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CÍCERO Dos Deveres

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Dos Deveres 
·~~-­
_.jf. 
Martin:; Fonte:; 
DOS DEVERES 
Cícero 
Tradução 
ANGÉLICA CHIAPETA 
Revisão da tradução 
GilSON CESAR CARDOSO DE SOUZA 
Martins Fontes 
São Paulo 1999 
Titu/Q wl.ginol· DE OFFICIIS. 
Copy1 ight C Liwt>ria Martins Fonr<S Editora Uda., 
S/io Paulo, 1999, para a p>~stnf< <dição. 
l' edição 
julho de 1999 
TraduçAo do latim 
ANGÉLICA CHlllf'ETA 
Jll.e>isã<> da tradoçln 
Gilso" Cesar CaFdoM de Sou'a 
Tn.duçlo dn aparato crftlco 
Gilson Cesar Cardoso de Sou•a 
RevloOo gnlifica 
Sa1!dra R<gi"" de SO"-"<' 
Ana Maria de OtiW!ira Me,,U,s Barbrua 
Produçio gdir"'a 
Ge~"fJida Alvos 
Fntolltoo 
Studio3 De><m'<'Mrn<moEdito>-ial {6957-7653) 
Dados lnlemaciooais do ~"" Puhli<açio (C!P) 
(Cãmara Br""lleira do Liv111, SP, B""'il) 
Clcero, Ma= Túlio 
Dos devere> 1 Cícero o (mtdu;lio do latim Angólica Chi>pota ~ 
r<v!.IOlo da !raduç~ Gilson Cósar Cardoso àc Souza]. -Silo Paulo : 
MortillS Fomes, 199-9. - (Clássico>) 
Titulo <niginal: De officik 
Edi<;lo bilín~ne: fra:m:l!•·lllim. 
Bibliografia. 
ISBN 85-336-1074-2 
L Filo•o!ia antigo 1. Titulo. n. Série. 
99-2850 
lndi<eo para <atálogo slilemó:!oo: 
1. F!looo!iaant~ 180 
CDD-180 
Todos os dio·eiws para a lfnguaponugue;a 1-eservados ll 
Livraria Mal'li1u Fontes Editora Lldt.. 
Rua Conselheiro Ramalho, 3301340 
01325-000 Sáo Paulo SP Bmsil 
Te/. (011) 239-3677 Fax (011) 3105-6867 
e-moi!: info@martinifontes com 
http://www.WUJrtinsjomes.com 
indice 
Introdução ................. ........ ,.................................... VII 
Cronologia .............................................................. XXXV" 
Sumário das doutrinas das escolas belenfsticas... XLI 
Bibliografia ... ........................... . 
Sinopse .................................................................... . 
Livro 1... 
Livro 11. 
DOS DEVERES 
Livro III ............................................. .. 
Notas biográficas ......................... . 
XLV 
UII 
3 
79 
127 
185 
Introdução 
O autor 
!Vlarço Túlio Cícero nasceu em 106 a.C. e era, assim, 
exatamente da mesma idade de Pompeu e um pouco mais 
velho do que César, o Ditador. Membros da última geração 
da República Romana, os três sofreram morte violenta na 
década de 40, quando a própria república agonizava com 
a guen"a civil. ;>ompeu dissera em público que, sem o ser-
viço prestado por Cícero à sua pãtria como cônsul, não te-
ria havido uma Roma para testemunhar seu terceirO triunfo 
(De off., 1.78); César escreveu sobre a contribuição de Cíce-
ro para as Letras Latinas: "Ganhaste !curas maiores do que 
a coroa triunfal, pois faç2.nha maior é ter estendido as fron-
teiras do gênio romano que as do império de Roma" (Plí-
nio, Hist. nat., \111.117). E eles eram os dois maiores gene-
rais num Estado que admirava, acima de tudo, a vitória e a 
conquista militar. Que feitos de política e ·eloqüência teriam 
merecido tal louvor, tal lisonja? 
Diferentemente de seus contemporâneos, Ocero era 
um "homem novo", o primeiro da sua família a ocupar um 
cargo público. Veio de Arpino, província que gozava da ci-
dadania romana desde 188 a.C. e, aré então, só produzira 
um grande general e homem público, Caio Mãrio, que sal-
vara Roma ameaçada por urna invasão bárbara vinda do 
vrr 
---------Dos deveres ________ _ 
Norte, na década do nascimento de Cícero.
1
0s Ckeros eram 
aristocratas locais, proprietários de terras, com tempo para 
o lazer, educados e envolvidos na política local. O avô de 
Ckero atraiu a atenção em Roma pelo seu empenho conser-
vador, opondo-se ã introdução do voto secreto em Arpino. 
Seu pai, doente e, assim, limitado às pesquisas eruditas, obs-
tinava-se no entanto em dar a seus dois fllhos, Marco e Quin-
to, o mais novo e menos talentoso, as oportunidades neces-
sárias para entrar na vida pública romana. Levou-os a Roma 
onde, na casa do grande orador Lúdo Licírtio Crasso, foram 
confiados aos melhores professores de retórica. 
No mesmo período, Cícero teve seu primeiro contato 
com o direito e a filosofia, encontrando, entre outros, o es-
tóico Diódoto, que mais tarde iria viver e morrer em sua 
casa, e Filon de Larissa, o diretor da Academia de Platão 
em Atenas, que fugiu para Roma em 88 a.C. por ocasião da 
invasão do rei Mitridates do Ponto. Cícero foi então para a 
Grécia em 79-77 para continuar seus estudos de retórica e 
filosofia. Quando disse, no De officiis, que a filosofia não 
foi apenas um grande interesse de juventude (11.4), mas a 
fonte de suas realizações na vida ?ública (1.155), pensava 
na importância dessa disciplina na formação de um orador. 
Diódoto ensinou-lhe dialética; os peripatéticos, que desen-
volveram a teoria da retórica, ensinavam a argumentar em 
defesa dos dois lados de uma causa; os acadêmicos ensina-
vam a refutar todo e qualquer argumento. Esses últimos fo-
ram os mais importantes para Cicero. Durante suas viagens, 
ouviu dois filósofos carismáticos. Antioco de Ascalão e Po-
sidônio, o polimata, mas permaneceu essencialmente fiel 
aos primeiros ensinamentos céticos de Fílon, rejeitando a 
possibilidade de um conhecimento certo e afirmando seu 
direito de adotar a posição que lhe parecesse, em cada oca-
sião, mais persuasiva (11.7; 111.20; cf. 1.2; 1.6). 
Cícero fez sua estréia nos tribunais durante a ditadura 
de Süa (11.51). Depois de retomar a Roma, foi eleito para 
Vlll 
_ __________ Introdução __________ _ 
~cu pnmeiro cargo público, o de questor ou oficial de fi-
:l~::-:ças. na Sicília. Seis anos mais tarde, acusou o cúpido 
~ç\·emador Verres, em defesa da ilha (11.50). Voltou para 
:J.SS'.:.mir o cargo de edil, no qual promoveu os esperados 
t:-Spetáculos públicos, mas com pouco gasto; apesar dessa 
n~oC,eração, diz-nos ele, superou outros candidatos e ele-
gcc:.-se para dois altos cargos, com a idade mínima exigida 
di. 59). Tomou-se, assim, pretor com 40 anos de idade e 
·:ô'lsul com 43. Foi um feito notável para um homem de 
suas origens. 
O consulado de 63 a.C., no qual ofuscou completa-
mente seu colega, foi o ápice de sua carreira. Não deseja-
va comandar exé::citos nem governar uma província do im-
;:oério, embora, alguns anos mais tarde, quando mandado 
para a Cilícia, tenha executado conscienciosamente seus 
deveres administrativos, judiciais e até militares, enquanto 
trabalhava para conseguir seu pronto retorno a Roma. As 
pretensiosas alusões a seu consulado, que adornam todo o 
livro do De officiis (1.77; II.84; 111.3), dão apenas uma páli-
da idéia da importância que Cícero atribuía a ele. Cele-
brou-o em grego e latim, em prosa e verso, "não sem cau-
sa, mas sem fim", como Sêneca mais tarde observou. De 
fato, a conspiração de Catilina, que o próprio Cícero pro-
Yocou ao frustrar tanto as propostas radicais de perdão de 
dívidas quanto as ambições eleitorais do patrício Catilina, 
e que ele desmascarou e impediu, certamente teria signifi-
cado derramamento de sangue e revolta social. Cícero foi 
míope ao ignorar queixas genuínas em Roma e na Itália, 
m.as não mostrou falta de coragem ao enfrentar as conse-
qüências. 
Sua pror..ta ação, que incluiu a execução de cidadãos 
romanos sem julgamento, provocou repulsa em alguns se-
tores, e Pompeu, embora pronto a louvá-lo, nada fez para 
impedir que o tribuno Públio Clódio o exilasse em 58. Em 
retrospectiva, viu sea sofrimento como o de um patriota 
IX 
--------- Dosd!WI!res ________ _ 
mártir (11.58), embora Pompeu conseguisse seu regresso no 
ano seguinte. 
Havia, na verdade, a sensação de que a mudança de 
fortuna de Cícero estava ligada à de Roma, pois a aliança 
politica de Pompeu, César e Crasso, formada em 60, não 
apenas restringia a influência de homens como Cícero, mas 
também submetia ã coerção militar as instit .. üções da Repú-
blica Romana - as assembléias populares que elegiam e 
legislavam, os magistrados que as integravam e o Senado, 
composto de ex-magistrados, que provi2. o único elemento 
de continuidade da orientação política. 
Cícero confidenciou certa vez ao irmão que seu consu-
lado fora a realizaçãodo sonho platônico do governante filó-
sofo (Qjr., I.I.29). Agora, impedido de auxiliar Roma como 
homem público, contentou-se em instruí-la na retórica e na 
filosofia política, escrevendo diálogos inspirados nas obras-
primas literárias de Platão. Depois de seu governo e subse-
qüente envolvimento na guerra civil ao lado de Pompeu, 
Cícero foi perdoado por César, então ditador, e retomou sua 
atividade literária. Com a derrota da causa republicana, sen-
tiu que a atividade política independente e, portanto, hon-
rosa, estava encerrada para ele (De qff, 11.2). 
Cícero voltou-se para a filosofia em parte porque ela 
proporcionava distração e consolo, que se tornaram parti-
cularmente necessários depois da morte de sua amada fi-
lha l'úlia, em fevereiro de 45. Era também um uso hones-
to de seu lazer para o bem público (De off., I1.4-6) e um 
desafio que poderia honrar a ele e a Roma. O desafio era in-
corporar à alta cultura latina mais uma criação grega, pro-
vavelmente a mais difícil de todas, uma vez que os roma-
nos, por sua visão do mundo e por sua língua, ofereciam 
resistência ao pensamento abstrato. Os romanos reconhe-
ceram desde o princípio a superioridade da cultura grega 
e já haViam tido algum sucesso ao criar uma literatura ba-
seada nas formas e na métrica poética gregas. O próprio 
X 
----------Introdução----------
C:cero elevara a oratória romana à altura da melhor orató-
ri3. grega. Quanto à filosofia em latim, porém, as tentativas 
:i:cham sido poucas. 
