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Wolverine blues2015-1

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WOLVERINE BLUES 
 
Sempre fui um azarado pra emprego. Colocava currículos mas nunca chamavam, 
entrava em empregos que nunca duravam e trabalhei pra pilantras que nunca pagavam. 
Robsão, você vai morrer, fdp! 
Nunca arrumava, mas quando algum parecia dar certo não passava de 30 dias. 
Janaúba era a cidade do desemprego, mas pra mim a coisa era ainda pior. Uma vez tava 
no provador de roupas de uma loja quando ouço uma conversa que muito me interessa. 
‘a senhora não teria um menino pra trabalhar na loja?’ ‘tem meu filho de 13 anos. Mas 
não sei se pode, vou falar com ele’. E eu ouvindo aquilo com exatos... 13 anos! Porque 
o fdp não falou pra mim, que ele sabia que tinha essa idade?? Mal a mulher virou a 
costas fui pro balcão. Passei a compra, dei um tiro. ‘humm não sei. Aquela senhora 
ficou de mandar o filho. Vou ver com ele primeiro’. 
Sai dalí cuspindo fogo. Como pode? Parece macumba. Outra vez, cansado de ir 
fisicamente, imaginei que talvez minha aparência tivesse dando azar. Peguei uma lista 
telefônica, separei os prováveis lugares que me dariam emprego, peguei um cartão de 
longa duração e fui à caça. Liguei pra todo mundo. E ia anotando os resultados em ‘ligar 
depois’, ‘ir ao endereço tal’. Fiz isso umas 3 vezes, em datas diferentes. Numa última 
deu 1 acerto. Uma marmoria topou na hora sem questionar. Era o dono. Marcada as 
horas baixei lá. Conversei e fiquei de começar no dia seguinte. Quando chego lá vi um 
vizinho meu no corpo de funcionários. Nem isso foi suficiente pra eles não hostilizarem 
comigo. Todos ganhavam comissão e não tinham tempo a perder ensinando novato. Eu 
caguei praquilo tudo e em 30 dias estava na rua. Recebi pelo rendimento então foi uma 
mixaria. Isso não sem antes levar um corte de ardósia na mão, que carrego a marca ate 
hoje – aquela porra é afiadíssima! -, quase perder a cara numa serra circular cortando 
pedra e sofrer bullying por usar protetor auricular concha - evite isso usando o estilo 
macarrão. Chamavam me de professor Pardal. Na hora da demissão ouvi a frase que 
mais odeio: ‘amanha você não precisa vir mais não’ 
Outro dia ouvi no rádio um anúncio: ‘estamos contratando’. Quando você ouve 
isso no rádio é porque tem marmelada. Mas fui, que opção tinha? Fiz a entrevista. Era 
só aguardar em casa. Como eu não tinha fone o jeito foi voltar na semana seguinte pra 
pegar o resultado. Fora aprovado. Mais um motivo pra ser bucha. O trampo era uma 
serraria no Barbosas. Encarei uns bons 5km pra chegar. Isso de bike. Comecei fazendo 
caixa de bananeira. Era preciso bater cerca de 8 000 pregos por dia pra estar na meta da 
empresa. Fui chamado à atenção porque empaquei no 2500. Com muito esforço cheguei 
nos 3500. Como ainda estava pouco me puseram na limpeza. Eu teria que retirar todo 
pó de serragem sob das máquinas. E num prazo recorde, pra não ter que pará-las. Porém 
onde eu limpava o serrador fica jogando lascas, pontas não aproveitadas. Essas eram 
agudas e aquilo estava quase acertando minha cara. Mas o operador não podia fazer 
nada, era o trampo dele. Ele não ia parar tudo, nem jogar noutro lugar. E ademais não 
rendi o suficiente. Chamaram-me no escritório: ‘amanhã você não precisa vir’. Urrh! 
Foi triste, mas foi até um alívio. Andar aquela distância toda, comer bóia-fria 
paga do bolso e ainda ser malvisto. Fuck off! 
Outra vez entrei numa madeireira. A mais famosa da cidade. Não foi 30 dias e 
eu estava na rua. E isso pagando meio salário mínimo por mês. Nosso local de trabalho, 
onde dávamos acabamento nos móveis era anexo ao escritório do chefe. Um dia a gente 
brincou demais e ele não hesitou. Rua pra uns 3. Senti falta do café da tarde. Era só um 
pão, manteiga e café, mas como isso lá em casa não existia então era pra mim como 
manjar dos deuses. Nessa época estava começando a febre das padarias com pão quente 
em dois horários então era uma loucura. 
Depois fui carpir com minha mãe. O cara me demitiu e segurou ela. Motivo? Ela 
rendia, eu não. 
Dalí fui pra uma gleba. No começo foi uma maravilha eu me tornei amigo do 
dono então chovia regalias. De ir com ele no clube fim de semana a pagar minhas 
contas. De comer na cozinha dele qualquer hora a beber água de côco o dia todo. De 
viajar a turismo com ele tudo pago a aprender dirigir com seu carro e ainda bater o 
veículo. A mais hilária era não trabalhar segunda feira. Um dia esqueci e fui. Mandou 
me voltar. E isso é apensar 10% das mordomias. Mas se ele estava cego, a parentagem 
não. E caíram matando. Com a pressão acabei saltando fora. Mas isso 6 anos depois. 
Uma rádio também me demitiu uma vez. Ia faltar e pus um amigo no lugar. O 
cara não foi e não deu outra. Rua! 
A coisa estava ficando feia. Mas apareceu um trampo de servente de pedreiro e 
fui. Fazia a massa tudo certinho, mas o cara queria que eu, após fazê la, mantivesse me 
movimentando nos intervalos mesmo que ele não estivesse precisando de mim. Ou seja, 
um fdp. Recusei e rua! De novo. 
Um vizinho trabalhava numa estufa de plantas. Agilizou um trampo pra mim. 
Tinha que andar 3km de bike pra chegar. Mesmo assim topei. Queria ser conhecido 
como o cara quem azar, mas não que tem preguiça. Tô lá nas mudas e sempre vinha um 
cara dizer pra mim que eu estava com rendimento abaixo da média. Veio uma, duas 
vezes. ‘ó, tão falando aí que se você nao render é rua’. Porra, mas eu estava no meu 
limite. A gota foi quando um dia faltei pra ir ao banco. Pedi que meu amigo avisasse o 
gerente. Ele não o fez. Cheguei no dia seguinte e notei um clima estranho. Peguei a 
carriola pra ir pro trecho e o gerente chamou me. ‘pode deixar aí. Amanhã você não 
precisa vir mais nao’. Puta que pariu! De novo?! 
Ficava um tempo parado e o clima em casa ia pesando. Vi um anúncio nos 
classificados. Em pouco tempo tava trabalhando. Era uma transportadora. Das violentas. 
O horário era puxado e o trampo mais ainda. Tinha que encher carretas e caminhões em 
tempo curto e os volumes não eram leves. Além disso tinha que caça-los numa 
montanha com relógio marcando em cima. Eu não estava conseguindo fazer nem uma 
coisa nem outra. Pra eles eu era lento e em peso eu pedia ajuda. Cheguei uma manhã. 
‘você não precisa vir mais nao’. Foi outro também que não importei muito em perder. 
Era penoso demais. Longe pra ir de bike, pegava peso demais e pagavam pouco. 
Só um emprego deu certo. Na verdade meio certo. Foi assim. Vi um anúncio de 
emprego, mas não dizia o quê. Segui o endereço e quando chegou vi quer era uma 
funerária. Percebi a malandragem, mas não hesitei. Na época eu já curtia metal e isso 
era unir o útil ao agradável. Vi que metade das pessoas desistiram, e a outra metade 
desistiria depois. Só restaria eu e uma corajosa e simpática gorda. Era pra vender plano 
funerário. O trampo tinha várias qualidades, sendo elas: só meio período, o trampo era 
leve e a primeira mensalidade era sua. Ou seja, se o cara pagasse no ato da venda você 
já saía com dinheiro. Ah, e você ia de carro (funerário) pro trecho. Parece pouco, mas 
era meu primeiro trampo com transporte. Mas porque meio certo? Porque enquanto todo 
mundo vendia de 3 a 5 planos por dia, eu vendia 1. E isso foi caindo. 
 
