Buscar

A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo Cruz e Sousa Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 30 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Literatura Brasileira 
Poética
A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, 
Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
Material Teórico
Responsável pelo Conteúdo:
Profa. Ms. Helba Carvalho. 
Revisão Textual:
Profa. Ms. Malu Rangel. 
5
• A representação da Sociedade no Romantismo 
• A morte na Visão do Romântico
Recomendamos que siga o seguinte roteiro para que tenha um melhor aproveitamento da unidade:
1. Leia o conteúdo teórico da disciplina;
2. Leia o mapa mental do conteúdo teórico;
3. Assista à apresentação narrada;
4. Faça a atividade de sistematização;
5. Faça a atividade de aprofundamento;
6. Leia o material complementar;
7. Formule suas dúvidas ao tutor da disciplina por meio do módulo Mensagens do blackboard 
ou ainda por meio do fórum de dúvidas da disciplina;
8. Procure ler as obras indicadas na bibliografia, principalmente aquelas que estão 
disponíveis na biblioteca eletrônica da Universidade, isso irá colocar você em contato 
com diferentes visões sobre o problema, além de fornecer a você um repertório maior de 
conceitos sobre os poetas estudados e as características de suas obras.
 · Nesta unidade, faremos uma reflexão sobre a temática 
da morte na poesia romântica de Álvares de Azevedo 
analisando-a comparativamente com poemas de poetas de 
outras estéticas literárias, como a do simbolista Cruz e Sousa, 
a do pré-modernista Augusto dos Anjos e a do modernista 
Manuel Bandeira. Além disso, discutiremos as características 
principais da época, envolvendo algumas questões biográficas 
sobre os poetas, e também fatores sociais, ideológicos, 
históricos e literários presentes no século XIX e no século XX.
A representação da morte na poesia de Álvares 
de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e 
Manuel Bandeira
6
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
Contextualização
No Romantismo, conhecemos um pouco da poesia de Álvares de Azevedo, que possui forte 
atração pela morte – desdobrada do pessimismo, tédio, morbidez e autodestruição – uma 
poesia melancólica e tediosa que demonstra o cansaço de viver do poeta. Na sua obra, o 
poeta exprimiu de maneira sarcástica e apaixonada os hábitos e costumes da sociedade. Dois 
personagens de uma peça de teatro que representam a alma perturbada do poeta: Macário – 
representa o Álvares de Azevedo byroniano, ateu, desregrado, irreverente e universal; Penseroso 
– representa o Álvares de Azevedo sentimental, crente, estudioso e nacionalista. Colocando um 
dos personagens situado em São Paulo e o outro, na Itália, o poeta cria a pátria da sua realidade 
e a da sua fantasia. Penseroso crítica Macário por não engajar-se ao nacionalismo paisagista 
e indianista da época, enquanto o outro declara ter vocação para as tendências e as ânsias 
de horizontes humanos, supernacionais. Penseroso, com sua fragilidade, morre melancólico e 
Macário debruça-se com Satã e observa nos outros moços a materialização da sua interioridade.
Na modernidade, podemos encontrar, por exemplo, no músico e compositor Renato Russo 
tal espírito conflituoso presente na obra de Álvares de Azevedo. Como podemos relacionar e 
comparar o poeta e o músico, principalmente o lado psicológico e social? A morte para Renato 
Russo também representa libertação e a música uma fuga da realidade? É preciso sublinhar que 
Renato Russo, no final da vida, consumido pela doença, expõe ainda mais sua interioridade.
Assista a esses vídeos como sugestão:
 » http://www.youtube.com/watch?v=uYCPuIqTgiQ
 » http://www.youtube.com/watch?v=8X6DnczDbD8
http://www.youtube.com/watch?v=uYCPuIqTgiQ
http://www.youtube.com/watch?v=8X6DnczDbD8
7
A representação da Sociedade no Romantismo 
 A pintura de Friedrich, “Viajante acima da 
neblina”, representa bem o homem do século 
XIX, um ser conflituoso que busca, por meio 
da reflexão, ajustar-se ao mundo materialista. 
A Natureza, para ele, torna-se um lugar de 
busca e reflexão sobre o novo mundo. Esse 
ser atormentado procura, nas reminiscências, 
refletir sobre seu próprio eu e sua condição no 
mundo, pois está dominado pelo progresso 
e imposições exigidas por uma sociedade 
individualista na qual tornou-se apenas um 
símbolo de mercadoria. 
Na poesia romântica da segunda geração, 
o Ultrarromantismo, encontramos tal indivíduo 
representado por um eu-lírico dicotômico (amor 
e medo, dor e sofrimento, impulso e timidez, 
solidão e tédio, insatisfação e inquietação, 
tristeza e melancolia) e com subjetividade 
profunda na qual volta-se para si mesmo em 
busca de seu verdadeiro eu interior, como uma 
espécie de fuga da realidade vivida, porém, 
mesmo nos seus devaneios, mantém sua 
consciência e racionalidade. Antonio Candido (1993, p.30) declara que o espírito romântico 
se fortalece de pessimismo e sadismo. Tudo que representa, para a geração romântica, uma 
contradição de valores éticos, políticos e sociais deve ser tratado dramaticamente na poesia e 
no romance, pois expressa o próprio sujeito nas suas virtudes e defeitos. 
Vamos, agora, identificar e compreender esse processo de mudança na caracterização do 
homem moderno.
Roncari (1995, p.477-479) observa que esse período é marcado por um mundo plenamente 
mercantilista, no qual todas as coisas se transformam em mercadoria, fato que foi desencadeado 
pela Revolução Industrial e pela implantação do capitalismo, no qual o próprio homem acaba 
por tornar-se uma mercadoria de uso, um objeto para o patrão. Pensemos em um homem de 
origem rural e rústica, que conhecemos em outros períodos literários, que sai do campo para 
a cidade em busca de uma vida melhor e se depara com uma realidade totalmente atípica 
a que pertencia: o trabalho unido à máquina e ao salário. Para compor esse cenário, essa 
nova visão de mundo moderno, apresentamos o advento das tecnologias, a construção de 
fábricas têxteis, a eletricidade, a vida urbanizada e o capitalismo que orienta e rege a vida de 
todos os indivíduos que pertençam ao grupo social. Logo, os sentimentos e os afetos deixam 
de prevalecer e oferecem lugar a materialidade plena que se torna fonte de poder, riqueza e 
posição social. Nesse contexto, o homem é medido pelos bens materiais que conquista. Sendo 
assim, os seus valores interiores são sufocados por essa materialidade selvagem. 
Fonte: Viajante acima da neblina, Caspar David Friedrich, óleo 
sobre tela, 1818.
8
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
 Você, que pertence ao século XXI, identificou-se com essa reflexão? Interessante que esse 
pensamento prevalece até nos dias de hoje.
O exposto nos apoia para entendermos melhor e conscientemente os poetas ultrarromânticos 
que descobrem na morte um meio de libertação desse mundo materialista. Estamos 
diante de uma sociedade estranha, desprovida de sentimentos, individualista e num processo 
de desumanização. 
