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1 2 EDUCAÇÃO FINANCEIRA EUFRÁSIO DA COSTA SOUZA FILHO 1º MÓDULO JULHO/2019 3 APRESENTAÇÃO Bem-vindo ao curso de Educação Financeira Para Educação Básica do Programa Qualificar ES da SECTI – Secretaria do Estado da Ciência, Tecnologia, Inovação e Educação Profissional. Essa apostila possui informações que lhe orientará na utilização das suas finanças de forma adequada para que promova o bem estar pessoal e social. Diante de tantas mudanças acontecendo no mundo e na economia, bem como na sociedade, podemos afirmar que o desafio agora é eminente, educar com auxílio de mudanças de hábitos e comportamentos levam o indivíduo a repensar suas necessidades e desejos mediante a um ambiente favorável ao consumo por impulso. Portanto, adotar metodologias que favoreçam o controle emocional é primordial para se adaptar a uma nova realidade em prol da realização de sonhos que parecem distantes da sua realidade, mas que na verdade, falta apenas ajustes para que possam torná-los tangíveis. Espero que você aproveite ao máximo este curso e que tenha persistência para conclui-lo. Bons estudos! 4 Módulo I O QUE É EDUCAÇÃO FINANCEIRA, COMO MAXIMIZAR SEUS RECURSOS. A educação financeira não é um tema muito discutido nas escolas por aqui. No nosso país, ainda existe o velho hábito de não ensinar desde cedo como o dinheiro funciona e, principalmente, as formas mais indicadas de administrá-lo. Por isso, é muito comum que as pessoas cheguem à idade adulta sem saber exatamente como lidar com suas finanças. Entretanto, gestão financeira é uma habilidade que pode ser aprendida em qualquer fase da vida. Um ponto importante é que a educação financeira quando bem gerida, proporciona qualidade de vida e bem estar social, ou seja, uma vida financeiramente saudável, reflete positivamente em vários âmbitos no contexto pessoal e familiar. Dessa forma, aprender a se relacionar com o dinheiro faz-se necessário, tendo em vista que assegura tranquilidade e prosperidade, além de satisfação pessoal, consequentemente crescimento econômico. Consumidores conscientes favorecem o sistema financeiro que dependem do comportamento dos 5 consumidores para funcionar de forma mais equilibrada, pois um dos fatores relevantes neste contexto é justamente a demanda de cada indivíduo que gera a demanda de mercado e propulsiona a oferta de produtos conforme as suas escolhas e necessidades. Assim, os mercados tendem a serem mais competitivos desempenhando ativamente papel significativo no monitoramento do cenário econômico e potencializa as oportunidades para o consumo de acordo com o crescimento da economia atendendo as expectativas da sociedade como um todo. Portanto, é muito importante para a população aprender a utilizar da melhor forma possível o dinheiro a seu favor, para isso é necessário saber se planejar e utilizar as ferramentas que auxiliam para que você possa ter hábitos e comportamentos favoráveis para potencializar as possibilidades na realização dos sonhos e projetos que permeiam os desejos tanto pessoal, quanto familiar e social. 6 O QUE PLANEJAMENTO PESSOAL E FAMILIAR? Primeiramente, antes de falar sobre planejamento financeiro pessoal e familiar, é importante saber que há várias maneiras de abordar o tema, portanto, existe uma vasta literatura a respeito, para todo e qualquer assunto com a era tecnológica é comum uma explosão de informações. O planejamento financeiro é uma estratégia de gestão do dinheiro de uma pessoa ou grupo de indivíduos, por exemplo, mas também pode ser aplicado a uma empresa. 7 Basicamente, ele analisa e ajuda a fazer um controle de gastos e ganhos em um determinado período, além de possibilitar definir algumas previsões de custos no futuro. Esse conceito voltado para o lado pessoal ou familiar, ou seja, aplicado às pessoas de modo geral, pode ser entendido como uma estratégia para organizar suas finanças, despesas e receitas. Além disso, é possível traçar metas para daqui algumas semanas, meses e até anos. Dessa forma, a pessoa que faz um planejamento financeiro para gerir seu próprio dinheiro, além de evitar ficar com o orçamento apertado no fim do mês, também o protege contra situações negativas, como as temidas dívidas. Um erro bem comum é acreditar que a gestão financeira pessoal é algo voltado apenas para pessoas que têm uma renda mais alta, como empresários, celebridades ou outras pessoas que ganham salários altíssimos. Na