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DECISÕES DE FINANCIAMENTO DA EMPRESA Professor: Me. Julyerme Tonin Diretoria Executiva Pedagógica Janes Fidelis Tomelin Diretoria Operacional de Ensino Kátia Coelho Diretoria de Planejamento de Ensino Fabrício Lazilha Head de Projetos Educacionais Camilla Barreto Rodrigues Cochia Caetano Head de Produção de Conteúdos Celso Luiz Braga de Souza Filho Gerência de Produção de Conteúdos Diogo Ribeiro Garcia Gerência de Projetos Especiais Daniel Fuverki Hey Supervisão do Núcleo de Produção de Materiais Nádila de Almeida Toledo Projeto Gráfico Thayla Guimarães Designer Educacional Giovana Vieira Cardoso Editoração Flávia Thaís Pedroso DIREÇÃO Reitor Wilson de Matos Silva Vice-Reitor Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de Administração Wilson de Matos Silva Filho Pró-Reitor de EAD William Victor Kendrick de Matos Silva Presidente da Mantenedora Cláudio Ferdinandi NEAD - NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA NEAD - Núcleo de Educação a Distância Av. Guedner, 1610, Bloco 4 - Jardim Aclimação - Cep 87050-900 Maringá - Paraná | unicesumar.edu.br | 0800 600 6360 As imagens utilizadas neste livro foram obtidas a partir do site shutterstock.com C397 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE MARINGÁ. Núcleo de Educação a Distância; TONIN, Julyerme. Conceitos de Gestão Financeira. Julyerme Tonin. Maringá-Pr.: UniCesumar, 2017. 35 p. “Pós-graduação Universo - EaD”. 1. Gestão 2. Financeira 3. EaD. I. Título. ISBN 978-85-459-0014-6 CDD - 22 ed. 352.4 CIP - NBR 12899 - AACR/2 01 02 03 sumário 06| ESTRUTURA E CUSTO DE CAPITAL 13| VALORES MOBILIÁRIOS: TÍTULOS EMITIDOS POR COMPANHIAS 21| POLÍTICA DE DIVIDENDOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM • Definir os conceitos de estrutura de capital, custo de capital próprio, custo de capital de terceiro, custo médio ponderado de capital e custo marginal de capital. • Apresentar o conceito de empréstimo a prazo, títulos e valores mobiliários, bem como apresentar as alternativas de financiamento disponíveis no mercado de valores mobiliários. • Apresentar as formas de distribuição de dividendos e as principais alternativas para distribuição de lucros das empresas. PLANO DE ESTUDO A seguir, apresentam-se os tópicos que você estudará nesta unidade: • Estrutura e Custo de Capital • Valores Mobiliários: Títulos Emitidos por Companhias • Política de Dividendos DECISÕES DE FINANCIAMENTO DA EMPRESA INTRODUÇÃO introdução Vimos alguns conceitos relacionados com as decisões de investimento da empresa, como as técnicas de análise de investimento e a adoção de políticas de governança corporativa e relação com investidores. Pretendemos analisar as decisões de financiamento da empresa. O modo como uma empresa se financia tem um impacto direto no retorno que ela oferece aos seus colaboradores e acionistas. Normalmente, quando se pensa em elaborar um projeto de investimento empresarial, verifica-se inicialmente a disponibilidade de capitais próprios. No entanto, é necessário ter em conta que o capital de terceiros permite a “alavancagem” dos capitais próprios, isto é, aumenta o seu risco e também o seu retorno potencial. Então, mesmo antes de avaliar quais as ferramentas ou instrumentos disponíveis para o financiamento da empresa, é necessário avaliar a combinação adequada de capital próprio e capital de terceiro. Desse modo, vamos avaliar a estrutura de capital da empresa, ou seja, a forma pela qual a empresa se financia e a maneira pela qual ela pode combinar diferentes fontes de recursos. O objetivo é que você seja capaz de responder a perguntas como: Qual o montante de recursos que deve ser captado? Quais os tipos de títulos e valores mobiliários serão utilizados? Qual o mix adequado? Quais os custos envolvidos? Inicialmente você irá conhecer os fatores determinantes na escolha da estrutura de capital, a saber: condições gerais da economia, condições do mercado, decisões operacionais e financeiras, e volume de recursos a serem financiados. Em seguida, estudaremos a questão do custo de capital, que é um parâmetro que representa a taxa mínima de retorno que novos investimentos devem proporcionar, considerando os custos incorridos nesses investimentos. Por fim, apresentaremos os principais títulos que podem ser emitidos por companhias e os impactos da abertura de capital e a política de dividendos da empresa. Pós-Universo 6 A estrutura de capital é uma área complexa na tomada de decisões financeiras. Apesar da teoria de Modigliani-Miller ressaltar que o valor de mercado de uma empresa é independente da maneira como ela se financia, a forma com que as empresas captam recursos é amplamente debatida. Muitos analistas primam pela prudência na alavancagem e endividamento das empresas. Outros analistas afirmam que a dívida constitui a fonte mais barata de capital e que o aumento da competitividade está associado à captação de recursos financeiros. Para Megliorini e Vallim (2009), a estrutura de capital de uma empresa corresponde aos fundos de longo prazo oriundos de fontes de capitais próprios e de terceiros. No Balanço Patrimonial, esses fundos integram as contas que compõem o exigível a longo prazo e o Patrimônio Líquido (Figura 1). ESTRUTURA E CUSTO DE CAPITAL Pós-Universo 7 Ativo Circulante Passivo Circulante Ativo Circulante Passivo Circulante Ativo Permanente Exigível a longo prazo • Empréstimo • Debêntures Patrimônio Líquido • Ações Ordinárias • Ações Preferenciais • Reservas de Lucros Capital de Terceiros Capital Próprio Figura 1: Balanço Patrimonial: fundos de longo prazo Fonte: Migliorini e Vallim (2009, p. 91) A estrutura de capital da empresa resulta da política financeira que descreve o mix de instrumentos financeiros que serão utilizados pela empresa. As alternativas de captação de recursos são capital interno, em que as empresas retêm seus lucros, e capital externo, com dívidas ou ações. Para Damodaran (2004), dívida é definida como qualquer instrumento de financiamento que possui um direito contratual sobre os fluxos de caixa e ativos da empresa, tanto em períodos operacionais quanto na falência. Por sua vez, ação é