Conforme Antonio Candido (1993, p.30), neste novo mundo, o poeta liberta-se da literatura 
clássica e das encomendas poéticas. Em consequência dessa ruptura, perde a proteção e 
posição social de escritor que ocupava na sociedade burguesa. Tal poeta, entregue a si mesmo, 
mostra-se inconformado e cada vez mais disposto a expressar na poesia o eu interior do homem 
moderno: pessimista, individualista, inconformado que toma consciência de sua posição no 
mundo: um ser solitário, triste e sozinho: “individualismo e consciência de solidão entrecortados 
pelo desejo de solidariedade; pessimismo enlaçado à utopia social e a crença no progresso; 
aumentam a complexidade desse patético dourado”, na expressão de Victor Hugo.
Segundo Roncari (1995, p.419) Victor Hugo em Prefácio de Cromwell, interpreta a “nova 
poesia” da seguinte maneira: 
O cristianismo conduz a poesia à verdade. Como ele, a musa moderna 
verá as coisas com um olhar mais elevado e mais amplo. Sentirá que 
tudo na criação não é humanamente ´belo´, queo feio existe ao lado 
do belo, o disforme perto do gracioso, o grotesco no reverso do sublime, 
o mal com o bem, a sombra com a luz.(..). É então que, com olhar fixo 
nos acontecimentos ao mesmo tempo risíveis e formidáveis, e sob a 
influência deste espírito de melancolia cristã e de crítica filosófica que 
notávamos há pouco, a poesia dará um grande passo (...) mudará toda a 
face do mundo intelectual. Ela se porá a fazer como a natureza, a misturar 
nas suas criações, sem entretanto confundi-las, a sombra com a luz, o 
grotesco com o sublime, em outros termos, o corpo com a alma, o animal 
com o espírito, pois o ponto de partida da religião é sempre o ponto de 
partida da poesia. Tudo é perfeitamente coeso (…) E aqui, permitam-nos 
insistir,(...) a diferença fundamental que separa,(...) a arte moderna da 
arte antiga,(...) a literatura romântica da literatura clássica (…)como meio 
de contraste, o grotesco é, segundo nossa opinião, a mais rica fonte que a 
natureza pode abrir à arte. 
Victor Hugo declara a importância do mundo, da dualidade na criação literária. Essa nova 
realidade e verdade permeiam a poesia romântica, o belo e o feio juntamente com a alma e 
o espírito se misturam e contribuem na forma e no conteúdo poético em relação à verdadeira 
face da descrição e sentimento do mundo real. Como podemos perceber após a leitura do 
fragmento, o escritor Victor Hugo elabora uma comparação entre o belo/sublime e o grotesco/
feio e manifesta que o primeiro representa a beleza e a pureza com todos seus encantos e 
graças. O segundo representa o ridículo, o impuro, as enfermidades e todas as feiuras e defeitos 
do mundo. No feio/grotesco encontramos os vícios, as paixões, as luxurias, os crimes, o pérfido, 
o enredador, o hipócrita, ou seja, tudo aquilo que o homem nega, mas tece na vida. Em suma, o 
feio é um grande conjunto de coisas negativas que tentamos reprimir, porém é parte integrante 
da realidade exterior, e o belo representa a organização, a pureza, a harmonia, o afeto e a 
simplicidade da vida.
9
Pensem que para o poeta romântico, o feio torna-se parte integrante da poesia, pois através 
dele revela ao público leitor os conflitos interiores do homem. Nesse processo de solidão, 
inadequação, pessimismo, a morte torna-se o caminho para libertação. O poeta Álvares de 
Azevedo compartilha esse pensamento, conforme veremos adiante.
A morte na Visão do Romântico 
Vamos, agora, conhecer o significado e importância da MORTE para o poeta romântico como 
símbolo de libertação do mundo exterior. Para esse estudo, vamos conhecer o pensamento de 
Georg Wilhelm Friedrich Hegel, filósofo alemão que desenvolveu um estudo sobre a estética 
romântica. Não iremos nos aprofundar nas leituras do sistema hegeliano, mas leia com atenção 
o fragmento selecionado, que o norteará no entendimento do Romantismo:
Na arte romântica , (...) a morte (...)proporciona ao espírito a libertação 
da sua finitude e ruptura, bem como a reconciliação espiritual do sujeito 
com o Absoluto.(...) na concepção de mundo romântico, a morte tem 
significado (...) da negação da negação e (...) transforma-se numa 
afirmativa (...) a dor e morte da subjetividade agonizante convertem-se 
em regresso a si, (...) nessa existência afirmativa (...) o espírito somente 
pode atingir mediante a cessação da sua existência negativa, na qual ele 
está isolado da sua verdade e da sua vida real. 
(In:GOMES, A.Cardoso,1992,p.138). 
Segundo Hegel, a morte é vista como algo positivo que liberta o homem da sua vida real 
e o transporta para o Absoluto. O poeta retorna para seu interior, verdadeiro eu, liberta-se da 
negatividade do mundo exterior e garante sua independência para viver na plenitude, mas, 
para alcançar essa busca pela libertação das imposições do mundo terreno, necessita separar-
se do corpo, matéria, e libertar o espírito. Percebam que no Romantismo o espírito conhece e 
reconhece o mundo real, mas procura retornar para si mesmo, ou seja, a realidade que observa 
não está de acordo com sua vontade e por isso refugia-se em seu interior.
Conforme Hegel, a ascensão espiritual e o encontro com o Divino acontecem somente 
quando o homem ultrapassa o mundo da finitude, o reino do mal, o mundo em que vivemos. 
Para esse momento de transcendência, Hegel destaca que a dor e a morte da subjetivação é o 
único caminho de reconciliação do homem com o divino. 
O Romantismo é a representação do conteúdo absoluto da verdade e, para explorar essa 
realidade, o poeta procura, através dos devaneios, fantasias e sonhos desprender-se do mundo 
terreno no sentido de alcançar o mundo espiritual do divino. Nesse processo de refletir suas 
reminiscências, encontra a si mesmo na sua própria subjetividade e conforta-se consigo mesmo. 
Notem que a poesia romântica deve dar conta de expressar essa complexidade do homem entre 
dois mundos, o da matéria e do espírito, o finito e o infinito, o efêmero e o eterno, por meio 
de uma transcendência espiritual, uma interiorização profunda do ser que deseja libertar-se do 
corpo através dos sonhos e devaneios. 
10
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
Álvares de Azevedo é o poeta que mais explora a temática da morte, inclusive seus poemas 
registram uma atração e fascínio pela ideia de morrer e estar nos braços da virgem pálida. Essa 
idealização absoluta e o interesse pelo amor e morte classificam sua obra como temas baixos. 
Antonio Candido (1993, p.167-169) declara que o fascínio pelas leituras de Byron, Victor 
Hugo, Musset, Shakespeare, Hoffman foi uma sobrecarga nas criações poéticas de Álvares de 
Azevedo, que revela, algumas vezes, um exagero artístico. Para o crítico, a influência do poeta 
inglês Lord Byron foi avassaladora ao adolescente de dezesseis anos que, como leitor precoce 
e assíduo dos textos de Byron, assimilou e cultivou as mesmas tendências. A obra byroniana 
caracteriza-se pelo culto excessivo do eu, sentimentalismo acentuado, sentimento spleen, termo 
que se associa ao tédio e à agonia de viver definida como “mal do século”. Na temática amorosa, 
o amor é apresentado com pessimismo, sofrimento e dor. Nessa acepção, a solução para tantos 
conflitos existenciais do homem está na morte. A essa temática, o poeta também associa o 
satanismo e a necrofilia que encontramos na construção das imagens poéticas. 