verdade, qualquer pessoa, independentemente do nível salarial ou profissão que exerce, pode e deve aprender sobre educação financeira pessoal e, principalmente, aplicá-la em seu dia a dia. 8 Afinal, o mundo financeiro está cada vez mais complexo, dada a facilidade de crédito dos tempos atuais se comparado com décadas anteriores, e a decisão do indivíduo de pegar crédito se o planejamento não for bem estruturado leva ao endividamento consumindo parte ou grande parte de sua renda a pagamento de prestações e dívidas que minimizam seu poder de compras para as coisas realmente necessárias ou que trariam maior benefício. As pessoas lamentavelmente não tem costume de buscar informações, ainda que simples ou rasas sobre uma boa educação financeira. Este fato talvez se dar por acharmos que sabemos a melhor maneira de gastar o nosso dinheiro ou simplesmente satisfazer nossos desejo momentâneos. 9 QUAL A IMPORTÂNCIA DO PLANEJAMENTO FINANCEIRO? O planejamento financeiro sempre traz benefícios quando usado de forma correta e contínua, como o próprio nome diz, planejar é projetar, prospectar, prever, antecipar e com isso, favorece o controle das despesas e receitas. Para isso é preciso disciplina e bons hábitos de consumo, uma vez que vivemos num mundo capitalista, informações a respeito de investimentos, contenção de gastos, aquisição de bens, apenas desejos atendidos, entre outras formas que envolve dinheiro, o planejamento financeiro auxilia para que você possa utilizá-lo da melhor maneira possível com o intuito de maximizar seus recursos. O planejamento financeiro pessoal é muito mais que simplesmente saber se você tem dinheiro suficiente para pagar um determinado valor ou, somente, economizar e ter uma conta bancária positiva. Ele vai muito além disso. Ele te permite ter qualidade de vida e também abre caminho para você conquistar a independência financeira e a realizar seus sonhos, mas tudo depende do seu comportamento e atitude mediante as tentações que o mercado oferece. 10 A maior parte dos problemas financeiros existentes na vida de uma pessoa ou família ocorre pelo simples fato de não saber exatamente quanto ganha e quanto gasta. Existem muitas despesas que são ignoradas devido ao valor bem baixo, mas que, quando ocorrem com muita frequência, acabam atrapalhando (e muito) o equilíbrio das suas finanças. Ao conhecer exatamente o que entra e sai da sua conta todos os meses, você pode recuperar as rédeas da sua vida financeira e poderá ter mais segurança no futuro. Esse controle vai te permitir ter uma visão melhor das suas finanças e se preparar para realizar investimentos, fazer aquela viagem dos sonhos, comprar um apartamento ou qualquer outra coisa que desejar. Muitas vezes você ignora o seu potencial financeiro por falta de conhecimento nesta área. As pessoas erroneamente imaginam que para poupar ou fazer algum tipo de investimento é necessário ter uma quantia razoável de dinheiro, mas não totalmente verdade, existem vários tipos de produtos financeiros no mercado dependendo do tipo de perfil do consumidor. Quando falamos a palavra consumidorem finanças, ela remete a serviços prestados por bancos, sejam eles privados ou estatais, entre outros tipos, como financeiras, banco de desenvolvimento, por exemplo. Quando um cliente vai até um banco e decide aplicar 11 seu dinheiro, isso quer dizer que está consumindo um tipo de produto conforme a sua realidade naquele período de tempo. Para isso, é importante que saiba por quanto tempo pode deixar o seu dinheiro investido para não precisar resgatar antes e perder os juros. Então, planejamento permite que você tenha vantagens em relação aos que não o fazem, já que ajuda a te direcionar a poupar ou investir de forma correta para te proporcionar uma certa tranquilidade financeira e bem estar pessoal e social. Quem tem uma boa gestão financeira vive com mais tranquilidade e segurança, sem aquela velha preocupação de saber se a conta bancária vai fechar no vermelho ou se sobrará algum dinheiro no final do mês. Sem contar que, quando as finanças estão em ordem, é possível criar uma reserva para começar a investir. Portanto, o entendimento sobre os investimentos disponíveis no mercado pode ser um dos primeiros passos para conquistar uma vida financeira mais tranquila, e futuramente até conseguir alcançar os seus sonhos. 