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Literatura Brasileira Poética A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Material Teórico Responsável pelo Conteúdo: Profa. Ms. Helba Carvalho. Revisão Textual: Profa. Ms. Malu Rangel. 5 • A representação da Sociedade no Romantismo • A morte na Visão do Romântico Recomendamos que siga o seguinte roteiro para que tenha um melhor aproveitamento da unidade: 1. Leia o conteúdo teórico da disciplina; 2. Leia o mapa mental do conteúdo teórico; 3. Assista à apresentação narrada; 4. Faça a atividade de sistematização; 5. Faça a atividade de aprofundamento; 6. Leia o material complementar; 7. Formule suas dúvidas ao tutor da disciplina por meio do módulo Mensagens do blackboard ou ainda por meio do fórum de dúvidas da disciplina; 8. Procure ler as obras indicadas na bibliografia, principalmente aquelas que estão disponíveis na biblioteca eletrônica da Universidade, isso irá colocar você em contato com diferentes visões sobre o problema, além de fornecer a você um repertório maior de conceitos sobre os poetas estudados e as características de suas obras. · Nesta unidade, faremos uma reflexão sobre a temática da morte na poesia romântica de Álvares de Azevedo analisando-a comparativamente com poemas de poetas de outras estéticas literárias, como a do simbolista Cruz e Sousa, a do pré-modernista Augusto dos Anjos e a do modernista Manuel Bandeira. Além disso, discutiremos as características principais da época, envolvendo algumas questões biográficas sobre os poetas, e também fatores sociais, ideológicos, históricos e literários presentes no século XIX e no século XX. A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira 6 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Contextualização No Romantismo, conhecemos um pouco da poesia de Álvares de Azevedo, que possui forte atração pela morte – desdobrada do pessimismo, tédio, morbidez e autodestruição – uma poesia melancólica e tediosa que demonstra o cansaço de viver do poeta. Na sua obra, o poeta exprimiu de maneira sarcástica e apaixonada os hábitos e costumes da sociedade. Dois personagens de uma peça de teatro que representam a alma perturbada do poeta: Macário – representa o Álvares de Azevedo byroniano, ateu, desregrado, irreverente e universal; Penseroso – representa o Álvares de Azevedo sentimental, crente, estudioso e nacionalista. Colocando um dos personagens situado em São Paulo e o outro, na Itália, o poeta cria a pátria da sua realidade e a da sua fantasia. Penseroso crítica Macário por não engajar-se ao nacionalismo paisagista e indianista da época, enquanto o outro declara ter vocação para as tendências e as ânsias de horizontes humanos, supernacionais. Penseroso, com sua fragilidade, morre melancólico e Macário debruça-se com Satã e observa nos outros moços a materialização da sua interioridade. Na modernidade, podemos encontrar, por exemplo, no músico e compositor Renato Russo tal espírito conflituoso presente na obra de Álvares de Azevedo. Como podemos relacionar e comparar o poeta e o músico, principalmente o lado psicológico e social? A morte para Renato Russo também representa libertação e a música uma fuga da realidade? É preciso sublinhar que Renato Russo, no final da vida, consumido pela doença, expõe ainda mais sua interioridade. Assista a esses vídeos como sugestão: » http://www.youtube.com/watch?v=uYCPuIqTgiQ » http://www.youtube.com/watch?v=8X6DnczDbD8 http://www.youtube.com/watch?v=uYCPuIqTgiQ http://www.youtube.com/watch?v=8X6DnczDbD8 7 A representação da Sociedade no Romantismo A pintura de Friedrich, “Viajante acima da neblina”, representa bem o homem do século XIX, um ser conflituoso que busca, por meio da reflexão, ajustar-se ao mundo materialista. A Natureza, para ele, torna-se um lugar de busca e reflexão sobre o novo mundo. Esse ser atormentado procura, nas reminiscências, refletir sobre seu próprio eu e sua condição no mundo, pois está dominado pelo progresso e imposições exigidas por uma sociedade individualista na qual tornou-se apenas um símbolo de mercadoria. Na poesia romântica da segunda geração, o Ultrarromantismo, encontramos tal indivíduo representado por um eu-lírico dicotômico (amor e medo, dor e sofrimento, impulso e timidez, solidão e tédio, insatisfação e inquietação, tristeza e melancolia) e com subjetividade profunda na qual volta-se para si mesmo em busca de seu verdadeiro eu interior, como uma espécie de fuga da realidade vivida, porém, mesmo nos seus devaneios, mantém sua consciência e racionalidade. Antonio Candido (1993, p.30) declara que o espírito romântico se fortalece de pessimismo e sadismo. Tudo que representa, para a geração romântica, uma contradição de valores éticos, políticos e sociais deve ser tratado dramaticamente na poesia e no romance, pois expressa o próprio sujeito nas suas virtudes e defeitos. Vamos, agora, identificar e compreender esse processo de mudança na caracterização do homem moderno. Roncari (1995, p.477-479) observa que esse período é marcado por um mundo plenamente mercantilista, no qual todas as coisas se transformam em mercadoria, fato que foi desencadeado pela Revolução Industrial e pela implantação do capitalismo, no qual o próprio homem acaba por tornar-se uma mercadoria de uso, um objeto para o patrão. Pensemos em um homem de origem rural e rústica, que conhecemos em outros períodos literários, que sai do campo para a cidade em busca de uma vida melhor e se depara com uma realidade totalmente atípica a que pertencia: o trabalho unido à máquina e ao salário. Para compor esse cenário, essa nova visão de mundo moderno, apresentamos o advento das tecnologias, a construção de fábricas têxteis, a eletricidade, a vida urbanizada e o capitalismo que orienta e rege a vida de todos os indivíduos que pertençam ao grupo social. Logo, os sentimentos e os afetos deixam de prevalecer e oferecem lugar a materialidade plena que se torna fonte de poder, riqueza e posição social. Nesse contexto, o homem é medido pelos bens materiais que conquista. Sendo assim, os seus valores interiores são sufocados por essa materialidade selvagem. Fonte: Viajante acima da neblina, Caspar David Friedrich, óleo sobre tela, 1818. 