No prefácio que Álvares de Azevedo escreve para a Segunda Parte do livro Lira dos vinte 
anos, o poeta procura justificar os temas amor e morte: 
Cuidado, leitor, ao voltar esta página! Aqui dissipa-se o mundo visionário 
e platônico. (...) poetas do tempo, isto aqui é um tema, senão mais novo, 
menos esgotado ao menos que o sentimentalismo tão fasbionable desde 
Werther até René. Por um espírito de contradição, quando os homens se 
veem inundados de páginas amorosas preferem um conto de Bocaccio, 
uma caricatura de Rabelais, (...)Há uma crise nos séculos como nos 
homens. É quando a poesia cegou deslumbrada de fitar-se no misticismo e 
caiu do céu sentindo exaustas as suas asas de oiro.O poeta acorda na terra. 
Demais, o poeta é homem: Homo sum, como dizia o célebre Romano. 
Vê, ouve, sente e, o que é mais, sonha de noite as belas visões palpáveis 
de acordado. Tem nervos, tem fibra e tem artérias — isto é, antes e depois 
de ser um ente idealista, é um ente que tem corpo (...)Depois a doença 
da vida, que não dá ao mundo objetivo cores tão azuladas como o nome 
britânico de blue devils, descarna e injeta de fel cada vez mais o coração. 
Nos mesmos lábios onde suspirava a monodia amorosa, vem a sátira que 
morde.É assim. Depois dos poemas épicos, Homero escreveu o poema 
irônico. Goethe depois de Werther criou o Faust. Depois de Parisina e o 
Giaour de Byron vem o Cain e Don Juan — Don Juan que começa como 
Cain pelo amor e acaba como ele pela descrença venenosa e sarcástica.
Agora basta.
Ficarás tão adiantado agora, meu leitor, como se não lesses essas páginas, 
destinadasa não serem lidas. Deus me perdoe! assim é tudo!... até prefácios!
Você deve se perguntar: qual a razão para esta citação? 
Entenda que Victor Hugo e Álvares de Azevedo possuem uma visão de poesia bastante 
próxima. Os poetas ressaltam que o homem está cansado de poesias clássicas que refletem 
sentimentos amorosos, o belo, o sublime, calma e tranquilidade. Lembremo-nos da poesia 
árcade e da poesia romântica da primeira geração do Romantismo. Elas não apresentam o 
reconhecimento e exposição verdadeiros da vida humana. Para eles, é por meio dos temas 
11
baixos que implicam um profundo conhecimento e exposição da natureza humana, a poesia 
consegue revelar o eu interior. Assim, o amor erótico, os vícios, os crimes, as paixões sem limites, 
o amor sublime, a pureza, a bondade são elementos da vida cotidiana do homem e, por isso, 
devem estar presentes nas criações artísticas. 
O poeta, por meio de seus sonhos e devaneios, deseja fugir do tédio que, para ele, é a própria 
vida. Por meio de idealizações românticas que se misturam com o desejo da morte, consegue 
retirar-se do mundo terreno e transcender para outras esferas. Leia a estrofe a seguir, que mostra 
a presença do real, do feio e grotesco no poema Poeta Moribundo: 
Poetas! amanhã ao meu cadáver 
Minha tripa cortai mais sonorosa! 
Façam dela uma corda, e cantem nela 
Os amores da vida esperançosa!
(...)
Coração, por que tremes? Se esta lira 
Nas minhas mãos sem força desafina, 
Enquanto ao cemitério não te levam 
Casa no marimbau a alma divina!
 Se é verdade que os homens gozadores, 
Amigos de no vinho ter consolos, 
Foram com Satanás fazer colônia, 
Antes lá que no Céu sofrer os tolos!-
(...)
Ora! e forcem um’alma qual a minha,
Que no altar sacrifica ao Deus-Preguiça,
A cantar ladainha eternamente
E por mil anos ajudar a Missa!
(Disponível em <http://www.casadobruxo.com.
br/poesia/a/alvares19.htm, acesso em 15 de 
novembro de 2013)
 De acordo com Roncari (1995, p.422) Álvares de Azevedo capta elementos da experiência 
corriqueira e cotidiana para contrastá-los com os anseios românticos. Nessa poesia, a obsessão 
pela morte acontece, o poeta evoca imagens pavorosas e seleciona palavras que criam um 
cenário de horror e morbidez. No começo do poema, o eu-lírico cadáver, em uma espécie de 
testamento, comunica aos poetas que profanem seu cadáver e lhe retirem as tripas. Nesses 
versos é introduzida a realidade da morte do corpo, matéria viva, que causa um efeito de 
estranhamento porque, para ele, a morte torna-se valor máximo. Nos próximos versos, conversa 
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/a/alvares19.htm
http://www.casadobruxo.com.br/poesia/a/alvares19.htm
12
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
com o próprio coração, que representa seu eu interior, e elabora uma profunda reflexão a respeito 
do verdadeiro sentido de morrer e ao mesmo tempo procura consolo e alívio apresentando 
as qualidades da morte e o bem que pode consentir a um morto. Nos versos finais, o poeta 
acrescenta a opção pelo Inferno aos boêmios e ressalta que o Céu são para os tolos, lugar de 
rezar e cantar ladainha. O poema remete ao satanismo de Byron e, nesse caso, distancia o eu-
lírico do divino. O poeta Álvares de Azevedo faz uma crítica irônica à igreja e à sociedade. 
Para Alfredo Bosi (1994, p.111-112), Álvares de Azevedo, poeta juvenil, morto antes de tocar 
sua plena juventude, aos vinte anos, foi o escritor que mais representou o Romantismo da Segunda 
Geração Ultrarromântica no Brasil. Uma poesia subjetiva, de uma interioridade absoluta, e que por 
isso serve como documento e que, atualmente, pode também ser estudada pelo viés da psicologia e 
da psicanálise, tão ligada está à condição do sujeito. Um estilo novo e surpreendente, que se constrói 
por meio do elemento fantástico e associado aos devaneios e sonhos. 
A princípio, esse método de construção causa certo estranhamento ao leitor, contudo, 
para compor o eu-lírico melancólico, depressivo, solitário, com transposições de entusiasmos 
misturadas ao tédio da vida e que sente repulsa pelas moléstias físicas e morais de uma sociedade 
degradada e corrupta, o poeta Álvares de Azevedo recorre ao sobrenatural, ao desconhecido 
e capta na morte o caminho para libertação. Quanto ao transcender, podemos dizer que é 
uma espécie de fuga do real e que acontece através do sonho e devaneio. Álvares de Azevedo 
transcende elementos da natureza, elevando-os à condição espiritual e procurando a satisfação 
d’alma no infinito do universo. 
Antonio Candido (1993, p.161) declara que as dissipações imaginárias de Álvares de 
Azevedo são tão fortes quanto ao mundo da realidade. A fantasia, para o poeta, torna-se uma 
experiência mais viva que a própria realidade. Logo, pode causar tanto sofrimento quanto ela. 
No poema “Um cadáver poeta”, o poeta demonstra a repulsa da vida e o desejo da morte 
como libertação:
Um cadáver de poeta 
Levem ao túmulo aquele que parece um cadáver! 
Tu não pesaste sobre a terra: a terra te seja leve!
L. UHLAND.
De tanta inspiração e tanta vida
Que os nervos convulsivos inflamava
E ardia sem conforto...
O que resta? uma sombra esvaecida,
Um triste que sem mãe agonizava...
Resta um poeta morto!
(...) 