12 COMO COMEÇAR O PLANEJAMENTO FINANCEIRO PESSOAL E FAMILIAR? Iniciar um planejamento financeiro nem sempre é simples, mas basta um “click” de conscientização para que tudo aconteça de forma natural, pois como tudo na vida, os hábitos nos fazem bons em alguma coisa, e com a educação financeira não é diferente. Dada a decisão de querer mudar os velhos costumes, a primeira é a condição comportamental, em você realmente almeja realizar sonhos, ter uma vida mais tranquila e harmoniosa, ter benefícios a longo prazo, não ser imediatista. Planejar requer disciplina, é preciso um esforço interino empreendido. A segunda é sobre as técnicas que tem como objetivo influenciar no comportamento do controle do orçamento doméstico. Portanto, o controle emocional juntamente com o conhecimento sobre finanças pessoais e familiar são fundamentais para que o planejamento financeiro seja bem sucedido e irá permitir que você tenha realizações pessoais que necessitam de dinheiro para serem concretizados. 13 RELAÇÃO COM O DINHEIRO Para ter um bom relacionamento entre você e seus recursos financeiros é importante fazer escolhas ótimas e cada vez mais consciente. Outro ponto preponderante é sempre manter foco nos seus sonhos, eles propulsionam para o bom planejamento financeiro para torná-los realidade. Estimar se as suas aquisições são realmente necessárias ou apenas desejos, pois as suas escolhas podem comprometer a sua qualidade de vida a curto ou a longo prazo. 14 SONHOS E PROJETOS Seus sonhos e projetos dependem muito das suas atitudes, hábitos e comportamento, por isso, aprender sobre educação financeira e ter em mente que o planejamento é imprescindível para a realização das suas aspirações é um grande passo para alcançar o êxito. Existem vários benefícios que a educação financeira proporciona, dentre eles, equilíbrio financeiro pessoal, familiar e social, evita imprevistos financeiros, prepara para a aposentadoria, prepara o cidadão para utilizar da melhor forma possível os produtos oferecidos no mercado financeiro, minimiza as probabilidades do indivíduo ser vítima de fraudes, entre outras vantagens. Mas, o que tem a ver com sonhos e projetos? É o dinheiro que norteia nossas realizações e projetos, e é por meio deles que sabemos aonde queremos chegar. Alguns sonhos não necessariamente irá precisar de dinheiro para serem realizados, como por exemplo, sonhar com um mundo melhor, porém, existem os que requerem dinheiro para se tornarem reais, como uma viagem, a compra de um imóvel. Então, você já parou para pensar quantos sonhos você possuiu? Melhor que isso, quais as ações que tem feito para concretizá-los? 15 Muitas vezes a falta de conhecimento impede o percurso entre sonho e realidade. Para que haja a ponte que possa unir ambos, é preciso se posicionar ativamente para tornar os sonhos em projetos. De acordo com o Caderno de Educação Financeira do Banco Central do Brasil, p.12 Os projetos se caracterizam pelos seguintes aspectos: (1) são temporários – têm início e fim definidos; (2) são planejados, executados e controlados; (3) geram produtos, serviços ou resultados exclusivos; (4) são desenvolvidos em etapas que se sucedem em uma sequência progressiva; (5) são realizados e gerenciados por pessoas; e (6) são executados com recursos limitados. Desse modo, o projeto é uma ação que viabiliza a realização dos sonhos, retirando-os do imaginário e trazendo-os ao mundo real. Existem alguns passos simples que, uma vez seguidos, podem lhe ajudar a transformar, com facilidade, seus sonhos em projetos, aproximando-os de sua realização. 16 O projeto é que vai auxiliar na concretização do sonho, ele é posto em prática para que você possa visualizar o caminho que tem que percorrer até chegar ao seu objetivo. Existem algumas orientações para que os sonhos tornem-se projetos, como alguns passos bem simples, quais sejam: -Saber com precisão aonde você quer chegar: Tudo fica bem mais claro quando sabemos o ponto de partida e o de chegada, portanto, por se tratar de algo totalmente abstrato, o sonho, deve ser transformado num projeto, este vai te ajudar a chegar no ponto de chegada. Quanto mais detalhado seu projeto for, maiores as chances de acertar o alvo. Por exemplo, você pode sonhar em fazer uma viagem, mas isso é muito superficial. É preciso definir para aonde você quer ir? Quais lugares você pretende visitar? Os melhores pontos turísticos? Quanto você pretende gastar e para quando será a viagem? Estes detalhes são importantes para saber 17 exatamente do que será necessário para que tudo ocorra em perfeita