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A ressocialização

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A ressocialização tem por objetivo fazer o ex-detento retornar a uma sociedade e ter sua vida novamente normalizada. No estado de Alagoas, o Núcleo Ressocializador da Capital (NRC) trabalha todos os dias pensando no retorno do preso a sociedade, auxiliando dentro do sistema a ter entendimento dos seus fatos, empregando conhecimento através dos estudos e qualificando a mão de obra do mesmo. 
Mesmo tendo reconhecimento de especialistas, a ressocialização ainda é vista como algo falacioso. A aplicação da Lei de Execução Penal, é tida por alguns como uma lei ultrapassada sendo necessária uma reavaliação da mesma, ou seja, devemos começar a pensar em um novo modelo de punição penal antes que seja tarde demais, pois a população carcerária é crescente e esses criminosos voltam cada dia mais qualificados na prática de crimes do que antes de entrar no sistema prisional.
“A execução penal deve objetivar a integração social do condenado ou do internado, já que adotada a teoria mista ou eclética, segundo o qual a natureza retributiva da pena não busca apenas a prevenção, mas também a humanização. Objetiva-se, por meio da execução, punir e humanizar”. (MARCÃO, 2005, p.1)
O trabalho dignifica o homem e o problema principal para a ressocialização é não conseguir emprego, pois sempre haverá a ficha de ex-presidiário e a maioria deles não sabem ler ou escrever, ou tem experiência profissional, sendo praticamente impossível serem admitidos em algum emprego, o que dificulta sua reinserção social. Esse conjunto de fatores dificulta a ressocialização do ex-preso em sociedade e com isso há um aumento da reincidência e da criminalidade.
A Seris (Secretaria de Estado de Ressocialização e Inclusão Social), além de qualificar profissionalmente os reeducandos, também investe na formalização de parcerias para disponibilizar vagas de trabalho aos custodiados. Em 2019, após a assinatura de um termo de cooperação entre a Ressocialização, o Tribunal de Justiça de Alagoas e a Associação Empresarial do Núcleo Industrial (Assenibo), 32 reeducandos do Núcleo Ressocializador passaram a integrar o quadro de funcionários de empresas do Núcleo Industrial Bernardo Oiticica (NIBO), instalado ao lado do sistema prisional.
	Uma entrevista realizada com um ex-professor do sistema prisional, Junior Cirilo, conseguimos identificar essas admissões através do TJAL e em outros órgãos também: 
“Os reeducandos contratados são admitidos através de coleta realizada pelo Governo, informa suas qualificações, onde prefere trabalhar e quando surge as oportunidades, são chamados para realizar o trabalho nesses órgãos públicos e assim contratados. Muitos trabalham na área da limpeza, portaria, e áreas similares.”
Falar sobre o reeducando não é coisa fácil e a vida desse ser humano é dotada de amarras que vem de um passado que muitos querem esquecer e não voltar a ter a vida que os levou para a prisão. O problema não consiste em ter nesse ser humano as marcas de uma personalidade criminosa que pode a qualquer momento voltar a delinquir, pois a tempos os conceitos lombrosianos foram descartados. O problema consiste nas “marcas da prisão” que vem junto com ele ao ser lançado de novo dentro da sociedade.
Quando falamos na vida dessas pessoas, infelizmente não podemos deixar de salientar o preconceito, a humilhação e o desprezo existente na sociedade que vivemos por essas pessoas ao serem reconhecidos e taxados como “criminosos” mesmo já tendo pago por seus crimes. O núcleo de ressocialização além de tentar estruturar o preso para a sociedade, tem um árduo trabalho preparando a sociedade para o preso.
O professor Junior Cirilo, já trabalhou nos institutos: Núcleo Ressocializador da Capital (NRC), Presídio Baldomero Cavalcante, Presídio Cyridião Durval de Oliveira e Silva, Centro Psiquiátrico Jurídico (CPJ), Presidio Feminino Santa Luzia. Foi realizado uma rápida entrevista de perguntas e respostas através da rede social WhatsApp da qual foram obtidas as respostas: 
1. Na sua opinião, qual a dificuldade encontrada pelos reeducandos ao tentar ser introduzidos a sociedade?
Resposta: Preconceito, infelizmente, sempre existirá. Então sempre haverá críticas, dúvidas, receio sobre algo que ficou no passado e que motivou a reclusão daquela pessoa. Então sempre ao tentar algo novo as portas se fecham, seja isso ao procurar uma nova oportunidade de emprego, ao tentar se relacionar com alguém, o convívio na vizinhança, na própria família.
2. Quando você era professor, o nível de interesse dos mesmos era notório? 
Resposta: Contava-se nos dedos os que estavam ali com o real interesse em aprender. Sabemos que a educação transformar as pessoas, porém dentro de uma unidade ela tem q lutar com muitas barreiras. O verdadeiro motivo de muitos era a diminuição de pena que a educação proporciona, que a cada 4h de estudo o preso diminui 1 dia de reclusão, alguns iam pela merenda e outros apenas pra sair mais da rotina de ficarem presos apenas nos módulos.
3. Já participou ou participa de algum projeto de inclusão dos reeducandos? 
Resposta: Participei quando estava atuando como professor nas unidades, lá sempre havia projetos onde tentávamos incluir e fazer com que eles e o deles fossem reconhecidos.
4. Qual a importância da ressocialização? 
Resposta: A grande importância da ressocialização é justamente trabalhar a mente daquele detento, onde ele repense sobre o que foi feito, o que deve ser feito e o que ele pode fazer, fazendo assim uma pessoa com atitudes diferentes, mais reflexivas. 
5. Já ouviu algum depoimento de um dos reeducandos exaltando a dificuldade e o preconceito após saírem do sistema? 
Resposta: Os relatos eram diários, pois eles me viam como uma pessoa de confiança e se abriam para falar sobre assuntos diversos. Mas sempre ouvia depoimento deles relatando as dificuldades vividas dentro da unidade e também fora. Dentro são diversas as reinvindicações, como: questões sanitárias, alimentares, relação pessoa com agentes, dificuldades para um atendimento básico de saúde na unidade. Já fora, eles tentam uma vida nova, porém o preconceito impera diante da situação, mas com muita força de vontade e desejo de mudança, muitos conseguem tocar a vida normalmente e realmente fazer do tempo que ficou recluso de liberdade uma página virada.
6. O Governo deveria investir mais na ressocialização?
Resposta: Sim, claro. A ressocialização é a salvação para aqueles detentos, sendo que eles não têm o auxílio que realmente deveria receber e com isso acaba complicando esse processo, pois os detentos têm que ressocializar por conta própria, tendo que aprender com a dor, o sofrimento que ele deve mudar seus atos, e nem sempre isso acontece, em sua maioria acabam causando uma revolta e eles não têm perspectiva de mudar, a maioria das vezes o detento sai pior do que quando entrou.

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