Entre 46 e 44 a.C., Ckero não só aumentou ·o número 
de seus trabalhos sobre retórica como criou algo parecido 
;"l uma enciclopédia da filosofia helenística, cobrindo epis-
temologia nas Academica, ética no De finibus e filosofia 
r:8.tural no De natura deorum. Nesses diálogos, sente-se o 
sopro de uma Academia Cética, pois neles os porta-vozes 
d:-.s maiores escolas filosóficas apresentam seus pontos de 
\·ista e são submetidos a uma crítica minuciosa. Cícero, po-
rém, usou da licença que sua seita lhe concedia e produ-
ziu, sobre assuntOs específicos, mais obras dogmáticas, das 
quais o De offictis é a última. 
O contexto político do De officiis 
O grande evento que lança sombra sobre o De officiis 
é o assassinato de César nos idos de março de 44 a.C. Cí-
cero esforça-se não apenas para justificar o feito, repetidas 
vezes, como tiraniddio (IL23-8; III.19; III.32; 111.82-5), 
como nunca perde oportunidade de acusar César, nominal 
ou anonimamente, por suas ambições ilegítimas, sua dema-
gogia, sua rapacidade em relação aos proprietários (1.43; 
II.20; II.83-4; III.36) e o tratamento severo que deu aos ini-
migos e súditos de Roma (1.35; II.28; III.49). Embora as car-
tas particulares de Cícero mostrem que ele, às vezes, adota-
va uma visão mais realista a respeito dos problemas que 
César enfrentava e dos objetivos que alimentava, elas tam-
bém mostmm que o tempo todo, antes, durante e depois 
da ditatura, Cícero acreditava que César cobiçava o poder 
tirânico (e.g. Att., X.l.3; X.4.2; X.8.6) e estava inclinado a me-
didas sociais e econômicas revolucionárias. Também des-
confiava da propalada clemência de César. 
XI 
------------~---Drudeoo~-----------------
A tragédia foi que, na visão de Cícero e seus amigos, 
os idos de março não restauraram a república. Os "libertado-
res" não acharam necessário dar nenhum passo a mais ou 
sequer convocar o Senado como Gcero aconselhara. Ten-
do Antônio assumido a f.mção de cônsul, foi declarada a 
anistia e abolido o cargo de ditador - mas as medidas do 
ditador morto foram mantidas e os planos dele, implemen-
tados. Os dois principais tiranicidas, Bruto e Cássio, assu-
miram o cargo de pretor mas estavam, na verdade, com 
medo de permanecer em Roma. Então, em abril, chegou ã 
Itália o sobrinho-neto de César, Otaviano. um fonnidável 
rival para Antônio porque contava com ~s simpatias dos 
veteranos e adeptos do ex-ditador. Antônio, arrastado a me-
didas mais e mais extremas de autopreservação, tornou-se 
aos olhos de Cícero o real inimigo que os tiranicidas deve-
riam ter eliminado juntamente com César e cujos assassi-
nos, de igual modo, mereceriam louvor e glória. 
O modo pelo qual Cícero expressa sua incerteza e an-
siedade quanto ao destino da República Romana no De 
officiis apresenta um padrão já reconhecível em suas cartas 
e outras obras do período. Cícero pensou, naquele momen-
to e depois, que a paz comprada com concessões a César 
em 49 tinha deixado a república viva, embora debilitada 
(L35; cf.. Fam., VI.1.6); mesmo durante a guerra civil, acre-
ditou que uma paz temporária sob os auspícios de César 
vitorioso preservaria a república, que fora abalada, mas ain-
da se mostrava suficientemente forte para renascer (Fam., 
XV.lS.l; IX.6.3; VI.10.5). Logo após os idos de março, ele 
afirmaria ter acreditado sempre que o período de governo 
por um único homem era meramente uma fase em um 
cido de constituições, como descrito na República de Pla-
tão (Diu., 11.6-7). Contudo, durante a guerra entre Pompeu 
e César, durante a ditadura e, na verdade, mesmo antes, ele 
declarou que a república estava perdida (e.g. Att., IX5'.2; 
IX.7.J..; Fam., VI.21.1)- um modo exagerado de expressar 
XII 
----------- Introduçilo __________ _ 
dÇ5:lpontamento com sua condição presente. De medo si-
::r.Jar, no De officiis, Cícero sustenta, por um lado, que não 
o:-xiste absolutamente res publica (1.35; 11.3) ou refere-se ã 
'~"!:'5 publica como perdida, decaída, derrotada ou assassina-
.::12 (II.29; Il.45; III.4; 111.83); por outro, exorta seu filho 
~~arco a seguir seus próprios passos (II.44; III.6; cf. 1.4); en-
:;:na-o a obter sucesso em um sistema político republicano, 
on-de a glória militar, a eloqüência forense, o conhecimento 
j;,::1dico e a liberalidade política poderiam tomar Um ho-
n:.:':::n merecedor de fama, influência e poder (Lll6; II.45-51; 
ILSS-60); e considera um dever daqueles que são talhados 
para a vida pública suportar os trabalhos e os riscos políti-
cos envolvidos (1.71). Quando encontramos, no De officiis, 
quei.xas a respeito do fim da eloqüência e da jurisprudência 
:JI.65-7), combinadas com afirmações sobre a importância 
de ensinar ambas (II.47; II.49; II.65 fin.), lembramo-nos do 
Brutu.s, escrito sob a ditadura, no qual Cícero expressou uma 
triste resignação ante a morte da eloqüência (21-2) e da 
j:.rrisprudência Cl57), embora concluísse esperando o resta-
belecimento da res publica e exortando Bruto a redobrar 
esforços para distinguir-se na oratória (332). 
Essas contradições não são nem sinais de irracionalid.a-
de em Cícero nem, simplesmente, o resultado da hipérbole 
retórica. ~o De officiis, como no Brntus(l57), elas refletem 
o fato de Cícero considerar temporária e transitória a situa-
ção política presente; ele fala de "interrupção" - para não 
dizer destruição- da eloqüência (11.67) e refere-se ostensi-
,-amente ao periodo da ditadura de César nos seguintes ter-
t:.10S: "A liberdade devolve a mordida mais violentamente 
quando suspensa do que quando imperturbada" (11.24). Em 
-±6, soube que havia um vilão, César, que deveria ser remo-
·ddo; logo após a remoção dele, acusou certos homens, An-
cônio e seus seguidores, de retomarem a política e os con-
:'iscos de César (11,23; II.28), sua autocrática e agressiva 
forma de governo UI.22-3; 11.65; IE.l) e o mau tratamento 
XIII 
--------~Dos deveres---------
dispensado aos súditos de Roma QII.49). Estavam decidi-
dos a destruir Roma, como outros o haviam tentado outro-
ra (1.57). Mas aqueles haviam falhado e o mesmo ocorreria 
com estes. Embora Cícero ocasionalmente reflita sobre o 
motivo de os homens sujeitarem-se por medo e ganância 
ao poder de outrem (IT.22), ou sobre um modo de vida em 
que o patronato exercido pelas classes dominantes levaria 
à procura dos favores dos poderosos (11.67), continuou a 
olhar como norma a situação na qual pessoas como ele 
próprio e seu filho são os alvos e não os autores de lison-
jas (L91), exceto quando tentam fazer-se demagogos (II.63). 
Para ele,a república era uma força muito vital para extin-
guir-se tão rapidamente. 
A complexidade da situação política, como Cícero a 
apresenta no De officiis, iguala a complexidade de sua pró-
pria posição, como a retrata em suas cartas. Em abril de 44 
a.C., antes de Otaviano chegar à Itália, Cícero percebeu 
que não havia mais lugar para si na política (Att., XIV.6.2). 
Mesmo antes dos idos de março, planejara ir à Grécia para 
supervisionar a educação de seu filho; mais tarde J?'..ldou 
de decisão, pensando que talvez pudesse assessorar Bruto. 
Teve momentos de esperança como na ocasião em que seu 
genro Dolabela reprimiu manifestações favoráveis a César 
(Att., XIV, 19.1). Mas em julho, depois de esperar acompa-
nhar Bruto e assim fazer de sua viagem uma aventura peri-
gosa e patriótica (Att., X\11.44.4), finalmente partiu sozinho. 
Regressou Jogo, impedido por ventos contrários e quando 
t:..m compromisso entre Antônio e os "libertadores" parecia 
iminente (Att., XVI.7; Fam., X.l.l). No último dia de agos-
to entrou triunfalmente em Roma (Fam., XII. 253) e, dois 
dias depois, pronunciou no Senado o primeiro de seus ata-
ques contra Antônio, As orações filípicas, que lhe acabaram 
acarretando a proscrição e a morte. Da quarta oração, pro-
nunciada em 20 de dezembro de 44, Cícero escreveu de-
pois que ela havia despertado a esperança de liberdade e 
XIV 
_____________________ Introdução ____________________ _ 
reforçado os alicerces da república (Fam., XII.25.2). Ape-
sar dos momentos de desespero, não fraquejou novamente 
e teve a coragem de executar sua malconcebida política de 
derrotar A...1tônio a todo custo. O homem que escolheu 
para a tarefa era mais competente e mais perigoso: Augus-
to. Mas mesmo Augusto, fundador do Principado, precisou 
depois levar em conta o assassinato de César e a crença 
passional na república, pela qual Cícero e outros haviam 
morrido, e revestiu sua autocracia com esses trajes desbo-
tados. 
Os pressupostos políticos do De o.fficiis não são, entre-
tanto, irrealistas, pois aquele era um tempo de genuina am-
bigüidade política e a preocupação da obra com a dificul-
dade da decisão moral acompanha de perto a correspon-
dente ambigüidade moral que os indivíduos enfrentavam. 
Até seu amigo e confidente Ático, mais cauteloso e menos 
volúvel que ele, vacilou em suas posições políticas; mudou 
de ooinião sobre o caminho que Cícero devia tomar e pe-
diu-lhe conselho a propósito de sua própria conduta (Att., 
XVI.7.3; XVI.13.4). Como em 49, as cartas pessoais de Cíce-
ro mostram-no agora empregando, em suas deliberações, 
os mesmos conceitos de que tratara no De officiis. "hones-
tum", "decon>tm", "tu1pe", "utile", "incorntn.Odum", "officium". 
Rejeita a solução epicurista de permanecer fora da política, 
mas não encontra um modo de participar (Att., XV.2.4). Ele 
e Ático procuram consolo no tema da morte como refúgio, 
discutido nas Tusculanae disputationes (Att., XV.2.4). Cícero 
examinava a conveniência do suicídio, a solução de Catão, 
no seu próprio. caso (Att., XV.20.2). E quando escreve a 
Ático em agosto de 44 sobre a firmeza de propósito (con.s-
rantia, que para ele é um importante conceito estóico) -
"Nos numerosos escritos sobre o assunto, nenhum filósofo 
jamais comparou a alteração de plano à falta de firmeza" 
(XVI.7.3) -, lembramo-nos do que ele disse no De o.fficiis 
I.112 relativamente à conduta de Catão e outros na guerra 
XV 
'(c 
:t 
----------------------~de~r~----------------------
civil, ou em !.120 sobre o modo correto de efetuar uma mu-
dança necessária de carreici. 
A composiçilo do De officlis 
Os nexos entre a correspondência remanescente de 
Cícero e o De officiis também revelam com exatidão por 
que, quando e como Cícero resolveu-se a escrever a obra. 