harmonia e seus sonhos não se frustrem. -Instituir objetivos claros e realizáveis: Nesta fase, especificar como pretende atingir seu objetivo. O planejamento deve ser descrito e acompanhado com rigor em cada etapa para garantir que você alcançará o seu sonho. Por exemplo, se deseja viajar para o exterior e pretende passar 30 dias, e o custo será de R$ 25 mil, uma boa opção é poupar mensalmente R$1mil para pagar a viagem, e com o valor da aplicação que irá render todo mês (pode ser a poupança), em 23 meses você terá a oportunidade de concretizar o seu sonho. -Disciplina na realização do projeto: Manter o foco no seu objetivo final irá favorecer no caminho a ser percorrido. A motivação pelo prêmio final deve estar sempre 18 internalizada e latente. Imagine-se em posse do seu sonho, e nos prazeres que irá te proporcionar. -Determinar etapas intermediárias: Todo projeto quando começa a sair do papel deve passar por etapas, e para que tudo ocorra como planejado é importante acompanhar criteriosamente cada fase, que são as etapas intermediárias, e caso haja necessidade de fazer algum ajuste no percurso você pode redirecionar alguma meta para que não perca o controle no alcance do objetivo final, sabendo que algumas intercorrências podem surgir ao longo do caminho, como por exemplo, uma despesa extra impreterível na família, onde será necessário redirecionar alguns detalhes, sem perder o foco. - Reconhecer cada etapa da caminhada: Existem projetos de curto e longo prazo, mas não importa, todos tem a sua relevância. O importante é reconhecer e comemorar cada etapa alcançada. Porém, há possibilidade que durante o caminho algo possa sair do controle e vir o desânimo em não finalizá-lo, por isso é interessante que você potencialize as etapas vencidas para que sua motivação nãoseja abalada por percalços que por ventura surgirem. Com base nestas orientações seus sonhos serão potencializados a se concretizarem. 19 RESULTADO DAS NOSSAS ESCOLHAS: RAZÃO X EMOÇÃO Tudo na vida se baseia em escolhas, são elas as responsáveis pelos nossos sucessos e fracassos, permeiam nossas ações e decisões, ainda que conscientes ou inconscientes. Até mesmo quando você se esquiva de fazer uma escolha, você acabou de fazer uma. De acordo com o Caderno de Educação Financeira do Banco Central do Brasil, p.14 O ser humano é o único que tem a capacidade de não se valer apenas dos instintos e das emoções para direcionar as suas escolhas. No entanto, há momentos em que tomamos atitudes ou efetuamos escolhas com base exclusivamente nas emoções. Não se pode dizer que isso, a princípio, seja bom ou ruim, mas, em regra, é importante. cuidar para que nossas escolhas equilibrem emoção com razão. Com base no estudo sobre educação financeira, muitos se perdem por desejos incontroláveis, que costumamos chamar de compra por impulso. Não que seja errado atender aos nossos caprichos, 20 mas devemos ficar atentos aos gastos excessivos e desnecessários que nos roubam a realização dos nossos sonhos. Uma vez que somos bombardeados a todo momento por propagandas e mensagens que procuram ativar nossas emoções e fazer com que consumamos produtos e serviços que na maioria das vezes nem precisamos, mas diante do apelo ao consumismo, simplesmente culminam numa aquisição não programada. Há ainda, situações em que o indivíduo se deixa levar cegamente pela emoção em busca do “status” e adquire bens e serviços pelo sentimento de imposição social, cujo produto não está dentro da sua realidade financeira e acaba minando suas posses. Por isso, é importante manter o equilíbrio entre razão e emoção para que consiga ter foco no seu objetivo e principalmente criar hábitos saudáveis para não prejudicar o bom andamento do planejamento financeiro. Não é necessário excluir as emoções no momento de fazer uma escolha, mas apenas atentar para não arruinar com suas prioridades. Escolhas equilibradas é a melhor opção para que não haja prejuízos, inclusive na sua qualidade de vida. Dessa forma, serão apresentados dois aspectos importantes para refletirmos sobre a troca intertemporal e a relação entre necessidade e desejo. 