definida como qualquer instrumento de financiamento que possui um direito residual sobre a empresa, não cria vantagens tributárias a partir dos seus pagamentos, e tem uma vida infinita. A busca por capital externo envolve a decisão de aceitar um endividamento maior (dívida) e os riscos associados ou a abertura de capital (ações). Mesmo se o gestor optar pelas ações há riscos, sendo que o principal deles é a perda do controle administrativo. Damodaran (2004, p. 429) utiliza como exemplo o caso da Apple Computers, em que os dois fundadores, Steve Jobs e Steve Wozniak, foram destituídos das suas posições de administração, em grande parte por consequência da desaprovação dos acionistas em relação às suas iniciativas. saiba mais Pós-Universo 8 Para Weston e Brigham (2004), a utilização de mais dívida eleva o risco, porém um índice mais elevado de endividamento geralmente leva a uma taxa de retorno esperada mais alta, logo, a definição da estrutura de capital é um trade off entre risco e retorno. Para Damodaran (2004), a busca por fundos de recursos ocorre em diferentes estágios de desenvolvimento de uma empresa. Inicialmente a empresa prospecta o capital de risco inicial, para desenvolver um produto, testar um novo conceito. Na sequência, vem o capital de risco de desenvolvimento, no qual as empresas já têm produtos e conceitos estabelecidos e o capital vem para possibilitar o desenvolvimento de novos produtos ou de atuar em novos mercados. Weston e Brigham (2004) destacam que há quatro principais fatores que influenciam as decisões sobre estrutura de capital. Esses quatro aspectos são importantes para definir a estrutura alvo de capital, porém, também é necessário levar em conta condições operacionais e mercadológicas. Do conceito de estrutura de capital, partimos para o conceito de custode capital. Segundo Megliorini e Vallim (2009), o custo de capital é um parâmetro que representa a taxa mínima de retorno que novos investimentos devem proporcionar, considerando os custos incorridos nesses investimentos. Para os autores, o custo de capital de terceiro é formado por empréstimos e financiamentos contraídos em instituições financeiras e pelas obrigações emitidas pelas empresas. Para Megliorini e Vallim (2009, p. 92) “os juros pagos às fontes de capital de terceiros são dedutíveis da base de cálculo do imposto de renda, o que torna o custo dessas fontes menor que os juros contratuais correspondentes”. Por sua vez, o custo de capital próprio corresponde aos recursos investidos pelos proprietários da empresa e de lucros retidos. Ou seja, o custo de capital próprio deve corresponder à remuneração da menor alternativa de investimento disponível, a qual os investidores abriram mão para realizar o investimento na empresa. Enfim, a empresa deve analisar tanto os participantes do mercado quanto os instrumentos disponíveis para definir uma estrutura-alvo ou estrutura ótima de capital. Para Weston e Brigham (2004), para dimensionar a estrutura de capital de uma maneira adequada, os gestores devem levar em conta fatores, como: estabilidade das vendas, estrutura de ativos, alavancagem operacional, taxa de crescimento, lucratividade, atitudes do administrador, atitudes do emprestador e da agência de classificação de risco (quando houver), condições de mercado, condições internas da empresa e flexibilidade financeira. Pós-Universo 9 Em seu estudo, Genz, Bagetti e Oro (2011) avaliaram qual a relação entre a estrutura de capital e o Custo Médio Ponderado de Capital (CMPC) das empresas do setor de Siderurgia e Metalurgia de capital aberto que integram a lista das 500 maiores empresas do Brasil, conforme estudo divulgado pela Revista Exame – Maiores e Melhores de 2009, ano base 2008. Com base nos resultados apontados pelos autores, é possível avaliar o custo médio ponderado do capital, conforme segue: Empresa Capital Próprio % Capital Terceiros % Custo Capital Próprio Custo Capital Terceiros Alíquota Imposto de Renda CMPC - Custo Médio CSN 17,7% 82,3% 14,09% 9,76% 34% 13,71% Gerdau 73,9% 26,1% 13,56% 10,43% 34% 11,84% Usiminas 65,8% 34,2% 13,35% 45,22% 34% 15,50% Paranapanema 89,5% 10,5% 11,81% 343,30% 34% 24,69% Aços Villares 49,4% 50,6% 11,61% 46,32% 34% 13,25% Confab Industrial 59,4% 40,6% 9% 44,14% 34% 9,39% Vale 55,9% 44,1% 13,46% 29,53% 34% 19,87% Tupy 38,1% 61,9% 9% 9,35% 34% 17,73% Ferbasa 85,7% 14,3% 9% 56,94% 34% 9,25% Eluma 53% 47% 9% 135,54% 34% 65,12% Mangels Industrial 98,7% 1,3% 9% 0% 34% 9% Média 62,46% 37,54% 11,17% 66,41% - 19,03% Mediana 59,40% 40,60% 11,61% 44,14% - 13,71% Desvio Padrão 23,74% 23,74% 2,20% 99,12% - 16,04% Fonte: GENZ, BAGETTI, ORO (2014) Pós-Universo 10 Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), a busca por uma estrutura ótima de capital é contínua, pois o mercado é dinâmico e as condições de negócio mudam constantemente. Desse modo, os autores sintetizam no Quadro 1 os principais fatores que influenciam essa busca pela estrutura ótima de capital Condições Gerais da Economia Condições de Oferta e Demanda, Crescimento do Produto Interno Bruto, Política Fiscal, Política Cambial, Nível de Desemprego, Saldo da Balança Comercial, Inflação. Quadro 1: Fatores determinantes na escolha da estrutura de capital Condições Gerais da Economia Condições de Oferta e Demanda, Crescimento do Produto Interno Bruto, Política Fiscal, Política Cambial, Nível de Desemprego, Saldo da Balança Comercial, Inflação. Condições do Mercado Restrições Contratuais, Políticas Empresariais, Contratação de novas dívidas, Retenção de lucros, Diluição do controle acionário. Decisões Operacionais e Financeiras Risco do Negócio, Risco Financeiro, Posição Tributária, Informações, Sincronia, Vontade do Acionista Controlador. Volume de recursos a serem financiados Demanda de recursos e sinalização ao mercado. Fonte: baseado em Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010, p. 221-222) Constantes tomadas de recursos podem sinalizar ao mercado dificuldades financeiras, ao invés de sinalizar que a empresa está aproveitando eventuais oportunidades de negócio. Além da forma, a quantidade de vezes que a empresa capta recursos é um importante indicativo da situação financeira da empresa. Nesse contexto, como a Relação com Investidores e as boas práticas da governança corporativa podem ser úteis para que a empresa possa se financiar sem passar a impressão de que está com problemas de endividamento? reflita Pós-Universo 11 O endividamento acrescenta a avaliação de novos riscos na tomada de decisão do gestor financeiro. Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), além do risco de negócio - risco de não gerar receitas suficientes para pagar os custos operacionais, há o risco financeiro - risco de não gerar recursos para pagar compromissos financeiros. Enfim, para tomar decisões financeiras de longo prazo, é preciso conhecer o custo de capital, sendo que geralmente esse cálculo requer informações sobre as diferentes fontes de financiamento utilizadas. Para Megliorini e Vallim (2009, p. 101), o custo médio ponderado de capital (CMPC), ou Weighted Average Cost of Capital (WACC), como também é conhecido, representa o custo dos financiamentos a longo prazo da empresa, isto é, corresponde à média dos custos das fontes de capital - próprio e de terceiros - ponderados pela participação relativa de cada uma delas na estrutura de capital da empresa, podendo ser representado por: CMPC=(Wd x Kd)+(We x Ke)+(Wao x Kao) + (Wap x Kap) + (Wlr x Klr) em que, Wd e Kd são a proporção e o custo das debêntures, respectivamente; We e Ke são a proporção e o custo dos empréstimos, respectivamente; Wao e Kao são a proporção e o custo das ações ordinárias, respectivamente; Wap e Kap são a proporção e o custo das ações preferenciais, respectivamente; Wlr e Klr são a proporção e o custo dos lucros retidos, respectivamente. Pós-Universo 12 No Quadro 2, Megliorini e Vallim (2009) apresentam um exemplo de cálculo do CMPC. Quadro 2: Estrutura de Capital da empresa Rio Pequeno S.A. Classificação Valor Contábil Proporção de cada Fonte (W) Custo (K) EXIGÍVEL A LONGO PRAZO • Debêntures R$100.000,00 13,33% 14,06% • Empréstimos R$200.000,00 26,67% 14,61% PATRIMÔNIO LÍQUIDO • Ações Ordinárias R$300.000,00 40,00% 18,50% • Ações Preferenciais R$150.000,00 20,00% 16,50% TOTAL R$750.000,00 100,00% ? Fonte: Megliorini e Vallim (2009, p.102) Logo, temos: CMPC= (13,33% x 0,1406) + (26,67% x 0,1461) + (40% x 0,1850) + (20% x 0,1650) CPMC=16,47 Temos também o conceito de custo marginal de capital quem, segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), é o custo médio ponderado de capital associado à próxima unidade monetária do novo financiamento da empresa. É importante estudar o custo marginal de capital, porque à medida que se capta mais recursos no mercado, os agentes tendem a exigir taxas crescentes de juros. Pós-Universo 13 Avaliamos aspectos relacionados com o custo de capital e a estrutura de capital. Vamos agora discorrer sobre as principais fontes de financiamento de longo prazo disponíveis no Brasil. A ideia é discorrer sobre o mercado de crédito de longo prazo no Brasil bem como apresentar os títulos que são reconhecidos como valores mobiliários, ou seja, sujeitos às regras e fiscalização da Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), a dificuldade dos bancos em captar recursos de longo prazo dos aplicadores e a possibilidade de praticar elevadas taxas de juros no curto prazo desestimula a destinação de recursos para longo prazo. Ou seja, a elevada taxa de juros presente na economia brasileira afeta os investimento e financiamento de longo prazo. VALORES MOBILIÁRIOS: TÍTULOS EMITIDOS POR COMPANHIAS Pós-Universo 14 Uma exceção à regraé o BNDES, o qual surgiu como um banco de fomento, possibilitando investimentos de longo prazo do Brasil. Por que então o BNDES consegue cobrar taxas de juros diferenciadas? Porque obtém recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador (FAT). Segundo Araujo e Cintra (2011), o FAT consolidou as contribuições provenientes do Programa de Integração Social (PIS) e do Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP), alterando o propósito das referidas contribuições sociais. Passou a constituir um fundo especial, de natureza contábil-financeira, vinculado ao Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), destinado ao custeio do Programa do Seguro-Desemprego, do Abono Salarial e, pelo menos, 40% ao financiamento de programas de desenvolvimento econômico a cargo do BNDES. Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), o BNDES apoia os projetos que tenham como objetivos: implantação, expansão, modernização, capacitação tecnológica, exportação de máquinas e equipamentos, melhoria da qualidade e aumento da produtividade, reestruturação e racionalização empresarial, conservação do meio ambiente, energia e gastos com infraestrutura econômica e social. Apesar da expansão da atuação do BNDES, a maior parte do financiamento das empresas no Brasil origina- se do crédito bancário (bancos múltiplos, bancos financeiros). Caso a empresa não tenha como depender da retenção de seus resultados (reinvestimento de lucros) ou não esteja em um estágio que possa emitir ações, o caminho é o endividamento por capital de terceiros. Nesse contexto, Assaf Neto (2007) destaca que as principais modalidades são: empréstimos e financiamentos diretos, repasses de recursos internos, repasses de recursos externos, subscrição de debêntures e arrendamento mercantil. Para Weston e Brigham (2004), os empréstimos e financiamentos são operações de captação de recursos, na qual firma-se um contrato sob o qual o tomador concorda em fazer uma série de pagamentos de juros e do principal em datas específicas ao tomador. A rapidez, a flexibilidade e os baixos custos de emissão são descritos como vantagem dessa modalidade de captação de recursos, as elevadas taxas de juros podem ser descritas como uma desvantagem. Os empréstimos a prazo são geralmente negociados diretamente entre a empresa demandante e uma instituição financeira. Pós-Universo 15 Como exemplo, podemos utilizar o caso do financiamento do capital de giro. Para Assaf Neto (2007), essa modalidade de financiamento é praticada por bancos de investimentos e bancos comerciais/múltiplos, sendo lastreada em recursos próprios. O critério de pagamento costuma ser pós-fixado, sendo seus encargos financeiros calculados sobre o saldo devedor corrigido. Os repasses de recursos internos identificam os recursos oficiais alocados para o financiamento de atividades consideradas de interesse econômico e social. Um exemplo seria o FINAME. Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), a Agência Especial de Financiamento Industrial (FINAME) tem o objetivo de promover o desenvolvimento e a consolidação do parque nacional, por meio do financiamento para aquisição de máquinas e equipamentos para esse fim. Outros exemplos seriam o crédito rural, o crédito habitacional, a atuação dos bancos de desenvolvimento e demais agências de fomento. Os repasses de recursos externos, segundo Assaf Neto (2007), são poupanças captadas no exterior, por instituições financeiras nacionais, e, posteriormente, repassadas ao mercado interno para as várias empresas domésticas interessadas. As debêntures e o arrendamento mercantil serão analisados com mais detalhes mais adiante. Mas antes, é necessário analisar alguns conceitos, como é o caso dos títulos. Para Weston e Brigham (2004), os títulos são semelhantes a empréstimos a prazo, mas uma emissão de títulos é geralmente anunciada, oferecida ao público e efetivamente vendida a muitos investidores diferentes. Nesse ínterim, entramos na análise dos valores mobiliários. Segundo CVM (2013), valores mobiliários são títulos ou contratos de investimento coletivo ofertados publicamente que gerem direito de participação, de parceira ou remuneração, inclusive, resultante da prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros. Pós-Universo 16 Segundo o artigo 2o da lei 10.303, de 31 de outubro de 2001, são valores mobiliários: I. As ações, debêntures e bônus de subscrição; II. Os cupons, direitos, recibos de subscrição e certificados de desdobramento relativos aos valores mobiliários referidos no inciso II; III. Os certificados de depósito de valores mobiliários; IV. As cédulas de debêntures; V. As cotas de fundos de investimento em valores mobiliários ou de clubes de investimento em quaisquer ativos; VI. As notas comerciais; VII. Os contratos futuros, de opções e outros derivativos, cujos ativos subjacentes sejam valores mobiliários; VIII. Outros contratos derivativos, independentemente dos ativos subjacentes; e Quando ofertados publicamente, quaisquer outros títulos ou contratos de investimento coletivo, que gerem direito de participação, de parceria ou de remuneração, inclusive resultante de prestação de serviços, cujos rendimentos advêm do esforço do empreendedor ou de terceiros. § 1o Excluem-se do regime desta Lei: I - os títulos da dívida pública federal, estadual ou municipal; II - os títulos cambiais de responsabilidade de instituição financeira, exceto as debêntures. Fonte: BRASIL (2001) saiba mais De modo geral, a Lei 10.303, de 31 de outubro de 2001, altera diversos artigos da lei societária brasileira. E ao definir o conceito de Valores Mobiliários, elenca uma série de títulos que podem ser emitidos por companhias. Ou seja, as empresas que utilizavam empréstimos a prazo, negociando diretamente com as instituições financeiras, agora também podem negociar títulos, valores mobiliários que são títulos ofertados publicamente. Pós-Universo 17 Para CVM (2013), as ações são um dos valores mobiliários que podem ser emitidos pelas empresas para captação de recursos. Nesse contexto, ação é a menor parcela do capital social das companhias ou sociedades por ações. É, portanto, um título patrimonial e, como tal, concede aos seus titulares, os acionistas, todos os direitos e deveres de um sócio, no limite das ações possuídas. Os acionistas ganham com a participação no lucro da empresa (dividendos), com a valorização do preço da ação no mercado ou quando a companhia emite novas ações no mercado (direito à subscrição). Uma ação é um valor mobiliário, porém somente as ações das “companhias abertas”, as quais são registradas na CVM, podem ser negociadas publicamente no mercado de valores mobiliários (CVM, 2013). atenção As empresas podem captar recursos pela subscrição de debêntures. Para Assaf Neto (2007), debêntures são títulos privados de créditos de renda fixa, emitidos exclusivamente por companhias de capital aberto e colocados no mercado à disposição de investidores interessados. Os debenturistas são credores e esperam receber juros periódicos e o pagamento do principal no vencimento. Existem as debêntures simples (não conversíveis) e as conversíveis, as quais, na ocasião do resgate, podem ter o seu valor convertido em ações da empresa. Para Weston e Brigham (2004), as debêntures diferentes de um título hipotecário não precisam ser garantidas por uma hipoteca sobre uma propriedade específica. Os autores também citam os títulos conhecidos como warrants, que são semelhantes aos títulos conversíveis. Warrants são opções que permitem ao seu detentor adquirir ações a um preço declarado. Pós-Universo 18 Por sua vez, bônus de subscrição são títulos negociáveis emitidos mediante sociedades por ações que conferem aos seus titulares, nas condições constantes do certificado, o direito de subscrever ações do capital social da companhia, dentro do limite de capital autorizado no estatuto. Enquantoque a nota promissória, ou commercial paper, é um título de crédito de curto prazo que representa uma promessa de pagamento, do emissor (devedor), a determinado favorecido ou beneficiário (credor), de certo valor, em certa data. É um documento negociável, representativo de uma dívida ou direito a receber. Podem ser emitidas como simples promessas de pagamento de uma dívida, ou como garantia de contratos de empréstimos, mas são também utilizadas para captação de recursos financeiros pelas empresas (CVM, 2013). A Letra Financeira é um título de crédito, de emissão exclusiva de instituições financeiras, “que consiste em promessa de pagamento em dinheiro, nominativo, transferível e de livre negociação”, como definido na Lei nº 12.249/2010. Para CVM (2013, p. 63), “a Letra Financeira apresenta também atributos jurídicos que permitem o seu uso como instrumento de captação especial, em que poderá ser utilizada para fins de composição do capital do emissor”. Devido às suas características, a Letra Financeira apresenta contornos semelhantes aos das debêntures, razão pela qual é informalmente chamada de “debênture dos bancos”, já que essas instituições financeiras não podem emitir tais títulos. Por sua vez, Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010) destacam que o arrendamento mercantil (leasing) constitui-se como um contrato pelo qual uma empresa cede à outra, por um determinado período, o direito de usar e obter rendimentos com bens de capital de sua propriedade. Para Assaf Neto (2007), ao final do contrato, o cliente (arrendatário) pode comprar o bem por um valor previamente contratado, denominado Valor Residual Garantido, não exercer a opção de compra ou renovar o contrato de arrendamento por um novo prazo. Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), a ideia do leasing é fundamentada na concepção econômica de que o fator propulsor de rendimentos da empresa é a utilização, e não a propriedade, de um bem. Pós-Universo 19 Segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010, p.270), o leasing foi introduzido nos Estados Unidos por volta de 1700, pelos colonos ingleses, porém, sua real expansão ocorreu a partir de 1941, com a promulgação de legislação sobre a atividade. No Brasil, as primeiras operações de leasing, referentes ao arrendamento de máquinas de escrever, foram realizadas em 1967. fatos e dados No cenário internacional, as empresas também podem contar com financiamentos externos. Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010) destacam a importância do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) e da International Finance Corporation (IFC), braço financeiro do Banco Mundial. Nesse contexto, as operações de financiamento no exterior são realizadas a partir de taxas básicas de juros internacionais como a London Interbank Offered Rate (LIBOR), na Europa, e a Prime Rate, nos Estados Unidos. Outra alternativa são os Brazilian Depositary Receipts (BDR) que, segundo CVM (2013), são certificados de depósito de valores mobiliários, um valor mobiliário emitido no Brasil que representa outro valor mobiliário emitido por companhias abertas (ou assemelhadas) com sede no exterior. Por fim, os Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRI) são títulos de crédito nominativos, escriturais e transferíveis, lastreados em créditos imobiliários, e estão previstos na Lei 9.514/97, que disciplina o Sistema de Financiamento Imobiliário (CVM, 2013). Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), securitização de recebíveis é uma operação financeira que consiste na antecipação de fluxos de caixa futuros provenientes de contas a receber de uma empresa, sem comprometer seu limite de crédito e sem prejudicar seu índice de endividamento. O Conselho Monetário Nacional, pela resolução CMN 2517/98, expressamente considerou os CRIs como valores mobiliários e, portanto, sujeitos à regulamentação e fiscalização da CVM. saiba mais Pós-Universo 20 Por fim, dependendo do porte da empresa, a captação de recursos de longo prazo pode ocorrer junto a fundos de pensão ou fundos de capital de risco, também conhecidos como private equity. Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), fundos de pensão são uma forma de previdência por regime de capitalização de contribuições coletivas, organizado sob a forma de entidade civil sem fins lucrativos. Enquanto que os private equity são fundo de capital de risco constituídos em acordo contratual privado entre investidores e gestores, não sendo oferecidos abertamente no mercado e sim por meio de colocação privado. A combinação dessas diferentes fontes, fontes de captação de recursos, a engenharia econômica e financeira, e a proporção que alguns fundos de investimentos alcançaram ao invés de contribuir para reduzir os riscos aumentou os riscos (risco sistêmico). Nesse contexto, como mitigar os riscos presentes na prática de captação de recursos? reflita Até aqui vimos que as empresas contam com uma vasta gama de alternativas de captação de recursos. No Brasil, as altas taxas de juros limitam as operações de longo prazo e o BNDES atua em vários segmentos importantes da economia. E com a atuação da CVM na fiscalização e registro dos contratos, há uma redução do risco na utilização de instrumentos como ações, debêntures, warrants, bônus de subscrição, commercial paper ou letras financeiras. As empresas também podem contar com o leasing, BDRs, recebíveis etc. Desse modo, cabe ao gestor determinar o mix de recursos adequados à sua empresa. Pós-Universo 21 Vimos que a definição do mix de instrumentos financeiros que serão utilizados no financiamento da empresa é uma importante política financeira. Inicialmente a empresa pode se financiar via capital interno, reinvestindo seus lucros, porém, dependendo do plano de expansão da empresa, essa fonte de capital torna-se insuficiente. Desse modo, o caminho é utilizar o capital externo e suas implicações para o futuro da empresa. Também é necessário definir qual tipo de capital externo: dívida ou ações. Já elencamos uma série de valores mobiliários que podem ser úteis para as empresas diversificarem suas dívidas de maneira a gerirem da melhor forma possível seu endividamento. Além dos conceitos de estrutura de capital, custo de capital, fontes de financiamento, vimos também os conceitos sobre governança corporativa e relação com investidores. Nesta unidade, vamos analisar as empresas que optam por ações e, como resultado, a necessidade de delinear uma política de dividendos. Como vimos anteriormente, ação é um título patrimonial que representa a menor parcela do capital social das companhias ou sociedades por ações. POLÍTICA DE DIVIDENDOS Pós-Universo 22 Porém não existe somente um tipo de ação. Segundo CVM (2013), existem as Ações Ordinárias (ON), em que sua principal característica é a de conferir ao seu titular direito a voto nas Assembleias de acionistas. Existem também as Ações Preferenciais (PN), as quais têm prioridade na distribuição de dividendos ou no reembolso de capital, podendo ainda possuir prioridades específicas, se