Nos quatro primeiros capítulos, pelo menos, bem como 
na introdução do Livro III (5-6), ele explica sua escolha do 
assunto e seu modo de encarar a educação do filho de 21 
anos, a quem o ensaio é dirigido. Cartas a Ático deixam cla-
ro que Cícero de fato planejou a obra para o jovem Marco: 
"Estou endereçando o livro a Marco. De pai para ftlho, que 
tema haveria melhor?" (Att., XV.l3a.2; cf. XV1II.li.4). Marco, 
segundo filho de Cícero e único varão, esteve em Atenas 
por um ano estudando oratória e filosofia, havendo muitos 
testemunhos, nas cartas da preocupação do pai com o pro-
gresso de sua educação. Escreve a Ático sobre as bem redi-
gidas cartas do filho (Att., XIV.7.2, XV.l6.1; cf. Quint. 
1.7.34), bombardeia seus professores com pedidos de infor-
mações (Att., XIV.l6.3; XIV.l8.4) e mostra-se francamente 
persuadido pelos amigos e pelo próprio Marco de que 
pode esperar dele grandes coisas (Fam., XII.l6.2; X\11.25). 
Tudo isso está bem de acordo com o que Cícero diz no De 
officiis: Marco serã capaz de praticar seu latim lendo as dia-
tribes filosóficas de Cícero (I.l; 1.2); ele deve satisfazer as 
expectativas criadas por sua educação e sua ascendência 
ilustre an.6). 
No último capítulo, Cicero esclarece que o De offtciis é 
o substituto para uma visita ao fllho, a qual teria feito se 
motivos políticos não o impedissem. Sete anos antes, em 
51 a.C., Marco (então com 14 anos) e seu primo mais ve-
lho, Quinto, partiram com Cícero para a província da Cilícia 
XVI 
______________________ lnffodução----------------------
e, sob a atenta supervisão deste, os dois rapazes estudaram 
com um tutor. Agora, como revela a Ático, sente que uma 
visita a Atenas "muito faria para incentivar Marco" (Att., 
XIV.13.4). Não resta dúvida, pois, de que as palavras de 
Cícero no De o.fficiis sobre a relevância desse escrito para o 
filho são verdadeiras. No entanto, ao conservar suas cren-
ças céticas, ele se representa utilizando a doçura da razão 
mais para persuadir uma pessoa independente, capaz de 
opiniões próprias C.2; III.33; 111.121), do que para pressio-
nar um jovem comum, embora dócil, que seu primo mais 
velho considera tímido (Att., XIII.37.2). 
Mesmo o formato da obra reflete algo da relação ver-
dadeira. A circunstância de o jovem Marco estar estudando 
com o filósofo peripatético Crapito, enquanto Cícero se 
abebera nos estóicos, deveria sugerir o formato do diálogo, 
com o fllho defendendo a posição peripatética contra o 
pai. Mas Cícero insistia sempre em adequar os papéis aos 
interlocutores, não obstante a liberdade permitida pelas 
convenções do diálogo literário. Na pequena obra sobre 
oratória escrita pouco antes, Partitiones oratorlae, permi-
tiu-se a Marco interrogar como um garoto de escola; no De 
officiis, Cícero trata-o como um estudante dotado de idéias 
;xóprias, mas deixa claro que ele ainda não estava tão pre-
;:>arado para discutir filosofia com o pai quanto para ouvi-
lo (III.l21). 
A inspiração literária para essa "orientação e conse-
lho", que o jovem Marco deve conservar juntamente com 
seus apontamen~os das aulas de Cratipo (1.4; Iii.121), é,- de 
fato, o gênero "caroa a um filho". Cícero cita vários exem-
plos, incluindo mensagens de instrução e reprovação do 
rei Filipe a Alexandre (11.48; 11.53) e uma carta de adver-
tência de Catão, o Antigo, a seu filho (1.37). O tom de orien-
tação pessoal, encorajador mas firme, é constante: bem no 
meio de um argumento, o jovem Marco recebe a lição de 
que os feitos civis são melhores que os militares. Tais feitos 
XVII 
----------Dos deveres _________ _ 
são ilustrados por uma parcela da autobiografia paterna, 
complementada por uma despudorada gabolice (1.77-8). 
No aspecto filosófico, a importância para o destinatário se 
faz clara na deferência para com suas inclinações peripaté-
ticas (e.g. 1.2; 1.89; II.56-57; 111.33). Cícero prefere exortá-lo 
em termos estóicos porque isso estabelece um padrão mais 
elevado (III.20). 
O De officiis não é, entretanto, nem um trato geral dis-
farçado de colóquio pessoal (como o Panfleto sobre a can-
didatura a um cargo), notoriamente endereçado a Cícero 
por seu irmão Quinto, nem uma peça de aconselhamento 
pessoal disfarçada de ensaio geral (como a cartasobre a 
arte de governar uma província, destinada a Quinto por Cí-
cero, Qfr. I.l). É um trabalho feito ao mesmo tempo para 
I\1arco e para outros, especialmente os jovens romanos da 
classe governante. Em outra obm filosófica do período, 
Cícero acalenta a esperança de estar ajudando a instruir a 
juventude de Roma (Dív. !1.4-5) e, no De officiis, freqüente-
n:ente esclarece que tem em mente aqueles que precisam 
decidir sobre seu próprio modo de vida, e aprender a partir 
da advertência e exemplo de um homem mais velho (e.g. 
!.E7; 1.121; 1.147; II.44-51). É importante considerar aqui a 
crença romana no respeito à idade, na imitação de um feito 
ancestral (II.44) e na aprendizagem prãtica da vida pi:blica 
(H.46). Assim, Cícero pensa não só no filho como em ho-
mens do tipo de seu genro Dolabela (cf. Att., XIV.17a) e seu 
sobrinho Quinto, sem dúvida mais talentoso que Marco 
(Att., VI.1.12; X.2.3; X.12a.4), mas facilmente manipulável 
em política, primeiro por César e depois por Antônio (Att., 
X.7.3; XIV.17.3). Apenas alguns meses antes de Cícero com-
por o De officiis, escreveu sobre seu sobrinho a Ático: "Tão 
completa foi a mudança produzida nele por certos escritos 
meus que trago de memória, e por constantes conversas e 
aco:cLSelhamentos, que sua postum política no futuro talvez 
seja aquela que desejamos" (Att., XIV.5.2). Os "escritos" são 
XVIII 
-----------Introdução __________ _ 
provavelmente o De gloria, obra perdida que, como o pró-
prio De officiis, combinava a chamada instrução política e 
moral, sobrepondo-se quarto ao assunto à última obra, 
como Cícero declara expressamente (11.31). Sem dúvida, 
Cícero acreditava que esse ensinamento ftlosófico deveria 
ter efeito benéfico, particularmente nos jovens. 
Parece natural, pois, não só que Santo Ambrósio, ao 
escrever uma obra de aconselhamento moral para jovens 
sacerdotes que considera seus ftlhos, haja tomado o De 
offíciis de Cícero como modelo apropriado, mas também 
que Maquiavel, na composição do Príncipe(um manual de 
aconselhamento político para os politicamente ambicio-
sos), considerasse a mesma obra como um rival merecedor 
de ataques (caps. 16-18). Pois, como veremos novamente, 
os jovens que Cícero leva em conta de modo especial são 
aqueles cuja posição na sociedade os autoriza, e na visão 
dele obriga, a tentar a carreira política. 
É possível datar a composição do De officiis com ra-
zoável precisão. i'\o começo do Livro I, tomamos conheci-
mento de que Marco já está em Atenas há um ano. Cícero 
escreve depois de !.. 12 de abril de 44 a.C., pois uma carta 
sobre o assunto gmve da pensão anual do filho t,_"az a data 
em que findot.J o primeiro ano letivo de Marco (Att., 
XV.l5.4). Exatamente no fecho da obra, Cícero alude à sua 
fracassada viagem a Atenas para visitar o filho, e as cartas 
mostram que embarcara para a Gréci:o, em 17 de julho (Att., 
XVI.6.2; XV17.2). Finalmente, as cartas nos permitem datar 
a situação de Cícero, descrita em 111.1 como uma contínua 
mudança de vila para vila em vi~de do medo à violência 
dos inimigos, de meados de outubro a 9 de dezembro, 
depois de seus primeiros discursos contra Antônio (Fam., 
XII.23.4; Att., 13a.2; Fam., XI.5.1). A confirmação vem de 
duas cartas a Ático sobre o próprio De officiis. A primeira 
CAtt., XV.13a.2), escrita da vila de Cícero em Putéolos (ou 
talvez Cumas) por volta de 28 de outubro, fornece o assun-
XIX 
_________________ nwM~-----------------
to de sua obra em grego e promete que "haverá trabalho 
para justificar minha ausência"; a segunda, enviada domes-
mo lugar em 5 de novembro (XVI.H.4), revela que ele se 
valeu de uma obra do filósofo Panécio, sobre aquele mes-
mo assunto, para redigir e completar os dois primeiros li-
vros do ensaio. Portanto, os livros I e II foram terminados 
entre 28 de outubro e 5 de novembro de 44. 
Na segunda carta, Cícero confidencia a Ático que sus-
pendeu a composição da obra enq"J.anto aguarda material 
ftlosófico grego que, segundo espera, ajudá-lo-á no tópico 
desenvolvido no Livro III. Vm dos trabalhos solicitados por 
Cícero chegou finalmente em meados de novembro (Att., 
XVI.l4.4). Ele volto·c~ a Roma em 9 de novembro e logo se 
envolveu na política. Mesmo se aceitarmos que Cícero co-
meçou a escrever antes de outubro, burilou os livros I e H 
enquanto esperava pelo novo material e fez revisões de-
pois de regressar a Roma, não poderemos f..lgir à conclu-
são de que o De officiis foi elaborado rapidamente, consi-
derando-se sua extensão e complexidade. 'C'm certo des-
cuido :u estrutura e no argumento, a tendência ã repetição 
e, ocasionalmente, ã irrelevância podem estar ligados a esse 
fato. Alguns estudiosos, entretanto, têm ido além e sugeri-
do que, em tempo tão curto, Cícero não poderia ter feito 
mais que transcrever suas fontes gregas. 
No De officiis, Cícero usou de sua licença de cético aca-
dêmico para adotar os argumentos que considerou, naque-
le momento e sobre aquele assunto, os mais convincentes. 
Esses argumentos eram os da Stoa (III.20). Recorrendo aos 
escritos estóicos, diz ele, preservou o direito de exercer seu 
tirocínio e sua capacidade crítica: não estava meramente tra-
duzindo-os ou expondo-os. A obra que Cícero seguiu de 
perto foi o famoso tratado Sobre o dever (Feri toa kathékon-
tos), de ?anécio, o aristocrata ródio que viveu de aproxima-
damente 180 a 109 a.C., visitou Roma, foi professor e cola-
borador intelectual de Cip!.âo Africano Emiliano e tomou-se 
XX 
-------------------Introdução----------
chefe da escola estóica de Atenas por volta de 129 a.C. Seu 
~atado, escrito cerca de trinta anos antes de sua morte (111.9), 
portanto em 140/39, já tinha quase um século, mas Cícero 
ainda o preferiu a outro mais tardio e mais amplo, de He-
catão, discípulo de Panécio (III.63; 111.89). Cícero podia es-
perar que seu amigo Ático e seus leitores em geral tivessem 
ouvido falar dele, a julgar pelo modo abrupto com que se 
refere ao tratado, mas talvez não que co11.I.1.ecessem sua 
estrutura a fundo (Att., XVI.2.4); (OjJ., 1.7). Dois séculos 
mais tarde, ainda era lido e admirado (Gélio, NA, XIII.28), 
mas infelizmente não chegou até nós, e o pouco que dele 
sabemos vem do próprio tratado de Cícero. 