8 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Você, que pertence ao século XXI, identificou-se com essa reflexão? Interessante que esse pensamento prevalece até nos dias de hoje. O exposto nos apoia para entendermos melhor e conscientemente os poetas ultrarromânticos que descobrem na morte um meio de libertação desse mundo materialista. Estamos diante de uma sociedade estranha, desprovida de sentimentos, individualista e num processo de desumanização. Conforme Antonio Candido (1993, p.30), neste novo mundo, o poeta liberta-se da literatura clássica e das encomendas poéticas. Em consequência dessa ruptura, perde a proteção e posição social de escritor que ocupava na sociedade burguesa. Tal poeta, entregue a si mesmo, mostra-se inconformado e cada vez mais disposto a expressar na poesia o eu interior do homem moderno: pessimista, individualista, inconformado que toma consciência de sua posição no mundo: um ser solitário, triste e sozinho: “individualismo e consciência de solidão entrecortados pelo desejo de solidariedade; pessimismo enlaçado à utopia social e a crença no progresso; aumentam a complexidade desse patético dourado”, na expressão de Victor Hugo. Segundo Roncari (1995, p.419) Victor Hugo em Prefácio de Cromwell, interpreta a “nova poesia” da seguinte maneira: O cristianismo conduz a poesia à verdade. Como ele, a musa moderna verá as coisas com um olhar mais elevado e mais amplo. Sentirá que tudo na criação não é humanamente ´belo´, queo feio existe ao lado do belo, o disforme perto do gracioso, o grotesco no reverso do sublime, o mal com o bem, a sombra com a luz.(..). É então que, com olhar fixo nos acontecimentos ao mesmo tempo risíveis e formidáveis, e sob a influência deste espírito de melancolia cristã e de crítica filosófica que notávamos há pouco, a poesia dará um grande passo (...) mudará toda a face do mundo intelectual. Ela se porá a fazer como a natureza, a misturar nas suas criações, sem entretanto confundi-las, a sombra com a luz, o grotesco com o sublime, em outros termos, o corpo com a alma, o animal com o espírito, pois o ponto de partida da religião é sempre o ponto de partida da poesia. Tudo é perfeitamente coeso (…) E aqui, permitam-nos insistir,(...) a diferença fundamental que separa,(...) a arte moderna da arte antiga,(...) a literatura romântica da literatura clássica (…)como meio de contraste, o grotesco é, segundo nossa opinião, a mais rica fonte que a natureza pode abrir à arte. Victor Hugo declara a importância do mundo, da dualidade na criação literária. Essa nova realidade e verdade permeiam a poesia romântica, o belo e o feio juntamente com a alma e o espírito se misturam e contribuem na forma e no conteúdo poético em relação à verdadeira face da descrição e sentimento do mundo real. Como podemos perceber após a leitura do fragmento, o escritor Victor Hugo elabora uma comparação entre o belo/sublime e o grotesco/ feio e manifesta que o primeiro representa a beleza e a pureza com todos seus encantos e graças. O segundo representa o ridículo, o impuro, as enfermidades e todas as feiuras e defeitos do mundo. No feio/grotesco encontramos os vícios, as paixões, as luxurias, os crimes, o pérfido, o enredador, o hipócrita, ou seja, tudo aquilo que o homem nega, mas tece na vida. Em suma, o feio é um grande conjunto de coisas negativas que tentamos reprimir, porém é parte integrante da realidade exterior, e o belo representa a organização, a pureza, a harmonia, o afeto e a simplicidade da vida. 9 Pensem que para o poeta romântico, o feio torna-se parte integrante da poesia, pois através dele revela ao público leitor os conflitos interiores do homem. Nesse processo de solidão, inadequação, pessimismo, a morte torna-se o caminho para libertação. O poeta Álvares de Azevedo compartilha esse pensamento, conforme veremos adiante. A morte na Visão do Romântico Vamos, agora, conhecer o significado e importância da MORTE para o poeta romântico como símbolo de libertação do mundo exterior. Para esse estudo, vamos conhecer o pensamento de Georg Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo alemão que desenvolveu um estudo sobre a estética romântica. Não iremos nos aprofundar nas leituras do sistema hegeliano, mas leia com atenção o fragmento selecionado, que o norteará no entendimento do Romantismo: Na arte romântica , (...) a morte (...)proporciona ao espírito a libertação da sua finitude e ruptura, bem como a reconciliação espiritual do sujeito com o Absoluto.(...) na concepção de mundo romântico, a morte tem significado (...) da negação da negação e (...) transforma-se numa afirmativa (...) a dor e morte da subjetividade agonizante convertem-se em regresso a si, (...) nessa existência afirmativa (...) o espírito somente pode atingir mediante a cessação da sua existência negativa, na qual ele está isolado da sua verdade e da sua vida real. (In:GOMES, A.Cardoso,1992,p.138). Segundo Hegel, a morte é vista como algo positivo que liberta o homem da sua vida real e o transporta para o Absoluto. O poeta retorna para seu interior, verdadeiro eu, liberta-se da negatividade do mundo exterior e garante sua independência para viver na plenitude, mas, para alcançar essa busca pela libertação das imposições do mundo terreno, necessita separar- se do corpo, matéria, e libertar o espírito. Percebam que no Romantismo o espírito conhece e reconhece o mundo real, mas procura retornar para si mesmo, ou seja, a realidade que observa não está de acordo com sua vontade e por isso refugia-se em seu interior. Conforme Hegel, a ascensão espiritual e o encontro com o Divino acontecem somente quando o homem ultrapassa o mundo da finitude, o reino do mal, o mundo em que vivemos. Para esse momento de transcendência, Hegel destaca que a dor e a morte da subjetivação é o único caminho de reconciliação do homem com o divino. O Romantismo é a representação do conteúdo absoluto da verdade e, para explorar essa realidade, o poeta procura, através dos devaneios, fantasias e sonhos desprender-se do mundo terreno no sentido de alcançar o mundo espiritual do divino. Nesse processo de refletir suas reminiscências, encontra a si mesmo na sua própria subjetividade e conforta-se consigo mesmo. Notem que a poesia romântica deve dar conta de expressar essa complexidade do homem entre dois mundos, o da matéria e do espírito, o finito e o infinito, o efêmero e o eterno, por meio de uma transcendência espiritual, uma interiorização profunda do ser que deseja libertar-se do corpo através dos sonhos e devaneios. 10 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Álvares de Azevedo é o poeta que mais explora a temática da morte, inclusive seus poemas registram uma atração e fascínio pela ideia de morrer e estar nos braços da virgem pálida. Essa idealização absoluta e o interesse pelo amor e morte classificam sua obra como temas baixos. Antonio Candido (1993, p.167-169) declara que o fascínio pelas leituras de Byron, Victor Hugo, Musset, Shakespeare, Hoffman foi uma sobrecarga nas criações poéticas de Álvares de Azevedo, que revela, algumas vezes, um exagero artístico. Para o crítico, a influência do poeta inglês Lord Byron foi avassaladora ao adolescente de dezesseis anos que, como leitor precoce e assíduo dos textos de Byron, assimilou e cultivou as mesmas tendências. A obra byroniana caracteriza-se pelo culto excessivo do eu, sentimentalismo acentuado, sentimento spleen, termo que se associa ao tédio e à agonia de viver definida como “mal do século”. Na temática amorosa, o amor é apresentado com pessimismo, sofrimento e dor. Nessa acepção, a solução para tantos conflitos existenciais do homem está na morte. A essa temática, o poeta também associa o satanismo e a necrofilia que encontramos na construção das