Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS CURSO CIÊNCIAS BIOLÓGICAS Ana Maria Diniz Barbosa Henrique Oliveira Martins Noara Ferreira de Souza Victor Lorran Mendes Pires MOLUSCA DE IMPORTÂNCIA MÉDICA Sete Lagoas - MG 2020 CENTRO UNIVERSITÁRIO DE SETE LAGOAS Ana Maria Diniz Barbosa Henrique Oliveira Martins Noara Ferreira de Souza Victor Lorran Mendes Pires MOLUSCA DE IMPORTÂNCIA MÉDICA Trabalho apresentado à disciplina Biologia dos Invertebrados II, do Centro Universitário de Sete Lagoas (Unifemm), como requisito parcial de avaliação. Orientador: Prof. Dr. Rafael Braga da Silva Sete Lagoas - MG 2020 1. INTRODUÇÃO.................................................................................... 3 2. JUSTIFICATIVA................................................................................. 5 3. OBJETIVOS........................................................................................ 6 3.1 OBJETIVO GERAL............................................................................. 6 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS............................................................... 6 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA............................................................... 7 4.1 MOLLUSCA DE IMPORTÂNCIA MÉDICA......................................... 7 4.2 ESQUISTOSSOMOSE....................................................................... 7 4.2.1 Agente etiológico e Ciclo Biológico............................................. 8 4.2.2 Hospedeiro e Reservatório........................................................... 10 4.1.3 Mecanismo de Transmissão......................................................... 11 4.1.4 Quadro Clínico e Diagnóstico....................................................... 12 4.1.5 Tratamento e Prevenção............................................................... 14 4.3 FASCIOLOSE..................................................................................... 15 4.3.1 Agente etiológico e Ciclo Biológico............................................. 15 4.3.2 Hospedeiro e Reservatório........................................................... 16 4.3.3 Mecanismo de Transmissão......................................................... 17 4.3.4 Quadro Clínico e Diagnóstico....................................................... 17 4.3.5 Tratamento e Prevenção............................................................... 19 4.4 ANGIOSTRONGILÍASE...................................................................... 19 4.4.1 Agente etiológico e Ciclo Biológico............................................. 20 4.4.2 Hospedeiro e Reservatório........................................................... 22 4.4.3 Mecanismo de Transmissão......................................................... 22 4.4.4 Quadro Clínico e Diagnóstico....................................................... 23 4.4.5 Tratamento e Prevenção............................................................... 24 5. CONCLUSÃO...................................................................................... 25 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS................................................... 26 3 1. I O filo Mollusca (do latim, molluscus = “mole”) abrange um grande número de organismos fascinando estudantes e pesquisadores da área devido a grande capacidade de adaptação em diversos ambientes, ocupando habitats marinhos, terrestres e dulcícolas. A maioria dos moluscos aquática possuem hábitos bentônicos quando na fase adulta, ainda que algumas espécies habitem o ambiente pelágico. O tamanho dos moluscos é variável de acordo com cada espécie, e seu tempo de vida pode durar de 2 meses a 200 anos, sendo os bivalves a classe que possui maior longevidade (CASCON e ROCHA-BARREIRA, 2017). A classificação do filo Mollusca ainda é motivo de debate no meio científico, sendo distribuída nas seguintes classes: Solenogastres, Caudofoveata, Polyplacophora, Monoplacophora, Bivalvia, Scaphopoda, Gastropoda e Cephalopoda (CASCON e ROCHA- BARREIRA, 2017). Entretanto, o presente trabalho dará ênfase apenas à classe Gastropoda, tendo em vista que é a classe de maior importância médica no país (CARVALHO et al., 2014). A classe Gastropoda, é conhecida por englobar espécies de caracóis e caramujos bem conhecidas no território brasileiro, apresenta registro fóssil desde o Cambriano, sendo conhecidas cerca de 15.000 espécies extintas e mais de 60.000 viventes, com estimativa de até 100.000 espécies (CASCON e ROCHA-BARREIRA, 2017), visto que as espécies contam com uma anatomia morfológica bastante dinâmica, apresentando cabeça com tentáculos e olhos, pé achatado na superfície ventral e concha, que quando se faz presente, é univalve, espiralada e assimétrica (CARVALHO. et al. 2014). A evolução dos gastrópodes envolveu três inovações estruturais importantes: conversão da concha de um escudo protetor em um refúgio posterior, torção embrionária e desenvolvimento de uma cabeça (CASCON e ROCHA-BARREIRA, 2017). Os moluscos em sua fase larval possuem uma torção de 180º da massa visceral, sendo considerado um evento evolutivo que trouxe inúmeras vantagens ao molusco, como a retração da cabeça, a localização das brânquias e do osfrádio, além de um maior dinamismo no movimento do animal (CARVALHO. et al. 2014). De acordo com a sistemática clássica, a classe Gastropoda pode ser dividida em três subclasses: Prosobranchia, Opisthobranchia e Pulmonata (CARVALHO. et al. 2014). As subclasses Pulmonata e Prosobranchia, incluem os caramujos das 4 espécies: Bimphalaria sp., Achatina fulica e Lymnaea que possuem grande relevância médica, visto que podem ser hospedeiros intermediários e/ou definitivos de doenças bastante conhecidas e estudadas como a esquistossomose, fasciolose e a angiostrongilíase. As doenças citadas acima e as espécies de Mollusca serão abordadas com mais detalhes ao longo do presente trabalho, considerando a relevância dentro da área médica e biológica como um todo, ressaltando a importância dos estudos malacológicos para a medicina preventiva. 