Panécio aparentemente versou o assunto com mais 
minúcia do que Cícero, o qual condensou os três livros de 
seu modelo em dois (III.7; 11.16). Além disso, o tratado de 
Panécio ficou inacabado. Cícero devia sabê-lo desde o iní-
cio, pois, ao explicar a Ático sua necessidade de material 
para o Livro III, informa que já havia solicitado uma obra, 
sobre o assunto, de Posidônio, discípulo preferido de Pané-
cio, e pedido a um filósofo estóico contemporâneo um re-
sumo, ao que parece da mesma obra (Att., XVI.2.44). 
Esse defeito da obra de Panécio, para Cícero, seria so-
brepujado pelos méritos que a recomendavam a leitores 
gregos e rorr..anos. Panécio tinha estilo mais agradãvel que 
muitos dos estóicos (De Jin., IV.79) e desejava dar conse-
lhos práticos a homens bons, mas não sábios (Fin., IV.23; 
Sêneca, Ep., II.6.5). Escrevendo para o público culto em ge-
ral, como nessa obra, foi feliz ao empregar conceitos mo-
rais como "bom" e "virtuoso" no sentido comum e não nas 
acepções mais restritas e elevadas dos estóicos QI.35). Tam-
bém não se interessava pela vertente cínica do estoicismo, 
que ridicularizava os eufemismos e instituições convencio-
nais (1.128; I.148). 
Ao menos para Cícero, havia ainda outras característi-
cas atraentes. Panécio, embora fosse um estóico ortodoxo, 
XXI 
----------Dos deveres _________ _ 
sofreu a influência de Platão e Aristóteles (Deftn., IV.79), e 
Cícero pretendia em sua obra minimizar as divergências 
entre a Stoa, sua própria Academia, e o ensinamento peri-
patético, que seu filho estava absorvendo . .AJ.ém disso, Pa-
nécio apresentava como "modelo vivo~ (11.76; cf. 1.90) O-
pião Emiliano, um dos heróis de Cícero ( Off., IJI.l-4) e o 
principal interlocutor no De re publica, em que sua oposição 
a Tibério Graco, um dos vilõesdo De officiis (1.76; I.l09; 
:ii.43; II.SO), é celebrada. Mais importantes, porém, que os 
pontos de vista de Panécio eram os interesses que ele par-
tilhava com Cícero. Panécio esmiuçou os deveres dos polí-
ticos, homens que pleiteavam nos tribunais (ll.Sl) e dota-
vam edifícios públicos (E.60). Antecipou Cícero ao discutir 
exaustivamente os meios de conseguir reputação e apoio 
polftico negligenciando vantagens mais comumente admiti-
das, como a saúde e a riqueza (II.86; cf. 11.16). Também su-
gestiva é a resposta de Ático à proposta de Cícero de tradu-
zir a palavra grega para "dever" como "o.fficium", pergun-
tando-lhe se ela se aplicaria à vida pública tanto quanto à 
esfera privada (Att., XVI.14.3). Ático pôde responder ape-
nas com base no que sabia da obra de Panécio, pois não 
havia lido uma palavra da de Cícero. 
Quanto ao material de Posidônio que Cícero solicitou, 
revelou-se escasso e desapontador (III.8). Embora fosse útil, 
como ele esperava, para tratar dos deveres em circunstân-
cias particulares, relevantes para o Livro III, Cícero declara-
se insatisfeito com todo o material que reuniu para a obra, 
razão pela qual se voltou para suas próprias fontes (III.34). 
Estudiosos têm, no entanto, afirmado a dependência 
de Cicero em relação a Posidônio. Mais: até com respeito 
aos livros I e II, nos quais estamos em chão fume, seria difícil 
saber ouâo tributário eíe é. De um lado, :nais freqüente e 
formal~ente que em qualquer outro de seus escritos filosó-
ficos, Cícero admite seu débito para com uma obra especí-
fica; de outro, Plínio, o Velho (HNpref. 22-3), elogiando Cí-
XXII 
----------Introdução _________ _ 
·:-=~o por sua honestidade ao reconhecer o que deve a fon-
-:ts gregas, compara o papel de Panécio no De qfficiisao de 
Platão no De re publica, em que apenas um tipo mais gené-
rico de inspiração está envolvido. Além disso, Cícero sem 
J:wida esperava que os leitores aceitassem sua declaração 
".Je estar recorrendo a Panécio de um modo seletivo e críti-
c:o. pois sente que é necessário dizer-lhes ãs vezes, quando 
J.presenta uma visão controversa, que se apóia em Panécio 
:~I.51; 11.60). De fato, a terminologia filosófica similar nas 
su2s cartas do período, assim como alusões a suas obras 
:'i1ais recentes sobre os principias da ética (I.6; III.120), a 
giória (II.31), a velhice (1.151) e a amizade (II.3l), sugerem 
q·~te muito do pensamento do De officiis precede o tempo 
~eal de composição. Em qualquer caso, quando considera-
mos como a obra está marcada pelos eventos contemporâ-
r'.eos e como reflete de perto os pontos de vista de Cícero 
em outras passagens, somos levados a concluir que o tra-
l:lalho de ?anécio foi por demais digerido e remanejado 
por Cícero para que separemos agora as contribuições dos 
dois autores. Em um trabalho anterior, Cícero dissera que, 
em geral, não traduzia simplesmente os pontos de vista dos 
filósofos gregos, mas acrescentava seu próprio julgamento 
e sua disposição pessoal dos tópicos (Fin., 1.5-6). A deper..-
dência específica em relação ã sua fonte, que ele reconhe-
ce aqui, pode referir-se à decisão de adotar e acompanhar 
de perto a estrutura do tra~ado de Panédo, que menciona 
.freqüentemente (e.g., I.9-::0; 11.9; 11.88; 111.7 ss.; III.33-4). 
:VIesmo nesse aspecto, Cícero acrescentou dois tópicos 
suplementares aos três que Panécio trabalhou. 
Temas e perspectivas 
Os livros do De offtcits tratam, cada qual, de um dos 
três tipos seguintes de deliberação que governam a condu-
XXIII 
--------------------D~d~~S--------------------
ta humana: a honestidade ou seu contrário; o útil ou seu 
contrário e como resolver choques aparentes entre os dois 
termos antitéticos. Os dois tópicos suplementares (como 
escolher entre dois caminhos honestos de ação e entre dois 
caminhos úteis) formam as conclusões dos livros I e li res-
pectivamente (ver Sinopse). 
O leitor moderno pode ficar chocado no começo pela 
i.cJ.clusão, de fato a proeminência, de "útil" e "oportuno" em 
um debate sobre a conduta ética. Esse enfoque não é ex-
clusivo de Cícero, mas deriva de uma caracteristica essen-
cial do pensamento ético grego e romano. Todas as escolas 
dogmáticas da filosofia grega afirmavam que o propósito da 
vida é a eudaimonia do indivíduo, palavra traduzida usual-
mente como "felicidade" ou "bem-estar", e que a chave 
para essa condição abençoada é fornecida pela natureza 
(inclusive a natureza humana). As escolas ofereciam dife-
rentes visões sobre o que fosse a eudaímonia e, portanto, 
sobre a finalidade da vida prescrita pela natureza (ver Sa-
mário). Mas mesmo para aquelas que patrocinavam a virtu-
de, tal busca não se opunha ao cultivo do auto-interesse 
propriamente entendido nem estava dele separada, pois, 
ao ocupar-se da finalidade natura~ o homem realiza sua 
natureza e alcança a ventura. Os leitores de Cícero não se 
sarpreenderiam, assim, ao vê-lo enfocar a questão do com-
portamento considerando primeiro o honesto, depois o 
útil, e esperando que as respostas concordassem em geral, 
apesar da existência de áreas nas quais as duas parecem 
estar'em conflito. 
üm modo de compreender a perspectiva particular do 
De oificiis é considerar o que Cícero omite. A obra não é 
uma discussão da natureza da ética ou dos princípios pri-
meiros da moralidade, que Cícero tentara no De finibus 
0.7; III.20). Ele recorre à doutrina estóica da identidade do 
honesto e do útil, a que dá o nome de "regra" OII.Sl), e 
compara-a aos postulados da geometria (lll.33); estabelece 
---------------------Introdução----------------------
sçm argumentar que os princípios morais acadêmicos e pe-
ripatéticos gerariam preceitos similares (1.6) e seriam com-
p-atíveis com a formula para resolver conflitos aparentes 
<ni.20); e ames censura do que refuta a doutrina epicurista 
do prazer CI.S; 111.39; UI.117-20). já que nem os princípios 
7-,f:sicos da ética são examinados, a fortiori não pode haver 
:Jm tratamento dos fundamentos metafísicos da ética, aos 
qusis todas essas escolas dão tamanho valor. 
O De oificiis trata, ao contrário, da ética prática, que 
s.conselha com base na "regra". No Livro I, o "honesto" é 
dh·idido em quatro virtudes principais, às quais nossos offir 
cfa, definidos como ações para as quais se pode encontrar 
dma justificativa convincente, estão ligados (1.15; 1.8; cf. 
LJ.Ol). Essas ações podem ser executadas pelo "homeo 
jom'· (na expressão vulgar), embora, quando o sábio as 
executa, o entendimento subjacente à escolha e a consis-
tência dos atos dê a elas um valor moral mais elevado 
OIL14). Cícero pensa primeiramente naqueles que desejam 
iazer progresso moral e que não buscarão as vantagens 
pessoais em detrimento do honesto quando realmente en-
tenderem o que é honesto e vantajoso nas ocasiões especi-
ficas (III.l7-19). Ele não se ilude com a possibilidade de 
apresentar um código de comportamento completo para 
::ada ocasião. O que ensina é como tomar decisões morais, 
como analisar diferentes caminhos possíveis de ação: nós 
deveríamos ser, diz, "bons calculadores dos nossos deve-
res'' (L59} 
O que deu a essa obra notável sobre ética prática um 
!ugar destacado na história do pensamento político, entre-
canto, é sua ênfase na moralidade social e política. Embora, 
7la apresentação, Cícero afirme que os preceitos sobre o 
dever aplicam-se à vida como um todo, o que lhe interessa 
é o comportamento dos homens em sociedade, apresenta-
Co como a condição natural e melhor da vida humana 
Tll; 1.157-60; 11.12-15). No Uvro I Cícero insiste nc.uito, na 
XXV 
__________ Dosdweres _________ _ 
breve discussão da primeira virtude, a sabedoria, em que o 
amor ao aprendizado não nos deve isolar da vida ativa. A 
virtude por ele considerada soberana é a segunda, a justiça, 
que governa o comportamento social (111.28). 
