Aula 4_Crimes contra a Adm Pub praticados por particular II

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DIREITO PENAL IV
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA
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AULA 4
CRIMES CONTRA A ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA PRATICADOS POR PARTICULAR
(TÍTULO XI – Capítulo II)
1. Tráfico de influência – art. 332, CP; 
2. Corrupção ativa – art. 333, CP; 
3. Descaminho – art. 334, CP; 
4. Contrabando – art. 334- A, CP
	1. Tráfico de influência - art. 332, CP
      Art. 332 - Solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função: 
        Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 (cinco) anos, e multa. 
 
	
 O agente pretende obter vantagem em face de um 	particular, sob o argumento de que poderá influenciar na 	prática de determinado ato de um servidor público. 
 Exemplo
	Samuel, alegando ser amigo do Delegado de Polícia local, sem realmente sê-lo, solicita determinada quantia em dinheiro a Jerônimo para convencer a autoridade policial a não instaurar IP visando a apuração de crime cometido por seu filho. 
Obs. Se Samuel realmente possuir influência sobre a autoridade policial, e vier a corrompê-lo, deverá ser responsabilizado pelo crime de corrupção ativa (art. 333, CP).
 Jurisprudência do STJ
	É despiciendo para a caracterização, em tese, do delito de tráfico de influência, que o agente de fato venha a influenciar no ato a ser praticado por funcionário público. Basta que por mera pabulagem alegue ter condições para tanto, pois nesse caso já terá sido ofendido o bem jurídico tutelado: a moralidade da Administração Pública. 
				(HC 64.018/MG, de 23 ago 2007)
 Características do tipo penal
	- espécie de “estelionato”, pois o agente promete usar uma influência que não possui;
	
	- sujeito ativo: trata-se de crime comum, podendo ser praticado por qualquer pessoa, inclusive um funcionário público; 
	- sujeito passivo: é o Estado e, mediatamente, o particular que contrata os serviços (comprador da influência). 
	
 Observação sobre o particular que contrata os serviços...
	Prevalece o entendimento de que NÃO É SUJEITO ATIVO, mas sujeito PASSIVO do delito, pois, embora sua conduta seja imoral, não é penalmente relevante, tendo sido ele também lesado pela conduta do agente, que o enganou.
	- a coexistência da sua fraude (torpeza bilateral), não afasta sua posição de vítima.
	 Consumação
	- nos núcleos solicitar, exigir e cobrar trata-se de crime formal;
	- no núcleo “obter” o crime é material, consumando-se no instante em que o agente recebe a vantagem almejada.
	 Causa de aumento da pena: art. 332, § único
	  Parágrafo único - A pena é aumentada da metade, se o agente alega ou insinua que a vantagem é também destinada ao funcionário. 
Obs. Se ficar provado que a vantagem tinha como destinatário o funcionário público, a este será imputado o crime de corrupção passiva (art. 317,CP), enquanto o intermediador da negociação responderá por corrupção ativa (art. 333, CP). 
	6. Corrupção ativa - art. 333, CP
       Art. 333 - Oferecer ou prometer vantagem indevida a funcionário público, para determiná-lo a praticar, omitir ou retardar ato de ofício:
        Pena – reclusão, de 2 (dois) a 12 (doze) anos, e multa.
 
	 	diferentemente da corrupção 	passiva, está inserido nos crimes praticados por particular contra a Administração em geral.
Características do tipo penal
	- “ato de ofício”: o ato praticado pelo funcionário público deve ser de sua atribuição;
	- “para determiná-lo a praticar”: a oferta ou promessa deve ocorrer antes da prática do ato;
	- crime formal: consuma-se com a mera oferta ou promessa de vantagem indevida, independentemente da sua aceitação, ou ainda da efetiva prática do ato de ofício. 
Exemplos
	Janaína oferece uma quantia em dinheiro para o escrevente retardar o andamento de uma ação judicial. 
	Ricardo, agindo a pedido de Emanuel, réu em uma ação penal por crime de roubo, oferece uma joia valiosa para o oficial de justiça para que ele não proceda à sua citação.
 Neste último caso Ricardo será coautor do delito. 
	 Causa de aumento da pena: art. 333, § único
	 Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se, em razão da vantagem ou promessa, o funcionário retarda ou omite ato de ofício, ou o pratica infringindo dever funcional.
	- por ser um crime formal, com o exaurimento surge a causa de aumento da pena.
	Ex: Lucas oferece R$5.000,00 ao Delegado de Polícia (que efetivamente recebe o $) para agilizar o trâmite de um inquérito policial de um desafeto seu, fato que se concretiza.
	7. Descaminho - art. 334, CP (alterado pela Lei nº 13.008/14)
     	Art. 334.  Iludir, no todo ou em parte, o pagamento de direito ou imposto devido pela entrada, pela saída ou pelo consumo de mercadoria.
	Pena - reclusão, de 1 (um) a 4 (quatro) anos. 
 