imagens poéticas. No prefácio que Álvares de Azevedo escreve para a Segunda Parte do livro Lira dos vinte anos, o poeta procura justificar os temas amor e morte: Cuidado, leitor, ao voltar esta página! Aqui dissipa-se o mundo visionário e platônico. (...) poetas do tempo, isto aqui é um tema, senão mais novo, menos esgotado ao menos que o sentimentalismo tão fasbionable desde Werther até René. Por um espírito de contradição, quando os homens se veem inundados de páginas amorosas preferem um conto de Bocaccio, uma caricatura de Rabelais, (...)Há uma crise nos séculos como nos homens. É quando a poesia cegou deslumbrada de fitar-se no misticismo e caiu do céu sentindo exaustas as suas asas de oiro.O poeta acorda na terra. Demais, o poeta é homem: Homo sum, como dizia o célebre Romano. Vê, ouve, sente e, o que é mais, sonha de noite as belas visões palpáveis de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem artérias — isto é, antes e depois de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo (...)Depois a doença da vida, que não dá ao mundo objetivo cores tão azuladas como o nome britânico de blue devils, descarna e injeta de fel cada vez mais o coração. Nos mesmos lábios onde suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que morde.É assim. Depois dos poemas épicos, Homero escreveu o poema irônico. Goethe depois de Werther criou o Faust. Depois de Parisina e o Giaour de Byron vem o Cain e Don Juan — Don Juan que começa como Cain pelo amor e acaba como ele pela descrença venenosa e sarcástica. Agora basta. Ficarás tão adiantado agora, meu leitor, como se não lesses essas páginas, destinadasa não serem lidas. Deus me perdoe! assim é tudo!... até prefácios! Você deve se perguntar: qual a razão para esta citação? Entenda que Victor Hugo e Álvares de Azevedo possuem uma visão de poesia bastante próxima. Os poetas ressaltam que o homem está cansado de poesias clássicas que refletem sentimentos amorosos, o belo, o sublime, calma e tranquilidade. Lembremo-nos da poesia árcade e da poesia romântica da primeira geração do Romantismo. Elas não apresentam o reconhecimento e exposição verdadeiros da vida humana. Para eles, é por meio dos temas 11 baixos que implicam um profundo conhecimento e exposição da natureza humana, a poesia consegue revelar o eu interior. Assim, o amor erótico, os vícios, os crimes, as paixões sem limites, o amor sublime, a pureza, a bondade são elementos da vida cotidiana do homem e, por isso, devem estar presentes nas criações artísticas. O poeta, por meio de seus sonhos e devaneios, deseja fugir do tédio que, para ele, é a própria vida. Por meio de idealizações românticas que se misturam com o desejo da morte, consegue retirar-se do mundo terreno e transcender para outras esferas. Leia a estrofe a seguir, que mostra a presença do real, do feio e grotesco no poema Poeta Moribundo: Poetas! amanhã ao meu cadáver Minha tripa cortai mais sonorosa! Façam dela uma corda, e cantem nela Os amores da vida esperançosa! (...) Coração, por que tremes? Se esta lira Nas minhas mãos sem força desafina, Enquanto ao cemitério não te levam Casa no marimbau a alma divina! Se é verdade que os homens gozadores, Amigos de no vinho ter consolos, Foram com Satanás fazer colônia, Antes lá que no Céu sofrer os tolos!- (...) Ora! e forcem um’alma qual a minha, Que no altar sacrifica ao Deus-Preguiça, A cantar ladainha eternamente E por mil anos ajudar a Missa! (Disponível em <http://www.casadobruxo.com. br/poesia/a/alvares19.htm, acesso em 15 de novembro de 2013) De acordo com Roncari (1995, p.422) Álvares de Azevedo capta elementos da experiência corriqueira e cotidiana para contrastá-los com os anseios românticos. Nessa poesia, a obsessão pela morte acontece, o poeta evoca imagens pavorosas e seleciona palavras que criam um cenário de horror e morbidez. No começo do poema, o eu-lírico cadáver, em uma espécie de testamento, comunica aos poetas que profanem seu cadáver e lhe retirem as tripas. Nesses versos é introduzida a realidade da morte do corpo, matéria viva, que causa um efeito de estranhamento porque, para ele, a morte torna-se valor máximo. Nos próximos versos, conversa http://www.casadobruxo.com.br/poesia/a/alvares19.htm http://www.casadobruxo.com.br/poesia/a/alvares19.htm 12 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira com o próprio coração, que representa seu eu interior, e elabora uma profunda reflexão a respeito do verdadeiro sentido de morrer e ao mesmo tempo procura consolo e alívio apresentando as qualidades da morte e o bem que pode consentir a um morto. Nos versos finais, o poeta acrescenta a opção pelo Inferno aos boêmios e ressalta que o Céu são para os tolos, lugar de rezar e cantar ladainha. O poema remete ao satanismo de Byron e, nesse caso, distancia o eu- lírico do divino. O poeta Álvares de Azevedo faz uma crítica irônica à igreja e à sociedade. Para Alfredo Bosi (1994, p.111-112), Álvares de Azevedo, poeta juvenil, morto antes de tocar sua plena juventude, aos vinte anos, foi o escritor que mais representou o Romantismo da Segunda Geração Ultrarromântica no Brasil. Uma poesia subjetiva, de uma interioridade absoluta, e que por isso serve como documento e que, atualmente, pode também ser estudada pelo viés da psicologia e da psicanálise, tão ligada está à condição do sujeito. Um estilo novo e surpreendente, que se constrói por meio do elemento fantástico e associado aos devaneios e sonhos. A princípio, esse método de construção causa certo estranhamento ao leitor, contudo, para compor o eu-lírico melancólico, depressivo, solitário, com transposições de entusiasmos misturadas ao tédio da vida e que sente repulsa pelas moléstias físicas e morais de uma sociedade degradada e corrupta, o poeta Álvares de Azevedo recorre ao sobrenatural, ao desconhecido e capta na morte o caminho para libertação. Quanto ao transcender, podemos dizer que é uma espécie de fuga do real e que acontece através do sonho e devaneio. Álvares de Azevedo transcende elementos da natureza, elevando-os à condição espiritual e procurando a satisfação d’alma no infinito do universo. Antonio Candido (1993, p.161) declara que as dissipações imaginárias de Álvares de Azevedo são tão fortes quanto ao mundo da realidade. A fantasia, para o poeta, torna-se uma experiência mais viva que a própria realidade. Logo, pode causar tanto sofrimento quanto ela. No poema “Um cadáver poeta”, o poeta demonstra a repulsa da vida e o desejo da morte como libertação: Um cadáver de poeta Levem ao túmulo aquele que parece um cadáver! Tu não pesaste sobre a terra: a terra te seja leve! L. UHLAND. De tanta inspiração e tanta vida Que os nervos convulsivos inflamava E ardia sem conforto... O que resta? uma sombra esvaecida, Um triste que sem mãe agonizava... Resta um poeta morto! (...) O mundo tem razão, sisudo pensa, E a turba tem um cérebro sublime! De que vale um poeta — um pobre louco Que leva os dias a sonhar — insano Amante de utopias e virtudes E, num tempo sem Deus, ainda crente? 