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Livro Geografia Rural e Urbana

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Prévia do material em texto

2013
GeoGrafia rural e urbana
Prof.ª Marilza Luzia Soria Toniolo
Copyright © UNIASSELVI 2013
Elaboração:
Prof.ª Marilza Luzia Soria Toniolo
Revisão, Diagramação e Produção:
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
Ficha catalográfica elaborada na fonte pela Biblioteca Dante Alighieri 
UNIASSELVI – Indaial.
Impresso por:
910
T665g Toniolo, Marilza Luzia Soria
 Geografia rural e urbana / Marilza Luzia Soria Toniolo. Indaial: 
Uniasselvi, 2013.
 235 p. : il 
 
 ISBN 978-85-7830-703-5
 1. Geografia e viagens. 2. 
 I. Centro Universitário Leonardo da Vinci.
 
III
apresentação
Prezado(a) acadêmico(a)! O material que neste momento se encontra 
em suas mãos foi inspirado, planejado e questionado inúmeras vezes, a 
fim de que seja pertinente estudá-lo e gastar algum tempo dos seus dias 
manuseando-o. O Caderno de Estudos com conteúdos de Geografia Rural 
e Urbana constitui-se em uma pequena amostra dos inúmeros periódicos, 
artigos, pesquisas, entre outros trabalhos, existentes na área da ciência 
geográfica. Portanto, considere-se um(a) privilegiado(a), pois agora você 
passará a fazer parte desse imenso grupo de estudiosos e pesquisadores.
Dizia Milton Santos que a realidade aparece a cada dia sob um novo 
aspecto e que a partir do momento em que a realidade muda, a ideia, o 
teórico, também devem mudar. O fato é que o espaço geográfico muda a 
cada dia, pois faz parte do contexto onde ocorre a dinâmica da vida!
Em relação ao Caderno de Estudos:
A Unidade 1 apresenta a fundamentação teórica sobre a temática da 
geografia urbana, conceitos básicos da ciência geográfica, o início da disciplina 
no Brasil, processos históricos da urbanização e, consequentemente, a 
formação das cidades capitalistas. A Unidade 2 trata das redes urbanas, dos 
processos que envolvem a dinâmica do território brasileiro, bem como os 
processos migratórios importantíssimos para se explicar a atual configuração 
social do país. E por último, a Unidade 3 apresenta a geografia rural, os 
processos de transformação no modo de produção, as principais mudanças 
ocorridas no campo, e aborda ainda a agroecologia, como uma nova proposta 
no modo de produção sustentável.
Aproveite a oportunidade para ampliar seu conhecimento, levantar 
discussões e propor possíveis soluções, pois o país precisa de mentes 
pensantes e atuantes!
Bons estudos!
Prof.ª Marilza Luzia Soria Toniolo
IV
Você já me conhece das outras disciplinas? Não? É calouro? Enfim, tanto para 
você que está chegando agora à UNIASSELVI quanto para você que já é veterano, há 
novidades em nosso material.
Na Educação a Distância, o livro impresso, entregue a todos os acadêmicos desde 2005, é 
o material base da disciplina. A partir de 2017, nossos livros estão de visual novo, com um 
formato mais prático, que cabe na bolsa e facilita a leitura. 
O conteúdo continua na íntegra, mas a estrutura interna foi aperfeiçoada com nova 
diagramação no texto, aproveitando ao máximo o espaço da página, o que também 
contribui para diminuir a extração de árvores para produção de folhas de papel, por exemplo.
Assim, a UNIASSELVI, preocupando-se com o impacto de nossas ações sobre o ambiente, 
apresenta também este livro no formato digital. Assim, você, acadêmico, tem a possibilidade 
de estudá-lo com versatilidade nas telas do celular, tablet ou computador. 
 
Eu mesmo, UNI, ganhei um novo layout, você me verá frequentemente e surgirei para 
apresentar dicas de vídeos e outras fontes de conhecimento que complementam o assunto 
em questão. 
Todos esses ajustes foram pensados a partir de relatos que recebemos nas pesquisas 
institucionais sobre os materiais impressos, para que você, nossa maior prioridade, possa 
continuar seus estudos com um material de qualidade.
Aproveito o momento para convidá-lo para um bate-papo sobre o Exame Nacional de 
Desempenho de Estudantes – ENADE. 
 
Bons estudos!
NOTA
V
VI
VII
UNIDADE 1 – ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO ............................. 1
TÓPICO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA ....................... 3
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 3
2 CONTEXTUALIZAÇÕES SOBRE GEOGRAFIA URBANA ....................................................... 3
2.1 A GEOGRAFIA URBANA BRASILEIRA ..................................................................................... 4
3 RESGATE HISTÓRICO SOBRE O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO ..................................... 7
4 O ESPAÇO URBANO CAPITALISTA .............................................................................................. 12
4.1 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO ...................................................................................... 13
4.2 MUDANÇAS NO ESPAÇO URBANO ......................................................................................... 18
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 25
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 26
TÓPICO 2 – URBANIZAÇÃO BRASILEIRA ..................................................................................... 27
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 27
2 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL ......................................................................... 27
3 CONFIGURAÇÃO DO TERRITÓRIO BRASILEIRO................................................................... 35
3.1 A CONTRIBUIÇÃO DAS CORRENTES MIGRATÓRIAS E IMIGRATÓRIAS....................... 37
3.2 A DIVISÃO SOCIAL E TERRITORIAL DO TRABALHO ......................................................... 44
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 50
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 51
TÓPICO 3 – A REDE URBANA BRASILEIRA .................................................................................. 53
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 53
2 ESTUDOS SOBRE REDE URBANA ................................................................................................. 53
2.1 A DIMENSÃO DA REDE URBANA ............................................................................................ 59
2.2 FORMAS ESPACIAIS DA REDE URBANA ................................................................................ 63
3 AS FUNÇÕES URBANAS ................................................................................................................... 65
3.1 AS FUNÇÕES DE CAPITALIZAR ................................................................................................ 66
3.2 AS FUNÇÕES DE RESPONSABILIDADE ................................................................................... 67
3.3 AS FUNÇÕES DE CRIAÇÃO E DE TRANSMISSÃO ................................................................ 68
4 A REDE URBANA BRASILEIRA – ESTUDO DE CASO .............................................................. 69
4.1 A PERIODIZAÇÃO DA REDE URBANA DA AMAZÔNIA .................................................... 70
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 77
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................82
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 83
UNIDADE 2 – DINÂMICAS DO ESPAÇO URBANO BRASILEIRO .......................................... 85
TÓPICO 1 – ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO ESPAÇO URBANO BRASILEIRO – AS 
CIDADES ........................................................................................................................... 87
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 87
2 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTATUTO DA CIDADE .............................................................. 87
2.1 O ENQUADRAMENTO DA CIDADE NO ESTATUTO ............................................................ 89
sumário
VIII
3 O CRESCIMENTO ECONÔMICO E A DINÂMICA DA CIDADE ........................................... 93
3.1 PLANEJAMENTO URBANO ........................................................................................................ 94
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 109
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 110
TÓPICO 2 – ÁREAS METROPOLITANAS ........................................................................................ 111
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 111
2 CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE O ESPAÇO METROPOLITANO ........................................... 111
2.1 ESPAÇOS COLONIZADOS ........................................................................................................... 114
2.2 ESPAÇOS MARGINAIS .................................................................................................................. 116
3 DINÂMICA DA METRÓPOLE ......................................................................................................... 118
3.1 COMÉRCIO E EMPREGO .............................................................................................................. 120
3.2 O CONSUMO ................................................................................................................................... 121
3.3 POLÍTICAS SOCIAIS ...................................................................................................................... 125
4 O CAOS NA METRÓPOLE ................................................................................................................ 126
4.1 DESASTRES AMBIENTAIS EM REGIÕES METROPOLITANAS ............................................ 129
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 132
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 133
TÓPICO 3 – VIDA, PODER E MEIO AMBIENTE NAS METRÓPOLES BRASILEIRAS ........ 135
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 135
2 SUSTENTABILIDADE URBANA ..................................................................................................... 135
3 PAISAGEM URBANA E QUALIDADE AMBIENTAL ................................................................. 139
3.1 PARQUE URBANO EM ALGUMAS METRÓPOLES BRASILEIRAS ..................................... 144
4 ORDENAMENTO DO TERRITÓRIO METROPOLITANO: O EXEMPLO DE BRASÍLIA .... 151
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 157
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 161
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 162
UNIDADE 3 – GEOGRAFIA AGRÁRIA ............................................................................................ 163
TÓPICO 1 – QUESTÕES AGRÁRIAS NO BRASIL ......................................................................... 165
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 165
2 CONTEXTUALIZAÇÃO SOBRE GEOGRAFIA AGRÁRIA ....................................................... 165
3 A PRODUÇÃO DO TERRITÓRIO: ENTRE O RURAL E O URBANO ..................................... 167
3.1 O MODELO AMERICANO NA PRODUÇÃO DO ESPAÇO AGRÁRIO ................................ 170
