Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
A Criança como Produtora Cultural W BA 01 58 _V 1. 1 2/188 A Criança como Produtora Cultural Autora: Rosa Maria de Freitas Rogerio Como citar este documento: ROGERIO, Rosa Maria de Freitas. A Criança como Produtora Cultural. Valinhos: 2016. Sumário Apresentação da Disciplina 04 Unidade 1: A Educação Infantil no Brasil 06 Assista a suas aulas 21 Unidade 2: A Construção Social da Infância 28 Assista a suas aulas 43 Unidade 3: Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico- Culturais 50 Assista a suas aulas 66 Unidade 4: A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas 73 Assista a suas aulas 88 2/188 3/1883 Unidade 5: A Criança Como Produtora de Cultura 95 Assista a suas aulas 111 Unidade 6: A Relação Cuidar e Educar na Educação Infantil 118 Assista a suas aulas 135 Unidade 7: A Importância da Brincadeira na Educação Infantil 142 Assista a suas aulas 158 Unidade 8: Relações Étnico-Raciais na Educação Infantil 165 Assista a suas aulas 181 Sumário A Criança como Produtora Cultural Autora: Rosa Maria de Freitas Rogerio Como citar este documento: ROGERIO, Rosa Maria de Freitas. A Criança como Produtora Cultural. Valinhos: 2016. 4/188 Apresentação da Disciplina A disciplina A criança como Produtora Cultural possibilitará a você estudar a educação infantil no Brasil, com destaque para a reflexão sobre o currículo da infância, em especial, as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), que foram elaboradas em 1999 e revisadas em 2009. Você conhecerá também a experiência de educação infantil pública da Rede Municipal de Ensino de São Paulo, que completou oitenta anos em 2015. A reflexão sobre a educação infantil apresenta o contexto no qual as crianças de zero a cinco anos têm sido acolhidas, educadas e cuidadas nas instituições de educação infantil. A partir desse contexto será possível aprofundar a discussão sobre a construção social da infância e os diversos modos de ser criança, contando com a contribuição das teorias do desenvolvimento humano fundamentadas em pressupostos sócio-histórico-culturais, com destaque para as teorias de Vygotsky e Wallon. A infância e suas linguagens serão estudadas a partir da experiência italiana de educação infantil de Reggio Emilia, da ideia das cem linguagens da criança de Loris Malaguzzi, da Pedagogia da Infância e de como é ser professor na educação infantil sem dar aulas. Você estudará também a criança como produtora de culturas infantis na relação com as culturas familiares e escolares, a relação indissociável do cuidar e do educar na educação infantil, a educação e o cuidado de bebês, o trabalho pedagógico 5/188 no Berçário, a importância da brincadeira para as crianças e as relações de gênero e étnico-raciais na educação infantil. 6/188 Unidade 1 A Educação Infantil no Brasil Objetivos 1. Refletir sobre a educação infantil no Brasil a partir da legislação educacional. 2. Apreciar as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil. 3. Conhecer a história dos 80 anos de educação infantil em São Paulo. Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil7/188 Introdução Você sabia que, desde 1º de janeiro de 2016, a educação infantil, aos 4 e aos 5 anos de idade, é obrigatória no Brasil? Esse avanço para a educação infantil aconteceu a partir da promulgação da LEI nº 12.796, de 4 de abril de 2013, que altera a LDB nº 9394/96 e institui que a educação obrigatória e gratuita no Brasil passa a ser dos 4 aos 17 anos de idade. Apesar de ser um avanço, a LEI deixou de fora as crianças de 0 a 3 anos. Entendemos que a temática sobre a obrigatoriedade da matrícula de bebês e crianças de 0 a 3 anos, na educação infantil, é de fato complexa porque, por um lado, quando não há a obrigatoriedade, as redes públicas de ensino não são responsabilizadas pelo não oferecimento de vagas a todas as crianças e as filas por uma vaga em instituições de educação infantil crescem a cada ano. Por outro, a obrigatoriedade tiraria da família o direito de decidir se o bebê vai aos quatro ou aos seis meses de idade para a instituição da educação infantil ou se ele fica no seio da família. Você deve pensar: se a LEI que altera a LDB é de 2013, por que somente em 2016 ela passou a valer? Os legisladores entenderam que as redes públicas de ensino de todo o país precisavam de um tempo para se organizar e se preparar para atender a todas as crianças de 4 e 5 anos, por isso houve esse prazo de adaptação à nova LEI. Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil8/188 A LDB em vigor explica que a educação infantil, como “primeira etapa da educação básica, tem como finalidade o desenvolvimento integral da criança de até 5 anos, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e da comunidade (artigo 29)”, que ela será oferecida em “creches ou instituições equivalentes para crianças de até três anos de idade (artigo 30, inciso I)” e em “pré- escolas, para as crianças de 4 e 5 anos de idade (artigo 30, inciso II)”. Em grande parte das redes públicas de ensino as denominações ‘creche’ e ‘pré-escola’ têm sido substituídas por ‘centro de educação infantil’ ou algum termo equivalente. Isso tem acontecido devido aos estudos de pedagogos, sociólogos da infância e psicólogos, que explicam que a educação infantil tem importância e valor em si mesma e não é preparação para o ensino fundamental. Diante desse contexto, o termo ‘pré-escola’ que ensejava a ideia de preparação para a escola fundamental e o termo ‘creche’ que foi criado no contexto da assistência social e não da educação têm sido substituídos por centro de educação infantil, escola de educação infantil, jardim de infância, entre outros. A educação infantil pública precisa ser organizada de acordo com as seguintes regras, previstas na LDB, em seu artigo 31: Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil9/188 I - avaliação mediante acompanhamento e registro do desenvolvimento das crianças, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino fundamental; II - carga horária mínima anual de 800 (oitocentas) horas, distribuída por um mínimo de 200 (duzentos) dias de trabalho educacional; III - atendimento à criança de, no mínimo, 4 (quatro) horas diárias para o turno parcial e de 7 (sete) horas para a jornada integral; IV - controle de frequência pela instituição de educação pré-escolar, exigida a frequência mínima de 60% (sessenta por cento) do total de horas; V - expedição de documentação que permita atestar os processos de desenvolvimento e aprendizagem da criança. O inciso I traz uma orientação bastante importante: a educação infantil por não ser preparatória para o ensino fundamental, não tem como objetivo a promoção da criança para a próxima etapa da educação básica. Isso quer dizer que nenhuma criança pode ser ‘reprovada’ Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil10/188 na educação infantil por não ter alcançado um pré-requisito para cursar o primeiro ano do ensino fundamental. A seguir, você estudará as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, que foram revisadas em 2009 pelo Conselho Nacional de Educação e pela Câmara de Educação Básica, e conhecerá a experiência de uma rede pública de ensino que já tem oitenta anos de educação infantil. 1. As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil Você já deve ter ouvido algo sobre os Parâmetros Nacionais Curriculares, que ficaram conhecidos como PCN na década de 1990. O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (RCNEI), elaborado pelo Conselho Nacional de Educação, em 1998, no contexto dos PCN, contém a origem das Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI), que foram instituídas em 1999. Link <http://portal.mec.gov.br/escola-de- gestores-da-educacao-basica/323- secretarias-112877938/orgaos-vinculados- 82187207/14306-cne-historico>.http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-basica/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/14306-cne-historico http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-basica/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/14306-cne-historico http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-basica/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/14306-cne-historico http://portal.mec.gov.br/escola-de-gestores-da-educacao-basica/323-secretarias-112877938/orgaos-vinculados-82187207/14306-cne-historico Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil11/188 As DCNEI são balizas norteadoras obrigatórias, porém flexíveis na sua realização, que orientam o planejamento, o desenvolvimento e avaliação da Educação Infantil no Brasil. As DCNEI concebem o currículo na Educação Infantil como “um conjunto de práticas que buscam Link <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/ pdf/livro01.pdf e http://portal.mec.gov. br/par/195-secretarias-112877938/seb- educacao-basica-2007048997/12657- parametros-curriculares-nacionais-5o-a- 8o-series. <http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/ rcnei_vol1.pdf>. <http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/ resolucao_ceb_0199.pdf> Para saber mais Para saber mais sobre o Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil, acesse o artigo “O Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil no contexto das reformas”, de Ana Beatriz Cerisara. