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introdução ao direito constitucional - modulo 2

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Elementos de Teoria da Constituição
MÓDULO II – Elementos de Teoria da Constituição 
                                                                 
	
	Este Módulo pretende munir o aluno de algumas noções sobre Teoria da Constituição. Sendo assim, ao seu término, o aluno deverá ser capaz de:
Nomear os institutos que compõem a estrutura da Constituição de 1988;
Discorrer sobre as implicações do Poder Constituinte no processo de elaboração das leis;
Compreender a relevância do Controle de Constitucionalidade das leis.
UNIDADE 1 – ESTRUTURA DA CONSTITUIÇÃO DE 1988 – O PREÂMBULO E AS NORMAS CONSTITUCIONAIS
	
	
Nesta unidade, será oferecido ao estudante a estrutura da Constituição de 1988 e os princípios básicos que nortearam sua formatação. Paralelamente, o estudante terá contato com outras partes do texto igualmente importantes: o Preâmbulo e o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias.
Pág. 2 - Preâmbulo, corpo e normas transitórias
Após termos estudado toda a travessia histórica de nossas constituições, analisaremos a estrutura da atual, a Constituição de 1988. Seu texto é dividido em três partes: preâmbulo, corpo e normas transitórias. Veja o quadro abaixo:
	Preâmbulo
	INTRODUÇÃO
	Título I – Dos Princípios Fundamentais (arts. 1º a 4º)
	CORPO OU PARTE CENTRAL
	Título II – Dos Direitos e Garantias Fundamentais (arts. 5º a 17)
	
	Título III – Da Organização do Estado (arts. 18 a 43)
	
	Título IV – Da Organização dos Poderes (arts. 44 a 135)
	
	Título V – Da Defesa do Estado e das Instituições Democráticas (arts. 136 a 144)
	
	Título VI – Da Tributação e do Orçamento (arts. 145 a 169)
	
	Título VII – Da Ordem Econômica e Financeira (arts. 170 a 192)
	
	Título VIII – Da Ordem Social (arts. 193 a 232)
	
	Título IX – Das Disposições Constitucionais Gerais (arts. 233 a 250)
	
	Ato das Disposições Constitucionais Transitórias – ADCT (arts. 1º a 97)
	NORMAS TRANSITÓRIAS
Nota-se, inicialmente, uma profunda mudança em relação à estrutura da constituição anterior, a de 1967, emendada pela EC nº. 1/69. Essa carta constitucional, que vigorou durante o período militar, tinha a característica de ser autoritária. Sua estrutura era baseada na organização do Estado e de suas instituições, havendo uma centralização de poder nas mãos dos militares.
Pág. 3 - Direitos Fundamentais do Cidadão
Por sua vez, os Direitos Fundamentais do Cidadão localizavam-se após toda a organização administrativa do Estado. Somente com a CF/88, os direitos fundamentais foram antepostos à Organização do Estado, significando que são mais importantes que esta. 
Observe como era a CF/1967: 
	Preâmbulo
	INTRODUÇÃO
	Título I – Da Organização Nacional (arts. 1º a 144)
	CORPO OU PARTE CENTRAL
	Título II – Da Declaração de Direitos (arts. 145 a 159)
	
	Título III – Da Ordem Econômica e Social (arts. 160 a 174)
	
	Título IV – Da Família, da Educação e da Cultura (arts. 175 a 180)
	
	Título V – Das Disposições Gerais e Transitórias (arts. 181 a 217)
	NORMAS TRANSITÓRIAS
E por que o legislador de 1988 fez essa opção? 
Primeiramente porque, ao instituir um Estado Democrático de Direito, centrado na dignidade da pessoa humana, como afirma o art. 1º, inciso III, os direitos fundamentais tinham que vir em primeiro plano. 
Em segundo lugar, podemos afirmar que o constituinte brasileiro de 1988 adotou o pensamento jusnaturalista de Jean-Jacques Rousseau. Para esse pensador, o homem, desde quando vivia isoladamente, possuía direitos inseparáveis de sua condição humana. Por um instinto de se juntar a outros homens, estabeleceu com eles um contrato hipotético, originando o Estado.
Assim, uma vez que os direitos do indivíduo já existiam antes do Estado, é função deste proteger tais direitos e não o contrário. Por essa razão, a CF/88 posicionou os direitos fundamentais antes dos elementos que o organizam.
Pág. 4 - Preâmbulo
 Mas há um item singular e comum entre as duas constituições (de 1967 e de 1988). Ambas apresentam um texto introdutório, chamado de preâmbulo. Qual a sua função, já que ele não integra o corpo normativo da Lei Fundamental? 
Muito se discute se esse texto introdutório teria eficácia jurídica ou seria apenas um texto para inspirar a norma que se inaugura. Vejamos o que diz o preâmbulo da CF/88:
	PREÂMBULO
Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos em Assembleia Nacional Constituinte para instituir um Estado Democrático, destinado a assegurar o exercício dos direitos sociais e individuais, a liberdade, a segurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdade e a justiça como valores supremos de uma sociedade fraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada na harmonia social e comprometida, na ordem interna e internacional, com a solução pacífica das controvérsias, promulgamos, sob a proteção de Deus, a seguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
 