3.2 O PROCESSO PRODUTIVO NO BRASIL: RURAL E URBANO ............................................. 171
4 RESGATE HISTÓRICO DA AGRICULTURA BRASILEIRA...................................................... 172
4.1 CICLOS ECONÔMICOS ................................................................................................................. 174
5 A MODERNIZAÇÃO DA AGRICULTURA.................................................................................... 177
5.1 O AUMENTO DA PRODUTIVIDADE ......................................................................................... 178
5.2 MUDANÇAS NA RELAÇÃO DE TRABALHO.......................................................................... 179
RESUMO DO TÓPICO 1........................................................................................................................ 183
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 184
TÓPICO 2 – REFORMA AGRÁRIA ..................................................................................................... 185
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 185
2 O “ESVAZIAMENTO” DO CAMPO ................................................................................................ 185
2.1 O ÊXODO RURAL E OS REFLEXOS DEMOGRÁFICOS .......................................................... 187
2.2 RESGATE HISTÓRICO DA ESTRUTURA FUNDIÁRIA DO BRASIL .................................... 189
2.3 AS RELAÇÕES DE TRABALHO NO CAMPO ........................................................................... 191
3 REFORMA AGRÁRIA ......................................................................................................................... 191
IX
3.1 CONDIÇÕES PARA A IMPLANTAÇÃO DA REFORMA AGRÁRIA .................................... 192
3.2 POR UMA REFORMA AGRÁRIA SUSTENTÁVEL .................................................................. 194
4 ASSENTAMENTOS RURAIS E MOVIMENTOS SOCIAIS AGRÁRIOS ................................ 195
4.1 OS CONFLITOS SOCIAIS AGRÁRIOS ........................................................................................ 199
RESUMO DO TÓPICO 2........................................................................................................................ 204
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 205
TÓPICO 3 – AGROECOLOGIA: TEORIA E PRÁTICA .................................................................. 207
1 INTRODUÇÃO ..................................................................................................................................... 207
2 CONCEITOS E ETAPAS DE IMPLANTAÇÃO DA AGROECOLOGIA ................................... 207
2.1 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ................................................................................................... 2072.2 ETAPAS PARA IMPLANTAÇÃO DE UM SISTEMA AGROECOLÓGICO ........................... 209
3 O MODELO ALTERNATIVO DE PRODUÇÃO NA AGROECOLOGIA BRASILEIRA ....... 210
3.1 PROCESSO DE TRANSIÇÃO AGROECOLÓGICA ................................................................... 213
4 MODELOS DE PROJETOS AGROECOLÓGICOS ....................................................................... 214
4.1 PROJETO QUINTAIS ORGÂNICOS E FRUTAS ......................................................................... 216
5 AGRICULTURA ORGÂNICA ........................................................................................................... 217
5.1 CONTROLE DE QUALIDADE DOS PRODUTOS ORGÂNICOS ........................................... 219
5.2 O MODELO DE AGRICULTURA ORGÂNICA.......................................................................... 221
5.3 MUDANÇAS CLIMÁTICAS - O EXEMPLO DA REGIÃO NORDESTE BRASILEIRA ....... 225
LEITURA COMPLEMENTAR ............................................................................................................... 228
RESUMO DO TÓPICO 3........................................................................................................................ 230
AUTOATIVIDADE ................................................................................................................................. 231
REFERÊNCIAS ......................................................................................................................................... 233
X
1
UNIDADE 1
ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO 
FENÔMENO URBANO
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
PLANO DE ESTUDOS
A partir desta unidade, você será capaz de:
• identificar as origens da pesquisa em geografia urbana no Brasil;
• compreender o conceito de urbanização;
• caracterizar o processo da urbanização brasileira;
• analisar a dinâmica regional interna do país. 
Esta unidade está dividida em três tópicos. No final de cada um deles você 
encontrará atividades que reforçarão o seu aprendizado.
TÓPICO 1 – FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA 
URBANA
TÓPICO 2 – URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
TÓPICO 3 – A REDE URBANA BRASILEIRA
2
3
TÓPICO 1
UNIDADE 1
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
1 INTRODUÇÃO
A geografia urbana é o ramo da Geografia que aborda a localização e 
o arranjo espacial das cidades. Ela objetiva acrescentar uma dimensão espacial 
à nossa compreensão dos lugares e dos problemas urbanos. Neste tópico será 
apresentada uma breve contextualização sobre a geografia urbana enquanto 
ciência, as primeiras pesquisas reconhecidas na área e, ainda, a contribuição dessa 
ciência no processo de entendimento e formação do espaço urbano capitalista.
2 CONTEXTUALIZAÇÕES SOBRE GEOGRAFIA URBANA
Quando, enfim, o homem vier a conhecer toda a superfície do globo, da qual se 
diz senhor, e a expressão de Colombo – el mundo es poco (a Terra é pequena) 
– tiver se tornado verdade para nós, a grande obra geográfica não será mais 
percorrer as terras longínquas, mas estudar a fundo os detalhes da região em 
que vivemos: conhecer cada rio, cada montanha, mostrar o papel de cada parte 
do organismo terrestre na vida do conjunto [...] (ANDRADE, 1985, p. 44).
Ao longo do tempo, assim como aconteceu na Geografia enquanto 
disciplina de amplitude geral, a geografia urbana sofreu mudanças na sua forma 
de atuação. Todavia, alguns estudiosos apresentam essas rupturas como fases, 
sendo que em cada período houve trabalhos inovadores, manuais de geografia 
urbana, metodologias próprias, conceitos novos e antigos renovados.
A prática de análise da trajetória de uma ciência deve estar diretamente 
relacionada à compreensão sobre o debate científico estabelecido em cada período. 
A cada análise da produção geográfica, novas críticas são feitas. Muitas vezes, 
essas análises representam momentos de ruptura e encaminhamento para novas 
direções, como também servem de base para estruturar novas classificações da 
ciência. 
Conforme Vasconcelos (1997), na obra “Dois séculos do pensamento 
geográfico sobre a cidade”, pode-se dividir os trabalhos geográficos em grupos 
distintos, de acordo com a temática trabalhada pelos pesquisadores de cada 
período, com destaque para alguns nomes importantes, como: Humboldt (1811), 
extensão, posição e sítio; Reclus (1855), sistema planetário de cidades, posição, 
localização, nós, organismo coletivo; Michote (1931), sistematização dos estudos 
das cidades; George (1949), introdução de ideias sobre padrões de uso do solo, de 
êxodo urbano e de luta de classes; Claval (1968), trabalhos teoréticos quantitativos; 
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
4
Santos (1975), criação de expressões novas como metrópoles incompletas, os dois 
circuitos da economia, sistemas urbanos; Clark (1982), esclarecimentos sobre 
a ecologia fatorial; Harvey (1989), pós-modernismo, lugar, cidades mundiais; 
Racine (1993), utopias e ecologismo. Além destes, muitos outros nomes tiveram 
importante contribuição através de suas pesquisas nestes períodos.
 
As contradições e os contrastes surgem no cotidiano das pesquisas que, 
longe de serem analisados separadamente os fatos e os fenômenos observados, 
passam a ser analisados em sua articulação dialética, enquanto unidade na 
diversidade dos fatos. Não se busca, como antigamente, a regularidade dos 
fenômenos urbanos, mas a essência contraditória e o movimento capaz de nos 
levar ao entendimento da dinâmica do urbano.
2.1 A GEOGRAFIA URBANA BRASILEIRA
Voltando às origens das cidades e refazendo o longo percurso do processo de 
urbanização, observamos que certos atributos estiveram sempre associados aos 
espaços urbanos, tendo perpassado a Antiguidade, a Idade Média, tendo sido 
mantidos durante o Renascimento, acompanharam a Modernidade e, com ela, 
chegaram ao século XX [...], esses atributos são: concentração demográfica, 
diferenciação social e unidade espacial. (SPÓSITO, 2006, p. 112).
Embora o geográfico Friedrich Ratzel (1891) tenha dedicado grande 
atenção na relação do homem com o meio em que vive, foi somente a partir da 
segunda década do século 20 que o estudo dos núcleos urbanos passou a fazer 
parte, de forma mais intensa, do conjunto de temas das investigações geográficas.
Entre as áreas do conhecimento geográfico, a geografia urbana instiga 
reflexões, pois estuda o espaço que se torna representativo, entre outros motivos, 
por aglomerar a maioria da população, como no caso do Brasil. Tal fato desperta 
a necessidade de pensar sobre esse espaço repleto de contradições.
Na tentativa de explicar as cidades, a partir da década de 50 foram surgindo 
gradativamente novas formas de abordagem, de pensar e de observar o espaço 
urbano, primeiramente sob a ótica antiga e posteriormente sob um prisma novo, 
como os estudos voltados para a centralidade urbana, área de influência da cidade, 
as metrópoles, áreas metropolitanas, agentes modeladores do espaço, abastecimento 
urbano, mudanças das relações de produção, além de novos conceitos, como os de 
aglomerado urbano, de subúrbio, de função urbana, entre outros. 
A abordagem dos estudos sobre o espaço urbano consiste, portanto, em 
entender o seu significado, procurando defini-lo através de suas características 
demográficas, de sua morfologia, de suas funções e do seu papel econômico e 
social. O espaço urbano é assim uma produção social, e como tal é um produto 
histórico, pois é resultado de ações acumuladas através do tempo, mas é também 
a realidade presente e imediata, como sendo o resultado da dinâmica social de 
determinada sociedade que, ao reproduzir-se num dado modo de produção, 
imprime na paisagem urbana as suas particularidades. 
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
5
Com relação à produção em geografia urbana, no ano de 1934, a convite do 
governo paulista, chegam ao Brasilos pesquisadores estrangeiros para ocupar os 
cargos disponíveis na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras. Entre eles estava 
o francês Pierre Deffontaines, que, após participar da fundação da Universidade 
de São Paulo (USP) transferiu-se para o Rio de Janeiro, sendo substituído em São 
Paulo pelo também francês Pierre Monbeig. 