21 A troca intertemporal na linguagem financeira significa que se gastar muito no presente, você poderá ter escassez de recursos no futuro, e de forma contrária, se você poupar no presente, terá mais dinheiro posteriormente. Portanto, o nome advém da escolha que se faz no tempo. Em síntese, se poupar agora, terá amanhã, se não guardar nada agora, não terá reservas financeiras. Veja os exemplos a seguir: BCB, 2013 p.15 Reflita sobre o que ocorre em cada parte do exemplo a seguir: Suponha que você deseje comprar um produto de informática no valor de R$1.000,00 e você possui apenas R$600,00, ou seja, faltam R$400,00 para que você possa comprá-lo. Você faz um estudo de seu orçamento para avaliar se é possível comprar esse produto e verifica que consegue poupar R$100,00 por mês. Seguindo esse planejamento, você levaria quatro meses para ter o dinheiro suficiente para adquirir o produto. Mas se você quiser comprar o produto imediatamente, há uma forma de “manipular” o tempo e adquirir o produto antecipadamente. Você pode 22 buscar dinheiro em outras fontes, tomar um empréstimo no valor de R$400,00 e, com isso, adquiri-lo hoje. Simples, não? Sim... quase... A situação não é tão simples quanto parece porque, em geral, a antecipação de consumo traz consigo um custo chamado “pagamento de juros” sobre o valor emprestado que lhe permitiu adquirir o produto no presente. Nesse caso, como você antecipou o seu consumo, terá de pagar prestações de valor maior do que R$100,00 por mês ou pagar um número maior de prestações de R$100,00 do que pagaria se tivesse decidido poupar primeiro para depois comprar o produto. Agora, imagine outra situação: Você deseja comprar o mesmo produto que custa R$1.000,00, verifica a sua conta e percebe que possui toda essa quantia. Nessa hipótese, você tem duas opções: comprar o produto hoje, gastando toda essa quantia, ou deixar para fazê-lo daqui a quatro meses. Se você escolhe deixar para comprar o produto daqui a quatro meses, você pode colocar o seu dinheiro na poupança ou em outro investimento e passar a receber um 23 prêmio por ter postergado o consumo. Ou seja, você poderá ser recompensado ao realizar uma troca intertemporal, abrindo mão de algo que poderia ter hoje. Daqui a quatro meses, você poderá comprar o produto e ainda lhe sobrará uma quantia. Nesse caso, a postergação do consumo traz consigo o recebimento de rendimentos. Perceba que neste caso não existe escolha certa e errada, tem que fazer uma análise da melhor opção para aquele momento. Não há um critério básico, mas sim avaliar cada situação e assumir com consciência que foi feito o que era necessário no tempo apropriado. 24 REALMENTE É NECESSÁRIO OU É SÓ UM DESEJO Saber distinguir desejo de necessidade é um aspecto muito importante na hora da aquisição de um produto. Podemos definir necessidade como todas as coisas indispensáveis a nossa sobrevivência, enquanto que desejo são coisas que adquirimos para atender nossos anseios, podem ser necessárias ou supérfluas. Portanto, é preciso ficar alerta para saber usufruir bem do dinheiro, na hora de adquirir algo devemos ponderar entre razão e emoção, necessidade e desejo, e sempre usar o bom senso. Não há problemas em atender nossos desejos, desde que estes não sejam problemas no futuro, quando ao invés de trazer benefício e prazer, surgem problemas como por exemplo, a situação começa a sair do controle e os gastos começam a ser superiores aos ganhos. Isto acontece quando atendemos os desejos além das nossas reais necessidades e tende ao endividamento excessivo e dessa forma, comprometimento da saúde financeira. Quando você tem consciência que a vida é feita de escolhas, e que no aspecto financeiro não é diferente, se faz necessário ponderar as possibilidades e manter o equilíbrio racional para que possa identificar entre necessidade e desejo. 25 NEUROECONOMIA: O CÉREBRO E A TOMADA DE DECISÕES Um dos desafios da economia que vem de anos, é entender e compreender os pensamentos e comportamentos, bem como os sentimentos das pessoas nas suas tomadas de decisões e escolhas. O aspecto que permeia a racionalidade é instigante nesta área do conhecimento, uma vez que se trata de algo subjetivo, elaborar um estudo sobre como e o que faz os indivíduos a decidirem, não é tarefa fácil. Com o intuito de potencializar o entendimento sobre um assunto tão complexo quanto avaliar atividades cerebrais, os especialistas optaram por analisar o cérebro por regiões, pois acreditam que cada uma delas é responsável por tomadas de decisões mediante o consumo. Partindo desse pressuposto, presume-se que toda a atividade econômica está relacionada ao uso do cérebro. Assim, esse novo ramo da ciências econômicas vem desenvolvendo estudos relacionados aos comportamentos cerebrais referente as decisões de consumo. Dessa forma, a neuroeconomia considera importante dois processos, são eles, os automáticos e os controlados. 