Embora não seja norma jurídica capaz de disciplinar direitos e deveres, o preâmbulo possui a importante tarefa de demonstrar a posição ideológica de um Estado, situando-se na área da política. Na Constituição de 1967, por exemplo, o preâmbulo era bem curto e se limitava a dizer: “O Congresso Nacional, invocando a proteção de Deus, decreta e promulga a seguinte CONSTITUIÇÃO DO BRASIL.”
Pág. 5 - Constituição promulgada
A Constituição Cidadã de 1988, ao romper com o paradigma militar, quis deixar claro, logo de início, todos os motivos que nortearam a configuração desse novo Estado. Também a Constituição Francesa de 1791, elaborada durante a Revolução Francesa, que pretendia abolir os privilégios do clero e da nobreza, característicos do Regime Absolutista (“Antigo Regime”), tinha um preâmbulo extenso, contendo a Declaração Universal dos Direitos do Homem e do Cidadão.
	“O preâmbulo é um elemento natural de Constituições feitas em momento de ruptura histórica ou de grande transformação político-social.”
                                                              Jorge Miranda
O preâmbulo, portanto, é a antessala das normas constitucionais propriamente ditas. Há, ainda, mais um detalhe contido ao final de seu texto que deve ser observado: a palavra “promulgamos”. Dizer que uma constituição foi promulgada significa, em regra, que houve participação popular em sua elaboração, que ela não é fruto da vontade de um governante ou de um grupo detentor do poder. Ela não foi imposta à sociedade, mas aprovada por ela, por meio de representantes eleitos para comporem uma Assembleia Nacional Constituinte.
 Pág. 6 - Outorgada x Promulgada
Na nossa história, três constituições foram impostas ou outorgadas: a imperial de 1824, a getulista de 1937 e a militar de 1967, apesar de nesta última conter a palavra “promulgamos”. As demais foram  de fato promulgadas (1891, 1934, 1946 e 1988). Veja que, nestas, a imagem democrática da Constituição é traduzida pela intensa participação popular, enquanto naquelas a figura do constituinte se resume a uma pessoa ou a um pequeno grupo de pessoas. 
Após o preâmbulo, estão as normas constitucionais. Como se vê, elas compõem um corpo normativo que não é homogêneo. Umas tratam dos princípios fundamentais, outras dos direitos e deveres dos cidadãos. Há as que regulam a ordem econômica e financeira e as que disciplinam a defesa do Estado e das Instituições Democráticas. 
Por essa razão, diz-se que há normas materialmente constitucionais, quando abordam temas ligados à estruturação do Estado e aos direitos fundamentais, e normas formalmente constitucionais, que, apesar de estarem inseridas no texto da Constituição, não tratam de temas essencialmente constitucionais. A Constituição de 1988 é  formal, pois elege como norma constitucional tudo aquilo que compõe seu texto e que é submetido a uma determinada forma de elaboração, não importando seu conteúdo. 
No entanto, não podemos deixar de alertar o estudante para o fato de que essa divisão entre norma constitucional material e norma constitucional formal é discutível, pois o conteúdo das constituições vem, naturalmente, sendo ampliado, tornando inútil essa fragmentação. As constituiçõestêm adotado como fundamental não somente a estrutura do Estado e os direitos fundamentais, mas também, por exemplo, os fins e objetivos que elas perseguem.
Pág. 7 - Conclusão da unidade 1
 Nesse sentido, vivenciamos um momento de “expansão constitucional”, isto é, cada vez mais há assuntos sendo inseridos no texto constitucional como elemento essencial. A CF/88 é, genuinamente, uma Carta extensa, por não se limitar a regular a estrutura do Estado e os direitos fundamentais, ao contrário de constituições sintéticas ou resumidas, como a dos EUA, que se restringem àqueles assuntos.
Para finalizar esta unidade, cabe uma palavra sobre o ADCT. Embora seja denominado de “Ato das Disposições Constitucionais Transitórias”, ele tem o mesmo valor de norma constitucional e se destina a regular as situações que ficam transitando entre a ordem jurídica passada e a atual. Isso denota o cuidado do constituinte com os fatos já consolidados, sendo mais um fator de legitimação da Constituição perante a sociedade.
 UNIDADE 2 – PODER CONSTITUINTE: A ELABORAÇÃO DA CONSTITUIÇÃO, SUA TRANSFORMAÇÃO E A RELAÇÃO COM A ORDEM JURÍDICA ANTERIOR
 
	
	 A unidade 2 do segundo Módulo pretende ensinar ao aluno a ideia básica de Poder Constituinte. Dessa forma, traz o conceito, a fundamentação e os exemplos de Poder Constituinte Originário e seus derivados (Reformador, Decorrente e Revisor). Ao final, estuda os fenômenos que podem ocorrer entre a ordem jurídica atual e a ordem jurídica anterior.
Pág. 2 - Questões
Na unidade passada, vimos como a Constituição é estruturada. Agora, precisamos saber quem é o responsável pela sua elaboração. Tentaremos responder algumas perguntas, que inevitavelmente aparecerão. Por exemplo:
	“Como o texto constitucional se mantém atualizado e a quem é atribuído o dever de atualização?”
“É possível modificar o sentido de uma norma constitucional, sem mudar seu texto?”
“Os estados federados possuem Constituição? Quem a elabora?”
“Como ficam as situações que eram regidas pelo ordenamento jurídico anterior?”
Esses e outros questionamentos serão abordados no decorrer desta unidade, que se inicia esclarecendo o que é o Poder Constituinte.
Pág. 3 - Poder Constituinte
 O Poder Constituinte é a força de se constituir algo. Quando nos referimos a ele na área do Direito, estamos falando do poder de se formular ou atualizar uma Constituição, que é o documento que cria e organiza o Estado. Este, por sua vez, é uma pessoa política “abstrata” formada pelo povo de um determinado território, que decide se unir de forma organizada para atingir um determinado fim ou bem comum. 
Assim, concluímos, primeiramente, que quem tem o poder de constituir um Estado é o povo. E ele é quem tem a titularidade do poder de elaborar a Constituição que regerá o Estado por ele formado. 
Mas nem todos os cidadãos exercem essa titularidade. Quem elabora, realmente, a Constituição é uma Assembleia Nacional Constituinte, eleita pelo povo com o fim único de escrever o texto. São os primeiros representantes do povo. Nos regimes autoritários, no entanto, o próprio governante ou os detentores do poder escrevem a Carta Constitucional e a outorgam à sociedade, não havendo um colegiado eleito para tanto. 
Quando nos referimos ao Poder Constituinte que elabora a Constituição estamos falando do Poder Constituinte Originário, pois ele dá origem a um novo Estado, criando uma nova ordem jurídica.
Pág. 4 - Poder Constituinte Originário
Seja nos momentos em que o texto constitucional vigente não mais condiz com as realidades sociais, seja nas horas em que a sociedade clama por mudanças mais profundas, o Poder Constituinte Originário rompe com a ordem anterior e inaugura uma nova.
	