13 (...) A poesia é de certo uma loucura, Sêneca o disse, um homem de renome. É um defeito no cérebro.. Que doidos! É um grande favor, é muita esmola Dizer lhes bravo! à inspiração divina, E, quando tremem de miséria e fome, Dar lhes um leito no hospital dos loucos... Quando é gelada a fronte sonhadora, Por que há de o vivo que despreza rimas Cansar os braços arrastando um morto, Ou pagar os salários do coveiro? A bolsa esvazia por um misérrimo Quando a emprega melhor em lodo e vício! E que venham aí falar me em Tasso! Culpar Afonso d’Est—um soberano!— Por que não lhe dar a mão da irmã fidalga! Um poeta é um poeta—apenas isso: (...) (Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10. html, acesso em 17 de novembro de 2013). No poema, Álvares de Azevedo, com lucidez, tematiza a vida de poeta e a condição que ocupa no mundo burguês. Temos a presença da frustração e do desencanto misturados a um fundo de ironia e de crítica tanto à sociedade quanto ao próprio comportamento do poeta. Percebemos a presença de um caráter de projeção interior no qual avalia sua condição e posição no mundo da mercadoria. A presença de um julgamento negativo a respeito de seu próprio eu, qualificando-se como louco, insano e desprezado pelo meio social, que tem como caminho a morte e o esquecimento do poeta. Acredita-se que essa tendência do poeta pelo tema da morte pode ter sido fruto das leituras da poesia de Byron, que teve grande influência na Europa. No Brasil, influenciou os jovens da Faculdade São Francisco e principalmente Álvares de Azevedo. O poema Lembrança de morrer expressa todas as características e definições estudadas: No more O never more! Shelley Quando em meu peito rebentar-se a obra Que o espírito enlaça à dor vivente, Não derramem por mim nem uma lágrima Em pálpebra demente. http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.html 14 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira E nem desfolhem na matéria impura A flor do vale que adormece ao vento; Não quero que uma nota de alegria Se cale por meu triste passamento. Eu deixo a vida como deixa o tédio Do deserto, o poento caminheiro __ Como as horas de um longo pesadelo Que se desfaz ao dobre de um sineiro; Como o desterro de minh’alma errante, Onde fogo insensato a consumia: Só levo uma saudade – é desses tempos Que amorosa ilusão embelecia. Só levo uma saudade– é dessas sombras Que eu sentia velar nas noites minhas . . . De ti, ó minha mãe pobre coitada Que por minha tristeza te deflnhas! De meu pai . . . de meus únicos amigos, Poucos – bem poucos – e que não zombavam Quando, em noites de febre endoidecido, Minhas pálidas crenças duvidavam. Se uma lágrima as pálpebras me imunda, Se um suspiro nos seios treme ainda É pela virgem que sonhei . . . que nunca Aos lábios me encostou a face linda! Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores . . . Se viveu, foi por ti! E de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho antigo . . . Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Descansem o meu leito solitário Na floresta dos homens esquecida, À sombra de uma cruz, e escrevam nela: Foi poeta – sonhou – e amou na vida. – Sombras do vale, noites da montanha Que minh’alma cantou e amava tanto, Protegei o meu corpo abandonado, E no silêncio derramai-lhe um canto! 15 Mas quando prelúdia ave d’aurora E quando à meia-noite o céu repousa, Arvoredos do bosque, abri os ramos . . . Deixai a lua pratear-me a lousa! (Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10. html, acesso em 17 de novembro de 2013) Neste poema, Álvares de Azevedo traduz bem parte da poesia romântica brasileira. “Lembrança de morrer” é um poema com características que marcam a segunda geração do Romantismo. O próprio título remete o leitor à temática da morte e causa certo estranhamento no momento da leitura. Sendo uma poesia também reflexiva, notamos um eu-lírico bastante emotivo e, no conteúdo de cada verso, sentimos sua agonia, desesperança, melancolia e insatisfação perante o mundo real e burguês em fase de estagnação, como se observa nos versos: “Não quero que uma nota de alegria /Se cale por meu triste passamento./ Eu deixo a vida como deixa o tédio/(...)Como as horas de um longo pesadelo”. Perceba que o eu-lírico constitui o poema afirmando e reafirmando sua insatisfação e inadequação com a realidade e revela que na morte pode libertar-se do tédio e restabelecer o equilíbrio e a harmonia interiores. Essa manifestação altamente evocativa e de caráter ilusório percorre o eu interior do poeta. A passagem do consciente para o inconsciente aparece na própria visão da natureza, que elege simbolicamente os estados do corpo e do espírito do eu-lírico, como se observa nos versos: “Descansem o meu leito solitário/Na floresta dos homens esquecida/ Sombras do vale, noites da montanha/ Que minh’alma cantou e amava tanto/ Protegei o meu corpo abandonado,/E no silêncio derramai-lhe um canto!”. Em meio a essa ingênua reflexão de lembranças vividas e não vividas, o eu-lírico, nos versos: “Como as horas de um longo pesadelo/ Que se desfaz ao dobre de um sineiro/; Como o desterro de minh’alma errante/ Onde fogo insensato a consumia: / Só levo uma saudade – é desses tempos /Que amorosa ilusão embelecia”, confessa que sua alma está carregada de culpas que o consomem como fogo e pouquíssimas coisas levará com ele após a morte do corpo. Aqui, podemos refletir que nesse devaneio o eu-lírico reconhece seus erros e lembra racionalmente das pessoas que tanto o amavam: o amor da mãe, do pai e de poucos amigos. Note que esses versos expressam um eu solitário que aos poucos se conscientiza de sua condição no mundo. Aos poucos, o poeta o encaminha à cerimônia de passagem da matéria para o espírito. O poema segue num tom fúnebre de despedida e melancolia. Em seguida, lembra-se, com dor e lágrima, da mulher pura que tanto desejou, mas da qual jamais se aproximou: Se um suspiro nos seios treme ainda É pela virgem que sonhei . . . que nunca Aos lábios me encostou a face linda! http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.html 16 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Só tu à mocidade sonhadora Do pálido poeta deste flores . . . Se viveu, foi por ti! E de esperança De na vida gozar de teus amores. Beijarei a verdade santa e nua, Verei cristalizar-se o sonho antigo . . . Ó minha virgem dos errantes sonhos, Filha do céu, eu vou amar contigo! Uma característica presente na poesia romântica azevediana é a figura da mulher idealizada e distante do eu-lírico. Uma mulher virgem, bela, de carne e osso, mas impossível de ser tocada ou beijada pelo poeta. Vejam que, na evasão dos sonhos e nos seus delírios, o eu-lírico acredita encontrá-la em outro plano, por isso procura transcender nos sonhos: “Beijarei a verdade santa e nua/ Verei cristalizar-se o sonho antigo . . ./Ó minha virgem dos errantes sonhos/ Filha do céu, eu vou amar contigo!” Na estrofe seguinte, despede-se da vida, não