5 2. JUSTIFICATIVA As doenças parasitárias associadas a moluscos se expandiram sendo, atualmente, um importante problema de saúde pública no país. As principais doenças pelo qual os moluscos se encontram relacionados são: esquistossomose, fasciolose e angiostrongilíase (BRASIL, 2008). Tendo em vista o que foi dito, é necessário maior investimento governamental em pesquisas, e melhorias sanitárias em localidade com deficiência de abastecimento e esgotamento sanitário, além do controle de qualidade da água e o aperfeiçoamento dos programas de vigilância epidemiológica efetivando a redução no quadro de morbimortalidade da população (SOUZA, 2012). De acordo com dados do boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, aproximadamente 1,5 milhões de pessoas vivem em condições de vida precárias e, consequentemente, sob o risco de contrair parasitoses (MARCELINO; SANTOS; CARIOLANO, 2019). Os estados das regiões Nordeste e Sudeste são os mais afetados, tendo a sua ocorrência diretamente ligada à presença dos moluscos transmissores, a exemplo da esquistossomose. Esta revisão bibliográfica busca fazer um levantamento sobre vigilância e controle de moluscos de importância epidemiológica no Brasil, de modo a promover medidas de orientação para a população no que se refere à higiene pessoal, preparo e higienização dos alimentos, incentivando a educação e o conhecimento biológico sobre moluscos hospedeiros de doenças hídricas e alimentares. 6 3. OBJETIVOS 3.1 OBJETIVO GERALApresentar uma revisão bibliográfica, sobre vigilância e controle de Molluscos de importância médica no Brasil, de modo a ilustrar o impacto que algumas espécies podem causar na vida humana. 3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS - Identificar as espécies de moluscos de importância epidemiológica; - Explicar o funcionamento dos ciclos biológicos das doenças citadas; - Apresentar formas de vigilância e controle dos moluscos de importância médica; - Indicar formas de tratamento e profilaxia das doenças acometidas por moluscos. 7 4. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 4.1 MOLLUSCA DE IMPORTÂNCIA MÉDICA Sabe-se que o filo Mollusca abrange um grande número de organismos altamente adaptados, ocupando os mais variados habitats. Pela sua grande diversidade, existem Mollusca de grande importância médica estudados há anos por diversos pesquisadores brasileiros. Destacam-se, no Brasil, quatro doenças humanas que apresentam moluscos como hospedeiros intermediários, sendo estas: esquistossomose, angiostrongilíase e a fasciolose que serão descritas com mais detalhes durante a revisão bibliográfica abaixo. 4.2 ESQUISTOSSOMOSE A esquistossomose se deu origem nas bacias do rio Nilo, na África, e na Ásia no rio Yangtzé. Foram relatados ovos de Schistosoma em vísceras de múmias egípcias a cerca de 1.250 a.C. conforme comprovado pelo paleontólogo Ruffer, em 1910. Com o progresso dos meios de transporte, e a ampla acessibilidade ao fluxo migratório, a esquistossomose foi dispersa para outros continentes. No Brasil a doença se espalhou por meio dos navios negreiros, originários da costa ocidental da África, que adentraram no país pelos portos de Recife e Salvador (BRASIL, 2014). Devido ao movimento migratório e as precárias condições de saneamento básico no país a esquistossomose se expandiu amplamente por todo território brasileiro, considerada ainda na atualidade um grave problema de saúde pública, ocasionando em um número marcante de formas graves e óbitos (SOUZA, 2011). Estima-se que em 2012, cerca de 249 milhões de pessoas em todo o mundo necessitaram de tratamento para a esquistossomose, e o grande número de focos registrados é na África Subsaariana (WHO, 2013). A esquistossomose ainda é um problema de saúde pública pelo fato de ser encontradas durante a infecção formas assintomáticas, e clínicas extremamente graves, adquirida através do contato com á água contaminada contendo formas infectantes do parasita S. mansoni, a transmissão da doença depende da presença do homem infectado, excretando ovos do parasita nos copos d’água, e dos 8 caramujos aquáticos do gênero Bimphalaria, que atuam como hospedeiros intermediários, liberando larvas infectantes do verme na água utilizada pelas pessoas para uso doméstico, ocupacional e recreativo (BRASIL, 2014). Conhecida popularmente como Bilharziose, Xistose, Xistosa, Doença dos Caramujos, Barriga d’Agua, Doença de Manson-Piraja da Silva, entre outros codinomes, a doença é decorrente da presença de vermes que se alojam e vivem nos vasos mesentéricos durante vários anos nas suas formas adultas dióica, estando alojados os helmintos, iniciam a oviposição, sendo alguns desses ovos expelidos com as fezes, promovendo assim a continuação do ciclo do parasita. Os ovos do verme quando não eliminados produzem minúsculos granulomas e nódulos cicatriciais nos órgãos em que se depositam, geralmente esse fator acontece nas paredes do intestino, ou no fígado, podendo também originar formas ectópicas em qualquer órgão ou tecido do corpo (BRASIL, 2014). O conjunto de sinais e sintomas apresentados depende da localização, do número de ovos do parasita nos diferentes órgãos, das reações do organismo e da resposta imunológica do paciente ao tratamento. Na maioria dos casos de infecção os efeitos patológicos mais importantes são observados na fase crônica da doença, quando pode haver comprometimento hepático e consequentemente hipertensão portal, já na forma inicial pode haver como consequências graves a paraplegia ou morte (BRASIL, 2014). A complexidade da transmissão da esquistossomose depende de várias ações preventivas como: I) diagnóstico precoce e tratamento adequado; II) vigilância e controle dos hospedeiros intermediários; III) ações educativas de saúde; IV) saneamento básico para mudança dos ambientes associados a transmissão da doença. Deste modo, o controle duradouro e sustentável da esquistossomose depende da execução de políticas públicas que melhorem as condições de vida da população (BRASIL, 2014). 