admitidas à negociação no mercado, porém não têm direito a voto. Então, em algum momento, a empresa de capital aberto terá que pensar acerca dos dividendos. Mas o que são dividendos? Para Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), dividendo é a distribuição em dinheiro de parte de todo o lucro auferido pela empresa em um exercício social, ou de saldos de lucros acumulados, aos seus acionistas. Para Megliorini e Vallim (2009, p.116), uma política de dividendos é influenciada por diversos fatores que dependem das características das empresas e dos mercados em que elas atuam. Os autores elencam os principais fatores: • Oportunidades de investimento da empresa: setores em fase de crescimento acelerado ou períodos de expansão econômica fazem com que as empresas encontrem boas oportunidades de investimento, o que faz com que adotem uma política de dividendos restritiva. • Situação de liquideze acesso a fontes de recursos: baixa disponibilidade de caixa, acesso a recursos externos e grau de endividamento são fatores que afetam a distribuição de dividendos. • Controle: os acionistas controladores podem afetar a condução da política de dividendos. • Política de dividendos de empresas similares: se as empresas do mesmo setor estão adotando uma determinada política de dividendos, essa informação é levada em conta na estratégia adotada pela empresa. Pós-Universo 23 A política de dividendos não é uma coisa totalmente nova para as empresas. Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010) destacam que, na teoria de Modigliani e Miller (MM), aceitando os pressupostos de um mercado livre de risco, sem impostos e sem custos de transação, a política de dividendos não afetaria o valor da empresa. O valor da empresa seria determinado em última instancia pela sua capacidade de geração de lucros e pelo risco de seus ativos. Porém as suposições de Modigliani e Miller simplificam a realidade, na medida em que risco, impostos e custos de transações são importantes na análise do gestor público. Porém, ao longo dos anos, desenvolveram-se novas abordagens para analisar a teoria dos dividendos. Weston e Brigham (2004) citam a teoria do “pássaro na mão”, desenvolvida por Gordon e Litner. O velho ditado popular já postulava “melhor um pássaro na mão do que dois voando”. Então, o pássaro na mão seria os dividendos que o acionista receberia, em detrimento dos possíveis ganhos de capital decorrentes do reinvestimento desses recursos. Assim, para esses autores, há uma relação entre a política de dividendos e o valor da empresa, na medida em que quanto mais dividendos são distribuídos, menores são as incertezas dos investidores, com menos incertezas, os investidores planejam reinvestir seus dividendos nas ações das mesmas empresas, criando assim um ciclo virtuoso que é benéfico para a empresa. Para Weston e Brigham (2004), a partir dessas considerações, os dividendos carregam um conteúdo informacional, conhecido também como hipótese de sinalização. Nessa teoria, um aumento dos dividendos acima do esperado pelos investidores dá um sinal de que a administração prevê lucros futuros maiores, o que contribui para o aumento do preço das ações. A recíproca é verdade, de modo que muitas empresas relutam em reduzir os dividendos para evitar um efeito negativo sobre o preço das ações. Weston e Brigham (2004) também citam a teoria da preferência tributária, a qual postula que em virtude de os ganhos de capital de longo prazo estarem sujeitos a impostos menos onerosos do que os dividendos, os investidores preferem que as empresas retenham lucros em lugar de distribuí-los como dividendos. Assaf Neto (2007) ressalta que existe um efeito clientela, no qual as empresas sempre procuram ajustar uma política de dividendos visando atender às preferências de seus acionistas. Pós-Universo 24 De acordo com Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010), testes empíricos sugerem que: ainda não é possível encontrar um conjunto de empresas que difiram apenas em suas políticas de dividendos; não é possível obter estimativas sobre o custo de capital próprio; e ainda não se sabe de que modo a política de dividendos afeta os preços das ações e o custo de capital. Todos esses fatos fazem da política de dividendos um ponto ainda controverso da gestão financeira. saiba mais Então, não há de fato um consenso na literatura, porém é importante ressaltar que essas contribuições teóricas mostraram que a política de dividendos afeta as expectativas dos agentes, bem como está relacionada com aspectos tributários. Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010) também destacam que além do conteúdo informacional dos dividendos, dos impostos pagos pelo investidor, uma política de dividendos deve levar em conta os custos de lançamento, os custos de transação, as possíveis restrições institucionais, a liquidez da empresa, as perspectivas de crescimento, as avaliações de mercado, entre outros aspectos. Nesse ínterim, Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010, p. 347) destacam que a política de dividendos é uma importante decisão do gestor financeiro, sendo uma decisão basicamente sobre “reter ou distribuir lucros”. Uma das mais controversas decisões financeiras diz respeito ao destino dos lucros gerados. Eles podem ser distribuídos, no todo ou em parte, na forma de dividendos, reinvestidos na empresa, ou utilizados para recompra de ações pela empresa. Como essas decisões (distribuição de dividendos ou recompra de ações) podem impactar o preço das ações e a expectativa dos investidores? reflita Pós-Universo 25 As decisões quanto ao destino do lucro gerado terão impacto sobre o preço da ação, sendo que tal efeito pode ser analisado por meio da fórmula: P0 = D1 (Kao - c) em que, Kao representa o custo da ação ordinária D1 é o dividendo esperado no ano 1 P0 é o preço atual da ação c é uma taxa de crescimento esperado dos dividendos Essa fórmula evidencia um importante dilema na política de dividendos das empresas. Se a empresa adotar uma política de pagar mais dividendos (D1 se elevará), tudo o mais terá um efeito positivo sobre o preço da ação. Por outro lado, com essa