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/es/ v23n80/12935.pdf>. http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/livro01.pdf http://portal.mec.gov.br/par/195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/12657-parametros-curriculares-nacionais-5o-a-8o-series http://portal.mec.gov.br/par/195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/12657-parametros-curriculares-nacionais-5o-a-8o-series http://portal.mec.gov.br/par/195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/12657-parametros-curriculares-nacionais-5o-a-8o-series http://portal.mec.gov.br/par/195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/12657-parametros-curriculares-nacionais-5o-a-8o-series http://portal.mec.gov.br/par/195-secretarias-112877938/seb-educacao-basica-2007048997/12657-parametros-curriculares-nacionais-5o-a-8o-series http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf http://portal.mec.gov.br/seb/arquivos/pdf/rcnei_vol1.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/resolucao_ceb_0199.pdf http://portal.mec.gov.br/dmdocuments/resolucao_ceb_0199.pdf ttp://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12935.pdf ttp://www.scielo.br/pdf/es/v23n80/12935.pdf Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil12/188 articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico” (BRASIL, 2013, p. 86). É preciso estar atento para o fato de que esse conjunto de práticas acontece em meio a relações sociais que a criança estabelece com os adultos e com as outras crianças na instituição de educação infantil, o que contribui para a construção de sua identidade. Os princípios básicos que orientam essas práticas são: • Éticos: da autonomia, da responsabilidade, da solidariedade e do respeito ao bem comum, ao meio ambiente e às diferentes culturas, identidades e singularidades. • Políticos: dos direitos de cidadania, do exercício da criticidade e do respeito à ordem democrática. • Estéticos: da sensibilidade, da criatividade, da ludicidade e da liberdade de expressão nas diferentes manifestações artísticas e culturais (BRASIL, 2010, p. 16). Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil13/188 Em relação aos princípios éticos, defendemos que a instituição de educação infantil deve promover práticas educativas nas quais os interesses da criança sejam considerados, sua voz seja ouvida, seus desejos sejam percebidos, sua curiosidade seja valorizada, sua autonomia seja incentivada, suas necessidades sejam atendidas, as questões de gênero e das relações étnico-raciais sejam problematizadas e os preconceitos sejam combatidos. No rol dos princípios políticos, entendemos que a principal questão é a convivência com os outros, ou seja, a vida em sociedade. Dessa forma, as práticas educativas precisam promover a formação integral da criança, considerando suas emoções, seus interesses e suas diferenças e fazendo com que cada criança perceba e respeite as emoções, os interesses e as diferenças das outras crianças. No que diz respeito aos princípios estéticos, considero que as práticas educativas na educação infantil precisam estar organizadas no sentido de permitir que a criança se inspire, crie e produza arte, cultura, brincadeiras, respostas e soluções para questões do cotidiano a partir de situações motivadoras, desafiadoras, estimulantes e seguras. A seguir você conhecerá a experiência de educação infantil pública que completou 80 anos em 2015. Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil14/188 2. Os 80 Anos de Educação Infantil em São Paulo A educação infantil no Brasil surge no final do século XIX, em São Paulo e no Rio de Janeiro, com a criação de jardins de infância privados e públicos (OLIVEIRA, 2007). Foi preciso mais de um século para garantir, por força de lei, o direito de parte das crianças – com quatro e cinco anos de idade – à educação infantil. É nesse contexto que apresentamos para você a experiência de educação infantil da Rede Municipal de Ensino de São Paulo que completou 80 anos em 2015. A história da educação infantil em São Paulo tem início quando Mario de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura do município, cria três Parques Infantis (PI) em 1935, para atender às crianças de 3 a 12 anos de idade. A educação infantil em São Paulo nasce a partir da relação entre educação, cultura, arte, lazer, recreação e desenvolvimento integral da criança, tendo o caráter lúdico e artístico como articulador dessa relação. Nos Parques Infantis as crianças Para saber mais Para saber mais, leia a edição especial da Revista Magistério em: <http://portal.sme.prefeitura. sp.gov.br/Portals/1/Files/24816.pdf>. http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/24816.pdf http://portal.sme.prefeitura.sp.gov.br/Portals/1/Files/24816.pdf Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil15/188 [...] produziam cultura e conviviam com a diversidade da cultura nacional, quando o cuidado e a educação não estavam antagonizados, e a educação, a assistência social e a cultura estavam macunaimicamente integradas, no tríplice objetivo parqueano: educar, assistir e recrear (FARIA, 1999, p. 62). Com o passar dos anos, os jogos, as brincadeiras, a liberdade, a ludicidade e a arte que davam o tom às práticas educativas nos parques infantis foram sendo substituídos pelo modelo escolarizado do ensino fundamental e os parques infantis ganharam nova nomenclatura: Escolas Municipais de Educação Infantil. Apesar disso, entendemos que a Rede Municipal de Ensino de São Paulo tem buscado resgatar a autenticidade e a beleza do projeto de Mario de Andrade para a educação infantil ao promover formação continuada para os profissionais da educação na perspectiva da descolonização do currículo da educação infantil e dos estudos da pedagogia e da sociologia da infância. Outro capítulo da história da educação infantil na Rede Municipal de Ensino de São Paulo aconteceu no início dos anos 2000, quando as creches, pertencentes à Secretaria de Assistência Social, passaram a pertencer à Secretaria Municipal de Educação. Essa passagem da Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil16/188 assistência social para a educação conferiu à creche um salto qualitativo no que diz respeito ao atendimento das crianças de zero a três anos. A denominação creche deu lugar ao nome centro de educação infantil e a criança passou a ser considerada como um sujeito de direitos. Em 2016, a Rede Municipal de Ensino de São Paulo atende acerca de meio milhão de crianças em 2016 nos Centros de Educação infantil (que atendem a crianças de zero a três anos), em 545 Escolas Municipais de Educação Infantil (que atendem a crianças de quatro e cinco anos) e em 5 Centros Municipais de Educação Infantil (que atendem a crianças de zero a cinco anos). Entendemos que a experiência dessa rede contribui para a educação infantil no Brasil porque considera a criança como ser social e histórico que ao estabelecer múltiplas relações com as pessoas com as quais convive, produz cultura (as culturas infantis), constrói seus saberes, reinventa e cria brincadeiras e são protagonistas de seu aprendizado e do seu desenvolvimento. Para saber mais Para saber mais sobre os números da Rede Municipal de Ensino de São Paulo acesse o portal da Secretaria Municipal de Educação no endereço: <http://portalsme.prefeitura. sp.gov.br/>. http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/ http://portalsme.prefeitura.sp.gov.br/ Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil17/188 Glossário Primeira infância: período que vai de zero a três anos de vida. Questões de gênero: modos como a sociedade concebe os diferentes papéis sociais e comportamentos atribuídos aos homens e às mulheres. Descolonização do currículo: questionamento do modo como o currículo tradicional tem sido construído e valorizado e que propõe outros paradigmas para a seleção de conteúdos. Questão reflexão ? para 18/188 Você frequentou alguma instituição de educação infantil quando era criança? Escreva uma carta para sua professora daquela época, contando como foi essa experiência, relacionando com alguns assuntos estudados na aula. Se você não frequentou a educação infantil, escreva uma carta para o secretário de educação explicando qual o motivo que o levou a não frequentar a educação infantil e relacione com os assuntos estudados na aula. 19/188 Considerações Finais • A educação infantil é a primeira etapa da educação básica e contempla as crianças de zero a cinco anos de idade. • A partir de 2016 a educação infantil passou a ser obrigatória para as crianças de quatro e cinco anos de idade. • As DCNEI são balizas norteadoras obrigatórias, porém flexíveis na sua realização, que orientam o planejamento, o desenvolvimento e avaliação da educação infantil no Brasil. • A experiência de educação infantil paulistana completou 80 anos em 2015 e considera a criança como ser social e histórico, produtora de cultura, construtora de saberes e protagonista de seu aprendizado. Unidade 1 • A Educação Infantil no Brasil20/188 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010. FARIA, Ana Lucia Goulart de. A contribuição dos parques infantis de Mario de Andrade para a construção de uma pedagogia infantil. Educação e Sociedade. Campinas, v. 20, n. 69, p. 60-91, dez. 1999. OLIVEIRA, Zilma Ramos de. Educação infantil: fundamentos e métodos. 3ª ed. São Paulo: Cortez, 2007. 