4.2.1 AGENTE ETIOLÓGICO E CICLO BIOLÓGICO Os agentes causadores da esquistossomose são platelmintos, da classe dos trematódeos, da família Schistosomatidae, que apresentam sexos separados, com nítido dimorfismo sexual. O S. mansoni é habitualmente hospedeiro das vênulas 9 tributarias do sistema porta, particularmente das veias mesentéricas superiores e inferiores, do plexo hemorroidário e mesmo da porção intra-hepática da veia porta (BRASIL, 2014). No interior desses vasos, se encontra o macho e a fêmea acasalados, onde a fêmea se encontra alojada no canal ginecóforo do macho, e normalmente esses vermes realizam migrações dentro do mesmo vaso sanguíneo, ou de um vaso para outro, através de anastomoses (BRASIL, 2014). O macho mede cerca de 6 - 12 mm de comprimento e possui forma achatada, mas devido ao enrolamento ventral de suas bordas corporais para formar o canal ginecóforo, adquire uma forma cilíndrica. A fêmea é mais fina que o macho, possuindo um comprimento cerca de duas vezes maior (15 mm) e a sua forma e cilíndrica, com as extremidades afiladas. Tendo-se instalado no canal ginecóforo do macho, é facilmente fecundada e iniciando a postura dos ovos no interior das vênulas da submucosa intestinal (BRASIL, 2014). Os ovos possuem formato oval, apresentando na sua parte mais larga uma espicula lateral voltado para trás, possuindo o embrião ainda em formação. Depois de decorridos 6-7 dias o miracídio torna-se maduro. O tempo de vida dos ovos maduros nos tecidos é cerca de 20 dias, caso não ocorra à evacuação haverá a morte do miracídio. Os ovos necessitam de contato direto com a água para dar continuidade ao ciclo, depois que a água penetra no ovo, o miracídio busca o caramujo hospedeiro intermediário (BRASIL, 2014). O miracídio representa a primeira fase larvária do S. mansoni, é um organismo alongado, revestido de epitélio ciliado e provido de um cone de penetração anterior. Vive durante curto período na água, entre a eclosão do ovo e a penetração no hospedeiro intermediário. Graças ao movimento ciliar, o miracídio consegue nadar, algo que ocasiona na queima aeróbica das reservas nutritivas, pois não se alimenta durante esse período de vida livre (REY, 2008). A penetração do parasito no interior do molusco ocorre devido à atividade de substâncias histológicas que são secretadas por suas glândulas cefálicas, em seguida há a perda da mobilidade, transformando-se em esporocisto primário, cujas células germinativas se multiplicam e dão origem a esporocistos secundários. Após quatro a sete semanas da infecção, o molusco começa a liberar cercárias (BRASIL, 2014). 10 A liberação das cercárias e influenciada pela luz solar e temperatura da água, apresentando uma cauda bifurcada o que utiliza na infecção do hospedeiro definitivo, seja ele o homem ou qualquer vertebrado suscetível (BRASIL, 2014). Ao penetrar ativamente na pele do homem, por meio de ação combinada da secreção lítica das glândulas anteriores e dos movimentos vibratórios, sobretudo da cauda, é produzida uma irritação de intensidade variável de pessoa para pessoa, devido a causas alérgicas (urticária e exsudato pápulo-eritematoso em alguns casos) (BRASIL, 2014). Uma vez nos tecidos do hospedeiro definitivo, as cercárias perdem a cauda e se transformam em esquistôssomulos.Estes caem na circulação sanguínea ou linfática, atingem a circulação venosa, vão ao coração e aos pulmões, onde permanecem algum tempo e podem causar certas alterações mórbidas. Retornam posteriormente ao coração, de onde são lançados através das artérias aos pontos mais diversos do organismo, sendo o fígado o órgão preferencial de localização do parasita. No fígado, estas formas jovens se diferenciam sexualmente e crescem alimentando de sangue. Ainda imaturos, os parasitas migram para a veia porta, se dirigindo em seguida para as tributarias mesentéricas, onde completam sua evolução. Dias após a penetração das cercarias, após a migração dos esquistossomos para as veias mesentéricas, é iniciado o acasalamento (BRASIL, 2014). 4.2.2 HOSPEDEIRO E RESERVATÓRIO A infecção natural por Schistosoma mansoni foi observada em alguns animais, como roedores (Nectomys squamipes), marsupiais (Didelphis marsupialis) e ruminantes. Entretanto, o homem e o hospedeiro definitivo de maior importância epidemiológica (BRASIL, 2014). Os hospedeiros intermediários do S. mansoni no Brasil são da família Planorbidae, gastrópodes pulmonados límnicos que habitam coleções hídricas lênticas (BRASIL, 2014). Dentro dessa família o gênero Biomphalaria possui grande destaque por incluir três espécies que são infectadas por S. mansoni: Biomphalaria glabrata; Biomphalaria tenagophila; Biomphalaria straminea (REY, 2008). Biomphalaria glabrata é a principal espécie de molusco que transmite a esquistossomíase mansônica, nas Américas. Biomphalaria straminea e a espécie 11 mais adaptada às variações climáticas, sendo encontrada em quase todas as bacias hidrográficas do país. Biomphalaria tenagophila tem importância epidemiológica nos estados da região Sul e Sudeste (BRASIL, 2014). São moluscos providos de concha espiralada, sem opérculo, a cabeça traz um só par de tentáculos não invagináveis, tegumento é liso, são hermafroditas mais também a predominância de fecundação cruzada (REY, 2008). São ovíparos e a postura de ovos é realiza durante a noite, sendo os ovos colocados em cápsulas transparentes sobre diferentes substratos submersos. Esses moluscos sobreviveram a diversas pressões ambientais e ocupam atualmente grandes extensões territoriais (BRASIL, 2014). A presença de vegetação vertical ou flutuante e indispensável para a alimentação, abrigo, e o suporte para as desovas. Entre os mecanismos de dispersão dos moluscos estão o transporte das desovas ou mesmo de moluscos através de aves, peixes e plantas aquáticas. A retirada de areia das margens de corpos d’água com moluscos e as cheias provocadas pelas chuvas são também mecanismos de dispersão (BRASIL, 2014). Em resposta as condições desfavoráveis do ambiente, como mudanças drásticas de temperatura, inundações ou secas em coleção hídrica, fizeram com que esses moluscos desenvolvessem mecanismos de sobrevivência e escape, tais como: anidrobiose, enterramento, diapausa e aquiescência (BRASIL, 2014). Os moluscos sobrevivem no meio natural geralmente por um ano. Quando infectados pelas formas jovens do S. mansoni (miracídios), tem o seu tempo de vida encurtada, devido à infecção parasitária e as lesões causadas nos tecidos pelo desenvolvimento das larvas até a liberação das cercárias (BRASIL, 2014). 