O mundo tem razão, sisudo pensa,
E a turba tem um cérebro sublime!
De que vale um poeta — um pobre louco
Que leva os dias a sonhar — insano
Amante de utopias e virtudes
E, num tempo sem Deus, ainda crente?
13
(...)
A poesia é de certo uma loucura,
Sêneca o disse, um homem de renome.
É um defeito no cérebro.. Que doidos!
É um grande favor, é muita esmola
Dizer lhes bravo! à inspiração divina,
E, quando tremem de miséria e fome,
Dar lhes um leito no hospital dos loucos...
Quando é gelada a fronte sonhadora,
Por que há de o vivo que despreza rimas
Cansar os braços arrastando um morto,
Ou pagar os salários do coveiro?
A bolsa esvazia por um misérrimo
Quando a emprega melhor em lodo e vício!
E que venham aí falar me em Tasso!
Culpar Afonso d’Est—um soberano!—
Por que não lhe dar a mão da irmã fidalga!
Um poeta é um poeta—apenas isso:
(...)
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.
html, acesso em 17 de novembro de 2013).
No poema, Álvares de Azevedo, com lucidez, tematiza a vida de poeta e a condição que 
ocupa no mundo burguês. Temos a presença da frustração e do desencanto misturados a um 
fundo de ironia e de crítica tanto à sociedade quanto ao próprio comportamento do poeta. 
Percebemos a presença de um caráter de projeção interior no qual avalia sua condição e 
posição no mundo da mercadoria. A presença de um julgamento negativo a respeito de seu 
próprio eu, qualificando-se como louco, insano e desprezado pelo meio social, que tem como 
caminho a morte e o esquecimento do poeta. 
Acredita-se que essa tendência do poeta pelo tema da morte pode ter sido fruto das leituras 
da poesia de Byron, que teve grande influência na Europa. No Brasil, influenciou os jovens da 
Faculdade São Francisco e principalmente Álvares de Azevedo. O poema Lembrança de morrer 
expressa todas as características e definições estudadas:
No more O never more! 
Shelley
Quando em meu peito rebentar-se a obra
Que o espírito enlaça à dor vivente,
Não derramem por mim nem uma lágrima
Em pálpebra demente.
http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.html
14
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
 
E nem desfolhem na matéria impura
A flor do vale que adormece ao vento;
Não quero que uma nota de alegria
Se cale por meu triste passamento.
Eu deixo a vida como deixa o tédio
Do deserto, o poento caminheiro
__ Como as horas de um longo pesadelo
Que se desfaz ao dobre de um sineiro;
Como o desterro de minh’alma errante,
Onde fogo insensato a consumia:
Só levo uma saudade – é desses tempos
Que amorosa ilusão embelecia.
Só levo uma saudade– é dessas sombras
Que eu sentia velar nas noites minhas . . . 
De ti, ó minha mãe pobre coitada
Que por minha tristeza te deflnhas!
De meu pai . . . de meus únicos amigos,
Poucos – bem poucos – e que não zombavam 
Quando, em noites de febre endoidecido,
 Minhas pálidas crenças duvidavam.
Se uma lágrima as pálpebras me imunda,
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei . . . que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores . . .
Se viveu, foi por ti! E de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho antigo . . .
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Descansem o meu leito solitário
Na floresta dos homens esquecida,
À sombra de uma cruz, e escrevam nela:
 Foi poeta – sonhou – e amou na vida. –
 Sombras do vale, noites da montanha
 Que minh’alma cantou e amava tanto,
 Protegei o meu corpo abandonado,
 E no silêncio derramai-lhe um canto!
15
Mas quando prelúdia ave d’aurora
E quando à meia-noite o céu repousa,
Arvoredos do bosque, abri os ramos . . .
Deixai a lua pratear-me a lousa!
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.
html, acesso em 17 de novembro de 2013)
Neste poema, Álvares de Azevedo traduz bem parte da poesia romântica brasileira. 
“Lembrança de morrer” é um poema com características que marcam a segunda geração do 
Romantismo. O próprio título remete o leitor à temática da morte e causa certo estranhamento 
no momento da leitura. Sendo uma poesia também reflexiva, notamos um eu-lírico bastante 
emotivo e, no conteúdo de cada verso, sentimos sua agonia, desesperança, melancolia e 
insatisfação perante o mundo real e burguês em fase de estagnação, como se observa nos 
versos: “Não quero que uma nota de alegria /Se cale por meu triste passamento./ Eu deixo a 
vida como deixa o tédio/(...)Como as horas de um longo pesadelo”. Perceba que o eu-lírico 
constitui o poema afirmando e reafirmando sua insatisfação e inadequação com a realidade e 
revela que na morte pode libertar-se do tédio e restabelecer o equilíbrio e a harmonia interiores. 
Essa manifestação altamente evocativa e de caráter ilusório percorre o eu interior do poeta. A 
passagem do consciente para o inconsciente aparece na própria visão da natureza, que elege 
simbolicamente os estados do corpo e do espírito do eu-lírico, como se observa nos versos: 
“Descansem o meu leito solitário/Na floresta dos homens esquecida/ Sombras do vale, noites 
da montanha/ Que minh’alma cantou e amava tanto/ Protegei o meu corpo abandonado,/E no 
silêncio derramai-lhe um canto!”. Em meio a essa ingênua reflexão de lembranças vividas e não 
vividas, o eu-lírico, nos versos: “Como as horas de um longo pesadelo/ Que se desfaz ao dobre 
de um sineiro/; Como o desterro de minh’alma errante/ Onde fogo insensato a consumia: / Só 
levo uma saudade – é desses tempos /Que amorosa ilusão embelecia”, confessa que sua alma 
está carregada de culpas que o consomem como fogo e pouquíssimas coisas levará com ele 
após a morte do corpo. Aqui, podemos refletir que nesse devaneio o eu-lírico reconhece seus 
erros e lembra racionalmente das pessoas que tanto o amavam: o amor da mãe, do pai e de 
poucos amigos. Note que esses versos expressam um eu solitário que aos poucos se conscientiza 
de sua condição no mundo. Aos poucos, o poeta o encaminha à cerimônia de passagem da 
matéria para o espírito. O poema segue num tom fúnebre de despedida e melancolia. Em 
seguida, lembra-se, com dor e lágrima, da mulher pura que tanto desejou, mas da qual jamais 
se aproximou:
Se um suspiro nos seios treme ainda
É pela virgem que sonhei . . . que nunca
Aos lábios me encostou a face linda!
http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/avz10.html
16
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
Só tu à mocidade sonhadora
Do pálido poeta deste flores . . .
Se viveu, foi por ti! E de esperança
De na vida gozar de teus amores.
Beijarei a verdade santa e nua,
Verei cristalizar-se o sonho antigo . . .
Ó minha virgem dos errantes sonhos,
Filha do céu, eu vou amar contigo!
Uma característica presente na poesia romântica azevediana é a figura da mulher idealizada 
e distante do eu-lírico. Uma mulher virgem, bela, de carne e osso, mas impossível de ser tocada 
ou beijada pelo poeta. Vejam que, na evasão dos sonhos e nos seus delírios, o eu-lírico acredita 
encontrá-la em outro plano, por isso procura transcender nos sonhos: “Beijarei a verdade santa 
e nua/ Verei cristalizar-se o sonho antigo . . ./Ó minha virgem dos errantes sonhos/ Filha do céu, 
eu vou amar contigo!”