	O Poder Constituinte Originário possui algumas peculiaridades:
	a) é inicial e autônomo, na medida em que a nova constituição será estruturada livremente, de acordo com os anseios de quem exerce este poder;
	b) é ilimitado juridicamente, pois não precisa respeitar os limites traçados pelo direito anterior;
	c) é um poder de fato e um poder político, ao se identificar como verdadeira força social, na qual a ordem jurídica passa a existir a partir de sua manifestação.
Apesar de o Poder Constituinte Originário ser autônomo, a corrente jusnaturalista defende que há alguns direitos naturais que são indissociáveis do homem e, mesmo o “onipotente” Poder Constituinte Originário, não poderia suprimi-los. Na verdade, é preciso que os representantes escolhidos pelo povo para elaborar a nova Carta Constitucional se façam identificar com os desejos dos representados, pois somente assim se materializa o legítimo exercício do Poder Constituinte Originário.
	“Quem tenta romper a ordem constitucional para instaurar outra e não obtém a adesão dos cidadãos, não exerce poder constituinte originário, mas age como rebelde criminoso.”
Gilmar Ferreira Mendes
Caso você, estudante, tenha interesse em se aprofundar na compreensão do contexto social vigente à época da criação do texto constitucional de 1988, sugerimos a leitura do artigo do Professor Perissinotto (2010), disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos complementares'.
Pág. 5 - Poderes Constituintes derivados
Elaborada a Constituição, o Poder Constituinte Originário sai de cena e entram os outros poderes instituídos por ele, que estarão presentes durante o período em que vigorar o novo texto.
Existem três poderes constituintes que são derivados do originário:
	Poder Constituinte derivado
reformador;
	Poder Constituinte derivado
decorrente; e
	Poder Constituinte derivado
revisor. 
A seguir, passaremos ao estudo de cada um deles, que possuem, em comum, a característica de estarem limitados e condicionados aos parâmetros colocados pelo Poder Constituinte Originário.
Pág. 6 - Poder Reformador
 O Poder Constituinte Derivado de Reforma ou Reformador é aquele responsável por modificar a Constituição, por meio de um procedimento específico, determinado pelo originário, sem que seja necessário abandonar o texto vigente e convocar uma nova Assembleia Nacional Constituinte. O cotidiano da sociedade faz com que ela reveja alguns pontos da Constituição e deseje alterá-los, aperfeiçoando a regulamentação de determinada matéria. 
O Poder reformador ocorre por meio das Emendas Constitucionais, reguladas no art. 60 da CF/88. A Constituição coloca alguns limites para seu exercício. Há limitações expressas, como a necessidade de quórum qualificado de 3/5 e votação em dois turnos, em cada Casa do Congresso, assim como iniciativa de, pelo menos, um terço dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal. Outra limitação expressa refere-se às matérias que não podem ser objeto de modificação, as chamadas cláusulas pétreas, que estão no § 4º do art. 60.
Pág. 7 - Artigo 60
Para contextualizarmos, leia o art. 60 em sua íntegra:
	Art. 60. A Constituição poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou do Senado Federal;
II - do Presidente da República;
III - de mais da metade das Assembleias Legislativas das unidades da Federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria relativa de seus membros.
§ 1º A Constituição não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, de estado de defesa ou de estado de sítio.
§ 2º A proposta será discutida e votada em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, três quintos dos votos dos respectivos membros.
§ 3º A emenda à Constituição será promulgada pelas Mesas da Câmara dos Deputados e do Senado Federal, com o respectivo número de ordem.
§ 4º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda tendente a abolir:
I - a forma federativa de Estado;
II - o voto direto, secreto, universal e periódico;
III - a separação dos Poderes;
IV - os direitos e garantias individuais.
§ 5º - A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
Pág. 8 - Modificar normas constitucionais
Há, também, limitaçõesimplícitas, como a impossibilidade de se violar as limitações expressas ou alterar o titular do poder constituinte. 
Como se vê, o Poder Constituinte Originário enumerou algumas condições para que a Constituição fosse modificada, demonstrando, na ocasião em que foi desenvolvida, a preocupação com a manutenção dos valores democráticos. 
Uma questão que se apresenta neste momento é a seguinte: o procedimento para se alterar as normas da constituição é o mesmo para se alterar as normas de uma lei infraconstitucional? A resposta é simples, mas esclarece um ponto interessante para nós. 
O constituinte estabeleceu um procedimento mais complexo e difícil para alterar as normas constitucionais porque pretendeu que a Constituição fosse mais estável que as outras normas, não podendo ser modificada facilmente. Some-se a isso o fato de a Constituição estar no ápice do ordenamento jurídico, servindo de fundamento para as demais leis.
Pág. 9 - Reflexão
Por essa razão, dizemos que nossa Constituição, quanto ao critério da estabilidade, é classificada como rígida, pois estabelece um maior grau de dificuldade para mudar as normas constitucionais. No lado oposto, estão as constituições flexíveis, em que não há um processo legislativo mais rígido para alterar o texto constitucional. Nesse caso, é o mesmo trabalho para se alterar a constituição ou as normas infraconstitucionais. Dessa maneira, não há hierarquia entre normas constitucionais e normas “legais” (infraconstitucionais). Um exemplo típico de Constituição flexível é a da Inglaterra. 
Para finalizar o estudo do Poder Reformador, cabe refletir sobre uma instigante questão: é possível reduzir a maioridade penal de 18 anos para 16 anos, já que, aparentemente, trata-se de um direito fundamental individual (cláusula pétrea)? 
A matéria é controversa e suscita intensos debates. Há quem defenda o caráter absoluto da norma e, por isso, não se poder restringi-la. Outros dizem que o termo “abolir”, usado no § 4º do art. 60, refere-se à situação que extingue por completo um direito, o que não é o caso. Ademais, para os que defendem a possibilidade de redução da maioridade penal, uma pessoa já é plenamente capaz de entender seus atos aos dezesseis anos, e tanto é assim que está autorizada a votar, nos termos do art. 14, § 1º, alínea c, da CF/88.
Pág. 10 - Poder Decorrente
Já o Poder Constituinte Derivado Decorrente é aquele conferido aos Estados-membros para que estruturem suas respectivas Constituições Estaduais. Uma vez que vivemos sob a forma federalista de Estado, os entes federados detêm capacidade para se auto-organizarem tanto no âmbito administrativo quanto nas áreas judiciária e legislativa, sendo que o exercício desse poder foi concedido às Assembleias Legislativas Estaduais. Isso traduz o espírito do art. 1º da CF/88, que estabelece ser o Brasil uma República Federativa,  formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal. 
Do mesmo modo que o poder de reforma, o Poder Decorrente está submetido aos princípios adotados pela Constituição Federal. O art. 25 confirma essa ideia, ao dizer que “Os Estados organizam-se e regem-se pelas Constituições e leis que adotarem, observados os princípios desta Constituição”.