	 Com a edição da Lei nº 13.008/14 houve a separação dos 	crimes em dois tipos penais distintos. 
Características do tipo penal
	- lei penal em branco homogênea: necessita de complementação por outra lei;
 	
	- consumação: trata-se de crime formal (STF e STJ), logo, consuma-se com a entrada ou saída da mercadoria (permitida), do território nacional; 
	- competência: Justiça Federal (ofende interesse da União).
 Jurisprudência do STJ – crime formal ou material?
	“No julgamento do HC 218.961⁄SP (2011), a 5ª Turma do STJ consolidou entendimento no sentido de que o crime de descaminho é de natureza formal e se aperfeiçoa mediante o não pagamento do imposto devido em razão da entrada de mercadoria no país, sendo prescindível o exaurimento da esfera administrativa com o lançamento do débito fiscal como condição para a persecução penal”.
 Súmula Vinculante 24 (2 dez 2009)
	“Não se tipifica crime material contra a ordem tributária, previsto no art. 1º, incisos I a IV, da Lei nº 8.137/90, antes do lançamento definitivo do tributo”.
	Esse entendimento sempre foi aplicado ao crime de descaminho = tem natureza tributária.
	
 Mudança de posição... 
	STJ, HC 271.650/PE, de 3 mar 2016 (Info 548)
	O crime de descaminho é formal, portanto, se consuma com a entrada ou saída do produto do território nacional. Independe da constituição definitiva do crédito tributário.
	
	
QUESTÃO: O pagamento do tributo acarreta a extinção da punibilidade?	
	
 Resposta (RHC 43.558-SP, de 5 fev 2015)
	Não. O pagamento do tributo devido não extingue a punibilidade do crime de descaminho. A partir do julgamento do HC 218.961/SP, a Quinta Turma do STJ, alinhando-se ao entendimento do STF, passou a considerar ser desnecessária, para a persecução penal do crime de descaminho, a apuração administrativa do montante de tributo que deixou de ser recolhido, tendo em vista a natureza formal do delito, o qual se configura com o simples ato de iludir o pagamento do imposto devido pela entrada de mercadoria no país. 
	
	
	
 Súmula 151, STJ
	A competência para o processo e julgamento por crime de contrabando ou descaminho define-se pela prevenção do juízo federal do lugar da apreensão dos bens.
	
Descaminho e falsidade documental – concurso de crimes?
	O crime de descaminho absorve o de falsidade documental. 
	(REsp 1.378.053/PR, julgado em 10/8/2016)
	Figuras equiparadas - § 1°
§ 1o  Incorre na mesma pena quem:  
I - pratica navegação de cabotagem, fora dos casos permitidos em lei; 
II - pratica fato assimilado, em lei especial, a descaminho;  
III - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira que introduziu clandestinamente no País ou importou fraudulentamente ou que sabe ser produto de introdução clandestina no território nacional ou de importação fraudulenta por parte de outrem; 
IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ouindustrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos.  
	Norma penal explicativa - § 2º
	§ 2o Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.
	Causa de aumento de pena - § 3º
	§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de descaminho é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial.  (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
	- na redação anterior estava previsto somente o transporte aéreo.
	8. Contrabando - art. 334 - A, CP (acrescentado pela Lei nº 13.008/14)
     Art. 334-A. Importar ou exportar mercadoria proibida:  
 Pena - reclusão, de 2 (dois) a 5 ( cinco) anos. 
 