Na estrofe seguinte, despede-se da vida, não com sentimento de um pesar negativo, mas com 
tom de libertação e agradecimento à morte. No Romantismo, para o homem atingir o divino e 
harmonizar-se com o Absoluto, deve se deparar com o feio, com a matéria impura, com a dor 
e sofrimento. A palidez, palavra recorrente na poesia de Álvares de Azevedo, marca a passagem 
dos estados emotivos e de certo modo oferece uma tonalidade afetiva e até nebulizadora da 
paisagem na qual se encontra: “Só tu à mocidade sonhadora/Do pálido poeta deste flores.../Se 
viveu, foi por ti! E de esperança/De na vida gozar de teus amores.”
Nas últimas estrofes, para consagrar o seu desterro terreno, apresenta o epitáfio: “À sombra 
de uma cruz, e escrevam nela:/ Foi poeta – sonhou – e amou na vida.” Em sequência, recorre 
à Natureza para velar a solidão do seu corpo no sepulcro. Lembremos que a Natureza, no 
Romantismo, representa o estado de espírito do eu-lírico.
Procure entender a complexidade e profundidade da obra do jovem Álvares de Azevedo, que 
para Alfredo Bosi (1994, p.110) contempla a poética dos domínios obscuros do inconsciente. 
O poeta define esse novo estilo, essa nova inflexão de seu egotismo. E, para encerrarmos essa 
trajetória a respeito do poeta romântico Álvares de Azevedo, vale mencionar um fragmento do 
romance epistolar Obermann do filósofo francês Étienne-Jean-Baptiste-Pierre-Ignace Pivert de 
Senancour, citado por Alfredo Bosi:
“Eu sinto: eis a única palavra do homem que exige verdades. Eu sinto, 
eu existo para me consumir em desejos indomáveis, para me embeber 
na sedução de um mundo fantástico, para viver aterrado com o seu 
voluptuoso engano.”Ora, a oclusão do sujeito em si próprio é detectável 
por uma fenomenologia bem conhecida: o devaneio, o erotismo difuso 
ou obsessivo, a melancolia, o tédio, o namoro com a imagem da morte, 
a depressão, a auto-ironia masoquista: desfigurações todas de um desejo 
de viver que não logrou sair do labirinto onde se aliena o jovem crescido 
em um meio romântico-burguês em fase de estagnação.” (1994, p.110)
17
 Continuaremos a analisar poemas de outros poetas que tematizam a morte como meio de 
libertação do homem. Podemos até refletir a respeito: muitas vezes ouvimos essa expressão: 
Fulano morreu, agora ele vai descansar e vai para um lugar melhor. Então será que transcender 
não é encontrarmos a paz que tanto buscamos na vida terrena?
O poeta simbolista Cruz e Sousa, como o romântico Álvares de Azevedo, busca na temática 
da morte traduzir suas inquietações em relação à vida. Ambos concebem que a morte do corpo 
é a única forma de libertação do homem.
Cruz e Sousa teve uma vida marcada pelo preconceito racial de que fora vítima desde a 
infância, contrário a Álvares de Azevedo, que nasceu de uma família importante e cresceu 
cercado de carinho. Quando nomeado Promotor em Laguna, Cruz e Souza foi impedido de 
assumir o cargo devido a sua cor negra. Parte para o Rio de Janeiro e casa-se com uma mulher 
negra, que revelou ter problemas mentais e depois de algum tempo morre num hospício. Dessa 
união nascem quatro filhos, dos quais dois morrem de tuberculose. Cruz e Sousa alimenta sua 
alma de poeta com perdas, angústias, sofrimentos e preconceito racial. Morre aostrinta e seis 
anos de tuberculose. 
Foi considerado o maior poeta simbolista brasileiro. Cruz e Sousa, na sua poesia, revela 
influência parnasiana e apoia-se no domínio da forma. Assim como os poetas ultrarromânticos, 
os simbolistas sofrem a inadequação e rejeição à ordem da sociedade burguesa e, por isso, não 
se adaptam aos padrões e imposições do mundo exterior. O desejo do poeta simbolista é de 
transcender e libertar seu espírito da matéria. Assim como os românticos, os simbolistas também 
buscam solucionar seus conflitos existenciais através da morte. Para o simbolista, a felicidade 
virá na imortalidade, pois não a usufruiu em vida. E a dor representa um instrumento de 
redenção e salvação do homem, uma espécie de purificação da alma.
Diferente de Álvares de Azevedo, que perseguia a morte, para Cruz e Sousa a morte foi uma 
sombra que o acompanhou durante toda trajetória de vida. Segundo Bosi (1994, p.270-271), o 
ponto mais alto de sua poesia está entre estar preso a um mundo terreno que nega e rejeita sua 
cor negra e o desejo de transcendência para outra vida. Sua poesia revela marcas do movimento 
parnasiano, que preza a forma e não o conteúdo, explora a subjetividade, o impreciso, o espiritual 
e o sinestésico. Estas últimas características são uma representação estética simbolista. Um fazer 
poético reflexivo e de profundo caráter psicológico, que aponta a condição trágica do homem 
moderno. Durante a análise dos poemas, tais questões ficarão mais claras.
Da mesma forma que Álvares de Azevedo expõe para o leitor a complexidade de seu universo 
interior, o subjetivismo, o inconformismo, o pessimismo e o desejo de alcançar o divino, Cruz e 
Sousa também o faz, mas em outra linha de pensamento. 
Quando observamos e analisamos com atenção o conteúdo poético de Álvares de Azevedo e 
Cruz e Sousa, notamos uma forte relação com os poetas europeus. O primeiro, com as leituras do 
poeta Lord Byron, Musset e o segundo, com as obras dos franceses Baudelaire, Mallarmé, Rimbaud 
e Verlaine. Por essa forte influência, distanciam-se da realidade da vida provinciana do Brasil da 
época e estabelecem uma aproximação com os costumes e influências da cultura europeia. 
Alfredo Bosi (1994, p.272) elabora um estudo a respeito do fazer poético de Cruz e Sousa 
e declara que a palavra é portadora de todo um universo de dor, sofrimento, humilhação, 
preconceito, isolamento, doença, loucura da mulher e a morte prematura dos filhos. No poema 
Clamando, de Cruz e Sousa, a sublimação da dor e do sofrimento do poeta se manifesta no 
eu-lírico: 
18
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
Bárbaros vãos, dementes e terríveis
Bonzos tremendos de ferrenho aspecto,
Ah! deste ser todo o clarão secreto
Jamais ponde infiammar-vos, Impassíveis!
Tantas guerras bizarras e incoercíveis
No tempo e tanto, tanto immenso affecto,
São para vós menos que um verme e êxito
Na corrente vital pouco sensíveis.
No entanto nessas guerras mais bizarras
De sol, clarins e rútilas fanfarras,
Nessas radiantes e profundas guerras...
As minhas carnes se dilaceraram
E vão, das ilusões que flamejaram,
Com o próprio sangue fecundando as terras...
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.
br/csousa.html, acesso em 16 de novembro de 
2013)
Após a leitura do poema, notamos que as palavras do poeta reproduzem todo um sentimento 
de desilusão, frustração, humilhação e profunda tristeza. Cruz e Sousa apresenta, com clareza, 
a sua condição de poeta condenado pela cor e pobreza. Nesses versos, o eu-lírico declara 
sua impotência perante a rejeição da sociedade pela qual tanto lutou, mas não alcançou 
reconhecimento. A escolha dos adjetivos “dementes”, “bizarros”, “incoercíveis” (incontroláveis) 
e dos substantivos “guerras”, “bárbaros”, “verme” e “inseto” assinalam o desabafo do poeta. 