	Tais princípios estão espalhados por todo o texto constitucional, mas podemos citar, dentre outros, os seguintes:
·  as Constituições estaduais devem observar a forma federativa e o princípio republicano do Estado;
·   não podem suprimir direitos fundamentais enumerados na Constituição Federal;
·   não estão autorizadas a invadir competência assegurada à União, sob pena de inconstitucionalidade;
·  devem respeitar as regras do processo legislativo federal, adaptando as normas às peculiaridades estaduais;
·   têm que seguir os princípios orçamentários estabelecidos na CF/88.
Pág. 11 - Estados e municípios
Cabe indagar: somente os Estados podem elaborar suas Constituições? Isto é: o Poder Derivado Decorrente foi conferido apenas aos Estados-membros, ou/e o DF ou os Municípios também o possuem? 
Esta matéria também é polêmica e há quem defenda que o DF foi dotado de tal poder, apesar de sua vinculação parcial à União, pois a formulação de sua Lei Orgânica (“Constituição Distrital”) está fundamentada diretamente na CF/88, mais especificamente no art. 32, que autoriza o ente a elaborá-la. O Ministro Carlos Ayres Britto, do STF, afirmou, aliás, que o “Distrito Federal está bem mais próximo da estruturação dos Estados-membros do que da arquitetura constitucional dos Municípios”, mesmo o DF legislando tanto em matérias estaduais quanto em matérias municipais. 
No entanto, em relação aos Municípios, não há que se falar em Poder Derivado Decorrente, porque seu fundamento não decorre direta e exclusivamente da Constituição Federal. Na verdade, o art. 29 nos diz que as Leis Orgânicas Municipais atenderão os princípios da CF/88 e das Constituições estaduais que lhe disserem respeito, construindo, dessa forma, um poder decorrente de terceiro grau, o que não configura aquele tipo de Poder.
 Pág. 12 - Poder Revisor
Em terceiro lugar, há o Poder Constituinte Derivado Revisor. Esse poder, também instituído pelo Poder Originário, teve o objetivo de revisar a Constituição após cinco anos de sua promulgação, mediante um procedimento mais simplificado do que aquele estabelecido para se propor Emendas Constitucionais. Assemelha-se ao Poder Reformador em quase tudo, exceto no que se refere ao fato de não mais poder ser exercido, devido à eficácia esgotada da norma que o instituiu. 
Além desses três poderes mencionados, não podemos deixar de citar um outro “poder”, implícito na sociedade e que pode ser denominado como poder constituinte difuso. Ele se manifesta por meio das “mutações constitucionais”, sendo um poder espontâneo e fruto das mudanças sociais. Por meio dele, algumas expressões da Constituição, embora permaneçam com o mesmo texto, ganham um novo ou mais amplo significado. 
Um bom exemplo seria o termo “casa”, constante do art. 5º, XI, que, no decorrer dos anos, passou a abranger, também, outros locais – por exemplo: o estabelecimento comercial, o escritório de contabilidade, o quarto de hotel ocupado, o escritório de advocacia e o consultório médico.
 Pág. 13 - Relação: Constituição vigente e Ordem Jurídica anterior
Para encerrarmos esta unidade, é preciso analisar a relação que existe entre a Constituição vigente e a Ordem Jurídica anterior. Basicamente, dois fenômenos podem ocorrer: 
1) uma determinada norma, publicada antes da Constituição atual, pode ser com ela compatível e, desta forma, ser recepcionada pela nova ordem jurídica; ou 
2) uma outra norma, também anterior a Constituição vigente, pode não ser compatível com os valores da nova ordem jurídica e, por esta razão, deverá ser revogada – neste caso, não se fala que a lei é inconstitucional, pois somente pode-se falar em inconstitucionalidade em relação a atos normativos publicados após uma determinada Constituição.
Assim, podemos ter a recepção de normas compatíveis com a nova ordem constitucional e a revogação das normas que com ela não forem compatíveis. A decisão sobre esse assunto cabe aos juízes no julgamento de casos concretos. No entanto, é possível haver uma decisão que valerá de maneira uniforme para todos, quando a matéria for submetida ao Supremo Tribunal Federal. 
Nesse contexto foi que se revogou a Lei de Imprensa. Uma vez que a lei data de 1967, ela deveria ser analisada mediante ação própria que possibilitasse o exame de sua recepção ou revogação diante da CF/88. O Supremo Tribunal Federal, por 7 votos a favor, decidiu derrubar a lei diante de sua incompatibilidade com a democracia.
Pág. 14 - Decisão dos Ministros
Dentre as razões que nortearam a decisão dos Ministros, podemos citar: penas mais severas na Lei do que as existentes no Código Penal, denotando seu caráter autoritário (enquanto a Lei de Imprensa previa para o crime de calúnia uma pena máxima de três anos de detenção, o Código Penal prevê dois anos; para a injúria, a lei previa um ano e o Código, seismeses; e para a difamação, a lei estabelecia 18 meses e o Código, um ano); e restrições à liberdade de imprensa (a Lei permitia a apreensão de jornais e revistas que ofendessem a moral e os bons costumes e a punição para quem vendesse ou produzisse esses materiais).
	“Não pode haver lei dispondo sobre o tamanho e a duração do exercício da liberdade de expressão.”
	"A atual Lei de Imprensa foi concebida e promulgada num prolongado período autoritário da nossa história de Estado soberano, conhecido como 'anos de chumbo' ou 'regime de exceção'."
	 Ministro Carlos Ayres Britto
E como ficam os direitos adquiridos durante a vigência de uma Constituição que, subitamente, foi substituída por outra? Direitos adquiridos, em resumo, são aqueles que já foram integrados ao patrimônio material ou imaterial de uma pessoa, por esta ter cumprido os requisitos necessários para tanto, seja legais ou contratuais, podendo exigir a obrigação relacionada dentro de um tempo hábil. 
Ultimamente, o Judiciário tem entendido que as novas regras possuem retroatividade mínima, isto é, não afetam por completo as obrigações de um negócio jurídico já consolidado no passado. Influenciam tão somente as parcelas que estão por vir, como foi o caso das pensões que eram vinculadas ao salário mínimo. A CF/88 desvinculou, no art. 7º, IV, o salário mínimo para qualquer fim. Sua aplicação foi imediata, mas não modificou as prestações já vencidas.
 Pág. 15 - Conclusão da unidade 2
 Lembramos, no entanto, que o Poder Constituinte Originário é autônomo e ilimitado juridicamente, podendo superar direitos eventualmente adquiridos, mesmo que isso signifique deslegitimação perante a sociedade. As regras para se aposentar formam um exemplo emblemático, pois, de tempos em tempos, são modificadas no sentido de atrasar a aposentadoria de um cidadão que acaba de ingressar no mercado de trabalho, mas procuram resguardar o direito daqueles que já estão há algum tempo na vida laboral, estabelecendo, para eles, regras especiais. 
O mesmo não ocorre com as Emendas Constitucionais (fruto do Poder Constituinte Derivado Reformador) e as leis e atos infraconstitucionais, que devem respeitar a regra da irretroatividade da “lei” (lei aqui deve ser entendida em sentido amplo, significando toda espécie normativa), segundo a qual a lei só se aplica para os fatos posteriores ao início de sua vigência. Caso tais leis usurpem direitos adquiridos, devem ser consideradas inconstitucionais.
 UNIDADE 3 – BREVES NOÇÕES SOBRE CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS
	