4.2.3 MECANISMOS DE TRANSMISSÃO A esquistossomose é doença de veiculação hídrica, a transmissão ocorre quando as pessoas entram em contato com água contaminada, onde existe cercárias livres (BRASIL, 2014). A seguir estão os elementos envolvidos na cadeia de transmissão: Agente etiológico: Schistosoma mansoni (REY, 2008); Hospedeiro definitivo: homem; 12 Hospedeiros intermediários: caramujos de água doce – Biomphalaria sp. (REY, 2008); Fonte da infecção: hospedeiros definitivos, eliminando ovos de S. mansoni; Via de eliminação: fezes; Contaminação dos hospedeiros intermediários: água contaminada com larvas de S. mansoni, na fase denominada miracídio; Forma infectante do hospedeiro intermediário: miracídio; Forma infectante do hospedeiro: cercária; Contaminação dos hospedeiros definitivos: água contendo cercárias; Porta de entrada: pele e mucosa dos hospedeiros definitivos. 4.2.4 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO Fase Inicial A penetração das cercárias pode acompanhar exantema, prurido e outras manifestações alérgicas no local. Algumas horas depois, pode se observar a infiltração de polimorfonucleares ao redor dos parasitas e nas proximidades dos vasos, mais tarde o aparecimento de linfócitos e macrófagos. A reação mantém de 2-3 dias e regride, desaparecendo por último os elementos mononucleares. Esses casos são mais intensos durante reinfecções ou em pessoas hipersensíveis (REY, 2008). Formas Agudas a) Assintomática O primeiro contato com o hospedeiro intermediário pode correr durante a infância. Na maioria dos portadores, a esquistossomose e assintomática podendo passar de forma despercebida, sendo confundida com outras doenças. É diagnosticada por meio de exames laboratoriais, podendo ser apresento no sangue do paciente alteração no número de eosinófilos, ou em exames de fezes a detecção de ovos de S. mansoni (BRASIL, 2014). 13 b) Sintomática Após a infecção alguns pacientes queixam-se de manifestações pruriginosas na pele, de duração geralmente transitória, que passa de forma espontânea. Esta manifestação é denominada como dermatite cercáriana, e acontece devido à morte de cercárias que penetraram na pele, semelhantes a picadas de inseto e eczema de contato. O diagnóstico e difícil, pois os sintomas são inespecíficos. Sendo importante a comunicação com o paciente para saber se ele tenha se dirigido a alguma localidade onde tenha tido contato com água, e o auxílio de exames laboratoriais (BRASIL, 2014). Os sintomas surgem cerca de 3-4 semanas após a contaminação incluem: linfodenopatia, mal-estar, febre, hiporexia, tosse seca, sudorese, dores musculares, dor na região do fígado ou do intestino, diarreia, cefaleia e prostração, entre outros. Há um aumento da intensidade dos sintomas entre a 5-6 semana, o doente apresenta-se abatido, com hepatomegalia e esplenomegalia dolorosas, taquicardia e hipotensão arterial. O exame laboratorial demostra eosinofilia elevado associado ao aumento do número de parasitos e o agravamento da infecção (BRASIL, 2014). O diagnóstico clínico só é confirmado depois de 45 dias, quando se certifica ovos do verme nas fezes, ou quando a biopsia hepática revela o característico granuloma esquistossomótico na fase necrótico-exsudativa. As provas de função hepática (fosfatase alcalina, gama glutamil transferase e transaminases) encontram- se elevadas no soro. O ultrassom do abdômen mostra hepatoesplenomegalia inespecífica e a presença de linfonodos periportais sugestivos. Quando tratada nessa fase pode-se ter recuperação da doença sem danos graves ao paciente (BRASIL, 2014). Fase Tardia c) Formas crônicas Os indivíduos que evoluem das formas agudas para as formas crônicas geralmente apresentam modulação satisfatória do granuloma. Causando o agravamento da doença e podendo afetar vários órgãos, levando a quadros clínicos como (BRASIL, 2014): 14 hepatointestinal; hepática: fibrose periportal sem esplenomegalia; hepatosplênica: fibrose periportal com esplenomegalia; formas complicadas: i. vasculopulmonar; ii. glomerulopatia; iii. neurológica; iv. outras localizações: olho, pele, urogenital etc.; v. pseudoneoplásica; vi. doença linfo proliferativa. Como a esquistossomose em suas diversas formas clínicas se assemelha a outras doenças, a confirmação do diagnóstico só pode ser feita por meio de exames laboratoriais. A história do paciente mais o fato de haver vívido em região reconhecidamente endêmica orientam o diagnóstico. Porém, apenas ostestes de laboratório podem confirmar se e caso de esquistossomose (BRASIL, 2014). 4.2.5 TRATAMENTO E PREVENÇÃO O tratamento da esquistossomose não sendo casos graves, consiste na utilização de medicamentos específicos para a cura da infecção, como por exemplo, o Praziquantel, entre outros remédios antiparasitários que auxiliam na eliminação do verme. Casos mais graves, entretanto, precisam de internação e até cirurgias (BRASIL, 2014). O diagnóstico precoce é fundamental. No princípio a esquistossomose não provoca tanto estragos, mas com o passar do tempo vai abalando diferentes órgãos podendo provocar graves sequelas ou falecimento (TENORIO e PINHEIRO, 2019). A prevenção da esquistossomose consiste em evitar o contato com água contaminada onde existem caramujos hospedeiros intermediários que podem estar infectados. O controle da esquistossomose é baseado no tratamento coletivo de comunidades de risco, acesso à água potável e saneamento básico, educação em saúde e controle de caramujos corpos d’água (BRASIL, 2020). 