Com a criação da Universidade de São Paulo e a Faculdade de Filosofia, 
passou a Geografia a ser ensinada em curso superior, com o propósito de formar 
bons professores para o magistério e pesquisadores para o trabalho de campo.
Portanto, pode-se afirmar que no Brasil a pesquisa sobre geografia urbana 
encontra-se fundamentada em Pierre Monbeig, principalmente devido ao fato 
de que entre todos os estudos realizados nesta temática, apenas os seus foram 
publicados, em sua maioria no exterior. Desde 1990, parte de sua biblioteca e 
arquivo pessoal integra o acervo do Instituto de Estudos Brasileiros da USP.
Pode-se afirmar que a pesquisa até 1940 era essencialmente realizada 
por pesquisadores estrangeiros, fato que influenciou a produção geográfica no 
período seguinte, uma vez que a institucionalização da Geografia sofreu forte 
influência francesa através de Pierre Monbeig e Pierre Deffontaines, que fizeram 
do trabalho no campo, do contato direto com a observação, uma prática não 
apenas essencial de pesquisa, mas também de aprendizado.
Quanto a Deffontaines, além da grande contribuição acadêmica, auxiliou 
no processo de estruturação do IBGE e foi o criador da Associação dos Geógrafos 
Brasileiros (AGB). Portanto, esses dois mestres auxiliaram no desenvolvimento 
de estudos urbanos, Pierre Deffontaines no Rio de Janeiro e Pierre Monbeig em 
São Paulo.
FIGURA 1 – PIERRE MONBEIG E PIERRE DEFFONTAINES NO CONGRESSO BRASILEIRO DE 
GEÓGRAFOS EM 1965. DEFFONTAINES (ESQUERDA) E MONBEIG (DIREITA)
FONTE: Disponível em: <http://confins.revues.org/6091>. Acesso em: 15 out. 2012.
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
6
IMPORTANT
E
Pierre Deffontaines
O Professor Pierre Deffontaines permaneceu no Brasil até 1939, tornando-se um grande 
divulgador da ciência geográfica no país. Desenvolveu vários trabalhos, resultando em 
inúmeras publicações nas décadas de 30 e 40 a respeito da geografia brasileira. 
Através das palavras a seguir, Deffontaines (1943) reflete o seu pensamento liberal de 
fraternidade universal. 
“Assim a geografia ensina, de certa forma, uma moral. (...) ensina, além disso, uma moral 
de responsabilidade. Cada geração inscreveu sobre a Terra a sua obra geográfica, obra de 
organização, obra de progresso. O homem é, de certo modo, responsável pela Terra, ele 
não deve degradá-la. Cada um de nós trabalha para que esta Terra seja menos áspera, mais 
humana. Assim é, indiscutivelmente, uma moral de fraternidade o que ensina a geografia 
humana, aí está toda a sua grandeza”.
FONTE: Extraído do artigo A visão de mundo de Pierre Deffontaines e a 
ideologia da cultura brasileira nos anos 30. Disponível em: <http://www.
observatoriogeograficoamericalatina.org.mx/egal3/Geografiasocioeconomica/
Geografiacultural/01.pdf>. Acesso em: 15 out. 2012.
Pierre Monbeig
Monbeig permaneceu no Brasil até 1946, e visitando regularmente o país até os anos 80. 
Chega ao Brasil com a bagagem simples que os geógrafos, naquele momento, sabiam 
manejar: o trabalho de campo, a análise regional, a análise de situação. Ele ensina aos jovens 
geógrafos brasileiros a fazerem pesquisa de campo e tenta compreender o país analisando 
sua situação sob o tabuleiro econômico e político mundial.
Ele é sensível à exigência de desenvolvimento que se apresenta no Brasil do Estado Novo: 
ele mensura o papel das cidades na exploração do espaço brasileiro e é tocado pela rapidez 
de seu desenvolvimento; percebe que o instrumento que constitui a análise dos gêneros de 
vida não dá conta do essencial num país de povoamento recente, onde a economia está em 
reconstrução permanente.
FONTE: Adaptado por Toniolo. Disponível em: <http://confins.revues.org/6091>. Acesso 
em: 15 out. 2012.
O período de 1939 a 1967 foi o de maior produtividade no campo da 
geografia urbana, sendo classificado por Corrêa (1989) como o período em que se 
atribuiu valor ao estudo de redes urbanas. Essa mudança acompanha a fase de 
intensa urbanização em que se encontrava o Brasil.
A produção em geografia urbana, assim como na Geografia como um 
todo, sofre uma mudança entre 1968 e 1970, quando passa a adotar técnicas 
quantitativas (levantamento e análise de dados estatísticos). Processo que duraria 
quase toda a década de 70, considerada a época de maior força do neopositivismo. 
A cidade nesses estudos da escola neopositivista passa a receber um 
tratamento neutro.
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
7
IMPORTANT
E
Neopositivismo
A escola neopositivista de Geografia se caracterizou por promover uma revolução no 
pensamento geográfico, na tentativa de transformar a Geografia numa ciência. A filosofia 
neopositivista recomenda um cuidado esmerado com a linguagem científica, assim, os 
geógrafos passaram a empregar a matemática, uma vez que a mesma é considerada, por 
excelência, a linguagem da ciência [...], através de um arsenal de técnicas matemático-
estatísticas, que facilitavam as comparações entre as variáveis [...]. 
FONTE: Disponível em: <http://repositorio.bce.unb.br/bitstream/10482/5917/1/ARTIGO_
ConsideracoesGeografiaNeopositivista.pdf>. Acesso em: 1 nov. 2012.
A falta de consistência teórica do neopositivismo torna-se passível de 
ataques e os autores enfatizam a necessidade de mudança, sugerindo novos 
rumos de pesquisa. Propõe-se, então, estudar o urbano como parte integrante de 
um contexto social mais amplo.
Essa proposta constitui-se em um marco que transformou os modos 
de pensar e fazer geografia urbana; então, a partir daí novas categorias são 
incorporadas, o que permite um avanço nas formas de entendimento do fenômeno 
urbano e uma análise que se processa para além de suas manifestações formais.
Esta nova orientação teórico-metodológica é denominada de geografia 
crítica e tem estimulado e multiplicado a produção geográfica. Conforme 
afirmam alguns pesquisadores, pode-se dizer mesmo, sem medo de errar, que é 
a partir dessa perspectiva analítica que a pesquisa urbana tem avançado mais na 
Geografia brasileira.
3 RESGATE HISTÓRICO SOBRE O PROCESSO DE 
URBANIZAÇÃO
A morfologia do tecido urbano é o reflexo fiel de uma realidade econômica e 
social definida. Apenas o centro da cidade associa, e assim mesmo só em certa 
medida, os diferentes setores da economia e das classes sociais, na medida 
em que nele se concentram as atividades terciárias, serviços comerciais, 
administrativos, lugares de diversão etc. (SANTOS, 1981, p. 200).
O processo de urbanização desenvolveu-se com o advento do capitalismo, 
com início na Europa, e tem uma ligação direta com as sucessivas revoluções 
tecnológicas ocorridas ao longo do tempo. Posteriormente se estende aos países 
subdesenvolvidos, daí o fato de as pesquisas associarem o conceito de urbanização 
ao da industrialização. 
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
8
O crescimento urbano mundial ligado à Revolução Industrial alcança o 
seu ápice entre 1850 e 1900. Entre 1900 e 1920, nota-se certa estabilidade no ritmo 
da urbanização ocidental, o que, para alguns economistas, está relacionado à 
distribuição espacial da indústria. Nos anos de 1930 e 1940, quem desponta é a 
União Soviética, com um grande aumento da sua população urbana (96%), graças 
ao novo regime imposto pela revolução. 
Já nos países subdesenvolvidos, a urbanização acontece de forma tardia, 
com ritmos intensos de crescimento entre 1950 e 1960, apresentando neste período 
um aumento de 59,3% da população urbana, enquanto nos países desenvolvidos, 
no mesmo período, o índicelimitou-se em 31%, com exceção apenas para a URSS, 
que teve um elevado crescimento urbano, motivado em parte como compensação 
da guerra dos anos 40.
Para Santos (2005), a urbanização nos países subdesenvolvidos acontece de 
maneira diferente, ou seja, é uma urbanização terciária, com múltiplas fi sionomias, 
isto porque a colonização não foi feita nem com as mesmas características nem na 
mesma época, portanto, a presença ou a ausência de uma cultura urbana antiga, 
bem como as peculiaridades dos vários tipos de economia nacional, são aspectos 
determinantes neste processo. Ainda conforme o autor acima, existem dois tipos 
de urbanização nos países subdesenvolvidos, conforme segue: 
a) Nascimento de numerosas pequenas cidades, cujo propósito consiste em atender 
às necessidades básicas específi cas da população urbana e rural, sendo que 
estas necessidades variam conforme a peculiaridade de cada lugar, o número 
de habitantes, da economia regional e do comportamento socioeconômico de 
seus moradores. 
FIGURA 2 – A COMPANHIA DE TERRAS NORTE DO PARANÁ (1951) FUNDOU UMA REDE DE 
CIDADES, ESTENDENDO-SE DE LONDRINA A UMUARAMA 
FONTE: Secretaria de Estado da Indústria, do Comércio e Assuntos do Mercosul – SEIM. Instituto 
Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social – IPARDES. Adaptado por Toniolo (2012). 