26 Os processos automáticos são aqueles baseados em decisões rápidas e razoavelmente inflexíveis permeiam as compras por impulso. Já os controlados, são mais lentos e flexíveis, o processamento é mais racional, o que não favorece o consumo compulsivo. Dada a importância de uma boa educação financeira que reflete diretamente na qualidadede vida do indivíduo e sociedade, a ciência busca indícios do comportamento e atitudes das pessoas para entender melhor o que ocasiona o descontrole e compulsão por compras, que geralmente tende a afetar a saúde financeira como um todo, tanto no âmbito pessoal, quanto familiar, social e nação. 27 ORÇAMENTO PESSOAL E FAMILIAR Orçamento pode ser definido como um instrumento utilizado para planejar e organizar as finanças e tem como objetivo contribuir para o equilíbrio econômico, e é um facilitador para a concretização de sonhos e projetos. Porém, planejar não é tarefa tão simples, é preciso disciplina, foco e muita persistência, pois geralmente ele funciona a médio e longo prazo. Por isso, os seu propósito devem estar constantemente internalizados, devem ser claros e possíveis para que todas as etapas e metas durante o processo sejam cumpridas até a realização do seu objetivo. Portanto, para que você possa controlar bem suas finanças é importante que toda a movimentação seja registrada e organizada, incluindo qualquer gasto, receitas (rendas), despesas (gastos) e investimentos. Para começar a controlar melhor os seus recursos financeiros vale a seguinte reflexão: meu dinheiro vem de onde e para onde meu dinheiro está indo? Responder de onde vem a sua receita é tarefa fácil, provavelmente do seu trabalho (salários, comissões, pró-labore, diárias, recibo de pessoa autônoma –RPA, entre outros), ou algum investimento (aplicações financeiras, bolsa de valores, planos de 28 previdência social ou privada, entre outros) ou benefícios (previdenciários ou assistenciais de programas sociais do governo). Agora, vem a pergunta mais complexa, para onde vai o seu dinheiro? Você consegue responder rapidamente e com clareza como gasta seus proventos no mês? E, como seu comportamento este ano tem interferido na sua qualidade de vida? Para onde vai a maior parte do seu dinheiro? Você paga ou pagou juros este ano? Você se planeja para gastar, se sim, correu como programado? Possui alguma reserva ou poupança? Conhecer todas as etapas de um bom planejamento facilita nas respostas a todas as essas perguntas. Quanto antes começar a conhecer e acompanhar seu orçamento, mais rápido você chegará ao seu objetivo. Não importa o tamanho do seu sonho, o mais importante é um acompanhamento efetivo de qualquer movimentação financeira das receitas e das despesas, empregá- las de forma efetiva e inteligente, a fim de chegar aonde você deseja no menor tempo possível a com custo mínimo. 29 A IMPORTÂNCIA DO ORÇAMENTO O orçamento é uma ferramenta que auxilia e oportuniza a avaliação das finanças pessoais e familiares e ajuda a definir as prioridades que irão impactar o seu desempenho econômico. Por meio do orçamento, você irá: ● Acompanhar suas finanças; ● Avaliar seus hábitos e costumes; ● Definir quais são as prioridades; ● Aprimorar seu consumo; ● Optar por um projeto; ● Aprender a planejar; ● Identificar problemas e antecipar a correção; ● Estabelecer metas; ● Equilibrar receitas e despesas ELABORAR O ORÇAMENTO A primeira coisa que se deve ter em mente é que para um bom orçamento é preciso que as despesas sejam inferiores as receitas. Caso isso não aconteça, o seu orçamento e planejamento pode comprometer o alcance do seu sonho. O desejável é que as receitas sejam superiores as despesas para que este valor de superávit possa ser investido, poupado, para 30 quando houver possíveis emergências seus recursos sejam suficientes para saná-los, e não comprometer seu futuro. Resumindo, podemos dizer: Receitas – Despesas = Poupança COMO FAZER O ORÇAMENTO POR ONDE COMEÇAR? Primeiramente, você deve registrar todos os ganhos e despesas durante um determinado período de tempo, pode ser mensal ou anual. Para ficar mais sucinto, será falado sobre o orçamento pessoal, mas pode fazer da mesma forma para o familiar. É importante organizar e planejar todas as receitas e despesas, para que possa orientar nos gastos e o bom emprego do seu dinheiro, atendendo as suas necessidades, e priorizar o que realmente é importante. 