 
166 
Odiava meus parentes. Em vez de me ensinar a pescar eles davam me o peixe 
(quando davam) e ‘metiam a boca’ em mim pelas costas. Que eu não queria trabalhar, 
que eu era preguiçoso. 
Um amigo era boiador de gado e disse que havia uma vaga. Achei que não 
dessem, mas de tanto ele insistir eu fui. Peguei a vaga. 
-basicamente você fica o dia todo sem fazer esforço físico. Só cuidando pra que 
as vacas não invadam propriedades. 
-ok. - Fui lá falar com o homem. Era Santos Borges, colono tido como carrasco 
na redondeza. Fazendo jus a sua fama de machão, ele criava o gado na rua, corredores 
existentes entre as propriedades. O povo metia a boca, mas no fim ninguém tinha peito 
pra encará-lo. Viviam ele, a mulher meia dúzia de filhas gostosas, que tinhamo habito 
de sentar de pernas abertas como homem. Algumas não usavam calcinha e uma mijava 
no fundo da casa. 
Comecei o trampo. Mesmo com medo, adorei os primeiros dias. Ficava-se de 
fato ‘de boa’ o dia todo. Além do que ninguém mexia com o gado de Santos. Nego 
perguntava e quando você falava a pessoa não dizia mais nada. Era fim de papo. 
Decepção foi no fim do mês. Ele me roubou 8 dias na caruda. Como? Chegou o dia do 
vencimento do mês e ele disse que ainda faltavam 8 dias pra vencer o mês. Virei lhe as 
costas pra ele não me ver chorando. Engoli seco. Uma lágrima teimou em descer. Bola 
pra frente. 
Foi um tempo bom e ruim. Era sofrido, mas tinha a parte boa. Trampava 
tranquilo, ninguém enchia o saco. Salve casos em que o gado invadia a roça do povo. Aí 
era foda. Levei uma carreira de Pe de Neném, um gigante dono de uma horta às 
margens do grutuba. Depois outro cara fez coisa parecida. Sorte que ele desistiu senão 
pegava. Eu era bem novo. Um dia recebi uma proposta melhor e ‘dei linha’ sem avisar. 
Irresponsabilidade? Também, mas antes tava puto, tava de saco cheio. Foi uma 
felicidade libertar daquela tirania. 
Fui trampar em Tiê, o sítio em que meu tio cozinhava. Lá eu tinha fins de 
semana livres e mais cascalho no bolso. Fiquei pouco tempo nesse trampo. Mas o 
suficiente pra rolar muita coisa. A coisa funcionava assim: meu tio era o cozinheiro. 
Cozia pra meia dúzia de peão. Nessa casa, misto de cozinha e alojamento, éramos ele, 
meus 2 primos e uns 3 ou 4 caras. Meu tio que fizeram a frente. Depois chamou a gente. 
No primeiro dia de trampo, so eu e os peões no trecho um já me questionou: ‘voce é 
parente do cuca?’. Sou sobrinho porque? Eles ficaram ressabiados, mas quando disse 
que não tinha grilo eles se abriram. Foi uma de cair o queixo. O cara contou que assim 
que meus primos foram começar a trampar lá ninguém sabia que eram filhos do 
cozinheiro, que tinha fama de veado. Então, estavam lá no trecho todo mundo quando 
um cara pergunta pra meu primo: ‘porque você não come o cuca?’. Meu primo, que era 
filho do tal cuca, abaixa a cabeça e fica quieto. O cara não entende. ‘que foi, irmão? 
Falei algo de errado?’E meu primo diz em tom solene: ‘ele é meu pai’. O cara, muito 
sem jeito, pediu desculpa. Por isso ele perguntara pra mim se eu era parente. 
Gordinho contou também que assim que ele entrou pra trampar alí não sabia 
nada a respeito do velho. Então um dia meu tio, que dava uma de encarregado, foi 
mostrar-lhe um trampo. Entraram na bananeira e num dado momento ele avançou na 
frente e baixou a roupa pro cara, que não entendeu nada e recusou educadamente. Tio 
Zé era dado a viadagens. Noutra vez ‘cantou’ outro funcionário pra que descesse pro rio 
que ele ia esperá-lo. E por aí vai. 
Um dia cheguei um pouco mais cedo e flagrei-o embrulhando café e outros 
mantimentos. Ia levar pra casa, roubar o patrão na cara dura. Como Tiê, o dono do sitio, 
também era ladrão, daquele que paga pouco, então tiozé teria 100 anos de perdão. 
Alí era longe de tudo, não tinha comércio por perto. E se tivesse não teríamos 
grana. Então o jeito era improvisar. Descobrimos que havia leite no depósito do curral. 
Era pra fazer os queijos. Como tio era ‘mao leve’, ficou encarregado de saquear. 
Algumas noites a luz do curral dormia acesa. A razão eu não sei. O lance era ficar de 
bituca, de plantão. Numa daquelas noites como que combinado cai a noite e o curral 
está escuro. Ele não pensou duas vezes. Reclamou que precisava de reforço, mas 
ninguém ligou. Voltou com leite, coalhada, só não trouxe queijo porque não tinha. 
Fizemos a festa. Éramos fans de coalhada e, com o leite, ele fez doce pra todos. 
Mas todo mundo sabe que não fica escondido. Então não foi difícil o vaqueiro 
notar, pela marca na leiteira, que tinha coisa diferente alí. E não ia deixar barato. 
Numa noite daquelas o curral de novo está um breu. De repente Tio Zé some de 
novo. O bichinho era pé de pano. Quando você pensa que ele tá aqui, ele já sumiu. 
Então a gente tá por alí distraído na casa, que ficava em frente ao curral, quando ouve-se 
um alarido. A princípio ninguém entendeu nada. Mas era meu Tio correndo de shortão 
pelo curral. As luzes foram acesas, cachorros latindo. O vaqueiro tinha coalhado em 
volta do depósito, que ficava no curral, de folha de zinco. Só assim pra ver se pegava o 
larapio. E pegou. Bem, só não pegou porque ao lado do curral tinha uma mata e o 
gatuno entrou lá. Porém, ele tinha o terrível costume de andar descalço. Como não 
esperava o imprevisto foi descalço achando que entraria e sairia pelo curral, ou seja, 
sem risco. Mas não. Caiu na mata infestada de espinhos. Era uma árvore que solta uns 
espinhos duros, grossos como dedos. Aquilo fura até pneu de caminhão. Mas pelo 
menos fugiu do flagrante. Passou-se a idéia de que era algum desconhecido. 
3hs depois aparece meu tio com o pé todo furado, andando torto e reclamando. 
Até Tuca, seu filho mais novo, caiu na risada. Não na frente dele, claro. 
Era fim de ano e um dia, quando tio foi alimentar os porcos, que ficavam num 
chiqueiro afastado, se deparou com uma sanguera. Tinham não só levado 6 suínos como 
também o cara tratou, limpou e embalou alí mesmo. Só deixou as tripas e outros 
miúdos. ‘é muita folga!’, disse. 
Ele também era dado a macumba. Gabava-se o maior mandingueiro do bairro. 
No sítio não tinha TV nem rádio. Então a diversão pós janta era o baralho. Adorávamos. 
Porém, tinha gente que não jogava, queria dormir mais cedo em silêncio. Claro que 
jogávamos dentro do horário padrão sem passar das 21hs. Porém, mesmo assim tava 
pouco e um deles caras começou a pegar no nosso pé. Foi reclamar pro meu tio, que 
vendo onde tava o erro, passou a nos defender. O cara ficou puto ofendeu-o e chamou 
pra porrada. Meu tio não é de briga, e se fosse apanharia. Mas daria o troco na hora 
certa. No dia seguinte o cabra saiu pra trabalhar e tio disse: ‘ele não cara não passa 
dessa semana aqui’. Foi dito e feito. Jogou um pó de mico ‘batizado’ na cama do cara, 
que após dormir nela aquela noite no dia seguinte foi trabalhar. Isso era uma sexta-feira. 
Por lá achou uma casa de marimbondos e correu. Tropeçou e a enxada acertou lhe o pé, 
um corte profundo. Aquilo sangrou muito, ele foi pro hospital e segunda-feira não tava 
mais lá. Pediu as contas e voltou pra sua cidade, Mato Verde, a uns 80km dali. 
Passamos o fim de semana na cidade, como de praxe e, quando voltamos na semana 
seguinte, pudemos jogar à vontade. Um alívio. Mas, azarão que sou, não foi muito 
tempo e um fdp pediu aumento. Tiê em vez disso demitiu todo mundo. 
Desempregado, mãe ganhando pouco numa fazenda, as coisas em casa não 
estavam fáceis. Fui pescar pra comer. Chamei Paulo, meu primo. A represa ficava a 
4km. Peguei a bike tropical e ‘picamo a mula’. Não era hábil, mas virava-me. Chegando 
lá não pegamos nada. E comemos a carne que Paulo levou. Só demos risada e nadamos. 
Saímos de lá perto das 22hs. Na volta, passando perto da gleba de Santos, que ficava à 
margem da estrada, Paulinho, como minha mãe o chamava, quis pegar tomates. Não 
hesitei, afinal, a dispensa tava feia. Encostamos as bicicletas na cerca e entramos. A 
casa ficava a 200mts. A luz amarela ainda tava acesa. Chegamo a ripa nos tomates, que 
eram mais fáceis de encontrar, pois tinha em maior quantidade. Na hora de pegar 
abóbora não dava. Eram poucos pés e Paulo, sem ver nada, ligou a lanterna. Não devia. 
Os cachorros notaram e fizeram aquela arruaça. Ele ainda pegou algumas. 
-vamo logo, cabiçudo. – o chamei como ele me chamava. Pegamos os sacos que 
tínhamos, montamos e saímos na carreira. Achamos que ia ficar naquilo. Barulho de 
cachorro, correria e só. Nada. Começou uma xingação dos diabos. Santos tava possesso. 
Reconheci fácil sua voz. A noite estava bem escura, nada de uma lua pra ajudar encher 
as bags mais rápido. Naquela estrada não tinha um poste. A luz da casa dele ia ficandocada vez mais longe, mas ele vinha atrás xingando: 
-seu fdp. – falava no singular com se soubesse que o inimigo era um só - Porque 
não pranta pra colher? Porque não espera pra gente conversar? – o cara era bem 
desaforado. 
A gente seguiu de boa, passou da linha de divisa da sua propriedade, mas tava 
difícil. Por incrível que pareça ele não desistia. Até Paulinho, que era calmo, começou a 
se irritar. Foi então que comecei a maquinação macabra. Atraí-lo até o rio. Chegando lá 
joguei a bike na taboa, despistei e escondi-me. 
-vamo, covarde. Devolve o que você roubou e vem encarrar um homem de 
verdade. 
Joguei a camisa na cabeça e avancei pra cima da ponte. Era de manilha coberta 
por terra. Coisas do interior. 
-que é fdp? 
-vocês. Vocês (sic) é tudo um bando de cachorro sem vergonha, vagabundo que 
não gosta de trabaiar e vai pra barragem fumar maconha. - Nessa hora pensei em muita 
coisa, mas principalmente naqueles 8 dias roubados. Nas lágrimas que desceram 
naquela hora. Ceguei. Parti pra cima, ele se desvencilhou, brandiu o facão no ar, joguei 
a lanterna na sua cara, entrei por baixo e atolei a peixeira na barriga do lazarento. Dei 
mais duas e empurrei-o de cima da ponte. Se não na facada, ia afogado. Era perto da 
meia-noite mesmo, quem ia notar? 
Terminado o serviço, eu tremia. Aquilo era forte pra car**. 
-ce é doido – Paulinho desabafou. – olha o que ce fez?? Ce é louco, trata de 
sumir que vai dar merda. Esse cara é muito conhecido aqui. Vão cair matando. 
Nem quis saber. Peguei a bike e dei linha. Nem o sangue eu lavei. Dei linha pra 
fazenda que mãe trabalhava. Eram 2hs de bike. Fiquei lá um mês. Nesse meio pé correu 
a notícia, a coisa repercutiu muito. E o pior. O fdp não morrera. Fora salvo pelo filho. 
 
 
 
 
166 
Ruim nos negócios, sorte no amor? Mentira! Além de ter começado tarde nesse 
departamento em dois namoros meus não houve beijo, beijei aos 17 e transei aos 24. 
Mas logo peguei crista de galo, e só não reclamo dela porque só por ela perdi a fimose. 
Ao tirar uma na faca, a outra teve que sair. Ainda nas meninas duas eram mais velhas 
que eu 10 anos, duas tinham hálito de jibóia e uma outra era linda, mas passou a negar 
fogo depois de um tempo de cama. Assim sou eu. Joao Wolverine, seu criado. 
 
