições	 de	
trabalho e de vulnerabilidade da condição do trabalhador que resultam dos 
processos	 de	 privatização,	 tem-se	 um	 novo	 relacionamento	 sindical	 entre	
empregador	 e	 empregado,	 que	 aponta	 a	 desmobilização	 dos	 trabalhadores	
para reivindicações e greves, eliminação das ações sindicais e trabalhistas que 
reclamam	pelos	direitos	sociais.
Texto	 adaptado	 de	 DIEESE.	 Departamento	 Intersindical	 de	 Estatísticas	
e	 Estudos	 Socioeconômicos.	 O	 processo	 de	 terceirização	 e	 seus	 efeitos	
sobre	 os	 trabalhadores	 no	 Brasil.	 Convênio	 SE/MTE	 nº	 04/2003,	 Processo	 nº	
46010.001819/2003-27.	
FONTE: Disponível em: <http://portal.mte.gov.br/data/files/FF8080812BA5F4B7012BAAF91A9E060F/
Prod03_2007.pdf>. Acesso em: 2 jun. 2015.
153
RESUMO DO TÓPICO 5
Neste tópico, você aprendeu que:
•	 A	 palavra	 trabalho	 tem	 origem	 nas	 práticas	 e	 atividades	 das	mais	 antigas	
sociedades, comporta muitas diferenças de escrita, em especial na forma como 
as	sociedades	concebiam	e	ao	valor	moral	que	atribuíram	à	mesma.
•	 No	 interior	 da	 forma	 de	 produção	 artesanal	 o	 trabalhador	 detém	 o	
conhecimento de todas as fases de produção, pode atender à vontade pessoal 
de quem procura pelo produto, o produto consiste em um exemplar único e o 
artesão	acompanha	também	o	processo	de	comercialização	do	produto.
•	 No	 interior	 do	 processo	 de	 produção	 de	 forma	 manufaturada	 se	 dá	 a	
especialização	e	divisão	de	funções,	a	produção	passa	a	ocorrer	fora	do	local	
de	moradia	dos	responsáveis	pela	produção,	o	que	por	sua	vez	 favorece	os	
primórdios	das	grandes	indústrias.
•	 No	 interior	 dos	 modos	 organização	 industrial	 do	 século	 XVIII	 e	 XIX	
prevaleceram	os	modelos	fordista	e	taylorista,	que	se	caracterizam	pelo	perfil	
de	 produção	 organizada	 em	 linhas	 de	 produções,	 em	 série	 e	 consumo	 em	
grande	escala,	e	obedecem	à	organização	e	administração	científica.
•	 O	toyotismo	consiste	numa	forma	de	organização	no	interior	de	empresas	e	
processos	produtivos	que	contempla	a	descentralização	do	poder	e	formação	
de redes de trabalho, a diferenciação da produção, forte controle da produção 
e	qualificação	constante	dos	trabalhadores.
•	 A	terceirização	pode	ocorrer	de	diferentes	 formas:	pela	contratação	de	uma	
empresa que subcontrata trabalhadores para exercer funções no interior de 
uma empresa-mãe, como também quando uma empresa passa a comprar parte 
dos processos e dos produtos de outra empresa para compor o seu produto 
final.
154
1	 Karl	 Marx	 (1818-1883),	 pensador	 alemão	 que	 se	 dedicava	 a	 denunciar	 as	
contradições no interior do sistema capitalista, ao longo de sua vida precisou 
mudar-se	por	diversas	vezes	de	país,	pois	o	 teor	de	suas	 ideias	acabava	por	
lhe	render	inimigos	de	forte	influência	e	poder	político.	Além	disso,	também	
passou por problemas com renda, sendo socorrido pelo amigo e colega/escritor 
F.	Engels.	Pergunta-se:	no	que	consistiam	as	principais	ideias	e	teorias	de	Marx?	
I-	A	ideia	principal	estava	em	explicar,	denunciar	e	combater	as	contradições	
que	estavam	disfarçadas	e	camufladas	no	interior	do	regime	comunista.
II-	 Argumentava	 que	 a	 divisão	 do	 trabalho	 era	 responsável	 por	 alienar	 o	
trabalhador,	assim	como,	por	lhe	extorquir	a	sua	dignidade.
III-	Defendia	que	 estaria	única	 e	 exclusivamente	nas	mãos	do	proletariado	
conduzir	a	revolução	que	substituiria	o	capitalismo	pelo	comunismo.
IV-	 As	 teorias	 de	 Marx	 apresentavam	 que	 o	 proletariado	 deveria	 fazer	
a revolução e transformar a sociedade, tomar o poder e abolir a relação 
capitalista	de	produção.	
Agora,	assinale	a	alternativa	correta:	
a)	 (	 )	 As	sentenças	I,	II	e	III	estão	corretas.				
b)	 (	 )	 Somente	as	sentenças	III	e	IV	estão	corretas.
c)	 (	 )	 Somente	as	sentenças	II	e	III	estão	corretas.						
d)	(	 )	 As	alternativas	II,	III	e	IV	estão	corretas.
2	(ENADE	–	2014)	O	debate	sociológico	acerca	das	novas	relações	de	trabalho	
e	consumo	no	capitalismo	se	intensificou	desde	a	segunda	metade	do	século	
XX,	especialmente	a	partir	de	um	novo	modelo	de	acumulação,	marcado	pela	
“flexibilização	dos	processos	produtivos”.	Como	aponta	David	Harvey	a	este	
respeito,	a	acumulação	flexível	“é	marcada	por	um	confronto	direto	com	a	
rigidez	do	fordismo.	Ela	se	apoia	na	flexibilidade	dos	processos	de	trabalho,	
dos	 mercados	 de	 trabalho,	 dos	 produtos	 e	 dos	 padrões	 de	 consumo”.	 E,	
ainda, mais importante do que isso é a redução aparente do emprego regular, 
em favor do crescente uso do trabalho em tempo parcial, temporário ou 
subcontratado.	
FONTE: HARVEY, D. A condição pós-moderna. São Paulo: Loyola, 1992. 
De	acordo	com	a	afirmação	acima,	a	acumulação	flexível:	
I-	Gerou	cada	vez	mais	trabalho	especializado,	responsável	pelo	aumento	da	
racionalidade	do	processo	produtivo.
II-	Pode	ser	considerada	uma	expansão	do	princípio	fordista	de	produção.	
III-	 	 Aumentou	 a	 precarização	 das	 relações	 de	 trabalho	 no	 capitalismo	
contemporâneo.
AUTOATIVIDADE
155
IV-	 	 Implica	 crescente	 heterogeneidade	 dos	 mercados	 de	 trabalho	 e	 dos	
padrões	de	consumo.
É	correto	apenas	o	que	se	afirma	em:	
a)	 (	 )	 I	e	II.
b)	 (	 )	 I	e	III.
c)	 (	 )	 II	e	III.
d)	(	 )	 II	e	IV.
e)	 (	 )	 III	e	IV.
157
UNIDADE 3
POLÍTICAS PÚBLICAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade você será capaz de:
• conhecer e analisar as principais características das políticas públicas do Brasil;
•	 refletir	sobre	a	organização	do	sistema	educacional	brasileiro;
•	 caracterizar	os	pilares	de	alicerce	do	desenvolvimento	sustentável;
•	 refletir	sobre	o	contexto	de	desenvolvimento	sustentável;
•	 retratar	as	ferramentas	de	gestão	socioambiental	para	a	sustentabilidade;
•	 conhecer	as	ações	nacionais	de	segurança	e	defesa	pública;
•	 refletir	sobre	como	o	aumento	populacional	e	o	avanço	tecnológico	impac-
tam	sobre	os	ecossistemas;
•	 perceber	 a	 importância	 do	 sistema	 de	 transportes	 no	 desenvolvimento	
econômico	do	país;
•	 conhecer	as	políticas	nacionais	para	a	habitação	e	o	saneamento;
•	 identificar	os	modos	de	vida	urbano	e	rural,	sua	organização	social,	seme-
lhanças	e	diferenças	e	sua	interdependência;
•	 destacar	as	características	que	identificam	o	meio	urbano	e	o	meio	rural.
Esta	unidade	está	dividida	em	sete	tópicos.	No	decorrer	da	unidade	você	en-
contrará	autoatividades	com	o	objetivo	de	reforçar	o	conteúdo	apresentado.
TÓPICO 1 – POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
TÓPICO 2 – POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
TÓPICO	3	–	HABITAÇÃO	E	SANEAMENTO
TÓPICO	4	–	TRANSPORTES	E	SEGURANÇA	
TÓPICO	5	–	POLÍTICAS	PÚBLICAS	DE	SEGURANÇA	EM	ÂMBITO	NACIONAL
TÓPICO	6	–	VIDA	RURAL,	URBANA	E	ECOLOGIA
TÓPICO	7	–	MEIO	AMBIENTE	E	DESENVOLVIMENTO	SUSTENTÁVEL
158
159
TÓPICO 1
POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Quando	falamos	em	políticas	públicas,	estamos	nos	referindo	aos	direitos	
e	 deveres	 do	Estado	para	 com	 as	 pessoas	 que	 compõem	a	 sociedade	 e,	 assim	
como	o	Estado,	gozam	de	seus	direitos	civis	e	políticos.	Estamos	também	sujeitos	
ao	conjunto	de	normas	jurídicas	e	sociais,	formando	assim	um	marco	regulatório	
previamente	fixado	no	que	diz	respeito	à	distribuiçãoharmônica	dos	elementos	
que	formam	os	direitos,	deveres	e	responsabilidades	em	prol	do	desenvolvimento	
educacional,	 econômico	 e	 social.	A	 vida	 em	 sociedade	 está	 ligada	 à	 política	 e	
não	há	ação	social	sem	ação	política,	quer	seja	promovida	pelo	Estado	ou	pela	
sociedade	(RAMOS,	2014).
2 POLÍTICA PÚBLICA ATUAL
O	termo	política	possui	várias	definições,	as	quais	denotam	a	organização	e	
o	estudo	das	ações	a	serem	realizadas	para	o	bem-estar	da	população.	Percebemos	
que	a	política	é	algo	complexo,	mas	que	se	bem	administrado	ou	exercido,	poderá	
ter	efeitos	positivos	junto	à	população.	
As	primeiras	reflexões	sobre	o	que	é	política	surgiram	na	Grécia	antiga,	
com	os	filósofos,	a	quem	eram	atribuídos	os	dons	do	pensamento,	das	
ideias	e,	consequentemente,	do	conhecimento.	
Pode-se	 citar	 Sócrates	 e	dois	de	 seus	principais	 sucessores,	Platão	 e	
Aristóteles,	como	sendo	os	primeiros	a	tratarem	das	questões	da	ética	
e	da	política.	A	Grécia	era	considerada	o	berço	da	democracia,	ainda	
que	 nem	 todos	 os	 seus	 iluminados	 viam	 no	modelo	 democrático	 a	
melhor	maneira	 de	 conduzir	 o	 povo.	Ao	 aproximar-se	 das	 leituras	
sobre	 a	 vida	 e	 obra	 desses	 pensadores,	 percebe-se,	 por	 conclusão,	
que	para	eles	a	solução	para	os	problemas	da	sociedade	deve	passar,	
necessariamente,	 pela	 educação.	 Passados	 mais	 de	 dois	 mil	 anos,	
continua-se	lutando	pelos	mesmos	direitos	à	igualdade	e	combatendo-
se	os	mesmos	problemas	relacionados	à	ética	e	à	moral,	sem	as	quais	
não	se	exercita	a	verdadeira	política	(RAMOS,	2014,	p.	9).
Portanto,	“o	cotidiano	(político)	é	construído	por	aqueles	que	interagem	
nesse	 contexto.	 Fazer	 política	 é	 interagir	 nos	 acontecimentos	 e	 participar	
criticamente	da	sua	história”	(RAMOS,	2014,	p.	9).
“A	política	sempre	está	ligada	ao	exercício	do	poder	em	sociedade,	seja	em	
nível	individual,	quando	se	trata	das	ações	de	comando,	seja	em	nível	coletivo,	
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
160
quando	um	grupo	(ou	toda	sociedade)	exerce	o	controle	das	relações	de	poder	
em	uma	 sociedade”	 (SANTOS,	 2012,	p.	 2).	Assim,	 as	políticas	públicas	 são	de	
responsabilidade	do	Estado,	com	base	em	organismos	políticos	e	entidades	da	
sociedade	civil,	que	derivam	de	normatizações,	ou	seja,	se	estabelece	um	processo	
de	 tomada	de	decisões	–	nossa	 legislação.	Ao	 iniciarmos	nossos	estudos	 sobre	
a	organização	da	educação	no	Brasil,	precisamos	ter	em	mente	que	a	educação	
é	 intencional,	principalmente	no	que	diz	respeito	ao	sistema	escolar.	Os	atores	
que	permitem	discussões	sobre	um	determinado	problema	da	sociedade	são:	a	
sociedade	civil	organizada;	os	servidores	públicos	e	os	políticos.
As	etapas	ou	 fases	do	processo	da	política	distinguem-se	de	acordo	
com	 o	 entendimento	 de	 cada	 autor,	 mas	 comumente	 podem	 se	
classificar	como:	
•	 Identificação	 do	 problema:	 é	 a	 primeira	 etapa	 e	 consiste	 na	
identificação,	ou	levantamento	do	problema	a	ser	considerado	como	
foco	da	política	pública.