A extensa discussão devotada à justiça, entretanto, re-
vela que Cícero não está igualmente preocupado com todas 
as obrigações sociais de todos os homens. Embora mencio-
ne o nosso dever para com a humanidadeem geral U.S0-
3), declarando mais tarde que a formula que proíbe a al-
guém ter proveito em prejuízo de outrem aplica-se aí (III.30; 
111.42), também deixa claro que nenhum sacrifício material 
é requerido nesse nível (1.51-2). Ao discutir os diferentes 
graus de companheirismo e a correspondente ordem de 
prioridades das nossas obrigações (1.53-9), Cicero examina 
as obrigações familiares, as amizades, os deveres para com 
os vizinhos, os cidadãos e os indivíduos de mesma raça e 
língua, priorizando o auxílio prático aos compatriotas e, 
depois, aos pais. Entre as relações normalmente incluídas 
nas discussões romanas de tais prioridades (e.g. Gélio NA 
V.l3), a hospitalidade (hospitium) e a guarda (tutela) mere-
cem apenas breve menção (1.139; II.64; IIl.61; 111.70); o 
clientelismo é tido como uma relação tão humilhante pelos 
membros de qualquer classe social que eles prefeririam 
morrer a depender de um patronato ou ser chamados clien-
tes CII.69). A omissão das duas últimas relações, a guarda e 
o clientelismo, é sintomática da falta geral de interesse de 
Ckero pelas obrigações para com pessoas consideradas so-
cialmente inferiores. Embora afirme que temos obrigações 
até mesmo para com os inferiores, isto é, os escravos, nada 
ouvimos sobre os deveres em relação aos clientes (laços 
que poderiam estar enfraquecidos no ocaso da república) 
nem sobre os vínculos entre patrão e ex-escravo. Ouvimos 
falar tão-somente do patrocínio dos súditos de Roma e das 
cidades italianas (11.50; cf. 11.27; m.74); e a única hospitali-
dade que interessa a Ckero é a dispensada na esfera públi-
XXV1 
----------Introdução---------~ 
-.::-..1 a estrangeiros ilustres (II.64; cf. 1.149); a liberalidade de 
Címon para com todos os habitantes de seu distrito não 
ce;n um paralelo romano. Só vagamente Cicero alude às 
·."antagens de favorecer o pobre com mostras de generosi-
·.:b:de (!.49; U.62-3; 11.69-70). Certamente, algumas das rela-
ções de obrigações mútuas que ele descreve deveriam ser 
<:!ais desiguais na realidade do que na teoria, mas Cícero, 
ao apresentar um ideal de conduta, respeita a igualdade 
reórica: dessas relações. 
Como o tratamento do patronato e da hospitalidade ·já 
sugere, Cícero é seletivo com respeito tanto aos sujeitos 
quanto aos objetos da obrigação. Está primeiramente inte-
ressado naqueles que tomam ou aspiram a tomar parte, 
com alguma razão, na vida pública. Isso explica em parte a 
l.onga passagem sobre o comportamento justo dos Estados 
em guerra 0.34-40), que será seguida por argumentos so-
bre a inconveniência de fundar impérios pelo medo e a es-
poliação (H.26-9), bem como Sobre a verdadeira utilidade 
da conduta clemente e honrosa dos Estados em relação aos 
3eus inimigos, súditos e cidadãos (III.86-8). Também expli-
ca por que, no tratamento da terceira virtude (coragem ou 
magnanimidade), todos, com exceção de um dos vinte e 
crês capítulos (1.69-91) reservados às façanhas grandes e 
úteis, examinam as atividades civis e militares da vida pú-
blica, incluindo o exercício de cargos (72-85). Isso é mostra-
do como o mellior cenário para alardear desprezo pela ad-
versidade e perigo, apesar de a ambição dever sempre ser 
mantida dentro dos limites ditados pela justiça (86-7). 
Quando Cícero passa à quarta virtude (1.93-152), mos-
tra-se novamente interessado em seus pares, embora, fina-
lizando, mencione que os estrangeiros, os não-cidadãos re-
sidentes e os cidadãos têm geralmente deveres particulares, 
e alude a profissões honrosas para as ordens mais baixas 
J.151} O âmago da discussão é a noção de decorum, con-
\·eniência, a qual ordena que escolhamos uma forma de 
XXV11 
-----------Dos deveres __________ _ 
vida apropriada aos nossos talentos individuais e à nossa 
posição material e sociaL Cícero freqüentemente abde aos 
que têm ancestrais ilustres para imitar (I.116), e seus exem-
plos são tirados dos líderes civis e militares do passado. 
Espera que mesmo os membros idosos da classe governan-
te sirvam a República (1.123). A ênfase no sucesso vai de 
par com a observância de normas sociais que não devem 
ser afrontadas (1.199; 1.148). A pormenorizada discussão de 
Cícero sobre a conduta social, incluindo a aparência exter-
na da pessoa (1.130-1) e sua casa (1.138-40), além da arte 
da conversação civilizada (1.132-7), é claramente ajustada 
ao comportamento aristocrático, e parte de seu aconselha-
mento, por exemplo, sobre a absoluta inconveniência da 
nudez (1.129), está rigorosamente restrita à sociedade ro-
mana. Talvez o conhecimento que tinha da ruptura provo-
cada pelas reviravoltas sociais de seu tempo o haja levado 
a codificar os costumes que pretendia preservar. De qual-
quer modo, o ensinamento ético torna-se indissociável das 
lições de traquejo social, particularmente úteis àqueles que 
não nasceram necessariament~ para ele, mas ambicionam 
alcançá-lo. 
Quando Cícero compara as obrigações das diferentes 
virtudes (1.152-61), sente novamente a dificuldade de enfa-
tizar nosso dever para com a sociedade, pois as exigências 
de cada uma das três virtudes são comparadas às da justiça, 
não umas às outras. 
A ênfase prossegtJ.e no Livro 11, no qual o amparo dos 
amigos é logo identificado como a coisa mais útil e benéfi-
ca que um indivíduo possa ter (H.ll-19). Mas apenas um 
capítulo (30) é devotado à amizade, o tipo de amparo ao 
alcance tanto dos homens de destaque quanto dos homens 
comuns. É para os homens de destaque que Qcero oferece 
conselhos sobre o modo de alcançar a glória por meio da 
boa vontade, da fé, da honra (31-51), e preceitos referentes 
à liberalidade (52-85). O aspecto financeiro da liberalidade 
XXVIII 
--------------------ffliTvd~ãO--------------------
_55-64) dá ensejo a um debate sobre os entretenimentos e 
edifícios públicos, principais formas da generosidade aris-
·::xrática no mundo antigo. O outro aspecto é a Hberalida-
- -; ie na prestação de serviços e, aqui, boa parte da argu.men-
r::ção (72-85) trata do que os ocupantes de cargos podem 
~azer para todos ou para certos grupos da coletividade. 
-:'\lo deturparíamos seriamente o De offtciis se o descrevês-
-~·.emos como um manual, endereçado a membros da classe 
goYernante, que versa sobre os deveres para com seus 
ptres na vida privada e para com seus concidadãos na vida 
pjblica. 
O terceiro livro trata do tópico que Posidõnio conside-
r::Ju o mais importante em toda a filosofia (8). Cícero, pri-
oeiro, reconstrói as linhas do argumento perdido de Pané-
cio, adotando como formula para resolver os conflitos apa-
r-entes entre o honesto e o útil a noção, já implícita na dis-
cussão de justiça no Livro I (21, 42), de que é contrário à 
.natureza assegurar um benefício a um em detrimento de 
omro. Segue, então, seu próprio desenvolvL."11.ento, mos-
::::ando-o compatível com as premissas tanto estóicas quan-
~o peripatéticas. A palavra ''formula" é tirada do direito ci-
d romano, que também fornece a acero alguns de seus 
:11ais interessantes casos processuais. Estes tornariam a 
:)bra mais acessível aos leitores romanos, a maioria dos quais 
de-,-eria ter recebido o tradicional adestramento jurídico para 
3 v-ida pública sem ter enfrentado as dificuldades da filoso-
fia grega. Mas o material do direito não está confma.do à 
Justração. Qcero encontrou uma analogia no pensamento 
legal romano para a casuística ou análise dos casos morais 
praticado em alto nível pelas escolas filosóficas (IIL91). A 
~ascinação que a categoria dos deveres, em dadas circuns-
:âncias (e.g. excepcionais), despertava nos estóicos (1.31; 
:!11.32; EI.92-6) é característica de seu interesse. Nela acero 
ac-hou justificativa para o tiranicídio e, em particular, para o 
2ssassinato de César por homens que haviam sido seus ami-
XXIX 
gos. Pois, se a formula proíbe indivíduos e Estados de se be-
neficiarem à custa de outros, não proíbe porém cidadãos res-
ponsáveis pela pãtria, amigos e humanidade em geral de 
ferir aquele que prejudica sua comunidade e, por um com-
portamento sub-humano,coloca-se à margem da sociedade 
dos homens (III.32; cf. III.19). 
O direito e a jurisprudência romanos são relevantes 
para o Livro III em um nível ainda mais profundo que o 
técnico, pois têm conexão óbvia com a justiça, à qUal aqui, 
novamente, é dada prioridade por ser uma virtude social. 
Embora Cícero alegue estar tratando do aparente conflito 
entre o útil e cada uma das quatro divisões do ~onesto 
(111.96), os conflitos que ocupam a maior parte do livro são 
os que ocorrem entre a justiça e o interesse próprio, que se 
faz passar por sabedoria ou "sensatez" (40-96). Mesmo o 
conflito com a coragem (95-115) envolve a discussão da 
justiça de se manter o juramento (102-110; 111-l15; cf. 139); 
o COrLflito com a temperança (116-120) transforma-se em um 
ataque aos epicuristas, nos quais Cícero condena particu-
larmente a adoção das virtudes como meios para o prazer 
porque, em sua visão, a justiça não pode ser encarada des~ 
se modo. O ataque à "sensatez" aparente leva Cícero a tra~ 
tar dos problemas da fraude e da boa-fé, campo em que o di~ 
reito romano fez enorme progresso nesse mesmo períodd 
graças aos editos dos pretores, que criaram novos tipos d::; 
ação legaL Ckero descreve a tarefa da filosofia como a de ele-
var a conduta humana até o padrão estabelecido pela lei na-
tural, mas também pensa que os códigos legais humanos de-
veriam aspirar a tal padrão (69-78). Um homem como Quintd 
Múcio Cévola, o pontífice, que criou para si um padrão de 
honestidade mais elevado do que o requerido pela lei vigen-
te, também trabalhou, como juiz, para aprimorar os códigos 
jurídicos (III.62; III.70). Ainda quando Cícero estava vivo, 
ações legais oferecendo proteção contra a "fraude maliciosa'\ 
(dolum malum, "mau dolo") foram formuladas (60-1). Cícero 
também faz grandes reflexões em torno da noção legal de 
XXX 
;'~.i. ·'··---------------.ln~dução---------------------
-'.· ' 
__ '.'h:.c::·.·:::::: i':-om" (70) e suas relações com a mais sublime 
· ··~<-:lfi,:.r.::c~·:Oo filosófica (77). 
.Ess:: conhecimento dos recentes progressos no campo 
;: ;';;''',':l~ combina facilmente com a igualmente forte con-
~·. de Cícero de que o tradicional código aristocrático 
·'O• ,>·::···"de comportamento exemplificava as normas enun-
pelos filósofos gregos, pois ele partilhava a visão 
:::cóonai dos seus contemporâneos de que viviam em 
5::-':::r ~Jade de declínio moml (1II.ll1-112; cf. 1!.65-6) e 
.;:;_::··,c~iam retomar ao mos maiornm ("o costume dos ante-
·-.: .::·.!:.'>~ . .l-~:o{'). Assim, Cícero faz ingentes esforços para mos-
. ·. :_::"~? ·~'.iê' as guerras por meio das quais Roma conquistou 
.~:,.·. :.:npério foram empreendidas apenas como derradeiro 
t:::·>-~t5,) em prol da paz (L35; 1.38; 11.26-7; cf. 111.46) e que 
· ·prrxedimentos ancestrais para declamção de guerm 
.~cavam o conceito filosófico de uma luta justa. Cícero 
·.y:;,,,:le;oL< desde o início usar como clímax do Livro III, por-
. de toda a obra, o extenso exemplo de Marco Atílio 
.;;,i·gc,'o um patriota-mãr::ir de meados do século III a.C. 