15 4.3 FASCIOLOSE A Fasciolose é uma zoonose causada pelo parasito Fasciola hepatica (LINNAEUS, 1758), que apresenta uma ampla distribuição geográfica, sendo popularmente conhecido como “baratinha do fígado” ou “saguaipé”, tendo grande importância veterinária, haja vista que pode causar grandes perdas econômicas (SERRA e FREIRE, 1999). Os estados brasileiros com maior número de casos são: Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro e Goiás. Nas Américas, a Fasciolose é uma doença hepática causada por um trematódeo parasito de herbívoros frequente em certas zonas de pecuária, gerando um grande número na queda de produção e qualidade do leite, perda de peso acelerada do animal, queda na fertilidade, atraso no crescimento e aumento na mortalidade tornando o gado inviável para o comércio e uso. Além disso, pode ser encontrada em ovinos, bovinos, caprinos, suínos e em alguns animais silvestres, sendo o ser humano um hospedeiro acidental do parasito (REY, 2008). 4.3.1 AGENTE ETIOLÓGICO E CICLO BIOLÓGICO Os parasitas causadores da Fasciolose são platelmintos da classe trematódea. O verme adulto tem um aspecto foliáceo, medindo cerca de 3 cm de comprimento por 1,5 cm de largura de cor pardo-acinzentado. Possui uma ventosa oral da qual se segue uma faringe curta, com ramos cecais (um de cada lado) até a extremidade posterior. Abaixo da ventosa oral, vê-se a ventosa ventral ou acetábulo e junto da estrutura, nota-se a abertura do poro genital. Esse parasito é hermafrodita, possuindo as seguintes características: aparelho genital feminino - um ovário (ramificado), oótipo, útero e glândulas vitelinas (essas são extremamente ramificadas, ocupando as partes laterais e posterior do parasito), e aparelho genital masculino - dois testículos (muito ramificados), canal eferente, canal deferente e bolsa do cirro (órgão copulador). O tegumento apresenta-se coberto por espinhos recorrentes disseminados na porção anterior do helminto (NEVES, 2003). O ciclo biológico é do tipo heteroxênico por necessitar do hospedeiro intermediário que é o molusco Lymnaea. Na fase adulta, depositam seus ovos na 16 bile que será carregada para o intestino, de onde serão levados até as fezes e iram ser eliminados junto com elas. Quando encontram condições favoráveis de temperatura (25°C – 30°C), umidade e ausência de putrefação no ambiente externo, acabam por dar origem a um miracídio que dentro do ovo possui uma longevidade de até nove meses, mas as condições precisam estar adequadas, haja vista que se forem condições adversas morrerá rapidamente. A eclosão do ovo se dá quando o mesmo entra em contato com a água e é estimulado pela luz solar. Com esses fatores, o miracídio sai ativamente do ovo, levantando o opérculo e passando pelo orifício deixado e, em seguida, o muco que os moluscos Lymnaea produzem, atrai o miracídio, que nada em direção a ele penetrando o molusco. Em média entra 3 a 5 miracídios no molusco que formaram esporocistos que originaram de 5 a 8 rédias que podem dar origem a rédias de segunda geração se as condições do meio em que estão se encontrarem adversas (NEVES, 2003). No decorrer de 30 a 40 dias, a temperatura deve-se manter entre 26°C, onde essas rédias irão dar origem as cercarias que serão liberadas, em média, 6 a 8 cercarias do molusco, durante um tempo de 3 meses. A cercaria mede 900 micras, possuindo uma calda única. O homem (ou animal) infecta-se ao beber água ou comer verdura com metacercárias. Com a ingestão elas desencistam-se no intestino delgado, perfuram a parede e caem na cavidade peritoneal, perfurando a capsula hepática e começam a migrar para o parênquima hepático e em um período de 2 meses elas já estão nos ductos biliares onde iram depositar seus ovos e o ciclo irá se iniciar todo novamente (NEVES, 2003). Os hospedeiros intermediários da Fasciola hepatica no Brasil são os moluscos Lymnaea são moluscos gastrópodes pulmonata de porte grande a pequeno, respiração pulmonar, conchas em formato cônico, enroladas em hélices, não apresentam opérculo e com a abertura voltada para a direita. Seus hábitats podem ser tanto lagoas, riachos, e rios tranquilos bem como também pântanos e terrenos sedimentares recobertos por gramíneas como regiões artificiais que se mantem com água e eles apresentam hábitos anfíbios. 4.3.2 HOSPEDEIRO E RESERVATÓRIO Os hospedeiros intermediários da Fasciola hepatica no Brasil são os moluscos do gênero Lymnaea são moluscos gastrópodes pulmonata com porte 17 grande a pequeno, sua respiração e pulmonar, suas conchas possuem formato cônico, enroladas em hélices, não apresentam opérculo e com a abertura voltada para a direita. Seus hábitats podem ser tanto lagoas, riachos, e rios tranquilos bem como também pântanos e terrenos sedimentares recobertos por gramíneas como regiões artificiais que se mantem com água e eles apresentam hábitos anfíbios. 4.3.3 MECANISMO DE TRANSMISSÃO Ocorre nos humanos e nos animais através de ingestão de água e verduras contaminadas com metacercárias. Agente etiológico: Fasciola hepática; Hospedeiro definitivo: ruminantes, e alguns animais silvestres e acidentalmente o homem; Hospedeiros intermediários: caramujos de água doce do gênero Lymnaea; Fonte da infecção: hospedeiros definitivos, eliminando ovos de Fasciola hepatica; Via de eliminação: fezes; Contaminação dos hospedeiros intermediários: água contaminada com miracídios; Forma infectante do hospedeiro intermediário: miracídio; Forma infectante do hospedeiro definitivo: metacercárias; Contaminação dos hospedeiros definitivos: água e alimentos contendo metacercárias; Porta de entrada: mucosa do intestino dos hospedeiros definitivos. 