Fui levar minha mãe na casa do patrão e, enquanto aguardava decidí dar um pulo 
na casa de uma amiga, alí no bairro. Neide recebeu-me com um sorriso e ficamos 
papeando. Apesar ser da congregação cristã o papo entre nós fluía. Conversa vai 
conversa vem quis saber dela ser era possível um favor. Entregar uma carta pra uma 
‘irmã’ da igreja dela, que eu tinha uma queda e era linda. 
-pode trazer. 
No dia seguinte dei-lhe a carta e marcamos de pegar eu pegar o resultado na 
Praça do Cristo, logo após o culto. Deu 21hs e lá estava eu. 
-E então? – intimei. 
Porém notei que o tempo todo ela desconversou, disfarçou, disse que a outra não 
apareceu. Desconfiei, mas não falei nada. No fim confessou: 
-não dei nada, rasguei a carta. Ela é feia, chata, deixa isso pra lá. 
-acompanha-me até em casa? Tenho medo daquelas ruas escuras. 
Eu matutava: como assim ruas perigosas? 
-você não vem por aqui todo dia? 
-mas sempre venho com alguém. 
A viagem foi boa, viemos pondo os assuntos em dia. Neide era uma ex-vizinha 
que havia mudado de bairro. A gente tina uma certa intimidade de amigos. Só era feia, 
mas era simpática. A conversa tava boa, nem vi a hora passar. Quando dei por mim 
estávamos chegando. Da Avenida Santa Mônica, onde estávamos, era só virar mais uma 
rua e já estava em sua casa. Mas na hora de virar ela passou reto. 
-? 
-vamos conversar mais um pouco, tá cedo. 
-ok. – eu não tinha nada pra fazer mesmo. Mas, ingênuo de tudo, nem notei 
nada. Andamos mais uns 200 metros na desertidão da noite. Dia de semana era assim. 
Paramos, eu com a bicicleta na mão. A conversa seguiu mais lenta, pausada. De repente: 
-larga isso. – afastou a bicicleta e agarrou-me. Tomei um susto. Sério que não 
esperava. Leigão de tudo. E seguimos nos amassos leves, mas intensos, gostosos. Eu 
experimentando uma sensação única. Era minha primeira mulher. Dava pra notar fácil 
que ela estava muito carente e tinha muito mais iniciativa e coragem do que eu. 
Távamos naquela toada boa quando ela decide ir pra casa. 
-aqui é perigoso, tenho medo. Além do que tenho hora pra chegar 
De fato estávamos numa parte em que divide os bairros nobres, tranquilos, do 
Dente Grande, um antro da tranqueiragem braba. Eu não tava com medo, mas segui sua 
idéia. Finalizei a caminhada deixando-a em casa. 
-pode vir amanha? 
-claro. - Que sensação boa, não perderia por nada. 
Fui pra casa eufórico. Passei o resto da noite e todo o dia seguinte sonhando com 
aquilo. 
No dia seguinte lá tava eu, porem 2h mais cedo, pois ela ia cabular o culto. Em 
vez daqueles 15 minutos minguados teríamos das 19 às 21hs juntos. Bom demais. 
Assim quase ninguém desconfiaria. ‘Quase’ porque sempre tem algum cagoete da igreja 
que ia dar por sua falta na igreja e iria questionar pro seu irmão ‘cadê a irmã?’. 
Saímos dali pra trás do Gorutuba Park Hotel, uma área escura, mas tranquila. 
Mal chegamos lá e já nos atracamos. Porém, nem nessa nem na noutra ficada rolou 
beijo. Era só amasso descompromissado mesmo, mas pra satisfazer imediatas 
necessidades da carne. 
Seguimos nos apertos, Neide sempre manifestando desejo de sexo aquí e alí. 
-é grosso – disse acariciando o volume por fora da calça jeans baggy, muito 
moda na época. 
-É nada. – tentei não assusta-la. 
-é sim. Não vou aguentar. – me deixou no pânico. 
Ficamos assim mais um pouco e ela não se conteve: 
-tira. – tira pra fora - Tira pra fora. 
Opa! Fui arrancando o bicho, a baggy apertava, dando um trampo pra tirar 
qualquer coisa dalí. Quando tava quase pra sair passou gente. Interrompi. Depois fui 
tentar de novo, passou mais gente. Eu não queria nem saber e parti pra uma última 
tentativa da noite quando me aparece uns trombadinhas correndo. Nessa hora ela 
desistiu e pediu pra sairmos dalí. Tava com medo. Tentei tranquiliza-la, mas esforço em 
vão. Que ódio!, pensei. Saímos pelas ruas, eu puto da vida, bago doendo. Saímos na 
rodoviária, seguimos pelas calmas ruas do São Gonçalo até pararmos num lugar ermo, 
perto de sua casa. Deitamos ali mesmo no chão. Mal começou a pegação e ela quis sair 
fora de novo. Já era. 
-Volta amanhã que faremos. Eu também tô morrendo de desejo. – pra mim já 
tava com cara de enrolacão 
Porém no dia seguinte eu ia começar trampo novo. Portanto pra ve-la eu teria 
que fazer 30km de bike. Era a ida e volta do trampo. O que fazer? O jeito era encarar a 
estrada sem pestanejar. Mas de boa. A vida é feita de esforço, era isso que me 
ensinavam os livros de autoajuda. Fui pra casa, puxei um ronco. 
No dia seguinte pulei cedo da cama. Cheguei perto das 7hs. Eu vinha de um 
trampo onde o patrão era opressor, então ali estava sendo um alívio. Duas novidades 
juntas: namoro e trampo. Bom demais pra acreditar, ainda mais comigo, que era um 
verdadeiro azarão. 
No trampo novo, que meu tio arrumara pra mim tudo foi bem. Eu não via a hora 
de chegar o fim da tarde pra voltar pros braços daquela magrela. Ela fez um voto. Quem 
sabe? Então deu 16hs, fim do expediente, tomei uma agua fria e ‘piquei a mula’. 15km, 
fui pelo asfalto, pra chegar mais rápido. Cheguei todo estropiado, moído de cansaço. 
Tomei um banho, dei um tempo e ‘caí dentro’. Chegando la ela veio com um papo de 
que os lugares eram escuros, pra eu arrumar um lugar bom, etc. então ficamos na casa 
dela mesmo, na calcada. O máximo que rolou foi um dedo. Já foi um avanço, mas fiquei 
muito puto. 
No dia seguinte mais 15km, meus primos já na expectativa: ‘e aí, pegou?’. 
‘peguei porra nenhuma’. ‘mas é um mole mesmo!’ 
E no encontro seguinte... não houve encontro. Ela deu o bolo. Esperei depois do 
culto. Ela não foi, ou mudou de caminho. Tentei outro dia.Nada. Outro dia a vi durante 
o dia. Ela tentou sair fora, mas fui atrás. Desconversou, mas no fim confessou que, por 
mim, apanhara do irmão. Tava toda marcada de hematomas. Sem dar certeza ainda 
aceitou uma data. Mas não foi de novo. Decerto tava sendo coagida pelo safado. O duro 
é que ela era de maior, tinha ate 10 anos a mais que eu. Esse cara é um otário, um crente 
safado, que vivia atrás de pornografia, eu conhecia seu passado. Mas diante dos ‘irmãos 
de fé’ se fazia de ovelha. Era hora de dar lhe uma lição. 
Fui falar com Alex, meu chefe de segurança. 
-conheço. Ele não sai lá do clube – Canto Clube, onde ele trampava. – deixa 
comigo. 
Durante a semana Alex foi no DG falar com Dida, um mão leve bem famoso na 
cidade. Batia uma carteira com tanta competência que você nem dava fé. 
No sábado tudo pronto. Tá lá Alex e sua equipe dando duro no posto de 
segurança. Era um clube voltado pro rock, frequentado por uma galera universitária. 
Eram 12 seguranças, a casa vivia com lotação esgotada. 
Cunhadim frequentava escondido pros irmãos não saberem. Tinha virado crente 
há pouco tempo, velhos hábitos custam a sair. Mas não era sempre que ia, segundo 
Alex. Se não viesse essa noite, paciência. Mas por sorte pouco antes da meia lá estava 
ele, como um gato pardo. Chegou de fininho, pediu uma Stela, sua preferida e se 
acomodou. Cara de mau gosto. Fé errada, cerveja errada... só acertou na mulher. 
Damaris era uma gostosa, corpo de sereia e pouco usada. 
O maluco saiu pro fundo, Alex olhou pra mim, passou sinal pro Dida, que 
sapecou atrás. As pessoas continuavam chegando, chovia fininho. A noite pedia baixos 
teores, mas a chapa ia esquentar. Ah, ia. Depois de um tempo o cunhado apareceu de 
novo. Pediu uma vodka e se enturmou com a turma da área vip. O nosso trato não era 
pra agora, então não havia motivo pra ter pressa. 4hs depois, fila da comanda. 
Cunhadim na fila, na sua vez arranca a carteira. Para estático. Conversa com a caixa, 
que chama o gerente. Dida já havia sumido faz tempo. Anos depois morreria pelo aço 
tal de cabrito, um botequeiro do DG (de novo ele) com uma doze na cara, que lhe 
espatifaria os miolos. Mas isso é outra história. 
A fila pára por um tempo, por causa do cliente com problemas, depois prossegue 
somando se à fila ao lado. 
Alex deu uma de joão-sem-braço: 
-o que foi? 
-o cliente tá com cartão sem o chip. Disse que perdeu. 
Alex olha pro cara. Clima tenso, ar apreensivo. E ele tenta explicar o óbvio. E o 
obvio é que perdendo ou não ele teria que pagar a conta. Nesse ramo todo mundo sabe 
que nego faz muito truque barato pra não pagar. Alex agora tá conversando com o dono 
da casa e uma caixa. Depois chama o cara pra conversar. 
-já liguei pra um amigo. – diz sem passar credibilidade. – mas ele conseguiu 250 
– a conta passava dos 400. 
Passam-se horas e nada. A tensão aumenta. Quase não há clientes no bar, eram 
perto das 5hs da manhã. Cunhadim senta num sofá e aguarda. Por solidariedade um 
amigo fica com ele. E ele, sempre bocudo, não para de falar: 
-ce viu? Agora os seguranças tão cercando a gente. Até parece que somos 
ladrões. Eu não preciso disso não, tenho grana. Só não tenho agora. Eu trabalho, bla, 
bla.. 
De fato os seguranças, como era praxe nesse tipo de situação, vão cercando o 
cara, que assustado resmunga: 
-Tenho medo não, pode vir. – mas isso ele falava baixo e pra ele mesmo, ou para 
o amigo. Porém, Alex, um cara pavio curto, passava por ali bem numa dessas vezes que 
ele falava isso. Parou e foi perto do cara. 
-como é, cumpadi? 
-é o que você ouviu. Os caras tão cercando a gente, parece que somos 
delinquentes. 
-ninguém está cercando nada. Nós estamos esperando você pagar a casa pra 
liberarmos os seguranças. Aqui não tem moleque não! Todo mundo quer descansar e 
você fica amarrando. 
-eu também não sou moleque, se você quiser conferir vamo lá fora. 
Pra quê ele falou aquilo. 
-não tem lá fora. – POW! E deu uma servida na cara do cunhadim, que rodou pra 
trás e caiu no centro do sofá. E já levantou macho: 
-oh, fdp, como é que você bate na cara de homem assim? Isso não vai ficar 
assim não, hein. – e seguiu falando um monte, Alex falou também, se defendeu e os 
demais seguranças se aproximaram. O tempo foi fechando. 
Passa-se mais tempo e nada da grana chegar. Tava cheirando a marmelada. Por 
fim o gerente entrou em acordo com o cara, pra que ele fosse embora, mas trouxesse no 
dia seguinte. Fechado. O cara vai saindo, recebe outro peteleco no corredor. Convoca 
mais 5 amigos e volta pro clube. Começam a meter pedra e pau na fachada, vidros, tudo. 
As portas do clube são fechadas por segurança e o pau come lá fora. O gerente pede pra 
‘deixar quieto’. Mas pedir isso pro Alex é o mesmo que dizer ‘faça’!. Ele tira a camisa e 
vira pros demais seguranças: 
-vamo dar uma coça nesses caras? 
-vamo. 
Saem cerca de 9 seguranças. Chegando lá os caras estavam em 7. E começa o 
trupé. Ao lado do clube havia a estrada de ferro, que ficava rebaixada cerca de uns 2mts. 
E era um tal de jogar os caras dali, além de porrada, bicuda, empurrões, tudo. Foi mata-
mata. Bateu, bateram sem dó e voltaram pra dentro. Fecham-se as portas de novo. 
Agora os caras la fora ficam ainda mais revoltados e começam a atacar os carros dos 
funcionários do clube. Pedrada do vidro, faróis, setas, riscos, tudo. Moeu tudo. Um 
segurança baixinho, porém muito musculoso e com uma bola na parte de trás da cabeça 
é quem convoca: 
-mas esses caras tão merecendo outra. – os demais se entreolham. Vão atrás e 
dão outra surra, dessa vez bem dada, com mais raiva. Deu até pra ouvir um dos caras 
implorando: 
-Não, moço! Pelo amor de deus, nãão. – mas o pau comeu sem dó. 
Lá dentro alguém da cozinha estranha: 
-mas a pm não vai vir mais não? Faz um tempão já. 
Mal ela falou isso e uma viatura da tática encosta. Saem 6 pms de cacetete 
grande, encurrala os caras e começa a pegar os depoimentos. Eles tentando se passar por 
vítimas. 
Depois disso não vi mais o cara, e quando voltei pra praça pra ver Neide ela não 
passou. Fui mais 2 vezes e nada. Então fui à casa dela e havia placa de venda. Vizinhos 
disseram que haviam se mudado pro DG. Quatro meses depois andando na parte nova 
do bairro pra fazer umas cobranças vejo-a na rua. Ela disfarça, vira a cara e passa reto. 
Eu segui em frente. Fazer o quê? Se não dá, não dá. 
É foda. A mulher é feia, tem mau hálito e não era tão agradável e eu não consigo 
comer. Pqp! Pelo menos nunca beijei aquela praga. 
 