•	 Agenda:	 é	 a	 etapa	 em	 que	 se	 definem	 os	 focos	 de	 atuação	 do	
governo.	 É	 o	 conjunto	 de	 problemas	 e	 demandas	 que	 comporão	 o	
plano	de	ação.	A	formação	da	Agenda	de	Governo	consiste	numa	fase	
tumultuada	e	competitiva,	com	os	envolvidos	dedicados	na	conquista	
de	espaço	para	os	interesses	que	defendem.	
•	 Tomada	de	decisão:	 adoção	da	política,	 em	consenso	 (de	 comum	
acordo),	as	partes	decidem	sobre	os	diversos	aspectos,	ou	focos,	que	a	
política	abrangerá.	
•	 Implementação:	 é	 a	 etapa	 em	 que	 as	 decisões	 deixam	 de	 ser	
intenções	e	passam	a	ser	intervenções	na	realidade.	
•	 Monitoramento,	Avaliação,	Ajustes:	são	etapas	de	acompanhamento	
do	 processo	 de	 formulação/elaboração	 da	 política,	 oferecendo	
informações	para	possíveis	ajustes	na	direção	dos	resultados	esperados	
(RAMOS,	2014,	p.	14-15).
Com	 base	 nesses	 argumentos,	 a	 educação	 no	 contexto	 brasileiro	 está	
prevista,	é	regida	(legislada)	por	normas	jurídicas	que	compelem	os	cidadãos	e	
o	poder	público	a	cumpri-las.	De	acordo	com	Motta	(1997,	p.	75),	a	educação	é	a:
[...]	manifestação	cultural	que,	de	maneira	 sistemática	e	 intencional,	
forma	e	desenvolve	o	ser	humano.	[...]	A	educação	é	a	ação	exercida	
pelas	gerações	adultas	sobre	as	gerações	que	não	se	encontram	ainda	
preparadas	para	a	vida	social;	tem	por	objetivo	suscitar	e	desenvolver	
na	 criança	 certo	 número	 de	 estados	 físicos,	 intelectuais	 e	 morais	
reclamados	 pela	 sociedade	 política	 no	 seu	 conjunto	 e	 pelo	 meio	
especial	que	a	criança,	particularmente,	se	destina.
	Estes	princípios	e	fins	aparecem	no	texto	da	Constituição	Federal	de	1988	
e	posteriormente	são	reafirmados	na	Lei	de	Diretrizes	e	Bases	-	LDB,	Lei	9.394,	de	
20	de	dezembro	de	1996,	direcionando	a	educação	brasileira,	e	que	em	seu	Art.	2˚	
trata	“Dos	Princípios	e	Fins	da	Educação	Nacional”	(BRASIL,	1996).
Desta	 forma,	 a	 LDB	 9.394/96	 regulamentou	 o	 que	 foi	 tratado	 sobre	
educação	na	Constituição	Federal	abordando	a	educação	escolar.	O	Título	V	trata	
dos	Níveis	e	das	Modalidades	de	Educação	e	Ensino;	em	seu	Capítulo	I,	demonstra	
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
161
a	composição	dos	níveis	escolares,	formada	pela	Educação	Básica;	Educação	de	
Jovens	e	Adultos;	Educação	Profissional;	Educação	Superior	e	Educação	Especial.
Educação	Básica	é	formada	de	três	etapas:	Educação	Infantil,	Ensino	
Fundamental	 e	 Ensino	Médio.	Conforme	 a	 LDB,	 são	finalidades	da	
Educação	Básica	‘[...]	desenvolver	o	educando,	assegurar-lhe	a	formação	
comum	 indispensável	 para	 o	 exercício	 da	 cidadania	 e	 fornecer-lhe	
meios	para	progredir	no	trabalho	e	em	estudos	posteriores’	(art.	22).	
As	modalidades	importam	em	atendimentos	afeitos	a	peculiaridades	
que	podem	dizer	respeito	a	uma	população	específica	ou	a	objetivos	
de	formação	mais	especializada	ou	complementar.	No	primeiro	caso,	
encontramos	a	educação	de	jovens	e	adultos	e	a	educação	especial.	No	
segundo	caso,	a	educação	profissional.
A	educação	de	jovens	e	adultos	(EJA)	enseja	a	escolarização	daqueles	
que	 não	 tiveram	 acesso	 ou	 continuidade	 de	 estudos	 no	 Ensino	
Fundamental	ou	Médio.	Contempla	cursos	de	EJA	e	exames	supletivos.	
Os	cursos	e	os	exames	são	acessíveis	para	estudantes	maiores	de	15	
anos	(Ensino	Fundamental)	e	de	18	anos	(Ensino	Médio).
A	 educação	 especial	 destina-se	 aos	 educandos	 portadores	 de	
necessidades	especiais	e	deve	estar	contemplada	em	todas	as	etapas	
da	educação.	A	legislação	estabelece	a	sua	oferta	preferencial	na	rede	
regular	 de	 ensino	 e	 em	 classes	 comuns,	 embora	 possibilite	 a	 oferta	
desta	modalidade	em	classes	e	escolas	especiais.
Pode-se	 identificar	a	 inserção	da	educação	profissional	na	Educação	
Básica	 de	 três	 modos:	 ensino	 técnico	 -	 concomitante,	 integrado	
ou	 sequencial	 ao	 Ensino	 Médio,	 inclusive	 EJA;	 formação	 inicial	 e	
continuada	 de	 trabalhadores	 articulada	 ao	 Ensino	 Fundamental	 ou	
Médio,	 inclusive	 EJA;	 preparação	 básica	 para	 o	 trabalho	 no	 Ensino	
Fundamental	e	Médio,	inclusive	EJA	(FARENZENA,	2010).
Como	podemos	ver,	a	preocupação	em	fortalecer	a	educação	como	um	
direito,	um	currículo	integrado,	é	o	ponto	de	partida	para	assegurar	os	direitos	
fundamentais	 da	 sociedade.	 Para	 que	 essa	 proposta	 ocorresse	 na	 educação	
brasileira	tivemos	mudanças	significativas,	principalmente	a	partir	da	LDB	–	Lei	
de	Diretrizes	e	Bases	da	Educação,	Lei	no	9.394,	de	1996,	que	marcou	a	educação	
e	 fez	 com	que	 gerasse	muito	 investimento,	 tanto	 no	 sentido	 intelectual,	 como	
financeiro.	Um	dos	princípios	da	LDB	é	a	valorização	do	profissional	da	educação	
escolar,	a	qual	defende	que:
A	 formação	 dos	 profissionais	 da	 educação,	 de	 modo	 a	 atender	
às	 especificidades	 do	 exercício	 de	 suas	 atividades,	 bem	 como	 aos	
objetivos	das	diferentes	etapas	e	modalidades	da	educação	básica,	terá	
como	fundamentos:
I–	a	presença	de	sólida	formação	básica,	que	propicie	o	conhecimento	
dos	fundamentos	científicos	e	sociais	de	suas	competências	detrabalho;
II–	 a	 associação	 entre	 teorias	 e	 práticas,	 mediante	 estágios	
supervisionados	e	capacitação	em	serviço;
III–	 o	 aproveitamento	 da	 formação	 e	 experiências	 anteriores,	 em	
instituições	de	ensino	e	em	outras	atividades	(BRASIL,	1996,	art.	61).
A	partir	daí,	muitos	acordos	e	 reformas	 foram	realizados	na	educação,	
priorizando	a	qualidade	da	mesma.	O	Plano	Nacional	de	Educação	para	o	decênio	
2011-2020	indica	algumas	diretrizes	que	demonstram	esse	interesse,	enfatizando	
a	melhoria	da	qualidade	de	 ensino,	 a	 formação	para	o	 trabalho,	 a	valorização	
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
162
dos	profissionais	da	educação,	entre	outras	que	indiretamente	também	enfocam	
a	formação	docente.	Dentre	as	20	metas	traçadas	do	PNE	para	até	2020,	seis	(da	
13	até	a	18)	pretendem	aumentar	a	qualidade	do	ensino	com	base	na	formação	
inicial	e	principalmente	continuada,	em	diferentes	níveis.
AUTOATIVIDADE
(IFRN	–	Concurso	Público	 –	Grupo	Magistério	 –	Políticas	 e	Gestão	Escolar	
2012)	 A	 concepção	 curricular	 que	 articula	 o	 Ensino	 Médio	 à	 formação	
técnica,	 além	 de	 estabelecer	 o	 diálogo	 entre	 os	 conhecimentos	 científicos,	
tecnológicos,	 sociais,	 humanísticos,	 habilidades	 relacionadas	 ao	 trabalho	 e	
de	 superar	 o	 conceito	da	 escola	dual	 e	 fragmentada,	 pode	 representar,	 em	
essência,	a	quebra	da	hierarquização	de	saberes	e	colaborar,	de	forma	efetiva,	
para	a	educação	brasileira	como	um	todo,	no	desafio	de	construir	uma	nova	
identidade	para	essa	última	etapa	da	educação	básica.	A	proposta	curricular	a	
que	esse	enunciado	se	refere	é:	
a)	 (	 )	 Currículo	integrado.	
b)	 (	 )	 Currículo	tecnicista.	
c)	 (	 )	 Currículo	tradicional.	
d)	(	 )	 Currículo	profissionalizante.
Para	atualizar	a	temática	da	Educação	em	nosso	país,	a	leitura	a	seguir	trata	
dos	trâmites	da	implantação	do	Sistema	Nacional	de	Educação	(SNE).	Assim,	com	
o	objetivo	de	efetivar	a	implantação	do	SNE,	o	Decreto	de	26	de	abril	de	2017,	da	
Presidência	da	República,	convoca	a	3ª	Conferência	Nacional	de	Educação,	prevista	
para	ocorrer	em	Brasília	no	ano	de	2018,	conforme	detalhes	do	texto	a	seguir.	
[...]	O	PRESIDENTE	DA	REPÚBLICA,	no	uso	das	atribuições	que	lhe	
conferem	o	art.	84,	caput,	incisos	IV	e	VI,	alínea	"a",	da	Constituição,
DECRETA: 
Art.	 1º	 Fica	 convocada	 a	 3ª	 Conferência	 Nacional	 de	 Educação	 -	
CONAE,	a	ser	realizada	na	cidade	de	Brasília,	Distrito	Federal,	com	
o	 tema	 "A	Consolidação	do	Sistema	Nacional	de	Educação	 -	 SNE	e	
o	 Plano	 Nacional	 de	 Educação	 -	 PNE:	 monitoramento,	 avaliação	
e	 proposição	 de	 políticas	 para	 a	 garantia	 do	 direito	 à	 educação	 de	
qualidade	social,	pública,	gratuita	e	laica".	
§	 1º	A	União,	 sob	 a	orientação	do	Ministério	da	Educação	 -	MEC	e	
observado	o	disposto	no	art.	8º	da	Lei	nº	13.005,	de	25	de	junho	de	2014,	
promoverá	a	realização	da	CONAE,	a	ser	precedida	de	conferências	
municipais,	 distrital	 e	 estaduais,	 articuladas	 e	 coordenadas	 pelo	
Fórum	Nacional	de	Educação	-	FNE,	nos	termos	do	art.	6º	da	Lei	nº	
13.005,	de	2014.	
§	 2º	A	 etapa	 nacional	 da	 3ª	 CONAE,	 a	 ser	 realizada	 em	 2018,	 será	
precedida	pelos	seguintes	eventos:	
I-	conferências	livres,	a	serem	realizadas	no	ano	de	2017;	
II-	conferências	municipais	ou	intermunicipais,	a	serem	realizadas	até	
o	final	do	segundo	semestre	de	2017;	e	
III-	conferências	estaduais	e	distrital,	a	serem	realizadas	até	o	final	do	
segundo	semestre	de	2018.	
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
163
	Art.	2º	As	conferências	nacionais	de	educação	serão	realizadas	com	
intervalo	de	 até	 quatro	 anos	 entre	 elas,	 com	o	 objetivo	de	 avaliar	 a	
execução	 do	 PNE	 vigente	 e	 subsidiar	 a	 elaboração	 do	 PNE	 para	 o	
decênio	subsequente.	
Art.	3º	São	objetivos	específicos	da	CONAE:	
I-	acompanhar	e	avaliar	as	deliberações	da	CONAE	de	2014,	verificar	
seus	impactos	e	proceder	às	atualizações	necessárias;	
II-	 avaliar	 a	 implementação	 do	 PNE,	 com	 destaque	 específico	 ao	
cumprimento	 das	 metas	 e	 das	 estratégias	 intermediárias,	 sem	
prescindir	de	uma	análise	global	do	plano	e;	
III-	 avaliar	 a	 implementação	 dos	 planos	 estaduais,	 distrital	 e	
municipais	 de	 educação,	 os	 avanços	 e	 os	 desafios	 para	 as	 políticas	
públicas	educacionais.	
Art.	4º	O	tema	central	da	3ª	CONAE	será	dividido	nos	seguintes	eixos	
temáticos:	
I-	 O	 PNE	 na	 articulação	 do	 SNE:	 instituição,	 democratização,	
cooperação	federativa,	 regime	de	colaboração,	avaliação	e	regulação	
da	educação.	