Na última estrofe, Cruz e Sousa reproduz sua própria tensão marcada pela morte dos filhos e 
declara com pesar profundo sua impotência perante o destino.
Conforme Bosi (1994, p.274), o uso do substantivo abstrato no plural sugere uma dimensão sensível 
no universo das ideias do poeta: transparência, melancolia, cegueira, purificação e quintessência. 
As minhas carnes se dilaceraram
E vão, das Ilusões que flamejaram,
Com o próprio sangue fecundando as terras. 
Acrescenta-se que, nessa estrofe destacada, o verbo “dilacerar” reforça a ideia do tom 
confessional do poeta, que expressa, no verso “As minhas carnes se dilaceraram”, a dor e 
sofrimento da perda dos filhos. Por isso, vive entre dois mundos: o da matéria e do espírito, 
os quais, no seu fazer literário, manifestam a plena expressão de si mesmo. Nestor Vitor (Bosi, 
1994, p.275), na obra de Cruz e Sousa, observa a presença vigorosa do tratamento biográfico. 
Observe os fragmentos do poema “Sem Esperança”, de Faróis: 
http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html
19
Ó cândidos fantasmas da Esperança 
Meigos espectros do meu vão Destino, 
Volvei a mim nas leves ondas do Hino 
Sacramental de Bem-Aventurança. 
 
Nas veredas da vida a alma não cansa 
De vos buscar pelo Vergel divino 
Do céu sempre estrelado e diamantino 
Onde toda a alma do Perdão descansa. 
 
Na volúpia da dor que me transporta, 
Que este meu ser transfunde nos Espaços, 
Sinto-te longe, ó Esperança morta. 
 
E em vão alongo os vacilantes passos 
À procura febril de tua porta, 
Da ventura celeste dos teus braços. 
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.
br/csousa.html, acesso em 16 de novembro de 
2013)
A atmosfera criada no poema “Sem Esperança” sustenta a ideia e o desejo do eu-lírico 
de transcender. Para dar valor absoluto aos versos, algumas palavras são escritas com letras 
maiúsculas (Bem-Aventurança, Esperança, Espaços, Perdão, Vergel, Destino, Sacramento). 
Logo no início do poema, o eu-lírico já evidencia a questão da morte como libertação da vida 
terrena. Do léxico empregado, notamos que algumas palavras recebem uma nova significação 
quando são adicionados a elas locuções e adjetivos de efeito (“Esperança morta”, “volúpia da 
dor”). Entenda que os recursos linguísticos selecionados revelam o desejo de transcendência 
e está expresso no poema por meio de palavras luminosas e translúcidas: “onda”, “céu”, 
“estrelado”, “diamantino” e “celeste”. A escolha dos substantivos “fantasma” e “espectro”, que 
significam medo e terror, na poesia de Cruz e Sousa, na transmutação de significado, expressam 
a esperança e o conforto do poeta. “Ó cândidos fantasmas da Esperança /Meigos espectros do 
meu vão Destino/ De vos buscar pelo Vergel divino/Do céu sempre estrelado e diamantino /
Onde toda a alma do Perdão descansa”. 
Nos versos seguintes, com calma e serenidade, o poeta profere que a dor corpórea representa 
purificação do espírito para posterior transcendência. “Na volúpia da dor que me transporta, /
Que este meu ser transfunde nos Espaços, /Sinto-te longe, ó Esperança morta. E em vão alongo 
os vacilantes passos /À procura febril de tua porta,/ Da ventura celeste dos teus /braços.” 
Note que os poemas de Cruz e Sousa, a cada verso, ganham musicalidade, por isso o cuidado 
do poeta na escolha de um léxico que possibilite a concretização da significação da sonoridade. 
Outra característica é a presença do recurso estilístico sinestesia, que associa dois ou mais 
sentidos sensoriais (visão, tato, audição, olfato e paladar). Observe como esse recurso permeia 
o conteúdo do poema “Cristais”, de Cruz e Sousa:
http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html
20
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava…
Na dolência velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.
Era um som feito luz, eram volatas
em lânguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas…
Tanta harmonia melancolizava.(...)
Como que anseios invisíveis, mudos,
da brancura das sedas e veludos,
das virgindades, dos pudores vivos.
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/
csousa.html, acesso em 16 de novembro de 2013)
O poema se constrói através da sinestesia: “Mais claro e fino do que as finas pratas/o som da 
tua voz deliciava…(...)/ como um perfume a tudo perfumava/.” Nesses versos, o eu-lírico busca, 
nos sentidos sensoriais audição e olfato, expressar a significação e beleza da voz no poema.
“Era um som feito luz, eram volatas/(..)brancas sonoridades de cascatas….(...)/ da brancura 
das sedas e veludos.” Observe que os versos retirados do poema se misturam e dialogam com 
os sentidos visão e audição. Outra característica da poesia simbolista refere-se a cor branca, que 
representa a pureza e o caminho para o plano transcendental.
 Das análises construídas, vimos em Álvares de Azevedo uma contemplação poética com 
forte tendência para evasão através dos sonhos e devaneios. Um fazer poético marcado pela 
fuga da realidade, profunda depressão, desencanto com a vida traduzido em temas mórbidos, 
impuros, fúnebres e melancólicos, que anunciam o desejo de morrer do poeta, que aos vinte 
anos morre de tuberculose. 
Em sequência, apresentamos o simbolista Cruz e Sousa que, ao longo da vida ,convive com 
a morte e a rejeição da sociedade por ser negro. Homem e poeta que busca, na transcendência, 
libertar seu espírito da matéria. Uma poesia que cultiva a temática da morte e contempla os 
sentimentos do poeta.
Confrontados, entendemos que a morte representa o meio de libertação desses poetas. Uma 
poesia de caráter psicológico que explora e revela a interioridade e problemática do ser.
Avançando nessa linha da temática da morte, encontramos o pré- modernista Augusto dos 
Anjos, que apresenta, em sua obra, um critério estético cientifico, adicionado a um vocabulário 
rebuscado e de mal gosto para expressar a angústia e degradação do homem moderno. Através 
de traços expressionistas, Augusto dos Anjos produz imagens, na sua poesia, que revelam um 
interior humano caótico e irracional, que mostra o individualismo do homem.
Conforme Alfredo Bosi (1994, p.288-289), a poesia de A. dos Anjos se caracteriza por uma 
profunda angústia diante da fatalidade da morte que leva à decomposição e à putrefação da 
carne. O destino da vida é ao final fabricar vermes de uma matéria morta, como se observa no 
poema a seguir, Psicologia de um vencido: 
Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava�
Na dol�ncia velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
em l�nguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas�
Tanta harmonia melancolizava.
(...)
Como que anseios invis�veis, mudos,
da brancura das sedas e veludos,
das virgindades, dos pudores vivos.

(Dispon�vel em http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html, acesso em 16 de novembro de 2013)
Mais claro e fino do que as finas pratas
o som da tua voz deliciava�
Na dol�ncia velada das sonatas
como um perfume a tudo perfumava.

Era um som feito luz, eram volatas
em l�nguida espiral que iluminava,
brancas sonoridades de cascatas�
Tanta harmonia melancolizava.