Fim do mês fui à fazenda. Queria dar um tempo de tudo. Lá conheci Glória. 
Apesar de viúva era nova. Enviuvou cedo porque o marido briguento fora decapitado 
com menos de 30 numa briga de bar por um cigarro e com a própria foice. Sim. Seu 
algoz tomou lhe a ferramenta e fez o serviço. 
Ela queria a todo custo dar pra mim, mas era feia o suficiente pra eu, tímido, 
ficar mais sem jeito. Pé de cana, ela tomava conhaque e ficou passou as pernas em mim. 
Chegamos a ir pra cama, mas brochei. Claro que isso foi motivo de chacota por um bom 
tempo no curral. 
Mas fora isso esses dias na fazenda foram legais. O patrão não dava carne então 
a noite dávamos uma geral nos ninhos das galinhas e levávamos dúzias de ovos pra 
panela de água. Galinha também não escapava. O vaqueiro catou uma galinha dormindo 
num pneu de trator e alí mesmo torceu-lhe o pescoço. Comíamos os ovos com sal e a 
galinha ao molho denso, sublinhados por cachaça à beira do fogo. Uma noite faltou 
‘garapa’ e fomos comprar mais no povoado. Cheguei lá de cu duro. Foi 8km na garupa 
de uma égua pé dura. Tudo isso pra chegar lá e saber que o bar fechara mais cedo por 
conta da missa. 
Depois voltei à cidade e fui tomar um banho de represa, um raro prazer. Lá vi o 
gado de santos sendo pastoreado por seu sobrinho. Um cara legal, mas doidão de pedra. 
Segundo consta Santos batia nele. 
-trabalhando aonde? 
-tô nada. 
-porque ce não vorta? 
-quemdisse que ele me pega? 
-pega sim, cara. Vai lá. Tô aqui só por enquanto, vou sair fora. 
-será? 
-tô te falando. 
Fui e não deu outra. Voltei a trabalhar com o cabra que quase mandei pro 
inferno. E o melhor e mais curioso: não sabia de porra nenhuma. Uma vez não resisti e 
perguntei: ‘mas tu viu algo?’ ‘bidala!’ ele adorava usar esse termo. Queria dizer ‘que 
nada!’ ‘Tava escuro e quando cheguei perto não vi mais nada’. Depois crescia: ‘mas o 
dele tá guardado. Um dia ele volta’. Nunca voltou. 
Fiquei com ele ate o fim do ano, quando conheci seu vizinho de vizinho de 
gleba. Travamos uma amizade e trabalhar junto foi questão de tempo. 
Uma das coisas legais também desse novo trampo foram as excursões de Betao, 
o filho do patrão. ele locava um busão e punha 50 nego dentro. Serrado, Talhado, 
Barreiro da Raiz... era o paraíso. Eu amava isso e logo comecei a ir com eles. Numa 
dessas viagens, voltando do Serrado sentei, de zoera, do lado da prima dele, Silvana, 
uma baixinha comível. E, de zoera, comecei a passar mão na perna dela. Ela tirava, não 
levava a sério, nem eu. Era só zoera. La pelas tantas ela já não tirava mais minha mão. 
Mas ficou nisso. Na semana seguinte ela esteve lá no meu trampo, o sítio do tio dela. 
Tratou de ficar a sós comigo, sentou, jogou leves insinuações, mas como ‘não dei bola’ 
– minha ficha não tinha caído – ela parou por aí. Passa-se mais uma semana e ela 
arruma uma desculpa pra ir me visitar, disse pra minha mãe, que a recebera que tinha 
ido atrás de que eu gravasse um cd pra ela. Fomos pro meu quarto, ficamos 
conversando, falando do tal cd, era Roxette que ela ‘queria’. Pus umas músicas pra ela e 
conversa vai conversa vem, a coisa foi esticando, e eu leigão sem me tocar de nada, até 
que ela dá o bote. Eu tava com uma faca na mão, que usava pra movimentar o volume 
do aparelho de som. 
-larga isso – disse ela. E me beijou. Foi lindo. Estranho e lindo. Primeiro beijo 
na boca é sempre de estranhamento. Depois se acostuma e se vicia. Seguimos mais 
naquela pegada e depois ela foi embora. Na mina cabeça eu acabara de arranjar mais 
namorada. Silvana. Aquele nome ficou ecoando a noite toda. Ela voltou mais vezes pra 
gente namorar em casa, fez amizade com minha mãe. E, esperta, quando percebeu que 
tinha fisgado-me, ‘convidou-me’ pra ir namorar na casa dela. Era muita folga ela 
namorar o cara e ainda ter que ir à casa do marmanjo. Topei, claro. Fazer o quê? Nem 
eu queria aquela situação, na verdade. Ela morava com uma tia que nunca se casara. 
Essa tia, aliás, morava num grande terreno com um namorado da adolescência, porém 
casas separadas. Nunca quiseram casar, mas dividiam a cama. Tem coisa melhor? Cada 
um podia ir ao seu forró, mas não se traíam. Essa era a lógica. E isso talvez explique a 
longevidade daquela relação. 
Enfim, ela morava com ela, que por sua vez cuidavam da mãe de sua tia, que de 
tão idosa já tava quase delirando. Elas combinaram de morar juntas como companhia e 
uma ajuda a outra, etc. mas tanto a tia, quanto a mãe de Silvana eram gente boa. É certo 
que a tia era mais íngua, mas eu tava ligeiro com ela. Era só vir com história que eu 
despachava educadamente. Desde então ela diminuiu a frequência de idas lá em casa, 
principalmente quando notou que o que fazíamos no quarto dava pra fazer em qualquer 
outro lugar público. Em outras palavras eu não atacava. Mas volta e meia na surpresa, 
ou quando batia um fogo a mais ela descia lá em casa. E de novo eu geladão. É que eu, 
inexperiente de tudo, e grande leitor de livros de auto-ajuda, que nao ajudava porra 
nenhuma, tinha uma idéia romântica de que a mulher gostava de homem respeitoso, que 
não fazia coisa suja, etc. claro que tava totalmente errado. Por sua vez ela dava uma ou 
outra deixa, mas também não passava disso, afinal ela, mesmo 10 anos mais velha que, 
ainda era virgem. Criada de forma mais pacata pela tia, não era lá muito bonita, talvez 
isso explique. Ela era do tipo amigona. E nisso ficamos sem transar, mesmo quando ela 
ia lá em casa, na maioria das vezes de vestido. O mais que eu fazia era beijar lhe os 
seios. 
Uma vez fomos à casa duns amigos, eu e ela, primos, amigos.. aquela noite foi 
estranha. Eu não demonstrava carinho, mesmo tendo. Isso ficou transparente e depois 
um dos presentes me confidenciaria que ela se queixava disso. Outra coisa: não saíamos 
pra uma sorveteria, uma churrascaria, nada dessas coisas tão comuns a namorados. Eu 
sofria de dois males: ganhava pouco e era mão de vaca. Outra vez na represa eu neguei-
lhe um beijo. Sei lá a boca dela não era apetitosa e nesse dia pra piorar tava ressecada. 
Enfim, isso tudo foi minando a relação, que afora isso não teria mesmo futuro. Um dia 
ela, que tinha uma amiga capciosa, portanto em parte deve ter sido idéia dela, foi lá em 
casa na surdina. Enrolou minha mãe com uma desculpa esfarrapada qualquer e fuçou 
meu quarto. Achou uma cópia de uma carta endereçada a uma menina que eu gostava. 
Não tinha futuro, mas eu alimentava. Mandava sempre cartas pra ela, e ficava com a 
cópia como relíquia. Pra quando eu reler saber exatamente o que ela havia lido. Enfim, 
Silvana mandou um recado pra eu ir à casa dela a noite. Nem imaginei nada. Cheguei lá 
achando que ia namorar, mas qual nada. A casa caiu. Indignada (com toda razão) ela 
rasgou o verbo. Tentei dar uma de joão-sem-braço, argumentar que a carta era velha, 
coisa do passado. ‘esse xerox é novinho, Tarcísio (era como me chamava)’. ‘é novo 
porque fiz cópia. O original era velho’. Ela olhou pra mim com a carta na mão: ‘aqui 
você disse que a viu no carnaval, Tarcísio!’. Depois disso não teve jeito. Eu de fato 
tinha visto a danada na tal ocasião, e isso era coisa de um ou dois meses depois. E, no 
fim, acabou tudo. Dois dias depois mandou recado que me aceitaria de volta com 5 
condições. Era tarde. Eu havia conhecido uma menina linda e novinha. Uma semana 
atrás, ou seja, quando eu ainda estava com ela. Nem quais ouvir os argumentos. Por 
aqueles dias o tio dela levou a gente no iate. Durante a viagem ela me deu, com a cara 
amarrada, minhas k7 do Roxette que eu dera pra ela. Como nos estávamos na carroceria 
estiquei a mão e joguei alí, com o carro em movimento, tudo na estrada. E findava mais 
uma relação. Meses depois ela arrumou namorado. Marcou casamento, porém 
confidenciou pra uma próxima minha que se eu topasse ela largava tudo pra ficar 
comigo. 
 
 
 