com sentimento de um pesar negativo, mas com tom de libertação e agradecimento à morte. No Romantismo, para o homem atingir o divino e harmonizar-se com o Absoluto, deve se deparar com o feio, com a matéria impura, com a dor e sofrimento. A palidez, palavra recorrente na poesia de Álvares de Azevedo, marca a passagem dos estados emotivos e de certo modo oferece uma tonalidade afetiva e até nebulizadora da paisagem na qual se encontra: “Só tu à mocidade sonhadora/Do pálido poeta deste flores.../Se viveu, foi por ti! E de esperança/De na vida gozar de teus amores.” Nas últimas estrofes, para consagrar o seu desterro terreno, apresenta o epitáfio: “À sombra de uma cruz, e escrevam nela:/ Foi poeta – sonhou – e amou na vida.” Em sequência, recorre à Natureza para velar a solidão do seu corpo no sepulcro. Lembremos que a Natureza, no Romantismo, representa o estado de espírito do eu-lírico. Procure entender a complexidade e profundidade da obra do jovem Álvares de Azevedo, que para Alfredo Bosi (1994, p.110) contempla a poética dos domínios obscuros do inconsciente. O poeta define esse novo estilo, essa nova inflexão de seu egotismo. E, para encerrarmos essa trajetória a respeito do poeta romântico Álvares de Azevedo, vale mencionar um fragmento do romance epistolar Obermann do filósofo francês Étienne-Jean-Baptiste-Pierre-Ignace Pivert de Senancour, citado por Alfredo Bosi: “Eu sinto: eis a única palavra do homem que exige verdades. Eu sinto, eu existo para me consumir em desejos indomáveis, para me embeber na sedução de um mundo fantástico, para viver aterrado com o seu voluptuoso engano.”Ora, a oclusão do sujeito em si próprio é detectável por uma fenomenologia bem conhecida: o devaneio, o erotismo difuso ou obsessivo, a melancolia, o tédio, o namoro com a imagem da morte, a depressão, a auto-ironia masoquista: desfigurações todas de um desejo de viver que não logrou sair do labirinto onde se aliena o jovem crescido em um meio romântico-burguês em fase de estagnação.” (1994, p.110) 17 Continuaremos a analisar poemas de outros poetas que tematizam a morte como meio de libertação do homem. Podemos até refletir a respeito: muitas vezes ouvimos essa expressão: Fulano morreu, agora ele vai descansar e vai para um lugar melhor. Então será que transcender não é encontrarmos a paz que tanto buscamos na vida terrena? O poeta simbolista Cruz e Sousa, como o romântico Álvares de Azevedo, busca na temática da morte traduzir suas inquietações em relação à vida. Ambos concebem que a morte do corpo é a única forma de libertação do homem. Cruz e Sousa teve uma vida marcada pelo preconceito racial de que fora vítima desde a infância, contrário a Álvares de Azevedo, que nasceu de uma família importante e cresceu cercado de carinho. Quando nomeado Promotor em Laguna, Cruz e Souza foi impedido de assumir o cargo devido a sua cor negra. Parte para o Rio de Janeiro e casa-se com uma mulher negra, que revelou ter problemas mentais e depois de algum tempo morre num hospício. Dessa união nascem quatro filhos, dos quais dois morrem de tuberculose. Cruz e Sousa alimenta sua alma de poeta com perdas, angústias, sofrimentos e preconceito racial. Morre aostrinta e seis anos de tuberculose. Foi considerado o maior poeta simbolista brasileiro. Cruz e Sousa, na sua poesia, revela influência parnasiana e apoia-se no domínio da forma. Assim como os poetas ultrarromânticos, os simbolistas sofrem a inadequação e rejeição à ordem da sociedade burguesa e, por isso, não se adaptam aos padrões e imposições do mundo exterior. O desejo do poeta simbolista é de transcender e libertar seu espírito da matéria. Assim como os românticos, os simbolistas também buscam solucionar seus conflitos existenciais através da morte. Para o simbolista, a felicidade virá na imortalidade, pois não a usufruiu em vida. E a dor representa um instrumento de redenção e salvação do homem, uma espécie de purificação da alma. Diferente de Álvares de Azevedo, que perseguia a morte, para Cruz e Sousa a morte foi uma sombra que o acompanhou durante toda trajetória de vida. Segundo Bosi (1994, p.270-271), o ponto mais alto de sua poesia está entre estar preso a um mundo terreno que nega e rejeita sua cor negra e o desejo de transcendência para outra vida. Sua poesia revela marcas do movimento parnasiano, que preza a forma e não o conteúdo, explora a subjetividade, o impreciso, o espiritual e o sinestésico. Estas últimas características são uma representação estética simbolista. Um fazer poético reflexivo e de profundo caráter psicológico, que aponta a condição trágica do homem moderno. Durante a análise dos poemas, tais questões ficarão mais claras. Da mesma forma que Álvares de Azevedo expõe para o leitor a complexidade de seu universo interior, o subjetivismo, o inconformismo, o pessimismo e o desejo de alcançar o divino, Cruz e Sousa também o faz, mas em outra linha de pensamento. Quando observamos e analisamos com atenção o conteúdo poético de Álvares de Azevedo e Cruz e Sousa, notamos uma forte relação com os poetas europeus. O primeiro, com as leituras do poeta Lord Byron, Musset e o segundo, com as obras dos franceses Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud e Verlaine. Por essa forte influência, distanciam-se da realidade da vida provinciana do Brasil da época e estabelecem uma aproximação com os costumes e influências da cultura europeia. Alfredo Bosi (1994, p.272) elabora um estudo a respeito do fazer poético de Cruz e Sousa e declara que a palavra é portadora de todo um universo de dor, sofrimento, humilhação, preconceito, isolamento, doença, loucura da mulher e a morte prematura dos filhos. No poema Clamando, de Cruz e Sousa, a sublimação da dor e do sofrimento do poeta se manifesta no eu-lírico: 18 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Bárbaros vãos, dementes e terríveis Bonzos tremendos de ferrenho aspecto, Ah! deste ser todo o clarão secreto Jamais ponde infiammar-vos, Impassíveis! Tantas guerras bizarras e incoercíveis No tempo e tanto, tanto immenso affecto, São para vós menos que um verme e êxito Na corrente vital pouco sensíveis. No entanto nessas guerras mais bizarras De sol, clarins e rútilas fanfarras, Nessas radiantes e profundas guerras... As minhas carnes se dilaceraram E vão, das ilusões que flamejaram, Com o próprio sangue fecundando as terras... (Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor. br/csousa.html, acesso em 16 de novembro de 2013) Após a leitura do poema, notamos que as palavras do poeta reproduzem todo um sentimento de desilusão, frustração, humilhação e profunda tristeza. Cruz e Sousa apresenta, com clareza, a sua condição de poeta condenado pela cor e pobreza. Nesses versos, o eu-lírico declara sua impotência perante a rejeição da sociedade pela qual tanto lutou, mas não alcançou reconhecimento. A escolha dos adjetivos “dementes”, “bizarros”, “incoercíveis” (incontroláveis) e dos substantivos “guerras”, “bárbaros”, “verme” e “inseto” assinalam