	 Com a edição da Lei nº 13.008/14 houve um aumento na 	pena do crime de contrabando (antes era de 1 a 4 anos).
Características do tipo penal
	- lei penal em branco homogênea: necessita de complementação por outra lei;
 	
	- consumação: consuma-se quando o produto passa pela fiscalização alfandegária; 
	- competência: Justiça Federal (ofende interesse da União).
	 Princípio da especialidade
(Lei de Drogas e Estatuto do Desarmamento)
 	Tratando-se de importação ou exportação de substância entorpecente, configura-se crime de tráfico internacional de entorpecente, previsto no art. 33, caput da Lei nº 11.343/2006; 
	Tratando-se de importação ou exportação ilegal de arma de fogo, acessório ou munição, configura-se o crime previsto no art. 18 da Lei nº 10.826/2003, cuja pena é de quatro a oito anos de reclusão, e multa. 
	 Figuras equiparadas - § 1º
§ 1o Incorre na mesma pena quem:  
I - pratica fato assimilado, em lei especial, a contrabando;  
II - importa ou exporta clandestinamente mercadoria que dependa de registro, análise ou autorização de órgão público competente;  
III - reinsere no território nacional mercadoria brasileira destinada à exportação;  
IV - vende, expõe à venda, mantém em depósito ou, de qualquer forma, utiliza em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira; 
V - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria proibida pela lei brasileira.  
	 Norma penal explicativa - § 2º
	§ 2º - Equipara-se às atividades comerciais, para os efeitos deste artigo, qualquer forma de comércio irregular ou clandestino de mercadorias estrangeiras, inclusive o exercido em residências.  (Incluído pela Lei nº 4.729, de 14.7.1965)
	 Causa de aumento de pena - § 3º
	§ 3o A pena aplica-se em dobro se o crime de contrabando é praticado em transporte aéreo, marítimo ou fluvial. (Incluído pela Lei nº 13.008, de 26.6.2014)
- na redação anterior estava previsto somente o transporte aéreo.
	 Jurisprudência do STJ
	Causa de aumento da pena prevista para os crimes de descaminho e contrabando independe do voo ser regular ou clandestino. 
			(HC 390.899/SP, de 15 mar 2017)
REFERÊNCIAS
1. MASSON, Cléber. Direito Penal Esquematizado: parte especial – vol. 3. 7 ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Forense; São Paulo: Método, 2015. 
2. CAPEZ, Fernando. Curso de Direito Penal. vol 3. 8. ed. São Paulo: Saraiva. v.3, 2012. 
3. GRECO, Rogério. Curso de Direito Penal. Parte Especial. vol III. 12. ed. rev. e atual. – Rio de Janeiro: Impetus, 2015.
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EXERCÍCIOS 
1. Sr. X é servidor público, responsável pela fiscalização aduaneira e, com infração de dever funcional, não reprime a conduta de Sr. W que traz de outro país, sem autorização administrativa, combustível derivado do petróleo.
Nesse caso, caracteriza-se o crime de
a) Condescendência criminosa
b) Extravio de documentos
c) Facilitação de contrabando ou descaminho
d) Modificação não autorizada do sistema de informações 
e) Peculato mediante erro de outrem
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RESPOSTA (CESGRANRIO/2106 – ANP)
Alternativa “c”.
Fundamento: art. 318, CP
 Facilitação de contrabando ou descaminho
        Art. 318 - Facilitar, com infração de dever funcional, a prática de contrabando ou descaminho (art. 334):
        Pena - reclusão, de 3 (três) a 8 (oito) anos, e multa.
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2. Aquele que adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos, incorre na mesma pena do crime de 
a) concussão. 
b) contrabando. 
c) descaminho. 
d) prevaricação. 
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RESPOSTA (CS-UFG/2106 – Prefeitura de Goiânia – Auditor de Tributos)
Alternativa “c”.
Fundamento: art. 334, §1º, IV, CP
Art. 334, §1°, IV - adquire, recebe ou oculta, em proveito próprio ou alheio, no exercício de atividade comercial ou industrial, mercadoria de procedência estrangeira, desacompanhada de documentação legal ou acompanhada de documentos que sabe serem falsos. 
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