 
366 
Na semana seguinte voltei pra fazenda. E vi Luciano, o dono, comentando com 
seu vizinho: 
-foda foi quem pegou Santos. Arrumar um daquele pra pegar um nosso lá. – 
estiquei a orelha. Como assim nosso? De quem ele tava falando? 
-porque, Lucim? Dando trabalho? 
-ah, me pôs no pau, um cara que sempre ajudei. – hum.. é Edvaldo, pensei. Fazia 
tempo que tava fora da fazenda, tava desatualizado, mas tinha coisa que dava pra sacar 
de cara. 
No caminho puxei assunto: 
-Divaldo pediu muito? 
-Pelo modo como ele andou trabalhando ultimamente ele teria é que me pagar. 
Tem bebido, sai pra namorar e esquece as obrigações, não faz o que eu peço. 
-mas ce acha que ele ganha a causa? 
-apresentei isso tudo pro advogado, mas é direito trabalhista, né? Não tem jeito, 
ele também tava sem registro. – sim, o fdp não registrava ninguém. Aliás pouca gente 
na região registrava. Ia levando na moita, aproveitando dos necessitados sem estudo. 
-porque ce não fez acordo? Isso o juíz aceita? 
-propus a ele, mas sabe como é. Divaldo é descabiciado, ainda mais agora com 
essa mulher. – ele tava namorando a filha de um amigo bem chegado do Lucim. 
Deu fim de tarde ele foi à cidade. Na semana seguinte foi o julgamento. Eles 
combinaram de Lucim dar um valor pra ele na frente do juíz e depois devolver a grana, 
e ele teria o emprego de volta. Divaldo, depois de muita pressão, topou. Mas ficou 
insatisfeito. Pra piorar tinha brigado com a namorada, bem bonitinha até. Aquilo tudo 
acho que cozinhouna cabeça do cara e ele baixou na fazenda, e lá um santo baixou nele. 
Todo mundo dormia tranquilo, era ali pra umas 10 da noite. Eu tava na casinha onde 
ficava os peões que gostava de contar histórias, causos, a noite depois do jantar. De 
repente os cachorros começam a latir e sobe uma fumaça seguida de fogo na casa sede 
onde ficava o Luciano, que claro não tava lá. Ele dormia na cidade. Saímos pra ver, mas 
não vimos ninguém. Divaldo foi à outra casa sede, encheu um caldeirão de terra, bosta 
de gado e temperos, depois levou ao fogo. Passou na sala e deu uma bicuda num frango 
da raça gigante, que eu criava dento de casa, pois era de estimação. Gritou em alto e 
bom som pros empregado que tavam lá que aquele rango era pra Lucim. Depois foi no 
curral e soltou todo o gado. Nisso os mais medrosos, sem saber de nada, não conheciam 
o cara, que era de outra época na fazenda, cataram cobertores e saíram correndo no 
pasto em direção à fazenda vizinha, que tava há uns 500mts. E Divaldo foi queimando 
tudo. Aquilo virou a noite na arruaça. Alguém ligou pra Lucim, que veio da cidade com 
uma viatura da pm, mas não o acharam. 
A gente passou o dia lá, e nada. Alguém comentou que Edvaldo fora na casa da 
namorada. Fui lá com Lucim. Caso estivesse ele iria chamar os omi. 
-ele teve aqui sim, mas já foi embora. Nem vi saindo – disse o sogro. 
-rapaz, se eu pego esse fdp. 
-porque ce não paga o cara que acertou Santos? – brinquei. 
-seria uma boa mesmo – notei raiva na voz dele. – mas quem acha essa disgraça 
numa hora dessa. 
-eu conheço-o. 
-sério? 
-cresceu com a gente lá no bairro. – eu não ia falar quem era. Como eu estava 
desde novo na fazenda certamente ele não toparia por diversas razões. 
Depois desse dia todo dia Edvaldo aparecia na fazenda. Fazia alguma coisa e 
sumia. Isso por toda a semana. Luciano tava la fora vulcanizando um pneu de trator. 
Falei com Luciano. 
-deixa a espingarda com a gente. Esse cara é perigoso, a gente tá correndo risco. 
– ele riu. – tô falando sério. 
-sério, jão? Eu deixo se você fala com seu amigo. Mas cuidado, hein. Não quero 
rolo. – largou a alavanca de soltar o aro – AANA! – foi um pouco e sua cunhada passou 
com a 28 nas costas. Entregou-me. 
Uma tarde, lá pelas 4hs da tarde. As vacas tavam agitadas. Fui ver e não era 
nada. Mas fiquei com aquilo. Depois vi Edvaldo no meio do curral. Ele não me viu. 
Depois pegou um pacote perto de onde ficava as vacinas e foi pra jurubeba, uma nativa 
plantação delas atrás do reservatório. Voltei pra casa e peguei a 28. Pouco usada, 
lubrificação em dia. Entrei no reservatório, prendi a danada na parede de dentro, perto 
da bomba, naquela parte que a agua não alcança. E fiquei tomando banho como quem 
não quer nada. Fiquei uns 40 minutos, deu tempo até de bater uma, e eis que as folhas se 
mexeram. Sai Edvaldo de dentro da mata. No geral ele não mexia com a gente. Mas não 
era de muito papo. Seu olho em chamas denunciava o uso de aditivos. 
-jão, jão. O que você esta fazendo aqui ainda, rapaz. Eu já não falei pra todo 
mundo deixar a fazenda? Quem vai governar isso aqui agora sou eu. 
-ah, é? Porque você não ficou quando a pm tava aí? 
-fui à maromba resolver uns problemas. E você não se mete na minha vida, não 
moleque. Ce pra mim ainda é um moleque. – aproximei da espingarda 
-! 
-Conheço você, conheço sua mãe. Se me cagoetarem posso machucar sua mãe. – 
nessa hora fiquei cego. E POW! 
Fdp, escapou, pensei. Fui atrás dele, que correra pro quintal da sede1. Mas subiu 
um fedor de couro queimado. Seis metros depois lá estava ele estirado, debaixo de um 
pé de limão cravo, o sangue começando a correr. 
-peixe morre pela boca, fdp. 
Na semana seguinte voltei a casa de Luciano. Não pra trazer minha mãe. Mas 
pegar minha bufunfa. Ele não tava. Passei depois. Tava, mas marcou hora pois tinha que 
ir ao banco. Voltei numa terceira vez e ele disse que tava sem grana, que ia pagar a 
outra metade quando saísse uma carga de carvão, prevista pra dalí a 15 dias. Bati na 
mesa, o sangue na cara: 
-escuta aqui, cumpadi! Eu passei maus bocados pra pegar o fdp, pra fugir do 
flagrante da polícia, que você disse que ia dar cobertura e não fez porra nenhuma! Não 
sou palhaço, essa não é a primeira vez que venho aqui e DAQUI EU NÃO SAIO SEM 
MEU DINHEIRO! – e encarei. 
-melhor pagar, Lucim. Paga logo. Assim já acaba com isso. – disse Ana, sua 
esposa. Ele ficou sem jeito, pois tinha vendido a idéia de que não tinha o restante ali. 
Ainda tentou espernear, mas depois entrou no quarto e voltou com um envelope. 
-ah – pus o dedo na cara dele - Com você eu não faço mais negocio! – virei as 
costas. Sai dalí pra um boteco tranquilo lá perto do Ciajan. Pedi um litrão de breja. Ver 
o amarelão do dia marcando sombras entre as árvores e sentir o frescor úmido da noite 
que se aproxima tomando uma tranquilo é sem preço. 
Com essa grana, que não era muita, o cara é mão de vaca, comprei um Santana 
92 verde escuro. Fui atrás de um gol, mas não tinha. O vendedor tava limpando o wolks. 
Ofereceu-me. Olhei o bicho. Tinha umas depredações, mas nada sério. Gostei do 
espaço, das 4 portas, do porta malas. Bom pra carregar presunto. Era aquele mesmo. Saí 
pelas ruas meio com medo, fazia tempo que não dirigia. Uma sensação deliciosa 
percorria cada glóbulo vermelho e branco. 
 
Por cá tuca, meu primo, me convidou pra ir passar um fim de semana na represa 
com duas irmãs. Uma pra ele, outra pra mim. Sabe se lá porque, mas a minha era mais 
bonita. Se eu tiver que escolher uma mulher pra alguém eu dou a feia. Mas enfim, a dele 
não era muito feia, só inferior à minha. 
Na barragem foi quase bom, fomos a uma ilha deserta. Tiramos fotos, 
namoramos, mas notei que a minha não tava muito a fim de mim. Até comentei isso 
com ele, mas ele insistiu que eu ficasse, destravasse-a de alguma forma. Ok. 
À noite fomos a uma sorveteria e a coisa seguia travada. Era como se ela não 
estivesse me achando à altura de sua beleza, o que de fato era até verdade. Mas por 
outro lado ela era caipira, e aí? Vieram da roça há pouco tempo. Nem por isso eu ia usar 
isso contra ela. Mas enfim, toquei o barco. Ia na casa, buscava na escola. Era uma cena 
linda. Ela tinha as canelas mais grossas que já vi, coisa linda numa mulher. Então eu alí 
embaixo de uma árvore esperando. Ela vinha se aproximando e eu já distinguia as 
únicas canelas grossas do colégio. Ela era do DG e eu sempre morria de medo do lugar, 
muito mal afamado, mas ia sempre. Íamos namorando ali pelas ruas, mas era notório 
que ela não tava à vontade. Eu alí com aquele filet na mão e não podia degustar a 
contento. Ia pegar no peito, não podia. Lá embaixo então esquece. Só beijo na boca. Ela 
raramente me tocava, era um terror. Qualquer outro ali teria surtado, mas segurei a 
onda. Quis ser educado, paciente. Uma noite fomos no show do Sandy e Jr. Nos, a mãe 
e seus imãos. Foi romântico, mas foi ali que não pude tirar casquinha mesmo. Ela 
aproveitou que tava a parentagem toda e disse que ia curtir o show. Ferrei-me. Na saída 
ainda tive um ataque de ciúmes. Meu primeiro com ela. Aquilo foi se arrastando e 
chegou num ponto tão deprimente que um dia o próprio pai a chamou sua atenção. Ela 
tava lavando louca quando cheguei. Sentei e ficou nisso. ‘larga isso aí, menina. Vai dar 
atenção pro rapaz’. Mas nem assim ela cedeu. Era o canto do cisne. Nesse dia ela 
terminou tudo. 
 
266 
 
 
 
 
Abriu um bar perto do Rômulo, o colégio com maior numero de meninas lindas 
por metro. Aquilo foi um sucesso. Todo fim de semana lotado. Música ao vivo, gente 
bonita. Não foi muito tempo os gatunos da cidade resolveram visitá-lo. Na verdade era 
um cara do bairro. Um cara em especifico, devia ter seus 20 anos. Esperou um sábado 
daqueles diminuir o números de gente e pôs a cara no balcão. 
-uma cachaça. 
O dono pegou ali uma qualquer. 
-tem Chora Rita? 
-não. 
-só tomo Chora Rita. 
-aqui não tem,moco. 
Mas tem outra coisa que eu quero – e apontou o 38. 
Levou tudo. Uma semana depois voltou. Levou tudo de novo e ainda disse: 
-vê se vende a pinga certa. 
‘Certo’, pensou o Evandro. Era quinta-feira e Nilson passou lá pra tomar uma, e 
vê alguma coisa pra mudar na apresentação. Eles tocavam lá num contratinho pra ajudar 
bandas novas. Abriu a vodka, pôs uma dose. 
-dessa vez não vai dar, Nil. Um fdp limpou o caixa. 
-sério? Não fiquei sabendo. 
-não dei queixa. Quero resolver isso doutro modo. Além disso cara me ameaçou. 
Tenho mulher e filha, sabe como é. 
-sei. Porque ce não chama o Patrão? 
-Patrao?? 
-é. O cara que quase matou Santos Borges. 
-hum.. quase matou... 
-é. Mas só de encarar santos não é pra qualquer um. 
-poso ver isso. Cê tem o contato? 
-é meu tio, pô. 
-hum. 
Chegou a sexta fui lá falar com ele. 
-é. Ele deu até a data que voltaria. Sábado. O cara é abusado. – acendeu um 
cigarro – foi seu sobrinho quem te recomendou. 
-Nilson... 
-Ate dispensei a banda dele de tocar esse fim de semana. O cara levou tudo. 
-como ele é? – ele descreveu. 
-como você vai pegar-lo? 
-tenho um ferrinho. 
-que ferro? 
-32. 
Ele ouviu aquilo, foi lá dentro. 
-vem cá. – e me mostrou uma linda boito 12. – usa, essa. – peguei a bicha pra 
sentir o peso. Dava até gosto. 
-olha. Vou querer que cê troca a pedra do balcão. 
-hum? 
-É. Põe vidro fumê com espelho pra cima. Vou ficar aqui debaixo e preciso de 
visão. - Ia saindo – ah, põe por ele pra tocar. 
2:40 da madruga. Pulei o muro dos fundos e fiquei no quartinho. Pela hora 
Nilson devia tá nas ultimas músicas. Rita era tão folgado que tava na platéia. Cubou 
tudo. Depois foi ao wc. Ia voltando quando Evandro o chamou. 
-não vai querer sua Chora Rita? 
Rita riu. 
-acha que sou otario, rapá? Vou lá saber se tu pôs veneno na pinga? 
-ta lacrada, olha aqui – e exibiu a garrafinha de rótulo dourado. 
-certo. – disse desconfiado – bota uma dose. – e passou a mão na cintura, 
deixando evidente um volume familiar. 
Evandro passou sinal pra mim debaixo da mesa. Depois pôs o gole até a cinta. 
Rita tomou os dois dedos referentes à dose e jogou o resto na cara do Evandro, que 
rapidamente o grudou pela gola. E deu outro desesperado sinal pra mim. De debaixo do 
balcão, com uma visão meio turva, marquei um rumo, mas eles se mexiam muito. 
Porem uma hora parou, a camisa quase reasgando. PO-ROUW! 
Banda Nilson parou o show na hora, o povo saiu assustado pro meio da avenida. 
A polícia só apareceu no dia seguinte, depois que os alunos entraram pra sala, isso 
depois de passarem do lado do corpo. 
Esse trampo me rendeu uma boa grana, mas bom mesmo foram as armas. O 
botequeiro era pé quente. Devia ter contatos dos fortes. Só me espanta que Rita tenha 
durado tanto. 
 