II-	 Planos	 decenais	 e	 SNE:	 qualidade,	 avaliação	 e	 regulação	 das	
políticas	educacionais.
III-	Planos	decenais,	SNE	e	gestão	democrática:	participação	popular	
e	controle	social.
IV-	 Planos	 decenais,	 SNE	 e	 democratização	 da	 Educação:	 acesso,	
permanência	e	gestão.	
V-	 Planos	 decenais,	 SNE,	 Educação	 e	 diversidade:	 democratização,	
direitos	humanos,	justiça	social	e	inclusão.
VI-	Planos	decenais,	SNE	e	políticas	intersetoriais	de	desenvolvimento	
e	 Educação:	 cultura,	 ciência,	 trabalho,	 meio	 ambiente,	 saúde,	
tecnologia	e	inovação;	
VII-	Planos	decenais,	SNE	e	valorização	dos	profissionais	da	Educação:	
formação,	carreira,	remuneração	e	condições	de	trabalho	e	saúde.	
VIII-	 Planos	 decenais,	 SNE	 e	 financiamento	 da	 educação:	 gestão,	
transparência	e	controle	social.	
Art.	5º	As	diretrizes	gerais	e	organizativas	para	a	realização	da	CONAE	
serão	 elaboradas	 pelo	 MEC	 e	 coordenadas	 pelo	 FNE,	 observado	 o	
disposto	no	art.	8º	da	Lei	nº	13.005,	de	2014	[...]	
(Este	 texto	 não	 substitui	 o	 original	 publicado	 no	 Diário	 Oficial	 da	
União	-	Seção	1	-	27/04/2017,	Página	19).
Conforme	a	leitura	anterior,	observa-se	que	em	2017	deveria	ter	ocorrido	
Conferências	 Municipais	 e	 Intermunicipais	 com	 o	 tema:	 “A	 consolidação	 do	
Sistema	Nacional	de	Educação	–	SNE	e	o	Plano	Nacional	de	Educação	–	PNE,	
voltado	para	o	monitoramento,	avaliação	e	proposição	de	políticas	para	a	garantia	
do	direito	à	educação	de	qualidade	social,	pública,	gratuita	e	 laica”.	Assim,	as	
conferências	municipais	deveriam	discutir	e	fornecer	subsídios	sobre	a	efetivação	
da	 implantação	 SNE	 e	 do	 PNE,	 em	 preparação	 às	 conferências	 estaduais	 e	 a	
Nacional,	prevista	para	o	ano	de	2018.	No	entanto,	devido	ao	turbulento	momento	
político	 enfrentado	 no	 Brasil,	 apenas	 duas	 capitais	 (Belo	Horizonte/MG	 e	 São	
Paulo/SP)	realizaram	o	evento	naquele	ano,	e	dois	terços	das	capitais	brasileiras	
não	tem	sequer	a	previsão	de	data	para	organizá-las.
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
164
NOTA
Até a conclusão deste livro, em janeiro de 2018, a última atualização sobre a 
implantação do Plano Nacional de Educação, prevista pelo Projeto de Lei Complementar 
PLP 413/2014, foi o Parecer do Relator, Dep. Glauber Braga (PSOL-RJ), pela aprovação 
deste, e do PLP 448/2017, apensado, como substitutivo. O parecer foi apresentado em 22/
dez./2017 à Comissão de Educação. Portanto, o projeto encontra-se ainda em tramitação 
no Congresso Nacional.
Para acompanhar a tramitação na íntegra, acesse: <http://www.camara.gov.br/
proposicoesWeb/fichadetramitacao?idProposicao=620859>. Maiores informações também 
estão disponíveis no site do MEC: <http://pne.mec.gov.br/sistema-nacional-de-educacao>.
CNTE defende a instituição do SNE de forma articulada entre os entes federados
A Confederação Nacional dos 
Trabalhadores em Educação (CNTE) 
divulgou em setembro (2017), a nota 
pública:  Análise do documento da 
SASE/MEC sobre Sistema Nacional 
de Educação. O documento analisa o 
texto —  Instituir um Sistema Nacional 
de Educação: agenda obrigatória para 
o país — disponibilizado pelo Ministério 
da Educação (MEC), em junho para 
amplo debate nacional.
Na nota, a entidade posiciona-se em acordo com vários pontos do texto apresentado pelo 
MEC, pelo fato do seu conteúdo exprimir conceitos referendados nas duas Conferências 
Nacionais de Educação (CONAEs), e por absorver propostas das entidades educacionais, 
como a CNTE, apresentadas ao longo do processo históricodo debate sobre o Sistema 
Nacional de Educação (SNE).
Para a Confederação, as graves fragilidades resultantes da ausência de um SNE estão em 
destaque no documento, como: I) ausência de referenciais nacionais de qualidade, capazes 
de orientar a ação supletiva para a busca da equidade; II) a descontinuidade de ações; III) 
a fragmentação de programas; e IV) a falta de articulação entre as esferas de governo 
são fatores que, de fato, não contribuem para a superação das históricas desigualdades 
econômicas e sociais do país.
A CNTE entende que o texto do MEC reafirma a educação como um direito inalienável e 
que realiza um diagnóstico dos avanços e desafios para garantia desse direito, num contexto 
histórico e político, apresentando uma proposta de instituição do SNE realizado por um 
conjunto articulado de quatro dimensões, levando a uma nova forma de organização da 
Educação Nacional: alterações na Lei de Diretrizes e Bases; regulamentação do artigo 23 da 
Constituição Federal (CF) ou a Lei de Responsabilidade Educacional; adequação das regras 
de financiamento e dos sistemas de ensino às novas regras nacionais instituição do SNE.
Para o presidente da entidade, Roberto 
Franklin de Leão, o Brasil possui leis 
que estruturam o sistema, como a lei 
que estipula o piso nacional salarial dos 
professores e a própria LDB. Destaca 
que precisamos de mais uma legislação 
nacional para organização da educação 
nacional, a fim de que as políticas sejam 
mais orgânicas, como é o SNE, que 
"respeita a diversidade e as diferenças do 
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
165
federalismo brasileiro, considerando a qualidade e distanciando-se da centralização da 
gestão da educação".
Entretanto, mesmo em consenso sobre vários pontos apresentados no documento 
do MEC, a CNTE reafirma a necessidade de um olhar especial na regulamentação do 
Custo Aluno-Qualidade e do piso salarial dos profissionais da educação, conjugada com 
as diretrizes nacionais de carreira; na autonomia das escolas e de seus profissionais; no 
aperfeiçoamento e fortalecimento dos espaços de participação; no estabelecimento de 
critérios para as ações distributivas e supletivas da União e dos estados, via regulamentação 
do art. 23, V, da CF; na regulamentação das receitas para a educação e na definição das 
normas vinculantes para a organização dos sistemas de ensino.
Redação SASE/MEC com informações da CNTE.
FONTE: Disponível em: <http://pne.mec.gov.br/mais-destaques/410-cnte-defende-a-
instituicao-do-sne>. Acesso em: 7 dez. 2017.
Outro	documento	importante	são	os	Parâmetros	Curriculares	Nacionais.	
Sua	história	começa	a	partir	da	década	de	1980,	com	as	mudanças	econômicas	e	
sociais	de	nível	mundial	e	a	abertura	da	política	nacional.	A	partir	desse	momento,	
as	discussões	políticas	passaram	a	privilegiar	o	tema	da	democracia.	Com	base	
nesse	tema,	as	reflexões	propiciaram	a	instauração	e	consolidação	de	um	governo	
e	de	um	regime	democrático.
Em	 decorrência	 dos	 debates	 e	 dada	 a	 importância	 da	 democracia,	 a	
Assembleia	Nacional	Constituinte,	em	1988,	institui	o	Estado	Democrático	de	Direito,	
regulamentado	pela	Constituição	da	República	Federativa	do	Brasil,	denominada	
Constituição	Cidadã.	Ela	estabelece	como	princípios	fundamentais:	“I	-	a	soberania;	
II	-	a	cidadania;	III	-	a	dignidade	da	pessoa	humana;	IV	-	os	valores	sociais	do	trabalho	
e	da	livre	iniciativa;	V	-	o	pluralismo	político”	(BRASIL,	1988,	Título	1).
FIGURA 22 – CONSTITUIÇÃO CIDADÃ DE 1988
FONTE: Disponível em: <http://www.mundoeducacao.com/upload/conteudo 
_legenda/8e426990caf5533da936acd858c65f32.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
166
O	 artigo	 5º	 dispõe	 sobre	 os	 direitos	 e	 deveres	 individuais	 e	 coletivos,	
segundo	o	qual	“todos	são	iguais	perante	a	lei,	sem	distinção	de	qualquer	natureza”	
(BRASIL,	1988,	Título	II	-	Dos	Direitos	e	Garantias	Fundamentais).	Desse	modo,	
no	 artigo	 6º,	 são	 indicados	 os	 direitos	 dos	 cidadãos;	 constam	 como	 “direitos	
sociais	a	educação,	a	saúde,	o	trabalho,	o	lazer,	a	segurança,	a	previdência	social,	
a	proteção	à	maternidade	e	à	infância,	a	assistência	aos	desamparados,	na	forma	
desta	Constituição”	(BRASIL,	1988,	Capítulo	II	-	Dos	Direitos	Sociais).
A	defesa	do	exercício	da	cidadania	na	escolarização	está	deliberada	no	
artigo	 205:	 “a	 educação,	direito	de	 todos	 e	dever	do	Estado	 e	da	 família,	 será	
promovida	 e	 incentivada	 com	 a	 colaboração	 da	 sociedade,	 visando	 ao	 pleno	
desenvolvimento	 da	 pessoa,	 seu	 preparo	 para	 o	 exercício	 da	 cidadania	 e	 sua	
qualificação	para	o	trabalho”	(BRASIL,	1988).
Para	 a	 disseminação	 da	 educação	 cidadã,	 outros	 documentos	 são	
produzidos	a	partir	de	reuniões	e	pactos	mundiais,	como	a	Declaração	Mundial	
sobre	Educação	para	Todos,	ocorrida	em	Jomtien	–	Tailândia.	
Em	 1990,	 reuniram-se	 representantes	 dos	 seguintes	 países:	 Indonésia,	
China,	Bangladesh,	Brasil,	Egito,	México,	Nigéria,	Paquistão	e	Índia,	para	discutir	
sobre	a	satisfação	das	necessidades	básicas	de	aprendizagem,	considerando	que	
todo	cidadão	tem	direito	à	educação,	e	ainda,	que	a	educação	favoreça	“o	progresso	
social,	econômico	e	cultural,	a	tolerância	e	cooperação	internacional”	(UNESCO,	
1998,	 s.p.).	 Para	 suprimir	 os	 problemas	 da	 educação,	 melhorar	 a	 qualidade	
e	 disponibilidade,	 a	 Declaração	 traça	 objetivos	 como	 medidas	 necessárias	 à	
educação	para	todos.	Assim,	os	países	citados	comprometeram-se	em	cooperar	
e	responsabilizar-se	com	as	metas	construídas.	A	partir	desse	documento,	cada	
país	construiu	planos	e	metas para	alcançar	os	objetivos	educacionais.
Você imagina quais foram as metas traçadas no encontro mundial que resultou 
na Declaração Mundial sobre Educação para Todos? 
As finalidades traçadas são: 1 Satisfazer as necessidades básicas de aprendizagem; 2 Expandir 
o enfoque; 3 Universalizar o acesso à educação e promover a equidade; 4 Concentrar a 
atenção na aprendizagem; 5 Ampliar os meios de e o raio de ação da educação básica; 6 
Propiciar um ambiente adequado à aprendizagem; 7 Fortalecer as alianças; 8 Desenvolver 
uma política contextualizada de apoio; 9 Mobilizar os recursos; e 10 Fortalecer a solidariedade 
internacional (UNESCO, 1998).
ATENCAO
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
167
Ao	 encontro	 desse	 documento,	 o	 governo	 brasileiro	 inicia	 discussões	
a	 respeito	 da	 educação	 nacional	 e	 a	 construção	 de	 políticas	 de	 educação,	 que	
discorrem	sobre	a	atualização	de	processos	formativos,	processos	de	avaliação,	a	
formação	docente,	a	relação	aluno-professor,	a	gestão	escolar,	o	currículo	escolar	e	
a	criação	de	projetos,	de	reformas	e	de	planos.	O	PCN	é	um	documento	norteador	
formulado	a	partir	dessas	políticas	de	educação.
Assim,	em	1995,	a	elaboração	dos	PCN	–	Parâmetros	Curriculares	Nacionais	
é	iniciada,	sendo	concluída	somente	em	1997,	no	governo	do	presidente	Fernando	
Henrique	Cardoso.	Fique	atento,	acadêmico,	ao	estudo	desse	documento,	pois	as	
políticas	de	educação	têm	objetivos	traçados,	como	toda	a	prática	docente	possui.