(...)
Como que anseios invis�veis, mudos,
da brancura das sedas e veludos,
das virgindades, dos pudores vivos.

(Dispon�vel em http://www.jornaldepoesia.jor.br/csousa.html, acesso em 16 de novembro de 2013)
21
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
Monstro de escuridão e rutilância,
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
Sobe-me à boca uma ânsia análoga à ânsia
Que se escapa da boca de um cardíaco.
Já o verme - este operário das ruínas -
Que o sangue podre das carnificinas
Come, e á vida em geral declara guerra,
Anda a espreitar meus olhos para roê-los,
E há de deixar-me apenas os cabelos,
Na frialdade inorgânica da terra!
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.
jor.br/augusto.html, acesso em 16 de 
novembro de 2013)
Veja que a expressividade do poema está na utilização de um vocabulário científico que 
envolve química e biologia com termos técnicos que traduzem a podridão do mundo, 
de um cosmo em dissolução. Nas duas primeiras estrofes, o eu-lírico rejeita a vida moderna e 
afirma que esse ambiente lhe causa repugnância. 
Eu, filho do carbono e do amoníaco,
(...)
Sofro, desde a epigênese da infância,
A influência má dos signos do zodíaco.
Profundissimamente hipocondríaco,
Este ambiente me causa repugnância...
(...)
O poeta assiste e descreve a destruição implacável do corpo e o verme será o símbolo desse 
processo de degeneração. A escolha de expressões referentes às realidades cósmicas e vitais 
estão vinculadas à morte e representam a profunda depressão do poeta. Perceba que o poeta 
mostra a trajetória do homem a caminho da dissolução da matéria corporal. De acordo com 
Bosi (1994, p.289), Augusto dos Anjos produz uma poesia violenta, canta a miséria da carne 
que culmina na destruição do homem através da putrefação do corpo. Para ele, as forças da 
matéria conduzem o homem ao Mal e ao Nada e, como espectador, divulga ao leitor esse 
processo de destruição. Ao final, na última estrofe, o corpo não tem outro destino senão fabricar 
miasmas que causam fedor e putrefação.
http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/augusto.html
22
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
A opção de agregar elementos estranhos no discurso poético fez do poeta Augusto dos Anjos 
um moderno para a época. A visão negativa da existência é tecida por imagens que chocam o 
público leitor e mostram a realidade do ser, em vida, seguir rumo ao nada. Muito por conta disso 
sua poesia foi criticada e rejeitada. 
Contudo, Augusto dos Anjos foi um poeta mensurado por uma estética aberta na qual o 
objetivo é conhecer a espécie humana. O poeta cria uma poesia com dimensão cósmica para 
decifrar os mistérios do eu. A teoria do Evolucionismo de Darwin a respeito da concepção da 
origem humana ligada à ciência influenciou sua poesia.
Como os simbolistas e os românticos, o poeta modernista Manuel Bandeira também 
desenvolve a temática da morte na poesia. Sua obra também é de fruto psicológico, de um 
lirismo confidencial, auto-irônico que preserva alguns ecos do Romantismo.
Na adolescência, Manuel Bandeira contraiu tuberculose e a sombra da doença continuou a 
persegui-lo na vida adulta. Podemos, aqui, lembrar Cruz e Sousa, que também conviveu com a 
morte durante sua vida. Manuel Bandeira foi um poeta solitário, que observou o mundo em seus 
detalhes e continuamente, retirando-lhe a matéria para o seu fazer poético. Essa observação distante 
é fruto da saúde frágil do poeta, que o afasta das multidões, mas não o impede de observá-la. 
Segundo Bosi (1994, p.361), Manuel Bandeira foi considerado um dos melhores poetas 
brasileiros do verso livre, principalmente pelo esforço em romper com a dicção entre simbolismo 
e parnasianismo, mas não se libertou da esfera romântica ou de ecos neoclássicos, pois sua 
poesia exige essa delicadeza e trato.
No poema Maçã, de Manuel Bandeira, observa-se que, com muita maestria e delicadeza, a 
fruta representa o processo e trajetória da vida.
Por um lado te vejo como um seio murcho 
Pelo outro como um ventre de cujo umbigo 
pende ainda o cordão placentário 
És vermelha como o amor divino 
Dentro de ti em pequenas pevides 
Palpita a vida prodigiosa 
Infinitamente 
E quedas tão simples 
Ao lado de um talher 
Num quarto pobre de hotel.
(Disponível em http://www.mackenzie.br/
fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/
primus_4/bahia_resenha_humildade.pdf, 
acesso em 17 de novembro de 2013).
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/primus_4/bahia_resenha_humildade.pdf
http://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/primus_4/bahia_resenha_humildade.pdfhttp://www.mackenzie.br/fileadmin/Graduacao/CCH/primus_vitam/primus_4/bahia_resenha_humildade.pdf
23
David Arrigucci, com sensibilidade, analisa esse poema que, a partir da observação, mapeia 
arquétipos de vida, morte e do divino. Acrescenta que remete às várias maçãs pintadas por Cézane, 
que se chamou “natureza morta” e se caracterizou pela contemplação e impressão do objeto.
 Apresentamos aqui uma poesia visual e técnica na qual o poeta fornece à maçã a possibilidade 
de transcender a realidade, evocando um leque de significações. Pense em uma maçã completa, 
vermelha, perfeita. Siga cada verso e vislumbre as imagens que se formam: primeiramente, o 
eu-lírico a compara com um seio murcho. Lembre que a maçã, no seu estado de decomposição, 
murcha, de tal forma que realmente remete o leitor à imagem de um seio, possivelmente de 
uma mulher idosa, que perde todo o seu frescor no processo natural de envelhecimento do 
corpo. Em oposição, o poeta observa a maçã e lembra o quão misterioso é a origem da vida. 
Concebe-a como um “ventre de cujo umbigo pende ainda o cordão placentário”: “És vermelha 
como o amor divino/Dentro de ti em pequenas pevides/ Palpita a vida prodigiosa/Infinitamente”.
O alcance desses versos se traduze em uma beleza que transcende, pois descreve o segredo 
da vida. A maçã, na sua simplicidade, agora, representa o ventre da mulher. As sementes, o 
embrião. A haste, o cordão umbilical. Nesse poema, Manuel Bandeira explicita a origem da vida 
e o momento da morte. 
No poema Não sei dançar, Manuel Bandeira confidencia momentos de alegria e solidão 
em um lirismo biográfico e com um fundo de melancolia. Uma poesia menos agressiva , com 
momentos de alegria que se misturam com uma tristeza. Leia com atenção um trecho do poema:
(...)
 tomei tristeza, hoje tomo alegria.
Tenho todos os motivos menos um de ser triste.
Mas o cálculo das probabilidades é uma pilhéria...
(...)
Sim, já perdi pai, mãe, irmãos.
Perdi a saúde também.
É por isso que sinto como ninguém o ritmo do 
jazz band.
Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu tomo alegria!
Eis aí por que vim assistir a este baile de terça-
feira gorda.
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.
jor.br/manuelbandeira.html, acesso em 17 de 
novembro de 2013).
Entenda que o poeta começa seus versos relembrando as perdas familiares e a própria 
saúde. E, em sequência, com humor irônico, demonstra indiferença em relação à morte, pois 
através dela encontra a vontade e a satisfação de viver. 
http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html
24
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
No poema Momento num café, a morte é vista como um fim. Observe:
Quando o enterro passou
Os homens que se achavam no café
Tiraram o chapéu maquinalmente
Saudavam o morto distraídos
Estavam todos voltados para a vida
Absortos na vida
Confiantes na vida.