 
Depois disso chupei solidão por uns dois anos. Comecei a trampar em rádio fm, 
uma paixão nova que descobri. La começou a chover na horta. Mas antes disso houve 
um fato. Passei no teste, mas não havia horário pra mim. Eu teria que aguardar. Porem 
eu mencionei que toparia pegar a madrugada. Os caras ficaram de ver e depois me 
ligaram dando ok. Fui pra madrugada. Numa dessas noites vi um vulto na sala da 
secretária. Como o studio que eu tava dava pra sala dela separado por um vidro fumê 
deu pra ver tudo. Mas era um vulto rápido. Eu tava distraído, cabeça baixa e quando 
ergui vi algo. Mas como sumira rápido julguei que não fosse nada. Porém minutos 
depois comecei a ouvir ruídos. Fui lá, mas não vi nada. Voltei pro studio. E de novo 
ouvir rangidos. Depois vi uma mulher passando pelo vidro. Assustado fui lá e 
reconheci. Era Rosely, a irmã de uma ex-colega de aula. Sentei com ela lá fora. Isso era 
umas 2hs da madruga. Ele me falou que ia suicidar na ponte, que tinha ali perto, mas 
não teve coragem porque a água tava fria. ‘será que a água tá muito fria?’, me 
perguntava. Eu ia lá saber, queria era outra coisa. Começou a chorar as pitangas dizendo 
que tava afim de um cara que nem ligava pra ela e que por isso já era a terceira vez essa 
tentativa frustada de suicídio. As outras foram engolir um monte de pílulas, que não 
surtiram efeito. Ela, assim como sua irmã, era nova e bonita. Voz doce, agradável. Mas 
vi que daquele mato não ia sair coelho e tratei de me conformar com isso. Que merda. A 
mulher caçando homem e eu ali caçando mulher, mas a faísca não pegava. Minha vela 
devia tá molhada, só pode. Ficamos ali naquela toada ate próximo dos primeiros clarões 
daurora. Ela queria vazar antes do locutor das 5hs chegar, pois ele conhecia seu irmão, 
também locutor, que havia começado ali naquela rádio, decerto por isso ela tivera 
intimidade em transitar por ali. Ela se foi e eu voltei pro studio solitário e cheio de 
muriçocas, subindo pelas paredes. 
 
 
Em casa sempre iam uns caras que gostavam de boa musica. Mas uma coisa me 
incomodava. 
-não tem um que tem um som mais pesado? 
-tem o Renato. 
Renato era colecionador. Pra nossos padrões ele tinha muito som. Já passeara 
por muitos gostos, mas estacionara nos leves e fáceis como heavy melódico e hard 
farofa. 
-já fui punk – dizia. Na verdade ouvira uns punk rock carne de vaca uma época e 
já se achava punk. 
Mas nosso contato foi favorável. Peguei uns k7 black que interessava, e que só 
ele tinha pra passar. Death ele não tinha, mas indicou um contato. 
Reginaldo casara e a mulher queria ver o diabo, mas não aquele material na sua 
casa. 
-quando eu saio pra viajar ele põe o som na mó altura, tô sabendo... – disse sua 
esposa, uma gorda, feia e grossa - A vizinha me contou e eu não admito isso. Se não for 
assim pode pegar as coisas e sumir da minha casa. – ela enchia a boca pra falar. Sai de 
sacola cheia com meus death. Mas faltavam umas coisas mais viscerais. Fui achar na 
casa de um antigo colega de quinta série. Não vendeu, mas cedeu pra cópia. Calvary 
Death e ‘tomb…’ do Cannibal Corpse. Pronto. Tava abastecido por um bom tempo. 
-Del tem uns materiais. 
Era na cidade vizinha. O cara não gostava de emprestar, e não emprestou. Levei 
o cd lá e ele copiou duas pérolas: ‘Serpents of...’ e ‘Once upon...’ do Deicide. Show de 
bola. 
-Adelcio tem Astrum Aurora. 
Marcamos um happy hour regado a cu de burro na casa desse recém chegado do 
sítio, expulso pela violência que chegava também ao campo. Ele pôs o Astrum pra 
rodar. Que maravilha de tape. 
E foi assim, de som em som, garimpando aqui acolá, que fiz meu afinei meu 
gosto pra música pesada. Mas faltava alguma coisa. Os festivais. Quaresma, meu truta 
desde o ensino fundamental, tava fazendo facu em Moc, a única cidade desenvolvida do 
norte do estado, e viu por lá um flyer de um que ia rolar no balneário de Chico Sá, a 
cidade vizinha. A gente locou uma van e encheu de ‘bangers’. Foi louco, ainda que só 
tinha uma banda de som extremo. La eu revi Proud, a primeira banda de Death Metal 
que vi ao vivo. Proud. Até o nome era lindo. Que delícia. Não acreditava que o 
drummer pudesse ser tão rápido e preciso. Mas era. Death era coisa rara na região então 
apreciei como um vinho 12 anos. Mas e black? Não tinha? Bom, Proud gerou um filho 
nessa linha. Desgraça Eterna, formada por um ex integrante. 
 
Mas cá em Janaúba eu seguia fazendo o que podia pra sair do marasmo 
interiorano. Criamos o Panzer, um grupo de bangers com idéias e atividades anti-cristãs, 
que aterrorizava a pacata cidadela. Profanávamos símbolos cristãos na cidade. 
 
 
Depois fui pro fim de semana. Era minha primeira promoção: sair da 
madrugada. A mulherada era louca por locutores, como é por fardas, profissões, etc. 
elas viviam ligando pros locutores, uma fatia ia visitar e a outra parte catava os caras. 
Era um domingo e apareceu no stúdio duas evangélicas. A maior, ali pelos 20 anos, era 
linda. Ficaram por ali meio sem jeito até que saíram e depois só voltou a menor. Disse 
que a outra queria ficar comigo. Catei na hora. Ela tava com uma corsário, moda na 
época,e entrou com tudo. Tava seca e veio matando nos amassos. Que delícia. Pena que 
foi rápido. Marcamos no dia seguinte numa praça perto da minha escola. Não vi a hora 
chegar. Cabulei aula e fui. Porém eu era novo naquela escola e não conhecia muito 
aquela região do centro. Fui numa praça, quando era noutra. Esperei e nada. Perdi a 
menina. Claro que se ela tivesse ficar afim teria me ligado, aparecido, coisa assim. 
Fiquei afim um tempão, mas já era. 
 
 
Eu tava sempre na fazenda de Luciano. Ia lá sempre ver minha velha, ou me 
refugiar. O vaqueiro de lá na época era Deilton. Tomei um susto quando ele me levanta 
a camisa e me mostra umas 5 facadas no corpo. Costas, sovaco, peito, coisa feia. 
-que isso, irmão. 
-um fdp aí. Mas pego ele. 
-fdp quem, rapaz? 
Ele era corajoso o suficiente pra ir atrás do cara, mas como se pode ver não era 
muito esperto. Admitiu isso e veio falar comigo. 
-puts, dei. Adoraria, faria isso pra você, mas acabo de sair de um terremoto, 
deixa a poeira baixar, mano. 
-não dá, cara. Eu soube que o cara ta indo pra Bahia, é caminhoneiro, vai sumir 
na brachearia. Ele tá só, é fácil de pegar. 
-eu sei, brow. Mas agora não dá. – joguei o cigarro no chão saí. Fui à cozinha 
tomar um café. Minha mãe mesmo moía, o aroma e sabor eram coisa de outro mundo. 
-olha, Jão. Sei que já devem ter te falado, mas não custa repetir. – iih, lá vem. 
-o que é, mae? 
-é que esse Deilton aí, o vaqueiro... 
-sei. Sei quem é. 
-então ele disse que ia matar lá o homem que furou ele. Não vai entrar nisso, 
não, filho. Essas má companhia não presta. Só dá cadeia. 
-quem disse que vou entrar nisso, mãe? – mãe é um bicho danado, já prevê tudo, 
tem um sexto sentido, pega a coisa no ar. 
-não sei, mas se vierem te falar só estou avisando, para seu bem. 
-vou mexer com isso não, mãe. – e levantei bravo. Ia saindo. 
-ah, vem cá. 
-quié, mãe? 
-deixaram isso aqui pra você. É aquelas meninas lá do algodão. 
‘Às 8hs no algodão. Você sabe quem’ 
Sim, eu sabia quem. Era a amiga de uma gostosa que eu tava a fim e não me 
dava. Essas mulheres faziam parte de um grupo de uns 40 trabalhadores do Quem 
Quem, um povoado western a 30km dalí, que batia ponto em toda safra do algodão. 
Ganhavam mixaria, mas como precisavam... o fazendeiro buscava de f4000 ou 
trator/carreta e as deixava na fazenda até retirar a última caboja. Entre velhos e crianças 
tinha sempre umas gostosas. Dessa vez umas 5 davam pro gasto, mas sempre tinha a 
mais top. E essa tava dando trabalho. Fui lá pra frente da sede fumar um cigarro. 
‘psiu...’ ouço vindo da picape estacionada. Oh lazarenta. Não era você. Mas vai você. 
Entrei e ficamos lá namorando. ‘eu marquei no algodão’. ‘no algodão so vou pra foder’ 
‘seu besta. Era isso que eu ia fazer’. Eu sabia que sim, mas ela era pouco. ‘mas foder a 
três’. ‘ah, seu safado’. E me beijou na boca com volúptia. Meninas da roça usam quase 
um dedo de batom, e isso excita. Ela era bem magra, não tinha onde pegar. Mas usava 
loucas mini saias. Era fogosa no menu. Tô lá com ela no bem bom e me aparece 
Deilton. 
 
 
Depois fui pra noite. A mulherada não parava de ligar. Mas era atrás do 
Reginaldo. Eu ia lá saber de Reginaldo?! Ele era tido como o gato da rádio, na voz, na 
aparência e na malandragem. Era liso pra mulher. Mas como o cara fazia aquele horário 
elas já tavam acostumadas a ligar. Ligaram várias, teve até uma que fiquei louco pra 
pegar, não deu bola e sumiu. Nesse ínterim ligou uma Vânia. E a desculpa era a mesma 
‘cadê Reginaldo?’. Ela disse que ele ficara com ela, mas não durou. Logo ele foi pra 
outra. De fato chovia mulher na horta do cara. Enfim, Vânia seguiu ligando até que 
ficamos. Quando a vi ao vivo levei um susto. Era feia, bem diferente daquela voz 
gostosa. Mas eu não tinha opção e além disso ela tinha um puta corpão. Era uma 
morena violão. Demos uns bons amassos alí no stúdio, sempre com uma música longa 
no play, pra não interromper nada. Lembro duma vez que dobrei o corpo dela na mesa 
de madeira e lambi aquilo tudo. 
 