21/188 Assista a suas aulas Aula 1 - Tema: A Educação Infantil no Brasil - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ ecc6f12b3d029e8fba319b4f45561d4c>. Aula 1 - Tema: A Educação Infantil no Brasil - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/pA- piv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ab- 2c995b6dcad5a4297a76d7d1dded8e>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ecc6f12b3d029e8fba319b4f45561d4c http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ecc6f12b3d029e8fba319b4f45561d4c http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ecc6f12b3d029e8fba319b4f45561d4c http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ab2c995b6dcad5a4297a76d7d1dded8e http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ab2c995b6dcad5a4297a76d7d1dded8e http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ab2c995b6dcad5a4297a76d7d1dded8e 22/188 1. A educação infantil no Brasil é obrigatória desde: a) 1 de janeiro de 2013. b) 1 de janeiro de 2014. c) 1 de janeiro de 2015. d) 1 de janeiro de 2016. e) 4 de abril de 2013. Questão 1 23/188 2. Pedagogos, sociólogos da infância e psicólogos entendem que: a) A educação infantil tem importância e valor em si mesma e não é preparação para o ensino fundamental. b) A educação infantil tem importância e valor em si mesma e é preparação para o ensino fundamental. c) A educação infantil tem importância, mas não tem valor em si mesma e não é preparação para o ensino fundamental. d) A educação infantil tem importância, mas não tem valor em si mesma e é preparação para o ensino fundamental. e) A educação infantil não tem importância e nem valor em si mesma e não é preparação para o ensino fundamental. Questão 2 24/188 3. O que são as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil? a) São propostas pedagógicas obrigatórias que orientam o planejamento, o desenvolvimento e avaliação da Educação Infantil no Brasil. b) São balizas norteadoras obrigatórias, porém flexíveis na sua realização, que orientam o planejamento, o desenvolvimento e avaliação da Educação Infantil no Brasil. c) São balizas norteadoras obrigatórias que orientam o planejamento, o desenvolvimento e avaliação da Educação Infantil no Brasil e que precisam ser cumpridas. d) São pressupostos obrigatórios que orientam o planejamento, o desenvolvimento e avaliação da Educação Infantil no Brasil. e) São orientações, não obrigatórias, sobre o currículo na educação infantil que orientam o planejamento, o desenvolvimento e a avaliação. Questão 3 25/188 4. As DCNEI concebem o currículo na Educação Infantil como: a) Um conjunto de regulações políticas que direcionam as experiências das crianças e os conhecimentos que fazem parte do patrimônio artístico, científico e tecnológico. b) Um conjunto de pressupostos filosóficos que orientam as experiências das crianças, de acordo com os conhecimentos que fazem parte apenas do patrimônio científico e tecnológico. c) Um conjunto de orientações pedagógicas sobre as experiências das crianças em relação aos conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. d) Um conjunto de práticas pedagógicas que direcionam todas as experiências das crianças que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. e) Um conjunto de práticas que buscam articular as experiências e os saberes das crianças com os conhecimentos que fazem parte do patrimônio cultural, artístico, científico e tecnológico. Questão 4 26/188 5. A educação infantil em São Paulo nasce a partir da relação entre: a) Educação, ciência, arte e desenvolvimento integral da criança, tendo o caráter cientifico e artístico como articulador dessa relação. b) Educação, cultura, arte e ciência para o desenvolvimento integral da criança, tendo o caráter científico e artístico como articulador dessa relação. c) Educação, cultura, arte, lazer, recreação e desenvolvimento integral da criança, tendo o caráter lúdico e artístico como articulador dessa relação. d) Educação, cultura, arte, lazer e desenvolvimento integral da criança, tendo o caráter preparatório para o ensino fundamental como articulador dessa relação. e) Educação, cultura, arte e desenvolvimento integral da criança, tendo o caráter científico e psicológico como articulador dessa relação. Questão 5 27/188 Gabarito 1. Resposta: D. A Lei nº 12796 é de 4 de abril de 2013, mas as redes de ensino tiveram um prazo para universalizar a educação infantil de 4 e 5 anos. 2. Resposta: A.A educação infantil tem importância e valor em si mesma e não é preparação para o ensino fundamental. 3. Resposta: B. As DCNEI são balizas norteadores obrigatórias, mas cada rede de ensino conta com autonomia e flexibilidade para fazer alterações de acordo com seu contexto sócio-histórico-cultural. 4. Resposta: E. As DCNEI entendem o currículo a partir da articulação entre os saberes das crianças e os saberes sistematizados. 5. Resposta: C. O currículo dos parques infantis era elaborado a partir da relação entre educação, cultura, arte, lazer, recreação e desenvolvimento integral da criança. 28/188 Unidade 2 A Construção Social da Infância Objetivos 1. Entender que a infância é construída social, cultural e historicamente. 2. Compreender a criança como ator social e sujeito de direitos. 3. Refletir sobre a instituição de educação infantil e sua relação com as múltiplas infâncias. Unidade 2 • A Construção Social da Infância29/188 Introdução Você tem percebido que os bebês e as crianças bem pequenas tem se mostrado muito espertas e tem interagido com o mundo a sua volta de modo cada vez mais inventivo, criativo e autoral? Há pessoas que dizem que ‘hoje as crianças já nascem falando’, que ‘hoje os bebês dormem menos do que antigamente’ e que ‘antigamente as crianças eram mais devagar em seu desenvolvimento e aprendizagem’. Você se lembra, ou já ouviu falar, que os bebês quando nasciam eram embrulhados como um ‘charutinho’ em cueiros e que demoravam cerca de sete dias para abrir os olhos? Os modos como a criança é cuidada e educada se relacionam diretamente às questões culturais do contexto histórico e social no qual a criança está inserida. No contexto social da década de 1970, o bebê era enrolado em cueiros e colocado em berço localizado em cômodo silencioso e com pouca luz, para que ele não fosse perturbado, o que também oferecia poucos estímulos para seu desenvolvimento e contribuía para que ele dormisse por muito tempo. Nos dias atuais entende-se que a criança precisa ter liberdade de movimentos, utilizando roupas confortáveis, e não se faz mais uso do cueiro para ‘engessar a criança’. A mãe alimenta o bebê assistindo televisão, mexendo no celular, o que implica estímulo sonoro e visual ao bebê. São as condições de vida do bebê e da criança pequena, em contextos sócio-histórico-culturais, que têm mudado e que têm gerado mudanças Unidade 2 • A Construção Social da Infância30/188 no modo como a infância é cuidada e educada e isso influencia diretamente a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças e dos bebês. As ideias do parágrafo anterior ajudam a entender porque considero que a infância é construída social, cultural e historicamente. Para refletir sobre a construção social da infância conto com o conhecimento da sociologia da infância, que concebe a criança como sujeito histórico situado em um contexto cultural e social que influencia diretamente sua aprendizagem e seu desenvolvimento. Dessa forma, crianças são diferentes e diferentes são também suas infâncias, por isso não está correta a afirmação que ‘criança é tudo igual’. Cada contexto social de vida imputa à criança modos distintos de ser criança e de viver a infância. Nessa perspectiva, a criança é compreendida como um sujeito de direitos e o adultocentrismo é rechaçado por ser uma forma de colonização da criança. Para saber mais Para saber mais sobre sociologia da infância, leia o artigo ‘Sociologia da Infância no Brasil: uma área em construção’, disponível no link: <http:// periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/ view/1602>. A sociologia da infância (FARIA; FINCO, 2011 e ABRAMOWICZ; OLIVEIRA, 2010) é um campo teórico da sociologia, surgido no movimento da sociologia da infância http://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/1602 http://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/1602 http://periodicos.ufsm.br/reveducacao/article/view/1602 Unidade 2 • A Construção Social da Infância31/188 na Europa a partir da década de 1980, que entende a infância como uma construção social e que busca compreender o modo como a criança percebe o mundo e interage com ele. Desse modo, a sociologia da infância contesta as teorias da psicologia do desenvolvimento e do comportamento – com destaque para o que foi proposto por Jean Piaget, pois essas teorias apresentam características prescritivas, normalizantes e moralizantes para a infância. Link <https://periodicos.ufsc.br/index.php/ perspectiva/article/view/10282>. A partir do referencial teórico da sociologia da infância, a criança é estudada como um ser ativo no cotidiano, o que sinaliza a possibilidade de compreender de que modo ela interage no mundo do adulto, negociando, compartilhando e criando culturas. Se em outros referenciais teóricos a criança foi excluída, silenciada e vista sempre a partir da visão do adulto, com a sociologia da infância ela passa a ser compreendida em sua relação ativa com a cultura e a sociedade. E essa compreensão ajuda a considerar a existência de múltiplas infâncias e de variadas formas de se viver as infâncias. A seguir, você estudará os conceitos de criança e infância e refletirá sobre quais são as contribuições da sociologia da infância para as instituições de educação infantil. https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/10282 https://periodicos.ufsc.br/index.php/perspectiva/article/view/10282 Unidade 2 • A Construção Social da Infância32/188 1. Os Conceitos de Infância e de Criança Você tem a impressão que os conceitos ‘criança’ e ‘infância’ são tão comuns no dia a dia e nunca parou pra refletir melhor sobre eles? A etimologia da palavra infância