política, haverá menos recursos para novos investimentos, fato que pode reduzir as expectativas de maiores dividendos do futuro (c deve cair), fato que terá um efeito negativo sobre o preço das ações. Esta nossa última aula apresenta uma certa complexidade. Até então o gestor já tem noção dos riscos existentes em seu empreendimento, tem um noção sobre os instrumentos de planejamento e controle financeiro, bem como sabe quais os aspectos institucionais relevantes para realizar seus investimentos. Porém em uma empresa que chegou ao estágio de transacionar ações, a política de dividendos envolve lidar com as expectativas dos agentes. Qualquer decisão na atualidade envolve rever projeções de investimento e de novos dividendos no futuro. Então, o que aprendemos sobre cálculos financeiros (juros, TIR, VPL) também pode ser empregado aqui, porque o valor do dinheiro no tempo também é importante nessa análise. Pós-Universo 26 Levando em conta esses aspectos, Megliorini e Vallim (2008) destacam que as empresas podem estabelecer diferentes políticas de dividendos. Nesse contexto, a política de dividendos de valor estável baseia-se na distribuição de dividendos fixos em moeda, independente do lucro apurado em cada período. Enquanto que a política de dividendos de taxa estável baseia-se na distribuição de dividendos em uma porcentagem constante dos lucros. E, por fim, dividendos regulares mais dividendos extraordinários combinam as duas políticas anteriores. A ideia aqui é definir, a priori, um montante ou uma taxa tentando assim minorar os efeitos da política de dividendos sobre as expectativas dos agentes. Segundo Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010, p.352), a Lei das Sociedades Anônimas determina que pelo menos 25% do lucro líquido seja distribuído a título de dividendos aos detentores de ações tanto ordinárias quanto preferenciais, depois de realizados os seguintes ajustes: a. Parcela destinada à formação de reserva legal; b. Parcela destinada à formação de reservas para contingências e reversão das mesmas, quando formadas em exercícios anteriores; e c. Lucros a realizar, transferidos para a respectiva reserva e lucros anteriormente registrados nessa reserva que tenham sido realizados no exercício findo. saiba mais Megliorini e Vallim (2008) destacam que as empresas também podem distribuir dividendos em ações. Nesse caso, ao invés de distribuir os valores em dinheiro, são distribuídas frações de capital, ou seja, o equivalente em ações da empresa, como também a recompra de ações pela própria empresa pode ser considerada parte de uma política de dividendos. Pós-Universo 27 Siemens inicia programa de recompra de ações de até € 4 bi A alemã Siemens dissenesta segunda-feira que está iniciando um programa de recompra de ações de até 4 bilhões de euros (5,5 bilhões de dólares). A recompra de ações foi anunciada em novembro do ano passado, mas foi colocada em espera enquanto a gigante de engenharia desenvolvia um programa de reestruturação para alcançar rivais mais rentáveis. A Siemens irá recomprar até 47,8 milhões de ações até 31 de outubro de 2015, disse a empresa. “A recompra tem o único objetivo de cancelamento e redução do capital acionário, emitindo ações para funcionários, membros do Conselho de empresas afiliadas e membros da diretoria da Siemens AG assim como para a conversão de bônus e garantia de bônus”, disse o grupo em comunicado. Fonte: VILLAGRAN (2014) saiba mais Lemes Junior, Rigo e Cherobim (2010, p. 347) destacam também a prática de desdobramento de ações (splits), nesse caso, as empresas “aumentaram o bolo”, ou seja, houve o aumento do número de ações, agora com um menor preço. Assim, com preços mais baixos e mais liquidez (quantidade maior de ações), pode haver um estímulo psicológico para que os investidores adquiram essas ações. O oposto também é possível, o agrupamento de ações pode elevar o preço a um patamar considerado adequado pelos gestores da empresa, é o chamado de inplit. Pós-Universo 28 Segue abaixo um exemplo de divulgação de Fato Relevante por parte de uma empresa de capital aberto. Esse fato relevante versa sobre o desdobramento de ações, e serve também como exemplo de como é desempenhada a “Relação com Investidores”. A Cia. Hering (“Companhia”), em cumprimento às disposições da Instrução CVM nº 358/2002, comunica aos Senhores Acionistas e ao mercado, que, em Assembleia Geral Extraordinária realizada em 29/10/2010, foi aprovado o desdobramento das ações representativas do capital social da Companhia, mediante a emissão de 02 (duas) novas ações ordinárias nominativas escriturais, sem valor nominal, para cada ação existente, passando o capital social a ser representado por 162.722.079 (cento e sessenta e dois milhões, setecentas e vinte e duas mil e setenta e nove) ações ordinárias, sem valor nominal. Terão direito ao recebimento das ações advindas do desdobramento, os acionistas detentores de ações no dia 29/10/2010. A partir do dia 01/11/2010, as ações da Companhia serão negociadas “ex-desdobramento”. O crédito das ações provenientes do desdobramento será efetuado em 05/11/2010. As ações advindas do desdobramento participarão em igualdade de condições a todos os benefícios, inclusive a dividendos e eventuais remunerações de capital, que vierem a ser distribuídos por essa Companhia, a partir do dia 01/11/2010. Disponível em: <http://www.pefran.com.br/empresas2012/ hering%5Clegal%5C[20678]-hering_legal_frv_fato_relevante_29-10-10_ doesc_jrsc_oesp%5Cinternet%5Carte%5C[20678]-hering_legal_frv_Fato_ Relevante_29-10-10_doesc_jrsc_oesp.pdf>. Acesso em: 10 out. 2014. fatos e dados Essa prática, assim como as diferentes formas de distribuição de dividendo, busca também afetar as expectativas dos agentes. Segundo Weston e Brigham (2004), a ideia é levar o preço das ações para uma “faixa ótima” de preços das ações. Porém, ao mudar a quantidade e preço das ações, essa prática tem um efeito tanto sobre o balanço da empresa quanto aos dividendos futuros que serão distribuídos por ela. atividades de estudo 1. Um aumento dos dividendos acima do esperado pelos investidores dá um sinal de que a administração prevê lucros futuros maiores, o que contribui para o aumento do preço das ações. Tal afirmação condiz com a teoria: a) Teoria da Preferência Tributária. b) Efeito Clientela. c) Teorema Modigliani-Miller. d) Teoria Residual. e) Hipótese da Sinalização. 