 
-oh bicho. Quebra essa. 
-pô, Deilton. Agora não, mano. Pode ser depois? 
Amassei, amassei. Na hora de comer levei pro tal algodão do bilhete. Era onde 
amontoava a carga. Uma pilha da altura do telhado. E bem no meio tirei uns 3 sacos 
ficou um mocó perfeito. Entramos ali e sob a luz linda do luar que só a fazenda é capaz 
de proporcionar passei lhe a vara. 
No dia seguinte saí cedo e fui pra casa do Zé na maromba. Conhecido aliás 
como Zezim da Maromba. Ele era meu truta e fizera questão que eu fosse. Ele ia jogar 
as finais do campeonato representando claro a Maromba. Se ganhassem era caixas e 
caixas de breja pra todos e churrasco oferecido por um fazendeiro local. O primeiro foi 
no Quem Quem. Muitas meninas, muita empolgação. Não levaram. E segundo foi em 
Caçarema, outro povoado mais pra frente. Bonitinho lá. Ganharam apertado, mas 
ganharam. E por fim o último jogo em casa. Acabaram levando. Carne assada? Teve, 
mas nunca tomei tanta cerveja. 
-eh, primo, levamo – ele gritava pra mim com um caneco de chopp. Mamado me 
chamava de primo. 
Acordei com a cabeça parecendo o big bang. E na fazenda. Luciano deve ter me 
buscado. 
-xingou muito, ne? 
-não foi Lucim. – disse com cara fechada. Eu conhecia minha velha, mas dei 
uma de João-sem-braço. 
-não? 
-não. Foi Deilton – enxugou a mão pra pegar na concha de angú que fazia pros 
cachorros. – olha, Jão, eu já te falei... 
-tá bom, mãe. 
Deilton era um fdp. Tava querendo mesmo. Fui ao reservatório tomar um banho. 
Esperei escurecer pra não ninguém me encher. Tirei a roupa, entrei na água. Tava 
escuro. Duas tochas de fogo acenderam na minha frente. Deilton. 
-porra, bicho. Quase me mata, inferno do caralho! 
-por falar em matar... 
-olha – interrompi – vamos combinar. Você quer negócio, vamos fazer negócio. 
O que você tem pra dar? – falei isso porque sabia que ele não tinha onde cair morto. 
-tenho um terreno. Quanto cê volta? – dei uma risada. 
-tá me zoando, meu. Falei que ia falar de negócios. Vou por minha cabeça 
premio e ainda voltar pra você. 
 
 
Depois migrei daquela rádio e fui pra outra, num lugar bem mais agradável. Era 
um prédio, sem acesso de estranhos, clean e bem localizado. Ficamos uma vezes juntos 
lá, mas uma noite a gente se estranhou. Eu avancei forte pra ver se comia, mas ela 
barrou. Era um tal de desce calcinha/abaixa calcinha. Não teve jeito. A coisa 
degringolou de vez quando fui fazer aniversário. Ela me deu, com muito gosto, uma 
horrenda camiseta verde. Mas isso pra mim que na época só usava preto e camiseta de 
banda. Então aquela gola pólo tava fora de cogitação. Ela notou meu descaso e então 
ligou o relógio de contagem regressiva. Era o fim de mais um romance. E, de novo sem 
beijo. Ela alegou que tava em tratamento dentário. Devia mesmo pois tava um bafo da 
porra. 
 
 
Nossa acão mais notória foi alvo de uma investigação da pm, que acabou nos 
vinculando a uma série de outros ataques parecidos. Essa tal ação foi uma noite que 
saímos pixando tudo na cidade. Igrejas, muros, tudo. Ia de ‘pau no cu de deus’ a ‘jesus 
vai voltar... pra chupar meu pau’. Isso na igreja mais famosa da cidade. Aliás, quando 
chegamos alguém já tinha pixado. ‘deus...’ alguma coisa. Apagaram e ficou só o ‘deus’. 
Então completamos ‘pau no cu de’. Sorte não termos sido pegos porque aquilo ia gerar 
uma coça fdp. Isso numa capital não é nada, mas estávamos num interior muito católico, 
pacato, em que o povo se assusta com tudo. Até um acidente na rua gera comentários 
por uns 2 meses. Então aquilo ganhou jornal impresso, matéria no jornal falado e debate 
num programa de debates. Foi foda! Até gravei os programas, mas as k7 sumiram 
misteriosamente. 
Depois fomos pro cemitério. Deu na impressa que práticas desconhecidas 
estavam sendo praticadas ali. Uma manhã o coveiro encontrou o cruzeiro todo envolto 
por cruzes de madeira de ponta cabeça,decerto retiradas dos túmulos e dispostas de 
forma a indicar presença de evocação a entidades. Tinha também velas vermelhas, 
cachaça e pixações do tipo ‘amem satanás!’ e, a mais famosa, ‘reunidos de joelhos 
damos reverências a nuestro senor sathanas’. 
Havia um charme na vileza. Pular o muro do cemitério pra beber vinho... uma 
noite entramos lá com 5 litros de vinho. Chapei tanto que caí dentro de um túmulo. 
Depois alguém gritou ‘polícia’. Na correria bati o casco numa sepultura e lá se foi 
metade do nosso goró. 
Outra noite misturei vinho, breja e cocaína. Involuntariamente, claro. Com meu 
bracelete de prego saí com os bangers quebrando tudo na noite. Deu voadora até numa 
bike que não tinha nada a ver com nada. Os donos vieram em cima, mas meus amigos 
seguraram a onda. Naquela noite espatifei meu cd do Calvary Death a k7 do immortal. 
-MOÇO! Você tá no meio da rua. – abri o olho. O mundo tava na vertical. – 
você tá caído na rua, senhor. Sai daí que lá vem carro. – olhei torto. Vi um carro parado 
do seu lado, com o motorista de olhos esbugalhados. E então o cara foi embora. 
Sim, jazia caído em plena avenida do comércio, a mais movimentada da cidade, 
por sorte era tarde da noite. Levantei-me com dificuldade e fui pra casa. Achei que tava 
indo pra casa, mas segui na direção oposta. Caí de novo. Mas não ia trabalhar. Outro 
motorista me gritou que tava no meio da rua. Levanto-me e agora sim acerto o caminho, 
mas passando perto de uma lanchonete movimentada na Manoel Athayde caí de novo e 
rasguei a calça perto do cu. 
Mas também não podia ficar na cidade. A pm já tava na minha cola. Peguei a 
mochila e me mandei pra Moc. Se era pra viver como banger era melhor escolher 
também a cidade certa. Moc era famosa por ter uma cena mais interessante. Janaúba era 
o cu do judas. Não tinha banda, não tinha cena, não tinha nada. 
-onde o povo fica? – procurei me informar. 
-os mais novos na Sanitária. Os old school nem saem. 
 
 
Por falar em bafo... nessa nova rádio, que era um sonho realizado, comecei 
receber ligações a noite. Era Jão pra cá, Jão pra lá... ela ligava toda noite, ficávamos 
conversando. E então ela resolveu fazer uma visita. Mas não disse o dia. Tava lá eu no 
segundo andar do ‘não termina nunca’ Edifício Heliopeças, quando grita lá embaixo. A 
janela do stúdio dava pra rua, foi sorte. Fui olhar e, como tava chovendo, só vi a 
sombrinha. ‘Jãão’, gritou. Notei que tava acompanhada. Desci correndo as escadas, já 
que era um prédio simples, sem portaria. Mal abri a porta ela já entrou abraçando ‘e essa 
aqui é minha irmã’. Como a salinha de entrada tava com a lâmpada queimada, não deu 
pra ver o resto, os detalhes. Tascaram me um beijão e subimos. Só quando chegamos na 
claridade que vi. Uma era banguela e a outra usava ponte. Era pá cabá! A tal irmã, que 
tava livre, tinha cara de síndrome de down. Nada contra, mas naquela situação não 
cabia. E tinha o hábito de falar cuspindo. A remela escorria pelo canto dos olhos como 
queijo quente. Nem me pergunte do hálito. 26 anos e já usava ponte. A outra, que ela a 
anfitriã da coisa toda era banguela, também tinha hálito de jibóia, era 2 anos mais velha 
que a irmã, tinha um filho de um cara que aparecia pra comer e fora até bonita no 
passado, pelo jeito. Ambas tagarelas, animadas, mas morria aí. Além do que a mais 
nova era meio rude. Enfim, sem acordo. 
 
 
-tá bom, leva a porra do terreno. – era 300mts sem construir, no DG. O negócio 
era bom, mas o bairro era foda. 
Mas ok. Peguei as coordenadas, conversei com pessoas. O cara nem ia pra 
Bahia. Ia pro Pará. Deilton tava mal informado e ia se foder. Ele também não tava só, ia 
sair de comboio, uns 6 caminhões em fila indiana. Testemunha era tudo que eu não 
precisava. Aquela sexta feira nem dormi direito. Tinha que ficar de plantão. O cara ia 
aparecer só naquela noite. Dormiria e vazaria no dia seguinte bem cedinho. Fiz plantão 
no posto. Primeiro no restaurante, depois às escondidas. Pensei em trocar idéia com 
nega, uma conhecida que fazia programa pra caminhoneiro ali, mas deixei quieto. 
Quanto menos gente saber melhor. E ela era do tipo boca aberta. 
Depois de farrar a noite toda não sei onde na cidade chega um grupo. Isso era 
umas 2 da manhã. Cada uma pro seu caminhão, mas um mais empolgado ficou com 
meu amigo trocando idéia até acabar uma breja que tava na mão. Lazarento. Só ele tava 
empolgado. Meu cliente tava mole já. Secou a garrafa e saiu. Ufa. Qual nada. De 
repente vem ele com outra. O outro já tava dentro da cabine e o ouviu por alí mesmo, 
sem abrir a porta. 
-leva a mal não, Tony. Mas tô morrendo de sono, bixo! – o cervejeiro olhou 
assustado. 
-tá bom. Tá bom – e saiu contrariado, foi pro seu caminhão. 
Dei 30 minutos. E fui. Devia ter ar, pois ele subiu o vidro. Dei uma volta entre 
os caminhões, pra ver algum um plano de fuga de emergência caso de errado. Eu só 
poderia fugir por trás. Lá tinha um bom matagal. Marquei certinho. As carretas estavam 
enfileiradas. Menos mal. Assim eu teria só um lado. E foi nessa hora que vi a janela 
oposta do meu truta aberta. O movimento no posto tava bem calmo já, porém seguia 
iluminado. Só ali pelas carretas e havia alguma frestas, alguma sombra. Avancei. Não 
tinha tempo a perder. Encostei na porta. Olhei pros lados. Subir na escadinha ia ser 
foda, pois não tem como não se perceber de dentro da cabine. Com meia hora o sono, se 
já tivesse começado, e devia, era leve. Mas não tinha opção. Pisei um, dois... pus a cara. 
Nada. Devia tá na cama macia atrás do banco. Puxei o trinco ele catou minha mão. Deu 
me um violento soco na cara e me puxou como um tornado pra dentro. La foi um soco 
bem dado no pé do estômago. Mas nessa hora ele ficou lento. A pele escorregava de 
sangue. Urrh... urrh... era só o que ele fazia. Minha butterfly atolada ate o eixo no seu 
pescoço, lado esquerdo fazia o serviço. Mantive-o imóvel ate perder forca, limpei o que 
pude no forro e dei linha. 
Fiquei imaginando a cena no dia seguinte todo mundo saindo e só uma ficando 
pra trás. 
 