	A última unidade deste Módulo traz, resumidamente, noções básicas sobre Controle de Constitucionalidade. Apesar da profundidade técnica que o tema demanda, o aluno poderá apreender como é feito o controle e suas implicações.
Pág. 2 - Introdução
 Nesta unidade, procuraremos passar ao aluno as noções básicas sobre o tema do controle de constitucionalidade. Não entraremos em detalhes técnicos e em discussões jurídicas profundas. Todavia, alguns debates importantes não serão deixados de lado. 
Pois bem, o controle de constitucionalidade é o meio pelo qual as leis e os atos normativos em geral são “fiscalizados” em relação à sua compatibilidade com a Constituição Federal. Vale dizer: a um determinado órgão compete dizer se determinada lei está em consonância com a Lei Maior de um país (que no caso do Brasil e de vários países do mundo, é a Constituição). 
Desse conceito simples é possível extrair algumas ideias importantes que justificam a existência e a necessidade de se proceder a tal controle. Primeiramente, é preciso lembrar que a estrutura do nosso ordenamento jurídico foi construída segundo um verdadeiro escalonamento normativo, sendo que as normas superiores servem de fundamento de validade para as normas inferiores. 
Nessa verdadeira pirâmide normativa, a Constituição Federal ocupa o vértice e dela emanam os princípios e as regras que devem ser seguidos para a elaboração das demais leis.
Pág. 3 - Hans Kelsen
Mas qual o fundamento de validade da Lei Maior, já que ela é norma matriz de todas as outras? 
Na visão do jurista Hans Kelsen, que edificou toda essa ideia de Constituição em sentido estritamente jurídico e baseada num escalonamento normativo, a Constituição tira sua validade de uma norma hipotética, situada não no plano do direito posto, mas no âmbito do direito suposto, abstrato, hipotético.
Por isso, defende que a norma fundamental hipotética, que oferece os parâmetros para norma fundamental concreta, situa-se no plano lógico-jurídico, ao passo que a Constituição propriamente dita, situa-se no plano jurídico-positivo (do direito posto).
Do fato de a Constituição ocupar o ponto mais alto de um ordenamento, decorre o princípio da “Supremacia da Constituição”, segundo o qual os atos inferiores devem ser com ela compatíveis. Assim, podemos afirmar que, para existir o controle de constitucionalidade, pressupõe-se um ordenamento jurídico escalonado, em que um ato normativo superior serve de validade para o inferior, sendo que a Constituição é a norma hierarquicamente superior às demais.
Aliados a esses pressupostos, alguns requisitos também se fazem presentes para justificar o controle. Nessa linha, é preciso que a Constituição seja rígida, vale dizer, possua um processo de alteração mais árduo do que o processo de alteração das normas não constitucionais, e haja um órgão responsável (competente) para realizar o controle de constitucionalidade.
 Pág. 4 - Sistema de controle de constitucionalidade
 Como vimos, a nossa Constituição é rígida e estabeleceu, no art. 102, inciso I, a competência para o Supremo Tribunal Federal julgar as ações que pretendam exercer o controle de constitucionalidade. Dentre algumas, há a Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin), e a Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental (ADPF). Dessa forma, o Brasil possui hoje um sistema de controle de constitucionalidade moderno e abrangente. 
Mas sempre foi assim? 
Não. Durante todo o período do Brasil imperial, que se estendeu de 1822 a 1889, não havia qualquer meio de controle de constitucionalidade das leis pelo Judiciário. Nessa época, consagrou-se o dogma da soberania do Parlamento, conforme o qual somente o Órgão Legislativo era capaz de compreender o real significado da norma. Some-se a isso o fato de haver o Poder Moderador, conferido ao Monarca, que desempenhava o papel de coordenação e equilíbrio entre os demais Poderes. 
Apenas com a Constituição de 1891, já na era republicana, o controle foi instituído no país. Mas ele ainda estava restrito ao controle difuso, isto é, aquele realizado por qualquer juiz ou tribunal, segundo as regras locais de organização judiciária.
Pág. 5 - Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva
 Com a Constituição de 1934, houve uma ampliação do instituto, criando-se a Ação Direta de Inconstitucionalidade Interventiva (que tem como objetivo iniciar o processo de intervenção federal em algum ente da federação, em casos excepcionais). 
Além da Adin Interventiva, ficou assentado que a declaração de inconstitucionalidade de uma lei só poderia se dar mediante a aprovação, por maioria absoluta, dos membros de um Tribunal. Criou-se a chamada “cláusula de reserva de plenário”. E a terceira nova regra foi a atribuição conferida ao Senado Federal para suspender a execução, no todo ou em parte, de lei ou ato declarado inconstitucional por decisão definitiva. 
Víamos o crescente desenvolvimento do instituto quando, em 1937, tendo tomado o poder, Getúlio Vargas outorgou a nova Carta Constitucional (Constituição de 1937) e previu a possibilidade de o presidente influenciar as decisões do Poder Judiciário. A norma permitiu ao presidente submeter ao Parlamento, de forma discricionária, as decisões do Poder Judiciário que tivessem declarado inconstitucional determinada lei. O Parlamento poderia manter a decisão do Judiciário caso 2/3 dos seus membros apoiassem a ideia. Isso denota a forma centralizada e autoritária como a política era gerida na “Era Vargas”.
Pág. 6 - Controle da constitucionalidadeCom a redemocratização, em 1946, a nova Constituição, por meio da Emenda Constitucional nº 16, de 1965, reinstaurou a tradição do controle de constitucionalidade, retirando a possibilidade de o Executivo se envolver a seu bel-prazer no processo, e criou a Adin genérica, tendo como objeto as leis e atos normativos, federais ou estaduais, que ofendessem a Constituição Federal. 
O STF foi o órgão incumbido da competência para julgamento. Estabeleceu-se, também, a possibilidade de controle estadual. No entanto, em termos de legitimidade para ingressar com a ação, a Constituição de 1946 ainda foi bem tímida, pois a restringiu ao Procurador Geral da República (PGR). 
Passados alguns anos, todavia, novamente o controle de constitucionalidade sofreu outro retrocesso. Com a ditadura militar, a Constituição de 1967 extraiu o instrumento do arcabouço jurídico, restando apenas a possibilidade de controle de norma municipal em face da Constituição Estadual, para fins exclusivos de intervenção no Município.