O	objetivo	dos	PCN	(BRASIL,	1997a)	é	estabelecer	à	equipe	pedagógica	
uma	 referência	 curricular	 e	 apoio	 na	 elaboração	 do	 currículo	 e	 do	 projeto	
pedagógico.	Conforme	os	PCN,	esse	documento	é	o	 resultado	de	um	trabalho	
que	contou	com	a	participação	de	um	grupo	de	especialistas	ligado	ao	Ministério	
da	Educação	(MEC),	produzido	a	partir	de	estudos	e	do	contexto	das	discussões	
pedagógicas	 atuais,	 no	 decurso	 de	 seminários	 e	 debates	 com	 professores	 que	
atuam	em	diferentes	graus	de	ensino.
FIGURA 23 – CONSTRUÇÃO DOS PARÂMETROS CURRICULARES 
NACIONAIS – PCN
FONTE: Disponível em: <http://www.educacaopublica.rj.gov.br/bibliot 
eca/portugues/img/0056.jpg>. Acesso em: 7 dez. 2017.
O	documento	dos	PCN	consiste	em	uma	referência	nacional	para	o	Ensino	
Fundamental	 e	 Médio.	 Sua	 elaboração	 é	 de	 primeiro	 nível	 de	 concretização	
curricular,	 seguido	 de	 propostas	 curriculares	 dos	 Estados	 e	 municípios,que	
poderão	ser	utilizadas	como	recurso	para	adaptações	ou	elaborações	curriculares	
realizadas	pelas	Secretarias	de	Educação	(BRASIL,	1997a).
O	 texto	 dos	 PCN	 tem	 função	 definidora	 do	 currículo	mínimo,	 orienta	
práticas	pedagógicas	e	organiza	a	estrutura	escolar.	Estabelece	o	plano	curricular	
indicando	 conteúdos,	 objetivos,	 práticas	 educativas	 e	 sugestões	 de	 avaliação.	
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
168
Como	é	um	documento	de	nível	nacional,	tenta	abranger	e	ter	aplicabilidade	em	
todo	o	território	nacional,	de	maneira	homogênea	(BARBOSA;	FAVERE,	2013).
Os	PCN	do	Ensino	Fundamental,	do	primeiro	ao	nono	ano,	são	compostos	
de	módulos	divididos	em:	Volume	1:	Introdução;	Volume	2:	Língua	Portuguesa;	
Volume	 3:	 Matemática;	 Volume	 4:	 Ciências	 Naturais;	 Volume	 5:	 História	 e	
Geografia;	Volume	6:	Arte;	Volume	7:	Educação	Física;	Volume	8:	Apresentação	
dos	Temas	Transversais	e	Ética;	Volume	9:	Meio	Ambiente	e	Saúde;	e	Volume	10:	
Pluralidade	Cultural	e	Orientação	Sexual.
Já	 os	 PCN	 do	 Ensino	 Médio	 são	 assim	 distribuídos:	 Bases	 legais;	
Linguagens,	Códigos	e	suas	tecnologias;	Ciências	da	natureza,	Matemática	e	suas	
tecnologias;	Ciências	humanas	e	suas	tecnologias.
NOTA
Caro acadêmico, a Educação Infantil também tem documentos norteadores 
do currículo, que são: Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil – RECNEI 
e Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil. O primeiro documento 
pretende orientar o professor, além de discutir conceitos importantes como educar e cuidar, 
entre outros. O RECNEI está dividido em unidades, que são: Introdução, Formação Pessoal 
e Social e Conhecimento de Mundo, Identidade e Autonomia das crianças e Movimento, 
Música, Artes Visuais, Linguagem Oral e Escrita, Natureza e Sociedade e Matemática. Já o 
segundo documento está disponível em dois volumes e apresenta recomendações para 
promover a igualdade de oportunidades educacionais.
Para conhecer melhor os documentos, respectivamente, acesse: 
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf>;
<http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Educinf/eduinfparqualvol1.pdf>.
Uma	das	preocupações	centrais	dos	PCN	é	o	tema	da	cidadania,	da	formação	
cidadã.	Mais	do	que	o	ensino	de	conteúdos	básicos,	hoje,	na	escola,	a	aprendizagem	
da	cidadania	é	 legitimada	e	 indispensável.	A	disseminação	dessa	aprendizagem	
transita	 em	 documentos	 oficiais,	 em	 autores	 que	 escrevem	 sobre	 educação	 e	
em	projetos	pedagógicos	das	 escolas.	Os	PCN	defendem	que	o	 fundamento	da	
sociedade	democrática	é	reconhecer	o	sujeito	de	direito	(BRASIL,	1997b).	
Com	base	na	Constituição	de	1988	e	na	LDB,	os	Parâmetros	Curriculares	
Nacionais	 propõem	 uma	 educação	 comprometida	 com	 a	 cidadania,	 sendo	
pautados	 em	 princípios	 que	 devem	 orientar	 a	 educação	 escolar:	 dignidade	 da	
pessoa	 humana,	 igualdade	 de	 direitos,	 participação	 e	 corresponsabilidade	 pela	
vida	social.	Conforme	os	PCN,	“a	educação	para	a	cidadania	requer,	portanto,	que	
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
169
questões	sociais	sejam	apresentadas	para	a	aprendizagem	e	a	reflexão	dos	alunos”	
(BRASIL,	1997b,	p.	25).	Os	conteúdos	dos	PCN,	de	acordo	com	Barbosa	(2000,	p.	
71),	partem:
do	 princípio	 de	 que	 os	 conteúdos	 de	 ordem	 cognitiva	 veiculados	
pela	escola	–	de	 forma	 fragmentada,	 em	razão	da	especialização	do	
conhecimento	de	cada	área	–	não	seriam	suficientes	para	atender	às	
demandas	da	atualidade	em	relação	ao	perfil	ideal	do	novo	homem,	
para	 que	 este	 homem	 pudesse	 inserir-se	 no	 mundo	 do	 trabalho,	
exercer	 a	 sua	 cidadania	 e	participar	na	 construção	do	bem	comum.	
A	 educação	 deveria	 voltar-se,	 a	 partir	 de	 então,	 para	 a	 formação	
integral	dos	alunos.	Foi,	assim,	proposta	a	ampliação	da	concepção	de	
conteúdo	escolar,	que	deveria	agora	 incorporar	o	ensino	de	hábitos,	
atitudes,	valores,	normas	e	procedimentos	que	pudessem	contribuir	
para	o	desenvolvimento	e	socialização	dos	alunos.	
A	inclusão	dos	temas	transversais	é	um	assunto	novo,	possível	na	sociedade	
atual,	visando	uma	nova	 formação	comparada	a	 formações	anteriores,	 trazendo	
assuntos	de	 fora,	da	sociedade,	para	dentro	da	escola.	Assim,	além	de	objetivos	
cognitivos,	os	PCN	traçam	objetivos	morais	e	atitudinais.
Os	PCN	foram	elaborados	com	a	contribuição	de	um	professor	espanhol,	
César	 Coll.	A	 proposta	 brasileira	 pretendeu	 implantar	 uma	 reforma	 curricular,	
dar	direcionamento	ao	trabalho	do	professor,	bem	como	o	que	se	deve	esperar	do	
aprendizado	do	aluno,	ou	seja,	o	que	deve	conter	no	currículo	escolar	(BARBOSA;	
FAVERE,	2013).
Os	 PCN	 pretendem	 atender	 às	 deliberações	 da	 Constituição	 Federal	 de	
1988	e	assim	fixar	conteúdos	mínimos	para	o	ensino,	construindo	uma	formação	
básica	e	respeitando	as	especificidades	regionais.
Citando	Barreto	(2000,	p.	35),	“o	governo	federal	passa	pela	primeira	vez,	
em	meados	dos	anos	noventa,	a	fazer	ele	próprio	prescrições	sobre	currículo,	que	
vão	muito	além	das	normas	e	orientações	gerais	que	caracterizaram	a	atuação	dos	
órgãos	centrais	em	períodos	anteriores”.
Com	o	intuito	de	transformar	a	realidade	educacional,	o	documento	defende	
que	“faz-se	necessária	uma	proposta	educacional	que	tenha	em	vista	a	qualidade	
da	formação	a	ser	oferecida	a	todos	os	estudantes”	(BRASIL,	1997a,	p.	27).
A	 intenção	 dos	 PCN	 é	 que	 o	 professor	 tenha	 um	 auxílio	 em	 sua	 ação	
de	 reflexão	 sobre	 o	 cotidiano	 da	 prática	 pedagógica,	 que	 continuamente	 esse	
cotidiano	 transforma-se	 e	 exige	 novas	 competências	 docentes.	 Nesse	 sentido,	
com	esse	documento	se	prevê	que	seja	possível:
-	 rever	 objetivos,	 conteúdos,	 formas	 de	 encaminhamento	 das	
atividades,	expectativas	de	aprendizagem	e	maneiras	de	avaliar;
-	refletir	sobre	a	prática	pedagógica,	tendo	em	vista	uma	coerência	com	
os	objetivos	propostos;
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
170
-	preparar	um	planejamento	que	possa	de	fato	orientar	o	trabalho	em	
sala	de	aula;
-	discutir	com	a	equipe	de	trabalho	as	razões	que	levam	os	alunos	a	
terem	maior	ou	menor	participação	nas	atividades	escolares;
-	 identificar,	 produzir	 ou	 solicitar	 novos	materiais	 que	 possibilitem	
contextos	mais	significativos	de	aprendizagem;
-	 subsidiar	 as	 discussões	 de	 temas	 educacionais	 com	 os	 pais	 e	
responsáveis	(BRASIL,	1997a,	p.	12).
A	 proposta	 apresentada	 pelos	 PCN	não	 tem	uma	 concepção	 rígida	 de	
currículo;	 é	 flexível,	 com	 o	 objetivo	 de	 considerar	 a	 diversidade	 brasileira	 e	
respeitando	a	autonomia	do	professor	e	equipe	pedagógica.
Acadêmico,	 apresentamos	 aqui	 uma	 imagem	disponibilizada	 em	outro	
documento	 importante	 do	 MEC,	 “Ensino	 Fundamental	 de	 Nove	 anos”,	 que	
contribui	para	percebermos	a	organização	desse	nível	de	ensino:
FIGURA 24 – ENSINO FUNDAMENTAL DE NOVE ANOS
FONTE: Disponível em: <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/Ensfund/noveanorienger.pdf>. 
Acesso em: 5 dez. 2017.
Ensino Fundamental
Anos Iniciais Anos	Finais
1º	ano 2º	ano 3º	ano 4º	ano 5º	ano 6º	ano 7º	ano 8º	ano 9º	ano
A	 figura	 acima	 nos	 indica	 uma	 organização	 que	 atualmente	 deve	 ser	
planejada	em	seu	conjunto,	ou	seja,	projetando	essa	prática	para	o	trabalho	do	
professor,	em	que	“esta	é	uma	oportunidade	preciosa	para	uma	nova	práxis	dos	
educadores,	sendo	primordial	que	ela	aborde	os	saberes	e	seus	tempos,	bem	como	
os	métodos	 de	 trabalho,	 na	 perspectiva	 das	 reflexões	 antes	 tecidas”	 (BRASIL,	
2004,	p.	18).
Assim,	temos	que	dar	continuidade	na	definição	e	redefinição	das	práticas	
e	das	ações,	que	devem	ser	realizadas	com	a	mesma	rapidez	e	complexidade	com	
que	ocorre	o	processo	de	transformação,	não	só	no	Brasil,	mas	em	escala	mundial.	
A	importância	que	adquirem,	nessa	nova	realidade	mundial,	a	ciência	e	
inovação	tecnológica	tem	levado	os	estudiosos	a	denominar	a	sociedade	
atual	 de	 sociedade do conhecimento, sociedade técnico-informacional	 ou	
sociedade tecnológica,	o	que	significa	que	o	conhecimento,	o	saber	e	a	
ciênciaassumem	papel	muito	mais	destacado	do	que	anteriormente.	
Na	atualidade,	as pessoas	aprendem	na	fábrica,	na	televisão,	na	rua,	
nos	 centros	 de	 informação,	 nos	 vídeos,	 no	 computador,	 e	 cada	 vez	
se	ampliam	os	espaços	de	aprendizagem	(LIBÂNEO,	2012,	p.	62-64,	
grifos	do	autor).
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
171
A	 instituição	 escolar	 já	 não	 é	 considerada	 o	 único	 meio	 ou	 o	 meio	
mais	eficiente	e	ágil	de	socialização	dos	conhecimentos	 técnico-científicos	e	de	
desenvolvimento	 de	 habilidades	 cognitivas	 e	 competências	 sociais	 requeridas	
para	a	vida	prática.