4.3.4 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO a) Fase aguda: Nessa fase pouco se suspeita de ser Fasciolíase, a não ser por conta de algum surto epidêmicos da doença, podendo durar de 3 a 4 meses. Mas os sintomas mais comuns são: Aumento doloroso do fígado 18 Febre Acentuada 18osinofília Dores abdominais Diarréia Hepatomegalia Leucocitose Anemia Hipergamaglobulinemia b) Fase crônica: Por ser um longo período que o contaminado apresenta sintomas da fase aguda pode acabar por simular doenças como angiocolites, colecistites, calculose ou outros quadros: Dores abdominais Febre alta Emagrecimento Constipação intestinal Anorexia Dispepsia Ictéricia Colclitíase Hepatomegalia Esplenomegalia Urticaria Eosinofilia Infecção biliar supera juntada Inflamação Edema Disfagia Dispnésia Afonia Asfixia 19 Pode ser feito a pesquisa de ovos nas fezes ou na bile, mas por ser uma quantidade pequena acaba por resultar em negativo,mas o diagnostico sorológico oferece maior segurança sendo os mais indicados intradermorreação, imunofluorescência, reação de fixação do complemento e ELISA, mesmo não possuir sensibilidade muito elevada e cruzar com esquistossomose e hidatidose. 4.3.5 TRATAMENTO E PREVENÇÃO Para prevenir e necessário a destruição do caramujo com moluscoides como sulfato de cobre, drenagem de pastagens úmidas e alagadas, flutuação ou variação periódica e controlada do nível da água de açudes e represas, criação do molusco Solicitoides sp. que, sendo predador de formas jovens do Lymnaea, poderá ser um auxiliar valioso como controlador biológico do hospedeiro intermediário. O uso de solução aquosa do látex da coroa de cristo (Euphorbia splendens), na proporção de 12mgll foi testado em valas de irrigação, matando 95% dos caramujos sem matar peixes e anfíbios. Recomenda-se não beber água de alagadiços ou córregos, não plantar agrião em área que possa ser contaminada por fezes de ruminantes e não consumir agrião proveniente de zonas em que essa helmintose animal tiver prevalência alta. O tratamento mais indicado para animais e os rafoxanide, clorzulon + ivermectina e albendazol, com resultados razoáveis e o triclabendazol que apresenta os melhores resultados. Devem ser isolados do pasto úmido por meio de cercas (NEVES, 2003). No caso dos humanos deve ser feito tratamento com cuidado pelo fato de que certas drogas podem complicar as coisas por causa de sua toxicidade e os medicamentos em uso nos dias atuais são o Bithionol, Deidroemetina e o Albendazol, tendo em consideração que seus efeitos colaterais graves ainda estão em estudo. 4.4 ANGIOSTRONGILIASE Apenas duas espécies de nematoides do gênero Angiostrongylus (superfamília Metastrongyloides) podem parasitar o homem. Sendo a A. cantonensis conhecida há muitos anos, tendo sua ocorrência registrada na região Indo-pacífica, de Madagáscar até Honolulu, e do Japão ao norte da Austrália. Sendo essa espécie 20 causadora de lesões no sistema nervoso central (meningite eosinofílica) (GARCIA, 2014). A espécie A. costaricensis é originaria do continente americano tendo se descrito casos da infecção no ser humano do sul dos EUA até o norte da Argentina, tendo seu conhecimento relativamente recente, sendo os primeiros casos diagnosticados em 1952 e o helminto descrito no ano de 1971 (GARCIA, 2014). As manifestações clínicas da doença são localizadas na região abdominal, simulando casos de apendicite ou tiflite, pois o parasito se encontra instalado na região dos ramos da artéria mesentérica superior, principalmente na artéria ileocecal, onde pode ocasionar obstrução e necrose tecidual (REY, 2008). 4.4.1 AGENTE ETIOLÓGICO E CICLO BIOLÓGICO O Angiostrongylus costaricensis é um verme filiforme, com a extremidade cefálica arredondada e provida de três pequenos lábios. Onde se encontra seis papilas sensoriais dispostas em dois círculos. A cutícula do parasito é transparente e lisa, sendo as extremidades mais espessa e ligeiramente estriada (REY, 2008). A fêmea mede em tomo de 32 mm de comprimento, possui esófago claviforme e intestino simples, abrindo-se próximo à extremidade posterior, que é ligeiramente recurvada ventralmente. Os tubos uterinos, espiralados em tomo de todo o intestino, terminam por uma curta vagina e vulva situadas pouco adiante do ânus. O macho mede cerca de 20 mm, com tubo digestivo de mesmo tipo e testículo longo, cujo canal se abre em uma bolsa copuladora de tamanho médio, provida de duas espículas delgadas (REY, 2008). O ciclo do A. costaricensis inicia-se nos hospedeiros vertebrados geralmente no rato-do-algodão ou outros roedores silvestres, sendo o hospedeiro definitivo do parasita (Sigmodon hispidus, na América Central, ou Oligoryzomys nigripes no sul do Brasil), os vermes habitam preferentemente as artérias da região ileocecocólica, que são ramos da mesentérica superior. Onde depositam seus ovos, que são arrastados pelo sangue arterial para a mucosa intestinal, onde tornam-se embrião e eclodem. As larvas de primeiro (L1) estádio atravessam à mucosa e caem na luz do intestino sendo levadas para o exterior misturado com as fezes do roedor (GARCIA, 2014). 21 Quando os moluscos das famílias Veronicellidae e Limacidae e outras ingerem tais excrementos de infectam, a partir disso as larvas invadem o tecido fibromuscular, onde evoluem e sofrem duas mudas (L1 → L2, no 4° dia, e L2 → L3, entre o 11° e o 14° dias). Ao fim de 18 dias já pode ser encontrado larvas infectantes maduras, que persistem durante muito tempo no molusco ou vão sendo eliminadas com a secreção mucosa (RABELLO, 2012). Se a temperatura ambiente baixar, a evolução larvária tornar-se mais lenta, podendo criar variações na transmissão em regiões de clima temperado. No meio exterior, as larvas sobrevivem cerca de 10 dias, em condições favoráveis de temperatura e umidade. O hospedeiro vertebrado (geralmente um roedor), ao comer o molusco infectado, contrai a Angiostrongilíase e, depois de um período de 24 dias, começa a eliminar larvas, em suas fezes (REY, 2008). Também pode-se contrair a infecção por meio da ingestão de vegetais (folhas ou frutos) sobre os quais os moluscos deixaram sua secreção mucosa, onde se encontram eventualmente as larvas de terceiro (L3) estádio de Angiostrongylus (RABELLO, 2012). Quando as L3 penetram no hospedeiro vertebrado por via digestiva, invadem rapidamente a mucosa intestinal da região ileocecal. Depois de 12 a 24 horas, a maioria delas já alcançou as vias linfáticas intestinais e mesentéricas, onde se realiza a terceira muda (RABELLO, 2012). A migração das larvas pode seguir as seguintes vias (REY, 2008): a) através da via linfática podem chegar ao sistema venoso, coração lado direito, rede pulmonar, volta ao coração lado esquerdo, e circulação arterial, permitindo assim a concentração das larvas nos ramos da artéria mesentérica superior, a partir do 18° dia, os helmintos adultos podem ser encontrados no mesentério, intestino grosso e pâncreas, iniciando a oviposição (REY, 2008); b) ou as larvas podem invadir as vênulas da parede intestinal e o sistema porta, completando no fígado sua maturação. Ovos e larvas aparecem por volta do 20° dia após a infecção (REY, 2008). O homem pode ser infectado quando se alimenta de forma descuidada pequenos moluscos parasitados (talvez picados, e misturado com a salada), ou quando come frutas ou legumes cobertos com o muco dos moluscos hospedeiros (RABELLO, 2012). 