deriva do latim infans que significa ‘aquele que não fala’ e traz a ideia também da ausência de razão, de irracionalidade. [...] por não falar, a infância não se fala e, não se falando, não ocupa a primeira pessoa nos discursos que dela se ocupam. E, por não ocupar esta primeira pessoa, isto é, por não dizer eu, por jamais assumir o lugar de sujeito do discurso, e, consequentemente, por consistir sempre um ele/ela nos discursos alheios, a infância é sempre definida de fora (LAJOLO, 2006, p. 230). Link <http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem13pdf/sm13ss04_02.pdf>. http://alb.com.br/arquivo-morto/edicoes_anteriores/anais16/sem13pdf/sm13ss04_02.pdf Unidade 2 • A Construção Social da Infância33/188 Segundo os estudos do historiados francês Philippe Ariés (2014), a infância foi uma invenção da modernidade, pois na Idade Média a criança era tratada como um ‘adulto em miniatura’ e não havia uma divisão significativa entre o que cabia a uma criança fazer e como ela deveria ser tratada. Por esse motivo, as crianças viviam vidas semelhantes às dos adultos. Somente na Idade Moderna a infância ganha outro sentido devido às várias transformações pelas quais a sociedade passa, como, por exemplo, a invenção da imprensa no final A infância não é um acontecimento natural, mas sim produto de um meio social, histórico e cultural, pois as crianças, ao longo da história sempre foram tratadas, cuidadas e educadas a partir de interesses políticos, culturais e econômicos da sociedade, em determinados momentos e lugares. O que me leva a entender que a criança tem sido cuidada e educada de modos distintos ao longo da história e de acordo com seu local de nascimento. Por isso prefiro sempre falar em infâncias no plural e de infâncias concretas, pois não compreendo a infância como algo idealizado, homogêneo e universal. Link <http://cchla.ufrn.br/publicacoes/olhar. pdf>. http://cchla.ufrn.br/publicacoes/olhar.pdf http://cchla.ufrn.br/publicacoes/olhar.pdf Unidade 2 • A Construção Social da Infância34/188 do século XV, que imputa à sociedade a necessidade de que mais pessoas fossem alfabetizadas. Nesse contexto, a criança passa a ser compreendida por outro prisma, o que a diferencia do adultoe começam estudos (DURAES, 2011 e HEYWOOD, 2004) e pesquisas sobre essa etapa específica da vida do ser humano. Para saber mais Para saber mais leia o texto “Da infância sem valor à infância de direitos: diferentes construções conceituais de infância ao longo do tempo histórico”, no link: <http://www.pucpr. br/eventos/educere/educere2008/anais/ pdf/892_632.pdf>. Depois de estudar o conceito de infância, você vai refletir sobre o conceito de criança. A etimologia da palavra criança se origina do latim criar que significa ‘criar, crescer’. Dessa forma, a criança é um ser humano que está em constante processo de criação e crescimento até doze anos incompletos (Lei nº 8069/90). Nas Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (BRASIL, 2010, p. 12), o conceito de criança significa http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/892_632.pdf http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/892_632.pdf http://www.pucpr.br/eventos/educere/educere2008/anais/pdf/892_632.pdf Unidade 2 • A Construção Social da Infância35/188 Sujeito histórico e de direitos que, nas interações, relações e práticas cotidianas que vivencia, constrói sua identidade pessoal e coletiva, brinca, imagina, fantasia, deseja, aprende, observa, experimenta, narra, questiona e constrói sentidos sobre a natureza e a sociedade, produzindo cultura. Os conceitos de infância e de criança confirmam a ideia da criança como portadora de história, construtora de cultura e sujeito de direitos. Nesse contexto a infância adquire uma nova visibilidade, pois as crianças são seres ativos que desenvolvem interações complexas com os adultos e com outras crianças. [...] Portanto, a concepção de criança e infância na qual acreditamos é a de que ela é um ser histórico, social e político, que encontra nos outros, parâmetros e informações que lhe permitem formular, questionar, construir e reconstruir espaços que a cercam. Apostamos numa concepção que não se fixa num único modelo, que está aberta à diversidade e à multiplicidade que são próprias do ser humano (KRAMER, 1999, p. 277). Unidade 2 • A Construção Social da Infância36/188 A seguir, você verá como as concepções de infância e de criança condicionam os modos como elas são tratadas nas instituições de educação infantil. 2. A Instituição de Educação Infantil e as Múltiplas Infâncias As concepções de criança e de infância influenciam diretamente a organização e a gestão da instituição de educação infantil, e revelam como as crianças são recebidas, acolhidas, cuidadas e educadas pela escola. A instituição de educação infantil que proporciona o alcance das crianças aos materiais, aos brinquedos, à experiência de servir-se, de escolher o que quer comer, rompe com aquela imagem de instituição que promove a dependência da criança em relação ao adulto. Nesse contexto, a instituição de educação infantil que compreende a criança como um ator social – que tem interesses, curiosidades, saberes e opiniões sobre o cotidiano em que vive – promove práticas educativas que, ao considerar a criança como um sujeito de direitos, contribui para o desenvolvimento de sua autonomia e de seu protagonismo. Observar a criança e escutar sua voz com atenção, cuidado, respeito e curiosidade permite ao educador conhecer a criança, considerar seu ponto de vista e promover práticas educativas que tiram a criança de uma situação de invisibilidade. Dar visibilidade a uma criança significa considerá-la como um ator social, sujeito Unidade 2 • A Construção Social da Infância37/188 de direitos, inserida em diversos contextos concretos de vida que influenciam diretamente seus modos de viver a infância. Cada criança é única, por isso existem múltiplas infâncias. Diante disso, pergunto: Como os estudos da sociologia da infância trazem contribuições para a educação infantil? Eu diria que as contribuições são: • Assunção da criança como ator social e sujeito de direitos, portanto, protagonista de sua aprendizagem e de seu desenvolvimento. • Valorização das múltiplas infâncias e dos múltiplos modos de viver a infância. • Entendimento da criança como produtora de cultura infantil. • Compreensão da criança como um ser do presente, onde a educação infantil tem um valor em si mesma e não é etapa preparatória para a próxima fase da vida. Para saber mais Para saber mais, acesse o link: <http:// www.fumec.br/revistas/paideia/article/ download/919/693>. http://www.fumec.br/revistas/paideia/article/download/919/693 http://www.fumec.br/revistas/paideia/article/download/919/693 http://www.fumec.br/revistas/paideia/article/download/919/693 Unidade 2 • A Construção Social da Infância38/188 Por tudo que foi dito, as instituições de educação infantil precisam repensar suas práticas educativas no sentido de oportunizar para as crianças a vivência de experiências enriquecedoras e desafiadoras no que diz respeito às múltiplas linguagens, às brincadeiras, ao convívio coletivo, às rotinas de cuidado e de alimentação e ao acesso aos saberes, à cultura, às ciências etc. Unidade 2 • A Construção Social da Infância39/188 Glossário Sócio-histórico-cultural: qualidade de natureza social, histórica e cultural ao mesmo tempo. Colonização da criança: se refere à atitude do adulto que desconsidera o ponto de vista e o interesse da criança para impor os seus; é um desrespeito à criança; é uma forma de silenciar a criança. Adultocentrismo: poder centrado nas mãos dos adultos; as crianças não são consideradas como atores sociais que produzem saberes e culturas. Questão reflexão ? para 40/188 Assista ao documentário Babies, do diretor Thomas Balmés, que retrata o nascimento e os primeiros anos de vida de quatro bebês em diferentes partes do mundo e produza uma dissertação na qual você explica como cada cultura cuida e educa seu bebê, na perspectiva da construção social da infância. Link Disponível em: <https://www.youtube.com/watch?v=AXtgjdJ_8DE>. https://www.youtube.com/watch?v=AXtgjdJ_8DE 41/188 Considerações Finais • A infância não é um acontecimento natural, mas produto de um contexto social, histórico e cultural. • Valorização das infâncias no plural e recusa da ideia de infância como algo idealizado, homogêneo e universal. • Os conceitos de infância e de criança confirmam a ideia da criança como portadora de história, construtora de cultura e sujeito de direitos. • As concepções de criança e de infância influenciam diretamente a organização e a gestão da instituição de educação infantil, e revelam como as crianças são recebidas, acolhidas, cuidadas e educadas. Unidade 2 • A Construção Social da Infância42/188 Referências ABRAMOWICZ, Anete; OLIVEIRA, Fabiana de. A sociologia da infância no Brasil: uma área em construção. Educação (UFSM), Santa Maria, p. 39-52, maio 2010. ARIÉS, Philippe. História social da criança e da família. 2ª ed. Rio de Janeiro, LTC, 2014. BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes curriculares nacionais para a educação infantil. Brasília: MEC, SEB, 2010. DURAES, Sarah Jane Alves. Aprendendo a ser professor(a) no século XIX: algumas influências de Pestalozzi, Froebel e Herbart. Educ. Pesqui., São Paulo, v. 37, n. 3, p. 465-480, Dec. 2011. FARIA, Ana Lúcia Goulart de; FINCO, Daniela (Orgs.). Sociologia da infância no Brasil. Belo Horizonte: Autores Associados, 2011. HEYWOOD, Colin. Uma história da infância: da Idade Média à época contemporânea no ocidente. Porto Alegre: Artmed, 2004. LAJOLO, Marisa. Infância de papel e tinta. In: FREITAS, M. C. (Org.). História social da infância no Brasil. São Paulo: Cortez, 2006. KRAMER, Sônia. Infância e produção cultural. Campinas: Papirus, 1999. 