::\\ 1.11.4). Seu relato de como Régulo se sacrificou 
· ,;:·: .. :-.;,. proteger os interesses romanos, mantendo a palavra 
~·::.6;, :w inimigo, termina com um tributo à seriedade com 
·~,,.~' ns antigos romanos observavam os juramentos (111-
·c..o; · Os ancestrais romanos, assim, praticariam por instinto 
·. ;~•:.~ :::ts gregos se contentavam em pregar. 
Essa já fora a mensagem das obras de filosofia política 
;~~<':' Ccero escrevera na década anterior, o De re publica 
;,~·>:e apenas parcialmente preservada) e o inacabado De 
:e;tZn1s. O De re publica é uma réplica romana à República 
,;.;;: ?:atào, apresentando como ideal, não uma construção 
>::·.::-Ka. mas o Estado romano ancestral, visto como a ma-
·-:-:-i·J.!izaçào da teoria grega e restaurado em sua primitiva 
"<:,.diçào idealizada. O De legibus apresenta uma ossatura 
·.~-;- c:ódigo jurídico para sustentar o Estado ideal. Fundado 
:·d ;:eoria do direito natural derivada da filosofia grega, o 
XJO(] 
i ~ 
' 
·''·· 
____________________ Dm~Wn%--------------------
código é similar em muitas partes ã lei existente ou aos 
costumes romanos, exceto por certas inovações claramente 
inspiradas pela própria experiência política de Cícero. No 
De re publica, ele deixa claro que apenas a classe gover-
nante, educada para um elevado padrão de conduta, pode 
devolver a saúde ã república: os males que ameaçam esse 
processo são o imperialismo impiedoso e a demagogia au-
tcpromovida (cf. O.ff, 11.60), os mesmos que, na obra pos-
terior, são apresentados como responsáveis pela situação 
precária da república. No De legibus, o direito natural, ou 
ius gentium, é o padrão ao qual o ius civile romano pode e 
deve conformar-se; como no De officiis, o princípio de não 
auferir beneficios em prejuízo alheio (111.23), particular-
mente por fraude e astúcia (III.68-72), princípio que integra 
o ius gentium, aparece permeando os procedimentos legais 
romanos, graças ao postulado da "boa-fé". Juntas, essas três 
obras apresentam a fórmula de Cícero para a regeneração da 
classe governante de Roma, uma fusão dos preceitos da fi-
losofia grega .com os valores tradicionais dos grandes esta-
distas romanos do passado. 
Ao longo do De officiis, a orientação política de Cícero 
torna-se evidente. Já notamos como sua visão de César e 
Antônio segue de perto, aqui, a de suas cartas pessoais. Ou-
tros inimigos, inclusive Clódio e Crasso, são apresentados 
como exemplos morais negativos 01.58; 1.25; 1.109; 111.73; 
!11.75). A ins-istência de Cícero na concordia ordinum. ("har-
monia das diferentes classes") e a manutenção do crédito 
S.nanceiro, sobretudo durante seu consulado, são defendi-
das (11.84). A mesma falta de imaginação com que ele en-
frentou, na qualidade de político, os problemas econôrrJ-
cos e sociais de seu tempo, revela-se aqui na alternativa 
que oferece aos programas populares para a distrib~ição 
de terras e o perdão de dívidas (11.72-4; 11.78-84). Em 1ugar 
dos esquemas propostos por seus adversários para a redis-
tribuição das riquezas existentes, sugere a tomada de novos 
bens por meio do imperialismo (11.85). Como conciliar isso 
XXXII 
--------------- Introdução--------------------
•'·•< .,, .,.,, ;;ua exigência de guerras justas e tratamento igualitário 
.)·jo;-:J; -os súditos de Roma? 
. , ~!esmo que não tenha logrado êxito, Cícero ao menos 
... __ ::~::oc1 :nanusear as ferramentas da filosofia grega, não ape-
. ::;-,.:;s para analisar e aprimorar os padrões romanos, mas 
· ~:::;-.;-;o.~ém para viver e agir racionalmente. Até sua crença 
·. ~<:-:.::ária no caráter sagrado da propriedade privada, cuja 
_;-:-;e:$en-ação apresenta aqui como o principal objetivo da 
;;.:>d.,;;dade organizada (11.73), baseia-se em uma visão da 
-· :":.c.ruoeza humana fundamentalmente social (1.158), em uma 
:2oci.a de como a sociedade se desenvolve (1.11-12; 1.54) e 
.em urna concepção de como a lei humana, que protege 
::1s instituições (1.21; 1.51), está relacionada com o direito 
r~:-.:ural QII.68-9; 111.72). Nesse sentido, o De officiis trans-
- ..:en.de suas limitações - alusões contemporâneas, precon-
c.eitos romanos, tendências políticas. Sociedades diferentes, 
~m momentos distintos, encontraram nele não só um repo-
<;<itório de experiência política como também um exemplo do 
s:gudo discernimento que as crises políticas p::>dem suscitar 
e-m um estadista realmente instruído. 
XXXIII 
Cronologia 
:·J<) 2..C. Nascimento de Cícero, em 3 de janeiro 
:\'ascimento de Pompeu 
:C+ C. Mário, cônsul II, triunfa sobre Jugmta 
:Ji3-l C. Mário, cônsul III-V, derrota os cirnbros e teutões 
:,~.;) C. Mário, cônsul VI. Nascimento de Júlio César 
9~ L Lidnio Crasso e Q. Múcio Cévola, cônsules, aprovam a 
lei Iicínia Múcia. Ressentimento dos aliados italianos 
)l-88 O assassinato do reformador M. Uvio Druso leva ã Guer-
ra Social entre Roma e seus aliados italianos, que são ven-
cidos, mas obtêm a cidadania romana 
Serve na Guerra Socialsob as ordens do pai de 
Pompeu 
Est-uda Direito com Q. Múcio Cévola (áugure) 
::;~ L. Sila marcha sobre Roma e em seguida parte para o 
Oriente a flm de combater Mitridates. O reformador P. Sul-
pício é assassinado 
Ouve Fílon de larissa em Roma. Estuda oratória 
:><-- Mário toma Roma. Posidônio em Roma, como embaixador 
Estuda Direito com M. Múcio Cévola (pontífice) 
:>5 Morte de Mário 
De inventione (escrita após 91) 
"3-1 Sila volta a Roma, ordena proscrições e toma-se ditador 
S:: Sila cônsul 
Defende Sexto Róscio, sua primeira causa pública 
-:;.g Sila recolhe-se à vida privada. Morre 
XXXV 
_____________ DruM~---------------
75-4 
73-1 
70 
69 
67 
66 
65 
63 
62 
61 
60 
59 
58 
57 
56 
55 
Viage:ns e estudos na Grécia e na Ásia: ouve Antíoco 
de Ascalão, Posidônio, Zenão e F edro (os dois últi-
mos, epicuristas) 
Questor em Lilibeu, na Sicília 
Revolta dos escravos liderada por Espártaco 
Primeiro consulado de Pompeu e Crasso 
Acusa Verres por extorsão na Sicília 
Edil: promove jogos 
Pompeu livra o Mediterrâneo dos pi...-atas 
Pompeu recebe o comando contra Mitridates 
Pretor. Discursa em favor do comando de Pompeu 
Nascimento de seu filho Marco. Seu irmão Quinto 
torna -se edil 
Desmascarada a conspiração de Catilina 
Cônsul com C. Antônio. Executa os conspiradores 
sem julgamento 
Pompeu volta a Roma em dezembro 
Quinto Cícero é pretor 
Pompeu triunfa sobre Mitridates 
Testemunha contra P. Clódio, acusado de sacrilégio 
Quinto Cícero governa a Ásia (61-58) 
Pompeu, César e Crasso formam o primeiro triunvi~to 
C. Júlio César, cônsul, governa com mãe forte 
César inicia a conquista. da Gália 
Injunções de P. Clódio provocam o eXtlio de Cícero 
em março 
Pompeu encarregado da distribuição de cereais por cin-
co anos 
Q. Cícero serve sob as ordens de Pompeu (57-6) 
Chamado do exílio, Cícero volta a Roma e:n se-
tembro 
Renovação do primeiro triunviratc em Luca 
Cícero, por cautela, cessa de se opor aos triúnviros 
Pompeu e Crasso cônsules: ambos recebem comandos de 
cinco anos. O comando de César na Gália é prorrogado 
De oratore 
XXXVl 
Crasso vai à Síria lutar contra os partas. Pompeu gover-
na a Espanha da Itália, por meio de legados 
Q. Cícero serve sob César, na Gália (54-52) 
De re publica (iniciada) 
De:rota e morte de Crasso 
Eleito áugure no lugar de M. Crasso 
Pompeu eleito cônsul único depois do assassinato de P. 
Clódic e outras violências 
Pri.r':leiras tentativas no Senado de chamar César da Gália 
~ntes que expire seu comando 
Parte para governar a Cilícia, chegando a 31 de julho 
Quinto serve sob suas ordens 
De re publica (publicada) 
De legibus (iniciada) 
Deixa a Cilída (30 de julho) e chega ã Itália (24 de 
novembro) 
Em janeiro, César atravessa o Rubicão em direção à Itália, 
nomeando-se ditador 
Empreende esforços de paz, embora tenha recebido 
um comando de Pompeu 
Em março, Pompeu deixa a Itália e ruma para o Oriente 
Em junho, deixa a Itália para juntar-se a Pompeu 
Em agosto, Pompeu é vencido por César em Farsália 
Volta à ltália e espera pelo perdão de César, em Bn.L'l-
dísio 
Em setembro, Pompeu é assassinado no Egito 
César toma Cleópatra rainha do Egito 
Em julho, perdoado por César juntamente com Quin-
to e seu sobrinho QJinto Jr. 
Em setembro, César retoma e assume o governo. Parte 
para combater os republicanos na África 
Em abril, César vence os republicanos na África, em Tapso: 
suicídio de Gatão 
Divorcia-se de Terência 
Pronuncia, no Senado, o Pro Marcello, agradecendo 
César por sua clemência 
XXXVII 
_________________ Drudeoo~---------------
45 
44 
Casa-se com Publília 
Elogio de Gatão (perdido) 
Brutus 
Paradoxa stoicorum 
Grato r 
Partítiones oratorlae 
Em novembro, César deixa Roma para combater, na Es-
panha, os republicanos liderados pelo filho de Pompeu 
Em janeiro, Túli.a tem um filho, mas morre em feve-
reiro 
Em março, César vence os republicanos na Espanha, em 
Munda 
Em abril, o jovem Marco começa seus estudos em 
Atenas 
Consolação a si mesmo (perdido) 
Hot1ensius (exortação à filosofia) 
Academtca 
De.finibus 
Tusculanae e De natura deorum (iniciadas) 
César nomeado ditador perpétuo. Recusa a oferta de 
urna coroa, das mãos de Antônio. É assassinado em 15 
de !llarço 
Antônio assume os poderes consulares 
Em abril, Otaviano (depois Augusto) viaja para a Itãlia 
Em abril-junho, visita suas casas de campo na Itália 
Em julho, o Senado atribui prov'mcias a Bruto e Cássio 
Em 17 de julho, parte para a Grécia, mas volta rapi-
damente 
Em 31 de agosto regressa a Roma 
Em 2 de setembro, pronuncia a Primeira Filípica, 
discurso contra Antônio 
Em outubro-dezembro, visita suas vilas na Itália 
Escreve a Segunda Filípica 
De divinatione (terminada) 
De jato 
De gloria (perdida) 
XXXVIII 
Topica 
Laelius de amicitia 
De officiis 
Em abril, depois da batalha de Mutina, ambos os cônsu-
les morrem 
Divulga a Quinta-Décima quarta Filípica 
Em agosto, Otaviano assume o consulado 
Em novembro, o triunvirato de Antônio, Lépido e 
Otaviano implanta a lei Titia 
Decretadas proscrições: Cícero na lista 
Em 9 de dezembro, é assassinado 
_\" E. Algumas datas são aproximadas. Foram Omi-
tidas algumas obras menores, dificeis de datar. 