31 ELABORANDO O ORÇAMENTO O orçamento pode ser elaborado de várias formas, porém, será sugerido um método que engloba quatro etapas, quais sejam: Etapa 1 - Planejamento É necessário estimar as despesas e as receitas por período. Caso, você ainda não tenha iniciado um orçamento, pode tomar como base o período anterior, para ter uma ideia do que e como você gastou e o que você teve de receita no mesmo período, dessa forma, terá uma ideia das suas movimentações financeiras para o próximo período. Para ficar mais claro, por exemplo, separe as receitas e despesas fixas das variáveis. O nome fixa é justamente para aquelas despesas que não variam, ou variam minimamente (aluguel, telefone, prestação de um financiamento, mensalidade escolar, entre outras), já as despesas variáveis, elas podem ser ter um valor diferenciado de um mês para o outro (conta de luz, água, condomínio que alteram de acordo com o consumo), ainda existem as despesas sazonais (tributos, matrícula escolar, material escolar, seguro, etc). Não podem ser esquecidos os créditos que lhes foram concedidos, como os cheques pré-datados, prestações que irão vencer, cartões de 32 crédito e demais compromissos já assumidos e precisam ser honrados, provavelmente todos tem data de débito. Etapa 2 - Registro A parte fundamental desta segunda etapa é o registro diário de todas as receitas e despesas, dessa forma, você estará atualizado e evita esquecer de anotar alguma movimentação durante o período. Outra sugestão é arquivar todas as notas fiscais, guardar recibo de todo e qualquer tipo de pagamento, conferir movimentações bancárias e as de cartões de crédito e débito. Avaliar a melhor forma de pagamento para cada compromisso, pode ser utilizado dinheiro, débito ou crédito. Você pode utilizar o excel, o celular ou até mesmo uma caderneta simples para fazer os registros, o importante é manter atualizado toda e qualquer informação financeira. Etapa 3 – Organização por semelhança Para facilitar a visualização e organização do seu orçamento, uma sugestão é aglomerar as anotações conforme sua similaridade. Por exemplo, você pode agrupá-las da seguinte forma: as despesas relacionadas com moradia (como alimentos, lazer, aluguel, etc). Essa foi apenas uma sugestão, existem outras maneiras, você pode adaptar conforme sua 33 realidade e necessidade. Dessa forma, você tem como ver o valor que cada agrupamento consome do seu salário, e possibilita ajustes ou cortes conforme os gastos de cada grupo. Etapa 4 – Análise É hora de fazer a primeira avaliação comportamental do período escolhido para saber se foi satisfatório o caminho percorrido até aqui. Com base nisso, você terá uma noção de como está o seu orçamento e quais as modificações necessárias devem ser tomadas para que seu salário/renda seja maximizado a fim de proporcionar maior bem estar e qualidade de vida. Será que o seu orçamento merece uma boa reflexão? O que pode ser melhorado? O que merece ser priorizado? Há necessidade de fazer cortes? Como ficou o seu resultado, deficitário, neutro ou superavitário? Quais são suas metas e sonhos? Para alcançá-los você precise de curto, médio ou longo prazo? Os seus recursos são suficientes para chegar ao seu objetivo? Como posso fazer para aumentar minha fonte de recursos? Atente para os pequenos gastos, eles consomem um montante expressivo e boa parte da sua renda. É importante que você tenha em mente um objetivo e trace um plano que te leve até o ponto desejado. Isso servirá como um 34 estímulo para a sua mente na hora de se manter fielao seu planejamento financeiro e fugir dos gastos desnecessários. GESTÃO DO ORÇAMENTO A partir da análise do seu orçamento é possível que não esteja do jeito que você gostaria, afinal, você acabou de dar o seu primeiro passo para a educação financeira. Portanto, pode ser deficitário – quando as despesas superam as receitas, neutro – quando o seu gasto é igual ao seu ganho e superavitário, quando a receita é maior que as despesas. O propósito é atingir o superávit, e o papel do orçamento é exatamente te ajudar a chegar a essa meta. Uma vez que houve superávit, o que fazer com essa receita? O ideal a partir de agora, é criar o hábito de poupar regularmente e não voltar a velha rotina de descontrole financeiro. De acordo com o BCB (2013, p.22), “a primeira coisa a fazer ao receber uma renda deve ser separar parte dela para poupança, antes mesmo de pagar qualquer despesa. A poupança deve ser um compromisso com você mesmo”. 