Disponível em: <http://cidadao.pr.gov.br/modules/catasg/catalogo.php?servico=384&id=e>. 
Acesso em: 12 nov. 2012.
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
9
A imagem refere-se aos assentamentos de núcleos básicos de colonização 
na rota de eixo rodoferroviário, estabelecidos progressivamente, a uma distância 
de 100 quilômetros uns dos outros, que definiram, em ordem, Londrina, Maringá, 
Cianorte e Umuarama, cidades estas planejadas para se tornarem grandes 
centros prestadores de serviços. Entre esses núcleos urbanos principais fundou-
se, de 15 em 15 quilômetros, pequenos patrimônios, cidades bem menores, com a 
finalidade de servir como centro de abastecimento da população rural.
FONTE: Disponível em: <http://www.japura.pr.gov.br/cont_melhoramentos.php>. Acesso em: 8 
nov. 2012.
b) A polarização urbana em função de uma cidade (quase sempre a capital); 
o crescimento populacional é mais intenso nessas grandes cidades, que 
normalmente apresentam peculiaridades que as diferenciam, como a distância 
entre as outras cidades, instituições de ensino, qualidade de vida, benefícios 
financeiros, serviços especializados etc.; no entanto, estas cidades se mostram 
atrativas num primeiro momento e posteriormente tem-se no cenário da 
paisagem urbana o reflexo dessa dinâmica: as explícitas diferenças de nível de 
renda apresentadas pelos arranha-céus e as favelas.
FIGURA 3 – CONDOMÍNIO DE LUXO NA CIDADE DE SÃO PAULO FAZ DIVISA COM A FAVELA 
FONTE: Foto de Tuca Vieira. Disponível em: <http://classificados.folha.uol.com.br/
imoveis/1156506-metade-da-populacao-da-vila-andrade-mora-em-favelas.shtml>. Acesso em: 
12 nov. 2012.
 A imagem acima é um exemplo da desigualdade social na cidade de São 
Paulo. A tortuosa Rua Afonso dos Santos, na Vila Andrade, separa a maior favela 
da cidade (Paraisópolis) de um dos condomínios mais luxuosos (Penthouse).
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
10
Ao observar a população mundial urbana é possível constatar que 
a expansão do seu crescimento se dá paralelamente à Revolução Industrial, 
constituindo-se em um novo ponto de partida para o processo de urbanização 
mundial, em um cenário onde a presença do homem torna-se cada vez mais 
importante nas cidades, contribuindo, consequentemente, para o crescimento do 
número de aglomerados urbanos.
Para Santos (2005), nota-se um contraste bem marcante entre o rápido 
crescimento da população mundial de 1950 a 1960 (19%) com o crescimento bem 
mais lento nas três décadas anteriores: 1920-1930: 11%; 1930-1940:11%; 1940-1950: 
16%, conforme segue:
a) Nos países desenvolvidos após os anos 30, houve uma retomada do ritmo de 
crescimento da população, entretanto, a Europa na década de 50 manteve o 
percentual registrado no período das décadas de 20 e 30, que foi de 9%.
b) Na Ásia foi observado significativo crescimento, sendo que no período de 1950 a 
1960 representava 60% do aumento total da população mundial. Isso se deve ao 
fato de que a população da Ásia já representava 50% da população total dos países.
c) Os índices de crescimento mais importantes foram registrados na África e na 
América Latina, sendo que na América do Sul, com exceção da Argentina e do 
Uruguai, o aumento populacional se deu desde a década de 20, com aceleração 
do processo a partir da década de 50 (31%). Na África, embora em ritmo menos 
rápido, acontece o mesmo processo.
Verifica-se, portanto, ao analisar as estatísticas, que o recente dinamismo 
demográfico nos países subdesenvolvidos leva a uma nova distribuição da 
população mundial. 
GRÁFICO 1 – EXPECTATIVA DE CRESCIMENTO URBANO: GRANDES REGIÕES MUNDIAIS
FONTE: Disponível em: <http://www.scielo.br/img/revistas/rbepop/v24n2/01g1.gif>. Acesso em: 
12 nov. 2012.
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
11
Um fator importante para o crescimento populacional dos países 
subdesenvolvidos diz respeito à diminuição das taxas de mortalidade, feito este 
que foi possível devido às observações realizadas, pois na medida em que os 
países ocidentais alcançavam um nível industrial mais avançado, apresentando 
uma diminuição no índice de mortalidade, os países subdesenvolvidos passaram 
a se beneficiar dessas descobertas, em especial as de ordem sanitária.
Desta forma, com a redução da taxa de mortalidade e o avanço das 
atividades industriais nos países subdesenvolvidos, o processo de urbanização foi 
acelerado pela Revolução Industrial, herança dos países desenvolvidos, realizada 
conforme o modelo capitalista de produção.
Tem-se então, neste contexto, o crescimento demográfico acelerado 
principalmente em certos países asiáticos, como Índia, por exemplo, lembrando 
que, por outro lado, este aumento do potencial demográfico implica várias 
questões ligadas ao espaço urbano, que reflete num conjunto de medidas sociais 
e políticas. 
Portanto, a década de 1950 constitui em um divisor e representa a inclusão 
do mundo subdesenvolvido a um novo contexto da cultura capitalista, comandado 
pela revolução científica representada pelas companhias internacionais.
GRÁFICO 2 – EVOLUÇÃO DA POPULAÇÃO URBANA TOTAL MUNDIAL - 1950-2030
FONTE: UNFPA, 2007. Disponível em: <http://www.faculdadedeengenharia.com/?p=528>. 
Acesso em: 14 jan. 2013.
O processo de urbanização dos países subdesenvolvidos foi mais recente e 
mais acelerado, com características próprias, diferentemente do contexto econômico 
e político dos países desenvolvidos. Enquanto que nos países subdesenvolvidos é 
principalmente a partir da década de 50 que o processo de urbanização se apresenta 
com um ritmo acelerado, o oposto acontece nos países desenvolvidos, que se 
deparam com uma disposição à redução da população urbana.
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
12
4 O ESPAÇO URBANO CAPITALISTA
O espaço urbano capitalista – fragmentado, articulado, reflexo, condicionante 
social, cheio de símbolos e campo de lutas – é um produto social, resultado 
de ações acumulativas através do tempo, e engendradas por agentes que 
produzem e consomem espaço. (CORRÊA, 2004, p.11).
A organização espacial da cidade ou o espaço urbano de uma cidade 
capitalista constitui-se por um conjunto de diferentes usos da terra, que definem 
as áreas centrais da cidade, o local de concentração das atividades comerciais, 
as áreas industriais, residenciais, lazer, entre outras. Este espaço, no entanto, 
é simultaneamente fragmentado e articulado, pois cada uma de suas partes se 
relaciona com as demais, ainda que com intensidadevariável, e essas relações são 
observadas através do fluxo de veículos, de pessoas e de mercadorias no dia a dia, 
sendo o reflexo da própria sociedade.
Como reflexo da sociedade, o espaço urbano capitalista é desigual e 
mutável, pois acompanha o ritmo, o condicionamento e a dinâmica do sistema 
em vigor.
Em O Direito à Cidade, o pesquisador sociólogo francês Henry Lefebvre 
(2006) escreve na apresentação da obra que, durante longos séculos, a Terra foi 
o grande laboratório do homem; só há pouco tempo é que a cidade assumiu 
esse papel. O fenômeno urbano manifesta hoje sua enormidade, desconcertante 
para a reflexão teórica, para a ação prática e mesmo para a imaginação. O autor 
acrescenta ainda que a sociedade urbana se forma enquanto se procura. 
A seguir o texto extraído de um artigo de Lefebvre, que trata a compreensão 
do espaço como estrutura social onde se dá a reprodução das relações de produção.
IMPORTANT
E
A Produção do Espaço: uma reaproximação conceitual da perspectiva 
lefebvriana 
Paulo Roberto Teixeira de Godoy
 A tendência universalizante, homogeneizante e fragmentadora do capital pressupõe 
a exigência da organização da base material de modo a produzir as condições de fluidez e 
aceleração da circulação das mercadorias. Neste sentido, não sem conflitos e contradições, o 
tempo enquanto medida necessária para a definição do valor tende a suplantar os obstáculos 
espaciais como um meio de ampliar o potencial de acumulação do capital.
 Neste sentido, Lefebvre parte de quatro aspectos fundamentais para a compreensão 
do espaço como estrutura social. O primeiro refere-se ao design espacial. Na acepção do 
autor, o design espacial constitui um aspecto fundamental das forças produtivas da sociedade. 
Esta argumentação torna-se necessária, pois evita reduzir o espaço somente à dimensão 
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
13
4 O ESPAÇO URBANO CAPITALISTA
da produção. Além disso, reduzir o espaço a tal pressuposto é operar uma amputação da 
estrutura social e das condições de sua própria reprodução e funcionamento.
 O segundo aspecto refere-se à práxis como uma atividade possível em escala local 
que pleiteia um engajamento da ação na organização social. Para Lefebvre, é através do 
espaço produzido que a sociedade se reproduz em sintonia com uma determinada ordem 
forjada pelas relações capitalistas de produção e que está em íntima relação com o primeiro 
aspecto mencionado. 