A	tensão	em	que	a	escola	se	encontra	não	significa,	no	entanto,	seu	fim	
como	instituição	socioeducativa	ou	o	início	de	um	processo	de	desescolarização	
da	 sociedade.	 Indica,	 antes,	 o	 início	 de	 um	 processo	 de	 reestruturação	 dos	
sistemas	 educativos	 e	 da	 instituição	 tal	 como	 a	 conhecemos.	 A	 escola,	 hoje,	
precisa	não	apenas	conviver	com	outras	modalidades	de	educação	não	formal,	
informal	e	profissional,	mas	 também,	articular-se	e	 integrar-se	a	elas,	a	fim	de	
formar	cidadãos	mais	preparados	e	qualificados	para	um	novo	tempo.	Para	isso,	
o	ensino	escolar	deve	contribuir	para:
a)	 Formar	 indivíduos	 capazes	 de	 pensar	 e	 aprender	 permanentemente	
(capacitação	 permanente)	 em	 um	 contexto	 de	 avanço	 das	 tecnologias	 de	
produção	e	de	modificação	da	organização	do	trabalho,	das	relações	contratuais	
capital/trabalho	e	dos	tipos	de	empregos.
b)	 Prover	formação	global	que	constitua	um	patamar	para	atender	à	necessidade	
de	 maior	 e	 melhor	 qualificação	 profissional,	 de	 preparação	 tecnológica	 e	
de	desenvolvimento	de	 atitudes	 e	disposições	para	 a	 vida	numa	 sociedade	
técnico-informacional.
c)	 Formar	cidadãos	éticos	e	solidários.
Assim,	pensar	o	papel	da	 escola	nos	dias	 atuais	 sugere	 levar	 em	conta	
questões	relevantes.	A	primeira,	e	talvez	a	mais	importante,	é	que	as	transformações	
mencionadas	representam	uma	reavaliação	que	o	sistema	capitalista	faz	de	seus	
objetivos.
No	entanto,	quando	o	autor	Libâneo	 (2012)	 faz	o	alerta	de	que	o	ensino	
escolar	 deve	 contribuir	 para	 formar	 indivíduos	 capazes	 de	 pensar	 e	 aprender	
permanentemente	dentro	do	contexto	tecnológico	e	das	relações	capital/trabalho,	
poderia,	aí,	ser	acrescentado	o	termo	“harmonização	das	relações	trabalhistas”.	O	que	
quer	dizer	que	a	educação	pode	e	deve	ter	uma	relação	próxima	e	significativa	com	
o	capitalismo,	uma	vez	que	o	desenvolvimento	educacional	deixou	de	ser	estável,	
isto	é,	com	hora	e	local	predeterminados.	Hoje,	a	informação	e	o	conhecimento	não	
têm	fronteira,	eles	estão	em	toda	parte,	principalmente	nas	organizações	produtoras	
de	bens	e	serviços.	Ainda	segundo	o	autor,	“a	escola	deixou	de	ser	o	único	meio	de	
socialização	do	conhecimento”.	Seguindo	a	mesma	linha	de	raciocínio	com	relação	
ao	capital/trabalho,	Liedke	(2002,	p.	345-346)	afirma	que:	
No	limiar	do	século	21,	os	avanços	da	tecnologia	microeletrônica	e	da	
racionalização	 das	 técnicas	 organizacionais	 do	 processo	 de	 trabalho,	
orientados	 por	 conceitos	 como	produção	flexível,	 produção	 enxuta	 e	
especialização	flexível,	em	um	contexto	de	competição	capitalista	global,	
colocam	em	xeque	a	centralidade	do	trabalho.	Decorridos	três	séculos	
de	predomínio	da	sociedade	industrial,	o	trabalho	passa	a	assumir	um	
conteúdo	 crescentemente	 intelectual,	 em	 contraposição	 ao	 conceito	
de	 trabalho	 físico,	 manual.	 Aumenta	 a	 importância	 da	 informação,	
do	 trabalho	 imaterial,	 em	 contraposição	 ao	 conceito	 convencional	 de	
trabalho,	centrado	na	ideia	de	transformação	da	natureza.	Para	alguns	
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
172
estudiosos,	 teria	 chegado	 o	 momento,	 na	 história	 da	 humanidade,	
de	 separarem-se,	 novamente,	 os	 conceitos	 de	 trabalho,	 emprego	 e	
identidade	 social	 e	 individual.	 Outras	 formas	 de	 socialização,	 de	
construção	das	identidades	sociais	e	individuais	deverão	voltar-se	para	
atividades	 de	 cunho	 comunitário,	 como	 escolas,	 clínicas,	 clubes	 de	
bairro,	manutenção	de	 infraestrutura	 nas	 cidades,	 envolvendo	várias	
formas	de	 trabalho	voluntário	 (KUMAR,	1985:	CACCIAMALI,	1996).	
Estudos	recentes	apontam	para	a	importância	de	políticas	voltadas	ao	
estímulo	das	atividades	intensivas	em	mão	de	obra,	ao	mesmo	tempo	
em	que	defendem	a	necessidade	de	diminuição	da	jornada	de	trabalho	
semanal	 (MATTOSO,	 1996;	 ANTUNES,	 1996).	 Mais	 do	 que	 simples	
especulação,	os	desafios	são	amplos	e	 incertas	as	alternativas.	Porém,	
parece	certo	que	as	formas	precárias	de	ocupação	da	força	de	trabalho	
(trabalho	 temporário,	 desregulamentação	 do	 trabalho,	 rebaixamento	
dos	salários)	estão	 longe	do	conceito	aristotélico	de	 trabalho	humano	
como	obra	criativa,	livre	da	esfera	da	necessidade.
No	entanto,	a	Revolução	Tecnológica	vai	além	do	fenômeno	relacionado	
com	a	dinâmica	da	 informação	e	 comunicação,	pois	 ela	 é	 também	o	objeto	de	
dinamização	 dos	 saberes,	 conceitos	 e	 dos	 valores	 individuais	 e	 sociais.	 Sendo	
assim,	essas	tecnologias	têm	se	mostrado	eficientes	e	flexíveis	em	todos	os	aspectos	
da	vida	cotidiana,	seja	no	âmbito	das	relações	sociais,	econômicas	e	educacionais,	
principalmente	por	oferecerem	uma	gama	de	alternativas	que	podem	e	devem	
ser	utilizadas	na	busca	de	soluções	e	na	melhoria	dos	métodos	e	das	formas	de	
ensinar	e	aprender.	Isto	porque,	como	sabemos,	não	existe	uma	homogeneidade	
regional,	 isto	 é,	 as	 políticas	 públicas	 não	 conseguem	 equacionar	 ou	 resolver	
os	 problemas	 relacionados	 à	 distribuição	 dos	meios	 e	 recursos	 necessários	 ao	
desenvolvimento	 do	 indivíduo,	 do	 processo	 educativo	 e	 do	 desenvolvimento	
econômico,	 onde	 todos	 esses	 conceitos	 fazem	parte	da	 cadeia	produtiva	 como	
um	todo,	pois	um	país	só	se	desenvolve	com	educação,	emprego	e	distribuição	
equitativa	de	renda,	o	que	vai	ao	encontro	dos	princípios	da	igualdade.
LEITURA COMPLEMENTAR
Universidade pra quê? A força e o futuro da UERJ
Ana	Karina	Brenner,	Bruno	Deusdará,
Guilherme	Leite	Gonçalves	e	Lia	Rocha
Como	 professor	 aposentado	 da	 UERJ	 somo-me	 a	 estes	 e	 estas	 colegas	
no	 protesto,	 na	 reação	 e	 na	 esperança	 acerca	 do	 que	 o	 atual	 governo	 sem	
legitimidade	democrática	está	fazendo	com	esta	universidade	que	se	conta	entre	
as	melhores	do	país.	Na	agenda	do	atual	governo	liderado	pelo	PMDB,	ciência,	
pesquisa,	 formação	e	 inclusão	social	não	 fazem	parte	de	sua	agenda.	Colocam	
a	universidade	no	item	de	gastos	e	encargos,	quando	deveria	significar	um	alto	
investimento	em	favor	das	novas	gerações	e	do	futuro	do	país,	portanto,	merecer	
um	tratamento	prioritário.	Uma	nação	 feita	de	 ignorantes	está	condenada	a	se	
transformar	num	país	pária,	perder	o	passo	da	história	e	sequestrar	o	futuro	dos	
jovens.	Mas	 tudo	 isso	 se	 inscreve	dentro	do	programa	da	dominação	 imperial	
TÓPICO 1 | POLÍTICAS PÚBLICAS: EDUCAÇÃO
173
que	nos	quer	recolonizar	e	fazendo-os	apenas	exportadores	de	commodities.	Para	
isso	não	se	precisa	de	ciência,	de	tecnologia,	nem	de	um	projeto	nacional,	apenas	
de	espírito	subserviente	e	venal.	Recusamos	este	destino	funesto,	pois	em	termos	
de	 futuro,	 quando	 o	 que	 vai	 contar	mesmo	 será	 uma	 economia	 e	 uma	 tecno-
ciência	montada	sobre	o	fator	ecológico.	Aí	surgiremos	como	uma	das	potências	
reitoras,	não	para	dominar,	mas	para	podermos,	com	os	bens	e	serviços	que	a	
Mãe	Terra	nos	galardoou,	ser	a	mesa	posta	para	as	fomes	e	as	sedes	do	mundo	
inteiro.	É	o	 sentido	secreto	e	providencial	de	 sermos	geograficamente	grandes	
e	ecologicamente	ricos.	Precisamos	resgatar	a	UERJ,	o	hospital	Pedro	Ernesto	e	
outras	frentes	de	ensino	e	pesquisa	distribuídos	pelo	Estado	do	Rio	de	Janeiro,	
com	seu	protagonismo	histórico	e	com	seu	alto	sentido	social,	especialmente,	para	
os	mais	penalizados	pela	nossa	sociedade	injusta	e	excludente.	E	vamos	triunfar,	
porque	nada	 resiste	 ao	que	é	bom,	 justo,	digno	e	 ecologicamente	 responsável.	
Parabéns	aos	autores	e	autoras	destecorajoso	texto,	urdido	de	sã	indignação	e	de	
justa	esperança.	Leonardo	Boff
[...]
	A	universidade	moderna	nasceu	de	um	projeto	destinado	a	desenvolver	
as	qualidades	humanas	e	a	cultura	por	meio	de	um	programa	de	formação,	que	
combinava	ensino	e	pesquisa	com	base	no	conhecimento	científico.	Esse	projeto,	
no	entanto,	tinha	um	vício	de	origem:	era	inacessível	às	classes	populares;	servia	
apenas	à	reprodução	das	elites.	Sofria,	assim,	de	um	mal-estar	que,	dentre	outras,	
produziu	 as	 revoltas	 estudantis	de	 1968.	A	partir	desse	momento,	 as	políticas	
universitárias	se	voltaram	para	articular	formação	e	inclusão	social,	conhecimento	
científico	e	igualdade.
A	 UERJ	 é	 resultado	 de	 um	 amadurecimento	 histórico	 dessa	 nova	
universidade.	Criada	em	1950,	destaca-se	pelo	pioneirismo:	primeira	universidade	
pública	do	Brasil	a	oferecer	ensino	superior	noturno,	permitindo	a	qualificação	
dos	 trabalhadores;	 segunda	 instituição	universitária	a	possuir	um	hospital	das	
clínicas	 voltado	 para	 o	 ensino;	 primeira	 a	 implantar	 o	 sistema	 de	 cotas	 para	
negros,	indígenas	e	estudantes	oriundos	de	escolas	públicas.
Nos	últimos	10	anos,	o	número	de	cursos	de	doutorado	quase	dobrou,	
passando	de	23	para	43.	Em	2016,	a	UERJ	possuía	26.767	estudantes	presenciais,	
dos	quais	9.900	cotistas	e	ainda	7.266	alunos	de	Educação	a	Distância.	Além	do	
Hospital	Universitário	Pedro	Ernesto	e	da	Policlínica	Piquet	Carneiro,	ela	conta	
com	714	projetos,	253	cursos	e	34	programas	de	extensão,	que	levam	à	sociedade	
conhecimento	e	tecnologias	de	ponta,	envolvendo	cerca	de	3	milhões	de	pessoas,	
entre	profissionais,	estudantes	e	comunidade	atendida.
Nos	últimos	anos,	a	UERJ	conquistou	o	regime	de	trabalho	de	Dedicação	
Exclusiva,	assegurando	um	plano	de	carreira	com	capacidade	de	atrair	os	melhores	
quadros	acadêmicos.	Tal	 regime	é	estruturante	da	carreira	docente,	garantidor	
da	 qualidade	 da	 pesquisa,	 do	 compromisso	 com	 a	 formação	 de	 estudantes	 e	
pesquisadores,	e	do	desenvolvimento	tecnológico	a	partir	da	fixação	de	docentes	
em	uma	única	instituição.
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
174
Hoje,	no	entanto,	todo	esse	patrimônio	corre	risco.
Ciência,	formação	e	igualdade	social	não	fazem	parte	da	agenda	do	PMDB.	
A	Universidade	lhe	é	estranha.	Em	seu	programa	para	o	Brasil,	“Uma	ponte	para	
o	futuro”,	ela	é	tratada	tão	somente	como	encargo	ou	despesa,	desconsiderando	
sua	importância	como	investimento	na	construção	e	preservação	do	patrimônio	
científico	e	tecnológico	de	uma	nação.	Ao	assim	concebê-la,	atribui	à	educação	
superior	a	responsabilidade	de	produzir	desajuste	fiscal	quando	é,	na	verdade,	
potencial	de	desenvolvimento	econômico	e	de	geração	de	emprego.	Mas,	então,	
qual	é	o	projeto	do	PMDB	para	a	Universidade?