 
 Uma noite fui num festival em Moc e peguei uma magrela por engano. Explico. 
Teve uma hora no show que uma dos meus dois amigos disse: ‘não tá certo isso aqui. 
Vir no show só pelo show não dá. Vamos catar mulher’. Olhamos feio pra ele. Não 
partilhávamos dessa filosofia. Festival era pelo festival, mulher era consequência. Não 
fosse assim não sairíamos dos forrós. 
 
Quando vi Deilton depois já tavam me chamando de patrão. 
-pensei que Lucim que era o patrão aqui, mas vi que tô enganado, uai. É você 
que é o patrão. – disse dando-me umas chaves. 
-que isso? 
-as chaves, pow. As chaves do terreno. – deu uma risada – patrão. 
 
 
-certo, Jack. – topamos depois de muita insistência. Além do que ele se propôs a 
agenciar. ‘não tem segredo. É só chegar’, disse. E chegou mesmo. Tinha 2 magrelas 
com cara de tudo, menos que manjavam de som. Uma loira e uma morena clara bem 
alta. Passou essa pra mim e pegou a outra. Depois disse que era pra ter sido o contrário, 
mas Inês era morta. 
-o que você faz? 
-sou universitária – ela respondeu pra mim sem interesse. A coisa seguiu assim 
pela noite toda. Ela distante, eu querendo contatos imediatos. Pra beijar era uma 
dificuldade, pois a altura era mesmo expressiva. Ate que não houve jeito e eu caí fora. 
 
Nesse meio tempo eu sempre apaixonava por mulheres que não me queriam. Por 
essa época conheci outra Vânia. Linda. Meiga. Mas nem fedeu pra mim. Até ia me 
declarar aos seus pés na porta de sua casa, na frente de sua mãe, mas meus instintos de 
preservação me contiveram. Foi bom. Ia ser um mico desnecessário. 
 
 
A primeira noite foi foda. Dormi na varanda de uma lanchonete na Sanitária, 
com um saco de lixo servindo de travesseiro. Como lá tava muito frio fui pro Senac, 
logo em frente, do outro lado da avenida. Apesar das lava-pés, corria menos vento frio. 
Pus os braços dentro da camiseta,a noite era uma criança. 
Dos males o menor: alí era perto da All Time, a conveniência 24hs dos bangers e 
descolados. Lá tinha aquele atendimento camarada e um bom Cantina da Serra. 
No dia seguinte decidi que não ia ficar mais alí. Vida de mendigo cansa também. 
Liguei pro Quaresma e peguei o endereço de Pascoal, um ex colega de ensino 
fundamental. Quaresma não sabia muito, mas deu as coordenadas aproximadas. 
Perguntando não tinha erro. Fui bater lá. 
Pascoal morava num moquifo de um cômodo lá no Alice Maia. Mas se virava 
bem. Além disso, era hospitaleiro. Nessa noite dormi tão bem. No dia seguinte acordei 
tarde. Pascoal já tinha ido pro trampo. Bateu aquela fome. Devorei um doce na 
geladeira. Depois fiz um arroz com feijão. Mas do meu jeito: tudo junto dentro da 
panela de pressão, pra não sujar panela. Ficou molinho, uma delícia. Dormi mais um 
pouco e depois desci pra avenida. Era sexta-feira. Noite boa pra entrosar com o povo. 
Lá, depois de umas cachaças já tava num grupo. O comentário geral era a 
respeito da Noite Profana, a tão esperada noite de estréia da horda Desgraca Eterna, do 
ex Proud Rafael Sena. 
Notei que os bangers de Moc, em especial aqueles da Sanitária, não sacavam 
muito de metal, a despeito da pose. Mesmo assim ficou impressionado. Segui bebendo, 
depois apareceram umas meninas. Os headbangers foram pra outra pracinha num bairro 
ali próximo tocar violão. Era mais intimista. Todo mundo era bem duro e uma garrafa 
de vinho dava pra matar a sede de uns 10. Marquito, bem popular alí por se parecer com 
aquele que lhe emprestava o nome, tentava tirar Death no violão. 
Era muito tarde, mas eu não queria dormir na Sanitária nem a pau e encarei a 
dura jornada ate o Alice Maia. Era muito, mas muito longe. Foi devagar, mas fui. 
Cheguei lá com o casco doendo. Cheguei de fininho, achando que Pascoal tava 
dormindo. Qual nada. O cara comia uma loira na pia, ali mesmo no quintal. Não deu pra 
disfarçar, mas também não fiz questão. 
-a chave está na pedra, perto da porta. – sim, ele chegara tão esfomeado que nem 
abriu a casa. Já pegou a diaba ali mesmo no escurinho do quintal. Se for ver era mais 
gostoso mesmo. O cara tinha fama de pegador, já me dissera Quaresma. Indícios 
abundavam. 
Tomei um banho e apaguei. No dia seguinte logo pela manha fui usar o wc e 
levei um susto. Que desgraça. A porta, corroída de ferrugem, faltando a parte inferior 
devido a maresia do acido úrico e umidade, era o de menos. Tinha papel higiênico pra 
todo lado, no chão misturado com mijo. No balde misturado com bosta. Por falar nela 
alguém devia ter cu de spray, pois deu um barro de uma forma tão estranha que espirrou 
toda a parede atrás do vaso, no chão, na borda, um horror. Arg. Desde então não pisei 
mais lá descalço. 
-esqueci de te falar. Tem doce na geladeira, pode comer a vontade. – ofereceu 
pascoal. 
 
 
Em paralelo ainda mantinha a paixão acesa por Néia. Isso uns seis anos depois. 
Sempre com a certeza de que era mais pra afagar o ego, pois não tinha a menor chance. 
Aliás, vou contar a história dela. 
Era sexta série e vi aquela menina de beleza resplandecente. Fiquei caidinho de 
cara. Mas sempre com a certeza do não estampado. Segui fan dela, e isso ganhou corpo 
com recados dentro do caderno (sempre da irmã, pra não haver a possibilidade de não 
vir a público), enviava k7 gravadas com minha voz, mimos pra sua irmã. Aquilo virou o 
ano nisso. Surpresa pra ninguém. No ano seguinte eu desisti da aula por conta de um 
trampo (Santos Borges). Investi nesse, pois os demais não passavam de 30 dias. Sem ir 
à aula e sem vê-la, passei a espreita lá nos arredores do colégio. Tínhamo-nos uma 
amiga em comum. Era onde eu tinha notícias de minha querida e foi ela quem me 
sugeriu uma loucura. ‘tira uma foto dela, bobo’. Futuramente ela deu me uma foto, mas 
Inês já era morta. Foi então que, muito impulsionado por isso, comprei minha primeira 
Kodak. E foi com esse trampo de Santos. Lembro que foi todo meu salário do mês na 
câmera. Só não fiquei duro porque parcelei em 3x. 
E era hora de partir pra ação. Havia seguido neia e sabia todo seu trajeto. Escolhi 
uma rua escura e fiquei lá no horário certo. Não teve erro. Lá vem ela e a irmã Renata 
vindo da escola, isso lá pelas 23hs. Fiquei de costas e quando se aproximaram, com o 
coração saltando como boi de rodeio, virei e click. Todo mundo sabe que câmera de 
filme era roots. Não tinha telinha de led, portanto pra mirar no escuro foi foda. E foi por 
isso que tirei foto da irmã, que naquele dia havia usado a leg de Néia. Notei isso logo 
que tirei a cara da câmera e vi as duas correndo assustadas. 
Isso rendeu. Minha amiga veio comentar depois que um irmão as escoltaram nos 
próximos seguintes. Claro como o dia que eu não tava mais lá. Um deles até veio em 
casa resolver a bronca. Como era amigo de meu primo os ânimos foram acalmados, 
além disso eu também não tava em casa. Sou motivo de chacota ate hoje. 
No fim daquele ano foi uma tristeza: ela mudaria de bairro e de colégio. Aliás 
um bairro bem longe, do outro lado da cidade. Já o colégio foi fácil. Era o dum bairro 
vizinho ao meu. Eu só saberia muito tempo depois, mas já bolei uma estratégia de 
descobrir. Fui pra uma praça onde fatalmente ela passaria e aguardei. Batata. Lá vem 
ela. Ela e sua irmã. Como a praça tava escura ela não me viu. Deixei passar e fui atrás. 
Se pudesse a amiga teria me ajudado, mas ela também não sabia. Só dissera que no rio 
novo e que era grande. 
Descobrir seu novo ninho era muito prazeroso pra mim. Assim teria pra onde 
continuar mandando minhas missivas. Néia seguiu pela Avenida do Comércio, depois 
de cruzar a praça do BNB passou pelo beco da morte e quebrou a direita seguindo na 
Osvaldo Cruz. Depois à esquerda e entram no Pe Eustáquio, Rômulo Azevedo, Gentil 
Dias e, logo depois da curva, entram no rio novo. Dei mais distância, já que o lugar era 
menos movimentado. Nessa hora quase as perdi. Mas achei no fim do trajeto já 
chegando em casa. Marquei bem. Dei um tempo. Depois passei em frente. Fixei bem, 
peguei o numero e dei linha. Essa seguida foi secreta, só pra descobrir, mas numa 
futura ocasião eu faria o oposto, pra que ela soubesse, e quem sabe conversasse comigo. 
Porém ela recuou. 
 
 
-valeu – mal sabia ele que aquele já era. A tupperware tava fechada, de modo 
que se você não abrisse nem ia descobrir. 
Começaram a lembrar o tempo que foram colegas. 
-notei mesmo que você sumiu, mas ninguém nem imaginava que você tinha 
vindo pra cá. – Pascoal, como todo jovem de família humilde. No caso bem humilde, 
precisando de grana, largou os estudos pra trabalhar. Com tinha alguma experiência 
com motores, adquirida numa oficina de patrão carrasco em Janaúba, decidiu aventurar 
se em Moc com cara e coragem. 
-cara, cheguei a dormir na rua na primeira noite. 
-e sua mina? 
-então. – contou que foi ele o desbravador daquele cabaço – a gente namora há 
muito tempo e tamo junto até hoje. Porém não sou homem de uma mulher só, não tem 
como. 
-sério, Pascua? – Jr deu uma de joão-sem-braço. 
-sim, cara. Aqui em Moc já peguei da filha do patrão à professora de inglês. – 
rss, fdp. Não tinha como não rir. 
-como assim, mano – Jr pegou uma agua fresca. – mas a filha do patrão... esse 
do motor? 
-sim, rs. Esse do motor – ele tinha o hábito de falar frisando o que você tinha 
falado. 
-num deu medo de perder o trampo? – era a se considerar afinal, além de ser seu 
melhor em Moc, era passível, pela idade da menina, a pegar uma cana. 
-sim, mas nessa hora você não pensa. – manteve a cara de riso, coisa fácil nele, 
sempre fora de bom humor – e, se você quer saber, peguei-a no trampo, dentro do wc. 
-puts! Tu é louco! 
-ela ficou maluca por mim e eu sou homem, né. Era novinha, devia ter uns 13. 
-e a professora? 
-essa foi hilário. Eu, como você sabe, não terminei os estudos em Janaúba. 
Também nunca fui fan de estudar. Mas aqui em Moc,

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