o desabafo do poeta. Na última estrofe, Cruz e Sousa reproduz sua própria tensão marcada pela morte dos filhos e declara com pesar profundo sua impotência perante o destino. Conforme Bosi (1994, p.274), o uso do substantivo abstrato no plural sugere uma dimensão sensível no universo das ideias do poeta: transparência, melancolia, cegueira, purificação e quintessência. As minhas carnes se dilaceraram E vão, das Ilusões que flamejaram, Com o próprio sangue fecundando as terras. Acrescenta-se que, nessa estrofe destacada, o verbo “dilacerar” reforça a ideia do tom confessional do poeta, que expressa, no verso “As minhas carnes se dilaceraram”, a dor e sofrimento da perda dos filhos. Por isso, vive entre dois mundos: o da matéria e do espírito, os quais, no seu fazer literário, manifestam a plena expressão de si mesmo. Nestor Vitor (Bosi, 1994, p.275), na obra de Cruz e Sousa, observa a presença vigorosa do tratamento biográfico. Observe os fragmentos do poema “Sem Esperança”, de Faróis: http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html 19 Ó cândidos fantasmas da Esperança Meigos espectros do meu vão Destino, Volvei a mim nas leves ondas do Hino Sacramental de Bem-Aventurança. Nas veredas da vida a alma não cansa De vos buscar pelo Vergel divino Do céu sempre estrelado e diamantino Onde toda a alma do Perdão descansa. Na volúpia da dor que me transporta, Que este meu ser transfunde nos Espaços, Sinto-te longe, ó Esperança morta. E em vão alongo os vacilantes passos À procura febril de tua porta, Da ventura celeste dos teus braços. (Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor. br/csousa.html, acesso em 16 de novembro de 2013) A atmosfera criada no poema “Sem Esperança” sustenta a ideia e o desejo do eu-lírico de transcender. Para dar valor absoluto aos versos, algumas palavras são escritas com letras maiúsculas (Bem-Aventurança, Esperança, Espaços, Perdão, Vergel, Destino, Sacramento). Logo no início do poema, o eu-lírico já evidencia a questão da morte como libertação da vida terrena. Do léxico empregado, notamos que algumas palavras recebem uma nova significação quando são adicionados a elas locuções e adjetivos de efeito (“Esperança morta”, “volúpia da dor”). Entenda que os recursos linguísticos selecionados revelam o desejo de transcendência e está expresso no poema por meio de palavras luminosas e translúcidas: “onda”, “céu”, “estrelado”, “diamantino” e “celeste”. A escolha dos substantivos “fantasma” e “espectro”, que significam medo e terror, na poesia de Cruz e Sousa, na transmutação de significado, expressam a esperança e o conforto do poeta. “Ó cândidos fantasmas da Esperança /Meigos espectros do meu vão Destino/ De vos buscar pelo Vergel divino/Do céu sempre estrelado e diamantino / Onde toda a alma do Perdão descansa”. Nos versos seguintes, com calma e serenidade, o poeta profere que a dor corpórea representa purificação do espírito para posterior transcendência. “Na volúpia da dor que me transporta, / Que este meu ser transfunde nos Espaços, /Sinto-te longe, ó Esperança morta. E em vão alongo os vacilantes passos /À procura febril de tua porta,/ Da ventura celeste dos teus /braços.” Note que os poemas de Cruz e Sousa, a cada verso, ganham musicalidade, por isso o cuidado do poeta na escolha de um léxico que possibilite a concretização da significação da sonoridade. Outra característica é a presença do recurso estilístico sinestesia, que associa dois ou mais sentidos sensoriais (visão, tato, audição, olfato e paladar). Observe como esse recurso permeia o conteúdo do poema “Cristais”, de Cruz e Sousa: http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html 20 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Mais claro e fino do que as finas pratas o som da tua voz deliciava… Na dolência velada das sonatas como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas em lânguida espiral que iluminava, brancas sonoridades de cascatas… Tanta harmonia melancolizava.(...) Como que anseios invisíveis, mudos, da brancura das sedas e veludos, das virgindades, dos pudores vivos. (Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/ csousa.html, acesso em 16 de novembro de 2013) O poema se constrói através da sinestesia: “Mais claro e fino do que as finas pratas/o som da tua voz deliciava…(...)/ como um perfume a tudo perfumava/.” Nesses versos, o eu-lírico busca, nos sentidos sensoriais audição e olfato, expressar a significação e beleza da voz no poema. “Era um som feito luz, eram volatas/(..)brancas sonoridades de cascatas….(...)/ da brancura das sedas e veludos.” Observe que os versos retirados do poema se misturam e dialogam com os sentidos visão e audição. Outra característica da poesia simbolista refere-se a cor branca, que representa a pureza e o caminho para o plano transcendental. Das análises construídas, vimos em Álvares de Azevedo uma contemplação poética com forte tendência para evasão através dos sonhos e devaneios. Um fazer poético marcado pela fuga da realidade, profunda depressão, desencanto com a vida traduzido em temas mórbidos, impuros, fúnebres e melancólicos, que anunciam o desejo de morrer do poeta, que aos vinte anos morre de tuberculose. Em sequência, apresentamos o simbolista Cruz e Sousa que, ao longo da vida ,convive com a morte e a rejeição da sociedade por ser negro. Homem e poeta que busca, na transcendência, libertar seu espírito da matéria. Uma poesia que cultiva a temática da morte e contempla os sentimentos do poeta. Confrontados, entendemos que a morte representa o meio de libertação desses poetas. Uma poesia de caráter psicológico que explora e revela a interioridade e problemática do ser. Avançando nessa linha da temática da morte, encontramos o pré- modernista Augusto dos Anjos, que apresenta, em sua obra, um critério estético cientifico, adicionado a um vocabulário rebuscado e de mal gosto para expressar a angústia e degradação do homem moderno. Através de traços expressionistas, Augusto dos Anjos produz imagens, na sua poesia, que revelam um interior humano caótico e irracional, que mostra o individualismo do homem. Conforme Alfredo Bosi (1994, p.288-289), a poesia de A. dos Anjos se caracteriza por uma profunda angústia diante da fatalidade da morte que leva à decomposição e à putrefação da carne. O destino da vida é ao final fabricar vermes de uma matéria morta, como se observa no poema a seguir, Psicologia de um vencido: Mais claro e fino do que as finas pratas o som da tua voz deliciava� Na dol�ncia velada das sonatas como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas em l�nguida espiral que iluminava, brancas sonoridades de cascatas� Tanta harmonia melancolizava. (...) Como que anseios invis�veis, mudos, da brancura das sedas e veludos, das virgindades, dos pudores vivos. (Dispon�vel em http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html, acesso em 16 de novembro de 2013) Mais claro e fino do que as finas pratas o som da tua voz deliciava� Na dol�ncia