Desde	 o	 golpe	 parlamentar,	 em	 2016,	 o	 Governo	 Temer	 tem	 realizado	
significativos	cortes	em	políticas	sociais,	entre	elas	o	ensino	superior.	Só	o	MEC	
sofreu	 corte	 de	 R$	 4,3	 bilhões.	 Assim,	 15%	 dos	 gastos	 de	 custeio	 e	 40%	 das	
despesas	de	capital,	aprovados	pelo	Congresso	para	as	universidades	federais,	
ficaram	congelados.	No	Rio	de	Janeiro	ocorre	fato	semelhante.	Para	dar	apenas	
um	exemplo,	no	final	de	2016,	o	Governo	Pezão	reduziu	o	orçamento	da	Fundação	
de	Amparo	à	Pesquisa	do	Rio	de	Janeiro	em	mais	de	30%.
Em	agosto	de	2017,	professores	e	 servidores	 técnico-administrativos	da	
UERJ	 encontram-se	 com	 quatro	meses	 de	 salários	 atrasados	 (mesma	 situação	
das	outras	universidades	estaduais	UEZO	e	UENF).	Também	atrasadas	estão	as	
bolsas	de	estudantes	e	residentes.	O	confisco	de	salários	e	bolsas	é	um	confisco	
do	orçamento	da	universidade,	 e	mina	as	 condições	de	 reprodução	das	 forças	
necessárias	ao	 trabalho	e	à	continuidade	do	patrimônio	 intelectual,	científico	e	
democrático	adquirido	ao	longo	das	décadas.	Um	exemplo	dos	efeitos	nefastos	
dessa	crise	é	a	saída	forçada	de	alguns	docentes	do	regime	de	dedicação	exclusiva.	
Obrigados	 a	 acumular	 atividades	 paralelas,	 muitos	 desses	 profissionais	 não	
retornarão	ao	regime	após	esse	período.
O	resultado	da	política	universitária	de	Pezão	e	Temer,	cujo	não	pagamento	
dos	salários	da	UERJ	é	a	expressão	mais	vil,	são	vários:	evasão	de	estudantes,	fuga	
de	cérebros,	destruição	da	pesquisa	de	ponta,	eliminação	do	legado	intelectual,	
extermínio	 da	 formação	 e	 da	 cultura.	 Em	 outras	 palavras,	 a	 depredação	 do	
resultado	de	décadas	de	investimento	material	e	humano.
Nós,	 da	 Universidade,	 entendemos	 que	 docência,	 pesquisa,	 cultura	 e	
formação	 se	 relacionam	com	o	 futuro.	Nossa	 resistência	 é	a	garantia	de	que	o	
projeto	de	universidade	pública,	de	qualidade,	gratuita,	cada	vez	mais	plural	e	
inclusiva,	permaneça.	UERJ	Resiste!
FONTE: Disponível em: <https://leonardoboff.wordpress.com/2017/08/11/universidade-pra-que-
a-forca-e-o-futuro-da-uerj/>. Acesso em: 9 set. 2017.
175
Neste tópico, você aprendeu que: 
•	 A	 vida	 em	 sociedade	 está	 ligada	 à	 política	 e	 não	 há	 ação	 social	 sem	 ação	
política,	quer	seja	promovida	pelo	Estado	ou	pela	sociedade.
•	 As	 políticas	 públicas	 são	 de	 responsabilidade	 do	 Estado,	 com	 base	 em	
organismos	 políticos	 e	 entidades	 da	 sociedade	 civil,	 que	 derivam	 de	
normatizações,	 ou	 seja,	 se	 estabelece	 um	 processo	 de	 tomada	 de	 decisões,	
nossa	legislação.
•	 A	criação	de	documentos	nacionais	norteadores	foi	possível	a	partir	da	década	
de	1980,	com	a	abertura	política	e	com	a	instituição	de	um	Estado	democrático,	
com	a	Constituição	Federal	de	1988,	como	é	o	caso	dos	Parâmetros	Curriculares	
Nacionais.
•	 A	LDB	9.394/96	regulamentou	o	que	foi	tratado	sobre	educação	na	Constituição	
Federal,	 abordando	 a	 educação	 escolar.	 O	 objetivo	 dos	 PCN	 é	 estabelecer	
à	 equipe	 pedagógica	 uma	 referência	 curricular	 e	 apoio	 na	 elaboração	 do	
currículo	e	do	projeto	pedagógico.
•	 Os	 PCN	 têm	 função	 definidora	 do	 currículo	 mínimo,	 orientam	 práticas	
pedagógicas	e	organizam	a	estrutura	escolar.
•	 Uma	das	preocupações	 centrais	 dos	PCN	é	 o	 tema	da	 cidadania,	 que	deve	
resultar	em	uma	formação	cidadã.
RESUMO DO TÓPICO 1
176
1	Para	retomar	o	que	aprendemos	até	o	momento,	aponte	as	características	
principais	e	o	contexto	histórico	no	qual	foram	construídos	os	PCN:
2	(IFRN	–	Concurso	Público	–	Grupo	Magistério	–	Políticas	e	Gestão	Escolar	
2012)
A	partir	do	que	estabelece	a	Lei	nº	9.394/1996,	analise	as	afirmativas	a	seguir.	
I-	A	educação	profissional	técnica	de	nível	médio	articulada,	segundo	essa	lei,	
será	desenvolvida	nas	formas	integrada	e	concomitante.	
II-	A	educação	de	 jovens	e	adultos	deverá	ser	oferecida,	preferencialmente,	
articulada	à	educação	profissional.	
III-	As	 instituições	de	educação	profissional	e	 tecnológica	oferecerão	cursos	
regulares	e	cursos	especiais,	abertos	à	comunidade.	
IV-	 Na	 educação	 profissional	 técnica	 de	 nível	 médio,	 a	 preparação	 geral	
para	 o	 trabalho	 e,	 facultativamente,	 a	 habilitação	 profissional,	 poderão	
ser	 desenvolvidas	 nos	 próprios	 estabelecimentos	 de	 Ensino	Médio	 ou	 em	
cooperação	com	instituições	especializadas	em	educação	profissional.	
V-	A	educação	profissional	 técnica	de	nível	médio,	por	 ter	 total	autonomia	
pedagógica,	prescinde	de	organizar	cursos	seguindo	as	orientações	contidas	
nas	diretrizes	curriculares	nacionais	estabelecidas	pelo	Conselho	Nacional	de	
Educação.	
Das	afirmativas	acima,	estão	corretas,	apenas:	
a)	 (	 )	 I,	II,	III	e	IV.	
b)	 (	 )	 II,	III,	IV	e	V.	
c)	 (	 )	 I	e	V.
d)	(	 )	 II	e	IV.
AUTOATIVIDADE
177
TÓPICO 2
POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
UNIDADE 3
1 INTRODUÇÃO
Olá,	acadêmico!	Seja	bem-vindo	ao	estudo	que	faremos	sobre	o	Sistema	
de	Saúde	brasileiro.	Este	tema	levará	você	a	refletir	sobre	a	realidade	da	saúde	
pública	em	nosso	país	e	os	seus	desafios	para	assegurar	o	atendimento	a	 todo	
cidadão	com	dignidade	e	em	igualdade	de	condições.	
O	acesso	universal,	integral	e	equânime	à	assistência	em	saúde	é	um	
direito	de	todos	e	um	dever	do	Estado,	garantido	pela	Constituição.Contudo,	 para	 além	 das	 obrigações	 do	 governo,	 a	 saúde	 também	
é	 uma	 responsabilidade	 coletiva,	 que	 implica	 na	 participação	 da	
população	nos	processos	de	melhoria	e	no	progresso	da	qualidade	de	
serviços	(SCHMIDT,	2015,	p.	12).
A	gestão	do	sistema	nacional	de	saúde	é	bastante	complexa,	se	pensarmos	
em	atingir	de	forma	equânime	todas	as	pessoas	que	dependem	do	serviço	público	
num	 contexto	 com	 desigualdades	 e	 desafios	 sociais	 aos	 governos.	 Concorda	
Zetzsche	 (2014,	 p.	 3)	 ao	 dizer	 que	 “Cuidar	 da	 saúde	 significa	manter	 a	 nação	
em	condições	de	progresso	e	trabalho,	com	uma	população	saudável	e	menores	
índices	de	adoecimento	e	transmissão	de	doenças”.
O	 sistema	de	 saúde	brasileiro	 engloba	uma	 rede	de	 serviços	prestados	
por	 instituições	 públicas	 e	 privadas	 aos	 cidadãos	 que	 se	 utilizam	 de	 uma	
multiplicidade	de	atendimentos.	Considerado	exemplo	de	política	pública	pelo	
acesso	universal	à	população,	demanda	ainda	maior	participação	da	sociedade	
nos	conselhos	e	conferências	municipais	de	saúde	para	o	efetivo	controle	social	
na	administração	pública.	
O	 fortalecimento	 da	 política	 pública	 de	 saúde	 depende,	 sobretudo,	 de	
investimentos	que	assegurem	as	ações	e	programas	que	impulsionem	os	indicadores	
de	saúde	a	um	nível	favorável;	é	fundamental	a	melhora	da	infraestrutura,	com	
a	ampliação	e	modernização	dos	locais	de	atendimento,	qualidade	dos	serviços	
oferecidos	e	capacidade	técnica	dos	profissionais	contratados	para	a	gestão.
Competência	 administrativa,	 visão	 política	 e	 gerencial,	 profundo	
conhecimento	 da	 história	 do	 país	 e	 de	 sua	 dinâmica	 social,	 visão	
epidemiológica	 e	 crítica,	 e	 visão	 ontológica	 –	 visão	 de	 respeito	 e	
reconhecimento	do	ser	humano	–	(alvo	dos	programas	e	políticas	de	
saúde)	são	requisitos	mais	que	necessários	àquele	ou	àquela	que	vai	
trabalhar	em	gestão	de	saúde,	quer	seja	de	caráter	público	ou	privado	
(ZETZSCHE,	2014,	p.	4).
178
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
A	saúde	para	os	brasileiros,	segundo	a	pesquisa	do	Instituto	de	Pesquisas	
Datafolha	 (2014),	 é	 considerada	 o	 serviço	 público	 mais	 importante;	 mas	
diariamente	o	usuário	se	depara	com	problemas,	como	a	falta	de	médicos,	filas	
de	espera	nas	emergências	e	nos	hospitais,	demora	para	realização	de	cirurgias	e	
hospitais	sem	recursos	financeiros.	
FIGURA 25 – IMPORTÂNCIA DA SAÚDE PÚBLICA
FONTE: Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/images/PDF/apresentao-integra-datafolha203.
pdf>. Acesso em: 6 jun. 2015.
15
Base: Total Brasil  2.418 entrevistas
P3. Dentre esses serviços que você considerou muito importantes, qual deve ser a primeira prioridade do governo federal, na sua opinião?
Área de maior importância – nível federal
(Estimulada e única)
59%
17%
8%
7%
5%
3%
1%
0,4%
0,3%
46%
25%
9%
11%
3%
3%
1%
1%
‐
Usuário 
do SUS
Não 
usuário
Na segunda etapa, entre as áreas que consideraram importantes, Saúde se destaca, 
como prioridade. Educação fica em segundo lugar, porém bem mais à distância.
 O usuário do SUS dá maior importância para a Saúde.
A	 partir	 dessa	 reflexão,	 podemos	 enfatizar	 a	 importância	 da	 política	
pública	de	saúde	no	contexto	social	brasileiro	e	a	necessidade	de	gestão	técnica	
com	 profissionais	 habilitados.	 A	 relevância	 do	 tema	 foi	 abordada	 no	 Exame	
Nacional	do	Estudante	–	ENADE	(2013)	e	propomos	que	você	leia	e	responda.
A	questão	da	saúde	no	Brasil	é	complexa	e	dependente	da	atuação	dos	vários	
agentes	 que	 a	 compõem.	 Cada	 um	 desses	 agentes,	 governo,	 organizações	 e	
sociedade,	tem	suas	responsabilidades	sobre	a	qualidade	da	saúde	no	Brasil.	Ao	
governo	cabe	desenvolver	políticas	e	realizar	investimentos	adequados,	dentro	
de	 um	 planejamento	 ao	 longo	 do	 tempo;	 às	 organizações	 compete	 executar	
essas	políticas,	como	também	prestar	serviços	à	população	com	qualidade;	e	
a	sociedade,	por	seu	lado,	deve	aderir	às	ações	preventivas	promovidas	pelo	
governo	e	pelas	organizações,	assim	como	deve	ter	uma	postura	ativa,	autônoma	
e	corresponsável,	em	relação	à	sua	qualidade	de	vida.	
FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Win8/Desktop/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.
pdf>. Acesso em: 3 maio 2015.
AUTOATIVIDADE
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
179
FONTE: Disponível em: <http://www.ivancabral.com>. Acesso em: 23 ago. 2013.
Considerando	a	figura	e	o	trecho	acima,	redija	um	texto	dissertativo	sobre	o	
papel	e	(ou)	funções	do	gestor	hospitalar	no	contexto	da	qualidade	da	saúde	
no	Brasil.
2 CONCEITO DE SAÚDE
Temos	 como	 conceito	 de	 saúde,	 segundo	 a	 Organização	 Mundial	 de	
Saúde	(USP,	2015,	s.p.):	“Saúde	é	um	estado	de	completo	bem-estar	físico,	mental	
e	social,	e	não	consiste	apenas	na	ausência	de	doença	ou	de	enfermidade”.	