43/188 Assista a suas aulas Aula 2 - Tema: A Construção Social da Infância - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 31d7a8ff2ba2830b0cc744863794b32d>.Aula 2 - Tema: A Construção Social da Infância - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ beb3b45bd14bc9a1a1ff930f295c1962>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/31d7a8ff2ba2830b0cc744863794b32d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/31d7a8ff2ba2830b0cc744863794b32d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/31d7a8ff2ba2830b0cc744863794b32d http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/beb3b45bd14bc9a1a1ff930f295c1962 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/beb3b45bd14bc9a1a1ff930f295c1962 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/beb3b45bd14bc9a1a1ff930f295c1962 44/188 1. A ideia de infância construída social, cultural e historicamente se baseia na: a) Ideia de criança como sujeito situado em um contexto cultural e social que quase não contribui para sua aprendizagem e seu desenvolvimento. b) Concepção de criança como ser frágil, indefeso que precisa ser cuidado e educado de forma afetuosa. c) Concepção de criança como sujeito histórico situado em um contexto cultural e social que influencia diretamente sua aprendizagem e seu desenvolvimento. d) Ideia de criança como sujeito histórico, mas que passa por etapas biológicas de desenvolvimento independentemente do contexto cultural. e) Concepção de criança como sujeito biológico que se desenvolve da mesma forma, pois pertence à espécie humana. Questão 1 45/188 2. A sociologia da infância entende a infância como uma construção social e busca: Questão 2 a) Entender o modo como os adultos cuidam das crianças e a educam. b) Contribuir para os estudos da pedagogia behaviorista sobre as crianças. c) Conhecer as etapas de desenvolvimento da criança. d) Compreender o modo como a criança percebe o mundo e interage com ele. e) Refletir sobre o desenvolvimento da criança exclusivamente no espaço escolar. 46/188 3. Por que a infância não é um acontecimento natural? Questão 3 a) Porque a criança é cuidada e educada de modos distintos ao longo da história e de acordo com seu local de nascimento. b) Porque a criança, por ser da espécie humana, se desenvolve do mesmo modo, independentemente da sua cultura. c) Porque a infância é um acontecimento universal em que todas as crianças do mundo se desenvolvem da mesma forma. d) Porque a infância é entendida a partir dos estágios de desenvolvimento fisiológico, biológico e psicológico da criança. e) Porque a criança, ao ser educada de modos distintos, vai se desenvolvendo de acordo com estágios de maturação. 47/188 4. Qual ideia os conceitos de infância e de criança confirmam? Questão 4 a) A ideia da criança como ser universal, homogêneo, que se desenvolve por etapas de acordo com sua maturidade. b) A ideia da criança como sujeito de direitos, que se desenvolve a partir de estágios, de acordo com os estímulos que recebe. c) A ideia de criança como ator social, condicionada por seu desenvolvimento biológico, fisiológico e psicológico. d) A ideia da criança como ser humano, que precisa ser cuidada e educada de modo afetuoso e respeitoso. e) A ideia da criança como portadora de história, construtora de cultura e sujeito de direitos. 48/188 5. O educador que observa a criança e escuta sua voz com atenção, cuidado, respeito e curiosidade: Questão 5 a) Reflete sobre a criança a partir do estágio de desenvolvimento no qual a criança se encontra. b) Conhece a criança, considera seu ponto de vista e promove práticas educativas que tiram a criança de uma situação de invisibilidade. c) Compreende a criança como sujeito de direitos, que precisa ser cuidada e educada de modo afetuoso, e de acordo com sua maturidade biológica. d) Conhece a criança, considera seu ponto de vista e promove práticas pedagógicas a partir do estágio de desenvolvimento da criança. e) Entende a criança como ator social, que precisa dos exemplos dos adultos e não das crianças para poder se desenvolver. 49/188 Gabarito 1. Resposta: C. As condições de vida da criança, em contextos sócio-histórico-culturais, têm mudado e têm gerado mudanças no modo como a infância é cuidada e educada, o que influencia diretamente sua aprendizagem e seu desenvolvimento. 2. Resposta: D. Com a sociologia da infância a criança passa a ser compreendida em sua relação ativa com a cultura e a sociedade. 3. Resposta: A. A infância é construída socialmente e não naturalmente. 4. Resposta: E. Por ser uma construção social, a infância considera a criança a partir de seu contexto sócio-histórico-cultural. 5. Resposta: B. Esse professor considera a criança como ator social e sujeito de direitos. 50/188 Unidade 3 Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais Objetivos 1. Conhecer teorias sobre o desenvolvimento humano com base em elementos sócio-histórico- culturais. 2. Refletir sobre a Teoria Histórico- Cultural de Vygotsky. 3. Entender a Psicologia Sócio-Histórica de Wallon. Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais51/188 Introdução Você vai estudar duas teorias sobre o desenvolvimento humano que concebem a criança como ator social e sujeito histórico e que a estudam a partir da ideia da construção social da infância porque compreendem que a possibilidade da criança aprender a andar, a falar, a controlar o esfíncter, a imaginar, a pensar de modo raciocinado etc., está diretamente relacionada às qualidades dos estímulos que a criança recebe do meio em que vive, seja no contexto da família ou no contexto da instituição de educação infantil. Embora nessas aquisições a dimensão orgânica da criança se faça presente, suas capacidades para discriminar cores, memorizar poemas, representar uma paisagem através de um desenho, consolar uma criança que chora etc., não são constituições universais biologicamente determinadas e esperando o momento de amadurecer. Elas são histórica e culturalmente produzidas nas relações que estabelecem com o mundo material e social mediadas por parceiros mais experientes. (BRASIL, 2013, p. 86). Compreendo que a aprendizagem e o desenvolvimento da criança acontecem a partir das possibilidades de interações entre os sujeitos – crianças ou adultos – e o ambiente social onde a criança está inserida. Por esse motivo escolhemos as teorias sobre o desenvolvimento Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais52/188 humano elaboradas por Vygotsky (2007, 1996, 1995 e 1987) e por Wallon (2008 e 2007) para estudar o desenvolvimento da criança. Para saber mais Para saber mais sobre criança, infância e Teoria Histórico-Cultural acesse o link: <http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/ TeorPratEduc/article/view/18549>. Durante muito tempo o biólogo Jean Piaget (2002, 1987) foi considerado um dos principais estudiosos sobre o desenvolvimento da criança no meio pedagógico e psicológico. Piaget (1987) e Piaget & Inhelder (2007) explicam que a origem do desenvolvimento cognitivo da criança acontece de dentro do organismo para fora dele, de acordo com a maturidade fisiológica e biológica da criança. Desse modo, qualquer criança, por ser da espécie humana, em qualquer lugar do planeta, se desenvolve de modo semelhante porque o contexto sócio- histórico-cultural da criança não é levado em consideração. É como se fosse possível afirmar que uma criança que nasce e é criada em uma situação de vulnerabilidade social e de pouco acesso aos bens culturais e materiais se desenvolva de modo semelhante a uma criança nascida e criada numa família com elevado poder aquisitivo que proporciona à criança múltiplas experiências linguísticas, de lazer, de cuidado, dealimentação, de acesso à http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/18549 http://periodicos.uem.br/ojs/index.php/TeorPratEduc/article/view/18549 Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais53/188 cultura etc. Imagine o bebê do príncipe Willian, herdeiro do trono inglês e o bebê de João, pedreiro desempregado que reside em uma área invadida sem saneamento básico. Você acredita que esses dois bebês, em realidades sociais muito distintas, terão as mesmas oportunidades de aprendizagem e de desenvolvimento durante seus primeiros anos de vida? Eu respondo que não porque as condições concretas de vida na qual cada bebê está inserido influenciam diretamente os modos como ele vai ser cuidado e educado e as possibilidades que ele vai ter de acesso aos bens culturais e materiais, o que provocará aprendizagens e desenvolvimentos muito diferentes para cada bebê do exemplo dado. Por isso o contexto sócio-histórico-cultural da criança é condicionante para sua aprendizagem e seu desenvolvimento. Vou apresentar a você alguns elementos da Teoria Histórico Cultural (VYGOTSKY, 2007, 1996, 1995 e 1987) e da Psicologia Histórico Crítica (WALLON, 2008 e 2007). Link <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_abstract&pid=S1414- 98932013000200012&lng=pt&nrm=iso&tln g=pt>. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-98932013000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-98932013000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-98932013000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1414-98932013000200012&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais54/188 Escolhemos os referenciais teóricos de Vygotsky e Wallon porque eles valorizam a relação professor-aluno e a escola como elementos fundamentais para o processo de desenvolvimento da criança. Para saber mais Para saber mais sobre a Teoria Histórico Cultural leia o artigo disponível em: <http:// pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1678- 51771996000100002&script=sci_ arttext&tlng=en>. 1. Vygotsky e a Teoria Histórico-Cultural Você sabia que Vygotsky (1896-1934) estudou direito, psicologia, história, literatura e medicina? No meio educacional o estudioso russo é mais conhecido como psicólogo, pois foi um dos fundadores da Teoria Histórico-Cultural, que traz contribuições decisivas para o campo educacional, ao formular teorias que partem do pressuposto que as interações sociais e as condições de vida de cada pessoa influenciam diretamente seu aprendizado e seu desenvolvimento. http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1678-51771996000100002&script=sci_arttext&tlng=en http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1678-51771996000100002&script=sci_arttext&tlng=en http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1678-51771996000100002&script=sci_arttext&tlng=en http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?pid=S1678-51771996000100002&script=sci_arttext&tlng=en Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais55/188 Para Vygotsky (2007, 1996 e 1987) a aprendizagem acontece a partir do contato da criança com a sociedade, ou seja, a partir da interação com as pessoas e com o ambiente social, numa relação dialética na qual a criança modifica o ambiente e a cultura e é modificada por esse ambiente e por essa cultura. Vygotsky (2007, 1996 e 1987) entende que o que diferencia o ser humano dos outros animais é a plasticidade cerebral que possibilita aos seres humanos ascender das funções psicológicas elementares como reflexos para processos psicológicos superiores – mais complexos – como, a linguagem, o pensamento, a memória, a atenção, a consciência, o discernimento, o raciocínio lógico etc. E a ascensão para os processos psicológicos superiores se dá através do aprendizado. A teoria de Vygotsky está fundamentada no método materialista histórico-dialético (MARX, 2008 e 2006) que considera a história do sujeito e suas condições de vida como determinante para seu processo de desenvolvimento e que se compromete com o pleno desenvolvimento da humanização das pessoas. Esse método foi Link <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_abstract&pid=S0102- 71822011000300005&lng=pt&nrm=iso&tln g=pt>. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-71822011000300005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-71822011000300005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-71822011000300005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S0102-71822011000300005&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais56/188 decisivo para Vygotsky compreender que todos os fenômenos da vida do ser humano devem ser estudados como processos em movimento e em transformação porque as mudanças históricas, sociais e culturais ocorridas na sociedade e na vida material provocam transformações na consciência e no comportamento humano e nos seus modos de aprender e de se desenvolver. A criança ao ter contato com as pessoas e com os objetos da cultura se apropria dos elementos dessa cultura (língua, uso dos objetos e instrumentos, costumes, valores, hábitos, lógica e tecnologia) e (re)produz a humanidade que é externa a ela no momento do nascimento, mas que passa a fazer parte dela. No contexto psicológico, ao se relacionar com o mundo humano da cultura, a criança adquire formas mais complexas em seu psiquismo. E o modo como a criança vai adquirindo essas formas mais complexas depende da qualidade dos estímulos e da mediação que a criança recebe em relação aos elementos desse mundo humano da cultura. Para saber mais Para saber mais sobre a Teoria Histórico- Cultural para a educação infantil leia o artigo disponível em: <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_abstract&pid=S1984- 02922015000100039&lng=pt&nrm=iso&tln g=pt>. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-02922015000100039&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-02922015000100039&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-02922015000100039&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-02922015000100039&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais57/188 Duas principais contribuições da Teoria Histórico Cultural para a educação das crianças são os conceitos de mediação e de zona de desenvolvimento proximal. A zona de desenvolvimento proximal é a distância ou o espaço entre aquilo que a criança já sabe, já domina e aquilo que ela poder vir a saber através da mediação de alguém que saiba mais do que ela ou que seja mais experiente que ela, seja um adulto ou uma criança. A mediação se refere ao ato de uma pessoa servir como mediador, servir como elo, entre o conhecimento ou a experiência que já se sabe o que se quer vir a saber. A função do professor nessa perspectiva teórica é ser o mediador entre o que a criança já sabe e o que ele pode vir a saber. Link <http://www.scielo.br/scielo. php?script=sci_abstract&pid=S1984- 02922015000100007&lng=pt&nrm=iso&tln g=pt>. A educação, a atividade da criança como protagonista de sua aprendizagem e as mediações com as outras pessoas e com o contexto social são premissas para o desenvolvimento das capacidades humanas e das funções psicológicas superiores. Nesse contexto, a cultura é parte essencial na constituição do ser humano, pois influencia diretamente o processo em que o biológico se transforma em sócio-histórico.http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-02922015000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-02922015000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-02922015000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_abstract&pid=S1984-02922015000100007&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais58/188 2. Wallon e a Psicologia Sócio- Histórica Henri Wallon (1879-1962) foi um estudioso interdisciplinar formando- se em filosofia, medicina e psicologia e dedicou especial atenção às crianças com deficiência e ao desenvolvimento do psiquismo humano. Wallon também fundamenta seus estudos no método materialista histórico dialético, o que significa que ele também tinha o compromisso com a plena humanização das pessoas. O psicólogo francês entende que o que o sujeito é se deve às suas relações com a realidade, com o contexto sócio-histórico-cultural e não aos fatores predeterminados pela biologia ou por sua Para saber mais Para saber mais sobre o pensamento pedagógico de Henri Wallon acesse o link: <http://www. crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_ p033-039_c.pdf>. fisiologia. Apesar da questão biológica não determinar o desenvolvimento do psiquismo, sem o cérebro (que é biológico) não há psiquismo. Por isso há uma integração orgânico-social. Em seus estudos, Wallon chegou à conclusão de que as crianças têm também corpo e emoções, não apenas cabeça, na sala de aula. Por isso ele desenvolve sua teoria baseado na relação entre cognição, afetividade e emoção. O psicólogo francês http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p033-039_c.pdf http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p033-039_c.pdf http://www.crmariocovas.sp.gov.br/pdf/ideias_20_p033-039_c.pdf Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais59/188 atribui importância às emoções no desenvolvimento do ser humano ao entender que o primeiro meio utilizado pelo bebê para se relacionar com o mundo e com as pessoas é a emoção, antes mesmo da linguagem (WALLON, 2007). À medida que a criança vai se desenvolvendo, as trocas afetivas vão ganhando complexidade. As relações permeadas por trocas afetivas por meio dos contatos epidérmicos durante os meses iniciais de vida vão sendo substituídas por outras de natureza cognitiva, tais como respeito e reciprocidade (SOUZA, PETRONI, BREMBERGER, 2007, p.105). Wallon também enfatiza o papel da afetividade para a aprendizagem e o desenvolvimento da criança. A afetividade se refere à capacidade do ser humano de ser afetado – tocado, influenciado – positiva ou negativamente tanto por questões internas (biológicas) como externas (sociais) (WALLON, 2007). Pode-se dizer que a atividade emocional é social e biológica ao mesmo tempo (WALLON, 2007). Wallon entende a criança como pessoa integral, por isso não separa corpo e mente e não separa emoção de cognição. Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais60/188 É contra a natureza tratar a criança fragmentariamente. Em cada idade, ela constitui um conjunto indissociável e original. Na sucessão de suas idades, ela é um único e mesmo ser em curso de metamorfoses. Feita de contrastes e de conflitos, a sua unidade será por isso ainda mais susceptível de desenvolvimento e de novidade. (WALLON, 2007, p. 198). Uma das principais contribuições de Wallon para a educação infantil parte de sua concepção da criança como um sujeito de direitos e desejos, o que implica a necessidade da instituição de educação infantil repensar suas práticas pedagógicas no sentido de ser promotora do protagonismo infantil e do desenvolvimento máximo da criança. A Psicologia Sócio-Histórica, de Henri Wallon, ajuda a pensar a instituição de educação infantil para além do componente intelectual, valorizando a dimensão integral da criança. Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais61/188 Glossário Psiquismo: conjunto de características psicológicas do ser humano, processos mentais. Funções psicológicas superiores: são funções mentais conscientes do ser humano: linguagem, pensamento, atenção, memória, raciocínio etc. Cognição: ato ou processo de conhecer. Questão reflexão ? para 62/188 Considerando que os estudos da sociologia da infância e as teorias de Vygotsky e de Wallon concebem a criança como sujeito histórico que sofre as influências da sociedade e da cultura ao mesmo tempo em que as influencia, quais relações você consegue estabelecer entre as teorias de Vygotsky e de Wallon e a sociologia da infância no contexto da educação infantil? 63/188 Considerações Finais • O contexto sócio-histórico-cultural da criança é condicionante para sua aprendizagem e seu desenvolvimento. • Os referenciais teóricos de Vygotsky e Wallon valorizam a relação professor-aluno e a escola como elementos fundamentais para o processo de desenvolvimento da criança. • Vygotsky entende que é pela aprendizagem que o sujeito se desenvolve como ser humano. • Wallon entende a criança como pessoa integral, por isso não separa corpo e mente e não separa emoção de cognição. Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais64/188 Referências BRASIL. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Básica. Diretrizes Curriculares Nacionais Gerais da Educação Básica. Brasília: MEC, SEB, DICEI, 2013. MARX, Karl. O capital: crítica da economia política. 26 ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2008, v. 1. ______. Sobre o suicídio. São Paulo: Boitempo, 2006. PIAGET, Jean. Epistemologia genética. São Paulo: Martins Fontes, 2002. ______. Seis estudos de Psicologia, Rio de Janeiro: Forense, 1987. PIAGET, Jean; INHELDER, Bärbel. A psicologia da criança. São Paulo: Difel, 2007. SOUZA, Maria Cecília Braz Ribeiro de. A concepção de criança para o enfoque histórico- cultural. Tese (Doutorado em Educação). Marília, SP: Faculdade de Filosofia e Ciências, Universidade Estadual Paulista, 2007. SOUZA, Vera Lucia Trevisan; PETRONI, Ana Paula; BREMBERGER, Maria Eufrásia de Faria. Psicologia, educação e a sociedade contemporânea: reflexões sob a perspectiva da Psicologia sócio-histórica. Psicólogo informação. Ano 11, n. 11, jan./dez. 2007. Unidade 3 • Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio-Histórico-Culturais65/188 VYGOTSKY, Lev Semenovich. Formação social da mente: o desenvolvimento dos processos psicológicos superiores. 7ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 2007. ______. Teoria e método em psicologia. São Paulo: Martins Fontes, 1996. ______. Obras escogidas. Tomo III. Madrid: Visor, 1995. ______. Pensamento e linguagem. São Paulo: Martins Fontes, 1987. WALLON, Henri. Do ato ao pensamento: ensaio de psicologia comparada. Petrópolis, RJ: Vozes, 2008. ______. A evolução psicológica da criança. São Paulo: Martins Fontes, 2007. 66/188 Assista a suas aulas Aula 3 - Tema: Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio- Histórico-Culturais - Bloco I Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 7f74211871c425b05b907dea640e631e>. Aula 3 - Tema: Teorias Sobre o Desenvolvimento Humano com Base em Elementos Sócio- Histórico-Culturais - Bloco II Disponível em: <http://fast.player.liquidplatform.com/ pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/ 9d670220f80c9c57b2fc809672b52488>. http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/7f74211871c425b05b907dea640e631e http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/7f74211871c425b05b907dea640e631e http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/7f74211871c425b05b907dea640e631ehttp://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/9d670220f80c9c57b2fc809672b52488 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/9d670220f80c9c57b2fc809672b52488 http://fast.player.liquidplatform.com/pApiv2/embed/dbd3957c747affd3be431606233e0f1d/9d670220f80c9c57b2fc809672b52488 67/188 1. Como acontecem a aprendizagem e o desenvolvimento da criança para as teorias sócio-histórico-culturais? a) A partir das possibilidades de interações entre os sujeitos – crianças ou adultos – e o ambiente social onde a criança está inserida. b) A partir da maturação fisiobiológica da etapa na qual a criança se encontra. c) A partir dos estímulos que a criança recebe do meio, desde que esses estímulos obedeçam as etapas de desenvolvimento fisiológico da criança. d) A partir das interações entre a criança e o adulto, levando-se em consideração a maturação biológica da criança. e) A partir das interações entre a criança e o adulto, independentemente da condição social na qual a criança se encontra. Questão 1 68/188 2. Por que a teoria de Jean Piaget não ajuda a compreender o desenvolvimento de bebês e crianças? a) Porque ela se pauta em etapas de desenvolvimento motor e psicológico da criança. b) Porque ela foi elaborada na metade do século XX e não é mais utilizada, pois o contexto social mudou muito. c) Porque Jean Piaget considerou as relações das crianças com outras crianças e adultos em seu contexto concreto de vida. d) Porque ele estudou apenas o desenvolvimento de seis crianças em uma aldeia na Suíça. e) Porque ele não considerou que as condições concretas de vida da criança influenciam diretamente os modos como ela vai ser cuidada e educada. Questão 2 69/188 3. Que estudiosos entendem que o desenvolvimento humano acontece a partir de processos de aprendizagens que contam com elementos racionais, sensoriais, empíricos, emocionais, culturais, sociais e históricos? a) Wallon e Piaget. b) Vygotsky e Piaget. c) Vygotsky e Wallon. d) Vygotsky e Skinner. e) Wallon e Skinner. Questão 3 70/188 4. Por que os referenciais teóricos de Vygotsky e Wallon contribuem para a educação infantil? a) Porque eles apresentam etapas fixas que explicam o desenvolvimento da criança. b) Porque eles elaboraram teorias que explicam o desenvolvimento da criança a partir de sua maturação biológica. c) Porque seus referenciais psicológicos explicam que a criança se desenvolve para poder aprender. d) Porque eles valorizam a relação professor-aluno e a escola como elementos fundamentais para o processo de desenvolvimento da criança. e) Porque eles explicam que é o desenvolvimento da criança que contribui para seu aprendizado social. Questão 4 71/188 5.O que é a zona de desenvolvimento proximal? a) É o espaço ou a distância que anuncia a relação entre os conhecimentos que a criança já possui. b) É a distância ou o espaço entre aquilo que a criança já sabe, já domina e aquilo que ela poder vir a saber. c) É a distância ou o espaço entre o que a criança já sabe e o que ela pode vir a saber apenas quando ela vai para a escola. d) É a distância ou o espaço entre saberes científicos que a criança já conhece. e) É a distância ou o espaço entre saberes científicos que a criança pode vir a conhecer. Questão 5 72/188 Gabarito 1. Resposta: A. As teorias sócio-histórico-culturais se fundamentam em elementos sociais, históricos e culturais. 2. Resposta: E. Piaget não considerou os elementos sócio- histórico-culturais da vida das crianças. 3. Resposta: C. Vygotsky e Wallon são teóricos que consideram os elementos sócio-histórico- culturais da vida das crianças. 4. Resposta: D. Porque ambos estudaram também o processo de desenvolvimento das crianças em suas relações com a escola. 5. Resposta: B. A zona de desenvolvimento proximal é uma teorização sobre um processo mental. 73/188 Unidade 4 A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas Objetivos 1. Conhecer a experiência de educação infantil de Reggio Emilia. 2. Compreender os princípios da Pedagogia da Infância. 3. Entender como é ser professora e professor de educação infantil. Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas74/188 Introdução Você conhece a experiência de educação infantil da cidade de Reggio Emilia na Itália? Essa experiência nasceu no vilarejo de Vila Cella, na região de Reggio Emilia, após a Segunda Guerra Mundial, a partir do interesse coletivo dos familiares das crianças em promover uma educação infantil que contribuísse para a formação integral da criança, na perspectiva da construção de um mundo melhor. Nesse contexto, os familiares e educadores se uniram para construir uma escola da infância que considerasse a criança como ator social e sujeito de direitos. Desde a década de 1970 há escolas da infância em Reggio Emilia, que valorizam, respeitam e incentivam as vontades, os interesses e os desejos das crianças, contribuindo, dessa forma, para o desenvolvimento da autonomia da criança e para seu protagonismo nos processos de aprendizagem. Link <http://educacaointegral.org.br/ experiencias-internacionais/reggio-emilia- escolas-feitas-por-professores-alunos- familiares/>. <https://www.youtube.com/ watch?v=4j8mtA_iDss>. http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/reggio-emilia-escolas-feitas-por-professores-alunos-familiares/ http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/reggio-emilia-escolas-feitas-por-professores-alunos-familiares/ http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/reggio-emilia-escolas-feitas-por-professores-alunos-familiares/ http://educacaointegral.org.br/experiencias-internacionais/reggio-emilia-escolas-feitas-por-professores-alunos-familiares/ https://www.youtube.com/watch?v=4j8mtA_iDss https://www.youtube.com/watch?v=4j8mtA_iDss Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas75/188 O principal educador que, juntamente com os familiares das crianças de Vila Cella, participou da concepção do projeto educativo de Reggio Emilia foi Loris Malaguzzi (1920-1994). Ele escreveu o poema As cem linguagens da criança: A criança é feita de cem / A criança tem cem mãos / cem pensamentos / cem modos de pensar / de jogar e falar. Cem sempre cem / modos de escutar / de maravilhar e de amar. / Cem alegrias / para cantar e compreender. / Cem mundos para descobrir / Cem mundos para inventar / Cem mundos para sonhar [...] (EDWARD, GANDINI, FORMAN, 1999, p. 23). O poema As cem linguagens da criança apresenta de modo objetivo as principais ideias de Loris Malaguzzi sobre e para as crianças. As crianças apreendem o mundo, reinterpretam- no e se expressam através de várias linguagens: choro, riso, língua materna, desenho, dança, silêncio, pintura, escultura, colagem etc. Por isso o poema de Malaguzzi é tão esclarecedor sobre as linguagens da criança. No mesmo poema o educador italiano tece uma crítica às escolas de educação infantil que não consideram a criança em sua integralidade e em suas potencialidades: Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas76/188 A criança tem cem linguagens / (e depois cem, cem, cem) / mas roubaram-lhe noventa e nove. / A escola e a cultura / lhe separaram a cabeça do corpo. / Dizem-lhe: / de pensar sem as mãos / de fazer sem a cabeça / de escutar e não falar / de compreender sem alegrias / de amar e de maravilhar-se só na Páscoa e no Natal [...] / Dizem-lhe enfim: que o cem não existe. / A criança diz: ao contrário as cem existem (EDWARD, GANDINI, FORMAN, 1999, p. 23-24). As escolas da infância em Reggio Emilia se organizam a partir da participação dos familiares das crianças, de membros da comunidade na qual a escola está inserida, das crianças, dos educadores e de profissionais de diversas áreas nos processos de gestão da escola da infância. Para saber mais Para saber mais sobre essa experiência de educação infantilacesse o site: <http://www. reggiochildren.it/?lang=en>. http://www.reggiochildren.it/?lang=en http://www.reggiochildren.it/?lang=en Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas77/188 A experiência de educação infantil de Reggio Emilia tem sido divulgada como Abordagem Reggio Emilia e seu currículo é flexível, pois emerge das ideias, dos pensamentos e das observações das crianças, tendo como objetivo principal cultivar uma paixão permanente pela aprendizagem e pela exploração (RINALDI, 2012). Na Abordagem Reggio Emilia a criança é protagonista, investigadora e comunicadora; o professor é um parceiro, um guia, um aprendiz; a arte ganha destaque com suas linguagens expressivas; os familiares das crianças são parceiros dos educadores e das crianças nos processos de ensino-aprendizagem. Para saber mais Para saber mais sobre a Abordagem Reggio Emilia acesse o site: <http://www. reggiochildren.it/centro-internazionale- loris-malaguzzi/?lang=en>. A Abordagem Reggio Emilia está fundamentada na Pedagogia da Escuta (RINALDI, 2012) que se refere a escutar a criança não somente com os ouvidos, mas com todos os sentidos, de maneira aberta e sensível, para compreender sua voz, seus anseios, seus desejos, suas percepções sobre o mundo e sobre as relações sociais. Escutar também é estar aberto às diferenças, aos múltiplos pontos de vista e às variadas formas de interpretação do mundo. http://www.reggiochildren.it/centro-internazionale-loris-malaguzzi/?lang=en http://www.reggiochildren.it/centro-internazionale-loris-malaguzzi/?lang=en http://www.reggiochildren.it/centro-internazionale-loris-malaguzzi/?lang=en Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas78/188 A contribuição da Abordagem Reggio Emilia para a educação infantil no Brasil se revela na defesa de que a criança tem o direito de ser escutada e levada a sério, de ser compreendida como um ator social com direito à voz e à participação nas escolhas sobre seu cotidiano, de ser valorizada por suas criações e recriações, de ter o direito de ver o mundo com seus próprios olhos, elaborando hipóteses sobre ele, construindo relações e culturas infantis por meio da apreciação e da expressão nas múltiplas linguagens e nos diferentes modos de viver a infância, construindo seus saberes e suas opiniões e contribuindo para que os adultos possam ver o mundo com ‘olhos de criança’. A seguir, você vai estudar em que consiste a Pedagogia da Infância e qual é o papel do professor de educação infantil. 1. Pedagogia da Infância A sociologia da infância e a Abordagem Reggio Emilia revelam a infância que assume visibilidade, pois as crianças deixam de ser consideradas como seres passivos e passam a ser concebidas como atores sociais que desenvolvem interações complexas com os adultos e com as outras crianças. Nesse contexto ganha destaque outro olhar sobre a pedagogia que lida com as crianças e que teoriza sobre elas: a Pedagogia da Infância. Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas79/188 A Pedagogia da Infância é construída para e com as crianças (OLIVEIRA-FORMOSINHO, KISHIMOTO, PINAZZA, 2007). A pedagogia da infância, ou seja, a organização dos espaços e dos tempos que privilegia a brincadeira e a voz das crianças, coconstrutoras de seus pro cessos de desenvolvimento, de aprendizagem e de socialização tem como base a participação e a visibilidade das crianças pequenas e a produção de culturas infantis (NASCIMENTO, 2011, p. 158). Os princípios que destaco como fundamentais para a Pedagogia da Infância são: considerar a criança como principal protagonista da ação educativa, sujeito de direitos, portadora de história e construtora de culturas infantis; valorizar a diversidade cultural das crianças e de Para saber mais Para saber mais sobre a Pedagogia da Infância leia o artigo A pedagogia e a educação infantil, de Eloisa Rocha, disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_ arttext&pid=S1413-24782001000100004>. http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782001000100004 http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-24782001000100004 Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas80/188 suas famílias; reconhecer e valorizar a importância do brincar, da ludicidade e das expressões das crianças na prática pedagógica; organizar os tempos e espaços de aprendizagem de modo estimulador, desafiador e encorajador e promover a autonomia e a multiplicidade de experiências (SÃO PAULO, 2014). Encontramos várias relações entre a Pedagogia da Infância, a sociologia da infância, a Abordagem Reggio Emilia, as teorias do desenvolvimento de Vygotsky e Wallon e as Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil, como, por exemplo, a concepção de criança como ator social e sujeito de direitos, portadora de história, protagonista de sua aprendizagem e de seu desenvolvimento, que sofre influência de seu contexto sócio- histórico-cultural ao mesmo tempo em que o influencia, que vive a infância a partir de condições concretas de vida, que possui saberes e elabora hipóteses sobre o mundo e sobre as coisas, que é curiosa e engenhosa, que se utiliza de diversas linguagens para entender o mundo e se expressar e que, por isso mesmo, produz culturas infantis na relação com outras crianças e na ressignificação dos elementos do mundo do adulto. Desse modo, cada criança contribui para o entendimento da infância como construção social e para a existência de múltiplas infâncias. Nesse contexto, a professora e o professor de educação infantil precisam estar atento Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas81/188 a essa complexidade infantil de modo a promover práticas pedagógicas e experiências educativas que contribuam para a aprendizagem e o desenvolvimento das crianças. 2. A Professora e o Professor de Educação Infantil A professora e o professor de educação infantil dão aulas? Aulas de quê? Nós entendemos que não e concordamos com Danilo Russo (2007) quando explica que o professor da infância não dá aulas. Como ser, então, professora e professor de educação infantil sem dar aulas? Russo (2007) entende que quanto mais a professora e o professor da infância se tornarem interessantes à medida que propõem atividades, experiências e brincadeiras interessantes, as crianças responderão a essas proposições e participarão ou não delas. Então, a professora e o professor de educação infantil precisam, necessariamente, ser seres brincantes, entusiastas de descobertas e promotores de experiências e atividades curiosas e desafiadoras. Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas82/188 [...] O papel do educador(a) da infância é o de criar condições, organizar tempos e espaços, selecionar e organizar materiais de forma criativa, observar as crianças, avaliar processos construindo registros que historicizem o tempo vivido, apoiar as suas descobertas e projetos a fim de possibilitar a ampliação das experiências das crianças, sem que o foco esteja centrado nele e sim na ação e invenção dos meninos e das meninas (SÃO PAULO, 2014, p. 17). Os registros que historicizam o tempo vivido pela criança na instituição de educação infantil, que revelam os modos como ela compreende o mundo e interage com ele e que apresentam suas aprendizagens e seu desenvolvimento constituem a documentação pedagógica. [...] A sistematização desses registros permite uma reflexão permanente sobre as ações e pensamentos das crianças e assumem diferentes formas: relatórios descritivos individuais e do grupo, portfólios individuais e do grupo, fotos, filmagens, as próprias produções das crianças (desenhos, esculturas, maquetes, entre outras) [...] (SÃO PAULO, 2014, p. 23). Unidade 4 • A Infância e suas Linguagens: Implicações Pedagógicas83/188 A documentação pedagógica também se
Compartilhar