2. O instrumento de financiamento que possui um direito contratual sobre os fluxos de caixa e ativos da empresa, tanto em períodos operacionais quanto na falência, é conhecido como: a) Capital Próprio. b) Capital de Terceiro. c) Ação. d) Dívida. e) Reserva de Lucro. 3. A teoria que postula que, em virtude de os ganhos de capital de longo prazo estarem sujeitos a impostos menos onerosos do que os dividendos, os investidores preferem que as empresas retenham lucros em lugar de distribuí-los como dividendos, é conhecida como: a) Teoria da Preferência Tributária. b) Efeito Clientela. c) Teorema Modigliani-Miller. d) Teoria Residual. e) Hipótese da Sinalização. atividades de estudo 4. Os títulos privados de créditos de renda fixa, conversíveis ou não em ações, emitidos exclusivamente por companhias de capital aberto e colocados no mercado à disposição de investidores interessados, são conhecidos como: a) Debêntures. b) Warrants. c) Bônus de Subscrição. d) Commercial Paper. e) Private Equity. resumo A estrutura de capital de uma empresa corresponde aos fundos de longo prazo oriundos de fontes de capitais próprios e de terceiros. As alternativas de captação de recursos são capital interno, em que as empresas retêm seus lucros, e capital externo, com dívidas ou ações. O custo de capital é um parâmetro que representa a taxa mínima de retorno que novos investimentos devem proporcionar, considerando os custos incorridos nesses investimentos. O custo médio ponderado de capital representa o custo dos financiamentos a longo prazo da empresa, isto é, corresponde à média dos custos das fontes de capital - próprio e de terceiros - ponderados pela participação relativa de cada uma delas na estrutura de capital da empresa. Os empréstimos e financiamentos são operações de captação de recursos nas quais firma-se um contrato sob o qual o tomador concorda em fazer uma série de pagamentos de juros e do principal em datas específicas ao tomador. Os títulos são semelhantes a empréstimos a prazo, mas uma emissão de títulos é geralmente anunciada, oferecida ao público e efetivamente vendida a muitos investidores diferentes. São exemplos de títulos ou valores mobiliários (sob a supervisão da CVM): ações, debêntures, BDRs, warrants, bônus de subscrição, letras financeira, recebíveis etc. Outras alternativas de financiamento são o arrendamento mercantil e a busca de recursos em fundos de pensão e/ou private equity. Uma empresa aberta que negocia ações no mercado de capitais tem como preocupação adicional a política de dividendos. Uma política de dividendos deve levar em conta as oportunidades de investimento, a liquidez, a manutenção do controle, a política de dividendos adotada em outras empresas. A forma com que é feita essa política pode afetar a expectativa dos agentes e influenciar o preço das ações, por isso geralmente as empresas distribuem dividendos determinando um valor estável ou uma taxa estável. Outras alternativas são a distribuição de dividendos em ações, a recompra das ações e o split de ações. material complementar Na Web A Associação Brasileira das Empresas de Leasing desenvolveu um guia prático de arrendamento mercantil, disponível em: <http://www.leasingabel.org.br/site/Adm/userfiles/guiapratico.pdf>. Inside Job / Trabalho Interno Ano: 2010 Diretor: Charles Ferguson Sinopse: Trabalho interno é um documentário de 2010 acerca da crise financeira global de 2007-2012, dirigido por Charles H. Ferguson. O filme é descrito por Ferguson como sendo sobre “a corrupção sistêmica dos Estados Unidos pela indústria de serviços financeiros e as consequências da corrupção sistêmica. O documentário está dividido em cinco partes. Ele começa examinando como a Islândia estava altamente desregulada em 2000 e a privatização de seus bancos. Quando o Lehman Brothers foi à bancarrota e o AIG entrou em colapso, a Islândia e o resto do mundo entraram em uma recessão global. Disponível em: <http://www.youtube.com/watch?v=5nCvO6qEbJw>. Acesso em: 10 out. 2014. referências ARAUJO, V. L.; CINTRA, M. A. M. O papel dos bancos públicos federais na economia brasileira. Texto para discussão Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA, Brasília, abr.2011. ASSAF NETO, A. Finanças coorporativas e valor. 9. ed. São Paulo: Atlas, 2007. BRASIL. Lei nº 10.303, de 31 de outubro de 2001. Disponível em: <http://www.cvm.gov.br/port/ atos/leis/lei10303.asp>. Acesso em: 10 out. 2014. COMISSÃO DE VALORES MOBILIÁRIOS - CVM. O Mercado de Valores Mobiliários Brasileiro. Rio de Janeiro: CVM, 2013. DAMODARAN, A. Finanças Corporativas: teoria e prática. 3. ed. Porto Alegre: Bookman, 2004. GENZ, Dariz; BAGETTI, Fábio Luiz; ORO, Ieda Margarete. Análise da relação entre a estrutura de capital e o custo médio ponderado de capital (CMPC): um estudo no setor de siderurgia e metalurgia. Disponível em: <http://editora.unoesc.edu.br/index.php/acsa/article/download/1303/pdf_226>. Acesso em: 10 out. 2014. LEMOS JUNIOR, A. B.; RIGO, C. M.; CHEROBIM, A. P. M. Administração Financeira: princípios, fundamentos e práticas brasileiras. 3. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. MEGLIORINI, E.; VALLIM, M. A. Administração Financeira: uma abordagem brasileira. São Paulo: Pearson Prentice Hall, 2009. SOUZA CRUZ: relatório anual 2011. Disponível em: <http://www.souzacruz.com.br/br/ar/2011/ download/souza_cruz_2011.pdf>. Acesso em: 10 out. 2014. VILLAGRAN, Miguel. Siemens inicia programa de recompra de ações de até € 4 bi. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mercados/noticias/siemens-inicia-programa-de-recompra-de-acoes- de-ate-4-bi>. Acesso em: 10 out. 2014. WESTON. J. F.; BRIGHAM, E. F. Fundamentos da Administração Financeira. São Paulo: Pearson Makron Books, 2000. resolução de exercícios 1. e) Hipótese da Sinalização. 2. d) Dívida. 3. a) Teoria da Preferência Tributária. 4. a) Debêntures. Estrutura e Custo de Capital
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