22 4.4.2 HOSPEDEIRO E RESERVATÓRIO O A. cantonesis, é um verme cujo ciclo evolutivo ocorre no sistema arterial de vertebrados (hospedeiros definitivos) tendo a presença de vermes adultos, enquanto que os estágios larvários desenvolvem-se em moluscos (hospedeiro intermediário) (OLIVEIRA, 2018). A infecção humana ocorre acidentalmente a partir da ingestão direta de moluscos ou por contato com o muco desses animais. Este helminto é parasita habitual de roedores silvestres e urbanos, onde os vermes adultos evoluem no interior das artérias pulmonares (GARCIA, 2014). Esta parasitose era considerada exótica há alguns anos, e sua ocorrência recente certamente está ligada a mudanças ambientais geradas pela introdução de um potencial vetor o Achatina fulica, que é um molusco trazido africano, que foi introduzido no país para servir de alimento para o ser humano (OLIVEIRA, 2018). Nos hospedeiros definitivos, em especial no ser humano, onde desenvolve uma parasitose acidental, a invasão de larvas infectantes de terceiro estágio de A. cantonensis no sistema nervoso central, o que geralmente ocasiona a ocorrência de meningite eosinofílica (GARCIA, 2014). Conhecido por caracol gigante africano (Achatina fulica) é atual o principal responsável pela disseminação do Angiostrongylus cantonesis. (GARCIA, 2014).Outras espécies de moluscos podem também ser responsáveis pela contaminação como: Subulina octona, Sarasinula marginata, Bradybaena similares (OLIVEIRA, 2018). Deste modo os profissionais de saúde precisam estar atentos para identificar novos casos e a população deve adotar medidas de prevenção simples, principalmente no contato com os moluscos e na higienização correta dos alimentos (OLIVEIRA, 2018). 4.4.3 MECANISMO DE TRANSMISSÃO A Angiostrongilíase é uma infecção que pode ser causa por larvas de nematódeos podendo ocasionar doenças intestinais ou meningite eosinofílica, 23 dependendo da espécie infectante. A seguir estão os elementos envolvidos na cadeia de transmissão (GARCIA, 2014): Agente etiológico: Angiostrongylus cantonensis ou Angiostrongylus costaricensis; Hospedeiro definitivo: roedores silvestres, quatis e saguis (vertebrados); Hospedeiros intermediários: moluscos pulmonados terrestres; Fonte da infecção: Comendo os moluscos infectados ou ingerindo alimentos contendo o muco dos moluscos hospedeiros; Via de eliminação: fezes; Contaminação dos hospedeiros intermediários: ingerindo fezes, e asseguram a evolução da larva até a L3; Forma infectante do hospedeiro intermediário: L3; Forma infectante do hospedeiro: moluscos infectados; Contaminação dos hospedeiros definitivos: alimentos contaminados; Porta de entrada: por via digestiva, pela mucosa intestinal da região ileocecal. 4.4.4 QUADRO CLÍNICO E DIAGNÓSTICO O quadro clínico é muitas vezes agudo, com evolução rápida, no Brasil os casos registrados tiveram a duração entre 3 e 30 dias. Em vista da localização dos parasitos, a sintomatologia é essencialmente abdominal. Na maioria dos pacientes a queixa de dor abdominal difusa ou localizada na fossa ilíaca ou no flanco direito. A palpação dessas regiões é dolorosa e pode revelar a presença de massa tumoral no quadrante inferior direito do abdome, ocorrendo o mesmo com o toque retal (REY, 2008). A maioria dos pacientes tem febre. Outros sintomas frequentes são astenia, anorexia, emagrecimento, náuseas e vómitos, e muitos casos há obstipação, mas em alguns surgem diarreias (REY, 2008). O hemograma pode ser normal, mas em geral há leucocitose e eosinofília sanguínea periférica, em pacientes com localização hepática dos parasitos, o fígado encontra- se aumentado de volume e a relato de dor referente ao hipocôndrio direito (REY, 2008). Há casos de necrose tecidual e outros sendo necessária a intervenção 24 cirúrgica, devido ao aumento da dor ou uma síndrome oclusiva intestinal. Os quadros mais sérios e de evolução mais acelerada relatam complicados casos com obstrução ou com ulceração, perfuração e peritonite (RABELLO, 2012). A Angiostrongilíase pode ser confundida com neoplasias, apendicite, enterite regional, tuberculose intestinal ou doença de Crohn. Na infecção humana, nunca se conseguiu demonstrar a presença de formas parasitárias (ovos ou larvas) nas fezes (REY, 2008). A suspeita de diagnóstico é feita em casos de eosinofília alta, estando o exame de fezes negativo, em pacientes procedentes de áreas endémicas (RABELLO, 2012). Os testes imunológicos empregados para o diagnóstico são a aglutinação em partículas de látex e a técnica de ELISA. A confirmação dos casos é feita pelo exame anatomopatológico de biópsia ou de peças cirúrgicas (REY, 2008). 4.4.5 TRATAMENTO E PREVENÇÃO Na maioria dos casos é necessária a intervenção cirúrgica para o tratamento da Angiostrongilíase. É até o momento não se conhece nenhum medicamento eficaz contra a doença. O objetivo do tratamento é aliviar os sintomas e evitar complicações e sequelas no paciente. Algumas medidas podem evitar a contaminação como (BRUNA, 2020): Lavar as mãos principalmente antes de mexer com alimentos; Não comer crustáceos ou moluscos crus ou mal cozidos; Lavar bem os alimentos; Proteger as mãos com luvas quando necessário o combate dos caramujos. Antes do descarte da concha é necessária a higienização com água sanitária. 