Um no entanto se descobriu num gesto largo e 
demorado
Olhando o esquife longamente
Este sabia que a vida é uma agitação feroz e sem 
finalidade
Que a vida é traição
E saudava a matéria que passava
Liberta para sempre da alma extinta.
(Disponível em http://www.jornaldepoesia.jor.br/
manuelbandeira.html, acesso em 17 de novembro 
de 2013)
Neste poema, Manuel Bandeira descreve uma cena cotidiana, a passagem de um enterro: 
“Quando o enterro passou/Os homens que se achavam no café/ tiraram seus chapéus 
maquinalmente.” Perceba que o poeta Manuel Bandeira escolhe como ambiente a rua e um 
bar. Na época, os bares eram locais sociais onde os homens se reuniam para conversar e tomar 
aperitivos, um lugar de respeito. Note que os frequentadores do bar, ao verem o esquife passar, 
retiram o chapéu como sinal de respeito e educação, uma regra de etiqueta, sem preocupação 
com aquele que partiu dessa vida. Por isso, o eu-lírico, no verso, utiliza o termo “maquinalmente”. 
“Saudavam o morto distraídos/Estavam todos voltados para a vida/Absortos na vida/Confiantes 
na vida”. Esses homens, que não temos as descrições, estão envolvidos naquele momento de 
lazer, na sua vida comum, e por isso, talvez, a impossibilidade de refletirem sobre o fim da vida. 
Porém, somente um homem interioriza a cena, “Um no entanto se descobriu num gesto largo 
e demorado/Olhando o esquife longamente”, num tempo psicológico que se difere dos outros 
homens, reflete e conclui que a vida é passageira e de nada adianta essa agitação constante 
em que vivemos no cotidiano. Percebemos, no eu-lírico, uma tomada de consciência a respeito 
da vida e da morte. Para finalizar, o poema nos causa certo estranhamento, pois destaca que 
o homem saúda a matéria – corpo – liberta de uma alma agora extinta. Para ele, não é a alma 
que necessita libertar-se do corpo mas sim o corpo deve libertar-se da alma. 
Por fim, a temática da morte, em Manuel Bandeira, expressa a condição humana, carnal, 
finita e presa a um doloroso anseio de transcendência, mas que talvez não exista, já que a alma 
é extinta. Constrói-se, também, por meio das observações da vida simples e cotidiana, e cria 
uma poesia com temáticas universais, cujo cenário revela certo desencanto em relação à vida e 
uma profunda tristeza associados à melancolia. Na temática da morte, vislumbramos a presença 
desse eu em desencanto, que acaba por atribuir a Manuel Bandeira ecos do Romantismo, 
mesmo se tratando de um poeta modernista.
http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html
http://www.jornaldepoesia.jor.br/manuelbandeira.html
25
Finalizamos mais uma parte de nossos estudos. Mergulhamos no Romantismo e dialogamos 
com outros períodos literários para entendermos a importância do Romantismo na Literatura. 
Devemos perceber que os poetas estudados e analisados demonstram, por meio da temática 
da morte, um assunto universal: apresentar as insatisfações, os conflitos e os desajustes da 
humanidade. Revelar que o homem empobreceu em sua humanidade, tornando-se frio, 
individual e materialista em sua natureza moderna. Para libertar-se desse contexto alienado, 
deixa-se levar pela dor e sofrimento que culminam na morte e separação entre espírito e matéria. 
26
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
Material Complementar
Para saber um pouco mais sobre os poetas estudados, consulte os sites selecionados:
http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/034/GENTIL_FARIA.pdf 
acessado em 04 de dezembro de 2013
http://www.textopoetico.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=105&Itemid=30 
acessado em 06 de dezembro de 2013
http://books.google.com.br/books/about/Literatura_brasileira.html?hl=pt-BR&id=Rqe541dqSIoC 
acessado em 16 de dezembro de 2013
http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/052/ALEXANDRE_
ANDRADE.pdf. acessado em 16 de dezembro de 2013
http://editorarealize.com.br/revistas/abralicinternacional/trabalhos/Completo_Comunicacao_
oral_idinscrito_914_722314ce80543dc42524070f3258d6d7.pdf acessado em 17 de dezembro 
de 2013
http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/013/MARIA_CUNHA.pdf. 
acessado em 17 de dezembro de 2013
http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Cruz_e_Souza/cap-II/978sc117.html. acessado em 18 de 
dezembro de 2013
http://crv.educacao.mg.gov.br/aveonline40/banco_objetos_crv/4_A_LITERATURA_EM_
DIALOGO_COM_OUTRAS_ARTES.pdf . acessado em 18 de dezembro de 2013
http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/034/GENTIL_FARIA.pdf
http://www.textopoetico.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=105&Itemid=30
http://books.google.com.br/books/about/Literatura_brasileira.html?hl=pt-BR&id=Rqe541dqSIoC
http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/052/ALEXANDRE_ANDRADE.pdf
http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/052/ALEXANDRE_ANDRADE.pdf
http://editorarealize.com.br/revistas/abralicinternacional/trabalhos/Completo_Comunicacao_oral_idinscrito_914_722314ce80543dc42524070f3258d6d7.pdfhttp://editorarealize.com.br/revistas/abralicinternacional/trabalhos/Completo_Comunicacao_oral_idinscrito_914_722314ce80543dc42524070f3258d6d7.pdf
http://www.abralic.org.br/anais/cong2008/AnaisOnline/simposios/pdf/013/MARIA_CUNHA.pdf
http://www.cfh.ufsc.br/~simpozio/Cruz_e_Souza/cap-II/978sc117.html
http://crv.educacao.mg.gov.br/aveonline40/banco_objetos_crv/4_A_LITERATURA_EM_DIALOGO_COM_OUTRAS_ARTES.pdf
http://crv.educacao.mg.gov.br/aveonline40/banco_objetos_crv/4_A_LITERATURA_EM_DIALOGO_COM_OUTRAS_ARTES.pdf
27
Referências
BOSI, Alfredo Bosi. História Concisa da literatura brasileira. 42.ed, São Paulo: Cultrix,1994.
CANDIDO, Antonio. Formação da Literatura Brasileira. 7ªed, Belo Horizonte: Ed. Itatiaia 
Ltda, 1993.
CEIA, Carlos, s.v. “Metalinguagem”. E-Dicionário de Termos Literários. coord. de Carlos 
Ceia, ISBN: 989-20-0088-9, http://www.edtl.com.pt, acessado em 06-02-2012.
GOMES, Álvaro Cardoso. A estética romântica. São Paulo: Atlas, 1992.
RONCARI, Luiz. Literatura Brasileira: Dos Primeiros Cronistas aos últimos Românticos. 
2.ed, São Paulo: EDUSP,1995. 
http://www.edtl.com.pt/
28
Unidade: A representação da morte na poesia de Álvares de Azevedo, Cruz e Sousa, Augusto dos Anjos e Manuel Bandeira
Anotações
www.cruzeirodosulvirtual.com.br
Campus Liberdade
Rua Galvão Bueno, 868
CEP 01506-000
São Paulo SP Brasil 
Tel: (55 11) 3385-3000
http://www.cruzeirodosulvirtual.com.br

Outros materiais