velada das sonatas como um perfume a tudo perfumava. Era um som feito luz, eram volatas em l�nguida espiral que iluminava, brancas sonoridades de cascatas� Tanta harmonia melancolizava. (...) Como que anseios invis�veis, mudos, da brancura das sedas e veludos, das virgindades, dos pudores vivos. (Dispon�vel em http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html, acesso em 16 de novembro de 2013) 21 Eu, filho do carbono e do amoníaco, Monstro de escuridão e rutilância, Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia Que se escapa da boca de um cardíaco. Já o verme - este operário das ruínas - Que o sangue podre das carnificinas Come, e á vida em geral declara guerra, Anda a espreitar meus olhos para roê-los, E há de deixar-me apenas os cabelos, Na frialdade inorgânica da terra! (Disponível em http://www.jornaldepoesia. jor.br/augusto.html, acesso em 16 de novembro de 2013) Veja que a expressividade do poema está na utilização de um vocabulário científico que envolve química e biologia com termos técnicos que traduzem a podridão do mundo, de um cosmo em dissolução. Nas duas primeiras estrofes, o eu-lírico rejeita a vida moderna e afirma que esse ambiente lhe causa repugnância. Eu, filho do carbono e do amoníaco, (...) Sofro, desde a epigênese da infância, A influência má dos signos do zodíaco. Profundissimamente hipocondríaco, Este ambiente me causa repugnância... (...) O poeta assiste e descreve a destruição implacável do corpo e o verme será o símbolo desse processo de degeneração. A escolha de expressões referentes às realidades cósmicas e vitais estão vinculadas à morte e representam a profunda depressão do poeta. Perceba que o poeta mostra a trajetória do homem a caminho da dissolução da matéria corporal. De acordo com Bosi (1994, p.289), Augusto dos Anjos produz uma poesia violenta, canta a miséria da carne que culmina na destruição do homem através da putrefação do corpo. Para ele, as forças da matéria conduzem o homem ao Mal e ao Nada e, como espectador, divulga ao leitor esse processo de destruição. Ao final, na última estrofe, o corpo não tem outro destino senão fabricar miasmas que causam fedor e putrefação. http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto.html 22 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira A opção de agregar elementos estranhos no discurso poético fez do poeta Augusto dos Anjos um moderno para a época. A visão negativa da existência é tecida por imagens que chocam o público leitor e mostram a realidade do ser, em vida, seguir rumo ao nada. Muito por conta disso sua poesia foi criticada e rejeitada. Contudo, Augusto dos Anjos foi um poeta mensurado por uma estética aberta na qual o objetivo é conhecer a espécie humana. O poeta cria uma poesia com dimensão cósmica para decifrar os mistérios do eu. A teoria do Evolucionismo de Darwin a respeito da concepção da origem humana ligada à ciência influenciou sua poesia. Como os simbolistas e os românticos, o poeta modernista Manuel Bandeira também desenvolve a temática da morte na poesia. Sua obra também é de fruto psicológico, de um lirismo confidencial, auto-irônico que preserva alguns ecos do Romantismo. Na adolescência, Manuel Bandeira contraiu tuberculose e a sombra da doença continuou a persegui-lo na vida adulta. Podemos, aqui, lembrar Cruz e Sousa, que também conviveu com a morte durante sua vida. Manuel Bandeira foi um poeta solitário, que observou o mundo em seus detalhes e continuamente, retirando-lhe a matéria para o seu fazer poético. Essa observação distante é fruto da saúde frágil do poeta, que o afasta das multidões, mas não o impede de observá-la. Segundo Bosi (1994, p.361), Manuel Bandeira foi considerado um dos melhores poetas brasileiros do verso livre, principalmente pelo esforço em romper com a dicção entre simbolismo e parnasianismo, mas não se libertou da esfera romântica ou de ecos neoclássicos, pois sua poesia exige essa delicadeza e trato. No poema Maçã, de Manuel Bandeira, observa-se que, com muita maestria e delicadeza, a fruta representa o processo e trajetória da vida. Por um lado te vejo como um seio murcho Pelo outro como um ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário És vermelha como o amor divino Dentro de ti em pequenas pevides Palpita a vida prodigiosa Infinitamente E quedas tão simples Ao lado de um talher Num quarto pobre de hotel. (Disponível em http://www.mackenzie.br/ fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/ primus_4/bahia_resenha_humildade.pdf, acesso em 17 de novembro de 2013). http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/primus_4/bahia_resenha_humildade.pdf http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/primus_4/bahia_resenha_humildade.pdfhttp://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/primus_4/bahia_resenha_humildade.pdf 23 David Arrigucci, com sensibilidade, analisa esse poema que, a partir da observação, mapeia arquétipos de vida, morte e do divino. Acrescenta que remete às várias maçãs pintadas por Cézane, que se chamou “natureza morta” e se caracterizou pela contemplação e impressão do objeto. Apresentamos aqui uma poesia visual e técnica na qual o poeta fornece à maçã a possibilidade de transcender a realidade, evocando um leque de significações. Pense em uma maçã completa, vermelha, perfeita. Siga cada verso e vislumbre as imagens que se formam: primeiramente, o eu-lírico a compara com um seio murcho. Lembre que a maçã, no seu estado de decomposição, murcha, de tal forma que realmente remete o leitor à imagem de um seio, possivelmente de uma mulher idosa, que perde todo o seu frescor no processo natural de envelhecimento do corpo. Em oposição, o poeta observa a maçã e lembra o quão misterioso é a origem da vida. Concebe-a como um “ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário”: “És vermelha como o amor divino/Dentro de ti em pequenas pevides/ Palpita a vida prodigiosa/Infinitamente”. O alcance desses versos se traduze em uma beleza que transcende, pois descreve o segredo da vida. A maçã, na sua simplicidade, agora, representa o ventre da mulher. As sementes, o embrião. A haste, o cordão umbilical. Nesse poema, Manuel Bandeira explicita a origem da vida e o momento da morte. No poema Não sei dançar, Manuel Bandeira confidencia momentos de alegria e solidão em um lirismo biográfico e com um fundo de melancolia. Uma poesia menos agressiva , com momentos de alegria que se misturam com uma tristeza. Leia com atenção um trecho do poema: (...) tomei tristeza, hoje tomo alegria. Tenho todos os motivos menos um de ser triste. Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria... (...) Sim, já perdi pai, mãe, irmãos. Perdi a saúde também. É por isso que sinto como ninguém o ritmo do jazz band. Uns tomam éter, outros cocaína. Eu tomo alegria! Eis aí por que vim assistir a este baile de terça- feira gorda. (Disponível em http://www.jornaldepoesia. jor.br/manuelbandeira.html, acesso em 17 de novembro de 2013). Entenda que o poeta começa seus versos relembrando as perdas familiares e a própria saúde. E, em sequência, com humor irônico, demonstra indiferença em relação à morte, pois através dela encontra a vontade e a satisfação de viver. http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html 24 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira No poema Momento num café, a morte é vista como um fim. Observe: Quando o enterro passou Os homens que se achavam no café Tiraram o chapéu maquinalmente Saudavam o morto distraídos Estavam todos voltados para a vida Absortos na vida Confiantes na vida. Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado Olhando o esquife longamente Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem finalidade Que a vida é traição E saudava a matéria que passava Liberta para sempre da alma extinta. (Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/ manuelbandeira.html, acesso em 17 de novembro de 2013) Neste poema, Manuel Bandeira descreve uma cena cotidiana, a passagem de um enterro: “Quando o enterro passou/Os homens que se achavam no café/ tiraram seus chapéus maquinalmente.” Perceba que o poeta Manuel Bandeira escolhe como ambiente a rua e um bar. Na época, os bares eram locais sociais onde os homens se reuniam para conversar e tomar aperitivos, um lugar de respeito. Note que os frequentadores do bar, ao verem o esquife passar, retiram o chapéu como sinal de respeito e educação, uma regra de etiqueta, sem preocupação com aquele que partiu dessa vida. Por isso, o eu-lírico, no verso, utiliza o termo “maquinalmente”. “Saudavam o morto distraídos/Estavam todos voltados para a vida/Absortos na vida/Confiantes na vida”. Esses homens, que não temos as descrições, estão envolvidos naquele momento de lazer, na sua vida comum, e por isso, talvez, a impossibilidade de refletirem sobre o fim da vida. Porém, somente um homem interioriza a cena, “Um no entanto se descobriu num gesto largo e demorado/Olhando o esquife longamente”, num tempo psicológico que se difere dos outros homens, reflete e conclui que a vida é passageira e de nada adianta essa agitação constante em que vivemos no cotidiano. Percebemos, no eu-lírico, uma tomada de consciência a respeito da vida e da morte. Para finalizar, o poema nos causa certo estranhamento, pois destaca que o homem saúda a matéria – corpo – liberta de uma alma agora extinta. Para ele, não é a alma que necessita libertar-se do corpo mas sim o corpo deve libertar-se da alma. Por fim, a temática da morte, em Manuel Bandeira, expressa a condição humana, carnal, finita e presa a um doloroso anseio de transcendência, mas que talvez não exista, já que a alma é extinta. Constrói-se, também, por meio das observações da vida simples e cotidiana, e cria uma poesia com temáticas universais, cujo cenário revela certo desencanto em relação à vida e uma profunda tristeza associados à melancolia. Na temática da morte, vislumbramos a presença desse eu em desencanto, que acaba por atribuir a Manuel Bandeira ecos do Romantismo, mesmo se tratando de um poeta modernista. http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html 25 Finalizamos mais uma parte de nossos estudos. Mergulhamos no Romantismo e dialogamos com outros períodos literários para entendermos a importância do Romantismo na Literatura. Devemos perceber que os poetas estudados e analisados demonstram, por meio da temática da morte, um assunto universal: apresentar as insatisfações, os conflitos e os desajustes da humanidade. Revelar que o homem empobreceu em sua humanidade, tornando-se frio, individual e materialista em sua natureza moderna. Para libertar-se desse contexto alienado, deixa-se levar pela dor e sofrimento que culminam na morte e separação entre espírito e matéria. 26 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Material Complementar Para saber um pouco mais sobre os poetas estudados, consulte os sites selecionados: http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/034/GENTIL_FARIA.pdf acessado em 04 de dezembro de 2013 http://www.textopoetico.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=105&Itemid=30 acessado em 06 de dezembro de 2013 http://books.google.com.br/books/about/Literatura_brasileira.html?hl=pt-BR&id=Rqe541dqSIoC acessado em 16 de dezembro de 2013 http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/052/ALEXANDRE_ ANDRADE.pdf. acessado em 16 de dezembro de 2013 http://editorarealize.com.br/revistas/abralicinternacional/trabalhos/Completo_Comunicacao_ oral_idinscrito_914_722314ce80543dc42524070f3258d6d7.pdf acessado em 17 de dezembro de 2013 http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/013/MARIA_CUNHA.pdf. acessado em 17 de dezembro de 2013 http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Cruz_e_Souza/cap-II/978sc117.html. acessado em 18 de dezembro de 2013 http://crv.educacao.mg.gov.br/aveonline40/banco_objetos_crv/4_A_LITERATURA_EM_ DIALOGO_COM_OUTRAS_ARTES.pdf . acessado em 18 de dezembro de 2013 http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/034/GENTIL_FARIA.pdf http://www.textopoetico.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=105&Itemid=30 http://books.google.com.br/books/about/Literatura_brasileira.html?hl=pt-BR&id=Rqe541dqSIoC http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/052/ALEXANDRE_ANDRADE.pdf http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/052/ALEXANDRE_ANDRADE.pdf http://editorarealize.com.br/revistas/abralicinternacional/trabalhos/Completo_Comunicacao_oral_idinscrito_914_722314ce80543dc42524070f3258d6d7.pdfhttp://editorarealize.com.br/revistas/abralicinternacional/trabalhos/Completo_Comunicacao_oral_idinscrito_914_722314ce80543dc42524070f3258d6d7.pdf http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/013/MARIA_CUNHA.pdf http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Cruz_e_Souza/cap-II/978sc117.html http://crv.educacao.mg.gov.br/aveonline40/banco_objetos_crv/4_A_LITERATURA_EM_DIALOGO_COM_OUTRAS_ARTES.pdf http://crv.educacao.mg.gov.br/aveonline40/banco_objetos_crv/4_A_LITERATURA_EM_DIALOGO_COM_OUTRAS_ARTES.pdf 27 Referências BOSI, Alfredo Bosi. História Concisa da literatura brasileira. 42.ed, São Paulo: Cultrix,1994. CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 7ªed, Belo Horizonte: Ed. Itatiaia Ltda, 1993. CEIA, Carlos, s.v. “Metalinguagem”. E-Dicionário de Termos Literários. coord. de Carlos Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, http://www.edtl.com.pt, acessado em 06-02-2012. GOMES, Álvaro Cardoso. A estética romântica. São Paulo: Atlas, 1992. RONCARI, Luiz. Literatura Brasileira: Dos Primeiros Cronistas aos últimos Românticos. 2.ed, São Paulo: EDUSP,1995. http://www.edtl.com.pt/ 28 Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira Anotações www.cruzeirodosulvirtual.com.br Campus Liberdade Rua Galvão Bueno, 868 CEP 01506-000 São Paulo SP Brasil Tel: (55 11) 3385-3000 http://www.cruzeirodosulvirtual.com.br
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