Pág. 7 - Inovações
 Foi na história recente, com a promulgação da Constituição de 1988, que presenciamos o avanço e, quem sabe, a consolidação do sistema de controle de constitucionalidade no nosso ordenamento jurídico. A segunda redemocratização do país trouxe de volta o instituto e ainda o fez de forma mais ampla que das outras vezes.
	Dentre outras inovações:
·  ampliou os legitimados para iniciar o processo de controle de constitucionalidade (antes somente o PGR podia intentar a ação);
·  previu a possibilidade de controle nos casos de omissão legislativa, ou seja, se não há uma lei que deveria existir, é possível questionar isso em relação à fiscalização legislativa; 
· criou a Ação Declaratória de Constitucionalidade (ADC), que, similar à Adin, pretende reconhecer e certificar a constitucionalidade de uma lei, em se tratando de lei com validade questionada; e 
· permitiu a criação da ADPF, que, posteriormente, foi regulamentada pela Lei 9.882/99.
Sabemos, então, o que é o controle de constitucionalidade e qual foi sua trajetória nas nossas constituições. Porém, o que acontece com uma lei que é declarada inconstitucional? Quais são os efeitos de uma decisão do STF quando reconhece que uma lei não é compatível com a CF/88?
 Pág. 8 - Lei inconstitucional
 Num primeiro momento, percebemos que a lei declarada inconstitucional é expurgada do ordenamento jurídico, ou seja, excluída totalmente do complexo normativo, desde o início de sua vigência. Isso porque, adotando a “teoria da nulidade”, o Brasil entende que a lei inconstitucional possui um vício desde seu nascimento, não produzindo qualquer efeito. Ela existiu, mas era inválida e ineficaz. 
Sucede que, apesar da bela construção doutrinária, uma lei inconstitucional, até o momento de sua declaração como tal, produz uma série de efeitos que não podem ser negligenciados. Assim, diante desta constatação, o direito nacional percebeu que, em alguns casos, a decisão não deveria declarar a nulidade, mas apenas anular aquela lei que vinha produzindo efeitos. Houve uma aproximação da denominada “teoria da anulabilidade”, característica do sistema austríaco. 
Nasceu, portanto, a possibilidade de se modular temporalmente os efeitos da declaração de inconstitucionalidade, materializada no art. 27 da Lei 9.869/99, em nome da segurança jurídica ou de excepcional interesse social. Assim, mesmo declarando que uma norma é inconstitucional, o STF pode decidir que ela só será inválida a partir de determinada data.
 Pág. 9 - Aspectos
 E quais são as espécies de inconstitucionalidade que podem ser arguidas em termos de controle de constitucionalidade? 
Tanto por ação como por omissão, uma lei ou um ato normativo pode ofender a Constituição Federal. No primeiro caso, por ação, o vício pode ser formal ou material. No segundo caso, a omissão inconstitucional se dá pelo “silêncio legislativo”, ou seja, o Poder Legislativo não edita a lei necessária para que um direito seja efetivado.
	Analisando um pouco mais profundamente a inconstitucionalidade por vício formal, concluímos que ela pode se dar em relação a três aspectos:
	1)  incompetência do órgão para legislar sobre um determinado fato, como por exemplo, o uso de cinto de segurança. O STF entende que lei municipal que trata do assunto é inconstitucional, pois cabe à União legislar sobre a matéria, nos termos do art. 22, XI: “Art. 22. Compete privativamente à União legislar sobre: (...) XI – trânsito e transporte”. Essa modalidade é chamada de vício formal orgânico, devido à incompetência relacionada ao órgão.
	2)  inobservância do devido processo legislativo. Exemplificando, quando uma lei não respeita o quórum necessário para sua aprovação (por exemplo, lei complementar que é aprovada por maioria simples, quando deveria ter sido aprovada por maioria absoluta), ou, então, quando alguém não detém a legitimidade para iniciar o processo legislativo, mas, mesmo assim, o faz. Este vício é chamado de vício subjetivo, e, aquele, de vício objetivo.
	3)  inobservância dos pressupostos necessários para a elaboração do ato normativo. Esta inconstitucionalidade acontece quando um ato não observa os requisitos enumerados na Constituição. Um bom exemplo para ilustrar esse assunto é a lei baiana nº 7.619/2000, que criou o município de Luís Eduardo Magalhães sem a observância dos critérios fixados no art. 18, § 4º da CF/88. (§ 4º A criação, a incorporação, a fusão e o desmembramento de Municípios, far-se-ão por lei estadual, dentro do período determinado por Lei Complementar Federal, e dependerão de consulta prévia, mediante plebiscito, às populações dos Municípios envolvidos, após divulgação dos Estudos de Viabilidade Municipal, apresentados e publicados na forma da lei.)
Pág. 10 - Decoro parlamentar 
No que se refere ao vício material, a inconstitucionalidade é analisada sob o ponto de vista de afronta aos preceitos e princípios da Carta Constitucional. Por exemplo, uma lei que fixe os subsídios do Governador acima do teto remuneratório estabelecido no art. 37, XI, é inconstitucional, por vício material. 
E a questão do decoro parlamentar? 
Esse problema é de grande importância para o estudo de controle de constitucionalidade, tendo-se em vista acusações de recebimento de propinas por parlamentares para votarem alinhados aos interesses do governo. 
Assim, o processo legislativo se maculava pelo fato de o parlamentar ter recebido vantagens indevidas. De acordo com o art. 55, § 1º da CF, existe, aí, um vício de decoro parlamentar, que poderia ensejar a declaração de inconstitucionalidade das leis aprovadas sob o manto dessa negociata. (Art. 55, § 1º – É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno, o abuso das prerrogativas asseguradas a membro do Congresso Nacional ou a percepção de vantagens indevidas). 
Ainda não existe nenhuma ação que invoque esse fundamento para invalidar um determinado ato normativo. No entanto, recomenda-se ao estudante ficar atento para as notícias, pois a qualquer instante isso pode acontecer.
 Pág. 11 - Espécies de inconstitucionalidade
 Em resumo, veja o quadro abaixo, que esquematiza as espécies de inconstitucionalidade:
	ESPÉCIES DE INCONSTITUCIONALIDADE
	POR AÇÃO
	VÍCIO FORMAL (orgânico, formal propriamente dito [objetivo e subjetivo, e inobservância dos pressupostos objetivos)
	