XXXIX 
Sumário das doutrinas das 
escolas belenfsticas 
_.:;,._, breves considerações que se seguem foram escritas 
;_;.:::1 ponto de vista assumidamente ciceroniano e com 
,, ,C,·,,é;;.o e~pecial nas doutrinas éticas. Cícero percebia a dife-
,:-ç;:.:;-;_< crítica entre as escolas na resposta que cada uma dava 
: "Qual é a fmalidade da vida?" (ver especial-
o De finibus V.16-23). 
':rs estóicos sustentavam que a finalidade da vida era a 
; ir ,~. _:.,. virtude seria o único bem, e viver bem significa-
•·iver virtuosamente. O vício, ao contrário, era o único 
Ji "'z'. \""':l.ntagens exteriores como saúde, riqueza e semelhan-
;;,~o eram bens, mas apenas "coisas preferíveis"; doença, 
., ·. · ·::/.;:1:::·:-eza e mesmo a morte não eram males, mas "coisas não-
Ç"C:'d';eis''. Estóicos não-ortodoxos como Aríston e Erilo 
:::ór.itiam sequer isso. Daí a premissa de Cícero ao lon~ 
-~ú Li-.-ro IH: nada é bom, exceto aquilo que é honesto. 
" .. , ,,., .. c;.;.n:-as palavras, a única coisa que nos beneficia é a vir-
So::nente o homem virtuoso e sábio é de fato feliz, e 
-.i :.:;;.wisquer que sejam suas circunstâncias externas. 
·.-:; homem sábio vive de acordo com a natureza, a sua 
.:'-.~J:-~.1 natureza humana e à natureza universal, que é di-
.,,,,,~:: c providencial. Para os primeiros estóicos, vivia-se vir-
. ?:·.::::_..,;2_;:-,eme pela escolha sábia e serena das "coisas confor-
:;_ aarureza", como descreviam as "coisas prefe!lveis". O 
·":'''""-~'" sábio era comparado a um bom arqueiro mirando 
XLI 
---------Dos deveres ________ _ 
o alvo; acertar o alvo não importava, e sim mirar bem, isto 
é, escolher. Em outras palavras, virtude e felicidade depen-
diam não de alcançar as coisas preferíveis, mas do modo 
de vê-las. 
Panécio chamou de "úteis" ou "benéficas'" as coisas 
qce os primeiros estóicos chamaram de "preferíveis". Ele 
discutiu o virtuoso e o benéfico em separado: pensava que 
nós podíamos perguntar independentemente, de cada ação, 
se ela era "virtuosa" e "ber..éfica". A seu ver, a virtude não 
consistia mais em mirar bem as coisas preferíveis. Virtudes 
e benefícios, em uma primeira observação pelo menos, po-
deriam ser especificados sem referência mútua. Entretanto, 
Panécio ainda acreditava que nada era, no final, bom e be-
néfico a menos que fosse virtuoso; assim, levantadas as 
duas questões a respeito da mesma ação, as respostas se-
riam as mesmas. Se uma ação parece ao mesmo tempo be-
néfica e desonesta, uma aparência deve ser enganosa. Po-
de me parecer honesto herdar um grande patrimônio ou 
vencer uma eleição, mas isso de fato só ocorre se eu o con-
seguir sem agir desonestamente. 
Os epicuristas encaravam o prazer como a finalidade 
da vida e afirmavam que a virtude deveria ser valorizada na 
medida em que o promovia. Os deuses, acreditavam eles, 
não têm nenhuminteresse ou envolvimento nos assuntos 
humanos. O homem sábio de Epicuro desprezava a vida 
pública, exceto nas emergências. 
A Academia que Platão fundou em Atenas subsistiu ali 
pelo menos até Fílon de Larissa fugir para Roma, tentando 
escapar à invasão de Mitridates do ?onto, em 88 a.C. De 
início, seus adeptos interpretavam o ensinamento de Platão 
positiva e dogmaticamente. Já sob a direção de Arcesilau 
(meados do século III), os acadêmicos enveredavam por 
um caminho cético. Interpretando os escritos de Platão 
como textos abertos e instigantes, mas de modo algum dog-
máticos, não cultivavam nenhuma doutrina positiva·.limita-
XLII 
-----Sumário [:ias doutrinas das escolas helenfsticas -----
·. ·:<m-se a criticar as de outras escolas, particdarmente a dos 
-~cs~óicos. O próprio mestre de Cícero, Fllon, professava um 
~e:.i.cismo atenuado: ninguém seria capaz de obter um co-
r;.hecimento certo, devendo acatar provisoriamente a visão 
r, . .lo::. examinados os argumentos, lhe parecesse. a mais con-
'-':CJ.cente. 
O discípulo de Fílon, Antíoco, discordou do ceticismo 
:io :nestre. Afirmou que a Primeira Academia era realmen-
·:'õ' dogmática, designando a escola que ele próprio fundou 
-"-'i.tiga Academia e os herdeiros de Arcesilau, Nova Aca-
.:~e~~a. Na prática, parece ter sido muito influenciado pelos 
i:"SWICOS. 
Aos olhos de Cícero, a ética da Antiga Academia e a 
~:ica dos peripatéticos (aristotélicos) eram praticamente a 
· ·- :::1.esma: ambas afirmavam ser a virtude o sumo bem. em-
. ·>:xa os bens exteriores também fossem de valor real, Posto 
- ço;_.:e menor. Se, para os estóicos, nada que não fosse hones-
>_; poderia ser útil 011.20), os acadêmicos e os peripatéticos 
;;~·ei:avam como útil, portanto boa, mesmo uma coisa des-
'-i.nculada da honestidade e da virtude. Assim, se um ato 
·:..'tsonesto enriquecia urna pessoa, Panécio considerava essa 
-:<,ueza útil apenas na aparência, porque o ato era deso-
:~esto: os peripatéticos diriam que era realmente útil e boa, 
::.":.'.S que seus beneficios eram superados de longe pela 
,_ ;:·>::::<:ersidade do ato. 
XUII 
Bibliografia 
Obras antigas 
Há muitas informações sobre a vida e o meio intelec-
::ual de Cícero em suas obras e nas de autores gregos e lati-
rws posteriores, todas disponíveis em tradução inglesa. 
Obras de Cícero 
As Cartas a Ático e Cartas a seus amigos estão disponí-
veis numa excelente tradução de D. R Shackleton Bailey pa-
ra a Penguin C!assical Series, que também traz volumes de 
discursos selecionados e um volume de excertos de obras 
filosóficas chamado On tbe Good Life. A Loeb Classical l.i-
brary editou todos os discursos e obras filosóficas de Cícero 
com a tradução e o texto latino em face*. Uma nova série 
de traduções das obras filosóficas acompanhadas do texto 
em latim, notas e introdução, publicada pela editora Aris and 
Phillips, foi iniciada com o excelente TusculanDisputations I, 
• A Editora Belles Lenres, Paris, publica série equiv:ilente em sua Collection 
des Universités, série Latine. Todos os discursos e demais obras de Cícero fo-
ram publicados nessa série em edições bilíngües latim-francês. (Nota do Edi-
:or brasileiro.) 
XLV 
__________ Dos deveres----------
aos cuidados de A. E. Douglas. Muito útil também a tradução 
anotada de De re publica, em On the Commonwealth, Sabi-
ne and Smith, Ohio, 1929. Uma introdução e comentário do 
Livro I de Das leis estã disponível em Cícero de kgibus I, ed. 
por~-- Rudd e T. Wiedemann, Bristol, 1987. 
Ao estudar o De officiis, o leitor achará particularmente 
interessante·. as cartas de Cícero de seus últimos anos de 
vida; os discursos Em defesa de Sestio (Pro Sestio) e as Filí-
picas (especialmente I e 11); suas primeiras obra.s de filoso-
fia política, De re publica (preservada parcialmente) e De 
legíbus (inacabada); as obras de fllosofia moral Sobre os fins 
das boas e más coisas (De finibus bonorum et malorum) e, 
em menor extensão, Gatão, o Velho: da virtude C Cato Maior 
de senectute) e Lélio: da amizade (Laelius de amicitia). Os 
Paradoxos dos estóicos (Paradoxa stoicorum), em que Cíce-
ro submete as mais extremas doutrinas estóicas ao tratamento 
retórico, e os livros sobre epistemologia acadêmica parcial-
mente preservados, Academica, em que defende sua verten-
te cética da filosofia acadêmica, também são interessantes. 
Outras obras antigas 
A biografia de Cícero por Plutarco também está dispo-
nível num volume da Penguin, Plutarch: the Fall ofthe Roman 
Republic, e na edição de]. L. Moles para a Aris and Phillips, 
1988. O volume da Penguin sobre Salústio traz um relato da 
conspiração catilinária, que Cícero enfrentou em seu consu-
lado, feita por um contemporâneo mais moço de Cícero. O 
poema epicuriano de Lucrédo Da natureza das coisas (De 
rerum natura), também editado pela Penguin, ilumina o 
meio intelectual de Cícero, enquanto é muito instrutiva, no 
que concerne à vida de Cícero e à sociedade em que viveu, 
a biografia de seu amigo íntimo, Ático, que devemos a Cor-
nélio Nepo, traduzida no volume da Loeb que contém Floro, 
XLVI 
__________ Bibliografia----------
:.tsgim como na edição da Clarendon Ancient History Series, 
O.xford, ·1989, com substanciais comentários de N. Horsfall. 
Obras modernas 
A segunda edição do Oxford ClassicalDictionary(l970) 
:.raz urna breve introdução sobre a maioria dos tópicos con-
cernentes à Grécia e à Roma antigas. 
Biografia 
D. L. Stockson, Cícero, a Political Biography, Oxford, 
1971, é um relato legível de sua carreira e do contexto polí-
:ico desta; D. R. Shackleton Bailey, Cicero, Londres, 1971, uti-
liza c profundo conhecimento que o autor tem das cartas de 
Cícero para evocar sua personalidade; E. D. Rawson, Cícero: 
A Portrait, Londres, 1975 (reimpressão em brochura, Bris-
tol, 1983), é um relate simpático, completado com uma con-
sideração sobre a contribuição intelectual de Cícero. 
Diferentes aspectos da vida e da obra de Cícero são 
cobertos por ensaies, entre eles A. E. Douglas, "Cicerc the 
Philosopher", em Cicero, editado por T. A. Dorey, Londres, 
1965. A Introdução (pp. 1-28) emJ. S. Reid, TbeAcademica 
of Cícero, Cambridge, 1885, abrangendo Cícero e a filoso-
fia, ainda merece ser lida. Ver também P. L. Schmidt, "Cice-
ro's Place in Roman Philosophy: a Study cf his Prefaces", 
· Classicaljourna/74, 1979, pp. 115-27.]. Glucker, "Cicero's 
Philoscphical Aff1Hations", The Question of ''Ecleticism ": Studies 
in !ater Greek Philosophy, ed. por J. M. Dillon e A. A. Long, 
Berkeley, 1988, é um exame válido da adesão de Cícero ã 
Acad~mia cética em diferentes períodos de sua vida, mas sua 
tese não nos convence. 