Essa	concepção	de	saúde	induz	a	novas	condutas	quanto	à	promoção	de	
saúde	e	prevenção	de	doenças.	O	indivíduo	é	inserido	numa	rede	de	cuidados	
permanentes,	visando	maior	qualidade	de	vida,	mesmo	que	aconteça	a	doença.	
A	 vida	 mais	 saudável	 demanda	 novos	 hábitos,	 que	 incluem	 a	 alimentação	
adequada,	lazer,	convívio	social,	esportes	e	atividade	física	como	práticas	diárias.	
Mesmo	 o	 doente	 crônico	 aprende	 a	 conviver	 melhor	 com	 a	 doença,	
tornando-se	menos	dependente	da	assistência	médica,	 adquirindo	hábitos	que	
ajudam	na	melhora	do	estado	de	 saúde.	É	o	que	Zetzsche	 (2014,	p.	 13)	define	
como	 “comportamentos	mais	 saudáveis	 e	 que	 desenvolva	 o	 seu	 autocuidado,	
possibilitando	 que,	 desta	 forma,	 acabe	 vivendo	mais	 e	 melhor	 depois	 de	 seu	
adoecimento,	por	mais	incrível	que	isto	pareça,	à	primeira	vista”.	Neste	contexto,	
percebe-se	que	a	população	está	adotando	um	estilo	de	vida	mais	saudável,	com	
180
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
atitudes	de	prevenção	para	a	saúde	física	e	mental;	este	movimento	se	estende	a	
outros	ambientes,	como	exemplo,	no	trabalho	e	na	educação,	visto	que	a	qualidade	
de	vida	está	diretamente	relacionada	ao	modo	como	as	pessoas	vivem.	
As	 cidades	 devem	 oferecer	 espaços	 coletivos,	 parques,	 praças,	 centros	
de	 convivência,	 para	 que	 a	 comunidade	 usufrua	 de	 qualidade	 de	 vida,	 o	 que	
comprovadamente	vem	reduzindo	os	custos	em	serviços	médicos	e	assistenciais	
nos	municípios.	
FIGURA 26 – SAÚDE PÚBLICA
FONTE: Disponível em: <http://brubrinq.com.br/ckfinder/userfiles/images/pra%C3%A 
7a_playground2.jpg>. Acesso em: 12 jan. 2018.
Essa	é	uma	realidade	possível,	de	acordo	com	Zetzsche	(2014,	p.	9):	
[...]	 a	 amplitude	 do	 escopo	 de	 ações	 em	 saúde	 vai	 abranger	
intervenções	 e	 estratégias	 nos	 mais	 variáveis	 setores,	 como	 meio	
ambiente,	 sustentabilidade,	 manejo	 agrícola,	 controle	 de	 endemias	
e	 pandemias,	 definição	 dos	 níveis	 aceitáveis	 de	 desenvolvimento	 e	
qualidade	de	vida,	saneamento	básico,	manejo	de	recursos	hídricos	e	
naturais,	ambientes	de	trabalho,	acesso	ao	lazer,	educação,	moradia,	
entre	tantos	outros,	pois	é	nestas	boas	condições	de	vida	que	a	saúde	é	
mais	fácil	de	se	obter	e	de	se	conservar.	
A	 transformação	 social,	 a	 partir	 da	 saúde,	 busca	 incutir	 nas	 pessoas	
atitudes	 frente	 a	 fatores	 de	 influência	 negativa,	 por	 exemplo,	 a	 mídia	 com	 a	
demasiada	 publicidade	 de	 produtos	 alimentícios	 industrializados,	 que	 não	
trazem	benefícios	à	saúde	e	contribuem	para	a	obesidade	e	sobrepeso;	ou	ainda,	
o	álcool	e	cigarro,	que	levam	a	problemas	comportamentais	e	afetam	a	família.	
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
181
[...]	 a	 obesidade	na	população	brasileira	 está	 se	 tornando	bem	mais	
frequente	 do	 que	 a	 própria	 desnutrição	 infantil,	 sinalizando	 um	
processo	 de	 transição	 epidemiológica	 que	 deve	 ser	 devidamente	
valorizado	 no	 plano	 da	 saúde	 coletiva.	 As	 doenças	 [...]	 estão	
relacionadas,	 em	 grande	 parte,	 com	 a	 obesidade	 e	 com	 práticas	
alimentares	e	estilos	de	vida	inadequados	(IBGE,	2008,	s.p.).
Além	dos	problemas	decorrentes	da	vida	moderna	que	afetam	a	saúde	
da	 população,	 temos	 ainda	 doenças	 epidemiológicas	 como	 dengue,malária	
e	 tuberculose,	 por	 exemplo,	 e	 que	 causam	 a	morte	 de	milhões	 de	 pessoas	 no	
mundo	todo	e	são	decorrentes	da	miséria,	da	precariedade	no	abastecimento	de	
água	potável,	do	saneamento	básico	e	pela	falta	de	acesso	aos	serviços	públicos	
de	saúde	e	educação.	A	globalização	 fortaleceu	esse	processo	de	disseminação	
de	doenças	ao	redor	do	mundo,	principalmente	pelo	contingente	de	populações	
imigratórias.	
Visando	contribuir	com	seu	conhecimento,	reflita	e	responda	à	atividade	a	
seguir,	que	trata	sobre	o	tema	de	forma	a	fazer	refletir	a	partir	das	considerações	
apresentadas,	compreender	as	relações	entre	saúde	pública	e	as	desigualdades	
sociais	e	suas	terríveis	consequências	para	a	humanidade.
(ENADE–2013	 –	 Formação	Geral)	A	Organização	Mundial	 de	 Saúde	 (OMS)	
menciona	 o	 saneamento	 básico	 precário	 como	 uma	 grave	 ameaça	 à	 saúde	
humana.	Apesar	de	disseminada	no	mundo,	a	falta	de	saneamento	básico	ainda	
é	muito	associada	à	pobreza,	afetando,	principalmente,	a	população	de	baixa	
renda,	que	é	mais	vulnerável	devido	à	subnutrição	e,	muitas	vezes,	à	higiene	
precária.	Doenças	 relacionadas	a	sistemas	de	água	e	esgoto	 inadequados	e	a	
deficiências	na	higiene	causam	a	morte	de	milhões	de	pessoas	todos	os	anos,	
com	prevalência	nos	países	de	baixa	renda	(PIB	per capita	inferior	a	US$	825,00).	
Dados	da	Organização	Mundial	de	Saúde	(OMS)	apontam	que	88%	das	mortes	
por	diarreia	no	mundo	são	causadas	pela	falta	de	saneamento	básico.	Dessas	
mortes,	 aproximadamente	84%	são	de	 crianças.	Estima-se	que	1,5	milhão	de	
crianças	morram	a	 cada	 ano,	 sobretudo	 em	países	 em	desenvolvimento,	 em	
decorrência	de	doenças	diarreicas.	No	Brasil,	as	doenças	de	transmissão	feco-
oral,	 especialmente	 as	 diarreias,	 representam,	 em	 média,	 mais	 de	 80%	 das	
doenças	relacionadas	ao	saneamento	ambiental	inadequado	(IBGE,	2012).	
Com	base	nas	informações	e	nos	dados	apresentados,	redija	um	texto	
dissertativo	 acerca	 da	 abrangência,	 no	 Brasil,	 dos	 serviços	 de	 saneamento	
básico	 e	 seus	 impactos	na	 saúde	da	população.	Em	seu	 texto,	mencione	as	
políticas	públicas	já	implementadas	e	apresente	uma	proposta	para	a	solução	
do	problema	apresentado	no	texto	acima.	
FONTE: Disponível em: <http://download.inep.gov.br/educacao_superior/enade/provas/2013 
/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.pdf>. Acesso em: 6 maio 2015.
AUTOATIVIDADE
182
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
3 SAÚDE: DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO
 
A	Constituição	da	República	Federativa	de	1988	dispõe	em	seu	art.	196:	“A	
saúde	é	direito	de	todos	e	dever	do	Estado,	garantido	mediante	políticas	sociais	
e	econômicas	que	visem	à	redução	do	risco	de	doença	e	de	outros	agravos	e	ao	
acesso	universal	e	igualitário	às	ações	e	serviços	para	sua	promoção,	proteção	e	
recuperação”.	
No	Brasil,	temos	um	sistema	de	saúde	garantido	pela	Constituição	Federal,	
que	se	constitui	no	Sistema	Único	de	Saúde	–	SUS.	Para	Campos	et	al.	(2006,	p.	
531	apud	ZETSZCHE,	2014,	p.	87),	o	SUS	é:
[...]	 o	 arranjo	 organizacional	 do	 Estado	 Brasileiro	 que	 dá	 suporte	 à	
efetivação	da	política	de	saúde	no	Brasil,	e	traduz	em	ação	os	princípios	
e	 diretrizes	 desta	 política.	 Compreende	 um	 conjunto	 organizado	
e	articulado	de	serviços	e	ações	de	saúde,	e	aglutina	o	conjunto	das	
organizações	 públicas	 de	 saúde	 existentes	 nos	 âmbitos	 estadual,	
municipal	 e	 nacional,	 e	 ainda	 os	 serviços	 privados	 de	 saúde	 que	 o	
integram	funcionalmente	para	prestação	de	serviços	aos	usuários	do	
sistema,	de	forma	complementar,	quando	contratados	ou	conveniados	
para	 tal	 fim.	 O	 SUS	 foi	 instituído	 com	 o	 objetivo	 de	 coordenar	 e	
integrar	as	ações	das	três	esferas	de	governo	e	pressupõe	a	articulação	
de	 subsistemas	 verticais	 (de	 vigilância	 e	 assistência	 à	 saúde)	 e	
subsistemas	de	base	 territorial	–	estaduais,	 regionais	e	municipais	–	
para	atender	de	maneira	funcional	às	demandas	por	atenção	à	saúde.	
Historicamente,	 a	 população	 brasileira	 era	 desassistida	 de	 assistência	
médica	e,	quando	acometida	de	doença,	recorria	às	crenças	e	à	medicina	natural;	
o	auxílio	ao	povo	era	feito	pelas	Santas	Casas	de	Misericórdia.	Somente	a	partir	
da	industrialização	no	país	e	dos	movimentos	sindicalistas	é	que	o	Estado	passa	a	
atuar	na	área	da	saúde,	com	a	criação	das	caixas	de	aposentadoria	e	pensão,	mas	
que	permitiam	somente	aos	contribuintes	o	acesso	à	assistência	médica,	enquanto	
a	maior	parcela	da	população	ficou	à	margem	deste	direito.	Durante	o	período	
militar,	a	iniciativa	privada	passa	a	ter	participação	no	sistema	com	os	convênios	
e	planos	de	saúde.
Essas	medidas	contribuíram	para	a	Reforma	Sanitária	que	levou	à	criação	
do	SUS,	que,	segundo	Arouca	(1998	apud	ZETZSCHE,	2014,	p.	79):	
[...]	nasceu	na	luta	contra	a	ditadura,	com	o	tema	Saúde	e	Democracia,	e	
estruturou-se	nas	universidades,	no	movimento	sindical,	em	experiências	
regionais	de	organização	de	serviços.	Esse	movimento	social	consolidou-
se	na	8ª	Conferência	Nacional	de	Saúde,	em	1986,	na	qual,	pela	primeira	
vez,	mais	de	cinco	mil	representantes	de	todos	os	segmentos	da	sociedade	
civil	discutiram	um	novo	modelo	de	saúde	para	o	Brasil.	O	resultado	foi	
garantir	na	Constituição,	por	meio	de	emenda	popular,	que	a	saúde	é	um	
direito	do	cidadão	e	um	dever	do	Estado.
	Posteriormente,	em	1990,	 foi	promulgada	a	Lei	Orgânica	do	SUS,	com	
as	 Leis	 nº	 8.080	 e	 nº	 8.142,	 que	 têm	 como	 base	 de	 sustentação	 os	 princípios	
norteadores	do	Sistema	Único	de	Saúde	brasileiro:
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
183
•	 Princípio	da	Universalidade:	estabelece	a	todos	o	direito	de	atendimento	pelo	
Sistema	Único	de	Saúde.	
•	 Princípio	da	Integralidade:	relaciona	dois	aspectos	do	SUS,	o	primeiro	refere-se	
à	compreensão	do	ser	humano	biopsicossocial	que	requer	um	atendimento	em	
sua	integralidade;	e	o	segundo	aspecto	integra	as	ações	do	Sistema	Único	de	
Saúde	para	o	atendimento	integral	entre	os	diferentes	níveis	de	complexidade	
de	atenção	à	saúde.	
•	 Princípio	da	Igualdade:	possibilita	as	mesmas	condições	de	acesso	ao	Sistema	
Único	 de	 Saúde	 neste	 país,	 onde	 ninguém	 pode	 solicitar	 um	 atendimento	
diferenciado,	 seja	 um	 pedido	 por	 apadrinhamento	 político,	 ou	 pelo	 nível	
social,	raça,	gênero.	