	
	VÍCIO MATERIAL
	
	POR OMISSÃO 
	Ausência de lei
	
	POR VÍCIO DE DECORO PARLAMENTAR
Pois bem, sabendo quais são as espécies de inconstitucionalidade, quando ocorre o controle de constitucionalidade? 
Essa questão nos traz a seguinte resposta: o controle pode ocorrer tanto previamente, antes do início da vigência da lei, ou posteriormente, quando a lei já está em vigor. Analisemos, primeiro, o controle prévio. 
O controle prévio pode ser feito no âmbito do Parlamento, durante o processo legislativo, pela Comissão de Constituição e Justiça (CCJ). Tanto a CCJ do Senado quanto a da Câmara dos Deputados detêm a competência para examinar se um determinado Projeto de Lei está em conformidadecom a Constituição Federal.
Pág. 12 - Controle
 No Poder Executivo, vemos que o controle prévio é realizado pelo veto presidencial, que tem o poder de evitar que uma norma, ou parte dela, entre para o mundo jurídico com vícios de constitucionalidade. 
De forma interessante, também o Poder Judiciário participa do controle prévio de constitucionalidade das leis. Uma vez que o parlamentar tem o direito líquido e certo de participar de um devido processo legislativo, ele poderá acionar o Judiciário toda vez que ele se encontrar em situação de desrespeito a esse direito. 
Dessa maneira, por meio de um Mandado de Segurança, nos termos do art. 5º, LXIX, o membro do Legislativo levará a questão para o Judiciário decidir (“conceder-se-á mandado de segurança para proteger direito líquido e certo, não amparado por "habeas-corpus" ou "habeas-data", quando o responsável pela ilegalidade ou abuso de poder for autoridade pública ou agente de pessoa jurídica no exercício de atribuições do Poder Público”). 
De outro lado, o controle pode ser posterior, também chamado repressivo, e atinge a lei já publicada, e não o projeto de lei. No Brasil, a regra é que o Judiciário, por meio de ações próprias, realize a fiscalização dos atos normativos. 
Isso pode se dar tanto de forma concentrada, quando a questão é levada para um órgão especificamente dotado de competência para tanto, ou então de forma difusa, quando é realizada por qualquer juiz ou tribunal. Neste caso, a decisão valerá apenas para aquele processo. Tem crescido, no entanto, a ideia da “transcendência dos motivos determinantes da decisão”, pela qual as razões expostas em um caso podem ser aplicadas em outro, desde que se comprove tratar-se do mesmo assunto. O Brasil adotou o sistema misto, que abrange tanto o concentrado quanto o difuso.
Pág. 13 - Exceção
 
Mas há exceção à regra do controle exclusivamente judicial. Por exemplo, o art. 49, V, da CF/88, prevê que cabe ao Congresso Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar ou dos limites de delegação legislativa. 
Sendo assim, se o Chefe do Executivo, ao regulamentar uma determinada lei, extrapolar os limites nela fixados, o Poder Legislativo poderá sustar a parte que não condiz com os parâmetros estabelecidos. Isso configura um verdadeiro controle de constitucionalidade. 
Por fim, para finalizarmos esta unidade, cabe indicar quais ações a Constituição indicou para realizar a fiscalização das leis. Atente para o fato de que tais mecanismos ocorrem somente no controle concentrado, pois, no difuso, o juiz analisa a constitucionalidade da lei para julgar um caso concreto, ou seja, o controle é feito de forma incidental. (Por exemplo, alguém pede um direito baseado numa lei, mas o juiz acredita que ela seja inconstitucional. Dessa maneira, ele nega o pedido do autor. A lei não é declarada inconstitucional para todos, mas apenas para aquele caso concreto, porque somente o controle concentrado tem a força de anular um ato normativo).
Pág. 14 - Meios de se proceder ao controle de constitucionalidade
 Portanto, são cinco os meios de se proceder ao controle de constitucionalidade.
Abaixo os listamos, sendo que, entre parênteses, está a lei que regula cada um deles.
Adin – Ação Declaratória de Inconstitucionalidade (Lei 9.868/1999)
Tem por fundamento discutir, abstratamente, a validade de uma lei em face da Constituição.
 