XLVII 
---------Dos deveres ________ _ 
N. Wood, Cicero:s- Social and Political Thougbt, Califórnia, 
1988, visa a discutir o pensamento político de Cícero como 
um todo, em seu contexto histórico, mas tanto o tratamento 
da história como a análise dos textos ciceronianos são tão 
simplificados que chegam a ser enganosos. 
A. E. Douglas, Cicero, Greece and Rome New Surveys in 
the Classics, nll 2, Oxford, 1968 (com um adendo, 1978), traz 
um breve panorama crítico dos estudos ciceronianos. 
Contexto intelectual 
Um balanço substancial dos estudos sobre a época de 
Cícero, abrangendo os dominios da filosofia, do direito, da 
historiografia e da arqueologia, pode ser encontrado em E. 
D. Rawson, Intellectual Life in the Late Roman Republic, Lon-
dres, 1985, obra erud.itíssima que não trata diretamente de Cí-
cero mas de seus contemporâneos. A segunda edição da 
Cambridge Ancient History, vol. IX, contém um capítulo "In-
tellectual Developments in the Late Republic" (um breve pa-
norama que inclui Cícero) por M. Griffin. C. Wirszubski, Li-
bertas as a Political Ide a at R o me, Cambridge, 1960, discute 
alguns dos conceitos-chaves do pensamento político roma-
no: ver também D. C. Earl, The Moral and Political Tradi-
tion of Rome, Londres, 1967, caps. 1 e 2.]. D. Minyard, Lu-
cretius and the Late Republic, Mnemosyne Supplement 90, 
Leiden, 1985, comparaos diferentes usos dos conceitos polí-
ticos e sociais feitos por Cícero e alguns de seus contempo-
râneos numa forma muito simplificada mas sugestiva. 
As doutrlnas filosóficas em curso na época são claramente 
resumidas em]. Bames, "Hellenistic Philosophy and Science", 
O:xford History of the Cla.ssical World, Oxford, 1986, pp. 365 s., 
e mais extensamente explicadas em A. A. Long, Hellenistic 
Philosophy, Londres, 1974. O volume I do livro fonte de A. 
A. Longe D. N. Sedley, Tbe Hellenistic Philosophers, Cam-
XLVIII 
---------Bibllognifiti---------
bridge, 1987, traz os textos básicos traduzidos com úteis co~ 
mentários filosóficos. J. Glucker, Antiochus and the Later 
Academy, Góttingen, 1978, é um relato detalhadíssimo e eru-
dito das vicissitudes das escolas filosóficas como instituições, 
e da Academia em particular, nos tempos de Cícero e pos-
:crionnente. Ensaios sobre algumas das fllosofias e dos Hló-
.sofos influentes em Roma na Última República podem ser 
encontrados em Philosophia Togata, Oxford, 1989, ed. por 
.:vt Griffin e]. Barnes. 
Contexto político 
Além das biografias de C1cero já citadas, que inevitavel-
mente descrevem em detalhe os principais acontecimentos 
políticos do período, há vários relatos breves da história do 
fim da República romana, como P. A. Brunt, Social Conflits 
in tbe Roman Republic, Londres, 1971, e M. H. Crawford, The 
RomanRepublic, Londres, 1978, e análises mais detalhadas em 
:.r. Gelzer, Caesar, Politictan and Statesman, Oxford, 1968, e 
E. S. Gruen, Tbe Last Generation ofthe Roman Republic, Ber-
keley, 1974. A segunda edição da Cambridge Ancient History, 
>:oi. IX, que trata do fim da República, também merece con-
sulta. A obra clássica sobre a queda da República é R. Syme, 
The Roman Revolution, Oxford, 1939, que trata dos aconte-
cimentos da época em que De officiis estava sendo escrito 
com um detalhamento fascinante. 
As instituições políticas, legais e sociais da República ro-
mana são descritas em H. F. jolowicz e B. Nicholas, His-
torical Introduction to Roman Law, 3ª ed., Cambridge, 1972; 
C. Nicolet, The World o f the Citizen in Republican Rome, Lon-
dres, 1980; e]. Crook, LawandLifeojRome, Londres, 1977, 
em que o uso do direito para pôr a nu os costumes sociais 
romanos é de grande valia para a leitura de De officits. 
XLIX 
O modo de funcionamento da política romana e seu con-
texto social são analisados de formas diferentes e conflitan-
tes em L. R. Taylor, Party Politics in the Age ofCaesar, Ber-
keley, 1949; M. Gelzer, Tbe Roman Nobility, Oxford, 1969; 
G. E. M. deSte. Croix, Tbe Class Strnggle in tbeAncient Greek 
Wor!d, Londres, 1981, pp. 327-72 (sobre Roma) e P. A. Brunt, 
Tbe Fal! ojtbe Roman Republic and Related Essays, Oxford, 
1988. 
O imperialismo romano no período final da República 
é examinado em relação com a política e a economia de 
Roma em E. Badian, Roman Imperlalism in the Late Repu-
b!ic, Oxford, 1968, e Publicans and Sinners, Oxford, 1972, 
e em K. Hopkins, Conquerors and Slaves, éambridge, 1978, 
caps. 1 e 2. 
De offlciis 
Visão geral 
Uma introdução geral pode ser encontrada na útil edi-
ção latina de H. Holden, M. Tutli Ciceronis De O.fficiis Libri 
Tres, que foi várias vezes republicado. A introdução nas ver-
sões anteriores a 1866 é superior, mas as notas são mais pro-
veitosas nas versões posteriores a essa data (muito embora 
muitas delas digam respeito a problemas de uso do latim). 
Uma breve introdução, particularmente proveitosa no que 
concerne à influência posterior da obra, acompanha a tradu-
ção com notas de]. Higginbotham, Cícero on Moral Obli-
gation, Calífórnia, 1967; outra tradução anotada, particular-
mente útil no que concerne aos exemplos históricos de Cí-
cero, é a de H. G. Edinger, Cícero De Officiis/OnDuties, Nova 
York, 1974. Uma discussão muito inteligente do escopo da 
obra, das circunstâncias da sua composição, da importância 
L 
--------Bibliografia--------
::io destinatário e do "problema fome" pode ser encontrada no 
>'dume I de M. Testard, Cicéron Les Devoirs, Paris, 1965. 
Aspectos específicos 
Boa parte do trabalho relativo a De o.fficiis voltou-se para 
" recuperação das idéias ftlosóficas de Panédo, fonte con-
fessa de Cícero para a maior parte dos Livros I e 11 (cf. In-· 
"·odução, pp. XIX-XXI), ou para separar os elementos cicero-
nianos das concepções de Panédo e outras possíveis fontes. 
Entre alguns estudos recentes a esse respeito: A. Dyck, "Notes 
on Composition, Text, and Sources of Cicero's De OfficiiS', 
Hermes 112, 1984, pp. 215 s.; P. A. Brunt, "Aspects of the So-
ciêJ Thought o f Di o Chrysostom and the Stoics", Procee-
dings oj tbe Cambridge Pbilological Society 1973, pp. 8 s. 
(contém uma preciosa análise de O.ff., I, 150 s. nas pp. 26 s.); 
_I. L. Ferrary, Philbéllenismeetimpérialisme, Paris, 1988, pp. 
395-424 e 589-602; C. Gill, "Personhood and Personality: The 
Four-Personae Theory in Cicero, De O.fficiis 1", Oxford Stu-
,ifes ínAncient Philosophy6, 1988, pp. 169 s. 
Uma reação à idéia de que Cícero não passava de um 
mero transcritor vem produzindo estudos que se concentram 
n:J.s idéias e métodos próprios de Cícero. No que concerne 
a De o.fficiis, a introdução de Testard supracitada já reflete tal 
3.titude. Ver também]. Annas, "Cicero on Stoic Moral Philo-
sophy and Priva te Property", Philosophia Toga ta, ed. por 
;-,r. Griifin e]. Barnes, Oxford, 1989; E. M. Atkins, The Vit1ues 
o f Cicero S De Officiis (tese de doutorado em Cambridge não 
publicada, 1989); '"Domina et Regina Virtutum': Justice and 
Soei e tas in De OfficiiS', Phronesis. 
As estreitas relações entre De o.fficiis e outras obras de 
Cícero, notadamente as Filípicas, são bem tratadas por P. 
:•IacKendrick, The Philosophical Books of Cícero, Londres, 
11 
_________________ nru~~-----------------
1989, pp. 249 s., que também traz uma visão equilibrada da 
contribuição de Cícero à filosofia. 
Certos conceitos e atitudes-chave, encontrados em De 
o.fficiis e em outras obras de Cícero, foram proveitosamen-
te analisadas em seu contexto romano. Sobre o imperialismo, 
ver P. A. Brunt, "Laus imperü: Conceptions of Empire Preva-
lent in Cicero's Day", em lmperialism in the Ancient World, 
ed. por P. Garnsey e C. R. Whittaker, Cambridge, 1978, e E. 
S. Gruen, Tbe Hellenistic World and the Coming of Rome, Ca-
lifórnia, 1984, vol. I, caps. 5-10. Sobre a propriedade privada 
ver;: M. Carter, "Cicero: Politics and Philosophy", Cicero and 
Ver,gil, ed. por]. R C. Martyn, A1nsterdam, 1972. Sobre a ami-
zade, ver P. A. Brunt, '"Amicitia' in the Late Roman Republic", 
Proceedings ofthe Cambridge Philological Society 11, 1965, 
pp. 1-20, revisado como cap. 7 de TbeFall oftheRomanRe-
public and Related Essays, Oxford, 1988. Sobre o offtcium 
(dever), ver Brunt, "Cicero's Officium in the Civil War", jour-
nal ofRoman Studies 76, 1986, pp. 12 s. Sobre a glória, F. A. 
Sullivan, "Cicero and Gloria", Transactions oftbeAmerican 
Philologica!Association72, 1941, pp. 382 seg. Sobre o otium 
(lazer),]. P. V. D. Balsdon, "Autorictas, Dignitas, Otiuni', Clas-
sical Quarlerly 1960, pp. 43 s. 
UI 
1-6 
--10 
Sinopse 
Uvrol 
INTRODUÇÃOo DEDICATÓRIA A MARCO 
1-4 Propósito da fllosofia latina 
4-6 O tópico dos deveres: o valor da visão 
estóica 
ESCOPO DA DISCUSSÃO 
7-8 Questões sobre o dever 
9-10 Cinco tipos de deliberação sobre os 
deveres 
11-17 HONESTIDADE E NAnJREZA HUMANA 
11-14 Raízes das quatro virtudes 
15-17 Relações mútuas das quatro virtudes 
18-151 AS QUATRO VIRTUDES 
18-19 Sabedoria 
10-60 Virtude social 
20-41 justiça 
20-3 
23-9 
justiça negativa: justiça positiva e ma-
nutenção da fé 
Formas correspondentes da injustiça 
positiva e negativa 
UII 
_________ Dos deveres---------
42-50 
61-92 
93-151 
29-33 
33-41 
41 
42 
43 
44 
44-59 
Dificuldades na determinação da justi-
ça: parcialidade (29-30); circunstâncias 
Gl-2); exemplo legal 
Justiça para o malfeitor (33); para o 
inimigo (34-40); para o humilde 
Injustiça por força e fraude 
Liberalidade 
Os

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