 Por outro lado, “o espaço não é apenas parte das forças e meios de produção, 
constitui também um produto dessas mesmas relações. Lefebvre observa que, além de 
haver um espaço de consumo ou, quanto a isso, um espaço como área de impacto para o 
consumo coletivo, há também o consumo do espaço, ou o próprio espaço como objeto de 
consumo” (GOTTDIENER, 1993, p. 129).
 Finalmente, Lefebvre aponta como quarto aspecto a problemática do conflito de 
classes sociais, cuja origem encontra-se na contradição das relações entre capital e trabalho 
que se estilhaçam mediante a pulverização gerada pelo princípio da propriedade privada dos 
meios de produção.
 Diante desses aspectos resumidamente mencionados, vale indagar a respeito do 
significado da ciência que efetua a leitura e análise do espaço. Neste sentido, o autor enfatiza: 
“Ciência do Espaço? Não. Conhecimento (teoria) da produção do espaço. A ciência do espaço 
(matemática, física etc.) é do domínio da lógica, da teoria dos conjuntos e coesões, sistemas 
e coerências. O conhecimento do processo produtivo, que faz entrar na existência social este 
produto que é o mais geral de todos – o espaço – é do domínio do pensamento dialético, 
que lhe apreende as contradições. É neste espaço dialetizador (conflitual) que se consuma a 
reprodução das relações de produção. É este espaço que produz a reprodução das relações 
de produção, introduzindo nelas contradições múltiplas, vindas ou não do tempo histórico.” 
(LEFEBVRE, 1973, p. 18-20).
FONTE: Trecho extraído do Artigo disponível em: <http://www.geografia.fflch.usp.br/
publicacoes/Geousp/Geousp23/Artigo_Paulo_Godoy.pdf>. Acesso em: 25 out. 2012.
4.1 A PRODUÇÃO DO ESPAÇO URBANO
O espaço urbano é produzido por agentes sociais, que através de práticas 
diversas levam a cidade a um constante processo de reorganização espacial, 
motivada, sobretudo, pela incorporação de novas áreas urbanas. 
A seguir, alguns dos agentes sociais que fazem e refazem a cidade: 
• Os proprietários dos meios de produção, principalmente os grandes industriais.
Os grandes proprietários industriais e comerciais, devido à dimensão 
das atividades que desenvolvem, ocupam grandes espaços, terrenos amplos 
com baixo valor de impostos, normalmente como fator incentivador do próprio 
governo, com localização estratégica, perto de ferrovias, portos, rodovias, que 
facilitem o acesso à população, inclusive.
Sabe-se ainda que as relações entre os meios de produção e a terra urbana 
são complexas, devido à especulação fundiária, que muitas vezes supervaloriza o 
preço da terra. Os eventuais conflitos que possam surgir tendem a ser resolvidos 
em favor dos proprietários dos meios de produção, que, no capitalismo, 
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
14
comandam a vida econômica e política. A solução desses conflitos se faz através 
de pressões ao Estado a fim de realizar desapropriações de terras, instalação de 
infraestrutura necessária às suas atividades e para a criação de facilidades com a 
construção de casas populares para a força de trabalho.
FIGURA 4 - AS MONTADORAS DE VEÍCULOS E OS INCENTIVOS DO GOVERNO
FONTE: Disponível em: <http://carros.uol.com.br/noticias/redacao/2011/12/05/governo-e-o-
maior-financiador-das-multinacionais-do-carro-no-brasil.htm>. Acesso em: 14 jan. 2013.
A economista Maria Abadia Silva Alves, em sua dissertação de mestrado 
na Unicamp, fez um interessante levantamento sobre a guerra fiscal entre estados 
para atrair montadoras nos anos 1990. O trabalho foi apresentado há dez anos, 
em novembro de 2001. A economista levantou que os incentivos estaduais fiscais 
(descontos em tributos) e orçamentários (infraestrutura, terrenos, capital de giro etc.) 
oferecidos naquela época para instalação de fábricas da Mercedes-Benz em Juiz de 
Fora (MG), da Renault em São José dos Pinhais (PR) e General Motors em Gravataí 
(RS) somaram R$ 1,8 bilhão, enquanto os investimentos das três foram de R$ 1,65 
bilhão. Além dos generosos incentivos governamentais que recebem, as montadoras 
estão se financiando em larga medida com recursos do BNDES e entidades locais de 
fomento, como no caso de FNDE e BNB no Nordeste, que oferecem taxas e prazos 
para lá de camaradas no contexto nacional, em que prevalece há décadas a prática do 
maior juro do mundo. 
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
15
FIGURA 5 – FUTURAS INSTALAÇÕES DA MONTADORA FIAT NA CIDADE DE GOIANA/PE
FONTE: Disponível em: <http://g1.globo.com/carros/noticia/2012/09/fiat-comeca-construcao-
da-fabrica-de-goiana.html>. Acesso em: 14 jan. 2013.
• Os proprietários fundiários
Os proprietários fundiários de terra agem com a finalidade de obter a maior 
renda fundiária de suas terras, com interesse em obter o uso mais remunerador 
possível, especialmente os voltados para o comércio ou residências de alto padrão 
(condomínios fechados). Apresentam interesses em transformar a terra rural em 
urbana (quando o valor da terra urbana é maior que o da terra rural).
A propriedade fundiária da periferia urbana, em especial as da grande 
cidade, constitui-se em alvos dos proprietários de terras, pelo fato de estar 
diretamente submetida ao processo de transformação do espaço rural em urbano.
É possível ainda que esses proprietários se tornem também promotores 
imobiliários, através do loteamento e venda desses lotes. Periferias urbanas 
podem ainda, com o tempo, devido àvalorização imobiliária, se tornarem no 
futuro áreas nobres, como aconteceu com algumas cidades litorâneas, antigas 
periferias, que se transformaram em áreas enobrecidas, como, por exemplo, os 
bairros de Copacabana e Ipanema, no Rio de Janeiro.
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
16
FIGURA 6 – DE PROPRIEDADE RURAL PARA LOTEAMENTO URBANO
FONTE: Loteamento residencial e comercial no Estado de São Paulo. Disponível em: <http://
ribeiraopreto.olx.com.br/pictures/lancamento-de-loteamento-residencial-e-comercial-
iid-451355766>. Acesso em: 13 nov. 2012.
• Os promotores imobiliários
Os promotores imobiliários são um conjunto de agentes, que executam de 
forma parcial ou total algumas etapas, como:
a) Incorporação – o incorporador realiza a gestão do capital-dinheiro, transforma 
o capital em mercadoria, imóvel.
b) Financiamento – levantamento dos valores monetários destinados à compra do 
terreno ou construção do imóvel.
c) Estudo técnico – normalmente executado por profi ssionais da área, objetivando 
verifi car a compatibilidade da proposta do incorporador e com as leis vigentes.
d) Construção ou produção física do imóvel – verifi cação da credibilidade da 
empreendedora e competências da equipe contratada para realização da obra.
e) Comercialização ou transformação do capital-mercadoria em capital-dinheiro 
– acrescida de lucros; os agentes como corretores, planejadores e publicitários 
fi cam responsáveis por esta etapa. 
Ainda dentro da categoria de promotores imobiliários, tem-se a atuação 
do Estado e de grandes redes de bancos.
• O Estado
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
17
A organização espacial da cidade apresenta uma grande influência do 
Estado, que ora atua diretamente como grande industrial, consumidor de espaço e 
de localizações específicas, proprietário fundiário, promotor imobiliário e, ainda, 
como um agente de regulação do uso do solo, além de ser o alvo dos movimentos 
sociais urbanos.
O Estado dispõe de um conjunto de instrumentos que pode empregar em 
relação ao espaço urbano, conforme segue:
a) Direito de desapropriação.
b) Regulamentação do uso da terra.
c) Controle e limitação dos preços da terra.
d) Limitação no tamanho dos terrenos urbanos.
e) Impostos fundiários e imobiliários.
f) Taxas por terrenos vazios.
g) Mobilização de reservas fundiárias públicas.
h) Investimento público na produção do espaço.
i) Organização de mecanismos de crédito à habitação.
j) Pesquisas, operações-teste sobre materiais e procedimentos de construção.
É preciso considerar que a ação do Estado se processa em três níveis: 
federal, estadual e municipal, sendo que em cada um desses níveis sua atuação 
muda, assim como os interesses, porém é no nível municipal que o discurso se 
torna menos eficaz.
A atuação do Estado se faz visando a criar condições de realização e 
reprodução da sociedade capitalista.
• Os grupos sociais excluídos
Nas classes sociais, verificam-se diferenças no acesso aos bens e serviços 
produzidos no sistema capitalista. É na favela (ou comunidade, como chamam no 
Rio), em terrenos públicos ou privados invadidos, que normalmente os grupos 
sociais excluídos tornam-se agentes modeladores, produzindo o seu próprio 
espaço de forma independente. Este espaço produzido constitui-se, muitas vezes, 
em estratégias de sobrevivência.
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
18
Esta busca pela sobrevivência traduz-se frequentemente em ocupação de 
terrenos inadequados para moradia, como encostas íngremes e áreas alagadiças. 
No contexto imediato, a favela torna-se uma solução para um duplo problema: a 
habitação e o acesso ao local de trabalho. 
Tem-se presenciado uma urbanização nas favelas, e a popularização 
desses espaços é resultado da ação dos próprios moradores, que melhoram 
a aparência das suas casas e desenvolvem atividades diversas somadas com a 
ação do Estado, que cria infraestrutura urbana, colaborando para o processo de 
valorização desses lugares.