25 5. CONCLUSÃO Os moluscos são hospedeiros de parasitos do homem e de animais, sendo causadores de doenças como: Schistosoma mansoni, S. haematobium, S. japonicum, Clonorchis sinensis, Fasciolopsis buski, Paragonimus westermani, Opistorchis tenuicollis e Heterophies heterophies. É perceptível à importância dos moluscos como fonte de infecção devido à frequência de endemias parasitárias em dirigentes partes do mundo. Determinadas doenças possuem áreas mais limitadas e são raras as infecções em humanos, mas se não tratada de forma adequada pode causar lesões, como o caso da Fasciola hepatica, uma doença mais alarmante para a área veterinária por causa dos danos causados em criações de gado. A grande maioria dos trematódeos digenéticos tem como hospedeiro um gastrópode, sendo essa classe também hospedeiro intermediário para doenças causadas por nematoides como Angiostrongylus costaricensis ou A. cantonensis. Desse modo, nota-se que são indispensáveis ações preventivas no controle de doenças parasitárias como: diagnóstico precoce dos pacientes e tratamento adequado, controle e vigilância dos hospedeiros intermediários, ações educativas de saúde, associadas ao saneamento básico para mudança dos ambientes endêmicos. O controle duradouro e sustentável de várias doenças depende da execução de políticas públicas que melhorem as condições de vida da população para que assim ocorra a redução do número de casos acometidos por parasitoses. 26 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BRASIL. Ministério da Saúde. Esquistossomose: causas, sintomas, tratamento, diagnóstico e prevenção, 2020. Disponivel em: <https://www.saude.gov.br/saude-de-a-z/esquistossomose>. Acesso em: 15 jun. 2020. BRASIL. Vigilância da Esquistossomose Mansoni: diretrizes técnicas. 4ª. ed. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde,Departamento de Vigilância das Doenças Transmissíveis, 2014. BRASIL. Vigilância e controle de moluscos de importância epidemiológica: diretrizes técnicas : Programa de Vigilância e Controle da Esquistossomose (PCE). 2ª. ed. Brasília: Ministério da Saúde, Secretaria de Vigilância em Saúde, Departamento de Vigilância Epidemiológica, 2008. BRUNA, M. H. V. Drauzio Varella. Meningite eosinofílica, 2017. Disponivel em: <https://drauziovarella.uol.com.br/doencas-e-sintomas/meningite- eosinofilica/>. Acesso em: 16 Junho 2020. CARVALHO, O. S. et al. Moluscos Brasileiros de Importância Médica. 2ª. ed. Belo Horizonte: Fiocruz/Centro de Pesquisas René Rachou, 2014. CASCON, H. M.; ROCHA-BARREIRA, C. A. Mollusca. In: FRANSOZO, A. N.- F. M. L. Zoologia dos Invertebrados. 1ª. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2017. Cap. 18, p. 444-493. GARCIA, J. S. Avaliação bioquímica, hematológica e histopatológica da infecção experimental por Angiostrongylus cantonensis no hospedeiro definitivo Rattus norvegicus (Wistar) e estudo da interação Angiostrongylus cantonensis / Echinostoma paraensei no hospedeiro intermediário Biomphalaria glabrata. Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ. Rio de Janeiro. 2014. Guanabara Koogam, 1996. MARCELINO, J. M. R.; SANTOS, G. M.; CORIOLANO, C. R. F. Esquistossomose Mansoni. In: MINISTÉRIO DA SAÚDE (BR) Vigilância em Saúde no Brasil 2003|2009: da criação da Secretaria de Vigilância em Saúde aos dias atuais. n° especial. ed. [S.l.]: Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde, 2019. p. 23-25. Disponivel em: 27 <https://www.saude.gov.br/boletins-epidemiologicos>. Acesso em: 28 Maio 2020. NEVES, D.P. Parasitologia humana. 10 ed. São Paulo: Atheneu: 2003. 428p. OLIVEIRA, T. M. T. et al. MENINGITE ASSOCIADA À PARASITOSE POR Angiostrongylus cantonensis. Conbracis, Paraíba, 2018. PEARSON, R. D. Manuais MSD para profissionais de saúde.Angiostrongilíase, 2017. Disponivel em: <https://www.msdmanuals.com/pt/profissional/doenças- infecciosas/nematódeos-vermes-filiformes/angiostrongilíase>. Acesso em: 16 Junho 2020. RABELLO, K. M. Detalhamento morfológico e análise da expressão proteica do nematoide Angiostrongylus costaricensis em suas diferentes fases evolutivas. Instituto Oswaldo Cruz - FIOCRUZ. Rio de Janeiro. 2012. REY, L. Angiostrongylus costaricensis e angiostrongilíase. In: REY, L. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Cap. IV NEMATELMINTOS, p. 641-644. REY, L. III - Platelmintos parasitos do homem. In: REY, L. Parasitologia: parasitos e doenças parasitárias do homem nos trópicos ocidentais. 4ª. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008. Cap. III - Platelmintos parasitos do homem (Schistosoma e esquistossomíase: epidemiologia e controle), p. 425- 558. RUFFER, M. A. Remarks on the histology and pathological anatomy of Egyptian mummies. [S.l.]: The Cairo Scientific Journal , 1910. SERRA-FREIRE, N. M. Fasciolose hepática no Brasil: Análise Retrospectiva e Prospectiva. Caderno Técnico - Científico da Escola de Medicina Veterinária, Ano 1, p. 9-70, Jul.-Dez., 1999. SERRA-FREIRE, N.M.; MELLO, R.P. Entomologia e Acarologia na Medicina Veterinária. Rio de Janeiro: L.F. Livros. 2006. 200p. SOUZA, F. P. C. et al. Esquistossomose mansônica: aspectos gerais, imunologia, patogênese e história natural. Rev Bras Clin Med., São Paulo , n. 9 (4), p. 300-7, Julho-Agosto 2011. 28 SOUZA, G. D. Estratégias para o controle da esquistossomose mansoni no PSF Dr. Edésio Soares de Carvalho Ferros-MG. UFMG (Atenção básica em saúde da família). Conselheiro Lafaiete-MG, p. 27. 2012. TENORIO, G.; PINHEIRO, C. Veja Saúde. Esquistossomose: o que é, sintomas, prevenção e tratamento, 2019. Disponivel em: <https://saude.abril.com.br/medicina/esquistossomose-o-que-e-sintomas- prevencao-e-tratamento/>. Acesso em: 15 jun. 2020. URQUHART, G. M. et al. Parasitologia veterinária, 2ª ed. Rio de Janeiro, 1996. WHO. Investing to overcome the global impact of neglected tropical diseases: third WHO report on neglected diseases 2015, Switzerland - Geneva, p. 154-160, 2013. Disponivel em: <https://www.who.int/ neglected_diseases/9789241564861/en>. Acesso em: 28 Maio 2020.
Compartilhar