Adin por Omissão – Ação Declaratória de Inconstitucionalidade por Omissão (Lei 9.868/1999)
Seu objetivo é suprir lacuna legislativa que, por força de comando constitucional, deveria ter sido preenchida.
ADC – Ação Declaratória de Constitucionalidade (Lei 9.868/1999)
Semelhante à Adin, o objeto da ADC é decidir sobre controvérsia judicial em torno da lei ou do ato normativo.
 ADPF – Ação por Descumprimento de Preceito Fundamental (Lei 9.882/1999)
Esta ação “tem por objeto evitar ou reparar lesão a preceito fundamental”, sendo que o fundamento para sua propositura é a existência de “controvérsia constitucional sobre lei ou ato normativo federal, estadual ou municipal, incluídos os anteriores à Constituição” (nos termos do art. 1º da Lei 9.882/99).
 Ação Declaratória Interventiva (art. 36 da CF/88)
A Adin Interventiva tem o condão de iniciar o processo de intervenção em algum ente da federação que desrespeite os chamados princípios constitucionais sensíveis, dispostos nos arts. 34 e 35 da Constituição.
Para compreender melhor a inovação no sistema de controle de constitucionalidade introduzido pela Constituição de 1988, sugerimos a leitura do artigo do Professor Orione Dantas de Medeiros, disponível na Biblioteca deste curso, em 'Textos complementares'.
CONCLUSÃO DO MÓDULO II
Escudado no pensamento de Rousseau e Hans Kelsen, o constituinte de 1988 antepôs os direitos fundamentais à organização das estruturas  do Estado - o que se constitui numa mudança de paradigma- e pressupôs um ordenamento escalonado rigidamente -  em que um ato normativo superior serve de validade para o inferior -, sendo a Constituição a norma superior às demais. A par dessa hierarquização, instituiu um moderno sistema de controle de constitucionalidade que, tanto de forma concentrada quanto difusa, confere estabilidade e durabilidade à presente ordem jurídica. Podendo ser exercido quer prévia quer posteriormente e atravessando os três poderes, tal sistema ampliou os legitimados para iniciar o processo, previu a possibilidade de controle nos casos de omissão legislativa, criou as ações Declaratória de Constitucionalidade e por Descumprimento de Preceito Fundamental, além de reiterar as já estatuídas ações Declaratória de Inconstitucionalidade e Interventiva. 
 EXERCÍCIOS
Considerando as características da Constituição Cidadã, marque a alternativa incorreta:
Escolha uma:
1. A Constituição de 1988 possui um corpo normativo homogêneo.
2. A Constituição de 1988 adota como fundamental não somente os direitos individuais e sociais e a estrutura do Estado, mas também os fins e objetivos que ela persegue.
3. A Constituição de 1988 é extensa, por não se limitar a regular somente a estrutura do Estado e os direitos fundamentais.
4. A Constituição de 1988 é formal, pois elege como norma tudo aquilo que compõe seu texto e que é submetido a uma determinada forma de elaboração, não importando seu conteúdo.
Uma Constituição é promulgada quando:
Escolha uma:
1. Todas as alternativas são incorretas.
2. Prescinde da participação popular em sua elaboração.
3. É outorgada, como as de 1824, 1937 e 1967.
4. É fruto da vontade unipessoal de um governante.
A inconstitucionalidade por vício formal de uma lei pode se dar por:
I - Incompetência do órgão para legislar sobre um determinado fato.
II - Inobservância do devido processo legislativo.
III - Inobservância dos pressupostos necessários à elaboração do ato normativo.
IV - Falta de decoro parlamentar, quando, por exemplo, da aprovação de uma norma em troca da percepção de vantagens indevidas, ou propinas.
Escolha uma:
1. Todas as alternativas são falsas.
2. Somente as alternativas I, II e III são verdadeiras.
3. Somente as alternativas II e IV são falsas.
4. Todas as alternativas são verdadeiras.
5. Somente as alternativas I e III são verdadeiras.
Existem poderes constituintes derivados do originário, que são:
I - O poder reformador, sujeito a limitações, dentre as quais o respeito às “cláusulas pétreas”, é responsável por modificar a Carta Magna através de Emenda Constitucional, aperfeiçoando a regulamentação de determinada matéria.
II - O poder decorrente, - conferido às Assembléias Legislativas estaduais para estruturarem suas respectivas Constituições e fundamentando-se na forma federativa de uma República constituída pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal-, tem como limitações não invadir competências asseguradas à União; seguir os princípios orçamentários estabelecidos pela Constituição Federal; respeitar a forma federativa, o princípio republicano e os direitos fundamentais enumerados na Carta Magna, além das regrasdo processo legislativo federal, adaptando-as às peculiaridades estaduais.
III - O poder revisor, que já não mais pode ser exercido e que teve como objetivo revisar a Constituição após o quinto ano de sua promulgação.
Escolha uma:
1. Somente as alternativas I e III são falsas.
2. Somente as alternativas II e III são falsas.
3. Somente as alternativas I e III são verdadeiras.
4. Todas as alternativas são verdadeiras.
Sobre Poder Constituinte Originário, podemos afirmar que:
I - É inicial e autônomo, na medida em que é livre para criar uma nova ordem.
II - É ilimitado juridicamente, pois rompe com os limites traçados pelo direito anterior.
III - É um poder de fato e um poder político, identificado com a força social da qual se origina e com a ordem jurídica através da qual se manifesta.
IV - É dependente da ordem jurídica que o precede.
Escolha uma:
1. Todos os itens são falsos.
2. Somente os itens I, II e III são verdadeiros.
3. Somente os itens I e IV são falsos.
4. Todos os itens são verdadeiros.
5. Somente os itens II, III e IV são verdadeiros.
Previamente, o controle de constitucionalidade pode ser realizado pelo:
I - Poder Legislativo, através das Comissões de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados e do Senado Federal.
II - Poder Executivo, através de veto presidencial.
III - Poder Judiciário, através de Mandado de Segurança interposto por membro do Poder Legislativo.
Escolha uma:
1. Somente as alternativas I e III são verdadeiras.
2. Somente a alternativa II é falsa.
3. Todas as alternativas são verdadeiras.
4. Somente as alternativas II e III são falsas.
Sobre o controle de constitucionalidade, podemos afirmar que:
I - Tem como órgão competente de fiscalização o Supremo Tribunal Federal.
II - É exercido através da Ação Direta de Inconstitucionalidade, da Arguição de Descumprimento de Preceito Fundamental e da Ação Declaratória de Constitucionalidade.
III - Legitima qualquer cidadão a acioná-lo.
IV - Estende-se aos casos de omissão legislativa.
Escolha uma:
1. Todas as alternativas são falsas.
2. Somente as alternativas I, II e IV são falsas.
3. Somente as alternativas I, II e IV são verdadeiras.
4. Somente as alternativas I, II e III são verdadeiras.
5. Todas as alternativas são verdadeiras.

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