FIGURA 7 – REVITALIZAÇÃO DA RUA 4 NA FAVELA DA ROCINHA, RJ
FONTE: Disponível em: <http://oglobo.globo.com/blogs/rioreguaecompasso/posts/2011/01/19/
boas-vindas-rua-4-357781.asp>. Acesso em: 13 nov. 2012.
 O arquiteto Luiz Carlos Toledo dá boas-vindas ao alargamento da rua. 
"A Rua 4 é a coisa mais importante feita na Rocinha até agora. É um exemplo de 
como se pode, sem abandonar os percursos tradicionais de uma favela, melhorá-
los, adaptando à escala e à topografia do lugar. Ali, não havia como passar duas 
pessoas lado a lado", recorda Toledo. 
4.2 MUDANÇAS NO ESPAÇO URBANO
Ao falarmos de espaço, seja urbano ou rural, é sempre necessário reforçar 
que este apresenta especificidades, decorrentes de sua construção histórica, 
e daí, ainda que se possa falar de mudanças, diversificação e modernização 
(de múltiplas ordens, na introdução de inovações tecnológicas, nas formas e 
relações de produção, nas relações de trabalho, no desenvolvimento das forças 
produtivas etc.), em uma perspectiva geral, é no plano singular que devemos 
mostrar as diferenças. Portanto, o que temos são novos elementos que resultam 
de transformações históricas no processo de produção do espaço. (SPÓSITO; 
WHITAKER, 2006, p. 46).
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
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Diante da complexidade do fenômeno urbano, considerando os diversos 
problemas que envolvem, produzem e explicam este espaço, faz-se necessário 
realizar uma abordagem sobre os diferentes agentes que intervêm na dinâmica 
da cidade contemporânea, bem como observar que estes fenômenos estão 
relacionados com as mudanças que acontecem no espaço e na vida cotidiana do 
homem.
Sistema produtivo
O sistema produtivo urbano está diretamente ligado à implantação 
ou deslocamento do setor industrial, que na maioria das vezes está associado 
à expansão e ao crescimento das empresas multinacionais, o que reflete 
claramente a lógica da globalização. O mundo hoje constitui um grande campo 
de possibilidades e oportunidades nas tomadas de decisões de qualquer um 
dos agentes econômicos, independente de sua amplitude e importância, ainda 
que comandados principalmente pelo capital financeiro. O auge das bolsas de 
valores, somado à oportunidade do investimento contínuo, seja na fase atual ou 
no futuro próximo, independente do lugar em que esteja, constitui um grande 
impulsionador da lógica do sistema capitalista de produção.
Desta forma, pode-se dizer que a sociedade movimenta-se dentro de um 
sistema de redes, apoiada especialmente nos sistemas de informação, e se constitui 
no estudo mais amplo e complexo da atual dinâmica econômica do mundo.
Dentro do contexto do sistema produtivo, das dinâmicas sociais e da 
produção (e consumo) da cidade e do território, o consumo de bens através dos 
produtos, serviços e de espaços configura-se como fator essencial na sociedade, 
face a um novo modelo cultural que se debate entre o local e o global, com reflexos 
decisivos no social e econômico, administrado por um sistema político. Esta nova 
configuração deve levar a uma nova classificação das atividades econômicas e a 
uma reflexão sobre o papel da administração.
Sociedade 
Na medida em que a sociedade muda, aparecem novos conflitos sociais em 
respostas às mudanças, principalmente quando se trata de alguns temas específicos 
como a fragmentação da família, o aumento da violência doméstica, a luta pela 
igualdade dos direitos entre homens e mulheres, o aumento da marginalização 
dos jovens, formação de tribos urbanas, e ainda outros, relacionados às novas 
imigrações com maiores itinerários, que são beneficiadas pela flexibilização das 
fronteiras políticas tradicionais, resultando numa pluralidade cultural cada vez 
maior. 
 
Tem-se, em face destas mudanças, o surgimento de grupos sociais quesuperpõem, sem eliminar nem desmentir, a divisão geral da sociedade urbana em 
classes, embora já não seja com uma base exclusivamente econômica.
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
20
Tempo 
As mudanças no tempo mudam as concepções e experiências. A vivência 
do tempo na cidade está mudando, percebe-se esta afirmativa ao observar a 
flexibilidade dos horários de trabalho, da velocidade dos meios de comunicação, 
bem como os noticiários do mundo que passam a informação em tempo real. 
Na década de 90, o geógrafo Milton Santos destacou a importância da diferença 
dos ritmos do tempo vivido por diferentes pessoas e grupos sociais, definindo 
um tempo rápido e um tempo lento como extremos de diferentes possibilidades 
de vivenciar os tempos na cidade. As mudanças no ritmo de viver o tempo 
influenciam progressivamente os calendários, como se pode observar através das 
datas comemorativas, os horários laborais, como, por exemplo, a ampliação das 
temporadas turísticas, o horário de trabalho diferenciado do comércio, são fatores 
que evidenciam uma sociedade de consumidores, ou ainda, uma sociedade do 
ócio, que busca o avanço da aposentadoria e a redução da jornada de trabalho.
FIGURA 8 – AVISO DO HORÁRIO DE ATENDIMENTO DO COLÉGIO
FONTE: Disponível em: <http://pioxiicolegio.com.br/site/destaques/horario-de-atendimento-2>. 
Acesso em: 14 jan. 2013.
Como consequência social dessas mudanças, faz-se importante destacar 
que se produziu uma flexibilização do tempo e o surgimento de novas estratégias 
na realização dos papéis sociais tradicionais das pessoas. Portanto, tornam-se 
cada vez mais sutis as fronteiras tradicionais entre o feminino e o masculino, entre 
o jovem e o idoso, entre ricos e pobres, o que permite criar novas possibilidades 
de estudo e novos conflitos sociais.
Espaço 
As mudanças no espaço urbano são vislumbradas em face da crescente 
importância e valorização do uso deste. Normalmente ocupa o primeiro lugar 
das políticas públicas, além de representar a imagem cultural e social de uma 
determinada sociedade. A imagem do espaço urbano tem importante contribuição 
dos arquitetos e de outros técnicos especializados, que através das contratações 
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
21
executam projetos fenomenais, obra em escala internacional em muitos espaços 
urbanos, o que, com exagero, é vinculado muitas vezes ao desenvolvimento da 
globalização. Os governantes investem cada vez mais na fixação de uma imagem 
de cidade competitiva no mercado internacional, com o propósito de atrair 
diferentes tipos de investimentos produtivos, como os imobiliários, turísticos etc.
Mudança e continuidade na cidade
As mudanças, por mais extraordinárias que sejam, não apagam as marcas 
das fases anteriores, ou seja, cada espaço é constituído por um conjunto de 
peculiaridades, que vão sendo impressas ao longo do tempo. A introdução das 
inovações tecnológicas e a aceitação às mudanças são próprias de cada sociedade, 
que as recebe com maior ou menor grau de resistência.
Todavia, a particular articulação de resistência ou de aceitação face às 
inovações tem o poder de definir a essência de uma sociedade e explica suas 
conexões com o global.
Todas as mudanças, independente da natureza, não podem ser tratadas 
isoladas dos momentos em que se produziram, pois é necessário documentar e 
contextualizar os processos, suas causas e seus ritmos.
A cidade permanece como um conceito geográfico, pois possibilita incluir 
os aspectos físicos e morfológicos, além dos sociais, econômicos, políticos e 
culturais que formam a complexidade dinâmica da sociedade urbana. 
Todas as mudanças produzidas pela globalização da sociedade são 
importantes na organização da vida social urbana. 
IMPORTANT
E
Segue um artigo redigido por um ex-aluno de Pierre Monbeig, e assim como 
Milton Santos, este ex-aluno foi um dos grandes nomes dentro da academia geográfica 
brasileira – Aziz Ab´Saber!
Pierre Monbeig: a herança intelectual de um geógrafo
Aziz Ab’ Sáber
É muito difícil falar de um mestre geógrafo que era admirado e venerado pela grande maioria 
de seus alunos. Mas seria indigno, para qualquer um de seus discípulos vivos, deixar de 
registrar a memória que tem de um professor diferenciado que marcou o destino cultural 
de toda uma geração. Éramos gente, predominantemente, de classe média baixa sofrida e 
empobrecida. No entanto, tínhamos grande orgulho e satisfação íntima em alterar nosso 
cotidiano miserável com a alegria indiscutível de assistir às aulas e receber conselhos de uma 
legião de professores competentes, metódicos e atualizados com as circunstâncias de sua 
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
22
época. Dentre eles, destacava-se Pierre Monbeig, que permaneceu no Brasil, trabalhando 
na Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da recém-criada USP, por onze anos, do fim da 
década de 30 até a primeira década dos anos 40 (1935-1946).
Repito: difícil relembrar a figura do bom, seguro e inteligente mestre que adotou o Brasil 
como sua segunda pátria, até o fim de seus dias [...]. 