Na	visão	de	Cony	(2014,	s.p.),	o	SUS	pode	ser	considerado	como	direito	
humano:	 “[...]	 é	 a	maior	 conquista	 do	 povo	 brasileiro	 em	 política	 pública	 e	 é	
um	 sistema	que	 é	 referência	 em	 saúde	para	 o	mundo,	 sob	 a	 ótica	 gravada	na	
Constituição	de	que	o	SUS	é	um	direito	de	todos	e	um	dever	do	Estado	e	evoluindo	
para	a	compreensão	de	que	é	um	direito	humano”.
4 AS REDES DE ATENÇÃO EM SAÚDE
O	 funcionamento	 do	 Sistema	 Único	 de	 Saúde	 conjuga	 uma	 rede	 de	
serviços	denominada	Rede	de	Atenção	à	Saúde,	que	classifica	os	atendimentos	
em	níveis	de	atenção	primária,	secundária	e	terciária,	conforme	a	exigência	do	
serviço	que	será	prestado	ao	usuário.	A	rede	compreende-se	em	âmbito	estadual	
e	 regional,	 numa	 articulação	 interfederativa,	 em	 que	 serviços	 de	 saúde	 são	
executados	em	uma	região	de	Saúde	determinada	por	um	espaço	geográfico	de	
municípios	limítrofes,	que	segundo	o	Decreto	nº	7.508/2011,	será	“delimitado	a	
partir	de	identidades	culturais,	econômicas	e	sociais	e	de	redes	de	comunicação	e	
infraestrutura	de	transportes	compartilhados	[...]”.	Trata-se	de	uma	organização	
complexa,	que	identifica	os	diversos	atendimentos	por	meio	de	um	Mapa	da	Saúde,	
que	segundo	decreto,	faz	a	distribuição	“[...]	de	recursos	humanos	e	de	ações	e	
serviços	de	saúde	ofertados	pelo	SUS	e	pela	iniciativa	privada,	considerando-se	a	
capacidade	instalada	existente,	os	investimentos	e	o	desempenho	aferido	a	partir	
dos	indicadores	de	saúde	do	sistema”.
A	Rede	de	Atenção	à	Saúde	(RAS)	atua	a	partir	da	Unidade	Básica	de	Saúde	
ou	USF	–	Unidade	de	Saúde	da	Família,	onde	inicia	o	trabalho	junto	à	comunidade.	
As	consultas	são	realizadas	pelo	médico	generalista	e,	se	for	necessário,	encaminha	
aos	médicos	especialistas	queintegram	o	setor	de	atenção	secundária.	
A	Unidade	Básica	de	Saúde	realiza	os	atendimentos	em	nível	de	atenção	
primária	 “[...]	 enfatizando	 a	 função	 resolutiva	 dos	 cuidados	 primários	 sobre	
os	problemas	mais	comuns	de	saúde	e	a	partir	do	qual	se	realiza	e	coordena	o	
cuidado	em	todos	os	pontos	de	atenção”	(MINISTÉRIO	DA	SAÚDE,	2010,	p.	4	
apud	ZETZSCHE,	2014,	p.	32).
184
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
A	 pesquisa	 do	 Instituto	 Datafolha	 (2014)	 mostra	 com	 que	 objetivo	 o	
usuário	busca	o	atendimento	na	Unidade	de	Saúde.		
FIGURA 27 – NECESSIDADES NA SAÚDE PÚBLICA
FONTE: Disponível em: <http://portal.cfm.org.br/images/PDF/apresentao-integradatafolha203.
pdf>. Acesso em: 6 jun. 2015.
44
Porta de entrada para o SUS
(Estimulada e única)
Base: Total Brasil, entrevistados que utilizaram serviço
P13. Quando você ou alguém de sua casa precisa de atendimento de saúde do SUS, qual o primeiro local que vocês procuram, de acordo com este cartão? 
Quando precisam de atendimento de saúde do SUS, o primeiro local procurado é o 
Posto de Saúde para a maior parcela dos usuários (48%). No entanto, 49% usam 
algum serviço de emergência como porta de entrada.
49% utilizam
atendimento de 
emergência como 
porta de entrada
No	 setor	 de	 atenção	 secundária,	 adentramos	 em	 Policlínicas	 de	
especialidades,	 Ambulatórios	 e	 Centros	 de	 Atenção	 Psicossocial	 (CAPS).	 Do	
setor	terciário	fazem	parte	os	hospitais	especializados,	Unidades	de	Tratamento	
Intensivo	 (UTIs),	 Centros	 de	Hemodiálise,	 entre	 outros.	Os	 encaminhamentos	
feitos	aos	usuários	são	formais,	por	meio	de	referências	e	contrarreferências,	que	
são	os	registros	das	consultas	e	procedimentos	utilizados	pelos	médicos	e	agentes	
de	saúde.
UNI
Pontos de atenção à saúde são entendidos como espaços em que se ofertam 
determinados serviços de saúde, por meio de uma produção singular. Os domicílios, as 
unidades básicas de saúde, as unidades ambulatoriais especializadas, os serviços de 
hemoterapia e hematologia, os centros de apoio psicossocial, as residências terapêuticas, 
entre outros. Os hospitais podem abrigar distintos pontos de atenção à saúde: o ambulatório 
de pronto atendimento, a unidade de cirurgia ambulatorial, o centro cirúrgico, a maternidade, 
a unidade de terapia intensiva, a unidade de hospital/dia, entre outros. Todos os pontos de 
atenção à saúde são igualmente importantes para que se cumpram os objetivos da rede de 
atenção à saúde e se diferenciam, apenas, pelas distintas densidades tecnológicas que os 
caracterizam (MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2010, p. 4 apud ZETSCHE, 2014, p. 32).
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
185
Vejamos	um	exemplo	de	atendimento	em	rede:	
O	 sr.	 José	 é	 portador	 de	 doença	 mental	 leve	 diagnosticada	 durante	 a	
infância,	mas	os	pais	não	procuraram	um	tratamento	na	época;	a	partir	da	visita	
do	agente	comunitário	a	domicílio,	o	sr.	 José	foi	encaminhado	para	a	Unidade	
Básica	de	Saúde	(que	fez	seu	acompanhamento	clínico	e	o	encaminhou	também	
para	 o	 CAPS	 -	 Centro	 de	 Atenção	 Psicossocial).	 Foi	 feito	 o	 cadastro	 na	 ESF	
(Estratégia	de	Saúde	Familiar)	e	no	CAPS	e	as	crises	puderam	ser	cuidadas	sem	
internação.	O	sr.	José	também	tem	hipertensão	e	por	isso	faz	acompanhamento	
com	a	médica	da	Unidade	de	Saúde	Básica,	que	prescreve	os	seus	medicamentos.	
Como	o	sr.	José	é	viúvo	e	mora	sozinho,	o	agente	comunitário	tem	feito	visitas	
com	frequência,	para	saber	se	está	tomando	a	medicação	corretamente.	
Neste	 exemplo,	 podemos	 verificar	 como	 um	 usuário	 pode	 ter	 o	 seu	
cuidado	 compartilhado	 entre	 uma	 equipe	 de	 atenção	 primária,	 a	 unidade	 de	
saúde	da	família,	e	uma	equipe	de	atenção	secundária,	a	equipe	do	CAPS.	
Para	 conhecer	melhor	 os	princípios	que	norteiam	a	 legislação	orgânica	
de	saúde,	acompanhe	a	questão	a	seguir,	ela	trata	sobre	o	tema,	que	também	foi	
abordado	no	Exame	Nacional	do	Estudante	–	ENADE	(2013)	e	ajuda	a	entender	o	
funcionamento	da	saúde	pública	e	pensar	sobre	a	qualidade	de	atendimento	em	
saúde	na	sua	cidade.
Mais	de	20	anos	após	a	criação	do	SUS,	surge	a	necessidade	de	regulamentação	
de	dispositivos	da	Lei	Orgânica	da	Saúde,	em	face	de	lacunas	legais	quanto	à	
organização	do	sistema,	ao	planejamento	da	saúde,	à	assistência	à	saúde	e	à	
articulação	interfederativa.	A	regulamentação,	pelo	Poder	Executivo	Federal,	
da	Lei	nº	8.080/1990,	por	meio	do	Decreto	nº	7.508/2011,	surge	no	momento	
em	 que	 os	 gestores,	 profissionais	 de	 saúde	 e	 trabalhadores	 detêm	 maior	
compreensão	sobre	a	organização	constitucional	e	 legal	do	SUS	e	o	usuário	
sobre	o	seu	direito	à	saúde.	
De	acordo	com	o	decreto	citado	acima,	avalie	as	afirmações	a	seguir.
I-	A	 integralidade	da	assistência	à	saúde	se	 inicia	e	se	completa	na	rede	de	
atenção	 à	 saúde,	 mediante	 referenciamento	 do	 usuário	 na	 rede	 regional	 e	
interestadual,	conforme	pactuado	nas	comissões	intergestoras.	
II-	 Mapa	 da	 Saúde	 é	 a	 descrição	 geográfica	 da	 distribuição	 de	 recursos	
humanos	e	de	ações	e	serviços	de	saúde	ofertados	pelo	SUS	e	pela	iniciativa	
privada	 que	 será	 utilizada	 na	 identificação	 das	 necessidades	 de	 saúde	 e	
orientará	o	planejamento	integrado	dos	entes	federativos,	contribuindo	para	
o	estabelecimento	de	metas	de	saúde.	
AUTOATIVIDADE
186
UNIDADE 3 | POLÍTICAS PÚBLICAS
III-	 Região	 de	 Saúde	 é	 o	 espaço	 geográfico	 contínuo	 constituído	 por	
agrupamentos	de	municípios	 limítrofes,	delimitado	a	partir	de	 identidades	
culturais,	 econômicas	 e	 sociais	 e	 de	 redes	 de	 comunicação	 e	 infraestrutura	
de	transportes	compartilhados,	com	a	finalidade	de	integrar	a	organização,	o	
planejamento	e	a	execução	de	ações	e	serviços	de	saúde.	
É	correto	o	que	se	afirma	em:
a)	 (	 )	 I,	apenas.	
b)	 (	 )	 II,	apenas.	
c)	 (	 )	 I	e	III,	apenas.	
d)	(	 )	 II	e	III,	apenas.	
e)	 (	 )	 I,	II	e	III.	
FONTE: Disponível em: <file:///C:/Users/Win8/Desktop/16_TEC_GESTAO_HOSPITALAR.pdf>. 
Acesso em: 6 maio 2015.
5 DIVERSOS ATENDIMENTOS EM SAÚDE 
Para	 desenvolver	 a	 política	 pública	 de	 saúde	 é	 preciso,	 inicialmente,	
diagnosticar	a	condição	de	saúde	da	população	brasileira.	Segundo	as	informações	
divulgadas	pelo	Ministério	da	Saúde,	a	estimativa	de	vida	do	brasileiro	aumentou	
para	72,7	anos	em	média,	passando	a	viver	mais	tempo;	em	contrapartida,	a	taxa	
de	natalidade	decresceu	de	6,2	filhos	por	mulher	nos	anos	60	para	1,8	filhos	por	
mulher	até	2009.	
Nesta	perspectiva,	constatamos	que	a	população	no	Brasil	está	envelhecendo,	
as	pessoas	vivem	mais	tempo	e	nascem	menos	crianças;	e	o	índice	de	mortalidade	
aumentou	devido	a	doenças	crônicas	que	afetam	79,1%	dos	idosos	de	65	anos	ou	
mais.	 Segundo	Mendes	 (2012,	 p.	 34-35	 apud	ZETSCHE,	 2014,	 p.	 21),	 “Ademais,	
31,3%	da	população	geral,	em	torno	de	60	milhões	de	pessoas,	têm	doenças	crônicas,	
e	5,9%	dessa	população	total	têm	três	ou	mais	dessas	doenças	crônicas”.
Diariamente,	 o	 SUS	 presta	 atendimento	 a	 milhares	 de	 usuários	 que	
furtivamente	adoecem,	necessitando	de	intervenção	médica,	realização	de	exames,	
cirurgias	e	internações	em	hospitais;	são	considerados	atendimentos	de	problema	
agudo,	pois	quando	solucionado,	o	paciente	é	liberado.	Para	o	atendimento	de	
gestantes	ou	usuários	de	drogas,	álcool	e/ou	portadores	de	doenças	sexualmente	
transmissíveis,	que	necessitam	de	acompanhamento,	é	requerido	o	agendamento	
da	consulta.	
O	 atendimento	 a	 domicílio	 feito	 pelo	 médico	 da	 Unidade	 Básica	 de	
Saúde	visa	atender	a	pessoas	 impossibilitadas	de	deslocamento	em	virtude	de	
graves	acidentes,	por	exemplo.	São	realizados	os	procedimentos	mais	comuns	de	
recuperação,	por	meio	de	curativos	e	fisioterapia;	além	destes,	também	se	inclui	
aqui	o	atendimento	a	pacientes	acometidos	das	doenças	ocupacionais	como	LER	e	
DORT,	o	que	leva	um	grande	número	de	trabalhadores	à	incapacidade	funcional.	
TÓPICO 2 | POLÍTICA PÚBLICA DE SAÚDE
187
No	 entanto,	 muitos	 atendimentos	 seguem	 uma	 inversão	 do	 modelo	
de	atenção	à	 saúde,	 “[...]	demandado	pela

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