35 Então, antes de sair gastando o mês inteiro e se sobrar aí que você irá poupar não é nada efetivo, a sugestão é que o valor a ser poupado deve ser visto como um compromisso com você, e não o resto do dinheiro. Porém, na prática as coisas são bem diferentes, as pessoas tendem apenas a pagar as contas e o restolho (quando sobra) destinam a poupança. Comportamentos como este não geram patrimônio. Uma alternativa para que você consiga ter reservas é autorizar o banco a fazer a retirada da sua conta direto para um investimento, ainda que seja, poupança, você tem a autonomia para escolher a data e o valor da quantia que deve ser enviado para ser poupado. Ao fazer isso, o seu futuro ficará mais consolidado e preparado para uma situação inesperada, sem que sua vida financeira saia do controle, pois você já tem as rédeas da situação. Quando um orçamento é elaborado, as possibilidades de conseguir identificar para onde vai a sua receita e de que forma ela está sendo investida, na fase da avaliação você irá refletir quais as decisões devem ser tomadas para priorizar a oportunidade de poupar e a capacidade de melhorar. Portanto, 36 não ignore o seu orçamento, pois é por meio dele e de uma boa gestão financeira que seus sonhos serão viabilizados. PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO ORÇAMENTO Buscar alinhar os objetivos familiares é uma boa opção para que todos se envolvam para que o orçamento seja cumprido e proporcione por meio das atitudes comportamentais a saúde financeira e o bem estar de todos. É sabido que cada membro da família possui personalidade diferente, uns são mais controlados com os gastos, outros nem tanto, uns já tem o hábito de poupar, alguns são desatentos e desorganizados. Há 37 aqueles que tem atitudes compulsivas e irracionais, entretanto, tem os que são ponderados e racionais. Mas, é fundamental que todos se conscientizem do seu papel dentro do seio familiar e compreenda os benefícios do sucesso do planejamento orçamentário, e que a participação de todos é imprescindível neste processo, é preciso somar esforços. Porém, o convencimento para que todos possam se engajar neste mesmo propósito é necessário fazer uma abordagem pacífica sem imposições para que haja harmonia e gere melhores resultados, com comprometimento conforme o objetivo estabelecido por todos os membros da família. Diante do exposto, seja sempre imparcial nas escolhas dos propósitos, pois dificilmente alguém irá se interessar em alguma coisa que não lhe trará benefícios, portanto, tome decisões em parceria com seus familiares e proponha metas comuns a todos. 38 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ARAÚJO, Fabio de Almeida Lopes e SOUZA, Marcos Aguerri Pimenta. Educação financeira para um Brasil sustentável: evidências da necessidade de atuação do Banco Central do Brasil em educação financeira para o cumprimento de sua missão. Trabalhos para Discussão do Banco Central. Brasília, 2012. Disponível em: <http://www.bcb.gov.br/?TRABDISCLISTA>. BRASIL, Estratégia Nacional de Educação Financeira. Brasília, 2010. Caderno de Educação Financeira – Gestão de Finanças Pessoais. Brasília: BCB,2013. 72 p. COMISSÃO DE VALORES IMOBILIÁRIOS. Portal do investidor: Porque seu melhor investimento é o conhecimento. Disponível em: <http://www.portaldoinvestidor.gov.br/>. FERREIRA, Vera Rita de Mello. Decisões econômicas: você já parou para pensar? São Paulo: Saraiva, 2007. GIANNETTI, Eduardo. O valor do amanhã: ensaio sobre a natureza dos juros. Companhia das Letras: São Paulo, 2005. INSTITUTO AKATU. Guia - ABC do consumo consciente do dinheiro e do crédito. 2006. Disponível em: <http://www.akatu.org.br/Publicacoes>. KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Editora Objetiva: Rio de Janeiro, 2012 MATTA, Rodrigo Octávio Betton. Oferta e demanda de informação financeira pessoal: o programa de educação financeira do Banco Central do Brasil e os universitários do Distrito Federal. Brasília, DF: UnB, 2007. Originalmente 39 apresentada como dissertação de mestrado, Universidade de Brasília, 2007. Leituras Complementares ARIELY, Dan. Previsivelmente irracional. Editora Campus: Rio de Janeiro, 2008. CERBASI, Gustavo Petrasunas. O dinheiro: os segredos de quem tem. Editora Gente: São Paulo, 2007. CLASON, George. O homem mais rico da babilônia. 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