A chegada ao Brasil para lecionar na Filosofia
Pierre Monbeig veio ao Brasil para se agregar aos professores 
da missão francesa, convidada a participar da fundação da 
Universidade de São Paulo. Tinha, de saída, o difícil desafio de 
substituir um brilhante antecessor, que permanecera apenas 
alguns meses em São Paulo, transferindo-se depois para a 
Universidade do Brasil, no Rio de Janeiro. Efetivamente, o professor 
Pierre Deffontaines era uma personalidade aparentemente 
insubstituível. Dissidente da Sorbonne, mutilado de guerra, 
autor de livros de textos reconhecidos internacionalmente, 
Deffontaines havia tomado todas as iniciativas para implantar o 
ensino universitário das ciências geográficas em São Paulo e no 
Brasil. Coube a Monbeig, com sua tranquilidade, sua linguagem 
cartesiana, e sua coerência de pesquisador e professor, dar 
continuidade plena e consolidar o trabalho iniciado por 
Deffontaines.
Havia um problema linguístico a ser superado. Não era fácil chegar a um país da então 
distante e marginalizada América Latina, e, de pronto, aprender o português e ministrar aulas 
na língua local. Enquanto aprendia e se exercitava na fala do português, Monbeig ministrava 
todas as suas aulas em francês. Cabia à professora Maria da Conceição Vicente de Carvalho 
a tarefa de paralelizar e fazer acréscimos aos temas tratados [...]. Na ocasião, por essa e outras 
razões culturais, todos nós ficamos devendo uma obrigação à parte a Pierre Monbeig, por 
nos ter permitido ingressar numa língua de importância universal para a ciência de uma 
época [...]. 
Lembro-me dele, a percorrer o longo corredor do terceiro andar da Escola Normal Caetano 
de Campos, transitando com rapidez pronunciada para chegar até à sala do canto, voltada 
para a Praça da República e a Rua Sete de Abril. Com o mesmo vigor que possuía ao ensejo 
das excursões de campo, subindo ou descendo morros e chapadões para obter um ponto de 
observação mais aprofundado sobre a paisagem ou se achegar a algum homem do campo 
para uma entrevista dirigida, visando à compreensão da vida agrária regional.
A despeito de sua tranquilidade habitual, Monbeig era uma pequena fera crítica perante a 
mediocridade de alunos, candidatos a alunos, ou escritos genéricos e epidérmicos, feitos por 
quem quer que fosse [...].
As atividades extraclasse
 
Terminados os exames, uma esperada lista dos resultados era afixada no centro do longo 
corredor Escola da Praça. O medo de ter sido reprovado, decepção para alguns, alegria 
inusitada para os bem-sucedidos. Outra surpresa: uma pequena nota à margem da lista 
dos aprovados, convocando os calouros para um primeiro dia de aula... Que deveria ser 
diretamente realizada no campo, através de uma excursão programada.Assinado: Pierre 
Monbeig, professor de Geografia Humana.
Foi através dessa iniciativa que a turma de 1941 foi introduzida ao conhecimento da paisagem 
e dos fatos cumulativos constituídos pela história dos grupos humanos e dos processos 
econômicos sobre o espaço geográfico. Nada de mais importante poderia ter marcado 
TÓPICO 1 | FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA SOBRE GEOGRAFIA URBANA
23
nosso destino, na escolha de uma ciência para ser cultivada pelo resto de nossas vidas, 
do que aquela primeira e predestinada excursão sobre o terreno. A iniciativa era da inteira 
responsabilidade de Monbeig [...]. Pelas suas mãos estávamos sendo iniciados na fascinante 
aventura cultural de compreender a organização antrópica imposta — com erros e acertos — 
à organização herdada da natureza [...].
Era necessário iniciar-se por trabalhos analíticos sobre temas reais, percebidos no teatro 
geográfico das atividades humanas, quer no mundo rural quer no urbano. Antes de se 
iniciar nos trabalhos de campo e na percepção das relações entre os homens e a terra, e os 
homens e a sociedade, era impossível teorizar. Foi um lembrete oportuno e definitivo para a 
formação de jovens geógrafos que um dia teriam de tratar das sérias e diferenciadas questões 
regionais brasileiras, desde a Amazônia até os sertões secos, as planícies costeiras e os planaltos 
interiores dominados por matas ou cerrados, bosques de araucárias e pradarias mistas. Locais 
onde a estrutura fundiária tendia a se enrijecer, o espaço geográfico tornava-se mercadoria, os 
trabalhadores rurais e urbanos eram tratados apenas como mão de obra braçal, sem direitos e 
sem proteção.
Fiel ao lema de introduzir seus alunos em tarefas de iniciação, feitas diretamente no campo, 
Pierre Monbeig exigia deles estudos múltiplos sobre subáreas da região de São Paulo e de 
seus arredores. Ele sabia que nós, alunos egressos de classes pobres, não tínhamos recursos 
para realizar pesquisas em áreas distantes, que exigissem despesas de viagens, estadia e 
transportes [...].
A fim de colocar-nos em dia com o cotidiano da vida paulista e brasileira, incentivava-
nos, através da leitura dos jornais, ao mesmo tempo em que chamava nossa atenção para 
percebermos conjunturas diferentes das ações antrópicas sobre um só e mesmo espaço 
territorial. Ou seja, pensar os cenários de um setor qualquer do espaço geográfico, em 
épocas históricas diversas [...].
Introduzindo seus alunos na geografia urbana
Outro campo em que Pierre Monbeig conseguiu influenciar profundamente seus alunos foi 
o do terreno da geografia urbana [...]. Monbeig incentivou alunos e ex-alunos a realizarem 
monografias sobre os núcleos urbanos que melhor conheciam: ou por terem neles nascido, 
ou porque neles desenvolveram atividades de ensino. Dessa sua iniciativa surgiram vários 
estudos, mais tarde publicados em revistas, as mais diversas [...].
A justa preocupação de Monbeig com o estudo das cidades foi colocada em um trabalho 
pioneiro entre nós, publicado com o título de O estudo geográfico das cidades (SP, Revista 
do Arquivo, 1941). O ponto alto desse artigo foi a introdução, no Brasil, dos conceitos de sítio 
urbano, posição geográfica e estrutura espacial das funções urbanas [...].
Entretanto, Monbeig não se contentou com as observações iniciais que teceu sobre o 
estudo geográfico das cidades e, mais tarde, quando da reprodução do artigo no livro Novos 
estudos de Geografia Humana Brasileira (Difusão Europeia do Livro, 1957), acrescentou um 
apêndice incluindo novas informações bibliográficas e um grande número de conselhos 
metodológicos, entranhados do maior bom senso, dignos da maior reflexão.
A carreira acadêmica
Antes de aceitar o convite para vir ao Brasil, Monbeig era professor iniciante em Caen, na 
Normandia. Tinha a ideia fixa de conseguir recursos para elaborar uma tese sobre as ilhas 
Baleares, na Espanha [...]. Mas, aqui chegando, foi capturado pela temática de uma região 
brasileira que se encontrava em pleno desenvolvimento rural e urbano, ainda que estivesse 
nos últimos estertores com relação à monocultura cafeeira [...]. Matas sendo suprimidas, 
vilas de apoio criadas, imigrantes chegando das mais variadas partes do mundo, ferrovias se 
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
24
estendendo com paradas de trens favorecendo a criação de importantes centros urbanos 
— futuras capitais regionais. Economia regional se dinamizando e se destacando no conjunto 
dos espaços produtivos do Brasil. Repercussões do mundo rural e urbano no crescimento 
de uma grande cidade candidata a metrópole. Industrialização se avolumando. Movimento 
cultural em pleno desdobramento: no jornalismo, no campo editorial, nas bibliotecas 
públicas, na vida universitária.
Comparado à França provincial, onde tudo estava consolidado e aparentemente já produzido, 
São Paulo era um espaço geográfico de múltipla dinâmica, que encantava os observadores 
alienígenas. 
Mesmo de longe, o exemplo a ser seguido
 
[...] Em um congresso de cientistas franceses [...], o mestre intuitivo que nele existia procurava 
reorientar o pensamento de seus colegas para o campo da interdisciplinaridade indispensável 
às tarefas de aplicação de ciências a diferentes interesses da sociedade e do desenvolvimento 
econômico e social [...]. Se não houver um esforço paralelo das ciências humanas para detectar 
defeitos da organização e do atendimento à sociedade, nenhuma ciência ou conjugação de 
ciências pode ser útil e ética em sua pretensão de aplicabilidade. Monbeig estava no caminho 
certo quando enfrentou seus colegas, deles recebendo o silêncio como resposta. 
Aziz Ab’Sáber (1924-2012), era geógrafo, presidente de honra da Sociedade Brasileira para o 
Progresso da Ciência (SBPC) e professor emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências 
Humanas da Universidade de São Paulo (USP).
FONTE: Texto parcial extraído do artigo de Aziz Ab´Saber. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40141994000300024&script=sci_arttext>. Acesso em: 4 
nov. 2012.
25
Neste tópico vimos que:
• A geografia urbana é uma ciência que contempla as dinâmicas sociais, espaciais 
e econômicas que envolvem o espaço urbano.
• Os franceses Pierre Deffontaines e Pierre Monbeig vieram ao Brasil a convite 
do governador de São Paulo e participaram da fundação da Universidade de 
São Paulo – USP.
• As pesquisas científicas urbanas brasileiras tiveram importante contribuição 
dos franceses Deffontaines e Monbeig.
• O processo de urbanização dos países subdesenvolvidos foi tardio, comparado 
aos países desenvolvidos.
• Nos países subdesenvolvidos a Revolução Industrial acontece em paralelo ao 
processo de urbanização.
• O espaço urbano é produzido pelos agentes sociais, portanto é um produto 
histórico.
RESUMO DO TÓPICO 1
26
1 O governo paulista, no ano de 1934, convidou para vir ao Brasil dois 
pesquisadores franceses, que tiveram uma importante contribuição para a 
geografia urbana no Brasil. Fale sobre os pesquisadores e das suas respectivas 
contribuições para o país.
2 Para o pesquisador sociólogo francês Henry Lefebvre (2006), a Terra foi o 
grande laboratório do homem. Aponte alguns fatores do mundo capitalista 
que favorecem o espaço urbano desigual e mutável.
AUTOATIVIDADE
27
TÓPICO 2
URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
UNIDADE 1
1 INTRODUÇÃO
Para a Geografia, a urbanização brasileira relaciona-se diretamente à 
redução da população rural e o consequente aumento da população urbana, pois 
as cidades crescem motivadas pelos avanços técnicos. Atraídas pela esperança 
de empregos melhores, multidões deixam seu lugar de origem, normalmente o 
campo, e vão para os ambientes urbanos, em busca de oportunidades melhores 
de vida. Todavia, muitas cidades não apresentam uma estrutura satisfatória para 
receber e manter esse volume numeroso de pessoas,situação esta que reflete 
na paisagem, através das ocupações de áreas urbanas impróprias; por outro 
lado, todas estas transformações contribuem para a formação e dinamização de 
formação das chamadas redes urbanas, em um processo de integração material 
e virtual dos lugares, devido, sobretudo, ao desenvolvimento dos recursos 
tecnológicos.
2 O PROCESSO DE URBANIZAÇÃO NO BRASIL
O Brasil foi, durante muitos séculos, um grande arquipélago, formado por 
subespaços que evoluíam segundo lógicas próprias, ditadas em grande parte 
por suas relações com o mundo exterior. Havia, sem dúvida, para cada um 
desses subespaços, polos dinâmicos internos. Estes, porém, tinham entre si 
escassa relação, não sendo interdependentes. (SANTOS, 2005, p. 29).
Conforme Veiga (2003), o Decreto-Lei no 311, de 1938, transformou em 
cidades todas as sedes municipais existentes, independentemente de suas 
características estruturais e funcionais. Para o enquadramento na categoria das 
futuras cidades passou a ser exigida a existência de pelo menos 200 casas, e para 
as futuras vilas (sedes de distrito), um número mínimo de 30 moradias. Todavia, 
todas as localidades que até àquela data eram cabeça de município passaram a ser 
consideradas urbanas, mesmo que sua dimensão fosse muito inferior ao requisito 
mínimo fixado pelo decreto.
Povoados e vilarejos tornaram-se cidades da noite para o dia. 
Faz-se necessário observar que, até 2 de março de 1938, o Brasil não contava 
com um modelo normativo padrão para classificar os espaços como cidade e vila, 
o costume era elevar a estas categorias todos os pequenos aglomerados. Neste 
período foi instituído o Decreto-Lei nº 311, que teve como uma de suas missões 
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
28
promover a uniformidade das delimitações territoriais do quadro da República. 
O referido decreto-lei passou então a regulamentar as unidades territoriais 
administrativas no país, da seguinte forma:
Art. 3º A sede do município tem a categoria de cidade e lhe dá o nome.
Art. 4º O distrito se designará pelo nome da respectiva sede, a qual, 
enquanto não for erigida em cidade, terá a categoria de vila.
Com a República surge, portanto, o interesse em estabelecer regras de 
definição para estes núcleos. Assim, uniformizou-se como cidade toda sede de 
circunscrição territorial, independente de quaisquer características estruturais. 
Na década de 90, através do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística 
(IBGE) criam-se três categorias para as áreas urbanas, sendo elas: urbanizadas, não 
urbanizadas e urbano-isoladas; e quatro tipos de aglomerações rurais: extensão 
urbana, povoado, núcleo e outros. 
Desta forma, entendem-se no Brasil como população urbana todos os 
habitantes de qualquer sede municipal, mesmo que sejam localidades desprovidas 
de infraestruturas básicas essenciais. Por exemplo, os dois mil habitantes 
que moram na sede do município de Assis, no Estado do Acre, no Brasil, são 
considerados urbanos, independente das funções que esta população local 
desempenha, do gênero de vida, da forma de civilização e do nível intelectual dos 
seus habitantes. Uma contradição na concepção de cidade como espaço urbano e 
centro regional com serviços especializados.
Portanto, o rural e o urbano excedem os limites espaciais tradicionais, 
principalmente porque nem sempre o território é construído respeitando as 
fronteiras tradicionais dessa configuração, ou seja, ele não cabe dentro de uma 
divisão político-administrativa e deve ser entendido como um espaço socialmente 
construído por um determinado grupo social na produção e reprodução de sua 
existência.
TÓPICO 2 | URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
29
O Decreto-Lei nº 311/38 havia exigido a delimitação dos quadros urbano e 
suburbano das sedes municipais e distritais, conferindo ao Conselho Nacional de Geografia a 
atribuição de estabelecer os requisitos mínimos para a elaboração dos mapas. A uniformização 
pretendida foi alcançada mediante cumprimento bastante criterioso dessas normas, para as 
quais o prazo estabelecido era inadiável. Foi com esses atos, baixados por prefeitos num 
período em que não funcionavam as câmaras municipais, que se consagrou a figura legal do 
perímetro urbano.
Mas a autonomia conferida aos estados no período pós-1946 resultou em adoção de critérios 
variáveis e diversas interpretações sobre o que deveria ser o perímetro urbano. (Bernardes, 
Santos & Walcacer, 1983:47). De qualquer forma, o que continua até hoje definindo a área 
urbana do município é a lei do perímetro urbano, de competência exclusiva municipal, 
servindo tanto para fins urbanísticos quanto tributários. É esse perímetro urbano que indica o 
limite oficial entre as áreas urbanas e rurais (IBGE, 2001-b: 116).
FONTE: Disponível em: <http://www.anpec.org.br/encontro2001/artigos/200105079.pdf>. 
Acesso em: 28 nov. 2012.
ATENCAO
Economia 
Com relação ao setor econômico do país, pode-se afirmar que, até o final 
da Segunda Guerra Mundial, as bases financeiras das capitais brasileiras ainda 
estavam fundamentadas na agricultura e nas funções administrativas privadas 
e, principalmente, nas públicas. Tal fato justifica o crescimento populacional 
brasileiro, que se deu de forma desigual nas regiões do território, de acordo com 
o nível de influências diretas e indiretas e das decisões tomadas por autoridades 
que viviam em áreas distantes dos aglomerados urbanos.
No Brasil, entre as décadas de 1940 a 1980, tem-se uma verdadeira inversão 
quanto ao lugar de moradia da população. A taxa de urbanização, que era de 
26,35% em 1940, passa a 68,68% no ano de 1980. Todavia, como o crescimento 
populacional não acontece de maneira homogênea nas regiões, o processo de 
urbanização se dá de forma diferenciada, ora motivado pela expansão da fronteira 
agrícola, ora dinamizado pelas correntes migratórias. 
UNIDADE 1 | ABORDAGEM GEOGRÁFICA DO FENÔMENO URBANO
30
GRÁFICO 3 – DISTRIBUIÇÃO PERCENTUAL DA POPULAÇÃO NOS CENSOS DEMOGRÁFICOS, 
SEGUNDO AS REGIÕES BRASILEIRAS - 1960/2010 
FONTE: Adaptado por Toniolo (2012). Disponível em: <http://www.censo2010.ibge.gov.br/
sinopse/index.php?dados=9&uf=00>. Acesso em: 13 dez. 2012.
Pode-se afi rmar ainda que o intenso movimento de urbanização que 
acontece a partir da Segunda Guerra Mundial surge em resposta ao forte 
crescimento demográfi co, consequência da alta taxa de natalidade e baixa taxa de 
mortalidade, cujas causas essenciais fundamentavam-se nos avanços sanitários e 
na melhoria relativa no modo de vida da população, associado, muitas vezes, à 
própria urbanização.
Diante das inúmeras transformações ocorridas no país e com as 
implementações das políticas públicas defi nidas nos governos de Getúlio 
Vargas e Juscelino Kubistchek, o cenário político e econômico nacional muda 
completamente, ou seja, o Brasil deixa de ser um país agrário exportador para 
tornar-se urbano industrial.
Portanto, tem-se o crescimento da economia brasileira, tanto para suprir 
a necessidade do novo mercado consumidor que está em expansão, como para 
atender à demanda do mercado internacional, ou seja, com o novo modelo de 
produção, o país se transforma num grande exportador de produtos agrícolas e 
de produtos industrializados. Favorável a este quadro, tem-se o desenvolvimento 
do trabalho científi co informatizado, proporcionando maior conhecimento 
TÓPICO 2 | URBANIZAÇÃO BRASILEIRA
31
territorial graças às novas possibilidades de aquisição de informação por radar 
e satélites. A partir daí, surgem as novas formas geográfi cas, explicitadas nas 
signifi cativas transformações em vários níveis e dimensões, instalando-se uma 
nova fase do capitalismo de produção no Brasil. 
FIGURA 9 – CHARGE FAZ CRÍTICA À POLÍTICA INDUSTRIAL DE JK
FIGURA 10 – VOLKSWAGEN COMEÇOU DE FORMA MODESTA, NUM GALPÃO ALUGADO NO 
BAIRRO DO IPIRANGA, EM SÃO

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